Psicologia infantil

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OSÉ FAUST1NO DE ALBUQUEQUE F

PSICOLOGIA

INFANTIL R

e f l e t id a n a

V id a A d u l t a

APRENDA A FORMAR UM CARÁTER SAUDÁVEL NA CRIANÇA PARA QUE ELA SEJA UM ADULTO FELIZ!



Psicologia Infantil

Refletida na Vida Adulta



Professor JosĂŠ Faustino de Albuquerque Filho


P sicologia In fa n til

índice Agradecimentos.........................................................................7 S um ário.................................................................................... 8 Dedicatória as crianças..........................................................10 R eflexão...................................................................................12 Introdução............................................................................... 14 O desenvolvimento da consciência da crian ça.................. 17 Por que é preciso dizer não? Na geração passada tudo era permitido..................................................................................22 Os pais devem orientar e proteger........................................ 30 T estes....................................................................................... 33 Entrevista: crescer através do brincar.................................35 É brincando que se aprende.................................................... 37 Brincar evita comportamentos agressivos na adolescência 39 Tarefas mais importantes; como os pais podem ajudar? ... 41 Pais tempo para os filhos é necessário................................. 46 Por que as crianças pedem para os adultos que repita sempre a mesma história.....................................................................48 Eu e João por Dr.a Beatriz Botelho...................................... 52 Como surge o ciúme entre irm ãos?....................................55 Agressividade, infantil o que fa z er? ...................................57 As doenças da alma................................................................ 58 A sexualidade infantil. A descoberta de novas sensações.. 60 O bebê acostumou dormir com os pais. E agora?............. 62 Estimule a independência do seu filho.................................63


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A vila das crianças........................................... .........................64 Viagem com o bebê...................................................................66 Além de presentear, os pais devem interagir.........................68 Animais de estimação estimulam a responsabilidade......... 70 Mediação

familiar auxilia o casal a

entender melhor a

separação..................................................................................... 71 A separação dos pais: a sinceridade ajuda a criança............. 72 Pais separados: como falar sobre outro relacionamento com a criança...................................................................................... 73 A mãe solteira deve falar sobre o pai para a crian ça?......... 75 Mãe solteira: como se preparar

para

enfrentar

este

desafio?....................................................................................... 76 Como a criança imagina ser a m orte?................................... 77 Como contar a uma criança que

um

parente próximo

faleceu?...................................................................................... 79 Crianças agressivas................................................................... 80 Picos de agressividade...............................................................82 Lidando com a crise...................................................................84 Solução em família....................................................................86 Sinais de alerta........................................................................... 87 Concepção psicanalítica da crença e do brincar.................. 88 A criança das teorias X a criança real.....................................89 A criança interpretada pelos adultos........................................93 A criança na concepção psicanalítica Freudiana....................97 A criança na concepção psicanalítica Lacaniana....................102 Delinqüência juvenil................................................................ 107


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A Família como agência do desenvolvimento infantil...... 132 Função da mãe...................................................................... 134 Função do pai......................................................................... 135 A integração conjugal............................................................ 136 A palavra como elemento educativo.................................. 138 A Família como agência sociabilizadora............................. 140 Autoridade dos pais............................................................... 143 Lidando com os limites.............................................................145 Psicologia infantil: conclusão............................................... 151 Bibliografia............................................................................ 154 A utor...................................................................................... 156 Outras obras do autor........................................................... 158


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AGRADECIM ENTOS

Agradeço a Deus pelo dom inefável da existência e nela a oportunidade de organizar esse livro; como um a pequena contribuição à educação e ao desenvolvimento da criança! AAndréia Abbud, que pacientemente digitou meus rascunhos, que às vezes exigiam uma “tradução”. E também pela elaboração da capa que Deus a recompense por sua grande contribuição. A Simone Mendes Cordeiro secretária dedicada, que finalizou a digitação e auxiliou-me na correção dos originais, o que veio a viabilizar a publicação desse texto. A José Faustino Albuquerque Neto, filho querido, que trouxe muitas contribuições práticas acrescentado sentido e vida às minhas pesquisas.As linhas mestras desse livro, que são frutos de uma vida de observações como professor, Pastor, Terapeuta c simplesmente ser humano. A Sandra Domingues Faustino de Albuquerque, minha esposa, que como mãe, tem me ensinando muitas coisas da psicologia infantil, no seu esmero e cuidado em atender às necessidades do José, que depende especialmente dela como mãe! Que Deus a ilumine sempre, como mãe dedicadíssima!


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Sumário

A vida é marcada desde a infância

Quando sentires desapontado (a) desamparado (a) e uma sensação im ensurável agonia e dor, busques conforto e a segurança, que precisas, pois essas reações são reflexos da infância , quando contou com o apoio certo e compreensão de que precisava ou mesmo da saudade das pessoas amadas e das coisas bonitas e maravilhosas , que somos hoje a continuação do nosso ontem, mesmo que mudemos o nosso caráter ou conjunto de virtudes ou valores interiores, que forma o nosso ser último, que de forma consciente ou inconsciente influenciam as nossas escolhas, atitudes e sentimentos. Quando criança temos esperança e um desejo forte de nos tomarmos adultos, e às vezes quando adultos temos um desejo ou saudade de ser crianças ou das coisas de crianças.Armazenamos na consciência, subconsciente e no inconsciente todas as mudanças de faixa etária, que determinam o registro vivido , através da química do cérebro , razão e emoção que despertam no nosso h u m or e reaçõ es na vida adulta. N a fo rm ação e no desenvolvimento da nossa personalidade levamos a infancia para a ad o lescên cia, a adolescência para a m atu rid ad e p ara a maturidade a maturidade para a meia idade e a meia idade para a velhice. Assim acumulamos experiências lindas e balsâmicas ou amargas e traumáticas na vida toda. Assim sendo há momento em que agimos como criança e nos sentimos tão bem e há momentos em que sofremos como adultos e nos sentimos como crianças e nos sentimos tão bem e há momentos que sofremos como adultos e nos sentimos como crianças agredidas, rejeitadas, abandonadas e recalcadas. Reprimir


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esses sentimentos é como cometer suicídio emocional, visto que a vida adulta não apaga as experiências da in fân cia e da adolescência. Essa dor, que não passa, esse grito que não sai, e essa noite que não termina. São os traumas e conflitos infantis refletidos na vida adulta!Não anule, não mate a criança, que esta dentro de você, deixe que ela brinque que riam que pule que chore que seja inocente e seja simplesmente criança! “Jesus disse, que quem não receber o Reino de Deus como criança de maneira nenhuma poderá entrar nele”. As realizações, que são sonhos primaveris, que tornar-se-ão realidade na maturidade , quando se descortina o crepúsculo da existência . A beleza de tudo isso; é que da velhice para a maturidade, da maturidade para adolescência são etapas vividas sem interrupção real. As mudanças decorrentes no ser humano vão gerando experiências, registrando traumas e virtudes sem que haja de fato interrupção no curso normal da vida, de forma que é sábio chegarmos a terceira idade e olhar para noite, que se aproxima sem perdemos de vista os dias lindos da aurora prateada, do entardecer colorido pelos raios solares e dourados, que antecedem as sublimes manhãs do amanhecer infantil.


