Revista Jardim Zoológico | Outubro 2015

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MAGAZINE Nº 21 · OUTUBRO 2015

Lince-ibérico, o felino mais ameaçado do mundo. Parabéns, Baía dos Golfinhos! Entrevista ao Green Sheik.


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3.

EDITORIAL

É (ainda) tempo de agir

4.

NASCIMENTOS

Hipopótamo Girafa Gorila

8.

FORA DE PORTAS

Conferência EZE

12.

BASTIDORES

Parabéns, Baía dos Golfinhos! Lince-ibérico, o felino mais ameaçado do mundo.

27.

TESTEMUNHO

Helen Doron

28.

ENTREVISTA

Green Sheik

30.

DENTRO E FORA

Os eventos dentro e fora do Zoo

32.

PASSATEMPOS

Sopa de Letras, Cruzadex, Palavras Cruzadas

FICHA TÉCNICA COORDENAÇÃO Serviço de Marketing COLABORADORES Ana Leonor Branco DESIGN Serviço de Marketing TIRAGEM 2.000 exemplares

Saguim-imperador


JARDIM ZOOLÓGICO

EDITORIAL

É (ainda) tempo de agir Este tem sido um ano marcado pela acção. O Jardim Zoológico agiu e quis inspirar a agir, focando-se na sua missão de conservação e reprodução das espécies, de educação e sensibilização. Orgulhamo-nos de ter agido, candidatando-nos a receber Gamma e Azahar, dois exemplares da espécie de felino mais ameaçada do mundo: o Lince-ibérico. Trata-se de ajudar os visitantes a familiarizarem-se com estes animais e a aprender um pouco mais sobre os seus hábitos e necessidades. São os únicos no Jardim Zoológico com um propósito puramente educativo. Pretendemos assim, motivar as pessoas a agirem de modo a respeitar o habitat natural desta espécie e a evitar comportamentos que a possam pôr em risco, tendo em conta o actual programa de conservação do Lince-ibérico, que já contou com a reintrodução de alguns destes animais na Natureza. “O poder do comportamento — Como inspirar as pessoas a agir!” foi o mote da Conferência Bienal Europeia de Educação da EAZA, este ano organizada pelo Jardim Zoológico. A finalidade era debater uma diversidade de temas ligados ao poder do comportamento. Being the New Change sugeriu o orador principal, o xeique Abdul Aziz Bin Ali Al-Nuaimi, conhecido como Green Sheikh, pelo seu trabalho na área ambiental. Não basta ensinar, é preciso inspirar para a mudança. É o que o Jardim Zoológico procura fazer todos os dias. Mas o Jardim Zoológico não é só feito da acção presente e futura. O nosso passado tem sido de constante actividade. Como resultado disso, e do êxito da nossa missão, comemoramos agora o nascimento de um Gorila-ocidental-das-terras-baixas, de um Hipopótamo-comum e de uma Girafa-de-angola. Celebramos ainda, os 20 anos da Baía dos Golfinhos, um delfinário com muita iniciativa, vitalidade e ânimo. Esta acção que nos tem caracterizado, à qual apelamos, com a qual contamos, só é possível graças ao empenho, eficiência e dedicação de todos: funcionários, voluntários, visitantes, parceiros e amigos. A todos, o meu Muito Obrigado! Bem hajam!

Francisco Naharro Pires Presidente

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NASCIMENTOS

sairc

Hipopótamo N Quando mergulham, só os olhos, orelhas e narinas ficam à superfície, e as narinas conseguem fechar-se para não entrar na água. Têm os dedos unidos por membranas para nadarem mais facilmente.

asceu dentro de água e é dentro de água que mais gosta de mamar, o que torna tudo mais cómodo. Falamos da dócil fêmea de Hipopótamo-comum, nascida a 16 de Novembro de 2014. Vive com a mãe, Bocas, de 17 anos, nascida no Jardim Zoológico, e o pai, Pelé, de 23 anos, chegado de Hannover (Alemanha). Além de mamar, o que fará até aos dez ou doze meses, esta pequena fêmea já vai procurando alimentos sólidos para manter os actuais cerca de 150 kg. De manhã, é frequente encontrá-la a dormitar sobre a palha, ao sol, entre a mãe e o pai, enquanto os progenitores se alimentam. Outro quadro muito comum é vê-la dentro de água, sempre perto da mãe. Só por volta do ano e meio de idade se tornará mais independente. Segundo a UICN (a União Internacional para a Conservação da

Natureza), esta espécie é considerada “Vulnerável”. As principais ameaças de que é alvo são a destruição do habitat e a caça para a extracção da carne e do marfim. É por este motivo que, um dia, tal como as outras crias de hipopótamo, esta pequena fêmea será transferida para outro zoo, onde, por sua vez, se possa reproduzir.


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NASCIMENTOS

J

osé Dias Ferreira, conta-nos que o coordenador da população de girafas a nível internacional, está neste momento a tentar despertar o interesse de outros zoos da Europa para esta subespécie, de modo a concentrá-la numa área geográfica pouco abrangente. O objectivo é facilitar o seu transporte de uns zoos para os outros. É que o transporte de uma girafa não é fácil. Exige que o animal vá com o pescoço para baixo, de modo a permitir que passe por baixo de pontes, por exemplo. Requer que se façam paragens durante alguns períodos, para que a girafa possa descansar, exercitar os músculos do pescoço e esticar-se. Actualmente existem na Europa três parques zoológicos com Girafas-de-angola. O ideal era que passassem a cinco ou seis.

Girafa

N

asceu com 1,90 metros e com 70 kilogramas. Se dissermos que só o pescoço tem 1 metro à nascença, ajuda a adivinhar de que animal se trata? É a girafa, pois claro. Este esbelto macho da subespécie Girafa-de-angola nasceu a 16 de Março de 2015 e, mantendo a elegância, pode vir a pesar 1,9 toneladas. Até ao momento nasceram no Jardim Zoológico entre 40 a 50 Girafas-de-angola. Tanto assim é, que as cerca de 20-25 girafas desta subespécie existentes em zoos europeus foram todas enviadas pelo nosso Zoo. Dias antes de parir, Babá foi afastada do grupo, ficando num recinto mais recatado. Após 15 meses de gestação, quando o pequeno macho nasceu, a passagem de Babá e da cria para junto das outras girafas foi feita gradualmente. Primeiro, criou-se apenas contacto visual, sem haver

possibilidade de aproximação física, depois permitiu-se a aproximação física controlada, através de uma rede, para que se pudessem cheirar e sentir, de seguida a cria teve um dia para reconhecimento do recinto exterior, e só a seguir é que mãe e cria se juntaram às restantes girafas. Embora ainda mame, o pequeno macho já vai degustando alguns sólidos, muitas vezes pré-mastigados pela mãe. Os dias são passados a comer, dormir e brincar. E como brinca uma girafa? A correr e a explorar o espaço, diz-nos Rui Bernardino, médico veterinário do Jardim Zoológico.

