Arquiteturas em Terra Crua: Abordagens sobre Matéria e Território

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Jaqueline Duarte Orientação: Prof. Ms. Paulo Emilio Buarque Ferreira

Arquiteturas Em Terra Crua: Abordagens Sobre Matéria e Território

Trabalho Final de Graduação Arquitetura e Urbanismo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie 1/ 2018


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Dedico à Ana Carolina, ao Nyahn, ao meu pai, José Carlos, e à minha mãe, Rosana, que sempre me incentivou a “namorar” os cadernos.


5 Agradeço primeiramente a minha família, pelo apoio dado ao longo destes anos, sempre presente em todos os momentos importantes de minha vida, mesmo que eu não pudesse retribuir à altura, e que me fortalece para que consiga seguir meus caminhos; Aos meus amigos, os de longa data e também os que chegaram há pouco tempo, agradeço por compartilharmos alguns dos melhores momentos da minha vida, e por me abraçarem nos piores também; À Jéssica, Letícia, Patrícia e Thais, Agradeço pelas colegas de trabalho que hoje são amigas para a vida, e me ajudaram a suportar a maioria destes momentos; Àgradeço aos professores que me incentivaram a chegar até aqui, apesar de todas as reveses que o meio acadêmico impõe; Aos meus cachorros, que sempre me trazem alegrias e lealdade; Agradeço aos funcionários da Instituição que foram simpáticos e prestativos, Agradeço a Deus e aos Céus pela minha vida. Axé!


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Assim como os serviços de saúde, também os de educação são uma prova de como as instituições estão sendo centralizadas nas grandes cidades. A educação rural, na maioria dos países do nosso continente, desde o Canadá à Patagônia, tem sido abandonada à própria sorte. A escola rural tem sido tratada, na maioria dos casos, como imitação barata da escola urbana e o preconceitode que o caboclo não merece coisa melhor, parece prevalecer em todos os espíritos. (NEUTRA, 1948, p. 41)


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SUMÁRIO


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INTRODUÇÃO

pág. 12

1. HISTÓRICO DAS ARQUITETURAS DE TERRA E SEU DESENVOLVIMENTO NO ESTADO DE SÃO PAULO pág. 16 1.1 Breve Histórico das Arquiteturas de Terra 1.2 Paulo

pág. 17

Desenvolvimento das Arquiteturas de Terra no Estado de São pág. 20

1.3 Mogi das Cruzes [A Matéria No Território] Diretrizes de Implantação 2. SISTEMAS CONSTRUTIVOS EM TERRA CRUA

pág. 30 pág. 36 pág. 50

2.1 Taipa de Pilão

pág. 51

2.2 Taipa de Mão/ Pau-a-pique

pág. 56

2.3 Adobe

pág. 58

2.4 Cob

pág. 61

2.5 Pães de Barro

pág. 62

2.6 Terra Ensacada

pág. 63

2.7 Tijolo de Solocimento

pág. 65

[Matéria No Território] Sistema Construtivo

pág. 69

3. DIÉBÉDO FRANCIS KÉRÉ: ARQUITETURA TRADICIONAL E TECNOLOGIA pág. 74


10 [Matéria No Território] Programas/ Sistemas Estruturais E Bioclimáticos pág. 86 4. DESAFIOS DA IMPLANTAÇÃO DE ARQUITETURAS DE TERRA NA CONTEMPORANEIDADE pág. 94 4.1 Canteiro Experimental

pág. 97

4.2 Joan Villà: Moradia Estudantil da Unicamp e os Sistemas Pré-Fabricados pág. 99 4.3 Tomaz Lotufo e a Comunidade: Uma Nova Escola para Guiné Bissau pág. 103 4.4 Renzo Piano: Hospital Pediátrico em Uganda e salubridade das paredes de terra crua pág. 108 4.5 Solano Benítez e as possibilidades do tijolo: Centro de Reabilitação Infantil da Teletón pág. 116 [A Matéria No Território] Tentativas e Erros

pág. 122

Lista de Figuras

pág. 130

Referências Bibliográficas

pág. 138

Anexos

pág. 150


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INTRODUÇÃO


13 São denominados sistemas em terra crua os sistemas construtivos que utilizam a terra como base de sua composição. Porém, diferentemente dos tijolos cerâmicos, eles dispensam a queima, são geralmente secos à sombra e em temperatura ambiente. Os principais exemplos são a Taipa de Pilão, a Taipa de Mão, popularmente conhecida como Pau-a-pique, o Adobe e, mais recentemente, os Tijolos de Solocimento. Foram bastante utilizados em diferentes partes do mundo, mais especificamente nos locais em que a terra era um recurso abundante , ou seja, era considerada um material local . Isto facilitava o processo de transporte e demais custos envolvidos neste processo. Com o advento da industrialização, no entanto, a popularidade das construções em terra crua reduziu consideravelmente, o que era considerado artesanal deu lugar às produções seriadas e mais rápidas, além da possibilidade de se adotar soluções consideradas importadas, ou seja, que usam maciçamente areia, concreto, vidro e aço, nem sempre disponíveis no ambiente de construção. Esta mudança apesentou-se bastante eficiente, sendo utilizada até os dias atuais, mas não resulta necessariamente em edificações de melhor qualidade, principalmente quando se trata de países em que estes materiais não são abundantes, já que, além de demandar gastos com o transporte dos materiais importados, sua eficiência ambiental, sobretudo térmica e acústica é comprometida. Além disso, o uso demasiado desses materiais tem resultado em um processo de esgotamento, devido às fontes não renováveis na natureza. De forma paralela, cresce a procura por sistemas considerados não convencionais e que remetem ao papel social da arquitetura com o intuito de otimizar recursos e causar menor impacto ambiental. Os sistemas em terra crua, nesse contexto, têm voltado a ganhar espaço no âmbito da construção civil, com destaque para os países em desenvolvimento, onde os sistemas importados, além de dispendiosos, podem


14 provocar patologias como, por exemplo, aquecimento do ambiente pelo uso de materiais que absorvem calor, que conduz ao uso de equipamentos de ventilação mecânica, que também geram gastos e podem contaminar o ambiente com poeira e íos que afetam a qualidade do ar. O objetivo da pesquisa, nesse contexto, consiste na abordagem dos sistemas construtivos em terra crua, sob dois aspectos: - A terra enquanto matéria, ou seja, investigações sobre o uso do material, técnicas envolvidas, formas de aplicação, bem como sus limitações e potencialidades; - A terra enquanto território, ou seja, os desdobramentos no espaço físico, bem como as implicações que pode trazer, tanto sob o aspecto social quanto ambiental. A partir dessa análise, apresento, como proposta de síntese da matéria no território, o projeto de uma Escola de Pesquisa, Tecnologia e Capacitação em Arquiteturas de Terra Crua, com vistas a fomentar a retomada da adoção desses sistemas a partir da qualificação profissional, considerando que seu ensino foi preterido ao longo do tempo, além do incentivo à pesquisa de qualidade do material e de meios de potencializá-los no meio contemporâneo. Visa-se também que o projeto atue como uma Escola-Canteiro, de forma que o ensino e a prática estejam correlacionados neste processo. Não existe a intenção de abordar um sistema como o melhor ou o único, pois cada um deles apresenta suas limitações e benefícios. A proposta visa à adoção de culturas construtivas de acordo com as peculiaridades dos materiais e dos locais em que estão inseridos, como alternativa à forma generalizada, recorrente nos dias atuais. A pesquisa inicia-se com o histórico das construções de terra no contexto mundial, por que são consideradas tradicionais e como se desenvolveram no estado de São Paulo, paralelamente ao seu desenvolvimento urbano-industrial e as tipologias adotadas em cada fase. A terra era abundante em São Paulo e o acesso a materiais como


15 a pedra era inviável pela dificuldade de transpor a Serra do Mar. Segue-se com a análise deste desenvolvimento de forma mais aproximada, no Município de Mogi das Cruzes, situado na Região Metropolitana de São Paulo, onde estas arquiteturas, assim como na capital, manifestam-se atualmente como patrimônio histórico. Além disso, são analisadas as possibilidades de implantação do projeto em seu território. A seguir, são apresentados os principais sistemas construtivos de terra crua, com foco nas propriedades materiais de cada um deles, formas de aplicação e conservação, bem como suas limitações e potencialidades, considerando a viabilidade de adotá-los no contexto contemporâneo e no projeto desenvolvido. O terceiro capítulo apresenta uma breve pesquisa sobre Diébédo Francis Kéré, arquiteto contemporâneo que tem adotado estratégias de conciliação entre arquitetura tradicional e recursos tecnológicos no processo construtivo de projetos desenvolvidos principalmente no continente africano, com destaque para Burkina Faso, seus país natal. Discute-se também como incorpora conceitos bioclimáticos e trabalho coletivo, desde a fase de projeto até sua concretização, e como podem ser aplicados em projetos educacionais. O quarto e último capítulo apresenta desafios que podem acometer a adoção de sistemas em terra crua e também de tijolos cozidos, sob a ótica da arquitetura experimental e da relevância do canteiro. A partir disso, são apresentados estudos de casos de obras contemporâneas e como os arquitetos adequam suas obras às demandas dos projetos. São destacadas questões acerca de pré fabricação, participação comunitária, salubridade das edificações e apropriação da técnica da modulação em alvenarias de tijolos.

Por fim, espero proporcionar uma Boa Leitura!


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Histรณrico Das Arquiteturas De Terra E Seu Desenvolvimento No Estado De Sรฃo Paulo


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1.1 Breve Histórico das Arquiteturas de Terra

>Nas imagens abaixo, é possível ver alguns monumentos históricos construídos com terra, total ou parcialmente. Da esquerda para a direita: Figura 1 - Cidade de Bam. Figura 2 - Muralha da China. Figura 3 - Pirâmide do Sol.

Os sistemas construtivos à base de terra existem há pelo menos 9000 anos. Foram encontrados, inicialmente, no Oriente Médio, mas, segundo Gernot Minke, a terra foi utilizada para estes fins em todas as culturas antigas, sendo algumas cidades erguidas quase inteiramente desta forma, como na cidade de Bam, no Irã (Figura 1) (MINKE, 2015, p. 13). Alguns monumentos conhecidos mundialmente também levam terra em sua composição, como a Grande Muralha da China e a Pirâmide do Sol, no México (Figuras 2 e 3). Este sistema também foi predominante em regiões de clima quente, árido e temperado. Na África, a maioria das mesquitas foi construída com terra, enquanto, na Europa, o pau-a-pique foi uma das técnicas mais usadas, sendo o exemplar mais antigo o encontrado na Alemanha. Quanto à América, foi verificada em quase todas as civilizações pré-colombianas. Acredita-se que a técnica de taipa chegou à América por meio dos colonizadores espanhóis (MINKE, 2015). Ainda hoje, se considerarmos a população mundial, sistemas em terra correspondem a um terço das construções


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e, nos países em desenvolvimento, à metade delas (Figura 4). No Brasil, existem igrejas e outras edificações de mais de 300 anos1. (Figuras 5.1 a 5.8) Dessa forma, este material e as técnicas adotadas podem ser considerados tradicionais, pois são característicos dos locais em que se aplicam, ou seja, permanecem no tempo, sendo transmitidos através de gerações, além de estabelecer uma identidade cultural e geográfica. Rubenilson Teixeira, ao estudar sobre a arquitetura vernacular, considera estas técnicas como autóctones2 e afirma não existir um consenso sobre sua definição, mas sintetiza-a como:

1  Ver “Linha Do Tempo” na página 35 2  Segundo Dicionário Aulete Digital, Define-se como AUTÓCTONE aquilo que é natural do país em que habita e descende das raças que sempre ali habitaram. Ex.: Um povo autóctone, Flora Autóctone. Origem: gr. Autokhthon (de autos, próprio e khthon, terra), pelo lat. Autokhthon, onis. (Dicionário Aulete Digital, 2018)

>Acima: Figura 4 - Mapa de Arquiteturas de Terra pelo mundo (CraTerre).


19 Uma arquitetura tradicional, resultante do desenvolvimento histórico de um determinado povo. Ela prescinde tanto do arquiteto como do projeto, na sua concepção contemporânea. Não cabe nas classificações estilísticas da arquitetura convencional. Origina-se ou é mais frequente em área rural. Respeita e se adapta bem às diversas limitações tecnológicas e físico ambientais. A tecnologia é autóctone, primitiva, rudimentar, quando comparada à tecnologia formal. Ela permite variações ao nível da língua, mas não da palavra. A arquitetura vernacular é fundamentalmente a expressão de um povo, e, portanto, um ato cultural. (TEIXEIRA, 2017, p. 1). >Acima: Figura 6 — Casa antiga de Nubia, Egito >Abaixo: Figura 7 — Mesquitas no Cairo, Egito. Detalhe para abóbadas.

Hassan Fathy defendeu o resgate da arquitetura egípcia tradicional (Figura 6), sobretudo nas zonas rurais, pois considerava dispendioso o uso de materiais importados e genéricas, por vezes ineficientes, as diretrizes arquitetônicas adotadas para essas regiões. Segundo ele, “uma inovação deve ser uma resposta profundamente pensada a uma mudança de circunstâncias e não algo gratuito”. (FATHY, 1980, p. 39). Considerava também que a qualidade das construções não depende somente do material, mas da forma como é aplicado, e esta qualidade não deve se ater só às classes mais altas. Tanto a casa do “proprietário da terra” quanto a “casa do camponês” pode proporcionar “beleza e conforto” a seus usuários (Ibidem, p. 17). Ademais, Fathy justifica o uso de métodos tradicionais no contexto da arquitetura moderna de acordo com a qualidades estruturais e estéticas do material, neste caso, o adobe. A abóbada (Figura 7), por exemplo, foi um dos elementos mais utilizados na história da arquitetura egípcia, talvez antes mesmo dos romanos. Além de resistente, sua forma parabólica ajusta-se ao diagrama de momento fletor e permite que o material trabalhe sob compressão, já que os tijolos de adobe não podem sofrer flexão, nem torção. O arquiteto ressalta, com isso, a importância de atentar-se à história contada pela arquitetura, como pertinente ao progresso cultural de uma comunidade, e não contrária a ela.


20 O arquiteto não deve supor que suas qualidades artísticas serão sufocadas, caso ele caminhe dentro da tradição da sua cultura. Longe disso, elas se expressarão em contribuições relevantes à tradição e concorrerão para o avanço da cultura de sua sociedade. (ibidem, p. 42).

1.2 Desenvolvimento das Arquiteturas de Terra no Estado de São Paulo No Brasil, o desenvolvimento das tipologias arquitetônicas está diretamente ligado aos modelos socioeconômicos vigentes. Carlos Lemos, nesse ínterim, divide a história arquitetônica brasileira em cinco momentos: o primeiro, do século XVI ao XVIII (descoberta do ouro); o segundo, do ciclo do açúcar e do tropeirismo; o terceiro, dos Mineiros, posterior ao ciclo do ouro; o quarto, do Litoral, em que prevaleceu o cultivo de arroz; e o quinto, do início do período cafeeiro, antecessor ao ecletismo. Nota-se que, nessas fases, apesar das mudanças características de cada uma delas, todas seguem ligadas ao uso de materiais locais e ao “saber-fazer” tradicional. A presença mais nítida das construções de terra crua no Brasil corresponde ao período colonial, ou seiscentista, caracterizado pelo bandeirismo, destacando-se São Paulo. Carlos Lemos, no livro “Casa Paulista”, considera arquitetura vernacular, ou tradicional, aquela cujo “saber-fazer” se aperfeiçoa conforme o domínio dos recursos naturais e é alheia a influências de culturas estrangeiras. Dessa forma, a técnica construtiva e o programa desenvolvem-se juntos, é criada uma relação entre a construção peculiar e o modo típico de construí-la, e a residência acaba por desempenhar funções de proteção e de imposição cultural. (LEMOS, 1999).

>A Casa de Reza (Figura 8), localizada no Jaraguá, apesar de contemporânea, mantém algumas características tradicionais, como uso da palha e aberturas na parte superior.

Figura 9.2—Plantas. Casa do Padre Inácio (MAYUMI, 2008. Adaptada)


21 Lemos ainda considera como arquitetura tradicional do Brasil aquela praticada pelos indígenas, com madeiras roliças fincadas no chão, planta de forma abobadada, predominância de linhas curvas, estrutura recoberta de palha, considerada eficiente para o isolamento térmico, pequenas aberturas, sistemas superiores de ventilação. A combinação destas características resultava em uma oca escura (Figura 8), porém fresca e salva dos mosquitos, sendo, dessa forma, favorável ao ecossistema tropical.

Figura 8—Casa de Reza da Aldeia Itakupé (Face Oeste). Foto: Patrícia Juvenal (2017)

Figura 9.1—Casa do Padre Inácio (MAYUMI, 2008. Adaptada)

No século XVII, ou chamado período seiscentista, houve um sincretismo técnico-construtivo após a invasão dos ibéricos, desenvolvendo-se assim uma arquitetura do mameluco. A taipa de pilão foi a mais popular devido à escassez de pedra para produção de cal, inviabilizando outras alvenarias em geral, bem como a dificuldade no transporte de madeira, devendo então ser poupada. A taipa de pilão já era uma técnica praticada pelos ibéricos, e que se acredita ser originária da África Setentrional, pelos mouros. (PISANI, 2006). Houve, a partir deste sincretismo, algumas modificações na arquitetura de modo geral, sobretudo nas casas deste período. Enquanto no continente europeu a preocupação era de que o ambiente se mantivesse aquecido, com fogão no centro da construção; por exemplo, no Brasil tencionava-se um ambiente mais fresco, com pátios sombreados e ventilação cruzada, a partir de varandas com treliças, portas gradeadas e divisórias baixas (Figuras 9.1 e 9.2). Acredita-se que estas so-


22 luções possam ter origem na configuração das edificações do planalto de Andaluzia, cujo clima aproxima-se do africano. A configuração geral da casa, até o período do ecletismo, era basicamente de um ambiente dividido em social (público) e privado, por meio de um corredor chamado comumente de alpendre. Essa divisão era oriunda da reclusão feminina, verificada também na cultura árabe.(Figura 10). Quanto à técnica construtiva, a taipa de pilão, em São Paulo, foi a solução mais viável e barata na ocasião. Vale ressaltar que no litoral isto não ocorreu da mesma forma, pois não havia terra argilosa apropriada para este fim, obtinha-se, nesse caso, pedras e cal a partir de um mineral extraído dos sambaquis. Adquiriu, no entanto, características próprias, como por exemplo a “parede que nasce dentro da própria terra”, sem prévia fundação de pedra, como se fazia na Península Ibérica, o que colaborava para a insalubridade dos ambientes em razão da erosão e da infiltração de água consequente da umidade natural do solo. (LEMOS, 1999, p. 41). Além disso, não havia ainda um desenvolvimento técnico apurado, predominavam paredes e ângulos retos (foram encontradas paredes curvas somente em alguns moinhos de Portugal), muros contínuos resistentes à compressão, evitavam-se elementos sujeitos a esforços, como redes, chaminés e colunas, as janelas e portas eram diminutas e afastadas, além da predominância de cheios e de vazios nas modenaturas das fachadas (Figuras 11.1 e 11.2). Os paulistas, do período seiscentista à metade do século XIX, tornaram-se referência, em âmbito nacional, no manejo da taipa de pilão, em alguns documentos eram inclusive ironizados, pelo uso por vezes desmedido, com terra inapropriada. A Taipa de mão, ou de sebe, tornou-se mais frequente a partir da era do açúcar no período setecentista, graças às melhorias no transporte da madeira e na própria técnica, refinada após o terremoto de Lisboa, em 1775, com o advento das

Figura 10 — Tipologias de Casas Bandeiristas. (MAYUMI, 2008. Adaptada)


23 gaiolas e da influência do modus faciendi dos africanos escravizados, chamados, por essa razão, de “negros tapanhunos”. (LEMOS, 1999, p. 42). A madeira também foi implementada paulatinamente, podendo ser dividida em dois momentos: o primeiro, no período colonial, em caráter experimental e com desperdício de material, e o segundo, na era cafeeira, com uso racional, respeitando-se suas propriedades de resistência mecânica (flexão, tração e compressão). A canela-preta era considerada a melhor madeira para carpintaria e marcenaria, dado que “ficou conhecida como indicadora de uma persistência cultural na arquitetura paulista colonial” (LEMOS, 1999, p. 44) Quanto ao partido arquitetônico, a casa bandeirista configurava-se em um complexo unifamiliar colonial paulista, cujo programa era fragmentado em várias unidades, sendo o centro de interesse a casa da família, em local que permitisse observar todas as atividades. Situavam-se próximas a nascentes ou ribeirões, mas salvos de enchentes, acomodados conforme as curvas de nível e cercadas “por uma calçada de pedras irregulares também catadas [sic] aqui e ali, nunca pedras aparelhadas”. (LEMOS, 1999, p. 47). A casa era compacta, com planta quadrada ou retangular, com um “alpendre frontal”, e coberta por telhado geralmente de quatro águas. Os telhados apresentavam estrutura simples. No caso de duas águas, a cumeeira era apoiada no oitão, em geral de pau-a-pique, não de taipa de pilão, pois não se costumava usar este sistema com arremate inclinado. No caso de quatro águas, como na casa do Padre Inácio, havia um requinte maior. As peças inclinadas encontravam-se num esforço de compressão na cumeada e formavam arestas divisórias dos panos triangulares. Luís Saia considerou a casa do Padre Inácio como exemplar “puro” da casa bandeirista - de planta quadrada, com apenas um corredor, intermediário entre público e privado, sala central, quarto de hóspedes e capela divididos por um alpendre


24 frontal, e cobertura piramidal de quatro águas. Mencionou, também, a planta de Palladio (Figura 12) como possível influenciadora da arquitetura roceira bandeirista, considerando que foi analisada, também, em outras colônias ibéricas, como Paraguai, Colômbia e Texas. Não era, contudo, a única, já que a simetria era comum a outros modelos. Observa-se que “Na arquitetura brasileira teria sido a primeira manifestação onde uma apropriação assumiu feitio regional ligado a uma sociedade segregada”. (LEMOS, 1999, p. 64). Com o advento do período do açúcar, não houve alterações significativas no programa, senão a introdução do engenho de açúcar, planejado com vistas à industrialização. As construções continuaram pulverizadas no espaço. No litoral, no entanto, a casa e o engenho eram conformados sob o mesmo telhado. Não houve interesse, por parte dos colonos, que a cultura construtiva dos escravizados negros fosse assimilada. Os espaços público e privado ainda eram segregados pelo alpendre, que se transformou em sala de receber. O corredor dos fundos permaneceu, configurando a varanda, adotada até os dias atuais. (Figura 13) Quanto à técnica construtiva, a taipa de pilão ainda era a mais recorrente, acompanhada do aumento de construções em taipa de mão. Apesar da popularização do tijolo no período cafeeiro, a taipa de pilão estendeu-se à atualidade, no “Vale Paraíba e à volta de São Paulo”. (LEMOS, 1999, p. 125). Quanto ao partido arquitetônico, houve, em suma, um aprimoramento nos acabamentos, influenciado pela cultura mineira. O pé-direito ficou mais alto, as vergas foram recurvadas, adotaram-se colunas de seção circular, vidraças de guilhotina, assoalhos elevados em relação à taipa, para aeração inferior das tábuas, além

Figura 11.1 — Sítio da Ressaca. Foto de Tiago Sala. (2007)

Figura 11.2 — Planta. Sitio da Ressaca

Figura 12 — Planta. Villa Rotonda. Andrea Palladio (sec. XVI)


25 dos telhados de prolongo, formando rincões ou água-furtada3 (Figura 14). Segundo Carlos Lemos, “coexistiram vários partidos arquitetônicos tradicionais bandeiristas e trazidos pelos mineiros - variedade advinda, antes de tudo, da introdução de novos critérios construtivos”. (LEMOS, 1999, p. 127).