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DEDICATÓRIA ÁS CRIANÇAS

Em plena Primavera:

Crianças, flores, que desabrocham na aurora prateada do amanhecer infantil... C rianças, jardins coloridos, que enfeitam a existência, tornando-a suportável com a pureza do seu sorriso e que nos preenchem de felicidade... Crianças, raios divinos, que tornam dourados os nossos horizontes e iluminam as nossas noites de solidão... Crianças, amigas no verão, no inverno, na plenitude da primavera e companheiras do nosso futuro... Crianças, tão frágeis, tão inocentes, tão pequeninas, mas que tendes forças de comoverdes os “brutos”, amenizardes a tristeza e a dor dos adultos. Crianças, todas crianças quão belas, que olhais a janela do alvorecer; crianças tão lindas, meninos e meninas sois rosas, sois flores, quão lindas sois vós... Crianças, crescidas, crianças maiores, beleza da vida em flor. Sois rosas, sois pétalas, sementes maduras ainda na vida um tanto imatura, sois jovens, sois lindos e belos de afável doçura... Crianças, crianças de todas as raças, de todas as cores, de todas as idades, de todos os países; tendes em comum o traço maior, o traço divino de serdes simplesmente crianças... C rianças, resto de guerras, sobras da fom e, resquícios dasepidemias e partes da brutalidade e insensatez dos adultos... Crianças saudáveis! Crianças doentes! Crianças robustas! Crianças raquíticas! C rianças esqueléticas, subnutridas, m a ltrap ilh as, mal cheirosas, lindas, puras e até perfumadas.


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Que neste dia, bilhões de olhos amigos inclinem-se para vós, que bilhões de mãos amigas estendam-se para vos socorrer. Que os pais, os educadores, as autoridades e enfim todos os adultos contribuam para que tenhais a liberdade de serdes crianças e, assim vivais livres para a vida na sua plenitude. Parabéns a todas as crianças, que neste dia tenhais a benção e a proteção de Deus, para que continueis ser a alegria que elimina a nossa tristeza, o bálsamo que torna menos aguda a nossa dor e que encham de harmonia e de risos o nosso lar. Um milhão de beijos no vosso coração puro e repleto dc esperança!


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Reflexão

A beleza da alma

A beleza da alma acalma a alma, que vive e canta. Nas pétalas aveludadas da alva, que causa uma calma na alma e chora... A alma acalma a brisa, brisa tão suave, que agora cora, mas calmo é bálsamo, que acalma a alma, que grita em silêncio, a dor inexistente, de gente, que não tem calma na alma, que branda não é, e afasta a calma que a alma não tem. Na alma, a calma da brisa suave do prado e no brado silencioso da alva, marcado nas páginas de uma história, que não foi escrita. Na calma, a alma alva, uma lembrança esquecida e um círculo no quadrado ou quadrante, uma reta na curva, um início no fim, como um fim no começo e o ponto no infinito... Tudo, que é relativo é o que não é, e a mais perfeita forma é informe e nula qualquer coisa positiva, que não seja última! Na ida, a volta, na morte a vida? Ou na vida a morte? Mas é e não é ao mesmo tempo, tudo que é mutável!


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O fim de qualquer coisa está no início dela, pois o começo do fim está no início, visto que, o que não tem início, pode nem mesmo existir, mas nunca terá fim se não começou! Na série de acontecimentos, só um milagre faz a diferença, pois ser e não ser, não é a mesma coisa, que a alma diz calma sobre o ser e o não ser, que milagrosamente quebra a série de acontecimentos, pois são dois seres, não seres, visto que, só um não é o ser, que é o não ser, enquanto um ser é o único ser, que é a quem chamamos de “O SER!”. No jogo de tudo, que não é jogo, só podemos jogar com o tempo, que descortina no túmulo revolto, que envolve e cobre o corpo, que é o corpo de Jesus! Ouvi ainda de manhã cedo, uma brisa suave, que calma, tão terapêutica e pura, que cura e embeleza a alma , que calma e bela agradece dizendo que: A brisa, serena, que passa, mas fica marcada na essência da alma, que calma, já canta a canção verdadeira, na alva prateada de luz, que aclama feliz, na esfera tingida de sangue, o manto marcado de dor. O amor demonstrado na cruz e as lágrimas enxugadas no lenço! A beleza da alma reluz na cruz enfeitada do sangue expiatório que é o sangue de Jesus!!!


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INTRODUÇÃO

Em termos pedagogia e moral a criança nos é dada mais ou menos como uma folha de papel em branco'.Compete a nos avulto escrevermos nela o que formos nela o que formos capazes de escrever. É verdade que independentemente da influencia dos pais, da escola e do meio em que a criança vive. Ela tem faculdades inatas que serão desen v o lv id as, m as ao n a sc e r só trás 30% de informações psicológicas herdadas dos pais, os outros 70% vai adquirir no meio em que vive! E é ai que entra toda a complexidade do ato educativo. Falo educativo no sentido pleno da palavra; isto é, de desenvolver as faculdades: racional, emocional, física e espiritual. Quando falamos desenvolver, imagino como a criança é moldada de algum modo de acordo coma cultura, religião, condições sociais e da educação dos pais e do ambiente em que vive! A p sican álise nos m ostra que a m aio ria dos traum as emocionais e conflitos de personalidade; tiveram suas origens da infância até a adolescência. Segundo as descobertas mais recentes no campo da psicologia, a criança, após os quatro anos de idade, já é capaz de perceber o comportamento dos pais para nortear o seu próprio comportamento! È importante alertar os pais, principalmente os evangélicos e religiosos que é difícil, verbalizar ou comunicar para a criança conceitos abstratos, como fé, amor, bondade, anjos, demônios, e Deus! E bem assim a noção de bem e mal. A criança vai assimilando o bem como o fato de não está com fome, sede, de xixi, de cocô, ou dodói, pois expressa esses sentimentos através do choro! Isto é o mal é sentir esses desconfortos e o bem é estar livre do problema causado pelo desconforto. No que tange a


