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D ;JIJGD w ?Û =D?: Texto de Maria Emília Brederode Santos e Teresa Fonseca Fotografias de Henrique Bento
Os alunos da professora Adelina Moura aprendem Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Almeida Garrett e Padre António Vieira sem hora nem local marcados. Tanto pode ser numa sala de aula da Escola Secundária Carlos Amarante, de Braga, como nas suas casas, nos jardins, nos centros comerciais... E tudo isto graças às tecnologias móveis, aqui verdadeiras aliadas da aprendizagem.
“Escolham um poema de Fernando Pessoa, leiam-no e seleccionem dois ou três versos que achem que poderiam dar uma boa SMS poética. Copiem para o vosso telemóvel e mandem-na a quem quiserem – à vossa namorada, a um amigo, à mãe, ao pai, a quem desejarem!” É assim que Adelina Moura, professora de Português, inicia a sua aula. Os alunos, sentados aos pares nas carteiras, trabalhando individualmente, dão quase a ideia de estarem numa aula vulgar de há 20 anos. Mas as diferenças são imensas: à frente de cada um, um computador portátil e ao lado, um telemóvel – vêem-se desde o último grito em telemóveis aos mais habituais. A disposição das carteiras também é bizarra: os alunos sentam-se junto às paredes – para ligarem os computadores à corrente e terem melhor acesso à Internet – deixando vazio o centro da sala. Um terceiro elemento surpreendente é que na sala só há rapazes. Eles frequentam, na Escola Secundária Carlos Amarante, de Braga, o 11.º ano do Curso Profissional de Manutenção Industrial e Electromecânica, que não atrai raparigas.
olhar atento sobre uma mensagem, algo enigmática, dirigida por alguém a um outro alguém, que não confessa quem é, e que, sorrindo tímido, afirma: “Não sei...” Diz, de seguida, o poema de Fernando Pessoa escolhido como mensagem: “MEU SER VIVE na Noite e no Desejo. Minha alma é uma lembrança que há em mim.” O tempo acabou...
3 6 ;:HI6 96 ED:H>6 Perante a tarefa proposta pela professora, os alunos começam, de imediato, as suas pesquisas em http://www.secrel. com.br/jpoesia/pessoa0a.html. Pondo mãos à obra, imaginam o destinatário e seleccionam uma “boa” mensagem SMS poética para ele. O entusiasmo é grande e Filipe, orgulhoso da sua escolha e dizendo as suas razões, afirma: “Eu escolhi alguns versos do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, escrevi-os no telemóvel e vou enviar para o Emmanuel”. Minutos depois ouve-se um sinal de mensagem. É o telemóvel do Emmanuel. Este exclama logo: “Olha, é uma mensagem do Filipe!”. E lê: “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. De seguida, acrescenta: “Eu já tenho uma boa resposta para o Filipe!” .
3 6 =DG6 96 Iw8C>86 Na hora de enviar as mensagens, a técnica marca presença. Alguns alunos – poucos – porque já têm telemóveis que recebem ficheiros em Word e dispositivo bluetooth, podem enviar directamente a sua mensagem do computador para o telemóvel e esta seguir o seu percurso até ao telemóvel do destinatário. Outros – a maioria – têm de “teclar” a toda a velocidade a mensagem escolhida para esta seguir o seu caminho. Claro que “teclar” rapidamente, para eles, não é problema! E agora? Que fazer com as mensagens? Como divulgá-las aos outros? Porque não fazer um desdobrável? Para isso, cada um copia o poema seleccionado, grava-o com imagem, destaca a mensagem SMS poética, assinalando-a com uma pequena fotografia de um telemóvel. Os trabalhos estão prontos, basta juntá-los e dar-lhes o formato de desdobrável.
Coincidência das coincidências: um dos rapazes da turma tem uma namorada chamada Lídia. Porque não escolher versos do poema Lídia, de Ricardo Reis? Se assim pensou, melhor o fez e a mensagem seguiu o seu caminho até ao telemóvel da Lídia. Mais tarde a Lídia respondeu... Tiago escolheu, para enviar a um seu colega, três versos do poema Lisbon Revisited, de Álvaro de Campos. “Que interessante mensagem poética”, afirma Adelina Moura e, em voz alta, lê-a à turma: “Sou um técnico, mas tenho técnica, só dentro da técnica. Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. Com todo o direito a sê-lo, ouviram?” Os alunos continuam bastante envolvidos na tarefa. O tempo vai passando e os 20 minutos estabelecidos pela professora estão quase a chegar ao fim. Há ainda um momento para um
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ADELINA MOURA EM DISCURSO DIRECTO
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E a avaliação? Como vai a professora analisar o trabalho de cada um? Como vai ver a adequação da mensagem ao destinatário? É tudo bastante simples! Afinal, é só preciso enviar o trabalho, depois de identificado, para geramovel@gmail.com e Adelina Moura, mais tarde, já em sua casa, poderá fazer a respectiva avaliação.
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3 6JA6 H:B AJ<6G : =DG6 B6G8696 Não é só para a professora que a aula não tem lugar nem hora marcada. Também os alunos, a caminho de casa, do cinema, das actividades desportivas, dos encontros com os amigos e com as namoradas, prolongam os seus tempos dedicados ao estudo dos diversos autores, desenvolvendo e gerindo as tarefas autonomamente, cumprindo uma regra essencial: respeitar o calendário estipulado para a sua conclusão. Assim, quase no final da aula, Adelina Moura informa: “Já podem descarregar os podcasts com as gravações dos poemas de Fernando Pessoa para os vossos telemóveis ou para os mp3”. De seguida, Pedro comenta: “Vamos,
então, passar os poemas e a respectiva análise para os telemóveis ou mp3 e depois ouvimos nos tempos livres”. O Nuno acrescenta: “Agora é bem mais agradável. É a voz da nossa professora. A princípio era uma voz mecânica, mas nós preferimos a voz da professora”. Por último, Adelina Moura esclarece: “ Nos podcasts, além dos poemas, são colocadas questões às quais podem responder por SMS, por e-mail ou darem a resposta, na vossa página web, na área reservada. Depois de eu corrigir, dar-vos-ei autorização de publicação”. Será que estamos a participar num filme de ficção científica? Não, é uma aula de verdade. É uma aula em que os considerados inimigos da escola se tornam grandes amigos, em que o futuro não é amanhã, é já hoje. Estamos a caminho da aprendizagem móvel. :: GERAÇÃO MÓVEL
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