Perspectiva Contábil: Informação, Ciência e Diálogo

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2 PPGCC EM AÇÃO

Projeto Doutor Legal UFU

2 PESQUISA

O estresse e a contabilidade: um olhar para os pós-graduandos

3 CONTABILIDADE FINANCEIRA

A convergência da contabilidade na perspectiva de Nobes

3 CRÔNICA DE SALA DE AULA

Perspectiva Contábil Informação, Ciência e Diálogo

Porcos podem se divertir, mas alguns acham que não...

3 PROFISSÃO CONTÁBIL

Suficiência da formação do profissional contábil: onde está o problema?

4 PRODUÇÃO CIENTÍFICA

Resenha acadêmica: algumas notas sobre esse gênero textual

4 ESTRATÉGIA DE ENSINO

3ª Edição | Maio 2017 DESTAQUE

A perspectiva setorial na análise econômicopor Neirilaine Silva Almeida - Doutoranda do PPGCC financeira

O desempenho econômico e financei- semelhantes, tais como o risco, o fluxo ro das entidades é importante para a de caixa e o crescimento1. Portanto, a tomada de decisões e, portanto, deve classificação setorial para a análise ecoser analisado criteriosamente. Um dos nômica e financeira é uma atividade que pontos fundamentais para essa análise requer cuidado. é a identificação das No Brasil, após a idenespecificidades inetificação das entidarentes a cada setor, des que compõem um As características setoriais principalmente, no determinado setor, os devem ser consideradas que diz respeito ao analistas também predurante o processo de tomada contexto econômico cisam lidar com a pede decisões organizacionais, e social em que uma quena divulgação dos pois os indicadores entidade atua, aos parâmetros setoriais, econômicos e financeiros principais concorrenfato que atrapalha a apresentam tendências tes, às oportunidades análise comparativa do diferentes em setores e fraquezas, às tendesempenho das emdistintos do país. dências do mercado, presas em relação ao aos fatores de risco setor. Além disso, eles e à forma como as precisam observar a possível existência diversas variáveis impactam cada setor. de mais de um modelo contábil para um Como a análise setorial possibilita a ve- mesmo ramo de negócio, que ocorre, rificação de parâmetros econômicos, principalmente, em função das escolhas financeiros e sociais dos setores, o de- contábeis distintas entre as empresas de sempenho de cada empresa pode ser um mesmo setor2. comparado com o desempenho médio do setor. Isso permite que analistas e Por fim, salienta-se que as característidemais interessados identifiquem o posi- cas setoriais devem ser consideradas na cionamento de cada entidade diante da análise das demonstrações contábeis, média setorial e visualizem, por exemplo, pois os indicadores econômicos e finanse o comportamento dos indicadores de ceiros apresentam tendências diferenuma entidade específica é semelhante, tes em setores distintos do país. Assim, inferior ou superior ao comportamento talvez a existência de analistas setoriais seja uma alternativa para que investimédio do mercado. dores, gestores e demais stakeholders Para tanto, o ideal seria que a análise se- tomem as suas decisões com maior setorial contemplasse todas as empresas gurança.  que atuam em um determinado setor. A questão é que o fato de duas empresas REFERÊNCIAS DAMODARAN, A. A face oculta da avaliação: avaliação de atuarem em um mesmo ramo de negó- [1] empresas da velha tecnologia, da nova tecnologia e da nova cios não implica, necessariamente, que economia. Tradução Allan Vidigal Hastings. São Paulo: Makron 2002. elas sejam comparáveis, pois há outros Books, [2] MARTINS, E.; DINIZ, J.; MIRANDA, G.. Análise avançada das fundamentos que também devem ser demonstrações contábeis. São Paulo: Atlas, 2012.

