Korten - Quando as Corporacoes

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QUANDO AS CORPORAÇÕES REGEM O MUNDO


FICHA DE LIVRO AUTOR : Korten, David C. TÍTULO : Quando as corporações regem o mundo EDITOR : Editora Futura ANO : 1996 NÚMERO DE PÁGINAS : 417 ÁREA DE INTERESSE : Cenário econômico David C. Korten1 Capítulo 4: Aumento do poder das corporações americanas2. A autorização das corporações (charter) é uma invenção social criada para agregar recursos financeiros privados a serviço de um objetivo público. Permite também a um ou mais indivíduos alavancar maciços recursos econômicos e políticos atrás de interesses obviamente particulares e proteger a si mesmos da responsabilidade legal pelas consequências públicas. Menos amplamente reconhecida é a tendência das corporações ao crescer em tamanho e poder, de desenvolver suas próprias agendas institucionais, alinhadas com imperativos inerentes à sua natureza e estrutura, que não estão inteiramente sob o controle nem mesmo do pessoal que as possui e dirige. Essas agendas centralizam o aumento de seus próprios lucros protegendo a si mesmas das incertezas do mercado. Surgem de uma combinação de competição de mercado, da demanda dos mercados financeiros e dos esforços dos indivíduos dentro delas para promover suas carreiras e aumentar seus ganhos. Progressivamente, mais que o interesse humano, é o interesse das corporações que define as agendas políticas dos Estados e dos organismos internacionais, embora esta realidade e suas implicações não tenham sido percebidas nem tratadas pela maioria. O documento de constituição das corporações é uma garantia de privilégios estendidos pelo Estado a um grupo de investidores para servir um objetivo público. Sua história remonta pelo menos ao século XVI. Naquele tempo, as dívidas de um indivíduo eram


herdadas por seus descendentes e podiam levar o descendente à prisão, mesmo que nada devesse. Aqueles que partiam de navio da Inglaterra para comerciar especiarias nas Índias Orientais enfrentavam não apenas os inevitáveis perigos da perigosa viagem por mar, mas também a perspectiva de que eles e suas famílias poderiam estar arruinados, mesmo nas futuras gerações, se perdessem seu carregamento por causo do tempo ruim ou os piratas. Para o comércio internacional, a corporação representou uma importante inovação 1 KORTEN, David C.: Quando as corporações regem o mundo, São Paulo, Editora Futura 1996 2 op.cit. pag.69ss institucional a superar esta barreira. Como tantas importantes invenções, a autorização de constituição da corporação abriu inúmeras oportunidades de promover os interesses das sociedades humanas – contanto que as sociedades civis mantivessem sob controle os potenciais abusos que a concentração do poder possibilitava. Especificamente, a autorização de constituição da corporação representava uma concessão da coroa que limitava a responsabilidade de um investidor pelas perdas da corporação ao montante de seus investimentos – um direito que não se estende individualmente a cidadãos. Cada autorização de constituição estabelecia os direitos e os deveres específicos conferidos a determinada corporação – inclusive a quota de lucros que iria para a coroa em troca do privilégio especial conferido. Tais autorizações de constituição eram concedidas conforme a vontade da coroa e poderiam ser retiradas a qualquer momento. Não causa surpresa que a história das relações governos-corporações desde aquele tempo tenha sido uma história de contínuas pressões por parte dos interesses da corporação em expandir os direitos da corporação e limitar suas obrigações. Nos EUA, as corporações daquele tempo de colônia eram constituídas pelo rei por meio da autorização e funcionavam como uma extensão do poder da coroa. Geralmente, tais corporações ganhavam a outorga de poderes de monopólio sobre territórios e indústrias que eram considerados críticos para os interesses do estado britânico. O parlamento inglês, que durante os séculos XVII e XVIII era composto por ricos proprietários de terra,


mercadores e fabricantes, aprovou muitas leis destinadas a proteger e estender esses interesses monopólicos. Essas práticas foram energicamente condenadas por Adam Smith em A riqueza das nações. Smith considerava as corporações e os governos instrumentos de supressão das forças competitivas do mercado e sua acusação era inflexível. Em sua clássica tese, ele menciona especificamente as corporações doze vezes e em nenhuma delas lhes atribui qualquer qualidade favorável. É típica sua observação: "É para impedir esta diminuição de preços, e conseqüentemente dos salários e do lucro, restringindo a livre competição que isto sem dúvida ocasionaria, que todas as corporações e a maior parte das leis das corporações foram estabelecidas." É digno de nota o fato de que a publicação de A riqueza das nações e a assinatura da Declaração da Independência dos Estados Unidos acontecessem ambas em 1776. Cada delas era, à sua maneira, um manifesto revolucionário desafiando a abusiva aliança do poder do Estado e das corporações para estabelecer controles monopólicos sobre os mercados e dessa forma captar lucros não-ganhos e inibir as empresas locais. Smith e os colonos americanos partilhavam uma profunda suspeita com relação ao poder de ambos, Estado e corporações. A Constituição dos Estados Unidos instituiu a separação dos poderes governamentais a fim de criar um sistema de controle e de equilíbrio que foi cuidadosamente articulado para limitar as oportunidades de abusos do poder estatal. As corporações não são mencionadas e isso sugere que aqueles que as estruturaram não previam ou não pretendiam que as corporações tivessem um papel decisivo nos negócios da nova nação. Na jovem república americana, fazia pouco sentido que as corporações fossem sempre inevitáveis e apropriadas. As fazendas e as empresas familiares eram o esteio da economia, dentro do ideal de Adam Smith, embora fossem também comuns as lojas na vizinhança, as cooperativas e as empresas cujos trabalhadores eram também os donos. Isso combinava com a crença prevalecente na importância de manter locais e democráticas as decisões de investimento e de produção. As corporações constituídas pela autorização


eram mantidas sob o controle atento dos cidadãos e do governo: a divulgação da autorizações ficava sob o poder de cada Estado e não do governo federal. A intenção era conservar aquele poder o mais próximo possível do controle dos cidadãos. Os legisladores do Estado conservavam o direito soberano de retirar a autorização de constituição de qualquer cooperação que, em seu julgamento,deixara de servir o interesse público além de prestarem cuidadosa atenção aos negócios da corporação. O século XIX surgiu como um período de luta legal, ativa e aberta entre as corporações e a sociedade civil com relação ao direito do povo de, por meio de seus governos estatais, revogar ou corrigir as autorizações de constituição das corporações. Em 1819, os cidadãos do New Hampshire consideraram a cassação pela Corte Suprema de uma decisão de revogação de uma autorização estadual como uma ataque contra a soberania do Estado. Insistiram que fosse feita uma distinção entre uma corporação e os direitos de propriedade de um indivíduo. Argumentaram que as corporações não surgiam espontaneamente, mas pelo desejo das legislaturas de Estado servirem a um bem público. Portanto as corporações eram organismos públicos, não privados, e os legisladores eleitos do Estado tinham desse modo, um direito absolutamente legal de emendar ou revogar à vontade suas autorizações de constituição. A Guerra Civil norte-americana (1861-65)marca um ponto de rotação para o direito das corporações. Com os enormes lucros que entravam dos contratos de aquisição militar, os participantes das indústrias aproveitaram-se da desordem e da corrupção política em ascensão para virtualmente comprar a legislação que lhes deu maciças concessões de terra e financeira para expandir o sistema ocidental de estradas de ferro. Quanto maiores eram seus lucros, mais firmemente a classe industrial emergente conseguia solidificar seu domínio sobre o governo para obter maiores benefícios. Gradualmente, as corporações adquiriram suficiente controle sobre organismos legislativos – chave para virtualmente reescreverem as leis que regiam a criação delas mesmas. Em pouco tempo tiveram o direito de operar de qualquer modo que não fosse explicitamente proibido por lei. Um


