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A FOTOGRAFÍA NA DOCUMENTAÇÃO DO P R O C E S S O D A EXPERIÊNCIA URBANA
LUIS ROJO _____________________________ nºusp:8186465 FRANCISCO JAVIER DE LA MADRIZ PRIETO
AUHO325 ASPECTOS DA LINGUAGEM CONTEMPORÂNEA PROFª: MARÍA CECÍLIA FRANÇA LORENZO
FAU-USP/ETSAM-UPM/28-11-2012 _________________________________________________________
ASPECTOS DA LINGUAGEM CONTEMPORÂNEA
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A FOTOGRAFIA NA"DOCUMENTAÇÃO DO PROCESSO DA EXPERIÊNCIA URBANA"
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ASPECTOS DA LINGUAGEM CONTEMPORÂNEAA
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! “Niemand/ zeugt für den/ Zeugen?” Paul Celan
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! A gestão do espaço urbano coletivo e como ela se converte na diretoria das relações aparentes de poder é a chave do trabalho artístico do Luis Rojo. Supõe-se que a busca da ordenação lógica da cidade, seguindo as suas regras, e o jeito desta lógica de se mostrar: halos, milagres e ilusões. Falar que a cidade é um conjunto de coisas é uma obviedade, mas essas coisas adquirem interdependência pela causa da sua materialização. A cidade em si passa a ser não só uma mesa que suporta este imaginário, mas um sistema de relações. Estas conexões e relações podem ser ambíguas e polissêmicas, mas elas estão estruturadas. O problema aqui é a forma na qual estas relações são mostradas e a forma de documentar essa aparição no conjunto urbano. Não é possível ficar com a fotografia da cidade como signo de rigidez ou de longa duração que os artistas fotógrafos utilizavam na metade do século XIX. A documentação que vou tratar aqui e que Luis Rojo reúne na sua obra completa é a fotografia como signo da desmaterialização da cidade. O jeito no qual essas relações saem à luz e são reunidas para poder ser apreendidas e transmitidas. A fotografia deve tratar-se como uma produção de imagens que deixa de ter relações com a realidade imediata, afasta-se do mundo das aparências e contribui com diferentes possibilidades interpretativas dentro do estranhamento dos sentidos do espectador. Os significados da fotografia aparecem em procedimentos alegóricos de apropriação, exposição e montagem e ao mesmo tempo, aporta informações, adotando novas aparências, abrigando um “jogo da memória” que estimula a sensação de dejà-vu, sem apreender na primeira visão todas as significações. A materialização deste discurso na obra de Luis Rojo pode ser o vídeo “Ruínas”, selecionado para a mostra do festival de Cinema e Arquitetura da cidade de Santiago de Chile, no ano 2012. Sendo a obra mais recente desta monografia, resume os temas que vão aparecer depois. Dentro da categoria “experimental”, o curta-metragem é uma reconstrução da paisagem de Valparaíso e Viña Del Mar, com misturas sonoras e visuais. A câmara enfoca com planos fixos diferentes situações que mostram os traços e restos solidificados em uma catástrofe, não só natural (o terremoto que assolou Chile), mas também humana: a voz de uma mulher durante a briga com o seu marido, um telefonema, o ponto de vista de uma pessoa, a eleição dos enquadres, entre outros. A memória coletiva permanece mesmo que a cidade e as pessoas mudem. Não existe mais narrativa particular que a sequência de enquadres visuais durante períodos de tempo, que se sucedem sem uma ordem particular e uma documentação experimental, valha a redundância e a experiência, pois ainda que as imagens são fixas, o movimento é o coração do ser humano e a base para todas as ações que modificam o seu médio. Mas depois de documentado e plasmado o momento em um recorte espaço-temporal, o que é que fica? Quem testifica pela testemunha? A obra fotográfica do Luis Rojo aproxima-se da “fotografia contaminada”, de Chianelli. Trata-se de superar a imagem como contemplação passiva e passar do meramente estético ou belo para imagens insatisfeitas que estimulem a reação do espectador. Essa traça da memória coletiva materializa-se também nas esculturas repartidas por toda Madri, que representam a testemunha e o vigilante. Esta testemunha, que não é surda, cega ou muda, interatua com as pessoas que a localizam, condicionando o jeito de olhar a cidade, e este jeito, por sua vez, condiciona a forma de viver a cidade. Depois da fotografia, a testemunha fica no lugar e finalmente morre pelas mesmas pessoas que vigiava, pelo desgaste do tempo e pelos mesmos acontecimentos que ela assistiu o tempo todo.