As girafas dormem de pé porque na natureza têm de estar precavidas contra eventuais predadores e, como demoram algum tempo a levantar-se, mais vale estar logo de pé, caso algum destes se aproxime.

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NASCIMENTOS

Gorila J

á nasceu o Jahari, a cria de Gorila-ocidental-das-terras-baixas. No dorso da mãe ou pendurado ao seu colo, Jahari apanha banhos de sol, mama, brinca e vai explorando toda a instalação, interior e exterior. É possível encontrá-lo também, a dormitar na relva ou a brincar com punhados de erva, sempre junto à progenitora, levantando a cabeça uma ou outra vez, enquanto o pai, vigilante, observa com olhar profundo, todos aqueles que se aproximam. Após uma gestação tranquila, que nos gorilas pode durar entre 8 e 9,5 meses, Jahari nasceu a 22 de Fevereiro de 2015. Pesava apenas cerca de 2 kg, mas desengane-se quem julga que este “peso-pluma” se manterá pela vida fora. O gorila é o maior de todos os primatas, e os machos podem chegar aos 180 kg! Daí o nome Jahari, que

foi escolhido por votação no site do Jardim Zoológico, com o apoio da empresa Lusiteca, Pastilhas Gorila, e que significa “forte e poderoso”. Na primeira semana após o nascimento, para sua protecção, mãe e cria foram mantidas na sua instalação interior. Passados esses primeiros dias, coube a Anguka decidir o que preferia fazer, se ficar abrigada no interior ou passear pelo exterior. «Ao longo do primeiro mês é comum a mãe isolar-se um pouco com a sua cria e evitar sair», explica-nos

Segundo a UICN existem apenas 113.000 gorilas na Natureza.

José Dias Ferreira, curador dos mamíferos, «mas, aos poucos, vai-se aventurando a vir para o exterior.» Por enquanto, mãe e cria são inseparáveis. Sempre que se desloca, Anguka leva o pequeno macho consigo, levantando-o muitas vezes pelo braço. É graças a esta proximidade que, gradualmente, Jahari vai aprendendo tudo: a deslocar-se, a comer, a comportar-se. Continuará a mamar até aos


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NASCIMENTOS

três ou quatro anos, altura em que talvez comece a arriscar afastar-se um pouco mais dos progenitores. «Uma cria de gorila é especialmente apegada à progenitora e muito sensível», diz-nos José Dias Ferreira. Exige muitos cuidados. Talvez por isso a Natureza tenha feito com que uma fêmea só tenha uma cria de cada vez e com intervalos entre as crias de quatro a seis anos, em função do tempo que esteja a amamentar. Provavelmente, é também por esse motivo que existe, em Estugarda (Alemanha), um centro de criação à mão de crias órfãs. Um tipo de instituição que não existe para todas as espécies. «No caso dos gorilas é especialmente importante que haja um centro destes», refere o curador, «porque são animais muito susceptíveis e com as suas próprias regras sociais. Se tiverem de ser criados por mãos humanas, há muitas questões a ter em conta, emocionais e de aprendizagem. Mesmo criados por humanos, os gorilas têm de poder observar e conviver com outros gorilas, nem que seja através de um vidro, para aprenderem os seus comportamentos naturais.»

No futuro, Jahari não poderá ficar no Jardim Zoológico, porque dois machos adultos dificilmente poderão coabitar, por questões territoriais. Quando tiver completado cerca de seis anos, será enviado para outro Jardim Zoológico, para que possa constituir a sua própria família. É importante que o faça, visto que, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o Gorila-ocidental-das-terras-baixas é uma espécie “Criticamente em perigo”. Nos últimos 20 anos o número destes gorilas na Natureza diminuiu 60%, devido, sobretudo, à destruição do seu habitat, à caça ilegal para alimentação humana e para obtenção de troféus, e a doenças como o Ébola. Se nada for feito, a espécie poderá extinguir-se por volta de 2050. O Jardim Zoológico orgulha-se de caminhar no sentido inverso.

Os gorilas distinguem-se pelo formato do nariz. Não há dois narizes iguais. São considerados os “gigantes gentis” por serem uma espécie pacífica, que não ataca sem ser provocada.

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JARDIM ZOOLÓGICO ZOOLÓGICO JARDIM

FORA DE PORTAS

Partilhar informações… e acções!

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e cada Jardim Zoológico existente na Europa funcionasse isoladamente, teria, no máximo, 1/377 da informação disponível. É que a EAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários) já conta com 377 membros de 43 países, e todos eles partilham informação entre si. Esta troca de experiências entre parques zoológicos é essencial para a formação de todos os elementos que neles trabalham e, por conseguinte, para o bem-estar dos animais. Só desta forma é possível chegar ao funcionamento optimizado de um Jardim Zoológico. Desde a manutenção, à formação dos tratadores e treinadores, às inovações nas instalações, bem como áreas científicas como a medicina veterinária e investigação, mas também à área educacional. Afinal, um zoo tem o papel de educar e sensibilizar.

Tem de veicular mensagens, alertar para ameaças, formar consciências, e perceber quais são os meios mais eficazes de o fazer. A pensar nisso mesmo e no quão enriquecedor é o resultado dessa partilha, a EAZA, cujo um dos principais objectivos é “Promover a educação, em especial, a educação ambiental”, organiza várias conferências por ano: umas com propósitos mais técnicos, para quem lida directamente com os animais, outras mais informativas, sobretudo para educadores da área. Estas últimas ficam a cargo do Comité de Educação da EAZA (do qual a responsável pelo Centro Pedagógico do Jardim Zoológico, Antonieta Costa, é vice-presidente), composto por diversos especialistas em educação em zoos de toda a Europa.


Grupo de participantes.

O poder do comportamento. Como inspirar as pessoas a agir!

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conferência da EZE (Associação Europeia de Educadores de Zoos) de 2015 decorreu de 9 a 12 de Março, e coube ao Jardim Zoológico a honra de a organizar. Teve lugar no Sana Malhoa Hotel e o mote escolhido foi: The Power of Behaviour — Inspiring People to Act! Turning Education Theory into Action — O poder do comportamento. Como inspirar as pessoas a agir! Pôr a teoria da educação em prática. Estiveram presentes cerca de 140 especialistas em educação ambiental de toda

Grupo visita o Jardim Zoológico.

a Europa, representando mais de 60 zoos de cerca de 15 países diferentes. O objectivo era debater temas relacionados com o poder do nosso comportamento diário na conservação das espécies e dos seus habitats, e com as formas de influenciar e inspirar as pessoas a agirem no seu dia-a-dia. Como criar ligações emocionais com a Natureza, que parceiros na aprendizagem podemos estabelecer, que tipo de experiências inspiradoras levam à mudança de comportamentos, são exemplos de questões abordadas.