sistema judiciário conservador que era consistentemente sensível aos apelos e argumentos dos advogados das corporações anulou com firmeza as restrições que uma coletividade de cidadãos preocupados tinha colocado com esmero sobre o poder das corporações. Passo a passo, o sistema judiciário inseriu novos precedentes que tornavam a proteção das corporações e das propriedades corporativas uma peça central da lei constitucional. Juízes favoráveis aos interesses corporativos legislaram que os operários eram responsáveis pelos próprios danos no trabalho, limitaram a responsabilidade das corporações por danos que pusessem causar e declaram inconstitucionais as leis sobre salários e horas trabalhadas. Segundo a interpretação deles, o bem comum queria dizer máxima produção – independentemente do que era produzido e de quem era prejudicado. Em 1886, a Corte Suprema decretou que uma corporação privada, sob a Constituição dos Estados Unidos, é uma pessoa física – embora a Constituição não mencione as corporações – e conseqüentemente tem direito à proteção da Carta dos Direitos, inclusive o direito à liberdade de palavra e outras proteções constitucionais proporcionadas aos indivíduos. Desse modo as corporações finalmente exigiram os plenos direitos desfrutados individualmente pelos cidadãos mesmo estando isentos de muitas das responsabilidades e obrigações da cidadania. Além disso, tendo garantido o mesmo direito à liberdade de palavra como cidadãos individuais, elas alcançaram o domínio do pensamento e do raciocínio público. A subseqüente reivindicação das corporações aos mesmos direitos de qualquer indivíduo de influenciar o governo em seu próprio interesse lançou os cidadãos contra os vastos recursos financeiros e de comunicação das corporações e ridicularizou a intenção constitucional de que todos os cidadãos tivessem importância igual nos debates políticos acerca de importantes assuntos. As condições de caos e violência que caracterizaram o período de explosiva expansão industrial no livre mercado prepararam o terreno par consolidações e compromissos que transformaram os relacionamentos sociais e institucionais. As grandes empresas chegaram a considerar vantajoso trabalhar com grandes sindicatos moderados que negociavam


salários e padrões uniformes para todo o setor e obrigavam os trabalhadores à disciplina de acordo com as normas combinadas. Estes arranjos aumentaram a estabilidade e a previsibilidade dentro do sistema sem desafiar o poder dos industriais ou o sistema de mercado. Um sistema judiciário a favor das empresas e contra os interesses da classe operária ajudou o movimento da classe operária a tornar-se cada vez mais político, resultando no desenvolvimento de uma agenda legislativa da classe operária e uma aliança com o partido democrata. Novas leis remodelaram o contexto das relações sociais. A segunda guerra mundial conduziu o governo para um papel mais central: ele estabeleceu controles sobre o consumo, coordenou a produção industrial e decidiu como os recursos nacionais seriam alocados a fim de apoiar o esforço de guerra. Na década de 60 floresceu o pluralismo num período de rebelião cultural nos EUA. Uma nova geração desafiava os pressupostos básicos do estilo de vida e dos valores dominantes. O aspecto mais ameaçador era o abandono da cultura de consumo pelos jovens. As agressivas políticas dos países recém-industrializados do sul militavam contra um campo de jogo nivelado para as empresas norte-americanas. O reaganismo entrou com 3 preocupações estratégicas: re-subordinação do sul dentro de uma economia global dominada pelos EUA; resposta aos desafios aos interesses norteamericanos por partes dos países recém-industrializados e do Japão; derrubada do contrato social do New Deal entre grande capital, grande classe operária e grande governo que tanto Washington quanto Wall Street consideravam a restrição chave para o sucesso das corporações da América. A crise da dívida de 1982 forneceu a oportunidade de, via FMI e Banco Mundial, impor um ajuste estrutural para eliminar as barreiras protecionistas e integrar mais estreitamente as economias do sul às economias mundiais dominadas pelo Norte. O governo aliou-se às agressivas corporações norte-americanas que procuravam tornar-se mais competitivas globalmente quebrando o poder dos sindicatos, reduzindo os salários e os benefícios, enxugando as forças de trabalho das corporações e deslocando as operações de


manufatura para o exterior a fim de beneficiar-se de mão-de-obra barata e de regulamentos flexíveis. Nas entrelinhas do discurso político sobre livres mercados e comércio, há uma mensagem persistente: o avanço dos livres mercados é o avanço da democracia. No livre mercado, o povo expressa sua soberania diretamente pelo modo como "vota" com seu dinheiro de consumidor. O que ele quer comprar com seu próprio dinheiro é, em última análise, o melhor indicador do que ele aprecia e elege e, portanto, o mercado é a maneira mais eficiente e democrática de definir o interesse público. Esta mensagem mascara uma realidade política importante: numa democracia, cada pessoa tem um único voto. Num mercado, um dólar é um voto e você consegue tantos votos quantos dólares possui. Os mercados têm a tendência de favorecer pessoas ricas e têm forte inclinação a favor das corporações muito grandes que comandam recursos financeiros muito mais sólidos do que o mais rico dos indivíduos. À medida que os mercados se tornam mais livres e mais globais, o poder de governar passa, cada vez mais, do governo nacional para as corporações globais, e os interesses daquelas corporações divergem sempre para mais longe do interesse humano. Por trás de sua imagem de relações públicas, o corpo de uma empresa é sua autorização de constituição como corporação, um documento legal, e o dinheiro é seu sangue. Ela é, em seu âmago, uma entidade estranha com uma única meta: reproduzir dinheiro para se alimentar e expandir. Os indivíduos são dispensáveis. Ela deve uma única fidelidade: aos mercados financeiros que são criaturas financeiras mais do que a própria corporação. O prodígio da corporação como inovação social é sua capacidade de reunir milhares de pessoas dentro de uma só estrutura e obrigá-las a agir harmoniosamente de acordo com o propósito da corporação que não é necessariamente o delas. Os que se rebelam ou deixam de obedecer são expelidos e substituídos por outros mais dóceis. Durante muito tempo, a sociedade humana enfrentou a questão: o poder de governar é dos ricos ou dos pobres? Agora enfrentamos uma questão diferente e ainda mais sinistra que