Figura 13 — Sede da “Chácara do Quinzinho”. Exemplo de Casa do Período do Açúcar (LEMOS, 1999)

Água Furtada

Beiral Empena/ Oitão

Testeira

Chegou também o ecletismo, antecedido por novos equipamentos da habitação advindos da Revolução Industrial, que também gerou outros níveis de conforto pela racionalização de procedimentos da vida cotidiana. (LEMOS, 1999, p. 133).

Cumeeira

Água

O período cafeeiro em São Paulo, introduzido pelo Vale do Paraíba, foi cvonsiderado um divisor de águas, tanto para o cotidiano quanto para a arquitetura. A “colônia pobre e caipira” passou a “província riquíssima”, as “soluções paravernaculares bandeiristas” foram substituídas por “construções inspiradas pelo gosto europeu”, e o “útil” deu lugar ao “fútil”. Houve mudanças significativas nas relações entre o “saber-fazer” local e os recursos oferecidos pelo meio ambiente, em principal após a implantação das estradas de ferro:

Espigão

Figura 14 — Elementos de um Telhado. (Autoria Própria)

As mudanças referidas aconteceram “de dentro para fora”. Foi inserida uma variedade de mobiliários, de equipamentos elétricos, sobressaindo a iluminação artificial. A substituição da taipa pelos tijolos cozidos e demais manufaturados foi efetivada após o ecletismo. Apesar dos novos métodos construtivos, a estética e a volumetria aplicadas ainda eram característicos da taipa de pilão. (LEMOS, 1999, p. 134). Quanto às técnicas construtivas, houve a fusão de mais de um “saber-fazer”, 3  A água-furtada, também conhecida por calha ou “rincão, é o elemento inclinado que recebe as águas que caem sobre o telhado. É resultante do encontro de duas águas que delimitam uma aresta e formam um ângulo reentrante. (CDA - Colégio de Arquitetos)


26 tanto de imigrantes quanto de mineiros e de fluminenses principalmente, como por exemplo o aperfeiçoamento da carpintaria e das estruturas autônomas de madeira. A taipa, em São Paulo, passou a ser acompanhada de outras técnicas, como o adobe, quando não era encamisada, de modo a simular os tijolos cerâmicos. Foram encontrados, no entanto, taipeiros em atividade ainda na década de 1870, nas regiões de Mogi das Cruzes e do Vale do Paraíba. As técnicas fluminenses utilizavam alvenaria de pedra com mais frequência, na medida em que se obtinha cal a partir da calcinação de conchas, mas que nem sempre eram de boa qualidade para esse fim. Quanto ao partido arquitetônico, a distância entre as aberturas foi reduzida, portas e janelas passaram a receber ornamentos e bandeiras de meio círculo, adotou-se a simetria nas fachadas e nos pisos assoalhados. (Figura 15)

Figura 15 — Sobrado Aguiar Valim, Bananal. Exemplar de casa do período cafeeiro (LEMOS, 1999)

No período do ecletismo, além dessas mudanças, houve uma preocupação com a salubridade e com o conforto, visando a melhorias na habitabilidade do espaço arquitetônico, como o fim de compartimentações centrais e sem ventilação (Figura 16). As edificações, à maneira francesa dos planos de Haussmann, foram afastadas das divisas dos lotes, cujas dimensões conduziram à mudança do alpendre para um jardim lateral. Nas casas, as zonas passaram a ser interdependentes, dispensando-se os cômodos de passagem obrigatória e dando lugar aos vestíbulos, atualmente denominados por hall. Vale ressaltar que estas mudanças foram mais expressivas na classe alta, e a taipa passou a ser vista com certa discriminação. Nas classes média e baixa, preservaram-se os costumes anteriores, e ambos foram paulatinamente substituídos pelas ideias modernistas a partir dos anos 1930. Aos poucos, as construções em taipa, ao passo que foram substituídas por sistemas e materiais importados, como o tijolo cozido, o concreto e o aço, começaram a adquirir importância enquanto patrimônio material. Em 1937, durante o governo de Getúlio Vargas, foi inaugurado o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Na-

Figura 16 — Exemplo de palacete paulistano projetado por Ramos de Azevedo no final do século XIX (LEMOS, 1999)


27 cional (IPHAN), originalmente chamado de SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), sob os cuidados de Luís Saia e Nuto Sant´Anna. Era de interesse, tanto dos modernistas quanto do Estado Novo, estudar as casas bandeiristas. Enquanto no Estado Novo se exaltava a figura do bandeirante como significativa para o progresso, defendido como um lema deste regime, os arquitetos tentavam relacionar o moderno ao colonial, como fez Lúcio Costa em “Documentação Necessária”, ignorando quase dois séculos intermediários, correspondentes ao barroco, considerado por ele como um período de “desarrumação”. Um dos primeiros, ou o primeiro, a questionar essa conotação simbólica, foi João Capistrano Honório de Abreu, em 1907, destacando o extermínio de índios pelos bandeirantes que, por vezes, era justificado pelas missões jesuíticas. Neste contexto, ficou aos cuidados de Luís Saia e Nuto Sant´Anna a pesquisa sobre as casas bandeiristas, visando à caracterização e valoração destas, a partir da organização de um esquema geral das peculiaridades arquitetônicas do edifício, além da tentativa de atribuição de valor histórico e artístico ao monumento. O objeto central das pesquisas era o de restauração como intervenção concreta no monumento. (MAYUMI, 2008). As principais zonas estudadas foram o Vale do Paraíba, o Alto Tietê, litorais sul e norte, São Paulo e arredores. As construções foram divididas em três tipos: edificações religiosas (igrejas), edifícios civis (residências) e de arquitetura oficial (fortes, estações de trem, dentre outros). As casas bandeiristas foram originalmente chamada de “casas velhas”, e as casas rurais do Nordeste eram mais bem vistas que as rurais paulistas graças à posição social dos proprietários, apesar de as plantas serem semelhantes. Mário de Andrade também desenvolveu um trabalho relevante sobre a arquitetura civil de São Paulo. Ele não enxergava, contudo, necessidade de investigação


28 por um órgão nacional, pois não considerava seu valor artístico, tampouco histórico, enfatizando apenas a antiguidade4. De acordo com ele, “Descobrimos coisas espantosas, casas de bandeirantes e outras loucuras. E está claro que coisas bonitas também”. (MAYUMI, 2008, p. 30). Já Luís Saia buscava privilegiar esta arquitetura, sobretudo a arquitetura rural paulista. Em 1944, por meio da revista SPHAN nº 8, apresentou o levantamento de 12 casas e destacou, a partir destas, as seguintes constantes tipológicas (algumas já mencionadas): ·Planta regular ·Paredes de taipa de pilão ·Telhado de quatro águas ·Cobertura com telhas de canal ·Implantação sobre plataforma natural ou artificial à meia encosta, próxima a um riacho ·Alpendre junto à fachada principal, entre dois cômodos (capela e quarto de hóspedes) ·Planta organizada em três faixas (social, familiar e de serviço) a partir da fachada principal ·Depósito ou Sobrado na inclinação da cobertura (sótão) A partir disto, dividiu-se as tipologias em dois grupos: puro, que contemplava todas as constantes, como na casa do Padre Inácio, e tardio, sendo alguns conside4  Vale lembrar que algumas casas passaram aos cuidados do CONDEPHAAT, a nível estadual, a partir de 1968, e a partir de 1975 pelo DPH e pelo CONPRESP em 1985. (MAYUMI, 2008).


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rados degenerados pela mudança social e econômica. Mais tarde, desenvolveu outra classificação, desta vez de acordo com a qualidade dos materiais e das técnicas construtivas. A partir disso, verificou-se que as casas mais antigas eram construídas com mais apuro que as mais recentes (mineração em diante) devido à mão de obra mais qualificada e abundante. Destacou também alguns traços de técnicas elevadas, como no emprego de Taipa de melhor qualidade e de paredes mais delgadas, de paus roliços travando paredes internamente e do uso da canela-preta na carpintaria. Quanto à genealogia, enquanto Luís Saia defendia a influência Palladiana, Carlos Lemos considerava a origem autóctone (luso-indígena). Aracy Amaral apresentou um contraponto, trazendo também a relevância da influência hispânica. A documentação destes monumentos colabora para a preservação da história de São Paulo, que presenciou mudanças arquitetônicas e urbanísticas significativas em um curto período de tempo. Benedito de Lima Toledo compara esta história a um palimpsesto5, em que a escrita é apagada periodicamente para dar lugar a uma nova, nem sempre de qualidade superior. Ao contrário de cidades onde podemos fazer a “leitura” de sua história nos edifícios, o crescimento de São Paulo deu-se com o sacrifício do seu passado. Perdulariamente, ao invés de construir “ao lado”, construiu-se “em cima”. (TOLEDO, 1981, p. 120). (Figura 17).

5  Segundo Dicionário Aulete Digital, Define-se como PALIMPSESTO o “manuscrito

Figura 17—Evolução das tipologias, do sec XVII a 1930. (COSTA, 1937 apud SOMBRA, 2013)

sobre pergaminho que os copistas da Idade Média apagaram. para sobre ele traçarem nova escrita”. Em alguns casos, tem-se conseguido, a partir de técnicas artísticas modernas, fazer reaparecer as inscrições anteriores (Origem: palin (de novo)+psestos (raspado)).(Dicionário Aulete Digital).


30

1.3 Mogi das Cruzes O município de Mogi das Cruzes está localizado a cerca de 50 km da capital paulista. É limitado pela Serra do Itapeti (a norte), pela Serra do Mar (a sul) e cortado de leste à oeste pelo Rio Tietê que, nesta região, mantém seu curso natural (Figuras 18.1, 18.2 e 19). É o segundo maior município em área de Estado de São Paulo, perdendo apenas para a própria capital. Apesar disso, cerca de metade de sua superfície está em áreas de preservação ambiental. De 1531 a 1560, o território pertencia a uma sesmaria recebida pelo bandeirante Braz Cubas, que a utilizava como local de descanso e de exploração. Foi então povoada e elevada à condição de vila, denominada Vila de Sant´Anna de Mogy Mirim6, em 1º de setembro de 1611. Neste momento, o também bandeirante Gaspar Vaz já havia aberto a primeira estrada que a ligava à capital. Antes disso, esta comunicação era feita somente pelo Rio Tietê. (COMPHAP, 2018).

Figura 18.1 — Mapa de Localização de Mogi das Cruzes. (Google Maps)

O processo de urbanização de Mogi das Cruzes está intimamente ligado à sua localização, que pode ser considerada estratégica. No período do seiscentismo, servia de rota para a corrida do ouro e de local de descanso aos bandeirantes, que se guiavam pelo Rio Tietê. A partir do século XIX, se tornou um lugar favorável à ocupação, pela proximidade com a capital, neste momento já saturada, e pela proximidade com o litoral. Em 1875, foi inaugurada a Estrada de Ferro do Norte, com trecho entre São Paulo e Mogi. Encontra-se em operação até os dias atuais, sob os cuidados da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), por onde circula a linha 11 – Coral, 6  O nome “Mogi Mirim” também se refere a um rio homônimo e foi mais tarde substituído por “Mogi das Cruzes”. O Nome “Mogi” vem de origem indígena M´Boigy, que significa “Rio das Cobras”, em referência a um trecho do Rio Tietê. O nome Sant´Anna foi incorporado devido à padroeira da Vila. (Comphap, 2018).

Figura 19 — Rio Tietê (trecho em Mogi das Cruzes). (Autoria Própria, 2017)


31 a mais movimentada desta companhia (Figura 20). A abertura de vias importantes, como as Rodovias Presidente Dutra, Ayrton Senna (dos Trabalhadores) e Mogi Bertioga, também colaboraram para o movimento de pessoas nesta região. A agricultura também constitui um forte fator de crescimento, com destaque para a agricultura familiar. Junto de alguns municípios do Alto Tietê, Mogi compõe o chamado Cinturão Verde, além de ser um dos principais responsáveis pelo abastecimento da capital. Em 1953, o IBGE já apontava o município com a maior população do Vale do Paraíba e a 13ª do Estado, além de uma produção agrícola considerável, estimada em cerca de 364.000.000 cruzeiros, enquanto a industrial era de cerca de 765.000.000. (GRINBERG, 1961). Quanto ao sistema construtivo, predominaram as casas feitas de pau-a-pique, as igrejas de taipa de pilão e as coberturas de telhas cerâmicas. O município é favorável à implantação destes sistemas, considerando o solo de caráter argiloso nesta região. Estes sistemas mantiveram-se ainda no período cafeeiro, pois o café, nesta região, não obteve muito sucesso. Dessa forma, os sistemas industrializados e importados foram adotados de modo mais significativo a partir do século XX, quando cresceu o investimento em construção civil e as antigas chácaras foram loteadas, muitas delas dando lugar a conjuntos residenciais (ZAMAI, 2008) (Figuras 21.1 e 21.2). A construção da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) e de Braz Cubas (UBC), na década de 1970, também contribuiu para o fluxo de pessoas, em especial por meio do uso do trem, com a criação da Estação Estudantes, a última da Linha.

Figura 18.2 — Mapa de Mogi das Cruzes. (Web Busca)

Atualmente, segundo dados do IBGE, o Município Se mantém como o mais populoso do Alto Tietê, e o 4º maior PIB desta microrregião. Ao mesmo tempo que possui a 3ª maior população rural do estado, apresenta crescimento urbano gradativo, com aumento de condomínios fechados, que se espraiam para o entorno do distrito central, a maioria destes sendo de médio e alto padrão. (Tabela 1)


32 A cidade também apresenta caráter histórico, com patrimônio cultural protegido pelo COMPHAP - Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural, Artístico e Paisagístico de Mogi das Cruzes. Dentre os bens imateriais, destacam-se a festa do Divino Espírito Santo, as Congadas7 e outros (Figura 22). Dentre os bens materiais, destacam-se casarões e igrejas, sendo boa parte construídos em terra crua8. 7  Segundo o Portal Geledés, o “Congado é uma manifestação cultural e religiosa de influência africana celebrada em algumas regiões do Brasil.(...) originou-se na África no país do Congo, inspirando-se no Cortejo aos Reis Congos que era uma expressão de agradecimento do povo aos seus governantes. Ao receber a colonização portuguesa, vários africanos foram trazidos para o Brasil para serem escravos e acabaram trazendo esta tradição e mesclando com a cultura local.” (MOURA, 2009) 8  Ver “Linha do Tempo” na página 35 Figura 22 — Apresentação da Congada do Divino. (Autoria Própria, 2017)


33

>As imagens à esquerda mostram a o crescimento urbano do município em 20 anos.

Figura 21.1 — Vista Aérea de Mogi das Cruzes em 1939 (GRINBERG, 1961).

Figura 21.2 — Vista Aérea de Mogi das Cruzes na década de 1950. (GRINBERG, 1961).

Figura 20 — Planta da Área Central de Mogi das Cruzes em 1901. Destaque para a Linha Ferroviária. (GRINBERG, 1961. Adaptada)


34 Mogi das Cruzes

Posição (Ranking):

PIB per capita (2015): R$ 33.278,09

na Microrregião (Alto Tietê) - 4º no Estado de SP - 143º no País - 708º

Tabela 1 - Amostra de Domicílios segundo Tipo de material das paredes externas e Situação Domiciliar ( IBGE, Censo Demográfico 2010) Censo 2010 (IBGE Cidades)

Mogi das Cruzes (SP)

São Paulo (SP)

Novo Triunfo (BA)*

116.386

3.573.509

3.649

Alvenaria Revestida

100.399

3.852.862

3.114

Taipa Revestida

36

266

-

Taipa Não Revestida

5

967

19

Urbana Rural

107.831 8.555

3.545.601 27.908

1.794 1.855

Domicílios Particulares Permanentes Tipo de Material das Paredes Externas Situação Domiciliar

>*Segundo dados do IBGE (2015), o município de Novo Triunfo apresenta o menor PIB per capita do país (R$3.369,79)

Situação Domiciliar (Ranking)

Domicílios (Ranking) Taipa Revestida

no Estado de SP- 22º

Urbana

no País- 59º

no País- 1566º Taipa Não Revestida

no Estado de SP - 128º no País - 2585º

no Estado de SP- 15º

Rural

no Estado de SP - 3º no País - 56º


35

Linha do Tempo Arquiteturas de Terra em SP

Figura 5.7

Figura 5.5

Figura 5.3

Figura 5.1

Figura 5.8

Figura 5.4

Figura 5.2

Figura 5.6


36 [a matéria no território] Considerando que os principais exemplares em terra crua, no estado de São Paulo, são constituídos de maioria de edifícios históricos, como casarões, igrejas e outros tipos de construções, tenciona-se a implantação de uma construção também em terra crua, porém inserida no contexto atual. Dessa forma propõe-se uma Escola de pesquisa, de tecnologia e de capacitação em construções de terra crua, de forma que ela mesma atue como um protótipo deste sistema e que permita a investigação de novas formas de potencializá-los, além de qualificar profissionais para sua execução.

[LOCALIZAÇÃO] O sítio em questão está localizado no município de Mogi das Cruzes, entre os bairros do Centro e de César de Souza, próximo à Estação Estudantes da Linha 11 Coral da CPTM, ao Centro Cívico e às principais universidades da cidade - Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), Universidade de Braz Cubas (UBC) e Faculdade de Tecnologia (FATEC) - o que o torna acessível a várias pessoas e permite que se estabeleçam parcerias com os demais espaços acadêmicos. Está limitado pela Linha Ferroviária a Norte; pela Avenida João XXIII a Sul; por estabelecimentos industriais e condomínios residenciais a Leste; por algumas casas e um condomínio residencial de alto padrão a Oeste, voltados para a Rua Antônio Vergaça. É cortado transversalmente por um pequeno córrego que se liga ao Rio Tietê. >O mapa ao lado mostra o sítio de projeto (destacado em rosa) e seu entorno.(Fonte: Google Earth)

Arquiteturas de Terra Crua: Escola de Pesquisa, Tecnologia e Capacitação N

0

200m


37


38

0

[DIAGRAMAS DE anรกlises do territรณrio]

200m

N

0

200m

N


39

0

200m

N

0

200m

N


40 POSSIBILIDADES DO PEDESTRE: CHEIOS E VAZIOS

Fluxo Intenso de Veículos e Pessoas

Esta Cartografia apresenta a relação entre o fluxo de veículos e pessoas , distribuição de faixas de pedestre pelo espaço e a distribuição da população residente, demonstrando pontos divergentes com relação à concentração populacional, sendo os Vazios correspondentes a espaços de fluxo de veículos e de população itinerante.

VEGETAÇÃO COMO BARREIRA

Fluxo Moderado de Veículos e Pessoas Fluxo Leve de Veículos e Pessoas Concentração de População Residente Faixas de Pedestre

0

200m

N

Esta Cartografia demonstra a transição entre meio urbano e Área de Preservação, neste caso, da Várzea do Rio Tietê, em Mogi das Cruzes. É possível notar as diferentes formas de Barreira da paisagem, destacando-se os muros (total opacidade), as vegetações mais densas (média opacidade), os cercados (média transparência) e locais/ equipamentos sem barreira de acesso

Vegetação Cercas Muros Ausência de Barreiras

(total transparência).

