Ivo Azeredo Rizzoli Godoy
Ivo Azeredo Rizzoli Godoy
Axidioma - Sintaxe em grãos – (O caso dos feijões Mágicos)
Axidioma - Sintaxe em grãos – (O caso dos feijões Mágicos)
Monografia apresentada como prérequisito para obtenção de grau em Artes Plásticas, sob orientação do Professor Doutor Ricardo Maurício Gonzaga e banca examinadora composta por Valdelino dos Santos Filho e Rogério Câmara, no período letivo de 2007/2.
UFES 2007
UFES 2007
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Resumo GODOY, Ivo e. Axidioma - Sintaxe em Grãos (O caso dos feijões mágicos). Vitória, 2007. 30 f. TCC curso de graduação em artes plásticas, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2007.
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esquisa na área de poéticas visuais. Obra comentada. Propõe uma discussão sobre a obra Axidioma - Sintaxe em Grãos (O caso dos feijões mágicos), discorrendo sobre o processo de transfiguração na obra de arte, cruzando três sistemas: Arte, literatura e jogo (Lotomania). Debate-se a viabilidade da validação do objeto como arte por meio do valor constitutivo do objeto em “si” e por meio do sujeito praticante. Termos de indexação: Transfiguração, Texto, Poética, Poesia Visual, Prática artística, Signo, Lugar.
Banca Examinadora
Presidente e Orientador Prof. Dr. Ricardo Maurício___________________________ 1º Examinador Prof. Dr. Valdelino Gonçalves dos Santos Filho_________________ 2º Examinador Prof. Dr. Rogério José Câmara_______________________________
Vitória, ___ de Dezembro de 2007
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Índice
1 - INTRODUÇÂO.....................................................................................................07 2 - AXIDIOMA – SINTAXE EM GRÃOS....................................................................09 3 - O CASO DOS FEIJÔES MÁGICOS – GRÃO.......................................................13
4 - TRANSFIGURAÇÃO COMO RE-SIGNIFICAÇÃO INTERPRETATIVA= PRÁTICA ARTÍSTICA...............................................................................................................17 5 - TRANSFIGURAÇÃO COMO RECODIFICAÇÃO DO SIGNO LUGAR-OBJETO VEICULAR................................................................................................................22 5.1 - A Recodificação do Signo-lugar e do Signo-letra.......................25 6 - CONCLUSÃO......................................................................................................27 7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS....................................................................29 7.1 - Midias Digitais.........................................................................................30
Ivo godoy 2005
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1 - Introdução
reflexão que levaria a assumir, também como formador da obra, uma próxima categoria de texto: o metatexto. Esta quarta categoria seria a interpretação do praticante que acontece simultaneamente ao outros três textos. Por isso a importância do sujeito formador do Axidioma, que o pratica efetivamente. Desde já fica em aberto como se apropriar dos conteúdos apresentados aqui, e o que fazer diante de um trabalho que se transforma e que convida para lhe acompanhar tantas argumentações já existentes em sistemas plurais. Como conviver com um trabalho que assume o discurso como matéria prima de sua construção. Fica a escolha do nível de aproximação e que tipo de relação será estabelecido neste lugar de prática artística. O quão convincente é este Axidioma, se é que isso o define.
A
obra aqui proposta argumenta uma experiência, originada no autor, com o intuito de ser objeto de experimentação fundamentada por outro sujeito. É como descrever sobre um assunto com a intenção de gerar reflexões, independentemente do posicionamento diante dele, com o objetivo de potencializar a questão ou assunto proposto. É um convite de compromisso para com o diálogo; no caso deste trabalho, o diálogo com ele mesmo, em “si”, esse que visa à consciência de ser algo: o que é? Onde é? Como e quando ele é? Ou quando ele passa a ser? Esta é a proposta do Axidioma, ele é algo que se constrói com a prática, ele habita uma verdade em si e a revela quando é praticado. O Axidioma é uma contrapartida ao comportamento de auto-afirmação da arte, ele não visa julgar o que é, visa manifestarse no que é. Manifesta-se como uma poética que oscila entre arte, teoria e filosofia. Dessa forma ele procura estabelecer pontos reflexivos que o legitimam como arte. O Axidioma é o idioma-axioma, cujo entendimento só é possível em “si” mesmo, que é verdade em “si” mesmo; é o idioma formado por grãos encontrados nos sistemas comunicativos cotidianos. A primeira proposta do Axidioma é a Sintaxe em grãos ( O caso dos feijões mágicos), nesta proposta são reunidos, em um debate, diversos campos de reflexão, um apanhado de assuntos tratados como grãos formadores dele. Por meio de uma série de transfigurações, o Axidioma desloca estes assuntos para sua estrutura formadora. A sintaxe em grãos é a formatação metodológica construída para este caso específico. Os diálogos entre arte, jogo (lotomania) e literatura, são estabelecidos de forma particular, apontando os pontos de ligação destes campos com a base de argumentação do Axidioma. Nesta proposição o Axidioma se apresenta por meio de diferentes categorias de texto como o dissertativo, o poético e o descritivo. Por meio destes são apresentados alguns conteúdos, de forma a encaminhar uma
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2 - Axidioma-Sintaxe em grãos
contextos, transportadas para outros espaços de forma a levar o seu usuário a pensar sobre o lugar da palavra, pensar sobre suas múltiplas leituras, múltiplas interpretações, e inúmeras representações. A palavra é praticada de forma a acompanhar o pensamento, as descobertas, reflexões e transformações do ambiente de convívio da raça humana. Pela palavra o homem expressa sentido, pela palavra o homem interpreta significado, pela palavra o homem percebe que não pensa sozinho por veicular o pensamento por um meio que outros utilizam. Pela palavra o homem procura objetivar as coisas para condensar sentido como também subjetivar para ampliar sentido. Como o jurista e o poeta antónimos praticantes da mesma palavra.