deveria unir igualmente os ricos e os pobres numa causa comum: o poder de governar será das pessoas, independentemente das circunstâncias financeiras, ou da persona artificial da corporação? Capítulo 5: A investida dos Libertários das Corporações3 Na busca do crescimento econômico, a ideologia do livre mercado tem sido abraçada com o fervor de uma fé religiosa fundamentalista. O dinheiro é sua única medida de valor, e essa prática está promovendo políticas que agravam em toda parte a desintegração social e ambiental. Defende valores que degradam o espírito humano, assume um mundo imaginário distante da realidade e está reestruturando nossas instituições governamentais de formas a dificultar a solução de nossos problemas mais simples. Contudo questionar sua doutrina tornou-se quase uma heresia, atraindo riscos de censura profissional e prejuízos para a carreira na maioria de instituições empresariais, governamentais e acadêmicas. Nas palavras do sociólogo australiano Michel Pusey, ela reduziu a economia a "uma defesa ideológica contra a introspecção inteligente e a responsabilidade cívica". A SANTIFICAÇÃO DA GANÂNCIA: as crenças expostas pelos ideólogos do livre mercado podem ser assim expostas: O CRESCIMENTO ECONÔMICO sustentado pelo produto nacional bruto é o caminho para o progresso humano. O LIVRE MERCADO, sem restrições governamentais, geralmente resulta numa distribuição de recursos mais eficiente e socialmente mais favorável. A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA atingida com a remoção de barreiras ao livre fluxo de mercadorias e de dinheiro em qualquer parte do mundo, estimula a competição, aumenta a eficâcia econômica, cria empregos, diminui os preços ao consumidor, aumenta as opções ao consumidor, estimula o crescimento econômico e é geralmente benéfica para quase todos. A PRIVATIZAÇÃO, deslocando as funções e os ativos dos governos para o setor privado, melhora a eficiência.


A principal responsabilidade do governo é providenciar a infra-estrutura necessária para promover o comércio e impor as normas da lei com relação a DIREITOS E CONTRATOS SOBRE PROPRIEDADE. Tais crenças se baseiam em várias suposições explícitas que se embutiam nas teorias da economia neoclássica: Os seres humanos são motivados por interesses pessoais, expressos principalmente pela busca de ganhos financeiros. A ação que rende maior retorno financeiro para o indivíduo ou a empresa é mais benefíca para a sociedade. Para o indivíduo ou empresa, o comportamento competitivo é mais racional do que o comportamento cooperativo; conseqüentemente, as sociedades deveriam se basear no estímulo competitivo. 3 op.cit. pag.87ss A melhor medida do progresso humano são os aumentos dos valores do que os membros da sociedade consomem, e os níveis sempre maiores dos gastos do consumidor promovem o bem-estar da sociedade ao estimular uma produção econômica maior. Colocando em linguagem mais direta: AS PESSOAS SÃO POR NATUREZA MOTIVADAS PRINCIPALMENTE PELA GANÂNCIA. O IMPULSO DE ADQUIRIR É A MAIOR EXPRESSÃO DO QUE SIGNIFICA SER "HUMANO". A GANÂNCIA E A BUSCA IMPLACÁVEL DA AQUISIÇÃO CONDUZEM A RESULTADOS SOCIALMENTE MAIS FAVORÁVEIS. É DO MAIOR INTERESSE DAS SOCIEDADES HUMANAS ENCORAJAR, HONRAR E RECOMPENSAR OS VALORES ACIMA. Uma quantidade de idéias e insights eficazes foi distorcida dentro de uma ideologia extremista que eleva os aspectos mais abjetos da natureza humana a ideais autojustificáveis.


Embora essa ideologia denigra os valores e ideais humanos mais básicos, tem se incrustado tão profundamente em nossos valores, instituições e cultura popular que a aceitamos quase sem questionar. Ela nos cerca e desempenha um papel crítico na modelagem de quase todos os aspectos da política pública. Existe uma aliança política e ideológica entre: Os RACIONALISTAS ECONÔMICOS: penhoram sua fé às estruturas racionais da análise derivadas por dedução de princípios básicos. Tal comprometimento com o racionalismo fundamenta a alegação de que a economia é a única ciência social verdadeiramente objetiva e livre de valores. O princípio básico da estrutura lógica da economia neoclássica é o de que os indivíduos são motivados pelo egoísmo e, dando-lhes a máxima liberdade sem quaisquer restrições, as escolhas individuais baseadas na busca do próprio interesse conduzem a resultados socialmente mais satisfatórios. O racionalismo econômico dá legitimidade intelectual à ideologia do livre mercado. Os LIBERAIS DE MERCADO: trazem para aliança uma filosofia moral baseada nos direitos individuais que é muito atraente àqueles que nutrem uma desconfiança no alto escalão governamental. Começa com uma premissa de igualdade moral definida por direitos, não por valores. Os liberais de mercado acreditam que os indivíduos têm o direito, contanto que respeitem os mesmos direitos nos outros, de buscar quaisquer valores que desejem. Somente nós somos responsáveis por nós mesmos. Os direitos e a propriedade estão inseparavelmente ligados. A propriedade é o fundamento de todos os nossos direitos naturais. Exercendo tais direitos, respeitando os direitos de outros, podemos buscar a felicidade como quisermos. As únicas responsabilidades ligadas a esses direitos são: respeitar os mesmos direitos de outros, obedecer à lei e honrar os acordos contratuais. O liberalismo de mercado dá a ideologia dominante seu cunho de legitimidade moral. Os MEMBROS DA CLASSE CORPORATIVA: são gerentes de corporações, advogados, consultores etc. Embora não estejam necessariamente interessados nos detalhes de


teorias acadêmicas ou de filosofia moral, descobrem uma causa comum na tradição intelectual que legitima o objetivo de libertar as instituições do mercado das mãos restritivas do governo e na filosofia que absolve a corporação da responsabilidade moral pela maioria das conseqüências sociais e ambientais de suas ações. Esses três grupos formam uma poderosa aliança política que combina tradição intelectual e filosofia moral com interesse político. Porém, isto leva a contradições: Para os racionalistas econômicos, a aliança tem degradado gravemente a integridade e a utilidade social da economia, reduzindo-a a um sistema de doutrinação ideológica que transgride seus próprios fundamentos teóricos e está em profunda desigualdade com a realidade. Tem engajado filósofos da moral, que defendem a liberdade individual, numa causa que aumenta a possibilidade de as corporações votarem pelos direitos de propriedade e suprimirem as liberdades individuais de todos, menos dos membros mais ricos da sociedade. O enorme sucesso político da aliança em reestruturar as instituições econômicas alinhadas com os interesses das corporações está criando um monstro que nem os membros das classes corporativas podem controlar. Está criando um mundo que dificilmente irão querer deixar como herança para seus filhos. Em nome da liberdade individual, esta aliança promove uma doutrina ideológica descrita com maior precisão como LIBERTARISMO DAS CORPORAÇÕES devido ao fato de que sua conseqüência é colocar os direitos e as liberdades das corporações antes dos direitos e das liberdades dos indivíduos. APRESENTADA COMO UMA AGENDA ECONÔMICA, É NA REALIDADE UMA AGENDA DE GOVERNO. QUEM TERÁ O PODER DE GOVERNAR, E PARA QUAL FIM? A corporação econômica existe cada vez mais como uma entidade à parte – até das pessoas que a compõem. Cada membro da classe corporativa, não importa quão poderosa seja sua posição dentro da corporação, tem se tornado sacrificável – como está aprendendo um número crescente de grandes executivos. À medida que as corporações


