RELATÓRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DO ACHADO DO BRASIL: ESTUDOS SOBRE A BAHIA CABRALIA E VERA-CRUZ FEITOS POR ORDEM DO GOVERNADOR DO ESTADO, O ILM. E EXM. SNR. CONS. LUIZ VIANNA.1 Ivanildo Monteiro Cesar2 Resumo: Estudos feitos por ordem do então Governador do Estado da Bahia o Ilmo. Exmo. Cons. Luiz Vianna no ano de 1899 sobre a Bahia Cabralia e Vera-Cruz pelo major do exercito Salvador Pires de Carvalho e Aragão para a então comemoração do 4º Centenário do Descobrimento do Brasil. Tratase de uma Obra rara que se encontra na biblioteca Luiz Vianna Filho registrado sob o nº 620. O volume também faz parte do acervo da biblioteca do Senado Federal registrado sob o nº708 do ano de 2000. Assinado por Braz de Amaral (pela comissão) para responder melhor o questionário foram feitos 16 (dezesseis) questionamento a qual a comissão precisava responder naquela época para o desenvolvimento dos trabalhos. Uma obra que desperta e aguça a nossa curiosidade e que de fato, de acordo com Aragão, o local onde Cabral aportou e abasteceu suas naus foi na Baia Cabrália, localizado no atual município de Santa Cruz Cabrália. Palavra-Chave: Estudo; Bahia Cabralia; Achado do Brasil. Abstract: Studies made by order of the then Governor of the State of Bahia Ilmo. Exmo. Cons. Luiz Vianna in the year of 1899 on Bahia Cabralia and Vera-Cruz by the major of the Salvador Pires de Carvalho and Aragão army for the then celebration of the 4th Centenary of the Discovery of Brazil. It is a rare work that is in the library Luiz Vianna Filho registered under No. 620. The volume is also part of the library of the Federal Senate registered under number 708 of the year 2000. Signed by Braz de Amaral (by the commission ) To respond better to the questionnaire were made 16 (sixteen) questioning which the committee needed to respond at that time for the development of the work. A work that awakens and sharpens our curiosity and that in fact and scientifically proven, according to Aragão, the place where Cabral contributed and fueled his ships was in Baia Cabrália, located in the current municipality of Santa Cruz Cabrália. Keyword: Study; Bahia Cabralia; Finding Brazil.
1. INTRODUÇÃO Estudos feitos por ordem do então Governador do Estado da Bahia o Ilmo. Exmo. Cons. Luiz Vianna no ano de 1899 sobre a Bahia Cabralia e Vera-Cruz pelo major do exercito Salvador Pires de Carvalho e Aragão para a então comemoração do 4º Centenário do Descobrimento do Brasil. Trata-se de uma Obra rara que se encontra na biblioteca Luiz Vianna Filho registrado sob o nº 620. O volume também faz parte do acervo da biblioteca do Senado Federal registrado sob o nº708 do ano de 2000. O major do exercito Salvador Pires de Carvalho e Aragão inicia os trabalhos deste estudo por meio de um oficio incluso ao relatório, encaminhado ao Ilmo. Exmo. Cons. Luiz Vianna, então Governador da Bahia, com data de 20 de junho de 1899, onde segundo relata, “sente-se honrado com a nomeação, para em comissão com o segundo escripturário da secretaria da junta commercial, Alfredo Octaviano Soledade, proceder aos estudos necessários e responder ao questionário, junto a V. Ex. offerecido 1
Artigo sobre obra literária de Salvador Pires de Carvalho e Aragão para a disciplina região e regionalismo do Curso de Licenciatura em Geografia – EAD pela Universidade do Estado da Bahia/Universidade Aberta do Brasil - UNEB/UAB. Discente do Curso de Licenciatura em Geografia – EAD pela Universidade do Estado da Bahia/Universidade Aberta do Brasil UNEB/UAB, Polo Itamarajú, Ivanildo.gpm.uneb@gmail.com, Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9558728164478965 2
pela commissão central deste Estado para commemoração do 4º Centenario do Descobrimento do Brazil; venho trazer a V. Ex. o relatório incluso, resultado dos trabalhos que foi incumbida à comissão” (sic).
2. LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DO ESTUDO DO 4° CENTENÁRIO DO DESCOBRIMENTO DO BRASIL Assinado por Braz de Amaral (pela comissão) para responder melhor o questionário foram feitos 16 (dezesseis) questionamento a qual a comissão precisava responder, naquela época, para o desenvolvimento dos trabalhos (com adaptações): Primeiro – desenhar toda a costa de Santa Cruz, para norte e sul; Segundo – Para o norte, Sondar toda a baia (desde que fosse possível) para dentro do recife de Porto Seguro, incluindo Coroa Vermelha, assim como o canal que fica entre Coroa Vermelha e a terra firme; Terceiro – Aquarela de toda zona de interesse do estudo de modo a obter as tonalidades das matas, das areias e argilas, etc. necessário ao trabalho que ia ser feito na Europa, não representassem nuances que não fossem nacionais; Quarto – Um mapa compreendendo (delimitando) toda a bahia Cabralia (sic); Quinto – Fotografias que devia ser tiradas do mar de Coroa Vermelha em maré alta e baixa, do relevo da terra, assim como, obter a ideia de altura da serra que se precipitava a pouca distancia do mar; Sexto – Explorar em terra firme marco ou pedra, ou então algum vestígios de inscrição em pedras deixado antigamente pelos portugueses em locais próximos ou conhecidos; Sétimo – Verificar quais fontes e riachos em que há água, presumindo que não tivesse ancorado longe deste ponto, portanto, onde poderia ter abastecido a esquadra de Cabral; Oitavo – Verificar qual o lugar da costa que poderia prestar a celebração da missa o tipo de observação que foi feito para ali, em coroa vermelha, e em outro lugar, o tipo de madeira deixado pelos portugueses, pois acredita que tenha escolhido o lugar por ser um ponto elevado e de fácil visualização para ser descoberto; Nono – Descrever minuciosamente toda porção aquarela do nosso litoral, o atual estado, povoamento, etc., e explorar para o interior vestígios de índios que os portugueses encontraram naquele lugar; Décimo – Indicar, precisamente, onde deve ser assentada a cruz de pedra que vamos mandar para lá. Se conveniente colocar em Coroa Vermelha ou se próximo ao porto de Santa Cruz. Devem ser indicadas as suas dimensões em que ficará em um ponto que possa ser bem vista do mar; Décimo primeiro – procurar na costa interior ou praia da baia Cabrália o ponto ou pontos que podia ser atracados com facilidades as embarcações (botes, lanchas) dos navios da esquadrilha se toda costa não era acessível; Décimo segundo – Fazer uma descrição do local e indicar quais os vegetais (Flora), assim como animais (Fauna), era frequentemente encontrado naquela região, trazendo amostras das areias, argilas (sic), pedras, conchas, vegetais, etc., e quais serão conservados no Instituto, depois de terem figurado nas festas do centenário; Décimo terceiro – Indicar o que foi possível de mais circunstanciados sobre o clima e a produção da baia Cabralia, se as suas estações são regulares, quais as temperaturas do dia e noites, etc.; Décimo quarto – indicar o que se pode esperar daquela região para o futuro, relativamente ao comercio e civilização, atendendo aos recursos naturais,
as culturas que se possam adaptar ao seu território, vantagens da posição porto, etc.; Décimo quinto – Procurar informações seguras e estudar, não só tudo o que possa interessar sobre as correntes oceânicas na costa, especialmente nas proximidades da baia Cabralia, como sobre quais as virações reinantes em fins de abril e principio de maio e quais os lugares em que dão melhor desembarque ou atracação à embarcações pequenas dentro da baia; Décimo sexto – trazer em fotografia e aquarela a ideia mais completa do monte Pascoal, sendo as chapas tiradas em horas diferentes devendo as cores (tonalidades) indicar os diversos aspectos do monte em tempo claro e encoberto; quando ele se descortina todo do mar ou