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! ! Eles estão roubando da gente a imagem da cidade. Eles roubam a nossa pertinência. Eles deslocalizam ela e a descontextualizam
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ASPECTOS DA LINGUAGEM CONTEMPORÂNEA
! A EXPERIÊNCIA ALHEIA ______________________________________________________________________________________
! A cidade é então um cenário e as pessoas que participam do espetáculo são os atores. Psicologicamente, encontrar-se nesse cenário implica na transição de um médio privado para outro público, às experiências desconhecidas e ao uso de ferramentas cognitivas para se adiantar às experiências, uma conversa entre as pessoas e a ordem social publica, e uma procura de novos acontecimentos. A cidade é simultaneamente perigosa, fascinante, unificadora, separadora, libertadora e com capacidade de coarctar. É o lugar suporte para a tensão entre dois princípios psicológicos muito importantes: enfrentar-se ao desconhecido e a distancia; enfrentar-se ao familiar e ao seguro.
! “La calle”, Jaan Valsinar, conferência recopilada en “Arquitectura e interacción social. Advanced theories and practises”, de Josep Muntañola, Ed. Universidad Politécnica de Cataluña na Serie Arquitectonics, 2000, tradução própia desde o inglês original p.55
______________________________________________________________________________________ A fotografia contemporânea veste-se com uma realidade simbólica, que é outra realidade diferente da visível, e procura re-articular a mensagem transmitida através de analogias, simulações e recodificações. A transformação destas realidades em imagens não-objeto e até irracionais são atribuídas às novas funções como linguagem independente. O imaginário de Luis Rojo não tem relações (diretas) com a realidade imediata, não pertence mais à ordem das aparências e aportam diferentes possibilidades de suscitar o estranhamento nos sentidos do espectador. A série “Following’98” é uma série de 20 fotografias realizadas em Kassel, Maastricht, Amsterdam, Berlin, Barcelona, Madri e Cagliari. Trata-se de uma busca por mostrar potencialidades ignoradas, para fazer da fotografia um descobrimento permanente. Estas imagens podem inscrever-se no resultado de um processo, no qual a ilusão mostrada tenciona ao máximo o grão de informação do observador. A composição formal da fotografia dos momentos extraordinários em situações ordinárias feitas por atores anônimos que não sabem o seu papel na obra ultrapassam as fronteiras da compreensão estética imediata, sugerindo, como o Roland Barthes, que o principio de “aventura” é o motivo da existência da fotografia. ______________________________________________________________________________________
! A EXPERIÊNCIA DA VIAGEM ______________________________________________________________________________________
! Viagem, experiência, perigo, percorrido. Na base da viagem há, as vezes, um desejo de mutação existencial. Viajar é a expiação de uma culpa, uma iniciação, uma aproximação cultural, uma experiência: a origem IndoEuropéia da palavra “experiência” é “per”, que foi interpretada como “tentar”, “por a prova”, “arriscar”, umas conotações que persistem na palavra “perigo”.
! Erich J. Leed, “The mind of the traveller. From Gilgamesh to global tourism”, Ed. Basic Books, 1991, Nueva York
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! Esta conceição de experiência como crescimento, como passo através de uma forma de ação que mede as verdadeiras dimensões e a verdadeira natureza das pessoas ou do objeto que o começa, descreve também a conceição mais antiga dos efeitos da viagem sobre o viajante. Não consiste só em atravessar as paisagens e aglomerações, as estradas geram novas formas de espaços onde é possível habitar, criando assim novas formas de sociabilidade. As vias já não levam somente aos lugares, mas são lugares. Estes espaços caracterizam-se pela mobilidade e a muda, e é nas imediações destas vias onde são produzidos novos encontros.
