Tcc Jamile Moraes - Turismo

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INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS – ICSA CURSO DE TURISMO

JAMILE CEZAR DE MORAES

TURISMO CULTURAL NA IGREJA SÃO PELEGRINO: A percepção de turistas e residentes para o patrimônio de Aldo Locatelli, em Caxias do Sul/RS.

Novo Hamburgo 2011


JAMILE CEZAR DE MORAES

TURISMO CULTURAL NA IGREJA Sテグ PELEGRINO: A percepテァテ」o de turistas e residentes para o patrimテエnio de Aldo Locatelli, em Caxias do Sul/RS.

Novo Hamburgo 2011


JAMILE CEZAR DE MORAES

Trabalho de Conclusão do Curso de Turismo, com o título Turismo Cultural na Igreja São Pelegrino: A percepção de turistas e residentes para o patrimônio de Aldo Locatelli, em Caxias do Sul/RS, submetido ao corpo docente da Universidade Feevale, como requisito necessário para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Aprovado por:

_____________________________________ Prof.ª Me. Alexandra Marcela Zottis Professora Orientadora

_____________________________________ Prof.ª Me. Roslaine Kovalczuk de Oliveira Garcia Banca Examinadora 1

_____________________________________ Bacharel em Turismo – Cristina Beatriz Queirolo Feijó Banca Examinadora 2

Novo Hamburgo, 30 de novembro de 2011.


AGRADECIMENTOS

Pelo dom da vida, agradeço a Deus, assim como pelas oportunidades de crescimento, aprendizagem e, por meio do Carisma Carmelitano e os ensinamentos da Santa Madre, pela importância da oração e pela da presença Dele sempre em minha vida. Pela educação recebida, pelo amor dado sem medidas e por todas as experiências que resultaram na pessoa que sou, agradeço a meu pai, Antônio, e a minha mãe, Mara. Pela companhia incansável, pelo apoio incondicional, pela amizade verdadeira e pelo amor, a meu amado companheiro, Alex, agradeço. Pela amizade infinita, pelo apoio, consolo e desabafo, à Luciana dos Santos e à Clarissa Bourdignon, agradeço de coração. Pela acolhida, pelos ensinamentos, pelas dicas e pelo apoio, agradeço à professora Alexandra Zottis, em especial; à professora Roslaine Garcia; à professora Mary Sandra Aschton; e à professora Rosi Fritz. Por todos os ensinamentos, pela lição de profissionalismo e pela busca pelo reconhecimento do trabalho, as minhas “chefas” Maria Helena Marques, Cristina Feijó e Graciela Bonamigo Nacci, além de todos os colegas da Setur/RS, meu muito obrigada. E a todos os que acompanham minha caminhada profissional, que sabem da minha sem cessar busca pelo conhecimento e pelo reconhecimento dele, não tenho palavras para agradecer todo o apoio, a ajuda e o estímulo constantes.


Nada te perturbe Nada te espante, Tudo passa, Deus não muda, A paciência tudo alcança; Quem a Deus tem Nada lhe falta: Só Deus basta. Santa Teresa de Jesus


RESUMO

O turismo, em sua essência é uma atividade cultural, e o turismo cultural é o segmento que tem como objeto a cultura, impressa no patrimônio e na identidade de um determinado grupo. Nessa relação, o patrimônio cultural é a denominação dada aos bens materiais e imateriais que caracterizam um grupo social de outro. Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa é: investigar a percepção a respeito do patrimônio cultural da igreja São Pelegrino pelos turistas e pelos residentes. Quanto à metodologia utilizada, a pesquisa é exploratória de abordagem qualitativa; cujos procedimentos técnicos são a pesquisa bibliográfica e a de campo junto a residentes e turistas, além das entrevistas com o pároco e uma historiadora. Após o processo de análise, acredita-se que a igreja precisa estar planejada para o turismo, pois ele é uma realidade para a comunidade, o poder público, a academia e os turistas. Dessa forma, utilizar algumas propostas dadas pelos pesquisados pode ser uma boa alternativa.

Palavras-chave: Turismo Cultural. Patrimônio Cultural. Igreja São Pelegrino. Aldo Locatelli.


ABSTRACT

The tourism is, in your essence, a cultural activity, and the cultural tourism is the segment that has like the object the culture impress in the heritage and in the identity of a particular group. In this relation, cultural heritage is the denomination given to the tangible and intangible assets that discriminate a social group of another. Thus, the principal objective oh this research is to investigate the interpretation of the cultural heritage of the Saint Pelerine’s Church by tourists and residents. About the methodology used, the research is the kind exploratory and qualitative approach, and the technical procedures are literature field research, with a residents and tourists, and the two interviews together the Saint Pelerine’s priest and a historiographer. After the analysis process, it believed that the church must have a plan about the tourism activity because it is a fact for the community, government, academic and tourists. Therefore, if the church used some interviewee’s ideias can be a good alternative. Keywords: Cultural Tourism. Cultural Heritage. Saint Pelerine’s Church. Aldo Locatelli.


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Perfil da comunidade quanto ao gênero ................................................................ 79 Gráfico 2 – Perfil da comunidade quanto à faixa etária. .......................................................... 80 Gráfico 3 – Perfil da comunidade quanto ao grau de instrução................................................ 80 Gráfico 4 – Perfil da comunidade quanto à religião ................................................................. 82 Gráfico 5 – Levantamento referente à frequência com que visitam igreja ............................... 83 Gráfico 6 – Levantamento referente à motivação de visitar/frequentar a igreja ...................... 83 Gráfico 7 – Levantamento das respostas dadas à questão 8 com mais de uma alternativa ...... 84 Gráfico 8 – Levantamento sobre o que a comunidade considera mais interessante na igreja São Pelegrino ............................................................................................................................ 84 Gráfico 9 – Respostas dadas em alternativa “d” – outro aspecto ............................................. 85 Gráfico 10 – Levantamento sobre o conhecimento do autor das pinturas na igreja São Pelegrino ................................................................................................................................... 86 Gráfico 11 – Levantamento sobre atrativos turísticos de Caxias do Sul/RS ............................ 86 Gráfico 12 – Levantamento sobre considerar a igreja São Pelegrino um atrativo turístico ..... 87 Gráfico 13 – Perfil dos turistas quanto ao gênero .................................................................... 89 Gráfico 14 – Perfil dos turistas quanto à faixa etária ............................................................... 89 Gráfico 15 – Perfil dos turistas quanto ao grau de instrução .................................................... 90 Gráfico 16 – Perfil dos turistas quanto à religião ..................................................................... 91 Gráfico 17 – Levantamento de número de vezes que turistas visitaram Caxias do Sul/RS ..... 92 Gráfico 18 – Levantamento de atrativos já visitados pelos turistas ......................................... 93 Gráfico 20 – Levantamento de respostas dadas com mais de uma alternativa......................... 94 Gráfico 23 – Levantamento de respostas dadas com mais de uma alternativa......................... 96 Gráfico 24 – Levantamento sobre o conhecimento do autor das pinturas na igreja São Pelegrino ................................................................................................................................... 97 Gráfico 25 – Levantamento a respeito de ações que poderiam ser acrescentadas na visita ..... 97 Gráfico 26 – Respostas dadas com mais de uma alternativa .................................................... 98 Gráfico 27 – Motivação para visitar a igreja X Faixa Etária (Comunidade) ............................ 99 Gráfico 32 – Comunidade X Turistas em relação à motivação para visitar a igreja .............. 104 Gráfico 33 – Comunidade X Turistas sobre o conhecimento do autor das pinturas da igreja 105


9 Gråfico 34 – O que achou mais interessante na igreja pela Comunidade X Turistas............. 106


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – “Vindima” – Centro Administrativo Municipal – Caxias do Sul/RS ................ 41 Ilustração 2 – “Auto-retrato” em óleo sobre tela, 1933 ............................................................ 65 Ilustração 3 – “Arrumador de Sombrinhas” em óleo sobre tela. .............................................. 66 Ilustração 4 – Vista interna da igreja São Francisco de Paula – Pelotas/RS ............................ 68 Ilustração 5 – Afrescos da abóboda da Igreja São Francisco de Paula – Pelotas/RS ............... 70 Ilustração 6 – Negrinho reza a Nossa Senhora para achar o baio – Salão de Atos do Palácio Piratini, ..................................................................................................................................... 72 Ilustração 7 – Vista interna da igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS ................................ 48 Ilustração 8 – Detalhe do altar da igreja São Pelegrino – “Santa Ceia” ................................... 49 Ilustração 9 – “Juízo Final” e “Dies Irae” no teto da igreja São Pelegrino .............................. 51 Ilustração 10 – Primeira Estação, 1958, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS ................. 54 Ilustração 11 – Segunda Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS ................. 54 Ilustração 12 – Terceira Estação, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS ............................ 55 Ilustração 13 – Quarta Estação, 1960, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS .................... 55 Ilustração 14 – Quinta Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS .................... 56 Ilustração 15 – Sexta Estação, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS ................................ 56 Ilustração 16 – Sétima Estação, 1958, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS .................... 57 Ilustração 17 – Oitava Estação, 1960, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS..................... 58 Ilustração 18 – Nona Estação, 1960, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS....................... 58 Ilustração 19 – Décima Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS ................... 59 Ilustração 20 – Décima Primeira Estação, 1960, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS .... 59 Ilustração 21 – Décima Segunda Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS .... 60 Ilustração 22 – Décima Terceira Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS..... 60 Ilustração 23 – Décima Quarta Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS ....... 61 Ilustrações 24 e 25 – São José, no altar à direita e São Pelegrino, à esquerda da igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS................................................................................................... 63 Ilustrações 26 e 27 – Aparição do Sagrado Coração de Jesus à Santa Margarida Alecoque, à esquerda do altar e de Nossa Senhora do Caravaggio à Joana, à direita na igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS ................................................................................................................... 63


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Perfil da comunidade quanto à profissão ................................................................ 81 Tabela 2 – Perfil dos turistas quanto à profissão ...................................................................... 90 Tabela 3 – Perfil dos turistas quanto à cidade de procedência ................................................. 91


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14 1 TURISMO CULTURAL......................................................................................... 18 1.1 DA CULTURA AO TURISMO ......................................................................... 18 1.2 O QUE PENSAR DE IDENTIDADE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO ............. 25 1.3 TRATANDO SOBRE A INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO .................. 32 2 CAXIAS DO SUL, A IGREJA SÃO PELEGRINO E O MAGO DAS CORES ........................................................................................................................ 38 2.1 MÉRICA, MÉRICA, MÉRICA ............................................................................ 38 2.2 IGREJA SÃO PELEGRINO .............................................................................. 44 2.3.1 Santa Ceia................................................................................................... 49 2.3.2 Dies Irae ..................................................................................................... 50 2.3.3 Juízo Final .................................................................................................. 51 2.3.4 Via-Sacra .................................................................................................... 52 2.3.5 Outras Obras............................................................................................... 62 2.3 ALDO LOCATELLI .......................................................................................... 64 3 METODOLOGIA.................................................................................................... 75 3.1 ASPECTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 75 3.2 ORGANIZAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA DE CAMPO ....................... 78 3.2.1 Resultados obtidos junto à coleta de dados da comunidade ................ 79 3.2.2 Resultados obtidos junto à coleta de dados dos turistas ....................... 88 3.2.3 Resultados obtidos pelos cruzamentos ................................................... 98 3.2.4 Resultados obtidos pelas entrevistas .................................................... 107 4 ANÁLISE DOS DADOS ....................................................................................... 112 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 120 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 124 APÊNDICES ............................................................................................................. 128 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO PARA A COMUNIDADE ........................... 128 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA O TURISTA ..................................... 130


13 APÊNDICE C – ROTEIROS DAS ENTREVISTAS COM PÁROCO DA IGREJA SÃO PELEGRINO E HISTORIADORA. ............................................... 132


INTRODUÇÃO

A atividade turística é, essencialmente, a atividade do prazer, da alegria, do lazer. Dessa forma, todas as relações que se originam pelo contato com o outro, com outros locais e outras culturas são motivos para que o turismo seja estudado e seja compreendido. Como Jafar Jafari aponta ao dizer que o turismo é o estudo do homem fora de sua residência, como também é o estudo de quem procura satisfazer aquilo que o homem busca em uma viagem. Além de estudar os impactos provocados pela movimentação física, econômica e socialmente nas comunidades receptoras. Dentro das segmentações que o turismo tem, o turismo cultural é uma das mais antigas, pois, se viajar sempre foi uma realidade do homem, viajar para contemplar o belo e se apropriar do conhecimento é uma atividade anterior à estruturação da atividade como tal é hoje. Sendo assim, a Organização Mundial do Turismo (2006) afirma que a busca por estudos, cultura, manifestações artísticas e folclóricas caracterizam o turismo cultural. Pensando em qualificar a prática do turismo cultural, a teoria da interpretação do patrimônio é uma referência nesse sentido, uma vez que técnicas voltadas para provocar interpretações a respeito dos patrimônios culturais são utilizadas, através desses mecanismos se tenta dar vida ou significado a eles, já que estão, muitas vezes, descontextualizados pela passagem do tempo. Além disso, o papel da comunidade se torna vital para a preservação desses bens culturais na medida em que elas dão sentido a eles, indicando aos turistas o que tem ou não valor. A interpretação do patrimônio é algo único, particular e que revela a pessoa em todas as esferas, pois permite que tanto turista quanto residente se mostre social, cultural, política e eticamente. Dessa forma, os diversos olhares para um mesmo ponto enriquecem o valor do atrativo como também estimulam a sua preservação e garantem a continuidade do papel cultural que possuem. Então, a tarefa de estimular as várias interpretações é contribuir sim para a preservação desses bens culturais e também proporcionar a aproximação com o outro, com o diferente. Acredita-se que os teóricos selecionados propõem a prática do turismo de forma positiva tanto para quem oferece como para quem visita. Elas agregam outras intenções para que fique claro o quanto todos somos responsáveis pelo mundo que vivemos.


15 O patrimônio cultural é o resultado de um processo histórico o qual deixou marcas importantes nas sociedades, fazendo parte integrante do dia a dia dos residentes, mas também estimulando a curiosidade das pessoas a buscar o contato e mais informações a respeito. Contudo, um bem só se torna patrimônio a partir do momento que tem valor para sua sociedade, ele precisa ter uma relação próxima com a sua comunidade para que ela tenha presente a vontade de manter a identidade cultural viva, a partir da memória coletiva do grupo. Em nosso Estado, o patrimônio cultural é um excelente recurso para que o turismo seja cada vez mais estimulado. Cidades como Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande, Rio Pardo, Santa Maria e Caxias do Sul têm várias construções que permitem a realização de roteiros turísticos e programas educativos que estimulem não apenas o aumento do fluxo de turistas, além da preservação dos mesmos pelas comunidades locais. Caxias do Sul é uma das cidades mais importantes economicamente do Estado e, além disso, faz parte de um momento histórico decisivo na construção da identidade do Rio Grande do Sul. Com a chegada dos italianos à Serra Gaúcha, cuja cultura do colono imigrante está muito viva, além de servir de mote para outras atividades, como o turismo nas últimas décadas, proporcionando experiências que o Brasil todo busca. Entre os exemplos de patrimônio cultural mais importantes do município está a igreja São Pelegrino, templo católico que tem um papel importante como parte do processo de urbanização e crescimento da cidade. São Pelegrino abriga importantes obras do pintor italiano Aldo Locatelli, como os afrescos secos criados exclusivamente para a comunidade de Caxias e também a sua obra prima, as 14 estações da “Via Sacra”, em telas a óleo emolduradas nas paredes laterais. A valorização desses bens materiais, como também o novo olhar que a comunidade local e os turistas podem ter para eles são os motivos para a realização da pesquisa. Uma vez que é através da pesquisa científica, do contato com as comunidades e com o estímulo à valorização do que é próprio da cultura local que, não apenas a região da Serra Gaúcha, mas o Estado do Rio Grande do Sul e o Brasil terão condições de ter um turismo que busca o contato com o outro mas que mantém e preserva além de valorizar aquilo que é seu. Com esse estudo, pretende-se descobrir mais a respeito do olhar dos residentes de Caxias do Sul/RS e dos turistas. Dessa forma, ela tem como objetivo geral investigar a


16 percepção a respeito do patrimônio cultural da igreja São Pelegrino de Caxias do Sul/RS pelos turistas e pelos residentes a partir da teoria da interpretação. Sendo assim, o objeto a ser estudado é o patrimônio cultural deixado por Aldo Locatelli, que foi o pintor muralista italiano, cujo traço era semelhante ao de Michelangelo e de Giotto, e tingiu inúmeras paredes com imagens sacras, mas também outras que contam feitos históricos em várias cidades do Estado e do Brasil. A fim de contemplar alguns requisitos relevantes à pesquisa, foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: contextualizar turismo cultural; conceituar interpretação do patrimônio; caracterizar a igreja São Pelegrino e seu respectivo patrimônio cultural; verificar por meio de entrevistas realizadas com residentes e turistas as percepções que esses dois grupos têm em relação à igreja São Pelegrino; e também verificar junto ao pároco de igreja São Pelegrino e a uma historiadora da cidade as percepções com relação à atividade turística na igreja, além do papel da comunidade e as ações voltadas para o turismo. Além das questões teóricas que envolvem essa pesquisa, a questão pessoal é bastante marcante não só na teoria a ser trabalhada como também no objeto de estudo: o patrimônio cultural da igreja São Pelegrino de Caxias do Sul/RS, e, mais precisamente, as pinturas realizadas no interior do templo pelo pintor italiano Aldo Locatelli. Para a pesquisadora, Locatelli é um artista que consegue dar vida às obras de arte. Sua técnica mantém traços semelhantes aos de outros pintores famosos, mas também ultrapassa essa característica quando apresenta sua obra-prima: a “Via Sacra”, quadros com traços do modernismo, do surrealismo e do expressionismo, além de conter objetos fora de contexto, como utensílios não existentes no período e também apresentando uma imagem de Jesus humano, homem que sente dor, frio e fome. Sobre a metodologia utilizada, a pesquisa é exploratória, pois há a intenção de construir uma hipótese sobre ela, a escolha por esse tipo de pesquisa também se deu pelo fato dela ser abrangente. Optou-se pela pesquisa qualitativa com relação à abordagem metodológica porque não está se levando em conta o número de participantes, mas sim as várias respostas dadas numa pequena amostra do todo. Os procedimentos técnicos utilizados são a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. O motivo para realizar uma pesquisa bibliográfica é pelo fato de necessitar de fundamentação teórica que valide as ideias apontadas, a fim de obter validade e coerência. A pesquisa de campo é fundamental uma vez que o contato com turistas e comunidades se faz


17 necessário, sem essa aproximação não é possível concluir a pesquisa. A última característica da pesquisa é ser não probabilística, o que permite que os pesquisados tenham perfis diferentes, de acordo com a sensibilidade do pesquisador. A presente pesquisa está organizada da seguinte maneira: primeiro capítulo – Turismo Cultural. Nesse capítulo, uma série de conceitos a respeito de cultura, turismo e turismo cultural são abordados, a partir do ponto de vista de: Gastal (2001), Ministério do turismo (2006), Neto (2009), Santos (2005), Barretto (2001 e 2007), Pérez (2009), entre outros, mas também uma discussão sobre identidade, memória e patrimônio das leituras de Camargo (2006), Nogueira (2008) e Pires (2007); além de tratar da teoria da interpretação patrimônio, criada por Freeman em 1957, com as ideias de Biesek (2004), Murta e Albano (2002), Morales (2004) e Mancini (2007). No capítulo dois, apresenta-se a cidade de Caxias do Sul, sua história, o processo de imigração e dados atuais. Seguida pela igreja São Pelegrino, a devoção ao Santo, a construção, a chegada e o trabalho de Locatelli, e a sua realidade atual, além de sua via e obra. O terceiro capítulo é sobre a metodologia, os aspectos teóricos, os gráficos e suas análises, as entrevistas transcritas e os cruzamentos de informações. O quarto capítulo, finalmente, trata da discussão dos dados, o que se conseguiu examinar e analisar dos questionários aplicados, das entrevistas realizadas e das teorias utilizadas.


1 TURISMO CULTURAL

“Através da interpretação, a compreensão; através da compreensão, a apreciação, e através da apreciação, a proteção”. Freeman Tilden

Para compreender o caminho a ser percorrido ao longo da pesquisa, será fundamental que se retome uma série de conceitos e pontos de vista a respeito de cultura, turismo, patrimônio cultural, memória e identidade. Já que turismo é a atividade que começa pela curiosidade, sobretudo por aquilo que é do outro, viajar se torna preciso para desvenda os mistérios, observar as belezas e se aproximar do desconhecido. Dessa forma, se percebe que a atividade turística tem o papel de facilitadora no processo de compreensão das culturas. Da mesma forma que ela é transformadora, na medida em que estimula a prática de um novo olhar para o que é do outro, agregando valor onde muitas vezes não há, e, de certa forma, também contribuindo para que a própria comunidade local enxergue suas próprias belezas, identifique seus patrimônios. E isso provoca uma retomada ao passado, do que faz parte do imaginário coletivo, os grupos percebem a importância da sua identidade cultural e do papel que a memória coletiva tem para a continuidade desses valores, sentimentos e formas de organizar a vida. Porém, tudo isso está contemplado na teoria que serve como norte para que a prática da interpretação do patrimônio aconteça a fim de contribuir no processo de valorização e preservação dos patrimônios culturais.

1.1 DA CULTURA AO TURISMO

Antes mesmo de o turismo ser uma atividade desenvolvida e que hoje faz parte da economia mundial, já havia uma preocupação com o conhecimento adquirido pela experiência do dia a dia de determinada sociedade. Essa prática que retornou referência para grupos posteriores e que pode ser compreendida como cultura, conforme o Ministério do Turismo


19 (MTur) (2006) propõe, ao afirmar que: “[...] a totalidade ou o conjunto da produção de todo o fazer humano de uma sociedade suas formas de expressão e modos de vida” (p. 9). Ao longo dos séculos, inúmeras discussões sobre o conceito de “cultura” foram feitas, o que se permite, ainda hoje, ter diferentes conclusões. Porém, para esta pesquisa, o que realmente é importante pensar a respeito do assunto é que a cultura – em sua essência – é motivação para que as pessoas busquem conhecer outras sociedades. Da mesma forma que, no passado, a cultura erudita era a mais valorizada, hoje, a busca é pelo outro e por aquilo que ele pode apresentar, sem juízo de valor ou competitividade, como se fosse possível dar nota para uma sociedade em relação a outra. Em Gastal (2001), há uma discussão bastante interessante sobre cultura, não apenas sua relação próxima com o turismo, mas, principalmente, a partir da ideia de que cultura é o acúmulo de conhecimento de um grupo que gerou outras ideias, costumes e hábitos. Como também a mesma autora afirma que cultura é “qualquer tipo de manifestação que une o convívio em sociedade” (p. 125). Outra questão importante para pensar é o grau de significado que as manifestações culturais ganham, mesmo porque esse sentido específico é o que reforça e mantém os laços entre os membros dos grupos para essa ideia. A respeito, Gastal (2001) aponta que: “[...] a cultura seja vista como um processo de síntese de saberes de uma determinada comunidade que, num determinado momento gera produtos específicos, com uma profunda carga simbólica” (p. 128). E, complementa, dizendo que “[...] todo indivíduo e coletividade possuem uma cultura, isto é, produzem saberes que se manifestam em produtos que incorporam carga simbólica” (GASTAL, 2011, p. 129). Dessa forma, percebe-se que a cultura é o resultado dos saberes e fazeres dos grupos sociais. Ela pode manter características específicas de um determinado grupo por séculos, da mesma forma que uma característica pode ser desqualificada perante as sociedades, como, por exemplo, a questão do sotaque italiano em relação às outras etnias. Por vários anos os italianos achavam que sua forma de falar, seu sotaque era motivo de vergonha, isso afetou muito a questão cultural, a valorização de sua identidade, que, com o passar do tempo e com uma nova percepção a respeito disso, eles perceberam que não havia nada de ruim em falar com seus bisavôs, colonos que recém chegados na América. Ao retomar à ideia inicial, de que a cultura está intimamente relacionada com o turismo, para o MTur (2006), essa relação está fundamentada em:


20 1. a existência de pessoas motivadas em conhecer culturas diversas. 2. a possibilidade do turismo servir como instrumento de valorização da identidade cultural, da preservação e conservação do patrimônio, e da promoção econômica de bens culturais (p. 9).

Com isso, é possível perceber que a atividade turística oferece uma série de vantagens, sejam elas culturais, educacionais ou econômicas, entre outras. Essas vantagens sinalizam os vários setores em que o turismo pode estar e o que pode oferecer. Para Pérez (2009, p. 104 105): “Não pode existir turismo sem cultura, daí que possamos falar em cultura turística, pois o turismo é uma expressão cultural”. Sendo a cultura uma forma de apresentar o conhecimento das sociedades, a sua valorização é uma consequência na qual o turismo serve como ferramenta. Nogueira (2008) também trata o turismo do mesmo ponto de vista:

O processo de inserção de elementos da cultura local nas atividades turísticas demonstra a necessidade de preencher de significado espaços, objetos e atividades, não os deixando vazios de identidade, e estranhos ao contexto que os criou. O turismo, como catalisador do patrimônio cultural, costuma apropriar-se de valores da cultura, interpretá-los e produzir significado para as coisas que os turistas vêem e buscam usufruir (p. 2). (grifo da autora)

Atualmente, essa inserção de elementos da cultura apontada por Nogueira (2008) é cada vez mais necessária para que novos atrativos turísticos sejam criados assim como outros destinos. Pois, os turistas tendem a exigir o contato direto com outras culturas, com atividades que aproximem o visitante do dia a dia dos residentes, atividades do cotidiano, da matériaprima para se ter a cultura. A troca de experiências faz parte do processo de viagem. Já que uma sociedade não mantém as mesmas características para sempre, porque a cultura e as características de um povo estão sempre em modificação, não apenas ao estar em contato com outra cultura, mas também pelos novos integrantes e uma nova geração de ideias, sentimentos e ações que esse grupo recebe. De acordo com Neto (2009), o turismo é visto “como um ato cultural”, da mesma forma que Santos (2005, p. 6) confirma, afirmando: “O Turismo faz parte do processo cultural e cria ocasiões nas quais as comunidades encenam [...]” e que: “O Turismo torna-se um elemento da construção dinâmica da cultura e da identidade”. Sendo assim, tem-se a perspectiva do quanto uma simples movimentação de pessoas pode provocar modificações culturais tanto na comunidade receptora quanto nos turistas, e que essas mudanças podem alterar a identidade de cada grupo que participa desse processo.


21 Mas também isso não significa apenas em perdas, pois graças a esses movimentos é possível que as identidades culturais ganhem força, sejam valorizadas e que os grupos sociais fiquem mais unidos. Com isso, pode-se pensar que cultura é, de acordo com Hoebel e Frost (1976 apud GOULART e SANTOS, 2008, p. 9): “[...] um sistema integrado dos padrões de comportamentos apreendidos, os quais são característicos dos membros de uma sociedade e não o resultado de herança biológica”. Para Castriota (apud BESSA, 2004, p. 53), “[…] cultura é a maneira que o homem tem de se relacionar com a natureza e com os outros homens”. Para esses autores, o sentido de cultura não perpassa as questões biológicas, mas, sim, trata-se exclusivamente da questão social, já que é fundamental o contato com o outro. A manifestação de uma cultura só ocorre com a presença do outro, ainda que para Castriota (apud BESSA, 2004) esse outro possa ser a natureza. A partir dos conceitos dos referidos autores, nota-se que a cultura, mesmo sofrendo modificações, não significa que será uma no mundo todo, justamente pelas intervenções temporais e sociais. Pérez (2009) também apresenta um conceito a respeito de cultura, pois, para o autor, ela pode ser entendida por mais de um olhar: antropológico, social e estético. O olhar antropológico permite compreender cultura como um modo de vida, a forma como os seres humanos pensam, sentem, dizem e fazem; como também é um processo resultante da participação e da criação coletiva. Do ponto de vista social, cultura é campo do conhecimento, produção e consumo de atividades culturais; e o olhar estético trata a cultura como atividades intelectuais e artísticas. A realização da atividade turística é um ato cultural, afirma Neto (2009, p. 2), assim, ele deve proporcionar plenamente essa relação, seja com a natureza seja com o homem. A prática do turismo sempre esteve ligada à cultura, uma vez que ambos fazem parte das sociedades. Há uma conexão entre ambos, pois o turismo faz parte da ação das pessoas; e a cultura é o resultado dessas práticas, é o acréscimo de tudo aquilo que foi adquirido nas viagens, no contato com o outro. Para compreender melhor isso, é preciso conceituar turismo, que segundo a Organização Mundial de turismo (2001, p. 38): “[...] compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios e outras [...]”.