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valores abstratos, que só podem ser aprendidos pela percepção, ela não tem nenhuma noção, pois além de não ter desenvolvimento mental suficiente, se orienta quase sempre por impulsos, e reflexos visto que, seus reflexos ainda não estão bem desenvolvidos. Então a melhor forma de falar do bem, do mal, do amor de fé e de Deus é viver a tal ponto, que quando ela com três anos ou, um pouco mais se preocupar e perguntar como Deus é e quem é Deus. Se ela quer saber quem é Deus e pergunta: mamãe ou papai como é Deus; a mãe e o pai possam responder filha (o) Deus é como a mamãe e como o papai, que vivem para amar você e querer bem um ao outro. E o céu é como nosso lar. E lógico, que não quero dizer que não tenhamos falhas, mas que devemos ter o melhor tipo de comportamento, convivência, e harmonia no lar. E o mal é o contrário disto; de forma que a melhor educação está não naquilo que falamos c fazemos, mas naquilo que somos e vivemos. Se a criança nos é dada por Deus como uma folha de papel em b ran co , vam os ag ir com m uita re sp o n sa b ilid a d e principalmente ao falarmos de Deus, pois pelo contrário em vez de formá-la para a igreja, a sociedade, para Deus; faremos dela uma Deformidade! Como uma criança das “FEBNS da vida” ou os jovens dos cadeiões. Alerta! Pais, educadores, pastores, governantes e a quem in teressar possa que antes de crianças e adolescentes ser agressores, eles são cruelmente agredidos! Leiam atentamente a dedicatória que faço ás crianças neste livro! Na arte de educar todos somos devedores de exemplos, que estimulem a pratica do bem do desenvolvimento dos valores, divinos, éticos, morais e familiares. Só assim chegaremos ao plano desenvolvimento da cidadania. A família é a primeira estância, educativa, na qual a criança terá oportunidade de aprender conceitos, normas e mecanismos,


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que a levem ao crescimento como pessoa e a busca da auto identidade para a plena estruturação da sua personalidade! Há, porém uma série de obstáculos para um a correta orientação familiar, visto que os valores estão sendo pervertidos! Os papeis dos pais não estão claros na formação familiar atual! Basta dizer que 30% das famílias brasileiras são chefiadas por um dos pais e como é a mãe, que normalmente fica com a guarda dos filhos, a maioria dos chefes dessas fam ílias são mulheres, que além de fazerem o papel mãe e de pai, têm dupla jornada de trabalho, visto que trabalham fora e em casa. Além de todos os problemas decorrentes pela ausência de um dos cônjuges, o fato se agrava quando ao fator limites! A figura do pai, que representa segurança, educação e provisão é quase sempre um referencial de grande significado para a criança! È muito notório que os conflitos de crianças de pais separados vão refletirem na vida adulta! Em nível de comportamento; aos quatro anos de idade a criança já é capaz de perceber o comportamento dos pais para trançar a busca e a construção do seu próprio comportamento! Quando os pais não têm uma conduta coerente com os valores preconizados ou são separados e as crianças podem ficar confusas e até perderem os pais, como referenciais. Os m ilhares de adolescentes nas FÉBENS e jovens nas cadeias não seriam resultados desses fatores?


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O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA DA CRIANÇA

A Psicanálise deu uma grande contribuição, através da associação livre para o descobrimento dos processos mentais, subjacentes ao desenvolvimento da consciência no indivíduo. Em seu trabalho de trazer à luz tendências instintivas inconscientes, Freud reconheceu também a existência daquelas forças, que servem com o defesa contra elas. De acordo com as suas constatações, que a prática psicanalítica tem confirmado em cada caso. A consciência da pessoa é um sedimento ou um representante de suas prim eiras relações com os pais. De certo modo, ela internalizou seus pais - colocou-os dentro de si mesma. Aí eles se tornam uma parte diferenciada de seu ego seu superego um setor, que apresenta, junto à parte restante do ego, certas exigências, reprim endas e adm oestações, colocando-se em oposição a seus impulsos instintivos. Freud demonstrou que o funcionamento desse superego não se limita ao psiquismo consciente, não é somente o que se entende por consciência, mas o que também exerce uma influência inconsciente e amiúde muito opressiva, que constitui importante fator tanto na doença mental como no desenvolvim ento da personalidade normal. Este novo descobrimento fez com que a investigação psicanalítica se concentrasse cada vez mais no estudo do superego e de suas origens. No decorrer de minha análise de crianças pequenas, à medida que começa obter um conhecimento direto dos fundamentos, sobre os quais seu superego foi estruturado, depararam-se certos fatos, que pareciam permitir uma ampliação, em certas direções, da teoria de Freud sobre esse assunto. Não poderia haver dúvida de que um superego estivera em pleno funcionamento, por algum


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tempo, em meus pequenos pacientes entre dois anos e nove meses e quatro anos de idade; ao passo que, de acordo com o ponto de vista aceito o superego não começaria a ser ativo, até que houvesse desaparecido o complexo edipiano isto é, aproximadamente, no quinto ano de vida. Além disso, meus dados demonstravam que este superego inicial era desmedidamente mais rigoroso e cruel que o da criança maior ou o do adulto, e que, literalm ente, esmagava o ego débil da criança pequena. (1) É verdade que no adulto encontramos em ação um superego mais severo do que o tinham sido na realidade os pais do paciente e que não é absolutamente igual a eles, em outros aspectos. Não obstante, aproxima-se deles mais ou menos. Mas na criança pequena deparasse-nos um superego de tipo o mais incrível e fantástico. E quanto mais nova for a criança, ou mais profundo o nível m ental em que penetram os, tanto mais isso acontece. Chegamos a considerar o temor da criança de ser devorada, ou cortada, ou despedaçada, ou seu terror de ser cercada e perseguida por figuras ameaçadoras, como um componente regular de sua vida mental; e sabemos que o lobo comedor de homens, o dragão, que vomita fogo e todos os monstros malignos dos mitos e dos contos de fadas florescem e exercem sua influência inconsciente na fantasia de cada criança, e que ela se sente perseguida e ameaçada por essas figuras maldosas. Mas penso que sabemos m ais do que isso. Não me resta dúvida, graças a m inhas observações analíticas, de que as identidades que se ocultam detrás dessas figuras imaginárias, aterradoras, sejam as dos pais da própria criança; nem de que, de um ou de outro modo, essas formas aterradoras reflitam as características do pai e da mãe da criança, por mais deformada e fantástica que a semelhança possa parecer. Se aceitarmos esses fatos de observações analíticas; em crianças pequenas e reconhecemos as coisas, que a criança teme, são esses monstros e feras, que intemalizou e que iguala a seus pais, seremos levados às seguintes conclusões: 1) O superego da