A FOTOGRAFIA NA"DOCUMENTAÇÃO DO PROCESSO DA EXPERIÊNCIA URBANA"
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! Podemos encontrar grandes espaços vazios no coração das cidades, nas instalações industriais e no campo. As rodovias e as estradas entraram completamente no interior das cidades, a experiência da viagem também pode ser uma experiência urbana. A cultura do caminho cria uma cidade (e os seus problemas relacionados). As viagens para qualquer lugar são o coração do universo psicológico humano. As construções do homem (moradias, cidades, estradas, carros, turismo, aviões, etc.) são ao mesmo tempo, uma primeira viagem através do desconhecido, e, no segundo lugar, uma das ferramentas estabelecidas para fazer estas viagens possíveis. A documentação desta experiência não é mais (nem menos) que uma destas ferramentas. O trabalho realizado pelo Luis Rojo na série de 10 fotografias que compõem “618 km” salta de região em região por encima das barreiras. Muda de um tipo de espaço e de um tipo de tempo a outros, tanto física (a documentação realiza-se desde um trem em movimento), como conceitualmente. As categorias de tempo e espaço são sincronizadas de maneira que podem ser permutadas. O gesto fotográfico realizado é um jogo de troca entre essas categorias. Revelam-se os lances desse jogo, que precisamente, são as ferramentas de transmissão das informações que o artista tem. Dubois falou o seguinte sobre este mesmo tema: “E é então, nesse estado de latência, nessa distancia, no tempo desse vazio, que se manifesta toda relação da fotografia e alucinação. Como existe um desfase temporal entre o objeto fotografado e a sua imagem, como esse objeto desaparece necessariamente no momento que olho para a fotografia, não existe alguma coisa de fantasmagórico no jogo?
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! ! O ESPAÇO URBANO COMO TERRITÓRIO ______________________________________________________________________________________
! A história da humanidade, do urbanismo e da arquitetura é um processo de domesticação da paisagem, dando para ela significados as diferentes partes da média natural e atribuindo características especiais para determinados lugares. As ruas são territórios submetidos a um controle e umas funções determinadas. A distinção entre casa e território público formam uma representação mental de um mapa. ______________________________________________________________________________________
! O jeito mais fácil de mapa geográfico não é o que atualmente parece o mais natural, quer dizer, o mapa que representa a superfície do chão como se fosse vista pela olhada de um extraterrestre. A primeira necessidade de fixar os lugares em um mapa está ligada à viagem: é o memorando da sequência de etapas, a traça de um percorrido [...] Seguir um percorrido desde o principio até o fim produz uma satisfação especial tanto na vida como na literatura (e na arquitetura), e devemos perguntar por que nas artes figurativas o tema do percorrido não teve a mesma fortuna, e aparece só esporadicamente. [...] A necessidade de resumir numa imagem a dimensão do tempo junto com a dimensão do espaço está na origem da cartografia. O tempo como histórico do passado [...] e o tempo até o futuro: como a presença de uns obstáculos que vão se encontrando no caminho, e então o tempo atmosférico cicatriza-se com o tempo cronológico. [...] Em definitiva, o mapa geográfico, estático, pressupõe uma idéia narrativa, e está concebido em função de um roteiro, é uma odisséia. IItalo Calvino, “Cartografía, relato, recorrido”, Ed. Alianza Editorial, Madrid, 1987, p.152
_______________________________________________________________________________________ Avançando no desenvolvimento lineal do trabalho, fica mais certo que as obras aqui comentadas do Luis Rojo podem ser lidas de um jeito circular, saltando de umas as outras, zig-zag, sem nenhuma ordem ou narrativa particular, pois as pinceladas que uma das séries da em um tema particular, afeita à composição da outra das séries, que completa o mesmo conceito desde um ponto de vista distinto.
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Pela transitoriedade no tempo, ou a impossibilidade de chegar a todos os lugares fotografados pelo artista por parte do espectador, a fotografia pode chegar a considerar-se um par de olhos mais para o publico. Então, fica o problema da veracidade, se a veracidade é um problema que a fotografia tem que tratar uma proposta muito discutível ou se não é, pelo menos temos que falar da prova de realização do projeto do artista e o objetivo da câmara, que registrou um momento privilegiado de uma existência temporal distante, ou com outras palavras, de um momento único no espaço e no tempo. Isto significa que a intervenção direita do artista na imagem supõe o 4"
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! testemunho da mesma. Quer dizer: a imagem fotográfica percorre a distância do objeto externo à interpretação interna, assim, desde a realidade mostrada até uma artificialidade que passa pelas mãos do artista. Essa distância supõe um intervalo entre a experiência e a informação que recebemos da mesma.