[cartografias]

0

200m

N


41

Figura 23.1 — Centro de Formação Pe- Figura 23.2 — Via Urbana x Rio Tietê; Figura 23.3 — ausência de faixa de pe- Figura 23.4 — Vista para Linha Ferrovidagógica; Barreira do tipo muro (Auto- vegetação como barreira (Autoria Pró- destre próximo a um cruzamento (Auto- ária (Autoria Própria, 2017) ria Própria, 2017) ria Própria, 2017) pria, 2017)

Figura 23.5 — Extensão do Rio Tietê; Figura 23.6 — Mercado do Produtor; Figura 23.7 — Parque Centenário; bar- Figura 23.8 — Habitações unifamiliabarreira do tipo cercado (Autoria Pró- barreira do tipo cercado (Autoria Pró- reiras em diferentes planos (Autoria res nas proximidades do terreno (Autopria, 2017) pria, 2017) Própria, 2017) ria Própria, 2017)

Figura 23.9 — Conjunto Habitacional; Figura 23.10 — Faixa de Pedestre (Au- Figura 23.11 — Parque Centenário; Figura 23.12 — Sítio de Projeto. Condobarreira do tipo muro (Autoria Própria, toria Própria, 2017) circundado por barreiras vegetais e mínio Residencial ao fundo (Autoria Pró2017) cercados (Autoria Própria, 2017) pria, 2017)


42

[DIRETRIZES] As diretrizes propostas para este projeto, em escala urbana, são de TRANSPOSIÇÃO, de TRANSIÇÃO e de FRAGMENTAÇÃO, da seguinte forma:

[FRAGMENTAÇÃO] O terreno escolhido, assim como muitas glebas dessa e de outras áreas da cidade, possui grandes extensões, sendo desocupado em sua maior parte, com exceção de algumas edificações pontuais e esparsas. Sua área equivale a cerca de sete hectares1 . Dessa forma, a proposta de fragmentação consiste na divisão do terreno em diferentes programas e funções, tencionando-se que não haja barreiras visuais entre elas. Pretende-se criar uma gradação de gabaritos, no sentido da via à linha férrea (sul a norte), com áreas edificadas lindeiras à avenida e áreas não edificadas próximas à ferrovia. As áreas não edificadas correspondem às áreas verdes de uso comum, com pistas para circulação, quadras poliesportivas, áreas para alimentação, áreas para jogos, ginástica, playground e demais atividades ao ar livre. As áreas edificadas correspondem à Escola de Pesquisa em Terra Crua, objeto central deste projeto, além de Creche, de Escola de Educação Básica e de Habitações populares com fachada ativa de comércio e de serviços no térreo. 1  1 hectare (ha) = 10000 m²


43 [TRANSPOSIÇÃO] Além disso, pretende-se criar uma transposição da linha ferroviária e estabelecer uma ligação entre a Escola e o Parque Centenário, localizado a Norte do terreno, de forma que se estabeleça também uma ligação entre a Avenida Francisco Rodrigues Filho, a Norte do Parque e a Avenida João XIII, a Sul do Terreno. Estas avenidas são paralelas, constituem as principais vias de acesso do Centro a César de Souza e possuem tráfego de moderado a intenso. As vias de conexão entre as avenidas são distantes e priorizam o fluxo de automóveis. A ligação entre a escola e o parque visa também ao fluxo de pedestres e à criação de áreas verdes junto à escola, como uma extensão do parque. Ademais, a linha ferroviária a ser transposta dá continuidade à Linha 11, que se encontra desativada neste ponto e está sob os cuidados da empresa MRS Logística.

[TRANSIÇÃO] O terreno escolhido, além de se encontrar na divisão entre distritos, encontra-se no limite entre a Zona de Desenvolvimento Urbano (ZDU-I) e a Zona de Uso Controlado (ZUC-II), previstos no Plano Diretor Municipal. A ZUC-II diz respeito à área de proteção ambiental (APA) da Várzea do Rio Tietê que, neste trecho, circunda o Parque Centenário. A partir disso, a fragmentação do terreno em espaços edificados e em áreas verdes pretende fazer uma transição entre a área urbana e a área de proteção, tanto pelos usos quanto pelos gabaritos, criando um respiro entre elas. Procura-se, com este respiro, oferecer um outro viés ao desenvolvimento dessa região, que tem se caracterizado pela multiplicação de condomínios fechados de grande porte, muitos deles rentes à área preservada, a ponto de quase invadi-las.


44

masterplan > LEGENDA 1. Escola de Terra Crua 2. Habitações + Fachada Ativa 3. Creche + Educação Básica 4. Playground + Jogos + Ginástica 5. Quadras Poliesportivas 6. Uso Comum Edificações Preexistentes Vegetação Preexistente Vegetação Proposta Proposta Urbana Rio Tietê >Diagrama De Ocupação

02

20

50

100

200m

Esc.: 1/


2

5

45

2

1

6

1

6

4

3


46 [TIPOLOGIA] A tipologia adotada segue o formato retangular, de forma a facilitar os fluxos de ventilação e orientar as circulações. Richard Neutra (1948), ao estudar escolas em países de clima tropical, comenta sobre a flexibilidade de usos, que oferece a possibilidade de diferentes usos e do aumento de vida útil do espaço construído, defendendo ambientes que não são totalmente cercados, com aberturas para o ambiente externo. Dessa forma, todas as salas de aula e laboratórios do térreo inferior possuem saída direta para o lado exterior, de modo a facilitar também a realização de atividades ao ar livre. Os ambientes são agrupados de acordo com seus usos: Espaços de Pesquisa e Prática; Espaços Públicos; Espaços Administrativos e Espaços de Ensino. Estes espaços são unidos por meio de coberturas e lajes.

Espaços de Ensino Espaços de Pesquisa/ Prática Espaços Públicos Áreas Administrativas


47 [IMPLANTAÇÃO] Quanto à implantação, a diretriz de fragmentação estende-se ao projeto. Trata-se de duas unidades, uma correspondente à Escola propriamente dita, e outra, ao Canteiro Experimental, de forma que as funções teóricas e práticas estejam interligadas, mas espacialmente separadas por diferenças de ruídos e de fluxos produzidos em cada uma delas. A unidade da Escola ainda se fragmenta em três espaços, que apesar de ligados fisicamente, são separados por suas coberturas, que se sobrepõem de acordo com suas orientações. A Escola possui dois pavimentos, de forma a criar dois térreos: O Térreo Inferior, 3,0 metros abaixo do nível da rua, onde se localizam as entradas; o Térreo Superior, a meio nível da rua, acessível somente pelo interior da escola, criando espaços mais privativos. Os acessos situados no nível mais baixo possibilitam a chegada à Escola tanto pela rua quanto pelas áreas de parque (não edificadas). A ligação entre a Escola e a rua dá-se por uma praça, ao mesmo nível da rua, que também permite acesso às áreas verdes e ao entorno do córrego. O desnível é vencido por escadas e rampas, além de um pequeno talude, que contribuem para criar uma separação entre as atividades da escola e do entorno. Com isso, no nível mais baixo, os espaços da Escola orientados no sentido norte-sul são levemente recuados em relação ao talude, possibilitando, também, a passagem dos usuários. O acesso ao Canteiro pode ser feito pela rua. Ele se relaciona com a Escola por meio de uma passagem ampla, que permite o tráfego de veículos pesados para carga e descarga, além de dar acesso às áreas verdes. O conjunto da Escola é circundado por árvores, que também margeiam as pistas de circulação da área não edificada. Todas as árvores preexistentes foram mantidas.


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Diagramas de Implantação


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0 0,1

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01 2

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2,5m

5m

10

10

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25m

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Es

Es

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Implantação de Cobertura

01

10

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Es


50

2

SISTEMAS CONSTRUTIVOS EM TERRA CRUA


51

Sistemas construtivos à base de terra crua são aqueles que dispensam a queima em seus processos de produção, diferentemente dos tijolos cerâmicos, por exemplo. Temos, como principais exemplos, o adobe, a taipa de pilão, a taipa de mão (ou pau-a-pi­que) e o tijolo de solocimento (BTC).

2.1 Taipa de Pilão

Estes sistemas mostram-se vantajosos por se­ rem considerados limpos se comparados aos conven­cionais (como, por exemplo, a alvenaria de concreto), pois podem ser reutilizados. Apresentam bom isola­mento térmico e acústico e não requerem cozimento para sua fabricação. Apesar disso, ainda existe um precon­ ceito relacionado à pobreza e salubridade, sobretudo em relação à Doença de Chagas. Se construídas de maneira adequada, no entanto, apresentam alta durabilidade. Seu uso tam­ bém implica redução de custos com transporte e importação, já que se trata de um material disponível no local. Os diferentes sistemas de terra crua são descritos a seguir:

Figura 24.1 — SanBaoPeng Art Museum / DL Atelier. Foto: Sun Haiting (2017)


52 O sistema de Taipa de Pilão era um dos mais usados na antiguidade. Segundo SILVA (2000, p. 25), é considerado um dos mais sólidos sistemas em terra crua, já que suas paredes, monolíticas, solidificam-se paulatinamente, adquirindo maior resistência com o tempo. A exemplo disso, temos algumas muralhas construídas no Marrocos durante o século XIII, com destaque para a muralha de Marrakech tombada como monumento histórico em 1922 (Figura 25). Além disso, se comparada ao adobe, a taipa de pilão apresenta, segundo Minke (2001, p. 61), uma retração mais baixa e uma resistência mecânica maior. Esta técnica chegou ao Brasil por meio de colonizadores europeus e, apesar da precariedade de documentos, sabe-se que a também era de domínio de indígenas e africanos, considerando que muitos destes grupos construíam suas casas com “estruturas de madeiras preenchidas com barro” (PISANI, 2006). Consiste em amassar a terra dentro de um taipal1 (Figura 26), estrutura de madeira semelhante às formas de moldagem de concreto. A argamassa é colocada dentro do taipal em camadas de cerca de 15cm.

Figura 24.2 — SanBaoPeng Art Museum / DL Atelier. Foto: Sun Haiting (2017)

A popularidade deste sistema no estado de São Paulo, no período colonial, deve-se à escassez de pedra para construção neste território, se comparada à disponibilidade de terra na mesma região. As tábuas utilizadas no processo eram cortadas manualmente, chegando a ser mencionadas em inventários, já que agregavam valor às taipas (PISANI, 2007, p. 3). As edificações de Taipa de Pilão, se bem executadas, apresentam solidez, conforto térmico e acústico e qualidade estética, permitindo inclusive que se dispense reboco e se aplique a pintura diretamente. (XAXÁ, 2013) Neste sistema, estas paredes são formadas por camadas de cerca de 60cm de altura, resultantes da forte compressão de porções de terra úmida em moldes, a fim Figura 25 — Muralha de Marrakech e Portão Bab 1  Anteparo para acomodar e moldar a mistura da taipa. O mesmo que cofragem.

Agnaou.


53 de evitar vazios no material. A espessura destas paredes varia entre 50 e 70cm, de acordo com o ajuste do molde. Estes moldes são originalmente feitos de madeira e denominados taipais ou enxaiméis (este nome refere-se também a um tipo de estrutura bastante utilizado na região sul). (Figura 27). Quanto à compactação, pode-se proceder de maneira manual ou mecânica. Primeiro, a terra é compactada em suas bordas (junto aos taipais) com o auxílio de Malhos (Figura 28) (maços em forma de cunha) e em sua área central com maços cilíndricos que variam entre 4 e 9kg (MOREIRA, 2009, p. 11).

Figura 26 — Taipal ou Cofragem (Autoria Própria, 2017)

Em se tratando de compactação manual, são comumente necessárias 3 pessoas, uma para cada taipal e uma terceira para a região central, isto para um processo tradicional. Em procedimentos mais atuais, recorre-se à cofragem2 (Figura 26) de diferentes materiais, como “ contraplacado, alumínio, aço e fibra de vidro” (MOREIRA, 2009, p. 11). Mais importante do que a escolha do material de cofragem, é a garantia de sua rigidez, necessária para suportar tensões e impactos envolvidos no processo de compactação. Existem, atualmente, outros recursos como painéis de cofragem deslizantes, integrais e perdidos (no caso de paredes que podem ficar

2  A cofragem é um tipo de forma criado para acomodar e moldar massas de concreto armado. Neste caso, é utilizada para acomodar a mistura da taipa. (Dicionário infopédia da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico).

Figura 27—Casa em Enxaimel

Segundo Minke (2001), as cofragens são constituídas de pranchas paralelas que se unem por meio de barras transversais de espessura considerável, conhecidas também como agulhas. Estas agulhas atravessam a parede a ser moldada e, após secagem, deixam nesta espaços vazios denominados cabodás, que podem ser preenchidos posteriormente.


54 ocultas). Em se tratando de compactação mecânica, pode ser realizada por impacto ou por vibração. Quando executada por impacto, são utilizados compressores pneumáticos de no máximo 5kg, e, quando por vibração, são utilizadas placas vibratórias. (Figura 29). Com relação ao preparo, recomenda-se também que a terra seja preparada diariamente, para controle adequado da umidade.

Figura 30—Cofragem Ascendente (Autoria Própria, 2017)

Quanto à constituição, recomenda-se a terra mais arenosa, pouco argilosa e com abundância de pedras. Segundo Moreira (2009), é comum encontrar este tipo de formação em zonas aluvionares3. Costuma-se adicionar fibras vegetais, como a palha, ou sintéticas quando se pretende aumentar a resistência mecânica à tração. As proporções das partes de terra destinada à taipa são as seguintes:

3  “Sedimento clástico (areia, cascalho e/ou lama) depositado por um sistema fluvial no leito e nas margens da drenagem, incluindo as planícies de inundação e as áreas deltaicas, com material mais fino extravasado dos canais nas cheias.” Neste caso, refere-se principalmente ao solo de regiões próximas aos rios (http://sigep.cprm.gov.br/ glossario/verbete/aluviao.htm)

Figura 31—Capela do Morumbi, com paredes em taipa aparente


55

Argila (componente aglutinador) – 15 a 25% Silte – 20 a 35% Areia (rigidez) – 40 a 50% Gravilha (resistência mecânica) – 0 a 15% (MOREIRA, 2009, p. 13)

Limitações:

Necessário grande volume de terra; Baixa resistência à água e à umidade se não tomadas as devidas precauções.

Potencialidades:

Figura 28 — Malho e componentes do taipal.

Economia de energia no processo de produção (dispensa cozimento); possibilidade de execução de paredes curvas por meio de cofragens especiais; reciclável (processo cíclico); inércia térmica; Figura 29 — Compactadores Manuais (Acima) e isolamento acústico; resistência ao Mecânicos (Abaixo). (Autoria Própria, 2017) fogo; técnica milenar, apresentando condições favoráveis para aplicação atual.


56

2.2 Taipa de Mão/ Pau-a-Pique O sistema de Taipa de Mão é também conhecido como taipa de sebe, taipa de pescoção, taipa de sopapo, tapona, sopapo, barro armado e, o mais popular, pau-a-pique. Neste sistema, a terra preenche espaços vazios resultantes do entrelaçamento de madeiras, sendo o bambu e madeiras de lei comumente utilizados para este fim. Dessa forma, a madeira exerce papel primário na estrutura, a terra confere estabilidade pelo peso e inércia térmica. Durante o período colonial, era usual que as estruturas fossem rígidas, formadas por “esteios, vigas baldrames, frechais e vergas superiores e inferiores” (PISANI, 2006), e que o pau-a-pique exercesse função de vedação em uma estrutura independente, ou de parede interna de construções cujas paredes externas eram feitas de taipa de pilão ou de adobe. A estrutura de madeira apresenta, em geral, seção quadrada e largura de um palmo. A fundação é do tipo direta, como uma continuação do tronco utilizado para formar o esteio. É também conhecida pelo nome “nabo”. Os esteios fincados no solo recebem, então, encaixe para o assentamento das vigas baldrame. É necessário que este baldrame seja mais alto que o solo de forma a evitar infiltração de água. O assoalho, tipo mais comum de piso associado a este sistema, é sustentado por barrotes que se apoiam sobre os baldrames. (Figura 33). O nome pau-a-pique refere-se aos elementos de madeira, de menor espessura que os esteios, dispostos sobre o baldrame de modo perpendicular a ele, ou seja, “a pique”. Os frechais, junto das varas e dos paus a pique, formam uma estrutura independente conhecida como gaiola. (XAXÁ, 2013). (Figura 34) A terra empregada na vedação das gaiolas era retirada de locais próximos, considerando o grande volume necessário e dificuldades de transporte. Era esco-

Figura 33—Fundação em pedra ou concreto para pau a pique.


57 lhida pelo próprio taipeiro e de maneira empírica, levando-se em conta principalmente aspectos físicos, detectados por meio da visão e do tato. (PISANI, 2006).

Limitações: Suscetível ao ataque de roedores; Baixa resistência à compressão; Baixa resistência à tração; Baixo Desempenho em casos de abalos sísmicos; Baixa resistência à umidade se não tomadas as devidas precauções.

Potencialidades: Execução acessível; Economia de energia no processo de produção (dispensa cozimento); reciclável (processo cíclico); inércia térmica; isolamento acústico; resistência ao fogo.

Figura 34—Estrutura do Pau-a-pique/ Gaiola (Autoria Própria, 2017)

Figura 32—Restauro “Casarão Lm” De Pau-a-Pique/ Pisani Carrion


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2.3 Adobe O sistema de adobe consiste na execução de blocos de terra crua em moldes, sendo estes secos ao sol. Neste sistema, mistura-se a terra com porções de água e ocasionalmente com fibras tanto vegetais quanto sintéticas, que auxiliam na consistência do bloco. Recomenda-se não utilizar terra composta de argila expansiva. Acredita-se que teve início na “região fértil da Mesopotâmia” (MOREIRA, 2009, p. 14), foi utilizado para construção de residências e monumentos. Com novas tecnologia de construção no século XX, este sistema começa a entrar em declínio. Com a inserção, no entanto, de novos processos mecânicos na produção e de aditivos e estabilizantes” ao material a partir da década de 1970, o Adobe retoma espaço e volta a ser utilizado sobretudo em países em desenvolvimento. O arquiteto egípcio Hassan Fathy recebeu, em 1946, uma premiação do governo de seu país pelo resgate desse sistema “com o uso de materiais acessíveis aos pobres camponeses” (Figuras 36.1 e 36.2).(SILVA, 2000, p. 28). Quanto à preparação, adiciona-se água

Figura 35—Centro Holístico Punto Zero/ Dio Sustentable


59 à “terra argilosa”, constituindo uma pasta, que será acomodada em moldes. Os moldes originalmente eram confeccionados em madeira e permitiam acomodar apenas dois blocos. Os moldes atuais são confeccionados, além da própria madeira, em plástico e metal, e permitem acomodar maior número de blocos. É ideal que os moldes, antes de serem utilizados, sejam “molhados e salpicados com areia”. Recomenda-se, também, que não haja contato dos moldes com água, para que se evite apodrecimento ou empenamento dos blocos de adobe. Uma das estratégias atuais mais estudada em campo experimental tem sido a estabilização da terra destinada ao adobe, considerando que o sistema ainda é utilizado em países latino-americanos, africanos e do Oriente Médio, além de Alemanha, Portugal e Estados Unidos. Vale ressaltar que existem normas de construção para esse sistema no Novo México (MINKE, 2001, p. 73).

Figura 36.1—Vila de Nova Gourna. Hassan Fathy/1945-1948

Figura 36.2—Masterplan Para Nova Gourna. Hassan Fathy

O processo de fabricação pode ser tanto artesanal quanto mecanizado. No processo artesanal, pequenas bolas são amassadas, enroladas em areia e aplicadas com um pouco de força nos moldes. Em seguida, é ajustada ao molde, de forma a preenchê-lo totalmente, então aguarde-se a secagem para posterior desmoldagem. Os moldes podem ou não apresentar fundo, sendo mais práticos os que não os possuem. Já no processo mecanizado, é necessário que a terra, com relação àquela utilizada no processo manual, apresente porcentagem um pouco maior de gravilha em sua composição. As máquinas envolvidas no processo assemelham-se às utilizadas no processo de produção de peças cerâmicas por extrusão. Esta produção pode ser realizada em obra, com maquinário móvel, permitindo que sejam produzidos de 2500 a 3000 blocos/ hora. (Figura 37). Após a desmoldagem, é necessário que os blocos sejam postos em pranchas para que sequem à sombra e, posteriormente, ao sol, até que endureçam. Deve-se também virá-los durante o processo, de forma que sequem uniformemente. O tempo


60 de secagem depende das “condições climatéricas da região”, sendo mais rápido em locais de clima quente e seco. As proporções das partes de terra destinada ao adobe são as seguintes: Argila – 15 a 18% Silte – 10 a 28% Areia (rigidez) – 55 a 75% Gravilha (resist. mecânica) – variável (MOREIRA, 2009, p. 15)

Limitações -

Suscetível ao ataque de roedores; Baixo Desempenho em casos de abalos sísmicos; suscetível à erosão; Requer grandes áreas para armazenagem dos blocos.

Potencialidades

- Economia de energia no processo de produção (dispensa cozimento); material reciclável; bom regulador de umidade; bom desempenho térmico; bom desempenho acústico; não requer recursos tecnológicos muito avançados.

Figura 37—Preparo Manual e Mecânico de blocos de Adobe (Autoria Própria, 2017)


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2.4 Cob

Figura 38.1—Sala de uma casa em Cob

Figura 38.2—Casa construída em Cob

O sistema de COB é constituído pelos mesmos materiais que o Adobe, é aplicado, porém, de forma diferente diretamente no local da construção. Formam-se bolas com a massa, que são assentadas lado a lado, “em camadas de até 20cm” (Xaxá, 2013, p. 23), até que se complete o perímetro do ambiente. É necessário que cada camada esteja devidamente seca antes que a próxima seja assentada. O nome “Cob” tem origem inglesa, seu significado literal é “maçaroca”, fazendo referência ao caráter escultural este sistema. (PROMPT, 2008, p. 29). E este mesmo caráter permite que se construam cômodos circulares e de formato irregular, além de esculturas e “móveis” a partir das próprias paredes, como assentos e prateleiras (Figura 39). As recomendações em relação à fundação e cobertura são as mesmas dos demais sistemas de terra crua.

Potencialidades:

economia de material; emprego de pouca água (comparado aos demais); durabilidade; permite “esculpir nas paredes e fazer móveis”. (Xaxá, 2013, p. 24).

Limitações:

processo produtivo lento e, consequentemente, cansativo; exige a participação de vá-

Figura 39—Preparo de paredes em Cob

rias pessoas.