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criança não coincide com o quadro apresentado por seus verdadeiros pais, mas é criado de quadros imaginários, ou imagens deles, que incorporou a si; 2) Seu temor dos objetos reais - sua ansiedade fóbica - baseia-se em seu temor tanto de seu superego não realista de objetos, que são reais, em si mesmos, mas que ela vê sob uma luz fantástica sob a influência de seu superego. Isto nos leva ao problema, que se me afigura o centro em toda questão da formação do superego. Como é que a criança cria uma imagem tão fantástica de seus pais - uma imagem dc tal forma afastada da realidade? A resposta se encontrará nos fatos descobertos nas análises infantis. Ao penetrarmos nas camadas mais profundas da mente da criança e ao descobrirmos essas enorm es cargas de ansiedade - esses tem ores dc objetos imaginários e esses terrores de ser atacadas de todas as fonnas p o ssív e is - tam bém trazem os à luz um a q u an tid ad e correspondente de impulsos agressivos reprimidos e podemos observar a conexão causai entre os temores da criança e suas tendências agressivas. Em seu livro, Beyond the Pleasure-Principle (Além do Princípio do Prazer), Freud formulou uma teoria de acordo com a qual, no início da vida do organism o hum ano, o instinto agressivo,ou instinto de morte, enfrenta oposição e é contido pela libído ou instinto de vida - o Eros. Em seguida produz uma fusão dos dois instintos, que dá origem ao sadismo. A fím de evitar ser destruído por seu próprio instinto de morte, o organismo emprega sua libido narcísica, ou de autoconsideração, para expulsar aquele e dirigi-lo contra seus objetos. Freud considera este processo como o fundamento das relações sádicas da pessoa, com seus objetos. E eu acrescentaria ainda que, paralelamente a esse desvio do instinto de morte para fora, contra os objetos, se produz uma reação intrapsíquica de defesa contra a parte desse instinto que não pode ser assim exteriorizada. Porque o perigo de ser destruído por esse instinto agressivo, provoca uma excessiva tensão no ego,


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que é sentida por este como uma ansiedade, de tal modo, que se defronta, logo no início de seu desenvolvimento, com a tarefa de mobilizar a libido contra seu instinto de morte. Todavia, essa tarefa só pode ser desempenhada de forma imperfeita, visto que, devido à fusão dos dois instintos, não é possível, como sabemos, efetuar uma separação entre eles. Produz-se uma divisão no ID, ou nos planos instintivos da psique, nessa divisão uma parte dos impulsos instintivos é dirigida contra a outra. Esta medida de defesa por parte do ego, aparentemente a mais p rim itiv a , c o n stitu i, assim , a p e d ra fu n d a m e n tal do desenvolvimento do superego, cuja excessiva violência, nessa primeira etapa, ficaria assim explicada pelo fato de ser um produto de instintos destrutivos muito intensos e de encerrar, juntamente com certa proporção de impulsos libidinosos, quantidades muito grandes de impulsos agressivos. (2) Este ponto de vista faz com que se tome menos difícil entender por que a criança forma imagens monstruosas e fantásticas de seus pais. Pois ela percebe sua ansiedade, proveniente de seus instintos agressivos, como temor de um objeto externo, tanto porque fez do aludido objeto sua meta exterior como porque projetou aqueles instintos sobre essa meta, de tal forma que eles parecem ter origem nesse setor e dele partir contra a própria criança. D essa maneira, desloca para o exterior a fonte de sua ansiedade e transforma seus objetos em objetos perigosos; porém, na verdade, esse perigo pertence a seus próprios instintos agressivos. Por esse motivo, seu temor e relação aos objetos será sempre proporcional ao grau de seus próprios impulsos sádicos. Contudo, não se trata sim plesm ente de um a questão de transformar certa dose de sadismo numa dose correspondente de ansiedade. A relação é também uma relação de conteúdo. O temor da criança a seu objeto e a seus ataques imaginários que dele sofrerá se prendem em todos os pormenores, a cada um dos


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impulsos e fantasias agressivos que ela abriga contra seu ambiente. Dessa maneira, cada criança cria imagens de seus pais que lhe são peculiares, embora em cada caso essas imagos sejam de caráter irreal e terrífico. (3) Segundo minhas observações, a formação do superego começa ao mesmo tempo em que a criança efetua a primeira introjeção oral de seus objetos. Visto que as primeiras imagens que ela assim forma estão dotadas de todos os atributos do intenso sadismo que pertence a essa fase de seu desenvolvimento, e visto que elas serão projetadas, mais uma vez, e objetos do mundo exterior, a criança pequena se toma dominada pelo temor de sofrer ataques cruéis e imagináveis, tanto de seus objetos reais como de seu superego. Sua ansiedade servirá para aumentar seus próprios impulsos sádicos, instigando-a a destruir aqueles objetos hostis a fim de escapar às suas investidas.


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PORQUE É PRECISO DIZER NÃO? NA GERAÇÃO PASSADA TUDO ERA PERMITIDO.

Você, pai e mãe da virada do milênio, sabem quanto está difícil educar filhos. Na hora do banho, o pequeno chora e esperneia. Só come na frente da televisão. No shopping, quando vê um brinquedo novo na vitrine, faz birra até que mamãe decida comprá-lo. Para os pais de hoje, nascidos ou educados nos anos 60 e 70, lidar com essas situações é mais complicado do que se imagina. Dar uma palmada ou impor um castigo, nem pensar. Afinal, essa geração de pais cresceu ouvindo dizer que nada é mais saudável do que deixar as crianças exercitarem suas próprias emoções, limites e potencialidades. As idéias em voga na época em que esses pais estavam na universidade sustentavam que é assim que se formam adultos criativos, curiosos e críticos, mais habilitados a tomar decisões e mais tolerantes com idéias alheias. E agora? O que fazer com o adolescente que passa a madrugada na frente do computador, dorme até tarde e deixa as roupas espalhadas pelo quarto? E se a filha queridinha do papai aparece em casa de piercing no nariz? Dizer não é um desafio que está além das forças e convicções de muitos pais e mães. Veja o caso da comerciante Gleisy Pires, do Recife. Genuíno produto dos anos 60, Gleisy nasceu em 1963, numa família conservadora. “Eu não tinha liberdade para nada”, conta ela. “Nunca pude discutir meus problemas com minha mãe. Meu pai não me deixava sair de casa, nem para ir s festinhas na casa dos amigos. E, se errasse ou desobedecesse, apanhava” .Hoje, aos 36 anos, Gleisy é mãe de três filhos, uma adolescente, de 13 anos, e um casal de gêmeos, de 8. As crianças brigam, tiram os móveis do lugar, perseguem o cachorro em cima dos sofás, espalham roupas e brinquedos pela casa.


