CENTRO_SP
JEFERSON CHICARELLI
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
2
CENTRO_SP
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MODALIDADE: trabalho final de graduaçÃo (tfg) TÍTULO: CENTRO DE FABRICAÇÃO DIGITAL COMUNITÁRIO (centro_sp) NO CENTRO DA CIDADE DE SÃO PAULO: as redes de colaboração e a investigação programática no processo de projeto fase: caderno final de tfg graduando: jeferson chicarelli nºusp: 6818041 orientadora: profa. dra. tatiana sakurai CO-Orientadora: profa. dra. Marta Vieira Bogéa orientadora METODOLÓGICA: profa. dra. Karina Oliveira Leitão data: jULHO de 2015 3
RESUMO
Nos últimos anos, a comunicação em rede tem ganhado força com a
Internet, potencializando o engajamento social por meio das redes e a possibilidade do fortalecimento de grupos em escala local, trazendo novas formas de apropriação urbana e um novo tipo de vínculo das comunidades com seu próprio lugar. É no contexto das redes digitais que as comunidades Makers estão se tornando populares, e suas atividades incluem o Do-It-Yourself, o hacking e o tinkering, como experimentação e apropriação de Hardware para produzir versões alternativos de dispositivos comerciais ou objetos personalizados. Essas comunidades também trazem à tona os novos conceitos de trabalho, como commons–based peer production. Com ele, há a introdução de modos de produção baseados na colaboração e na contribuição de muitos agentes, a exemplo de projetos como o Linux e a Wikipedia, totalmente opostos ao sistema de produção em massa vindo de uma fonte centralizada. Assim, com base nos novos métodos de trabalho e no contexto das redes digitais, desenvolveu-se o Programa de Atividades e o Projeto Arquitetônico do Centro de Fabricação Digital Comunitário, que tem por essência a convergência de três fatores: ser um lugar de atração e encontro das comunidades existentes; possibilitar a formação de comunidades Makers a partir de comunidades preexistentes ou não, configurando assim novas comunidades; potencializar novas formas de trabalho e transmissão horizontal de conhecimento.
PALAVRAS-CHAVE commons_licensing;
#projeto_de_edificação; #rede_fab_lab; #creative_
#fabricação_digital;
#comunidade;
#design_paramétrico; #arquitetura_opensource.
4
#design_colaborativo;
ABSTRACT
In recent years, the communication by network has gained
strength with the Internet, increasing social engagement through networks and the possibility of strengthening groups in a local level, bringing new forms of urban appropriation and new types of bonds between the communities and their own place. It is in the context of digital networks that Maker communities are becoming popular, and their activities include Do-It-Yourself, hacking and tinkering, as ways of experimentation and Hardware appropriation to produce alternative versions of commercial devices or personalized objects. These communities also bring up new concepts of work, such as the “commons-based peer production�. With it, there is the introduction of modes of production based on collaboration and contribution of many agents, such as in projects like Linux and Wikipedia, totally opposed to mass production system from a centralized source. Thus, based on new working methods and in the context of digital networks, the Program of Activities and the Architectural Design of the Community Digital Fabrication Center were developed, and this Center is essentially the convergence of three intentions: being a place of attraction and meeting for the existing communities; allowing the formation of Maker communities from existing communities or not, and by this way setting new communities; enhancing new ways of working and horizontal transmission of knowledge.
KEY-WORDS
#building_design; #fab_lab_network; #creative_commons_li-
censing; #digital_fabrication; #community; #collaborative_design; #parametric_design; #opensource_architecture.
5
APRESENTAÇÃO
Este trabalho não objetiva a proposição de um
novo processo para o pensamento e projeto em arquitetura. É fruto de um exercício projetual. É produto de uma collage de diversas experiências vivenciadas pelo autor, teorias, referências e análises, encontradas nas mais diversas fontes, desde livros, revistas, trabalhos acadêmicos, artigos, visitas em campo, eventos, exposições, entrevistas, que foram dando forma e delineando a proposta final. Em resumo, é um conjunto de referências as quais estão abertamente expostas e que foram de grande importância para o desenvolvimento deste trabalho e certamente de outros que virão. Este é o meio para compartilhá-las.
caderno
Entende-se o Caderno Final do TFG II, como documento que
registra não apenas o produto final, mas o processo de desenvolvimento, as inquietações, dúvidas, aprendizado e escolhas projetuais. Em um exercício também de experimentação, sua diagramação foi baseada em alguns conceitos abordados neste trabalho. O corpo padrão do texto foi dividido em duas partes, sendo elas o Texto Principal e o Texto Adicional (ou melhor, o Hipertexto, pensado como uma 2ª camada de informação paralela e complementar ao Texto Principal). As fontes tipográficas escolhidas - Armata e Visitor TT1 (BRK) - fazem clara alusão visual aos pixels (unidade de representação gráfica das telas digitais) e aos primeiros meios digitais de representação, como os mostradores dos relógios digitais. E são disponibilizadas gratuitamente na Internet sob licenças abertas. A primeira, foi criada por Viktoriya Grabowska, sob a licença pela SIL Open Font Licence, 1.1 (OFL). A segunda, foi criada por Brian Kent (Ænigma) e sob a licença Freeware.
6
agradecimentos
À Tatiana Sakurai por aceitar ser orientadora deste
trabalho e pela imensa dedicação fazendo-o; à Lara Andrade por nos colocar em contato; aos meus colegas Igor Lombardi e Bráullio Nunes pela colaboração; à Matt Ratto e ginger coons pelo grande aprendizado profissional no Canadá fundamental para este trabalho; à Marta Bogéa pelos ótimos atendimentos; à Juan David pela incansável e constante preocupação; à meus pais, minha irmã e toda minha família pelo apoio incondicional. Sem vocês este trabalho não teria sido possível.
7
SUMÁRIo 1 INT RO DU ÇÃ O
12
2 A so ci ed a d e e m r e d e
16
16
2.1 A vida digital
2.1.1 teoria da ecologia cognitiva
2.2 O DESENVOLVIMENTO DA INTERNET
21 26
2.2.1 O computador pessoal
33
2.2.2 A multimídia e a metáfora do HIPERTEXTO
36
2.3 AS REDES COMO SUPORTE PARA A SOCIABILIDADE
2.3.1 As primeiras comunidades virtuais
2.4 A ARQUITETURA E O VIRTUAL
39 43 45
2.4.1 O TERRITÓRIO E O ESPAÇO DOS FLUXOs
45
2.4.2 PARA ALÉM DA contradição em arquitetura
52
3 O C ON TE XT O T E R R I T O R I A L
54
54
3.1 ativismo em rede: movimentos urbanos
3.1.1 BREVE CENÁRIO DOS MOVIMENTOS
54
URBANOS contemporâneos EM SÃO PAULO 8
3.1.2 Os movimentos sociais como formadores
56
de identidades
3.1.3 A Arquitetura como atividade política
3.2 O PROCESSO DE ESCOLHA DO TERRENO
61 63
3.2.1 O ENTORNO DO PARQUE AUGUSTA
63
3.2.2 A ESCADARIA DA AVANHANDAVA
70
4 O ES PA Ç O D O E M P O D E R A M E N T O
4.1 a fabricação digital
84 84
4.1.1 Materializando a Informação Digital
84
4.1.2 O Movimento Maker e a Fabricação Digital
88
4.1.3 A criação dos FAB LABs
92
4.1.4 O CONCEITO DE COLABORAÇÃO
94
4.2 O PROGRAMA DE ATIVIDADES
97
5 PR OJ ET O A R Q U I T E T Ô N IC O : E S T U D O P R E L I M I N A R
107
6 B IB LI O G R A F I A E R E F ER Ê N C I A S P R O J E T U A I S
130
9
10
“[...] Estamos todos prestes a habitar o mundo comum e o mundo virtual – donde a célebre afirmação do Toyo Ito de que os arquitetos deveriam na verdade projetar para sujeitos dotados de dois corpos, um real e outro virtual. ‘Nós, da idade moderna, dispomos de dois tipos de corpo’, escreve Ito. ‘O corpo real, conectado ao mundo real por meio de fluidos que correm no seu interior, e o corpo virtual, conectado ao mundo por meio de um fluxo de elétrons.’ Na verdade, esses dois corpos não são separados; ao contrário, fazem parte do que hoje constitui a presença física.”
PICON, Antoine (2004). O campo Ampliado da Arquitetura, P.216.
11
1 I N T R O DU Ç Ã O
A escolha do tema deste Trabalho Final de
Graduação surgiu quase que naturalmente, como reflexo e continuidade da minha própria trajetória acadêmica e profissional. Especialmente, de um conjunto de experiências e assuntos complementares à formação curricular da FAUUSP.
Desde
o
início
deste
trabalho
havia
uma
vontade latente em abordar as questões projetuais metodológicas, assim como pensar o próprio processo de projeto. Essa inquietação começou durante o intercâmbio
acadêmico
para
a
Universidade
de
Buenos Aires (03 a 07 / 2012) e se confirmou em dois trabalhos realizados com a Parsons The New School
for Design.* Neles, não havia um processo de projeto
*
S ob ori enta ç ã o d os P r of e s s or e s R e n a t o C y mb a l i s t a (FA UUS P ) e A s e em
pré-determinado, orientado a resolver problemas I n am (Pars o ns ), o 1 º W or k s h op a con t e ce u e m Ja n e i r o d e 201 4 n a ci d a d e
específicos, mas era construído durante a análise e d e S ã o P aul o ( < h t t p : / / i n f or ma l u r b a n i s ms . or g / > ) e o 2º e m Ja n e i r o d e
reflexão sobre o objeto de estudo seu contexto e suas 201 5 n a ci d a d e d e N ova Y ork .
relações. As soluções eram uma (ou mais) resposta(s) decorrentes
do
processo
12
de
investigação.
Logo,
tão melhor fosse a construção desse processo, um resultado adequado seria uma consequência.
Somadas à isso, sucessivas experiências com a
fabricação digital delinearam a definição do campo de investigação deste trabalho. Dentre elas, destacamse workshops realizados na FAUUSP, promovidos pelo grupo de pesquisa DIGI-FAB/FABLAB SP, cursos, palestras, encontros e, a mais significativa delas, um estágio realizado no laboratório Semaphore (<http:// semaphore.utoronto.ca/>) na Universidade de Toronto, no Canadá* para o desenvolvimento e aprimoramento
*
O projeto em ques tã o d o q ual parti c i p ei ( 06 a 08 / 201 4 ) , d e n omi n a d o
do processo de fabricação de próteses de membros “3 D Printing for P ros theti c s ”, é ori enta do p e l o P r o f e s s or M a t t R a t t o d a
humanos com impressoras 3D. Por meio dessa vivência,
U niversidade d e T oron to e d es envol vi do e m con j u n t o com a d o u t or a n d a
pude entender a fabricação digital de uma maneira g i n g e r coon s .
mais ampla e alguns dos procedimentos possíveis para a materialização da informação digital; envolvendo também questões políticas como o empoderamento do cidadão e da colaboração coletiva.
Portanto,
a
investigação
projetual
aqui
apresentada neste caderno iniciou-se de indagações provenientes dessas experiências e “tomou corpo”
13
com as questões levantadas durante o processo, tais como, os limites de um projeto arquitetônico como plataforma geradora de ações de colaboração entre os usuários de um espaço e a possível potencialização das relações humanas a partir de relações espaciais e programáticas pré-determinadas.
Então, ao lidar com informações de diferentes
níveis de complexidade, tanto advindas do contexto dado de atuação quanto resultantes das relações coletivas e espaciais desejadas, houve a necessidade da elaboração de diagramas projetuais, indissociáveis e espelho do processo de projeto. A parametrização da modelagem do edifício, assim como dos diagramas atrelados à ele, são uma resposta à tentativa de controle e registro preciso sobre o processo. Nota-se que a partir do momento em que se permite visualizar a complexidade das relações presentes no projeto, tão mais precisa se torna a definição programática. Com isso, o foco e interesse do trabalho foi sendo construído sobre o próprio processo de investigação projetual,
e,
o
projeto
14
arquitetônico
decorrente,
apresentado em etapa do estudo preliminar, foi o objeto de experimentação e visualização sobre o qual perpassam todas as questões abordadas ao longo do processo.
15
2 A s o c ie d a d e e m r e d e 2 .1 A v id a d ig it a l
O registro e a percepção da passagem do tempo
no mundo atual são frequentemente associados às palavras
“dificuldade,
aceleração
e
defasagem”,
em um claro desafio à nossa capacidade de síntese e crítica do presente. É tanto, que a produção de Imagem 1: A nuvem d e palavr as relaciona à Soc ieda de em Rede (Net work Society) c om t ermos como Espac ialidade, H iper t exto , Digital, Inf or ma ção e Comuni dade, presente s t ant o no s textos de Cast ells quanto neste t r abalho. Font e: < http:// www.1 23rf.com/ phot o_ 16572029_ abst r act- word-cloudf or -net work- societywit h-r e lated- tags-a ndt er ms.html/> . Acesso em 2 8 / 11/ 1 4.
conteúdos explicativos sobre um fragmento de um momento, depois que terminada, estará provavelmente desatualizada.
Apesar dessa grande dificuldade, o sociólogo
espanhol Manuel Castells em seu livro ‘A Sociedade em
Rede’, primeiro volume da trilogia ‘A Era da informação: Economia,
sociedade
e
cultura’,
nos
apresenta
inúmeras hipóteses e reflexões sobre as principais esferas da vida contemporânea. É por meio desta obra e do conceito de “ecologia cognitiva do filósofo francês Pierre Lèvy que este trabalho de conclusão de curso se fundamenta para o recorte de sociedade a qual estamos nos detendo.
16
Já há vinte anos, o cientista formado em
Arquitetura, Nicholas Negroponte (1995), declarava: “[...] vivemos em um mundo que [...] se tornou digital”. E complementava dizendo: “Discute-se tanto e há tanto tempo a transição da era industrial para uma era pós-industrial ou da informação que é possível que não tenhamos notado que estamos 1 passando para uma era da pós-informação”. 1 N E GRO P ON T E , N . A V i d a Di g i t a l . P . 1 57 .
A Era Industrial traz consigo o conceito de
produção
em
massa,
no
contexto
das
grandes
indústrias que empregam operários uniformizados e métodos repetitivos na fabricação de um produto, a partir de um espaço e tempo definidos (NEGROPONTE, N. 1995). A superação dessa Era não significou o fim dessas empresas de grande porte, mas sem dúvida, “[...] a crise do modelo corporativo tradicional baseado na integração vertical e no gerenciamento funcional hierárquico: o sistema de ‘funcionários e linha’ de rígida divisão técnica e social do trabalho dentro da 2 empresa”. 2 C A S T E LLS , M . A S oci e d a d e e m R e d e . P . 1 7 8 .
Por isso, a Era da Informação e dos computadores
manteve as mesmas economias em escala que a Era Industrial, no entanto menos preocupadas com o
17
I ma g e m 2: O con c e i to d a p r od u çã o e m ma s s a com a s g r a n d e s i n d ú stri a s e s t e ve n a b a s e da E ra Industrial. Fo n t e : < h t t p : / / i mg a r ca d e . com/ 1 /ma s s p r od u ct i on - i n d u stri a l r e vol u t i on / > . A ce s s o e m 06 / 01 / 1 5.
espaço e o tempo. Tratava-se muito mais da produção de informação, que Negroponte chama de ‘a confecção de bits’, que poderia se dar em qualquer lugar e qualquer tempo.
Imagem 3: Interface do jogo SimCity (1989) n o sist ema operacional Apple System 6.0. Font e: < http:// en.wik ipedia.org/wik i / SimCit y /> . Acesso em 0 6 / 0 1 / 15.
“À medida que novas tecnologias de geração e distribuição de energia tornaram possível a fábrica e a grande corporação como os fundamentos organizacionais da sociedade industrial, a Internet passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da Era da 3 Informação: a Rede.” 3 C A S T E L L S , M . A G a l á x i a d a I n t e r n e t . P.7.