“A linguagem é poesia fóssil” 1
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texto é tradição, digo isso pela prática que se faz necessária a comunicação humana, de onde surge a linguagem textual como um produto da tradição. Dessa necessidade humana imediata de se comunicar cria-se uma metodologia prática de emissão e recepção textual, uma linguagem de signos objetivos, de modo a facilitar a troca de mensagens por meio da conjugação sistemática e padronizada do texto. No exercício dessa tradição surge uma outra necessidade agora não tão imediata, e mesmo sem determinação sobre sua utilidade, mas que pretende preencher as lacunas de uma comunicação subjetiva, que vive em um embate inquietante com a linguagem cotidiana. Destas duas comunicações surge um movimento de reciclagem do texto. Um movimento recíproco de troca entre o texto tradicional e da poesia com sua poética. A poesia é tradição em metamorfose e a poética é o seu produto essencial. A tradição leva ao aprimoramento técnico da prática textual e a poética recria o texto aprimorando a tradição. O texto cita palavras, a poética as reinventa. São estágios de mutação do texto: texto tradicional como estágio estável, a poesia/poética como instável. A palavra segue o ritmo de cada um destes. A individualização existe nos dois casos, entretanto há uma diferenciação, o que não impõe uma impermeabili-
Há uma contribuição do poeta de forma indireta, subjetiva e, por que não, sugestiva, no que diz respeito ao sentido da palavra. O poeta é um agente elocutor metafísico da palavra, ele sugere na poesia uma proposta aberta a novas experiências, estas que não são resumidas a formalidade imposta pela comunicação. O termo, poética do informal 2, trabalhado por Umberto Eco, representa bem a ação desse poeta. A subversão de certas regras de linguagem permite ao poeta transportar a palavra para diversas “distâncias” de sua apresentação formal, tradicional, ou mesmo a separar de uma objetividade cristalizada pela cultura, deixando que a palavra vibre, reverbere do seu estado, retroceda em direção próxima à origem de sua criação, e vá até os orbitais mais distantes ampliando seu campo de ação. Penso na “subversão” de regras tradicionais do texto na poesia. Acredito que desta forma é
dade entre os dois. A possibilidade da convivência entre texto e poética pode estar na intenção objetiva ou subjetiva de modo que a poética possibilite ler o tradicional dentro de uma subjetividade. A poética revela desconhecidas possibilidades.
possível encontrar todos os ingredientes necessários para exercer este papel de elocutor informal da palavra dado ao artista ou poeta, ou artista-poeta. No ambiente de restrições flutuantes, o artista limita uma coisa sem ter que necessariamente limitar seu sentido; provoca a interpretação, a inspiração, provoca inquietação, angústia, apreciação, confusão...
A poética recria o sentido, possibilita que as palavras migrem para outros níveis dinâmicos retirando-as do uso tradicional. Pela história da escrita podemos visualizar o processo de criação da letra, da palavra passando por uma
A poesia visual é um campo muito rico em experimentações, tanto para as que já aconteceram quanto para as que estão para acontecer. A poesia
mutação representativa tomando outras proporções e dimensões. Com o decorrer deste processo histórico, as palavras foram inseridas em novos 2 - ECO, Umberto. Obra Aberta: formas e inderteminações nas poéticas contemporâneas; [tradução de Giovanni Cutolo]. – São Paulo: Perspectiva, 2005. Pag . 149
1- EMERSON, Ralph Waldo. Ensaios. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1976. p. 133. Apud CAMPOS, Haroldo de. Ideograma: lógica, poesia, linguagem. 2. ed. - São Paulo: Cultrix, 1986. pag. 34
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concreta é um exemplo dentre tantas pesquisas feitas no campo artístico e que rendem propostas relevantes até a produção atual. E é influenciado pelo contagiante compromisso e prontidão com a recriação e apresentação da forma textual que teve no movimento da Poesia Concreta, que procuro estabelecer uma participação nesta discussão, como bem colocada por Augusto de Campos:
se encontra. O Axidioma é o idioma-axioma, cujo entendimento só é possível em “si” mesmo, que é verdade em “si” mesmo; é o idioma formado por grãos encontrados nos sistemas comunicativos cotidianos. O caso dos feijões mágicos é uma proposição entre três sistemas comunicativos, melhor explicados no próximo capítulo. Na formação destes sistemas é inserida uma reflexão sobre a possibilidade de revelar textos a partir da sua mínima parte: a sintaxe em grãos.
Concretas no sentido de que, postas de
Esta pesquisa pretende uma investigação sobre as configurações dos sistemas comunicativos tendo como base a linguagem escrita e sua relação com outras estruturas cotidianas, usando a produção do trabalho de arte que explore as diversas possibilidades de subversão desses sistemas. Esta proposição está relacionada com regras de anotação, apresentação e transcodificação de um texto para um jogo específico (Lotomania), onde nas trocas entre emissor e receptor da-se a transfiguração de sentidos transformados por esta relação. A sintaxe aqui será refletida a partir do desmembrar dos discursos, palavras e letras a fim de inseri-las em outras significações, outros discursos possíveis, de leituras simultâneas 5 .
lado as pretensões figurativas da expressão ( o que não quer dizer: posto à margem o significado), as palavras nessa poesia atuam como objetos autônomos...os poemas concretos caracterizar-se-iam por uma estruturação ótico-sonora irreversível e funcional, e, por assim dizer geradora da idéia, criando uma entidade todo-dinâmica, “verbivocovisual” – é o termo de Joyce – de palavras dúcteis, moldáveis, amalgamáveis, à disposição do poema.