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“Eu vivo num etemo dilema”, conta Gleisy. “Sei que é preciso colocar limites, mas não quero repetir com meus filhos o que os meus pais fizeram comigo. Tenho medo de que, no futuro, eles me vejam como uma pessoa que vivia gritando e cerceava tudo o que tentavam fazer”. Esse tipo de insegurança é mais do que natural. Milhões de pais e mães no mundo se sentem assim. Muitos chegam a ter medo de entrar em confronto com os filhos. Não sabem o que pode resultar de um empate. No passado, os pais acreditavam que os filhos lhes deviam obediência cega. Justificavam-se perante si próprios com a crença de que estavam impondo uma linha de comportamento rígida para o bem das crianças. Os jovens pais da geração que agora está vendo os filhos crescer não acreditam mais nisso. Aprenderam que, pelo velho modelo, os adultos corriam o risco de ser tiranos com as crianças, ser injustos e até mesmo usar os filhos como saco de pancada apenas para dar vazão às próprias frustrações. Acontece que muitos pais modernos se tomaram modernos em excesso. Não sabem dizer não para nada. Com isso, prejudicam os filhos. A liberdade excessiva ensina agora um número crescente de psicólogos e pedagogos, produz adultos sem noção de limites e responsabilidades. Esse é o assunto do momento entre especialistas em educação no mundo inteiro. No catálogo daAmazon.com, a maior livraria da internet, existem nada menos que dezesseis títulos dc livros sobre dizer não aos filhos. Eles tratam de tudo, do sono dos recémnascidos à prevenção ao uso das drogas. Na Inglaterra, um dos maiores sucessos editoriais nos últimos meses é um livro chamado Saying No - Why It’s Important for You and Your Child (Dizer Não - Por que Isso É Importante para Você e Seu Filho). A autora, a psicoterapeuta Asha Phillips, afirma que desde os primeiros meses de vida dos bebês os pais devem estabelecer claramente certos limites. “Pais que se recusam a dizer não nos momentos apropriados estão roubando de seus filhqs a capacidade


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de exercitar suas emoções”, escreve a terapeuta. Asha Phillips também diz que cabe aos pais escolher a hora e a forma adequada de dizer não. Espancar ou impor castigos físicos é, evidentemente, um comportamento absurdo e inaceitável nos dias de hoje. “Mas um tapinha simbólico, bem de leve, num momento de birra pode ser uma atitude saudável dos pais”, afirma a terapeuta. Segundo ela, é errado permitir que uma criança faça escândalo nos supermercado ou no meio da rua porque se cansou de acom panhar os pais nas compras. Da mesm a form a, os adolescentes precisam ter horários para chegar em casa e saber respeitar os demais membros da família. “Quem diz sim o tempo todo, para não passar a imagem de autoritário, está criando uma situação fantasiosa e perigosamente distante da vida real”, explica Asha Phillips. “Frustração, raiva, ódio, disputa e privações fazem parte do aprendizado de uma criança tanto quanto o amor, o carinho e o afeto que ela deve receber dos pais”. E curioso observar como as idéias a respeito da educação dos filhos vão mudando. Até a metade deste século, a criança era encarada como um selvagem a ser civilizado. Essa noção serve de roteiro ao filme Karakter, atualmente nas locadoras. É uma produção holandesa, ganhadora do O scar de m elhor filme estrangeiro no ano passado, na qual um pai tenta m oldar a personalidade do filho e transformá-lo num adulto bem-sucedido usando uma receita que mistura desafios, castigos e a mais completa ausência de afeto. Essa idéia, pôr incrível que pareça, prevaleceu até bem poucas décadas atrás. O pai era o senhor absoluto da casa, ao quais os filhos deviam prestar respeito e obediência. Dele não se esperava nenhuma demonstração de carinho ou emoção, especialmente em relação aos filhos homens. De repente, tudo mudou. Nos revolucionários anos 60 e 70, ficou-se sabendo que amor, e só amor, era a fórmula infalível para que uma criança crescesse feliz e emocionalmente estável.


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Ali you need is love (tudo o que você precisa é amor), anunciava uma célebre canção dos Beatles. Em casa e na escola, as surras de palm atória, cintos e vara im ediatam ente deram lugar à liberdade quase absoluta. Alguns pais chegaram a ponto de não incutir seus princípios religiosos nos filhos, sob o argumento de que a escolha de uma religião ou nenhuma deveria ser tomada pelo próprio filho quando ele tivesse a idade adequada para isso. Nas chamadas escolas alternativas, surgidas nessa época, os alunos não precisavam fazer provas nem tinham notas ou regras de conduta. Com isso, a geração que cresceu sob o domínio dos pais autoritários fazia um esforço sincero de dar mais liberdade aos filhos, para que a espontaneidade das crianças florescesse sem ser abafada pela opressão dos mais velhos. Em muitos casos, o resultado foi desastroso. Está aí uma geração de adolescentes e jovens entre os quais muitos se sentem despreparados para enfrentar um mundo que cobra eficiência, respeito e disciplina. Os pais dos anos 90 estão empenhados em buscar um ponto de equilíbrio entre aquela autoridade opressiva do pai-patrão e a noção de liberdade sem fronteiras que a sucedeu. O psicoterapeuta José Ernesto Bologna, consultor dos colégios Bandeirantes e Santa Cruz, em São Paulo, costumam contar a história de ícaro, um mito grego de mais de 3000 anos, nas suas palestras sobre a importância dos limites na educação dos filhos. Nessa história, ícaro é um garoto que, na adolescência recebe do pai, Dédalo, um par de asas feitas de penas de aves coladas com cera. Com elas, ícaro poderia voar desde que observasse determinadas regras, como não se aproximar demais do sol. Pois foi exatamente isso que aconteceu. ícaro voou tão alto que o calor solar derreteu a cera de suas asas e ele caiu e morreu. “No mito há uma lição simples: os pais devem estimular seus filhos a fazer coisas novas, como voar no caso de ícaro, mas antes é necessário ter certeza de que o filho é capaz de respeitar limites”, observa Bologna. “E preciso ser sempre muito elaro e até