O Lince-ibérico foi a espécie escolhida para representar a conferência.


{10} FORA DE PORTAS JARDIM ZOOLÓGICO

O programa

A

abertura da conferência foi feita por um grupo de alunos do Colégio Valsassina com uma performance de parangolês (uma expressão de arte que envolve movimento e cor) sobre alterações climáticas. Após as sessões de apresentação, o primeiro tema abordado foi “Ser confiante para tomar decisões sustentáveis para o futuro!”, que contou com a intervenção de Linda Steg, Professora de Psicologia Ambiental na Universidade de Groningen, Holanda. Foi uma sessão focada nos valores da biodiversidade e nas medidas que se devem tomar para a conservar e utilizar de forma sustentável. Parcerias Educativas foi outro dos temas debatidos. Deram-se vários exemplos de zoos que trabalham em parceria entre si, com várias ONG’s ou outras instituições. Os parceiros educativos do Jardim Zoológico estiveram presentes no âmbito desta temática, tanto com comunicações como na área de exposições. Deles fazem parte: a Microsoft Educação Portugal, ABAE / Programa Eco Escolas, Promethean Planet e Corinth. Foi também abordada a questão da aprendizagem de comportamentos sustentáveis. Would you change because I ask you? — Mudaria só porque lhe estou a pedir? foi o título da palestra de Frits Hesselink, consultor ambiental holandês. Debateu-se a melhor forma de garantir maiores níveis de literacia biológica e de promover comportamentos sustentáveis, estimulando novos métodos de aprendizagem, empenho e avaliação. No âmbito destes e outros temas foram apresentadas 31 comunicações, ficando quatro destas a cargo da equipa do Centro Pedagógico — Antonieta Costa, Cátia Oliveira, Patrícia Caldas e Tiago Carrilho.

Performance de Parangolês.

Workshop com Linda Steg.

Apresentação do FROG, Fun Robotic Guide.


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FORA DE PORTAS

Um convidado muito especial

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ntre vários oradores internacionais reconhecidos por inspirarem atitudes e comportamentos, a conferência de 2015 contou com a presença de um convidado muito especial, como orador principal: o xeique Abdul Aziz Bin Ali Al-Nuaimi, conhecido como Green Sheikh pelo seu trabalho na área ambiental. O xeique Al-Nuaimi é membro de uma das famílias reais governantes nos Emirados Árabes Unidos e desempenha actualmente a função de assessor ambiental do governo de Ajman, o mais pequeno dos sete Emirados Árabes Unidos.

Abdul Aziz A. Al Nuaimi.

Green Sheikh durante a sua apresentação.

Green Sheikh.

Embora tenha começado por estudar engenharia química e do petróleo, e se tenha dedicado a essa área no início da sua carreira, cedo percebeu o impacto dessa indústria no ambiente. Assim, em 1996, decidiu mudar de vida, e num meio muito pouco interessado em problemas ambientais, luta por uma mudança de atitude. Being the New Change foi o título da sua palestra. E é precisamente essa a postura que assume. Não basta falar, não basta ensinar pela teoria, é preciso mostrar, “ser a nova diferença”. É desta forma que quer ensinar os seus filhos e motivar o maior número possível de pessoas a seguirem uma pegada ecológica: através do seu comportamento. As suas contribuições para a melhoria do Ambiente e da Humanidade foram reconhecidas em 2007 pelo Sharjah Volunteering Awards.

[Veja a entrevista do “Green Sheikh” incluída nesta revista.]

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JARDIM ZOOLÓGICO

lince-ibérico

O felino mais ameaçado do mundo


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BASTIDORES

Instalação dos Linces-ibéricos, no Jardim Zoológico.

G

amma e Azahar chegaram ao Jardim Zoológico no mesmo dia, a 2 de Dezembro de 2014. À sua espera tinham "aposentos" concebidos de propósito para eles. Na “Tapada do Linceibérico” tudo foi pensado para que se sentissem em casa. Estão numa zona mais recatada do Zoo, de modo a usufruírem de uma certa tranquilidade, rodeados por flora mediterrânica, zambujeiros, carvalhos e plantas aromáticas. À sua disposição têm muitos locais de sombra, múltiplos esconderijos, para se poderem ocultar sempre que desejarem, e plataformas elevadas nos troncos e nas copas das árvores, para treparem e verem o mundo do alto, como gostam. Cuidados diários, alimentação, hábitos e comportamentos, assim como acompanhamento médico, são assegurados, tudo de acordo com as normas em vigor para esta espécie.

Gamma, o macho, gosta de ficar a deambular no solo. Azahar, a fêmea, prefere as copas das árvores. São exemplo de que a personalidade difere mesmo em animais pertencentes à mesma espécie. Estes Linces-ibéricos são o rosto da espécie que tanta tinta tem feito correr, desde a famosa campanha da Serra da Malcata, dos anos 1970, à actual reintrodução do Lince-ibérico em Mértola. Para muitos, estes dois exemplaresembaixadores serão o primeiro contacto com esta espécie. E foi precisamente essa a função que o Jardim Zoológico assumiu ao recebê-los: sensibilizar a população portuguesa para a causa do Lince-ibérico, oferecer aos visitantes a possibilidade de conhecer e criar laços emocionais com a espécie. Apenas voltará a existir entre nós, se for aceite e respeitada. Pretende-se que esta proximidade contribua para reduzir alguns comportamentos que põem a espécie em risco, como a caça ilegal, a alteração de práticas de controlo de outras espécies (que poderão causar danos colaterais, como envenenamentos, por exemplo) e a destruição do habitat, e que promova a aceitação destes animais por parte das populações, uma vez que o plano de reintrodução do Lince-ibérico na Natureza já começou a ser posto em prática. Gamma e Azahar.

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{14} BASTIDORES

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Quem são estes dois Linces-ibéricos? Como chegaram ao Jardim Zoológico? Vieram ambos do Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves, e têm em comum o facto de não estarem aptos para reprodução e de não poderem ser reintroduzidos na Natureza, por questões médicas. Foi por esse motivo que o CNRLI se dispôs a cedê-los, assim, mesmo não conseguindo reproduzir-se, podem começar uma não menos importante missão: a de embaixadores da espécie, o Lince-ibérico. O Jardim Zoológico «candidatou-se, então, a recebê-los, projectando as novas instalações e custeando totalmente as despesas inerentes à sua vinda», refere José Dias Ferreira, curador dos mamíferos. Como resultado da colaboração entre o Jardim Zoológico, o CNRLI, o ICNF, a Junta de Andaluzia e as autoridades nacionais e espanholas, Azahar e Gamma passeiam-se hoje perto de nós.