conquistam poder institucional autônomo e mais se desvencilham de pessoas e lugares, mais divergem o interesse humano e o interesse corporativo. É quase como se sofrêssemos a invasão de seres alienígenas que tencionam colonizar nosso planeta, nos reduzir a servos e depois excluir tantos de nós quanto possível. A DENÚNCIA DE ADAM SMITH E DE DAVID RICARDO: A riqueza das nações, publicado pela primeira vez em 1776, apresenta uma condenação radical aos monopólios empresariais sustentados e protegidos pelo Estado. 1). O ideal de Adam Smith era um mercado composto unicamente por pequenos compradores e vendedores. Smith era rigorosamente contrário qualquer espécie de poder monopólico. Além do mais, Smith nunca advogou uma filosofia moral em defesa da ganância irrestrita. Falava de pequenos fazendeiros e artesãos tentando obter o melhor preço por seus produtos para o proveito de si mesmos e suas famílias. Isto é interesse pessoal – não ganância. Ganância é quando um executivo de uma corporação com alto salário demite dez mil empregados e depois recompensa a si mesmo com uma bonificação de muitos milhões de dólares como gratificação por ter poupado tanto dinheiro à companhia. Smith tinha aversão tanto pelos governos como pelas corporações. Considerava o governo principalmente um instrumento para extrair impostos a fim de subsidiar elites e interferir no mercado para proteger monopólios. A teoria da economia de mercado, em contraste com a ideologia do livre mercado, especifica várias condições básicas para um mercado estabelecer eficientemente os preços de acordo com o interesse público. Quanto maior a violação dessas condições, menos eficiente será o sistema de mercado. Mais básica é a condição de que o mercado deve ser competitivo. No mundo real dos mercados não regulamentados, os jogadores de sucesso engrandecem e, em muitos casos, usam o resultante poderio para pressionar ou comprar barato jogadores mais fracos. Em outros casos, os "competidores" conspiram por meio de cartéis ou alianças estratégicas a fim de aumentar os lucros estabelecendo preços de mercado acima do nível de eficiência.


2). Para a alocação eficiente do mercado, outra condição básica é que o total dos custos de produção recaia sobre o produtor e seja incluído no preço de venda do produtor. Os economistas chamam isto de internalização de custo. Quando alguma parcela do custo de produção de um produto recai sobre terceiros, que de nenhuma forma participam de transação ou dela se beneficiam, então os economistas dizem que os custos foram exteriorizados e o preço do produto é deturpado por esse motivo. OS BENEFÍCIOS DE UM CUSTO EXTERIORIZADO RETIDOS PELO VENDEDOR REPRESENTAM UM LUCRO NÃO MERECIDO – UMA IMPORTANTE FONTE DA INEFICIÊNCIA DO MERCADO POR RECOMPENSAR COMPORTAMENTOS DE EXTERIORIZAÇÃO DE CUSTOS. A transferência dos benefícios para o comprador na forma de preço menor cria ainda uma outra fonte de ineficiência, pois encoraja formas de consumo que usam ineficientemente recursos finitos. 3). Uma outra condição básica é que o capital deve ser enraizado local ou nacionalmente e seus donos devem estar diretamente envolvidos em sua administração. Smith deixou explícito sua convicção de que o capital deveria estar enraizado na localidade em que seu dono vive, e esta condição é essencial para permitir que a mão invisível do mercado transforme a busca do interesse pessoal em benefício público satisfatório. Portanto, em sua visão, um mercado eficiente seria um mercado composto por pequenas empresas gerenciadas pelo proprietário e localizadas nas comunidades onde os proprietários residissem. Tais proprietários partilhariam os valores da comunidade e teriam interesse pessoal pelo futuro dela. É um mercado que tem pouco em comum com a economia globalizada e dominada por corporações esmagadoras sem fidelidades locais ou nacionais, administradas por profissionais distantes dos verdadeiros proprietários, por advogados de instituições de investimento e companhias acionistas. A TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS articulada por DAVID RICARDO em 1817 oferece uma excelente demonstração de que, sob determinadas condições, o livre comércio entre dois países funciona em benefício de ambos. Três condições são necessárias:


1. NÃO DEVE SER PERMITIDO QUE O CAPITAL CRUZE AS FRONTEIRAS DE UM PAÍS DE ALTOS SALÁRIOS PARA UM PAÍS DE BAIXOS SALÁRIOS. 2. O COMÉRCIO ENTRE OS PAÍSES PARTICIPANTES DEVE SER EQUILIBRADO. 3. CADA UM DOS PAÍSES DEVER TER PLENO EMPREGO. Hoje, uma proporção crescente do comércio internacional é intra-industrial o que significa que os países estão intercambiando o mesmo produto tornando difícil argumentar que está envolvida a vantagem comparativa natural e tornando irrelevante a teoria de mercado na avaliação dos conseqüentes custos e benefícios. Quando o capital permanece dentro das fronteiras nacionais dos sócios comerciais, deve fluir para aquelas indústrias nas quais seu país de origem tem vantagem comparativa. Se as economias se fundem, o capital pode fluir para qualquer localidade que ofereça a máxima oportunidade para a exteriorização dos custos. A CONSEQÜÊNCIA BÁSICA É O DESLOCAMENTO DOS CUSTOS DOS INVESTIDORES PARA A COMUNIDADE. Adam Smith era ciente das questões do poder e das classes quanto da dinâmica dos mercados competitivos. Entretanto , os economistas neoclássicos e neomarxistas bifurcaram sua perspectiva holística sobre a política econômica, uns assumindo as partes da análise que favoreciam os donos de propriedade e outros assumindo as que favoreciam os vendedores de mão de obra. Ambos promoveram em escala maciça experimentos sociais que incorporavam uma visão parcial da sociedade, com conseqüências desastrosas. A integração econômoca global que está sendo implementada pela OMC está promovendo condições em total desacordo com os mais básicos princípios da economia de mercado e está fazendo funcionar um sistema econômico destinado à auto-destruição – com um custo enorme para a sociedade humana. Seria possível perguntar-se como os racionalistas econômicos podem defender a integração econômica se esta promove condições que não coincidem com as requeridas para o funcionamento eficiente do mercado. Uma parte importante da resposta está em sua lendária capacidade de desconsiderar a realidade.