22 Jafar Jafari também apresenta em Beni (2004) uma importante forma de conceituar turismo: “[...] é o estudo do homem longe do seu local de residência, da indústria que satisfaz suas necessidades, e dos impactos que ambos, ele e a indústria, geram sobre os ambientes físico, econômico e sociocultural da área receptora” (JAFAR JAFARI apud BENI, 2004, p. 36). De acordo com Neto (2009, p. 3): “O fenômeno turístico é uma atividade multifacetada e multidimensional [...]. A matéria-prima para sua realização está no imaginário e nos bens concretos que facilitam sua prática”. Os conceitos apresentados abordam a questão de o homem permanecer longe de sua residência, por um tempo determinado e cuja finalidade não pode ser moradia. Jafari coloca a questão dos serviços oferecidos ao turista, como também dos impactos provocados pelo mesmo ao destino, incluindo o social, que está diretamente ligado à questão da cultura. Neto (2009) entende o turismo como uma atividade bastante subjetiva e até individual, porque ao tratar do imaginário, acaba trazendo à tona os sonhos, desejos e a viver experiências que poderiam ter permanecido apenas na imaginação. Essa forma de compreender o turismo é também a possibilidade de dar um tom de fantasia, e que a sua realização é quase um “milagre”, um “presente”. A vontade de conhecer outras culturas, hábitos e costumes, levou os povos a buscarem esse contato por meio de viagens. Essas, por sua vez, iniciaram por outros motivos, mas que ao longo dos anos, servem como meio para se chegar ao outro. A civilização, desde o início de sua formação, sempre viajou. A motivação, inicialmente, era a procura por abrigos seguros, planta e sementes para se alimentar, a busca por animais para caçar e ter alimentos e vestes, além da procura por locais com água em abundância. Os deslocamentos também eram influenciados pelas estações do ano e pela segurança dos grupos, já que os conflitos eram frequentes para dominar territórios. Mais tarde, no século XV, durante o período das grandes navegações, as viagens ganharam um novo caráter, o econômico, principalmente, pela busca de produtos presentes em algumas regiões e não em outras. Mas nesse momento histórico, as viagens proporcionaram descobrimentos, o que levou o contato direto com outras sociedades. Dentre os grandes navegadores, Marco Polo foi um dos principais em sua época, pois o contato que teve com sociedades orientais, sobretudo na China. Se hoje é possível saborear um delicioso prato de espaguete no jantar, e, na sobremesa, um sorvete de creme, isso só acontece porque Marco Polo levou da China à Gênova essas novidades, como outras tantas; mas acima de tudo


23 a experiência com as pessoas, seus costumes e sua língua foi o que de melhor o descobridor pode trocar (BROWN, 2007). Nos séculos XVIII e XIX, os intelectuais e os artistas do Norte da Europa – filhos da nobreza e da burguesia – viajavam por longos períodos na busca de novas experiências e conhecimento. Em Pérez, tem-se uma boa definição para esse tipo de viagem – o Grand Tour: [...] o “Grande Tour”, que era uma viagem de formação (e iniciação) dos nobres e burgueses com o objectivo de conectar com outros povos e culturas, criando assim um capital cultural que lhes serviria para ser melhor aceite no seu próprio país e investir nas tarefas de liderança e governança (PÉREZ, 2009, p. 106).

Dentro da história do turismo, Thomas Cook foi um dos seus precursores em 1841. Cook criou várias ideias utilizadas ainda hoje no setor, como: o pacote turístico, o voucher, as excursões e a agência de viagem. Ele definiu e organizou o que eram deslocamentos aleatórios a partir de diferentes públicos-alvo, destino e motivação. A partir do Grand Tour e da experiência de Cook, pode-se refletir sobre o papel cultural que as viagens ganham, pois a troca de experiências fazia e ainda faz parte desse processo. Nessa perspectiva, Pérez (2009) afirma que: “o Turismo pode ser entendido como um acto e uma prática cultural” (p. 108) e que “Turismo Cultural seria uma reinteração” (p. 108). Barretto (2007, p. 84) confirma essa ideia da seguinte forma:

Vale lembrar que o turismo cultural não é uma novidade. Ao contrário, o Grand Tour tinha como característica ser uma forma de contato com as culturas da Europa continental; assim podemos dizer que o turismo cultural é a primeira forma de turismo, que precede o turismo moderno que começa no século XIX e procura o lazer e a quebra da rotina cotidiana.

Pela OMT (2001, apud MTUR, 2006, p. 20) “Turismo cultural seria caracterizado pela procura por estudos, cultura, arte cênicas, festivais, monumentos, sítios históricos ou arqueológicos, manifestações folclóricas ou peregrinações”. De acordo com essa definição da OMT e do MTur e com o conceito proposto por Pérez (2009) para turismo, é como se tratasse da mesma ideia, como se fossem sinônimos. A partir disso, e pensando que turismo cultural é um fenômeno histórico, conforme Ory (1993, apud PÉREZ, 2009, p. 113-114) afirma que: “Turismo Cultural é um fenômeno histórico e não um fenômeno moderno somente”, para isso, o autor considerou que o turismo cultural passou por três etapas históricas:


24 1. A Antiguidade e a Idade Média, caracterizadas pelas peregrinações a santuários famosos (ex.: Ephesus, Santiago de Compostela, Beranés ou Varasani); 2. As grandes viagens dos séculos XVIII e XIX, quando intelectuais e artistas do Norte da Europa visitam o Sul; 3. A actualidade, quando o turismo cultural se converte num segmento de massa, praticado sobretudo pelas pessoas de maior capital cultural.

Com essa visão histórica, o autor estabelece uma relação entre as peregrinações, o Grand Tour e o turismo cultural moderno, criando um “fio condutor” a partir da curiosidade humana pela busca das diferenças culturais. Para compreender essa relação, é preciso pensar que curiosidade nada mais é do que o interesse dos turistas em conhecer, experimentar e vivenciar, além de trocar cultura nas regiões visitadas. Conforme Pérez (2009) aponta: “O turismo cultural está ligado a algo que sempre existiu – a curiosidade, pensando que essa curiosidade é ‘o interesse dos sujeitos’” (WALLE, 1998, apud PÉREZ, 2009, p. 113). Esse interesse pelo desconhecido é o que move as pessoas a viajar, permanecer no local e estar em contato com o novo. Craik (1997, apud PÉREZ, 2009, p. 114) também reforça essa linha de pensamento ao afirmar que o turismo cultural pode ser compreendido como um ato de curiosidade, ele também pode ter a compreensão como um ato de procura, a partir da discussão proposta pela National Trust Historic Preservation (1993 apud PÉREZ, 2009, p. 115): “[...] a prática de viajar para experimentar atrações históricas e culturais com o fim de aprender sobre o passado de uma região ou de um país, de uma maneira divertida e informativa”. A presença do outro é condição para que o turismo cultural ocorra, pois sem que haja a troca de experiências não há cultura, e, assim, não há turismo cultural. Com isso, o ICOMOS (1976) definiu “turismo Cultural como um fato social, humano, econômico e cultural irreversível”, o que confirma ainda mais a ideia da necessidade de, ao fazer turismo, existir o outro, para que haja troca e ao mesmo tempo momentos de valorização de suas culturas, seus costumes, suas identidades. A prática do turismo cultural está intimamente relacionada com o que é valorizado pelas cidades ou regiões em que os atrativos estão inseridos. Dessa forma, é fundamental que tanto a identidade cultural quanto a memória coletiva estejam vivas nas comunidades locais, pois é a partir desses conceitos que o patrimônio material e imaterial recebem valor e se tornam significativos não apenas para a comunidade, mas também para os turistas. Conforme a discussão que segue.


25 1.2 O QUE PENSAR DE IDENTIDADE, MEMÓRIA E PATRIMÔNIO

O processo de transformação de um prédio antigo, um monumento, um alimento típico ou uma dança ou costume específico em patrimônio cultural pode ser lento, mas que além do tempo, necessita de outros fatores, como a memória coletiva e a identidade local. A memória coletiva é fundamental para a preservação do patrimônio, seja ele material como imaterial, pois, é por ela que as sociedades determinam aquilo que tem valor e é significativo ao grupo. Enquanto que a identidade cultural é importante porque ela é o conjunto dos traços culturais de um mesmo grupo. A identidade cultural é a imagem criada de um grupo, por meio de suas características específicas. Segundo o Ministério do Turismo (2006, p. 9), o patrimônio cultural é “fator de identidade cultural e de memória das comunidades”. Para tanto, Margarita Barretto (2003, p. 45) afirma que: “As pessoas passam a perceber que a identidade é uma construção social”. Além disso, a autora também afirma que: “Manter algum tipo de identidade – ética, local ou regional – parece ser essencial para que as pessoas se sintam seguras, unidas por laços extemporâneos a seus antepassados [...]”. Essa ideia apontada pela pesquisadora é relevante para que se entenda o valor que a cultura local tem e precisa ter para que a identidade local permaneça viva, ainda que não seja imutável. Barretto (2003, p. 46) também afirma que:

O conceito identidade implica o sentimento de pertença a uma comunidade imaginada, de membros não se conhecem, mas partilham importantes referências comuns: uma mesma história, uma mesma tradição. Donde, nessa sociedade modificada, o aparecimento das tribos humanas, comunidades imaginadas que se reúnem em torno de símbolos como marcas de roupa, calçado, conjuntos musicais, organizações ecológicas.

Esse conceito apontado por Barretto (2003) reforça a questão do sentimento de pertencimento das comunidades, independente de os membros se conhecerem ou não, pois o que está em questão é o fato de compartilhar dos mesmos costumes, das mesmas tradições. Um exemplo para isso são os Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), eles compartilham das mesmas regras, têm os mesmos símbolos e preservam as mesmas tradições, além do amor e do respeito pela cultura do Rio Grande do Sul. Porém, é claro que nem todos os membros de todos os CTGs espalhados pelo Brasil e até pelo mundo se conheçam, mas o que não significa


26 que deixam de usar as mesmas vestimentas, dançar as mesmas músicas e ter os mesmos valores. Nogueira (2008, p. 4) já aponta que: “É justamente a identidade de um lugar que o torna mais visível e mais presente na memória do turista”. Essa identidade apontada pelo autor é visível ao turista quando ele percebe uma arquitetura específica, um sotaque ou língua diferente, música e dança típicas, e todas as demonstrações culturais que distinguem um determinado grupo do outro, e que permitem que diferentes culturas tenham contato com essas demonstrações. Alguns teóricos afirmam que a identidade é mutável, que não é possível permanecer a mesma para sempre. De acordo com Banducci Jr. e Margarita Barretto (2001, p. 19): “No pensamento pós-moderno, a identidade é vista como algo móvel, sempre em construção, que vai sendo moldado no contato com o outro e na releitura permanente do universo circundante [...]”. Vê-se o mesmo ponto de vista em Barretto (2007), pois o entendimento de identidade está muito mais próximo das questões sociais e, sendo assim, da mesma forma que as sociedades mudam sua identidade também mudará. Como ela reforça: “[...] hoje se entende que nem o indivíduo nem a sociedade têm um núcleo essencial e imutável que outorgue aos sujeitos uma identidade fixa durante toda sua vida. A identidade passou a ser entendida como algo social e não essencial” (BARRETTO, 2007, p. 96). Além da questão da identidade cultural já discutida, Barretto (2003) aponta que a recuperação da memória leva ao conhecimento do patrimônio, e esse a sua valorização pelos habitantes locais. Barretto (2003, p. 96), afirma: “[...] para os núcleos receptivos, trabalhar a tradição como atrativo ajuda a recuperar a memória e a identidade locais, o que, na atualidade, constitui um imperativo para manter um equilíbrio saudável entre a manutenção da cultura local e a incorporação dos avanços positivos da cultura global”. A partir das afirmações de Barretto (2003), percebe-se a relação existente entre identidade cultural e memória, além de servirem como instrumentos para a preservação do patrimônio cultural. Mas também essa manutenção cultural está inserida no processo de valorização das comunidades, ação fundamental para constituir a união nos grupos e reavivar sentimentos e valores até esquecidos ao longo dos anos. O papel da memória, como forma de valorização cultural, está intimamente ligado ao tempo, principalmente ao passado, pois a memória é o exercício de manter vivo o que já passou, Izquierdo (2001, p. 1), aborda essa questão:


27 Esse ponto evanescente, porém, é nossa única posse real: o futuro não existe ainda (e a palavra ainda é uma petição de princípio) e o passado não mais existe, salvo sob a forma de memórias. Não há tempo sem conceito de memória; não há presente sem um conceito de tempo; não há realidade sem memória e sem uma noção de presente, passado e futuro.

Mas também, o autor apresenta uma outra ideia sobre memória, bastante interessante: “Não há memória sem aprendizado, nem há aprendizado sem experiências” (IZQUIERDO, 2001, p. 1). Nessa, estabelece-se uma relação entre o aprendizado e a memória, a partir das experiências vividas, e que essas seriam as responsáveis por guardar na lembrança aquilo que recebeu sentido no momento em que experimentou. Dentro da atividade turística, funciona da mesma forma, pois todas as experiências boas serão transformadas em boas lembranças e possível retorno ao destino. Mas não é apenas com relação aos turistas que isso acontece, pois com os residentes, a memória coletiva é responsável por fixar na cultura do povo uma característica, uma dança, uma fala, algo específico e que o distingue dos demais, Barretto (2003) afirma que:

O conceito de memória coletiva, de acordo com Halbwachs (1968, p. 36-37), tem a ver com uma memória social, exterior ao indivíduo, estendida no tempo, que guarda arquivados fatos acontecidos há muito. Essa memória é o invólucro das memórias individuais e conserva, a sua maneira, os fatos que aconteceram na sociedade à qual o indivíduo pertence. Os indivíduos, por sua vez, precisam dessa memória coletiva quando desejam saber sobre fatos que não testemunharam e que fazem parte do seu passado e da comunidade a que pertencem (BARRETTO, 2003, p. 134).

De acordo com os autores, a memória coletiva é o que preserva acontecimentos ao longo da história e que permite buscá-los a qualquer momento. Dessa forma, percebe-se o papel de caracterizar um grupo de outro, tendo, então, um sentido de identidade da memória coletiva. Barretto (2003, p. 47) também trata dessa questão: “Além da questão identitária, a recuperação da memória leva ao conhecimento do patrimônio e este, a sua valorização por parte dos próprios habitantes do local”. Para Halbwachs (1990, apud NOGUEIRA, 2008, p. 9), a memória coletiva “recompõe magicamente o passado: A lembrança seria uma reconstrução do passado com recursos do presente, com o olhar do presente, ancorado por outras reconstruções construídas em períodos anteriores”. Com isso, ela está além da lembrança, ou até como uma lembrança comum a todos de uma sociedade, mas com um olhar diferente, uma valorização igual e comum. A partir da valorização em comum de um aspecto, objeto ou local decorrente da memória coletiva é que se inicia o processo de ser parte das características do grupo e,


28 portanto, se incorpora às características de uma sociedade específica. Camargo (2002, p. 3031) conceitua de uma forma bastante clara essa questão:

O valor simbólico que atribuímos aos objetos ou artefatos é decorrente da importância que lhes atribui à memória coletiva. E é esta memória que nos impele a desvendar o significado histórico-social, refazendo o passado em relação ao presente, e a inventar o patrimônio dentro dos limites possíveis, estabelecidos pelo conhecimento.

Esse conceito de Camargo (2002), que apresenta a curiosidade novamente como instrumento que leva as pessoas a pesquisar sobre o passado, compreender o momento histórico e a partir dele dar um valor especial, até determinada igreja, fábrica ou casa antiga, por exemplo, ser preservada e admirada pelo seu passado e se tornar patrimônio daquela região. Nesse sentido, Nogueira (2008, p. 3) trata também da seguinte forma: “[...] lugares como igrejas, parques, cuja imagem fica guardada na memória, pela sua história, pela sua beleza arquitetônica, que, vez por outra, se materializa em desejos e em sensações rememoradas”. Para a prática do turismo cultural, a união do papel da memória coletiva para manter a identidade local bem definida e valorizada, provocando a população a dar mais valor ao que antes não tinha sentido, o patrimônio, podendo ser tanto de bens materiais como imateriais, é o que realmente importa, pois a busca pelos aspectos identitários é o que move os turistas culturais a saírem de suas residências e irem ao encontro com o diferente. Pensando no que Nogueira (2008) tratou sobre a questão da identidade, fica claro que o interesse do turista em um determinado local só existirá se as características culturais estiverem presentes na comunidade local, ela precisa ser visível aos olhos do turista para que tenha sentido de ir conhecer o local. Com isso, se aponta o motivo que leva tantas pessoas a irem ao encontro das belezas de Outro Preto (MG), de Salvador (BA), das Missões (RS), por exemplo, pois é graças ao patrimônio e às pessoas que é possível contar e recontar sobre o passado, porém, vivo e presente na vida de uma determinada comunidade. Além dessas questões, Barretto (2007) retoma a questão da tradição como um atrativo turístico e que está muito próximo tanto da memória coletiva quanto da identidade cultural, pois ela auxilia na recuperação e no equilíbrio entre a cultura local e a incorporação de novas manifestações culturais de uma sociedade. Um exemplo para isso é a permanência das gôndolas como transporte entre os canais de Veneza, atualmente há outros meios de transporte mais modernos, mas ainda se mantém, mesmo que apenas com fins turísticos, os


29 gondoleiros e seus barcos pelas águas da cidade, dando um ar romântico e permitindo que seus admiradores voltem ao passado. Como já foi apontado anteriormente, tem-se como resultado da memória coletiva e da identidade cultural a criação de patrimônios culturais, através de ressignificação de determinados espaços construídos ou de danças folclóricas, costumes típicos. Contudo, é graças a esse “ter um outro olhar” para o que era comum que permite que a atividade de turismo cultural ocorra tão fortemente não apenas em cidades antigas, mas com origens diferentes, como italiana, alemã, açoriana ou polonesa, que são exemplos no Rio Grande do Sul. Com isso, dentro do que se entende por turismo cultural, o patrimônio cultural de uma sociedade, grupo ou região é o que mobiliza as pessoas a viajar. Esses bens culturais só se tornam patrimônio na medida em que têm valor/sentido à comunidade, mas para isso acontecer é preciso que essa comunidade tenha presente a vontade de manter a identidade cultural preservada, a partir da memória coletiva do grupo. Goulart e Santos, 1998, vêm o patrimônio cultural dessa mesma forma: “O patrimônio cultural, portanto, não só está presente no conjunto de monumentos históricos e manifestações artísticas de culturas passadas, como ele vive e está presente em comunidades que preservam e mantêm sua identidade étnicocultural” (p. 27). Mas também retomam um ponto bastante importante na discussão, o papel que o patrimônio tem nas sociedades, e o quanto isso influência na sua valorização e até na realização de atividade como o turismo, por exemplo. Goulart e Santos (1998, p. 27): “Daí que quanto mais uma sociedade consegue manter os referenciais de sua cultura, mais ela preserva os valores inerentes”. Para Simmel (apud BARRETTO, 2003, p. 43), “[...] o legado cultural mantém a continuidade cultural, são nexos dos povos com seu passado”. Além disso, Barretto (2003, p. 45) afirma que “as pessoas passam a perceber que a identidade é uma construção social”. Valorizar e destacar a identidade cultural de um povo é uma possibilidade de que o turismo consiga mantê-la presente através da preservação dos bens culturais dessa comunidade. Para o Ministério do Turismo (2006), patrimônio cultural “[...] são os bens da natureza material e imaterial que expressam ou revelam a memória e a identidade das populações e comunidades”. Assim como para Varine-Bohan (1974, apud BIESEK, 2004, p. 13) entendese:


30 [...] o patrimônio cultural se compõe, basicamente, do meio ambiente, do homem, do conjunto de conhecimentos acumulados e do conjunto de bens culturais, que seria tudo aquilo que o homem produziu com o intuito de suprir as necessidades de sua vida e de seu desenvolvimento.

E, para Biesek (2004, p. 13), “patrimônio é o legado que se recebe do passado, se vive no presente e se transmite de geração em geração: é fonte insubstituível de vida e inspirações, ponto de referência, identidade”. A partir dos conceitos apresentados, tem-se em comum a questão dos bens culturais e da natureza, materiais e imateriais, e a importância da identidade preservada, da herança deixada para as gerações futuras, o legado cultural da comunidade. Com isso, o papel do turismo é contribuir com a preservação desse patrimônio, não apenas para os turistas, ao estarem em contato com esses bens, mas também para a comunidade, a fim de manter a identidade preservada e os traços culturais específicos fortalecidos e renovados. Além desses papéis que o patrimônio assume, cabe também abordar o poder que ele tem em expandir para todos, num “processo de democratização da cultura”, como Biesek (2004, p.16) aponta: “O patrimônio tem um papel fundamental, responsável pelo processo de democratização da cultura, pela facilidade de acesso ao conhecimento e pela educação de amplas camadas da população”. Essa questão é fundamental para a aplicação da teoria de interpretação do patrimônio, que será discutida num outro momento, mas que é através dela também que se pode permitir o acesso de todos à cultura e, por consequência, ao conhecimento. Ainda, pensando na questão democrática do patrimônio cultural, é preciso levar em conta que ele não pode estar colocado apenas como objeto, mas, sim, como sujeito, pois os mais diferentes grupos sociais, não apenas os mais “eruditos” que portam a cultura, Camargo, 2002, trabalha esse ponto de vista da seguinte forma: “[...] se deva levar em consideração que todos os grupos sociais são portadores de cultura e que podem e devem manifestar-se por meio dos bens materiais” (p. 76-77). Em Camargo (2002), é possível identificar ao longo da história o quanto determinados grupos sociais eram mais “bem vistos” que outros, o que, por consequência, provocou a perda de muitos bens materiais e imateriais, que não apenas caracterizavam culturas populares, mas também valorizavam identidades culturais que se perderam com o tempo e o esquecimento. Para Pires (2007, p. 5-6), esse papel social que o patrimônio assume tem razão por estar associado ao dia a dia das comunidades, e que ele é também o resultado dessa rotina,


31 conforme a autora afirma: “[...] o sentido da palavra patrimônio está intimamente ligado ao significado que indivíduos e comunidades atribuem aos componentes do espaço. Assim, o patrimônio engloba as especificidades de uma cultura, ou seja, o cotidiano de um povo, sua forma de convívio e de expressão”. Um exemplo que caracteriza essa ideia é a cidade de Antonio Prado, no Rio Grande do Sul. Cidade de colonização italiana e que teve uma rua inteira tombada pelo IPHAN por manter características específicas de uma determinada cultura na arquitetura e na decoração das residências (ROVEDA, 2003). Essas casas não foram feitas propositalmente pensando em transformar a cidade em cidade turística, mas através do tempo e da beleza ou da especificidade das construções, além das características italianas da comunidade é que hoje Antonio Prado é uma cidade bastante procurada pela riqueza de patrimônio cultural que nela se concentra. Pérez (s/d, p. 4) traz um outro elemento interessante à discussão, a questão da nostalgia, já que homem busca na memória, nas lembranças do passado, uma forma de valorizar os feitos já realizados:

De acordo com o sociólogo britânico John Urry (1990), vivemos numa sociedade pós-moderna na qual há uma tendência para a nostalgia, que se manifesta também numa atracção nostálgica pelo patrimônio cultural, enquanto representação simbólica da cultura, sendo esta uma das motivações mais fortes para a prática do turismo cultural [...].

Contudo, e retomando a questão em relação do desenvolvimento da atividade turística, Alfonso (2003, p. 99) afirma:

El hecho de que los turistas conozcan el patrimônio cultural puede ser altamente positivo, si además se los ofrece uma serie de acciones que potencien la assimilación de esse patrimônio se conseguirá, por uma parte, que este grupo de indivíduos compreenda algunos aspectos de la identidad de sus anfitriones, y por outra, que estos últimos se preocupen por activar y preservar elementos que, em otras circunstancias podrían quedar relegados.1

Nesse caso, o turismo assume o papel de perpetuador das identidades culturais por meio do contato dos turistas com seus patrimônios. E como a atividade turística está vivendo

1

Tradução: O fato de que os turistas conhecem/conhecerem o patrimônio cultural pode ser muito positivo, se, no entanto, é oferecida uma série de ações/atividades que aumentem o conhecimento desse patrimônio. Se conseguirá, de um lado, que este grupo de indivíduos compreenda alguns aspectos da identidade dos anfitriões, e, por outro, que eles se preocupem em preservar elementos que, em outras circunstâncias, poderiam passar despercebidos.


32 um período de crescimento, aproveitar a boa fase e criar mecanismos que contribuam para a preservação dos patrimônios é o que de melhor a atividade pode oferecer. De acordo com Pérez (s/d, p. 6), o patrimônio cultural oferece:   

O maior atractivo para turistas culturais; Representa uma cultura a través duma série de elementos, imagens, objectos e símbolos; Mostra a identidade cultural de um grupo humano.

A partir do que Pérez (s/d) aponta como específico do patrimônio cultural, vê-se que a atividade turística não funcionaria sem o patrimônio cultural como ferramenta para manter asa identidades culturais vivas, além da valorização que os grupos sociais recebem. Como uma ferramenta que busca valorizar o patrimônio cultural, a teoria da Interpretação do Patrimônio vem como uma forma de enfatizar a importância da valorização através de mecanismos que estimulem a interpretação e a partir dela a preservação pela educação. Isso será melhor tratado na sequência.

1.3 TRATANDO SOBRE A INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÔNIO

A atividade turística, assim como outras atividades culturais, precisa de constante trabalho, pesquisa e planejamento para que o sucesso esteja garantido e que a cultura das sociedades se mantenha viva entre elas. Ainda que a cultura esteja sempre em processo de modificação, da mesma forma como as línguas, os hábitos, como o próprio homem, é preciso existir formas de preservação das identidades, é preciso manter na memória coletiva dos grupos o valor para tudo aquilo que tem sentido para o coletivo. A teoria proposta por Freeman Tilden a respeito da interpretação do patrimônio vem ao encontro desse pensamento. Historicamente, de acordo com Murta e Albano (2002), a origem da interpretação do patrimônio ocorreu nas décadas de 50 e 60, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Ambos os trabalhos foram desenvolvidos a fim de preservar os parques nacionais, principalmente. Esse trabalho também visava à difusão dos valores naturais e da criação de “reconstruções históricas” junto ao público.


33 Na década seguinte, a prática da interpretação do patrimônio se tornou o “planejamento interpretativo”, o que levou aos anos 80 a criação de atrações históricas e culturais dirigidas a um público bastante interessado. Atualmente, essa teoria se tornou mais abrangente, ultrapassando os limites da preservação natural, conforme se observa em Cabado e Marco (2001, apud BIESEK, 2004, p. 52): “[...] vem sendo utilizado como método de dinamização de lugares históricos e monumentos, compreendendo o conjunto de dispositivos por meio dos quais se tenta ‘dar vida’ ou significado aos objetos patrimoniais que estão separados ou despojados de seu contexto original”. A partir desse processo evolutivo da teoria criada por Tilden, atualmente é possível utilizá-la também no patrimônio cultural, a fim de que cada vez mais não apenas o sentimento de preservação exista por parte dos turistas, mas também pelas comunidades locais. Essa evolução é confirmada nas palavras de Biesek (2004):

[...] a interpretação se desenvolve tanto em referência aos elementos culturais quanto ao próprio entorno, em um contexto que implica o maior número de objetos e conceitos para chegar à compreensão da realidade em toda sua complexidade. Qualquer patrimônio é portador de vários significados e valores como os símbolos, materiais, econômicos, documentais, históricos e/ou estéticos (p. 52).

Sendo assim, a teoria proposta é uma importante ferramenta para o desenvolvimento positivo do turismo, em todas as áreas, mas, principalmente, no que tange a proteção e a preservação dos patrimônios natural e cultural. Biesek (2004, p. 53) justifica de forma bastante enfática o uso da teoria, quando acredita que: “o maior mérito da ação de interpretar é popularizar o conhecimento ambiental e preservar o patrimônio, induzindo as atitudes de respeito e proteção”. Murta e Albano (2002, p. 14) têm uma visão maior sobre interpretar:

Mais que informar, interpretar é revelar significados, é provocar emoções, é estimular a curiosidade, é entreter e inspirar novas atitudes no visitante, é proporcionar uma experiência única com qualidade. Para atingir seus objetivos, a interpretação utiliza várias formas da comunicação humana – teatro, literatura, poesia, fotografia, desenho, escultura, arquitetura – sem todavia, se confundir com os meios de comunicação ou equipamentos que lhe servem de veículos para expressar as mensagens: placas, painéis, folders, mapas, guias, centros, museus, etc.