A vida do casal por cá A aproximação dos dois membros do casal foi muito gradual. Não só mal se conheciam, como pertencem a uma espécie solitária, cujos adultos, machos e fêmeas, só se costumam juntar nas épocas reprodutivas, entre Janeiro e Fevereiro. Apenas ao fim de 4 meses é que houve a aceitação necessária para poderem partilhar totalmente a mesma instalação. No entanto, nada é definitivo. É natural que se dêem bem durante determinados períodos e que precisem de ser separados noutros. Por isso, as instalações são filmadas 24 horas/dia, de modo a identificar algum sinal de conflito ou alteração comportamental. O facto de cada animal trazer consigo, do CRNLI, um registo de características, hábitos e comportamentos, facilita a tarefa do seu acompanhamento, uma vez que o conhecimento do seu historial permite mais facilmente aferir acerca da sua adaptação e de situações anormais. No Zoo, Gamma e Azahar têm um quotidiano calmo e diversificado, conta-nos Rui

Azahar, macho nascido em 2004.

Gamma, fêmea nascida em 2010.

Bernardino, médico veterinário do Jardim Zoológico. Como qualquer felino, gerem, criteriosamente, os seus gastos energéticos, daí que o dia seja passado entre o descanso, a interacção entre indivíduos e com a própria instalação e a patrulha da mesma, ou seja, observam regularmente os limites do território à procura de sinais de outros indivíduos. São animais crepusculares, e é nessa altura do dia que se alimentam. Exceptuando uma ou outra pequena ave que possam comer, a sua alimentação é 90% à base de coelhosbravos, que lhes é fornecido vivo ou morto. O facto de o alimento lhes ser dado, por vezes, vivo constitui um excelente enriquecimento ambiental, ou seja, desperta nestes animais o seu comportamento natural, oferecendo-lhes um desafio e exercício, além de comida. O alimento é pesado antes de lhes ser dado e são pesadas também as sobras, de modo a controlar, a porção real ingerida. Cada animal consome cerca de 1 kg de carne por dia, intercalada com jejum, simulando as condições verificadas na natureza.


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BASTIDORES

O Lince-ibérico, o felino mais ameaçado do mundo Gamma e Azahar pertencem a uma espécie endémica da Península Ibérica, que recentemente (Junho de 2015) passou do estatuto de “Criticamente em Perigo” para “Em Perigo”. A situação inversa ocorreu em 2002, quando a espécie perdeu este estatuto para novamente “Criticamente em Perigo” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Se, em 1950, se estimava que existiam cerca de 5000 Linces-ibéricos na Natureza, este número baixou para menos de 350 nos dias de hoje. Sendo animais com comportamentos não domesticados existem procedimentos que permitem retirar informação importante sem ser necessário recorrer a anestesia. Um dos exemplos é a pesagem. É, relativamente, simples, explica-nos Rui Bernardino: É criado o hábito da colocação do alimento numa balança, de modo a atrair o felino, e depois calcula-se o peso do lince subtraindo o do coelho. Dito assim, parece fácil. Além disso, é possível recolher-se urina para análise. Para o efeito, são colocadas placas em inox dispersas pela instalação, inicialmente marcadas com urina de lince, de modo a atraí-los pelo olfacto e a desencadear o seu comportamento natural, isto é, a marcação de território. Desta forma, o hábito foi criado. Gamma, devido aos cuidados médicos de que necessita desde jovem, está mais habituado ao contacto com humanos. «Notou-se logo à chegada que se sentia mais à vontade, expõese mais», garante Rui Bernardino. Azahar é mais tímida e arisca. O público recebeu-os com expectativa e curiosidade. «As pessoas procuram-nos, gostam de ficar a observá-los», diz-nos José Dias Ferreira. «Na minha opinião, é uma espécie interessante e enigmática, diferente dos outros felinos, pela expressividade, comportamento, movimento e interacção com a instalação», acrescenta Rui Bernardino. «Será, muito provavelmente, a espécie mais emblemática da nossa fauna. Quando observamos os linces nesta instalação ficamos com a perfeita noção do porquê.

Actualmente, na Natureza, só são conhecidas duas populações reprodutoras, ambas na região da Andaluzia, em Espanha: uma em Doñana e outra em Andujár-Cardeña, na Serra Morena, mas estão isoladas uma da outra, o que reduz as hipóteses de reprodução. Em Portugal, alguns estudos indicam que entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990, existiam populações naturais de Linces-ibéricos na Malcata, em São Mamede, Vale do Guadiana, Vale do Sado e Algarve em Odemira.

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Actualmente, porém, antes da recente libertação de linces em Mértola, já não havia indício desta espécie na Natureza desde há, pelo menos, duas décadas. A maior ameaça à existência do Lince-ibérico consiste, em primeiro lugar, na redução de Coelhos-bravos (presa principal e alimento-base deste felino), que se deveu, essencialmente, a duas doenças: a Mixomatose e a Doença Hemorrágica Viral. Tendo sido identificada uma nova variante deste último vírus com um enorme impacto na população em algumas regiões. Por outro lado, a intervenção do homem na Natureza contribui, igualmente, para o desaparecimento da espécie. Além de destruir o seu habitat (através da construção de barragens e estradas, por exemplo), promovendo igualmente a redução de Coelhosbravos, o Homem caça ilegalmente,

prepara armadilhas com carne envenenada (para controlo de outras espécies), é responsável por incêndios e acidentes, sobretudo atropelamentos (principal causa de morte dos linces reintroduzidos em território Espanhol). Em Portugal: O Caso da Serra da Malcata Situada na Beira Interior, tornou-se especialmente conhecida e emblemática por ter dado origem a um dos primeiros movimentos populares ambientalistas. Tudo, em prol do Lince-ibérico. Estava previsto um projecto de plantação de árvores para produção de pasta de papel que ameaçava o habitat do Lince-ibérico. Alarmado, o biólogo Luís Palma acabou por pedir ajuda à Liga para a Protecção da Natureza (LPN), e em 1979 foi criada a campanha «Salvemos o lince e a Serra da Malcata», que resultou num abaixo-assinado com milhares de assinaturas. O projecto foi, então, deslocado para Sines, e a Serra da Malcata tornou-se, em 1981, reserva natural para abrigar o Lince-ibérico. Infelizmente, porém, este foi um dos locais onde as populações de Coelho-bravo foram dizimadas pela Mixomatose e a Doença Hemorrágica Viral, e o Lince-ibérico tornou-se praticamente extinto.