quando se acha parcialmente envolto em cinzeiros ou nevoas. Deste modo, Aragão, resolveu dividir o estudo em capitulo e as questões levantadas pelo autor pode ser resumidas da seguinte maneira conforme o autor relata (com adaptações): I - A bahia Cabralia: Esta baia é formada pela curva enorme da costa, desde a ponta de Santo Antonio, ao norte, até a Coroa Vermelha, ao sul e pelos recifes Sequaratyba, Itassepanema, Alagadas, Baixinha da Coroa Vermelha e pela rocha da mesma coroa. Tem a baia 12.964 metros de comprimento, sobre 5.556 de largura, sendo protegida pela linha de recifes que margeia a costa. O canal existente desde a Coroa Vermelha até Porto-Seguro, por dentro dos recifes, só pode ser navegado por canoas, isso mesmo na preamar; II - Aspecto geral da costa: O aspecto geral da costa muito difere da do norte do Estado. Lá, em geral, a costa é baixa e coberta de rachitica e enfezada vegetação; cá a variedade, a orla muito estreita coberta de areia, a colina que de perto margeia a costa, a riqueza de seiva, dando as arvores e arbustos tons diferentes dos verdes, desde o negro das arvores da colina, até o claro dos mangues e gravatas, dê-lo a costa um aspecto alegre e encantador; III – A Coroa Vermelha: Sobre uma rocha calcária de cento e trinta e cinco metros de comprimento, formando com a ponta sul da costa, na baixa-mar, verdadeiro promontório, se acha a Coroa Vermelha, formada de areia grossa de cor amarela escura. Esta coroa, que fica sempre a descoberto, forma uma ilhota com 55 metros de comprimento por 19 de largura. O recife que lhe serve de base dirige-se a rumo NNE e se vem ligar à praia que corre a rumo de NW, formando o seguro porto de Cabral; IV Rios e ribeiros - João de Tiba: Assim denominado por se haver estabelecido, no ano de 1530, em sua margem o colono português João de Tiba. Desconhece-se o nome indígena deste rio que, nascendo na serra dos Aymorés e no vale do Jequitinhonha, é navegável, por canoas, em quase todo o seu curso, vindo lançar-se na baia a 3.700 metros da vila de Santa-Cruz. Vindo de oeste, depois de banhar a vila situada, hoje, em sua margem direita, volta-se, rapidamente, á tomar o rumo de NNE, correndo paralelamente ao mar ao longo do rochedo que lhe serve de cais, se lança no mar com uma foz de 280 metros de largura; V - Santa Cruz: Sendo a primeira terra descoberta, só foi elevada á categoria de villa pelo Decreto de 13 de Dezembro de 1832; dando o Presidente da Província, em 18 de Maio de 1833 os limites do novo município que são a leste: uma légua para o sul (ponta do Mutá) e cinco para o norte (barra do rio Mugiquissaba). Teve que iniciar a instalação da vila no dia 23 de Julho de 1833. No ano de 1530, veio estabelecer-se á margem do rio o colono João de Tiba, primeiro habitante civilizado, depois do descobrimento. Exclusão feita dos degradados deixados por Cabral e dos dois
grumetes desertores. No ano de 1535 veio com sua família, tomar posse da capitania, que lhe havia sido doada Pero do Campo Tourinho indo estabelecer a sede á margem do rio Buranhen, onde Christovam Jacques já havia fundado uma colônia. Pero do Campo Tourinho fundou em 1536 povoações de Vera-Cruz, onde já a 6 anos se achava João de Tiba e a de Santo Amaro ao sul do Buranhen. Muitas vezes foi Vera Cruz arrasada pelos Aymorés, razão pela qual não desenvolveu-se como Porto-Seguro que, sendo a sede da capitania, chamou para si até a denominação dada por Cabral a baia que lhe serviu de abrigo; VI - O fundo da baia: o fundo do mar, dentro da baia, é de areia ou de vaza, existindo, em alguns pontos, conchas e cascalhos, salvo nas proximidades da costa e perto dos, recifes que margeiam o rio, que é de calcário e nas passagens dos Boqueirões que o fundo é formado pelos recifes das Alagadas; VII – Sondagem: As sondagens da baia e do rio constam do mapa tendo sido efetuadas na