Esse conceito traz um importante papel que a teoria possui, o de comunicar, o de aproximar turistas e comunidade local a partir da ideia de que um destino turístico não existe sem sua comunidade, sem história, sem costumes e sem cultura. A partir dessa ideia, fica


34 evidente que como em qualquer atividade cultural, o turismo precisa tanto dos turistas como da comunidade local, mas dessa não apenas para prestar serviços, porém, para manter viva a identidade daquele lugar. É a comunidade que precisa ter ciência de sua importância e da importância de preservar seus bens culturais. Além dessa questão, os autores ainda afirmam que:

A interpretação preocupa-se com a relação morador/visitante e propõe que todos usufruam de paisagens, objetos, monumentos e momentos de presença no lugar, ao invés de consumi-los apressadamente, como algo descartável e de fácil substituição. (MURTA e ALBANO, 2002, p. 16)

Percebe-se o quanto é importante o morador não se sentir a margem do processo, da mesma forma que o turista não deve apenas “usar” o destino como algo tangível. As experiências devem ser ricas em sentimentos, conhecimento, trocas de experiências com o outro, e aprender a valorizar o que não nos pertence diretamente, mas, ao mesmo tempo, ter ciência do papel de preservador da identidade e da cultura de uma comunidade. Morales (2004, p. 2) define a teoria como uma “estratégia de apresentação do patrimônio que utiliza um conjunto de técnicas de comunicação com a finalidade de facilitar a interação entre o patrimônio e a sociedade”. Da mesma forma que ele aponta que “a interpretação do patrimônio é a arte de revelar in situ o significado do legado natural e cultural ao público que visita esses lugares em seu tempo livre”. A partir da visão de Morales (2004), a interpretação do patrimônio serve como um elo entre os turistas e o patrimônio e a comunidade e o patrimônio, ou, ainda, um triângulo entre turistas – patrimônio e comunidade, que não responsabiliza apenas um determinado grupo, mas, sim, todos os envolvidos, de maneira que provoca os participantes a adquirirem uma outra forma de perceber o patrimônio cultural. O autor também aborda a questão da importância do tipo de mensagem, da linguagem usada, do quanto precisa ser atraente, criativa e interessante, já que num momento de lazer as pessoas não se encontram predispostas a ouvir, pensar, refletir, mas que isso deve acontecer “quase sem querer”. Conforme ele coloca: “[...] a mensagem tem que ser atrativa criada de forma que o visitante compreenda-a com rapidez. [...] Há de se atrair a atenção do visitante, permitindo-lhe captar todo o conteúdo da mensagem através de contrastes elementos que proporcionem dinamismo e interação” (MORALES, 2004, p. 4).


35 Morales (2004) propõe um olhar diferente para a teoria. Ao tratar de questões pontuais como a criatividade, o tipo de linguagem, como se deve dar a comunicação, é como se a teoria se torna mais prática, mais atraente inclusive para quem a realiza. O trabalho no setor turístico envolve o contato com o outro, e para isso é preciso estar preparado para atender, ouvir, respeitar e alegrar, além de fazer refletir. No fim, o trabalho do turismo também é de valorizar os espaços, as culturas, o outro. Ao utilizar dessa teoria, pretende-se poder descobrir mais a respeito do olhar de turistas e de residentes de um atrativo turístico bastante importante para a cidade de Caxias do Sul/RS. A igreja São Pelegrino apresenta uma série de bens culturais capazes de proporcionar todas essas experiências aos turistas, como também, ao residente pode oferecer experiências específicas para quem vive no dia a dia. Com isso, espera-se compreender melhor essas visões, como também pensar em adequar essa ideia a outros locais, além de refletir sobre o papel de cada um em relação à preservação do patrimônio de sua cidade. Acredita-se que essa teoria não exclui a intenção do lazer no turismo, ela apenas agrega outras intenções para que fique claro o quanto todos somos responsáveis pelo mundo que vivemos. De acordo com esse olhar, há algumas pesquisas recentes a esse respeito, muitas avaliando o que existe e outras propondo formas interessantes que estimulem a todos a preservação e a valorização de seus patrimônios. Dentre os casos estudados, alguns serão apresentados a seguir:

a) O caso de Tiradentes Pires e Ferreira, no ano de 2005, realizaram uma pesquisa cujo interesse era “avaliar a percepção dos turistas e dos moradores de Tiradentes a respeito do projeto de sinalização interpretativa”. As autoras tinham como método principal aplicar formulários para turistas e residentes a fim de constatar o que era possível compreender da proposta realizada pelos gestores públicos da cidade – desenvolvimento de sinalização interpretativa de alguns pontos turísticos de Tiradentes. Ao final da pesquisa e com a análise dos dados concluída – do total de 173 pessoas pesquisadas, 80 eram habitantes da cidade e 93 eram turistas –, foi possível perceber que nem a comunidade nem os turistas estavam satisfeitos com o trabalho realizado nos atrativos selecionados. Do ponto de vista da comunidade, a insatisfação ocorreu por conta da falta de envolvimento da sociedade, tanto na escolha dos locais como também na produção


36 dos textos, etc. Já os turistas, porque eles não compreenderam a atividade como um mecanismo para auxiliar na interpretação dos patrimônios históricos selecionados. A partir dessa pesquisa tem-se o levantamento de algumas questões, uma delas é a importância da comunidade local, o quanto se sentir inserido nos processos é importante. A segunda questão é que talvez uma solução para resolver os problemas apontados pelas pesquisadoras seria ouvir residentes e turistas, depois fazer um levantamento, propor ideias, mas também saber ouvir ideias e pontos de vista diferentes.

b) O caso de São Miguel das Missões Neste exemplo, há duas pesquisas que tratam do mesmo assunto, as ruínas de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões/RS. Esse patrimônio, além de ser um atrativo turístico consolidado e ser patrimônio tombado pela Unesco, tem várias formas de interpretação do patrimônio. Porém, para os dois pesquisadores, Biesek (2004) e Neto (2007), as ferramentas não estão sendo usadas de forma adequada, além de faltar uma série de recursos básicos de infraestrutura e planejamento, por exemplo. Para Neto (2007), seu trabalho esteve voltado para a avaliação do turismo cultural sob os seguintes aspectos: propaganda, imagem acesso externo, acesso local, sinalização externa, sinalização interna, design, folders, recepção, segurança, serviços e qualidade, percurso de visitação, atividades didáticas, absorção, agendamento e monitoria, estacionamento, souvenires, consciência de demanda, gastronomia, valores, manutenção, repouso, capacidade de carga, hospedagem, pessoas com necessidades especiais, sustentabilidade e música. Já para Biesek (2004), sua pesquisa esteve voltada para a aplicação do planejamento interpretativo proposto por Murta e Goodey (2000), já que a autora esse instrumento pode “otimizar a experiência da visita: estimular o olhar, provocar a curiosidade e levar o turista a descobrir toda a magia do lugar”. Além dessas questões, novamente tem-se a falta de contribuição da comunidade local, e nesse exemplo a situação é mais difícil, pois seria muito importante a presença e o trabalho dos índios guaranis – primeiros moradores do local, já que vivem uma situação de abandono e até preconceito. Com relação às propostas oferecidas pelos pesquisadores, ambos têm a visão de que o turismo pode contribuir ainda mais com o patrimônio edificado. É claro que a realização de investimentos não apenas lá, mas no entorno e até mesmo em outras questões pertinentes,


37 como: melhores condições de acesso, transportes, infraestrutura das cidades e qualificação profissional.

c) O caso de São Francisco do Sul Este exemplo trata de uma proposta sugerida por Mancini (2007) após analisar uma os bens materiais e imateriais da cidade de São Francisco do Sul, a autora levantou uma série de questões com relação ao patrimônio histórico da cidade de São Francisco do Sul/SC. Ao contrário dos casos já colocados, este, na verdade é o mais próximo da presente pesquisa, pois se identificou um patrimônio, ele é consolidado como atrativo turístico, tem um certo valor tanto por parte da comunidade como por parte dos turistas, mas não há a aplicação de técnicas de interpretação do patrimônio (segundo a autora, esse processo segue as seguintes etapas: I – registro de recursos, temas e mercados; II – desenho e montagem: escolha de meios e técnicas; III – gestão e promoção) que a teoria da interpretação permite criar. Além disso, o processo de construção desse modelo se deu a partir de entrevistas estruturadas e não estruturadas. Ao final, após as análises das entrevistas, percebeu-se o quanto é importante ouvir a comunidade, principalmente, mas também os turistas e gestores públicos, além de outros envolvidos. Como resultado, ela pode elencar temas geradores de roteiros, propor discussões junto à comunidade e estimular a valorização de tão importante conjunto de bens materiais preservados, que é o centro histórico da ilha de São Francisco do Sul. As pesquisas citadas são modelos de abordagem e testagem de como a teoria, proposta por Tilden (1954) e Murta e Albano (2002), no Brasil, foi aplicada ou deveria ser, pois na igreja São Pelegrino não há nenhuma interferência nesse sentido, sendo impossível de avaliar se a técnica é coerente, porém, graças à teoria e à aplicação dos questionários será possível rever essa questão nos capítulos três e quatro e até apontar caminhos para que a interpretação do patrimônio seja uma ferramenta no sentido de contribuir efetivamente para um novo olhar às obras. Mas antes é preciso que se trate sobre Caxias do Sul, suas questões históricas, culturais e econômicas; sobre a igreja São Pelegrino, sua história, a presença de Locatelli e seu papel na cidade; além de tratar da vida breve e da obra de Aldo Locatelli, conforme segue no próximo capítulo.


2 CAXIAS DO SUL, A IGREJA SÃO PELEGRINO E O MAGO DAS CORES

A presença da cultura italiana no Estado é bastante forte e significativa, não apenas pelo desenvolvimento econômico e social da região ocupada, mas também pelas influências culturais absorvidas ao longo dos tempos. Com isso, para abordar um estudo sobre a igreja São Pelegrino, é preciso, antes de tudo, tratar de quem ocupou este espaço, quem construiu e quem vive lá, dessa forma é fundamental apontar brevemente o percurso dos imigrantes italianos em terras gaúchas. Além disso, o Mago das Cores era conterrâneo dos que se fixaram em Caxias, talvez, por isso também, que ele se sentiu mais a vontade para que sua obra-prima permanecesse lá, nas paredes da São Pelegrino, por essa razão, ela será motivo de discussão, pois saber de sua história, seu papel na comunidade e, atualmente, seu papel como atrativo turístico. Além Aldo Locatelli, que terá sua vida contada e seus principais trabalhos apresentados.

2.1 MÉRICA, MÉRICA, MÉRICA

Caxias do Sul, o antigo “Campo dos Bugres”, assim chamada pelos tropeiros que por lá passavam e pelos índios caingangues residentes, “está situada na encosta superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, parte na extremidade leste da microrregião vitivinícola e parte no planalto dos Campos de Cima da Serra”2. Com uma população de 435.482 habitantes (Fonte: IBGE 2010), Caxias é importante ao Rio Grande do Sul pelo seu desenvolvimento econômico, pois teve terceiro maior PIB per capita no ano de 2008, do Estado3, e é destaque como a principal cidade do polo metal-mecânico na região serrana4. Se hoje a cidade ocupa um papel fundamental para o crescimento econômico e social do Rio Grande do Sul, muito se deve ao processo de imigração italiana e à expansão do 2

Informações coletadas do Site oficial da Prefeitura de Caxias do Sul. Disponível em: http://www.caxias.rs.gov.br/cidade/index.php?codigo=8. Acessado em 12 de nov. 2011, às 20h15. 3 Informação obtida pelo Site oficial da Fundação de Economia e Estatística. Disponível em: http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/estatisticas/pg_pib_municipal_destaques_texto.php. Acessado em: 12 de nov. 2011, às 20h25. 4 Informações coletadas do Site oficial do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível em: www.estado.rs.gov.br. Acessado em: 12 de nov. 2011, às 18h45.


capitalismo. As dificuldades vividas pelos italianos em sua terra natal contribuíram para suprir falta de mão de obra no Brasil, uma vez que a escravidão teria acabado, e os grandes fazendeiros não tinham quem trabalhasse em suas terras. Com a promessa de fartura em alimento e terra, além de muito trabalho, inúmeros italianos abandonaram suas origens, sua língua, sua família na busca de um futuro melhor (GIRON e HERÉDIA, 2007). Roveda (2003, p. 15) também aponta como causas para esse movimento de emigração: “[...] fenômeno de desenraizamento que levou milhares de camponeses italianos a emigrarem para outros países, no segundo quartel do século XIX, em busca da própria sobrevivência, que para muitos já não era mais possível na Itália”. Para Roveda (2003, p. 17), como resultado da chegada de inúmeros trabalhadores em busca de melhores dias, no Brasil, os empresários envolvidos com a imigração foram os grandes beneficiados: “[...] o interesse do Brasil em acolher imigrantes europeus, no caso, italianos, era o de promover uma revolução no sistema econômico brasileiro”. “Para os colonos, restou muito trabalho, pouca acumulação e a certeza de que o inferno estava aqui e não em sua terra natal” (ROVEDA, 2003, p. 17). Os italianos começaram a chegar em 1875 ao Brasil, no Rio Grande do Sul, chegaram mais de 350 mil no ano seguinte. Para Giron e Herédia: A atividade inicial dos imigrantes, baseada na exploração da madeira, determinou a extinção de grande parte da primitiva cobertura vegetal. As encostas, com altura superior a 300 metros, eram cobertas pela floresta de pinhais. Ao longo dos rios, as escarpas dos vales, cortados pelos rios de planalto, eram cobertas de matas em galeria. As matas prejudicaram tanto a ocupação da terra quanto a produção, tornando a região imprópria para a agricultura e para a criação de gado (2007, p. 35).

A partir das afirmações das autoras e de Roveda (2003), percebe-se que a imigração não resultou, inicialmente, em benefícios aos recém chegados, mas, sim, muitas dificuldades geográficas, sociais e econômicas, uma vez que receberem como área para se fixar uma região com terreno inclinado, completamente tomado pela mata nativa. Após se fixarem nos lotes determinados pelo Governo, os italianos iniciaram a construção de suas casas, com isso e outras atividades, atenderam suas necessidades básicas. Com relação à vida comunitária, os imigrantes precisaram aprender com uma forma mais isolada de viver, diferente do sistema de pequenos povoados, como era na terra natal. Dessa forma, o contato entre as famílias só ocorria quando era necessário ir ao comércio, ao moinho e à capela nos domingos (ROVEDA, 2003).


Se, ao contrário da maioria dos alemães, que tiveram dificuldade por serem protestantes, os italianos fizeram da religião católica o foco para suas atividades em comunidade, pois foi o motivo que aproximou vizinhos a se manterem mais próximos, já que a “cidade” ficava distante (ROVEDA, 2003). Para os colonos, o estudo e a religião tinham a mesma importância. A igreja ocupava o ponto principal nos grupos coloniais e a construção de igrejas e capelas mobilizava a participação de todos, seja com a doação de material seja com trabalho voluntário. “A vida social e cultural do imigrante foi reconstruída com fundamento na religião, tendo como ponto de referência a capela. Ali se desenvolviam as atividades religiosas, de lazer, da política, entre outras trocas sociais” (ROVEDA, 2003, p. 37, apud DE BONI; COSTA, 1982, p. 130-132). Com a divisão da terra em pequenas propriedades e tendo como relevo principal encostas cobertas de mata, a economia de subsistência foi a opção encontrada. Utilizando a rotação de terras, predominando a plantação de milho e de capoeira surpreendentemente prosperou, mesmo com a pobreza do solo. Além do milho e com o esgotamento do solo, novas culturas foram plantadas, como centeio, cevada, cana-de-açúcar e mandioca, mais tarde, o arroz e o trigo, frutas temperadas – uva, maçã e pêra –, entretanto, o milho fazia parte da alimentação dos italianos, principalmente pela polenta, mas também servia para a alimentação dos animais (GIRON e HERÉDIA, 2007). Com o tempo, eles optaram por algumas culturas serem produzidas temporariamente e a uva permanentemente. A partir disso, a vitivinicultura tornou-se a característica da economia local. Sendo assim, desse momento, não mais produziam apenas para sua subsistência, mas também como produto comercial. Então, surgiram as cooperativas vinícolas para que a produção de vinho pudesse competir com o mercado regional e se manter no mercado nacional (GIRON e HERÉDIA, 2007). É importante perceber que essa atividade ocupa um papel importante não apenas regional, mas também internacional, proporcionando que outras áreas possam se desenvolver junto, como os cursos de enogastronomia, enoturismo; as vinícolas como atrativos turísticos; a hotelaria especializada; e o papel da gastronomia junto à produção de vinho e outras bebidas. No mural que Locatelli pintou no Centro Administrativo Municipal de Caxias do Sul, há uma cena comum dos trabalhos realizados pelos imigrantes e que representa o trabalho comunitário, a presença das mulheres e das crianças junto ao vinhedo.


Ilustração 1 – “Vindima” – Centro Administrativo Municipal – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2008, p. 205

Não apenas do vinho que os imigrantes iniciaram seu processo de industrialização, mas do desenvolvimento de produtos com o uso do vime, da erva-mate e da extração da madeira. Giron e Herédia destacam o desenvolvimento rápido de Caxias do Sul, conforme segue:

A Colônia de Caxias, em relação às demais da zona colonial, apresentou um rápido crescimento econômico, transformando-se em um centro de intensa produção agrícola e de intercâmbio comercial. Com seu desenvolvimento urbano, nela foi instalada uma série de oficinas e pequenas indústrias que abasteciam praticamente todo o núcleo colonial. Sua produção agrícola, bastante diversificada, era marcada pelas seguintes culturas: uva, trigo, milho, feijão, linho, cevada, lúpulo, hortaliças, frutas, nogueiras, centeio, batatas e oliveiras (2007, p. 86)

Além disso, em 1882, a vila de Caxias já registrava a existência de uma fábrica de cerveja, uma oficina de sabão, uma funilaria e várias oficinas de ferreiro, além de 73 moinhos (GIRON e HERÉDIA, 2007). Com o que as autoras identificaram, nota-se que Caxias, desde o início da imigração, ocupou um lugar de destaque, principalmente pela capacidade de organização e centralização dos produtos, o que contribuiu para o papel que ocupa hoje no cenário econômico do Estado. No processo de expansão comercial, o grande desafio foi a ausência de estradas e de meios que facilitassem o transporte das mercadorias até a capital. Apenas em 1910 que as estradas de ferro chegaram às colônias, até isso acontecer houve um grande esforço por parte dos italianos para que pudessem vender e que seus produtos chegassem a outros mercados. Nesse processo de expansão econômica, a sede urbana da colônia teve um papel importante, pois inúmeras casas comerciais foram abertas, centralizando a atividade num determinado


ponto. Além das casas, uma atividade trazida da Itália foi retomada, as feiras, pois era outra forma dos colonos venderem seus produtos – exatamente como ocorria na Europa (GIRON e HERÉDIA, 2007). Com relação à indústria, muito de seu desenvolvimento deve-se ao fato dos colonos, num primeiro momento, retomarem atividades desenvolvidas na Itália, como o artesanato, pois essa atividade proporcionou que ocorresse uma transformação do manual para o industrial. Além disso, a industrialização dos produtos agrícolas, com a criação dos moinhos, e a indústria metalúrgica e mecânica e do setor têxtil, por causa dos artesãos italianos. Giron e Héredia (2007) resumem esse processo da seguinte forma:

A evolução da indústria na Região da Colonização Italiana, no Nordeste do RS, reflete as condições econômicas que os imigrantes utilizaram para construir a riqueza. (...) Além da mão-de-obra familiar e da existência de uma relação de parentela estabelecida pela colonização agrícola, os colonos acreditavam na possibilidade de fazer riqueza pela condição que haviam adquirido de ser proprietários. (...) O que os diferenciava é que, por detrás dessa vontade de vencer, existia uma bagagem histórica de experiência no outro lado do oceano, que lhes permitia visualizar o processo de construção da nova cultura (p. 96).

Dos anos 20 aos 40, a economia da região se adaptou às questões mundiais, ora em aceleração, ora em estagnação. Mas ao final da década de 40, Caxias teve um aumento considerável na produção industrial, em nível nacional. Com esse desenvolvimento, novas indústrias encontraram seu espaço, contribuindo para o sucesso econômico da região. Além de novas formas de organização, como a Delegacia Regional do Centro da Indústria Fabril do Rio Grande do Sul na década de 50 (GIRON e HERÉDIA, 2007). Como forma de comemorar esse período tão fértil na colônia italiana, em 1931 aconteceu a primeira Festa da Uva. Naquele ano, foram produzidas “quase 42 mil toneladas de uva, o município era responsável por quase um terço de toda a produção gaúcha da fruta”5. Foram exportados “21,1 milhões de litros de vinho tinto. [...] A Festa da Uva era a celebração desse sucesso”6. O sucesso da Festa foi tanto que, antes mesmo de acabar a primeira edição já estava sendo planejada a seguinte, realizada em 1932.

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Informação retirada do Site oficial da Festa da Uva. Disponível em: http://www.festanacionaldauva.com.br/2012/Sobre_a_Festa/Edicoes_Anteriores/1931. Acessado em: 13 de nov. de 2011, às 22h. 6 Informação retirada do Site oficial da Festa da Uva. Disponível em: http://www.festanacionaldauva.com.br/2012/Sobre_a_Festa/Edicoes_Anteriores/1931. Acessado em: 13 de nov. de 2011, às 22h15.


A Festa da Uva de 1975 acompanhou o excelente momento que a cidade vivia, pois o município contava com um parque industrial, com predomínio das indústrias metal-mecânicas e a indústria alimentícia também se modernizou. Além disso, no mesmo ano se comemorou os 100 anos da chegada dos imigrantes italianos na região. Por isso, o maior evento da cidade e do Estado deveria ser ainda mais grandioso e com isso foi constituída uma empresa para a organização do evento e a construção e inauguração dos atuais Pavilhões da Festa da Uva, hoje é um ponto turístico importante da cidade e centro de eventos. Num momento de retomada dos valores que os primeiros colonos trouxeram da Itália, a Festa de 1986 trouxe no cartaz uma imagem feminina, criada por Locatelli no mural “Vindima”, que está no Centro Administrativo Municipal. Uma forma de homenagear o pintor italiano, tão importante referência artística e cultural para a cidade, cuja obra estava esquecida no prédio e caída no esquecimento pela população.

Ilustração 2 – Cartaz da Festa da Uva de 1986 Fonte: Site Oficial da Festa Nacional da Uva

Percebe-se, então, que há uma forte e importante relação entre as comemorações pela produção de uva e pelo desenvolvimento econômico da cidade, como também uma forma de relembrar o passado, a Itália e os primeiros imigrantes e impulsionar a movimentação de pessoas para uma nova atividade, que é o turismo. Pois, a Festa da Uva, ao longo dos anos, tem recebido cada vez mais pessoas de vários locais do país, o que contribui para que outros serviços turísticos sejam realizados, mas também apresentados ao público, para que retornem à cidade outras vezes, a fim de aproveitar as possibilidades que Caxias tem a oferecer. Nessa perspectiva, a igreja São Pelegrino é outro importante ponto turístico da cidade. Construção grandiosa, bem localizada na região central e que guarda um acervo de artes


visuais sem precedentes no Brasil, as pinturas que Aldo Locatelli fez permitem que a igreja seja procurada e vista por olhos do mundo todo, além de ser motivo de orgulho para a comunidade, de acordo com o posicionamento da paróquia. Com isso, é preciso apresentar essa igreja, sua história e quais motivos que fizeram ocupar esse papel na cidade.

2.2 IGREJA SÃO PELEGRINO

“A boa pintura aproxima-se de Deus e a Ele se une... Não é mais do que uma cópia de Suas perfeições, sombra, do Seu pincel, Sua música, Sua melodia.” Michelangelo

A São Pelegrino é vista de várias formas, tanto pela comunidade, como pelos visitantes. Para alguns, ela é a casa de Deus, para outros o seu entorno é ótimo para conversar com os amigos, há ainda aqueles que não duvidam do poder milagroso da água da fonte do relógio de flores, por isso estão sempre lá com suas garrafas e tambores vazios, na busca de alguma cura. Porém, o mais importante é que ela está lá, no encontro de duas importantes ruas da cidade, aberta das 8 às 18h, diariamente, realizando missas, casamentos, batizados e outras atividades, além de receber a todos os que desejam vê-la, admirá-la, contemplá-la. O surgimento da igreja São Pelegrino, na cidade de Caxias do Sul, necessariamente passa pela história de vida e de devoção a São Pelegrino. Para isso, é preciso retornar à Idade Média, período histórico em que esse homem teria vivido a fim de compreender esse sentimento cultivado pelos primeiros imigrantes e que é tão significativo até os dias de hoje (SCALA, s/d). Peregrino – como era conhecido, era filho dos reis da Escócia – Romano e Plântila, desde seu nascimento até a adolescência já apresentava sinais de prodígios, mas quando adulto renunciou o trono de rei. Converteu um bando de ladrões e com eles seguiu em direção à Terra Santa. Após saciar sua devoção, sofreu pelas perseguições e, assim, retornou à Itália. Fixou-se em uma floresta, onde ressuscitou dois mortos e passou a ser perseguido por espíritos maus, a quem combateu e os expulsou, deixando a floresta segura. A região era lugar de passagem para os peregrinos, ele passou a residir em uma caverna, junto dos animais


selvagens, que demonstraram ser dóceis e tranquilos. Dedicou-se por anos à oração e à caridade e, no fim da vida, se refugiou no interior de uma árvore, faleceu aos 97 anos (SCALA, s/d). A devoção a esse homem se deu após uma notícia que dizia que um casal, já advertido em sonhos por um amigo sobre a sua morte, fora encontrado rodeado de animais selvagens. Após essa notícia se espalhar, as populações começaram a disputar os restos mortais. Segundo a lenda, o corpo de Peregrino teria sido colocado em um carro de bois e que os mesmos teriam o levado para um local chamado de Termen Salon, onde se ergueu uma igreja e depois um albergue conhecido como San Pelegrine in Alpe. A igreja teria sido inaugurada em 1º de agosto de 1643 (SCALA, s/d). A devoção a São Pelegrino, atualmente, é universal, pois de acordo com carta enviada à igreja São Pelegrino, em 9 de abril de 1984, do padre e historiador Luiz Pellegini, residente em San Pellegrino in Alpe, em Lucca, na Itália:

Sobre o Santo escreveu-se muito. Ninguém, entretanto, sabe de onde tenha vindo e quem tenha sido. Uma coisa é certa, nos locais do velho albergue, atualmente transformado em museu etnográfico, foram hospedados milhões de viajantes, de peregrinos, de pobres, de pessoas em necessidade. Aqui foi vivido o novo mandamento. Outra coisa é certa, é a devoção a São Pelegrino. Há mais de mil anos, aqui sobem devotos, aos milhares, provenientes de toda a Itália e do mundo. A devoção ao santo existe na Toscana, Emília, Ligúria, e, de certa forma, em todo o mundo ocidental, por influência da imigração Italiana (SCALA, s/d, p. 2).