Então, no final do século XX, passamos a viver em
um intervalo cuja característica era a transformação de nossa ‘cultura material’ pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação.4 A interface dos 4
C A S T E L L S , M . A S oci e d a d e e m R e d e . P . 49.
objetos criados por computadores até então era muito Imagem 4: O Pixel é o menor elemento num dispositivo de exibiç ão (c omo um monitor) a o qual é possível atrib ui rse uma cor. Font e: < http:// en.wik ipedia.org/wik i / Pixel/ >. Acesso em 0 6 / 0 1 / 15.
característica, com baixa resolução e marcadas pelos
pixels facilmente reconhecíveis. O surgimento da continuidade a partir de pixels individuais se tornou algo análogo ao mundo material, no qual os pixels são os átomos formadores da matéria, mas que não podem ser percebidos, tal qual as novas interfaces digitais,
18
capazes de representar os objetos em tal resolução que não mostram mais a sua unidade formadora.5 5
N E G RO P ON T E , N . A V i d a Di g i t a l . P . 20.
“A codificação digital já é um princípio de interface. Compomos com bits as imagens, texto, sons, agenciamentos nos quais imbricamos nosso pensamento ou nossos sentidos. O suporte da informação torna-se 6 infinitamente leve, móvel, maleável, inquebrável.” 6 LÉ VY , P. A s tec n ol og i a s d a i n t e l i g ê n ci a . P . 1 02.
Assim, na Era da Pós-Informação, as barreiras da
geografia são removidas e as distâncias significam menos. A vida digital exigirá cada vez menos que estejamos num determinado lugar em determinada hora, e a transmissão do próprio lugar começa a se tornar realidade.7 O conceito de ‘endereço’ adquire um 7
N E GRO P ON T E , N . A V i d a Di g i t a l . P . 1 59 .
significado diferente, considerando que uma pessoa pode morar e trabalhar num único local ou em lugares diferentes.
A digitalização atinge todas as técnicas de
comunicação e de processamento de informações. Ao progredir, ela conecta no centro de um mesmo tecido eletrônico o cinema, a radiotelevisão, o jornalismo, a edição, a música, as telecomunicações e a informática8. 8
LÉ VY , P. A s tec n ol og i a s d a i n t e l i g ê n ci a . P . 1 02.
A informação já não é mais focada na grande massa,
19
I ma g e m 5: O B i t é a me n or u n i d a d e d e i n f or ma çã o q u e p od e s e r a r ma z e n a d a ou t r a n s mi t i d a , u s a d a n a C omp u t a çã o e n a Te ori a d a I n f or ma çã o. U m b i t p od e a s s u mi r s ome n te 2 va l or e s : 0 o u 1 , corte ou p a s s a g e m d e e n e rg i a r e s p e ct i va me n t e. Fo n te : < h t t p : / / cd n s 2. f r ee p i k . com/ f r e e - p h ot o/i -0 - - l o s t - b i t s - 1 _ 23 8 849. j p g / > . A ce s s o e m 06 / 01 / 1 5.
ela está cada vez mais personalizada. “O público que se tem é, com frequência, composto de uma só pessoa. Tudo é feito por encomenda”9. O desenvolvimento 9
N E G R OP ON T E , N . A V i d a Di g i t a l . P . 1 57.
tecnológico e a conexão de pessoas no mundo via redes de grande capacidade de transição de bits, a Internet, alteram completamente as relações sociais de espaço e tempo. Imagem 6: O transpo rte de inf ormação, dif er en te do t r ansporte de matéri a, é ext r emamente r ápido, já que imens a s quant idades de bits podem cruzar o mun do em men os de segund os , na velo cidade da luz , por mei o das redes de f ibr a óptica que c onec t am o mundo. O mapa acima traz os 460 milhões de endereços IPv4 levantados de Junho a Outubro de 20 12 , c onec t ados por meio da Int er net. Font e: <http://imgkid . c om/ ar panet- logo. sht ml/ > . Acesso em 0 8 / 0 1/ 15.
Com
a
constituição
da
rede
digital
e
o
desdobramento de seus usos, a televisão, o cinema, a mídia impressa, a informática e as telecomunicações, viram suas fronteiras se dissolverem em proveito da circulação e da metamorfose das interfaces em um mesmo território cosmopolita.10 A informática não 10
L É V Y , P . A s t e cn ol og i a s d a i n t e l i g ê n ci a . P . 1 1 3 .
tem mais nada a ver com os computadores, mas sim diretamente com a vida das pessoas.11 11
20
N E G R OP ON T E , N . A V i d a Di g i t a l . P .1 2.
2. 1. 1 te o r ia d a e c o l o g ia c o g n it iv a 12 “A experiência pode ser estruturada pelo computador.” 12 LÉ VY , P . A s tec n ol og i a s d a i n t e l i g ê n ci a . P . 1 5.
Pierre Lévy entende o computador como sendo
um dos dispositivos técnicos pelo qual percebemos o mundo atualmente. Tomando como base os conceitos de Kant do domínio empírico (aquilo que é percebido, que constitui a experiência) e do domínio transcendental (aquilo através de que a experiência é possível, que estrutura a percepção), ele chama de transcendental
histórico aquilo que estrutura a experiência dos membros de uma determinada coletividade.
Portanto,
a
experiência que o computador
estrutura acontece não apenas no plano empírico (todos os fenômenos apreendidos graças aos cálculos, perceptíveis na tela, ou traduzidos em listagens pela máquina), mas também em um plano transcendental, pois hoje “[...] cada vez mais concebemos o social, os seres vivos ou os processos cognitivos através de uma matriz de leitura informática”13. 13
21
Ibid.
I ma g e m 7 : A s ob r a s d o f i l ós o f o f r a n cê s P i e r r y L é vy , e s t ud i o s o d a cu l t u r a vi r t u al con t e mp or â n e a , f or n e ce r a m ou t r a s d e f i n i çõe s e t e r mos i mp or t a n t e s à e ste trabalho tais quais Hi p e r t e xt o , C i b e re s p a ço e I n t e l i g ê n ci a C ol e ti va . Fo n t e : < h t t p : / / www. a ma z on . co m/ B e c o mi n g V i r t u a l - P i e r r e - L e vy / d p / 03 06 4 57 8 8 1 / >. A ce s s o e m 06 / 01 /1 5.
Sendo
esta
concepção
do
mundo
atual
compartilhada por nossa sociedade durante o tempo relativamente durável de nossa existência, é dito que isso se deve à estabilidade das instituições, dos dispositivos de comunicação, das formas de fazer, das relações com o meio ambiente natural, das
técnicas em geral, e de infinidades indeterminadas de circunstâncias.
Todavia, para Lévy, não se podem separar “as
coisas e as técnicas” de “os homens, a linguagem, os símbolos, os valores, a cultura ou o ‘mundo da vida’”. Todas as coisas que produzimos trazem consigo as relações humanas, e é por isso que a atividade técnica – que toma parte plenamente no transcendental
histórico – é intrinsecamente política. Assim, para ele, a técnica é um dos mais importantes temas filosóficos e políticos de nosso tempo.
Dito isso, o autor estabelece um conceito para
a análise das técnicas – serão analisados por ele o computador e o sistema de comunicação digital como entendimento do mundo atual – a partir de sua teoria da
22
ecologia cognitiva, que é “[...] o estudo das dimensões técnicas e coletivas da cognição”14, trazendo consigo a 14
Ibid. P. 137.
ideia de um coletivo pensante homens-coisas, coletivo este dinâmico e povoado por singularidades atuantes e subjetividades mutantes. A informática, por exemplo, não intervém apenas na ecologia cognitiva, mas também nos processos de subjetivação individuais e coletivos. “O meio ecológico no qual as representações se propagam é composto de dois grandes conjuntos: as mentes humanas e as redes técnicas de armazenamento, de transformação e de transmissão das representações. A aparição de tecnologias intelectuais como a escrita ou a informática transforma o meio no qual se propagam as 15 representações.” 15 I b i d . P . 1 3 8 .
O equilíbrio ecológico desse meio é muito
sutil, pois basta acontecer a disseminação de um novo dispositivo de comunicação – por exemplo a escrita, a impressão, ou meios de comunicação e transporte modernos – que todo esse equilíbrio das representações e das imagens será transformado.
23
I ma g e m 8 : N o g r áfi co a ci ma i n t i t u l a d o d e “ ma n i p u l a çã o s i mb ól i ca : a s q u a tro r e vol u çõe s cu l t ura i s ”, L é vy d e s cr e ve o s p a s s os s u ce s s i v os d a ma n i p u l a çã o s i mb ól i ca n a vi d a h u ma n a . E m o r d em: a u t o- con s e r va ção s i mb ól i ca , como o i n ve n t o d a e s cr i t a p o r s í mb ol os e e s s a n ova f or ma d e con h e c i me n to; ot i mi z a çã o n a ma n i p u l a çã o s i m b ól i ca com a i n ve n çã o dos p r i me i r os a l f a b etos , d a s t é cn i ca s p r i mi ti va s d e i mp r e s s ã o e os p r i me i r os t i p os d e p a p é i s ; r e p r od u çã o a u t omá t i ca e t r a n s mi s s ã o d e s í mb ol os com a s t é cn i ca s d e i mp r e s s ã o e m g r a n d e e s ca la , o r á d i o, a t e l e vi s ã o, n a e me r g ê n ci a do mu n d o mod e r n o; a t u a l me n t e e s t a mo s n a q u a r t a r e vo l uçã o,
t r ansf ormação aut omá tica de símbo l os , em que os símbolos est ão presentes nos mais diversos tipos de inf or mação na forma de dados (música, voz, imagem, texto, pr ogr amas, etc) e são c on stantemente t r ansf ormados. Font e: < http:// pier r ele vyblog.com/ > . Ac esso em 05/11/14.
Ademais, quando a técnica define em parte o
ambiente e as restrições materiais das sociedades e contribui para estruturas as atividades cognitivas dos
agentes que a utilizam, elas condicionam também as ações dentro desse do meio ecológico. “As tecnologias intelectuais misturam-se à inteligência dos homens por duas vias. A escrita, por exemplo, serviu por um lado para sistematizar, para gradear ou enquadrar a palavra efêmera. Por outro lado, ela inclinou os letrados a ler o mundo como se fosse uma página, incitou-os a 16 decodificar signos nos fenômenos.” 16 I b i d . P . 71 .
Lévy complementa dizendo que a mudança
técnica é uma das principais forças que intervêm na dinâmica da ecologia transcendental, mas que as técnicas não determinam nada. Elas resultam de “[...] longas cadeias intercruzadas de interpretações e requerem, elas mesmas, que sejam interpretadas, conduzidas para novos devires pela subjetividade em atos 17 dos grupos ou dos indivíduos que tomar posse dela”. 17 I b i d . P . 1 86.
Sendo assim, apesar de vivermos em um regime
democrático, são raras as vezes em que os processos sociotécnicos são objeto de deliberações coletivas explícitas, e menos ainda de decisões tomadas pelo
24
conjunto dos cidadãos. As macroentidades ideais (sociedade,
economia,
filosofia,
religião,
língua,
ciência, técnica, etc.) não determinam nada pois são desprovidas de qualquer meio de ação. Os agentes efetivos são sempre indivíduos situados no espaço e no tempo.
Assim,
de técnicas
é
definido
que
o
desenvolvimento
não é um acaso anacrônico ou uma
descoberta desconectada da realidade, mas sim um produto de uma construção política num campo de disputa entre os diversos agentes da sociedade, que influem como centros gravitacionais e portanto, os mais influentes serão os agentes capazes de impor maior decisão sobre o mundo e o desenvolvimento destas ou daquelas técnicas. “As sociedades ditas democráticas, se merecem seu nome, têm todo o interesse em reconhecer nos processos sociotécnicos fatos políticos importantes, e em compreender que a instituição contemporânea do social se faz tanto nos organismos científicos e nos departamentos de pesquisa e desenvolvimento das 18 grandes empresas, quanto no Parlamento ou na rua.” 18 I b i d . P . 1 9 5.
25
E os agentes da sociedade são os coletivos
19 T rec h o
da n ot a d e r od a p é e m P i e r r e L é vy , A s t e cn ol og i a s d a
cosmopolitas19 compostos de indivíduos, instituições i n te l i gênc i a . P . 1 1 : “ A p a l a vr a co s m o- p ol i t é s , q u e s i g n i f i ca ci d a d ã o
e técnicas, conformando não apenas meios ou d o mundo (d o cos mo s ) f oi cu n h a d a p e l o s f i l ós of os cí n i cos e
ambientes para o pensamento, mas sim verdadeiros retomada p e l os e s t ó i cos . L on g e d e con s i d e r a r a p e n a s o f a t o d e
sujeitos.
p ertenc e r à com u n i d a d e p ol í t i ca a t e n i e n s e ou r oma n a , o s á bi o e s tói c o s e s a b i a e s e d e s e j a va ci d a d ã o d e u ma ci d a d e d a d i me n s ã o d o u ni ve rs o, n ã o e xcl u i n d o n a d a n e m n i n g u é m, n e m o e s cr a vo, n e m o bárb aro, n e m o a s t r o, n e m a f l or . P r e con i z a - s e n e s t a ob r a u m retorno à g ra n d e t r a d i çã o a n t i g a d o cos mo p ol i t i s mo n ã o s ome n te p or raz õe s d e s i mp l e s h u ma n i d a d e , ma s t a mb é m e m vi s t a d e u ma p l ena i n te gr a çã o d a s d i me n s õe s t é cn i ca s e e col óg i ca s n a r e f l e xã o e a çã o p o l í t i ca s .”
2 .2 O D E S E N V O L V I M E N T O D A I N T E R N E T
A Internet é uma dessas técnicas citadas por
Pierre Lévy, em que estrutura toda a experiência, ou seja, a maneira como as pessoas percebem o mundo e acabam por condicionar de certa forma o próprio mundo.
Sua construção até os dias de hoje se deu de
maneira muito complexa, com infinitos agentes que foram influenciando seu desenvolvimento num claro campo de disputa política entre os sujeitos, sejam eles
26
as grandes corporações, instituições governamentais, pequenos
empresários
ou
mesmo
estudantes
universitários que entraram no processo inicialmente como um hobby e acabaram se tornando agentes importantíssimos. e
O
entendimento
desenvolvimento
da
história
dessa
rede
da
formação
internacional
de
comunicação é também a compreensão de suas características técnicas, organizacionais e culturais, de maneira que se possam avaliar seus impactos sociais.
Ela foi criada de “[...] uma rara mistura de
estratégia militar, grande cooperação científica e inovação cultural” (HAFNER, K.; MARKOFF, J. 1991), surgindo
primeiramente
de
maneira
restrita
e
fortemente institucionalizada no âmbito militar e posteriormente universitário, mas que rapidamente se disseminou para ganhar um caráter universal e muito mais democrático.
27
Num período em que as ameaças de guerra
nuclear eram uma imensa preocupação para o governo dos Estados Unidos, decidiu-se projetar um sistema de comunicação invulnerável a ataques nucleares. Imagem 9: Duas mulher es operando u m dos pr imeiros c omputadores - o EN I AC , de apr oximadamente 1 9 4 6 -, que como o U NIV AC, era destinad o apenas a funções de c álc ulos, sendo ut ilizados para r esolução de problema s espec íficos. Fonte: http://upload.wikimedia. or g/ wikipedi a/ c ommons/3/3b/Two_ wom en_operating_EN I A C . gif / >. Acesso em 1 5 / 1 1 / 14.
Baseado na tecnologia de comunicação por comutação de pacotes, o sistema tornou a rede independente de centros de comando e controle, de modo que as unidades de mensagens encontrariam suas rotas ao longo da rede, sendo remontadas coerentemente em qualquer ponto dela. Tão logo a tecnologia digital permitiu a compactação de todos os tipos de mensagens, inclusive sons, imagens e dados, formouse uma rede capaz de comunicar todas as espécies de símbolos sem o uso de centros de controle.20
20 C A S T E L L S ,
M . A S oci e d a d e e m R e d e . P . 3 75.
