Debout - Violences au Travail

Page 1

DEBOUT

VIOLENCES AU TRAVAIL


VIOLENCES SOCIAUX

AU

TRAVAIL,

AGRESSIONS,

HARCÈLEMENTS,

PLANS

A questão das violências no trabalho1 VIOLÊNCIAS NO TRABALHO Debout, Larose O TRABALHO MUDOU... •O verbo trabalhar vem do latino tripaliare que significa torturar com um instrumento constituído de três pés. •Os ganhos de produtividade, sem acompanhamento social adequado, tendem a desgastar a qualidade de vida no trabalho. •As tarefas repetidas com pouca qualificação ocasionam a monotonia e a falta de interesse no trabalho. •O assalariado aspira a uma estabilidade do emprego, à previsibilidade das condições de trabalho e à qualidade das condições de trabalho. •Eles se queixam sobretudo de uma pressão mental e psicológica que se traduz por distúrbios psicossomáticos. •Esta carga psíquica que pode evoluir para estados depressivos graves encontra, em parte, sua origem nas mudanças no management das empresas. •Isolados, tendo que cumprir objetivos individuais ou coletivos impostos, os assalariados devem conciliar contrários: fazer rápido e bem feito, sem obter sempre o apoio da estrutura que o emprega. TRÊS TIPOS DE VIOLÊNCIA NO TRABALHO

•Agressões no trabalho •Assédio no trabalho •Demissões coletivas DESUMANIZAÇÃO NO TRABALHO •Como opor-se ao processo de desumanização do trabalho e como impedi-lo? •Desde o início da industrialização, os operários e empregados lutaram para ter seus direitos reconhecidos e para ser considerados como seres humanos trabalhando e não como simples agentes econômicos ao serviço da produção. •Esta dinâmica que trouxe a humanização das relações de trabalho está sendo questionada por uma nova violência nos relacionamentos sociais mais ligada hoje à globalização dos poderes, principalmente financeiros. •O patrão, com o qual se negociava e que encarnava o poder na empresa, é substituído por acionistas anônimos e afastados interessados não pelo que a empresa produz mas pelos dividendos que ela traz. PROCESSO DE DESUMANIZAÇÃO AGRESSÕES NO TRABALHO

1

DEBOUT, Michel, LAROSE, Christian, Violences au travail, agressions, harcèlements, plans sociaux, Paris, Les Éditions de l’Atelier/Les Éditions Ouvrières, 2003


•Quando

a agressão acontece no ambiente profissional, não é só uma relação entre o agressor e o agredido: a empresa, qualquer que seja sua reação, está automaticamente envolvida. •Quando um assalariado sofre uma agressão vinda de fora, existem duas vítimas: –A empresa como a coletividade a qual pertence o assalariado e, também, a imagem desta empresa no seu ambiente econômico e social. –O assalariado que é diretamente atingido pela agressão verbal ou física. Poderá desenvolver sentimentos contraditórios e ambivalentes: •reagiu como devia? •Sua profissão tem ainda sentido? •Pode contar com seus colegas e sua hierarquia? •Quais serão as conseqüências para seu futuro profissional? EFEITOS DAS VIOLÊNCIAS SOBRE OS ASSALARIADOS •Toda agressão atinge a vítima na sua integridade física e psíquica. •Uma das características do traumatismo psíquico é de depender não só da violência da causa mas também do estado da vítima no momento em que acontece; o acontecimento terá efeitos diferentes dependendo da vítima ou, para a mesma vítima, dependendo do momento. •Durante muito tempo atribuía se o traumatismo a uma fraqueza da pessoa. Agora se sabe que qualquer pessoa pode ser atingida; simplesmente naquele momento a pessoa se sentirá impotente, humilhada, culpada porque elementos constitutivos de sua historia e de sua personalidade terão sido revelados pelo acontecimento traumático. REAÇÕES PÓS TRAUMÁTICAS •As reações psíquicas desenvolvem-se no tempo e as reações imediatas são seguidas por outras conseqüências mais tardias ou diferidas. Isto se traduz por vários tipos de comportamentos: –O estado de choque –Um estado de agitação: gritos, choro... –Uma falsa serenidade –Reações ansiosas agudas –O tempo de volta ao estado normal é variável. •Vários sentimentos podem se desenvolver e corroer o pensamento e a atividade psíquica da vítima: –O sentimento de vergonha e humilhação –O sentimento de culpa –O sentimento de abandono, de raiva –A necessidade de vingança. •Estes sentimentos são vividos com intensidade porque a pessoa viveu uma situação de desumanidade. ASSÉDIO MORAL •Violência mais insidiosa e permanente, inscrita no tempo: o autor dela quer impor sua visão à vítima, ditar sua lei de modo que a vítima escolhe entre a submissão ou a demissão. •Na vida privada, quem assedia faz a vítima sofrer psiquicamente para impor a própria vontade o, quando é perverso, para divertir-se com este sofrimento.