Estudo de caso: uma estratégia para aliar a teoria à prática INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Valder Steffen Júnior Reitor da UFU

Nilton Cesar Lima Diretor da FACIC

Edvalda Araújo Leal

Coordenadora do PPGCC Av. João Naves de Ávila, 2121 - Bloco 1F - Sala 248 Campus Santa Mônica - Uberlândia/MG - CEP 38.400-902 Telefone: +55 (38) 3291-5904 E-mail: ppgcc@facic.ufu.br

Site: www.ppgcc.facic.ufu.br

EQUIPE EDITORIAL ORGANIZAÇÃO E EDIÇÃO PROFESSORA - Dra. Marli Auxiliadora da Silva PÓS- GRADUANDOS - Izael Santos e Taís Duarte COLABORAÇÃO REVISÃO TÉCNICA - Dr. Gilberto José Miranda - Dra. Edvalda Araújo Leal REVISÃO LINGUÍSTICA - Dra.Lúcia Helena F. Lopes

Caro leitor, Apresentamos a você a terceira edição do “Perspectiva Contábil: informação, ciência e diálogo”; o boletim informativo PPGCC/ UFU. Esta edição aborda temas ligados à pesquisa, à produção científica, ao ensino em contabilidade e a importância da informação contábil no processo de análise financeira. Os textos estão estruturados em linguagem simples e acessível, sem abandonar o aspecto científico. Esperamos que aproveitem os textos e que eles sejam vetores para o desenvolvimento da nossa ciência. Boa leitura! Equipe Editorial


PPGCC EM AÇÃO

Projeto Doutor Legal UFU por Ms. Vivian D. C. Fernandes Doutoranda do PPGCC

Iniciar a graduação da melhor forma possível pode fazer toda a diferença! Sabemos que a conquista de uma vaga no ensino superior não é nada fácil, mas é apenas o início de uma longa trajetória. Assim, se logo no início os alunos perceberem as inúmeras oportunidades existentes no âmbito universitário poderão ter melhores resultados e concluir com êxito o curso. Mas como mostrar essa realidade aos alunos? Sob a perspectiva de proporcionar uma melhor experiência e investir na melhoria do desempenho acadêmico dos ingressantes da graduação, a UFU criou o projeto Doutor Legal. O projeto será executado por meio da integração entre alunos de pós-graduação e de graduação, alunos de doutorado e pós-doutorado oferecerão tutoria acadêmica e de iniciação à pesquisa aos alunos ingressantes interessados. O projeto Doutor Legal surgiu em função da necessidade de se reduzir as taxas de evasão nos cursos oferecidos pela UFU. Muitos alunos ingressam na universidade, ainda que apresentem baixo desempenho acadêmico, herança de uma comprometida formação no ensino fundamental e médio. Assim sendo, não conseguem acompanhar as atividades acadêmicas no Ensino Superior, sentem-se desmotivados e abandonam a graduação. Nesse sentido, o Doutor Legal tem como função auxiliar esses alunos a atingirem um melhor desempenho acadêmico, se espera que isso possa contribuir para a redução das taxas de evasão na universidade. O projeto Doutor Legal está no seu primeiro ano, mas já conta com mais de 50 alunos tutores, entre doutorandos e pós-doutorandos, e mais de 100 alunos orientados. No curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Uberlândia – Campus Santa Mônica, três alunas do curso de doutorado do Programa de Pós-graduação em Ciências Contábeis participam do projeto como tutoras legais: a Neirilaine, a Tamires e a Vivian. Cada uma orientará dois alunos, totalizando seis ingressantes, entre maio e agosto de 2017. É dever dos tutores auxiliar os alunos nas disciplinas obrigatórias em curso, apresentar o ambiente de pesquisa, estimular os ingressantes a se candidatarem para projetos de iniciação científica e estimular o aprimoramento de língua estrangeira. Esta é, sem dúvida, uma grande oportunidade para ampliação dos conhecimentos dos alunos de graduação e uma oportunidade de fortalecer a integração entre ela e a pós-graduação. 