Essa rede chamada de ARPANET (Advanced
Research Projects Agency Network) foi estabelecida em 1969 e inicialmente fundada pela ARPA (Advanced Imagem 10: M apa da AR PANET em Setembro de 19 71 em rápido c r esc imento, já inc luindo 18 U niver s idades dos Est ados Unidos na re d e. Font e: < http://
Research Projects Agency) com o Departamento de Defesa Americano para uso em seus projetos nas Universidades e Centros de Pesquisa nos Estados Unidos. O primeiro nó da rede foi estabelecido na
28
UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) nesse ano, sendo que nos dois anos subsequentes haveriam outros seis nós acrescentados em outras
p e r s on a l p a g e s . ma n ch e s t e r . a c. u k / s t a f f / m . d od g e / cy b e r g e o g r a p h y / a tl a s / h i s t or i ca l . h t ml / >. A ce s s o e m 08 / 01/1 5.
universidades americanas, incluindo o SRI (Standford
Research Institute), o MIT (Massachusetts Institute of Technology) e Harvard.
Portanto, a Rede estaria estabelecida a partir
de sua origem estratégica militar e universitária, mas que justamente por estar inserida num ambiente de inovação e de contracultura, o ambiente da Universidade, ela teve um desenvolvimento que projetou-se para além do seu propósito inicial.
Assim, a origem universitária da Rede foi decisiva
para o desenvolvimento e difusão da comunicação eletrônica pelo mundo. Segundo Castells, “[...] a universalidade da linguagem e a lógica pura do sistema de comunicação criaram as condições tecnológicas para a comunicação horizontal global”. O início da Comunicação Global Mediada por Computadores (CMC) em larga escala se deu primeiramente nos Estados Unidos no início da década de 1990, justamente entre
29
I ma g e m 1 1 : M a p a p a rci a l d a I n t e r n e t b a s ea d o n a i n f or ma çã o ob t i d a d o s i t e op t e . or g e m 1 5 d e j a n e i r o d e 2005. É u m e xe mp l o d e como s e con f i g u r a m a s r e d e s da Internet, que são mu i t o r a mi f i ca d a s e q u e n ã o p os s u em h i e r a r q u i a , i s t o é, s u a s r e l a çõe s s ã o mu i to ma i s h or i z on t a i s d o q u e hierarquizadas. Fo n t e : < h t t p : / / ww w. op t e . or g / ma p s / >. A ce s s o e m 08 / 01/1 5.
pós-graduandos e o corpo docente das universidades. Apenas alguns anos depois, aconteceu um processo semelhante no resto do mundo.
A arquitetura inicial dessa Rede era aberta
sob o ponto de vista tecnológico e conformava um sistema de comunicação horizontal, o qual possibilitou posteriormente tanto o amplo acesso público quanto a Imagem 12: A introdu ç ã o do pr imeiro M ODEM par a c omputadores pessoais fabricados pela H ayes no fim do s anos 1970 permitiu c om que os computadore s pudesse m conectarse às primeiras rede s t elemáticas da época , pr ec ur soras da Inter net. A f ot o a cima retrata o Modem Hayes para 12 0 0 bps, de 1977, e está n o Museu d a Computaçã o da U niversidade de V ir ginia - EUA. Font e: < http://www. novomi lenio.inf.br/ ano9 7/ cpmcom15.htm/> . Ac esso em 09/01/15.
dificuldade em limitar o acesso baseado em restrições governamentais ou comerciais.
As
inovações
na
informática
também
determinaram o desenvolvimento da Internet. A cada grande inovação, abria-se não apenas novas maneiras e formas de acesso ao uso tecnológico, mas também a possibilidade de novas relações entre homens e computadores: códigos de programação cada vez mais intuitivos, comunicação em tempo real, redes, micro e novos princípios de interface. Assim, não há e nunca houve uma identidade estável na informática “[...] porque os computadores são redes de interfaces abertas a novas conexões, imprevisíveis, que podem transformar radicalmente seu significado e uso”.21 21
L É V Y , P . A s t e cn ol og i a s d a i n t e l i g ê n ci a . P . 1 0 2.
30
O modem, uma das descobertas tecnológicas da informática feita pelos hackers - pioneiros da contracultura no âmbito da computação e chamados assim antes do termo assumir uma conotação negativa -, acabou configurando um importante elemento do sistema. Com isso, “[...] as redes de computadores que eram excluídas da ARPANET (reservada para as universidades científicas de elite em seus estágios iniciais) descobriram sozinhas 22 como começar a comunicação entre si.” 22 C AS T E LLS , M . A S oci e d a d e e m R e d e . P . 3 7 7 .
Portanto, não houve uma única organização, país
ou instituição global por trás da difusão da rede pelo mundo tampouco da regulação desse processo. Ele foi acontecendo respaldado por inúmeras inovações tecnológicas vindas de todos os lados, pelos mais diversos agentes participantes e com uma cadeia infinita de decisões tomadas por cada um desses agentes. Para Negroponte, esse processo foi muito bem sucedido: “A Internet é interessante não apenas por ser uma vasta e onipresente rede global, mas também como um exemplo de algo que se desenvolveu sem a presença de
31
Imagem 13: Apesar d a imensa quantidade de inf ormações t r ansportadas f ac ilmente pelo mundo e das várias int er c onexões entre os diversos pontos do planeta, também há um lado oposto e at é perverso da globalização, trazido por Cas tells no final d o V olume “A Sociedade em R ede” . O mapa ac ima evidencia a br ut al diferença ent r e as partes muito c onec t adas, como Amér ic a do Norte e Eur opa e outras que pouquís simo acesso t êm à Rede. Para o soc iólogo, isso é uma mar c a do aumento das des igualdades a nível mundial causado pela Globalização, e que na prática, o ma p a do que configura o mundo globalizado n ã o é mais a cartografia c om a d ivisão polític a dos países, mas sim o mapa das conexões que exc luem praticamen te c ont ine ntes inteiros . Font e: <ht t p:/ /176.32.230.4/ c jst ot t . com/wp- conte nt/ uploads /2011/10/digi ta l _ c onnec tions.jpg/> . Ac esso em 06/01/15.
um projetista de plantão [...]: inexiste um comando e [...] 23 todas as suas peças se ajustam de modo admirável.” 23 N E G R OP ON T E , N . A V i d a Di g i t a l . P . 1 73 .
Com
a
evolução
do
sistema,
partindo
da
coexistência de vários interesses e culturas na Rede, ela se tornou a World Wide Web ou WWW (Rede de Alcance Mundial), que é uma “[...] rede flexível formada por redes dentro da Internet onde instituições, empresas, associações e pessoas físicas criam os próprios sites, que servem de base para todos os indivíduos com acesso poderem produzir sua homepage, feita de colagens variáveis de textos e 24 imagens”. 24 C A S T E L L S , M . A S oci e d a d e e m R e d e . P . 3 79.
Assim,
o
novo
sistema
de
comunicação
transforma radicalmente o espaço e o tempo, as duas dimensões fundamentais da vida humana:
32
“Localidades ficam despojadas de seu sentido cultural, histórico e geográfico e reintegram-se em redes funcionais ou em colagens de imagens, ocasionando um espaço de fluxos que substitui o espaço de lugares. O tempo é apagado no novo sistema de comunicação já que, passado, presente e futuro podem ser programados para interagir entre si na mesma mensagem. O espaço de fluxos e o tempo intemporal são as bases principais de uma nova cultura, que transcende e inclui a diversidade dos sistemas de representação historicamente transmitidos: a cultura da virtualidade real, onde o faz-de-conta vai se 25 tornando realidade.” 25 I b i d . P . 3 9 7 .
2. 2. 1 O c o m p u t a d o r p e ss o a l
“Na metade da década de setenta, uma pitoresca comunidade de jovens californianos à margem do 26 sistema inventou o computador pessoal.” 26 LÉ VY , P. A s tec n ol og i a s d a i n t e l i g ê n ci a . P . 4 3 .
No início dos anos de 1960, os primeiros sistemas
digitais e os computadores ainda não utilizavam bancos de dados estruturados e tampouco permitiam o processamento de textos de forma amigável. As questões que motivavam seu desenvolvimento eram outras, de cunho militar, institucional ou industrial, junto às quais, a preocupação com o usuário ou ainda, a democratização do acesso não se apresentavam.
33
A invenção do computador pessoal se deu à
margem dos grandes fabricantes da área e do sistema vigente. Não foi prevista pelos fabricantes, tampouco pelo Estado ou pelos militares americanos, os quais já tinham acesso aos computadores da época, e de fato era uma “[...] inovação imprevisível mas que transformou a informática em um meio de massa para a criação e simulação”.27
27 I b i d .
P. 101.
Quando se trata do computador pessoal, não
referimo-nos apenas ao surgimento de um objeto de menor dimensão, já que os militares americanos já dispunham de computadores bastante pequenos. O que estava em questão era que o domínio e acesso à esse
complexo de circuitos eletrônicos com alta potência de cálculo estaria passando das grandes instituições e grandes corporações para os indivíduos comuns.
Quanto às suas características físicas, ele só
seria capaz de transformar-se num equipamento de massa quando suas variáveis de interface tamanho e massa atingissem um valor suficientemente baixo. E, além disso, como princípio didático e intuitivo da
34
‘nova máquina’, era necessário também alcançar uma ‘coerência de interfaces’, em que as mesmas representações
e
os
mesmos
comandos
eram
sistematicamente usados em várias aplicações. “O princípio [da coerência de interfaces], assim como a crença na necessidade de uma comunicação com o computador que fosse intuitiva, metafórica e sensoriomotora, em vez de abstrata, rigidamente codificada e desprovida de sentido para o usuário, 28 contribuíram para ‘humanizar a máquina’.” 28 I b i d . P . 52.
Dessa forma, o computador foi sendo construído
I ma g e m 1 4 : A p r i me i ra e s t a çã o d e t r a b a l h o p r od u z i d a co m mou s e f oi f e i t a e m 1 9 6 7, p e l a e q u i p e d e Dou g l as Engelbart. Fo n t e : < h t t p : / / h is tory comp u t e r . com/ M od e r n C omp u t e r/B a s i s / mou s e . h t m l / > . A ce s s o e m 1 0/ 01 / 1 5.
progressivamente, em todas as suas esferas - concreta e digital - com cada novo elemento dando um sentido novo aos que o precediam, estabelecendo conexões com outras redes. Isso foi introduzindo sentidos de significação e uso inéditos para a própria máquina, até que o limite de acesso se rompeu e a conexão com os sistemas sociotécnicos da educação e do escritório se estabeleceu. Nesse momento, os próprios circuitos começaram a se redefinir em função da ‘nova máquina’: “[...] a ‘revolução da informática’ havia começado”.29 29 I b i d .
35
P. 48.
I ma g e m 1 5: A C omp a n h i a A p p l e C o mp u t e r (a g ora A p p l e , I n c. ) f oi u ma p a r t e i mp or t a n t e d a r e vol u çã o d o comp u t a d o r p e s soa l q u e a con t e ce u d u r a n te o s a n os d e 1 9 7 0 e 1 9 80 . O M a ci n t o s h 1 28 K foi l a n ça d o e m 1 9 8 4 e vi n h a com 1 28 k b d e memóri a - d a í d e r i va s e u n o me , e r od a va o S y s t e m 1 . Ti n h a t e l a p r e t a e b r a n ca e mou s e co m u m s ó b otã o - q u e f oi o p a d r ão d e
c omputadores Apple dur ant e muito tempo. Font e: <http://www. c omputerhistory.org / at c hm/ early-applebusiness-documents /> . Ac esso em 10/01/15.
Em 1984, com o surgimento do Apple Macintosh
foi permitida a aceleração do processo de “[...] integração da informática ao mundo da comunicação, da edição e do audiovisual, permitindo a generalização do hipertexto e da multimídia interativa”.30 30 I b i d .
I magem 16: Hiperlink é u ma r eferência dentro d e um documento e m r ela ção a outras p ar t es ou a outro d oc umento externo. Os hiperlinks são par t es fundamentais da linguagem utiliza da par a c onstrução de páginas na W orld Wide W eb (W W W ) e d e out r os meios digitai s . São des ignados por elemen tos clicáveis, em f or ma de texto ou imagem, que levam a out r as partes de um sit e ou para recursos var iados. Font e: <http:// en.wikipedia.org/wik i / H y per lin k/> . Acesso e m 1 0 / 0 1 / 15.
2 .2 .2 A m u l t im í d ia e a m e t á f o r a d o h ip e r t e xt o
A conjunção de texto, áudio, vídeo e dados é
chamada multimídia, e por ser digital, é acessada e compartilhada sem dificuldade pela Rede. O surgimento de um sistema eletrônico de informação com base na integração multimídia, conversão de diversos formatos diferentes e interatividade potencial, alterou de forma irreversível as práticas de produção e de fruição de conteúdo. O hipertexto é o termo que remete a um texto, ao qual se agregam outros conjuntos de informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá através de referências específicas,
36
que no meio digital são denominadas hiperlinks, ou simplesmente links.
Pierre Lévy relaciona diretamente a atividade
interpretativa do ser humano com a característica estrutural do hipertexto: “[...] em que consiste o ato de atribuir sentido? A operação elementar da atividade interpretativa é a associação; dar sentido a um texto é o mesmo que ligá-lo, conectá-lo a outros textos, e portanto é o mesmo que construir um 31 hipertexto.” 31 I b i d . P . 7 3 .
A
metáfora
do
hipertexto
seria
o
próprio
pensamento humano visualizado. Ela dá conta da estrutura indefinidamente recursiva do sentido, pois o hipertexto conecta palavras e frases cujos significados remetem-se uns aos outros, dialogam para além da linearidade do discurso. Um texto, em realidade, é sempre um hipertexto: é uma rede de associações, sejam elas mostradas ou não. E o autor completa: “[...] o fundamento transcendental da comunicação – compreendida como partilha do sentido – é este contexto ou este hipertexto partilhado”.32 32 I b i d .
37
Imagem 17:A obra ao lado, r ealizada pelo St udio Doyle Partner s , r et r at a muito bem o c onc eito do hipertexto. Ele é um texto que possui v árias camad a s de inf ormação disponíveis para o ac esso, e esse concei to , o qual está presente na nossa forma de navegação pelo mun do digit al e que alude t ambém à forma do pensamento humano, f oi usado como base par a o Design Gráfico dest e c aderno. Font e: < http://www. doy lepartners.com/ f iles/ st yles/large/ public / project_images / D P-H y pertext.jpg/> . Ac esso em 27/10/14.
Além dos textos, as imagens e os sons, por
exemplo, quando digitalizados, pode ser decompostos, recompostos, e
associados
indexados, no
ordenados,
interior
de
comentados
hiperdocumentos
multimídias. Uma vez que a multimídia é inserida na estrutura do hipertexto digital, para Manuel Castells (2001), atingimos um momento em que se consegue captar a maioria das expressões culturais em toda a sua diversidade e trazê-las para a Internet, a qual apropriada pela prática social, passa a ser
38
uma extensão da vida como ela é, em todas as suas dimensões e modalidades. Com isso, cria-se um novo ambiente simbólico em que a virtualidade é também a nossa realidade.
2. 3 AS R E D E S C O M O S U PO R T E P A R A A S OC IA BI L I D A D E “[...] por meio da poderosa influencia do novo sistema de comunicação, mediado por interesses sociais, políticas governamentais e estratégias de negócios, estava surgindo uma nova cultura: a cultura da virtualidade 33 real.” 33 C AS T E LLS , M . A S oci e d a d e e m R e d e . P . 3 55.
Num momento em que a Internet havia recém
surgido no Brasil, mas que havia surgido há pouco mais tempo nos Estados Unidos e em alguns países da Europa como meio de comunicação de massa, Manuel Castells afirmou que estaria surgindo uma cultura virtual baseada diretamente na realidade, ou até mais que isso, que fosse a própria extensão da realidade: a virtualidade real. A comunicação mediada pela Internet traria todas as relações sociais para a Grande Rede, fazendo dela uma extensão da vida, que no entanto
39
I ma g e m 1 8 : O V i r tu a l e o Real passam a s e i n f l u e n ci a r e m mu t u a me n t e e e m a l g u n s mo me n t os t or n a m- s e a me sma coi s a . C UL T UR A DA V I R T UA L I DA DE R E A L. Fo n t e : h t t p s : / / p r os a vi r t u a l . wor d p re s s . com/ 201 2/ 06 / 1 9 / r e a l i d a d e - vi r t u a l e - r e a l / > . A ce s s o e m 28 / 1 1 / 1 4 .
teria influências tão grandes capazes de transformar também a vida real fora da Rede.
