2 ESTRATÉGIAS DE PESQUISA
O mundo da pesquisa contábil: é preciso aventurar-se por novos caminhos...
2 PROJETO DE SUCESSO
“Contabilidade em Cena – investir ou não investir, eis a questão?”
2 CRÔNICA DE SALA DE AULA
Contabilidade, uma ciência exata?
3 ANÁLISE
Leitura e desempenho acadêmico
Perspectiva Contábil Informação, Ciência e Diálogo 5ª Edição | Maio 2018 ENTREVISTA
A pesquisa em Contabilidade: com Dra. Ilse Beuren
Entrevista concedida em 18/04/2018
Doutora em Controladoria e Contabilidade, a Profa. Ilse Beuren é coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina, onde atua como professora titular do Departamento de Ciências Contábeis. É autora de livros, capítulos de livros, artigos publicados em periódicos e trabalhos socializados em anais de eventos científicos. Desde 2003 é líder do Núcleo de Pesquisas em Controladoria e Sistemas de Controle Gerencial. Suas pesquisas têm como foco, principalmente, os seguintes temas: contabilidade gerencial, controladoria, sistemas de controle gerencial e controles de gestão.
expectativa pois não é essa a função da pós. A pós-graduação é repensar formas de saber, de supor saber e de viver! Não se conformar com o que sabe ou pensa saber, buscar sempre mais”! Os professores na pós-graduação devem instigar a pesquisa e nos direcionar a compreender “o que já é de domínio e o que tem de espaço para investigação”! B.P.C.: Sobre carreira e escopo da contabilidade, quais áreas estão necessitando de um olhar mais apurado?
I.M.B.: A visão é consolidada no olhar econômico, mas ainda existem lacunas. “Todos os modelos propostos precisam olhar mais A convite da equipe editorial do Boletim para o COMPORTAMENTO DO INDIVÍDUO, Perspectiva Contábil, a Professora Ilse Beuren pois a área comportamental mexe muito com falou sobre sua experiência acadêmica, e a gente” [...] “Por exemplo, uma área atraente é apontou áreas que entende merecer um olhar sistema de controle gerencial versus aspectos mais atento dos pesquisadores contábeis. da psicologia: antes um bom modelo técnico nos atendia, agora entendemos que por B.P.C.: Como foi o trás de tudo temos pessoas início de sua trajetória que podem ou não fazer o O mestrado e o doutorado é o acadêmica? O que pode que é necessário”. A área dizer para quem está ambiente adequado para repensar gerencial dificilmente trabalha ingressando na pós- formas de saber, de supor saber e com survey, por exemplo, graduação? de viver! Não se conformar com o como falar sobre estratégia que sabe ou pensa saber, buscar perguntando em questionário I.M.B.: Comecei no sempre mais! ou como pesquisar aspectos ambiente corporativo psicológicos sem olhar frente e, como meu dia-a-dia era absorvido pela rotina administrativa, não a frente as pessoas. Temos espaço também havia muito tempo disponível para leituras sobre as questões organizacionais: estratégia, e pesquisas que sempre me despertaram tecnologia, teoria da contingência, sistemas, interesse e poderiam levar ao meu crescimento. amplitude do ambiente onde está trabalhando, Eu tinha muito claro em minha mente que institucionalização, hábitos e rotinas. Também queria trabalhar com Contabilidade Gerencial podemos trabalhar o indivíduo por meio e, certo dia, uma universidade particular me da contabilidade financeira, por exemplo, convidou para dar uma noite de aula e os jovens imaginamos que a implementação das normas ávidos por conhecimento me levaram a refletir internacionais de contabilidade não adentre em que era aquele lugar onde eu queria estar. aspectos do indivíduo, mas como reportar a Eles me instigaram muito e pude perceber pós-implementação das normas internacionais que “... quão mais se olha para esse universo às pessoas? Finalizando, quem gosta de (acadêmico) mais se descobre o quão pouco questões mais objetivas talvez não seja se sabe! E acho que isso ninguém te diz antes interessante tentar trazer olhar comportamental de entrar no mestrado/doutorado. Muitas vezes para a contabilidade. De toda forma, temas os alunos na pós-graduação esperam que se para pesquisar não faltam!!! A questão é o quê ensine débito e crédito e se frustram com essa ligamos com o que!