Quando o mundo real diverge das condições necessárias para apoiar suas opções políticas preferidas, os racionalistas econômicos tendem a resolver o conflito imaginando condições que sustentariam suas recomendações. O modelo deles elimina a existência do ambiente. A CRENÇA NA POSSIBILIDADE DO CRESCIMENTO ILIMITADO É O VERDADEIRO FUNDAMENTO DA DOUTRINA IDEOLÓGICA DO LIBERTARISMO CORPORATIVO, PORQUE ACEITAR A REALIDADE DE LIMITES FÍSICOS É ACEITAR A NECESSIDADE DE LIMITAR A GANÂNCIA E A AQUISIÇÃO EM FAVOR DA JUSTIÇA ECONÔMICA E DA SUFICIÊNCIA. O crescimento teria de abrir caminho para a redistribuição dos recursos ambientais como o foco da política econômica. A JUSTIFICATIVA MORAL DA INJUSTIÇA: Os filósofos da moral do liberalismo de mercado perpetram distorções semelhantes ao negligenciar a distinção entre os direitos do dinheiro e o direito das pessoas. De fato, equipararam a liberdade e os direitos dos indivíduos à liberdade de mercado e os direitos à propriedade. A liberdade de mercado é a liberdade do dinheiro, e quando os direitos são uma função da propriedade e não dos indivíduos, somente os proprietários têm direitos. Além do mais, sustentando que a única obrigação dos indivíduos é honrar os contratos e os direitos de propriedade dos outros, a filosofia "moral" do liberalismo de mercado efetivamente liberta aqueles que têm propriedades de uma obrigação para com aqueles que nada têm. Ela ignora a realidade de que os contratos entre o fraco e o poderoso raras vezes são iguais e que a instituição do contrato, assim como a instituição da propriedade, tende a reforçar e até a aumentar a desigualdade em sociedades desiguais. Ela legitima e reforça sistemas que institucionalizam a pobreza, chegando a considerá-la conseqüência da indolência e do defeito de caráter inerente ao pobre. A premissa mais básica da democracia é que cada indivíduo tem direitos iguais perante a lei e voz igual nas questões políticas – uma pessoa, um voto. Podemos legitimamente considerar o mercado como árbitro democrático dos direitos e das preferências somente enquanto os direitos de propriedade forem igualmente distribuídos.


Capítulo 6: Declínio do Pluralismo Democrático4 Contrariamente às reivindicações ostensivas dos libertaristas corporativos, o Ocidente não prosperou no período pós-Segunda Guerra Mundial rejeitando o Estado para favorecer o mercado. Em vez disso, prosperou rejeitando as ideologias extremistas tanto de direita como de esquerda em favor do pluralismo democrático: um sistema de governo baseado num equilíbrio pragmático e institucional entre as forças do governo, do mercado e da sociedade civil. Em contraste, o sistema soviético adotou um extremismo ideológico tão fortemente estatal que o mercado e a propriedade privada foram virtualmente eliminadas. A mesma ideologia resultou na eliminação do papel da sociedade civil no governo, permitindo que o estado dominasse sem se responsabilizar. Agora, o Ocidente está se enveredando por um caminho ideológico extremista similar; a diferença é que estamos nos tornando dependentes de corporações isoladas e irresponsáveis e não de um Estado isolado e irresponsável. Ironicamente, quanto mais os libertaristas corporativos nos aproximam de seu ideal ideológico de capitalismo de livre mercado, maior o malogro dos regimes de mercado – pelo mesmo motivo pelo qual o regime marxista malogrou: Os dois levam à concentração do poder econômico em instituições irresponsáveis centralizadas – o Estado no caso do marxismo e empresa transnacional no caso do capitalismo. 4 op.cit. pag.107ss Ambos criam sistemas econômicos que destroem os sistemas que sustentam a vida na terra em nome do progresso econômico. Ambos produzem uma enfraquecedora dependência a megainstituições que corroem o capital social do qual depende a eficiência das funções de mercado, governo e progresso econômico. Ambos assumem quanto às necessidades humanas, uma restrita visão econômica que


solapa o sentido da conexão espiritual com a terra e a comunidade de vida essenciais para conservar a estrutura moral da sociedade. Um sistema econômico pode permanecer viável somente enquanto a sociedade possui mecanismos para coibir os abusos, seja do Estado, seja do mercado, e a erosão do capital natural e moral que tais abusos comumente exacerbam. O pluralismo democrático não é uma resposta perfeita para o problema do governo, mas parece ser a melhor que temos em nosso mundo imperfeito. MANTENDO OS MERCADOS COMPETITIVOS: O funcionamento eficiente das economias de mercado depende de governos fortes. Segue uma lista de condições das quais o mercado depende para seu eficiente funcionamento, mas que não pode proporcionar a si mesmo: seriam os critérios éticos de sustentabilidade do mercado. 1. Competição honesta: quanto maiores os vencedores, mais difícil para os recémchegados conquistarem uma posição segura, e cada vez mais o mercado se tornará monopólico. Os maiores jogadores têm a vantagem adicional de serem hábeis em usar seu poder financeiro para influenciar os legisladores a reescreverem as regras do jogo para lhes dar ainda mais vantagens. 2. Capital moral: um mercado no qual os particpantes são impelidos unicamente pela ganância e pelo desejo de obter por qualquer meio uma vantagem competitiva momentânea – um mercado sem confiança, cooperação, compaixão e integridade individual – seria não apenas um desagradável para se fazer negócios, mas também altamente ineficiente, exigindo custos descomedidos com advogados, seguranças e outras medidas defensivas. Nem uma sociedade, nem uma economia de mercado podem funcionar eficientemente sem uma base moral. 3. Bens públicos: muitos investimentos e serviços essenciais para o bem público (investimentos em pesquisas científicas básicas, segurança e justiça públicas, educação pública, estradas e defesa nacional) não são supridos pelo mercado porque, uma vez


produzidos, estão disponíveis para o uso de todos. 4. Formação do preço de pleno custo: o mercado distribui satisfatoriamente os recursos apenas quando vendedores e compradores arcam com o custo total dos produtos por eles produzidos, comprados e consumidos. Raramente, se isso acontece, os custos totais serão internalizados num mercado irregular, porque a pressão competitiva exige a exteriorização dos custos sempre que possível. Um produtor que tenha êxito em exteriorizar os custos sociais e ambientais terá lucros mais altos, atrairá mais investidores, poderá oferecer um preço menor e obter uma parcela maior de mercado. Enquanto seu poder econômico aumenta, também aumenta sua influência política, que comunemente se traduz em novos subsídios. É maravilhoso quando uma companhia descobre que existem inerentes vantagens econômicas em reduzir seu desperdício e pagar um salário honesto aos trabalhadores, mas a experiência mostra que não há nada inerente nas atividades do mercado para garantir tal comportamento sem a intervenção ativa do governo. 5. Distribuição justa: num sistema de mercado, existe uma forta tendência especialmente durante os períodos de expansão econômica, de os proprietários de capitais aumentarem sua riqueza e seus rendimentos, enquanto os rendimentos daqueles que vendem mão-de-obra se atrasam ou declinam. Mas um mercado onde o poder econômico é distribuído injustamente alocará os recursos de forma injusta e socialmente ineficiente. A eficiência do mercado e a legitimidade institucional dependem da intervenção do governo a fim de restaurar constantemente a eqüidade que as forças do mercado corroem de forma inexorável. 6. Sustentabilidade ecológica: à medida que a economia humana cresce para preencher seu espaço ecológico, torna-se necessária para a sobrevivência da espécie a limitação da escala do subsistema econômico para conservar um perfeito equilíbrio com a natureza. Infelizmente, o livre mercado está cego a muitas dessas restrições. O governo deve estabelecer os limites e garantir que os avisos adequados sejam enviados ao