! “On the corner”, uma série de 13 fotografias realizadas em Kassel e Madri, mostram desde espaços públicos a simples vistas sem utilizar. Ou essa é a realidade aparente. Esta série tem superposta a história de cada um desses espaços. São pontos de venda constante de droga, no momento que não têm ninguém. A manipulação da imagem já foi feita. Agora cada composição tem uma história não documentada na imagem, mas transmitida no ato de fotografar. Os restos e traças da memória coletiva que esse lugar tem construído ficam na fotografia, mesmo que não apareçam na imagem. Nós somos convertidos em testemunhas urbanas. ______________________________________________________________________________________
A MEMÓRIA COLETIVA ______________________________________________________________________________________
! A ação de atravessar o espaço nasce da necessidade natural de se mexer para encontrar alimento e informações indispensáveis para a própria supervivência, mas satisfeitas as exigências primarias, o fato de andar converteu-se na primeira ação estética que entrou nos territórios do caos construindo uma nova ordem sobre a qual a arquitetura dos objetos colocados nela foi desenvolvida. Francesco Careri, “Walkscapes. El andar como práctica estética” , Ed. Gustavo Gili, Barcelona, 2002, p.20
______________________________________________________________________________________ Fotografar, segundo Elaine Tedesco, é isolar, escolher e separar. Assim, existe um movimento de aproximação e outro de distanciamento durante o todo o processo. Primeiro, olha-se, aproxima-se, enquadra-se (isolar), aciona-se o disparador (provoca-se um recorte espaço-temporal), e depois, tem que afastar-se, (revelar a imagem), e projetar novamente, escolher novamente. A invenção do artista, a sua visão subjetiva e particular, muda a realidade que pode passar a ser percebida como vestígio do que um dia foi. Dialogando claramente com o pensamento da Susan Santag: “a fotografia não é só uma imagem pictórica, é uma interpretação do real, como colocar uma máscara fúnebre”. As séries “Santiago”, “Restos”, “Interferências” e “Eventos” estão intimamente relacionados, e encerram um discurso auto-referencial, sem uma configuração particular, sem referências imediatas, com uma narrativa que trabalha um amplio espetro de escalas. As séries procuram rastros de vida humana no espaço público reminiscências e traços solidificados da atividade urbana, paradigmas que conformam uma experiência coletiva em forma de memória, diálogo sobrenatural de objetos cotidianos, sobreposições imprecisas, realidades que passam a formar parte dum imaginário contaminado pelo olhar, pela existência e documentação do artista, além de pelos sentidos, praticas urbanas e vivencias de todo o capturado na imagem.
! Os vestígios que se tornam quase “ruínas da realidade”, de novo inventam um “jogo da memória”, deixam um espaço de encontro e meditação entre artistas e observadores, constituindo numerosas possibilidades de entendimento, representados pelas maneiras de olhar individuais.!
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! ! ! ! ! ! ! ! ! A FOTOGRAFIA NA"DOCUMENTAÇÃO DO PROCESSO DA EXPERIÊNCIA URBANA"
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! ANOTAÇÕES SOBRE O FANZINE _______________________________________________________________________________________ Como demonstrada na monografia, a obra comentada é completamente circular e os diferentes comentários são aplicáveis para qualquer das séries fotográficas. Por isso, a apresentação dessas séries no Fanzine, em anexo, quer responder à necessidade de ler e expor as fotografias de um jeito não-linear. Por uma parte, encontramos a explicação teórica de cada tema tratado, e de outro lado, uma mostra das séries com comentários do Luis Rojo. Os dobramentos e a apresentação do Fanzine não respondem a um único padrão, mas a varias possibilidades. Dependendo da dobradura, a explicação de cada série acompanhará a uma ou outra fotografia, demonstrando que o desenvolvimento de cada tema é aplicável a todas as séries indistintamente.