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2.5 Pães De Barro Este sistema foi bastante utilizado em países europeus no século XIX, principalmente na Alemanha. Atualmente ainda é utilizado em alguns países da América do Sul. A primeira residência construída neste sistema data de 1925. Consiste na confecção de “grandes bisnagas de barro” (Xaxá, 2013, p.23), que são assentadas lado a lado e umas sobre as outras, à maneira de tijolos cerâmicos, constituindo as paredes. (Figura 41)

Figura 40—Casa Em Pães De Barro Em Dürne, sem reboco, Alemanha (MINKE, 2015)

É uma técnica que envolve a família no processo de produção dos pães, considerados leves. Estes pães são assentados úmidos e sem argamassa. Para melhorar a aderência da argamassa para reboco, são feitos buracos com os dedos na parte exterior das paredes. É necessário que se apliquem várias camadas de reboco de cal após a secagem das paredes.

Potencialidades:

aproveitamento de material do local, possibilidade de construção em Figura 41—Montagem de Parede de série por cooperativas.

Limitações:

processo produtivo lento e, consequentemente, cansativo; exige a participação de várias pessoas.

Pães de Barro (Autoria Própria, 2017)

Figura 40.2—Casa Em Pães De Barro Em Dürne, Alemanha (MINKE, 2015)


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2.6 Terra Ensacada Esta técnica, chamada também de superadobe, foi desenvolvida pelo arquiteto iraniano Nader Khalili. Utiliza terra comprimida em sacos para construir paredes e coberturas. Para isso, pode-se utilizar terra do próprio local, e sacos de ráfia, em rolos ou sacos individuais. Como nas demais técnicas em terra crua, é necessário fazer uma boa fundação, de espessura maior que as paredes e em nível mais alto que o chão, seja ela de pedra, de concreto, ou até mesmo de terra compactada. Figura 42.1—Base ICMbio (Instituto Chico Mendes De Conservação Da Biodiversidade Cutias Do Araguari – Ap. Henrique Pinheiro/ Cecília Prompt

A técnica da terra ensacada requer o uso de um balde sem fundo, que funcionará como um funil. Cobre-se então, o balde com o saco de ráfia, com uma sobra de aproximadamente 50cm de cada lado, permitindo que seja dobrado em ambos os lados. (Figura 44) A operação pode envolver, a princípio, duas pessoas apenas: enquanto uma pessoa segura o balde e pisa na sobra do caso, a outra o preenche com terra. Ao completar o balde sem fundo com terra, dobra-se a ponta do saco de forma que fique abaixo da fiada (Figura 44). A pessoa que segura o balde pode então levantar-se e esticar o saco, permitindo que se deposite mais terra. É necessário que este saco fique bem preenchido, sem espaços de ar em seu interior.

Figura 42.2—Base ICMbio (Instituto Chico Mendes De Conservação Da Biodiversidade Cutias Do Araguari – Ap. Henrique Pinheiro/ Cecília Prompt

Conforme o saco se desenrola e o comprimento da parede aumenta, são necessárias mais pessoas para “comprimir a fieira” (PROMPT, 2008, p. 24) com pilão de madeira, de forma que fique bem rígida, enquanto as outras continuam a preencher o saco. Dessa forma, as fieiras são empilhadas e as paredes, erguidas. Pode-se colocar duas linhas de arame farpado a cada duas ou três fieiras, tanto no comprimento quanto nas esquinas. Recomenda-se também apiloar as laterais a cada 5 fiadas, com auxílio de um martelo de borracha (Figura 44), de forma que a parede fique “o


64 mais regular possível” (PROMPT, 2008, p. 24). Quanto às aberturas, estas podem ser feitas anteriormente ao assentamento das fieiras, com um elemento de suporte ao peso da estrutura superior e dos trabalhadores, como uma manilha, ou posteriormente a este processo, com o auxílio de uma espátula ou motosserra para o corte, lembrando que, para isto, deve-se colocar uma verga de madeira para marcar a parte superior das aberturas conforme a parede é erguida [IMAGEM]. Quanto à cobertura, dispensa-se a necessidade de cinta, a cobertura pode ser apoiada diretamente sobre a estrutura das paredes. As paredes de terra ensacada, se bem executadas, apresentam grande resistência à compressão. (Figura 13), em caso de chuva, até que sejam rebocadas e cobertas.

Potencialidades - Possibilidade de se esculpir as paredes; possibilidade de paredes curvas; aspecto escultural; material pode ser retirado do local.

Figura 44—Verga sobre abertura em parede de superadobe (MINKE, 2015)

Limitações - requer grande quantidade de sacos de ráfia; limitação de gabarito; necessidade de preenchimento em juntas de retração.

Figura 43—Preparação da terra em sacos de ráfia (Autoria Própria, 2017)

Figura 45—Estrutura de Sustentação do Telhado sobre paredes de terra ensacada.


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2.7 Tijolos de Solo-Cimento (BTC)

Figura 46.1—ENFF - Escola Nacional Florestan Fernandes. (Autoria Própria, 2017)

Os Blocos de Terra Comprimida – BTC, chamados também de Tijolos de solo-cimento ou tijolos ecológicos, constituem um dos sistemas mais utilizados em terra crua na atualidade. Trata-se de um sistema recente se comparado aos anteriores, surgido na década de 1950, foi desenvolvido pelo engenheiro colombiano Raul Ramirez no centro de pesquisas Cinva, no contexto de um programa de investimentos em habitação rural. A prensa criada foi então denominada Cinva-Ram (Figura 14). O sistema de BTC consiste na produção de blocos em terra crua, à maneira dos blocos de adobe, porém por meio de prensagem. O método da prensagem implica o aumento da resistência mecânica dos blocos através do aumento de contato entre as partículas de terra e da redução de porosidade através da eliminação de vazios.

Figura 46.2—ENFF - Escola Nacional Florestan Fernandes. (Autoria Própria, 2017)

Estes blocos podem ser utilizados como material estrutural e de vedação. São utilizados com frequência em outros países, tanto quanto os tijolos cerâmicos (cozidos) e os blocos de concreto. A Alemanha, através do grupo


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Tabela 2 - Tipos de Tijolos de Solo Cimento e suas dimensões. Fonte: PISANI, 2007 (adaptado) TIPO

DIMENSÕES

CARACTERÍSTICAS

Maciço Comum

5 x 10 x 20 cm

Consumo de argamassa para assentamento semelhante ao tijolo comum. Baixo consumo de argamassa para assentamento.

5 x 10 x 21 cm Maciço com encai- 5 xes 5 1/2 tijolo com encai- 5 xes 5

x 10 x 21 cm x 11 x 23 cm x 10 x 10,5 cm

Especial para encontro de juntas, evita que haja quebra de peças para este fim.

x 11 x 11,5 cm

Tijolos com dois fu- 5 x 10 x 20 cm ros e encaixes 6,25 x 12,5 x 25 cm 7,5 x 15 x 15 cm 1/2 tijolo com furo 5 x 10 x 10 cm e encaixe 6,25 x12,5x 12,5 cm 7,5 x 15 x 15 cm Canaletas

5 x 10 x 20 cm 6,25 x 12,5 x 25 cm 7,5 x 15 x 30 cm

Assentamneto a seco, com cola branca ou argamassa plástica. Tubulações passam pelos furos verticais. Especial para encontro de juntas, evita que haja quebra de peças para este fim. Utilizado para execução de vergas, reforços estruturais, cintas de amarração e passagens de tubulações horizontais.

Figura 47— Prensas Manual e mecânica (Cinva-Ram) (Autoria Própria, 2017)


67 Krupp, é a atual líder em produção, seguida da Dinamarca. (MOREIRA, 2009, p. 18). Quanto à produção, podem ser utilizados diferentes tipos de terra, pois não existe um ideal; recomenda-se que esta terra não seja muito argilosa, nem contenha elementos graúdos como pedras e gravilhas. O tamanho dos blocos varia de acordo com o projeto, sendo o mais comum o de dimensões 5 x 10 x 20 cm, e existem quatro principais tipos: o Tijolo maciço, com dois furos, o ½ tijolo com ou sem furo (utilizado para arremates) e o tijolo canaleta, próprio para formar cintas de amarração, reforços estruturais, dentre outros. Estas características são determinadas de forma a garantir qualidade no produto final. Existem algumas formas de correção da terra destinada ao BTC, tais como: · Correção da granulometria; · Estabilização da terra por adição de cal ou de cimento; · Eliminação de elementos graúdos através do método de crivagem; · No caso de estabilização, mistura dos componentes a seco; · Umidificação da terra pelo processo de rega ou vaporização sob pressão. Neste processo, pode-se recorrer a prensas manuais e a prensas mecânicas, sendo que as manuais apresentam desempenho dependente do peso do manobreiro. As prensas mecânicas possuem custo relativamente superior, recomendáveis em caso de produção em larga escala. A densidade ideal da terra destinada ao molde varia entre 1000 e 1400kg/m³, sendo alterada para 1700kg/m³ após a prensagem. A altura não deve ser maior que 10cm. Figura 48—Exemplos de blocos e de fiadas (Autoria Própria, 2017)

Os blocos estão aptos à manipulação após a prensagem. A resistência mecânica, no entanto, só é garantida após o processo de cura, ”lento e gradual”, em “ambiente quente e úmido”


68 Se comparado ao tijolo cerâmico, o BTC apresenta economia energética de 40 a 65%, considerando que dispensa cozimento. Se comparados ao sistema de Adobe, os Tijolos de solo-cimento são mais resistentes à compressão, podem ser executados em qualquer época do ano, requerem menor tempo de construção e são mais resistentes à ação da água umidade. (MOREIRA, 2009, p. 19). (Figura 16) Cabe lembrar que existem normas construtivas para tijolo de solo cimento, são elas: ABNT NBR 8491 (1984) e ABNT NBR 8492 (1982).

Limitações: não existe terra adequada pronta para uso; apresenta limite de gabarito; não há normas e regulamentos específicos; preconceito cultural.

Potencialidades:

Maior regularidade de forma e dimensões que os blocos de adobe; maior resistência à umidade (se comparado aos demais sistemas em terra crua); Ganho de resistência pela adição de cimento; rapidez na execução dos blocos e na construção, alternativa de manutenção do déficit habitacional considerando a economia na construção; possibilidade de autoconstrução e mutirão; praticidade no assentamento, que pode ser feito com cola branca; pode ser utilizado para vedação; inércia térmica; isolamento acústico; pode dispensar revestimento.

Figura 46.3—Figura 46.3 - Escola Nacional Florestan Fernandes.


69 >Tijolo de Solocimento

[[MATÉRIA] Sistema Construtivo Quanto ao sistema construtivo para o projeto da Escola, predominam os tijolos de solocimento. Este sistema tem sido bastante utilizado nos dias atuais, por se tratarem de tijolos de terra compactada, semelhantes aos de adobe, porém com ganho considerável de resistência devido à adição de cimento. Apesar de ser um material convencional, sua proporção em relação à terra pode ser mínima (cerca de 5%). No caso deste projeto, a terra pode ser obtida no próprio terreno, o que colabora para a economia do processo construtivo. Os blocos de solocimento previstos possuem dimensões de 6,25 x 12,5 x 25 cm. Dessa forma, todas as paredes são autoportantes, com espessura de 1 tijolo (25 cm), reforçadas por contrafortes a cada 2,5 m, considerando que são planas. Aproveitando-se do caráter modular do material, os ambientes são múltiplos de 1,25m. O formato retangular das unidades também auxilia no suporte da estrutura pois os grandes vãos prevalecem em um sentido em vez de ambos, e podem ser travados perpendicularmente. As fachadas são ora vedadas por paredes, ora por elementos vazados. Os elementos vazados estão localizados principalmente nas espaços de circulação e de uso comum, como os corredores, a área de convivência, o hall de entrada e o canteiro.

>Corte Perspectivado (Vista para Fachada Norte, que cobre a rampa)


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Fachada da Biblioteca/ Refeitรณrio (Tijolos aparentes)


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Diébédo Francis Kéré: Arquitetura tradicional e Tecnologia


75 A discussão sobre o papel social da arquitetura, no sentido de viabilizá-la com poucos recursos financeiros e um menor impacto ambiental, tem adquirido maior visibilidade após a Revolução Industrial, em que a produção arquitetônica caracterizou-se pela adoção maciça de aço, de concreto, de areia e de vidro, materiais que atualmente se encontram em processo de esgotamento, devido ao fato de serem fontes não renováveis na natureza. Além disto, existe uma generalização quanto ao local de aplicação destes materiais, independentemente da existência de suas fontes no local das construções. Neste contexto, nota-se uma crescente investigação de novas estratégias de construção, bem como o resgate de técnicas construtivas já existentes, algumas delas milenares, agregando-se conceitos bioclimáticos às edificações. No ano de 2010, por exemplo, foram realizados a exposição “Pequena escala, grande Mudança”, pelo MoMA, e o Congresso Internacional “Arquitectura: Más por Menos”, pela Fundação Arquitectura y Sociedad. Nesta mesma época, discutiu-se, na Revista Arquitectura Viva, sobre a relevância de se adotar tais estratégias com vistas a um modo de vida mais econômico, sobretudo em países em desenvolvimento. Destacam-se, desta forma, alguns arquitetos que buscam explorar técnicas consideradas não-convencionais, como Anna Heringer, Kengo Kuma e Hassan Fathy. Anna Heringer realizou trabalhos que utilizam barro e bambu, considerados materiais de “caráter ecológico e de rendimento construtivo”. Ela defende a arquitetura “como um meio para fortalecer a confiança cultural e individual, para apoiar as economias locais e para promover o equilíbrio ecológico.”. (HERINGER, 2017). Kengo Kuma busca estabelecer uma ligação entre técnicas construtivas japonesas tradicionais e técnicas contemporâneas inovadoras com aplicação frequente da madeira. (TAMAKI, STACZUK, 2015). Hassan Fathy um dos pioneiros no resgate da tecnologia tradicional vernacular (neste caso, egípcia), foi conhecido pela crítica que fazia à industrialização da construção, além de trabalhar com a inserção da comunidade no


76 processo construtivo, voltando-se para o meio rural. (TEIXEIRA, 2017;FATHY, 1980). Seguindo princípios da mesma natureza, Francis Kéré, arquiteto burquinabês, destaca-se nos dias atuais, a partir de projetos que visam a integrar tecnologia, arquitetura tradicional e técnicas sustentáveis. Diébédo Francis Kéré nasceu em 1965 em Burkina Faso, na comunidade de Gando, em que não havia escolas, tampouco energia elétrica (Kéré Fundation). Ele recebeu uma bolsa para estudar na Alemanha e, durante os estudos, fundou a “Tijolos para Gando” (originalmente denominada Schulbusteine für Gando Ev.), visando a arrecadar recursos para a construção de uma escola neste local. Desta forma, a Escola Primária de Gando foi concluída em 2001, e a maneira que o arquiteto encontrou de conciliar a arquitetura tradicional a novas tecnologias de baixo custo aprendidas na sua formação o conduziram a receber, em 2004, por este projeto, o prêmio Aga Khan de Arquitetura1. (KÉRÉ, 2017). Esta forma de trabalhar repete-se em obras posteriores, como a Residência para professores em Gando e o Parque Nacional do Mali. Kéré comenta que o principal sentido da arquitetura é satisfazer as necessidades das pessoas, considerando mais lógico construir com materiais vernaculares para reduzir despesas, sendo possível fazer “mais com menos” materiais, recursos e impacto ambiental. (KÉRÉ, 2010). Considerando as questões ecológicas e de sustentabilidade, o arquiteto afirma que sua preocupação é tanto necessária, em se tratando de um país em desen1  Segundo informações da página oficial, “o Prêmio Aga Khan para Arquitetura é oferecido a cada três anos em projetos que estabelecem novos padrões de excelência em arquitetura, práticas de planejamento, preservação histórica e arquitetura paisagística. Por meio de seus esforços, o Prêmio busca identificar e encorajar a construção de conceitos que atendam com sucesso às necessidades e aspirações das sociedades em todo o mundo, nas quais os muçulmanos têm uma presença significativa” (AGA KHAN, 2016, tradução própria).


77 volvimento, quanto natural, antecedendo as discussões atuais sobre estes temas. Burkina Faso, por exemplo, localiza-se na África Ocidental, na faixa do Sahel, em processo de desertificação. Apresenta clima quente e seco e não possui saída para o mar (CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY, 2017), além de apresentar menos de 1/3 da população adulta alfabetizada (28,7%) e residente em zona urbana (27,4%). Sua renda per capita é de US$ 670, enquanto que a brasileira é de US$11630. (UNICEF, 2013). Quanto às condições de conforto de uma edificação, deve-se levar em conta, ainda em fase de projeto, fatores diversos como implantação no terreno, uso de luz e de ventilação natural, bem como o uso eficiente de equipamentos de energia, visando a proporcionar benefícios financeiros e de saúde ao usuário, além do uso racional de recursos naturais com possibilidade de reutilização. Marian Keeler comenta que “o mundo está ultrapassando a capacidade do planeta de recuperar seus recursos naturais em 23%”. E que o setor de construção é responsável por utilizar 40% das matérias-primas disponíveis, o que corresponde a cerca de três bilhões de toneladas por ano. (KEELER; BURKE, 2010). Desta forma, convém o uso de tecnologia apropriada, entendida como o oposto de alta tecnologia, em que se prioriza a mão de obra em relação aos recursos materiais envolvidos em uma obra. Keeler e Burke observam que construções “que utilizam materiais e tecnologias apropriados para a região, como adobe ou taipa”, mais duráveis e que requerem menos manutenção, beneficiam as comunidades que fruirão destas construções. (KEELER; BURKE, 2010). Kéré reforça que, em condições climáticas e econômicas tão extremas, como a de seu país de origem, “sobra muito pouco espaço para o capricho, para o suntuoso”. (KÉRÉ, 2010, tradução própria). Logo, o ideal é recorrer a materiais locais, considerando o dispêndio envolvido em trazê-los de locais distantes. Além disto, diante do


78 déficit habitacional e da mão de obra numerosa e de baixa qualificação, encontra, na gestão por mutirão, uma forma de empregar e instruir um número maior de trabalhadores. Este método colabora para o empoderamento dos moradores por meio da identidade que se cria entre comunidade, arquitetura e planejamento urbano, da relação estabelecida entre aprendizado e geração de empregos, e da relativa autonomia que a população adquire para futuras intervenções e manutenções em suas casas. (KÉRÉ, 2013). Outro ponto destacado pelo arquiteto é a inviabilidade de adquirir aparelhos de ventilação mecânica, que o conduz a pensar em estratégias bioclimáticas, dentre elas, a ventilação natural. Keeler e Burke observam a importância de um projeto bioclimático em climas extremos:

Figura 49—Exemplo de Casas Tradicionais em Burkina Faso. (Kéré Foundation)

Em climas quentes e secos, o resfriamento por evaporação oferece conforto consumindo muito menos energia do que o condicionamento de ar. O resfriamento por evaporação acrescenta umidade do ar seco, reduzindo o calor sensível e, ao mesmo tempo, aumentando a umidade relativa do ar. As aberturas de ventilação ou as janelas localizadas em pontos altos dos espaços de permanência prolongada devem ficar abertas para permitir a saída do ar quente preexistente à medida que o ar frio entra no espaço. (KEELER; BURKE, 2010, p. 138).

Os sistemas de ventilação adotados por Kéré funcionam a partir do princípio descrito acima. Ele opta, com frequência, por sistemas de ventilação passiva, com janelas generosas e dispostas de maneira oposta para facilitar a circulação cruzada de ar. Além disso, adota o princípio do efeito chaminé, a partir de frestas na cobertura e do distanciamento entre laje e telhado, já que se constatou um aquecimento do ambiente quando a telha metálica é posta diretamente sobre o teto. Vale destacar também a relevância do paisagismo nos projetos de Kéré, que é

Figura 51—Etapas de polimento do chão. (TED Talk)


79 tanto estética como um elemento de controle ambiental. Segundo Keeler, “as plantas fornecem sombra, provocam a transpiração (...) reduzem o calor, impedem a erosão da camada superficial do solo, reduzem a perda de água devido à evaporação e servem como habitat para a vida selvagem”. (KEELER; BURKE, 2010, p. 178).

Figura 50—Confecção de blocos compactados em Gando. (Marco Milazzo & Associados)

Richard Neutra (1948), ao tratar de arquitetura escolar em países de clima quente, justifica o uso da vegetação para isolar os ambientes do tráfego externo, isolando-se também os pátios. Hassan Fathy (1980) comenta sobre a utilização de flores baixas e grama para compor jardins entre o exterior das salas de aula e paredes que não reflitam luz, para que evitem a incidência solar direta e proporcionem mais vitalidade para a sala, fazendo das janelas um “quadro vivo”. Analisaremos, a seguir, técnicas construtivas adotadas por Francis Kéré a partir de projetos referenciais, entre eles as escolas Primária e Secundária de Gando. A começar pela Escola Primária, o arquiteto optou por utilizar um material abundante em sua comunidade, como a terra, de forma diferenciada da tradicional (Figura 49), incorporando tecnologias assimiladas na universidade. (KÉRÉ, 2017). Desta forma, foi aplicado, mas paredes e no forro, o sistema BTC, também conhecido como tijolo de solocimento, ou apenas tijolo ecológico, que é um tipo de tijolo composto por água, “areia, argila e cimento” (Figura 50).