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PESQUISA

O estresse e a contabilidade: um olhar para os pós-graduandos por Ms. Marise Rezende Quem nunca falou ou pelo menos escutou a famosa frase "Como estou estressado(a)!!"? O stress ou estresse configura-se como um dos temas mais debatidos, na atualidade, em conversas cotidianas e, dada a essa relevância, chegou à academia para ser estudado de forma sistematizada! Sim!! Isso porque ele está mais presente entre nós do que qualquer um possa imaginar! Para se constatar a persistência do tema, basta tirar um minuto do tempo, - que deve ser escasso, pois, você, provavelmente, cumpre inúmeras tarefas, e exercer um pouco da empatia, perguntando a algum colega: "Como você está?!”, ou "Como você tem passado?!" As respostas revelam pessoas que estão passando por problemas emocionais, derivados, muitas vezes, de um quadro sintomático do stress, desencadeador de diversas atitudes que vão desde cair no choro por se sentir incapaz de desenvolver suas atividades diárias, até desenvolver alguma patologia, fato que pode induzir o uso de medicamentos para "aguentar a barra". A saúde mental é hoje um tema preocupante e os diversos trabalhos científicos desenvolvidos nessa área apontam para a importância do aprofundamento desses estudos. O artigo intitulado “Mental health: under a cloud”, publicado na Revista Nature1, afirma que a grande maioria dos distúrbios de saúde mental manifesta-se durante a adolescência e a juventude, ou seja, durante os anos de graduação e pós-graduação. Há ainda estudos que evidenciam ser o stress, em alguns casos, a causa do abuso de substâncias tóxicas, de comportamentos antissociais, de violência e, até mesmo, do desenvolvimento de intenção suicida. Aliás, ressalta-se que o debate sobre saúde mental somente ganhou destaque quando a Universidade de Harvard, em apenas um ano, entre 1997-1998, contabilizou o quinto suicídio de aluno. Um desses alunos suicidas deixou um bilhete no qual fazia, referências ao modelo de orientação existente àquela época na instituição. Caso o leitor tenha interesse em saber mais sobre o tema e não queira pesquisar o assunto em artigos acadêmicos, basta navegar na internet para encontrar relatos preocupantes de pós-graduandos que revelam tentativas de suicídio, quadros de depressão e stress. E na área contábil, como anda o nível de stress dos alunos? Como se sabe o curso de Ciências

Contábeis tem crescido bastante, no Brasil, e ocupa, atualmente, o quarto lugar em número de matrículas, com mais de 350.000 estudantes. A pós-graduação stricto-sensu segue a mesma tendência, pois, há cerca de 30 instituições oferecendo mestrado e doutorado na área contábil, sendo que, até 1998, apenas três instituições ofereciam mestrado em Ciências Contábeis e somente uma, o curso de doutorado. Foi nesse dinâmico contexto de crescimento do curso de Contabilidade que desenvolvemos, sob a modalidade de dissertação de mestrado, uma investigação para avaliar como se relacionam os níveis de stress e de desempenho acadêmico de mestrandos e doutorandos em Ciências Contábeis. O estudo2 mostrou que mais de 50% dos discentes pesquisados apresentaram níveis de stress altos (48,87%) ou muito altos (6,80%) e apenas 4,21% apresentaram níveis baixos de stress. Também se pode constatar que, quanto mais estressados os estudantes, menor o seu desempenho acadêmico. É importante destacar que, quando o stress impacta negativamente o desempenho acadêmico discente, pode deixar alunos frustrados, fato que pode levá-los à evasão, seja por abandono do curso, seja pela perda da vaga por não atingirem o rendimento mínimo determinado pelos programas de pós-graduação. Consequentemente, os discentes investem tempo e dinheiro em algo que eles não concluem. Da mesma forma, os programas são afetados, uma vez que, com a evasão dos discentes, perdem receitas ou recursos públicos que são destinados à instituição, frustrando, inclusive, o desejo de aumentar/manter a qualificação junto à CAPES. Esse contexto evidencia a relevância de discussões sobre as consequências do stress na vida acadêmica, bem como a conscientização dos atores que atuam no contexto acadêmico – CAPES, coordenadores, docentes e discentes – sobre essas consequências. É preciso, portanto, detectar as origens do stress no ambiente acadêmico para que se possa impedir o seu desenvolvimento e evitar o comprometimento do desempenho discente, bem como da Instituição de Ensino Superior.  REFERÊNCIAS