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Na verdade o que proponho nesta obra, é promover sujeitos transformadores da própria obra. Emitir mensagem através de energia pensante, energia transformadora para alimentar esses sujeitos. O pensamento como matéria (figuração), “enquanto organização de energia que se faz se desfaz e se refaz sem cessar” 4. Pensar assim almejando realizar a transfiguração do texto por esta triangulação: fazer, desfazer e refazer. Visto que o pensamento humano é formado por uma edição de fragmentos da matéria
Enfim, que este texto dissertativo, em conflito com o texto das cédulas de loto possa servir de porta de acesso à simultaneidade de leituras, estejam elas comentadas nesta dissertação, intrínsecas nas cédulas de loto, ou na interpretação do leitor pensante. Em suma, nos grãos desta obra.
pensante, um inestimável aglomerado de grãos formadores de um eterno e mutável metatexto. Um texto que tem uma edição, formatação e reflexão de formas e dimensões imprecisas, o que facilita a ação autônoma do sujeito transformador, de modo a organizar o sentido da forma que se encaixe em seu entendimento.
5 - Este próprio texto, por exemplo, diagramado e apresentado simultâneo a as letras fragmentadas nas cédulas de loto. -
É pensando na forma, na produção, no lugar, na edição, na leitura, no sentido, no significado, na conjugação e na subversão do texto, que proponho nos trabalhos uma consciência do objeto trabalhado e do contexto em que ele 3- CAMPOS, Augusto; PIGNATARI,Décio; CAMPOS, Haroldo; Teoria da Poesia Concreta: Textos Críticos e manifestos !950-1960; São Paulo : ed. Brasiliense, 1987. Pag 40 4 -LYOTARD, Jean-François. O inumano: considerações sobre o tempo. Lisboa: Estampa, 1989. pag. 18 -
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3 - O caso dos feijões mágicos – grão
A metáfora do enunciado “feijões mágicos”, trata o grão como uma figuração de especial. Estes “grãos mágicos”, esta especialidade encontra-se em cada um dos três textos: o texto dissertativo (literário), o texto das cédulas e um terceiro texto resultante do entendimento do outro. Este terceiro texto
Há uma referência literária direta entre: a história de João e o pé de feijão, a aplicação do texto nas cédulas de loteria e o sistema de validação da arte. Na literatura do folclore inglês o protagonista da história vive uma situação onde troca sua única propriedade valiosa, uma vaca magra, por feijões oferecidos por um estranho que, segundo este, seriam mágicos. No decorrer da história, fica o protagonista em dúvida sobre a validade da afirmação do estranho. Ele, no descrédito da suposta mágica, arremessa os feijões pela janela, e da noite para o dia os grãos germinam na terra e crescem exageradamente, para além das nuvens. O pé de feijão é o caminho que leva ao castelo de um gigante que guarda objetos valiosos, uma harpa mágica e um ganso que põe ovos de ouro. O desfecho da história conta o sucesso da troca feita por João, de uma coisa de pequeno valor por riquezas de valores exorbitantes. Aqui, esta história é comparada a prática do sistema de apostas existente na Lotomania, a aposta que tem um valor muito menor ao prêmio, exatamente a troca extremamente lucrativa. Há também uma referência ao sistema de validação da obra de arte, o que a valida e a que nível de valor ela corresponde. O valor desta terceira referência pode estar em sentidos diversos que vão desde o reconhecimento da obra como arte até ao valor financeiro de algumas obras no mercado de arte. Analisando a obra por uma ótica financeira podemos observar que algumas têm um custo de produção muito pequeno comparado ao seu valor de mercado e também obras com o custeio de produção grande visando um reconhecimento como
não é colocado de forma objetiva nesta obra, exatamente pelo fato de ser a construção de entendimento que o leitor faz deste Axidioma. Este terceiro texto é o que possibilita a comunicação do Axidioma. É uma questão de conteúdo da obra e do participante dela, o leitor. É o resultado da soma entre os conteúdos. Como são os resultados: para o texto a interpretação; para o jogo, os números sorteados e, para a arte, a sua validação.
arte. Exemplificando os dois casos temos os objetos ready-mades de Marcel Duchamp, objetos de valor usual antes de serem usados como arte e que hoje tem um valor alto tanto de reconhecimento quanto de mercado. Para o segundo caso, temos as dispendiosas intervenções nas paisagens de diversos lugares no mundo, realizadas Cristo, e seu reconhecimento na história da arte contemporânea.
O
caso
for-
Um ciclo de referências pode ser traçado no momento que remetemos
ma
de
caso.
mais uma vez ao texto, agora não a uma literatura de conto mais a uma literatura crítica, citando o texto de Kant depois de Duchamp, de Thierry de
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caso dos feijões mágicos trabalha uma transfiguração aplicada a três sistemas cotidianos: o sistema de leitura de texto, o sistema da Lotomania (jogo) e o sistema da arte. Trata de apropriar-se dos três sistemas, reunindo fragmentos dos seus sentidos e transformá-los em um Axidioma. Alguns aspectos destes três sistemas são destacados no decorrer do capítulo de acordo com a importância de sua participação na construção do entendimento desta própria obra. Criam-se a partir destas importâncias questionamentos reflexivos que problematizarão a validação dos três sistemas aqui trabalhados. Os aspectos que serão destacados têm a finalidade de dar força ao processo de transfiguração. Tais aspectos trabalham como uma espécie de grãos formadores da transfiguração, como provas concretas da existência do Axidioma no caso. A partir das provas pode-se julgar a validade, ao negar, afirmar, comparar uma em condição a outra, entendendo que cada sistema tem a sua particularidade, porem estes estão aplicados num mesmo contexto, são partes integrantes de um só sentido.