45ºC

36ºC

Figura 52—Esquema de Ventilação.(Adaptado de TED Talk, Autoria Própria, 2017)

Como forma de trabalhar a coletividade, o arquiteto convidou os moradores a alternarem movimentos de bater “com os pés no chão” e jogar “pequenas porções de água”. A seguir, utilizaram pedras para polir o local, deixando o chão liso “como bumbum de neném” [sic] (Figura 51). Está técnica de refino do barro foi útil para a confecção dos blocos compactados, à maneira do sistema BTC, tornando-as mais resistentes e grossas. Este tipo de bloco demonstrou eficiência quanto à transmissão de calor, pois verificou-se que em um dia típico de verão, amenizou a temperatura interna do espaço (Figura 52). As temperaturas locais chegam a 45ºC em um dia tí-


80 pico, enquanto a temperatura interna registrada foi de 36ºC. (KÉRÉ, 2013). Apesar da maior durabilidade em relação às paredes feitas somente de argila, é necessária a proteção dos blocos contra a chuva. Desta forma, foi utilizada uma cobertura de estrutura metálica saliente, proporcionando beirais generosos. Além disso, a telha foi afastada do teto, ao contrário da maioria das casas populares de Burkina Faso, cujas telhas são pregadas diretamente ao teto, o que absorve calor e evita sua dispersão, tornando o ambiente mais quente (Figura 53). A Escola foi concluída em 2001, com total de três salas e 520m² de área (Figuras 54 e 55). Grande parte do reconhecimento deste projeto deve-se ao trabalho em comunidade, integrando desde jovens a adultos. O meu é um país pobre, com uma alta taxa de analfabetismo, que em algumas zonas pode ser de 90%. As pessoas não sabem sobre arquitetura. Portanto, se os ajuda a construir sua casa, serão gratos por toda a vida. Os laços ali são fortes. A solidariedade não é uma opção, sim uma necessidade, uma solução. Gando é meu povo. Meus vizinhos são meus amigos. Estamos acostumados a nos ajudar mutuamente. A contribuir com os projetos comunitários com nossas mãos e nosso trabalho. Tanto os maiores quanto os jovens. (KÉRÉ, 2010, tradução

Figura 53—Escola Primária de Gando

Figura 54—Planta da Escola Primária

própria, p. 20).

A repercussão do projeto da escola primária possibilitou a execução de outros projetos no país, com contribuições do setor privado e apoio governamental. Na comunidade de Gando, Kéré desenvolveu uma série de projetos educacionais, dividida em fases, sendo a primeira correspondente à própria escola primária, iniciada em 1998 e concluída em 2001. Na segunda fase, para suprir o excedente de alunos desta escola, em 2004, foi construída a Extensão da Escola Primária (Figura 56 ), seguida

Figura 55—Cortes da Escola Primária


81 da Moradia para Professores, em 2007, para atender aos profissionais que tinham dificuldades de acesso às escolas.

Figura 56—Extensão da Escola Primária

Figura 57—Construção de Abóbadas

Figura 58—Biblioteca de Gando

A terceira fase corresponde à uma Biblioteca, ainda em fase de construção, que conecta a escola primária à sua ampliação, além do Centro da Associação de Mulheres, que visa ao empoderamento feminino a partir do auxílio à prática e venda agrícola, recorrente na região, e da educação, já que a maioria das mulheres chega analfabeta à vida adulta. (UNICEF, 2013). Já a quarta e atual fase compreende a Escola Secundária de Gando, de maior escala se comparada às demais, além de abrigar maior quantidade de instalações. Observa-se, no decorrer destas fases, uma progressão tanto nas estratégias projetuais quanto nas técnicas construtivas adotadas pelo arquiteto. Enquanto na Escola Primária foi utilizada laje plana com vigas aparentes, no projeto da Extensão da escola foi escolhido o forro em formato de abóbada (Figura 57), com lacunas para que o ar circule, apesar de ambas serem construídas com argila. Já na Biblioteca de Gando, adotou-se uma técnica diferente e mais econômica: jarros de barro (vasos de cerâmica), “confeccionados por moradoras locais”, foram seccionados e incorporados à cobertura, de forma a criar perfurações que permitem entrada de luz e saída de ar quente por convecção (Figura 58). O formato da Biblioteca, comparado às primeiras escolas, também se distingue por ser mais orgânico, remete às casas tradicionais burkinabeses, cujas geometrias asseme-


82 lham-se a uma elipse. Tanto nas escolas quanto na Biblioteca, utilizou-se estrutura metálica para sustentar o telhado (KÉRÉ, 2017). No projeto da Escola Secundária (Figuras 59, 60, 61 e 62) optou-se também por cobertura dupla, com telhado treliçado e teto abobadado (à maneira das casas tradicionais burkinabeses), composto por argila, metal e madeira, vazado transversalmente, facilitando a dispersão do ar quente para fora do ambiente (Figura 60). Apresenta salas de aula e para reuniões, área administrativa, quadras de vôlei, futebol e basquete, biblioteca e um bicicletário. Os beirais são circundados por fileiras de troncos de eucalipto, abundantes na região, visando à proteção contra os ventos empoeirados e promoção de sombra para os usuários (Figura 66). (KÉRÉ, 2017). Richard Neutra também evita escolas em locais de clima quente com corredores fechados e propõe que sejam substituídos por “passagem protegida pelo beiral do telhado”. (NEUTRA, 1948, p. 44). Em se tratando da vedação desta Escola, foram adotados painéis de argila fundidos com concreto e agregados, que “consiste em lançar a lama da maneira como se lança o concreto” (KÉRÉ, 2013). Dessa forma, obteve-se peças fabricadas com materiais similares ao do sistema de BTC, mas prensadas como o sistema de adobe2. Estes painéis são constituídos a partir do depósito de argamassa em moldes de madeira, seguido de um período de cura, até que possam ser desenformados. Este método repetiu-se nas paredes e na cobertura do projeto (Figuras 63 e 64).

Figura 59—Laje Abobadada da Escola Secundária.

Figura 61—Planta da Escola Secundária

Com vistas a manter sua estabilidade, estes painéis foram executados em forma curva, já que esta forma, como as dobras, altera o centro de gravidade do plano

2  O sistema de adobe consiste em uma mistura de “areia, argila e palha” para a confecção de tijolos, sendo estes “secos naturalmente”. Não requer cozimento, tampouco o uso de cimento (PROMPT, 2008). Ver mais Informações no capítulo 2 .

Figura 62—Corte Transversal da Escola Secundária.


83 e, consequentemente, sua inércia. (SILVA, 2000). Os painéis são conformados sobre uma estrutura de pedra previamente socada, como um baldrame. A composição do piso (Figura 60), em ordem ascendente, é de cascalho (3 cm), lâmina de polietileno, laje de concreto (10 cm), e terra compactada (8 cm). (KÉRÉ, 2017;LAFARGEHOLCIM FOUNDATION, 2012). O paisagismo, neste contexto, também desempenha papel fundamental. Foram implantados um sistema de irrigação automática, árvores, hortaliças e outras formações vegetais que contribuem para conter a desertificação consequente do desmatamento da região, nutrindo o solo e filtrando os ventos e a poeira carregada. (LAFARGEHOLCIM FOUNDATION, 2012). Figura 63—Montagem de Painéis

Os ambientes internos da Escola são resfriados segundo os conceitos de ventilação passiva, por meio de janelas grandes e cobertura dupla, e geotermia, por meio de resfriamento subterrâneo passivo (ou arrefecimento), em que a água, oriunda da irrigação, parte de uma cisterna, circula sob o solo da edificação e refresca o ambiente através do efeito chaminé . (LAFARGEHOLCIM FOUNDATION, 2012). Keeler e Burke (2010) comentam a relevância da associação de princípios bioclimáticos, como neste caso, em que colaboram para o conforto térmico a partir da criação de um microclima na Escola (Figura 65). O trabalho de Diébédo Francis Kéré e arquitetos da mesma linha nos remete a uma reflexão sobre o papel do arquiteto e da própria arquitetura diante de questões socioeconômicas, culturais e ambientais, que extrapolam a estética e a forma. Cabe ressaltar que ela por si só não é capaz de solucionar estes problemas, mas, ao fazer parte de um todo, é capaz de influenciar o meio em que se insere de forma positiva ou negativa.

Figura 64—Colocação dos Painéis

No contexto atual, apesar de crescente urbanização, a desigualdade social e o déficit habitacional também se acentuam. Segundo o World Resources Institute


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>À Direita: Figura 66—Proteção do beiral da Escola Secundária

Ross Center for Sustainable Cities, cerca de 1,2 bilhão de pessoas não têm acesso a moradia segura e acessível. Dessa forma, é necessário considerar os possíveis impactos que uma demanda habitacional, de serviço ou urbanística pode implicar, bem como as dinâmicas que pode gerar. O Prêmio Pritzker, considerado o Nobel da Arquitetura, já aponta indícios desta mudança. Ele seleciona, anualmente, o/a profissional cujo trabalho tenha produzido, ao longo do tempo, contribuições consistentes e significativas à humanidade. (PRITZKER). Em um total de 44 edições, no entanto, os eleitos somam metade de europeus, nenhum africano e somente três mulheres. As últimas edições, além de maior diversidade, apontam profissionais que não necessariamente possuem obras icônicas, mas ideologias consideráveis, como o arquiteto indiano Balkrishna Doshi, vencedor da edição de 2018, com mais de 70 anos de atividade e mais de 100 projetos concluídos, com destaque para habitações populares. Doshi alega ter feito um juramento que deveria lembrar por toda sua vida: “proporcionar à classe mais baixa habitações adequadas. (DOSHI, In ArchDaily 2018).

Figura 65—Esquemas de Resfriamento

Figura 60—Cortes e Detalhamentos da Escola Secundária.


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86 [matéria no território]

programas/ sistemas estruturais

[TÉRREO INFERIOR] Quanto à Escola, Os acessos são feitos pelo Térreo Inferior, sendo a entrada principal mais próxima dos elementos de circulação vertical, tanto internos quanto externos. As demais entradas interligam as áreas ajardinadas (a norte) com a arena (a sul). A entrada principal dá acesso ao hall e à recepção, que orientam as circulações para os ambientes da escola. A oeste do hall, localizam-se as salas multiuso. Estes espaços permitem que os saberes sejam compartilhados de forma convencional ou mais informal, como rodas de debate por exemplo. A norte, encontram-se os laboratórios de pesquisa e experimentações. A leste, situa-se o refeitório, cujo acesso permite que funcione independentemente das atividades da escola; a cozinha se liga ao salão, à despensa e dá acesso à área externa, para retirada de lixo. A sul, concentram-se os sanitários e os seguintes espaços administrativos: sala de professores, de reuniões, diretoria e coordenação. A diretoria possui acesso direto à sala de reuniões. Os espaços administrativo, de ensino e de pesquisa ligam-se por corredores e circundam uma arena, na qual os usuários podem se reunir para descansar, promover discussões ou apresentações. uma rampa, disposta paralelamente aos laboratórios, é protegida por uma fachada cujos elemento vazados proporcionam, ao mesmo tempo, permeabilidade visual e proteção.

[Canteiro]

O canteiro, de formato retangular, é compreendido por área administrativa e galpão de pé direito duplo. No nível do térreo inferior, o programa contém o galpão, com mesas, armários, balcões, pias e espaços para armazenamento de maquinário. Neste mesmo nível, abaixo da área administrativa, encontram-se vestiários e lavanderia. O galpão ainda dispõe de área descoberta para descanso dos funcionários, a leste. O Canteiro também conta com áreas externas complementares, destinadas à execução de elementos de grande porte, armazenamento de materiais de construção e cura de peças produzidas.


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88 [TÉRREO SUPERIOR] Os espaços de ensino, no nível superior, se configuram por meio de salas de aula, a oeste, com vista voltada ao córrego e às áreas de parque. Conta também com uma área de convivência e estudos, a norte, acima dos laboratórios. Esta área funciona como um complemento às demais e se distingue pela flexibilidade do espaço, em que diferentes acontecimentos podem coexistir: estudos, descanso, diálogos, palestras, entre outros. Este espaço também permite uma visão quase total do projeto, tanto pela sua posição no contexto, quanto pelas suas vedações, permeáveis como a fachada da rampa. As áreas administrativas, alinhadas ao nível inferior, se completam pelas salas de Recursos Humanos (R.H.), Tesouraria e Tecnologia da Informação (T.I.), sendo estas acessíveis por meio de uma secretaria e espaços de apoio: copa, almoxarifado e depósito. A leste, acima do refeitório, encontra-se a biblioteca, com sala de arquivo e conteúdo especial, sala de reuniões e salão com acervo e mesas para estudo.

[Canteiro] A área superior do canteiro concentra as atividades administrativas complementares à Escola, sendo elas a sala de gerência e Escritório Modelo, com recepção e copa. A ideia do Escritório visa a auxiliar na possibilidade de execução de projetos desenvolvidos na Escola. Esta área superior é acessível diretamente da rua e dá acesso interno ao galpão por meio de circulações verticais.


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90 [ESTRUTURA] Quanto ao Sistema Estrutural, a adoção de paredes autoportantes faz com que absorvam as cargas que possam atuar sobre elas. Isto permite que a estrutura que recebe a cobertura seja leve. Dessa forma, a estrutura da cobertura é composta por pilares de madeira laminada colada (MLC) de Eucalipto, que sustentam telhas metálicas (de aço reciclado) por meio de mãos francesas espaciais, como “pés de galinha”. Os pilares dividem-se em dois tipos: pilares de seção quadrada de 25cm, de pé direito simples, nascendo no pavimento superior, sobre cintas de amarração; pilares compostos formados por 4 pilaretes de seção quadrada de 12cm, unidos por almofadas, de pé direito duplo, nascendo do chão. É necessário que os pilares de pé direito duplo sejam maiores para resistir aos esforços de flambagem. Ambos são fixados por conectores metálicos. As lajes que sustentam o pavimento superior são pré-moldadas treliçadas, apoiadas sobre as paredes, de modo que a área de circulação fique em balanço e recuada do pilar. As aberturas são compostas por vidraças fixas e janelas pivotantes, emoldurados por caixilhos de madeira. O arremate das paredes é feito por meio de cintas de amarração.

(recursos bioclimáticos) visando a complementar a eficiência energética e conforto ambiental do projeto, foram adotadas algumas estratégias, como o próprio tijolo, cujos furos e espessura contribuem para o isolamento térmico; cobertura suspensa da laje, para evitar aquecimento do ambiente, e aberturas em fachadas opostas, para facilitar a ventilação cruzada; cisternas para o armazenamento e reuso de água de chuva; telhas translúcidas sobre as escadas para favorecer iluminação natural; placas fotovoltaicas na cobertura para armazenamento de energia.


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Vista para a fachada norte


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Desafios da Implantação de Arquiteturas de Terra na contemporaneidade


95 As construções em terra crua apresentam grandes potencialidades construtivas, como a economia de energia, conforto térmico e acústico, caráter reciclável do material, dentre outros. Existem, porém, alguns desafios quanto sua aplicação nos dias atuais. Os principais são disponibilidade de material, preconceito cultural, falta de mão de obra qualificada e especializada. Apesar de no Brasil existir vasta quantidade de terra, ela é mais abundante nas zonas rurais. Isto leva a uma via de mão dupla: é uma alternativa viável a construções no meio rural, pois sua oferta no local reduz gastos com materiais de construção como areia e cimento e torna-se economicamente acessível, sendo inclusive uma opção relevante para habitações populares, considerando que a maioria da população de baixa renda reside em zonas rurais e periféricas (MARICATO, 2000). Por outro lado, o meio urbano está em constante parcelamento e ocupação, o que dificulta a disponibilidade de terra. As possibilidades adotadas nos dias atuais têm sido a utilização de terra de demolição, ou a própria terra escavada de terraplanagem. Estas opções também apresentam benefícios, pois reduzem o acúmulo de entulho e de gastos com transporte do material. Dessa forma, as vantagens econômicas dependem de diferentes fatores: tempo de construção, oferta de material, de mão de obra. Se considerado o custo isoladamente, pode ser semelhante ao de uma alvenaria convencional, mas se consideradas todas as variáveis somadas às benesses a longo prazo, sobretudo sua qualidade construtiva, demonstra-se eficiente. Quanto à mão de obra, por se tratarem de técnicas preteridas ao longo do tempo, perdeu-se o interesse, de modo geral, na disseminação deste aprendizado e, com isso, a oferta de profissionais especializados, bem como de normas específicas para cada uma das técnicas. A partir dessas observações, é necessário o investimento no ensino destes sistemas, por meio de ensino técnico e também profissionalizante, além da inves-


96 tigação de formas de potencializar sua execução na atualidade, a partir de pesquisas e experimentações acadêmicas. A terra, por ser considerada um material limpo, no sentido de não conter elementos que podem irritar a pele (como por exemplo no caso do cimento, cujo pH é elevado), pode ser inclusive manuseada por crianças, de forma didática, através de brincadeiras ou excursões, visando ao ensino desde as primeiras fases, seja de formas menos agressivas de construir, ou das diferentes formas de utilizar os materiais. A participação feminina também é essencial. Apesar da desigualdade de vagas e de salários entre homens e mulheres no mercado de trabalho ter diminuído ao longo dos anos, a diferença ainda é considerável (Figura 100). No setor de construção civil, a participação de mulheres aumentou em 65% entre 2002 e 2012, Segundo dados do RAIS (Relação Anual de Informações Sociais). Em resposta a isso, surgem projetos de incentivo, como a ONG “Mulheres em Construção”, no Rio Grande do Sul e o “Mão na Massa”, no Rio de Janeiro. (DUTRA, 2017) Figura 100—Gráfico de Participação Feminina no mercado de trabalho.


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4.1 Canteiro Experimental Para a efetivação deste aprendizado, em se tratando da formação do arquiteto e urbanista, é essencial a experiência de manejo dos materiais, de forma a compreender como se comportam de fato, suas limitações, esforços. E isto se faz possível a partir da implantação dos canteiros experimentais. Reginaldo Ronconi1 , coordenador do canteiro experimental da FAUUSP há mais de 10 anos, defende a presença do canteiro nas universidades de arquitetura e urbanismo como um diálogo “de fazeres e de propostas, [que] estabelece suporte para interações que são raras no meio acadêmico. ”. (RONCONI, 2008). Ele ainda argumenta que a proposta do Canteiro é essencialmente pedagógica, por vezes confundida com a função de um canteiro de obras por exemplo. Ambos constituem espaços de atividade prática e manipulação de materiais de forma a materializar projetos. Contudo, o canteiro de obras, mesmo sendo um “local de treinamento de habilidades construtivas” desejáveis à formação do arquiteto e urbanista, não tenciona explorar a “potencialidade transformadora” do material; trata-se de um espaço de cumprimento de funções segundo as relações de força de trabalho e acúmulo de capital. Já o canteiro experimental oferece a liberdade de extrapolar as possibilidades e complexidades de sua profissão, bem como de reintegrar “o saber e o fazer como conhecimento único e vital para a realização da capacidade transformadora do homem. ”. (RONCONI, 2005). O canteiro experimental também é confundido como algo complementar ou anexo aos laboratórios de engenharia, em geral voltados a análises. Isto o afasta de atividades voltadas especificamente ao exercício da arquitetura urbanismo, é necessário compreender que cada um deles tem suas devidas importâncias e funções. Cabe ressaltar que as atividades desempenhadas no canteiro de obras e pelos laboratórios 1  Arquiteto, professor doutor da FAUUSP, coordenador do Canteiro Experimental da FAUUSP e do Laboratório de Modelos e Ensaios – LAME.


98 de engenharia não devem ser antagônicas. A confusão entre eles deriva justamente da relevância de integrar seus ofícios. As peculiaridades do canteiro experimental consistem na possibilidade de servir a todas as fases da formação do estudante, de acordo com a evolução e complexidade de seus projetos, e da possibilidade de erro, na verdade desejável, como uma atividade empírica, de se chegar a uma solução satisfatória, mas também entender as falhas e o caminho entre o projeto e a realidade. (RONCONI, 2005). A proposta do Canteiro Experimental também possui um papel político, pois proporciona um olhar sistêmico ao estudante, no sentido de se relacionar com diferentes perfis profissionais, em especial professores e técnicos operacionais. Estas relações permitem trocas de saberes essenciais e ajudam a romper com preconceitos e hierarquias, sejam sociais ou intelectuais, que são criados entre quem concebe e quem executa. Pedro Fiori Arantes comenta que é necessário que essa relação não seja feita de maneira gratuita, “reduzida a “experimentalismo” de classe média, formalista e confinado”. Sérgio Ferro, por sua vez, afirma que “não há ensino sem teoria explícita; não há teoria sem verificação experimental - caso contrário, o ensino passa a ser exposição do ego do professor. ”. (FERRO,2008, p. 21). O exercício desenvolvido no canteiro pode ir além dos limites da sala de aula e pode ir além da teoria, constituindo-se em práxis crítica, ou seja, “uma teoria correspondente à sua prática” de maneira consistente e que possa relacionar “pedagogia, produção do espaço e ação política”. (ARANTES, 2008). Isto pode ocorrer por meio de alianças com cooperativas, organizações populares, além do desenvolvimento de laboratórios de habitação. A seguir, veremos alguns estudos de caso sobre formas de como arquitetos contemporâneos têm se apropriado da terra na arquitetura, tanto crua como queimada, neste último caso, salientando-se elementos, físicos e conceituais, que podem ser ou já são incorporados também às construções de terra crua, como a pré-fabricação e a modulação. Veremos também como seus trabalhos têm abordado as considerações discutidas ao longo deste trabalho.

Figura 67.1—Totens de terra. Canteiro FAU (USP). (Autoria Própria, 2017)

Figura 67.2—Escritório com diferentes tipos de parede. Canteiro. (Autoria Própria, 2017)

Figura 67.3—Cobertura do Canteiro. (Autoria Própria, 2017)


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4.2 Joan Villà: Moradia e os Sistemas Pré-Fabricados

Figura 67.4—Taipa de Pilão pigmentada. Canteiro. (Autoria Própria, 2017)

Estudantil

da

Unicamp

Joan Villà é um arquiteto nascido em Barcelona, em 1940, mas que reside no Brasil desde 1951. Concluiu sua graduação em arquitetura em São Paulo e, após isto, especializou-se em infraestrutura urbana em Milão. No início da década de 1980 iniciou, em Barcelona, seu doutorado em construção. Em seguida, passou a lecionar nas Universidades Mackenzie e Belas Artes, instituições onde trabalha até os dias atuais. A partir do ano de 1985, Villà começou a trabalhar com “movimentos sociais reivindicativos e com as cooperativas de habitação”. (MONTANER; MUXÍ, 2013). Isto o conduziu a investigar formas de trabalhar com o déficit habitacional sob dois aspectos: de industrialização da construção e de processos participativos que a envolvem.