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intransigente quanto às regras e condutas a ser seguidas”. Filha de uma geração mais repressora, a fotógrafa Loris Machado, de 48 anos, tornou-se hippie na adolescência. Era m ilitan te da onda flo w e r pow er, ala fu n d a m e n talista do movimento. “Cheguei a morar com índios embaixo de uma jatobá à beira do Rio Araguaia”, conta. Sua forma de vestir-se e comporta-se em público renderam-lhe muitas críticas dos filhos, que agiam como se fossem seus pais. “Eu me lembro que vivia pedindo para ela se comportar”, diz a atriz Maria Valentim, de 21 anos, filha de Loris que mora no Rio de Janeiro. “Dava bronca mesmo: suas roupas pareciam uma fantasia. Eu sou mais certinha”. Maria é hoje mãe de Luana, de 1 ano e meio, e quer encontrar um meiotermo entre educação liberal que teve dos pais e a autoritária que sua mãe recebeu dos avós. “Quero mostrar tudo o que pode, mas também o que não pode” . Como tudo na vida, impor limites é também uma questão de bom senso. Castigos e reprimendas não têm utilidade alguma se na relação entre pais e filhos também não houver diálogo, compreensão, amor e carinho, Quando se diz não, é preciso explicar claramente pôr quê. “Não adianta nada os pais castigarem uma criança proibindo-a de fa2er algo que não tem nada a ver com o erro cometido”, afirma o professor Nilson José Machado, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, USP. Nesse caso, o não pode ser entendido como arbitrariedade ou vingança. E isso não tem utilidale pedagógica alguma. “As vezes um choro, ou uma bagunça exigerada, é apenas um pedido de ajuda do filho”, explica a psicóloga infantil Anair Mello, do Recife. “Nessas situações, as criaiças pedem limites. Se os pais cedem, elas ficam sem parâmefos para a vida”. Aos 32 anos, mãe de uma menina de 1 ano e 9 meses e grávida


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de sete meses, a psicóloga paulista Christiana Cunha Freire imaginou que seria mais fácil educar sua filha. “Estabelecer limites é difícil”, reconhece. “Nem sempre consigo manter o não até o fim, mas agora estou tentando ser mais firme. Isso é importante para o futuro da minha filha”. Outro exemplo é o da professora de inglês para as crianças Ana Luisa Carneiro de Mendonça. Mãe de Leo, de 1 ano e 10 meses, ela prefere ser parcimoniosa nas repreensões e negociar de maneira mais cuidadosa os limites com o filho. “Proibir tudo sem motivo pode frustrar a criança”, raciocina ela. “Só uso o não quando realmente necessário.” São raros os pais que conseguem dosar direito essa fórmula. Geralmente, começam a ceder quando o filho ainda é recémnascido. Basta que chore no berço antes de dorm ir - e eles prontamente acendem a luz, pegam-no colo e o levam para dormir na cama do casal. Mais tarde cedem novamente quando ele, mais crescidinho, se recusa a comer o que os pais lhe oferecem e transforma a hora de desligar a televisão num pesadelo doméstico. Aos poucos, perdem o pé da situação, criando em casa um pequeno déspota. Muitas vezes o resultado dessa ausência de limites dentro de casa só vai aparecer na escola, ocasião em que a criança ou o adolescente começam a dar sinais de problemas emocionais. Hoje, é enorme a quantidade de instituições que dispõem de serviços especiais para atendimento de alunos com problemas de disciplina e falta de parâmetros de comportamento. E a procura costuma ser grande. “Em muitas famílias, liberdade é confundida com abandono”, adverte a psicóloga Andréa Capelato, do Instituto Paulista de Adolescência. “Infelizmente, muitos pais nunca se preocupam com seus filhos, nem para ajudá-los nos problemas nem para corrigi-los nos erros” .Nesse caso, como o Dédalo do mito grego, acabam superestimando o poder de avaliação dos próprios filhos. “Só definir os limites não basta”, afirma Andréa. “E preciso observar como os filhos administram a própria


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autonomia”. “É muito comum os pais não terem a menor idéia do que se passa com os filhos”, diz a pedagoga Angela de Azevedo Antunes, coordenadora do departamento de orientação educacional do C olégio Bandeirantes, escola tradicional de São Paulo. “Muitas vezes das crianças e os jovens têm sérios problemas para encarar as mais básicas regras do convívio social”, constata. Desde fevereiro, o serviço que ela coordena já realizou aproximadamente 700 atendimentos, de cerca de 2800 alunos matriculados na escola. Os casos incluem desde dificuldades de concentração e atenção na sala de aula até o uso de drogas e indisciplina. “A maioria dos pais trabalha dez, doze horas por dia e mal consegue ver o filho, que passa a maior pare do tempo na escola”, explica Angela. “Tivemos de assumir, pelo menos parcialm ente, o papel da fa m ília , sob p en a vem os nosso trab alh o ed u ca c io n al comprometido”. A ausência dos pais na educação dos filhos é tam bém re sp o n sá v el pelo aum ento da c lie n te la nos c o n su ltó rio s p sico ló g ico s. É cad i vez m aior o núm ero de crian ças e adolescentes que precisam desse tipo de ajuda. O psicoterapeuta Eugênio Chipkevitch fez uma pesquisa informal sobre o assunto em escolas particulares de São Paulo. Constatou que, em algimas turmas, um terço dos alunos já tinha passado pôr algum tp o de terapia. “Estam os vivendo uma excessiva medicalização e psicologização das dificuldades das crianças”, afirma ele. ‘Os pais preferem pagar para que seus filhos resolvam essas questces em consultórios psicológicos, em vez de assumir eles próprios a tarefa de ajudar”. Chipkevitch acredita que o problem a de lutoridade e im posição de lim ites está p articularm ente ligado à figura paterna. T radicionalm ente investido da última pilavra quando o assunto diz respeito aos filhos, o pai moderno (Stá muito mais preocupado com o trabalho, com as formas de amjliar os rendimentos e com a realização


