Coliving: Moradia Compartilhada e Colaborativa no bairro Dom Cabral

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Departamento de Arquitetura e Urbanismo

COLIVING: moradia compartilhada e colaborativa no bairro dom CABRAL

ALUNA: IZADORA Oliveira silva purger

BELO HORIZONTE JUNHO DE 2021


Sumário 1 - Introdução 2 - Modos de abordagem 2.1 - História das habitações coletivas 2.2 - o coliving Otimização de cursos e recursos Vida em comunidade Flexibilidade The Collective Old Oak Coliving Roam Bali

2.3 - Moradias Compactas 2.4 - Open Building 2.5 - Biofilia

3 - Levantamento e análise de dados do terreno 4 - ESTUDOS DE CASOS 4.1 - Edifício BsAs 4.2 - La Serre 4.2 - Casa gap 4.2 - Kasa Coliving


5 - Detalhamento da proposta 5.1 - o coliving no dom cabral 5.2 - o questionário 5.3 - Moradores 5.4 - Ambientes individuais APARTAMENTO TIPO 1 APARTAMENTO TIPO 2 APARTAMENTO TIPO 3 APARTAMENTO TIPO 4

5.5 - Ambientes COLETIVOS RECEPÇÂO ACADEMIA COWORKING COZINHA COLETIVA ESPAÇO MULTIFUNCINAL LAVANDERIA ESTACIONAMENTO JARDIM TERRAÇO SISTEMA "pay per use"

5.6 - Implantação 5.7 - Paisagismo

6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


1 - INTRODUÇÃO Diante de crises econômicas e ecológicas no mundo inteiro, a economia compartilhada surgiu como uma maneira de otimizar custos, poupar recursos naturais e consumir de forma mais consciente. Além de bens e serviços, as novas formas de consumo também se aplicam nos modos de morar contemporâneos, por meio de moradias compartilhadas e colaborativas, também conhecidas como Coliving. Essas habitações contemporâneas trazem à tona uma maior convivência e troca de experiências, uma vez que os moradores têm seus ambientes privados normalmente compostos por quarto e banheiro, enquanto áreas comuns são divididas coletivamente, como cozinhas, lavanderias e áreas de lazer. Outro fator importante para os novos modos de habitar é a flexibilidade, onde os indivíduos desapegam de ter posse de um imóvel e utilizam de contratos de curto prazo para escolher locais mais próximos do trabalho ou mais atrativos no momento. Dessa maneira, minimizando custos, mas aumentando as possibilidades, a ideia do Coliving proporciona moradias de maior qualidade e versatilidade para as atuais necessidades. Na Região Noroeste de Belo Horizonte, os bairros que circundam a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais do Campus Coração Eucarístico sofrem grande influência da instituição de ensino, uma vez que essa fez parte da história de origem e desenvolvimento desses, ainda ditando o ritmo até os dias atuais. A universidade vai muito além de um ponto de referência para os bairros como Coração Eucarístico e Dom Cabral, essa gerou uma grande demanda habitacional na região, visto que há uma busca por apartamentos por meio de estudantes e funcionários. Além da procura ocasionada pela faculdade, os bairros residenciais chamam atenção pela calma, boa vizinhança e auto sustentabilidade, contando com uma ótima infraestrutura de serviços e comércios como: supermercados, agências bancárias, farmácias, padarias, bares, restaurantes, lojas, escolas, entre outros. Fonte: Autoral

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É evidente a grande demanda por apartamentos no entorno da universidade. Tendo como exemplos os estudantes, é possível observar uma busca por locações de apartamento com contratos entre 4 a 6 anos, período determinado pela duração das graduações, uma vez que estes se deslocam de outros estados, regiões metropolitanas ou até mesmo de outros bairros da capital, pela praticidade de morar perto da universidade. Em vista disso, o presente trabalho tem como objetivo a criação de um Coliving no entorno da PUC-Minas para atender as demandas habitacionais de estudantes e funcionários da instituição mineira, oferecendo moradias com ideais de otimização de custos e recursos, flexibilidade e compartilhamento de espaços e experiências. Para tal fim, serão estudados neste artigo alguns modos de abordagem para projetar uma moradia coletiva de qualidade para os futuros moradores. Dentre eles, será abordado a otimização de custos e recursos, a vida em comunidade e a flexibilidade ligada ao Coliving. Em seguida, temas como Moradias Compactas, Biofilia e Open Building serão usados como suporte para entender as premissas para projetar esse local.

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2 - MODOS DE ABORDAGEM 2.1 - História das habitações coletivas

Fonte: Unité D'habitation Marseille

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A história da habitação coletiva no Brasil se inicia após a abolição da escravatura, em meados do século XIX, quando surge uma maior demanda habitacional e, por consequência, uma nova modalidade: os cortiços. Esse modelo se baseava em aluguel de cômodos de uma casa para um indivíduo ou uma família, sendo uma opção de moradia coletiva mais barata e localizada normalmente nos centros da cidade, onde havia mais oportunidades de empregos. Outra alternativa eram as pensões, onde as pessoas pagavam pela comida e hospedagem, também dividindo áreas comuns em horários como os de refeição. Entretanto, os primeiros projetos dessa área começam com o Falanstério, pensado pelo filósofo francês Charles Fourier no século XIX, com a ideia de grandes edifícios com uma organização na qual as pessoas poderiam trabalhar no que realmente amavam. A edificação coletiva era a pioneira em formas de habitar comunitárias, sendo dividida de acordo com as funções dos espaços. A teoria dessa moradia defendia o cooperativismo e a vida em comunidade, no qual as pessoas compartilhavam áreas e os benefícios disso, como uma fuga dos problemas do capitalismo. Nesse local, os moradores iriam trabalhar, produzir e dividir tudo em comunidade. Dessa forma, a ideia dessa moradia coletiva de Fourier foi referência para vários sistemas e projetos de moradia popular da época. O modernismo também veio com força para influenciar fortemente o campo da arquitetura e das habitações. Os edifícios de Unité d'Habitation, projetados por Le Corbusier, formam um grande marco na história do arquiteto e dos conjuntos habitacionais. O primeiro do grupo que está localizado em Marselha na França, foi construído com concreto bruto já que o aço estava em escassez depois da segunda guerra. O edifício contém 337 apartamentos com 23 tipos de variações, junto de uma parte comercial com livraria, restaurante, galerias, lojas e um hotel. Além disso, foi criada uma grande hierarquia entre ambientes públicos e privados, evidenciada nos espaços e corredores internos do prédio e na relação com o exterior. A obra ainda foi criticada por alguns arquitetos da época por falta de aberturas em quartos pequenos destinados para crianças. No seu texto "Habitação e Brutalismo", Giovanni Cristofaro fala que essas críticas ao movimento moderno na história da habitação continuou no CIAM IX, no qual um grupo de jovens conhecidos como Team X defendiam que os projetos modernistas deixavam de lado a conexão entre o homem e o espaço construído. As teses do grupo apoiavam um “Novo Brutalismo” no qual a valorização dos materiais não iriam acontecer apenas no quesito estético e, também, um modernismo que realmente fazia o que era defendido na teoria: relacionamentos emocionais. Esse brutalismo iria apoiar algo além da estética, no qual as obras estariam preocupadas com a habitação no total e com homem. A partir disso, seria necessário pensar em forma, estética e organização como consequência de como uma pessoa habita. A moradia então cria uma identidade pessoal e parte de uma orientação única do morador. 07