[1] GEWIN, V. Under a cloud. Depression is rife among graduate students and postdocs. Universities are working to get them the help they need. Nature, v. 490, n. 11, p. 299-301, 2012. [2] REZENDE, M. S. Stress e desempenho acadêmico na pósgraduação stricto sensu em Ciências Contábeis no Brasil. 2016. 145 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) - Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2016.

http://www.eventos.ufu.br/contufu

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CONTABILIDADE FINANCEIRA

A convergência da contabilidade na perspectiva de Nobes por Dra. Sirlei Lemes - Docente do PPGCC As diferenças entre as normas e práticas contábeis internacionais são apontadas como responsáveis pelas barreiras que dificultam a completa convergência das normas contábeis locais às IFRS (International Financial Reporting Standards), emitidas pelo IASB (International Accounting Standards Board). Muitos estudos sobre o tema, quando não todos, enumeram vários fatores relacionados à cultura, economia, educação e profissão, como causas dessas diferenças, sem um olhar mais criterioso sobre esses fatores. O que se propõe aqui é, então, fazer uma discussão dessa problemática com base no estudo de Nobes (1998), indicando possíveis reflexos no processo de convergência da contabilidade brasileira. O autor identifica duas classes distintas de sistemas contábeis: (i) na primeira classe a prática contábil e a fiscal diferem, o que é associado com mercado de capitais forte e informação contábil voltada para acionistas externos, e (ii) na outra classe, a contabilidade segue as regras fiscais, sendo esta inerente a mercados fracos e a contabilidade tem como usuários o fisco e os credores. O autor, usando essa classificação, defende que a maioria dos fatores apontados na literatura como causa das diferenças contábeis internacionais (legislação fiscal, nível educacional, nível de desenvolvimento econômico, sistema legal – code law e common law, nível de inflação, história, geografia, linguagem, teoria e acidentes de percurso) são úteis apenas para explicar diferenças relativamente pequenas entre as práticas contábeis mundiais. Muitos desses fatores, na verdade, seriam produto do mercado acionário ou vinculado a ele e outros fatores até talvez sejam razões para as diferenças no mercado de capitais, mas são tão indecifráveis que inviabiliza qualquer forma precisa de mensuração. Para o autor as variáveis que se relacionam às diferenças entre as práticas contábeis mundiais se limitam às características do mercado de capitais (ou de modo mais específico, à forma como as empresas se financiam) e à autossuficiência cultural do país. Em países em que prevalece o financiamento externo das companhias, a preocupação dos emissores de normas e dos elaboradores de demonstrações contábeis volta-se para o usuário externo. Essa é a posição defendida pelo IASB e pelo Financial Accounting Standards Board (FASB), órgão emissor de normas contábeis para o mercado norte-americano, ao fundamentar suas estruturas conceituais na necessidade de reporte de desempenho financeiro e na capacidade de predição de fluxos de caixa futuros para usuários externos, relativamente sofisticados e de grandes companhias.