Figura 67.5—Teste de escada. Canteiro. (Autoria Própria, 2017)

Sérgio Ferro (1969) apresenta uma análise sobre as questões que envolvem moradia e construção no Brasil, sobretudo o déficit habitacional, a insuficiência na produção de materiais e a produção manufatureira mais significativa que a industrial. Paulo Bruna (1976) também analisa a questão habitacional, tanto na Europa do pós-guerra quanto no Brasil pós-década de 1970, e considera a racionalização da construção um meio para efetivar as diretrizes do Plano Nacional de Habitação da época.

Figura 67.6—Prensa para fabricar tijolos de solocimento. Canteiro. (Autoria Própria, 2017)

Villà, dessa forma, passou a se preocupar com “uma expressão poética brasileira comprometida com as condições reais do país” e em “fazer da técnica uma linguagem”, considerando que nos países europeus se desenvolveram políticas habitacionais emergenciais e focadas na pré-fabricação após a Segunda Grande Guerra.


100 (VILLÀ, 20015, p. 5). No Brasil, contudo, este fato repercutiu na intensa entrada de imigrantes, dificuldade em absorção do contingente populacional e consequente crise habitacional. A lógica tecnocrática aplicada no país, neste contexto, não ocorreu como nos países europeus. Financiada pelo Estado, foi reproduzida em larga escala e sem considerar as peculiaridades de cada região ou comunidade, além de não ser acompanhada por infraestrutura básica de suporte, necessária sobretudo nas regiões periféricas. A partir disso, em 1984, o arquiteto iniciou suas pesquisas e experimentos de pré-fabricação. Denominados por ele de CPC, os pré-fabricados cerâmicos foram desenvolvidos a partir do tijolo cozido, um material amplamente difundido nas construções brasileiras, porém de uma maneira nova, com vistas à redução do tempo e custo de produção, bem como a potencialização da qualidade e produtividade. (Figura 68).

Figura 68—Painéis de CPC (Adaptado de VILLÀ, 2005, Autoria Própria, 2018)

Procuramos seguir o caminho por vezes presente nas manifestações da cultura popular e que nos surpreende na composição erudita, quando transforma a extraordinária economia de meios na sua maior virtude e riqueza. Como no “Samba de uma nota só. (VILLÀ, 2002, p. 67).

Adotou, aliado a esta nova técnica, o trabalho cooperativo, ou sistema de mutirão, recorrente principalmente em situações de autoconstrução frente à precariedade de habitações. Defende, porém, que este seja executado com preparo instrumental adequado para que se evite desperdícios na obra, e que haja maior participação feminina, considerando que, apesar de crescente, é delegada às funções menos qualificadas e remuneradas. Estas observações conduziram Joan Villà ao desenvolvimento de dois laboratórios de pesquisa sobre habitação, o primeiro chamado de Laboratório de Habitação

Figura 69—Tipos de Painéis (VILLÀ, 2005)


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Figura 71.2—Planta da Moradia Estudantil. Acervo de Joan Villà. (MONTANER; MUXÍ, 2013)

Figura 71.1—Perspectiva Axonométrica da Moradia Estudantil. Acervo de Joan Villà. (MONTANER; MUXÍ, 2013)

da FAU da Belas Artes (1982 - 1986), em São Paulo, e o segundo , Laboratório de Habitação da Unicamp (1986 - 1999), em Campinas. Ambos mesclavam diferentes profissionais - arquitetos, engenheiros e estudantes, dentre outros - na pesquisa sobre pré-fabricação em habitações, incluindo aqueles que mais tarde realizaram importantes políticas de habitação, como Raquel Rolnik e Nabil Bonduki. Em ambos laboratórios, o objetivo era de que os painéis pudessem ser montados no chão e em dimensões e peso adequados para não mais que quatro pessoas, tanto homens quanto mulheres, facilitando também questões de transporte. Dessa forma, foram modulados em 45 cm e com alturas variáveis. (Figura 69). Os painéis pré-fabricados foram divididos segundo função estrutural, sendo elas: painéis de laje, de parede, de instalações (elétrica e hidráulica) e de escada. Foram feitos, também, testes de posição dos tijolos na composição. A “furação na horizontal” assemelhava-se às alvenarias tradicionais e apresentava maior superfície de contato, enquanto que a “furação vertical, como se nelas tivessem sido assentadas de pé”, permitia a passagem de dutos através dos furos. A posição das nervuras também foi considerada, adotaram-se “furos paralelos à nervura”, de forma a desenvolver painéis variados de acordo com articulações tridimensionais. (VILLÀ, 2002) A Residência Estudantil da Unicamp (1992), localizada a 1,5 km do campus da Universidade, é considerada a maior experiência realizada em pré-fabricados cerâmicos (CPC). Foi construída em um momento de consolidação urbana do distrito de Barão Geraldo, uma antiga região de fazenda que deu espaço a loteamentos com qualidade de bairro-jardim e que atraiu principalmente professores, funcionários, famílias de classe média e estudantes, estes colaborando para a efervescência da rotina e de serviços locais.

Figura 72—Moradia Estudantil da Unicamp. Foto Stepan Norair Chahinian (MONTANER; MUXÍ, 2013)

A Residência foi prevista com capacidade para 1,6 mil estudantes em 300 unidades. Estas unidades, que possuem 3 cômodos cada, foram desenvolvidas como


102 unidades autônomas, interligadas por salas e jardins internos de uso comum que permitem a exploração da volumetria e remetem à formação da “república”, recorrente no “contexto universitário”. (VILLÀ, 2005). (Figuras 70.1 a 70.4). Foram criadas alas, com 27 unidades habitacionais cada, além de uma sala de estudos coletiva. As alas foram dispostas em “três patamares básicos”, estabelecidos de acordo com a pequena declividade do terreno. O conjunto de três alas constitui uma quadra , cujo interior é formado por uma praça-pátio, com sala de uso múltiplo e centro de convívio. A interligação entre quadras compõe um conjunto articulado e a relação entre quadras e alas se dá por passeios de pedestre. Eles são conectados ao sistema viário principal, interligando as quadras ao centro comercial, que se destina a estudantes e moradores do bairro (CAMARGO, 2006). (Figuras 71.1 e 71.2). A proposta do arquiteto é de que o desenho do território, inspirado no traçado das ilhas greco-latinas, sintetize dois tipos de espaço urbano: a praça e a rua, ambas concebidas não só como espaço de tráfego, mas como um cenário. Neste contexto, o pátio formado pelo desenho do interior da quadra configura-se como “espaço semi-público e protegido , mas, ao mesmo tempo simbolicamente urbano” (VILLÀ, 2005). (Figura 72). Figura 70.1 a 70.4—Moradia Estudantil da Unicamp. Foto: Letícia Baquini (2017)


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4.3 Tomaz Lotufo e a Comunidade: Uma Nova Escola para Guiné Bissau Tomaz Lotufo formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela PUC Campinas em 2000, e em Permacultura pelo Ecocentro IPEC (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado) em 2002. Concluiu seu mestrado em 2014 pela FAUUSP, com o título “Um novo ensino para outra prática: Rural Studio e Canteiro Experimental, contribuições para o ensino da arquitetura no Brasil”, em que analisa a relevância do ensino aliado à prática e da aproximação entre arquitetura e comunidade. Faz isto a partir da observação de dois modelos: os Laboratórios de Habitação (LabHab) e os Canteiros Experimentais. Dessa forma, Lotufo acompanha, principalmente, as atividades do Canteiro Experimental da FAUUSP, com 15 anos na ocasião, e do Rural Studio (Figura 73), fundado em 1993 nos Estados Unidos, que reúne profissionais e estudantes na produção arquitetônica para comunidades de baixa renda do Alabama. Com isso defende a necessidade de uma renovação no ensino da arquitetura no Brasil, bem como da própria profissão, considerando que, atualmente, é mistificada pela acumulação de riquezas e consumo excessivo como formas de sucesso profissional, valores ainda largamente difundidos na cultura da sociedade, em contraponto ao aumento da vulnerabilidade social e habitacional. (LOTUFO, 2014, p. 1, ibid. p. 15).

De cima para baixo: Figura 73—Harris/ Butterfly House. Rural Studio, 1996. Foto: Timothy Hursley (Rural Studio, 2017) Figura 74—Projeto de Oficinas em Morretes (PR). Tomaz Lotufo/ Sem Muros

Trabalha, atualmente, no Sem Muros, um escritório colaborativo de permacultura e arquitetura integradas nos âmbitos social, ambiental e econômico. Seus projetos são focados na produção de baixo impacto ambiental , bem como nos aspectos comunitário e pedagógico. (SEM MUROS, 2017, p.1). Dessa forma, segundo o site oficial, tenciona-se voltar o olhar “da escassez para a abundância”, através da economia de materiais e recursos naturais, conforto térmico, energia renovável, dentre outros (Figura 74).


104 Juntamente de seu sócio, Henrique Pinheiro, realiza projetos e consultorias com foco na bioconstrução e métodos de baixo impacto ambiental e econômico. Neste contexto, O projeto do Centro Educacional Amizade São Paulo foi construído em 2013, em Guiné Bissau, na África Ocidental , a Sul do Senegal. Foi resultado de um concurso realizado pelo IAB - DF, em 2010, cujo projeto vencedor foi de autoria de Bruno Giugliani, Cintia Gusson Etges e Karen Bammann, todos de Porto Alegre - RS. A consultoria, neste contexto, foi direcionada à qualificação de “jovens lideranças da comunidade” na manipulação de “técnicas construtivas e tecnologias de baixo custo e impacto ambiental”. (BIOARQUITETO, 2018, p.1). A proposta do concurso era de um espaço construído que favorecesse a educação integral, comunitária e o desenvolvimento sustentável. O terreno encontra-se inserido em um bairro de modelo urbano ainda disperso, o que permite, dessa forma, pensar também em possíveis soluções para um planejamento territorial. As condições de conforto também foram fundamentais, tanto pelo clima quente quanto pelos recursos disponíveis na região, de caráter rural.

Figura 75.1—Planta da Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB).

Figura 75.2—Corte da Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB).


105 A terra ainda é bastante utilizada nas construções de Guiné, sendo mais frequentes o adobe e a taipa de pilão. Contudo, à maneira de outros países em desenvolvimento, à medida que se tem adotado culturas construtivas importadas de grau de industrialização mais elevado, os métodos tradicionais são subjugados e vistos com certa desconfiança. A intenção de se construir esta escola em adobe reside justamente no fato de demonstrar uma arquitetura satisfatória e que afirme os valores culturais locais. O programa para a escola é térreo e foi dividido em partes, em vez de um único bloco, de forma a dinamizar os espaços e potencializar o aproveitamento dos fluxos de ar. A circulação dos usuários entre esses blocos ocorre de maneira periférica a um pátio central, “catalisador de relações humanas” (Descrição dos Autores), formando um “C” ao redor deste. A noroeste, localizam-se as salas de aula e sala multiuso; a nordeste, a cantina e espaço de convivência (uso comum) protegido por pergolado; a sudeste, áreas administrativas e oficinas voltadas a atividades recreativas e culturais. Esta disposição foi pensada de acordo com a orientação solar, já que incide maior grau de radiação nas fachadas leste e oeste. Com base nisso, considerou-se também varandas em todos os blocos, para aumentar as áreas sombreadas. O programa também conta com duas quadras poliesportivas a Oeste dos blocos. (Figuras 75.1 e 75.2).

De cima para baixo: Figura 76.1—Esquema de Ventilação - Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB). Figura 76.2—Diagramas - Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB).

A ventilação natural também constitui um elemento importante, pois se trata de um ambiente de clima quente e úmido, característico de países localizados na linha do Equador, e de recursos financeiros limitados para a adoção de aparelhos de ar condicionado em larga escala. Os espaços foram desenhados para favorecer a ventilação cruzada e o sistema de chaminé, de modo que o “ar fresco da rua entre na edificação e o ar quente saia pela cobertura” (Descrição dos Autores) (Figura 76). Desenvolveu-se, para este projeto, um sistema que pretende potencializar o


106 ciclo de águas da seguinte maneira: CHUVA - CISTERNA - VASO SANITÁRIO - TRATAMENTO BIOLÓGICO DE ESGOTO - EVAPORAÇÃO - CHUVA (DO PROJETO). A preocupação com a chuva é relevante considerando que é direcionada em 45º na Linha do Equador e, em alguns meses do ano, o índice de precipitação é alto e pode provocar alagamentos. Optou-se, dessa forma, por manter o solo permeável no entorno da edificação e pela instalação de cisterna, com vistas à “redução da quantidade de chuvas no solo” e à “economia de água potável do poço para os vasos sanitários e limpeza da escola”. O poço em questão é aparelhado com painéis solares (Figura 77). Quanto ao sistema construtivo, para viabilizar os conceitos propostos, tiveram papel decisivo as demandas de orçamento e de mão-de-obra, de modo que que se possa reduzir os impactos financeiro e ambiental, e seja possível trabalhar por mutirão. As paredes são autoportantes, constituídas de blocos de adobe nas dimensões 20x40x20 cm e a fundação, em super adobe (terra ensacada), aproveitando-se o domínio destas técnicas pela comunidade e o emprego de materiais locais e de baixo custo, como a terra e a palha neste caso. O contrapiso e a cinta de amarração são construídos em concreto armado, durável e de fácil execução, sendo o contrapiso elevado do solo, para evitar os alagamentos. A estrutura do telhado é independente das paredes. (Figura 78).

Figura 78—Detalhes Construtivos - Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB).

Por fim, foi adotado o telhado metálico, considerado convencional e de grande inércia térmica, mas também reciclável e afastado da laje, estendendo-se até as varandas, para proteger a incidência do sol. A cumeeira aberta (deslocada para cima) também ajuda a impedir a incidência dos raios solares, mas permite, dessa forma, a entrada de luz natural. (Figuras 79.1 a 79.4). Figura 77—Ciclo das Águas - Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB).


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Figuras 79.1 a 79.4—Escola para Nova Guiné.


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4.4 Renzo Piano: Hospital Pediátrico em Uganda e salubridade das paredes de terra crua O recente projeto para o Hospital de Uganda pretende romper com a visão de “continente negligenciado” que ainda se tem sobre a África e reforçar a de “nova fronteira de um mundo em evolução”. (RPBW website, 2018). A parceria é feita entre a ONG Emergência, fundada pelo médico-cirurgião italiano Gino Strada, a equipe de Renzo Piano, arquiteto que, segundo Strada, escreveu a história da arquitetura ao longo dos anos, e o governo de Uganda. Dessa forma, esta será a primeira obra arquitetônica em África projetada por um arquiteto de reconhecimento mundial. Renzo Piano afirmou que deseja fazer desta uma arquitetura modelo: racional, tangível, moderna, bonita e firmemente ligada à tradição. Tenciona também que seja de importância simbólica para a promoção de cuidados de saúde e de cultura não só em Uganda, mas em todo o continente. (Figura 80)

Figura 80—Reunião entre equipe de Renzo Piano, Gino Strada e governantes de Uganda.

Renzo Piano nasceu em 1937, em Gênova, formando-se na Politécnica de Milão em 1964. Venceu, em 1971 o concurso para o projeto do Centro Georges Pompidou, maior museu europeu de arte contemporânea. Em sua fase inicial, trabalhou ao lado de Louis Khan, além de praticar a experimentação de materiais inovadores, o que lhe inclinou a valorizar o fazer artesanal. Valoriza também a interação de elementos naturais nos projetos, e o conceito de leveza e de versatilidade das formas. (FOLHA, 2011, p. 9). O arquiteto, em conversa com Renzo Cassigoli, afirma ser um homem de canteiro de obras, afirmando que não é verdade que tudo está no projeto, é no canteiro que estão muitas decisões que, no papel, parecem ser irrelevantes, além de ser uma construção infinita, “assim como os edifícios e as cidades” (PIANO, 2011, p. 30). Piano admite que sua preocupação com desenvolvimento sustentável foi um aprendizado adquirido com com tempo, principalmente ao refletir que a ideia de crescimento

Figura 81.1—Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou / Renzo Piano, Nova Caledônia


109 sem limites levou as cidades e grandes centros a “explodirem e construírem as piores periferias, feitas de muros, mas sem as estruturas nas quais uma sociedade se organiza e vive”. (ibidem, 2011, p. 38). Ademais, demonstra respeito à cultura e diversidade dos locais em que atua, respeitando os materiais naturais por exemplo, como no projeto para o centro de cultura canaque de Numeia, na Nova Caledônia (Figuras 81.1 e 81.2). Segundo ele,

Figura 82—Croqui de Renzo Piano para Desenho do Hospital de Uganda

Há esse terrível engodo que, em vez de pensar no “progresso” em termos de fertilização entre culturas a ser respeitadas e reativadas, nos termos propostos pelos grandes temas da vida, em nome da “modernidade” se recorre a outros modelos que não nos pertencem. (PIANO, 2011, p. 49).

O Hospital está localizado a 35km da capital Kampala, à margem norte do Lago Vitória1. Trata-se de um hospital de excelência em cirurgia pediátrica, com serviços gratuitos que pretende atender Uganda e países vizinhos, considerando que, segundo informações da ONG, o continente carece de unidades com estes quesitos. A taxa de mortalidade infantil de Uganda é de 90 crianças com menos de 5 anos, enquanto no Brasil, por exemplo, a mesma taxa é de 45 crianças2 (UNICEF, 2017).

1  O Lago Vitória ( ou Victoria Nyanza), é o maior lago africano e principal reservatório do Rio Nilo. Está compreendido entre Uganda, Tanzânia e Quênia. Possui área de 69,48 km², que o configura como o segundo maior lago de água doce do mundo, apesar de seus 82 metros de profundidade. Apresenta uma variedade de mais de 200 espécies de peixes, com destaque econômico para a tilápia (Tradução Própria).(Enciclopédia Britânica Online)

Figura 81.2—Planta e Croquis. Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou / Renzo Piano, Nova Caledônia

2  Taxa de Mortalidade Infantil de Crianças Menores de 5 anos, Mortes/ 1000 nascidos (ano base: 2016). Fonte: United Nations Inter-agency Group for Child Mortality Estimation (UN IGME),


110 Em 2009, foi criada a ANME - Rede Africana de Excelência Médica - com o objetivo de criar redes de atendimento público. A primeira obra concluída foi o Centro de Cirurgia Cardíaca Salam, em Cartum, no Sudão, seguida do Hospital de Uganda, em construção. Segundo informações da equipe de Piano, as paredes do hospital e os limites de seu caminho ao ar livre seguem o curso da terra e formam terraços sobre o qual ficará o próprio hospital, formando um continuum espacial entre interior e exterior. A forma do edifício acompanha as curvas que se inclinam até o Lago Vitória. (Figura 82). O sistema de taipa de pilão permite construir paredes monolíticas que, externamente, quebram a distinção entre as várias zonas. Estas paredes em camadas empilhadas de terra também criam unidade entre o lago, o parque e o ambiente hospitalar interno. Além disso, este sistema garante inércia térmica satisfatória e, por consequência, temperatura e umidade constantes. (Figura 83). A terra é um material abundante em Uganda, porém ainda associado a um passado de pobreza. A ideia de utilizá-la como matéria prima, neste projeto, é de devolver dignidade ao seu uso, muitas vezes preterido e relação a materiais importados. A técnica de taipa também dispensa o uso de cimento, além de contar com profissionais especializados, e ser considerada sustentável.

Figura 83—Parede Fabricada para compor a fachada do Hospital de Uganda.

Figura 85—Planta. Hospital de Uganda.

Houve uma preocupação quanto ao aproveitamento de energia solar. A cobertura é formada por uma estrutura mista de madeira e treliças metálicas que suportam 9800 m² de painéis fotovoltaicos ao longo de todo o telhado, o que equivale à superfície de um campo de futebol. A energia absorvida por esses painéis garante o fornecimento autônomo de eletricidade para o hospital durante o dia e, conectado à linha principal, também fornece energia ao entorno quando esta estiver baixa. O teto fotovoltaico “flutua” acima do prédio, garantindo sombra ao hospital e às passarelas Figura 84—Planta de Cobertura. Hospital de Uganda.


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descobertas (Figura 84).

Figura 87—Perspectiva. Hospital de Uganda

Figura 86—Corte. Hospital de Uganda

Quanto ao programa, foram previstas 3 salas de cirurgia, 78 leitos e um centro de treinamento para jovens médicos e enfermeiros africanos. A empresa fornecedora dos painéis também pretende oferecer treinamento profissional para a manutenção destes. A volumetria divide-se em três corpos paralelos, cobertos por grandes telhados planos. O primeiro corpo, menor, quadrado e em nível único, contém os espaços de recepção. O segundo e terceiro corpos, retangulares e dispostos longitudinalmente no plano, conformam as laterais do pátio (Figura 85). São semi-enterrados, dispostos em níveis diferentes, possuem dois andares e abrigam salas de cirurgia e unidades de terapia intensiva. O pátio central configura um jardim com grande árvore para o qual se voltam os corredores e parte dos leitos (Figuras 86). A ideia, segundo os autores, é de que o projeto paisagístico associado à vegetação local, com predominância de florestas e estepes, crie um horizonte para os pacientes e possa auxiliá-los no processo de cura (Figura 87). As considerações sobre um “edifício bioclimático construído de acordo com a arte local” (FloorNature) oferecem um contraponto a um dos preconceitos existentes em relação às construções de terra crua, que reside justamente em sua salubridade. A arquiteta e mestre em Saúde Pública Cláudia Gonçalves Thaumaturgo da Silva, desenvolveu, por meio da Fundação Oswaldo Cruz, a dissertação de Título Conceitos e Preconceitos relativos às construções em terra crua. Discorre sobre um paradoxo observado em relação à tecnologia das edificações e sua eficiência de fato, considerando que “devido à confiança demasiada na tecnologia, às construções modernas são,


112 em sua maioria, indiferentes aos rigores do clima local”. (SILVA, 2000. p. 17). Ela afirma que o ser humano é eminentemente técnico. Produz o que não está disponível na natureza e a adapta para si. Dessa forma, a técnica nasce com a história humana, a partir da manipulação dos primeiros instrumentos, e, ao longo do tempo, ocorre uma diferença de grau de desenvolvimento, mas não necessariamente de qualidade. A técnica emerge na intenção de produzir o supérfluo, em um “esforço para poupar esforço”. Esta técnica pode ser classificada como científica, apoiada em supostos e condições, o que confere uma certa segurança, e pode ser rudimentar, mais espontânea e independente de postulados. A fragilidade da técnica científica é que, ao mesmo tempo que possibilita várias formas de aplicação, pode distanciar-se do objetivo primário de “poupar esforços” ao generalizar um uso que deveria ser mais específico. Exemplo disto é a contaminação eletromagnética dos ambientes devido ao uso de equipamentos eletrônicos em larga escala. A curto prazo, o ar é poluído por ondas eletromagnéticas e, a longo prazo, isto pode contribuir para a ocorrência de doenças degenerativas. Na arquitetura, um fato semelhante se tornou frequente principalmente a partir dos anos 1980. A chamada poluição indoor ocorre devido a um desequilíbrio iônico do ar, que pode ser consequência tanto do nível reduzido de renovações de ar, já que muitas janelas não abrem, quanto da poluição por agentes sintéticos como tintas e vernizes e da climatização artificial do ar, em que os aparelhos de ar condicionado acabam por dispersar contaminantes como poeira, cultura de fungos e bactérias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) denominou esta situação de SED - Síndrome dos Edifícios Doentes, cujas causas apontam direta ou indiretamente para a ventilação inadequada e provocam prejuízo nos usuários, como fadiga mental, dores de cabeça, dentre outros. Carlos Lemos, ao comentar sobre isto, afirmou que “mora-se mal”, “se descuida dos isolamentos térmicos, abusa-se dos panos envidraçados” (LEMOS, 1979, apud SILVA, 2000, p. 22).

