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Figura 9 - Benefícios da implantação do BIM em obras e sistemas de Infraestrutura

2. PRIMEIRAS ABORDAGENS SOBRE O TEMA

Profissionais das áreas de arquitetura e urbanismo estão sempre em busca de capacitação para desenvolver novos métodos de conceber e desenvolver projetos. O aparecimento do computador e de novas tecnologias na era pós Revolução Industrial representa uma nova metodologia de trabalho auxiliada por um conjunto de ferramentas digitais práticas e acessíveis. Estas ferramentas são aprimoradas, reinventadas e adaptadas de acordo com as evoluções de hardwares e softwares. Dentre vários desafios encontrados por profissionais, como a concorrência no mercado, a busca por fidelização de clientes e a luta para defender a necessidade do profissional arquiteto urbanista, é requerido o domínio dessas novas ferramentas que prometem mais agilidade e detalhes aprimorados nos projetos.

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Dentre essa diversidade de ferramentas, destaca-se a tecnologia BIM por apresentar características muito maiores que apenas de representação 3D. É um novo conceito para a arquitetura, engenharia e construção (AEC), que agrega potencial ao projeto e facilita todo o fluxo de execução e gestão da obra. Com base nesse tipo de tecnologia, inicia-se a fundamentação teórica com uma abordagem sobre o BIM, contendo suas definições e conceitos, a normatização da tecnologia do BIM no Brasil, sua interoperabilidade, ou seja, sua capacidade de se comunicar de forma transparente com outro software, e por fim, suas vantagens e limitações para a aplicação no urbanismo.

2.1. BIM

A tecnologia BIM permite desenvolver um modelo virtual em 3D, não constituído apenas de geometria e texturas para efeito de visualização, como fazem os programas em 2D. Isso ocorre pelo fato de que esta ferramenta é caracterizada por gerar objetos paramétricos, ou seja, objetos supridos de informações que podem ser editadas e alteradas simultaneamente. Além disso, possibilita a troca de informações contidas nos modelos entre diferentes softwares, o que é chamado de interoperabilidade.

O modelo BIM pode ser utilizado para visualização tridimensional, garantindo uma percepção antecipada que pode auxiliar nas decisões de projeto e comparar as várias alternativas de design, além de ser um programa de planejamento e

gerenciamento eficaz. Neste capítulo é apresentado um panorama geral sobre esta tecnologia.

2.1.1 Conceitos Gerais

Existem muitas interpretações a respeito do conceito que carrega a sigla BIM. Os significados mais utilizados são: Building Information Modeling (em português, Modelagem da Informação da Construção), que é o processo de utilização de plataformas tecnológicas interoperáveis para gerar e utilizar dados de forma eficiente para o planejamento, construção e operação de uma edificação durante todo o seu ciclo de vida, modificando as funções e relações entre os profissionais, através do estimulo à colaboração de todas as partes envolvidas e o acesso simultâneo às informações criadas por elas; Building Information Model (Modelo da Informação da Construção), que é uma representação digital baseada na modelagem orientada a objetos inteligentes e paramétricos das características físicas e funcionais de um edifício; e Building Information Management (Gerenciamento de Informação da Construção), que trata da organização e do controle do processo de gerenciamento por meio da utilização das informações contidas no modelo digital para efetuar o compartilhamento de informações durante todo o ciclo de vida do empreendimento (BASTO, P. E.; LORDSLEMM JUNIOR, 2016). Como é possível observar, todas as definições descritas acima são similares. O que elas desejam expressar, são as funcionalidades que esta tecnologia carrega: interoperabilidade, parametrização e gerenciamento, respectivamente. Funcionalidades tendem a se complementar.

De acordo com Chuck Eastman, um dos pioneiros do conceito dessa tecnologia, o princípio do sistema BIM é uma filosofia de trabalho que integra arquitetos, engenheiros e construtores na elaboração de um modelo virtual preciso, que gera uma base de dados que contém tanto informações topológicas como os subsídios necessários para orçamento, cálculo energético e previsão de insumos e ações em todas as fases da construção a elaboração do projeto com base em um modelo tridimensional único, capaz de concentrar diferentes informações técnicas e geométricas do projeto, podendo ser acessado por qualquer dos agentes, a qualquer etapa do projeto, inclusive durante a vida útil do edifício construído. Esta estrutura incentiva um processo integrado e colaborativo entre os diferentes agentes desde as fases iniciais. (EASTMAN et al., 2014).