mercado. O mercado produz resultados socialmente satisfatórios somente quando o governo e a sociedade civil estão autorizados a agir para manter essas seis condições para sua eficiência. Não deveriamos nos preocupar quando a intervenção do governo em defesa do interesse público encarece o consumo de artigos não essenciais, diminui os excessivos lucros das corporações e dá menor liberdade às corporações do que às pessoas. O pluralismo democrático reúne as forças do mercado, governo e sociedade civil para manter um equilíbrio dinâmico entre as necessidades societárias competitivas, pela ordem e eqüidade essenciais, produção eficiente de mercadorias e serviços, responsabilidade do poder, proteção da liberdade humana e contínua inovação institucional. ESSE EQUILÍBRIO ENCONTRA EXPRESSÃO NO MERCADO REGULAMENTADO, NÃO NO MERCADO LIVRE, E NAS POLÍTICAS DE COMÉRCIO QUE LIGAM AS ECONOMIAS NACIONAIS ENTRE SI DENTRO DE UMA ESTRUTURA DE REGRAS QUE MANTÊM A COMPETIÇÃO INTERNA E FAVORECEM AS EMPRESAS NACIONAIS QUE EMPREGAM TRABALHADORES LOCAIS, SATISFAZEM OS PADRÕES LOCAIS, PAGAM OS IMPOSTOS LOCAIS E FUNCIONAM DE ACORDO COM O SISTEMA DE GOVERNO DEMOCRÁTICO. A ORDEM DE PRECEDÊNCIA ENTRE OS TRÊS SETORES PRIMÁRIOS É FUNDAMENTAL PARA UM FUNCIONAMENTO SAUDÁVEL E EQUILIBRADO DA SOCIEDADE. UM SETOR CIVIL SEM GOVERNO E SEM MERCADO ORGANIZADO É ANÁRQUICO. É PARA ISSO QUE AS SOCIEDADES CIVIS CRIAM OS GOVERNOS E OS MERCADOS ORGANIZADOS. CONTUDO, A SOCIEDADE CIVIL É O PRIMEIRO SETOR. DELA FLUEM A AUTORIDADE E A LEGITIMIDADE DE TODAS AS OUTRAS INSTITUIÇÕES HUMANAS. SENDO O GOVERNO O ORGANISMO PELO QUAL OS CIDADÃOS ESTABELECEM E MANTÊM AS REGRAS DENTRO DAS QUAIS O


MERCADO FUNCIONARÁ DE ACORDO COM O INTERESSE HUMANO, O GOVERNO É APROPRIADAMENTE CONSIDERADO O SEGUNDO SETOR. AS INSTITUIÇÕES DO MERCADO FUNCIONAM, JUSTAMENTE, COMO TERCEIRO SETOR. É durante os períodos de mudança que as sociedades mais necessitam do potencial inteiramente criativo dos seus cidadãos, que somente o pluralismo democrático pode despertar. Contudo, parece menos adequado e mais suscetível a certos apelos simplistas dos demagogos ideológicos. Em vez de oferecer orientação, o pluralismo democrático convoca as pessoas a encontrarem seu próprio caminho, tendo em vista o bem de todos. Em lugar de certeza, alimenta a variedade a ponto de aparentar o caos. Essas são suas fraquezas, mas também sua genialidade. Gradativamente, por um processo de aprendizado social difuso e caótico, as lições das inúmeras inovações são destiladas dentro das mudanças em instituições e políticas locais, nacionais e finalmente globais. Capítulo 16: Canibalismo das corporações5 5 op.cit. pag.238ss Nem sempre é fácil encontrar meios para criar novos valores numa moderna economia sofisticada. Encontrar meios para criar um novo valor que produza retornos na quantia e com a velocidade exigidas por um sistema predatório muitas vezes maior que a economia produtiva é virtualmente impossível. Quando os gerentes responsáveis não estão dispostos a canibalizar sua própria companhia, o sistema financeiro espera ansiosamente para financiar aqueles que irão liquidá-los. Em conseqüência disso, um sistema financeiro predatório associa-se a um mercado predatório para declarar ineficientes os gerentes responsáveis e expelí-los do sistema. Ele transforma a corporação responsável em espécie em extinção. DEPURAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL: Com os mercados financeiros exigindo máximos ganhos a curto prazo e os atacantes das corporações com disposição para sucatear qualquer companhia que não esteja


exteriorizando todos os custos possíveis, os esforços para consertar o problema levantando a consciência dos gerentes definem erradamente o problema. Existem milhões de gerentes socialmente cônscios. O problema é um sistema predatório que lhes dificulta a sobrevivência. Isso cria um dilema terrível para gerentes com uma verdadeira visão social da função das corporações dentro da sociedade. Eles devem acomodar sua visão ou correr o grande risco de serem expulsos do sistema. Os gerentes empresariais vivem e trabalham dentro de um sistema que virtualmente alimenta-se dos socialmente responsáveis. Aquele sistema está transformando-se numa estrutura em duas camadas, criando um mundo profundamente dividido entre os privilegiados e os desvalidos, entre os que têm o poder de colocar-se além das forças predominantes do mercado e aqueles que se oferecem como sacrifício no altar da competição global. Capítulo 17: Competição Gerenciada6 Embora com algumas variações regionais, as corporações transnacionais estão empenhadas num processo de transformar-se a si mesmas e às estruturas do capitalismo global a fim de consolidar ainda mais seu poder usando complexas formações reticulares de organização. Quatro elementos dessa transformação têm uma importância especial para nossa análise: 1. Downsizing. O esquema maior é podar as operações internas da empresa até chegar às "competências centrais" – geralmente as funções de finanças, marketing e tecnologias patenteadas que representam as principais fontes de poder econômico da empresa. As equipes destas funções são reduzidas ao mínimo e consolidadas dentro dos escritórios centrais da corporação. As funções periféricas, incluindo grande parte da atividade de fabricação, são terceirizadas para empresas relativamente pequenas – sempre que possível em países de baixos salários. Este processo envolve o deslocamento de empgregos do núcleo da corporação para as organizações de terceirização que formam parte de uma rede de firmas de produção que dependem dos mercados e da tecnologia


controlada pelo núcleo da corporação. 2. Informática e automação. A corporação central leva a plena capacidade da informática e da automação a executar quaisquer funções de fabricação que possa e os sistemas de gestão informatizados com os quais ela coordena flexivelmente as extensas atividades da rede de produção. 6 op.cit. pag.248ss 3. Fusões, aquisições e alianças estratégicas. As corporações que ocupam o núcleo das principais redes dedicam-se a uma variedade de estratégias para gerenciar a competição potencialmente destruidora entre si. 4. Corporação e moral dos escritórios centrais. É dada uma atenção substancial à manutenção de condições que conduzam ao alto moral e ao eficiente trabalho em equipe entre o pessoal do núcleo. Esta reestruturação cria um sistema de empregos em duas camadas ou dualístico. Os empregados engajados em funções no núcleo dos escritórios centrais são bem remunerados, com plenos benefícios e agradáveis condições de trabalho. As funções periféricas – terceirizadas ou em unidades subordinadas dentro da corporação ou em fornecedores externos dependentes dos negócios da empresa – são realizadas por empregados "contingentes" com baixa remuneração, freqüentemente temporários ou de meio período que recebem pouco ou nenhum benefício e com os quais a corporação não tem qualquer vínculo. As duas camadas diferem significativamente com relação à pressão competitiva. Há considerável, embora não fácil, cooperação entre as corporações que controlam os núcleos das principais redes para conservar seu controle monopólico coletivo sobre os mercados e a tecnologia. As unidades periféricas, mesmo aquelas que permanecem dentro da empresa, funcionam como pequenos contratadores independentes lançados em intensas competições entre si para a continuação pessoal nos negócios da empresa. É o enxugamento estratégico das grandes empresas que é responsável por diminuir o