Em Caxias do Sul, a população teve o contato inicial com essa devoção no período em que os primeiros italianos chegaram ao Estado. Em 1879, a família Sartori chegou ao antigo “Campo dos Bugres”, dentre os nove filhos, havia Amália, cujo namorado ficou na Itália. Tempos depois, Rafael Buratto chegou ao Brasil e casou-se com Amália, estabelecendo residência entre as atuais ruas Feijó Júnior e Dr. Pestana e a Avenida Rio Branco. O pai de Amália, Salvador Sartori, deu de presente ao genro uma imagem de São Pelegrino, santo que o rapaz venerava em Treviso. Em sua propriedade, Buratto ergueu um capitel, em 2 de agosto de 1891, e teve a primeira missa realizada em 1893 (SCALA, s/d). Em 6 de março de 1938, o capitel fora substituído por uma igreja de madeira e Dom José Barea fundou a paróquia, que estava entre a rua Feijó Júnior e a Avenida Rio Branco. Em


1º de janeiro de 1940, com a nomeação do padre Eugênio A. Giordani 7 como capelão de São Pelegrino iniciou o processo de construção da igreja atual. A planta foi desenvolvida pelo arquiteto Vitorio Zani, mas os engenheiros responsáveis pelo projeto, Luiz Lessegneur de Faria e Leovegildo Paiva, foram convidados três anos depois, após a pedra fundamental ser lançada (BRAMBATTI, 2003). No ano seguinte, em 27 de fevereiro, houve a criação da Paróquia São José de São Pelegrino e a nomeação do Padre Giordani como primeiro Pároco. A benção da pedra fundamental da nova matriz ocorreu em 19 de março de 1944. Após receber o convite de D. Antonio Zattera para conhecer os afrescos que estavam sendo pintados na Catedral de Pelotas e saber que estavam sendo feitos por um pintor italiano, Padre Giordani foi conhecer e ficou impressionado com a arte de Locatelli, e então o convidou para decorar a São Pelegrino. O trabalho do pintor, inicialmente, era fazer a Santa Ceia no fundo do altar, um mural de 90 m2 – a maior obra até então – a fim de ocupar todo o espaço que havia. Locatelli concluiu em 1951, em apenas 11 dias de trabalho; mas seu trabalho só foi concluído em 1960 com a inauguração dos quadros da “Via Sacra” (BRAMBATTI, 2003). Então, em 1953, no dia de São Pelegrino, a nova matriz é inaugurada e lhe é concedido o título de Paróquia São Pelegrino. Já no ano de 1973, o Relógio Floral é inaugurado no jardim da paróquia (SCALA, s/d). Com as comemorações do Centenário da Imigração Italiana no Estado e em visita ao Vaticano, em 20 de maio de 1973, Padre Giordani recebeu como presente para a cidade, do Papa Paulo VI, uma réplica da Pietà, que ainda hoje é admirada e fotografada por inúmeros visitantes e residentes. Dois anos depois, houve a

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Padre Giordani nasceu em Encantado, em 09 de julho de 1910. Ordenou-se sacerdote em 22 de outubro de 1939, em Bento Gonçalves, na Igreja de Santo Antônio. Por 43 anos (1942/1985), marcou de forma poderosa no comando da Paróquia de São Pelegrino e na cidade de Caxias do Sul, como um sacerdote atuante, polêmico, combativo, revolucionário, antimarxista, político católico, apostólico, romano. A construção da Igreja de São Pelegrino começou em 1943, um ano depois de ter se transformado em Paróquia, com a nomeação do Padre Giordani como seu pároco pelo Bispo Dom José Barea. Daria para dizer que o Padre Giordani, que viveu cada minuto de sua vida intensamente, foi um dos sacerdotes que mais marcou a igreja católica na diocese de Caxias no século passado, por suas realizações e por suas posturas, que atraiam simpatia e também antipatias. O sacerdote deixou um legado notável como a imponente Igreja de São Pelegrino, com as telas pintadas e afrescos do genial artista italiano Aldo Locatelli (1915/1962), feitas entre 1951 e 1960. Ele faleceu em 06 de março de 1985, aos 74 anos, onde estava internado acometido por uma doença que vinha minando suas resistências há quase dois anos. Giordani foi sepultado ao lado da imagem da Pietá, na Igreja de São Pelegrino, que ele construiu. Pediu que na lápide se escrevesse o seguinte: “Padre Eugênio Ângelo Giordani, sacerdote credit”, que, traduzido, significa “o sacerdote que acreditou”. Informação coletada do site do jornal Gazeta de Caxias. Disponível em: http://www.gazetadecaxias.com.br/noticias/geral/25_anos_depois_presenca_do_Padre_Giordani_ainda_e_poder osa/. Acessado em: 14 de nov. 2011.


inauguração e benção da Cruz Alpina de Ortizei, Itália, e o Relógio da Torre foi instalado (SCALA, s/d). Em 19 de dezembro de 1982, importante evento aconteceu para a igreja, ela foi consagrada, e foi concedido o título de Nossa Senhora da Pietà, co-padrodeira da paróquia. No ano seguinte, as Portas de Bronze foram inauguradas, obra do escultor italiano Augusto Murer de Falcade, nesse mesmo ano, também foi inaugurado o busto em homenagem a Aldo Locatelli. Em 15 de abril de 1984, ocorreu a exposição e a benção da réplica do Sudário de Turim, também trazida pelo Padre Giordani (SCALA, s/d). Atualmente, o pároco da igreja realiza seu trabalho desde 1985, ano em que Padre Giordani faleceu, mas já esteve nela por outras duas vezes, em 1961 e 1964. De acordo com o próprio pároco, ele é apenas o responsável por manter tudo o que o Padre Giordani fez para a São Pelegrino, juntamente com a sua comunidade, já que conta com mais de 40 pastorais, realizando atividades com crianças, adolescentes, jovens e adultos (SCALA, s/d). Dentre essas pastorais, a que chamou mais a atenção foi a da acolhida. Pastoral essa que tem mais de 90 membros, que ficam à disposição de todos, desde o momento em que é aberta. Dentre as atividades dessa pastoral, está a de esclarecer a respeito das pinturas e de todo o acervo artístico da igreja, mas isso acontece informalmente e depende da disponibilidade e do interesse do membro da pastoral. Entretanto, há um material de apoio que eles utilizam para esclarecer as dúvidas, principalmente dos turistas, uma vez que não há guia de turismo local e os guias das agências conhecem superficialmente as obras. A comunidade também conta com a Sociedade Cultural Aldo Locatelli, grupo que realiza pesquisas sobre a obra do pintor, organiza exposições na Casa de Memória, espaço localizado dentro da loja de artigos religiosos, no subsolo da igreja, e também materiais para venda, como o manual usado pelos membros da pastoral da acolhida e pela pesquisadora deste trabalho monográfico. A igreja São Pelegrino recebe turistas desde que Aldo Locatelli começou seus trabalhos, e na medida em que terminava um e iniciava outro, mais e mais curiosos visitavam o templo (SCALA, s/d). De acordo com pesquisa divulgada pelo Prefeito da cidade no jornal Gazeta de Caxias8, a igreja recebeu, nos meses de maio a julho do corrente ano, dez mil turistas, aproximadamente, e, mensalmente, recebe em torno de três mil. O Secretário de 8

Informações retiradas do jornal Gazeta de Caxias. Disponível em: http:/www.gazetadecaxias.com.br/noticias/cultura/10_mil_turistas_visitaram_a_Igreja_de_Sao_Pelegrino_nos_u ltimos_meses/. Acessado em 19 de out. de 2011, às 16h10.


turismo acrescentou dizendo que a igreja São Pelegrino é um dos locais mais visitados pelos turistas na cidade e que é necessário investir no turismo local, o que inclui algumas ações importantes, como a inserção de um quiosque da Secretaria de turismo nas instalações da igreja São Pelegrino que conta com um funcionário a fim de prestar informações turísticas, entregar materiais promocionais, enfim, estimular o turista a ir a outros pontos, experimentar da gastronomia e da hotelaria, entre outros serviços. Para que a espiritualidade caminhe ao lado do turismo, é fundamental o respeito à comunidade local, ao templo e também aos visitantes, a fim de que todos desfrutem do que há de melhor da igreja, seja o turismo seja a religiosidade ou ambos, dessa forma, todos ganham e todos podem desfrutar das belezas que somente existem lá, na igreja São Pelegrino, em Caxias do Sul/RS.

Ilustração 3 – Vista interna da igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 51

Nos dez anos em que Locatelli esteve cuidando do embelezamento das paredes da São Pelegrino, algumas obras ganharam destaque, seja pelo tamanho, pela riqueza de detalhes e pela questão religiosa mesmo. Dessa forma, segue uma breve apresentação das pinturas destacadas:


2.3.1 Santa Ceia

A cena foi feita em “U”, com Cristo no centro e de um lado os apóstolos mais experientes e do outro, Judas, sendo possível ver o fim de tarde ao fundo. A luz natural está focada em Cristo, mas, por lamparinas a óleo iluminam os dois lados da mesa, o que deu movimento e expressão nos dois momentos mais importantes daquela ocasião – a instituição da Eucaristia e a traição de Judas (STEDILE ZATTERA, 1990, e BRAMBATTI, 2003). Na mesa, objetos comuns de uma mesa simples, como também de um ambiente sem luxo ou ostentação. Locatelli retratou uma cena clássica, pois sabia estabelecer uma relação perfeita entre realidade e espiritualidade. Através do conhecimento da história cristã ele sabia contextualizar muito bem; o homem no tempo de Cristo era real e verdadeiro nas vestimentas, nos gestos, na ignorância e no conhecimento, e Cristo era o centro de tudo. Isso permitiu que se criasse uma composição artística plena. Ao se confirmar aquilo que Jesus temia, seus amigos transparecem incredulidade, Locatelli soube transmitir esse sentimento com plenitude (STEDILE ZATTERA, 1990).

Ilustração 4 – Detalhe do altar da igreja São Pelegrino – “Santa Ceia” Fonte: Jamile Moraes – arquivo pessoal


2.3.2 Dies Irae9

A ideia de pintar o hino era para compor junto à obra do “Juízo Final” a totalidade do teto da igreja, já que o “Juízo Final” está apenas na nave central. Mas além da questão estética em relação a cores e formas, o tema se mantinha o mesmo, e também estabelecia uma sintonia com os quadros da “Via Sacra”. Os quadros monocromáticos não desviam a atenção da pintura colorida principal do teto, que simboliza o julgamento dos homens (BRAMBATTI, 2003), mas sim acabaram fazendo parte do entorno, como uma grande moldura para as imagens ricas em cores e detalhes de expressão e sentimento.

[...] trata-se de uma original série de ilustrações de um hino que faz parte da liturgia católica da Missa de Defuntos. Atribui-se sua autoria a um frade franciscano, autor das duas principais biografias de São Francisco de Assis, Tomás de Celano (1190 – 1260). A composição é um misto de visão terrorífica do Juízo Final e de súplica à misericórdia divina (GOMES e TREVISAN, 1998, p. 104).

Locatelli pintou os 28 quadros dentro de uma moldura clássica em tons dourado e pastéis, “querendo dar a impressão de um réquiem divino em beleza e majestade, tamanho o seu esplendor, como se os quadros estivessem a recitar, permanentemente, uma poesia de réquiem à morte do Rei” (BRAMBATTI, 2003, p. 55). “Trata-se de versos lapidares do ponto de vista literário, porém ásperos de conteúdo, capazes de golpearem os ouvidos com seus gritos de náufrago” (GOMES e TREVISAN, 1998, p. 104). Locatelli ilustra esses versos, ainda que as imagens, acompanhando o hino, contenham severa advertência à insensatez humana, ele as ilumina com sugestões de esperança (GOMES e TREVISAN, 1998). “Todas as estrofes são executadas com a composição de dois quadros. O primeiro recebe a metade do verso e o segundo, a outra metade. [...] Suas figuras são a imagem da sobriedade, da beleza, do sofrimento, da ira, do medo” (STEDILE ZATTERA, 1990, p. 106). Para chegar ao resultado final, Locatelli primeiro trabalhou com um esboço no papel, em que já apresentava certo detalhamento e uma busca pela perfeição em linhas e proporções, isso ele realizava em crayon no papel. No segundo estágio, reproduzia as imagens em aquarela, apresentando os jogos de luz – claro e escuro –, perspectiva e profundidade. E o

9

Dies Irae significa o “dia da ira” ou “dia do juízo final” (BRAMBATTI, 2003, p. 53).


último estágio já era a reprodução do próprio afresco, completamente rico em detalhes, as imagens parecem esculturas, ou pinturas em alto relevo, pois o fato de conter apenas uma cor, é como se tivesse esculpido no mármore ou no granito cada uma delas e fixando-as no teto.

2.3.3 Juízo Final

Esta obra é o toque final do trabalho no teto da igreja. Locatelli faz uma representação de Cristo-Deus jovem, bonito, loiro, belo e ordenador. Na esquerda estão os ímpios, os infelizes e os que foram condenados. No lado direito, estão os justos, os bons, os que foram aceitos ao Reino de Deus. Também há uma segunda divisão, comum em qualquer discussão em relação ao céu e ao inferno: na parte superior – o céu, representado pelo anjo que toca a trombeta, envolto a nuvens de cores claras e imagens delicadas; na parte inferior – o demônio, o mal, simbolizado com cores fortes, escuras, imagens grotescas, esqueletos, cenas de dor e sofrimento, lanças, tridentes, fogo. A cena, no todo, mostra a luta entre o bem e o mal, representada pela briga entre um ser infeliz e o demônio.

Ilustração 5 – “Juízo Final” e “Dies Irae” no teto da igreja São Pelegrino Fonte: Brambatti, 2003, p. 67


Nas extremidades da obra estão o Anjo Miguel – com sua imponente espada, uma grande asa, robustez e beleza –, e um ímpio condenado – com uma expressão de como se estivesse caindo em direção as profundezas, já está tomado pela mesma cor cinza escuro que os seres inferiores foram retratados. Além dessas representações, Locatelli também pintou Maria e José, São Pedro e São Paulo, os santos e fundadores das ordens religiosas: Santa Catarina de Sena, Santo Inácio de Loiola, São Domingos, São Francisco de Assis e São Bento. “São Francisco aparece de costas à violência. Junto aos condenados, parece perdoálos. No centro, Pio X (canonizado nos dias da execução da obra)” (STEDILE ZATTERA, 1990, p. 102). Estão presentes também São João Batista, Moisés e os profetas. Stedile Zattera, 1990, p. 102, afirma a respeito da obra o seguinte:

Todo o conjunto tem um aspecto histórico, religioso, forte e impressionante: o sentimento, o gênio, a fé de Aldo estão estampados, estão aplicados neste mural acadêmico. Retratando de forma que o conjunto de idéias afrescadas na obra tende a um comportamento padrão. [...] Não há o traço moderno, contemporâneo. Mesmo assim, seu poder criador é conservado. Eles refletem sua visão do juízo final, onde homens e mulheres estão aquém do saber, do espiritual, do social. A representação toda deriva de sua cultura, de seu próprio conhecimento, de sua própria espiritualidade. Tudo é luz. Tudo é cor.

Ainda que Locatelli mantivesse seu trabalho preso a uma linha tradicional e convencional de arte, mesmo assim, era possível enxergar o brilhantismo e a beleza, além de toda sua autoria em cada santo retratado, cada anjo pintado, cada mural concluído. A igreja São Pelegrino é uma galeria de arte pública e gratuita, onde o percurso artístico de Locatelli se apresenta por inteiro, desde seus traços ainda presos à pintura renascentista até a ruptura quase total, ao retratar uma via sacra atual, moderna, que sinaliza que são os homens do dia a dia que carregam sua cruz.

2.3.4 Via-Sacra

Ao longo da vida artística de Locatelli, a “Via Sacra” é a que representa seu amadurecimento como pintor. É através dela que finalmente ele consegue romper com o tradicional, tão presente em sua vida, que pode ser visto nos murais da igreja São Francisco de Paula, no teto da São Pelegrino e nas obras com características do Classicismo. Gomes e


Trevisan confirmam essa ideia: “[...] a Via-Sacra da Igreja São Pelegrino, em Caxias do Sul, constitui a porção mais popular – e imperecível – do seu legado. Possui tão alto nível de projeto e realização que rivaliza com quaisquer obras congêneres. Nesses painéis o pintor extrai, de um repertório exaurido, novos ritmos e até um novo sabor iconográfico” (1998, p. 108). Locatelli aceitou a solicitação para realizar as pinturas com duas condições: que tivesse liberdade para pintar e tempo para realizar as peças. Como resposta à solicitação, obteve sinal afirmativo para ambas, e então deu início aos trabalhos. Para pintá-la, Locatelli fez uma série de estudos preparatórios, incluindo a leitura do livro “A Paixão Cristo segundo o Cirurgião”, de Pierre Barbet, o qual Padre Giordani ofereceu. “Por sua vez, Locatelli procurou impregnar-se do espírito do tema, meditando no seu significado teológico e litúrgico” (GOMES e TREVISAN, 1998, p. 110). Em publicação criada pela Sociedade de Cultura e Arte Locatelli (SCALA) (s/d), há detalhes interessantes a respeito dos quadros da Via Sacra, tais como: em quase todos os quadros há uma enorme cruz no fundo da tela, em tamanho desproporcional ao restante da composição. De acordo com o texto, a intenção do artista não foi apenas de mostrar a cruz de madeira, mas, sim, a cruz moral – “o peso de todas as fraquezas humanas de todos os tempos” (SCALA, s/d, p. 10). Os pés e as mãos “falam” de forma constante e forte em todas as telas. A descrição dos quadros foi feita pelo próprio Locatelli, “não com a emoção de quando os fez, mas com o pensamento básico de que foi tomado ao iniciá-los” (STEDILE ZATTERA, 1990, p. 162), conforme segue:


a) Primeira Estação – Jesus é condenado por Pilatos: “I – Condenado: O Cristo Condenado. Ao fundo, a cruz, símbolo do martírio, dramaticamente projetada, unindo a composição em sua mensagem de morte” (SCALA, s/d).

Ilustração 6 – Primeira Estação, 1958, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 25

b) Segunda Estação – Jesus carrega sua Cruz “II – Cruz e Vilipêndios: O Cristo sob o peso da cruz negra e esmagadora, insultado. As ofensas são o mal e o pecado que em todos os tempos são cometidos contra sua doutrina” (SCALA, s/d).

Ilustração 7 – Segunda Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 27.


c) Terceira Estação – Jesus cai pela primeira vez “III – Queda – Pegadas de Sangue no Caminho da Dor: As pegadas que marcam a estrada falam do sofrimento de Cristo, envolto em formas e luzes dramáticas que, com a cruz aniquilam o homem e a verdade” (SCALA, s/d).

Ilustração 8 – Terceira Estação, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 29.

d) Quarta Estação – Jesus encontra sua mãe “IV – O Encontro com a Mãe: O Cristo voltado para a Mãe desfalecida” (SCALA, s/d).

Ilustração 9 – Quarta Estação, 1960, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003. p. 31.


e) Quinta Estação – Jesus é ajudado por Simão de Cirene a carregar a cruz “V – O Homem Bondoso: O homem bom protege o Cristo exausto” (SCALA, s/d).

Ilustração 10 – Quinta Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 33.

f) Sexta Estação – Verônica enxuga o rosto de Jesus “VI – Verônica: Um brado de piedade pelo Mártir Sublime” (SCALA, s/d). A latinha de folha de flandres tem o mesmo significado que a chuteira, presente na Segunda Estação, é a presença da geração atual. Teoricamente, o objeto estaria fora de contexto, porém, com a lata na cena, ele tenta aproximar o passado ao presente e incluir o ‘homem de hoje’ não como responsável pelo sofrimento de Cristo, mas também para salientar que cada um tem a sua própria cruz (SCALA, s/d).

Ilustração 11 – Sexta Estação, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 35.


g) Sétima Estação – Jesus cai pela segunda vez “VII – Queda: Apelo à humanidade através da dor física e moral ao seu martírio” (SCALA, s/d). Para alguns paroquianos, esta tela é conhecida como a “Da Benção”, pois se colocar a mão direita sobre a mão esquerda de Cristo e levar a cabeça próxima ao centro da moldura, ao longe é possível perceber que a mão direita de Deus está sobre a cabeça da pessoa, como se recebesse uma bênção de Deus. Algumas pessoas vão até o quadro tomam a posição e fazem seus pedidos em nome da fé e da devoção. Ouvir esse comentário e poder pedir a benção é um momento emocionante para muitas pessoas.

Ilustração 12 – Sétima Estação, 1958, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 37.


h) Oitava Estação – Jesus encontra as mulheres de Jerusalém que choram por ele “VIII – Encontro com as Piedosas Mulheres: A pureza e a bondade vivem à sombra do símbolo do martírio” (SCALA, s/d).

Ilustração 13 – Oitava Estação, 1960, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 39.

i) Nona Estação – Jesus cai pela terceira vez “IX – Queda: Prostrado pelo sofrimento, reza pelo homem e pela humanidade” (SCALA, s/d).

Ilustração 14 – Nona Estação, 1960, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 41.


j) Décima Estação – Jesus é despojado de suas vestes “X – Despojado de suas Roupas: Resignação ao sacrifício e ao martírio, abraçando a humanidade para purificá-la” (SCALA, s/d). “Nenhum Mestre soube explorar com tamanha força e efeito exasperante o ângulo de flagelação, como fez Locatelli” (SCALA, s/d, p. 10).

Ilustração 15 – Décima Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 42.

k) Décima Primeira Estação – Jesus é pregado na cruz “XI – Pregado na Cruz: O martírio e o sofrimento infligidos ao corpo” (SCALA, s/d).

Ilustração 16 – Décima Primeira Estação, 1960, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 43.


l) Décima Segunda Estação – Jesus morre na cruz “XII – Crucificado: Que o homem no domínio do espaço encontre o Mártir sublime e a Paz, e não, como no Calvário, lugar de destruição e de morte” (SCALA, s/d). “Na Décima Primeira e na Décima Segunda Estação, ressalta, em toda a sua dramaticidade trágica, a natureza humana de Cristo torturada” (SCALA, s/d, p. 10).

Ilustração 17 – Décima Segunda Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 44.

m) Décima Terceira Estação – Jesus é retirado da cruz e entregue a sua mãe “XIII – Mãe Dolorosa: O abraço de Mãe ao Filho morto” (SCALA, s/d).

Ilustração 18 – Décima Terceira Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 45


n) Décima Quarta Estação – Jesus é colocado no túmulo “XIV – O Sepulcro: Como afirmava São Francisco, a Morte soberana, tranquila e majestosa, é paz e glória para o justo” (SCALA, s/d).

Ilustração 19 – Décima Quarta Estação, 1959, igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2003, p. 47.

Ao pensar do ponto de vista técnico, para Gomes e Trevisan (1998):

Sem pretensões pseudo-modernas, o pintor sintetiza nessa composição notável repertório religioso. Com genuíno sentimento existencial e alguma audácia, conduz as sobras de uma imagética decadente à glória de uma síntese, à qual não faltam a nota revolucionária do Expressionismo e reflexos do lirismo inesperado de peças surrealistas (p. 113).

A partir dessa avaliação, se confirma, mais uma vez, as transformações que seu estilo de pintar sofreu, e o quanto ele, como profissional e artista, mudou também. Com relação ao tema, nesse caso especificamente, há dois focos: Cristo e a Cruz. Ainda com base em Stedile Zattera (1990): “a perspectiva deforma os traços retos da cruz, os traços harmoniosos do corpo de Jesus, levando-os para fora do quadro, desfigurando, fugindo, pedindo, sofrendo e morrendo. Ele quer que o observador se envolva com o tema da paixão. Que o examine” (p. 163). E esse desejo de que o observador participe, se envolva, vivencie aqueles 14 passos é exatamente o oposto do que a sociedade contemporânea propõe. Pois se vive a renúncia do sofrimento e da dor; a busca pelo prazer e lazer a qualquer preço também é um pensamento que não apoia a intenção de Locatelli. Brambatti (2003) aponta uma ideia importante a esse respeito:


Locatelli neste quadro reflete a pós-modernidade, unindo peças de diferentes épocas, em estilo e forma, o sagrado e o profano, história e interpretação num mesmo ambiente artístico. Para Locatelli não bastava a reprodução, mas era importante a interpretação, mais do que isso, a inovação, numa linguagem questionadora da intencionalidade (p. 26).

Antes da “Via Sacra” ocupar seu lugar em definitivo nas paredes da igreja São Pelegrino, Locatelli expôs todas as 14 estações e apresentou-as ao público porto-alegrense em 8 de abril de 1960, em um evento organizado pela Secretaria de turismo do Estado do Rio Grande do Sul (Setur/RS) (STEDILLE ZATTERA, 1990). Mesmo que sem prever isso, é interessante pensar na relação que se criou entre a obra de Locatelli e o turismo, ainda que naquele momento fosse o único espaço que faria o lançamento, porém, foi muito importante, pois a obra foi bem recebida pelo público e isso o motivou a entregar à igreja. Hoje, pode-se pensar que o movimento é o contrário, é a Secretaria Municipal de Caxias que busca por um espaço nas atividades da igreja São Pelegrino, é o turismo indo ao encontro do patrimônio cultural do autor.

2.3.5 Outras Obras

Além das peças de maior destaque, não apenas pelo tamanho, mas, sim, pelos detalhes e cores, Locatelli aproveitou da melhor forma que encontrou todos os espaços que podia pintar. Sendo assim, no teto da mesma há, alem do “Juízo Final” e do “Dies Irae”, a “Criação da Mulher” e a “Expulsão de Adão e Eva do Paraíso”. Pensando na questão temática, elas iniciam o caminho do homem, pois com a criação da mulher e a desobediência dela ao comer a maçã, o próximo passo é a expulsão do Paraíso. O que segue, é consequência das más escolhas feitas, fruto do nosso livre arbítrio. Outras obras “secundárias” são as que molduram a “Santa Ceia”: São José, do lado esquerdo; e São Pelegrino, do direito, além do arco de anjos, como se protegessem a todos de tudo que nos afasta do caminho de Deus. Ainda, no mesmo espaço, abaixo da última ceia, os símbolos dos evangelistas – Mateus, Marcos, Lucas e João, sendo que entre eles há um símbolo que se refere à Maria, mãe de Deus e da Igreja, ou seja, mãe de todos nós.


Ilustrações 20 e 21 – São José, no altar à direita e São Pelegrino, à esquerda da igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2008, p. 155

Ilustrações 22 e 23 – Aparição do Sagrado Coração de Jesus à Santa Margarida Alecoque, à esquerda do altar e de Nossa Senhora do Caravaggio à Joana, à direita na igreja São Pelegrino – Caxias do Sul/RS Fonte: Brambatti, 2008, p. 159

O prédio da igreja São Pelegrino pode ser considerado uma grande e bela moldura, e as obras de Locatelli a imagem, o quadro, como se o conjunto formasse uma peça única. Pensando nela como atrativo turístico, pode-se pensar que sim, uma vez que não se tem conhecimento de outra igreja a qual ele tenha trabalhado que receba tantos turistas como já fora apontado e nem que existam planos voltados para tal atividade nas outras cidades. Isso, de certa forma, abre espaço para que outras igrejas ou espaços com tamanha diversidade patrimonial tenham uma nova proposta voltada para o turismo.


2.3 ALDO LOCATELLI

“Tudo pode sair muito mais bonito nas fotografias, mas sai muito mais verdadeiro nas pinturas.” Mario Quintana, 1972

Aldo Daniele Locatelli, mais do que um “mago das cores10”, foi um ícone nas artes plásticas, não apenas na Itália, sobretudo no estado do Rio Grande do Sul. Pois, o caminho que seu traço com o pincel e a tinta percorreram das figuras humanas quase vivas nos afrescos e nas pinturas, retratando a partir das formas e dos gestos que Michelangelo fez até o traço reto, o desenho “firme”, mas extremamente humano da sua obra-prima a “Via Sacra” demonstra a grandiosidade com que Locatelli marcou em suas telas e afrescos os sentimentos, as expressões, a vida. Ele nasceu em 18 de maio de 1915, em Villa d’Almè, próxima de Bérgamo, na Lombardia. Filho de Luigi Locatelli, mecânico e dono de uma trattoria (restaurante) e Anna – “pessoas simples, singelas e católicas fervorosas” (STEDILE ZATTERA, 1990, p. 14 e GOMES e TREVISAN, 1998, p. 20). Teve três irmãos: Angelina, em 1909, mas faleceu aos 13 anos; Plácido, em 1911; e Ângelo, em 1919, mas faleceu na 2ª Guerra Mundial. Sua família era bastante unida e amorosa, seu pai sempre trabalhou muito na busca de que seus filhos não tivessem a mesma profissão que eles, tudo o que ele fazia era para que seus filhos estudassem e se dedicassem aos estudos acima de tudo (STEDILE ZATTERA, 1990). Sua personalidade é marcada pela religiosidade e pela responsabilidade, valores fortes presentes em sua família (STEDILE ZATTERA, 1990). Na infância, auxiliava o pai no restaurante da família, nos fins de semana. Mas seu contato com a pintura se deu aos 10 anos, quando conheceu artistas bergamascos que restauraram os murais da igreja de Villa d’Almè, pois eles frequentavam o restaurante da família. E, durante o trabalho de restauração, Locatelli os observava com atenção e se dispôs a ajudar o pintor Pierfrancesco Taragni (STEDILE ZATTERA, 1990). Além desse primeiro passo, à noite, estudava as informações técnicas utilizadas pelo pintor, e assim, teve o interesse pela pintura despertado. “O ambiente religioso lhe faz bem e permanece horas na 10

“Il Mago dei Colori” (O Mago das Cores) – Título concedido pela Comissão de Arte após trabalho realizado na Catedral de Gênova e em alguns quadros do Vaticano (BRAMBATTI, 2003).


igreja, observando, orando e aprendendo. É um menino de fé” (STEDILE ZATTERA, 1990, p. 15). De 1931-1932, aos 16 anos, iniciou sua formação artística, após concluir o período escolar complementar, num curso de decoração realizado na Escola de Arte Aplicada à Indústria de Bérgamo, escola em que recebeu seu primeiro prêmio, e que provavelmente “sua formação pautou-se numa estrutura tradicional” (GOMES e TREVISAN, 1998, p. 22). Em 1932, foi estudar na Academia Carrara de Belas Artes, também em Bérgamo. Neste período, já desenhava e pintava, como exemplo de sua obra, fez seu primeiro auto-retrato em óleo sobre tela.

