Basset - Le Pardon Originel

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BASSET

LE PARDON ORIGINEL


LE PARDON ORIGINEL Lytta Basset1 INTRODUCTION Experiência do Mal •Aporia: uma dificuldade de ordem racional que parece não ter saida. •Nenhuma interpretação pode enquadra exatamente a experiência do mal; ao mesmo tempo a experiência do mal está sempre na espera de um significado. •Pensamento e experiência são quebrados na exata medida em que toda linguagem que os traduziria torna-se impossível (Shoah). •É preciso uma linguagem despedaçada se quisermos ouvir no mais profundo de nos a experiência do mal e o que ela pode fazer entender no sentido de compreender (sentido etimológico). •A razão fracassa em compreender o mal e é uma ocasião para que ela mesma olhe para si de frente: de repente, sua perfeita adequação à realidade, à experiência está sob suspeita. •A experiência do mal é por excelência o choque que faz que ela tome consciência deste ponto-cego. •Libertada da preocupação de integrar de um modo forçado o mal nas suas estruturas, poderá acolhê-lo nas suas categorias de pensamento e respondendo a sua vocação, buscar o sentido. •a razão não estará mais fechada em si-mesma e deverá engajar-se nesta experiência do mal que a chame a alcançar o humano nos seus abismos. Relação entre objetivo e subjetivo •A experiência do mal é tão subjetiva que parece tão impossível de definir o mal como é explicar a liberdade para um prisioneiro que nunca a teria conhecido ou descrever o abismo do mal para quem nunca foi mergulhado nele. •Precisa redefinir as relações entre subjetivo e objetivo, singular e universal. •Porque o objeto da reflexão, o mal, está no nível mais profundo do ser humano, sua liberdade, é preciso de um esquema de pensamento que quebre o esquema tradicional subjetividade ou objetividade. •A experiência do mal no que ela tem de mais particular, de mais subjetivo, detém sua própria verdade e desafia o pensamento em apropriar-se desta verdade e de ecoar uma verdade que ela não definiu a priori. •Esta verdade que a precede e a supera é uma verdade que ela nunca poderá objetivar, o que é bom porque a objetivação é uma redução quando se trata de mal e da liberdade. Atividade conceitual e subjetividade •Só a atividade conceitual é questionada: o pensamento não é diminuído no seu princípio. •Ele é solicitado no infinito quando assume como ponto de partido que o mais particular, o que se refere no subjetivo a um sujeito único, pode adquirir um valor universal. •Como o pensamento pretenderia elevar-se acima do indivíduo e atingir o universal sem, no mesmo movimento, elevar ao universal a experiência do mal que faz o indivíduo ao qual o pensamento é irremediavelmente ligado? 1

BASSET, Lytta, Le pardon originel, de l’abîme du mal au pouvoir de pardonner, Genève, Labor et Fides, 1995


•“Eu

sou o caminho, a verdade e a vida.”(Jo 14,6): na sua aproximação com a experiência do mal, o pensamento não está na realidade procurando um método (caminho), uma descoberta (a verdade), um valor presente e futuro (a existência)? Subjetividade de Jesus •Em nenhum momento, Jesus explica o que é o pecado e a culpa, nem expõe sua concepção do mal nem ensina o que é a liberdade. •Jesus tem um modo único de situar-se diante de Deus e dos humanos: toda sua vida e seu ensinamento têm como centro de gravidade sua consciência de ser filho. O que tem de mais subjetivo do que a relação de uma criança com seu pai? •O que dá força ao seu ensinamento é que sua experiência e a reflexão sobre sua experiência encontram na própria subjetividade seu valor universal. •Em relação ao mal, o antagonismo entre objetividade e subjetividade parece ser um falso problema. •Uma outra objetividade começa a aparecer: situa-se numa zona intermediária, comum ao pensamento e à experiência; opera a síntese entre sentido e aparência e alimenta-se do que faz que todo ser humano é único. O Testemunho O Testemunho •O que permite o acesso a esta outra “objetividade” é a categoria do testemunho que é ao mesmo tempo uma forma de pensamento, uma linguagem apropriada e uma descrição do real. •O que foi dito sobre o sujeito existente e pensante e sua universalidade potencial seria petição de princípio se o pensamento não pudesse verificar a veracidade do que acontece. •O testemunho não demonstra nada: não entrega um saber-mercadoria. •Não é porém um nada: faz pensar e refletir. Entrega algo do real, da experiência do mal por exemplo. •Não é um dom empacotado, é um dom aberto, na espera de reflexão e de significado: dá asas ao pensamento. •Suscita uma caminhada de apropriação e o interesse do outro; “interesse”,”estar entre”: ser intermediário que é a existência, onde o pensamento no seu corpo a corpo com a existência sente-se interessado. •A testemunha diz a verdade porque sabe que os outros prolongarão e completarão este testemunho pela sua própria caminhada de pensamento enriquecida pela sua própria experiência. O Testemunho como categoria mixta •Participa da experiência choque que o suscitou e que ele comunica. •Participa do sentido/significado que ele procura. •O testemunho toca o outro no momento em que o subjetivo fala para o subjetivo através de uma linguagem e de uma conceituação que têm a marca da universalidade e se transmitem de um modo universal. •O espírito apóia se no pensamento mas não se reduz a ele: é a força que só pode fazer coabitar pacificamente e unir um pensamento exigente, uma experiência inassimilável e uma linguagem fiel a estas duas vertentes. •Um testemunho fala verdadeiramente ao destinatário quando põe seu espírito em movimento e que este revela seu parentesco com o Espírito de Deus: é este parentesco – similitude sem fusão – que é fonte de universalidade.


•O

testemunho renuncia a restituir uma verdade exaustiva: tem como ambição permitir que a mais subjetiva das experiências possa ser acessível a uma outra individualidade. Ao mesmo tempo, para quem sofre a agonia do mal, o testemunho aparece como a única palavra possível: saí deste abismo, existe uma via possível.


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