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BASTIDORES

O plano de acção: mais Linces-ibéricos! Para contrariar a tendência de extinção e reverter o processo era necessário agir, agir depressa e em várias frentes. Assim, nasceu um plano de acção ibérico que envolve não só medidas de intervenção junto das populações reprodutivas de linces, mas também acções junto das populações humanas, tanto a nível social, como de investigação. As iniciativas contemplam a reprodução de linces em cativeiro, a chamada conservação ex situ, em centros criados para o efeito. A ideia é que estes centros reproduzam linces para, depois, serem introduzidos na Natureza, de modo que, aos poucos, novas crias nasçam já em estado selvagem. A reintrodução é definida pelo ICNF (Instituto da Conservação

da Natureza e das Florestas) como «uma tentativa de estabelecer uma população selvagem viável, de uma dada espécie, num determinado território, que já foi parte da sua área geográfica de distribuição histórica, mas onde esta espécie foi extinta». Porém, mesmo depois de concluída a reintrodução, numa primeira fase é necessário monitorizar os animais. Esse controlo é feito através de vários dispositivos, de entre os quais um colar que é colocado no lince e que detecta os seus movimentos. Da união de forças e empenho, resultou, em 2007, o “Acordo entre Portugal e Espanha para a Criação em Cativeiro do Lince-ibérico”, que deu origem ao Comité de Cria em Cativeiro do Lince-ibérico (CCCLI). O objectivo é estabelecer normas para a manutenção e reprodução de linces nos Centros e estimular o Programa Ibérico de Conservação ex situ.

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{18} BASTIDORES

JARDIM ZOOLÓGICO

CURIOSIDADES SOBRE O LINCE-IBÉRICO

reprodução

vívipara

gestação

2 meses

nº de crias

2-3

maturidade

2 anos

longevidade

16 anos

A rede de centros de reprodução em cativeiro Entre 2005 e 2014, nasceram 272 linces em cativeiro, dos quais muitos foram libertados na Natureza em Espanha. Os animais que por algum motivo estejam inaptos para a vida selvagem ou reprodução poderão ser cedidos a parques zoológicos que cumpram os pré-requisitos necessários, tal como aconteceu com Gamma e Azahar, para familiarizar as populações com a espécie. Esta é uma função desempenhada especialmente em zoos, porque aos centros de reprodução não lhes é possível assumir o papel de sensibilização. Pelo contrário, o objectivo destes recintos é que os linces contactem o mínimo possível com pessoas, de modo que, depois, a sua reintegração na Natureza seja mais fácil.

O caso português: O Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, em Silves Localizado na Herdade das Santinhas (Vale Fuzeiros — Silves), foi construído entre 2008 e 2009, como reacção a uma ameaça ao habitat do Lince-ibérico: a edificação da barragem de Odelouca. Após um desentendimento entre ambientalistas, o Governo e a Comissão Europeia, acabou por se fazer uma série de alterações ao projecto inicial da barragem, de entre as quais a criação do CNRLI. Desde então, o centro tem recebido linces de Espanha para reprodução, cumprindo todas as medidas estabelecidas pelo CCCLI, quer no que diz respeito ao programa de funcionamento, quer em termos de infra-estruturas e a nível de recursos humanos.


VENHA DESCOBRIR UMA NOVA ESPÉCIE DE ZOO. No Jardim Zoológico, a nossa vida é proteger a vida dos animais. Por isso, temos como principal missão, a conservação, reprodução e reintrodução de espécies em vias de extinção. Neste espaço com milhares de animais em habitats renovados, várias apresentações diárias e atracções, descobre sempre algo de novo a cada visita que faz. Ao fim de tantos anos, nunca estivemos com tanta vida.

www.zoo.pt



Parabéns, Baía dos Golfinhos!


{22} BASTIDORES

JARDIM ZOOLÓGICO ZOOLÓGICO JARDIM

Há 20 anos nasceu a Baía dos Golfinhos.

H

oje, ao aproximarmo-nos do recinto, não passa despercebido o entusiasmo do público. Ainda não estamos perto o suficiente para conseguir ver, mas já ouvimos música, risos, palmas. É sexta-feira, são 10h50, e a apresentação ainda nem começou, mas dentro da Baía já há festa. Quando chegamos, somos surpreendidos por bancadas lotadas de crianças e adultos que cantam e dançam ao som de música moderna. A boa disposição é geral e contagiante. Quatro golfinhos, não menos exultantes, aguardam na retaguarda da piscina. Do lado oposto, os leões-marinhos preparam-se para entrar. Ao altifalante começa então a contagem

decrescente: 6, 5, 4, 3, 2, 1, 0! Surge uma “nadadora-salvadora” que vai fazendo perguntas sobre os comportamentos de precaução que devemos ter nas praias. As respostas das crianças brotam imediatamente: protector solar, chapéu, bandeira verde! Depois, chega uma “banhista” incauta que vai tendo comportamentos de risco e trava amizade com… um leão-marinho! É o primeiro animal a aparecer. Do cimo de uma rocha, exibe orgulhoso a sua beleza. Entre muitas guloseimas de peixe e brincadeiras, rebola, acena, dá abraços e beijinhos à “banhista”, e mergulham ambos nas águas límpidas. É assim que começa a apresentação actual da Baía dos Golfinhos.


JARDIM ZOOLÓGICO

BASTIDORES

Leões-marinhos-da-california.

Os protagonistas

A

Baía foi inaugurada a 18 de Maio de 1995, com 6 golfinhos (4 fêmeas e 2 machos) e 6 leões-marinhos (5 Leões-marinhos-da-califórnia e 1 da Patagónia, todos machos). Hoje continuam a fazer parte do Delfinário 6 golfinhos (3 machos e 3 fêmeas) e 6 leões-marinhos (todos machos). Curiosamente, alguns acompanharam toda a evolução da Baía ao longo destes 20 anos. É o caso de Soda e Kobie, duas fêmeas de golfinho, respectivamente com 41 e 21 anos, que vieram do Brookfield Zoo, logo no início do delfinário, e de Ricky, um leão-marinho com 25 anos, chegado de Fort Lauderdale, Florida, EUA. A verdade é que, entre muitas outras coisas, até a esperança de vida dos mamíferos marinhos mudou ao longo destes últimos 20 anos, conta-nos Arlete Sogorb, médica veterinária e directora do Centro de Vida Marinha do Jardim Zoológico. «Há 20 anos, a esperança média de vida de um golfinho rondava os 30 anos nos machos e os 35 anos nas fêmeas. Hoje, com os avanços em termos de medicina veterinária e biologia marinha, e as melhorias no campo da engenharia hidráulica, a esperança média de vida destes animais em zoos passou para cerca de 55-60 anos.» Como habitualmente acontece, os primeiros animais a chegar à Baía vieram acompanhados pelos respectivos treinadores, que conheciam as suas características, hábitos e comportamentos. Foi essencial para