Eastman também aborda que definição dos objetos de forma paramétrica, é uma das vantagens do sistema BIM. O objeto é definido por parâmetros e relacionado aos demais, tornando-os vinculados. Assim, quando um deles é alterado, o impacto se estende ao conjunto. (EASTMAN et al., 2014).

Embora o conceito BIM sirva não apenas para uma construção específica, mas sim para simular o desenvolvimento do empreendimento em um bairro ou cidade, muitos objetos são criados voltados para aplicação em construções, limitando o uso e desenvolvimento dessa tecnologia para outras áreas do AEC, como para projetos de infraestrutura urbana e urbanismo. Este fato dificulta a produção técnica e teórica, atrasando o desenvolvimento de uma ferramenta que atenda à demanda de projetos de infraestrutura urbana..

2.1.2 Normatização da Tecnologia BIM no Brasil

A disseminação do conceito BIM no cenário mundial é mais eminente do que possa parecer. Segundo a Autodesk (2018), países como Estados Unidos, Reino Unido e Noruega já exigem o uso dessa tecnologia em projetos custeados pelo governo.

O Brasil está seguindo as tendências desse cenário e tem buscado regulamentar o uso dessa ferramenta. O então presidente da república Michel Temer, sancionou o decreto de 05 de junho de 2017, posteriormente revogado para o decreto de 17 de maio de 2018, instituindo a Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modelling no Brasil - Estratégia BIM BR, com a finalidade de promover um ambiente adequado ao investimento em BIM e sua difusão no País.

Segundo o Artigo 2º deste decreto, a Estratégia BIM BR tem os seguintes objetivos específicos:

I - difundir o BIM e seus benefícios;

II - coordenar a estruturação do setor público para a adoção do BIM;

III - criar condições favoráveis para o investimento, público e privado, em BIM;

IV - estimular a capacitação em BIM;

V - propor atos normativos que estabeleçam parâmetros para as compras e as contratações públicas com uso do BIM;

VI - desenvolver normas técnicas, guias e protocolos específicos para adoção do BIM;

VII - desenvolver a Plataforma e a Biblioteca Nacional BIM;

VIII - estimular o desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias relacionadas ao BIM; e

IX - incentivar a concorrência no mercado por meio de padrões neutros de interoperabilidade BIM.

O decreto foi sancionado recentemente, entretanto algumas ações no sentido de normatização da tecnologia BIM no Brasil já estão sendo feitas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) desde 2011.

O Grupo de Trabalho de Componentes BIM da Comissão de Estudo de Modelagem da Informação da Construção (ABNT/CEE-134) trabalha com o objetivo de padronizar os componentes BIM. Diferentemente do CAD, um modelo BIM não é formado por um conjunto de objetos, mas sim por um conjunto de componentes com informações e valores agregados. Uma porta não é apenas uma representação de linhas, mas um objeto repleto de informações que possibilitam a construção do mesmo. Assim, os fornecedores do setor poderão criar e disponibilizar os componentes dos seus produtos, já baseados em um padrão, garantindo que quaisquer profissionais que utilizem softwares normatizados possam incluir tais componentes em seus modelos. O escopo de trabalho desta comissão é criar uma normatização a fim de comprovar os benefícios da interoperabilidade entre os sistemas, elementos e componentes da construção.

A norma ABNT NBR 15965 - Sistema de classificação da informação da construção (ABNT, 2011), define a terminologia, os princípios do sistema de classificação e os grupos de classificação para o planejamento, projeto, gerenciamento, obra, operação e manutenção de empreendimentos da construção civil. Na prática, todos os termos utilizados na construção civil (materiais, equipamentos, serviços, espaços, unidades, etc.) foram padronizados e transformados em itens, facilitando a troca de informações entre agentes nacionais e internacionais. Todas as partes componentes da NBR 15956 apresentam a estrutura de classificação que define as informações (ou dados referenciados e utilizados durante o processo de criação e manutenção de um objeto construído) para aplicação na tecnologia de

modelagem da informação da construção, pela indústria de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC).