Segundo Castells, uma das mais importantes
transformações comunidades
ocorreu
espaciais
com por
a
substituição
redes
como
de
formas
fundamentais de sociabilidade. Os padrões espaciais não teriam um efeito muito importante sobre a sociabilidade, e as redes passam a substituir os lugares como suportes da sociabilidade nos bairros e nas cidades. “O desaparecimento da comunidade residencial como forma significativa de sociabilidade parece não ter relação com os padrões de povoamento da população. [...] As pessoas não formam seus laços significativos em sociedades locais, não por não terem raízes especiais, mas por selecionarem suas relações com base em 34 afinidades.” 34 C A S T E L L S , M . A G a l á xi a d a I n t e r n e t . P . 1 06.
No entanto, não significa que a sociabilidade
baseada no lugar tenha desaparecido, mas sim que passou a limitar-se bastante frente a outras expressões de organização social. Portanto, acontece o deslocamento da comunidade para a rede como forma central de organização da interação.
40
Bary Wellman, que define as comunidades
como sendo “[...] redes de laços interpessoais que proporcionam sociabilidade, apoio, informação, um senso de integração e identidade social”, também argumenta que as “[...] redes sociais complexas sempre existiram, mas desenvolvimentos tecnológicos recentes nas comunicações permitiram seu advento como uma forma dominante de organização social” (WELLMAN, B. 2001, p.1).
Como ferramentas de organização, as redes, que
possuem grande adaptabilidade e flexibilidade, são extremamente adequadas para se sobreviver num ambiente em rápida mutação. Uma rede é um conjunto de nós interconectados, que facilmente consegue se readaptar criando novas conexões, desligando outras e alterando os níveis de relações entre seus elementos. “A formação de redes é uma prática humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova em nosso tempo transformando-se em redes de informação energizadas 35 pela Internet”. 35 I b i d . P . 7 .
41
I ma g e m 1 9 : O s d i a g r a ma s d e P a u l B a r a n ( 1 9 6 4 ) e xpl i ci ta m a t op o l o g i a d a s re d e s e xi s t e n t e s . E l a s p od e m s e r t o t a l me n te ce n t r a l i z a d a s (p ri me i ro) ou comp l e t a m e n te d i s t r i b u í d a s (t e rce i ro) t e or i ca me n t e , ma s n a p r á t i ca s u a s con f i g u r a çõe s t r a n s i ta m e n t r e a mb a s , ma i s ou me n os ce n t r a l i z a d a s , con s i d e r a n d o - s e e n tã o redes distribuídas. Se p r e t e n d e mo s a n a l i s a r o p o d e r d e n t r o da s r e d e s , q u a n t o mai or a ce n t r a l i z a çã o e m torn o d e u m p on t o, ma i s i n f l u e n t e e s t e s e rá . Fo n t e : < h t t p : / / e s col a d e r e d e s . ne t/ p r of i l e s / b l og s / o-p od e rn a s - r e d e s - s oci ai s >. A ce s s o e m 28 / 1 1 / 1 4.
O padrão de sociabilidade atual se constrói em
torno da família nuclear da casa, a partir da qual redes de laços seletivos são formadas segundo os interesses e valores de cada membro da família. Portanto, o individualismo em rede, como denomina Castells, é um padrão social, e o papel mais importante da Internet na estruturação das relações sociais é a contribuição para o estabelecimento desse novo padrão de sociabilidade I magem 20: Visualiza ç ão d e Anál ise de Rede S oc ial. De acordo com os diagramas de P aul Baran (imagem a nt er ior), pode-se notar p ont os centralizadores e de maior i nfluênci a p r esentes no centro d essa r ede. Os menores p ont os, no entanto, s ão os q ue pouco ou n enhuma influência têm sobre outros. Font e: <http://www. mar t ing randjean. ch/ wp-content/ u ploads /2013/10/ G r aphe3 .png/> . Aces s o e m 2 8 / 11/14.
baseado no individualismo. “Não é a Internet que cria um padrão de individualismo em rede, mas seu desenvolvimento que fornece um suporte material apropriado para a difusão do individualismo em 36 rede como a forma dominante de sociabilidade.” 36 I b i d . P . 1 07.
Assim, as novas formas de socialização em rede,
baseadas na noção de socialização individualista e desconectada da ideia de comunidade do lugar, passam a ser dominante na formação das interações, e com isso podemos observar em nossas sociedades o desenvolvimento de uma comunicação híbrida, reunindo o lugar físico e o lugar virtual. “Estamos na presença de uma nova noção de espaço, em que o físico e virtual se influenciam um ao outro,
42
lançando as bases para a emergência de novas formas de socialização, novos estilos de vida e novas formas de organização social” (CARDOSO, G. 1998, p. 116).
Então, no momento em que as redes on-line se
disseminam como prática social, criam a possibilidade da formação das comunidades virtuais, que são por natureza diferentes das comunidades físicas, mas não necessariamente menos intensas ou menos eficazes na criação de laços e na mobilização dos cidadãos.
2. 3. 1 A s p r im e ir a s c o m un id a d e s v ir t u a is
A partir da metade da década de 1980 até o final
da década de 1990, um grande número de comunidades locais pré-existentes passaram a utilizar o meio virtual para suas interações. Boa parte delas estavam associadas a instituições locais e governos municipais, o que configurou uma espécie de espaço democrático virtual para os cidadãos participantes.
Segundo Castells, dessas comunidades que
se formaram no meio virtual, haviam três tipos dominantes:
43
“movimentos locais pré-Internet em busca de novas oportunidades de auto-organização e elevação da consciência; o movimento hacker em suas expressões mais politicamente orientadas; e governos municipais empenhados em fortalecer sua legitimidade pela criação de novos canais de participação do cidadão. Organizadores sociais emergiram como líderes de muitos projetos, em geral ativistas comunitários que tomaram consciência das possibilidades oferecidas pelas redes de 37 computadores.” 37 I b i d . P . 1 1 9.
Imagem 21: O Sistema d e Bolet ins Informativos - ou Bul letin Board Syst em (BBS) -, de 1 9 78 , é considerado a pr imeir a comunidade vir t ual a existir. Similar a um mural d e avisos, ela foi feita par a c ompartilhar inf or mações, anúnci o s , dat as d e reuniões e ideias com o público e m ger al. Fonte: < http:// blog.c hatrandom.com/ t bt -t he-first-socialmedia-networks/> . Ac esso em 12/01/15.
Em
1993,
Howard
Rheingold
defendeu
a
existência dessas comunidades quando identificou o primeiro tipo de atividades significativas dentro da Rede configurando o que ele próprio chamou de comunidades virtuais. Com a invenção e massificação da computação pessoal e da comunicabilidade em redes, os Sistemas de Boletins Informativos, que eram quadros de avisos eletrônicos, começaram a surgir. Rheingold então dizia que havia surgido uma “[...] nova forma de comunidade, que reuniria as pessoas on-line em torno de valores e interesses compartilhados, criando laços de apoio e amizade que poderiam se 38 estender também à interação face a face”. 38 I b i d . P . 1 00 .
Apesar de Rheingold falar sobre a possibilidade de
acontecer a interação física a partir das comunidades virtuais,
Castells
44
afirmou
que
elas
raramente
acontecem, e que as comunidades on-line em geral são efêmeras. A melhor maneira de compreendê-las é vê-las como redes de sociabilidade, com geometria e composição variáveis, de acordo com a evolução dos interesses dos atores sociais e da forma da própria rede.
2. 4 A A R Q U I T E T U R A E O V I R T U A L 2. 4. 1 O T E R R I T Ó R I O E O E S P A Ç O D O S F LU XO S “a conectividade se tornara a característica definidora 39 de nossa condição urbana.” 39 MI T C H E LL, W. O c a m po a mp l i a d o d a a r q u i t e t u r a . P . 1 7 2.
O tema da Sociedade em Rede ou Sociedade
Virtual vem sendo estudado amplamente por vários historiadores, sociólogos, filósofos e outras áreas do conhecimento nas últimas décadas. Por se tratar de algo que ainda está se definindo na atualidade e por ser um tema que perpassa as mais diversas instâncias da sociedade e da vida humana em seu sentido mais amplo, seu estudo está em constante avaliação,
45
reavaliação e com novas suposições sobre a Sociedade num futuro próximo.
Desta maneira, a partir do momento em que as
novas relações sociais passam a surgir, se consolidar Imagem 22: O territóri o é ent endido como uma sobr epo sição de fluxos e ener gias. Os sistema s de GPS e as interaçõe s vir t uais implicam em mudanças no espaço f ísic o. A s redes e os n ós t r azem novas interaç ões pr ogr amáticas, espac iais e visuais à paisage m urbana, e c om elas “[...] se explicita a analogia entre a c idade e o microchip, pela f lu idez de ambos , c om seus componente s móveis e imóveis, pela mu ltiplicidade de c amadas em distintos níveis d e conectivid ade e mobil idade, e pela f enome nologia das c idades efêmeras, c onf iguradas por flu xos que se sobrepõem à c idade real.” (MO NTANER, P202). Font e: < http://ivanre di . c om/ op en-sourcear c hit ecture/> . Aces s o em 12 / 03/15.
e se disseminar através das Redes, sobrepondo-se às formas tradicionais, mudanças estruturais na Sociedade serão inevitáveis . A arquitetura não estará ilesa.
O fato de, com as redes, haver surgido um espaço
de fluxos que domina o espaço de lugares construído historicamente40, altera a própria noção tradicional 40 C AS T E L L S ,
M . a b u d M I T C HE L L , W . O ca mp o a mp l i a d o d a
do espaço arquitetônico. O espaço de lugares seria determinado
por
limites
definidos,
a r q u i t e t u r a . P . 1 84.
que
são
as
fronteiras. No espaço de fluxos, o conceito de fronteira se dissolve e os limites sólidos se tornam líquidos e fluidos. Para Mitchell, “As fronteiras definem um espaço de lugares e contêineres (o domínio tradicional da arquitetura), enquanto as redes estabelecem um espaço de conexões e fluxos. Muros, cercas e peles separam; caminhos, tubulações e fios 41 conectam.” 41 M I T C HE L L , W . O ca m p o a mp l i a d o d a a r q u i t e t u r a . P . 1 72.
46
Sua abordagem toma como base a teoria dos
grafos, que é o estudo matemático da estrutura das redes. E ele acrescenta que as redes são estruturas descontínuas as quais possuem pontos de acesso definidos, e que entre eles as coisas se encontram numa espécie de limbo.
Assim, ele traz a ideia de que o senso de
continuidade e de pertencimento ao território não deriva mais do conhecimento físico do lugar, mas sim do fato de se estar ligado eletronicamente em rede às pessoas e aos lugares de afinidade e interesse, mesmo que não estejam fisicamente próximos. Portanto, o território no espaço de fluxos é uma sobreposição de redes interligadas e altamente complexas em que ocorre um fluxo constante de energias.
O território dos fluxos, explicado assim por
Mitchell, é chamado por Josep María Montaner de cidade contemporânea, tendo em vista uma rede territorial podendo ter qualquer forma, de retícula, de cachos ou de fractais, mas que se desenvolve não enquanto forma mas sim como circulação de fluxos e
47
I ma g e m 23 : C i t y of B i ts , d e M i t ch e l l . A r t i s ta S t a n z a . T h e E me rg e n t C i t y . A L i f e Fr om C omp l e x i t y t o T h e C i ty of B i t s . B y S t a n z a. F on te : < h t t p : / / s t a n z a . co.u k / e me r g e n t ci t y _ s how / i n d e x. h t ml > . A ce s s o e m 23 / 1 1 / 1 4 .
energias e está em constante mutação. Por isso, para que uma estrutura possa estabelecer qualquer relação de durabilidade num espaço mutante, deve-se criar vínculos com os fluxos que acontecem nesse espaço. “A energia e a informação são as forças de intercâmbio que permitem às estruturas adaptarem-se aos fenômenos mutantes do entorno, ou seja, à complexidade do meio ecológico, ao incremento da informação e à fugacidade 42 das situações.” 42 MO N T A N E R ,
Assim,
J. M . S i s t e ma s a r q u i t e t ôn i cos con t e mp o r â n e os . P . 1 9 0 .
a
cidade,
como
criação
humana,
assemelha-se a um complexo sistema ecológico, que consome e produz, sobre o qual se experimenta e no qual se desenvolve o layer invisível do mundo virtual. Ela é um acúmulo de redes de infraestruturas sobrepostas, incluindo o abastecimento de água e de energia elétrica, o saneamento, as telecomunicações e a circulação. E nesse sentido, “O território converte-se em uma rede sem centro nem periferia, em um sistema de objetos interconectados de mil maneiras diferentes. As redes existem abstratamente, 43 e podem gerar realidades materiais e imateriais.” 43 MO N T AN E R ,
J. M . S i s t e ma s a r q u i t e t ôn i cos con t e mp o r â n e os . P . 20 1 .
48
Assim,
pensar
na
alteração
do
espaço
arquitetônico para um espaço de fluxos, espaço este complexo, dinâmico e com relações de escalas múltiplas, é também considerar a revisão do conceito de objeto arquitetônico pensado para um espaço estático e atemporal.
Em
seu
livro
Sistemas
Arquitetônicos
Contemporâneos, Montaner trata dos sistemas como lógicas autônomas e autorreferentes que criam uma teia de relações complexas, e pretende com isso preencher a lacuna do rompimento com a noção da autonomia do objeto arquitetônico moderno abordada em críticas anteriores de outros autores, como Colin Rowe44. No entanto, quando trata da dispersão e 44 BRON S T E I N ,
L. A c e rc a d a c rí ti ca a os ob j e t os a r q u i t e t ô n i co s .
do caos ainda no mesmo livro, o autor assume que os sistemas podem não serem capazes de explicar todas as questões contemporâneas da arquitetura e que por isso geram uma crise ainda maior do objeto arquitetônico. “A dispersão e o caos não somente colocam em dúvida todos os sistemas [abordados nos capítulos anteriores de seu livro], como conduz a uma crise ainda maior do
49
desejo racional e moderno do objeto perfeito em sua 45 autonomia.” 45 MO N T AN E R ,
J. M . S i s t e ma s a r q u i t e t ôn i cos con t e mp or â n e os . P . 1 73 .
Nesse caso, a forma não é mais um ponto de
partida a priori como um container definido, mas passa a ser considerada como algo sempre inacabado e em permanente exploração. Se as forças mutantes do território geram interferências diretas na realidade do território, que é o contexto do projeto arquitetônico, e este por consequência também sobre influências, como materializá-las em forças geradoras da própria arquitetura, criando-se não mais um objeto mas algo que se molde diante de sua realidade contextual?
A
cidade
contemporânea,
entendida
como
território no espaço dos fluxos, é a base para as arquiteturas de diagramas, também abordadas por Montaner. Os diagramas, que são conceituais e interpretativos, para ele antecedem a elaboração do projeto, e pretendem traduzir em formas arquitetônicas as forças e as realidades iniciais do território, convertendo-as em processo.
50
Antoine Picon afirma que, devido ao alto grau
conceitual e a supressão de detalhes desnecessários, os diagramas são muitas vezes mal interpretados como puros esquemas mentais. No entanto, eles são de fato inseparáveis de linhas de ação e possuem materialidade própria. Para ele, os diagramas se baseiam numa “[...] descrição esquemática do mundo que tende a desprezar as diferenças de escala e as complexidades geográficas, para não falar das especificidades históricas. [..] o mundo surge com um campo em que forças se manifestam, e não como uma geografia estática. [...] os diagramas arquitetônicos contemporâneos fazem uso extensivo de mapas e setas que procuram tornar essas forças visíveis. Eles convergem para nós que podem ser comparados a objetivos ou alvos. [...] o que está em questão é a apreensão de um ambiente fluído e móvel, 46 que requer ação contínua.” 46 PI C O N , A. O c a mp o a mp l i a d o d a a r q u i t e t u r a . P . 21 3 .