3 MINHA BIBLIOTECA
Livro: “Revolucionando o desempenho acadêmico”
3 EDUCAÇÃO & SAÚDE
Alunos estressados?!
4 REFLEXÃO
Equilíbrio entre trabalho e família para o professor: é um desafio?
4 EXPERIÊNCIA ACADÊMICA
III Doctoral Consortium of USP for Accounting Research Research INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS
Valder Steffen Júnior Reitor da UFU
Nilton Cesar Lima Diretor da FACIC
Edvalda Araújo Leal
Coordenadora do PPGCC Av. João Naves de Ávila, 2121 - Bloco 1F - Sala 248 Campus Santa Mônica - Uberlândia/MG - CEP 38.400-902 Telefone: +55 (34) 3291-5904 E-mail: ppgcc@facic.ufu.br
Site: www.ppgcc.facic.ufu.br
EQUIPE EDITORIAL PROFESSORA
ORGANIZAÇÃO E EDIÇÃO - Dra. Marli Auxiliadora da Silva
PÓS- GRADUANDOS
- Me. Cláudia Maestri - Me. Taís Duarte - Anderson Cardoso - Layne Ferreira - Nicolle Martins
EGRESSO PPGCC/UFU - Me. Izael Santos COLABORAÇÃO REVISÃO TÉCNICA - Dr. Gilberto José Miranda - Dra. Edvalda Araújo Leal
Caro leitor, Esta é a 5ª Edição do “Perspectiva Contábil: informação, ciência e diálogo”, o boletim informativo PPGCC/UFU. Nesta edição são apresentados temas sobre ensino e pesquisa em contabilidade, evidenciados resultados de estudos recentes e reflexões sobre o ambiente acadêmico. Esperamos que aproveitem os textos e que os mesmos possam proporcionar discussões, contribuindo para o desenvolvimento científico da contabilidade. Boa leitura! Equipe Editorial
ESTRATÉGIAS DE PESQUISA
O mundo da pesquisa contábil: é preciso aventurar-se por por Mônica Aparecida Ferreira - Doutoranda PPGCC/UFU novos caminhos...
Sabemos que as pesquisas em Contabilidade, se comparadas a outras áreas do conhecimento, como, por exemplo, a médica, ainda carece de maturidade. Mas é fato que estamos caminhando e, com isso, contribuindo para o desenvolvimento da Ciência. Mas, Ciências Contábeis é Ciência? Bom, temos respostas para todos os gostos e ficaríamos facilmente, por horas e horas, discutindo sobre esse assunto. Voltemos ao foco: Pesquisas em Contabilidade.
que a pesquisa qualitativa é subjetiva; ou, ainda, porque a maioria das revistas tem seu escopo voltado para pesquisas quantitativas. Todas essas possíveis respostas foram, inclusive, ditas por mim até esse momento.