tamanho médio das organizações empresariais na época atual, não algum crescimento espetacular do setor das pequenas empresas por si só. O processo de terceirização cria novas oportunidades para as empresas menores, mas o poder permanece onde sempre esteve: com as grandes corporações. Na falta de acesso independente ao mercado, as empresas menores que orbitam o núcleo das corporações funcionam mais como apêndices dependentes que como empresas independentes. O CRESCIMENTO DAS ECONOMIAS GERENCIADAS CENTRALMENTE: A concentração do poder econômico em relativamente poucas corporações levanta uma interessante contradiçã. Os libertários das corporações alegam regularmente que o planejamento central da economia não funciona e é contrário aos interesses mais amplos do público. Contudo, corporações de sucesso conservam um controle mais rígido sobre as economias definidas por suas redes de produtos do que os planejadores centrais de Moscou jamais fizeram sobre a economia soviética. Está longe de ser uma consideração acidental o pensamento de que em sua estrutura de governo interno, a corporação está entre as organizações mais autoritárias e pode ser tão repressiva quanto qualquer estado totalitário. As pessoas que trabalham para as corporações gastam a melhor parte de suas horas acordadas vivendo sob regras autoritárias que ditam suas roupas, suas falas, seus valores, seu comportamento e seus níveis de renda – com escassas oportunidades para argumentar. Com poucas exceções, seus submissos empregados podem ser despedidos sem recurso e sem aviso prévio. A transformação em curso em uma corporação "enxuta e média" está a fim de estender sua regra autoritária para além dos limites da própria organização sobre as redes maiores da organização de forma a permitir ao núcleo consolidar seus controles reduzindo ao mesmo tempo sua responsabilidade para com o bem-estar de qualquer membro da rede. Ao equacionar o sistema de mercado com liberdade, raras vezes pergunta-se se a liberdade é conivente com a mão-de-obra contratada num mundo em que corporações gigantescas controlam a maior parte dos empregos. Muitos reformadores sociais aceitam


um sistema de salários dominado pela corporação e preferem buscar as políticas sociais que oferecem segurança do emprego, condições de trabalho toleráveis, salários eqüitativos e o direito de organizar sindicatos trabalhistas dentro do contexto daquele sistema. Se encarássemos seriamente a liberdade humana e a democracia, teríamos de reabrir a questão se tais ajustes são adequados ou até possíveis dentro do sistema existente das empresas. Capítulo 18: Corrida para o fundo7 A competição enquanto está sendo enfraquecida no núcleo, está intensificando entre as empresas menores, os trabalhadores e as localidades periféricas que são lançados uns contra os outros na arena de uma luta desesperada pela sobrevivência. Os que os libertários das corporações chamam "tornar-se globalmente competitivos" é descrito com maior precisão como uma "corrida para o fundo". A cada dia que passa, fica mais difícil obter contratos com um dos megavarejistas sem contratar mão-de-obra infantil, ludibriar trabalhadores no pagamento das horas extras, impor cotas impiedosas e operar em instalações inseguras. Se um contratante não fizer isso, seus preços serão mais altos que de outros que o fazem. Não devemos nos enganar. A responsabilidade social é ineficiente num livre mercado global, e o mercado não tolerará mais aqueles que não aproveitarem a oportunidade de dispensar os ineficientes. E temos de ser claros quanto ao significado da eficiência. Para a economia global, as pessoas não são apenas cada vez mais desnecessárias, mas elas e suas exigências de salários de subsistência são a principal fonte da ineficiência econômica. As corporações globais estão agindo para purgar-se deste peso indesejável. Estamos criando um sistema que tem menos lugar para as pessoas. Capítulo 19: O Fim da Ineficiência8 A segunda revolução industrial está explorando os principais avanços na tecnologia da informação, que usa os computadores e os sensores eletrônicos para dar às máquinas olhos, ouvidos e cérebro para ver e ouvir, interpretar e agir. Estas tecnologias ainda estão


em sua primeira infância, e não sabemos até onde podem chegar. A segunda revolução industrial se baseia num processo de colonização definido mais por classes do que pela geografia e está forçando uma parte ainda maior da população mundial ingressar no rol dos colonizados. A eficiência está em produzir melhores resultados com menores esforços. Quando aumentamos o resultado da produção por hora de trabalho, falamos em aumento da produtividade. Um fazendeiro que compra um pequeno trator pode cultivar mais acres para prover mais alimentos e rendimentos para sua família ou dedicar menos horas ao trabalho nos campos. Nos dois casos o fazendeiro ganha, ninguém perde, e a sociedade é enriquecida de várias formas. O gerente, o proprietário e o operário são a mesma pessoa – ele toma a decisão, paga o custo e decide se o ganho em produtividade irá para o aumento da produção ou para a diminuição do tempo de trabalho. No mundo real, a decisão provavelmente é tomada por uma corporação agroindustrial unicamente voltada para o lucro. Uns poucos trabalhadores favorecidos serão necessários para aumentar sua produção; os restantes perderão seu emprego, com poucas perspectivas. 7 op.cit. pag.265ss 8 op.cit. pag.276ss Parece que somente certos beneficiários do aumento da produtividade, num mundo não sindicalizado e com excedente de mão-de-obra são os proprietários do capital. Porém, como sugere William Dugger, podemos estar prestes a deslocá-los também: uma corporação poderia dispensar totalmente o elemento humano, não apenas os proprietários, mas também os funcionários e administradores? O que ela seria então? Existiria fisicamente como uma rede de máquinas que compram, processam e vendem mercadorias, monitoradas por uma rede de computadores. Seus objetivos seriam crescer sempre mais pela aquisição de mais máquinas e tornar-se ainda mais poderosa adquirindo mais computadores para monitorar as novas máquinas. Não teria responsabilidades perante ninguém a não ser a si mesma em seu impulso mecânico rumo ao poder e ao