Já no Brasil, o edifício Pedregulho foi um marco modernista localizado na cidade do Rio de Janeiro. O projeto conta com quatro blocos de habitação e prédios para mercado, posto de saúde, creches, jardim de infância, ginásio, piscina, lavanderia, entre outros serviços. Sua implantação chama atenção pelo edifício no meio de um grande terreno arborizado. Suas unidades residenciais seguem princípios de Le Corbusier com vista na economia e criação do maior número de apartamentos possíveis. O conjunto conta com variados equipamentos coletivos, com o intuito de incentivar uma vida em comunidade e mais colaborativa entre vizinhos. Na Era Vargas no Brasil deu-se início a preocupação com as habitações populares, no qual se iniciou um plano de desenvolvimento de cidades que estavam perto dos grandes centros industriais para atender aos operários, com serviços de educação e saúde em suas proximidades. Entretanto, o déficit habitacional fez com que a população exigisse uma solução do governo e, dessa forma, nasceu a Fundação Casa Popular para responder à crise habitacional da época. Já em 1964, a criação do Banco Nacional da Habitação teve intenção política de dar subsídios para a população mais pobre, para ganhar a simpatia desses. Dessa forma os subsídios influenciaram fortemente no aumento das construções habitacionais da época. Entretanto, como as taxas eram baixas para a população mais carente, o banco começou a mover os investimentos para a classe média que pagava 3 vezes mais as taxas, tornando-se mais rentável. Dessa maneira, de seu início ao fim, o BHN foi responsável por aproximadamente 4,5 milhões de unidades habitacionais no Brasil, sendo uma parte importante da história das moradias no país. Com a persistente dificuldade de acesso a moradias para todos, o falho programa habitacional MCMV (Minha Casa Minhas Vida) nasceu como uma ideia de combate à recessão econômica, porém não solucionava o déficit habitacional. Além disso, foi utilizado pelas corretoras como grande empreendimento com um retorno certo, sem preocupação e fiscalização do governo com a qualidade. Estudos explicam que mesmo com a construção de mais de um milhão de moradias entre os anos 2009 e 2010, o problema da falta de acesso a habitação não foi solucionado, uma vez que os excessos de incentivos dados para as construtoras fizeram com que essas comprassem mais terrenos e controlassem mais o mercado imobiliário, subindo os preços dos imóveis. Para mais, os novos bairros eram construídos ao redor das cidades, segregados e carentes de serviços básicos. As casas dos conjuntos eram projetadas com um padrão repetitivo e sem pensar em sua localização no terreno, incidência solar ou ventos, por exemplo. Dessa forma, a falta de qualidade do conjunto tornava as residências precárias de bem-estar para as famílias que necessitavam do programa.

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Atualmente, como alternativa de escape para crises econômicas e naturais, procurando uma forma de otimizar custos, poupar recursos e consumir de forma mais consciente, novas propostas aplicadas no consumo de bens e moradias surgiram para enfrentar as realidades e obstáculos. De acordo com Leandro Novais (2015) é criado “uma tendência nos hábitos dos consumidores, de dividir o uso (ou a compra) de serviços e produtos, constituindo uma espécie de consumo colaborativo”. O modelo é conhecido como Economia Compartilhada se baseia em um consumo colaborativo onde as pessoas evitam a compra de novos produtos, utilizando outros caminhos como aluguel, troca ou compartilhamento. Seus benefícios englobam a redução do impacto no meio ambiente, incentivo ao consumo sustentável, democratização dos acessos aos bens e serviços e fortalecimento de comunidade, uma vez que substitui a ideia de bens totalmente individuais e prega uma abordagem de uso coletivo apoiado na confiança. Dessa maneira, fundamentado nos mesmos princípios desse novo consumo, surgem novos modos de habitar na cidade contemporânea: o Coliving.

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2.2 - O COLIVING

Fonte: https://oldoak360tour.thecollective.com/


Como foi dito anteriormente, o Coliving nasceu dos novos princípios ligados à sustentabilidade, redução de custos, comunidade e flexibilidade. Sua origem teve início no ano de 1972, no qual Sættedammen, na Dinamarca, tornou-se o primeiro projeto de cohousing - conceito utilizado para nomear um conjunto de casas que conserva as unidades privadas, mas compartilhava espaços de refeição, atividades de trabalho e outras que estimulavam a vida em conjunto e as relações coletivas. Depois disso, seguindo tais fundamentos de moradias compartilhadas, em 1988, o arquiteto Charles Durrett abraça a ideia e começa a aplicar nos seus projetos a moradia compartilhada como caminho para a sustentabilidade. Essa nova habitação coletiva se baseia na vida em um corpo social e nos usos compartilhados e colaborativos, onde as pessoas dispõem de espaços privados como quartos, banheiros e até salas, e espaços de usos comuns como cozinhas, lavanderias, coworking, academia, entre outros. De acordo com o site Coliving.com, o termo se caracteriza por “um conceito de vida em comunidade para que pessoas com interesses semelhantes vivam, trabalhem e se divirtam juntas''. As áreas de estar são bem projetadas, totalmente mobiliadas, com despesas extras e utilidades cobertas por uma conta. Atendendo a vários estilos de vida e gostos, o principal valor da experiência de vivência é o acesso à comunidade” Otimização de cursos e recursos

Para reverter os costumes do mundo industrializado e capitalista que defendem a “cultura da propriedade”, o argumento de um consumo mais consciente é pautado no compartilhamento e na utilização otimizada de mecanismos e espaços, poupando custos e recursos naturais. A economia pode aparecer de várias formas, a primeira acontece quando membros moradores dividem tarefas básicas, partilham objetos, equipamentos e até meios de transporte, ajudando uns aos outros e o planeta. Espaços como uma lavanderia, seriam utilizados de forma comum por todos os moradores, com máquinas disponíveis durante todos os dias, contrariando que cada morador compre um equipamento e use individualmente, evitando desperdício financeiro e materiais. Outros como jardins e hortas comunitárias, direcionam para caminhos de vida em conjunto, soluções mais saudáveis e econômicas para o dia a dia dos moradores. Uma outra direção, é a utilização de materiais sustentáveis que não prejudiquem o meio ambiente para a construção desses locais, uma vez que não faz sentido pensar em sustentabilidade tomando outro caminho. Sistemas de reaproveitamento de água, coletas seletivas de lixo e uso de energias renováveis, também são cruciais para o habitar mais responsável na cidade contemporânea.

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VIDA EM COMUNIDADE

Entre os principais pilares do Coliving, está a vida em comunidade. Embora tenha semelhanças com outras habitações coletivas como, por exemplo, moradias estudantis, o Coliving traz um aspecto muito maior da vida compartilhada e colaborativa. Além de separar espaços individuais dos coletivos, essa moradia contemporânea tem como objetivo estimular o convívio entre os moradores e, consequentemente, a troca de culturas e experiências. Ainda que se valorize a privacidade por meio dos apartamentos individuais, as pessoas que procuram esse tipo de moradia estão em busca de um cotidiano de trocas, onde é possível conhecer novas pessoas através da divisão de espaços, tarefas e objetos do dia a dia. Como um exemplo, o coworking localizado nessas habitações pode promover uma troca de vivências entre pessoas de diferentes profissões ou cursos, uma vez que esses utilizam do espaço compartilhado para trabalhar, estudar e realizar outras tarefas. FLEXIBILIDADE

As novas gerações têm um perfil conhecido como os nômades modernos, visto que esses indivíduos adaptam-se melhor às mudanças, tornando elas mais frequentes e deixando de lado a necessidade da compra de um imóvel ou bem, para priorizar uso e qualidade. Consequentemente, esses indivíduos buscam alternativas com maior versatilidade e que se adaptem a sua rotina e sua demanda atual. Essa flexibilidade também se encaixa na lista de vantagens de morar em um Coliving. Ao contrário dos aluguéis normalmente burocráticos de apartamentos ou casas, essa moradia contemporânea não exige fiador, cheque caução e, o principal, contratos de permanência. Diante disso, torna-se cada vez mais atrativo para indivíduos que buscam um estilo de vida mais versátil, seja por causa do trabalho, da faculdade, da praticidade, entre outros interesses. The Collective Old Oak

Em 2016 o maior coliving do mundo foi projetado na cidade de Londres pelo escritório PLP Architecture, contando com uma área de 18,800m². A capital da Inglaterra começa a ter aluguéis cada vez mais caros e, dessa forma, o edifício chama a atenção dos jovens londrinos por oferecer uma moradia compartilhada com espaços comuns de qualidade e com preços mais baixos. Ademias, o luar conta com uma flexibiliade na hora de alugar, no qual o aluguel pode variar de noites até anos, dependendo da preferência do cliente.

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The Collective Old Oak foi planejado pensando na privacidade dos ambientes privados e na vida em comunidade dos ambientes coletivos, no qual as pessoas poderiam dividir espaços e experiências. Para isso, sua divisão conta com espaços como biblioteca, restaurante, coworking, academia, spa e lavanderia no térreo, e espaços multiusos, cozinhas e apartamentos nos pavimentos superiores. Os apartamentos são compactos e funcionais, variando de 10 a 20m². Além disso, nos espaços comuns ocorrem atividades e eventos para os moradores, com o intuito de aproximá-los e criar interações entre os vizinhos.