Mas essa história mudou e vou contá-la a vocês. Ao ingressar no doutorado, a primeira preocupação é: PRECISO TER UMA TESE! E, juntamente com essa frase, vêm inúmeros sofrimentos: a tese precisa ser inédita, ter Posso dizer que minha aventura pelo mundo contribuições teóricas e práticas etc. Assim, a da pesquisa começou, vida dos doutorandos se complica de fato, durante nesse momento e comigo não o mestrado. Foi foi diferente. Procurei definir de Alguns momentos podem nesse momento de forma ampla o que eu queria nos exigir mudanças e meu percurso de pesquisar e quem seria minha talvez seja necessário se qualificação acadêmica orientadora. Feito isso, depareique descobri que as aventurar, buscar novos me com a possibilidade de pesquisas podem desenvolver na minha tese caminhos... ser quantitativas, uma pesquisa qualitativa. E a permeadas de métodos primeira inquietação foi: “Mas estatísticos, ou qualitativas, normalmente, como será que a banca irá avaliar uma pesquisa marcadas pelo uso de entrevistas e observações, qualitativa?”. Mas, ao mesmo tempo, minha dentre outras características. E eu, assim possível TESE me fez brilhar os olhos. como a grande maioria dos pesquisadores e Daí, então, surgiu a necessidade de aventuraralunos da pós-graduação, iniciei pela pesquisa me por novos caminhos... Se eu iria desenvolver quantitativa. Perpassei pelo mundo das matrizes uma pesquisa qualitativa, era necessário que eu de correlações, mergulhei nas variáveis buscasse conhecer esse mundo que até então dependentes e independentes das regressões e, me era distante. Pesquisei programas de póspor fim, me “apaixonei” pelo Modelo Hierárquico graduação da área que ofertavam a disciplina Linear. de métodos qualitativos e, para minha surpresa, É fato que as pesquisas na área contábil apenas dois ofereciam: USP e FGV. ainda são predominantemente quantitativas Como a disciplina de Métodos Qualitativos de e isso nos instiga a refletir... por quê? Acredito Pesquisa em Contabilidade seria oferecida que chegaríamos a inúmeras respostas, tais naquele período na USP, candidatei-me como como: a grande maioria dos programas de aluna especial para cursá-la. No primeiro dia de pós-graduação só oferecem disciplinas de aula, fomos convidados a expor as motivações Métodos Quantitativos; orientadores com que nos levaram até ali e, nesse momento, viés quantitativo; as pesquisas quantitativas, só conseguia pensar que o meu objetivo era por vezes, demandam menos tempo para construir um “arsenal”, mas de armas que sua realização se comparadas às pesquisas pudessem me auxiliar na arguição sobre a minha qualitativas dada a facilidade de acesso a pesquisa e, ainda, que me fizessem estar apta a bancos de dados; por haver um preconceito de
“Contabilidade em Cena – investir ou não investir, eis a questão?” O projeto “Contabilidade em Cena” sugere que é possível ensinar e aprender de uma forma diferente. Ele tem sido desenvolvido no curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Uberlândia, com intuito de introduzir os estudantes no processo de análise de demonstrações financeiras publicadas, e unir a teoria e a prática. No ano de 2017 o projeto foi desenvolvido utilizando a estratégia do Role Playing, os estudantes representaram os papéis de diretorpresidente, controller, auditor e diretor de marketing para apresentar os resultados das análises que realizaram sobre as demonstrações. Enquanto os professores e os pós-graduandos desempenharam papéis de investidores interessados em aportar capital nas empresas. O projeto foi desenvolvido ao longo do 2º semestre sob a coordenação 2 da Profa. Dra. Patrícia de Souza Costa, em conjunto com duas estudantes da
Então, à medida que os professores responsáveis foram explicando como a disciplina seria conduzida (Professora Silvia, Professora Janete e Professor Joshua), vi que seria gratificante estar ali todas as terças-feiras desse semestre. Já na primeira aula, a Professora Janete tratou sobre o vocabulário utilizado na realização das pesquisas qualitativas, mostrando as diferenças básicas entre a pesquisa com abordagem metodológica quantitativa e a de abordagem qualitativa. Nesse momento, isso me fez refletir sobre o fato de minha Tese exigir uma abordagem quali ou não. Inicialmente, penso que seja isso mesmo, pois a palavra que me marcou nesse encontro foi “PROFUNDIDADE”, que é uma característica marcante da pesquisa qualitativa e é o que realmente busco com a realização da minha tese. Outro ponto que me chamou muita atenção na aula foi a respeito da discussão da subjetividade que envolve a pesquisa Qualitativa. E, nesse momento, a professora Janete disse: “E a pesquisa Quantitativa não tem subjetividade? Quem escolheu a problemática? Os dados? A amostra? Quem analisa os testes estatísticos?”. Ou seja, há subjetividade tanto na pesquisa Qualitativa quanto na Quantitativa. A cada aula, descubro um pouquinho mais desse mundo que trata de pesquisas qualitativas em Ciências Contábeis e percebo o quanto aventurar-se por novos caminhos, novas abordagens e técnicas pode nos deixar mais preparados enquanto pesquisadores, pareceristas de revistas, orientadores e professores. E a aventura continua... CRÔNICA DE SALA DE AULA
PROJETO DE SUCESSO
É possível ensinar contabilidade de uma outra forma? É possível aprender contabilidade atuando?