As partes 1, 2, 3 e 7 da NBR 15965 já foram publicadas, estando as demais em desenvolvimento. Em 2011 foi publicada a parte 1 (ABNT, 2011), que define a terminologia e a estrutura a ser utilizada; em 2012 foi publicada a parte 2 (ABNT, 2012), que aborda as características dos objetos da construção; em 2014, a parte 3 (ABNT, 2014), que tem por objetivo apresentar os processos da construção, para aplicação na tecnologia de modelagem da informação da construção, pela indústria de AEC; em 2015, foi publicada a parte 7 (ABNT, 2015), que aborda as informações da construção.

As normas brasileiras em desenvolvimento pela ABNT/CEE-134 visam organizar aspectos-chave para a adoção de BIM no país. A disponibilidade de um sistema de classificação de informações codificado padronizado, além de facilitar muito a implementação de vários usos de BIM, incluindo orçamentação, planejamento e suprimentos, também significa a remoção de uma barreira para viabilização do trabalho colaborativo na indústria da construção civil brasileira (CATELANI; SANTOS, 2017).

2.1.3 Interoperabilidade

Além da parametrização dos objetos contidos no modelo BIM, outra característica que define um modelo criado através desta metodologia é a troca de informações contidas nele entre diferentes softwares. A interoperabilidade entre diferentes programas é um dos principais conceitos da metodologia BIM. Este assunto também é abordado por Chuck Eastman (2014). Segundo o autor, a interoperabilidade é a habilidade de promover o intercâmbio de dados entre diferentes softwares de uma forma eficiente que vise aprimorar a automação. Além disso, relata que a necessidade de realizar cópias manuais toda vez que um modelo BIM mudasse de plataforma, desencorajaria interações durante a fase de projeto. E isso, consequentemente, prejudicaria a qualidade das soluções de projeto encontradas, levando a erros e gerando grande retrabalho (EASTMAN et al., 2014).

Essa comunicação também pode ser definida como um conjunto de tecnologias, processos e políticas, que permitem que várias partes interessadas possam, de maneira colaborativa, projetar, construir e operar uma edificação ou instalação.

Desta forma, a capacidade de dois ou mais sistemas trocarem informações e de usarem estas informações que foram trocadas é fundamental para o estabelecimento da tecnologia BIM (AZEVEDO, 2009). A imagem (Figura 6) a seguir, faz um diagrama para exemplificar a quantidade de fontes de informação diferentes que podem compor um modelo BIM.

Figura 8 - Diagrama fontes de informação que podem compor um modelo BIM.

Fonte: Graphitsoft.

O mais comum, é que esse tipo de compatibilidade aconteça entre softwares pertencentes a um mesmo desenvolvedor, devido às limitações encontradas pela concorrência de mercado. Dentre os desenvolvedores conhecidos no Brasil, o

melhor deles com o maior número de softwares compatíveis, viáveis e interface didática, é a Autodesk.

Todavia, com a comprovação da importância da interoperabilidade para a construção civil, empresas ligadas à tecnologia têm se aliado para coordenar o desenvolvimento de padrões internacionais dos arquivos. Assim ocorreu o surgimento da Aliança Internacional para Interoperabilidade (IAI), em maio de 1996. Em 2008, essa organização neutra e sem fins lucrativos, muda seu nome para Building Smart e cria o padrão de arquivo IFC (Industry Foundation Class ou Classe de Fundação da Indústria, em português), para compartilhar e trocar dados BIM em diferentes softwares (JÚNIOR, 2019).

Existem outros desenvolvedores como a Bentley Systems que é fornecedora de soluções de software BIM para engenheiros, arquitetos, profissionais geoespaciais, construtores e proprietários-operadores para o projeto, construção e operações de infraestrutura. Assim como a Autodesk, a Bentley possui produtos específicos para determinadas disciplinas. Seu portfólio tem um enfoque maior na área de infraestrutura. Porém seu uso ainda é pouco disseminado no Brasil, sendo menos acessível para download, o que acarreta a falta de acesso à informação, não sendo viável agregar esse desenvolvedor à pesquisa.

2.1.4 Vantagens e Limitações do uso do BIM no Urbanismo

Ainda existem muitos desafios a serem superados para que o BIM passe a ser uma unanimidade na indústria da construção. O conceito de Modelagem da Informação da Construção ainda é algo novo dentre os profissionais que trabalham no setor. Muitos ainda o consideram um sistema complexo e delicado, e também há a resistência à mudança, que para ser vencida, requer que os profissionais envolvidos no setor estejam com a mente aberta e dispostos a encarar novas tecnologias e novos métodos de trabalho. Todavia, apesar das dificuldades em sua implementação, as vantagens e os benefícios gerados através do BIM são excelentes e levam a AEC a um novo patamar de otimização de processos e eficiência.