BIBLIOGRAFIA _______________________________________________________________________________________
luisrojo.net “A fotografía nos procesos artísticos contemporáneos”, Porto Alegre, Unidade Editorial da Secretaría Municipal da Cultura: Editora da UFRGS, 2004, com especial énfasis nos textos “Realidades imaginárias na fotografía: a artificialidade, os espectros e as ruínas da realidade” da Virgina Gil Araujo e “Sobreposições imprecisas”, de Elaine Tedesco. “Walkscapes. El andar como práctica estética”, de Francesco Careri, Ed. Gustavo Gili, Barcelona, 2002
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Falar que a cidade é um conjunto de coisas é uma obviedade, mas essas coisas adquirem interdependência pela causa da sua materialização. A cidade em si passa a ser não só uma mesa que suporta este imaginário, mas um sistema de relações. Estas conexões e relações podem ser ambíguas e polissêmicas, mas elas estão estruturadas. A fotografia deve tratar-se como uma produção de imagens que deixa de ter relações com a realidade imediata, afasta-se do mundo das aparências e contribui com diferentes possibilidades interpretativas dentro do estranhamento dos sentidos do espectador. Os significados da fotografia aparecem em procedimentos alegóricos de apropriação, exposição e montagem e ao mesmo tempo, aporta informações, adotando novas aparências, abrigando um “jogo da memória” que estimula a sensação de dejà-vu, sem apreender na primeira visão todas as significações.
Documentação fotográfica sobre performance urbana Testemunha em Ronda de Atocha Madrid
REFERÊNCIAS ARTISTAS DA TRIGÉSIMA BIENAL DE SÃO PAULO A IMINÊNCIA DAS POÉTICAS Observação antropológica-HANS EIJKEDBOOM Corpo em espaço publiCO-JIRI KOUANDA Filmes, Cotidaneidade e fantasia-EDI HINOSE Marcos urbanaos para atividades-LEANDRO TANTAGLIA Desenho como percurso transitório-BERNARDO ORTIZ Identidade e temporalidade-HREINN FRIDFINNSON Interferências urbanas-MOYRA DAVEY Memória do lugar+Audio-MARYANNE AMACHER Biografias inventadas pela fotografia-PABLO PIJNAPPEL Aproximação home-ambiente-SIGURDUN GUDMUSSON Fotografias indiscriminadas-ALEXANDRE MOREIRA Vulnerabilidade do corpo-BAS JON ADER
A materialização deste discurso na obra de Luis Rojo pode ser o vídeo “Ruínas”, selecionado para a mostra do festival de Cinema e Arquitetura da cidade de Santiago de Chile, no ano 2012. Sendo a obra mais recente desta monografia, resume os temas que vão aparecer depois. Dentro da categoria “experimental”, o curta-metragem é uma reconstrução da paisagem de Valparaíso e Viña Del Mar, com misturas sonoras e visuais. A câmara enfoca com planos fixos diferentes situações que mostram os traços e restos solidificados em uma catástrofe, não só natural (o terremoto que assolou Chile), mas também humana: a voz de uma mulher durante a briga com o seu marido, um telefonema, o ponto de vista de uma pessoa, a eleição dos enquadres, entre outros. A memória coletiva permanece mesmo que a cidade e as pessoas mudem. Não existe mais narrativa particular que a sequência de enquadres visuais durante períodos de tempo, que se sucedem sem uma ordem particular e uma documentação experimental, valha a redundância e a experiência, pois ainda que as imagens são fixas, o movimento é o coração do ser humano e a base para todas as ações que modificam o seu médio. Mas depois de documentado e plasmado o momento em um recorte espaço-temporal, o que é que fica? Quem testifica pela testemunha? A obra fotográfica do Luis Rojo aproxima-se da “fotografia contaminada”, de Chianelli. Trata-se de superar a imagem como contemplação passiva e passar do me ramente estético ou belo para imagens insatisfeitas que estimulem a reação do espectador. Essa traça da memória coletiva materializa-se também nas esculturas repartidas por toda Madri, que representam a testemunha e o vigilante. Esta testemunha, que não é surda, cega ou muda, interatua com as pessoas que a localizam, condicionando o jeito de olhar a cidade, e este jeito, condiciona a forma de viver a cidade. Depois da fotografia, a testemunha fica no lugar e finalmente morre.