dos ler,
feijões
apresentar
mágicos e
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interpretar
uma
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literatura
história
ou
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Duve 6 , que trata da questão de validação da Arte ao revisar conceitos kantianos através de conceitos colocados por Duchamp que se tornaram paradigmas da arte contemporânea. Neste texto de Duve faz um movimento de transfiguração do “isto é belo” para “isto é arte”, como conceito ou juízo afirmativo que valida a arte antes e depois de Duchamp. Partindo da leitura de Thierry de Duve há uma percepção tomada a partir deste texto sobre questões pertinentes ao gosto, : a percepção que se tem é que ele exerce um fator determinante e não definitivo da obra da arte, da sua validação. Para debater melhor essa percepção, discorrerei sobre a referencia entre arte e jogo.
de números condicionados a força da gravidade e outras leis da física. Ou mesmo as subjetivas interpretações de teorias, textos, críticas. A imprevisibilidade existe nos dois casos. No caso do jogo todas as cédulas são jogos, mas somente um pré-determinado número delas será premiado. No caso da arte, das obras que são validadas como arte, somente a algumas será conferido valor de modo a serem reconhecidas pelo circuito da arte - e neste reconhecimento o gosto é um dos fatores determinantes. Esta sentença não quer dizer que o circuito da arte é um sorteio, mas que ele reage a um conjunto infinito de forças e manifestações de idéias, opiniões e conceitos, que se vistas por uma ótica racional existe certa imprevisão. Somente dentro de uma tendência ou de um estilo poderia haver algum tipo de previsão, visto que estes determinam aspectos a serem trabalhados, se considerarmos que na arte contemporânea cada vez mais surgem propostas híbridas, a previsão de um estilo é anulado pelo cruzamento de vários estilos ou tendências. Esta hibridização da arte altera a leitura do gosto, por um só estilo ou tendência, para uma leitura aberta a uma variável determinante de diversos gostos em uma só proposta.
Há uma intenção de causar um encontro com possíveis comparações referenciais sobre sistemas de arte e o jogo da Lotomania. Trata-se de uma transfiguração do jogo para a inserção: “isto é arte” , que se realiza por meio de diálogos entre a Arte e o Jogo neste Axidioma. Os jogos de lotomania são apresentados aqui como arte. Este diálogo se faz presente pela aplicação regular do texto fragmentado em grãos que preenchem os números do jogo de acordo com suas regras, enquanto o conteúdo do texto escrito nas cédulas faz referência direta a questões sobre a validação da arte (vide cédulas). Neste movimento de transfiguração (regra passa a ser conjunção poética) é feita aqui uma referência comparativa entre sorteio de jogos lotéricos e os salões e outros circuitos de arte onde se selecionam, consumem-se, premiam-se e até validam a obra de arte. A validação da
É aproveitando essa variável subjetiva que proponho a ampliação da discussão para a transfiguração dada pelo conteúdo do outro: a Transfiguração pela Ressignificação Interpretativa do leitor-autor
obra no circuito da arte cai num sistema de grande complexidade e com inimagináveis questionamentos determinantes deste processo. Temos toda uma carga de cultura, de estudos, conhecimentos, relações estabelecidas com este sistema. São inúmeras considerações para a validação, imaginemos a relação estabelecida para validação desde a formação do artista até a formação do curador e do espectador. Só por isso já se pode imaginar uma quantidade infinita de informações cruzadas para que haja a inserção de uma obra no circuito. Por exemplo: Seria possível
figuração pela Recodificação do jeto; leitura da máquina espelho
Os feijões mágicos são informações valiosas dentre tantas já existentes. Refere-se aos grãos que, quando plantados, cultivados, se desenvolvem de forma a adquirir seu próprio valor, seu sentido próprio. Nos capí-
pensar que inserções como estas possam anular a questão do gosto? O gosto é uma variável, ele é tão imprevisível quanto o giro de uma roleta ou um globo cheio
tulos a seguir alguns outros aspectos e grãos importantes dos sistemas mostrados neste capitulo serão destacados para melhor leitura deste Axidioma.
6 - DE DUVE, Thierry. Kant depois de Duchamp. In: FERREIRA, Glória, VENÂNCIO FILHO, Paulo. (ed.). Arte & Ensaios, n. 5. Rio de Janeiro: Mestrado em História da Arte/Escola de Belas Artes, UFRJ, 1998.
(que cria interpretação), e a TransSigno (recodificação do lugar-obda loto. Vide cédulas espelhos).
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A pretensão deste trabalho não é conquistar o prêmio da Lotomania, o que talvez pudesse ser encarado como uma habilidade do jogo, o interesse maior está em identificar possibilidades de subversão na comunicação entre vida, arte e jogo, por meio da subjetividade de suas leituras, possibilidade da arte contemporânea. Este seria o grande prêmio.
4 - Transfiguração como re-significação interpretativa = Prática artística
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ildo Meireles disse sobre seu trabalho “Inserção em Circuitos Ideológicos”: Na vivência que tive em diversas casas lotéricas e no contato com outros jogadores, me interessou a forma individual como cada um buscava marcar os números na cédula. Em muitos casos eles jogavam números relacionados com seu cotidiano: números de placas de carro; data de nascimento ou óbito de uma pessoa, código de barras de embalagens de produto, número da camisa de um jogador de futebol, números que surgiram supostamente em sonhos ou mesmo números aleatórios; há casos ainda de jogadores que contratam serviços de sites 8 que oferecem fórmulas-cálculos para se ganhar na Loteria.