A necessidade da engenharia atual para automação de processos e redução de custos e prazos é a principal impulsionadora do desenvolvimento da metodologia BIM. A redução do retrabalho com a diminuição de conflitos e mudanças durante

a fase de construção e o aumento da produtividade ainda na fase de projeto são qualidades importantes que favorecem a adoção desta nova metodologia de trabalho. Também, para se manterem competitivas em um mercado de grande concorrência como é o setor da construção como um todo, as empresas buscam por inovação a fim de ganharem mais eficiência e margem de lucro nos seus projetos e obras, desta forma a adoção de metodologias como o BIM vem a contribuir para o alcance deste objetivo. Assim como através da metodologia BIM é possível também, por parte das empresas estatais, aplicar de forma mais racional e econômica os recursos públicos envolvidos em um projeto (BRANDÃO, 2014).

Para a Arquitetura, os benefícios trazidos pela tecnologia BIM são numerosos, e ocorrem na sua utilização para a concepção e execução de projetos, compatibilização com projetos estruturais, execução em campo, gerenciamento de obras, entre outros.

Porém, quando a necessidade de utilização é no urbanismo, temos um impacto negativo em decorrência da indisponibilidade de objetos paramétricos que sejam fiéis à necessidade projetoal, ou seja, os elementos necessários, que não tenham o seu uso adaptado. Para exemplificar esse problema, pode-se tomar como exemplo a utilização de um software com essa tecnologia, mas que tenha sua função voltada para a construção de edificações. Os elementos constituintes da barra de ferramentas disponibilizados pelos softwares, são para a construção de paredes, portas e janelas e não de calçadas, meio fio ou sinalização. Em muitos casos, a ferramenta de piso é utilizada para dar forma a esses objetos. Essa adequação não é indicada, visto que foge dos princípios empregados no BIM.

Em 2012, uma pesquisa foi realizada pela Mc-Graw-Hill Construction com empresas que atuavam no segmento de empreendimentos relacionados à infraestrutura e que já inseriram o sistema BIM em alguns de seus projetos. As empresas foram questionadas sobre as principais vantagens da implantação do BIM em obras de infraestrutura, o percentual de aplicação do conceito pelo setor no período de 2009 a 2011, e a previsão de utilização em 2013. Na figura baixo, (Figura 9) apresenta-se o resultado dessa pesquisa:

Figura 9 - Benefícios da implantação do BIM em obras e sistemas de Infraestrutura.

Fonte: Mc-Graw-Hill Construction, 2012.

Segundo a análise do resultado feita por Raduns e Pravia em 2013, as obras que utilizam o conceito possuem uma redução de: 22% no custo de construção, 33% no tempo de projeto e execução do empreendimento, de 33% nos erros em documentos, 38% de reclamações após a entrega da obra ao cliente e 44% nas atividades de retrabalho. Verificou-se também o crescente desejo de ampliação da inserção do conceito BIM em obras de infraestrutura, como é visto no gráfico acima, que demonstra que em apenas quatro anos, a aplicação triplicou.

Mesmo sendo utilizado o conceito BIM, que muitas vezes é direcionado para empreendimentos verticais, a pesquisa realizada pela Mc-Graw-Hill Construction (2012), e analisada por Raduns e Pravia em 2013, demonstra a melhora visível nos resultados nos empreendimentos horizontais. Com uma melhor delimitação, adequação e difusão do sistema, os resultados podem ser ainda mais satisfatórios.

A Modelagem da Informação da Construção, portanto faz com que a indústria da construção baseada nos modelos atuais se direcione em relação ao progresso e evolução. Os projetos atuais baseados em dezenas de folhas de papel, desenhos em 2D e planilhas isoladas, irão com o BIM, evoluir para um patamar onde terão um fluxo de trabalho integrado e interoperacional, gerando, por conseguinte uma

maior comunicação entre as equipes e membros envolvidos nos processos (BRANDÃO, 2014).

Buscando sanar a dificuldade encontrada na inserção do BIM no projeto urbano, mais recentemente estabeleceu-se um novo termo: City Information Modeling (CIM), Modelagem da Informação da Cidade, em português, o qual visa transformar o modo como os planejadores urbanos lidam com os seus planos (AMORIM, A. L. D., 2015).