MONOGRAFIA Aluno: FRANCISCO JAVIER DE LA MADRIZ Colaborador: Luis Rojo Professora: Maria Cecília França Lourenzo Secretária: Rose Cruz Monitoria: Laura Nakel
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO E ESCOLA TÉCNICA DE ARQUITECTURA DE MADRID
UNIVERSIDAD POLITÉCNICA DE MADRID
8 de agosto de 2012-28 de novembro de 2012
Terça, das 8h às 12h Entrada gratuita Ação educativa. Disciplina optativa AUH0325 ASPECTOS DA LINGUAGEM CONTEMPORÂNEA
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo. Departamento de história da arquitetura e estética do projeto
FOTOGRAFÍA DOCUMENTAÇÃO A
BIBLIOGRAFIA luisrojo.net
“A fotografía nos procesos artísticos contemporáneos”, Porto Alegre, Unidade Editorial da Secretaría Municipal da Cultura: Editora da UFRGS, 2004, com especial énfasis nos textos “Realidades imaginárias na fotografía: a artificialidade, os espectros e as ruínas da realida de” da Virgina Gil Araujo e “Sobreposições imprecisas”, de Elaine Tedesco.
NA
DO PROCESSO DA
EXPERIÊNCIA URBANA
“Walkscapes. El andar como práctica estética”, de Francesco Careri, Ed. Gustavo Documentação fotográfica sobre performance urbana
NA
Testemunha em Rua Mercedes Domingo
OBRA DO Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Madrid
Luis Rojo VIDEO SÉRIES FOTOGRÁFICAS
Video HD 5’18” PAL, color, stereo, 2-perf Valparaíso
Testemunha em Rua Évora Madrid
O ESPAÇO URBANO COMO TERRITÓRIO _______________________________________
A EXPERIÊNCIA DA VIAGEM ___________________________________________
A conceição de experiência como crescimento, como passo através de uma forma de ação que mede as verdadeiras dimensões e a verdadeira natureza das pessoas ou do objeto que o começa, descreve também a conceição mais antiga dos efeitos da viagem sobre o viajante. Não consiste só em atravessar as paisagens e aglomerações, as estradas geram novas formas de espaços onde é possível habitar, criando assim novas formas de sociabilidade. As vias já não levam somente aos lugares, mas são lugares. Estes espaços caracterizam-se pela mobilidade e a muda, e é nas imediações destas vias onde são produzidos novos encontros.
Pela transitoriedade no tempo, ou a impossibiimpossibi lidade de chegar a todos os lugares fotografados pelo artista por parte do espectador, a fotografia pode chegar a considerar-se um par de olhos mais para o publico. Então, fica o problema da veracidade, se a veracidade é um problema que a fotografia tem que tratar uma proposta muito discutível ou se não é, pelo menos temos que falar da prova de realização do projeto do artista e o objetivo da câmara, que registrou um momento privilegiado de uma existência temporal distante, ou com outras palavras, de um momento único no espaço e no tempo. Isto significa que a intervenção direita do artista na imagem supõe o testemunho da mesma. Quer dizer: a imagem fotográfica percorre a distância do objeto externo à interpretação interna, assim, desde a realidade mostrada até uma artificialidade que passa pelas mãos do artista. Essa distância supõe um intervalo entre a experiência e a informação que recebemos da mesma.
A documentação desta experiência não é mais (nem menos) que uma destas ferramentas. O trabalho realizado pelo Luis Rojo na série de 10 fotografias que compõem “618 km” salta de região em região por encima das barreiras. Muda de um tipo de espaço e de um tipo de tempo a outros, tanto física (a documentação realiza-se desde um trem em movimento), como conceitualmente. As categorias de tempo e espaço são sincronizadas de maneira que podem ser permutadas. O gesto fotográfico realizado é um jogo de troca entre essas categorias. Revelam-se os lances desse jogo, que precisamente, são as ferramentas de transmissão das informações que o artista tem. Dubois falou o seguinte sobre este mesmo tema: “E é então, nesse estado de latência, nessa distancia, no tempo desse vazio, que se manifesta toda relação da fotografia e alucinação. Como existe um desfase temporal entre o objeto fotografado e a sua imagem, como esse objeto desapare ce necessariamente no momento que olho para a fotografia, não existe alguma coisa de fantasmagórico no jogo?
“On the corner”, uma série de 13 fotografias realizadas em Kassel e Madri, mostram desde espaços públicos a simples vistas sem utilizar. Ou essa é a realidade aparente. Esta série tem superposta a história de cada um desses espaços. São pontos de venda constante de droga, no momento que não têm ninguém. A manipulação da imagem já foi feita. Agora cada composição tem uma história não documentada na imagem, mas transmitida no ato de fotografar. Os restos e traças da memória coletiva que esse lugar tem construído ficam na fotografia, mesmo que não apareçam na imagem. Nós somos convertidos em testemunhas urbanas.