Fonte: https://oldoak360tour.thecollective.com/

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Fonte: https://oldoak360tour.thecollective.com/

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Coliving Roam Bali

O arquiteto Alexis Dornier, responsável por esse projeto, reformou um antigo hotel na cidade de Udub em Bali para criar um espaço de moradia compartilhada com 1500m². A nova configuração dos prédios cria uma leves passagens entre espaços públicos e privados, rica em contato e respeito com a natureza e paisagens locais. O pátio interno se torna extremamente importante para liberar a entrada de luz e vento, melhorando as temperaturas das moradias que contornam esse. Além disso, o corredor dos quartos que contorna esse pátio, se torna um espaço de transição do privado para o coletivo e, também, um ambiente de convívio entre os vizinhos. Os espaços comuns se dividem entre lounge, cozinha, piscina, café, espaço gourmet e área de yoga, no qual também são oferecidas atividades para os moradores do local. Os 24 quartos que caracterizam a área privada contam com banheiros, varandas e terraços para maior contato com a natureza. Por fim, os materiais utilizados, como o bambu, ajudam na sustentabilidade local.

Fonte:: https://www.archdaily.com/787696/roam-alexis-dornier

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2.3 - MORADIAS CompactAs

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Em uma pesquisa feita pelo site da Secovi de São Paulo, os números mostram que entre os anos de 2004 a 2013 houve uma grande busca por apartamentos de apenas um quarto, totalizando um salto de 400% na venda dessas moradias. Como dito anteriormente, novos hábitos de consumo e novas formas de morar começam a influenciar fortemente o mercado imobiliário nas metrópoles brasileiras. Entretanto, é crucial entender como essas moradias compactas também vão induzir em novos costumes em relação ao consumo material de cada indivíduo e a vivência desse em espaços públicos. Para compreender essa ligação, em 2017, Benjamin Rosenthal e Eduarda Gambagorte escreveram um artigo onde foram entrevistadas 13 pessoas que se mudaram para apartamentos compactos na capital Paulista. No decorrer das entrevistas eles conversavam livremente sobre assuntos relacionados a moradia antiga e a nova, associando estas com suas vantagens, desvantagens, experiências e cotidiano. Para o motivo no qual esses procuraram apartamentos menores, a justificativa estava voltada para a busca por localização nos bairros centrais ou mais próximos do seu local de estudo e de trabalho, uma vez que os entrevistados se caracterizavam por jovens de classe média alta que tinham saído da casa dos pais para cursar ensino superior ou recentemente tornaram-se independentes financeiramente. Para mais, o quesito sentimento de pertencer ao local variava entre os participantes, sendo que os que já moravam a mais tempo sem os pais já entendiam esses apartamentos como seu lar, e os que moravam sozinhos a pouco tempo ainda se referiam a casa dos pais como “verdadeiro lar”. Com a diminuição dos ambientes e, consequentemente, dos espaços de armazenamento, outro ponto importante da conversa foi a mudança nos hábitos em relação ao volume de roupas das mulheres entrevistadas, posto que muitas começaram a se questionar sobre a necessidade da compra e posse dessas. A partir disso, as entrevistadas caracterizavam a nova fase como um período de desapego, liberdade e praticidade. Não unicamente nas roupas, essa nova prática se estendia aos utensílios de casa, uma vez que havia uma maior seleção do que entrava, pensando em sua utilização e sua indispensabilidade. Tais comportamentos exemplificam costumes dos nômades modernos, reduzindo o apego a bens materiais, além de evocar premissas da Economia Compartilhada citada anteriormente.

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Por último, porém extremamente importante, a pesquisa evidencia que esses jovens que residem em apartamentos menores acabam frequentando mais os espaços públicos da cidade. Os relatos afirmam um aumento de experiências e usos de ambientes externos à residência, de forma a expandir sua vida social para diferentes espaços e associando o domicílio a um local de descanso e privacidade. Junto a isso, serviços e atividades também são transferidos para fora por meio de terceirizações, normalmente feitas por empresas especializadas. Em consequência, o texto estudado mostra que esses novos hábitos de morar exigem adaptação, socialização e inserção na cultura local.

Fonte: Texto "Apartamentos Compactos: espaços privados e publico atuando sobre o consumir na metrópole"

As Moradias Compactas se tornam, então, um reflexo das novas gerações e suas atuais necessidades. Entretanto, além de reduzir e criar espaços mais práticos e funcionais, essas habitações evidenciam também uma influência no modo de consumir de forma mais consciente, ainda reforçando ideias de colaboratividade e usos de espaços coletivos e públicos.

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2.4 - OPEN BUILDINg

Fonte: Superlofts, Marc Koehler Architects


Em 1969, o arquiteto italiano Giancarlo De Carlo foi convidado para projetar a Vila Matteoti, em Terni, para funcionários da empresa Terni Acciaierie - projeto que logo ficou conhecido como um dos principais do arquiteto. A Vila operária foi pensada para atender as demandas dos moradores futuros, posto isso, De Carlo foi pioneiro utilizando métodos da Arquitetura Participativa na qual os operários atuavam nas decisões projetuais. O italiano apostava em uma arquitetura social pensando no indivíduo, tornando a obra muito mais que um resultado pronto proveniente de conceitos estéticos e mais inserida no contexto e na cultura local. "Para De Carlo, a arquitetura interessava como processo social, como a possibilidade de transformação, de ação política. Nesse sentido, há uma continuidade de interesse com uma das principais conquistas do movimento moderno: a sua inserção no campo social e a possibilidade de intervenção na dinâmica social através da prática de projeto. Arquitetura era um projeto social" (Ana Cláudia Barone, 2002).

Daí em diante, outros estudos e conceitos surgiram dessa necessidade de participação do indivíduo na construção de suas moradias. No Brasil, a construção de habitações se caracteriza por uma produção em massa e padrões repetitivos, com aspectos de rigidez espacial e ausência de flexibilidade para mudanças feitas pelo morador, ocasionando insatisfação dos indivíduos em grande maioria. Inicialmente, John Habraken, em 2011, fundamenta a Teoria dos Suportes que vai em contramão ao modelo capitalista que destrói a relação do morador com a habitação ocupada, defendendo novamente, a indispensabilidade da presença dos indivíduos em certas etapas projetuais. Por consequência, o Open Building ou Arquitetura Aberta nasce de uma organização de estudos e pesquisas das teorias de Habraken, podendo ser representada por uma metodologia projetual, pela rede de pesquisadores Open Building Implementation ou pelas construções feitas a partir dessas premissas. Tal abordagem se diferencia de outras, uma vez que distingue níveis de decisão, com processos coletivos e individuais, separando o edifício em suporte e recheio (Habraken, 2011). O processo coletivo está ligada ao suporte, que é definido pela parte fixa da construção, também pensada de forma a permitir mudanças no recheio, sem que cause problemas no total do edifício. Como exemplo de suporte, podemos citar o sistema estrutural, sanitário, de energia, de drenagem, entre outros, evidenciando que esse, junto ao espaço individual de cada morador, deve atender as demandas de durabilidade, segurança e eficiência. Por outro lado, o recheio evidencia o processo individual, no qual condiz a cada unidade habitacional, seus cômodos, paredes, piso, acabamentos, pontos elétricos e de iluminação, equipamentos, entre outros - tais devem ser executados de forma a viabilizar uma flexibilidade espacial e de futuras mudanças.