Dessa
maneira,
cria-se
uma
obra
aberta,
capaz tanto de integrar informações heterogêneas quanto de se retificar e evoluir ao longo do tempo. Para Montaner, com os diagramas se pretende confrontar e sistematizar os extremos individualidade e multiplicidade, dispersão e incerteza, nos projetos contemporâneos, sendo isso uma estratégia de projeto
51
para infiltrar-se na realidade e integrar-se ao entorno, modelando a complexidade de um mundo em evolução.
2 .4 .2 P A RA A L É M D A c o n t r a d iç ã o e m a r q u it e tu r a
Uma outra abordagem que, apesar de não citar
o conceito da cidade contemporânea ou do território dos fluxos de maneira explícita, também se utiliza da complexidade do território como algo a ser contemplado e atingido no projeto, é a abordagem trazida por Greg Lynn em seu texto “Curvilinearidade arquitetônica: O dobrável, o maleável e o flexível” de 1993. Há de ressaltar-se que este último texto foi escrito ao menos uma década antes dos citados anteriormente, e que apesar disso trata de questões contemporâneas a eles, mas trazendo como resposta para a complexidade contemporânea questões espaciais formais.
Greg Lynn parte de uma análise do contexto
urbano da diferença advinda dos textos “Aprendendo com
Las
Vegas”
52
de
Venturi
e
Scott-Brown
e
“Desconstrutivist Architecture”. Para ele, a resposta formal
da
arquitetura
baseada
nesse
contexto
permanece muito na dualidade da diferença e acaba por não se preocupar com as especificidades. “O desconstrutivismo teorizava o mundo como um lugar de diferenças para que a arquitetura pudesse representar formalmente tais condições. Essa lógica contraditória está começando a se abrandar para explorar mais plenamente as particularidades dos contextos urbanos e 47 culturais.” 47 LY N N , G. O c amp o a mp l i a d o d a a r q u i t e t u r a . P . 3 3 .
Então, ele afirma que as diferenças devem ser
exploradas não para gerar linhas de conflitos, mas sim múltiplas linhas de conexões locais, de maneira que as forças externas possam ser incorporadas no desenvolvimento da forma. As especificidades locais, materiais e programáticas são cada vez mais passíveis de incorporação na arquitetura quanto mais os conflitos contextuais deixam de ser intrínsecos.
53
3 O C O N T E X T O T E R R I T O R I A L 3 .1 a t iv is m o e m r e d e : m o v im e n t o s u r b a n os 3 .1 .1 B R E V E C E N Á R I O D O S M O V I M E N T O S U R B A N O S c o n t e m p o r â n e o s E M S Ã O P A U LO “Quando o mundo se torna grande demais para ser controlado, os atores sociais passam a ter como objetivo fazê-lo retornar ao tamanho compatível com o que podem conceber. Quando as redes dissolvem o tempo e o espaço, as pessoas se agarram a espaços físicos, 48 recorrendo à sua memória histórica.” 48 C A S T E L L S , M . O p o d e r d a i d e n t i d a d e . P . 8 5.
Considerando as redes como principal suporte
para a sociabilidade, podemos associar um cenário de uma gama de manifestações, protestos, formação de grupos em prol de causas urbanas, movimentos sociais diretamente relacionados ao território, ocupações urbanas e outros que vêm acontecendo na cidade de São Paulo49 ao contexto da Sociedade em Rede trazido 49 É
i mp orta nt e l e mb r a r q u e e s t e ce n á r i o n ã o e s t á r e s t r i t o a e sta
por Manuel Castells.
c i d ade, mu i to p e l o con t r á r i o; e l e ve m a con t e ce n d o n o B r a s i l e n o
São inúmeros exemplos os que podem ser citados,
mu ndo d e ma ne i r a g e r a l com s u a s p e cu l i a r i d a d e s l oca i s , q u e n o
que vão desde as grandes manifestações de Junho enta nto n ão ent r a r ã o e m q u e s t ã o p or n ã o s e r e m o f o co d e s t e t r a b a l ho.
de 2013, os festivais gratuitos no Centro da cidade, as ações locais de bairro em defesa da memória frente à
especulação imobiliária ou a articulação comunitária
54
para a preservação de uma nascente ou criação de um parque. Vários deles foram objetos de estudos de caso50,
50 Em
seu Trabal ho Fi n al de G ra dua çã o p e l a FA UUS P e m 201 4 ,
como os eventos “Buraco da Minhoca” – realizado mais intitulado de “ O es paç o públ i c o c omo l oc a l a s e r ocu p a d o” , C a r ol i n a L a
de uma vez no túnel que passa sob a Praça Roosevelt, na Terza participo u de vá ri os d es s es ac on te ci me n t os e a n a l i s o u - o s com o
República – e “Festival Baixo Centro” - que aconteceu ob j etos d e e s t u d o p a r a s u a p r op os t a f i n a l .
espalhado principalmente pelo Centro e nos eixos da Rua da Consolação, do Minhocão e da Avenida Prestes Maia – e os movimentos para a criação de parques, como o do “Parque Augusta” – para a transformação da área verde entre as Rua Augusta e Caio Prado em Parque – e do “Parque Minhocão” – para a criação de um Parque sobre o Elevado Costa e Silva.51 51
Também é i mp ortante s al i enta r q ue e s s e s movi me n t o s n ã o e xi s t e m
Assim, a partir desse cenário de movimentos
unicamente na p arte c entral d a Regi ão M e t r op ol i t a n a d e S ã o P a u l o
sociais, manifestações e apropriações urbanas que (C entro Expand i do) e que s uas moti va ç õe s v a r i a m d e a cor d o co m a s
vêm acontecendo na cidade de São Paulo, buscou-se especificidade s d e c a da l ugar. P or moti vos d e ma i or e s con h e ci me n t os
mais uma vez em Castells a primeira aproximação empíricos na R e gi ão C entral p or p arte d o a u t o r , e n ã o s e n d o o f oco
teórica com o tema. É sabido que esses movimentos deste trabalho o l e va nta me nto e e s tu do s i s t e má t i co d os mov i me n t os
contemporâneos são organizados pelas Redes, muitas c ontemporâne os na RMS P c omo um tod o, o C e n t r o s e r á a p r i n ci p a l á r e a
vezes não tendo uma liderança definida e atuando a bordada c om e fe i to d e a p r ox i ma çã o com o t e ma .
55
I ma g e m 24 : O “ B ura co d a M i n h oca ” , q u e a con t e ce u n o t ú ne l s ob a P r a ça R oos e v e l t n o C e n t r o d e S ã o P au l o, t e ve s u a 1 ª e d i ção com 3 00 p e s s oa s e come çou d e f o r ma mu i t o e s p o n t â n e a e irregular. Sua 2ª e d i çã o, q u e con t o u com 5000 p a r t i ci p a n t e s , f oi d i vu l g a d a p r i n ci p a l me n t e vi a Fa ce b o ok , e , a i n da q u e u m p ou co men os i mp r ovi s a d a , a i n d a e ra d e ca r á t e r i r r e g ul a r. Apesar de ter sido um e ve n t o e s p or á d i c o q u e a ca b o u n ã o s e n d o a u t or i z a d o p e l o p od e r p ú b l i co, é n o t á v el como e x e mp l o d e ocu p a çã o t e mp orá ri a d o e s p a ço p ú b l i co com p ou q u í s s i m os r e cu rs os e com comu n i ca ç ã o vi a r e d e s s oci a i s , t r a ze n d o e m s u a e s s ê n ci a a h or i z on t a l i d a d e e a espontaneidade. Fo n t e : < h t t p : / / ww w. g u i a d e ma o . co m/b u ra cod a - mi n h oca - 2/ > . A ce s s o e m 1 0/ 01 / 1 5.
de forma muito mais horizontal e orgânica do que hierarquizada.
Além disso, todos eles têm duas principais
características em comum: sua articulação acontece sobretudo pelas redes sociais na Internet, com destaque à rede social Facebook, que é atualmente I magem 25: O festival “Exist e Amor em SP” , q ue ac onteceu na Pr aç a Roosevelt (localizad a n o Centro de São P aulo) p ouco antes d a s e leiç ões municipais e m 2 0 1 2, também faz p ar t e dos movimentos q ue r epresentam ess a revit alização do Cen tro d a Cida de por meio d a oc upaç ão dos espaços p úblic os. Apesar de s er apartidário, o fest ival trouxe consi go u m c ar áter político, com o intuito de d isc ut ir as proposta s d os c andidatos à p r ef eit ura e sinaliza r a i mpor t ância que dev e ri a s er dada à cultura. Font e: <http://g1.globo. com/ sao- paulo> . Aces s o e m 10 / 01/15.
a mais expressiva delas; e todos são diretamente relacionados com o espaço urbano, seja como ocupação temporária ou propondo uma apropriação permanente. Uma terceira característica levantada por La Terza é que a maioria deles não possuem financiamentos públicos ou de entidades específicas, e que são financiados pela própria comunidade dos participantes por meio de contribuições individuais (cada um contribui com o que pode levar) ou por sites de financiamento coletivo para doações de apoiadores, a exemplo do Catarse.
3 .1 .2 O s m o v im e n t o s s o c ia is c o m o f o r m a d or e s d e id e n t id a d e s “As culturas da urgência locais são o contraponto da 52 intemporalidade global.” 52 C A S T E L L S , M . O p o d e r d a i d e n t i d a d e . P . 84.
56
Com a dissolução do tempo e do espaço, com a
globalização do mundo, as sociedades civis, que eram a fonte principal da construção das identidades, acabam encolhendo-se e desarticulando-se, já que não existe mais continuidade entre a lógica da criação de poder no âmbito da rede global e a lógica da associação e representação em sociedades e culturas específicas.
O surgimento da Sociedade em Rede trouxe
consigo as questões em torno dos processos de construção
da
identidade
nesse
novo
contexto,
induzindo assim novas formas de transformação social. Os novos processos de formação da identidade acontecem porque “[...] a sociedade em rede está fundamentada na disjunção sistêmica entre o local e o global para a maioria dos indivíduos e grupos sociais”.53
53 I b i d .
P . 27 .
Sendo a identidade definida como sendo “[...]
a fonte de significado e experiência de um povo”54, 54 I b i d .
P . 22.
“[...] a busca pelo significado ocorre no âmbito da reconstrução de identidades defensivas em torno de princípios comunais”55. Então, a formação de grupos 55 I b i d .
57
P . 27 .
e comunidades se dá cada vez mais, não como uma força natural a partir das lógicas de dominação, mas como um movimento de resistência comunal frente à desordem global, tal qual afirmado pelo autor: “[...] as comunidades locais, construídas por meio de ação coletiva e preservadas pela memória coletiva, constituem fontes específicas de identidades. Essas identidades, no entanto, consistem em reações defensivas contra as condições impostas pela desordem global e pelas 56 transformações, incontroláveis e em ritmo acelerado.” 56 I b i d . P . 8 4.
O sociólogo afirma que as pessoas tendem a
resistir ao processo de individualização e atomização trazidos pela Sociedade em Rede, e com isso procuram agrupar-se em organizações comunitárias, que ao longo tempo geram um sentimento de pertencimento, podendo criar uma identidade cultural com base na comunidade.
No entanto, segundo a hipótese de Castells, para
que isso ocorra, é necessário que as pessoas participem de
movimentos
urbanos
(não
obrigatoriamente
revolucionários), ou seja, que aconteça um processo de mobilização social, no qual “[...] são revelados e defendidos interesses em comum, e a vida é, de algum
58
modo, compartilhada, e um novo significado pode ser produzido”.57
57 I b i d .
P.79.
Entendendo os movimentos sociais como “[...]
ações coletivas com um determinado propósito cujo resultado, tanto em caso de sucesso como de fracasso, transforma os valores e instituições da sociedade”58, 58 I b i d .
P . 20.
a própria existência de um movimento já produz em si algum significado, não somente para os atores sociais,
mas para toda a comunidade. Independentemente da duração dos movimentos, que geralmente perduram por pouco tempo, esse significado pode permanecer na memória coletiva da comunidade.
No
caso
dos
movimentos
contemporâneos
de ocupação e apropriação na cidade de São Paulo, eles são movimentos urbanos compreendidos como “[...] processos de mobilização social com finalidade preestabelecida, organizados em um determinado território e visando objetivos urbanos”59.
Suas
metas
principais
se
59 I b i d .
aproximam
P.79.
da
conquista da autonomia política local e participação na qualidade de cidadãos (no caso das associações
59
Imagem 26: O Parque August a talvez seja o exemplo mais signif icativo de uma lut a simbólica. Apes a r do m ovimento de r esist ência ter se inic iado com a ideia de t r ansformar o t er r eno em um Parque Públic o para atende r à população do entorn o, ele deixou de ser alg o loc al e tomou uma esc ala que extrapolou o seu próprio entorn o. A def es a do Parque August a, portanto, passou a significar a “lut a por espaços públic os de lazer na c idade” e com isso ganhou uma dimensã o simbólica. O ato de t e r mobilizado inúmeras pessoas para além d o seu entorno signific a que a partir disso pod ese c r iar e fortalecer out r os movimentos de r esis tência, de oc upação e de apr opr iação do espaç o públic o possivelmen te em t odo o país. Font e: < http://www. par queaugusta.cc/ja /> . Ac esso em 10/01/15.
de bairro ou grupos que pedem a intervenção pública e urbanística no espaço urbano, ou que pedem o reconhecimento de um lugar como área pública de lazer); e das necessidades urbanas de condições de vida e consumo coletivo (como seria o caso dos movimentos pela ocupação de edifícios abandonados no Centro ou movimentos pela construção de moradias sobretudo nas periferias); entre outras.
60
3. 1. 3 A A r q u it e t u r a c om o a t iv id a d e p ol íti ca “mais do que técnica, o urbanismo é política; a 60 arquitetura urbana [...] é especialmente política.” 60 MO N T AN E R, J. MU XÍ , Z . A r q u i t e t u r a e P ol í t i ca . P . 8 .
Para Montaner e Muxí, a pós-modernidade é o fim
de um ideal único, neutro e universal que dá lugares à novas questões principais, como a das realidades e culturas diversas e a da luta por direitos mais reais, da igualdade na diferença. Essas diferenças agora são passíveis de serem assumidas, diferenças entre sexos, culturas e crenças, as quais se constituem como diferenças mas não como desigualdades.
Desse ponto de vista, como incluir a diversidade
num projeto arquitetônico? De que maneira este projeto dará conta de resolver os anseios das realidades locais, possível unicamente com a participação dos movimentos sociais e comunidades do entorno? Essas ainda não são questões resolvidas, e para os autoresarquitetos se constitui como algo a ser alcançado: “O desafio consiste em construir um espaço sem gênero nem ordem patriarcal; portanto, um espaço sem
61
hierarquias, horizontal, um espaço que evidencie as diferenças, e não as desigualdades, um espaço de todos e de todas em igualdade de valoração de olhares, saberes e experiências. O objetivo é ressignificar a construção de nossas cidades a partir da experiência que os homens e as mulheres têm do mundo – duas maneiras de enunciar 61 a realidade”. 61 I b i d . P . 1 98.
Tendo
a
arquitetura
uma
estreita
relação
com a vida humana, e sendo as questões humanas essencialmente
políticas,
a
própria
criação
de
espaços para as relações entre as pessoas tem, necessariamente, relação com a política. Assim, a arquitetura tem muita proximidade com o poder político e econômico e também com os anseios sociais, o bem comum, as questões públicas e a permanência no futuro.62 62 I b i d .
P . 1 5.
“A cidade é, por natureza, uma pluralidade; a cidade é composta não só de indivíduos, mas também de elementos especialmente diferentes: uma cidade não é só formada de partes semelhantes, já que uma coisa é a 63 64 cidade e outra coisa é uma ‘symmachia’ ”. 63 S y mma ch i a s i g n i f i ca “ u ma s i mp l e s a l i a n ça”. 64 A ri s tótel es
a p u d M ON T A N E R , J. M UX Í , Z . A r q u i t e t u r a e P ol í t i ca . P .1 5.
É interessante notar que os movimentos urbanos
contemporâneos citados anteriormente podem ser uma fonte sobre como lidar com as questões da pós-
62
modernidade trazidas por Montaner e Muxí. A maneira pela qual eles se organizam e se estruturam pode ser contemplada num projeto arquitetônico urbano, de tal forma que potencialize a criação de outros movimentos e induza ainda mais a proliferação das relações entre os próprios movimentos e grupos de uma comunidade.