baixa-mar e referidas sempre ao metro; VIII – Marcos: Percorrendo toda a costa, desde a ponta de Santo Antonio, até o rio Buranhen, em Porto-Seguro, assim como o interior, não encontramos senão dos marcos. Um de madeira, fincado na ponta do Mútá, pelas Intendências de Santa-Cruz e Porto-Seguro, para assinalar os limites dos dois municípios; outro de cantaria portuguesa, lavrado em quina viva, tendo em uma das faces a Cruz de Aviz, é na outra as armas de Portugal; IX - Onde se abasteceu d’agua a esquadra de Cabral: Como já dissemos, em toda a costa, desde a ponta de Santo Antonio até a Coroa Vermelha, apenas dois ribeiros desaguam no mar. Um o Yáya, por entre os rochedos do Aracacahy, onde o mar sempre quebra com vigor, de leito muito baixo, salgando o mar as suas as aguas, até mui grande distancia, não dando entrada á escaleres ou esquifes antigos, nem fundeadouro aos mesmos, como veremos por simples inspeção do mapa, gozando de tão insignificante importância (que nem Mouchez, Argollo ou Baggi o mencionam em seus respectivos mapas. O outro, o Mutary (Itacumirim) ao sul do primeiro, vindo de oeste, depois de percorrer 719 metros paralelamente a costa, se lança na baia em um dos melhores pontos da ribeira. dali para o sul até o rio Buranhen, como já referimos, nenhum riacho existe. Diante de fato tão positivo podemos afirmar que a esquadra de Cabral se abasteceu d'agua no ribeirão Mutary, afirmativa que não pode sofrer contestação; X - Onde foi colocada a primeira cruz: Não são simples presunções que nos levam a afirmar que a cruz plantada por Cabral, tendo nela pregadas as armas e divisas do Rei D, Manuel, foi erguida á margem do ribeirão Mutary. Além do facto material de não existir, desaguando na baia, tendo praia a boca, outro rio, ribeirão ou riacho, que corra ao carão da praia, de aguas não salgadas e em cuja foz pôde atracar escaler, bote, batel ou esquife; temos a carta de Caminha, primeira pagina da nossa historia, escrita no mesmo dia do descobrimento da terra de VeraCruz; XI - Pontos onde podem atracar embarcações pequenas: Depois da foz do rio João de Tiba até o Aracacahy existem os recifes que formam o cais natural que separa o rio do mar e onde não pôde atracar embarcação alguma, do lado da baia. Depois da praia assim alta conhecida por Praia dos Lenções, por ter junto ao mar areia própria das costas encimando-as uma facha de areia branca que do mar belo efeito produz; o talude da costa vai suavemente tornando-se mais doce até as proximidades do Mutary e dali para o sul até a Coroa Vermelha em qualquer ponto podem atracar lanchas, escaleres,
botes, bateis, esquifes ou canoas; XII - Vestígios dos índios encontrados por Cabral: Não existem vestígios maternos dos Índios encontrados por Cabral nem mesmo descendentes diretos que tenham deles conservado a pureza da raça primitiva. Os tipos que aqui apresentamos são, como se vê, indivíduos já miscigenados, conservando, apenas, traços mui apagados dos seus descendentes, devido ao cruzamento. Estes tipos são os melhores que encontramos nesta região. Hoje, vão rareando os representantes da raça pura porquanto os elementos preto e branco e suas múltiplas combinações tem concorrido para alterar a fisionomia , característica dos antigos aborígenes, inoculando novo sangue às gerações que lhes vão sucedendo. O mesmo acontece com os da Vila-Verde. Aqui em Santa Cruz existem descendentes dos Paquejús, tribo oriunda dos Tupiniquins; XIII - Flora e Fauna: Carecendo de competência para estudo tão serio, quanto importante e demorado, limitei-me ao estudo das madeiras de construção, especialmente das que constituem o comercio de exportação, assim como das empregadas na marcenaria. As madeiras de construção acima referidas, constam do mapa apenso onde, em uma coluna se lê o nome vulgar pelo qual é a madeira conhecida na localidade; na segunda, o