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visita guiada

E S T A D O D E E M E R G Ê N C I A

O Zoo de portas fechadas

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No dia 16 de março de 2020, após ser decretado o estado de emergência nacional, o Jardim Zoológico fechou as portas e implementou um plano de contingência interno. Uma das pessoas que esteve por trás da sua elaboração foi Rui Bernardino, médico veterinário no Hospital Veterinário do Jardim Zoológico, que respondeu a algumas questões sobre este tempo de exceção.

Foi desenvolvido um plano de contingência para o Jardim Zoológico. Em que consiste? Na sua essência, o plano de contingência adotado restringe o número de funcionários. Essa restrição foi adaptada aos diferentes departamentos e, como resultado, em alguns serviços os funcionários ficaram em quarentena preventiva na sua totalidade, em outros foram reduzidos ao número necessário, como acontece por exemplo para a manutenção da área animal. Nesta última, mantivemos os nossos critérios normais de acompanhamento, limpeza e desinfeção, alimentação, aprovisionamento, saúde animal e segurança. Todas as restantes medidas visam diminuir a exposição entre trabalhadores e equipas, nos diferentes momentos de permanência no Zoo (refeitório, trabalho, movimentação e balneários). Foi um processo complicado e moroso? De alguma complexidade, uma vez que o núcleo do trabalho da área animal não pode ser feito por teletrabalho, sendo por isso absolutamente fundamental reduzir o risco envolvido. Primeiro porque estamos a falar da saúde dos funcionários, depois porque a não eliminação de cadeias de contacto, pode implicar a ausência de um número significativo de pessoal que, na sua maioria, desempenha um trabalho específico; essa foi a nossa principal preocupação. Por termos reagido atempadamente e o termos feito de forma exaustiva, a implementação decorreu dentro do perspetivado.

Os tratadores continuaram a vir trabalhar todos os dias para cuidar dos animais. Quais as principais medidas que foram tomadas, para sua proteção? Essa foi a nossa prioridade. Para a sua proteção estabelecemos dois turnos de 14 dias, com divisão das equipas em dois turnos em que não existe contacto entre eles. Isso permitiu fazer iguais períodos de

quarentena com regras específicas e um questionário de acompanhamento com a finalidade de sinalizar situações atempadamente. Todas as outras áreas do Zoo acompanharam esta filosofia para que não houvesse elementos com contacto com ambos os turnos. Para além disso, reforçámos as medidas de desinfeção (que já existem de forma regular) e impedimos os contactos

entre sectores. Reativámos ainda vários balneários (com horários desfasados), e o refeitório passou a ser utilizado em horários diferentes também, espaçamento entre pessoas e serviços que utilizam o takeaway, numa linha de distribuição autónoma, impedindo o contacto entre funcionários de sectores distintos. Desta forma, eventuais casos positivos não afetam diferentes serviços. Implementámos ainda a utilização de máscaras reutilizáveis (de tecido com filtro) inclusive nas secções que habitualmente não as utilizam. As instalações dos animais foram, dentro do possível, atribuídas aos mesmos tratadores para que os utensílios, portas, cadeados, chaves e equipamentos se mantenham os mesmos, apesar de existir uma desinfeção permanente feita pelos próprios. Na troca de turnos são feitas desinfeções mais a fundo em todas as áreas, incluindo zonas comuns. Aplicaram-se medidas de proteção individual como lavagens frequentes das mãos, distanciamento, normas de utilização de veículos e outras de âmbito geral. A rotina dos tratadores mudou com certeza. Quer descrever-nos como foi? Mudou na perspetiva de estarem mais circunscritos aos mesmos animais pelas razões descritas, se bem que essa divisão já existia de forma habitual; neste momento é apenas mais solitária a presença nos espaços. Os contactos entre tratadores do mesmo sector e de setores diferentes estão muito reduzidos, salvo as exceções que o justifiquem. Não existia a interação com os visitantes e por isso, a movimentação no Zoo, era feita de forma diferente. Tudo para que também se pudessem sentir em segurança quando se deslocavam para o local de trabalho, esse foi e é um objetivo prioritário, que os tratadores estivessem corretamente informados sobre o risco, e que cumprissem normas, para que se sentissem, sintam e estejam, realmente seguros. Surgiu um caso de Covid-19 positivo num tigre de um Zoo nos EUA. Existe alguma medida mais apertada para os tratadores dos felinos? O nosso trabalho habitual já contempla medidas de proteção que estão sempre presentes no dia a dia. Os animais de companhia, animais de produção, selvagens ou sob cuidados humanos, fazem parte de um universo nos quais nos incluímos e do qual vírus, bactérias, parasitas, fungos, também fazem parte. Do ponto de vista veterinário, sempre lidámos com doenças infeciosas que se transmitem entre indivíduos da mesma espécie, de espécies diferentes ou com humanos em ambos os sentidos, as chamadas zoonoses. Talvez as pessoas agora compreendam mais facilmente por que é que tantas vezes pedimos que os visitantes não alimentem os animais. A proteção — desde os pedilúvios, desinfeções regulares de instalações e equipamentos, proteção individual — sempre fez parte das nossas boas práticas. Estamos, porém, perante uma situação que implica um risco entre pessoas acima do normal; nessa perspetiva reforçámos medidas e continuámos a cumpri-las.

