VIAGEM À NAMÍBIA DELTA DO OKAVANGO e RESERVA DO CHOBE (Botswana) CATARATAS DE VICTÓRIA (Zâmbia e Zimbabwe) 19 de Setembro a 7 de Outubro de 2010
DIÁRIO DE BORDO
Prólogo Reencontrar os lugares que nunca conheci que deles li, que deles ouvi que senti nas imagens que me mostrei, nos pequenos filmes em que escutei a fala das gentes nos lugar de estar e onde olhei o horizonte longínquo das distâncias os desertos, os rios e o céu de fogo a despertar. Poderei agora mergulhar nas paisagens sem fim no cansaço do calor, da humidade no frio claro da noite. Quem sabe se a história sofrida dos povos que estavam e dos senhores que vieram me virá ainda a tocar?
9 .09.2010
VOANDO SOBRE A EUROPA E cá vamos nós sentados, alinhados mal comidos, enlatados cruzando a Europa em crise lá muito em baixo. Olhando pela janela, ao escurecer, o Monte Branco belo e branco de neve. Leio ,num jornal qualquer, um artigo sobre a saúde financeira da Ásia que não certamente a de milhões de asiáticos. Mas nós, cá vamos, como previsto, de passeio!
20.09.2010
VOANDO SOBRE A ÁFRICA
Mozart a beleza fluida da música setecentista voando sobre a África a onze quilómetros de altitude! “Cosi fan tutte” no monitor à minha frente. Mozart, quando poderá ele descer sobre o Continente e atingir, na paz, todos os continentes quando será que as músicas eternas poderão vencer todos os subdesenvolvimentos? AMEN!
21.09.2010
A CAMINHO DE SOSSUSVLEI O reino das acácias nascidas do acaso, resistentes solitárias à aridez cruel do deserto, à sede eterna. Lutam e vencem, árvores guerreiras, muitas, como que mortas outras, mostrando ao céu azul o verde conseguido e belas flores amarelas. Milhares de árvores aguardam, em silêncio, as primeiras chuvas que virão!
22.09.2010
SOSSUSVLEI Dunas. Bandeiras de areia ao vento imperceptivelmente desfraldadas erguem-se como montanhas guardando em si o frio imutável de milénios. Areia que chega, areia que parte sempre iguais, todos os dias diferentes, ao ritmo contínuo das horas faces tintas de sombra ou expostas e sorridentes, coloridas pelo Sol.
23.09.2010
REGRESSO A WINDHOEK
Searas que o não são campos loiros sem fim de ervas secas. Montanhas, serras gastas, nuas, rochas tremendas expostas há milhões de anos ao Sol e ao vento ao gelo da noite. Testemunhas imóveis do rodar interminável do Tempo perante a impotência dos Homens.
24.09.2010
EM VIAGEM PARA O BOTSWANA
Entre árvores espinhos uma árvore verde em chão seco de Sol mostra, sem sobranceria, que conseguiu, que conseguiu encontrar nas profundezas da terra um tesouro: água!
25.09.2010
ATRAVESSANDO O KALAHARI
Kalahari “ a terra que dá sede” a grande sede o deserto que não o é ervas, arbustos e árvores juntos em terra magra e seca onde despontam tímidas flores aguardam Novembro e as primeiras chuvas.
25.09.2010
GUMA LAGOON
A paz de um lago ao adormecer, a água espelha-se e até os nenúfares, junto a nós, se aquietam. No horizonte as margens verdes diluem-se no olhar e o ar sereno respira-se!
26.09.2010
NO DELTA DO OKAVANGO E a água que se espraia, lenta, em caminhos de juncos, canais de papiros lagoas de nenúfares. Entre grandes árvores centenárias milhares de plantas aquáticas que nos enchem o olhar que vivem do que a água lhes traz e nos esconde. E os elefantes, os crocodilos, os hipopótamos vivem tranquilos sem pesadelos com jardins zoológicos.
26.09.2010
NASCER DO SOL NO OKAVANGO Nascer do Sol acontecimento quotidiano universal porque inevitável tornado banal esquecido pelo viver a vida mas hoje mostrou-se-nos em todo o seu esplendor, bola de fogo reflectida no lago ainda adormecido. O belo espontâneo da natureza a foto fácil e brilhante para milhares de fotógrafos amadores um momento de luz para guardar para iluminar as escuridões que inevitavelmente todos iremos encontrar.