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Em uma pesquisa apontada texto “Sistemas, subsistemas e componentes construtivos brasileiros aderentes à metodologia Open Building”, para entender melhor e conseguir classificar a capacidade adaptativa ou grau de flexibilidade dos componentes construtivos, foram criados parâmetros para avaliação: custo médio, vida útil, tempo de execução, módulo mínimo, medida máxima, tipo de conexão, tipo da mão de obra, tipo de equipamento, potencial de reaproveitamento e potencial de modificação. Dessa forma, os materiais são avaliados do ponto de vista físico, econômico, funcional e socioambiental, de forma a alcançar respostas que identificam obstáculos e pontos positivos para o Open Building. “A capacidade adaptativa de um edifício inclui todas as características que o habilita a manter a sua funcionalidade no tempo em virtude das circunstâncias e demandas por mudanças, durante todo o seu ciclo de vida técnica, de forma sustentável e economicamente rentável.” (Hermans, 2014)

As premissas defendidas pelo Open Building já são discutidas e implementadas em vários países, entretanto, no Brasil ainda é pouco explorada. Os princípios desse movimento podem ser um escape para os obstáculos enfrentados nas habitações brasileiras, visto que nega a atual forma de construção padronizada, sem identidade e conexão com o morador, apoiando uma arquitetura mais flexível em que o indivíduo participa de decisões da sua própria casa.

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2.5 - Biofilia


O termo Selva de Pedras ficou conhecido no Brasil após ser um dos sinônimos que nomeiam a cidade de São Paulo - SP, uma vez que sua paisagem se caracteriza por grandes prédios cinzas e pela baixa presença de vegetação e áreas verdes. Além da capital paulista, várias cidades e metrópoles do país retratam o mesmo cenário. Isso acontece posto que, na origem e construção dessas cidades, o principal objetivo girava em torno das necessidades funcionais dos edifícios (Okamoto,2002), ignorando e desrespeitando o meio ambiente e a natureza. A produção em massa de blocos de concreto trata o meio ambiente como um empecilho para o seu crescimento desordenado e acelerado, no qual as sensações e emoções humanas são ignoradas e inexploradas. A partir dessa carência, surge a demanda por contato humano com a natureza e, consequentemente, de ambientes construídos com mais áreas verdes e mais sensíveis. A Biofilia origina-se, então, pelo conceito de amor à natureza, onde é descrita a ligação emocional dos seres humanos com os organismos vivos da terra (Edward Wilson, 1984). Em 1964 o termo foi utilizado pela primeira vez por um psicanalista, filósofo e sociólogo alemão, Erich Fromm, para explicar uma atração que o ser humano teria por outros organismos vivos, entretanto, apenas em 1984 foi escrito o livro “Biofilia” por Edward Wilson, tornando a expressão conhecida e mais discutida. “A ideia da biofilia origina-se em uma compreensão da evolução, onde por mais de 99% da nossa história de espécies nos desenvolvemos biologicamente em resposta adaptativa a forças naturais não artificiais ou humanas criadas.”(KELLERT; CALABRESE, 2015, p. 3)

Os estudos sobre biofilia revelam que a conexão com a natureza traz bem-estar, promove saúde mental e física, diminui o estresse e aumenta a capacidade cognitiva, de concentração e a criatividade. Uma pesquisa feita entre 1972 e 1981 por Roger Ulric, provou que a interação com a natureza pode auxiliar até na saúde de pacientes em hospitais. O teste analisou o pós-operatórios de dois pacientes, um colocado em um quarto com vista para uma parede e outro colocado em outro quarto com vista para uma árvore. A partir desse momento, notou-se que o paciente que olhava a vegetação teve resultados melhores ligados ao período de estadia, as doses de remédios, a avaliação das enfermeiras e as complicações pós-cirúrgicas.

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“A interação humana com a natureza proporciona um aumento da atividade parassimpática, resultando em melhor função corporal e redução da atividade simpática. O resultado é diminuição do estresse e irritabilidade, e a capacidade aumentada de se concentrar”. (HEERWAGEN; ILOFTNESS, 2012, p.5)

Além de benefícios diretamente ligados à saúde do indivíduo, Beatley e Newman (2013) defendem que a biofilia no ambiente urbano pode reduzir ilhas de calor, promover resfriamento de edifícios, melhorar a qualidade do ar e ajudar em problemas sociais como violência urbana e depressão. No campo do design biofílico, as premissas objetivam construir espaços que pensem no bem-estar do ser humano e nas demandas da natureza. Para tanto, foram desenvolvidas, por Stephen R. Kellert, 6 premissas para ajudar arquitetos na concepção de espaços biofílicos, essas se resumiam às características naturais do ambiente, a reprodução de formas da natureza, importância da iluminação natural, a ligação com os edifícios e cultura local e a relação do indivíduo com a natureza. “deveriam os arquitetos desenvolver o desejo de atender à permanente necessidade de uma interação afetiva do homem com o meio ambiente, favorecendo seu crescimento pessoal, a harmonia do relacionamento social e, acima de tudo, aumentando a qualidade de vida”. (OKAMOTO, 2002, p.11)

Por consequência, fica notório que a biofilia empregada em projetos pode influenciar diretamente na vida do indivíduo e da sociedade no total, além de ser crucial para respeitar e colocar como prioridade a saúde da natureza.

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3 - Levantamento e análise de dados do terreno:

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Para a escolha do terreno, a primeira premissa se baseia na localização no entorno da PUC-Minas do Campus Coração Eucarístico. A Pontifícia Universidade Católica teve origem no ano de 1958 pelo do primeiro bispo de Belo Horizonte, Dom Antônio dos Santos Cabral, crescendo e tornando-se reconhecida como uma das melhores faculdades de ensino superior do Brasil. Bairros como o Dom Cabral e Coração Eucarístico nasceram e se desenvolveram influenciados pela Universidade Católica. Além de uma grande referência, a Universidade determina diariamente o ritmo no seu entorno, deixando evidente a diferença de movimento entre períodos letivos e férias acadêmicas.

Fonte: https://aconteceunovale.com.br/portal/?p=41774

De acordo com o site Applocal.com.br, no qual é possível encontrar dados dos bairros das cidades brasileiras, os bairros Dom Cabral e Coração Eucarístico têm, respectivamente, 34% e 43% de sua população formada por jovens de 15 a 34 anos. Esses locais evidenciam que grande parte de seus habitantes tem uma conexão direta com a faculdade mineira, entretanto, ainda conservam uma parte de seus antigos moradores, formadas por famílias e idosos que não abandonam a região. No quesito imobiliário, a região é uma das melhores para quem procura investir nesse setor, posto que há sempre uma grande demanda na busca por apartamentos entre estudantes e funcionários da Universidade. Os atuais imóveis residenciais da região se dividem em tipologias unifamiliares e multifamiliares entre 3 a 4 pavimentos, dando uma aparência pouco verticalizada ao bairro. Em sua infraestrutura de serviços e comércios é possível observar uma ótima variedade, contando com supermercados, loterias, correio, agências bancárias, padarias, bares, restaurantes, salão de beleza, academias, lojas, pet shop, entre outros.

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Dessa maneira, o terreno escolhido é composto por 4 lotes que somam aproximadamente 2.207m², situado na Região Noroeste de Belo Horizonte, no bairro Dom Cabral, com acesso pela Avenida Itaú e Rua Alpinópolis. De acordo com o Plano Diretor, encontra-se na Zona de Ocupação Moderada 2, contando com uma ADE (Área de Diretrizes Especiais) de Interesse Ambiental que prevê uma taxa de permeabilidade de no mínimo 30%.

MINAS GERAIS

BELO HORIZONTE

REGIÂO NOROESTE

Bairro dom Cabral

Fonte: Autoral

TERRENO

2.207m²

Fonte: Autoral

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Próximo ao portão 11 de acesso à universidade, a região conta com uma variedade de linhas de ônibus, entre as principais: 1505 (Alto dos Pinheiros/Tupi), 1509 (Califórnia/Tupi), 4033 (Camargos/Centro), 4110 (Dom Cabral/Belvedere), 4111 (Dom Cabral/Anchieta), 5401(São Luís/Dom Cabral), 9410 (Sagrada Família/ Coração Eucarístico) e 9414 (Santa Inês/João Pinheiro), além da proximidade com estação de metrô Gameleira. Sua localização também leva ao fácil acesso de avenidas como Amazonas, Tereza Cristina e ao Anel Rodoviário.

Fonte: Base Satélite Google Maps

Fonte: Base BH Map e Diagrama Autoral

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Estudos mostram que o conforto climático varia na cidade de Belo Horizonte, apresentando 25% do ano com desconforto por frio, 25% por calor e 50% do ano caracterizado por conforto térmico. O terreno possui vizinhos com 2 e 3 pavimentos, não impedindo o sol e o vento em sua área. Para o estudo das fachadas, é possível identificar que a Fachada Norte recebe uma maior incidência solar, necessitando de proteções, já a Fachada Sul recebe menor incidência. A fachada Leste recebe o sol da manhã, no qual é mais ameno, comparado ao sol da tarde que a Fachada Leste recebe, sendo mais forte.