Ilustração 21 – “Auto-retrato” em óleo sobre tela, 1933 Fonte: Brambatti, 2008, p. 230

Na formatura de seu curso, recebeu uma bolsa de estudos para a Escola de Belas Artes de Roma, onde se dedicou a estudar as obras de Michelangelo11 na Capela Sistina.

11

“Nascido em 1475, foi treinado por mestres que ainda pertenciam ao Quattrocento. Suas primeiras obras em Roma representam o florescimento do Alto Renascimento, mas antes que ele morresse em 156, o Maneirismo estava firmemente estabelecido” (p. 82) “[...] No primeiro período, que termina mais ou menos em 1530, a concepção de Michelangelo tem das artes é a do humano do Alto Renascimento. Ela está mais claramente tipificada no teto da Capela Sistina, na Pietà de São Pedro e nos primeiros poemas de amor. Nessas obras, os vários elementos que compuseram o treinamento inicial de Michelangelo estão claramente visíveis. Como Leonardo, ele era herdeiro da tradição científica da pintura florentina, mas também fora afetado pela atmosfera de neoplatonismo em que crescera. Sua dedicação maior, porém, era à beleza e não à verdade científica; e apesar de, ao menos em seus primeiros anos, ter se dado conta de que a obtenção da beleza dependia em grande parte do conhecimento” (p. 83-83) “No campo do pensamento, os dois sistemas aparentemente conflitantes de cristianismo e paganismo ainda estão perfeitamente entrelaçados na Roma do Alto Renascimento. O projeto iconográfico dos afrescos do teto da Capela Sistina se baseia na mais erudita teologia, mas as formas de que se revestem são as de deuses pagãos. Nos afrescos de Rafael na Stanza della Segnatura, os quatro temas de Teologia, Filosofia Pagã, Poesia e Justiça estão intricadamente misturados” (p. 86).


É nesta Itália contraditória que Locatelli recebe, em 1937, uma bolsa de aprimoramento na Escola de Belas Artes de Roma. Na Cidade Eterna visitará as grandes coleções romanas e, no Vaticano, as obras-primas do passado enquanto pode ver, nas galerias e nas ruas, o expansionismo da arte oficial da época (GOMES e TREVISAN, 1998, p. 22).

Dentro da obra de Michelangelo, Locatelli se interessa pelos murais, principalmente com a profundeza dos temas utilizados e pela composição do artista. Aos 20 anos, já pintava murais, pequenos ainda (40 cm x 50 cm ou 50 cm x 70 cm), sobre imagens de rua, casas, natureza morta, etc... “Como exercícios para soltar a mão, desenhava com crayon, mas era fascinado pelo óleo, e se dedicava cada vez mais a essa técnica” (STEDILE ZATTERA, 1990, p. 17). Locatelli, enquanto se preparava para a arte sacra, restaurou a Via Crusis do Santuário da Estrada de Mulatiera, no Norte da Itália.

Ilustração 22 – “Arrumador de Sombrinhas” em óleo sobre tela. Fonte: Stedile Zattera, 2006, p. 18

Mas, aos 25 anos, foi convocado ao Exército, pois a Itália estava em guerra, e sua pintura viveu um período de estagnação. Seu batalhão se concentrou em Ospedalete, próxima a San Remo, onde conheceu sua futura esposa, Mercedes. Contudo, seu comandante era apreciador de arte, então lhe dava licenças para estudar e analisar obras de arte que por ventura fossem encontradas. Quando esteve novamente em Roma, apreciou Michelangelo, e seu comandante lhe encomendou um retrato de sua esposa e filhos. Além do período que permaneceu no exército na Itália, também esteve na África, onde foi ferido em combate, sendo impossível de continuar lutando, foi desmobilizado, viveu então um período de consolidação de sua reputação como artista, mas também de perdas familiares (GOMES e TREVISAN, 1998). Em 10 de junho de 1940, perdeu seu pai, quando ainda estava


na África. Em setembro de 1943, Locatelli perdeu seu irmão, Ângelo, morto em um bombardeio nos últimos dias da Guerra, aos 24 anos. Sua mãe morreu no ano seguinte, 1944, com 58 anos, o que representou uma grande perda, e quando já havia retornado a sua terra natal (STEDILE ZATTERA, 1990, e GOMES e TREVISAN, 1998). Enquanto permaneceu em Villa, se dedicou muito aos seus desenhos, seus livros e suas pinturas. Michelangelo foi o seu grande inspirador, e isso fez com que estudasse a figura humana sob todos os aspectos. Entre 1943 e 45, recebeu o convite de Dom Camilo Salvi, excura da paróquia de Villa d’Almè, realizando sua primeira obra, ao pintar mais de 30 afrescos na Igreja paroquial de Santa Croce, no Vale Brembana, vizinha de São Pelegrino, também na província de Bérgamo. Em 27 de abril de 1946, em São Vicente d’Osta, casa-se com Mercedes Biacheri. Nesse período, iniciou novos estudos para restauros de murais e telas de outros locais, como o Santuário de Pompeia, no sul da Itália, a igreja do Convento das Irmãs de Maria do S.S Consolatrice, em Milão (STEDILE ZATTERA, 1990) e trabalhou ativamente na restauração da Catedral de Gênova e alguns quadros do Vaticano (GOMES e TREVISAN, 1998). Antes dos 32 anos, Locatelli não assinava suas obras com seu nome “Aldo Locatelli”, foi a partir dessa idade e com o amadurecimento de sua arte que decidiu assinar assim a partir de então, conforme a pesquisadora afirma:

Sua sensibilidade contribui para que a temática, o equilíbrio, a linha, os planos e a cor sejam analisados. Os elementos plásticos e os princípios compositivos o intrigam e, assim, analisa mais e mais. [...] Estuda o barroco de Tiepolo, o animismo de Da Vinci, a perspectiva de Mantagna e, principalmente, a escultura do pincel e do cinzel de Michelangelo. É a partir daqui, que se percebe no trabalho de Aldo uma atitude de libertação a favor do espaço. O ritmo de seu trabalho até aqui parece moroso e pequeno. Ele está em busca de uma expressão mais ampla e monumental. As tela se tornam muito pequenas e ele tenta cada vez mas compreender a analisar os murais. (STEDILE ZATTERA, 1990, p. 25).

A chegada ao Brasil ocorreu em 1º de novembro de 1948, após aceitar o convite de Dom Antônio Zattera, Bispo de Pelotas que se dedicou a embelezar a Catedral de sua Diocese. Mas ele veio sem a esposa, pois, inicialmente, tinha como ideia pintar a Catedral Francisco de Paula e retornar à Itália, pois precisava concluir seu trabalho em Gênova.


Ilustração 23 – Vista interna da igreja São Francisco de Paula - Pelotas/RS Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Sua primeira impressão com a construção é de que se tratava de uma igreja baixa, pensando que as igrejas na Europa são enormes perto das da América, além das cidades serem novas, muitas tinham menos de 50 anos, o que o motivou bastante (STEDILE ZATTERA, 1990). Após alguns estudos, concluiu ser uma igreja de porte médio, com torres baixas, mas com espaço suficiente para receber mais de 30 afrescos, sendo um deles a abóboda de 250 m 2, além dos murais. A população pelotense se surpreende com o avanço na obra, além de desconhecerem o trabalho de muralistas12 e do período classicista. Ainda que ele tenha vivido um período motivado pela Guerra, ele pintava pessoas das quais gostava, mesmo que nem sempre as conhecesse, pois apenas guardava suas fisionomias. Também usava como modelo os rostos de seus alunos, além do dele mesmo, e seus pés e mãos. Tudo era motivo de exercícios (STEDILE ZATTERA, 1990).

12 O muralismo difere-se de todas as outras formas de artes visuais por estar muito próxima da arquitetura. Ele engloba um conjunto de imagens realizadas sobre a parede. A técnica mais usada é o afresco, que consiste na aplicação da tinta diluída em água sobre a argamassa úmida. Historicamente, a pintura mural teve sua origem nos povos primitivos, quando utilizavam as paredes das cavernas para expressar suas ideias, emoções e crenças. Os mesopotâmicos, os egípcios e os cretenses decoravam os palácios e os monumentos funerários com murais. Os gregos, os romanos, os indianos e os chineses também foram adeptos desse tipo de arte. Na Idade Media, a pintura mural ficou caracterizada pela nitidez das cores e pela precisão do traçado. No séc. XIII, Giotto deu um extraordinário impulso à pintura mural e, a partir de então, surgiram grandes mestres dessa técnica. No Renascimento, foram criadas algumas obras-primas do muralismo, como os afrescos da capela Sistina, por Michelangelo, e a "Última ceia", de Leonardo da Vinci. No século XX, após um período em decadência, a pintura mural ressurgiu, com todo vigor, em três fases principais: um gênero mais expressionista e abstrato que surgiu a partir de grupos cubistas e fauvistas, em Paris, e se manifestou nos trabalhos de Picasso, Matisse, Léger, Miró e Chagall. Site Pitoresco, disponível em: http://www.pitoresco.com/art_data/muralismo.htm, acessado em 15 de nov. de 2011, às 15h.


Enquanto trabalhou em Pelotas, fez muitas obras particulares da mesma forma como deu aulas, mas nunca soube cobrar por esses serviços. Sempre preferiu as amizades ao dinheiro que as telas poderiam dar. Mas através das aulas particulares que foi convidado, em 19 de março de 1949, a ser fundador e membro do corpo docente da Escola de Belas Artes, criada por Marina Morais Pires. Ele era admirado pelos alunos, e sua metodologia alcançou seu objetivo – levar os alunos para a rua, à vida no dia a dia (STEDILE ZATTERA, 1990). Nesse período, seu atelier era na Escola, o que facilitava nos momentos de estudo da figura humana, pois seus alunos serviam de inspiração também, assim como pessoas comuns que passavam na rua, principalmente para seus murais. Em 1949, quando os afrescos da Catedral São Francisco de Paula estavam quase prontos, sua obra se tornou tão marcante para a comunidade religiosa que a fama de seu trabalho correu muitos caminhos, o que lhe rendeu muitas encomendas, de Caxias dos Sul, de Porto Alegre. E com essa nova fase em sua vida, Locatelli decidiu buscar sua esposa, e, assim, ele não retornaria tão breve à Itália (STEDILE ZATTERA, 1990). Sua esposa não se adaptou muito bem ao país, inicialmente, mas logo engravidou do primeiro filho, Roberto, então a estada da família se tornou mais “real”, e isso facilitou a sua aceitação. Em 1952, dois anos depois do primeiro filho, nasceu Cristiana. E então, o Brasil era a terra natal de seus filhos, mais um motivo para que Locatelli desejasse permanecer. Agora, a família Locatelli estava completa, e sua relação com os filhos sempre foi boa, mesmo quando precisava passar muitos meses fora, pintando, ou quando permanecia dias inteiros trabalhando no atelier. Locatelli sempre teve muito orgulho de seus filhos e sempre pensava no bem-estar de sua família. Em seu período de produção de arte sacra, iniciado pela Catedral de Pelotas, a artista utilizou das formas geométricas como base para composição. Usou como ferramentas a perspectiva, as sombras, os efeitos de luzes; criou uma pintura etérea, triste até, ao mesmo tempo em que colorida e ritmada. Mostrou a caridade – o amor. Retomou a construção artística bem alicerçada como a utilizada em Gênova (STEDILE ZATTERA, 1990). Na entrada da igreja, a arquitetura já se impõe, pois as colunas que dão suporte aos arcos dão uma imagem de imponência à nave central. As curvas do teto acompanham as curvas dos arcos. Locatelli impregnou de imagens sacras e símbolos os espaços vazios. Imagens retratadas que merecem destaque são: “Assunção de Nossa Senhora”, “Cristo Rei” e “Coroação de Nossa Senhora”, presentes na nave central e feitos com têmpera em afresco-


seco. Os apóstolos estão junto de seus símbolos, dois a dois nas laterais do teto (STEDILE ZATTERA, 1990). Na abóbada, próxima ao altar, está o afresco de São Francisco de Paula – Padroeiro da Catedral. Junto ao santo há vários anjos com gestos delicados ou em oração, que ao todo formam um conjunto de afrescos em três momentos na cúpula. No segundo, há anjos com trombetas e outros instrumentos musicais, que no último momento aparecem entoando um hino. Como suporte para cúpula, Locatelli colocou cada um dos evangelistas nas quatro bases, como se meditassem seus textos, muito semelhante ao trabalho de Michelangelo na Capela Sistina (STEDILE ZATTERA, 1990).

Ilustração 24 – Afrescos da abóboda da Igreja São Francisco de Paula - Pelotas/RS Fonte: Brambatti, 2008, p. 75

No altar, novamente está presente São Francisco de Paula, encontra-se no centro da imagem, junto aos necessitados e doentes. Sobre os vitrais laterais do altar, há mais duas imagens da vida do padroeiro. Complementando o conjunto de afrescos, em casa arco, ao longo de todo o corredor central, foi pintada uma cena bíblica, intercalados entre tons de cinza e coloridos. No total, são 34 afrescos, formando uma imagem tradicional e forte, uma obra de porte. Stedile Zattera, 1990, p. 45 descreveu o trabalho realizado pelo pintor da seguinte forma:

O equilíbrio das formas atinge a atmosfera sacra e poética e evoca os evangelhos e a caridade. Sente-se ali o amor a tudo; ao céu, às flores, às crianças, às montanhas, à natureza e ao bem. A beleza é trabalhada com força e cores, e a espiritualidade com fé e luz. A abóbada se destaca com sua leveza e espírito etéreo e os evangelistas que a suportam são marcantes.


Além da encomenda da Catedral de Pelotas e das pinturas particulares, Locatelli deixou algumas obras de cavalete, em óleo sobre tela e alguns estudos sobre papel. E no último ano que ficou na cidade, iniciou os afrescos na Igreja São Pelegrino, em Caxias do Sul, que será apresentada na próxima seção deste capítulo, por tratar-se do objeto de estudo da pesquisa (STEDILE ZATTERA, 1990). No ano de 1950, Locatelli recebeu um convite para pintar um painel no Aeroporto Salgado Filho. “A Conquista do Espaço” foi inaugurado em 1953 e sua primeira obra civil no Estado, feita com a colaboração de Emílio Sessa e Atílio Pisoni (GOMES e TREVISAN, 1998). Em 1951, a família italiana chegou à capital gaúcha. O artista aceitou um convite do Instituto de Belas Artes para lecionar Artes Decorativas. No bairro Petrópolis fixou residência e nos fundos da casa construiu seu atelier. É nesse espaço que o artista realizará suas obras em óleo sobre tela, de diversos tamanhos e sobre vários temas e fará seus estudos, será seu refúgio, seu espaço. Ao se fixar na capital, recebeu cidadania brasileira e começou a atender pedidos de vários lugares do Brasil (STEDILE ZATTERA, 1990). No mesmo ano, o Palácio Piratini recebeu afrescos do artista italiano. Ele foi contratado pelo governador do Estado, Ernesto Dorneles, para executar vários murais de grande porte sobre motivos regionais na sede do governo do Estado. Locatelli precisou trabalhar em etapas, mas concluiu as primeiras obras no mesmo ano, como alguns dos painéis do Salão das Senhoras com os murais dedicados à Arte e à Música. No terceiro mural “A Agricultura e a Pecuária” Ele se retratou como gaúcho, além de sua esposa, seus filhos e sua cunhada (GOMES e TREVISAN, 1998). As obras no Piratini duraram até 1955, incluindo o Salão de Festas, onde ele criou dezoito painéis, baseados na lenda escrita por Simões Lopes Neto, que narram essa lenda gaúcha, estabelecendo, dessa forma, aspectos da identidade e da cultura gaúcha. Ao mesmo tempo, em 1952, iniciou as pinturas da Igreja Santa Teresinha do Menino Jesus, em Porto Alegre, e concluiu em 1957.


Ilustração 25 - Negrinho reza a Nossa Senhora para achar o baio - Salão de Atos do Palácio Piratini, 1951-1955 - Porto Alegre/RS Fonte: Brambatti, 2008, p. 109

Foi no trabalho realizado em seu atelier que Locatelli passou do Renascimento13 e do Acadêmico ao Expressionismo14 – “com sua valorização emotiva dos objetos” (GOMES e TREVISAN, 1998, p. 73) até o Surrealismo15 – “que lhes confere um toque de surpresa e magia” (GOMES e TREVISAN, 1998, p. 73). Com muito trabalho a ser feito, ele estudou exaustivamente realizando desenhos com crayon de pés, mãos, tudo o que levasse à perfeição.

13

Pintura Renascentista tinha como principais características: uso do claro-escuro, realismo, uso da tela e da tinta a óleo. Tanto a pintura como escultura tornou-se manifestações independentes. Houve o surgimento de artistas com um estilo pessoal próprio – o individualismo. Os principais pintores foram: Botticelli, Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael. Informação coletada do Site História da Arte, disponível em: http://www.historiadaarte.com.br/linha/renascimento.html. Acessado em 14de nov. de 2011, às 12h15. 14 [...] que de acordo com um critério simplificador, consiste em ultracores, ultralinhas e ultraformas, tendo como recurso estilístico fundamental a deformação – que acentua uma temática de valores dramáticos. Podemos encontrá-lo no retrato de Stockinger e, mais difuso, no conjunto das Estações da Via-Sacra de São Pelegrino (GOMES e TREVISAN, 1998, p. 73). O Expressionismo é a arte do instinto, trata-se de uma pintura dramática, subjetiva, “expressando” sentimentos humanos. Utilizando cores irreais, dá forma plástica ao amor, ao ciúme, ao medo, à solidão, à miséria humana, à prostituição. Deforma-se a figura, para ressaltar o sentimento. Predominância dos valores emocionais sobre os intelectuais. Principais características: pesquisa no domínio psicológico; cores resplandecentes, vibrantes, fundidas ou separadas; dinamismo improvisado, abrupto, inesperado; pasta grossa, martelada, áspera. Informação coletada do Site História da Arte, disponível em: http://www.historiadaarte.com.br/linha/expressionismo.html. Acessado em 14de nov. de 2011, às 12h. 15 O Surrealismo foi a corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente. Os surrealistas deixam o mundo real para penetrarem no irreal, pois a emoção mais profunda do ser tem todas as possibilidades de se expressar apenas com a aproximação do fantástico, no ponto onde a razão humana perde o controle. No Manifesto do Surrealismo se propunha a restauração dos sentimentos humanos e do instinto como ponto de partida para uma nova linguagem artística. O Surrealismo apresenta relações com o Futurismo e o Dadaísmo. No entanto, se os dadaístas propunham apenas a destruição, os surrealistas pregavam a destruição da sociedade em que viviam e a criação de uma nova, a ser organizada em outras bases. Os surrealistas pretendiam atingir uma outra realidade, situada no plano do subconsciente e do inconsciente. A fantasia, os estados de tristeza e melancolia exerceram grande atração sobre os surrealistas, e nesse aspecto eles se aproximam dos românticos, embora sejam muito mais radicais. Principais artistas Salvador Dali e Joan Miro. Informação coletada do Site História da Arte, disponível em: http://www.historiadaarte.com.br/linha/surrealismo.html. Acessado em 14 de nov. de 2011, às 12h25.


Pois, sua busca era “a alma, a espiritualidade, a emoção” (STEDILE ZATTERA, 1990, p. 59), e como resultado de seu trabalho, ele expressou seu espiritualismo, sua crença e sua ideologia.

E é assim que desenvolve suas obras sacras e profanas, com o empenho de quem quer vencer pela qualidade, pelo conhecimento, pela fé e pelo trabalho. Ele sabe que para colher rosas sempre haverá espinhos a serem tolerados, mas está disposto a aceitá-los (STEDILE ZATTERA, 1990, p. 63).

Em fevereiro de 1957, ele retorna à Villa d’Almè, a fim de rever seu irmão, Plácido, sua cunhada e seus sobrinhos. Seus tios já haviam falecido e essas ausências, a distância da família e o tempo longe o fizeram sofrem muito. Essa foi a única vez que visitou a Itália e fez isso sozinho. No ano seguinte, escreveu ao irmão contanto sobre seus filhos, o Brasil, o futebol, e de suas preocupações com o trabalho, mesmo sentindo saudades de sua terra, não retornou (STEDILE ZATTERA, 1990). Durante a década de 50, Locatelli tentou criar uma obra em que as conquistas formais modernas se adaptassem ao seu imenso domínio de formas e meios tradicionais. Pode-se imaginar que ele estava na procura por uma linguagem própria, menos presa aos desejos dos comandatários dos murais, e pode-se ainda deduzir que, ao longo dos anos, e muito comprometido e desgastado por tantas encomendas, ele não pode se dedicar ao seu crescimento profissional (GOMES e TREVISAN, 1998). Entre os anos de 1957 a 1962, as encomendas aumentaram muito. Esteve em São Paulo realizando várias obras; em Porto Alegre pintou o painel para a Capela do Colégio Anchieta e o painel da Igreja Nossa Senhora de Lourdes. De 1958 a 1960, dedicou-se a criar, o que se considera sua obra-prima – “A Via Sacra” – composta por 14 telas de 2,50 m x 1,80 m, obra que levou esse tempo para ser realizada por conta de sua vontade, além de tê-la feita em seu atelier, e sendo apresentada ao público apenas depois de ser totalmente concluída (GOMES e TREVISAN, 1998). Em 31 de julho de 1962, de São Paulo, escreveu para seu irmão, contando sobre o excesso de trabalho, dos problemas de saúde com pés e mãos inchados, da falta de apetite e do mal-estar generalizado que sentia, temia o câncer, pela grande ocorrência na família. Mas também contou sobre seu sucesso profissional, do orgulho de sua profissão, do desejo de fazer mais e do quanto gostava do Brasil e ainda sobre sua paixão pelo futebol (GOMES e TREVISAN, 1998).


Ao retornar a Porto Alegre, solicitou licença-saúde, e lhe foi concedida por 30 dias, a partir de 23 de agosto, para repouso e tratamento. Foi internado no hospital Ernesto Dornelles, onde se submeteu a uma cirurgia, mas faleceu em 3 de setembro, aos 47 anos de idade, de câncer, e possivelmente envenenado por inalação contínua dos produtos químicos das tintas. Aldo Locatelli e Cândido Portinari morreram no mesmo ano e pelo mesmo motivo, duas perdas irreparáveis para as artes plásticas brasileiras. Para os caxienses, especialmente, a vida de Locatelli não acabou, graças ao seu talento e a sua sensibilidade, soube deixar um pouco de si em cada pincelada, que permanece intocada nas paredes da igreja São Pelegrino. Muitos membros da comunidade se lembram do período em que ele trabalhou exaustivamente e outras aprenderam com os mais experientes o quanto há de valor nessas obras, o que elas significam para a cidade e como é bom ser reconhecido pelos outros também. Dessa forma, é possível perceber a relação que o turismo estabelece entre a comunidade, a igreja e os turistas, formando uma tríade, cujos elementos necessitam um do outro para que essa relação obtenha sucesso e o patrimônio da igreja se mantenha presente e as pessoas o valorizando.


3 METODOLOGIA

A metodologia dessa pesquisa está organizada da seguinte forma: serão apresentados os aspectos metodológicos, a caracterização da pesquisa, a descrição do processo de aplicação dos questionários, seleção dos pesquisados, auxílio de outras pessoas para a aplicação dos mesmos. E num segundo momento, a apresentação dos dados obtidos após tabulação dos questionários, primeiramente as informações da comunidade, seguido pelas informações dos turistas, pela entrevista com o pároco e com a historiadora, e então o cruzamento das informações coletadas.

3.1 ASPECTOS METODOLÓGICOS

No processo de pesquisa, a metodologia faz-se a peça mais importante, pois é graças aos instrumentos de pesquisa adequados que será possível apontar possibilidades para o objeto pesquisado. Dessa forma, e de acordo com o conceito de método científico proposto por Sakata (2002, p. 30), temos: “O método científico pode ser definido como um conjunto de princípios e regras ou estratégias que guiam um determinado indivíduo em um processo de pesquisa, a buscar conhecimento empírico de forma eficiente”. Além dos conceitos já apresentados, a Perez (2006) aponta como conceito de pesquisa turística:

A formulação de perguntas, a coleta sistemática de informação para responder a essas perguntas e a organização e análise de dados com a finalidade de descobrir padrões de comportamento, relações e tendências que auxiliem o entendimento do sistema, a tomada de decisões ou a construção de previsões a partir de vários cenários futuros alternativos (p. 5).

Tem-se com esses fundamentos um caminho delineado para que uma pesquisa na área de turismo seja bem sucedida, pois ela se faz necessária cada vez mais para o bem do desenvolvimento econômico e social das comunidades e pela preservação de patrimônios naturais e culturais, além de contribuir para com as relações humanas. Pensando em suas características, a primeira delas é quanto ao tipo: exploratória, em relação ao objetivo. De acordo com Gil (2007), a principal finalidade deste tipo de pesquisa é


76 desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias. Para Prodanov e Freitas (2009, p. 140), a pesquisa exploratória “visa a proporcionar maior familiaridade com o problema, tornando-o explícito ou construindo hipótese sobre ele”. Essa característica, ainda que bastante abrangente, qualifica o que diz respeito ao problema proposto – quanto à possibilidade de residentes e turistas terem as mesmas impressões a respeito do patrimônio cultural da igreja São Pelegrino. A segunda característica é o fato de ela ser qualitativa, no que diz respeito ao tipo de abordagem metodológica. Pois é a partir de um recorte feito em relação ao todo que a análise dos dados ocorre, já que o que importa é um conhecimento mais aprofundado da questão específica, como coloca Dencker (2002), não permitindo a generalização. De acordo com Perez (2006, p. 12), a pesquisa qualitativa apresenta as seguintes características:    

Baseia-se na própria natureza da informação. O pesquisador é quem coleta as informações. O interesse da pesquisa vai sendo construído de forma interativa, por meio da relação entre o pesquisador e o indivíduo. O processo utilizado para a pesquisa é indutivo ou dedutivo, determinado pelas necessidades da pesquisa.

Essas características reforçam os conceitos apresentados, indicando o quanto esse tipo de pesquisa não busca obter resultados pela quantidade de informações coletadas, mas, sim, pelo contato direto do pesquisador com a coleta das informações, principalmente através da aplicação dos questionários, entretanto, há uma certa flexibilidade na construção das ideias a partir da análise dos dados coletados e também pela natureza da própria pesquisa. A terceira característica é quanto aos procedimentos técnicos, que, neste caso, serão a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. De acordo com GIL (2008, p. 50): “a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. Com base no que afirma o autor, a pesquisa bibliográfica se faz necessária, já que é através dela que se tem acesso a um maior número de informações relevantes. Contudo, Dencker (2002), aponta como um limitador a pesquisa bibliográfica, e que é bastante importante a procura de várias fontes, mais de um ponto de vista e autores cujo trabalho realmente seja diferencial e que contribua de forma concreta na pesquisa. Na presente pesquisa, utiliza-se autores consagrados na área, tais como: Barretto (2003), Beni (2004), Gastal (2001), Murta e Albano (2002), Tilden (1957), Roveda (2003), Giron e


77 Herédia (2007) e outros não tão conhecidos, mas que demonstraram papel relevante no processo, como Biesek (2004), Pérez (2009), Brambatti (2004 e 2008), Stedile Zattera (1994), entre outros. A pesquisa de campo também será utilizada porque há a necessidade de se ter contato direto com turistas e residentes, tendo os questionários como instrumentos para a coleta de dados. Conforme Gil (2008), há três vantagens importantes ao optar por essa pesquisa: conhecimento direto da realidade; economia e rapidez; e quantificação. Prodanov e Freitas (2009) apontam a importância para a escolha desse tipo de pesquisa, pois o fato de pesquisar, ir ao encontro do local a ser pesquisado a fim observar e selecionar as informações relevantes, além de outras que somente se obtém estando em contado direto com a comunidade local. Faz parte do processo de pesquisa, a coleta das informações, que se deu por meio de duas formas, a primeira por meio de aplicação de 54 questionários junto a turistas/visitantes da igreja São Pelegrino (Apêndice B) e 54 outros questionários junto à comunidade local (Apêndice A). Esses instrumentos de coleta continham questões abertas e fechadas e foram respondidos pelos entrevistadores e não pelo próprio entrevistado. Determinou-se as situações ideais para a aplicação, no caso dos residentes, em qualquer local próximo à igreja, mas também o que visitou o templo ou participou da missa. Já o turista ou visitante, era fundamental que ele primeiro visitasse o prédio, contemplasse as pinturas, observasse os detalhes, e só então é que era feita a abordagem para responder o questionário. E a última característica da pesquisa indica que ela é não probabilística, porque conforme Marconi e Lakatos (2001, p. 163), ela é “uma parcela convenientemente selecionada do universo (população)”. A partir de Gil (2002, p. 91), essa população é definida como “[...] um conjunto de elementos que possuem determinadas características. Comumente fala-se de população como referência ao total de habitantes de determinado lugar”. Conforme Samara e Barros (2002), as amostras desse tipo são selecionadas por critérios subjetivos do pesquisador, de acordo com sua experiência e com os objetivos do estudo. Assim, a escolha por esse tipo de amostragem é pelo fato de necessitar coletar informações de dois grupos distintos, os residentes e os turistas de um determinado atrativo, o que significa que esses dois grupos, ao responder os questionários, contribuirão com o máximo de informações para a análise dos dados.