Figura 88—Mapa de Ocorrência da Doença de Chagas.


113 Quanto à salubridade das casas de terra crua, aponta-se como mais alarmante a doença de Chagas. Esta doença é causada pelo protozoário Trypanosoma Cruzi, cuja ocorrência geográfica é quase exclusiva das Américas (Figura 88). No Brasil, ataca tanto animais silvestres como domésticos, em principal cães e gatos, e atinge os humanos através dos insetos do gênero Triatomíneo, popularmente conhecidos como Barbeiros. A profilaxia pode ser feita a partir de vacinação, de cuidados quanto à transmissão por transfusão e do combate ao vetor. Este combate pode ser ofensivo, com uso de inseticidas, ou defensivo, por meio de melhorias habitacionais. O combate defensivo mostra-se mais efetivo, já que, além de inseticidas serem bastante tóxicos, as melhorias produzem resultados a curto e longo prazo. (SILVA, 2000). Cabe ressaltar que a Doença de Chagas era de caráter silvestre. Tornou-se um problema endêmico e de ocorrência humana a partir da colonização predatória, que provocou intenso desmatamento e redução da fauna silvestre, provocando uma migração dos insetos e alojamento em casas mal conservadas, sobretudo do meio rural, onde predominam casas de pau-a-pique. É frequente encontrar, até os dias atuais, casas deste tipo que não receberam revestimento e manifestam frestas e rachaduras provenientes da retração da argila3 . Estes pequenos orifícios escuros e frescos fazem-se ideais para o alojamento do barbeiro (Figura 89). Em 1958, O Ministério da Saúde criou o SESP - Serviço Especial de Saúde Pública, que investigou a utilização da terra como material de construção nas construções rurais brasileiras. A partir disso, foi realizada documentação de diversas casas, reconhecimento de importância histórica quando fosse relevante, e adoção de melhorias quanto à insalubridade dessas, priorizando, na medida do possível, o uso de materiais locais como o bambu, o “pau-roliço”, a palha e o barro. Ora, se

Figura 89—Casa de Pau-a-pique mal conservada.

3  Cabe lembrar que a terra ideal para a produção de casas de pu-a-pique deve ser úmida e conter mais argila que areia. (Ver Capítulo 2)


114 as melhorias das casas de terra consistia na manutenção com a própria terra, isto levantou um fator significativo: o alojamento do mosquito está mais relacionado a casas mal conservadas que a casas de pau-a-pique em si. É necessária, nesse ínterim, uma mudança tanto nos cuidados com as casas (aplicação de argamassas após a secagem por exemplo), quanto nos conceitos pré-concebidos que as associam à má qualidade e posição social inferior. Estes preconceitos são observados dentro do próprio histórico do Ministério da Saúde. No ano de 1990 houve uma campanha que defendia a “substituição de cafuas (...) por residências decentes de alvenaria” (Ministério da Saúde, 1990, apud SILVA, 2000, p. 56). Cláudia da Silva (2000, p. 56) afirma, contudo, que “mesmo casas de alvenaria podem apresentar condições favoráveis ao vetor”, e exemplifica a partir das casas dos indígenas na Amazônia e América Central, onde não são encontrados focos de barbeiros ou da doença de Chagas. Isto se deu posteriormente à colonização branca. A situação de salubridade das habitações está envolvida com outros fatores além do tipo de sistema construtivo. Em 1980, com a consolidação da economia urbano-industrial e esgotamento de quase todas as possibilidades de sobrevivência no meio rural, a população urbana brasileira era de 70% e a rural, de 30%, sendo que em 1940 este quadro era o oposto. Este processo acelerado de urbanização no século XX, seguido de uma ocupação do solo desordenada, contribuiu para o aumento de casas maltratadas em meio urbano, propiciando a instalação da doença. A maioria da nova população urbana passou a viver em aglomerados4, com pouca ou nenhuma 4  Segundo o IBGE, “aglomerado subnormal é o conjunto constituído por 51 ou mais unidades habitacionais caracterizadas por ausência de título de propriedade e pelo menos uma das características abaixo: - irregularidade das vias de circulação e do tamanho e forma dos lotes e/ou - carência de serviços públicos essenciais (como coleta de lixo, rede de esgoto, rede de água, energia elétrica e iluminação pública).” Fonte: IBGE

Figura 90—Casas às margens do Rio Jaguaribe, em João Pessoa - PB (Foto: André Resende/G1)

Figura 91—O Conjunto Bromélias, do MCMV em Mogi das Cruzes (SP)


115 infraestrutura e saneamento básicos. (Figuras 90) O problema de déficit habitacional só se agravou desde então, e os sucessivos planos de habitação e cooperativas, apesar de atenderem essencialmente a população de origem rural, não demonstram qualquer referência de suas culturas. São conjuntos “áridos”, afastados das centralidades, em geral semelhantes a caixas empilhadas ou colocadas lado a lado, sem cuidados de conforto ou estética, com uso de materiais de custo-benefício questionável, como os tijolos de concreto, que possuem alta condutibilidade térmica e acústica.(Figura 91) Estas casas prontas, além dos riscos de poluição mencionados, quando executadas com qualidade inferior e mal conservadas, podem apresentar tantos reveses quanto uma casa de pau-a-pique. Não se trata de desconsiderar a ocorrência da doença em moradias desse tipo, mas de salientar as causas que levam à situação. As casas de terra crua, em especial as de pau-a-pique, costumam ser tratadas com preconceito por serem o meio mais barato e recorrente de construção das populações em situação precária. Esta situação mostra-se contraditória, considerando que chegou ao país pelo colonizador europeu, mas é preterida por ele, isto porque, quando aqui disseminada, já era considerada arcaica na Europa, dando lugar ao avanço da ciência. E dentre as técnicas de terra, a taipa de pilão era mais valorizada, por demandar mais material e mão de obra. Figura 92—Centro Cultural del Desierto Nk’Mip / DIALOG, Canadá

O repúdio por parte do colonizador induziu a população a um preconceito cultural em relação às técnicas mestiças e gradual perda de interesse em seu aperfeiçoamento ou disseminação, chegando aos dias atuais da maneira precária, como sinônimo de pobreza e de insalubridade. Isto se deve à tendência de importação de culturas de outros países considerados mais desenvolvidos e na perda de uma sabedoria popular que pode ser inteligente justamente por ser simples. E quando de interesse do colonizador, volta a ser valorizada, mas como elemento de vanguarda. (Figura 92)


116

4.5 Solano Benítez e as possibilidades do tijolo: Centro de Reabilitação Infantil da Teletón Solano Benítez é um arquiteto nascido em 1963 em Assunção, no Paraguai. Formou-se pela Universidade Nacional de Assunção (PAR) em 1986 e, atualmente, é sócio-fundador do escritório Gabinete de Arquitectura, em que desenvolve trabalhos com Gloria Cabral e Solanito Benítez. Já conquistou prêmios internacionais como o BSI Swiss Architectural Award 2007-2008, na Suíça, o AIA Honorary Fellowship 2012, nos EUA e o Leão de Ouro pela sua exposição na Bienal de Veneza de 2016. (Figura 93). Segundo Catálogo Oficial da Bienal de Veneza 2016: Os tijolos são o elemento icônico do estúdio de Solano Benítez. Um material ancestral, forjado pelo homem através de uma técnica milenar de modelagem e cozimento. Os tijolos são versáteis, baratos e fáceis de fabricar, permitindo que também em zonas marginalizadas do mundo as pessoas possam se dar ao luxo de construir suas moradias com este material. Benítez sente a poesia do tijolo e vem experimentando com sua versatilidade, ao limite de confiar unicamente neles como material primeiro de construção. (Catálogo Oficial da Bienal de Veneza, 2016) .

Benítez defende a exploração de materiais não convencionais, sobretudo materiais locais, como o tijolo, de forma a buscar soluções melhores, seja em relação à estética, recursos financeiros ou funcionalidade. De acordo com ele, “Uma arquitetura que não é experimental, é inútil”. Em palestra oferecida à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universida-

Figura 93—Exposição “Breaking The Siege”, Gabinete de Arquitectura


117 de Mackenzie, o arquiteto afirma que devemos prezar pela viabilidade e habitabilidade dos seres com empatia, de forma que nos vejamos não como culpados, mas como responsáveis pela pesquisa e produção de conhecimento do mundo que queremos. Comenta também que a função da matéria é proteger aquilo que é necessário, por isso não se deve construir hierarquias com esta matéria, tampouco se disciplinar a um único modo de fazer, mas imaginar suas capacidades de construtibilidade para, a partir disto, multiplicar as possibilidades, neste caso, criadoras e criativas. Com isso, Solano explica sua preferência pelo uso do tijolo. Ele não ama o material, mas o que este pode fazer (enquanto “abrigo”). O tijolo é um material considerado barato no Paraguai, o preço de um bloco equivale a 1% do preço de um saco de cimento. Apesar de considerado artesanal (da maneira que o utiliza), o arquiteto comenta que utilizar somente formas industriais também não é o ideal e demonstra, como exemplo, o filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin (Figura 94). Portanto, em um país com metade da população vivendo em situação de pobreza, construir com tijolo sai bem mais barato, além de poder contar com mão de obra local especializada. Além disso, o tijolo, segundo Benítez, é um material ergonômico e de grande adaptabilidade. Junto desta liberdade construtiva que oferece, vem a importância de utilizá-lo com responsabilidade. Daí a importância de se estudar, não para autopromoção, mas para se obter a instrução necessária, como base para outros conhecimentos. O arquiteto acredita que a opção por um material diferente traz uma mudança de mentalidade, e que a partir desta alternativa pode trabalhar para conseguir garantir as mesmas oportunidades para as pessoas, e para que todas tenham boas condições de abrigo. Figura 94—Uso artesanal de Tijolos. Casa Esmeraldina/ Solano Benitez

Uma destas mudanças se faz perceptível a partir do projeto para o novo Centro de Reabilitação Infantil da Teletón (CRIT), em Lambare, região metropolitana do


118 Paraguai, próxima a Assunção. Trata-se de um espaço de 30 anos, mas que até então, da mesma forma que outras instituições do Paraguai, esteve abandonada e envolvida em corrupção. A proposta para este projeto é de revitalizar sua função social, e a verba disponível provém de uma arrecadação anual emitida por televisão. Dessa forma, os autores do projeto buscaram utilizá-la com criatividade e imaginação. A primeira etapa consistiu na demolição das paredes existentes. A segunda, na reconstrução e readequação do espaço. Buscaram, também, explorar novos usos para os pré-fabricados e para as paredes a partir do entulho. A cerâmica atua como protagonista, tanto pelo seu valor construtivo quanto estrutural, e foi adotada como nova matéria prima para se integrar às funções do programa. A cobertura metálica, já existente, foi reaproveitada, mas deslocada para cima, aumentando-se o pé-direito na área dos atuais consultórios. Algumas paredes foram pintadas em branco, para se integrarem à cobertura (Figura 95).

Figura 95—Fachada de tijolos pintada de branco. CRI Teletón/ Solano Benitez.

Algumas fachadas, em principais aquelas que cercam a área de atividades aquáticas, são vedadas com vidro reciclado, para “economia de materiais”, afirma o arquiteto. Neste espaço, o arquiteto também dispõe os tijolos de formas não convencionais. Sobre os pilares de concreto, dispõe os tijolos armados como se formassem uma pirâmide invertida. Em algumas fachadas e no entorno da cobertura, faz dobras nas paredes, semelhantes à forma de uma sanfona, de maneira que, dependendo da orientação solar, alguns tijolos façam sombra em outros, auxiliando para que mantenham sua temperatura (Figura 96). O espaço é constituído por dois edifícios, sendo os originais construídos em 1982 (Figuras 97.1 e 97.2). O menor, de 224m², foi reconstruído na primeira fase e funcionará como sede da Fundação. O espaço maior abrigará principalmente os consultórios. O ponto-chave deste projeto é o túnel de tijolo armado que liga os consultórios e a área de espera. Este túnel, semelhante a uma estrutura unilaminar, é

Figura 96—Estrutura da área de atividades aquáticas. CRI Teletón/ Solano Benitez. Foto: Lauro Rocha


119 formado a partir do conceito de abóbada catenária, em que as cargas são distribuídas uniformemente. Os reforços são feitos por triângulos de concreto armado e “tímpanos da estrutura”, nas bordas do arco. Cada arco foi executado com uma mistura de “tijolos quebrados e concreto” e recebeu uma cruz reforçada com aço. Estes reforços auxiliam para que o arco trabalhe não só à compressão, mas também à tração. A árvore existente foi respeitada, e parece “furar” a estrutura do arco (Figuras 98.1 a 98.3).

Figura 99.1—Igreja Cristo Obrero/ Eladio Dieste. Foto: Gonçalo Viramonte

Os trabalhos de Solano Benítez também remetem aos do uruguaio Eladio Dieste. O arquiteto e engenheiro viveu entre 1917 e 2000 e elaborou diferentes trabalhos com tijolo. Defendia o progresso técnico-científico associado a tecnologias apropriadas, e não somente importadas de países considerados desenvolvidos. Segundo ele, “Países centrais em que nasceu a arquitetura chamada moderna têm clima, condições ambientais, nível de vida e tradições construtivas muito distintas das nossas” (DIESTE, 1998, p. 43). Dieste também fez uma extensa exploração de culturas construtivas, principalmente com cerâmica armada. Desenvolveu abóbadas de dupla curvatura e abóbadas autoportantes em grande escala (Figura 99), sendo estas bastante utilizadas em indústrias, estacionamentos, hangares, dentre outros. Na coleção sobre arquiteturas latinoamericanas (1998), comenta que quando se pensa em uma nova técnica, é necessário o poder da imaginação, que consiste em ver trabalho e investigar sobre sua eficácia e viabilidade. Além disso, discute sobre a relação entre a forma e resistência de uma obra, e não somente o acúmulo de matéria, considerando que não há mais elegante e nobre (do ponto de vista intelectual) que resistir pela forma e nada que imponha mais responsabilidade plástica.

Figura 99.2—Vista Interna. Igreja Cristo Obrero/ Eladio Dieste. Foto: Gonçalo Viramonte

O arquiteto também comenta sobre a dificuldade em desenvolver um sistema não convencional, devendo-se extrapolar o conhecido, já que não há suporte técnico


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À Direita: Figura 98.2—Túnel Vazado de Tijolos. CRI Teletón/ Solano Benitez. Foto: Federico Cairoli.

e bibliográfico adequado para isto. De acordo com ele, “(...) é muito claro: não tínhamos mais bibliografia a que recorrer, devíamos nos basear nos grandes princípios e no espírito crítico e vigilante” (DIESTE, 1998, p. 48). É necessário, ademais respeitar a relação e interdependência entre arquitetura e construção, considerando o ambiente (ou a limitação) e a responsabilidade de cada arte. Ademais, Eladio Dieste defende o uso do tijolo quanto à sua racionalidade construtiva, economia (em sentido amplo, não somente a curto prazo), coerência e ajuste formal, adequação funcional, estética, estrutura e expressividade, considerando a integração destas qualidades no desenvolvimento de uma tecnologia apropriada, com seriedade e adequação à realidade. Se a expressividade da densidade do humano se estendesse a tudo que vemos, a vida se enriqueceria, e seria incomparavelmente maior sua qualidade: a arte não estaria confinada nos museus, viveria nas ruas. (...) A expressão, para ser autêntica, não pode, como já dissemos, ser gratuita: um primeiro fundamento é a coerência do que construímos com sua capacidade resistente, por isso é natural que adequemos o construído aos esforços a que vai estar submetido. É o que faz a natureza em um milenar e sutilíssimo processo de ajuste da forma à função. (DIESTE, 1998, p. 50)

Figura 97—Planta e Cortes. CRI Teletón/ Solano Benitez (Adaptado) À esquerda: Figura 98.1—Túnel Vazado de Tijolos. CRI Teletón/ Solano Benitez. Foto: Federico Cairoli.


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122 [a matéria no território]

Tentativas e Erros

Tive a oportunidade de conhecer o Canteiro Experimental da FAUUSP junto do professor Ronconi e desenvolver algumas atividades no Canteiro da FAU Mackenzie. O Canteiro da FAUUSP, chamado Antonio Domingos Battaglia, um dos professores pioneiros na criação de um espaço para culturas construtivas dentro da universidade, existe desde 1997 e possui uma área extensa, bastante equipada e em contínua transformação. Uma das mais recentes, segundo o professor, são alguns contêineres para o armazenamento de materiais. O Canteiro passa a visão de também ser uma experimentação, como a cobertura tensionada feita em um tipo de tecido plástico e elástico e o escritório de forma abobadada, cobertura verde e paredes feitas em diferentes materiais, incluindo partes em taipa de pilão com terra pigmentada e tijolo de solocimento com terra de reuso. Atualmente, são ministradas aulas aos primeiros semestres e a alunos em final de graduação, como disciplina optativa. O Canteiro da FAU Mackenzie funciona há 3 anos, em um espaço anexo dentro do campus da universidade, com aulas ministradas aos primeiros semestres. É uma conquista recente de docentes do curso de arquitetura, alguns deles em pesquisas sobre arquitetura e tecnologia. Neste espaço, pude desenvolver alguns blocos de solocimento, porém com compactação manual, para fazer experimentações de transmissão de calor no laboratório de conforto. O resultado demonstrou que o tijolo de solocimento apresenta desempenho satisfatório e que existem diferentes condicionantes que influenciam no isolamento, como cor, revestimento e umidade. A possibilidade de manipular, na prática, aquilo que se projeta, valoriza tanto o acerto quanto o erro, é uma experimentação útil e necessária à formação profissional.


123 Proposta de canteiro experimental A partir destas considerações, a proposta de um canteiro experimental junto à Escola visa a criar uma extensão aos estudos teóricos propostos, com foco em sistemas de terra crua, mas também se estendendo a outros sistemas complementares. Tenciona-se que esta relação entre ensino e prática aconteça em proporções semelhantes, como uma escola-canteiro, em que a investigação destas arquiteturas possa ser feita inclusive em escala 1:1, como os elementos vazados propostos, que compõem algumas fachadas do projeto. Estes elementos possuem as mesmas configurações do tijolo de solocimento, porém com comprimento de 50 cm, o dobro do utilizado nos blocos adotados para as paredes, e 4 furos, de modo que o encaixe entre eles forme pequenos e variados vãos que permitem a passagem de luz e ventilação.


124

CORTE D - Transversal (Canteiro Experimental)


125

Vista para entrada da Escola (sul)


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127

ĂĄrea de convivĂŞncia/ estudos < arena (Fachada sul)


128

Laboratรณrio/ Espaรงo de Pesquisa


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Vista para Rampa (Térreo Inferior)


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LISTA DE FIGURAS


131 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Cidade de Bam.

19

Figura 2 - Muralha da China. 19 Figura 3 - Pirâmide do Sol.