Contemplar os movimentos contemporâneos
pode significar também incluir a diversidade e a pluralidade
(ou
grande
parte
delas),
permitindo
o acesso universal e potencializando as relações humanas dentro das próprias comunidades e entre as diferentes comunidades.
3 . 2 O P R O C E S S O D E E S CO L H A D O T E R R E N O 3 . 2 . 1 O E N T O R N O D O P AR Q U E A U G U S T A
Tanto
o
embasamento
teórico
sobre
a
virtualidade como o panorama sobre os movimentos contemporâneos no Centro de São Paulo foram decisivos para a escolha do terreno. Essa escolha, no entanto, teve um processo que não apenas serviu como
63
afirmação para a escolha em si do terreno, mas que teve o papel de criar coesão no âmbito metodológico deste trabalho.
Esse processo procurou abordar a virtualidade
como fonte de informação e influência direta no espaço físico, e por isso, entendeu-se o território como um espaço ecológico de diversas forças e influências, tanto físicas quanto virtuais, que cria toda sua complexidade e diversidade com a sobreposição de suas diversas camadas.
Primeiramente, partiu-se da rede social Facebook,
que é atualmente o principal canal de comunicação dos movimentos e grupos atuantes no espaço físico. Dela, escolheram-se várias Páginas que representassem alguma relação direta com o espaço físico do Centro de São Paulo. As Páginas foram divididas em diversas categorias, como Espaços Culturais, Coletivos Urbanos, Festivais, Movimentos Urbanos e Grupos de Atuação Urbana.
64
Então,
foram
retirados
dados
de
Relações
Primárias que as Páginas escolhidas tinham com outras Páginas. Nesse momento, as relações entre as Páginas começaram a se interseccionar, gerando uma rede de relações entre as diversas categorias analisadas. Essas relações foram especializadas em um diagrama, ao qual denominou-se de Lugares Simbólicos Físicos e Virtuais.
Há de saber-se que, muitas vezes as Páginas
ou Comunidades Virtuais que representam um lugar físico – como é o caso das Páginas do Parque Augusta ou do Espaço Comum Luis Estrela no Facebook – são próximas de serem similares em relação à seus usuários, membros ou participantes e possivelmente próximas também em relação aos temas discutidos tanto no âmbito virtual quanto no físico. No entanto, elas são diferentes e nem sempre todos os conflitos presentes
são
representados
mutualmente
no
físico e no virtual. Mesmo assim, como se tratam de comunidades artísticas e ativistas, e portanto com grande quantidade de membros ativos em ambas
65
Buraco da Minhoca
Espaço Comum Luiz Estrela
As ligações entre a s c ores são as re l aç õ es que existem entre os diferentes grupos de c omunidades
Existe Amor em SP
Laboratório Compartilhado TM13
Arrua Coletivo As P ági nas s ã o s epara das p or Mod ul ari d ade, ou s e j a, c a da C or repre sen ta u m g ru po p róxi mo ou u ma c omu ni dade
Parque Augusta
66
Fest Baixo C
I magem 2 7 : O D i a gra m a Lu g a r e s S i mb ól i cos Fí s i cos e V i r t u a i s mos t r a a s r e l a çõe s e m Re de e ntre o s d i ve rs os a t or e s , g r u p o s e comu n i d a d e s a t u a n t e s f í s i ca e / ou vi rtual me nte n o C entro d e S ã o P a u l o. P e l a s r e l a çõe s , p o d e mos s u p o r q u e h á memb ros atu ante s e m ma i s d e u m g r u p o , ou me s mo g r u p os q u e a t u a m e m d i fe re n te s e s paç os . E m des ta que (p r e t o) s ã o mos t r a d os os n o me s d a s p r i n ci p a i s p á g i n as , a l é m d as p ági nas d os Fes ti v a i s ( e m ci n z a ) . Os d a d o s f or a m g e r a d os a p a r t i r d e g r u p os / c omuni dades do Fac e book n o d i a 28 / 1 1 / 1 4 . A p l i ca t i vo u t i l i z a d o p a r a r e col h i men to d e d ados : n etvi z z fo r fa c e book . S of t wa r e u t i l i z a d o p a r a g e r a r o d i a g r a ma : G e p h i (<www. g ephi . gi th ub. i o/> ). Fon te : A u t or i a P r óp r i a .
Os n ós co m ma i or q u a n t i d a d e d e l i g a çõe s s ã o mos t r a d os n o d i a g r a ma com ma i or t a ma n h o . E l e s t a mb é m s ã o o ce n tro agregador ou princi p a l d e n t r o d os g r u p os ou comu n i d a d e s .
Teatro Oficina Uzyna Uzona
Sesc em São Paulo
Voodoohop
tival Centro
67
Parque Augusta
Imagem 28: Diagrama Lugar es Simbólicos Físic os e Virtuais apr oximado, mostran do o ent or no do Parque August a. Fonte: Autori a pr ópr ia.
as esferas, é provável que as comunidades físicas e virtuais sejam muito similares, criando vínculos fortes de interdependência entre o físico e o virtual.
Analisando-se o diagrama anterior, percebe-se
facilmente a centralidade da Página Parque Augusta. Isso se dá pois a causa em favor da permanência do Parque Augusta como área verde pública tomou grande notoriedade e possivelmente mobilizou inúmeros
68
coletivos, ativistas e grupos artísticos que também aparecem no diagrama.
Quando
analisamos
as
páginas
que
estão
envolvidas diretamente com a Página do Parque Augusta, podemos separá-las em diversas categorias: coletivos artísticos, movimentos urbanos, grupos teatrais, espaços artísticos, blogs sobre a cidade, movimentos de ocupação e resistência, entre outros. Abaixo
estão
alguns
exemplos:
Coletivo
Yopará;
Coletivaço; Matilha Cultural; REDE NOVOS PARQUE DE SP; Ateliê Compartilhado; Resiste Estelita; Ocupa Estelita; SP na Rua; OCUPA OUVIDOR 63; über urbain; Fluxo; A Batata Precisa de Você; Blog da Raquel Rolnik; Passe Livre; Favela do Moinho; Cia Corpos Nômades I.
Dessa forma, nesse contexto dos movimentos
urbanos, espaços agregadores de ativistas e artistas, coletivos artísticos e ocupações urbanas, escolheuse o Entorno do Parque Augusta como espaço físico e virtual no qual o Centro de Fabricação Digital estaria inserido.
69
3 .2 .2 A ES C A D A R I A D A A V A N H A N D A V A
A
partir
inúmeras
do
visitas
levantamento de
caráter
descrito
exploratório
acima, foram
realizadas no Entorno do Parque Augusta ao longo do I magem 29: Vista aére a d o t er r eno mostrand o a e sc adaria e a topogr a fi a mar c ante. Fonte: < ht t ps://pt.foursquare . com/ v/ escadão- da-frei canec a/4fb97da9e4b 0 3 6f 8 b0 f d56b0?openPh ot oId=5 0 ad0dace4b02 f6 1d4 ec 2 42d> . Fotogra fi a a dic ionada ao site e m 21/ 1 1 / 12. Acesso em 10 / 10 / 1 4.
primeiro semestre de trabalho, em períodos diferentes de hora do dia e dia da semana. Descobriu-se então um terreno público parcialmente residual localizado a poucos metros da área do Parque Augusta.
Muito se pesquisou sobre ele, no entanto poucas
informações oficiais foram encontradas. A começar pelo nome, o terreno possui diversas nomenclaturas informais: Escadaria da Caio Prado, Praça do Recanto do Palhaço Sputnik, Escadão da Avanhandava, entre outros, mas não há uma denominação oficial. Optou-se por chamá-lo de Escadaria da Avanhandava, referindose não apesas às escadas mas ao terreno como um todo.
Além disso, não foram encontrados registros
históricos oficiais demonstrando o momento da construção
da
escadaria,
70
de
sua
importância
I ma g e m 3 0: V i s t a d o t e r r e n o a p a r t i r da R u a A va n h a n d a va . É n ot á ve l a p r e s e nça de arte urbana e ou t r a s i n t e r ve n ç õe s g r á f i ca s e m vá r i a s partes do terreno. A o l o n g o d a s vi s i ta s à á r e a f o i n o t á ve l a p e r ce p çã o d e n o va s i n t e r ve n çõe s , o q u e con f i g u r a a con sta n te r e a p r op r i a çã o d o e s p a ço. R e g i s t r o e m 18/11/14.
patrimonial ou de modificações e projetos realizadas no terreno.
Portanto, devido à sua insuficiência, os dados
históricos não foram tomados como dados projetuais. O caráter funcional da escadaria, de conexão entre duas cotas da cidade, se mostrou muito mais prevalescente do que seu sentido patrimonial em si. Apesar disso, um dado de projeto importante é que ela será mantida, continuando a configurar a importante conexão entre a Rua Frei Caneca e Rua Caio Prado, na borda superior, com a Rua Avanhandava e Avenida 9 de Julho, na borda inferior.
71
I ma g e m 3 1 : A p r es e n ça d e mor a d o r e s d e ru a n o t e r r e n o é b a s ta n te s i g n i f i ca t i v a , mas e l a a con t e ce com g r a n d e r o t a t i vi d a d e e i r r e g u l a r i d a d e . Re g i s tro e m 1 7 / 1 2/ 1 4 .
Outro dado de projeto é a existência de tubulações
de transporte de águas pluviais sob às escadas e numa faixa imediatamente lateral à ela. Sua existência foi Imagem 32: A presen ç a de c aixas de inspeçã o em alguns patamare s d a esc adaria demonstra m a exist ência de t ubulações de t r ansporte de águas pluviais para o Rio Sar ac ura sob a Av. 9 de Julho.
constatada a partir da presença de caixas de inspeção de águas pluviais em alguns patamares da escada, assim como na faixa de lateral, e, somadas à percepção sonora do deslocamento da água em alguns trechos, pode-se aferir que a tubulação tanto existe como é utilizada.
Segundo Arnaldo de Melo, arquiteto e urbanista
pela FAU-USP, o qual realizou uma pesquisa histórica, podem haver remanescentes arqueológicos no Parque Imagem 33: M uro loc aliza do na lateral do Par que Augusta c om a Rua Augusta, nas pr oximidades do t er r eno. Fonte: < http : // sao-pau lo.estadao.com. br / blogs/edison-veiga/ ar queol ogia- ameaca pr edios - e- parque- na august a/> . Acesso e m 2 0 / 0 5 / 15.
Augusta relacionados ao transporte de água da parte alta da cidade (Avenida Paulista) para o Rio Saracura (atualmente canalizado sob a Avenida 9 de Julho).
Até o presente momento não foram realizados
escavações ou outro tipo de investigação sobre o dado arqueológico. Contudo, se as suspeitas arqueológicas forem confirmadas, tanto a escadaria quanto as tubulações poderiam fazer parte desta descoberta arqueológica no Parque Augusta.
72
Assim, as considerações sobre a conexão de
transporte de águas pluviais, ainda que especulativas e
também
sem
dados
oficiais,
reafirmaram
a
necessidade da preservação tanto das escadas como da faixa lateral à ela.
Um terceiro dado é a topografia muito acentuada
do terreno. Há um desnível vertical de mais de 15m vencidos pela escadaria, o que configura uma inclinação média no terreno de mais de 30%. Assim, grande parte do terreno é inutilizável justamente pela dificuldade de acesso.
I ma g e m 3 4 : N o b o rd a i n f e r i or d o t e r r e no, n a ú n i ca p or çã o a ce s s í ve l d a t op o g r a f i a , e xi s te m e q u i p a me n t os d e g i n á s t i ca i n s t a l ad os p e l o P o d e r P ú b l i co. No entanto, sua i mp l a n t a çã o é b a s ta n te p r e cá r i a e s e g u n d o a s vi s i t a s r e a l i z ad a s , e l e s e mo s t r o u pou co u t i l i z a d o. R e g i s tro e m 1 7 / 1 2/ 1 4 .
Junto à isso, há a presença de alguma vegetação
no terreno, tanto de gramíneas como árvores de médio porte. No entanto, nas sucessivas visitas foram notadas modificações, tanto da poda de árvores como da plantação de novas. Com a recente construção de grandes edifícios em terrenos adjascentes, é provável que a vegetação tenha sofrido com a redução da quantidade de luz recebida.
73
I ma g e m 3 5: A ve g e ta çã o n o i n t e r i or d o t e rre n o con s i s t e e m á r vo re s d e p or t e p e q u e n o a mé d i o. E l a s cr i a m u m a mb i e n te d e s o mb r a , m a s a ca b a m p or i s ol a r a e s cad a ri a d o r e s t a n t e d o t e rre n o. R e g i s t r o e m 1 7 / 1 2/1 4.
Aparentemente, a própria vizinhança intervém
constantemente no terreno, plantando árvores e outros vegetais de maneira informal e não concordante, não havendo um projeto paisagístico específico para a Imagem 36: Vista para o t er r eno a partir da R ua Cai o Prado, o qu a l desapa rece devido à sua gr a nde inclinação. R egist r o em 18/11/14.
área. No entanto, essas iniciativas de intervenção caracterizam uma vontade coletiva de melhorias no terreno que parte da própria população e não do Estado.
As demais intervenções gráficas, artísticas ou
não, juntamente com diversos relatos de assaltos nas escadarias, demonstram um certo “abandono” do terreno pelo poder público. Essas intervenções também caracterizam a apropriação de grupos heterogêneos sobre o terreno, os quais não necessariamente residem na vizinhança. Imagem 37: Alguns edif íc ios de grande por t e, como o c omple xo residencia l Ca’d’O r o, construídos r ec ent emente, se dest ac am sobre os out r os e se tornam mar c os na paisagem. R egist r o em 18/11/14.
Abaixo,
encontram-se
cartografias
contendo
dados de localização, de transporte público e vias do entorno, de levantamento de equipamentos da região e das condições topográficas.
Algumas decisões importantes para o projeto
foram realizadas a partir dessas cartografias. A região é suficientemente servida por transporte público,
74
estando a poucos metros de uma Estação de Ônibus na Avenida 9 de Julho, o que dispensa a existência de garagem no edifício; a vegetação no interior do terreno será retirada pois não configura uma massa vegetativa de porte significativo e inviabilizaria a presença de um edifício no próprio terreno; o programa do edifício será aos
pensado
também
equipamentos
como
culturais
e
um
complemento
educacionais
da
I ma g e m 3 8 : L oca l i za çã o d a R e g i ã o C e n t r al n o M u n i cí p i o d e S ã o P a u l o . A u t or i a p r óp r i a .
região, presentes em grande número e com grande heterogeneidade.
I ma g e m 3 9 : A mp l i ca çã o d a R e g i ã o C e n t r al d o M u n i cí p i o mos t r an d o a l oca l i z a çã o d o t e rre n o n a d i vi s a d os d i s tri to s d a C o n s ol a çã o e B e l a V i s t a . A u t or i a p r óp ri a .
75
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Entorno imediato do terreno. Autoria própria. RUA LUÍZ E RRIO VE
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Educação e cultura. Fonte: CESAD e Mapa Colaborativo Cultural. Autoria própria.
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N . How t o M a k e A l mos t A n y t h i n g . P . 4 3 .
Atualmente, estamos presenciando um grande
movimento em direção à materialização da informação digital66 66 D o
que
envolve
inúmeras
áreas,
incluindo
i n gl ês , M a t e r i a l i z i n g I n f or ma t i on é o t í t u l o d o a r t i g o d e M att
inovações recentes em computação, hardware de R a t t o e R ob e r t R e e e s cr i t o e m 20 1 2.
código-aberto e fabricação digital, em convergência com os avanços das redes sociais e comunidades online.
As novas tecnologias de fabricação estão cada vez
mais presentes nos processos de “Do It Yourself - DIY”, particularmente no nível do indivíduo e das pequenas organizações. As tecnologias como as fresadoras CNC (computer numerically controlled), as cortadoras à laser e as impressoras 3D, antes um domínio exclusivo da grande indústria, estão tomando outras dimensões e migrando da fábrica para a mesa de trabalho.