Em países autossuficientes culturalmente, o sistema contábil predominante depende da força do mercado para o financiamento externo das companhias. Em países dominados culturalmente, o sistema contábil é determinado pela influência cultural. O autor é categórico ao afirmar que o domínio

cultural, originado da herança colonial e das invasões, é provavelmente o fator determinante na definição dos sistemas contábeis de países fora do continente europeu. Nas nações dominadas culturalmente, tanto o sistema legal quanto o sistema contábil, entre outros contextos e fatores culturais, são incorporados dos modelos utilizados pelo colonizador ou invasor. Dessa forma, ao partir-se do pressuposto que o reporte das informações financeiras segue o sistema financeiro, é razoável supor que o método das partidas dobradas segue o desenvolvimento dos negócios e não o conduz. Assim sendo, naturalmente, a contabilidade pode auxiliar o desenvolvimento econômico, mas não é responsável por ele. A leitura que se faz desse cenário é que a imposição de um sistema contábil pode ser inapropriada, principalmente, se feita para companhias não listadas ou dentro de um sistema legal de regras detalhadas e que se move muito lentamente. Essa impropriedade se justifica, pois uma importante característica de um sistema contábil voltado para o investidor externo é que ele pode se adaptar mais rapidamente às circunstâncias comerciais. Com relação à convergência no Brasil, o processo de colonização e o estabelecimento da Família Real Portuguesa em terras brasileiras, exigiram um melhor aparato fiscal, devido ao incremento na atividade comercial, em consequência do aumento dos gastos públicos e, também, da renda dos Estados. Assim, a contabilidade no Brasil se estabeleceu a partir da necessidade de atender ao fisco. Até a independência, em 1822, muito dessa proximidade entre a contabilidade fiscal e societária se arraigou e estendeu-se, deixando marcas latentes até os dias atuais e, refletindo, sobremaneira, na forma como as IFRS têm sido adotadas no Brasil. Por certo, outras influências culturais também se fizeram presentes, tais como a holandesa, no Século XVII, a francesa, a partir do Século XVIII e a inglesa no Século seguinte. Assim, conforme as categorias delineadas por Nobes, o modelo contábil brasileiro é determinado pela influência cultural e, apesar da influência norte-americana dos últimos quase 80 anos, somos ainda contabilmente dominados pela origem portuguesa, com forte prevalência da legislação fiscal. Reforça os contornos da contabilidade brasileira, o fato de o direito português integrar a família romano-germânica, resultando em uma legislação codificada (Code Law). Apesar da inadequação apontada por Nobes, quanto à imposição de um sistema contábil a determinado país, o Brasil, como tantos outros, já passou pelo processo de adoção das IFRS, independente do seu ambiente contábil natural. Resta avaliar o efeito desse processo ao longo do tempo, a leitura de como essa adoção tem sido feita na prática empresarial, as possíveis mas indesejadas pelo IASB - adaptações para acomodar esse novo sistema contábil internacional e o acompanhamento de como essa sobreposição de modelos contábeis conseguirá tornar os relatórios contábeis comparáveis, mesmo que os sistemas contábeis não o sejam. Certamente, há muito trabalho a ser feito pelos legisladores e numerosas perguntas a serem respondidas pela academia!  REFERÊNCIAS [1] NOBES, C. Towards a general model of the reasons for international differences in financial reporting. ABACUS, v. 34, n. 2, 1998.

PROFISSÃO CONTÁBIL

Suficiência da formação do profissional contábil: onde está o problema? por Taís Duarte - Mestranda do PPGCC

No mês de março a Fundação Brasileira de Contabilidade realizou o 1º Exame de Suficiência do ano de 2017. A aprovação no exame é necessária para a obtenção do registro profissional como Contador(a). O exame foi prestado por aproximadamente 46 mil graduados e graduandos, dos quais 75% foram reprovados. Tais resultados indicam que somente cerca de 11.500 candidatos estariam aptos a exercer a profissão contábil?! O número parece assustador, mas não é novidade se comparado aos resultados de anos anteriores ou ao exame similar aplicado pela Ordem dos Advogados do Brasil para os bacharéis em direito. A questão envolve diversos fatores, por vezes relacionados a qualidade do ensino, a efetividade dos processos de avaliação da aprendizagem, e a aderência do currículo das instituições de ensino com os anseios dos órgãos de classe. É preciso falar mais sobre isso, afinal, o que dizem tais resultados?  CRÔNICA DE SALA DE AULA