78 O período de coleta de dados foi nos dias 15 e 16 de outubro de 2011, ao longo dos dois dias. Para isso acontecer em pouco tempo, foi necessário o auxílio de outras pessoas para que o número de 108 questionários fosse aplicado16. Sobre a segunda etapa, as entrevistas acontecerem de formas diferentes, a todos foi realizado um contato prévio, a fim de marcar um dia e hora adequados, mas nem sempre foi possível respeitar essas questões. Então, com o pároco da São Pelegrino, a entrevista seguiu um roteiro específico (Apêndice C) e foi gravada em áudio, por 20 min., aproximadamente, e ocorreu na casa paroquial, ao lado da igreja, no domingo, dia 16 de outubro, à tarde. Quanto à entrevista com a historiadora que participou do processo de restauro de algumas obras de Locatelli, foi respondida por e-mail. A escolha por essas pessoas se deu em razão de tentar contemplar pontos de vista diferentes, o do religioso responsável pelo templo, levando em conta as ideias da paróquia, da comunidade local e da diocese; da historiadora, pensando no papel da academia e do ponto de vista artístico, uma vez que trabalha com restauro de artes plásticas e compreende de uma forma diferente a relação com as artes17.

3.2 ORGANIZAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA DE CAMPO

A partir da pesquisa de campo, foi possível analisar os questionários dos 108 pesquisados e compilar essas informações. Sendo assim, eles estão organizados da seguinte forma: os dados da comunidade serão os primeiros a serem analisados, seguido dos dados dos turistas. Alguns cruzamentos entre questões do mesmo tipo de questionário e entre questões semelhantes dos dois questionários também serão apresentados. As entrevistas do pároco da igreja e da historiadora de uma empresa de Caxias serão os últimos dados a tratar.

16

Além da pesquisadora, estavam auxiliando mais três pessoas, as quais passaram por um breve treinamento, no qual se apontou a forma de abordagem a cada público, a necessidade de responder todas as perguntas e de que forma isso ocorrer. 17 Não foi possível entrevistar o Secretário Municipal de Turismo da cidade, embora tenha se tentado o contato por diversas vezes, tanto por telefone quanto por e-mail.


79 3.2.1 Resultados obtidos junto à coleta de dados da comunidade

Perfil da comunidade

A partir da análise dos 54 questionários da comunidade, foi possível apontar características que delimitam e até traçam um perfil da comunidade que frequenta/visita a igreja São Pelegrino. Essas características são: gênero, faixa etária, grau de instrução, profissão e religião, conforme seguem os gráficos que ilustram as informações analisadas. A) Questão 1 – Com relação ao gênero

46,30% 53,70%

Masculino

Feminino

Gráfico 1 – Perfil da comunidade quanto ao gênero Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

O Gráfico 1 aponta que, dos 54 pesquisados, 29 eram do sexo feminino e 25 do masculino, o que, em proporção, temos 53,70% de frequentadoras e 46,30% de frequentadores.


80 B) Questão 2 – Com relação à faixa etária

31,48%

35,00% 30,00%

20,37%

25,00%

16,67%

20,00%

14,81%

14,81%

15,00% 10,00% 1,85%

5,00% 0,00%

Acima de de 48 a 57 de 38 a 47 de 28 a 37 de 18 a 27 menor de 58 anos anos anos anos anos 18 anos

Gráfico 2 – Perfil da comunidade quanto à faixa etária. Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

No Gráfico 2, há as diferentes faixas etárias em que os pesquisados fazem parte, em termos de proporção, eles estão divididos da seguinte forma: 31,48% dos pesquisados estão acima dos 58 anos; 20,37% estão entre os 57 e os 48 anos; 16,67% dos pesquisados tem entre 47 e 38 anos; 14,81% está entre os 37 e 28 anos e também entre os 27 e 18 anos e 1,85% é menor de 18 anos.

C) Questão 3 – Com relação ao grau de instrução

12,96%

50,00% 37,04%

Ensino Superior

Ensino Médio

Ensino Fundamental

Gráfico 3 – Perfil da comunidade quanto ao grau de instrução Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Sobre o grau de instrução, o Gráfico 3 indica que, dos 54 pesquisados, 50% tem o Ensino Superior, 37,04% tem o Ensino Médio e 12,96% tem o Ensino Fundamental completo.


81 D) Questão 4 – Com relação à profissão

Na Tabela 1, há a o perfil da comunidade em relação à profissão. Essa questão foi respondida de forma aberta pelos pesquisados, e quanto à análise das informações, aglutinouse as atividades semelhantes a fim de contabilizar por uma mesma área. Tabela 1 – Perfil da comunidade quanto à profissão PROFISSÃO Nº Absoluto % Professor 4 7,41% Auxiliar de Produção 1 1,85% Bancário 1 1,85% Comerciante 2 3,70% Analista de Comércio Exterior 1 1,85% Técnico de Laboratório 1 1,85% Funcionário Público 4 7,41% Aposentado 5 9,26% Costureiro 1 1,85% Dona de Casa 3 5,56% Contador 3 5,56% Vigilante 1 1,85% Jornalista 1 1,85% Balconista 1 1,85% Secretário 1 1,85% Auxiliar de Limpeza 1 1,85% Gerente Industrial 1 1,85% Empresário 3 5,56% Vendedor 2 3,70% Representante comercial 2 3,70% Artesão 1 1,85% Tecnólogo 1 1,85% Auxiliar Administrativo 1 1,85% Veterinário 1 1,85% Personal Trainer 1 1,85% Analista de Sistemas 1 1,85% Pedreiro/Hidráulico 1 1,85% Torneiro Mecânico 1 1,85% Metalúrgico 1 1,85% Auxiliar de Máquina 1 1,85% Mecânico 1 1,85% Promotor de Merchandising 1 1,85% Administrador 1 1,85% Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes


82 E) Questão 5 – Com relação à religião

94,44% 100,00% 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00%

1,85%

Católica

Protestante

1,85%

Espírita

1,85%

Sem religião

Gráfico 4 – Perfil da comunidade quanto à religião Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Com relação à religião, a comunidade entrevistada apresentou 94,4% como membros da religião católica, enquanto que 1,85% é protestante, 1,85%, espírita e 1,85%, sem religião.

Questões Específicas

F) Questão 6 – Você conhece a igreja São Pelegrino? Todos os 54 pesquisados responderam que sim, o que significa 100%, mas o fato relevante desta questão é que dois residentes disseram ser a primeira vez em que visitaram o templo. Inicialmente, a proposta dessa questão era ser uma pergunta filtro, porém, não foram pesquisadas pessoas que se encontravam distantes da igreja, dessa forma, as únicas respostas que apontam algo diferente foram as de um casal que reside em Caxias e ambos trabalham perto da igreja, e que naquele dia decidiram conhecer o templo.


83 G) Questão 7 – Com que frequência você visita a igreja?

42,59% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00%

24,07% 18,52%

14,81%

Uma vez ao dia

Uma vez na semana

Uma vez ao mês Uma vez ao ano

Gráfico 5 – Levantamento referente à frequência com que visitam igreja Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Sobre o número de vezes que os pesquisados frequentam ou visitam a igreja, 42,59% respondeu que vão a São Pelegrino uma vez por semana, enquanto que 24,07%, uma vez ao mês, já 18,51% dos pesquisados, uma vez ao ano e apenas 14,81% visitam uma vez ao dia.

H) Questão 8 – O que o/a motiva a frequentar/visitar a igreja São Pelegrino?

60,00%

53,70%

50,00% 40,00% 30,00% 16,67%

20,00%

12,96%

9,26% 5,56%

10,00%

1,85%

0,00% Motivação religiosa

Beleza arquitetônica

Atmosfera Faço parte da agradável comunidade criada pela da São beleza... Pelegrino

Outra Responderam motivação com mais de uma alternativa

Gráfico 6 – Levantamento referente à motivação de visitar/frequentar a igreja Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

O Gráfico 6 apresenta as respostas sobre o que motiva a comunidade entrevistada a frequentar/visitar a igreja São Pelegrino. Dessa forma, 53,70% dos pesquisados disseram que a motivação religiosa é o principal motivo, enquanto que 16,67% responderam com mais de uma alternativa. Outro motivo, além dos apontados no questionário, representa 12,96%, 9,26% refere-se à atmosfera agradável criada pelas pinturas dos murais, 5,56% dos


84 pesquisados faz parte da comunidade paroquial e 1,85% responderam que o motivo é pela beleza arquitetônica. 33,33% 35,00% 30,00% 22,22%

25,00%

22,22%

20,00% 11,11%

15,00%

11,11%

10,00% 5,00% 0,00% Motivação Motivação religiosa e religiosa e faz beleza parte da arquitetônica comunidade

Motivação religiosa e gosta da homilia do padres

Atmosfera Atmosfera agradável ... E agradável ... E faz parte da busca a paz comunidade

Gráfico 7 – Levantamento das respostas dadas à questão 8 com mais de uma alternativa Fonte: Dados coletados pela autora Base: 9 respondentes

Sobre a mesma questão, o Gráfico 7 aponta as combinações de respostas dadas pelos 9 pesquisados que justificaram seus motivos em frequentar/visitar a São Pelegrino com mais de uma alternativa. Assim, 33,33% responderam que a religiosidade e a beleza arquitetônica são os motivos de frequentar/visitar o templo; 22,22% representa os pesquisados que tiveram como motivos a religiosidade e que faz parte da comunidade, da mesma forma que 22,22% são motivados pela religiosidade e por gostar da homilia dos padres da paróquia. E 11,11% dos pesquisados são motivados pela atmosfera agradável, criada pelas pinturas dos murais e por fazer parte da comunidade, e 11,11% vão à igreja pela atmosfera agradável e pela busca da paz. I) Questão 9 – O que você considera mais interessante na igreja? 50,00%

50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 25,93%

30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00%

9,26% 5,56%

3,70%

3,70%

1,85%

5,00% 0,00% Réplica da Pietà Portas de Bronze Quadros da Via Sacra

Murais do teto e do altar

Outro aspecto

Respostas com mais de uma alternativa

Nenhuma

Gráfico 8 – Levantamento sobre o que a comunidade considera mais interessante na igreja São Pelegrino Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes


85 O Gráfico 8 mostra as respostas dadas sobre o que a comunidade considera mais interessante na igreja São Pelegrino. Dessa forma, 50% dos pesquisados responderam que os murais do teto e do altar é o que a igreja tem de mais interessante. 25,93% responderam que outro aspecto, diferente das alternativas colocadas no questionário, é mais interessante. 9,26% responderam que são motivados pelos quadros da “Via-Sacra”, 5,56% da comunidade respondeu que a réplica da Pietà é o que há de mais interessante, 3,7% apontaram as Portas de Bronze como mais interessante, da mesma forma que 3,7% responderam com mais de uma resposta à pergunta e 1,85% não marcou alternativas.

50,00% 50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00%

7,14%

10,00%

7,14%

7,14%

7,14%

7,14%

7,14%

7,14%

5,00% 0,00% Tudo na igreja

Imagem do Sagrado Coração de Jesus

Arquitetura

Jesus na cruz e imagens dos evangelistas

Ambiente tranquilo e de religiosidade

Sinos da igreja

Jesus Encontro com o sacramentado sagrado

Gráfico 9 – Respostas dadas em alternativa “d” – outro aspecto Fonte: Dados coletados pela autora Base: 14 respondentes

O Gráfico 9 é referente à questão 9 do questionário para a comunidade, e aponta as respostas dadas na alternativa “d” – outro aspecto. Dos 14 questionários respondidos dessa forma, 50%, ou seja, 7 pessoas apontaram como mais interessante tudo na igreja ou toda a igreja. 7,14% responderam que a imagem do Sagrado Coração de Jesus é o mais interessante, da mesma forma que a arquitetura, Jesus na cruz e a imagem dos Evangelistas, o ambiente tranquilo e de religiosidade e ainda os Sinos da Igreja, o Santíssimo e o e encontro com o sagrado.


86 J) Questão 10 – Você sabe quem é o autor da “Via Sacra”, da “Santa Ceia” e do “Juízo Final” da igreja São Pelegrino?

31,48%

68,52%

Sim

Não

Gráfico 10 – Levantamento sobre o conhecimento do autor das pinturas na igreja São Pelegrino Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Para a questão 10, dos 54 pesquisados, 68,52% responderam que conheciam o autor das pinturas da igreja, porém, alguns responderam equivocadamente, como Michelangelo e Dante Alighieri – apenas duas pessoas. E 31,48% responderam que não sabiam dizer quem é o autor das obras. K) Questão 11 – Quais desses locais você conhece como atrativo turístico?

98,15% 90,74%

100,00%

87,04%

90,00% 80,00%

68,52%

70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00%

0,00%

0,00% Igreja São Pelegrino

Pavilhões da Festa da Uva

Catedral Diocesana

Zona Rural

Nenhum

Gráfico 11 – Levantamento sobre atrativos turísticos de Caxias do Sul/RS Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Sobre as respostas dadas à pergunta 11, dos 54 pesquisados, 98,15% apontaram que a igreja São Pelegrino é um atrativo turístico; 90,74% responderam que a Catedral Diocesana é o atrativo turístico dentre os apontados no questionário. Em terceiro lugar, com 87,04%, responderam que os Pavilhões da Festa da Uva são um atrativo; e 68,52% apontaram a Zona


87 Rural como atrativo turístico. Nenhuma das alternativas não foi selecionada pelos pesquisados, mas uma pessoa não considerou a igreja São Pelegrino como um atrativo turístico. Porém, a grande maioria da comunidade reconhece o valor turístico que o templo tem, o que contribui para que ações nesse sentido possam ser realizadas. L) Questão 12 – Você considera a igreja São Pelegrino como um atrativo turístico?

1,85%

98,15%

Sim

Não

Gráfico 12 – Levantamento sobre considerar a igreja São Pelegrino um atrativo turístico Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

O Gráfico 12 aponta para uma questão interessante, que dentre os 54 pesquisados da comunidade, apenas uma pessoa salientou que não considera a igreja São Pelegrino um atrativo, para ela, igreja é igreja apenas. Infelizmente, não justificou sua resposta, como parte dos pesquisados fez. Fechando as discussões a respeito do questionário para a comunidade, tem-se que dentre as justificativas que os caxienses acreditam que a São Pelegrino é um atrativo turístico estão: a beleza e a singularidade das pinturas; a representação da religiosidade que Locatelli criou, e por serem pinturas famosas. A arquitetura e também a beleza da construção quando vista do lado de fora; pela questão histórica, por ser símbolo da cidade e pela questão cultural. Mas também por oferecer um momento de encontro com Deus e ser um ambiente calmo. Estar localizada na região central da cidade. E por ser linda à noite, quando iluminada; pela beleza que a estrutura central da igreja tem e pela ausência de imagens, como há normalmente nas igrejas Católicas.


88 M) Questão 13 – Sugestões ou comentários

A última questão, na qual deveriam deixar uma sugestão ou comentário, foi solicitado aos pesquisados que a fizessem a respeito do turismo. Dessa forma, 16 pesquisados fizeram o que fora solicitado. Com base nas informações dadas e a fim de facilitar, foram agrupadas de acordo com o tipo, segue então as sugestões:  Deve-se aprimorar o conhecimento (6,25%);  Deve-se trabalhar mais o turismo, inclusive em outros locais; (6,25%);  Deve-se respeitar o Santíssimo (6,25%);  Deve continuar linda, conservada e preservada (12,50%);  Seria muito boa a presença de um guia de turismo (6,25%). E os comentários realizados pela comunidade:  Ela inspira o povo religioso a se inspirar (6,25%);  É ótima para atividade turística (6,25%);  A flexibilidade de horário é boa (18,75%);  É um local em que as pessoas se encantam e é muito frequentada (18,75%).  Tem importante relação com os imigrantes (6,25%);  É importante continuar realizando atividades que movimentam a cidade (6,25%). No item a seguir, os dados das entrevistas dos turistas são apresentados.

3.2.2 Resultados obtidos junto à coleta de dados dos turistas

Perfil dos turistas

Através da análise dos 54 questionários dos turistas foi possível apontar características que traçam o perfil dos turistas que estiveram na igreja São Pelegrino no período da coletas das informações. Essas características são: gênero, faixa etária, grau de instrução, profissão e religião, e os gráficos que seguem ilustram essas características.


89 N) Questão 1 – Quanto ao gênero

39%

61%

Masculino

Feminino

Gráfico 13 – Perfil dos turistas quanto ao gênero Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

No Gráfico 13, está representado o perfil dos turistas pesquisados quanto ao gênero. Sendo assim, dos 54 pesquisados, 61% é do gênero feminino e 39% do masculino. O) Questão 2 – Quanto à faixa etária

27,78%

30,00%

25,93%

22,22%

25,00%

18,52%

20,00% 12,96%

15,00% 10,00% 5,00%

1,85%

0,00% Menores de 18 anos

De 18 a 27 anos

De 28 a 37 anos

De 38 a 47 anos

De 48 a 57 anos

Acima de 58 anos

Gráfico 14 – Perfil dos turistas quanto à faixa etária Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Com relação à faixa etária, o Gráfico 14 aponta que, nos 54 questionários aplicados houve 27,78% de pessoas entre os 48 e os 57 anos; 25,93% acima de 58 anos; 22,22% entre os 18 e os 27 anos; 18,52% dos pesquisados estavam entre os 38 e os 47 anos; 12,96% tem entre 28 e 37 anos e 1,85%, ou seja, uma pessoa, é menor de 18 anos. P) Questão 3 – Quanto ao grau de instrução


90 18,52%

51,85% 29,63%

Ensino Superior

Ensino Médio

Ensino Fundamental

Gráfico 15 – Perfil dos turistas quanto ao grau de instrução Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Sobre o grau de instrução dos turistas pesquisados, o Gráfico 15 aponta que 51,85% tem o Ensino Superior; enquanto que 29,63%, o Ensino Médio e 18,52%, o Ensino Fundamental.

Q) Questão 4 – Quanto à profissão Tabela 2 – Perfil dos turistas quanto à profissão % PROFISSÃO Nº Absoluto Professor 4 7,41% Gerente de loja 1 1,85% Bancário 1 1,85% Assistente Comercial 1 1,85% Assistente Social 1 1,85% Aposentado 3 5,56% Estilista 1 1,85% Dona de Casa 5 9,26% Jornalista 1 1,85% Arquiteto 1 1,85% Doméstica 1 1,85% Especialista em Qualidade 1 1,85% Vendedor 9 16,67% Representante comercial 1 1,85% Operador de Máquina 1 1,85% Garçom 1 1,85% Operador de Guincho 2 3,70% Médico 3 5,56% Motorista 1 1,85% Eletricista 1 1,85% Pedreiro 1 1,85% Mecânico 2 3,70% Serralheiro 1 1,85% Ajudante de Produção 1 1,85% Tradutor 1 1,85%


91 Estudante Administrador Fonte: Dados coletados pela autora

7 1

12,96% 1,85% Base: 54 respondentes

A respeito da questão 4, as profissões que tiveram maior número de turistas pesquisados foram: no setor de vendas, nove pessoas, 16,67% dos pesquisados; estudante, sete pessoas, 12,96%; dona de casa, cinco pessoas, 5,26%; professor, quatro pessoas, 7,41%; e aposentado e médico com três pessoas cada, o que representa 5,56%.

R) Questão 5 – Quanto à religião

88,89% 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 3,70%

10,00%

1,85%

1,85%

1,85%

1,85%

Muçulmana

Sem religião

0,00% Católica

Protestante

Judáica

Espírita

Gráfico 16 – Perfil dos turistas quanto à religião Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

O Gráfico 16 apresenta o perfil dos turistas quanto à religião. Dessa forma, dos 54 pesquisados, 88,89% são católicos, 3,70%, protestantes, e o restante, 1,85% judia, espírita, mulçumana e sem religião, o que significa uma pessoa de cada uma das opções. S) Questão 6 – Quanto à cidade de procedência Tabela 3 – Perfil dos turistas quanto à cidade de procedência % CIDADE DE PROCEDÊNCIA Nº Absoluto Aquiraz/CE 1 1,85% Bento Gonçalves/RS 5 9,26% Caçador/SC 1 1,85% Cachoeira do Sul/RS 1 1,85% Canoas/RS 1 1,85% Carlos Barbosa/RS 1 1,85% Colônia/Alemanha 1 1,85% Encantado/RS 1 1,85% Flores da Cunha/RS 1 1,85%


92 Florianópolis/SC Forquilhinha/SC Fortaleza/CE Foz do Iguaçu/PR Francisco Beltrão/PR Frederico Westphalen/RS Juazeiro do Norte/CE Lageado/RS Mogi das Cruzes/SP Palmeira das Missões/RS Passo Fundo/RS Ponta Grossa/PR Porto Alegre/RS Recife/PE Rio Bonito/RS Santos/SP São Joaquim/SC Sumaré/SP Taquara/RS Trento/Itália Uruguaiana/RS Veranópolis/RS Fonte: Dados coletados pela autora

2 2 8 2 1 1 1 1 1 1 1 1 4 1 1 1 1 1 1 2 1 4

3,70% 3,70% 14,81% 3,70% 1,85% 1,85% 1,85% 1,85% 1,85% 1,85% 1,85% 1,85% 7,41% 1,85% 1,85% 1,85% 1,85% 1,85% 1,85% 3,70% 1,85% 7,41% Base: 54 respondentes

A Tabela 3 aponta as localidades de procedência dos 54 turistas pesquisados. Nos dias em que ocorreu a aplicação dos questionários pessoas de diversos locais do Estado, do País e até do Exterior visitaram o templo. Isso reforça o papel de atrativo turístico que a igreja tem.

Questões específicas T) Questão 7 – Quantas vezes você já visitou Caxias do Sul/RS?

46,30% 50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00%

31,48%

25,00% 20,00% 15,00% 10,00%

12,96%

9,26%

5,00% 0,00% Primeira vez

Duas vezes

Três vezes

Mais de quatro vezes

Gráfico 17 – Levantamento de número de vezes que turistas visitaram Caxias do Sul/RS Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes


93 O Gráfico 17 apresenta o levantamento do número de vezes que os turistas pesquisados já visitaram Caxias do Sul/RS. É importante observar que 46,30% visitaram a cidade pela primeira vez; 31,48%, mais de quatro vezes; 12,96%, duas vezes e 9,26%, três vezes. U) Questão 8 – Quais atrativos da cidade que já visitou? 100,00%

100,00% 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00%

44,44% 35,19%

12,96% 1,85%

1,85%

1,85%

Igreja São Pavilhões Catedral Museu Casa de Shopping Praças Pelegrino da Festa Diocesana Minicipal Pedra da Uva

Gráfico 18 – Levantamento de atrativos já visitados pelos turistas Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

O Gráfico 18 apresenta o levantamento dos atrativos turísticos já visitados pelos turistas. O interessante nessa questão é que 100% dos pesquisados visitaram a igreja São Pelegrino, isso até pode-se levar em conta pelo número de vezes que visitou a cidade, mas também pela facilidade do horário de funcionamento da igreja, das 8 às 18h, sem fechar ao meio-dia, todos os dias. Ao longo da coleta dos questionários foi possível perceber que a igreja não teve um fluxo intenso, mas, sim, contínuo.


94 V) Questão 9 – Qual o motivo de sua visita à igreja São Pelegrino?

24,07%

22,22%

22,22%

25,00%

20,37%

20,00% 15,00%

11,11%

10,00% 5,00% 0,00% Motivação religiosa

Beleza Atmosfera arquitetônica agradável...

Outra motivação

Responderam com mais de uma alternativa

Gráfico 19 – Levantamento sobre os motivos da visita à igreja São Pelegrino Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Com relação à motivação da visita a São Pelegrino, o Gráfico 19 apresenta que a maioria dos pesquisados teve como motivação a religiosidade, 24,07%; a beleza arquitetônica foi a opção de 20,37%; a atmosfera agradável criada pela beleza dos murais foi escolhida por 11,11%, e 22,22% tiveram outro motivo ou responderam com mais de uma alternativa a questão.

41,67%

45,00% 40,00%

33,33%

35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00%

16,67% 8,33%

10,00% 5,00% 0,00% Motivação Motivação Beleza Motivação religiosa, belezareligiosa e belezaarquitetônica e religiosa e outro arquitetônica e arquitetônica atmosfera motivo atmosfera agradável... agradável...

Gráfico 20 – Levantamento de respostas dadas com mais de uma alternativa Fonte: Dados coletados pela autora Base: 12 respondentes

Já o Gráfico 20 apresenta os motivos dos pesquisados que escolheram mais de uma alternativa. Dessa forma, 41,67% dos 12 pesquisados escolheram a motivação religiosa e a beleza arquitetônica; 33,33% escolheram a motivação religiosa, a beleza arquitetônica e a atmosfera agradável criada pela beleza dos murais. 16,67% responderam que o motivo de sua visita é a beleza arquitetônica e a atmosfera agradável criada pela beleza dos murais; enquanto que 8,33% responderam visitar a igreja pela questão religiosa e outro motivo.


95 41,67%

45,00% 40,00% 35,00%

25,00%

30,00% 25,00% 16,67%

20,00% 15,00%

8,33%

10,00%

8,33%

5,00% 0,00% Ponto turístico

Tudo

Desejo de Conhecer a Conhecer a um membro igreja arte da família visitar ou famliar levar para conhecer

Gráfico 21 – Levantamento de respostas dadas na alternativa “d” – outra motivação Fonte: Dados coletados pela autora Base: 12 respondentes

O Gráfico 21 apresenta as respostas dadas com motivos diferentes das alternativas dadas no questionário. As quais são: 41,67% dos 12 pesquisados que assinalaram a letra “d” justificaram que o motivo é o fato da igreja ser um ponto turístico; 25% representa o desejo de um membro da família visitar ou ser levada por um familiar residente. 16,67% indica o número de pessoas que são motivadas por tudo o que a igreja oferece e 8,33% representa os motivos de conhecer a igreja e de conhecer a arte. W) Questão 10 – Após a visita na igreja São Pelegrino, o que chamou mais a sua atenção?

50,00% 50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 24,07%

30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00%

11,11% 7,41% 3,70%

Réplica da Pietà

1,85%

Portas de Bronze

Quadros da Via Murais do teto e Santo Sudário Sacra do altar

Responderam com mais de uma alternativa

Gráfico 22 – Levantamento sobre o que chamou mais a atenção dos turistas após a visita Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

A respeito da questão 10, o Gráfico 22 apresenta o levantamento sobre o que chamou mais a atenção dos turistas após a visita. Dentre as respostas, 50% dos pesquisados escolheram os murais do teto e do altar; 24,07% responderam com mais de uma alternativa; 11,11% acham os quadros da “Via Sacra” mais interessantes; 7,41% acham as Portas de


96 Bronze o mais interessante; 3,70% preferem a Réplica da Pietà; e apenas 1,85%, ou seja, uma pessoa prefere a cópia do Santo Sudário.

40,00%

38,46%

35,00% 30,00% 23,08%

25,00% 20,00% 15,00% 10,00%

7,69%

7,69%

7,69%

7,69%

7,69%

5,00% 0,00% Réplica da Portas de Quadros da Quadros da Murais do teto Réplica da Réplica da Pietà, Portas Bronze e Via Sacra e Via Sacra e e do altar e Pietà, Portas Pietà, de Bronze, Quadros da Murais do tetoOutro aspectoOutro aspecto de Bronze e Quadros da Quadros da Via Sacra e do altar Quadros da Via Sacra e Via Sacra e Via Sacra Murais Murais do teto e do altar

Gráfico 19 – Levantamento de respostas dadas com mais de uma alternativa Fonte: Dados coletados pela autora Base: 13 respondentes

O Gráfico 23 apresenta as respostas dadas com mais de uma alternativa à questão 10. Tem-se então: 38,46% dos 13 pesquisados responderam que a réplica da Pietà, as Portas de Bronze, os quadros da “Via Sacra” e os murais do teto e do altar são os aspectos mais interessantes da igreja. 23,08% responderam que os quadros da “Via Sacra” e os murais do teto e do altar são os mais interessantes; e 7,69% representa cada uma das outras respostas dadas, que são: Portas de Bronze e os quadros da “Via Sacra”, os quadros da “Via Sacra”e outro aspecto; os murais do teto e do altar e outro aspecto; a réplica da Pietà, as Portas de Bronze, os quadros da “Via Sacra” e a réplica da Pietà e os quadros da “Via Sacra” e os murais do teto e do altar.