utilizar (métodos e procedimentos) a abordagem qualitativa na minha tese.
pós-graduação, Fabiana Cruz e Jéssica Rayse, que cursavam a disciplina de estágio docência. Ao todo, contou com a participação de sessenta alunos da graduação, três doutorandos e dois mestrandos do PPGCC/UFU e ainda dois professores do curso de Ciências Contábeis. Conforme opinião dos estudantes que responderam um questionário auto avaliativo, o projeto auxiliou na integração entre teoria e prática, no desenvolvimento de pensamento crítico, na integração do conhecimento técnico com a disciplina e proporcionou uma visão da realidade e dificuldades enfrentadas pelos tomadores de decisão nas empresas. O grupo que obteve maior pontuação ganhou um e-book patrocinado pela Editora Atlas-Gen.
Contabilidade, uma ciência exata? por Taís Duarte - Doutoranda PPGCC/UFU
Naquela manhã, o assunto da aula era as mudanças de algumas normas internacionais de contabilidade, especialmente as alterações na norma de arrendamento mercantil. A sala ouvia atentamente, até que João levanta a mão e faz uma pergunta: __Professora, agora após essas mudanças posso afirmar com certeza que no reconhecimento de um arrendamento contabiliza-se ... Antes mesmo do aluno terminar sua fala, professora já imaginando o que ia ouvir apenas diz: __Depende! João indignado, esbraveja: __Professora como depende?! Eu nem terminei a pergunta e já vem esse tal “depende”. Em várias outras aulas eu escuto a mesma resposta “depende”, nós não temos respostas? Por que depende? A professora sorriu e diz: __Depende, porque as normas permitem julgamentos, escolhas, as atividades das empresas podem ser muito diferentes, é preciso entender e avaliar cada caso... A professora continuou a explicação, mas parecia difícil convencer aos alunos que não existia respostas prontas e que a contabilidade não era uma ciência exata.
ANÁLISE
Leitura e desempenho acadêmico por Vivian Couto - Doutoranda PPGCC/UFU
A habilidade de leitura é desenvolvida durante toda a vida estudantil, desde a fase infantil até a fase adulta. Mas a última oportunidade formal de desenvolvê-la está na universidade. Afinal, é no ensino superior que se elabora uma produção científica e, por meio dela, formam-se pessoas críticas e competentes profissionalmente, devido, justamente, à leitura necessária que permeia as produções. A habilidade de leitura é uma atividade complexa, sendo influenciada por diversos fatores: conhecimento léxico, familiaridade com o texto, gênero textual, entre outros. Para ser um leitor bem-sucedido, é necessário ir além da decodificação, acessando conhecimentos prévios e estabelecendo relações instantâneas com o texto1. Na disciplina de Análise de Demonstrações Contábeis, por exemplo, o estudante deve ser capaz de explorar a leitura, interpretar e utilizar essas representações, inclusive, nos relatórios publicados, para que consiga avaliar a situação econômico-financeira das entidades, seja para investimento, seja para concessão de crédito ou mesmo em processos licitatórios2. As conclusões sobre a situação da entidade são oriundas de relatórios de auditoria, demonstrações de resultado, balanço patrimonial, notas explicativas, dentre outros documentos. Nesse sentido, acredita-se que as habilidades de leitura de textos, gráficos e tabelas é imprescindível ao profissional dessa área. Alguns estudos sugerem que a habilidade de leitura está relacionada ao desempenho dos estudantes3. Pensando nisso, realizouse, em 2017, uma pesquisa cujo objetivo