Porcos podem se divertir, mas alguns acham que não... por Dr. Gilberto José Miranda Meu filho, João Felipe, de sete anos, estava realizando a tarefa escolar. Ele estava lendo o livro “Porcos não podem voar”1. O livro relata a história de um porquinho que tentava se divertir copiando características dos outros bichos da floresta: colocou pernas de pau para ser como as girafas, listras no corpo para se parecer com as zebras, usou uma mangueira no nariz para imitar a tromba dos elefantes, pôs molas nos pés para saltar como os cangurus e por fim, asas para tentar voar como os papagaios. Ao final da história, depois de várias tentativas frustradas, o porquinho descobre que bom mesmo é ser porco, e se divertir na lama. Ao terminar de ler a história João disse: ─ Papai, o nome do livro é “Porcos não podem voar”, mas a história não fala só de voar, ela fala de outras coisas também. Notei a sua discordância com o título dado pelo autor. Então disse a ele: ─ Você tem razão. Qual título você daria a esta história? ─ Hum... Porcos podem se divertir, mas alguns acham que não. ─ Muito bem! Acho que o seu título é perfeito! Diga isso à sua professora! Achei interessante aquele episódio. Meu filho não sugeriu um título diferente, é verdade, mas intuitivamente, ele tentou apresentar no título o menor resumo da história. Embora não devemos prescindir da criatividade (como no caso do livro), o papel primário de um título é ser, de fato, o menor resumo da história! REFERÊNCIA [1] CORT, Ben. Porcos não podem voar. Designs and Paternts Act, 1988.

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PRODUÇÃO CIENTÍFICA

A resenha acadêmica: algumas notas sobre esse gênero textual por Dra. Marli Auxiliadora da Silva - Docente do PPGCC

Quando nos é solicitado escrever um texto, atendendo às exigências de um determinado gênero, algumas vezes questionamos sobre como dizer o que precisamos comunicar, ou seja, qual é a estrutura, como é o estilo e a linguagem típicos desse gênero1. Dominar um gênero é apropriar-se dos conceitos e procedimentos acadêmico-científicos, saber fazer e, mais do que isso, apropriar-se também dos modos de referência e da textualização dos saberes, saber dizer para que os objetivos da atividade sejam alcançados2. Essa apropriação de saberes é observada especialmente no gênero textual resenha acadêmica visto que se trata de dizer algo sobre o que foi escrito por outra pessoa. O gênero resenha acadêmica se constrói a partir de enunciados científicos de outrem (o já-dito) e da posição de autoria do resenhador que, normalmente, é um especialista, um professor ou um cientista voltado para um objeto cientifico3 [...]. Ademais, o fato de se escrever (a resenha) dentro de uma esfera científico-acadêmica muda o status do gênero, tornando-o diferente de textos similares que aparecem em jornais diários ou em revistas semanais de divulgação. No contexto acadêmico, o resenhador enuncia: ele fala para especialistas da área, para seus pares; constrói o seu ponto de vista sobre a temática desenvolvida pelo autor da obra (livro, artigo, filme etc.), e, às vezes, recorre a autores externos para sustentar sua opinião. Todavia, nessa articulação, o resenhador é desafiado a estabelecer claramente no seu texto os limites entre as suas ideias e as ideias do texto fonte, bem como a argumentar a partir do conteúdo apresentado por esse último4. Dentre os diversos gêneros textuais, a resenha revela a capacidade de síntese de seu autor e, por isso, é, necessariamente, um texto breve e, normalmente, a sua elaboração é precedida pela elaboração de outro gênero textual: o resumo. No resumo, os resenhadores reconstroem a lógica enunciativa do texto e, realizam atividades de leitura analítica e de sumarização, aspectos essenciais para a escritura da re-

senha3.