a sua integração. É sempre preciso saber o máximo possível sobre cada animal. Essa informação é transmitida aos treinadores que os recebem. Depois, lentamente, estes vão fazendo a transição do animal para o novo espaço e para os novos hábitos. Mas não só de animais marinhos se constituiu a Baía. A equipa humana fundadora era composta por vários treinadores, uma médica veterinária, quatro técnicos de hidráulica e som, uma secretária e uma responsável comercial dedicada exclusivamente ao delfinário (visto que, de início, a Baía estava destacada do restante recinto do Jardim Zoológico e implicava um bilhete à parte). Os cargos que existem actualmente continuam a ser os mesmos, à excepção da função de representante comercial, que foi extinta quando o delfinário passou a estar incluído no bilhete único para entrada no zoo. Parte da equipa do delfinário mantém-se também a mesma desde a origem: a médica veterinária (Arlete Sogorb), dois dos treinadores (Valter Elias e “Nela” — Maria Manuel Marques) e um dos técnicos de hidráulica e som (Paulo Castro). A marca de gelados OLÁ também mantém o seu patrocínio e continua a apoiar este grande projecto.

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REGULAMENTAÇÃO DOS DELFINÁRIOS A BAÍA DOS GOLFINHOS CUMPRE AS NORMAS DESTAS TRÊS ASSOCIAÇÕES.

EAAM European Association for Aquatic Mammals

AMMPA Alliance of Marine Mammal Parks and Aquariums

EAZA European Association of Zoos and Aquaria

Golfinho-roaz.


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JARDIM ZOOLÓGICO

A Baía › cenário e funcionalidades

A

s instalações da Baía são as mesmas há 20 anos e foram cuidadosamente concebidas pelo Arquitecto Leonel Carvalho, tanto a nível prático e de manutenção, como a nível de cenário. «Sendo de Setúbal, o Arquitecto inspirou-se nesta cidade para criar um ambiente de vila piscatória», conta-nos Arlete Sogorb. Quem está sentado na plateia, vê de frente um grande tanque de água, por trás do qual estão várias casinhas brancas, com roupa pendurada à janela, um toldo vermelho de café, e uma enorme grua. Do lado direito, encontra-se um farol e um barco de pesca. Do lado esquerdo, uma rocha e uma pequena ponte de madeira. As casas que aparecem na decoração são reproduções das de Vila Nova de Milfontes. «Foi tudo muito pensado. Na altura fomos lá ver as cores, os desenhos das paredes, todos os pormenores», conta, divertida, a responsável pelo Centro de Vida Marinha. Até a grua procura reproduzir o que acontece em Setúbal, embora sirva também um propósito útil, na medida em que permite

suspender o fundo falso de uma piscina denominada “piscina médica” que permite fazer tratamentos e intervenções médicas num curto espaço de tempo, caso necessário. Esta foi, aliás, uma inovação da Baía, relativamente a outros delfinários: tornar a decoração utilitária. A área de escritórios referente ao delfinário, está incluída dentro do próprio cenário, nas tais casas brancas, típicas de vilas piscatórias. As instalações do delfinário foram ainda especialmente inovadoras em termos de circulação da água. Na altura, foram consultados engenheiros e arquitectos norte-americanos. No entanto, o engenheiro responsável pelas instalações hidráulicas acabou por ser um finlandês, que desenvolveu um sistema de circulação e filtração biológica com desinfecção feita apenas com ozono. Foi uma inovação para a época, embora passados 20 anos já seja relativamente comum. Hoje, já se fizeram várias adaptações e melhorias ao sistema, mas o princípio de funcionamento continua a ser o mesmo.

Vista geral da Baía dos Golfinhos.


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BASTIDORES

Farol e barco de pesca.

A água é a mesma para todas as áreas do tanque e é filtrada e desinfectada a cada hora e meia, de modo a que não haja água estagnada. Já os leões-marinhos ficam em tanques próprios, por trás do cenário. «De vez em quando, as duas espécies de mamíferos marinhos são juntas, para poderem interagir», revela-nos Arlete Sogorb. Nessas alturas, brincam, mergulham ou ficam simplesmente paradas a observar-se mutuamente, conforme lhes apeteça. Existem ainda mais dois espaços que, embora não pertençam propriamente à Baía, a complementam. Por um lado, há a Lagoa, uma instalação muito próxima da Baía que foi construída com o propósito de albergar os golfinhos em períodos de obras, mas que hoje serve sobretudo de maternidade. Actualmente, por ser um recinto mais resguardado, é onde ficam instalados os golfinhos que têm crias, até voltarem a ser reintegrados no grupo. Por enquanto, é na Casa da Lagoa que estão o golfinho Yuky, de um ano e meio, e a mãe, Vicky. O outro espaço complementar é uma instalação bem mais antiga, que está localizada numa zona afastada da Baía. É lá que se encontra o grupo de leões-marinhos que não faz parte das apresentações na Baía, assim como duas outras espécies: as focas e os pinguins.

Uns pozinhos de passado. Como nasceu a Baía? Em 1985 surgiu no terreno do Jardim Zoológico o primeiro delfinário de Portugal, um concessionário chamado “Golfinhos de Miami”. Quando o contrato de concessão chegou ao fim e a empresa decidiu sair, a Administração do Jardim Zoológico não quis perder o contacto com os mamíferos marinhos e decidiu conceber o seu próprio delfinário. Nessa altura desafiou Arlete Sogorb para o criar. O desafio foi aceite, e assim nasceu a Baía dos Golfinhos.

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{26} BASTIDORES

JARDIM ZOOLÓGICO

As apresentações

H

oje, a apresentação não é a mesma de há 20 anos. Esta muda de dois em dois anos ou, em casos de maior êxito, de quatro em quatro. Ao longo destes 20 anos, já existiram cerca de 10 apresentações diferentes. Além disso, numa mesma apresentação, é preciso ir inserindo permanentemente, quase diariamente, pequenas variações e renovações, para que exista um estímulo mental, tanto para os animais como para os treinadores. «Ninguém imagina tudo o que está por trás de cada apresentação», revela-nos Arlete Sogorb. Na origem está a relação animal/ treinador e a sua evolução, assim como o treino da equipa. Mas, além disso, há ainda a concepção de um argumento e toda a preparação teatral. A “história” é criada por todos os colaboradores do delfinário, incluindo a equipa de hidráulica e som, e finalizada pelos treinadores que vão participar na apresentação, em função da experiência que têm com os animais e do que eles próprios se sentem capazes de fazer. Neste momento, existe também um acordo com o Instituto de Socorros a Náufragos que estipula que as apresentações veiculem informações importantes de precaução. Daí que o espectáculo actual inclua