Stojanovski (2013) estabelece que o CIM é uma analogia ao BIM em urbanismo. É um sistema de elementos urbanos representados por símbolos em um espaço 2D e dentro de um espaço 3D. Ele também é concebido como expansão 3D do GIS enriquecido com vistas em vários níveis e múltiplas escalas, caixa de ferramentas de projeto e inventário de elementos 3D com seus relacionamentos (STOJANOVSKI, 2013.)

Desta forma, entende-se que o CIM seria equivalente ao conceito BIM para a projetação urbana. Mas embora Stojanovski (2013) conceitue desta maneira, sua visão explicitada no artigo “City Information Modeling (CIM) and Urbanism: Blocks, Connections, Territories, People and Situations” aproxima o CIM mais de um recurso para análise das complexas relações urbanas do que de um conjunto de ferramentas para a projeção e a gestão urbanas. Paradoxalmente, descreve uma situação muito mais próxima do GIS, que ele considera limitado para as aplicações urbanas, do que de uma visão de BIM, considerado por ele como mais adequado. Assim, ele não atenderia às necessidades do Arquiteto e Urbanista.

A pesquisa realizada pela Mc-Graw-Hill Construction (2012) aponta uma adequação do uso do BIM para a Infraestrutura, que é diretamente ligada à cidade. Logo, essa adaptação também pode ser realizada no Urbanismo, de modo a contribuir para o desenvolvimento e difusão da tecnologia CIM.

Com a utilização do software adequado, o processo de tomadas de decisões é facilitado através de uma melhor forma de visualização do projeto desde sua fase inicial, até o produto final, o que pode resultar em agregação de valor.

Uma das principais limitações da implementação do BIM está associada aos custos na aquisição, manutenção e aprimoramento das licenças de softwares, que

representam um gasto superior com relação ao método tradicional. Vale ressaltar que esse custo é equivalente às possibilidades que essa tecnologia apresenta.

2.2. A UTILIZAÇÃO DE PROGRAMAS COMPUTACIONAIS NO ÂMBITO DA ARQUITETURA E URBANISMO

Para que todos os objetivos desta pesquisa fossem cumpridos, foi necessário fazer um levantamento sobre a utilização de softwares, de modo a coletar o maior número de informações possíveis a respeito da difusão da tecnologia BIM dentro do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES.

2.2.1 A utilização de programas computacionais no âmbito da Arquitetura e Urbanismo

Fazer uso de tecnologias disponíveis é eficaz na concepção e desenvolvimento de projetos. Entretanto, no setor acadêmico, é eminente a diferença entre a quantidade de disciplinas teóricas em relação a quantidade de disciplinas que tendem a auxiliar na compreensão do espaço tridimensional, através de metodologias de ensino que abordem o uso ferramentas com inteligência computacional. Das 45 disciplinas obrigatórias que fazem parte do currículo do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFES, apenas 01 (Computação Gráfica para Arquitetura) é voltada para a computação. Além dessas, ainda são ofertadas disciplinas optativas, porém não são a mesma quantidade e mesmo foco em cada semestre, o que resulta no acúmulo de disciplinas do aluno caso o mesmo opte por garantir a participação na matéria.

A disseminação do uso dessas tecnologias se faz necessária à medida que as mesmas avançam. Um dos pilares desta pesquisa visa coletar informações quanto aos possíveis impactos que essa diferença pode gerar na formação do arquiteto urbanista. O outro, se baseia no conhecimento dessas tecnologias.

Para a realização do levantamento, adotou-se dois métodos como fonte para a obtenção de dados a respeito da formação acadêmica e a utilização de programas computacionais do profissional em questão. O primeiro por meio de um questionário online, devido à quantidade de pessoas a serem entrevistadas, e o segundo por meio de entrevistas presenciais. Ambos os métodos foram montados contendo questões discursivas e de múltiplas escolhas, sendo essas com foco para a obtenção de dados estatísticos. Já as questões discursivas foram utilizadas para

analisar opiniões individuais dos discentes e docentes que contribuíram para a realização desta pesquisa. Para a criação dos questionários, utilizou-se da ferramenta Google Docs. Tal ferramenta facilitou o envio dos questionários via email e auxiliou no agrupamento das respostas.