foi investigar a relação entre habilidade de leitura e desempenho acadêmico dos alunos matriculados na disciplina de Análise de Demonstrações Contábeis. Para avaliar a habilidade de leitura textual dos alunos, utilizou-se a técnica de Cloze4 e, para avaliar as habilidades de leitura de gráficos e tabelas, utilizou-se como base os trabalhos de Curcio (1987) e Wainer (1992). O desempenho dos alunos foi mensurado pela nota final na disciplina avaliada. Observou-se que existe uma correlação positiva e significativa entre a habilidade de
leitura de textos complexos e a habilidade de leitura de gráficos e tabelas. Isso significa que estudantes que tem compreensão plena de textos resolvem questões mais complexas ao observar um conjunto de dados. Por outro lado, na amostra pesquisada, a habilidade de leitura geral é baixa, tanto de textos como de tabelas e gráficos, corroborando outros estudos nacionais5. Sabe-se que a análise da situação econômico-financeira de uma entidade pode ser prejudicada quando é realizada por um profissional com baixa habilidade de leitura ou que apresenta dificuldade no acesso e/ ou decodificação de informações importantes presentes nos relatórios contábeis. Por isso, torna-se importante uma discussão sobre o papel das universidades no desenvolvimento das habilidades de leitura dos alunos, bem como acerca do papel do professor. Assim como outros profissionais, o contador precisa desenvolver habilidades de leitura que lhe permitam observar, interpretar e julgar os relatórios das organizações em que atuam. Avaliar a habilidade de leitura dos alunos é importante para compreender o processo de aprendizagem dos mesmos, pois a leitura permite a construção do próprio conhecimento. Ninguém nasce sabendo de todas as coisas, mas a capacidade de leitura é desenvolvida à medida que é oportunizada ao indivíduo a possibilidade de compreender, julgar, opinar e construir novas ideias.
REFERÊNCIAS [1] FINGER-KRATOCHVIL, C.; SILVEIRA, R. Assessing undergraduate students’ Reading process: insights from questionnaire and Reading task data. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, v.10, n.3, p. 723-746, 2010. [2] MARTINS, E.; MIRANDA, G.J.; DINIZ, J.A. Análise Didática das Demonstrações Contábeis. São Paulo: Atlas, 2014. [3] SANTOS, A.A.A; FERNANDES, E.S. Habilidade de escrita e compreensão de leitura como preditores de desempenho escolar. Psicologia Escolar e Educacional, São Paulo, v.20, n.3, p. 465473, 2016. [4] TAYLOR, W.L. Cloze Procedure: a new tool for measuring readability. Journalism & Massa Comunication Quaterly, v.30, n.4, p.415-433, 1953 . [5] SANTANA et al. Hábito de leitura dos alunos de Ciências Contábeis da Universidade Estadual de Feira de Santana. Revista de Administração e Contabilidade, v.5, n.3, p.110-116, 2013.
MINHA BIBLIOTECA
Livro: “Revolucionando o desempenho acadêmico” Todos são convidados a uma agradável viagem ao mundo do saber e do entretenimento. Conheçam "O Desafio de Isa" e descubram os segredos do desempenho acadêmico, em cores e emoções! O livro combina ficção com fatos reais que pautam a vida acadêmica de estudantes, seus familiares, docentes e gestores escolares, e apresenta os fatores determinantes para se obter os melhores rendimentos acadêmicos. Lançamento previsto para julho de 2018, pelo grupo editorial GEN|Atlas. Autores: Gilberto José Miranda; Silvia Pereira de Castro Casa Nova; Edvalda Araujo Leal; Aline Barbosa de Miranda; Alanna Santos de Oliveira e Mônica Aparecida Ferreira .