nome da classificação botânica; na terceira, a família; na quarta o peso especifico; na quinta, finalmente, a resistência ao esmagamento por centímetro quadrado. A fauna desta região é igual a de todo o Brasil, sendo aqui mais rica por, ainda, achar-se todo o seu solo inculto e coberto do mato; XIV - Onde deve ser levantada a nova cruz: Surgem diversas opiniões com relação ao lugar onde deve ser erigida a nova cruz, imediatamente ao encarar o assumpto. Podemos, entretanto, resumir as diversas opiniões nas seguintes perguntas: 1º - Deve se levantar na terra firme fronteira a Coroa Vermelha e no lugar onde, em 03 de Março de 1898 colocaram os Capuchinhos a que lá existe? 2º - Deve-se colocada no ponto mais elevado da cordilheira que margeia a costa, a fim de ser bem vista do mar? 3º - Deve-se erigi-la na foz do rio João de Tiba? 4º - Deve ser colocada nas proximidades ou no lugar onde, de acordo com a carta de Pero Vaz de Caminha foi levantada a primeira? Finalmente pensam muitos que deve ser a nova cruz levantada no local indicado pela (Quarta pergunta). Esta opinião tem a seu favor todas as justificativas, vindo, ainda, em seu apoio a origem histórica da colocação da primeira cruz. Da leitura da carta de Caminha e do estudo do terreno, podese, mais ou menos, precisar o lugar onde, em primeiro de Maio de 1500 (11 de maio), foi por Pedro Alvares Cabral plantado a primeira tendo nela as armas e divisa do Rei de Portugal, celebrando-se ali a segunda missa e pregação; XV - Dimensões da nova cruz: Tomemos para comparar a cruz que os capuchinhos colocaram na ponta sul da baia, em 03 de Março de 1898. Este cruzeiro tem 64 palmos de altura; é de massaranduba lavrada em quina viva, tendo em cada face oito polegadas e está sustentado por um pedestal de alvenaria de tijolo com três degraus. O referido pedestal tem 1,80 cm de altura e sua base, que é um quadrado, tem de lado 1,20 cm, tendo cada degrau 0,40 cm de largura. Adicionando á altura da cruz de madeira 1,8 cm do pedestal, teremos para altura total 15,88 cm; XVI -
Terrenos e culturas: rico e variado é o terreno desta região. Nas margens dos ribeiros e do rio, em zona bastante larga, estão os terrenos adequados á plantação do cacau; mais adiante, os vales de massapê; mas longe a fértil terra roxa, para o plantio do café; nos altos o terreno célico-argiloso e as areias ricas de húmus para o cultivo dos cereais. Em oposição a tanta riqueza natural, está à falta de povoadores e a indolência dos moradores. Poucos, muito poucos, se dedicam á cultura de tão fértil solo. O exemplo não lhes serve de estimulo; XVII - O monte Paschoal: Aqui juntamos a descrição feita pelo almirante Mouchez, afim de que se possa mais claramente formar juízo a seu respeito: Latitude 16°53’20”, longitude 41°44’47” (meridiano de Paris), altura 536 metros, visível a 16 léguas. Visto de oeste e de nordeste, esta montanha aparece como um cabeço isolado de forma arredondada, ligeiramente cónica, dominando as terras circunvizinhas; XVIII - Correntes oceânicas: A corrente que mais influencia é a grande corrente equatorial. Esta grande correnteza marítima tem sua origem no golfo de Guiné, na altura do cabo de Palmas 4º 22' de latitude norte, apresentando uma largura de 300 milhas. Caminhando para oeste chega a corrente equatorial até pequena distancia da costa do Brasil na altura do cabo de S. Roque 5º 20' de latitude sul, onde se divide, seguindo a porção mais importante para oeste e noroeste e a menor para o sul afastando-se do Brasil 250 a 300 milhas com uma largura de 6 á 7 graus; XIX - O que se pôde esperar desta zona para o futuro: tudo se terá se esperar do futuro desta região, aproveitados os recursos naturais de seu ubérrimo solo. Além das madeiras de construção, das empregadas na marcenaria e tinturaria, o terreno variadíssimo deste território se presta á cultura do