97 X) Questão 11 – Você sabe quem é o autor da “Via Sacra”, da “Santa Ceia” e do “Juízo Final” da igreja São Pelegrino?

26%

74%

Sim

Não

Gráfico 20 – Levantamento sobre o conhecimento do autor das pinturas na igreja São Pelegrino Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Quanto à questão 11, que trata do conhecimento do autor das pinturas do teto, do altar e da “Via Sacra”, ao contrário do resultado obtido com a comunidade, a porcentagem maior foi de pessoas que responderam não, 74% dos pesquisados, e 26% já sabiam. Y) Questão 12 – Na sua opinião, que ações poderiam ser acrescentadas na visita?

27,78% 30,00%

24,07%

24,07%

25,00% 20,00% 12,96%

15,00%

11,11%

10,00% 5,00% 0,00% Guia Local

Placas de identificação

Folder ou folheto explicativo

Nenhuma

Mais de uma alternativa

Gráfico 21 – Levantamento a respeito de ações que poderiam ser acrescentadas na visita Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Nesta questão, tratou-se a respeito de ações que contribuiriam com as visitas à igreja como atrativo turístico. Dessa forma, dos 54 pesquisados, 27,78% gostariam de que houvesse folder ou folheto explicativo no templo; 24,07%, que seria importante a presença de um guia de turismo; mas também, 24,07% responderam que a forma como está, está bem; 12,96% dos


98 pesquisados solicitaram placas de informação e 11,11% responderam com mais de uma alternativa.

50,00%

50,00%

50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% Guia local e folder ou folheto explicativo

Placas de identificação e folder ou folheto explicativo

Gráfico 26 – Respostas dadas com mais de uma alternativa Fonte: Dados coletados pela autora Base: 12 respondentes

Z) Questão 13 – Sugestões ou comentários

Nesta questão, não houve comentários ou sugestões diferentes das já colocadas na questão anterior.

3.2.3 Resultados obtidos pelos cruzamentos

Dentre as possibilidades de cruzamentos que poderiam ser feitas, optou-se por cruzar informações de perfil com informações específicas de um mesmo grupo, ou seja, ora da comunidade ora dos turistas. Mas também foi necessário apresentar cruzamentos entre questões específicas dos dois grupos, conforme segue.


99 Cruzamento 1 Comunidade: Motivação para visitar a igreja X Faixa Etária

12 10

10 8 6

6 4 2

5 4 3

3 2

1

1

1 1

2 1

1 1 1

2 1

1

1

1 1

1

1

1

1

0 a o . o de ica e ão os ta s l... el.. de ica açã ad açã i da igi os tôn áv vaç tiv i da áve tôn tiv un rel ite nid oti un esp r ad ite mo rad mo mu sr rqu ag com qu ção om ra am ag o a a r a t r a c a r t c a a u a r t v a s d a ti O fe da ou ou fe r da da lez rte lez os Mo os rte To ae Be rte el e pa be pa os At m pa atm áv ço ae igi faz faz Fa r ad ae os rel le ag os ae o igi i l e s ã a g e v r io aç eli fe dá or tiv elig os or gr a açã Mo or açã tiv At m aa tiv açã fer Mo tiv Mo os m Mo t A

Motivação X Faixa Etária Menor de 18

De 18 a 27

De 28 a 37

De 38 a 47

De 48 a 57

Acima de 58

Gráfico 22 – Motivação para visitar a igreja X Faixa Etária (Comunidade) Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

O Gráfico 27 apresenta o cruzamento entre as motivações apontadas pela comunidade entrevistada e a faixa etária da mesma. Novamente, percebe-se que a maioria da comunidade, que pertence ao grupo de acima de 58 anos de idade, assinalou como motivação para ir a São Pelegrino a questão religiosa. Porém, essa motivação é uma grande maioria entre todas as faixas etárias. Esse elevado índice de membros da comunidade que vai a igreja São Pelegrino pela religiosidade ganha força com os dados apontados no Gráfico 4, que indicou que 94,44 % dos pesquisados são católicos.


100 Cruzamento 2 Comunidade: O que acha mais interessante na igreja X A motivação para visitar a igreja 14

13

Nº pessoas

12 10 8 6

5

4

4 2

3

3 2

1

1

1

1 111 1 1

4

3 1

2 1

1

1

1

1

0 Réplica da Pietà

Portas de Bronze

Quadros da Via Sacra

Murais do teto Outro aspecto e do altar

Todas as alternativas

Nenhuma

Quadros da Quadros da Portas de Via Sacra e Via Sacra, Bronze e Outro Murais do teto Murais do teto aspecto e Outro aspecto

O que acha interessante X Motivação Religiosidade

Beleza Arquitetônica

Atmosfera

Comunidade

Outra Motivação

a+b

a+c

a+d

c+d

a+e

c+e

Todas

Gráfico 28 – O que acha mais interessante X A motivação para visitar a igreja (Comunidade) Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

No Gráfico 28, foi feito um cruzamento entre a motivação da comunidade para ir à igreja São Pelegrino com o que os pesquisados acham mais interessante no templo. Nesta análise, percebe-se que 13 pessoas apontaram como mais interessante os murais pintados por Aldo Locatelli, juntamente com a religiosidade, como o motivo principal apontado; em segundo lugar tem-se que os quadros da “Via Sacra” e a motivação religiosa foram os escolhidos por cinco pessoas.


101 Cruzamento 1 Turistas: Local de Procedência X Número de Vezes que visitou Caxias do Sul/RS

16

14

14 12 10 8

6

7

6

6 4

3 2

2

1 1

2

1

1

1

1 1

2

1

1

2

1

0 RS

SC

PR

SP

PE

CE

Exterior

Procedência X Número de vezes 1 vez

2 vezes

3 vezes

mais de 4 vezes

Gráfico 29 – Local de Procedência X Número de vezes que visitou Caxias do Sul/RS Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Este Gráfico foi formado a partir do número de vezes que os turistas pesquisados foram a Caxias do Sul/RS e a localidade de procedência. Embora, na Tabela 3 estão discriminadas as cidades, no pressente gráfico a origem está agrupada em “Estado” e “Exterior”. Dessa forma, é bastante claro que os visitantes que estiveram na cidade por mais de quatro vezes, são, em sua maioria, do estado do Rio Grande do Sul (14 pessoas). Além disso, também é possível relembrar que boa parte dos indivíduos reside nas cidades próximas, tais como: Flores da Cunha (20 km), Bento Gonçalves (43 km), Carlos Barbosa (49,8 km); além de outras um pouco mais distantes, como: Porto Alegre (129 km), Taquara (122 km), Lageado (106 km) e Veranópolis (82,2 km). Então, pode-se pensar que Caxias do Sul/RS é uma cidade que recebe visitantes que percorrem poucas distâncias – em sua maioria –, mas também há aqueles que não se preocupam com essa questão, mesmo assim, vão até Caxias para aproveitar o que de melhor ela oferece aos seus turistas, como os três exemplos do exterior; os 10 turistas do Ceará e o exemplo de Pernambuco.


102 Cruzamento 2 Turistas: O que achou mais interessante após a visita X Motivação para visitar a igreja

6 5

5

5

5

5 4 4 3

3

3 2

22

2 11

1

1 1

1

1

1

11 1

11

1

1

1

1

1

1 0 Motivação religiosa

Beleza arquitetônica

Atmosfera agradável...

Outra motivação

Motivação religiosa + Beleza Arquitetônica

Motivação religiosa + Outros Aspectos

Beleza arquitetônica +Atmosfera Agradável

Todos

O que achou mais interessante X Motivação Réplica Pietà

Portas de Bronze

Quadros da Via Sacra

Pinturas no teto e no Altar

Santo Sudário

Todos

C+D

A+B+C

B+C

A+C+D

Gráfico 30 – Motivação para visitar a igreja X O que achou mais interessante após a visita (Turistas) Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes

Neste Gráfico, foi feito o cruzamento das respostas dadas pelos turistas sobre as questões de motivação para visitar a igreja São Pelegrino e o que acharam mais interessante após a visita. É bem claro que o item assinalado mais vezes foi o que seleciona as pinturas do teto e do altar, ou seja, os murais que Aldo Locatelli pintou para decorar a igreja São Pelegrino, com 27 respostas. Da mesma forma que o segundo item mais respondido é o dos quadros da “Via Sacra”, com oito respostas. Dentre as motivações, vê-se que 13 pessoas responderam que a questão religiosa é o que os motivou a visitarem a igreja, em segundo lugar ficou a beleza arquitetônica, com 11 respostas.


103 Cruzamento 3 Turistas: Motivação para visitar a igreja X Faixa Etária

6 5 5 4 4 3

3

3

3

3

3 2

2

2 2

2

2

2 1 1

1

1

1 111

11

1

11

1

1

1

1

1

1 0 Motivação religiosa

Beleza arquitetônica

Atmosfera agradável...

Outra motivação

Motivação religiosa + Beleza Arqitetônica

Motivação religiosa + Outros Aspectos

Beleza arquitetônica +Atmosfera Agradável

Todos

Motivação X Faixa Etária Menor de 18

De 18 a 27

De 28 a 37

De 38 a 47

De 48 a 57

Acima de 58

Gráfico 31 – Motivação para visitar a igreja X Faixa Etária (Turistas) Fonte: Dados coletados pela autora

Base: 54 respondentes

Novamente, se discute a questão da motivação, nesse caso, cruzando com as faixas etárias dos turistas pesquisados. No presente Gráfico, a motivação religiosa é a resposta mais assinalada, principalmente pelo público com idade entre 48 e 57 anos (cinco pessoas); já o público com idade acima de 58 anos assinalou primeiramente a beleza arquitetônica como motivação, e, em segundo, a religiosidade. O público jovem (de 18 a 27 anos) se destaca pela opção da motivação religiosa (três pessoas), isso denota que não são apenas os turistas com mais idade que procuram a religiosidade, esse gráfico demonstra uma outra visão a esse respeito.


104 1 Comunidade X Turistas: Motivações da Comunidade X Motivações de Turistas

53,70%

60,00% 50,00% 40,00% 24,07%

20,37%

30,00%

22,22%

22,22% 16,67%

12,96%

11,11%

20,00%

9,26%

5,56%

1,85%

10,00% 0,00% Motivação religiosa

Beleza arquitetônica

Respostas da Comunidade

Atmosfera agradável...

Faço parte da Outra motivação Responderam comunidade da com mais de São Pelegrino uma alternativa

Respostas dos Turistas

Gráfico 32 – Comunidade X Turistas em relação à motivação para visitar a igreja Fonte: Dados coletados pela autora Base: 108 respondentes

No Gráfico 32, retoma-se a questão da motivação, agora cruzando as informações dos dois públicos pesquisados. Novamente, fica evidente que a maioria de turistas e da comunidade vai à igreja São Pelegrino pela questão religiosa, porém, no caso dos turistas, os valores das outras alternativas se mantêm próximos, o que contribui para a questão turística da igreja, pois os números apontam para outros interesses, diferentes da resposta com maior porcentagem. Além disso, é importante salientar que dentre os 22,22% dos que responderam outra motivação, estão os que apontaram o motivo da visita pelo fato do templo ser um ponto turístico. Sobre essa questão tanto o pároco (Entrevistado 2) quanto a historiadora (Entrevistado 1) apontaram em suas entrevistas a respeito de a igreja realmente ter esse caráter turístico, e que desde o início do processo de decoração da igreja por Aldo Locatelli já havia a procura dos primeiros curiosos, o que mais tarde levou a prática da atividade turística.


105 Cruzamento 2 Comunidade X Turistas: A respeito de conhecer ou não Aldo Locatelli

74,07% 80,00%

68,52%

70,00% 60,00% 31,48%

50,00% 25,93%

40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Sim

Respostas da Comunidade

Não Respostas dos Turistas

Gráfico 33 – Comunidade X Turistas sobre o conhecimento do autor das pinturas da igreja Fonte: Dados coletados pela autora Base: 108 respondentes

Este Gráfico apresenta a representação das respostas dadas pelos dois grupos sobre conhecer ou não Aldo Locatelli como pintor das obras da igreja. Esse cruzamento é interessante porque se percebe que ainda que a principal motivação da comunidade é a religiosidade, a maioria conhece o autor das obras (68,52%), o que não ocorre com os turistas, que a maioria, 74,07%, desconhece a autoria das pinturas.


106 Cruzamento 3 Comunidade X Turistas: Sobre o que achou mais interessante na igreja

50,00%

50,00% 45,00% 40,00% 35,00% 30,00% 25,00% 20,00% 15,00% 10,00% 5,00% 0,00%

50,00%

25,93% 24,07%

12,96% 7,41% 9,26%

5,56% 3,70% 3,70%

Réplica da Pietà

Portas de Bronze

0,00% 3,70%

Quadros da Murais do Via Sacra teto e do altar

Respostas da Comunidade

Outros aspectos

Responderam com mais de uma alternativa

1,85% 0,00%

Nenhuma

1,85%

Santo Sudário

Respostas dos Turistas

Gráfico 34 – O que achou mais interessante na igreja pela Comunidade X Turistas Fonte: Dados coletados pela autora Base: 108 respondentes

O Gráfico 34 apresenta as informações a respeito do que turistas e comunidade acham mais interessante na igreja. Dos 108 questionários respondidos, 50% dos questionários da comunidade apontaram que os murais de Aldo Locatelli é o que mais chama; da mesma forma com os turistas, que 50% deles escolheram os murais como o mais interessante na igreja. Outro item bastante assinalado foi o de outros aspectos para a comunidade, pois muitas respostas estão associadas a questões particulares, como homilia dos padres, por exemplo. Já os turistas, com 24,07%, responderam a questão com mais de uma alternativa, como se vê no Gráfico 21, que, na verdade, apresenta combinações dos aspectos apontados nas alternativas da questão. Ao longo do capítulo, as informações foram apresentadas nesses formatos a fim de tentar ilustrar de uma forma clara e que contribua para o entendimento das discussões que seguirão.


107 3.2.4 Resultados obtidos pelas entrevistas

Roteiro para entrevista historiadora da empresa Três Tempos

a) De que forma a senhora percebe as pinturas de Aldo Locatelli para a cidade de Caxias do Sul? O Locatelli realizou vários trabalhos no Brasil e mesmo em outras cidades do RS, mas em Caxias ele foi adotado como filho da cidade, não sei se pelo fato de ter sido professor da antiga Escola de Belas Artes ou pelo fato de ter deixado aqui sua obra maior. O que percebo é o grande amor e respeito de Caxias por ele. O caxiense ama a Igreja de São Pelegrino.

b) A senhora acha que o interesse turístico pela Igreja São Pelegrino traz benefícios para a Igreja e para a comunidade? Se sim, quais seriam esses benefícios. Olha, sempre traz, pois já ouvi o comentário que a Igreja de São Pelegrino é o ponto mais visitado do Estado. Verdade ou não, as visitas movimentam a loja da Igreja e os bares do entorno. O grande problema é que Caxias é corredor dos turistas que transitam entre Gramado e Bento Gonçalves. Caxias precisa assumir sua vocação para o turismo de negócios, que o restante vem junto.

c) O trabalho de restauro das obras também pôde ser entendido como uma forma de estimular o interesse pelas obras. A senhora acha que isso aconteceu? De que forma? Foi bem interessante, pois foi criada uma linha de comunicação direta com a comunidade, através da mídia em geral – rádios, jornais e tv. Alunos visitavam a Igreja para conhecer as obras de restauro.

d) Na sua opinião, haveria a necessidade de realizar alguma ação que estimulasse a interpretação do patrimônio? Se sim, qual? Acho que sim. As informações dadas pelos guias são imprecisas, quando não falsas e fruto do “achismo”. Seria importante dar treinamentos específicos, evitando absurdas invencionices que são repassadas.


108 e) Além da presença dos turistas, a senhora considera importante o papel da comunidade no processo de valorização desse patrimônio? De que forma isso poderia/deveria acontecer? Considero muito importante. Uma forma de estimulara valorização deste patrimônio seria reativar a Casa de Memória como órgão ativo da preservação deste bem cultural. Poderiam ser dadas palestras, promover exposições temáticas, visitas guiadas, entre tantas outras ações.

Roteiro para entrevista com pároco da igreja São Pelegrino

a) Há quanto tempo o senhor está na igreja? Eu estou aqui desde 1985, desde que o padre Giordani faleceu. Anteriormente, já tinha trabalhado em 61, 64 e 65, aí eu pedi para sair e após a morte do padre Giordani, o bispo me mandou para cá e agora estou mofando aqui.

b) O interesse turístico pela Igreja São Pelegrino existe há quanto tempo? Desde que começaram aparecer as pinturas de Aldo Locatelli, lá pelo ano de 1951. Desde que Locatelli começou a tingir as paredes da igreja, começaram a vir os primeiro os curiosos para ver as obras que estavam iniciando e, quando completas, as pinturas realmente chegaram visitantes programados para admirar a arte e dia a dia aumenta a visita, porque as próprias empresas turísticas promovem a visita à igreja. Depois, a internet divulga a beleza dessas obras, das portas de bronze, mas, principalmente, Locatelli e Caxias do Sul. Sem dúvida nenhuma a igreja São Pelegrino é a ponto turístico primeiro de Caxias do sul. Nós no mês anterior tivemos 10.000 visitantes na igreja assim divulgou nosso prefeito municipal no jornal da cidade, então, é contínua nossa visita.

c) De que forma a diocese de Caxias vê esse interesse? Nós acolhemos os que chegam e não promovemos o turismo para a igreja, e promovemos sim a vida comunitária, a vida paroquial, as pastorais. Quem promove a visita turística a Caxias é o município, que tem o interesse de receber os visitantes, e as próprias


109 empresas turísticas que têm interesse pelos locais para fazer os roteiros diversos e pelas diversas razões que existem as empresas turísticas.

d) De que forma a comunidade da São Pelegrino vê esse interesse, na sua opinião? Com muita simpatia, porque sabe que a igreja tem. O que mostra e temos aí, o museu aberto, disponível para quem entra para quem aprecia e para quem sai, e a paróquia não aufere nenhuma vantagem econômica da visita dos turistas porque não cobra ingressos, não faz coletas especiais dos turistas. Aliás, é dos espaços que a comunidade paroquial de São Pelegrino não agarrou ainda com as duas mãos sem onerar demais as empresas turísticas ou os turistas e auferir algum retorno para poder manter a igreja aberta, para poder manter a igreja limpa, iluminada e preparar-se também para os contínuos restauros que temos que fazer. Há poucos anos fizemos um restauro total de todas as pinturas e afrescos das paredes dos quadros, que são telas da “Via Sacra”, e o telhado da igreja e todo o contorno necessário para que a umidade não venha a destruir essa obra de arte, feito isso já concluída há uns três anos, foi um trabalho de uns dois anos muito cheios, e já se começa a notar novamente acúmulos de umidade que vai prejudicando as pinturas, e isso nos custou muito, tivemos ajuda de incentivo dos restauros das artes, mas é um trabalho contínuo, nós temos um convênio com a Prefeitura, que nos ajuda a manter um guarda, tipo um guarda-recepcionista, muito simples mas que dá um pouco de disciplina e segurança nessas horas que a igreja está aberta, e nós, em contra partida, oferecemos à Prefeitura um espaço para um quiosque de publicidade do interesse do município e o serviço municipal de turismo, com toda a parafernália necessária para isso e um local para que os turistas tenham toalete aberto, isso se situa na lojinha da própria igreja, no subsolo. Esse o único recurso e não sobre nem um vintém, um dinheiro do turismo para a comunidade propriamente, acho que estamos sendo omissos nesse ponto porque eu conheço lugares tão visitados quanto ao nosso templo que não aufere algumas vantagens para aplicar na pastoral, na assistência aos pobres, no socorro as novas comunidades temos que pensar.

e) O turismo é visto também como uma forma de evangelização? Nós não usamos para isso, mas poderíamos usar também, agora, colocando a pergunta de uma outra forma, as pinturas sacras foram feitas nas paredes da igreja e os quadros como forma de evangelização e, no início e até hoje estava recordando que a igreja promovia as grandes pinturas e principalmente cenas bíblicas para o povo que não tinha cultura para


110 leitura, para o uso do livro sagrado, então, para que eles pudessem ler pelos quadros a mensagem, e, aqui também, é só ver no teto da igreja a “Criação do Mundo”, “Criação de Adão de Eva”, a “Expulsão de Eva do Paraíso”, o “Juízo Final”, a “Santa Ceia”, as 14 estações da “Via Sacra”, 14 quadros das “14 Obras de Misericórdia”, aqueles anjos que estão sobre as janelas com obras materiais e espirituais, os nossos santos que veneramos na igreja “Nossa Senhora do Caravaggio”, “Sagrado Coração de Jesus”, “São Pelegrino”, “São José”, tudo isso para o ensino, todos que vem e encontram ali um olhar do divino, porque nós somos olhos, como somos ouvidos, como somos boca que fala e coração que ama.

f) Na sua opinião, o interesse turístico pela igreja se dá por qual razão? Pelas pinturas do Aldo Locatelli? Pela réplica da “Pietá”? Ou outro? A “Pietá” e o “Sudário” surgiram como um presente, “Pietá” foi um presente de Paulo VI, presente de um papa, para alguém, é sugerido por alguém que vai solicitar. Caxias e nossa região estava completando 100 anos de imigração Italiana, então, doaram a “Pietá” e os articuladores fizeram com que a “Pietá” chegasse a essa igreja. O padre Giordani, que é o senhor que nos deixou essa obra, e eu sou apenas o cuidador desde que vim, e busquei nesses anos fazer o melhor possível com as minhas excelentes equipes, principalmente, com a Sociedade de Cultura e Arte Locatelli, agora Associação de Cultura e Arte Locatelli. O Sudário, o padre Giordani foi à Europa viajar e achou interessante e comprou uma cópia e trouxe e continua sendo um encanto para todos que visitam a igreja, claro que temos ainda outra obra majestosa que são as Portas de Bronze, que tornam a igreja tão viva, elas têm uma originalidade especial, ainda que os motivos não são religiosos propriamente, não é de santos e de cenas bíblicas, são cenas bem da história e do aspecto humano. A central, que é a epopeia da imigração, uma das laterais que é a família e a outra que a divisão das terras da nossa região e a produção do subsídio originado do gado eram próprios e comuns entre eles.

g) Há algum projeto desenvolvido pela Diocese ou pela paróquia voltada especificamente para o turismo na Igreja? Não temos a Pastoral do turismo18 aqui que Caxias. Por incrível que pareça, a cidade está ainda caminhando para fazer um turismo mais acentuado. Pertencia à diocese de Caxias 18

A Pastoral do Turismo é uma prática desenvolvida no Vaticano, inicialmente estava voltada à questão dos imigrantes, porém, hoje, ela também atua na questão do bem receber, saber acolher os turistas e viajantes, além de estimular a prática de peregrinações, visitar Santuários e também poder fazer do Turismo uma atividade que


111 uma área do litoral norte de Torres até Arroio do Sal e já naquele tempo havia a Pastoral do turismo. Mas o turismo em Caxias se reduz à visita a igreja de São Pelegrino, à área do Monumento aos Imigrantes, a Casa de Pedra, os Pavilhões da Festa da Uva, quando tem algum evento lá. A Festa que é o que mantém o turismo contínuo, e os turistas têm como Caxias mais como um ponto de passagem, é o que a nossa Secretaria Municipal do turismo esta buscando superar, não apenas fazendo Caxias como um trânsito do turismo, mas uma permanência do turismo através de uma série de projetos que existem no interior, com as cantinas, pois Caxias tem coisas de mais para mostrar, principalmente o povo muito acolhedor.

h) Na sua opinião, o senhor acha que o patrimônio cultural da São Pelegrino é importante para a identidade da comunidade local? Nós nos orgulhamos muito por esse patrimônio, basta dizer isso e portanto que para preservar a história desse patrimônio e também o presente foi idealizada aqui a Casa da Memória, ela foi montada para preservar essa história, pois achamos importante, e conto com a Associação de Cultura e Arte Locatelli, que é a entidade que mantém e está sempre de olho nessas obras de arte. Além disso, eles cuidam da pedra fundamental da igreja e de todos os nossos contornos.

Comentários do Entrevistado após a conclusão das perguntas Na cidade de Caxias há outros locais com trabalhos de Locatelli, como Igrejinha do Santo Sepulcro (imagem de “Jesus Ressuscitado”), Capelinha do Carmelo (quadro da “Natividade”) e a Prefeitura (Painel da “Imigração”).

contribua para melhores condições de vida aos pobres e doentes das localidades receptivas. Para mais informações e ler documentos oficiais, disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/migrants/s_index_tourism/rc_pc_migrants_sectiontourist s__it.htm. Acessado em 10 de nov. de 2011, às 21h.


4 ANÁLISE DOS DADOS

A atividade turística também serve para aproximar as diferenças culturais, a fim de proporcionar novas experiências de bem-estar, satisfação, alegria e prazer. Com isso, essa pesquisa buscou informações que pudessem contribuir para que a igreja São Pelegrino, além de importante templo religioso seja um ponto turístico e que contribua também para o desenvolvimento da atividade na cidade. Dessa forma, seguem as análises a respeito de toda a proposta deste estudo. Pensando no perfil dos pesquisados, após a análise dos 108 questionários, houve uma maioria feminina; a faixa etária está acima dos 58 anos, além de a maioria ter o Ensino Superior. O perfil profissional contém alguns professores, funcionários públicos e aposentados. Em relação aos turistas, a maioria feminina também ocorreu, a faixa etária foi de acima dos 48 anos, mas o grau de instrução foi o mesmo, Ensino Superior; e quanto à profissão, as que obtiveram maior índice foram: comerciante, estudante, dona de casa e professor. Em relação aos dois públicos, algumas considerações são importantes para propor uma reflexão, como: a relação das mulheres com as artes, demonstrada pela sensibilidade feminina pré-disposta ao novo ou ao belo; como também com relação à idade, as pessoas mais maduras também parecem procurar mais espaços culturais e até mesmo aqueles que abrigam uma arte tradicional ou com temas reflexivos, como os propostos por Locatelli, em seus murais, por exemplo, ou mesmo nas provocações do traço moderno da “Via Sacra”, pois essa obra foi um rompimento com suas origens, suas bases fundamentais, além de toda violência e força que os quadros passam, chamando o “admirador” a participar dessa caminhada, para que carregue a sua cruz. Outra característica interessante foi o elevado número de pesquisados com o Ensino Superior, sinalizando a questão da relação da arte com melhores condições de ensino, sobretudo, pois é através da educação que a curiosidade desperta mais fortemente. Todavia, é claro que há um número significativo de pessoas com o Ensino Fundamental, o que é excelente, já que a igreja está aberta a todos, e ter o contato com tão rico patrimônio é uma boa forma de poder também refletir, pensar e interpretar sobre ele. Essa disponibilidade da igreja se confirma nas palavras do Entrevistado 2: “O que mostra e temos aí, o museu aberto,


113 disponível para quem entra para quem aprecia e para quem sai, e a paróquia não aufere nenhuma vantagem econômica da visita dos turistas porque não cobra ingressos, não faz coletas especiais dos turistas”. Mesmo tendo em vista apenas os turistas, o entrevistado indica essa facilidade em apreciar as obras, uma vez que a igreja permanece aberta o dia todo, sem fechar ao meio-dia, como acontece em alguns museus e centros culturais, principalmente nas cidades do interior. A respeito da religião, a maioria absoluta para os dois grupos foi a católica, pois 94,44% da comunidade e 88,89% dos turistas são católicos. Para essa questão, é importante retomar o que Roveda (2003) apresenta:

Se, ao contrário da maioria dos alemães, que tiveram dificuldade por serem protestantes, os italianos fizeram da religião católica o foco para suas atividades em comunidade [...] (ROVEDA, 2003). Para os colonos, o estudo e a religião tinham a mesma importância. A igreja ocupava o ponto principal nos grupos coloniais e a construção de igrejas e capelas mobilizava a participação de todos, seja com a doação de material seja com trabalho voluntário. “A vida social e cultural do imigrante foi reconstruída com fundamento na religião, tendo como ponto de referência a capela. Ali se desenvolviam as atividades religiosas, de lazer, da política, entre outras trocas a sociais” (ROVEDA, 2003, p. 37, apud DE BONI; COSTA, 1982, p. 130-132) (Grifo da autora).