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pessoal do que com a educação dos filhos. “Os adolescentes que flerta com o perigo e com a violência está em busca da figura do pai, in v estid a de a u to rid a d e ” , diz ele. “ As v ezes, acaba encontrando-a num delegado de polícia”. Pôr essa razão, segundo ele, pais e filhos precisa ter um relacionamento de respeito e amor mútuos. Outro aspecto crucial é a integridade. O filho deve identificar coerência nos conselhos e orientações que recebe. “Os pais não podem ensinar uma coisa e fazer outra muito diferente”, ensina Nilson Machado, professor da Universidade São Paulo. É preciso também haver alguma afinidade entre as orientações dadas pelo pai e pela mãe. Mesmo casais separados devem fazer um esforço para estar de acordo nesse aspecto. “É muito ruim para os filhos quando recebem dos pais orientações muito diferentes e contraditórias”, afirma Machado. Educar sempre envolveu erros e acertos. Nenhum pai ou mãe tem a receita infalível para transformar os filhos em pessoas felizes e bem-sucedidas. Essa é uma experiência que vem sendo testada e aperfeiçoada desde a humanidade existe. Tão errado quanto abandonar os filhos é achar que eles devem seguir à risca as fórmulas idealizadas pelos pais. “Os pais não se devem julgar onipotentes”, diz Machado. “Nem tudo depende deles. Pôr melhor que sejam as intenções, não pode obrigar os filhos a ser exatamente o que eles querem”. A única receita segura, que jamais deu errado, é fazer tudo com amor e carinho. A pior coisa que pode acontecer com uma criança é ser deixada à própria sorte. Nenhuma pessoa, pôr mais inteligente e genial que seja, tem a capacidade de educar a si mesma e preparar-se sozinha para desafios da vida adulta. Essa é uma tarefa dos pais - com o natural apoio da escola, dos parentes, dos amigos e de quem mais puder ajudar nesse fascinante desafio que e preparar uma nova geração.


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PAIS DEVEM ORIENTAR E PROTEGER

Há quatro anos, a psicoterapeuta Asha Phillips, de 45 anos, começou a estudar a falta de limites na educação de crianças e adolescentes. Professora na Clínica Tavistock, de Londres, ela constatou que um número alarmante de pais não consegue dizer não aos filhos. Decidiu então escrever Dizer Não - Pôr que Isso E Importante para Você e Seu Filho, um livro em que ela diz ser possível conciliar disciplina e liberdade. Alguns trechos de sua entrevista ao repórter Eduardo Salgado, para VEJA, em Londres: Veja - Por que muitos pais não conseguem impor limites aos filhos? Asha - Somos de uma geração que cresceu defendendo a liberdade. Tudo que era disciplinador passou a ter um ar militar, autoritário. Não queríamos isso para nós nem para nossos filhos. -Só que na educação esse ponto de vista foi nefasto. Já ouvi professores dizerem que não é preciso ensinar os alunos, pois eles aprenderiam naturalmente. Isso é um absurdo. Passamos de um extremo de rigidez para outro, completamente sem limites. Veja - E ruim permitir que os filhos tomem decisões? Asha - Depende da idade da criança e da situação. Em alguns casos, ela pode tomar certas decisões e aprender com os acertos e os erros. O que não está certo é passar-lhe a responsabilidade de todas as decisões. Cabe aos pais protegê-la e orientá-la. Veja - Por que pais têm tanto medo de dizer não? Asha - Porque os filhos reagem como se os pais fossem terrivelmente cruéis. Gritam e choram tanto que muitos pais ficam desesperados, acham que realmente estão fazendo algo errado. Veja - A ausência de pais que trabalham muito prejudica o desenvolvimento dos filhos? Asha - Mais importante do que a quantidade é a qualidade do


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tempo que a família passa junta. Pais cansados e sem paciência não ajudam em nada. Pais com sentim ento de culpa não conseguem impor limites nem dizer não. Veja - Um pai vê a filha chegar em casa com o cabelo pintado de azul e um brinco no nariz. Isso quer dizer que ela precisa de ajuda? Asha - Caso ela esteja descontrolada, em situação de perigo ou em crise, sim. Mas se for só uma loucura de adolescente, não. E muito pior ter uma filha que nunca sai de casa e está sempre deprimida. Veja - Quando os pais devem dizer não a si mesmos? Asha - Eles não podem dominar a vida de seus filhos. Há pais que querem estar junto em todas as atividades, conhecer todos os amigos. Nessas horas, é necessário se controlar.


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TESTE QUE TIPO DE PAI OU MÃE É VOCÊ De 0 a 5 anos 1) É hora de dormir e o bebê, apesar de saudável, não aceita ficar no berço sem chorar. a) Você atende ao choro prontamente b) Espera e só levanta-se se o choro for muito insistente c) Deixa-o chorar até que se acalme 2) Seu filho não aceita ficar na cadeira para bebês no banco traseiro do carro e começa chorar. a) Você desiste do passeio b) Tenta acalmá-lo c) Dá uma bronca e ignora seu choro 3) No restaurante, a criança insiste em correr entre as mesas incomodando os outros clientes. a) Você acha natural e não toma providência alguma b) Procura distraí-la com outra coisa c) Obriga a criança a ficar quieta De 5 a 10 anos

4) A criança se recusa a comer nos horários regulares e quer atacar doce e salgadinhos. a) Você acha que o importante é que ela se alimente, seja com o que for; b) Explica a importância da alimentação e permite doce e


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salgadinhos só complemento c) Proíbem terminantemente que ela coma doce e salgadinhos 5) A professora comunica que seu filho tem tido atritos freqüentes como colegas na escola. a) Você acha que a professora está exagerando e que seu filho está correto b) Ouve os dois lados da história e repreende a criança c) Deixa seu filho de castigo sem permitir que ele explique o ocorrido 6) A criança assiste à televisão por horas a fio e se recusa a sair da frente do aparelho. a) Você não interfere b)Tenta convencê-la a fazer outras atividades e limita o tempo da TV c) Determina o horário em que seu filho pode assistir à TV De 10 a 15 anos 7) Seu filho não tem o menor senso de organização e não colabora com as tarefas da casa. a) Você acha natural que um adolescente seja assim b) Conversa com ele, fazendo-o guardar seus pertences. c) Você o faz manter o quarto em ordem, não aceitando a bagunça em hipótese alguma. 8) Você flagra uma mentira de seu filho, a) Acha natural, afinal todo mundo mente.