café, cacau, cana e de todos os cereais. Esta região fadada pela natureza para um grande futuro, espera, unicamente, que os poderes competentes sobre ela lance suas vistas, dando-lhe os elementos precisos para seu desenvolvimento. O principal fator de seu desenvolvimento, como porto do mar de primeira ordem (Garring), do progresso do seu comercio, da vitalidade de sua lavoura, do aproveitamento de suas riquezas; é a construção de uma linha férrea que ligue a baia Cabralia ao Salto da Divisa (Minas Gerais). Delineando o plano geral de viação do Brasil o notável Engenheiro André Rebouças disse: “que da baia Cabralia com os seus deus ancoradouros (Coroa Vermelha e Santa Cruz) abrigados por quebra-mares naturais, formados pelos recifes característicos da costa setentrional do Brasil e com 5 metros de calado, poderão partir tres caminhos de ferro em demanda do São Francisco; XX - Noticia sobre Porto-Seguro: esta cidade que começou pela feitoria fundada por Chrystovam Jacques, foi depois a sede da capitania de Porto-Seguro doada por D. João III a Pero do Campo Tourinho; fundador também de Vera-Cruz ao norte e Santo Amaro ao sul. A cidade divide-se em parte Alta e parte Baixa. Esta teve como fundador Chrystovam Jacques e aquella Tourinho. A parte baixa ou o margem do Buranhem tem bairros muito pitorescos, salientando-se entre eles o de Pacata. Esta parte da cidade não é muito saudável devido a vizinhança do rio e a de alguns pântanos que ainda existem. Nela está colocado o comercio, assim como os estaleiros para construção de barcos para pesca e para o serviço de cabotagem. A parte alta é muito saudável e aprazível. Ali estão a casa da Câmara Municipal, obra antiga e boa; tendo no pavimento térreo a cadeia; a igreja, também antiga, mas bem cuidada, possuindo imagens lindíssimas como a de Nossa Senhora da Pena e do
Coração de Jesus; boas casas; e algumas ruinas que atestam o progresso dos remotos tempos, Entre as ruinas destacam-se as do convento dos jesuítas, dentro da cidade e as do de S. Francisco no alto da colina vizinha ao lado do norte; Appensos - Mappas e quadio dos ventos (sic). Em todo o livro os trabalhos vêm acompanhados de um mapa da Baia Cabrália, a Planta da Vila de Santa Cruz, a do ribeirão Mutary e o Projeto da Nova Cruz e demais ilustrações que enriquecem a obra histórico-geográfica do achado do Brasil. Estes últimos ficam em seu poder conforme relata: ... até que V. Ex. determine a quem devo entregar, as amostras constantes da relação anexa.(sic). Por fim, agradece a V.Ex. o Cons. Luiz Vianna, então Governador da Bahia, a confiança que lhe dispensou, reiterando os seus protesto de alta consideração e respeito. Desejando-lhe Saúde e Fraternidade. Assina Salvador Pires de Carvalho e Aragão.
3. CONCLUSÃO Concluindo, uma obra que desperta e aguça a nossa curiosidade e que de fato, de acordo com Aragão, o local onde Cabral aportou e abasteceu suas naus foi na Baia Cabralia, localizado no atual município de Santa Cruz Cabrália. Trata-se de um estudo cientifico realizado com uma profundidade e rigor de quem procura conhecer a realidade dos fatos. Não estou dizendo que Aragão é o dono da verdade, alias quanta tese já caíram por terra, de qualquer forma é mais uma obra que foi esquecida no tempo e que coloca mais lenha na fogueira das vaidades entre a Cidade de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália no que diz respeito a uma disputa do título de “terra mater do Brasil”.
4. REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA 1. Aragão, Salvador Pires de Carvalho e. ESTUDOS SOBRE A BAHIA CABRALIA E VERA-CRUZ FEITOS POR ORDEM DO GOVERNADOR DO ESTADO, O ILM. E EXM. SNR. CONS. LUIZ VIANNA. Bahia: Litho-Typ. e Encadernação de Reis, 1899.104 p. : principalmente il. Bahia, 1500-1898. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/221733. Acesso em 07/05/2017.