Fonte: Base Satélite Google Maps e Diagrama autoral

Por fim, a área do terreno escolhido dispõe de um relevo acentuado de com 22 curvas de nível, tornando sua declividade um aspecto importante de suas características e um significativo ponto de partida na hora do estudo de implantação. Dessa forma, foi feito um corte longitudinal abaixo para entender melhor essa inclinação.

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VISTA RUA ALPINÓPOLIS

Fonte: Autoral

VISTA AVENIDA ITAÚ

Fonte: Autoral

Corte longitudinal


VISTA RUA ALPINÓPOLIS

Fonte: Autoral

VISTA SATÉLITE

VISTA RUA ALPINÓPOLIS

VISTA AVENIDA ITAÚ

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VISTAS INTERNAS TERRENO

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4 - ESTUDOS DE CASOS 4.1 - Edifício BsAs

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O primeiro estudo de caso analisa o Edifício Buenos Aires, projetado pelo escritório Vazio S/A e localizado no Bairro Sion de Belo Horizonte. Sua localização estratégica conta com serviços próximos como supermercado, escola, academia, padarias, bancos, bares e restaurantes, além da praça Nova York. A disponibilidade dessas atividades oportuniza uma das características do prédio: ter apenas áreas comuns mais necessárias, visto que é possível ter acesso a esses estabelecimentos sem precisar se deslocar de carro. Como chamado em sua apresentação de venda, o prédio dispõe de 9 plantas diferentes de “apartamento-casa”, todas com terraço privado. As nove variações disponibilizam apartamentos com um, dois ou três quartos, salas e cozinha integradas, e ainda uma divisão interna que facilita organizações variadas dos espaços. Essa flexibilidade e variações de plantas é crucial para seu sucesso, visto que isso chama a atenção e atende diferentes tipos de moradores, propondo que indivíduos e famílias diferentes possuem, também, diferentes demandas em suas habitações. Para o conforto dos moradores, um ponto que chama atenção é a iluminação e ventilação natural, no qual as janelas do quarto são projetadas maiores do que o normal em proposto outros prédios e a sala da caminho ao terraço - ambiente importante no projeto, que visa oferecer um espaço ao ar livre em todos os apartamentos, remetendo a ideia de um quintal. Pensando no melhor para cidade e seus habitantes, o edifício Buenos Aires propõe com térreo composto por “jardins de verdade” - termo utilizado por eles para caracterizar seu paisagismo plantado no solo natural, colaborando com a contribuindo com a permeabilidade do solo e ajudando em problemas de inundação comuns na cidade. Além disso, sua fachada sem muros altos defende uma gentileza urbana que gera seguranças para os transeuntes e uma conexão dos moradores com a rua. Junto às áreas permeáveis de jardim, a garagem tem com conceito aberto no qual é possível ver a rua e vice-versa, criando um tipo de ligação na qual os outros prédios normalmente bloqueiam. O prédio ainda dispõe de um solário como área comum no último pavimento. Espaço aberto possibilita vários tipos de uso pelos moradores, sendo um ambiente para relaxar, fazer algum exercício ou até uma reunião entre amigos. Por fim, pouco verticalizado, o prédio economiza energia incentivando o não uso de elevadores e sim o uso de uma escada aberta e mais convidativa.

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Fonte:http://www.novomorar.com.br/mt-content/uploads/2020/05/novomorar_ed-bsas_apresentacao_fev-2020.pdf

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Fonte:http://www.novomorar.com.br/mt-content/uploads/2020/05/novomorar_ed-bsas_apresentacao_fev-2020.pdf


Fonte:http://www.novomorar.com.br/mt-content/uploads/2020/05/novomorar_ed-bsas_apresentacao_fev-2020.pdf

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4.2 - LA SERRE


O crescimento das grandes cidades transformaram os centros urbanos em sinônimos de caos, trânsito e barulho. O Edifício La Serre, projetado pelo escritório MVRDV e localizado no centro da cidade de Issy-les-Moulineaux na França, tem como objetivo ir na contramão de projetos que buscam fugir desses locais, propondo soluções inovadoras para os problemas enfrentados. A trama que envolve o conjunto habitacional lembra uma estufa e promete proteger dos ruídos e poluição externa, sem bloquear os ventos - em seu vídeo de apresentação encontrado no site do escritório, é possível observar a mudança do som e o conforto acústico ao entrar no conjunto. A “micro-vila” ou “aldeia vertical” torna-se então um refúgio no qual os moradores podem aproveitar a vida em comunidade. Para sua organização, um bloco vertical foi quebrado e suas partes dispostas de maneiras alternadas, criando terraços coletivos que se ligam por meio de escadas e passarelas. Os caminhos e espaços de convívio criados em meio às habitações incentivam a relação mais próxima entre vizinhos. Com um total de 111 unidades residenciais, o conjunto separa 30% para habitações sociais com o objetivo de reunir diferentes grupos sociais e criar laços entre eles. Além disso, o térreo é caracterizado pelo uso misto com 500m² de comércio, influenciando uma dinâmica com o espaço público do entorno.

Fonte: https://www.mvrdv.nl/projects/304/la-serre

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Entre todas as particularidades do edifício, a que mais chama atenção é o “desenvolvimento de um ambiente bioclimático completo”, no qual árvores, arbustos e hortas são distribuídas em todos os espaços do conjunto. Para seleção das espécies, a arquiteta paisagista Alice Tricon analisou a quantidade de luz solar e ventos que cada uma iria receber dependendo de sua localização dentro do edifício, criando um grande conjunto natural vivo. Dessa forma, é gerado, então, uma grande relação do ser humano com a natureza, incorporando ela na obra e colocando ela como uma das premissas para sua idealização. Essa ligação pode trazer bem estar, saúde mental e física, diminuir o estresse e aumentar a capacidade cognitiva e criativa dos moradores, além de melhorar a qualidade do ar e o resfriamento dos edifícios - benefícios já estudados pela Biofilia e citados anteriormente no texto.

Fonte: https://www.groupe-ogic.fr/realisation/la-serre-issy-les-moulineaux/

Fonte: https://www.mvrdv.nl/projects/304/la-serre

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Fonte: https://www.mvrdv.nl/projects/304/la-serre

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4.3 - CASA GAP


O Coliving conhecido como Casa Gap foi projetado em 2015 pelo escritório Archihood WXY e está situado na cidade de Seongnam-SI na Coreia do Sul. Sua localização surge por causa das proximidades de universidades da cidade, no qual foi gerado uma demanda por apartamentos para atender aos estudantes e jovens trabalhadores da região. Com uma área de 596m², a habitação coletiva foi pensada para ser o oposto dos padrões repetitivos de apartamentos criados com premissas apenas de aproveitamento total da área, sem levar em consideração as reais necessidades e estilo de vida dos moradores. Para isso, foram considerados novos modos de morar dos jovens, que buscam o compartilhamento de espaços comuns e uma vivência mais colaborativa. O projeto visava criar um equilíbrio entre as áreas comuns e privadas, no qual os jovens têm quartos particulares e dividem ambientes coletivos como cozinha, área de refeições, sala de estar e uma área comum aberta. Esse espaço aberto é caracterizado como um pátio criado com o intuito de interação e sociabilidade entre os moradores, defendendo ainda um contato com a natureza - entretanto, só existe uma pequena árvore nesse local, evidenciando que o esse contato com a natureza ainda é falho.

