Maio 2008
maio 2008
Presidentes sob pressão O especialista francês lembra que “há vida também fora das grandes corporações” para quem não suporta viver sob pressão página: 1 de 1
Ser presidente de empresa é hoje uma profissão de alto risco. E não adianta ter MBA em Harvard, falar seis idiomas ou acumular uma boa rede de contatos: a qualquer erro que cause descontentamento nos acionistas, falha no alcance das metas de vendas e má reação às pressões crescentes e constantes por bons resultados financeiros de curto prazo, ele pode ser mandado para o RH para acertar as contas. A boa notícia é que pode haver vida profissional de sucesso longe das grandes e globalizadas corporações. A análise é do francês Jean Bartoli, de 58 anos, ex-padre dominicano e atual professor de Ética, Liderança e Comportamento Organizacional do MBA do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) São Paulo e professor do MBA de Comunicação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ser presidente hoje é mais difícil que no passado? O presidente transformou-se numa pessoa muito exposta. Ele tem de prestar contas aos acionistas, aos clientes, à sociedade e aos funcionários. Por causa das constantes pressões dos fundos de investimentos, o presidente também tem sido muito cobrado para apresentar resultados. Quanto mais ligações uma empresa tiver com esses fundos, mais ela será cobrada por resultados rápidos. Isso talvez seja uma pressão diferente do tempo em que o presidente respondia a uma empresa familiar. Se ele não conseguir dar resultado no prazo de dois, três anos, será demitido.
O senhor não acha injusto exigir excelentes resultados de curto prazo, já que presidentes são homens e não super-homens, tampouco Deus? Acho que esse é o problema do jogo empresarial atual. Todo mundo está sendo pressionado além da conta. Por isso, a doença mais forte das organizações é a depressão. Ela é tão crescente que ultrapassou os casos de doenças cardíacas e digestivas, como a úlcera. Aonde isso irá parar? A situação atual tem uma razão econômica e financeira por trás. Não se trata apenas de uma questão de pura e simples pressão. As cobranças e exigências ao presidente são refletidas para todos os escalões da empresa. Hoje, o presidente acaba sendo tão descartável quanto o operário do chão de fábrica. Quando existia uma ação de longo prazo entre acionistas e presidentes, o escalão executivo era muito mais preservado do que é hoje. Atualmente, o alto escalão é tão proletário quanto o operário da linha de montagem. É por isso que ele, muitas vezes, repercute uma pressão sentida na pele. E qual a saída para esse presidente: fazer ioga, ler livros ou abandonar o emprego? Tem gente que gosta de viver sob pressão e já interiorizou o fato de ocupar um assento ejetável. Porém, há executivos que trabalharam em grandes multinacionais e preferiram se mudar para empresas nacionais familiares. Acho que nesse tipo de empresa há um grande campo para ser trabalhado, tanto pelos grandes executivos quanto por alunos recémformados. Buscar uma multinacional nem sempre é a melhor escolha. Uma empresa familiar de médio porte, com vontade de mudar de patamar, pode trazer oportunidades interessantes. Nós nos preocupamos muito com as grandes empresas, quando o tecido econômico do país é formado por médias e pequenas empresas muito interessantes, competentes e, muitas vezes, com necessidade de ter bons administradores advindos das grandes empresas. O que o senhor pensa dessa busca incessante por palestras, livros e recomendações de gurus? Acho que o presidente de uma empresa já passou do estágio de ouvir o último guru da moda. Ao ocupar uma posição como essa, ele precisa ter uma visão estratégica de negócios e, principalmente, uma ampla visão de mundo. Caso contrário, a empresa fica autista, achando que o mundo gira em torno do seu umbigo. Alguém que toma decisões estratégicas, políticas e sociais precisa ter uma visão de mundo. O mundo não se forma só com conhecimentos de gestão, mas também de história, economia, sociologia e literatura. Para entender mais do ser humano, acho que uma tragédia de William Shakespeare vale por cinco livros do Peter Drucker – o maior guru de administração do século 20.