27.09.2010
NA RESERVA DE MOHANGO Animais na reserva, de reserva para sua protecção e para turista ver. Tranquilos esquivam-se aos disparos fotográficos, inquietos, perturbados nas suas tarefas quotidianas. A segurança, em qualquer lugar também se paga!
27.09.2010
PASSEIO NO RIO OKAVANGO AO ENTARDECER
Entardecer no rio manso de caudal farto e rosto plácido onde as margens se espelham e os hipopótamos se banham atentos de orelhas fora de água. Pássaros cruzam o rio e o Sol a despedir-se brinda-nos com mais um espectáculo encantatório antes de nos dizer: -Até amanhã!
28.09.2010
PERCORRENDO A FAIXA DE CAPRIVI Faixa de Caprivi excrescência geográfica namibiana por vontade diplomática de um oficial alemão de ressonâncias italianas que queria para a Alemanha como complemento ao pacote do Sudoeste Africano um acesso estratégico ao rio Zambeze julgando ter acesso ao Índico. E os europeus, esquartejadores do Continente, em Berlim, em 1800 e muitos entre banquetes e muita música deram-lhe este corredor. E assim foi, A BEM DA NAÇÃO!
29.09.2010
NA RESERVA DO CHOBE
Dia de observar animais selvagens na sua casa que pachorrentamente se deixam ver enquanto pastam a erva tenra nas margens do rio. Centenas de excitados turistas e entusiasmados fotógrafos de ocasião gritam em silêncio como crianças eu vi, eu vi, olha ali e onde está o leão?? E o dia terminou lindo com mais um exuberante por do sol.
30.09.2010
NAS CATARATAS DE VICTÓRIA
O rio largo que se quebra e se precipita. Água feita parede branca cobrindo de espuma a rocha negra e até o arco-íris vem engalanar a cena. Festival de cores na cortina líquida que cai, noite e dia, sem descanso.
1.10.2010
REGRESSO À FAIXA DE CAPRIVI Horas e horas atravessámos florestas nuas de belas árvores selvagens. Vivas, mortas, mortas vivas , derrubadas ou que resistem, verdes ainda, de pé em quintas e reservas a perder de vista ou em aldeias rudimentares onde homens e mulheres lutam por subsistir e em frágeis cidades de belos jacarandás de onde a “civilização” não chega.
2.10.2010
REGRESSO A WINDHOEK
Sentir as distâncias no olhar saturado de ver a paisagem nova que se repete e o corpo que se adormece esquecendo-se de chegar.
3.10.2010
SWAKOPMUND Swakopmund, para alguns, a terra de Ruy Duarte de Carvalho, angolano de Portugal refugiado de si próprio e dos pastores Hereros de que aprendeu a gostar, desiludido das “civilizações” que não civilizam deixou-se morrer no silêncio pacato desta cidadezinha. Ficou o seu amor às palavras o testemunho de uma civilização que já o não é. Porto de águas profundas e de tempestades como a vizinha Walvis Bay Ruy Duarte de Carvalho ficou-se em Swakopmund.
4.10.2010
A COSTA DOS ESQUELETOS O deserto plano e nu veio ver o mar colher-lhe o sal e esconder-se nos seus nevoeiros que matam navios que trazem frio e névoa alimento dos líquenes e das ervas esparsas, salpicos de vida na areia agreste e morta. Lugar de esqueletos de grandes navios de esperanças naufragadas na sede exposta à beira de água.
5.10.2010
AS HIMBAS Fotografar as belas mulheres Himbas dos bravos pastores Hereros, nómadas também elas longe da sua aldeia fazem valer caro a sua imagem nos mercados das cidades, como artesanato que vendem aos turistas, ávidos de imagens exóticas para mostrar aos amigos, quando regressarem sem nada terem visto.
5.10.2010
ÚLTIMO DIA NA NAMÍBIA Levar consigo as imagens das árvores grandiosas altivas ou torturadas as belas e agrestes paisagens que ladeiam as estradas sem fim e os majestosos jacarandás que ornamentam as cidades. O adeus à Namíbia que julgamos já conhecer onde se constrói uma Nação à sombra de um duro passado colonial. Em Portugal comemora-se o 5 de Outubro e nós….também.
6.10.2010
O REGRESSO Regressar com a memória cheia de novos olhares de paisagens desconhecidas de gentes outras de ideias refeitas de horizontes reconstruídos que o tempo irá apagando, mas o prazer de as ter vivido esse ficará para sempre vivo e doce na torrente implacável do Tempo.
jcastilho@netcabo.pt