Pav. 1 1- Jardim 2- Varejo 3- Banheiro 4- Escada 5- Dispensa Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/780450/casa-gap-archihood-wxy? ad_source=search&ad_medium=search_result_projects

Pav. 2 1- Entrada 2- Quarto privado 3- Sala de estar compartilhada 4- Varanda compartilhada 5- Banheiro compartilhado 6- Utilitário 7 - Escada 43


Além disso, as varandas são desenvolvidas pensando em uma forma de criar uma privacidade para habitantes da casa. Para isso, levando em conta que varandas voltadas para rua podem diminuir essa privacidade, as aberturas estão mais voltadas para dentro dos apartamentos e para o pátio interno, incentivando a ser um também local de comunicação entre os moradores. O principal a ser observado nessa obra é a vida em conjunto dos vários moradores que, dividindo ambientes comuns, também dividem experiências do dia a dia, objetos, equipamentos, serviços e transporte. Dessa forma, envolvem-se em uma vida mais sustentável poupando custo e recursos.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/780450/casa-gap-archihood-wxy? ad_source=search&ad_medium=search_result_projects

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Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/780450/casa-gap-archihood-wxy? ad_source=search&ad_medium=search_result_projects

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4.4 - KASA COLIVING

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O Coliving Kasa em São Paulo-SP é um empreendimento novo que nasceu da defesa de uma moradia com maior flexibilidade, no qual é baseado em aluguéis menos burocráticos criando uma liberdade de ir e vir do morador. Além disso, sua localização fica ao lado do INSPER, Anhembi Morumbi e dá acesso fácil ao Parque Ibirapuera. O edifício conta com 5 variedades de apartamentos para atender diferentes necessidades e públicos: Single Studio, Shared Studio, Studio, Single Suíte e Suíte. Os apartamentos têm banheiros privados, são mobiliados e contém eletrodomésticos como cooktop, forno micro-ondas, geladeira e ar-condicionado. Entretanto, mesmo com essa diversidade de apartamento, é possível observar que esses são pouco elaborados, uma vez que suas plantas não tem uma configuração de qualidade, sendo caracterizadas por padrão repetitivo e sem identidade.

Fonte: https://kasa.com.br/galeria/

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Fonte: https://kasa.com.br/galeria/

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Ao contrário dos espaços privados, a habitação dispõe de espaços comuns de qualidade, para que os usuários possam utilizá-los de modo coletivo. Entre eles estão: academia, área comum, área externa, coworking, espaço multifuncional, hamburgueria, lavanderia e rooftop. Esses locais dão diversas possibilidades aos moradores - marcar reuniões de trabalho, convidar amigos para encontros, além de serem promovidas aulas ao ar livre e workshops. Serviços de internet, portaria 24 horas, garagem e máquinas de venda automática de alimentos e bebidas, também estão dentro de sua lista de disponibilidade. Para mais, em alguns desses locais é utilizado o sistema “pay per use”, no qual os habitantes do coliving pagam apenas pelo que usam. O Kasa Coliving foi escolhido como uma referência, uma vez que evidencia um exemplo brasileiro desse tipo de habitação coletiva. Dessa forma, é preciso observar suas qualidades e defeitos para entender melhor os caminhos e obstáculos dessa moradia contemporânea no Brasil.

Fonte: https://kasa.com.br/galeria/

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Fonte: https://kasa.com.br/galeria/

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Fonte: https://kasa.com.br/galeria/

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Fonte: https://kasa.com.br/galeria/

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5 - detalhamento da proposta

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5.1 - O Coliving no Dom Cabral Como explicado anteriormente, as novas novas gerações buscam aspectos de funcionalidade, agilidade, qualidade e praticidade na hora de escolher um imovel para alugar. Dessa forma, a localização escolhida se relaciona com a região em que esses trabalham ou estudam. O projeto de uma moradia compartilhada e colaborativa, no entorno da Universidade Católica do Coração Eucarístico, tem o objetivo de atender demandas habitacionais de estudantes, funcionários e entre outros usuários da faculdade, que procuram moradias próximas ao campus. Essa procura acontece uma vez que muitos têm a rotina ligada a faculdade e, dessa forma, habitar na vizinhança da faculdade criaria uma praticidade e agilidade no seu dia a dia. Entretanto, além da localização, o Coliving no Dom Cabral vai oferecer a flexibilidade na hora de alugar um imóvel. Como muitos desses usuários estão ligados à faculdade por certo tempo (por exemplo, um estudante e o período de sua graduação), a diminuição de burocráticos contratos de aluguéis vai oferecer uma facilidade na vida dos moradores, questão muito importante para esses indivíduos. Posto isso, para alugar um apartamento, não será necessário fiador, cheque caução e, principalmente, longos contratos de permanência - sendo possível escolher períodos de dias, meses ou ano, dependendo apenas da demanda do morador. Para mais, essa moradia contemporânea tem o princípio de divisão dos espaços individuais e coletivos, no qual os espaços comuns são parte importante da particularidade deste local. O Coliving do bairro Dom Cabral não será diferente, os espaços compartilhados (detalhados posteriormente) serão mobiliados e de alta qualidade, para que incentive uma vida em comunidade e colaborativa entre os moradores. Além disso, o compartilhamento de espaços, equipamentos e serviços, irá oferecer uma redução de custos para os habitantes do conjunto, uma vez que esses irão poupar recursos quando não precisarem comprar individualmente, por exemplo, utensílios e aparelhos de casa. Mesmo com a valorização da privacidade nos ambientes individuais, nos ambientes comuns do conjunto, será possível a convivência entre vizinhos, com o objetivo de influenciar a troca de experiências e culturas entre esses. A vida em comunidade será um dos grandes pilares desse Coliving, no qual os moradores terão trocas diárias proporcionadas pelas vivências em coletividade.

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5.2 - Questionário Para entender melhor os usuários e suas demandas, foi realizado um questionário online com moradores do entorno da faculdade e com indivíduos que se relacionavam com essa. Os 58 entrevistados se caracterizavam como estudantes, ex-alunos e moradores do entorno que utilizavam a biblioteca e o clube da universidade, além disso, suas idades eram de maioria entre 20 a 29 anos, com poucos entre 30 a 39 e 50 a 59. Depois de entender melhor o perfil dos que estavam respondendo, a pergunta foi direcionada ao local de moradia atual do indivíduo, no qual 41% responderam que já moravam nos bairros vizinhos por causa da sua relação com a faculdade. Além disso, dos que não moravam no entorno do campus, 30,6% responderam que teriam interesse em mudar para os bairros vizinhos por causa da proximidade e, consequentemente, da praticidade no dia a dia. Residem próximo a Universidade

41%

Sim Não 59%

Tem interesse de morar próximo a Universidade 30.6%

Sim Não

69.4%

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Idade dos entrevistados 3.3% 3.3%

15 - 19 anos 20 - 29 anos 30 - 39 anos 50 - 59 anos

91.7%

Em seguida, o formulário começa a tratar temas da moradia compartilhada, perguntando se a pessoa sabe o que é um coliving e, após uma explicação, questiona se ela teria interesse em morar nesse tipo de habitação contemporânea. Sabe o que é um Coliving

Sim

44.1% 55.9%

Não

Interesse em morar em moradias compartilhadas

39%

Sim Não

61%

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Por fim, são questionados sobre os espaços coletivos e privados no qual os moradores gostariam de compartilhar ou não, perguntando, ainda, quais tipos de ambientes seriam indispensáveis em um conjunto habitacional ideal para eles. Por meio das respostas, é possível identificar que os indivíduos não gostariam de dividir espaços como quarto e banheiro, e dividir lavanderias, salas de jantar e esta. A cozinha foi um item interessante, visto que essa teve uma opinião dividida em relação ao compartilhamento do espaço. Porcentagem de pessoas que GOSTARIAM de dividir: Quarto ( 2,1%) Banheiro ( 6,3%) Lavanderia ( 89,6%) Cozinha ( 83.3%) Sala de Estar ( 79,2%) Sala de Jantar ( 79,2%) Porcentagem de pessoas que NÃO gostariam de dividir: Quarto ( 96,3%) Banheiro ( 87%) Lavanderia ( 11,1%) Cozinha ( 34,1%) Sala de Estar ( 9,3%) Sala de Jantar ( 9,3%)

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Ambientes listados como indispensáveis em um Coliving ideal:

Academia Coworking Jardins/Áreas verdes Espaços Pet Garagem Rede Wi-Fi Portaria Área Gourmet com churrasqueira Áreas de lazer Salão de Festas Espaço Café Piscina Áreas de convivência Durante a resposta dos itens anteriores, algo que chamou atenção foi o grande número de pessoas que colocaram "áreas verdes" e "jardins" como ponto crucial para seu local de moradia. Posto isso, fica evidente que as pessoas começaram valorizar mais esse contato com a natureza e os benefícios disso, uma vez que na maioria das construções existente esse contato é muito superficial ou ate inexistente. Além disso, outros pontos que também tiveram maior destaque foram as academias "coworking" ou "espaços para trabalhar e estudar", as "áreas de convivência" e o "salão de festas".