(...) “o trabalho só existe na medida em que outras pessoas o pratiquem”. (...) “Enquanto o museu, a galeria, a tela, forem um espaço sagrado da representação, tornam-se um triângulo das Bermudas: qualquer coisa, qualquer idéia que você colo¬car lá vai ser automaticamente neutralizada”.
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Na verdade, a questão da interatividade fica em aberto em O caso dos feijões mágicos, no que se refere a dependência de um público praticante no fazer da obra, no processo de reproduzi-la. Digo isso pela forma como este trabalho foi pensado estar diretamente ligada a um contexto relacional e reflexivo. Não proponho uma fórmula a ser aplicada pelo outro. Na verdade, do ponto de vista do jogo Lotomania, eu e outros jogadores já praticamos o ato de jogar, mas o trabalho que proponho está explicitado em formatações plurais como neste livro-obra e na transformação do objeto (texto). Penso que esta transformação também é passível de acontecer no pensamento, visto que o texto é suporte para o pensamento. O pensamento é universal, a prática de pensar e a percepção são os condutores originais da arte. A habilidade é apenas uma forma de impulsionar o pensamento. A habilidade de pensar é a proposição prática deste trabalho.
É interessante ver como os jogadores procuram participar de uma proposta que exige ser interpretada e respondida: as regras do jogo. Mais interessante ainda é visualizar como eles se propõem a organizar seus jogos. Há casos em que o jogador lança uma mesma seqüência de números marcada ano após ano; e casos com diferentes seqüências jogadas a cada sorteio, regras criadas por eles que também fazem parte do jogo, mas que não são impostas pelo jogo. Isso indica uma das frestas para subversão o jogo. Neste capitulo do trabalho, propõe-se uma troca entre conteúdos do artista e do espectador, embora possam parecer ora muito dispersos, subjetivos, ora muito didáticos, contudo acredito que estes são alguns dos possíveis caminhos para interação artística.
Duchamp por meio de seus readymades mostrou-se despido de uma prática específica relativo a um métier, ele esvazia o espectador de qualquer interpretação técnica a partir da habilidade do artista, a idéia do artista detentor de uma habilidade excepcional perante o espectador, com isso a proposta da obra de arte torna-se mais interativa por não ser hierárquica. Como se Duchamp falasse:
Para melhor participarmos dessa interação, devemos começar por pensar a importância de se relevar a aplicação do texto, a ação sobre a
- Olhemos esse mictório!
8 - www.sortefacil.com
7 - Extraído do depoimento de CM registrado na pesquisa Ondas do corpo, de Antônio Manuel Copydesk e montagem do texto: Eudoro Augusto Macieira. Publicado no Livro “Cildo Meireles” da FUNARTE. Rio de Janeiro, 1981.
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semântica das palavras como parte motriz da transfiguração proposta. Interpretar o texto gradativamente independente do ponto de partida, pensar que aqui existe uma triangulação entre textos: o dissertativo, o texto das cédulas e o pensamento constante e simultâneo.
Agora olhemos para o segundo caso, o das cédulas. Nelas temos partículas de informação distintas do primeiro caso. A leitura é feita por um movimento de páginas sobrepostas. A letra é fragmentada em pequenos esboços de retângulos que preenchem os espaços dos números já impressos na cédula. Há, também, impressa nas cédulas, a explicação de algumas regras do jogo, o logotipo da instituição e - muito interessante - acima do logotipo da CAIXA está a inscrição: Confira o bilhete impresso pelo terminal. Ele é o único comprovante da sua aposta. É exatamente o bilhete espelho do texto cédula (paginação à direita) que veremos com maior detalhe no capítulo seguinte. Esta segunda diagramação insere o enunciado no sistema de validação do jogo da instituição CAIXA. As cédulas da direita contêm informações que validam o jogo, autenticadas com código de barras, data, hora e local (terminal 000000). As duas situações de interpretação estão inseridas em um mesmo contexto-conjunto, o Axidioma. Ambas buscam o questionamento sobre o sujeito, agente que valida arte, e também são validadas em seus contextos particulares: o acadêmico, o artístico e o jogo institucional. Além do fato de que as cédulas do jogo não se apresentam aqui no seu estado original, ou seja, são reproduções, cópias das originais. Mas fica ainda a questão em aberto sobre o contexto da arte: Quem valida arte?
Interpretemos dois casos. Primeiro a frase: Quem valida arte? Depois as 15 cédulas de Lotomania (as da esquerda e da direita) inseridas nesta obra. Consideraremos a forma com que elas foram aplicadas e encontraremos diversas interpretações. As duas aplicações são acompanhadas por informações de significativa relevância que as permeiam e que servem de partículas interpretativas. Estas partículas existem em um nível de questionamento múltiplo, passando por percepções instantâneas e exigindo outros níveis de atenção, sensibilidade e reflexão redobrada. Desta forma constituise parte do processo de transfiguração que faz parte de uma rede de ressignificação, o hipertexto 9 . (Fica a dica: que anotem sobre as folhas deste livro-obra, reflexões, questionamentos e qualquer outro texto que venha a contribuir com o sentido desta obra). Para exemplificar algumas destas partículas interpretativas, podemos começar a atentar para o que as permeia. A frase que propus no parágrafo acima, está inserida no contexto de reflexão dissertativa deste trabalho, na intenção de comunicar um raciocínio acompanhado. Ela participa de uma ordenação padronizada pela leitura de texto ocidental, da esquerda para direita. Sem deixar de apontar para a tipografia e o formato itálico que destaca o enunciado da questão (Quem valida arte?), podemos relacioná-los ao uni-
Essa transfiguração acontece em nossas mentes nos acompanha em raciocínios e intuições: nós achamos significados e os ressignificamos. O homem enquanto doador de sen-
verso de dissertações que se utiliza de tipografias como estas, ou mesmo semelhantes, inserindo o enunciado na esfera de discussões acadêmicas com inúmeros autores que tratam sobre o assunto. Também outras questões podem ser levantadas pelo leitor.
tido a si próprio e ao mundo 10. O trabalho acontece na soma entre obra e sujeito. A obra passa a ser o resultado da soma dos conteúdos, ou seja, do conteúdo com que ela se relaciona, e o resultado é sempre cumulativo.