O jeito mais fácil de mapa geográfico não é o que atualmente parece o mais natural, quer dizer, o mapa que representa a superfície do chão como se fosse vista pela olhada de um extraterrestre. A primeira necessidade de fixar os lugares em um mapa está ligada à viagem: é o memorando da sequência de etapas, a traça de um percorrido [...] Seguir um percorrido desde o principio até o fim produz uma satisfação especial tanto na vida como na literatura (e na arquitetura), e devemos perguntar por que nas artes figurativas o tema do percorrido não teve a mesma fortuna, e aparece só esporadicamente. [...] A necessidade de resumir numa imagem a dimensão do tempo junto com a dimensão do espaço está na origem da cartografia. O tempo como histórico do passado [...] e o tempo até o futuro: como a presença de uns obstáculos que vão se encontrando no caminho, e então o tempo atmosférico cicatriza-se com o tempo cronológico. [...] Em definitiva, o mapa geográfico, estático, pressupõe uma idéia narrativa, e está concebido em função de um roteiro, é uma odisséia. Italo Calvino, “Cartografía, relato, recorrido”, Ed. Alianza Editorial, Madrid, 1987, p.152
A EXPERIÊNCIA ALHEIA ________________________________________
A MEMÓRIA COLETIVA _____________________________________
A fotografia contemporânea veste-se com uma rearea lidade simbólica, que é outra realidade diferente da visível, e procura re-articular a mensagem transmitida através de analogias, simulações e recodificações. A transformação destas realidades em imagens não-objeto e até irracionais são atribuídas às novas funções como linguagem inde pendente. O imaginário de Luis Rojo não tem relações (diretas) com a realidade imediata, não pertence mais à ordem das aparências e aportam diferentes possibilidades de suscitar o estranhamento nos sentidos do espectador.
A invenção do artista, a sua visão subjetiva e particular, muda a realidade que pode passar a ser percebida como vestígio do que um dia foi. Dialogando claramente com o pensamento da Susan Santag: “a fotografia não é só uma imagem pictórica, é uma interpretação do real, como colocar uma máscara fúnebre”. As séries “Santiago”, “Restos”, “Interferências” e “Eventos” estão intimamente relacionados, e encerram um discurso auto-referencial, sem uma configuração particular, sem referências imediatas, com uma narrativa que trabalha um amplio espetro de escalas. As séries procuram rastros de vida humana no espaço público reminiscências e traços soli dificados da atividade urbana, paradigmas que conformam uma experiência coletiva em forma de memória, diálogo sobrenatural de objetos cotidianos, sobreposições imprecisas, realidades que passam a formar parte dum imaginário contaminado pelo olhar. Os vestígios que se tornam quase “ruínas da realidade”, de novo inventam um “jogo da memória”, deixam um espaço de encontro e meditação entre artistas e observadores, constituindo numerosas possibilidades de entendimento, representados pelas maneiras de olhar individuais.
INTERFERENCIAS Série fotográfica Madrid, Kassel A cidade é então um cenário e as pessoas que participam no espetáculo podem se-considerar atores. A cidade é simultaneamente perigosa, fascinante, unificadora e separadora, libertadora. É o lugar suporte para a tensão entre dois princípios psicológicos muito importantes: enfrentar-se à distancia e ao desconhe cido; e enfrentar-se ao familiar e ao seguro. “La calle”, Jaan Valsinar, conferência recopilada en “Arquitectura e interacción social. Advanced theories and practises”
EVENTOS
ON THE CORNER Série 13 fotografias Kassel,Madrid _____________
Série fotográfica Madrid
Fotografias dos pontos de venta constante de droga, no momento que no têm ninguém
Dormir durante uma viagem não é viajar. É ficar dormido num lugar e acordar num outro ____________________ 6180 KM Série 10 fotografias Realizadas durante um percorrido em trem
FOLLOWIN`98 Série fotográfica Num espaço publico, escolho pessoas aleátoriamente e olho até encontar situações de máxima tensão.
Série fotográfica de Santiago de Chile, paradigma do traçado colonial e políticas neoliberais. _________________ SANTIAGO DE CHILE Série fotográfica 40x26cm c.u.