2.2.1.1 Aplicação de Questionário com os Alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo

A primeira metodologia abordada, realizada por meio de formulário online (modelo apresentado no Apêndice A), no período de 01 de novembro de 2018 a 05 de dezembro de 2018 obteve o retorno de 75 graduandos em arquitetura e urbanismo, sendo em sua grande maioria, alunos da UFES. Os questionamentos foram separados em duas seções, como mostra a tabela a seguir.

Tabela 8 - Grade de perguntas realizadas aos alunos no questionário.

O QUE BUSCOU SABER PERGUNTA NO QUESTIONÁRIO

Seção 01:

Dados pessoais e formação acadêmica

Seção 02:

Sobre o conhecimento da tecnologia BIM

1. Endereço de e-mail; 2. Nome Completo; 3. Se está de fato cursando Arquitetura e Urbanismo; 4. Período e Instituição de Ensino; 5. Quais softwares você costuma utilizar para conceber projeto de

ARQUITETURA e INTERIORES? 6. Quais softwares você costuma utilizar para conceber projeto de

URBANISMO e PAISAGISMO?

7. Atribua uma nota para a OTIMIZAÇÃO DE TEMPO de execução que esse sistema proporciona; 8. Atribua uma nota para a QUALIDADE GRÁFICA de produto final que esse sistema proporciona; 9. Ao utilizar um software com essa tecnologia, você costuma exportar para outros programas ou consegue executar todo o projeto dentro de uma mesma ferramenta? 10. Dentre os softwares que você conhece, qual possui uma interface mais didática?

11. Alguma vez já foi prejudicado por um programa computacional por insuficiência do mesmo? Em qual disciplina?

12. Acredita que o mercado carece de programas com essa tecnologia para determinadas áreas? Quais seriam? 13. Espaço para sugerir, relatar ou desabafar sobre o assunto abordado nesta pesquisa.

Fonte: A Autora, 2018.

Apresenta-se a seguir alguns gráficos quantitativos referentes às respostas obtidas nesta análise através das questões de múltipla escolha.

A primeira pergunta buscava descobrir qual o software entre os mais conhecidos no mercado é o mais utilizado entre os universitários para conceber projeto de arquitetura e interiores (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Software utilizado para conceber projeto de Arquitetura e Interiores.

Fonte: A Autora, 2018.

O resultado demostra que o software mais utilizado entre os estudantes na concepção arquitetônica é o AutoCad, software para representação gráfica comumente utilizado para execução de desenhos técnicos em perspectiva bidimensional. A extensão do seu arquivo (dwg) é compatível com a maioria das tecnologias.

O segundo questionamento também buscou descobrir qual o software entre os mais conhecidos no mercado é o mais utilizado entre os universitários, mas dessa vez, para conceber projeto de urbanismo e paisagismo (Gráfico 2).

O resultado obtido demostra que o software mais utilizado entre os estudantes para as disciplinas de urbanismo e paisagismo também é o AutoCad. Este resultado pode ser observado abaixo.

Gráfico 2 - Software utilizado para conceber projeto de Urbanismo e Paisagismo.

Fonte: A Autora, 2018.

A terceira pergunta, foi sobre como aprendeu utilizar os estes softwares, citados anteriormente. O resultado obtido constata que mais da metade dos entrevistados aprendeu a utilizar esses programas apenas assistindo vídeo-aulas disponibilizadas na internet, como demonstra o gráfico (Gráfico 3) a seguir.

Gráfico 3 – Forma de aprendizagem dessas ferramentas.

Fonte: A Autora, 2018.

A quarta pergunta focou na tecnologia BIM. Essa pergunta consiste em atribuir uma nota de 0 a 10 quanto à otimização de tempo que programas com essa tecnologia podem oferecer (Gráfico 4).

Gráfico 4 – Atribuição de nota para otimização de tempo ao utilizar ferramenta BIM.

Fonte: A Autora, 2018.

O resultado obtido constata que aproximadamente 27% dos entrevistados atribuem uma nota 8 à otimização de tempo dessa plataforma. Vale ressaltar que nenhuma pessoa atribuiu um valor inferior a 5 pontos, o que pode ser considerado uma pontuação positiva em uma escala de 0 a 10. A mesma análise foi realizada na quinta questão, entretanto a pergunta se baseava em analisar a qualidade gráfica do produto final, como pode ser visto abaixo (Gráfico 5).

O resultado obtido nessa seção constata que 45% dos entrevistados atribui nota 9 à qualidade gráfica do produto final de projetos concebidos em softwares BIM.