EDUCAÇÃO & SAÚDE
Alunos estressados?!
por Taís Duarte - Doutoranda PPGCC/UFU
São cada vez mais frequentes relatos e notícias sobre a incidência de problemas de cunho psicológico em toda a sociedade, desde casos simples até situações mais complexas e com consequências graves na vida das pessoas. Atualmente, esse é um assunto comum nas redes sociais e, nesse espaço, chama a atenção a quantidade de jovens que relatam viver esses tipos de problemas. Extrapolando o ambiente informal, pesquisas científicas têm sido realizadas com o foco de investigação dirigido para estudantes com o fim de averiguar a incidência de adversidades psicológicas, dentre as quais destaca-se o estresse. Alguns pesquisadores entendem que, no período acadêmico, os jovens vivenciam experiências que podem aumentar os níveis de estresse1 e afetar a saúde mental dos estudantes2. Recentemente foi investigada3 a incidência do estresse em universitários dos cursos de Ciências Contábeis e Administração em uma instituição de ensino superior pública federal. Importante mencionar que esses cursos abrangem parcela significativa dos estudantes brasileiros, pois estão entre os cinco maiores em número de matrículas. Os resultados do estudo apontaram que 51% dos respondentes apresentavam nível de estresse alto e, em contrapartida, apenas 2,78% apresentavam baixo nível de estresse. Relacionando esses níveis com algumas características, verificou-se que estudantes do sexo feminino e com baixa renda familiar apresentavam maior nível de estresse. Dentre as fontes de estresse mais frequentes, destaca-se a falta de motivação para estudar e desapontamentos com algumas disciplinas. A alta incidência do estresse é preocupante, principalmente, considerando que o estresse em excesso pode trazer prejuízos na vida dos estudantes. Ademais, se o aluno permanece com alto estresse durante toda a sua graduação, ele pode correr o risco de iniciar sua profissão já estressado, o que pode ser prejudicial também para seu desenvolvimento profissional. Dessa forma, ao considerar a importância do período universitário na vida dos estudantes, é fundamental que haja uma maior discussão sobre estresse no ambiente acadêmico. É necessário também conhecer os fatores associados e as consequências do alto estresse, para que, assim, sejam planejadas e realizadas ações que possibilitem ao estudante a oportunidade de vivenciar uma melhor experiência universitária e, principalmente, para que eles possam aprender em um ambiente mais harmônico e saudável. REFERÊNCIAS [1] BUKHSH, Q.; SHAHZAD, A.; NISA, M. A study of learning stress and stress management strategies of the students of postgraduate level: a case study of Islamia University of Bahawalpur, Pakistan. Procedia-Social and Behavioral Sciences, v. 30, p. 182-186, 2011. [2] WYNADEN, D.; WICHMANN, H.; MURRAY, S. A synopsis of the mental health concerns of university students: Results of a text-based online survey from one Australian university. Higher Education Research & Development, v. 32, n. 5, p. 846-860, 2013. [3] SILVA, T. D. O estresse e sua relação com o desempenho acadêmico: um estudo com graduandos de Ciências Contábeis e Administração. 2017. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis), Universidade Federal de Uberlândia, 2017.
3
REFLEXÃO
Equilíbrio entre trabalho e família para o professor: é um desafio?