Porém, é interessante perceber que mesmo em uma cidade cuja fé católica é uma referência, mesmo que histórica atualmente, há a procura de pessoas de outras religiões, como de protestantes, espíritas, judeus, muçulmanos e agnósticos. Nesses casos, o interesse na igreja pode ser aquele apontado pelo pároco, a questão da evangelização pelas imagens, como acontecia quando as pessoas não sabiam ler, ou, também, pela questão artística, o que provoca um rompimento de barreiras importante. Pois há uma parcela significativa de residentes e turistas de outras religiões que procuram a igreja São Pelegrino. Se relacionar a questão religiosa para o contexto mundial, esse aspecto requer muito cuidado, uma vez que a fé é ainda uma forte barreira social, e parece que o turismo tem a contribuir para que essas dificuldades possam ser amenizadas ao longo dos anos. Com relação aos turistas, há um levantamento do local de procedência juntamente com o número de vezes que o respondente foi a Caxias do Sul/RS. Dentre os números apontados, a cidade recebeu mais de quatro vezes 31,48% do total de turistas, as quais, 25,92% residem no Rio Grande do Sul, além disso, desses residentes, grande parte mora em até 150 km de distância. Isso reforça a ideia de que a cidade é caracterizada como um corredor, informação dada tanto pelo pároco:


114 A Festa que é o que mantém o turismo contínuo, e os turistas têm como Caxias mais como um ponto de passagem, é o que a nossa Secretaria Municipal do turismo esta buscando superar, não apenas fazendo Caxias como um trânsito do turismo, mas uma permanência do turismo através de uma série de projetos que existem no interior, com as cantinas, pois Caxias tem coisas de mais para mostrar, principalmente o povo muito acolhedor (ENTREVISTADO 2).

Da mesma forma a Entrevistada 1, manifestou: “O grande problema é que Caxias é corredor dos turistas que transitam entre Gramado e Bento Gonçalves. Caxias precisa assumir sua vocação para o turismo de negócios, que o restante vem junto”. Além dessa questão levantada pelos pesquisados e demonstrada pelos dados das análises, há também uma outra importante que é o fato das viagens serem de curta distância, pois é possível visitar Caxias e voltar à capital no mesmo dia, em duas horas de viagem, ou seja, os outros serviços turísticos, mas, principalmente, a hotelaria, perdem com essa situação. Realmente, Caxias precisa rever essa questão com ações que impulsionem a atividade por mais tempo, a fim de gerar mais renda e se consolidar como cidade turística. Tratando do turismo na cidade, nas questões “Quais atrativos da cidade você já visitou?” do questionário dos turistas e “Quais desses locais você conhece como atrativo turístico?” e “Você considera a igreja São Pelegrino como um atrativo turístico?” da comunidade, os atrativos turísticos da cidade foram observados, sendo assim, o gráfico que segue apresenta a análise completa da questão:

100,00%

100,00% 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00%

44,44% 35,19%

12,96% 1,85%

1,85%

1,85%

Igreja São Pavilhões Catedral Museu Casa de Shopping Praças Pelegrino da Festa Diocesana Minicipal Pedra da Uva

Gráfico 23 – Levantamento de atrativos já visitados pelos turistas Fonte: Dados coletados pela autora Base: 54 respondentes


115 Porém, nesse caso, é importante salientar que 100% dos pesquisados visitaram a São Pelegrino; seguido dos Pavilhões da Festa da Uva; da Catedral Diocesana; do Museu Municipal; e, ainda, a Casa de Pedra, o Shopping e as Praças. Mesmo que não concentrando a pesquisa em pessoas que não visitaram a São Pelegrino, percebe-se que o primeiro ponto turístico a ser visitado é a igreja. Isso pode ocorrer por duas hipóteses: porque há facilidade de horário, por estar aberta todos os dias e praticamente o dia todo; e/ou porque realmente é o patrimônio cultural que mais chama a atenção das pessoas na cidade, e como boa parte dos visitantes realizam viagens curtas, talvez para somente passar o dia, é convidativo começar pelo local que se sabe estar aberto sempre. Do ponto de vista da comunidade, o turismo parece ser bem aceito. Quanto aos locais conhecidos como atrativos turísticos, a maioria da comunidade entende que a igreja São Pelegrino é um atrativo turístico; em segundo lugar, que a Catedral Diocesana; em terceiro, os Pavilhões da Festa da Uva; e em último a Zona rural. Nesse caso, é importante salientar que para o pároco e para a historiadora, até mesmo a Catedral é mais turística que os Pavilhões; e a Zona rural é a menos atrativa, sendo que deve ser um dos locais que mais preserva os valores e as raízes do colono. Nesse sentido, é importante pensar no papel que a identidade cultural está ocupando na sociedade caxiense atualmente, pois parece que não está muito claro que pela cultura italiana e pelos valores daquela sociedade que o turismo e uma série de atividades culturais podem melhorar ainda mais a economia da cidade e também reforçar a questão da identidade. Nesse sentido, vale retomar que para a realização do turismo cultural é fundamental a presença da memória coletiva, para que a identidade local seja presente e valorizada na sociedade, “pois a busca pelos aspectos identitários é o que move os turistas culturais a saírem de suas residências e irem ao encontro com o diferente”. Para Nogueira, essa questão é definida assim: “É justamente a identidade de um lugar que o torna mais visível e mais presente na memória do turista” (2008, p. 4). Do ponto de vista da importância da valorização da identidade, é preciso que a população reveja essas questões, para que juntos construam uma nova forma de valorizar sua cultura e seguir passando de geração a geração os valores e os costumes do imigrante. A historiadora entrevistada considera muito importante o papel da comunidade, de acordo a resposta: “uma forma de estimular a valorização deste patrimônio seria reativar a Casa de Memória como órgão ativo da preservação deste bem cultural. Poderiam ser dadas


116 palestras, promover exposições temáticas, visitas guiadas, entre tantas outras ações”. E isso, aproxima a comunidade do patrimônio cultural de Aldo Locatelli e de tudo que isso significa para a cidade. Essas atividades, além do desenvolvimento cultural da cidade, também podem contribuir para a realização de atividades turísticas na cidade, uma vez que os trabalhos de Locatelli não estão restritos às paredes da igreja, conforme salienta o pároco da São Pelegrino: “Na cidade de Caxias há outros locais com trabalhos de Locatelli, como Igrejinha do Santo Sepulcro (imagem de ‘Jesus Ressuscitado’), Capelinha do Carmelo (quadro da ‘Natividade’) e a Prefeitura (Painel da ‘Imigração’)”. Mas, especialmente, na São Pelegrino, a fim de suprir uma demanda apontada após a análise dos questionários, no caso, referente à questão “Na sua opinião, que ações poderiam ser acrescentadas na visita?” – a ausência de guias turísticos locais. Cruzando-se as respostas dadas a pergunta que envolvia a motivação para visitar a igreja, tanto para comunidade como para turistas obteve-se o Gráfico 32, cujos resultados apontam que o motivo de turistas e comunidade visitar ou frequentar e igreja São Pelegrino é a questão religiosa. Contudo, no caso dos turistas a diferença entre uma resposta e outra é pequena, ou seja, não há unanimidade, como no caso dos residentes, mas foi apontado como o motivo principal. Além disso, é importante salientar que dentre os 22,22% dos que responderam outra motivação, estão os que apontaram o motivo da visita pelo fato do templo ser um ponto turístico, indicando que há entendimento de que a igreja é um ponto turístico da cidade. Sobre essa questão, tanto o pároco quanto a historiadora afirmaram em suas entrevistas que a igreja realmente tem esse caráter turístico, e que desde o início do processo de decoração da igreja por Aldo Locatelli já havia a procura dos primeiros curiosos, o que mais tarde levou a prática da atividade turística:

Desde que começaram aparecer as pinturas de Aldo Locatelli, lá pelo ano de 1951. Desde que Locatelli começou a tingir as paredes da igreja, começaram a vir os primeiro os curiosos para ver as obras que estavam iniciando e, quando completas, as pinturas realmente chegaram visitantes programados para admirar a arte e dia a dia aumenta a visita, porque as próprias empresas turísticas promovem a visita à igreja. Depois, a internet divulga a beleza dessas obras, das portas de bronze, mas, principalmente, Locatelli e Caxias do Sul. Sem dúvida nenhuma a igreja São Pelegrino é a ponto turístico primeiro de Caxias do sul. Nós no mês anterior tivemos 10.000 visitantes na igreja assim divulgou nosso prefeito municipal no jornal da cidade, então, é contínua nossa visita.


117 Quanto às diferenças de interesses na igreja São Pelegrino, entre comunidade e turistas, constatou-se 50% da comunidade e dos turistas apontou que os murais de Aldo Locatelli é o que é mais interessante. Essa valorização à obra do pintor italiano é uma forma de acreditar que os dois grupos se interessam pela arte em si, mas também aliada a outros interesses, o que não perde de vista o papel importante que esse patrimônio cultural tem tanto com a comunidade como com os turistas. Por conseguinte, pode-se retomar que a visitação a prédios históricos, construções antigas, igrejas, museus e outros locais que de alguma forma contam um determinado período da história de uma sociedade é uma prática – como já foi tratado anteriormente – bastante antiga, pois o Grand Tour é um exemplo dessa experiência, da mesma forma que Marco Polo, ao navegar para mares distantes encontrou a China, por exemplo, e toda a sua cultura oriental que estava “guardada” a espera de alguém que pudesse apresentá-la ao ocidente. Com isso, o turismo cultural é uma prática que necessariamente vai ao encontro do outro a fim de buscar conhecer uma outra cultura, outros costumes, outros valores e outros interesses. Nessa perspectiva, a prática do turismo cultural serve como mecanismos para as comunidades locais se organizarem, perceberem o valor que há em seu passado, para que não apenas os turistas, mas a própria comunidade compreenda a importância da memória de seu povo e de sua identidade cultural. É possível perceber na obra a pessoa de Locatelli, sua alma, seu íntimo, completamente transparente e sem medo. Assim como é possível identificar o processo de evolução que ele passou, não apenas como pessoa, mas como cristão e artista. Para Stedile Zattera, 1990: “Há um diálogo com Deus, há um diálogo com o observador. Há uma mensagem espiritual. Ele quer nos emocionar e emociona. Quer nos fazer estremecer e nos estremece. Quer nos fazer pensar e, o faz com beleza e arte” (p. 163). Para a historiadora, Locatelli tem um valor inestimável para a cidade, quando afirma:

O Locatelli realizou vários trabalhos no Brasil e mesmo em outras cidades do RS, mas em Caxias ele foi adotado como filho da cidade, não sei se pelo fato de ter sido professor da antiga Escola de Belas Artes ou pelo fato de ter deixado aqui sua obra maior. O que percebo é o grande amor e respeito de Caxias por ele. O caxiense ama a Igreja de São Pelegrino.

Sendo assim, a relação que se criou entre Caxias, a religiosidade, Locatelli, a comunidade e os turistas é bastante forte, cheia de significado e admiração. O pintor italiano chegou na cidade para decorar mais uma igreja, nela encontrou espaço para pintar momentos


118 importantes de Deus. Além disso, a igreja abriga até hoje todas as fases de sua obra, do clássico ao moderno, sem perder de vista a perspectiva, a aproximação com o público, de propor a reflexão. Locatelli veio de uma família bastante religiosa, e a igreja era um espaço comum a ele, foi em uma que viu pela primeira vez o restauro de um mural e muitas outras executou obras únicas e belíssimas disponível a todos. Nesse sentido, Stedile Zattera afirma que: “O ambiente religioso lhe faz bem e permanece horas na igreja, observando, orando e aprendendo. É um menino de fé” (1990, p. 15). A relação que se estabelece entre cultura, patrimônio cultural, identidade e memória dentro da atividade turística precisa ser orientada, na medida em que valores, sentimentos, processos históricos estão incluídos nesse contexto. Sendo assim, a teoria da interpretação do patrimônio é o que pode contribuir para o desenvolvimento do turismo cultural sem provocar prejuízos, especialmente à comunidade, já que ela está intimamente ligada à reflexão dos patrimônios, seja com auxílio de placas, de roteiros guiados ou autoguiados, além de sempre relacionar a atividade à preservação dos espaços e ao respeito à comunidade. A última questão do questionário dos turistas demonstrou ações que contribuiriam para as visitas à igreja, pensando nela como um local que abriga patrimônios culturais da cidade. Com isso, as ações que poderiam ser utilizadas mais indicadas foram: ter folder ou folheto explicativo no templo; e a presença de um guia de turismo. O que também foi apontado pelos membros da comunidade, nas sugestões e nos comentários realizados na última questão: “Deve-se aprimorar o conhecimento; Deve-se trabalhar mais o turismo, inclusive em outros locais; Deve-se respeitar o Santíssimo; Deve continuar linda, conservada e preservada; Seria muito boa a presença de um guia de turismo”. O pároco afirma que ações como o acompanhamento de guia de turismo são importantes pela seguinte questão: “As informações dadas pelos guias são imprecisas, quando não falsas e fruto do ‘achismo’. Seria importante dar treinamentos específicos, evitando absurdas invencionices que são repassadas”. Sendo assim, ao longo dessa análise, percebe-se que tanto comunidade, como visitantes e igreja valorizam a obra de Aldo Locatelli. Cada um, em certa medida, sabe que ações de preservação e conscientização para que ele permaneça por muito tempo todos esses grupos são fundamentais. Da mesma forma que a atividade turística precisa ser planejada e adequada a cada situação, e que, por isso, ter ações específicas da atividade não prejudicariam o papel religioso do templo, mas, sim, poderiam atrair mais turistas. Já é bem claro não


119 apenas para a comunidade, mas para a academia, no papel da historiadora, quando ela afirma: “Já ouvi o comentário de que a Igreja de São Pelegrino é o ponto mais visitado do Estado. Verdade ou não, as visitas movimentam a loja da Igreja e os bares do entorno”. E, para a igreja, no papel do pároco, quando retoma a notícia do jornal: “Nós, no mês anterior, tivemos 10.000 visitantes na igreja, assim divulgou nosso prefeito municipal no jornal da cidade, então, é contínua nossa visita”. Aliás, fica claro, através do ponto de vista de cada um dos envolvidos, que a São Pelegrino é um atrativo e importante para o desenvolvimento turístico da cidade, mas, toda e qualquer ação nesse sentido precisa respeitar a todos os setores.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este é o momento do turismo crescer, pois não houve outro na história que tenha sido tão propício para que a atividade turística ocupasse seu espaço no mercado. Ao mesmo tempo, ele precisa fazer parte do momento de lazer de todas as pessoas, cada vez mais, pois através do turismo é possível que as trocas de culturas, de experiências e de sentimentos ocorram sem que haja um outro sentido senão o próprio prazer de conhecer o outro e o novo. A sociedade atual aspira por melhores condições de vida, no sentido de poder pensar em viagens para lugares distantes, já que tende estar muito favorável economicamente. Porém, o ideal é que primeiramente se conheça o seu espaço, o espaço mais próximo, a cidade vizinha, uma no interior, e, assim, sucessivamente. É muito importante que todos percebam e reconheçam as belezas de sua cidade, só assim é que se aprende a compreender o quanto o espaço onde se vive é seu também, não apenas para usufruir, mas cuidar, e mesmo que a cidade seja de todos, cada um tem seu papel nela. Dentro da proposta realizada, a resposta para o problema proposto tem uma relação direta com essa questão de valorizar o espaço onde se vive, pois alguns teóricos, como Nogueira (2008), mas também Biesek (2004), Morales (2004) apontam para a importância do papel da comunidade e da identidade cultural dessa comunidade, uma vez que ela é fonte de curiosidade e, por consequência, da prática do turismo cultural. Sendo assim, vale lembrar que a relação entre turismo e cultura é muito forte, pois tanto para Neto (2009) como para Santos (2005), “o turismo é um ato cultural” e ele “faz parte do processo cultural e cria ocasiões nas quais as comunidades encenam” para a possibilidade de tal atividade. Então, o turismo torna-se um elemento da construção dinâmica da cultura e da identidade, estabelecendo, assim, uma relação direta entre comunidade, cultura e identidade. Por consequência, o turismo cultural “seria caracterizado pela procura por estudos, cultura, artes cênicas festivais, monumentos, sítios históricos ou arqueológicos, manifestações folclóricas ou peregrinações”, de acordo com a OMT (apud Barretto, 2003), que nada mais é do que a realização da atividade turística, talvez um pouco mais direcionada para os aspectos histórico-culturais das sociedades. Nessa relação histórico-cultural, o patrimônio cultural é a denominação dada aos bens materiais e imateriais que diferenciam um grupo social de outro, e nessa relação com o


121 turismo, é o que motiva as pessoas a viajarem, na busca de conhecerem outras histórias, outros costumes, sotaques, enfim, tudo o que permite distinguir uma sociedade da outra. Com relação ao patrimônio cultural da igreja São Pelegrino, o conjunto das obras de Aldo Locatelli é motivo de muitos turistas irem até a igreja a fim de viverem uma experiência única no Estado e no Brasil, pois a São Pelegrino é a que preserva o acervo mais completo da obra do pintor italiano. Além disso, a cidade de Caxias do Sul tem algumas semelhanças com o pintor de Bérgamo, pois a região se formou graças a chegada dos italianos no Estado, Locatelli também foi um imigrante, de outra forma, mas experimentou do sentimento de estar longe da terra natal, da sua língua e da sua família; ambos tomaram como “porto seguro” a religiosidade. Caxias foi uma cidade essencialmente católica e, ela ainda é uma questão social importante, já Locatelli, se apropriou de seus conhecimentos da religião e das artes para retratar nas paredes da igrejas gaúchas um pouco daquilo que Deus representava para si, mesmo que na maior parte das vezes teve que pintar o que os padres desejavam, porém, nunca poupou mecanismos para colocar seus pontos de vista. Relembrando as palavras do pároco da São Pelegrino, quando comentou que a igreja adquiriu um novo olhar, o de ponto turístico, nas primeiras pinceladas de Locatelli, parece que ela já tinha essa vocação para o turismo, porém ainda estava por ser descoberto. Hoje, a realidade é outra, o turismo está cada vez mais presente no dia a dia da paróquia. Após a análise dos questionários tanto da comunidade como dos turistas, ficou claro que a igreja São Pelegrino é um ponto turístico importante para a cidade, isso não apenas visto pelos turistas, mas pela população e pelos setores envolvidos. Neste momento, é preciso retomar o problema da pesquisa: “Residentes e turistas têm a mesma interpretação do patrimônio cultural presente na igreja São Pelegrino, em Caxias do Sul/RS?” a fim de respondê-lo. Ao longo do processo da pesquisa, algumas conclusões puderam ser feitas, pois após analisar as respostas e discuti-las, percebe-se que não tratando quantitativamente, mas pensando no resultado absoluto, tem-se que os dois grupos são movidos pela questão religiosa, mas também têm como preferência as obras de Locatelli, especialmente os murais do “Juízo Final” e do “Dies Irae” presentes no teto e no mural da “Santa Ceia” localizado no altar da igreja. Além disso, tanto para a historiadora entrevistada como para o pároco da igreja, existe um respeito e um carinho muito grande pelo pintor italiano, pois a maior parte da comunidade pesquisada afirmou conhecer o autor das pinturas. Outro resultado apontou que algumas pessoas de outras religiões visitam o templo, o que


122 também pode apontar para um caráter mais artístico que religioso, permitindo que diferenças religiosas não interfiram na possibilidade de ter contato com as artes visuais dentro da igreja. Com relação aos objetivos específicos, se foram atingidos? Acredita-se que sim, na medida em que se optou por teóricos já consagrados e outros um pouco desconhecidos, mas cujo trabalho é bastante interessante e corrobora com a presente pesquisa. Mas também é importante salientar que não é possível se alcançar o todo, tão pouco utilizar tudo o que há na área, seja pela inexperiência em pesquisas em turismo, por parte da pesquisadora, seja por tudo o que envolve uma pesquisa monográfica. Pois, no capítulo 1 há uma discussão a respeito de turismo, cultura e turismo cultural; seguida de apontamentos a respeito de identidade, memória e patrimônio cultural; além de apresentar a teoria e exemplos de outras pesquisas sobre a teoria da interpretação do patrimônio, sendo assim, acredita-se que essas discussões contemplaram o primeiro e o segundo objetivo específico. No capítulo seguinte, foi feita uma breve reconstituição do processo de colonização italiana no Estado, bem como a história da cidade, do “Campos dos Bugres” até Caxias do Sul, seguida pela contextualização da igreja São Pelegrino, apresentando, inclusive as principais obras de Aldo Locatelli que fazem parte do acervo, e como último assunto, a vida e obra do mago das cores. Com relação aos objetivos específicos seguintes, no capítulo três se apresentou graficamente as respostas e os números que essas informações geraram, bem como alguns cruzamentos importantes para a pesquisa e também as entrevistas da historiadora caxiense que já participou de um processo de restauro em obras de Locatelli e do pároco da igreja, pessoa responsável pelas decisões com relação a todas as atividades paroquiais. A partir das conclusões obtidas pelas respostas dadas, acredita-se que a igreja precisa se planejar para o turismo, não pensando em se tornar um ponto turístico com fluxo intenso, mas para que isso não ocorra sem a comunidade e os padres estejam preparados. Se pensar apenas no que foi sugerido pelos turistas e pelos residentes, ter uma folheteria de boa qualidade ou placas informativas e até um guia disponível para quando necessário podem ser ações preventivas e não impulsionadoras para a atividade turística. É indiscutível que ela tem esse caráter, no momento, é preciso ter cuidado e observar em outras realidades como esse processo se deu de forma natural e sem afetar os bens culturais. Para o passo seguinte, em relação a esta pesquisa, sempre se levou em consideração o papel que a comunidade tem, o quanto o sentido de valor para o patrimônio – por parte dos residentes – deve ser respeitado. Com isso, pretende-se seguir a pesquisa voltada para a área


123 de Educação Patrimonial, mas não voltada ao ensino escolar, e sim, a fim de provocar as comunidades de que não é apenas a “grama do vizinho que é bonita”, pois a deles também é verde e bonita, ótima para sentar e admirar as flores e ouvir os cantos dos pássaros que estão no jardim.


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APÊNDICES APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO PARA A COMUNIDADE UNIVERDIDADE FEEVALE– CURSO DE TURISMO – ICSA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO JAMILE CEZAR DE MORAES Este questionário é parte integrante de um trabalho de conclusão de curso do Curso de Turismo da Universidade Feevale. Não sendo necessária a identificação dos pesquisados nem mesmo informações confidenciais, como RG, CPF, telefone ou endereço. As respostas apenas farão parte de um banco para serem analisadas e contribuírem para responder o problema proposto pela graduanda Jamile Cezar de Moraes, bem como confirmar ou não a hipótese criada. QUESTIONÁRIO PARA COMUNIDADE 1. Gênero: a) ( ) Feminino b) ( ) Masculino 2. Faixa etária: a) ( ) menor de 18 anos; b) ( ) de 18 a 27 anos; c) ( ) de 28 a 37 anos; d) ( ) de 38 a 47 anos; e) ( ) de 48 a 57 anos; f) ( ) acima de 58 anos. 3. Grau de Instrução: a) ( ) Ens. Fundamental; b) ( ) Ens. Médio; c) ( ) Ens. Superior. 4. Profissão: ________________________ 5. Religião: a) ( ) Católica; b) ( ) Protestante; c) ( ) Outra;


129 d) ( ) Sem religião. 6. Você conhece a Igreja São Pelegrino? a) ( ) Sim; b) ( ) Não. 7. Se sim, com que frequência você visita a igreja? a) ( ) Uma vez ao dia; b) ( ) Uma vez por semana; c) ( ) Uma vez ao mês; d) ( ) Uma vez ao ano. 8. O que o/a motiva frequentar/visitar a igreja? a) (..) Motivação religiosa; b) (..) A beleza arquitetônica; c) (..) A atmosfera agradável criada pela beleza das pinturas dos murais e afrescos. d) (..) Faço parte da comunidade da São Pelegrino. e) ( ) outra motivação. Qual?________________________________________ 9. O que você considera mais interessante na igreja? a) (..) A replica da Pietá; b) (..) As porta de bronze; c) (..) As pinturas da “Via Sacra”; d) ( ) As pinturas no teto e no altar. e) ( ) outro aspecto. Qual?_______________________________________ 10. Você sabe quem é o autor da “Via Sacra”, da “Santa Ceia” e do “Juízo Final” da igreja São Pelegrino? a) (..) Sim. Quem? ________________________ b) (..) Não. 11. Quais desses locais você conhece como atrativo turístico? a) ( ) Igreja São Pelegrino; b) (..) Pavilhões da Festa da Uva; c) (..) Catedral Diocesana; d) (..) Zona rural; e) (..) Nenhum.


130 12. Você considera a igreja São Pelegrino como um atrativo turístico? Justifique. 13. Sugestões ou comentários.

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA O TURISTA UNIVERDIDADE FEEVALE– CURSO DE TURISMO – ICSA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO JAMILE CEZAR DE MORAES Este questionário é parte integrante de um trabalho de conclusão de curso do Curso de Turismo da Universidade Feevale. Não sendo necessária a identificação dos pesquisados nem mesmo informações confidenciais, como RG, CPF, telefone ou endereço. As respostas apenas farão parte de um banco para serem analisadas e contribuírem para responder o problema proposto pela graduanda Jamile Cezar de Moraes, bem como confirmar ou não a hipótese criada. QUESTIONÁRIO PARA TURISTAS 1. Gênero: ( ) Feminino ( ) Masculino 2. a) b) c) d) e) f)

Faixa etária: ( ) menor de 18 anos; ( ) de 18 a 27 anos; ( ) de 28 a 37 anos; ( ) de 38 a 47 anos; ( ) de 48 a 57 anos; ( ) acima de 58 anos.

3. Grau de Instrução: ( ) Ens. Fundamental ( ) Ens. Médio ( ) Ens. Superior 4. Profissão: ________________________


131 5. a) b) c) d)

Religião: ( ) Católica; ( ) Protestante; ( ) Sem religião. ( ) Outra. Qual?: _____________________________

6. Cidade de procedência: _____________________ 7. Quantas vezes você já visitou Caxias do Sul/RS? a) ( ) primeira vez; b) ( ) duas vezes; c) ( ) três vezes; d) ( ) mais de quatro vezes. 8. Quais atrativos da cidade você já visitou? a) ( ) Igreja São Pelegrino; b) (..) Pavilhões da Festa da Uva; c) (..) Catedral Diocesana; d) (..) Museu Municipal. e) ( ) outros. Quais?: __________________________________ 9. Qual o motivo de sua visita à igreja São Pelegrino? a) (..) Motivação religiosa; b) (..) A beleza arquitetônica; c) (..) A atmosfera agradável criada pela beleza das pinturas dos murais. d) ( ) outra motivação. Qual? ________________________________ 10. Após a visita na igreja São Pelegrino, o que chamou mais sua atenção? a) (.. ) A replica da Pietá; b) (..) As porta de bronze; c) (..) As pinturas da “Via Sacra”; d) ( ) As pinturas no teto e no altar. 11. Você sabe quem é o autor da “Via Sacra”, da “Santa Ceia” e do “Juízo Final” da igreja São Pelegrino? a) (..) Sim. Quem? ________________________ b) (..) Não.


132 12. Na sua opinião, que ações poderiam ser acrescentadas na visita? a) (..) Guia local; b) (..) Placas de identificação; c) (..) Folder ou folheto explicativo; d) (..) Nenhuma. 13. Sugestões ou comentários.

APÊNDICE C – ROTEIROS DAS ENTREVISTAS COM PÁROCO DA IGREJA SÃO PELEGRINO E TANIA TONET, HISTORIADORA.

ROTEIRO PARA ENTREVISTA

1 Pároco da igreja São Pelegrino

a) Há quanto tempo o senhor está na igreja? b) O interesse turístico pela Igreja São Pelegrino existe há quanto tempo? c) De que forma a diocese de Caxias vê esse interesse? d) De que forma a comunidade da São Pelegrino vê esse interesse, na sua opinião? e) O turismo é visto também como uma forma de evangelização? f) Na sua opinião, o interesse turístico pela igreja se dá por qual razão? Pelas pinturas do Aldo Locatelli? Pela réplica da Pietá? Ou outro? g) Há algum projeto desenvolvido pela Diocese ou pela paróquia voltado especificamente para o turismo na Igreja? h) Na sua opinião, o senhor acha que o patrimônio cultural da São Pelegrino é importante para a identidade da comunidade local?

2 Historiadora da empresa Três Tempos

a) De que forma a senhora percebe as pinturas de Aldo Locatelli para a cidade de Caxias do Sul?


133 b) A senhora acha que o interesse turístico pela Igreja São Pelegrino traz benefícios para a Igreja e para a comunidade? Se sim, quais seriam esses benefícios. c) O trabalho de restauro das obras também pôde ser entendido como uma forma de estimular o interesse pelas obras. A senhora acha que isso aconteceu? De que forma? d) Na sua opinião, haveria a necessidade de realizar alguma ação que estimule a interpretação do patrimônio? Se sim, qual? e) Além da presença dos turistas, a senhora considera importante o papel da comunidade no processo de valorização desse patrimônio? De que forma isso poderia/deveria acontecer?


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