•No

trabalho, quem assedia (sozinho ou em grupo) tem como finalidade empurrar a vítima fora da empresa. •Para quebrar a vítima, o assediador tenta atingir a vítima não só questionando sua competência profissional mas também sua personalidade agindo sobre as fraquezas porque cada um apresenta fragilidades psíquicas. •Para vítima começa a descida no inferno principalmente porque o assediador nunca reconhece o próprio objetivo e nunca explica a própria atitude. Sempre acusa o assediado de ter “mudado” e tenta convencê-lo de que tudo que acontece é culpa do próprio. POSSÍVEIS VÍTIMAS •Um novato que atrapalha os hábitos sedimentados. •Um funcionário sobrando e não corresponde mais ao perfil que a empresa quer •Uma pessoa que não aceita os novos métodos de gestão, de management e se opõe a mudanças que ele considera negativas para a empresa. •Uma pessoa que se quer empurrar para fora porque existe outra pessoa para colocar no seu lugar. •Um funcionário por demais bem sucedido na vida pessoal e/ou profissional, o que provoca inveja e ciúme. •Um doente que volta depois de uma longa ausência profissional. •Uma pessoa que reivindica demais... MÉTODOS DE ASSÉDIO O assediador age sobre tudo que um trabalhador pode esperar de sua empresa e de seu trabalho: respeito, consideração e condições materiais de trabalho. •O assediador procura atingir a vítima na própria dignidade mediante ofensas, fofocas ou tentando atingir a vida privada. •No aspecto relacional, trata-se de instaurar uma espécie de “não-presença” da vítima, organizando um tipo de quarentena. •O assediador procura denegrir sistematicamente o trabalho produzido. As metas são inalcançáveis o que coloca a vítima em situação de fracasso. •O assediador pode dar nenhuma missão para a vítima ou exigir a realização de tarefas totalmente irrelevantes no sentido de humilhar a vítima. •O assediador pode dar ordens pouco precisas ou contraditórias o que coloca a vítima numa situação de fracasso. Qualquer que seja o meio utilizado, a estratégia é não reconhecer a qualidade do trabalho realizado e o engajamento da pessoa no próprio trabalho: este não reconhecimento atinge a pessoa na própria identidade. EFEITOS DO ASSÉDIO •No início a vítima não entende o que está acontecendo e não pensa em se defender porque acha que se trata de um erro de julgamento fácil de ser corrigido. •O processo de assédio está sempre desenvolvido no “não dito” e, mesmo que utilize processos mais agressivos, o assediador sempre procura agir escondido dos outros e protestaria que está de boa fé se porventura fosse descoberto. •O assediador sempre procura atrair os colegas para o próprio lado de modo a isolar a vítima. A vítima acha se então na obrigação de provar sua boa-fé e sua competência.


•Para

a pessoa assediada, o único recurso para parar o processo seria de enfrentar um conflito aberto e torná-lo explícito, mas a força do assediador está na sua capacidade em evitar este confronto.

•Sentimento

de culpa, protesto, sentimento de ser abandonado, esgotamento levam a vítima a um estado de incapacidade psíquica.

ASSEDIADORES, ASSEDIADOS, TESTEMUNHAS...

•Todos

os assediadores não são perversos! Muitas vezes, sozinhos ou em grupos, querem delimitar seu território.

•A

relação de poder está na origem do assédio moral no trabalho: o próprio poder institucional pode querer impor assim custe o que custar suas orientações e suas decisões estratégicas, deixando pelo caminho os que não se encaixam.

•O

assediador só consegue seu objetivo quando existe o silêncio dos colegas da vítima e de outras testemunhas. Este silêncio vem do fato que é difícil entender o que está acontecendo: nem a vítima percebe no início, portanto também os outros talvez tenham dificuldade em perceber.

•Os

novos modos de organização do trabalho provocam a individualização das tarefas e das missões: tudo o que pode ser entendido como falha pessoal do assediado pode levar os colegas a tornar-se cúmplices destas violências.

•O

enfraquecimento das solidariedades coletivas permite o assédio moral. Os colegas consideram freqüentemente as questões de assédio como ligadas às personalidades do assediador e do assediado e não à organização do trabalho.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.