por Laura Brandão - Mestranda PPGCC/UFU
Atribui-se ao trabalho um papel de destaque na vida de um indivíduo, visto que ele é a fonte de recursos que garante a sua sobrevivência1. Além disso, muitos anos são dedicados às exigências constantes de atualização e aprimoramento profissionais para que possam ser executadas as atividades, como é o caso dos docentes. Considerando que trabalho e família são domínios importantes na vida de um indivíduo, tem-se discutido a interface do equilíbrio entre essas esferas – work-life balance –, de modo que são analisadas as formas como as pessoas compatibilizam e gerenciam os papéis exercidos em ambos os domínios de forma a minimizar possíveis conflitos. Esses conflitos são classificados com base no tempo (a dedicação a um papel, ou domínio, torna difícil a realização do outro); com base na tensão (a tensão produzida por um papel torna difícil a realização do outro); e com base em comportamento (as exigências de um papel torna difícil a realização do outro)2. O conflito entre os domínios trabalho e família, quando balanceado, resulta em satisfação e bom funcionamento ou desempenho nas funções do trabalho ou diante das responsabilidades familiares. Por outro lado, os conflitos têm sido apontados como desencadeadores de estresse, doenças, afastamento do trabalho, entre outros problemas3. Diante das adversidades de um ambiente altamente turbulento, como o vivenciado no trabalho docente, o work-life balance é
evidenciado em diversas situações, tais como: sobrecarga de demandas das duas esferas, insatisfação em dedicar mais horas ao trabalho do que aos filhos, declínio da vida conjugal, falta de tempo para atividades pessoais e angústia ao tentar conciliar a maternidade com o trabalho. Esses são alguns dos fatores causadores de conflitos entre a vida pessoal e o trabalho4. Muitos professores afirmam sentir pressão pela demanda em torno da produtividade científica e, por vezes, não têm a percepção de estarem
passarem muito tempo com a família ou com os filhos, bem como a relativa falta de qualidade de vida6, já que essa carreira é marcada por constantes exigências e evoluções do mercado em relação ao aprimoramento e preparo desses profissionais7. Devido às deficiências que existem no ambiente de trabalho, como o sentimento de pressão, atividades dentro e fora da sala de aula e as exigências inerentes à docência universitária, o professor, muitas vezes, acaba levando trabalho para casa. Isso faz com que ele acabe abdicando de desfrutar momentos importantes em família, o que pode gerar estresse e diversos outros conflitos. Dessa forma, o equilíbrio entre vida pessoal e o trabalho do docente ainda é visto como um desafio a ser alcançado. REFERÊNCIAS [1] TROMBETTA, M. R. Conflito estudo versus trabalho: um estudo de caso sobre educação corporativa online. 185 f. Dissertação (Mestrado em Contabilidade) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009. [2] GREENHAUS, J. H.; BEUTELL, N. J. Sources of conflict between work and family roles. Academy of management review, v. 10, n. 1, p. 76-88, 1985.
preparados para o ensino. Além disso, lidar com funções administrativas e carga excessiva de atividades de gestão e ensino são fatores que causam estresse, fazendo com que os professores procurem aprender como desviar dessas situações5. Assim, é importante reforçar a necessidade de se monitorar o estresse na docência, dado o relato de professores sobre o fato de não
[3] PAIVA, K. C. M.; SARAIVA, L. A. S. Estresse ocupacional de docentes do ensino superior. Revista de Administração, São Paulo, v. 40, n. 2, p. 145158, abr./maio/jun. 2005 [4] TORRES, L. M. Relação Trabalho e Vida Pessoal na Perspectiva de Gerentes Médios de Empresas. 2009. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração. [5] KLASSEN, R. M. Teacher stress: The mediating role of collective efficacy beliefs. The Journal of educational research, v. 103, n. 5, p. 342-350, 2010. [6] MIRYALA, R. K.; CHILUKA, N. Work-Life Balance Amongst Teachers. IUP Journal of Organizational Behavior, v. 11, n. 1, p. 37, 2012. [7] SELIG, M. A profissão docente frente às exigências da sociedade contemporânea: um olhar para a saúde do professor. 38 f. Monografia (MBA em Administração Emocional) –Celer Faculdades. Xaxim, 2014.