PARA P���E�ÃO

FOR THE PROTECTION OF ALL

Apesar de todas as restrições impostas pela pandemia provocada pelo Covid-19, no Jardim Zoológico poderá agora reviver bons momentos em família, próximo da natureza. Proteja-se a si e aos outros. Despite all the restrictions imposed by the pandemic caused by Covid-19, at the Lisbon Zoo you can now relive good family moments, close to nature. Protect yourself and others.

Cumpra as recomendações da DGS e do Zoo. Follow DGS and Zoo recommendations.

Mantenha a distância de segurança de 2 m e evite áreas com maior densidade de visitantes. Keep the safety distance (2 m) and avoid areas with higher density of visitors.

Aconselhamos a utilização de máscara. We recommend the use of mask.

Lave frequentemente as mãos com água e sabão ou uma solução alcoólica desinfetante. Wash hands frequently with water and soap or with an alcohol-based solution

Tape a boca e nariz com o braço sempre que tossir e/ou espirrar. Cover mouth and nose with your bent elbow whenever coughing or sneezing.

Evite tocar na boca, nariz e olhos com as mãos. Avoid touching your mouth, nose, and eyes with your hands.

Não toque nos vidros. Do not touch the glass.

Existe perigo de contágio dos humanos para os animais e vice-versa? Sabemos que neste caso os humanos terão sempre maior risco pelo contacto com humanos do que propriamente com alguns destes animais. Em relação a se estes ou outros são mais ou menos suscetíveis, ainda é muito cedo para termos uma noção clara. Temos, também, de compreender questões como: a facilidade com que o vírus se replica em determinada espécie (pode-se replicar e não causar sintomas); se causa doença ligeira ou mais grave; qual a frequência de transmissão entre indivíduos; todas estas são questões importantes, mas que necessitam de tempo para que se compreendam na sua globalidade. Sabemos no entanto, essencialmente, duas coisas: é provável que se consiga replicar nalgumas espécies (independentemente de provocar doença ou não e de esta ser mais ou menos ligeira – existe uma “escala” de impacto e não é apenas por atingir uma espécie que passa a ser, obrigatoriamente, uma situação grave); sabemos que a Covid-19 vai atingir a grande maioria da população humana no futuro (senão a totalidade, pelo menos nas áreas com maior densidade populacional), daqui a uns anos essa será a realidade e será, virtualmente impossível, que as populações animais não tenham também contacto com o vírus no futuro. Isso não significa que não tenhamos adotado medidas mais extremas nesta altura, mas sim que temos de ter presente a noção de que apenas podemos controlar o que é controlável!

Os animais continuam a precisar de cuidados veterinários. Como se preparam para esta situação? É em tudo muito similar ao que existia anteriormente; todas as necessidades são correspondidas, mas com algu

mas normas instituídas. Existem dois turnos (tal como nos restantes colaboradores em geral), no entanto, em caso de necessidade, o veterinário de um turno pode ter de se deslocar para um procedimento específico, cumprindo sempre as normas de proteção individual. Adotaram-se outras normas como na entrega de material de desinfeção e de medicamentos aos tratadores; ocorre numa mesa exterior com identificação dos sectores (o material é desinfetado antes de ser entregue), não havendo contacto injustificado nas instalações do Hospital Veterinário. Reforçou-se, igualmente, a utilização do telefone ou rádio para comunicação sempre que possível e a movimentação no Zoo obedece a regras para diminuir o risco para todos os envolvidos, mas sempre mantendo os níveis de acompanhamento necessário.

O trabalho está a ser desenvolvido com um esforço enorme de todos os tratadores e alguns colaboradores de outras áreas. Quer deixar-lhes alguma mensagem? Dependerá sempre de todos o sucesso desta missão, sendo uma oportunidade de deixar o nosso contributo numa Instituição que, mais do que cada um de nós, ultrapassou 135 anos de existência com tantos outros momentos difíceis, e sempre, com sucesso! Estas são situações em que temos a oportunidade de responder e de estar à altura de um desafio maior; o nosso esforço significa segurança e qualidade ao serviço dos animais que fazem parte deste nosso universo e para os quais sempre estaremos presentes.

Quando tudo passar e olhar para trás o que gostaria de recordar? E que lição se pode tirar desta situação? Estamos num processo dinâmico em que iremos ter de fazer ajustes ao longo do tempo, de acordo com as necessidades que nos forem surgindo, e respondendo aos desafios (alguns mais previsíveis do que outros). Essa é a preocupação atual, ainda estamos longe de poder pensar em algo mais do que isso, tudo a seu tempo.

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