Embora seja uma espécie de resumo crítico, a resenha é mais abrangente: permite comentários e opiniões, inclui julgamento de valor, comparações com outras obras da mesma área e, também, avaliação da relevância da obra com relação às outras congêneres5. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por intermédio da NBR 6028, denomina a resenha de resumo crítico e orienta que nela se deve resumir as ideias da obra, avaliar as informações nela contida e a forma como foram expostas, bem como justificar a avaliação realizada. Embora mantenha a estrutura de um resumo, a resenha pode ser descritiva, quando dispensa a apreciação daquele que a elabora ou temática, quando o resenhador apresenta vários textos que tratam do assunto (tema) em comum. A resenha também pode ser crítica, quando exige a apreciação do resenhador. Em geral, não há um formato determinado ou rígido, mas revistas e periódicos solicitam um limite de três (3) a quatro (4) laudas. Alguns passos, usualmente, são observados para a redação e apresentação dos diferentes tipos de resenhas Na resenha acadêmica crítica deve-se: (a) identificar os dados bibliográficos essenciais da obra resenhada; (b) apresentar, em poucas linhas, todo o conteúdo do texto a ser resenhado; (c) descrever a estrutura da obra (especialmente se for um livro) sobre a divisão em capítulos, em seções, sobre o foco narrativo ou até, de forma sutil, o número de páginas do texto completo; (d) descrever o conteúdo de forma a resumir claramente o texto resenhado; (e) analisar de forma crítica o tema, opinando de forma argumentativa com base em teorias de outros autores, estabelecendo pontos e contrapontos; (e) recomendar a obra àqueles que possam ter interesse no tema trabalhado; (f) identificar o autor do texto resenhado, apresentando informações sobre sua vida e outras produções; e (g) identificar o resenhador, a fim de situá-lo academicamente. Na resenha acadêmica descritiva, modalidade que

exige a descrição da obra, os passos são os mesmos, excluindo-se, tão somente, a análise crítica com base em argumentação acerca de teorias e/ ou posições de outros autores. Por fim, na resenha temática, o resenhador disserta sobre outros textos que tratam de um assunto (tema) em comum e, para tanto, deve: (a) apresentar o tema situando o leitor sobre o assunto principal dos textos resenhados e o motivo da sua escolha; (b) resumir os textos (usualmente um parágrafo para cada texto), informando quem é o autor e o seu posicionamento em relação ao assunto; (c) concluir, expondo um ponto de vista sobre os textos, de forma a apresentar uma conclusão sobre o tema tratado; (d) evidenciar as fontes resenhadas; (e) identificar o resenhador, a fim de situá-lo academicamente. Em síntese, é importante ressaltar que, em qualquer formato, ao se elaborar uma resenha, é importante que sejam priorizadas determinadas características desse gênero textual: a objetividade e a impessoalidade para manter o cunho científico; a apresentação de ideias ordenadas de maneira lógica e, finalmente, a verificabilidade, ou seja, é preciso que as informações possam ser comprovadas pelos leitores.  REFERÊNCIA [1] LIMA-SILVA, A. V. A produção de resenha acadêmica no ensino superior. ReVeLe, n. 2, p. 1-13, jan., 2011. Disponível em:<www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/revele/article/ download/3638/3614>. Acesso em: 02 abr. 2017. [2] MATÊNCIO, M. L. M. Referenciação e retextualização de textos acadêmicos: um estudo do resumo e da resenha. In: III CONGRESSO INTERNACIONAL DA ABRALIN, 2003. Rio de Janeiro. Anais eletrônicos... Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2003. Disponível em: <http:// www.letras.ufrj.br/abralin>. Acesso em: 02 abr. 2017. [3] NIEDZIELUK, l. C. Uma abordagem para o ensino-aprendizagem do gênero resenha acadêmica. 2007. 233 f. Tese (Doutorado em Linguística). Programa de Pós-graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007. [4] MOTTA-ROTH, D. A construção social do gênero resenha acadêmica. Trabalhos em linguística aplicada, Campinas: UNICAMP/IEL, n. 38, p. 29-45, jul./dez., 2001. [5] OLIVEIRA, A. B. S. (Coord.). Métodos e técnicas de pesquisa em contabilidade. São Paulo: Saraiva, 2003.