EXPERIÊNCIA ACADÊMICA
III Doctoral Consortium of USP for Accounting Research
por Thayse Guimarães - Doutoranda PPGCC/UFU
Enquanto estudantes de um programa de pós-graduação, somos constantemente desafiados de diferentes maneiras, mas mal sabemos da dimensão desses desafios. Sempre estive inclinada a participar, o máximo possível, de eventos que pudessem me possibilitar crescimento dentro da carreira que escolhi e encontrei no evento “III Doctoral Consortium of USP for Accounting Research”, que aconteceu nos dias 25 e 26 de julho de 2017, uma grande oportunidade para me desafiar. Certo dia, um dos meus amigos da pós comentou que faria a inscrição nesse evento e eu, mais que rapidamente, me interessei e disse a ele que, com a participação mais de um, ficaria mais fácil superar nossas limitações. Digo limitações especialmente em relação à linguagem, pois, apesar de pensarmos que sabemos inglês, falar é diferente, e mais desafiador ainda é falar em outra língua sobre seu projeto de pesquisa de doutorado, visto que nem mesmo você está 100% convencido da proposta. E com essa empolgação (ou loucura), quatro, de oito alunos de nossa turma, resolveram enviar os seus projetos que, felizmente, foram aprovados. Começou, dessa forma, nosso bom desespero. Diante dos projetos aprovados, só nos restava encarar a oportunidade e fazer o nosso melhor. Mas.... e como seria a apresentação? Pode parecer que estou fazendo um grande drama, mas, pelo menos, para mim, essa foi a primeira oportunidade de fazer uma apresentação em inglês e, não apenas isso, oportunidade de passar dois dias tendo que me comunicar apenas em inglês durante os coffee-breaks ou mesmo durante
os intervalos de almoço. Claro que, em muitos momentos, minha comunicação era um sorriso de canto de boca, com um breve “Hi” ou “Good Morning” e eu logo escapava para outro lado da sala com medo de conversas mais longas (rs). No geral, o que posso relatar é que vencemos pela parceria que desenvolvemos. Se o desafio era coletivo, nada melhor do que nos prepararmos juntos, já que decidimos que entenderíamos os projetos uns dos outros para ajudar cada um a compreender as sugestões e críticas feitas posteriormente pelos professores convidados. E assim começou nossa parceria, por meio de um grupo no Whatsapp, no qual somente poderíamos nos comunicar em inglês. Ok!! Eu só queria escrever, porque estava tentando “trapacear”, mas logo foi acontecendo naturalmente, em áudios longos de “I’m sorry” ou várias frases terminadas em “Né”, mas fui entendendo o jeito, ou, pelo menos, adquirindo confiança em mim mesma. Acredito que foi assim para os meus amigos também e seguimos nessa viagem desafiadora, porém extremamente compensadora. Detalhe: foram apenas 10 alunos participantes desse consórcio, sendo quatro representantes do PPGCC da FACIC (uma honra, não?).
Não ficamos todos juntos, mas, felizmente, a única amiga separada de nós era uma das mais experientes e, sem dúvida alguma, ela tirou de letra a apresentação. Nós apresentamos o projeto, trocamos ideias, aceitamos as críticas e, do nosso jeito, fomos anotando tudo que nos era apresentado. E posso afirmar, com toda certeza, que, a partir desse consórcio, minha postura mudou muito. Tenho por mim que não há desafios que não possam ser superados (aqui não é um livro de autoajuda, eu sei), mas falo sério mesmo, porque naturalmente nos envolvemos nos nossos dramas mentais e subvalorizamos nossas capacidades. Voltei confiante e disposta a encarar os desafios de elaborar a tese e assim estou seguindo. Os professores internacionais foram muito educados e solícitos e, embora tivessem comentários a respeito do estudo, a postura deles sempre enaltecia o nosso esforço e a coragem que tivemos de participar do evento. Foi ótimo, foi seleto, foi incrível (!!!). E só posso agradecer, de maneira muito especial, aos amigos que encararam esse desafio comigo. Neiri, Reiner e Vivian, obrigada por me ensinarem tanto. Nossa parceria deu certo!!!