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5.2 - Moradores Como visto anteriormente nos estudos sobre o tema Coliving e evidenciado no questionário, o público maior dessa moradia compartilhada no Dom Cabral seriam os jovens. Isso acontece, primeiramente, por causa das novas ideias de habitar desse grupo, priorizando aspectos que o coliving defende - flexibilidade, praticidade, funcionalidade, compartilhamento e cooperatividade. Além disso, a Puc-Minas atrai, com maior força, estudantes e jovens trabalhadores para morar em seu entorno, posto isso, também chamaria atenção para essas pessoas que têm relação com a faculdade. Apesar disso, o Coliving não se destina apenas a esse público jovem e relacionado a instituição de ensino. A moradia compartilhada e colaborativa é destinada a quem busca uma vida mais sustentável, no qual é possível poupar custos e recursos da natureza, estando disposto a compartilhar ambientes, serviços e equipamentos, além de buscar experiências e trocas de uma vida em comunidade.

5.4 - Ambientes Individuais Como evidenciado anteriormente, a moradia compartilhada conta com espaços individuais que se caracterizam pelos apartamentos oferecidos para aluguel. Para a definição desses ambientes, foram levados em consideração os estudos feitos sobre esse tipo de habitação, as obras estudadas como referência e o questionário feito para conhecer melhor o perfil dos possíveis moradores. Nessas pesquisas, foram evidenciadas que os habitantes não têm interesse em dividir os espaços de quarto e banheiro, aceitando compartilhar espaços como salas de jantar e estar, lavanderia e espaços para estudo ou trabalho. A cozinha, como citado anteriormente, foi um item curioso, visto que a opinião sobre compartilhamento ficou divida entre as respostas. Dessa forma, no Coliving do Dom Cabral, essas unidades habitacionais serão oferecidas por meio de variados layouts com o objetivo de atender demandas diferentes, podendo satisfazer desde uma pessoa até uma pequena família. Diferenciando-se no tamanho da área e no número de quartos e banheiros, as unidades vão oferecer, também, uma cozinha de apoio e terraços verdes.

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Essas habitações vão seguir premissas de moradias compactas estudadas anteriormente. Essa configuração vai além de reduzir espaços, será utilizada para criar apartamentos mais funcionais, que influenciam no modo de consumir dos moradores para um sistema mais consciente, no qual reforça o uso de espaços e serviços de forma coletiva e colaborativa. Além disso, espaços abertos e integrados também serão padrões seguidos para a configuração desses espaços privados, de forma que facilite uma alteração dos usuários. Como estudado no tópico Biofilia e evidenciado no questionário, espaços verdes são cada vez mais demandados pelos usuários. Visto isso, os terraços verdes são pontos importantes para o contato com a natureza e, consequentemente, melhoria da qualidade de vida nesse conjunto. Por último, para nomear as unidades habitacionais, foram escolhidos nomes de espécies de vegetações nativas da cidade de Belo Horizonte. Apartamento tipo 1

Quarto Solteiro 1 Banheiro Copa (Cozinha de apoio e Sala de Jantar) Terraço Apartamento tipo 2

Quarto Casal 1 Banheiro Copa (Cozinha de apoio e Sala de Jantar) Terraço Apartamento tipo 3

1 Quarto Casal e 1 Quarto Solteiro 2 Banheiro Copa (Cozinha de apoio e Sala de Jantar) Terraço Apartamento tipo 4

2 Quarto Casal 2 Banheiro Copa (Cozinha de apoio e Sala de Jantar) Terraço

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5.4 - Ambientes Coletivos Além das unidades habitacionais, o Coliving do Dom Cabral conta com uma variedade de espaços coletivos para serem usufruídos de forma compartilhada entre os vizinhos. Os locais são planejados para auxiliar no dia a dia dos moradores, com ambiente planejados e de qualidade para atender todas as demandas. A partir dos estudos e do questionário realizado, foi realizada a seleção dos 9 espaços de uso compartilhado e colaborativo Recepção

A entrada de pedestres, que acontece pela Avenida Itaú, vai dar acesso a recepção do edifício Coliving. Nesse local, será disposto, primeiramente, um Balcão de atendimento para primeiro contato dos transeuntes com o conjunto, no qual um(a) recepcionista irá monitorar a entrada e saída dos usuários para maior segurança desses. A Sala Administrativa tem a finalidade de separar um espaço para cuidar das partes financeiras e burocráticas do condomínio. Por último, por meio de uma parede vertical, seriam criados nichos para Caixas de Correio individuais. Academia

Esse espaço é destinado a prática de exercícios físicos, equipado com aparelhos e acessórios para atividades variadas como musculação, ginástica e aeróbico, para facilitar e estimular uma vida mais ativa e saudável. Coworking

Destinado aos estudantes e aos trabalhadores que precisam de um local apropriado para sua rotina profissional diária, o ambiente reservado para o coworking funciona como um Escritório Coletivo, com mesas e espaços destinados para atender as demandas dessas atividades. Esse local, similar ao coliving, utiliza do compartilhamento para criar um lugar capaz de oferecer troca de experiências profissionais e educacionais. Além disso, será disposta uma Sala de Reunião, na qual os moradores poderão alugar quando necessário.

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Cozinha coletiva

Os estudos e questionários realizados evidenciaram um aspecto importante sobre as cozinhas nessas habitações coletivas. As respostas mostram que os usuários gostariam de ter uma cozinha de apoio, mas ao mesmo tempo também gostariam de cozinhas coletivas nos demais ambientes do prédio. Dessa forma, a Cozinha Coletiva vai oferecer um ambiente no qual os moradores poderão fazer reuniões entre amigos e família, com um espaço equipado e reservado para preparo de refeições. Além disso, esse local será integrado junto ao Espaço Multifuncional, explicado a seguir, para que seja possível criar um ambiente de qualidade para o convívio entre vizinhos e possíveis visitas. Espaço Multifuncional

Como o próprio nome já explica, o Espaço Multifuncional será projetado para que os moradores possam se apropriar de diversas formas. O ambiente será integrado com a cozinha e vai ser mobiliado com mesas, cadeiras, poltronas e sofás para criar locais para refeição, convívio e confraternização. Para mais, máquinas de comida e bebida rápida serão disponibilizadas nesse ambiente, com o intuito de atender demandas imprevistas dos moradores locais. Lavanderia

A Lavanderia será equipada com máquinas de lavar e secadoras, disponíveis para uso coletivo dos moradores. Dessa forma, será incentivado o compartilhamento de equipamentos do dia a dia para uma economia dos moradores, já que esses não irão precisar comprar tais dispositivos de forma individual. Estacionamento

O estacionamento vai disponibilizar vagas para automóveis dos moradores do edifício como um serviço adicional, dessa forma, não será incluída nos aluguéis dos apartamentos com o objetivo de não encarecer para quem não necessita desse serviço. Posto isso, para usuários que demandarem uma vaga, a reserva poderá ser feita por dia, semana, meses ou ano, de acordo com a disponibilidade e seguindo as premissas de flexibilidade dessa moradia. Além disso, por meio de um bicicletário compartilhado, estarão disponíveis bicicletas para aluguel dos moradores, com o mesmo sistema versátil das vagas para automóveis. 62


Jardim

Como citado anteriormente, a demanda por áreas vezes e contato com a natureza tem aumentado significativamente entre habitantes das grandes cidades. Isso acontece uma vez que as pessoas, ao ficar mais em casas e apartamentos precários desse aspecto, começaram a perceber que a ausência de vegetação influencia fortemente na sua qualidade de vida. Para isso, o Jardim é o primeiro ambiente do prédio que tem o objetivo de aumentar essa relação entre ser humano e natureza. O local vai estar situado no térreo, oferecendo espaços abertos e de qualidade, para que os moradores possam conviver, praticar exercícios ao ar livre, passear com seus animais de estimação, entre outras atividades, com uma maior qualidade. Terraço