Gráfico 5 - Nota para Qualidade Gráfica do produto ao utilizar ferramenta BIM.

Fonte: A Autora, 2018.

Mantendo o foco na tecnologia BIM supramencionada, a próxima pergunta procurou levantar a utilização de mais de um software para concepção de projetos conforme apresenta o Gráfico 6:

Gráfico 6 - Quantidade de Softwares que utiliza para desenvolver um projeto.

1,4%

17,8%

80,8%

Fonte: A Autora, 2018.

O resultado obtido aponta que 80,8% das pessoas entrevistadas, mesmo que façam uso de pelo menos um software com tecnologia BIM, ainda assim utilizam dois ou três softwares diferentes para a concepção e finalização dos mesmos, apontando uma possível insuficiência dessas tecnologias ou excesso de demanda que provêm para a concepção de arquitetônica, urbanística ou paisagística.

A última pergunta abriu espaço para coletar depoimentos com intuito de chamar atenção para essa problemática que é vivenciada no meio acadêmico. A opinião de membros externos é uma rica contribuição para o desenvolvimento dessa pesquisa. Os nomes foram mantidos em sigilo para resguardar a opinião dos respondentes. Sendo assim, destacam-se a seguir:

(...) o fato desse software "perfeito" para PU não existir nos faz perder muito tempo pulando de um programa para outro para conseguir completar um projeto. Existem muitos programas que funcionam como meios de conceber um projeto urbano, mas como não foram feitos especialmente para isso acabam não tendo uma boa otimização (em vários aspectos) (ANÔNIMO A, 2018).

(...) o que não é o caso do Revit / Archicad que foram feitos e pensados especialmente para projetos arquitetônicos e por isso oferecem um conjunto completo de ferramentas capazes de auxiliar o projeto do início ao fim, sem precisar de auxilio de outros softwares para a conclusão de um projeto (isto é, quando a pessoa sabe utilizá-los direito) (ANÔNIMO B, 2018).

(...) acredito que essas carências de ferramentas computacionais adequadas para projetos urbanos contribuem muito para que os estudantes se interessem cada vez menos pela área de projetos urbanos, visto que o contato com a produção gráfica desses trabalhos sempre oferece obstáculos cansativos e desmotivantes. E a indiferença e falta de empatia dos professores sobre os percalços da disciplina só contribui para o aumento esse desinteresse (ANÔNIMO C, 2018).

(...) a falta de apoio da universidade, inclusive em relação à falta de computadores para os alunos, e a incompatibilidade de diferentes versões dos programas deixa tudo muito confuso e desorganizado (ANÔNIMO D, 2018).

(...) é notável que tais programas são fundamentais para que alguém consiga se formar como arquiteto. Cada vez mais é exigido dos alunos conhecerem e aprenderem como utilizarem os mesmos. No entanto, o acesso ao conhecimento de como usá-los ainda é um pouco negligente vindo das instituições de ensino (ANÔNIMO E, 2018).

(...) acho que deveriam ter mais aulas para aprender a utilizar esses programas, porque as aulas que temos na faculdade ou não ensinam nada ou não ensinam o suficiente (ANÔNIMO F, 2018).

(...) acho que deveria haver um melhor ensino desse sistema nas universidades, uma vez que está sendo cada vez mais utilizado e os cursos externos são extremamente caros e demandam um tempo que um estudante de arquitetura geralmente não possui (ANÔNIMO G, 2018).

(...) estou fazendo a disciplina de urbanismo 3 nesse semestre (2018/2) e me deparei mais uma vez com a dificuldade de executar um projeto urbanístico sem retrabalho (ANÔNIMO H, 2018).

(...) descobri recentemente a existência do programa Infraworks, que ainda não utilizei, mas parece ser de grande utilidade para essa área (ANÔNIMO I, 2018).

(...) quanto aos demais programas, me pego na dificuldade de sempre, de precisar realizar um diagrama em um programa, idealização em outro, implantação do projeto em um terceiro. Atualmente o que tem melhor me atendido é o SketchUp, através de plug-ins consigo resolver várias questões. Só que o programa deixa muito a desejar nessa disciplina também, por não ser voltado para isso acaba apresentando muito gargalo em projetos de maior complexidade. Até dá para fazer o que se precisa, à custa de muito estudo por vídeo aulas e alguns vírus no computador de tanto baixar os tais plug-ins (ANÔNIMO J, 2018).

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