Qwertyuiopasdfghjklzxcvb nmqwertyuiopasdfghjklzxc vbnmqwertyuiopasdfghjkl zxcvbnmqwertyuiopasdfgh VARIAÇÕES CANÓNICAS jklzxcvbnmqwertyuiopasdf SOBRE UM POEMA de ghjklzxcvbnmqwertyuiopa VASCO GRAÇA MOURA sdfghjklzxcvbnmqwertyuio pasdfghjklzxcvbnmqwerty uiopasdfghjklzxcvbnmqwe rtyuiopasdfghjklzxcvbnmq wertyuiopasdfghjklzxcvbn mqwertyuiopasdfghjklzxcv bnmqwertyuiopasdfghjklz xcvbnmqwertyuiopasdfghj JOAQUIM CASTILHO
DEZEMBRO DE 2006
Tanta coisa, tanta não me peças perdão, a culpa é minha: foi este tempo todo descuidado foi não achar que o fim um dia vinha foi ficar sem defesas a teu lado foi nunca te lembrar em sobressalto foi não deixar falar a tua boca foi não pensar em ventos no mar alto foi tanta coisa, tanta, hoje tão pouca foi deixar-me viver em falsa paz foi afagar-te as mãos sem as prender ou foi prendê-las mal e tanto faz julgar que se morria de prazer agora é tarde, sim, tarde de mais tropeço às cegas nesta dura lei, não sei se vale a pena dar sinais e o que te hei-de dizer também não sei. VASCO GRAÇA MOURA (Poesia 2001-2005,Quetzal, 2006, Fados & Companhia, pág. 77)
Variação nº1
não me peças perdão, a culpa é minha: foi neste tempo todo, sempre equivocado foi julgar ter-te, eu que não te tinha foi ficar contigo, só e abandonado foi lembrar-te sempre em sobressalto foi não te ver outra, solta e louca foi não pensar-te como vela em mar alto foi imaginar-te na praia exausta e rouca agora é tarde, sim, tarde demais só agora sei o que de ti não sei de nada me vale soltar lamentos, ais basta-me o eco do passado em que fiquei.
Variação nº2
se é minha a culpa, diz: o que perdoar? descuidado eu, como sempre, ao pé de ti esquecendo que um fim podia chegar eu, que ao ver-te, olhando, nunca te vi adormecido, embalado em falsa paz na ilusão infantil de te prender tu que de tudo e tanto és capaz só em mim nunca te foste acolher agora é tarde, mesmo muito tarde para remendar o que me acontecia agora sei que o fogo que em ti arde nunca aqueceu a luz deste meu dia.
Variação nº3
porque me pedes agora perdão se eu nada tenho que perdoar se fui eu quem criou esta ilusão se junto a ti me iludia a sonhar se eu próprio, sempre em sobressalto, se eu só vivia da tua boca se me julgava, contigo, em mar alto se a tua presença era tão pouca. tarde de mais, já tudo desabou e no silêncio dorido fiquei não mais quero ser o que ainda sou e o que quero ser, eu já não sei.
Variação nº4
“não me peças perdão a culpa é minha” foi o andar em mim adormecido foi o não ver o que se adivinha foi o encontrar-me eu, em ti, perdido. foi o construir um sonho desfeito foi o ter caminhado em chão de lava ou pensar que havia amor em teu peito julgar em ti o que só eu guardava. agora fico mudo no meu canto tropeço em mim a todo o momento não sei se de riso ou se de espanto e tudo o que faço desfaz-se em vento.
Variação nº5
não me peças agora qualquer perdão “foi este tempo todo descuidado” foi o nunca ter visto a razão foi o eu, de ti, estar inundado foi o meu fogo em ti, inconsciente foi o não ver, em mim, a luz do dia ou foi a sombra de um amor ausente julgar que, em ti, eu acontecia agora que tudo chegou ao fim tropeço naquilo que me restou não sei mais o que irá ser de mim e do que, de ti, em mim, ficou.
Variação nº6
não tenho que perdoar, culpa minha foi prender-me a quem nunca me foi presa “foi não achar que o fim um dia vinha” foi despertar, em mim, de uma surpresa foi criar de ti uma luz errada foi ter sonhado sempre a tua imagem ou querer-te em mim, por mim deslumbrada julgar seres tu mais do que uma miragem agora cego, já consigo ver tropeço eu na razão ignorada não sei se saberás o que dizer e, tudo o que eu diga, me sabe a nada.
Variação nº7
não, tu não tens, eu sei, culpa de nada foi estar eu, em ti, por ti deslumbrado foi o nunca seguir a minha estrada “foi ficar sem defesas a teu lado” foi conseguir ver o que nunca vi foi o meu rio longe do teu leito ou foi na névoa que me construí julgar eu que me tinhas no teu peito agora que tudo em mim se desfez tropeço em mim, tonto, adormecido não sei se eu me acorde desta vez e só quero é já te ter esquecido.
Variação nº8
não, não me venhas tu pedir perdão foi só minha a culpa de te não ter foi o eu nunca saber dizer não foi o viver de ti e não viver “foi nunca te lembrar em sobressalto” foi o olhar-me em ti, sem me olhar ou foi o ter-te sempre lá no alto julgar que não te irias afastar agora que eu já não mais te procuro tropeço em palavras que já vivi não sei porque me vejo neste escuro e o que é a luz não mais vem de ti.
Variação nº9
não, o perdão jamais será o meu foi minha a culpa o ter-me iludido foi a ilusão quem te conheceu foi eu, em ti, andar sempre perdido foi arrefecer tua mão na minha “foi não deixar falar a tua boca” ou foi o crer que tinha o que não tinha julgar que te ver era coisa pouca agora que já nada mais importa tropeço no tempo que se dilui não sei mais o que fere e o que corta e o que resta de tudo o que fui.
Variação nº10
não tenho que te perdoar, eu sei foi de te olhar sem nunca te ver foi tudo aquilo que me inventei foi o que nunca procurei saber “foi deixar-me viver em falsa paz” foi encantar-me com o teu olhar ou foi sonhar o que nunca serás julgar que jamais me irias faltar agora fico-me, no meu deserto tropeço nos destroços que adivinho não sei se estás longe ou se me estás perto e o que sonho, sonharei sózinho.
Variação nº11
não tem mais sentido o meu perdão foi o teres-me, por fim, dado alta foi o assumires a tua opção foi a razão do tempo que te falta foi o pensar-te sempre um céu aberto “foi afagar-te as mãos sem as prender” ou foi acreditar que estavas perto julgar que não me querias perder agora que tudo, de ti, se apaga tropeço numa sombra triste e gasta não sei se é tristeza o que me alaga e o que te quero, já me não basta.
Variação nº12
não, não há nada que perdoar foi minha a culpa, que assumi foi o ter esquecido o teu olhar foi o sabor, desse olhar, que perdi foi o meu cansaço de te não ver foi o mundo teu onde te demoras ou foi o que procuraste esconder, julgava-te eu minha, a todas as horas agora só me resta o teu vazio tropeço nas sombras que há em mim não sei se vou suportar este frio e o que sei, é ser agora o fim.