ESTRÁTEGIA DE ENSINO

Estudo de caso: uma estratégia para aliar a teoria à prática preocuparem com a punição do ambiente, fato que aconteceria, caso estivessem inseridos em um contexto real2. Nesse sentido, seu  propósito é fomentar a discussão, contribuir para o desenvolvimenP to da capacidade crítica e promover a reflexão dos grupos. O professor exerce um papel de instruÇà tor quando utiliza a estratégia do estudo de caso, e, portanto, precisa ter domínio do conteúdo que constitui o objeto de estudo, das suas questões norteadoras bem como clareza quanto aos objetivos educacionais a serem alcançados. Assim sendo, seu papel é selecionar materiais e indica-los aos alunos para que haja aprofundamento do tema trabalhado. É preciso, sobretudo, ter cuidado ao escolher e/ou elaborar o estudo de caso, pois a sua estruturação não é uma tarefa fácil: exercícios longos não são necessariamente estudos de caso! Além disso, ao professor, compete, ainda, liderar a discussão do caso, buscando o envolvimento dos alunos2. Cabe ao aluno a responsabilidade pela sua preQ

Nas pesquisas sociais, principalmente naquelas que se referem ao ensino de Ciências Contábeis, o estudo de caso apresenta-se Á como uma ferramenta bastante utilizada e significativa1. Na aplicação dessa estratégia busca-se a promoção da reflexão e a cooperação entre os alunos acerca É de uma situação problema proposta pelo professor. Assim como no uso de outras estratégias de ensino, ao decidir pela aplicação do estudo de caso, o professor deve considerar os objetivos educacionais. Ao analisar um caso em profundidade, busca-se o entendimento do processo, o desenvolvimento de conceitos e de abordagens para uma questão, sem que haja preocupação com os resultados. Sendo assim, a estratégia configura-se como um instrumento que testa o entendimento da teoria, visando a sua aplicação na prática, seja a situação analisada real ou fictícia. Ela permite que os alunos externalizem suas próprias ideias e expressem opiniões na condição de tomadores de decisões, sem se

por Camila Lima Bazani - Mestranda do PPGCC

paração individual por meio das leituras com vistas ao aprofundamento do tema, reflexão e comprometimento com a atividade, para ser capaz de levantar questões referentes ao caso e participar das discussões de forma ativa e participativa, agregando informações no processo de construção do conhecimento relacionado ao caso. Além disso, ao final da atividade, deverá sintetizar a discussão em um relatório para avaliação do professor como um complemento da sua participação na atividade2. A estratégia estudo de caso apresenta-se muito válida para o processo ensino-aprendizagem, uma vez que apresenta uma abordagem holística e torna a aula dinâmica. Por outro lado, é relevante considerar que a aplicabilidade dessa estratégia configura-se como um constante desafio, tanto para professores, que devem estar preparados para conduzi-la, quanto para os alunos, que devem apresentar um elevado grau de maturidade e de esforço, no sentido de participar de forma agregadora da atividade.  REFERÊNCIAS

[1] MIRANDA, G. J.; LEAL, E. A.; CASANOVA, S.P. C. Estratégias de ensino aplicadas à contabilidade: existe uma receita? In: COIMBRA, C. L. Didática para o ensino nas áreas de Administração e Ciências Contábeis. São Paulo: Atlas, 2012. [2] GRAHAM, A. Como escrever e usar estudos de caso para ensino e aprendizagem no setor público. Brasília: ENAP, 2010, 214 p.


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