19

Figura 4 - Mapa de Arquiteturas de Terra pelo mundo (CraTerre). 20 Figura 5.1 - Casa do Tatuapé 37 Figura 5.2 - Casa do Capão (Regente Feijó) 37 Figura 5.3 - Capela Rural do Santo Ângelo 37 Figura 5.4 - Igreja de São Benedito 37

Figura 9.1—Casa do Padre Inácio (MAYUMI, 2008. Adaptada) 23 Figura 9.2—Plantas. Casa do Padre Inácio (MAYUMI, 2008. Adaptada) 22 Figura 10 — Tipologias de Casas Bandeiristas. (MAYUMI, 2008. Adaptada) 24 Figura 11.1 — Sítio da Ressaca. Foto de Tiago Sala. (2007) 26 Figura 11.2 — Planta. Sitio da Ressaca 26 Figura 12 — Planta. Villa Rotonda. Andrea Palladio (sec. XVI) 26

Figura 5.5 - Casarão do Carmo 37

Figura 13 — Sede da “Chácara do Quinzinho”. Exemplo de Casa do Período do Açúcar (LEMOS, 1999) 27

Figura 5.6 - Capela do Morumbi 37

Figura 14 — Elementos de um Telhado. (Autoria Própria) 27

Figura 5.7 - Casa do Grito

37

Figura 5.8 - Casarão do Chá

37

Figura 15 — Sobrado Aguiar Valim, Bananal. Exemplar de casa do período cafeeiro (LEMOS, 1999) 28

Figura 6 — Casa antiga de Nubia, Egito 21 Figura 7 — Mesquitas no Cairo, Egito. Detalhe para abóbadas. 21

Figura 16 — Exemplo de palacete paulistano projetado por Ramos de Azevedo no final do século XIX (LEMOS, 1999) 28

Figura 8—Casa de Reza da Aldeia Itakupé (Face Oeste). Foto: Patrícia Juvenal (2017) 23

Figura 17—Evolução das tipologias, do sec XVII a 1930. (COSTA, 1937 apud SoOMBRA, 2013) 31


132 Figura 18.1 — Mapa de Localização de Mogi das Cruzes. (Google Maps) 32 Figura 18.2 — Mapa de Mogi das Cruzes. (Web Busca) 33 Figura 19 — Rio Tietê (trecho em Mogi das Cruzes). (Autoria Própria, 2017) 32 Figura 20 — Planta da Área Central de Mogi das Cruzes em 1901. Destaque para a Linha Ferroviária. (GRINBERG, 1961. Adaptada) 35

(Autoria Própria, 2017)

43

Figura 23.6 — Mercado do Produtor; barreira do tipo cercado (Autoria Própria, 2017) 43 Figura 23.7 — Parque Centenário; barreiras em diferentes planos (Autoria Própria, 2017) 43 Figura 23.8 — Habitações unifamiliares nas proximidades do terreno (Autoria Própria, 2017) 43 Figura 23.9 — Conjunto Habitacional; barreira do tipo muro (Autoria Própria, 2017) 43

Figura 21.1 — Vista Aérea de Mogi das Cruzes em 1939 (GRINBERG, 1961). 35

Figura 23.10 — Faixa de Pedestre (Autoria Própria, 2017) 43

Figura 21.2 — Vista Aérea de Mogi das Cruzes na década de 1950. (GRINBERG, 1961). 35

Figura 23.11 — Parque Centenário; circundado por barreiras vegetais e cercados (Autoria Própria, 2017) 43

Figura 22 — Apresentação da Congada do Divino. (Autoria Própria, 2017) 34 Figura 23.1 — Centro de Formação Pedagógica; Barreira do tipo muro (Autoria Própria, 2017) 43 Figura 23.2 — Via Urbana x Rio Tietê; vegetação como barreira (Autoria Própria, 2017) 43 Figura 23.3 — ausência de faixa de pedestre próximo a um cruzamento (Autoria Própria, 2017) 43 Figura 23.4 — Vista para Linha Ferroviária (Autoria Própria, 2017) 43 Figura 23.5 — Extensão do Rio Tietê; barreira do tipo cercado

Figura 23.12 — Sítio de Projeto. Condomínio Residencial ao fundo (Autoria Própria, 2017) 43 Figura 24.1 — SanBaoPeng Art Museum / DL Atelier. Foto: Sun Haiting (2017) 53 Figura 24.2 — SanBaoPeng Art Museum / DL Atelier. Foto: Sun Haiting (2017) 54 Figura 25 — Muralha de Marrakech e Portão Bab Agnaou. 54 Figura 26 — Taipal ou Cofragem (Autoria Própria, 2017) 55


133 Figura 27—Casa em Enxaimel 55

63

Figura 28 — Malho e componentes do taipal. 57

Figura 38.2—Casa construída em Cob 63

Figura 29 — Compactadores Manuais (Acima) e Mecânicos (Abaixo). (Autoria Própria, 2017) 57

Figura 39—Preparo de paredes em Cob 63

Figura 30—Cofragem Ascendente (Autoria Própria, 2017) 56

Figura 40.2—Casa Em Pães De Barro Em Dürne, Alemanha (MINKE, 2015) 64

Figura 31—Capela do Morumbi, com paredes em taipa aparente 56

Figura 40—Casa Em Pães De Barro Em Dürne, sem reboco, Alemanha (MINKE, 2015) 64

Figura 32—Restauro “Casarão Lm” De Pau-a-Pique/ Pisani Car-

Figura 41—Montagem de Parede de Pães de Barro (Autoria Própria, 2017) 64

rion 59 Figura 33—Fundação em pedra ou concreto para pau a pique. 58 Figura 34—Estrutura do Pau-a-pique/ Gaiola (Autoria Própria, 2017) 59

Figura 42.1—Base ICMbio (Instituto Chico Mendes De Conservação Da Biodiversidade Cutias Do Araguari – Ap. Henrique Pinheiro/ Cecília Prompt 65

Figura 35—Centro Holístico Punto Zero/ Dio Sustentable 60

Figura 42.2—Base ICMbio (Instituto Chico Mendes De Conservação Da Biodiversidade Cutias Do Araguari – Ap. Henrique Pinheiro/ Cecília Prompt 65

Figura 36.1—Vila de Nova Gourna. Hassan Fathy/1945-1948 61

Figura 43—Preparação da terra em sacos de ráfia (Autoria Própria, 2017) 66

Figura 36.2—Masterplan Para Nova Gourna. Hassan Fathy 61

Figura 44—Verga sobre abertura em parede de superadobe (MINKE, 2015) 66

Figura 37—Preparo Manual e Mecânico de blocos de Adobe (Autoria Própria, 2017) 62

Figura 45—Estrutura de Sustentação do Telhado sobre paredes de terra ensacada. 66

Figura 38.1—Sala de uma casa em Cob

Figura 46.1—ENFF - Escola Nacional Florestan Fernandes. (Autoria Própria, 2017) 67


134 Figura 46.2—ENFF - Escola Nacional Florestan Fernandes. (Autoria Própria, 2017) 67

Figura 57—Construção de Abóbadas 83

Figura 46.3—Figura 46.3 - Escola Nacional Florestan Fernandes. 70

Figura 58—Biblioteca de Gando 83

Figura 47— Prensas Manual e mecânica (Cinva-Ram) (Autoria Própria, 2017) 68 Figura 48—Exemplos de blocos e de fiadas (Autoria Própria, 2017) 69 Figura 49—Exemplo de Casas Tradicionais em Burkina Faso. (Kéré Foundation) 80 Figura 50—Confecção de blocos compactados em Gando. (Marco Milazzo & Associados) 81 Figura 51—Etapas de polimento do chão. (TED Talk) 80 Figura 52—Esquema de Ventilação.(Adaptado de TED Talk, Autoria Própria, 2017) 81 Figura 53—Escola Primária de Gando 82 Figura 54—Planta da Escola Primária 82 Figura 55—Cortes da Escola Primária 82 Figura 56—Extensão da Escola Primária 83

Figura 59—Laje Abobadada da Escola Secundária. 84 Figura 60—Cortes e Detalhamentos da Escola Secundária. 86 Figura 61—Planta da Escola Secundária 84 Figura 62—Corte Transversal da Escola Secundária. 84 Figura 63—Montagem de Painéis 85 Figura 64—Colocação dos Painéis 85 Figura 65—Esquemas de Resfriamento 86 Figura 66—Proteção do beiral da Escola Secundária 86 Figura 67.1—Totens de terra. Canteiro FAU (USP). (Autoria Própria, 2017) 98 Figura 67.2—Escritório com diferentes tipos de parede. Canteiro. (Autoria Própria, 2017) 98 Figura 67.3—Cobertura do Canteiro. (Autoria Própria, 2017) 98


135 Figura 67.4—Taipa de Pilão pigmentada. Canteiro. (Autoria Própria, 2017) 99 Figura 67.5—Teste de escada. Canteiro. (Autoria Própria, 2017) 99 Figura 67.6—Prensa para fabricar tijolos de solocimento. Canteiro. (Autoria Própria, 2017) 99 Figura 68—Painéis de CPC (Adaptado de VILLÀ, 2005, Autoria Própria, 2018) 102 Figura 69—Tipos de Painéis (VILLÀ, 2005) 102 Figura 70.1 a 70.4—Moradia Estudantil da Unicamp. Foto: Letícia Baquini (2017) 104 Figura 71.1—Perspectiva Axonométrica da Moradia Estudantil. Acervo de Joan Villà. (MONTANER; MUXÍ, 2013) 103 Figura 71.2—Planta da Moradia Estudantil. Acervo de Joan Villà. (MONTANER; MUXÍ, 2013) 103 Figura 72—Moradia Estudantil da Unicamp. Foto Stepan Norair Chahinian (MONTANER; MUXÍ, 2013) 103 Figura 73—Harris/ Butterfly House. Rural Studio, 1996. Foto: Timothy Hursley (Rural Studio, 2017) 105 Figura 74—Projeto de Oficinas em Morretes (PR). Tomaz Lotufo/ Sem Muros 105

Figura 75.1—Planta da Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB). 106 Figura 75.2—Corte da Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB). 106 Figura 76.1—Esquema de Ventilação - Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB). 107 Figura 76.2—Diagramas - Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB). 107 Figura 77—Ciclo das Águas - Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB). 108 Figura 78—Detalhes Construtivos - Escola para Nova Guiné (cedido ao IAB). 108 Figura 80—Reunião entre equipe de Renzo Piano, Gino Strada e governantes de Uganda. 110 Figura 81.1—Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou / Renzo Piano, Nova Caledônia 110 Figura 81.2—Planta e Croquis. Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou / Renzo Piano, Nova Caledônia 111 Figura 82—Croqui de Renzo Piano para Desenho do Hospital de Uganda 111 Figura 83—Parede Fabricada para compor a fachada do Hospital de Uganda. 112 Figura 84—Planta de Cobertura. Hospital de Uganda. 112


136 Figura 85—Planta. Hospital de Uganda. 112

Figura 97—Planta e Cortes. CRI Teletón/ Solano Benitez (Adaptado) 122

Figura 86—Corte. Hospital de Uganda 113

Figura 98.1—Túnel Vazado de Tijolos. CRI Teletón/ Solano Benitez. Foto: Federico Cairoli. 122

Figura 87—Perspectiva. Hospital de Uganda 113

Figura 98.2—Túnel Vazado de Tijolos. CRI Teletón/ Solano Benitez. Foto: Federico Cairoli. 122

Figura 88—Mapa de Ocorrência da Doença de Chagas. 114

Figura 99.1—Igreja Cristo Obrero/ Eladio Dieste. Foto: Gonçalo Viramonte 121

Figura 89—Casa de Pau-a-pique mal conservada. 115

Figura 99.2—Vista Interna. Igreja Cristo Obrero/ Eladio Dieste. Foto: Gonçalo Viramonte 121

Figura 90—Casas às margens do Rio Jaguaribe, em João Pessoa - PB (Foto: André Resende/G1) 116

Figura 100—Gráfico de Participação Feminina no mercado de trabalho. 98

Figura 91—O Conjunto Bromélias, do MCMV em Mogi das Cruzes (SP) 116

Figuras 79.1 a 79.4—Escola para Nova Guiné. 109

Figura 92—Centro Cultural del Desierto Nk’Mip / DIALOG, Canadá 117 Figura 93—Exposição “Breaking The Siege”, Gabinete de Arquitectura 118 Figura 94—Uso artesanal de Tijolos. Casa Esmeraldina/ Solano Benitez 119 Figura 95—Fachada de tijolos pintada de branco. CRI Teletón/ Solano Benitez. 120 Figura 96—Estrutura da área de atividades aquáticas. CRI Teletón/ Solano Benitez. Foto: Lauro Rocha 120


137


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Referências Bibliográficas


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145 Figura 14 - Autoria Própria, 2017 Figura 17 – (Lucio Costa,1937 apud) VITRUVIUS. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/media/images/magazines/grid_9/e1ee59ded4bd_fig_11.jpg>. Acesso em: 02 de maio. 2018. Figura 18.1 – Google Maps Figura 18.2 – Webbusca. Disponível em: <http://www.webbusca.com.br/pagam/mogi_cruzes/mapa_mogi_cruzes.gif>. Acesso em: 03 de jun. 2018. Figura 19 – Autoria Própria, 2017 Figura 20 – GRINBERG, 1901, p. 92 Figura 21.1 – GRINBERG, 1901, p. 245 Figura 21.2 – GRINBERG, 1901, p. 335 Figuras 22; 23.1 a 23.12 – Autoria Própria, 2017 CAPÍTULO II Figuras 24.1 e 24.2 – ArchDaily. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/885121/museu-de-arte-sanbaopeng-dl-atelier >. Acesso em: 06 de jun. 2018. Figura 25 – wikimedia. Marraquexe. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Marraquexe >. Acesso em 03 jun. 2017. Figura 26 – .Casas Enxaimel. Disponível em: <http://www.casasenxaimel.com.br/d654e2f8-dda2-4c4f-804b-a7a214b4f663.aspx >. Acesso em: 04 dez 2017 Figura 27 – Blog Arquitecturas De Terra. Disponível: <http://arquitecturasdeterra.blogspot.com/2012/10/construcao-em-taipautensilios. html >. Acesso em: 03 jun 2017. Figuras 28, 29 e 30 – Autoria Própria, 2017


146 Figura 31 - Museu da Cidade de SP. Disponível em: < http://www.museudacidade.sp.gov.br/capeladomorumbi.php >. Acesso em: 03 jun 2017. Figura 32 – PISANI CARRION SITE. Disponível em: <http://www.pisanicarrion.com.br/blog/projeto-casarao-lm-construido-de-pau-a-pique/ >. Acesso em: 04 jun 2017. Figura 33 – PROMPT, 2008, p. 33 Figura 34 – Autoria Própria, 2017 Figura 35– FRANCO, José Tomás. “Em Detalhe: Madeira, Palha e Adobe / Centro Holístico Punto Zero” [En Detalle: Madera, Paja y Adobe / Centro Holístico Punto Zero]. 28 Nov 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Brant, Julia). Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/800279/ em-detalhe-madeira-palha-e-adobe-centro-holistico-punto-zero>. Acessado 3 Jun 2018. Figura 36.1 – SERAGELDIN, 2007, p. 84 Figura 36.2 – Great Buildings. Disponível em: <http://www.greatbuildings.com/cgi-bin/gbc-drawing.cgi/New_Gourna.html/New_Gourna_ Town_Plan.html> >. Acesso em: 03 jun 2017 Figura 37 – Autoria Própria, 2017 Figura 38.1 - BuzzFeed. Disponível em: <https://www.buzzfeed.com/melismashable/50-stunning-homes-built-into-nature?utm_term=. xiN1Y7V9L#.kq0x6NWVq>. Acesso em: 03 jun 2017 Figura 38.2 – Dicas de arquitetura. Disponível em: <http://dicasdearquitetura.com.br/cob-casas-esculpidas-com-terra/ >. Acesso em: 03 jun 2017 Figura 39 - Autoria Própria, 2017 Figuras 40.1 e 40.2 - MINKE, 2015, p. 91 Figura 41 - Autoria Própria, 2017 Figuras 42.1 e 42.2 - BioArquiteto. Disponível em: <http://www.bioarquiteto.com.br/2011/08/base-icmbio-instituto-chico-mendes-de-con-


147 servacao-da-biodiversidade-cutias-do-araguari-%E2%80%93-ap/ >. Acesso em: 03 jun 2017 Figura 43 - Autoria Própria, 2017 Figura 44 - MINKE, 2015, p. 95 Figura 45 - Jardim do Mundo. Disponível em: <http://www.jardimdomundo.com >. Acesso em: 03 jun 2017. Figuras 46.1 a 48 - Autoria Própria, 2017

Capítulo 3 Figura 49 - Kéré Foundation, 2017 Figura 50 - Marco Milazzo & Associados. Disponível em: <http://www.milazzo.com.br/wordpress/marcomilazzoprojetosarquitetura/arquiteturaescolardiebedofranciskere/>. Acesso 15 jul. 2017. Figura 51 - TED Talk, 2017. Figura 52 - Adaptado de TED Talk, Autoria Própria, 2017. Figuras 53 a 58 - Kéré Architecture. 2017. Figuras 59 a 65 - LafargeHolcim Foundation, 2017. Figura 66 – Kéré Architecture. 2017. CAPÍTULO 4 Figuras 67.1 a 67.6, e 68 –– Autoria Própria, 2017 Figura 69 – VILLÀ, 2005 Figuras 70.1 a 70.4 – Letícia Baquini (2017)


148 Figura 71.1, 71. 2 e 72 – MONTANER; MUXÍ, 2013 Figura 73 – Foto: Timothy Hursley. Rural Studio. Disponível em < http://www.ruralstudio.org/projects/harris-butterfly-house> Acesso 3 jun. 2018 Figura 74 – Sem Muros Arquitetura Integrada. 2017. Disponível em < https://www.semmuros.com/oficina-ekoa-park>. Acesso 5 mai. 2017 Figuras 75.1 a 78 – Pranchas do Projeto Disponíveis pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, 2015. Disponível em http://www.iab.org.br/projetos/uma-nova-escola-para-guine-bissau>. Acesso 05 mar 2018 Figura 79.1 a 79.4 – BioArquiteto, 2017 Figura 80 – Embaixada Kampala - Disponível em <https://ambkampala.esteri.it/Ambasciata_Kampala/resource/img/2017/02/a_per_ home_page.jpg>. Acesso 05 jun 2018 Figura 81.1 e 81.2 - Langdon, David. “Clássicos da Arquitetura: Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou / Renzo Piano” [AD Classics: Centre Culturel Jean-Marie Tjibaou / Renzo Piano] 18 Jul 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado 7 Jun 2018. <https://www. archdaily.com.br/br/791537/ad-classics-centre-culturel-jean-marie-tjibaou-renzo-piano> ISSN 0719-8906 Figura 82 – Floornature. Disponível em <http://www.floornature.com/tag/hospitals/>. Acesso 24 abr. 2018 Figura 83 – ONG Emergency. Disponível em < https://en.emergency.it/projects/uganda-entebbe-paediatric-surgery-centre/ >. Acesso em 24 abr. 2018 Figura 84 – RPBW. Disponível em < http://www.rpbw.com/project/emergency-childrens-surgery-center>. Acesso em 24 abr. 2018 Figura 85 – Floornature, 2018 Figura 86 – RPBW, 2018 Figura 87 – Studio FH Architects. Disponível em < http://www.studiofh.ug/project/entebbe-paediatric-hospital>. Acesso em 03 jun. 2018 Figura 88 – DNDi - Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas . Disponível em < https://www.dndial.org/dndi-america-latina/>. Acesso em 03 jun. 2018


149 Figura 89 – Turismotopia. Disponível em < http://turismotopia.blogspot.com/2012/10/>. Acesso em 03 jun. 2018 Figura 90 - Maior aglomerado urbano da Paraíba contribui para déficit habitacional. G1. Disponível em < http://g1.globo.com/pb/paraiba/ noticia/2015/01/maior-aglomerado-urbano-da-paraiba-contribui-para-deficit-habitacional.html>. Acesso em 03 jun. 2018 Figura 91 - Minha casa minha vida... às escuras. Jornal O Globo. Disponível em < https://oglobo.globo.com/economia/imoveis/minha-casa-minha-vida-as-escuras-4465635>. Acesso em 03 jun. 2018 Figura 92 - “Centro Cultural del Desierto Nk’Mip / DIALOG” [Nk’Mip Desert Cultural Centre / DIALOG] 30 may 2014. Plataforma Arquitectura. (Trad. Duque, Karina) Accedido el 8 Jun 2018. <https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-365395/centro-cultural-del-desierto-nk-mip-dialog> ISSN 0719-8914 Figura 93 – “Exposição “Breaking The Siege” do Gabinete de Arquitectura é premiada com o Leão de Ouro em Veneza” [‘Breaking The Siege’ por Gabinete de Arquitectura: León de Oro en la Muestra Internacional de la Bienal de Venecia 2016] 01 Jun 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado 8 Jun 2018. <https://www.archdaily.com.br/br/788646/exposicao-breaking-the-siege-do-gabinete-de-arquitectura-e-premiada-com-o-leao-de-ouro-em-veneza> ISSN 0719-8906 Figura 94 – Conheça as possibilidades construtivas dos tijolos através da arquitetura de Solano Benitez. Viva Decora. Disponível em < https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetos/solano-benitez/>. Acesso em 03 jun 2018 Figura 95 e 96 – Lauro Rocha Fotografia. Disponível em < https://www.lrfoto.com.br/ >. Acesso em 03 jun. 2018 Figuras 97, 98.1 e 98.2 – “Centro de Reabilitação Infantil da Teletón / Gabinete de Arquitectura” [Centro de Rehabilitación Infantil de la Teletón / Gabinete de Arquitectura] 20 Set 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Delaqua, Victor) Acessado 8 Jun 2018. <https://www.archdaily. com.br/br/773977/centro-de-reabilitacao-infantil-da-teleton-gabinete-de-arquitectura> ISSN 0719-8906 Figura 99.1 e 99.2 – Foto: Gonçalo Viramonte. Dejtiar, Fabian. “O aparelhamento de tijolos da Igreja Cristo Obrero de Eladio Dieste, sob as lentes de Gonzalo Viramonte” 07 Mar 2018. ArchDaily Brasil. (Trad. Souza, Eduardo) Acessado 8 Jun 2018. <https://www.archdaily.com. br/br/890322/o-aparelhamento-de-tijolos-da-igreja-cristo-obrero-de-eladio-dieste-sob-as-lentes-de-gonzalo-viramonte> ISSN 0719-8906 Figura 100 – Fundação do Trabalho de MS (Funtrab). Disponível em < http://www.funtrab.ms.gov.br/em-dez-anos-cai-diferenca-entre-homens-e-mulheres-no-mercado-de-trabalho/>. Acesso em 03 jun. 2018.


150

Anexos


> Mapa de Divisão Administrativa Mogi das Cruzes Fonte: Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes

> Mapa de Áreas Urbanas (Amarelo), Áreas de Expansão Urbana (Vermelho) e Áreas Rurais (Cinza). Fonte: Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes

151


Mapa de Zoneamento - Distrito Centro Fonte: Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes

152


Mapa de Zoneamento - Distrito Vila Oliveira (Inclui o bairro de CĂŠsar de Souza) Fonte: Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes

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