Apresentação dos Golfinhos.

um “nadador-salvador” e uma série de recomendações a um banhista desprevenido. Depois, há que ter igualmente em conta, uma forma de cativar e manter o interesse do público com música, palmas, incentivos. A formação dos treinadores é muito intensiva e difícil. «É um treino que dura a vida toda», diznos a responsável pelo Centro de Vida Marinha. «Entre treinador e animal há uma estimulação mútua que nunca acaba.» Além disso, a nível da preparação teatral, este ano os treinadores receberam uma pequena formação por dois profissionais do Ginásio Energy, Ricardo e Sheila, que amavelmente se disponibilizaram para lhes ensinar algumas técnicas de zumba e de ginástica rítmica. A ciência do treino (as técnicas de treino) está muito diferente, está em permanente mudança. Hoje, todos os treinadores são sócios da IMATA (International Marine Animal Trainers’ Association), organização


JARDIM ZOOLÓGICO

BASTIDORES

Arlete Sogorb é médica veterinária, especialista em mamíferos marinhos, integrada na equipa do Hospital Veterinário do Jardim Zoológico. É também directora do Centro de Vida Marinha do Zoo, onde lhe compete coordenar os vários tipos de apresentações, de modo a veicular informação e sensibilizar o público. Dirige duas equipas: uma encarregada da Baía dos Golfinhos e da alimentação de leõesMarinhos e outra responsável pelo Bosque Encantado, onde ocorrem duas outras apresentações: “Cobras e lagartos” e “Aves em Voo livre”, e ainda pela “Alimentação de pelicanos”. Sendo a representante internacional do Zoo, é a ponte de contacto entre o Jardim Zoológico e as associações internacionais. Além disso, é secretária da APZA (Associação Portuguesa de Zoos e Aquários) e, a nível internacional, é a actual presidente do EAAM e a representante de Portugal no Conselho da EAZA, onde é a única especializada em mamíferos marinhos.

internacional que regulamenta os cuidados a ter com estes animais e que incita à partilha de experiências. Todos os comportamentos que possam ser antropomórficos foram retirados das apresentações. «Lembro-me de ter assistido, há muitos anos, a apresentações com dois golfinhos mascarados a dançar o tango: um com um chapéu, o outro com uma flor na boca», recorda Arlete Sogorb. Da mesma forma, era comum ver-se, em apresentações, treinadores a fazerem

perguntas aos golfinhos e os golfinhos a responderem, acenando que sim ou que não. Hoje, esse tipo de comportamento está completamente excluído. O importante passou a ser destacar o potencial do animal, mostrar as suas características físicas e mentais, a sua inteligência. É essa, hoje, a função primordial do delfinário, assim como alertar para os perigos do mar e para o que o Homem deve ou não fazer para melhorar a qualidade das águas.

Ilustração da Baía.

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{28} TESTEMMUNHO JARDIM ZOOLÓGICO

Padrinho

H

elen Doron é uma marca internacional líder de mercado no ensino precoce da língua inglesa. Através de uma metodologia criada há 30 anos, ensinamos inglês a bebés, crianças e adolescentes de uma forma natural e lúdica. Como se da língua materna se tratasse. Com a ajuda de materiais únicos e exclusivos e professores certificados, as crianças evoluem e aprendem a brincar. Para comemorar o trigésimo aniversário da marca a nível internacional e o décimo a nível nacional criámos

uma campanha de responsabilidade social para salvar uma das espécies em vias de extinção — o orangotango. Mais do que ensinar inglês, pretendemos sensibilizar os nossos alunos e pais para uma realidade atual e provar como a fluência em inglês nos permite comunicar em todo o mundo e unir esforços para uma causa. Alunos Helen Doron de todo o mundo empenharam-se e aprenderam como é importante

ADIVINHA QUEM É QUE JÁ APADRINHOU UM ANIMAL? AGORA É A TUA VEZ… OU EU FICO DE TROMBAS!

No ZOO, tudo é possível. Até tornar os seus pequenotes padrinhos dos nossos. Ajudam na conservação das espécies e ainda têm direito a várias atividades para acompanharem de perto os afilhados, enquanto crescem juntos. www.zoo.pt

a harmonia animal e a preservação de habitats. No caso concreto de Portugal, decidimos ir mais longe e apadrinhar um dos orangotangos do nosso Zoo para que alunos, pais e professores possam conhecer melhor este animal. A marca conta já com 20 unidades no país e tem planos de expansão para novas localidades ainda no decorrer do ano de 2015.

Testemunho de Mariana Batalha Torres, Sócia-gerente


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Green Sheikh


{30} ENTREVISTA

JARDIM ZOOLÓGICO

Os jovens são o meu segundo espírito. Entrevista por: Vera Novais/Observador Fotografias por: Lara Soares Silva/Observador

Um dos maiores desejos do Green Sheikh é fazer algo maior que ele próprio, algo que tenha impacto no mundo. É também por isso que o Sheikh Abdul Aziz bin Ali al Nuaimi aposta nos jovens. Esforça-se por capacitá-los para serem melhores que ele próprio e para que sejam capazes de reparar os danos que agora provocamos. O Green Sheikh esteve em Lisboa a convite do Zoo para participar na conferência da Associação Europeia de Zoos e Aquários. O Observador aproveitou a oportunidade para entrevistar o homem que deixou a indústria petrolífera para se dedicar a acções mais ambientalistas. Em Ajman, o mais pequeno dos sete Emirados Árabes Unidos, onde vive, é o conselheiro do governo para as questões ambientais.

Sei que trabalhou para a indústria petrolífera. O que o fez mudar e começar a preocupar-se com o ambiente? Enquanto engenheiro [químico e do petróleo], modifiquei, redefini, eliminei, preveni, tanto quanto possível. Mas depois vi que mesmo assim havia um impacto negativo. Em poucos anos, algo dentro de mim disse-me que eu não queria estar apenas a poluir, queria prevenir. Para alterar isso, não preciso de trabalhar numa empresa, quero trabalhar com a comunidade, quero trabalhar com o mundo. De que forma é que o desenvolvimento económico e social pode lidar com as preocupações ambientais? Há muitos desafios, mas precisamos de líderes que sejam capazes de entender as ligações. É um desafio criar políticas que

Green Sheik tira dúvidas sobre os leões com Tiago Carrilho, educador do Zoo.