9 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipertexto - O Hipertexto é um texto suporte que acopla outros textos
Esta transfiguração acaba por abstrair a forma e o signo (concretos) para o pensamento. Abstração dada pela interpretação. Retornando à citação do inicio deste capitulo quando Cildo Meireles fala: (...) ”o trabalho só existe na
em sua superfície cujo acesso se dá através dos links que têm a função de conectar a construção de sentido, estendendo ou complementando o texto principal. Um conceito de Hipertexto precisa abranger o campo lingüístico, já que se trata de textos.
10 - FLUSSER, Vilém. “Texto / imagem enquanto dinâmica do Ocidente”. In Cadernos Rioarte, Rio de Janeiro, ano II, n.5, jan., 1996.
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medida em que outras pessoas o pratiquem”. A prática artística aqui é o exercício do pensamento sobre o enunciado. É um exercício de expressão recíproca, infinita e cumulativa. A prática é a síntese que possibilita a soma entre tese e antítese. A prática artística talvez seja o intuito maior da arte. A arte acontece ver. Retomando a frase de Cildo:
neste
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Transfiguração
como
recodificação
do
signo–Objeto
veicular
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praticar da obra esteja ela onde ela esti-
(...) “Enquanto o museu, a galeria, a tela, forem um espaço sagrado da representação, tornam-se um triângulo das Bermudas: qualquer coisa, qualquer idéia que você colo¬car lá vai ser automaticamente neutralizada”. O museu, a galeria, a tela, todos eles são espaços sacralizados de proposição para a prática artística que se tornaram signos cristalizados destes espaços representativos. Por isso experimentamos espaços e situações distintas a estes, construindo a transfiguração conceitual destes espaços de representação.
erdinand de Saussure descreveu um signo como a combinação de um conceito com uma imagem sonora, ou seja, algo mental 11 . Isto, por si só, é suficiente para definir-se como um tipo de transfiguração. A utilização constante da repetição do signo, ligado a uma imagem, dá-se por um código de associação entre a imagem e a sua representação. Entendo o signo como uma idéia latente, que neste estado é de ágil captação e quase que instantaneamente processado. O signo, portanto, é a transfiguração em si, pelo fato de sofrer constantes alterações na interpretação assim como na representação. Visando uma simplificação, o signo sofre um processo de mutação. A letra, por exemplo passou por estágios de representação em pictogramas, ideogramas e, finalmente, letras 12. Penso não ser necessário me estender na história do signo-letra, somente citada aqui, pelo fato deste capítulo dar ênfase a formação de um signo de lugar.
A tipografia atual procura fornecer ao usuário uma possibilidade de trabalhar a mensagem textual dentro de uma formalidade associada à noção de transparência que retira certas características pessoais da letra e a insere num contexto generalizante. Uma diversidade tipográfica foi criada para que o usuário possa adequar a forma lingüística e gráfica à sua mensagem. Podendo afirmar a utilização destas apresentações tipográficas num cenário internacional, fica claro que este sistema de signo procura estabelecer uma universalidade de representação do texto escrito. Não só a tipografia como também as normas de formatação são produzidas de forma à universalizar o pensamento intelectual, estabelecendo certas equivalências de leitura num cenário de inteligibilidade comunicativa. O meio acadêmico é uma prova disso.
11 - SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral, Editorial D.Quixote, 7ª Edição, Janeiro de 1995
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12 - CAMPOS, Haroldo de. Ideograma: lógica, poesia, linguagem. 2. ed. - São Paulo: Cultrix, 1986.
Uma, das questões suscitadas sobre normas de apresentação é que iniciativas como estas vêm transformando o cenário da produção da pesquisa intelectual, com a intenção de possibilitar maior acessibilidade. Cria-se com essas normas um lugar específico para uma certa espécie de texto, lugar que se configura em um signo, no que diz respeito à forma da sua apresentação. O que se torna um problema ao confundir o lugar do texto, como o da pesquisa intelectual, com um lugar comum a qualquer espécie de pesquisa, como se o conteúdo de apresentação desta não tivesse importância. Este conteúdo de apresentação é exatamente o que deveria ditar o aspecto deste lugar do texto. O conteúdo de apresentação tem sua particularidade perante o conteúdo do objeto estudado, contudo ele trabalha de forma a potencializar a especificidade do assunto.