84
Diversas publicações em periódicos importantes
no mundo trazem um grande entusiasmo com as tecnologias de fabricação digital por adição de camadas - as famosas impressoras 3D -, e esse entusiasmo tem alcançado inclusive um nível revolucionário, em que se acredita que o acesso universal à essa tecnologia pode trazer mudanças estruturais na sociedade.
Neil Gershenfeld, professor do Massachusetts
Institute of Technology (M.I.T.) compara a história das Impressoras 3D com a do Computador Pessoal, as quais aos poucos vêm se tornando acessíveis à uma escala doméstica. Nos anos 1980, surgem as primeiras tecnologias de prototipagem rápida de companhias como 3d Systems, Stratasys, Epilog Laser, e Universal, e diferentemente das anteriores que custavam centenas de milhares de dólares americanos, estas custavam dezenas de milhares e se tornaram mais acessíveis a pequenos grupos de pessoas, como para pesquisa nas universidades.
85
I ma g e m 4 0: O a r t i g o “ M a k i n g I t ” , p u b l i ca d o p e l o N e w Y or k e r e m 201 4 , t r a z u m b r eve p a n o r a m a h i s t óri co d o M ovi me n t o Ma k e r, a s s oci a n d o - o à cu l t u r a d o “ A r t s a n d C r a f s ” n a A mé r i ca d o N or t e . Fo n t e : < h ttp :// ww w. n e wy o r k e r . com/ ma g a z i n e / 201 4 / 01 /1 3 / ma k i n g - i t - 2> . A ce s s o e m 1 5/ 08 / 1 4 .
Atualmente, a nova geração de impressoras
3D que está em desenvolvimento, como a RepRap, MakerBot, Ultimaker, entre outras, atingiram uma escala doméstica. Algumas possuem um caráter “hobbístico”, em que os próprios usuários recebem as peças e são responsáveis pela montagem (ou ainda imprimem as peças com outra impressora 3D) podendo custar centenas de dólares americanos. As outras, vendidas como um produto finalizado, podem ser encontradas por poucos milhares de dólares, e I magem 41: O d esenvolvimento d o pr ot ótipo das i mpr essoras 3D M aker B ot começou como um projeto colaborativo em s it es r epositórios de a r quivos online, como o Git H ub . Sua históri a s e assemelha à do d esenvolvimento do computador pessoal de d éc ada s atrás. Fonte : < ht t p:/ /en.wikipedia . or g/ wiki/3D_printing > . A c esso em 27/02/15.
neste momento são as mais preparadas para atingir o usuário comum.
Do ponto de vista sócio-tecnológico, é previsível
que
em
pouco
tempo
tenhamos
uma
grande
disseminação das tecnologias de fabricação digital como se deu com a computação pessoal e com as impressoras 2D. Tal como na computação pessoal, em que a maioria das funções dos computadores usadas até hoje foram desenvolvidas há décadas antes do acesso universal, Gershenfeld afirma que,
86
“[...] apesar das máquinas de fabricação digital atuais ainda estarem em sua infância, elas já podem ser usadas para produzir (quase) tudo, de qualquer lugar. E isso muda 67 tudo”. 67 GERS H E N FE LD , N . H ow to M a k e A l mos t A n y t h i n g . P . 4 6 .
T r a d u çã o N os s a .
Além disso, outro ponto importante levantado
por Gershenfeld (2012) é que essa revolução é muito mais proclamada pelos observadores do que na prática. Apesar de se poder produzir muitas coisas com impressoras 3D, elas são um tanto quanto lentas e ainda limitadas em seu tamanho, e por isso nem sempre são a melhor opção para todos os tipos de trabalho, mas sim complementares à outras tecnologias de fabricação.
Portanto, Gershenfeld proclama que a verdadeira
revolução na fabricação não estaria focada em um tipo de tecnologia de manufatura digital que permitiria produzir quase tudo que imaginamos em detrimento de outras, mas sim na habilidade de transformar informação em objetos e objetos em informação, ou seja, na materialização da informação digital e viceversa.
87
4 .1 .2 O M o v im e n t o M a k e r e a F a b r ic a ç ão D ig it a l
Quando falamos em desenvolvimento tecnológico
de maneira geral, não é difícil relacionarmos a criação de novos produtos e de novas tecnologias aos grandes centros de pesquisa públicos e privados ou a espaços com grandes aportes financeiros, vindos de financiamento governamental ou de grandes corporações.
No
entanto,
a
migração
das
tecnologias
de fabricação digital da escala industrial para a escala doméstica não é apenas um resultado do desenvolvimento de produto, marketing e interesses das grandes corporações para alcançarem um mercado mais amplo. De fato, os maiores avanços na adoção dessas tecnologias têm partido principalmente da subcultura Maker, justamente a partir da apropriação de tecnologias de hardware e da experimentação com dispositivos feitos por eles mesmo (RATTO e REE, 2012).
88
Os Makers, que há algum tempo vêm ganhado notória visibilidade, são também conhecidos por modos de engajamento como o hacking e o Faça-VocêMesmo. Este grupo tem direcionado sua atenção para os aspectos físicos da cultura digital, apropriando-se do hardware e experimentando em dispositivos feitos por eles mesmos como uma alternativa à versão comercial dos produtos. “A combinação de tutoriais online, o acesso a componentes eletrônicos e as novas tecnologias de fabricação tornam possível o design, o desenvolvimento e a manufatura de uma variedade de artefatos físicos tanto funcionais e/ou objetos decorativos, dispositivos interativos e computadores customizados que anteriormente necessitavam de investimentos e equipamentos de 68 produção em larga escala.” 68 RATTO,
Os
M. RE E , R. Ma te ri a l i z i ng I n fo r ma t i o n . P . 2. T r a d u çã o N os s a .
espaços utilizados para a fabricação,
justamente por serem baseados no compartilhamento de
informações
Novas
digitais,
comunidades
são
virtuais
também
online
virtuais.
(RHEINGOLD,
1993) e os fóruns na rede (TURNER, 2006) estão se estabelecendo e com isso tornando a fabricação digital, principalmente no caso das impressoras 3D,
89
I ma g e m 4 2: W e b s i te s como o T h i n g i ve rs e f u n ci on a m como r e p os i t ór i os d e mod e l os d i g i t a i s p a r a cor te a l a s e r ou i mp r e s sã o 3 D. E xi s t e m d i ve rs a s ca t e g or i a s como a r t e , e xp e r i me n t a çã o t é cn i ca e f or ma l . Mu i tos d e s s e s o b j e t os sã o p e r s on a l i z a d o s e p or isso inexistentes no me r ca d o d e p r o du çã o i n d u s t r i a l . Fon t e: < h t t p : / / www. t h i n gi ve rs e . com/ e xp l or e / p opu l a r>. A ce s s o e m 03 / 03/1 5.
mais acessível, simplificada, interativa e com um viés de empreendedorismo.
Websites como o Shapeways (shapeways.com) e
o Ponoko (ponoko.com) são um híbrido de rede social com oficina mecânica online que “[...] agregam milhares de Makers ao redor do mundo para compartilhar uma versão virtual de um estúdio coletivo ou uma oficina, uma tipologia familiar dentro da história 69 social do artesanato, arte e design” , 69 I b i d . P . 6 . T r a d u çã o N os s a . Imagem 43: Eventos c omo a M akerM ilan ajudam a difundir e at r air novos int er ess ados ao DIY. Nest e caso, mobiliári os ant igos foram hackeados e materiai s enc ont rados no loca l ser vir am de base para a mat erialização das ideias e apropriação do espaç o públi co. Fonte : < ht t p:/ / www.platoon.org/ r epor t / review- milan maker la b- 2011> . Ace s s o em 0 2 / 03/15.
de onde se pode criar e compartilhar conhecimento coletivamente, utilizando ainda o espaço virtual como um repositório de arquivos de objetos 3D tanto para venda como gratuitamente.
A existência de espaços físicos e/ou virtuais
que permitem o engajamento por meio do ato de “fazer” diretamente está abrindo novas oportunidades para o empoderamento do cidadão comum. O ato de receber e disseminar informações e recursos digitalmente também implica num engajamento muito mais coletivo do que individual, na medida em que o compartilhamento gera uma construção coletiva e acessível do conhecimento.
90
Para os autores Ratto e Ree (2012), atividades de
fabricação digital tais como criar dispositivos próprios, gerar formas de conexão para sistemas e estruturas, expressões estéticas e até mesmo a produção de brinquedos próprios podem significar formas alternativas de engajamento cívico, parecidas com formas políticas mais explícitas tais como o protesto e o voto.
I ma g e m 4 4 : Fr e s a d ora CNC dentro do A ms t e r d a m F a b L a b n o T h e W a a g S oci e t y . Fo n te : < h t t p : / / e n . wi k i p e d i a . or g / wi k i / W i k i > . Ace s s o e m 1 º / 1 2/ 1 4 .
“O espaço físico e os objetos são expressões de sua própria realização e em última instância manifestações de ideologias, de modo que o ato de criar alternativas ou representações físicas personalizadas dessas coisas é se envolver com essas ideologias, conscientemente ou 70 não.” 70 I b i d . P . 1 1 . T r a d u çã o N os s a .
Assim, embora essas formas de engajamento
ideológico já estejam estabelecidas nos campos das artes, arquitetura e design, e também dentro das comunidades Makers autoconscientes, “[...] os novos espaços de expressão e compartilhamento oferecidos pela fabricação digital doméstica estão ajudando a expandir as oportunidades de formas materiais de engajamento cívico para a população em 71 geral”. 71 I b i d . T r a d u çã o N os s a .
91
I ma g e m 4 5: I mp r e s s ora 3D no FAB LAB na Un i ve r s i d a d e d a Nova Z e l â n d i a . F on t e : <h ttp :// ww w. ma s s e y . a c. n z/ ma s s e y / a b ou t - ma s s e y / n e ws / > . A ce s s o em 1 º / 1 2/ 1 4 .
4 .1 .3 A c r ia ç ã o d o s F A B L A B s
Em 2001, Neil Gershenfeld deu início ao curso
“How to make almost anything” no M.I.T. para explorar a computação pessoal e a fabricação digital. Notou-se então que os estudantes participantes tinham grande interesse em desenvolver seus projetos produzindo “coisas”, e que estes passaram a perguntarem-se I magem 46: O mapa a c ima ilustra a difus ão d os F AB LABs ao redo r d o mundo. Eles não s ão os únic os laboratórios d e f abr i cação digita l e xist entes, porém for mam a rede da comuni dade FAB L AB que a t ualmente tem mais d e 30 0 laboratórios e m todos os continentes . Font e: < http://www. fabf oundation.org/ fab-lab s/> . Acesso em 17/ 0 4 / 15.
“para que tipo de coisas a fabricação digital é boa?”.
A partir desse primeiro experimento, em 2003
criou-se um Laboratório no Center for Bits and Atoms com um Kit de equipamentos ao custo de U$50.000, incluindo máquinas de corte à laser, uma impressora 3D e fresadoras CNC pequena e grande, além de componentes para criação e moldagem para a produção de eletrônicos. Esse espaço passou a ser chamado de “fab lab” (de fabrication lab ou laboratório de fabricação), com a intenção de desenvolver novos usos e usuários para as máquinas.
Desde então vários fab labs vêm sendo abertos
no mundo todo, os quais
92
“[...] formam parte de um grande Movimento Maker de Faça-Você-Mesmo hightechs, os quais estão democratizando o acesso aos meios modernos de produzir 72 coisas”. 72 GE RS H E N FE LD , N . H ow to M a k e A l mos t A n y t h i n g . P . 4 8 . T r a d u çã o N os s a .
A ideia por trás desses espaços, apesar de
espalhados pelo mundo, é o compartilhamento de informações e inclusive a colaboração em projetos formando uma rede. Um dos primeiros projetos em rede realizados nos laboratórios, tal qual relatado por Gershenfeld, foi a fabricação de antenas, rádios e terminais de Wi-Fi. Ele foi iniciado no laboratório
I ma g e m 4 7 : O K i t B á s i co d os F A B L A B s i n cl u i a l g u ma s m á q u i n a s , como cor t a d or a s a l a s e r e i mp r e s s ora s 3 D , a l é m d e e q u i p a me n tos como comp u t a d ore s , e l e t r ôn i cos e f e r r a me n t a s . N o e n t a n t o, p a r a que projetos e i n ova çõe s p os s a m s e r d e s e n v ol vi d os , o ma i s i mp o r t a n te é o e n g a j a me n t o d a comu n i d a d e l ocal com os l a b o r a t ó r i os . Fon te : i ma g e m e l a b o r a da p or He l oí s a N e v e s .
93
em Boston, o design foi aperfeiçoado no fab lab da Noruega, foi então testado na África do Sul, implantado no laboratório no Afeganistão e posteriormente inserido em uma base comercial autossustentável no Quênia. “Nenhum destes locais tinham a massa crítica de conhecimento para projetar e produzir as redes por conta própria. Mas através do compartilhamento de arquivos de design e produção de componentes localmente, eles puderam fazê-lo juntos. A capacidade de enviar dados por todo o mundo e com isso produzir localmente produtos sob demanda tem implicações revolucionárias para a 73 indústria.” 73 I b i d . T r a d u çã o N os s a .
4 .1 .4 O C O N C E I T O D E C O L A B O R A Ç Ã O
O termo wiki, cunhado pelo programador Ward
Cunningham (1949-), tem a seguinte definição pelo Dicionário Oxford: “é um website que permite a edição colaborativa do seu conteúdo e estrutura pelos seus usuários”. O primeiro website wiki foi criado em 1995 pelo próprio Cunningham74 para ser o repositório de 74 Fonte
e we b s i t e : < h t t p : / / www. wi k i . o r g / > . A ce s s o e m 1 4 / 1 0/1 4.
arquivos da empresa onde ele trabalhava na época; entre as maiores plataformas wiki figuram websites
94
como
WikiWikiWeb,
Memory
Alpha,
Wikivoyage,
Susning.nu e Wikipedia, sendo esta última a maior de todas e entre os 10 websites mais acessados no mundo.75 75 Fonte:
< h ttp: //ww w. a l exa . c om/t op s i t e s > . A ce s s o e m 1 4 / 1 0/ 1 4 .
“Como todos os conceitos simples, a “edição aberta” tem profundos e sutis efeitos no uso do wiki. Permitir que diariamente usuários criem e editem qualquer página dentro de um website é animador, encoraja o uso democrático da Web e promove a produção de 76 conhecimento por usuários comuns.” 76 Fonte: < htt p : //ww w. wi ki . org/> T raduçã o N os s a . A ce s s o e m 1 4 / 1 0/ 1 4 .
Outro termo de grande relevância é o conceito
de open-source (do inglês, ou “código aberto” em português), que foi criado em 1998 na Califórnia, EUA, e referia-se aos open-source softwares (softwares de código aberto). Estes seriam, segundo a definição da organização Open Source Iniciative (OSI): “Open source software is software that can be freely used,
changed, and shared (in modified or unmodified form) by anyone. Open source software is made by many people, and distributed under licenses that comply with the Open 77 Source Definition.”
77 Fonte:
< http: //op ens ou rc e. org/ h i s t o r y > . A ce s s o e m 1 4 / 1 0/ 1 4 .
Esse conceito foi posteriormente ampliado e
inserido na definição FLOSS, que agregava o Movimento do Código Aberto ao Movimento do Software Livre,
95
tratando muito mais do novo modo de produção e visão social em torno do software do que do código em si: “Free/Libre, Open Source Software (FLOSS) exemplifies
both a new model of production and a social vision, building on the emancipatory potential of non-hierarchical and egalitarian production where individuals and collectives can access, modify and distribute the technologies they 78 utilize.”
78 VARD O U LI ,
T . B UE C HL E Y , L . Op e n S ou r ce A r ch i t e ct u r e : a n E xp l or a t i on of S ou r ce C o d e a n d A cce s s i n A r ch i t e ct u r a l De s i g n . P . 5 3 .
Mesmo quando se trata de um software open-
source, em que o código-fonte é disponibilizado, não há nenhuma diferença técnica do software, pois o código é basicamente o mesmo. No entanto, no âmbito social, acontece uma grande transformação nas relações de produção, distribuição e uso do software. Por agregar esse valor de visão social e modo de produção ao seu significado, o termo open-source passou a ser utilizado em diversas outras áreas, e segundo o cientista social Dave Bradley, ganhou um sentido simbólico.