lucro. Representaria o capitalismo em sua verdadeira pureza, completamente indiferente a qualquer coisa além do lucro e do poder. Talvez um dia, se lhe for permitida bastante liberdade para seguir suas tendências desenfreadas, uma corporação global alcançará o máximo de sua eficiência produtiva, uma entidade composta somente por computadores e máquinas ativamente empenhadas na multiplicação do dinheiro. Poderíamos chamá-la então de corporação perfeitamente eficiente. Embora certamente não seja isso o que qualquer um pretende, estamos agindo como se este fosse o mundo que estamos procurando criar. DOR NA CÚPULA: Muitos gerentes enfrentam conflitos crescentes entre seus valores pessoais e aquilo que suas funções na corporação lhes exigem. É uma afirmação extraordinária a de que os profissionais mais privilegiados e mais bem pagos do mundo necessitem de bônus de milhões de dólares para sentirem-se motivados a fazer seu trabalho. Na realidade devem recebe tais somas ultrajantes para se ter certeza de que colocarão os interesses de curto prazo dos acionistas acima de todos os outros interesses que eles poderiam sentir-se tentados a levar em conta – como os dos funcionários, da comunidade e até da viabilidade da própria corporação a longo prazo. "Os gerentes que haviam sido treinados para construir agora são pagos para destruir. Eles não contratam; eles demitem. Não gostam de suas novas funções, mas a maioria chegou a compreender que isso não vai mudar. Essa conscientização torna diferente a rotina: o trabalho não mais revigora; ele esgota. Nessas circunstâncias parece até imoral considerar o trabalho prazeroso. Assim eles se tornam mal humorados e cautelosos, temendo ser varridos para longe na próxima onda de demissões. Entretanto, eles trabalham mais arduamente e por mais tempo para compensar a labuta daqueles que partiram. A fadiga e o ressentimento começam a acumular-se.”9 Ao contrário dos especuladores financeiros que transferem bilhões de dólares por todo o mundo usando terminais de computadores alheios à realidade humana, os gerentes de


companhias que produzem coisas reais lidam diariamente com seres humanos. Cabe a eles responder à exigência de maior "eficiência" dos que gerenciam o dinheiro impondo a seus antigos amigos e colegas uma experiência quase tão devastadora quanto a perda de um ente querido. O jovem profissional é insistentemente aconselhado a planejar o curso da carreira sem vínculos com sua empresa, a elaborar seu currículo e seus contatos externos de forma a estar pronto a mudar-se quando surgir uma nova oportunidade ou quando a empresa o abandonar. Conselho para os jovens em início de carreira: trate cada emprego como se você fosse autônomo. No presente mercado de empregos, a distinção entre trabalhadores de escritório e operários significa menos que ter emprego e não ter emprego. O sistema nos estimula a 9 "Os chefes exaustos", em Fortune 24 julho 1994, citado por Korten tentar obter dele o que pudemos enquanto for possível. Cuide-se, porque ninguém mais o fará. Assim como a última década foi definida como dos Yuppies, esta será dos Dumpies. Numa economia que mede o desempenho em termos de criação de dinheiro, as pessoas tornam-se a principal fonte de ineficiência – e a economia está livrando-se delas mais que depressa. Quando as instituições monetárias governam o mundo, talvez seja inevitável que os interesses do dinheiro tenham prioridade sobre os interesses das pessoas. O que estamos experimentando poderia ser descrito satisfatoriamente como um caso do dinheiro colonizando a vida. Aceitar esta distorção absurda das instituições e dos objetivos humanos deveria ser considerado nada menos do que uma ato coletivo e suicida de insanidade. Entretanto, não é um fenômeno inteiramente novo. Poderíamos entender melhor sua natureza e suas conseqüências considerando experiências mais tradicionais de colonização. Capítulo 21: A Revolução Ecológica10 Continuamos colocando em perigo a civilização humana e até a sobrevivência de nossa espécie principalmente para permitir a aproximadamente um milhão de pessoas acumular


dinheiro além de qualquer necessidade concebível. Continuamos indo corajosamente para onde ninguém quer ir. Em nome da modernidade estamos criando sociedades disfuncionais que estão gerando comportamentos patológicos – violência, competitividade extrema, suicídio, abuso de drogas, ganância e degradação ambiental – a todo momento. Tal comportamento é uma conseqüência inevitável quando a sociedade deixa de satisfazer as necessidades de seus membros de vínculos sociais, confiança, afeto e de um significado religiosamente compartilhado. A tríplice crise do agravamento da pobreza, da destruição ambiental e da desintegração social é uma manifestação dessa disfunção. Para corrigir esta profunda distinção, devemos perder as ilusões de nosso inconsciente cultural coletivo, reinvindicar o poder que entregamos às instituições fracassadas, trazer de volta a responsabilidade por nossas vidas e elaborar novamente o tecido básico do cuidado com as famílias e as comunidades a fim de criar espaço para pessoas e outras formas de vida. Está dentro de nossas possibilidades, mas exigirá a transformação dos sistemas de crenças, de valores dominantes e das instituições de nossas sociedades – uma revolução ecológica comparável à revolução de Copérnico, que nos introduziu na era científico industrial11. O monism material (a crença de que a matéria dá origem à consciência ou ao espírito) tornou-se a imagem da realidade abraçada pela ciência e desencadeou o que os historiadores chamam de revolução de Copérnico. Thomas Hobbes levou ao extremo o monismo materialista. Ele afirmava que não existe absolutamente nada além da matéria. Na sua opinião, bom é simplesmente o que dá prazer, mau é o que causa dor, e o único objetivo que dá sentido à vida é a busca do prazer – um sistema de valores que se tornou a premissa moral implícita do racionalismo econômico. Adotando a satisfação como nosso objetivo, um apelo para limitarmos a indulgência a favor de uma justiça econômica torna-se um chamado a sacrificarmos a única coisa que dá sentido à vida. Assim sendo, é mais racional quem têm os meios financeiros continuar


aproveitando a festa até o fim. Se nós sacrificarmos esses prazeres e os ambientalistas afinal estiverem errados, nós teremos sacrificado nossa razão de vida sem nemhum 10 op.cit. pag.299ss 11 op.cit. pag.300 objetivo. Se for demonstrado que os ambientalistas estão certos e a festa terminar com nossa autodestruição, então teremos aproveitado a vida enquanto podíamos. O monismo materialista preparou também o caminho para uma economia que, no intuito de alcançar seu status de verdadeira ciência, adotou os preços de mercado, que podem ser observados e medidos, como os únicos árbitros do valor humano. É portanto impossível compreender ou explicar os comportamentos humanos mais simples e habituais sem considerar os valores, as lealdades, as aspirações, o amor, os conflitos psicológicos, a espiritualidade, a consciência e até as crenças metafísicas que os instruem – e que são realmente muito difíceis de ser observadas e medidas. Portanto, o modo que a ciência se define, o termo ciência social é uma contradição. O cientista social deve redefinir os conceitos de ciência ou redefinir o ser humano de acordo com tais conceitos. Os economistas escolheram o segundo caminho, imaginando o homem econômico mecanicista hipotético que só procura seu próprio prazer – que depois foi definido em termos puramente financeiros. Sempre que um modelo exige um ser humano que toma decisões – independentemente do gênero – o economista substitui o homem econômico imaginário, decididamente não humano, que avalia cada escolha com base em seu retorno econômico. Tendo eliminado o humano, o economista elimina então o comportamento. Considerando as interações entre as pessoas extremamente complexas e difíceis de serem medidas, o economista prefere observar o comportamento dos mercados em vez do comportamento das pessoas. O comportamento dos mercados envolve preços e fluxos de dinheiro, que são facilmente observados e medidos. Os economistas sabem o preço de tudo e o valor de nada12. Definindo-nos em termos de dinheiro, caímos numa armadilha descendente de progressiva alienação da existência, da nossa própria natureza espiritual.


12 op.cit. pag.302 e 303


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