escultura, instalação, espaço de performação, ; passa a ser também lugar-objeto que se define como signo de lugar que tem equivalência em qualquer lugar do mundo, propõe assim a universalização da arte. Porém, esta configuração não sustenta muitas outras questões que nescessitam ser trabalhadas pela arte. O próprio lugar da pintura, escultura, instalação e performance é repensado em outros espaços de proposição. A moldura é transfigurada para outras definições de lugar. As séries de intervenções urbanas, por exemplo, são vivenciadas pela arte atualmente, podendo ser também identificadas como um lugar de proposição, um novo signo de lugar para arte. Podemos perceber que neste espaço urbano, encontram-se equivalências referenciais de forma a inserir certas discussões no âmbito internacional. Estas equivalências são evidenciadas nas configurações destes espaços. Por exemplo: as ruas, avenidas, asfaltos, muros, postes de iluminação, sinalização de transito, prédios, casas e outros componentes urbanos são passíveis de serem encontrados em qualquer grande concentração urbana pelo mundo. Por exemplo: os grafites feitos em São Paulo, Tokio, Berlim, Londres, e outras metrópoles, intervêm em muros, paredes, becos, calçadas, lixeiras, galeria de esgotos e outros componentes urbanos presentes nestas localizações. Logo, isso passa a ser outra forma de universalizar a discussão artística. Enfim o signo de lugar da arte, toma proporções múltiplas, o lugar, a moldura da arte, sempre que inserida em outros contextos e conceitos, passa por um processo de transfiguração do signo lugar. O con-
Para exemplificar melhor esta problemática proponho uma reflexão no campo da arte. Como o signo de lugar da arte sofre constantes mutações. O espaço da tela foi e ainda é um espaço de reflexão para o lugar da pintura, da arte, porem a pintura acontecia ali naquele espaço proposto. A moldura é o que determina o lugar da arte, moldura aqui que se configura como definição de lugar de proposição artística. Esta definição de lugar, este signo, esta moldura, se desdobra, reconfigura-se, em um novo lugar, o espaço do cubo branco 13 , isso acontece a partir do momento que o espaço expositivo adere um formato especifico de galeria: paredes brancas, onde mantem o mínimo de informações possíveis e uma iluminação adequada. Ele ainda é o formato mais utilizado nas exposições de arte, no ambito internacional, desde o modernismo. Este lugar foi criado de forma que, quando nele inserida, a obra de arte não seria contaminada por outras informações. Este espaço se tornou um novo signo de lugar: ele, independente da localização no globo terrestre, poderia preservar o aspecto formal e conceitual da obra. Tal configuração espacial viria a provocar uma série de inquietações na produção da arte, promovendo assim novas reflexões sobre as maneiras de utilização
ceito deste signo é tão abrangente que já se chegou ao nível de conceituar o mundo como espaço- exposição. Robert Smithson disse: - O mundo é um museu 14. E Hélio Oiticica como se conjugasse a sentença de Smithson disse: - O museu é o mundo 15. O que esta reflexão pretende em questão ao lugar do texto é discutir a importância de se procurar novas formas de apresentação. Não é o caso de se negar aqui, as normas de apresentação regulamentadas pela academia, mas
do lugar e suas limitações. A contribuição que este lugar proporcionou foi, e ainda é, de extrema importância; numerosas obras foram produzidas na problemática proposta pela configuração do espaço do cubo branco. Ele passa a ser lugar de pintura,
14 - FERREIRA, Glória, COTRIM, cecilia (org.). Escritos de Artistas Anos 60/70. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2006. pag 280 15 - OITICICA, Hélio. Doc. 0235/66 p.4. Rio de Janeiro, Julho de 1966. Projeto Hélio Oiticica. Rio
13 - O´DOHERTY, Brian. No interior do cubo branco: a ideologia do Espaço da Arte. São Paulo, Martins Fontes, 2002
de Janeiro, 2007.
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sim buscar experimentar, refletir e subverter os parâmetros de criação do lugar que abriga o conteúdo textual apresentado. Contribuir com pesquisas similares a definições como o livro-de-artista ou o livro-objeto, levantadas por tantos estudiosos e artistas.
Uma outra recodificação de lugar acontece no momento em que letras são reconfiguradas, em forma de fragmentos nas cédulas de Lotomania. O texto é inserido no lugar do jogo, assim o jogo passa a ser o lugar do texto, possibilitando também a recodificação do signo-letra, não esquecendo de outra etapa feita pela leitura dos bilhetes pela máquina e da reorganização dos signos em grãos numéricos. Os fragmentos de textos são reconfigurados em números e posicionados em ordem crescente nas cédulas espelho (à direita). Isso se dá pela leitura da máquina, dos terminais lotéricos. Junto a esta leitura estão os registros de hora, data e local, o que torna esta recodificação do texto da cédula um texto documental. Outro deslocamento....
Trata-se de um lugar-objeto, um signo de lugar, que se transfigura em outros lugares. Um objeto-lugar-veicular que se locomove por meio de lampejos de consciência de localização. O transporte é feito pela transformação do sentido do objeto-lugar, a partir do momento em que é conscientizada uma transfiguração do espaço de proposição: há um deslocamento de lugar. Antes aquilo agora isto. A recodificação do signo é um deslocamento que este trabalho propõe. A recodificação do signo-lugar e a recodificação do signo-letra são dois deslocamentos que serão descritos no subcapítulo a seguir.
Enfim, esta recodificação é feita sempre de forma presencial. Ela se faz presente na inteligibilidade, do sentido da leitura e do fato. Quando ela expõe a definição, a forma e a consciência, manifesta sua mutação sempre acompanhada do leitor. O deslocamento configura-se em ser, estar, presenciar e reconhecer. Deslocamento de consciência.