Seu significado na maioria das vezes ao invés
de ser literalmente “código aberto”, passou a sugerir outros termos como “organização horizontal, inclusiva e participativa para o design e a produção de alguma coisa” (2005, Dave Bradley). E finalmente, quando o
96
termo “open-source” passou a ser amplamente usado em outras atividades, governamentais, educacionais ou na ciência em geral, não mais relacionadas à
softwares, ele perde completamente o sentido literal e passa a significar “participativo”.79 79 STALLM AN,
R. Why O p en S o urc e mi s s e s t h e p oi n t of Fr e e S of t w a r e .
4 . 2 O P R O G R A M A D E A TI V I D A D E S
O
programa
de
atividades
surge
atrelado
diretamente ao lugar sobre o qual o edifício é pensado. O diagrama dos Lugares Simbólicos Físicos e Virtuais, desenvolvido no capítulo 3 sobre o Contexto Territorial, é portanto fundamental para o entendimento da “vocação” do terreno escolhido.
É a partir do levantamento das redes virtuais
colaborativas relacionadas à apropriação do espaço público
que
são
propostas
algumas
questões
relevantes para o projeto arquitetônico. Assim, em que medida a arquitetura seria capaz de promover a colaboração entre os usuários de um espaço? Seria
97
possível potencializar as relações humanas por meio das relações dos espaços do programa?
Então, essas questões foram um objeto de
investigação projetual as quais conduziram o projeto por um processo metodológico experimental. Nesse processo, procurou-se criar o menor número de determinações a priori, tais quais a forma dos espaços, sistemas construtivos, a materialidade do edifício I magem 48: O Softwa re Rhinoc eros juntamen te com o plugin de par ame trização Gr asshopper most r aram-se muito vant ajosos para a visualização da c omplexidade dos espaç os do projeto. A par t ir das superfícies das ár eas do Programa, f oi desenvolvido um D iagr ama Paramétric o que permitiu visuali z a r as r elações entre os espaç os do programa e a par tir delas prop or modif icações projet u ai s e a def i nição do cará te r t ant o dos espaços d o pr ogr ama quanto das c onexõe s entre esse s espaç os. Registro em 15 / 05/15. Autoria pr ópr ia.
e inclusive o próprio programa, justamente para que o processo pudesse ser de fato experimental e que pudesse tratar de responder projetualmente às questões levantadas.
98
Durante
esse
processo
também
foram
consideradas as ferramentas projetuais disponíveis, principalmente em relação aos Softwares utilizados para o projeto arquitetônico, como o Autodesk AutoCAD 2D, o Google SketchUp e o Rhinoceros. De maneira geral, procurou-se evitar que as ferramentas projetuais se constituissem como limitantes para o desenvolvimento do projeto, mas sim que elas deveriam funcionar como ferramentas de visualização e síntese gráfica que pudessem abordar toda a complexidade presente no projeto.
Para
tanto,
entendendo-se
a
necessidade
da visualização da complexidade no processo de projeto, desenvolveu-se a elaboração de diagramas espaciais programáticos, os quais são entendidos como visualizações gráficas de informação complexa. É a partir dessas visualizações, que externalizam as relações dos espaços do projeto, que se pensa o próprio projeto.
99
I ma g e m 4 9 : O Di a g r a ma P a r a mé tri co P r og r a má t i co p os s u i d oi s t i p o s d e e l e me n to s : as esferas e as con e xõ e s t u b u l are s . A s e s f e r a s r e p r e s e nta m o s e s p a ços d o p r og ra ma e seu tamanho é p r op o r ci on a l à á re a d os e s p a ços . A s con exõe s l i g a m d oi s e s p a ç o s d i f e r e n t e s d o p r o g ra ma e s u a e s p e s s u r a é u ma p on d e r a çã o e n t r e o vol u me d a s e s f e ra s . A p a r t i r d i s s o, p od e s e d e f i n i r com mu i ta p r e ci s ã o o ca r á t e r d e ca d a e s p a ço e d e ca d a con e xã o d e a cord o com s u a i mp o r t ân ci a . A l g u ma s con e xões s ã o o p r óp r i o a ces s o a o e d i f í ci o, ou t r a s con e xõ e s s ã o f e i ta s p or e s ca d a s , r a mp a s, o u e l e va d o r . Os e s pa ços com ma i s con e xõ e s s ã o t a mb é m ma is p r op í ci os a o e n c o n tro e a a t i vi d a d e s col eti va s . R e g i s t r o e m 1 5/ 0 5/1 5. A u t or i a p r óp r i a .
Portanto, elas não representam um diagrama
de um projeto finalizado, mas sim fazem parte de um processo de decisões projetuais, com o qual se pretende definir precisamente o programa de atividades e entender todas relações do edifício, especificandose a partir disso o caráter de cada espaço e de cada conexão. Essa precisão serve de parâmetro para a posterior qualificação dos espaços de maneira que suas potencialidades sejam de fato alcançadas e que as relações entre os espaços sejas o mais próximo possível das desejadas. Imagem 50: O edif íc io, pensado t r idimensionalmente em t odas as etapas, r equer i u também que seu espaço interno f osse pensado t r idimensionalmente . A exemp lo do espaço do labo ratório de f abr ic ação digital, que t em o seus espaç os distribuídos c ont inuamente por uma r ampa ascendente, não é possív el pensar um leiaut e tridimensional c om f erramentas par a duas dimensõe s . R egist r o em 21/05/15. Aut or ia própria.
Além
disso,
outra
questão
em
relação
às
condicionantes dos Softwares e da visualização do projeto perpassou este trabalho. Geralmente o projeto de arquitetura no Brasil, apesar de lidar com instâncias tridimensionais que são os edifícios, tem na bidimensionalidade a visualização mais importante para a tomada de decisões sobre o próprio projeto.
Partindo-se deste fato, no caso deste projeto
inicialmente também tentou-se solucionar algumas questões
partindo-se
100
da
bidimensionalidade.
No
entanto, a definição do leiaute dos espaços, os quais foram pensados a partir dos diagramas espaciais e modelos tridimensionais, se mostrou incompatível com esse espaço tridimensional.
Então, todo esse processo de investigação
conduzido
pelas
relações
colaborativas
e
pela
visualização das informações projetuais foi crucial para o desenvolvimento do programa do edifício como espacialmente contínuo e sequencialmente complementar. O edifício, portanto, é a materialização espacial das relações programáticas conforme os diagramas abaixo:
101
I ma g e m 51 : I n i ci a l me n t e , t e ntou s e d e f i n i r o l e i a ute d os e s p a ços a p a rti r d e vi s u a l i z a çõe s b i d i me n s i on a i s r e a l i z a d a s n o S oftwa re A u t oC A D 2D. E s s a vi s u a l i z a çã o, p or con te r a p e n a s d u a s d i me n s õe s d e i n f or ma çã o, n ã o con s i d e r a a t e r ce i ra d i me n s ã o . P or i ss o, q u a n d o s e t r a n s la d a a s i n f or ma çõe s b i d i me n s i on a i s pa ra o mod e l o t r i d i me n s i on a l n ova me n t e , p e r ce b e se que essa falta d a i n f or ma çã o g e ra i n comp a t i b i l i d a d e s n o p r o j e t o d os e s p a ços i n t e r i ore s d o e d i f í ci o p e n s ad o t r i d i me n s i on a l me n te . R e g i s t r o e m 1 5/ 0 5/1 5. A u t or i a p r óp r i a .
60m2
Rua Frei Caneca Rua Caio Prado
300m2 Praça/Cobertura 600m2 Auditório/exposição
Café Digital Espaço Flutuante Patamares da Escada Fábrica
Rua Avanhandava
Patamares da Rampa-escada
Rua Avanhandava
102
Rua Frei Caneca Rua Caio Prado
Patamares da Escada
Patamares da Rampa-escada Rua Avanhandava
Diagrama do Progama de Atividades e das relaรงoes programรกtica. Autoria prรณpria.
103
Cota 759 a 763 - Cobertura Praça/Cobertura 538m2 Área Externa Área Interna
Cota 757.5 a 759 - Difusão
309m2
Auditório
Acesso / Exposição Sanitários
Cota 754.5 a 757.5 - Encontro 124m2
Espaços de estudo Encontro - pequenos grupos
Cota 753 a 754.5 - Café Digital Biblioteca: conteúdo físico e digital 234m2
Espaços de estar/leitura Café
Cota 747 a 750 - Laboratório Sala de Conferências Administração Recepção Arquibancada 694m2
Sanitários e Vestiário Marcenaria Fabricação Digital Depósito de Materiais Acesso de Serviços
104
CENTRO_SP
Compartilhar
Diagrama do Progama de Atividades detalhado e conceito do CENTRO_SP. Autoria pr贸pria.
Fazer
105
Dessa forma, o programa foi entendido como
dois blocos complementares: o Fazer e o Compartilhar. O Fazer abrigaria todas as atividades relacionadas à fabricação, ou seja, seria o espaço para a Materialização da Informação Digital e a produção de soluções para as demandas criadas pelos indivíduos e coletivos. O Compartilhar, por outro lado, é o espaço de atração, da heterogeneidade, da discussão e do conflito, que baseado na coletividade e na apropriação do espaço, cria demandas que não poderiam existir em espaços mais individuais e burocráticos.
Assim,
o
conjunto
complementar
do
Fazer
e do Compartilhar formam o conceito do edifício desenvolvido neste trabalho: o Centro de Fabricação Digital Comunitário no Centro de São Paulo, ou o
CENTRO_Sp, é um conceito que relaciona todas as questões abordadas nos capítulos anteriores e que procura respondê-las a partir de uma abordagem projetual metodológica experimental, utilizando os diagramas espaciais programáticos para pensar o próprio projeto.
106
5 O P RO J E T O A R Q U I T E T Ô N I C O : E S T U D O P RE LI MI N A R
Juntamente com a definição programática foram
pensadas as relações espaciais do edifício, tanto as relações entre os espaços do programa quanto destes com o espaço público.
Os diversos acessos e fluxos permitem a grande
quantidade de conexões entre os espaços internos e externos. Isso também permite que o funcionamento dos espaços do edifício possa acontecer de forma independente, ou seja, cada espaço pode ter um horário de funcionamento mais adequado ao seu uso.
A sobreposição da circulação interna do edifício
com a circulação do espaço público gera uma constante interferência, a qual é entendida como atração e complementariedade. As atividades do espaço interno e externo são mutuamente influenciadas e os limites entre os espaços são tênues e fluidos.
107
Rua Frei Caneca 60m2
Rua Caio Prado
300m2
Cota 759 Zona de acesso ao Auditório: Área de Exposições
600m2
Cota 754.5 Acesso Café Digital Cota 754.5 Acesso Espaço Flutuante
Patamares da Escada
Cota 753 Acesso Café Digital Cota 750 Zona de acesso ao Laboratório: Recepção Cota 747 Zona de acesso ao Laboratório: Entrada de serviços
Rua Avanhandava
Rua Avanhandava
108
Rua Frei Caneca Rua Caio Prado
Rua Avanhandava Rua Avanhandava
Diagrama dos acessos ao edif铆cio. Autoria pr贸pria.
109
Rua Frei Caneca 60m2
Rua Caio Prado
Circulação Funcional: Escadas
300m2
Circulação Funcional: Elevador Monta-cargas
600m2
CIrculação de conexão
Patamares da Escada
Circulação de acesso
Patamares da Rampa-escada Rua Avanhandava
Rua Avanhandava
110
Rua Frei Caneca Rua Caio Prado
Rua Avanhandava Rua Avanhandava
Diagrama da circulação do edifício. Autoria própria.
111
As relações espaciais com o espaço público e
da circulação do edifício podem ser visualizadas nos diagramas abaixo:
Assim, sendo o edifício um nó no espaço público
com seu emaranhado de conexões internas e externas, o CENTRO_Sp, muito mais do que um objeto hermético e estático, foi entendido como uma plataforma aberta de intervenções. Basicamente, essas intervenções são separadas em duas categorias diferentes: as realizadas para o edifício; e as intervenções produzidas no edifício para o espaço público ou para outros edifícios. As primeiras são decorrentes da apropriação dos espaços do edifício feita pelos usuários, tanto intervenções gráficas quanto construtivas; as outras são respostas Imagem 52:O projeto ac ima, desenvolvido par a o “W orkshop do s Bixos”r e alizado em Mar ç o de 2015, ilustra o sist ema de montage m c om encaixes a parti r d o c or t e da madeira com a Fr esadora CNC.
às demandas da comunidade local, a qual pode utilizar o edifício como um espaço de produção de soluções.
Então, espera-se que nos espaços do edifício
ocorram
constantemente
intervenções,
frutos
da
apropriação dos usuários e das novas necessidades de uso e qualificação do espaço. O mobiliário interno, o qual se assenta sobre a estrutura de concreto (plana
112
ou inclinada) é pensado para qualificar o espaço para os usos específicos requeridos. Explorando as questões da fabricação digital, esse mobiliário poderia ser produzido pelos próprios usuários do edifício utilizando as máquinas do laboratório para tal, como a Fresadora CNC capaz de cortar placas de madeira. Essas placas de madeira, a partir de recursos projetuais como os encaixes, podem ser transformadas em modelos tridimensionais tanto na escala do design (como cadeira, mesas, bancos e estantes) quanto da arquitetura (como arquibancadas, wikihouses e quiosques).
Além disso, enfatizando ainda mais o caráter
intervencionista do edifício, optou-se por criar uma fachada interativa, a qual está voltada diretamente para o espaço público. Ela tem por princípio ser um objeto de intervenção no qual os usuários podem desenvolver projetos de programação visual e com isso criar relações interativas entre o edifício e a cidade. Abaixo são encontrados diagramas com processuais das intervenções:
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I ma g e m 53 : O s i s te ma d e mon t a g e m p or e n ca i xe s com mad e i ra cor t a d a n a f r e s ad o ra C N C t a mb é m p o d e ser usado para a p r od u çã o n a e s ca l a a r q u i t e t ôn i ca . O p roj e to a ci ma é d e n o mi n a d o “ wi k i h ou s e ” e s eu s i s t e ma e s t r u t u ra l f u n ci on a a p a r t i r d os e n ca i xe s . F on t e : < h t t p : / / s p a ce cr a ft. co. n z / > . A ce s s o e m 03 / 03 / 1 5.
Processo de intervenções para o espaço público: Montagem coletiva da intervenção
Fabricação digital no Laboratório
Intervenção Comunidade Local
Discussão e projeto da intervenção
Demanda para a qualificação do espaço
Espaço público
Processo de intervenções para o edifício: Fabricação digital no Laboratório
Discussão e projeto da Intervenção
Grupo de Usuários
Readequação do programa do edifício
Intervenção
Espaço do edifício
114
Infraestrutura: lâmpadas interativas instaladas no edifício
Programação visual: desenvolvimento pelos usuários
Apropriação: teste de interação com a tecnologia
Exibição para a cidade: visualização da informação
Comunicação: dimensão digital da relação do espaço público com o edifício
A seguir, encontram-se os demais gráficos
projetuais,
como
Vistas,
Cortes
e
Perspectivas,
construídos com base no conceito do CENTRO_Sp:
115
I ma g e m 54 : C on c e i to d a f a ch a d a i n t e r a t i va p a ra comu n i ca çã o vi su a l d o e d i f í ci o com o e s p a ço p ú b l i co. F on t e : a u tori a p r óp r i a .
B
A
C
B A C
0
2
4
10
2 0m
Vista Superior Renderizada. Escala 1:500.
116
0
1
2
5
1 0m
Corte AA - Transversal. Escala 1:250.
117
0
1
2
5
1 0m
Corte BB - Longitudinal. Escala 1:250.
0
1
2
5
1 0m
Corte CC - Longitudinal. Escala 1:250.
Perspectiva Digital do Espaรงo Flutuante
123
Perspectiva Digital da Praรงa-Cobertura
124
Perspectiva a partir da Rua Frei Caneca
125
Perspectiva Digital do Laboratório Colaboração: Bráullio Nunes
126
Perspectiva Digital do Café Digital Colaboração: Bráullio Nunes
127
128
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