JARDIM ZOOLÓGICO

ENTREVISTA

Green Sheikh ao lado de Francisco Naharro Pires, presidente do Zoo, durante a apresentação das aves.

liguem a economia, a sociedade e o ambiente. Sendo o mais importante o bem-estar, independentemente da raça, da nacionalidade, da religião. Isso não importa. O que importa é que vivemos todos na mesma terra. Os governos, empresas privadas, cidadãos e organizações não-governamentais de ambiente (ONGA) podem ter interesses diferentes. Como podemos pô-los a trabalhar juntos pelo desenvolvimento sustentável? O desenvolvimento sustentável é um mito. Falam disso há muito tempo, 10 /20 anos. O que precisamos é de ações sustentáveis, mais do que desenvolvimento. Ponham os três domínios — os governos, os privados e as ONGA — em acção, não numa sala de conferências. Precisamos agir no terreno para fazer a diferença.

O Sheikh aprecia falar com os jovens. Eles têm o poder para mudar o futuro. O que espera que eles sejam capazes de fazer? Os jovens têm tempo para fazer a diferença e serão os nossos líderes. O mais importante é percebermos quais serão os desafios e capacitá-los com conhecimentos, competências e compreensão, não apenas sobre si próprios, mas sobre outros no mundo também. Os jovens têm ambição, tempo, coragem, criatividade e inovação. E têm o poder, a energia. Portanto vamos usá-la por uma boa causa. E eles são o meu segundo espírito. Sei que costuma aconselhar as pessoas a fazer a diferença. Uma das formas é pedindo-lhes que sejam "não convencionais". O que quer dizer com isto? Que sejam loucos às vezes. As pessoas loucas são génios e

fazem coisas diferentes. No início, as pessoas riem-se delas, odeiam-nas, mas no fim elas são as campeãs. Está aqui em Portugal para participar na conferência sobre educação da Associação Europeia de Zoos e Aquários. Quais são as suas expectativas para este encontro? Não trouxe expectativas. Estou aqui para me divertir, para partilhar as minhas experiências, para os ouvir e fazer boas amizades. Portugal é um país muito poderoso, na história e nas pessoas. E eu adoro isso. E temos muito em comum: a língua árabe que partilhamos, as emoções que partilhamos, temos grandes corações como os portugueses. Queremos criar pontes entre estes dois países que têm muito em comum. Por isso é que eu estou aqui, para encontrar e potenciar estas sinergias.

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dentro&fora Veja o que se passou dentro e fora do Jardim Zoológico nos últimos meses.

Enriquecimento Ambiental na Páscoa.

Carnaval.

Dia da Criança › Eventos da Sociedade Ponto Verde e da EDP distribuição.

Aniversário do Jardim Zoológico, concurso de enriquecimento ambiental, para tratadores do Zoo.

Dia do Ambiente.


BTL › Feira Internacional de Turismo.

Kids Time no Hotel Pestana Palace.

Pet Festival.


{34} PASSATEMPOS JARDIM ZOOLÓGICO

Cruzadex

Sopa de Letras

Por Paulo Freixinho

Procura na sopa de letras as 12 palavras da lista, relacionadas com o tema Enriquecimento Ambiental. Não há palavras na diagonal.

SOLUÇÕES SOPA DE LETRAS HORIZONTAIS: Cativar; Estímulos; Cuidados; Caixas. VERTICAIS: Comportamentos; Cordas; Sacos; Mudança; Variedade; Técnicas; Observação; Elementos.

CUIDADOS; TÉCNICAS; ESTÍMULOS; COMPORTAMENTOS; OBSERVAÇÃO; CORDAS; CAIXAS; SACOS; ELEMENTOS; MUDANÇA; CATIVAR; VARIEDADE

Tendo como ajuda as letras já colocadas, preenche a grelha com as seguintes palavras: 3 Letras › ZOO 4 Letras › AVES 5 Letras › ÁREAS, CRIAS, FAUNA, FLORA, SÓCIO 6 Letras › APOIAR, EDUCAR, MISSÃO, PARQUE 7 Letras › ESCOLAS, HABITAT, RÉPTEIS 8 Letras › ANFÍBIOS, DIVERSÃO, ESPÉCIES 9 Letras › CONSERVAR, MAMÍFEROS 10 Letras › INSTALAÇÃO, INVESTIGAR, REPRODUÇÃO

SOLUÇÕES CRUZADEX HORIZONTAIS: Conservar; Sócio; Reprodução; Habitat; Epécies; Flora; Missão; Crias; Educar; Fauna; Áreas; Diversão; Anfíbios; Investigar. VERTICAIS: Aves; Apoiar; Mamíferos; Répteis; Zoo; Parque; Escolas; Instalação.

Por Paulo Freixinho

Palavras Cruzadas Por Paulo Freixinho

VERTICAIS: 1 › Concurso Nacional Escolas “Desliga a (…)!”, Professores e Alunos, terão a oportunidade de agir e influenciar uma mudança de comportamentos, sobretudo no consumo de energia. 2 › Árvore existente no Zoo, por ter folhas em forma de coração, é também conhecida como Árvore-do-amor. 3 › Nome dado ao Leão-marinho-dacalifórnia fêmea que nasceu no Jardim Zoológico em 2014. 5 › Nome dado à cria de Gorilaocidental-das-terras-baixas nascida no Jardim Zoológico, significa "forte e poderoso". 6 › É o mamífero terrestre mais rápido do Mundo em curtas distâncias. 7 › Arte de trabalhar o papel que representa frequentemente o Grou-dojapão. 10 › É utilizado na água da piscina dos golfinhos, são compradas 15 toneladas de quinze em quinze dias.

SOLUÇÕES PALAVRAS CRUZADAS HORIZONTAIS: 1›Formigueiro; 4›UICN; 6›Catatua; 8›Duas; 9›Animax; 10›Sibéria; 11›Voluntariado. VERTICAIS: 1›Ficha; 2›Olaia; 3›Luna; 5› Jahari; 6›Chita; 7›Origami; 10›Sal.

HORIZONTAIS: 1 › Urso-(…)-gigante, dos animais do Jardim Zoológico, é aquele que tem a língua mais comprida. 4 › União Internacional para a Conservação da Natureza (sigla). 6 ›(…)-pequena-de-crista-amarela, tem sido alvo da intensa captura de animais para o comércio ilegal de aves exóticas; a sua população na natureza tem vindo a diminuir drasticamente. 8 › Número de crias de Flamingo que nasceram no Zoo em 2015. 9 › Pequeno parque de diversões situado na zona de acesso livre do Jardim Zoológico. 10 › Tigres-da-(…), os maiores felinos existentes. 11 › Uma forma de apoiar o Zoo.


O Jardim Zool贸gico agradece a todas as empresas que o apoiam. Novos Parceiros

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Uma boa festa de anos é um presente de que nos lembramos a vida inteira. No ZOO tem tudo para dar aos seus filhos uma festa sem igual, com programas de animação para todas as idades. www.zoo.pt


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