5.1 - A recodificação do signo-lugar e do signo letra
D
ando continuidade a questão sobre o lugar do texto, é necessário estabelecer um reconhecimento da localização atual do mesmo. Penso ser suficiente somente apontar algumas características e deixar que o desenvolvimento do conceito deste deslocamento aconteça de forma espontânea. Este texto procura estabelecer-se no lugar da pesquisa intelectual, monografia, ao mesmo tempo em que propõe um lugar de prática artistica: um trabalho de arte. A credibilidade dada ao conceito desenvolvido nesta obra oferece uma condição para que estes dois lugares se assumam efetivamente como endereços acessíveis. Daí a consciência do lugar. Uma troca recíproca é feita por estes dois lugares, de forma que no momento em que a prática artística acontece, a pesquisa se efetiva no campo da pesquisa intelectual, e vice-versa. Independente dos conceitos aqui trabalhados serem reconhecidos ou não pelo participante, há um deslocamento do lugar da prática artistica, uma vez que, pensar a arte, mesmo que para negá-la, já é uma prática artística. (Um axidioma, que é verdade em “si” mesmo) .
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6 - Conclusão
referência que representa bem a relação estabelecida do Axidioma com o sujeito que o pratica:
Dos argumentos apresentados podem-se apontar uma série de conclusões, ao longo do desenvolvimento, que são fundamentadas em informações comprometidas com uma formatação determinada a alcançar sua autenticidade perante o conceito do Axidioma: a verdade em “si”. As argumentações podem ser interpretadas como argumentações de uso acadêmico, de cunho pragmático. Ou mesmo podem ser vistas como uma proposta poética, o texto como matéria prima formadora da obra, embora as duas óticas fossem simultaneamente propostas. É interessante ver como dois campos de proposição (dissertação e texto poético) podem conviver dando um recíproco suporte para efetivação no mundo das idéias.
O DEUS MAL INFORMADO No caminho onde pisou um deus há tanto tempo que o tempo não lembra resta o sonho dos pés sem peso sem desenho. Quem por ali passe, na fração de segundo,
Todo o conteúdo é aqui apresentado apartir de reflexões originádas [no] autor-propositor, e estas são revestidas por uma aura poética [oriundas] da intenção artística presente no Axidioma. Talvez seja muito mais do que uma “licença poética”, entendo essa intenção mais próxima de um “respaldo poético” do que de um campo de conhecimento: a arte mostra cada vez mais que exerce grande autonomia por seus objetos trabalhados. E, visto que a própria definição da palavra dissertação aponta para caminhos como estes:
em deus se erige, insciente, deus faminto, saudoso de existência. Vai seguindo em demanda de seu rastro, é um tremor radioso, uma opulência de impossíveis, casulos do possível. Mas a estrada se parte, se milparte, a seta não aponta destino algum, e o traço ausente ao homem torna homem, novamente. (Carlos Drummond de Andrade)
do Lat. dissertatione s. f., exposição desenvolvida de matéria doutrinária, científica ou artística;
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E fica evidente que este Axidioma procura estabelecer conexões com dados referenciais, embora o formato aqui adotado de acordo com as normas de apresentação não possibilite proporcionar referências ímpares, diversas das exigidas, como uma conversa de bar, uma sensação a partir de uma obra, orientações, anotações, exposições sem registro. Enfim, toda e qualquer informação que contribui para a formação da obra. Fica aqui uma ultima 16 - http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx
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7- Referências Bibliográficas • Extraído do depoimento de CM registrado na pesquisa Ondas do corpo, de Antônio Manuel Copy-desk e montagem do texto: Eudoro Augusto Macieira. Publicado no Livro “Cildo Meireles” da FUNARTE. Rio de Janeiro, 1981.
• EMERSON, Ralph Waldo. Ensaios. Trad. José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1976. p. 133. Apud CAMPOS, Haroldo de. Ideograma: lógica, poesia, linguagem. 2. ed. - São Paulo: Cultrix, 1986. pag. 34 • ECO, Umberto. Obra Aberta: formas e inderteminações nas poéticas contemporâneas/; [tradução de Giovanni Cutolo]. – São Paulo: Perspectiva, 2005. – (Debates; 4 / dirigida por J. Guisburg). Pag . 149 • CAMPOS, Augusto; PIGNATARI,Décio; CAMPOS, Haroldo; Teoria da Poesia Concreta: Textos Críticos e manifestos !950-1960; São Paulo : ed. Brasiliense, 1987. Pag 40 • LYOTARD, Jean-François. O inumano: considerações sobre o tempo. Lisboa: Estampa, 1989.pag. 18 • FLUSSER, Vilém. “Texto / imagem enquanto dinâmica do Ocidente”. In Cadernos Rioarte, Rio de Janeiro, ano II, n.5, jan., 1996. • SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral, Editorial D.Quixote, 7ª Edição, Janeiro de 1995 • CAMPOS, Haroldo de. Ideograma: lógica, poesia, linguagem. 2. ed. - São Paulo: Cultrix, 1986. • O´DOHERTY, Brian. No interior do cubo branco: a ideologia do Espaço da
7.1 - Mídias Digitais • www.sortefacil.com • http://pt.wikipedia.org/wiki/Hipertexto O Hipertexto é um texto suporte que acopla outros textos em sua superfície cujo acesso se dá através dos links que têm a função de conectar a construção de sentido, estendendo ou complementando o texto principal. Um conceito de Hipertexto precisa abranger o campo lingüístico, já que se trata de textos. • http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx
Arte. São Paulo, Martins Fontes, 2002 • FERREIRA, Glória, COTRIM, Cecilia (org.). Escritos de Artistas Anos 60/70. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2006. pag 280 • DE DUVE, Thierry. Kant depois de Duchamp. In: FERREIRA, Glória, VENÂNCIO FILHO, Paulo. (ed.). Arte & Ensaios, n. 5. Rio de Janeiro: Mestrado em História da Arte/Escola de Belas Artes, UFRJ, 1998. • OITICICA, Hélio. Catálogo raisonné. Rio de Janeiro: Projeto Hélio Oiticica, 2007
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