4 minute read
É fogo
Meus sonhos se partiram nas asas da recordação,
as asas eu quebrei,
Advertisement
as penas eu guardei
para construir outras asas
para subir ao encontro de Maria.
Talvez eu não consiga alcançar a lua,
Mas seu reflexo banha minha alma.
Esse negócio de ter saudade. Parece cafona...
Olha que já fui!
No último dia vinte e um de julho, de dois mil e vinte e um, completei 48 anos de casado com a rainha Wilma! Eu garanti minha felicidade, e ela, um lugar no céu! (Nery Mesquita)
Outro dia fui visitar o museu de história de Catalão. Fiquei sentado no velho banco de madeira que até hoje teima em fazer parte da história. Quantos visitantes e passageiros descansaram nele! Senti a velha locomotiva maria-fumaça chegando, muito movimento, gente apressada para chegar nos braços de alguém, outros se despedindo; assim vi também, entre as pilhas de dormentes, namorados e amantes. Acordei no banco da estação com meu neto João Paulo falando “vamos embora, o trem passou”. Literalmente.
No começo dos anos setenta, eu começava a chegar na idade de ir à caça (poder namorar!); foi quando minha mãe me disse, “qual moça vai namorar um rapaz que não trabalha? Não tem dinheiro pra ir ao cinema, ir em uma lanchonete. Vai procurar um emprego!”. Seguindo os conselhos de Dona Maria, fui. Imaginem vocês, como era Catalão naquela época! Só tinha serviço como servente de pedreiro, ou capinar quintal, ou cortar cana na Usina Martins, ou qualquer outra coisa.
Eu tinha um tio que era vereador, Jorge Primo. – Prosseguindo:
Ele tinha muita influência na cidade, me disse, “vamos lá na Casa da Lavoura porque tenho amizade com o Divano e com o Zé do Otílio.” Meu tio fez o pedido. Eu fui contratado no dia seguinte. Ao chegar, o Sr. João me disse, “hoje você fica aqui, conhecendo a loja, mexe em nada, não”; fiquei encantado com a oportunidade, fui almoçar feliz demais! Ao voltar, “seu” João me pediu para eu colocar uma escada, subir no telhado e tirar as goteiras. Fui. Comecei a fazer o serviço... Quando “dei por mim” descobri que a loja já tinha fechado. O pessoal tinha me esquecido no telhado!
Fiquei desesperado, porque alguém tirou e guardou a escada! Não tinha como eu descer, era muito alto. Logo começou a escurecer, o movimento da Avenida Vinte de Agosto parou; pensei, “e agora?” Então, tive uma ideia. - Lembrando: a Casa da Lavoura era onde hoje existe
uma loja de móveis, em frente ao antigo Colégio Anchieta. Tudo bem, andei no telhado até a marquise. Mas, não adiantou nada, porque havia lá uma placa metálica muito grande e quem passava na calçada não me via...
Com medo de ter que passar a noite lá fui iluminado pelo Anjo da Guarda. Pelo movimento, descobri que os alunos do período noturno do Colégio Anchieta começavam a chegar. Então comecei a gritar, “socorro, está pegando fogo na Casa da Lavoura! Socorro, gente, traz uma escada!” Começou então aquela correria, gente pulando muro, outros vendo como iria trazer água... Aquela coisa louca! De repente, alguém colocou uma escada para ver lá em cima. Aproveitei e saí de fininho e fui embora!
No outro dia, cheguei para trabalhar, o “seu” João me chamou no escritório e me disse, “você não precisa vir mais não” (...)
vas. Hoje o dia amanheceu nublado, mostrando a chegada das chu-
Mamãe corria para tirar as roupas do varal, meu irmão guardou lenha e eu fechava as portas e janelas. Choveu muito, o dia inteiro. A noite prosseguiu chuvosa e a luz das lamparinas balançava com o vento.
Não chove mais como antes. Meu irmão não mora mais comigo. Mamãe, em uma madrugada chuvosa, foi ficar mais perto de Maria Santíssima. Eu... perdido... à procura de tudo...
Meu Irmão Laurindo Pedrosa.
Minhas lembranças me levam para quando eu era engraxate e, com um pequeno caixote de madeira, perambulava pela cidade tentando ganhar algum dinheiro. Só não podia passar perto de onde alguém estivesse com uma bola de futebol...! Acontece que havia muitos engraxates e todos tinham seus pontos fixos. Não havia como entrar. Tentava. Mas acabava apanhando. Então, pensei, “vou tentar no Posto e Restaurante JK”, e fui. Descobri que o Rotary Club se reunia lá, às quartas-feiras; criei meu espaço.
Como eu tinha meu tempo disponível, ficava lá o dia todo. Cheguei a ganhar algum dinheiro, para ajudar em casa, comprar gibis, ir ao cinema, comprar material de pesca, etc. Um belo dia, por volta da hora do almoço, eu estava no ponto de abordagem de possíveis fregueses. Estacionaram vários veículos de cor prata e com placas verdes. Quando todos os viajantes já estavam dentro do restaurante, o garçom me chamou mandando que eu engraxasse os sapatos de todos. Lá fui. Após eu terminar a tarefa, o dono do restaurante, o Sr. Chico do Irapuã efetuou o pagamento, que atingiu uma boa quantia.
Muito alegre, corri para casa para entregar o dinheiro para minha mãe, que, como eu, ficou feliz demais! Fez uma compra boa, na época. Continuei prestando serviços de engraxate no local. Passados alguns dias, fui ajudar o garçom a lavar as escadas do estabelecimento comercial e, no bate-papo, ele me disse, “sabe de quem você engraxou os sapatos aquele dia que chegou aquele tanto de carro?” Respondi que não. Então ele disse, “aquele que estava cantando é o Presidente da República, Juscelino Kubitschek”.