Semelhante ao jardim localizado no térreo, o Terraço Coletivo tem a finalidade de aproximar os usuários da natureza. Isso vai acontecer por meio de um espaço ao ar livre, situado na cobertura no Coliving, no qual os moradores novamente terão acesso a um local aberto para se apropriar de formas variadas. Nesse espaço arborizado, será viável a realização de aulas ao ar livre, reuniões entre amigos, atividades de lazer, entre outras funções. Sistema “Pay Per Use”

O sistema Pay Per User (traduzindo como “pague pelo uso”) é um mecanismo oferecido para facilitar e diminuir os custos desnecessários do dia a dia. Funciona com o pagamento apenas de serviços e equipamentos utilizados pelo usuário, gerando uma praticidade na hora de utilizar serviços e equipamentos disponíveis no edifício. No Coliving do bairro Dom Cabral, esse sistema de organização de pagamentos será utilizado nos espaços comuns como: lavanderia, academia, vagas de estacionamento e aluguel de bicicletas. O usuário terá a opção de utilizar esses serviços pelo tempo determinado pelo mesmo - dia, semana ou mês, de forma flexível e sem taxas de cancelamento. Dessa forma, por exemplo, o morador pode pagar para utilizar a academia por um mês, ao mesmo tempo que paga apenas pelo dia que utiliza a lavanderia.

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5.5 - Implantação Para planejar a implantação do edifício no terreno é necessário, primeiramente, o estudo da legislação vigente no lote. A partir dessa é definido que: 30% do solo do terreno tem que ser destinado a taxa de permeabilidade; Afastamentos frontais devem ter no mínimo 3 metros; Altura máxima do edifício deve ser de 14 metro do solo; Risco de contaminação do lençol freático. Entretanto, o terreno tem uma grande particularidade ligada ao desnível - suas 22 curvas de nível criam um relevo acentuado e importante de ser estudado criteriosamente. A implantação e volumetria adotada devem ter como objetivo respeitar ao máximo as curvas de nível existentes, sem utilizar muitos mecanismos de movimentação de terra. Visto isso, a primeira estratégia está ligada ao escalonamento do volume do edifício, de forma a acompanhar a topografia em relação paralela com declive natural do terreno. Esse escalonamento permitirá a criação dos terraços nas áreas coletivas e individuais para convívio e contato com a natureza, além de liberar maior passagem de luz e vento por meio do conjunto e de suas unidades. Junto disso, a “quebra” do edifício em blocos, será o segundo aliado para facilitar esse escalonamento dos volumes e auxiliar na criação de uma permeabilidade volumétrica. Ao serem separados, a porosidade entre as massas dos blocos, também, vão possibilitar a criação de caminhos no terreno natural, utilizados como circulação ou espaços de convívio ao ar livre e vegetados. As imagens a seguir apresentam esquemas do conjunto em corte e planta, respectivamente, para auxiliar no entendimento do que foi explicado.

Fonte: Autoral

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esquema corte

esquema planta

Fonte: Autoral

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5.6 - Paisagismo Com o atual cenário de cidades construídas evidencia uma grande ausência de cuidado e relação com a natureza local e existente. Entretanto, como estudado anteriormente, conceitos de biofilia evidenciam a necessidade do contato entre humano e natural, visto seus grandes benefícios para a qualidade de vida. Essa proximidade pode influenciar no bem-estar, promovendo saúde mental e física, além de diminuir o estresse, aumentar a capacidade cognitiva, a concentração e a criatividade. Além das vantagens ligadas ao indivíduo, a arquitetura biofílica pode reduzir temperaturas e melhorar a qualidade do ambiente construído. Dessa forma, o projeto paisagístico é um dos grandes aliados do Coliving no Dom Cabral, funcionando como um auxílio para a qualidade de vida dos moradores. A vegetação vai estar presente nos solos naturais e nos terraços coletivos distribuídos ao longo do volume do edifício. Para a seleção e distribuição de espécies no conjunto habitacional, serão levadas em consideração sua localização (térreo ou terraços) e sua exposição ao sol, com o intuito de criar um ecossistema autosustentável de vegetação. Além disso, será importante analisar as espécies nativas da cidade de Belo Horizonte, para que estas se adaptem ao local e ao clima, sobrevivendo no meio que vão estar inseridas. Para essas análises, serão utilizados como referência, primeiramente, o Manual de Arborização de Belo Horizonte, Livro Árvores Brasileiras Volume 1, 2 3 e Catálogo de Plantas Ornamentais.

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5 - Referências Bibliográficas BARONE, A. C. C. Team 10: arquitetura como crítica. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2002, p. 149. APPLOCAL.COM.BR. População do bairro Coração Eucarístico em Belo Horizonte, MG. Disponível em: https://applocal.com.br/populacao/bairro/coracaoeucaristico/belo-horizonte/mg. Acesso em: 21 mai. 2021. APPLOCAL.COM.BR. População do bairro Dom Cabral em Belo Horizonte, MG. Disponível em: https://applocal.com.br/populacao/bairro/dom-cabral/belohorizonte/mg. Acesso em: 21 mai. 2021. ARCHDAILY. Casa Gap / Archihood WXY. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/780450/casa-gap-archihood-wxy? ad_source=search&ad_medium=search_result_projects. Acesso em: 15 mai. 2021. ARCHDAILY. Roam Coliving in Balii / Alexis Dornier. Disponível em: https://www.archdaily.com/787696/roam-alexis-dornier. Acesso em: 6 jun. 2021. BH MAP. Pontos de ônibus . Disponível em: http://bhmap.pbh.gov.br/v2/mapa/idebhgeo#zoom=6&lat=7796767.41498&lon=60 5386.86857&baselayer=base&layers=ponto_onibus%2Cestacao_metro. Acesso em: 22 mai. 2021. CASA VOGUE. Coliving e moradia por assinatura: conheça as novas formas de morar. Disponível em: https://casavogue.globo.com/Smart/noticia/2021/05/coliving-e-moradia-porassinatura-conheca-novas-formas-de-morar.html. Acesso em: 9 mai. 2021. COLIVING.COM. What is coliving?. Disponível em: https://coliving.com/what-iscoliving. Acesso em: 22 abr. 2021. GOMES, C. D. M. et al. A UNIVERSIDADE E A FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA DA MORADIA ESTUDANTIL COMO INCLUSÃO SOCIAL. Resvista Saberes da UNIJIPA, UNIJIPA, v. 1, n. 1, p. 1-18, jul./2014. Disponível em: https://unijipa.edu.br/wpcontent/uploads/Revista%20Saberes/ed1/5.pdf. Acesso em: 13 mai. 2021.

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KASA. Você livre para morar. Disponível em: https://kasa.com.br/. Acesso em: 6 jun. 2021. MVRDV. LA SERRE. Disponível em: https://www.mvrdv.nl/projects/304/la-serre. Acesso em: 19 mai. 2021. NOVO MORAR. Edifício Buenos Aires . Disponível em: http://www.novomorar.com.br/edificiobuenosaires/. Acesso em: 14 mai. 2021. OGIC. La Serre. Disponível em: https://www.groupe-ogic.fr/realisation/la-serre-issyles-moulineaux/. Acesso em: 18 mai. 2021. PROJETEE. ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS. Disponível em: http://projeteee.mma.gov.br/estrategias-bioclimaticas/. Acesso em: 19 mai. 2021. SBCOACHING. Economia Compartilhada: O que é, Para que Serve e Exemplos. Disponível em: https://www.sbcoaching.com.br/economiacompartilhada/#:~:text=Economia%20compartilhada%20%C3%A9%20um%20novo, uso%2C%20e%20n%C3%A3o%20na%20posse.. Acesso em: 12 mai. 2021. TEGRA. 10 motivos para investir em apartamentos compactos. Disponível em: https://www.tegraincorporadora.com.br/blog/mercado/apartamentos-compactos/. Acesso em: 8 mai. 2021. THE COLLECTIVE. About the collective. Disponível https://www.thecollective.com/about-us. Acesso em: 1 jun. 2021.

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VAZIO S/A. Edifício BsAs. Disponível https://www.vazio.com.br/projetos/edificio-bsas. Acesso em: 14 mai. 2021.

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BELO HORIZONTE JUNHO DE 2021



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