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b) Mostra que ele errou e destaca o valor da confiança c) Você o pune com rigor 9) Seu filho tem um a festa e avisa que vai v o ltar de madrugada, mesmo tendo aula no dia seguinte. a) Você não vê problemas b) C onversa com ele sobre a im portância de respeitar compromissos e pede para que volte mais cedo c) Você o proíbe de ir à festa GABARITO Se a maioria das respostas for a, você é um pai permissivo. Seu filho perde com isso. Se a maioria das respostas for b, você é um pai poderoso e flexível. A negociação é mesmo um bom caminho na educação dos filhos. Se a maioria das respostas for c, você é um pai muito rigoroso. Alerta o excesso de rigor nem sempre é a melhor forma de colocar limites.


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ENTREVISTA O CRESCER ATRAVÉS DO BRINCAR

A chegada do dia das crianças, 12 de outubro, traz á tona um assunto extremamente importante para o desenvolvimento infantil - o brincar, ação esta de caráter essencialmente lúdico. Para contar um pouco, mas sobre a importância do brincar para as crianças de todas as idades, a equipe de jornalistas do site Bebê 2000 entrevistou com exclusividade a professora titular da Faculdade de Educação da Puc, SP, Maria Ângela Barbato Carneiro, também coordenadora do Departamento de Fundamentação da Educação da Pontifícia Universidade Católica (Puc). REVISTA BEBÊ 2000-Q U A IS AS CARACTERÍSTICAS DAS CRIANÇAS ENTRE 0 E 2 ANOS DE IDADE? Professora Maria Ângela Barbato Carneiro - as crianças entre 0 e 2 anos de idade caracterizam-se pela sua ação. Pode-se até mesmo dizer que elas são ações. Conhecem o mundo através da boca, chupando ou mordendo, começam a movimentar-se até ficarem em pé, entendem gestos e palavras, chcgando a repetilas. REVISTA BEBÊ 2000 - QUAIS OS BRINQUEDOS MAIS INDICADOS PARA ESTA FASE? Professora Maria Ângela Barbato Carneiro - Nesta idade são aconselháveis brinquedos que favorecem o exercício. Inicialmente são indicados os mobiles, brinquedos sonoros, caixinhas de música, mordedores. Enfim, tudo aquilo que possa favorecer a estimulação sensorial, visual, olfativa e tátil da criança. REVISTA BEBÊ 2000 - QUANDO A CRIANÇA COMEÇA A ENGATINHAR, EXISTE ALGUM TIPO ESPECIFICO DE BRINQUEDO RECOMENDADO PARA ESTE PROCESSO DE TRANSAÇÃO?


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Professora M aria Ângela Barbato Carneiro - Quando ela começa a engatinhar até ficam de pé são mais adequados dos brinquedos de arrastar, empurrar, puxarem, rolar, objetos para encher e esvaziar, bolas de 8 a 10 cm, objetos de borracha, bonecas e animais de pelúcia não muito grandes. São importantes também brinquedos para areia e água. REVISTA BEBÊ 2000 - QUAIS OS TIPOS DE JOGOS PREFERIDOS PELAS CRIANÇAS ENTRE 2 E 4 ANOS ? Professora Maria Ângela Barbato Carneiro - As crianças desta fase são mais conversadoras e im aginativas, além de terem adquirido uma maior coordenação e equilíbrio nas atividades. Gostam de jogos de representação. São indicados para elas tric ic lo s , b o n ecas e acessó rio s ob jeto s que p e rm item a representação de papeis, brinquedos de empilhar, lápis de cor, massas, jogos de encaixe, carrinhos (sem pilha), brinquedos para água e areia, fantoches e jogos de construção. REVISTA BEBÊ 2000 - AS CRIANÇAS ENTRE 4 E 5 A N O S CO STU M A M NA TURALM ENTE A M PL IA R O CIRCULO DE RELAÇÕES, ALÉM DE DESENVOLVER A IN D A M A IS A IM A G IN A Ç Ã O . QUE T IP O DE BRINQUEDOS OS PAIS DEVEM COM PRAR PARA AS CRIANÇAS DESTA FAIXA ETÁRIA? Professora Maria Ângela Barbato Carneiro - Os mais adequados são os que favorecem a representação de papéis, além daqueles que perm item atividades grupais, como bolinhas, dominós, quebram cabeças (com o número de peças variado), materiais de modelagem, triciclo e jogos de percurso.


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È BRINCANDO QUE SE APRENDE - IVANI SOARES

A infância é o momento, por excelência, destinado ao brincar. E é brincando que a criança resolve os problemas, busca soluções, realiza seus desejos, representa papeis e conhece o mundo que a cerca. Daí a im portância dos pais que incentivarem e mais participarem deste momento lúdico da criança, visando construir para o seu desenvolvimento da sua identidade. Muitos pais se questionam se é recomendável presentear crianças com brinquedos na ocasião do dia das crianças, por exem plo, ou se seria m ais coerente in v estir em produtos considerados mais ‘úteis’ como roupas, livros, etc. No entanto, ao contrário do que muitos pais pensam , o brinquedo e o ato de brincar têm um papel extrem am ente importante na vida da criança. Segundo professora titular da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica (Puc/ SP) e Coordenadora do Departamento de Fundamentação da Educação da Puc, Maria Ângela Barbato Carneiro, a criança impedida de brincar pode vir a ter mais dificuldades para enfrentar a realidade futura e toma-se uma pessoa agressiva e mal resolvida. “Do ponto de vista social, em geral, será egoísta porque não teve oportunidades de observar regras e lim ites im postos pelas brincadeiras, além de experiências de ganhar ou perder. Não será capaz de repartir ou colaborar. Do ponto de vista físico poderá ter dificuldades de coordenação, será um eterno desastrado”, afirmou a professora, que também é presidente da Associação Brasileira de brinquedotecas (ABB). Segundo a professora, é importante que os pais estejam atento ás fases de desenvolvimento da criança, pois em cada uma delas o brincar assume características diferentes, passando do exercício para o faz - de - conta para a regra e a construção “Deve - se lembrar que cada criança é única e diferente, portanto, o que pode


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ser interessante para uma nem sempre é para as outras” destaca. A ludicidade auxilia da mesm a forma as crianças com n e c e ssid a d e esp e c iais, um a vez que c o lab o ra no seu desenvolvimento e integração, auxiliando - as a se relacionar com o m undo, especialm ente, se tiverem pais, p ro fesso res ou responsáveis que brinquem com elas. “Dependendo da dificuldade que a crianças tenham, brinquedos que favoreçam a estimulação sensorial são os mais indicados. Não são apropriados brinquedos que exigem movimentação violenta, especialmente para aqueles que apresentam dificuldades mentais ou motoras, informa. Se a opção de presente no Dia das crianças recaírem para brinquedos, as especialistas recomendam que os pais procurem lojas que trabalhem com brinquedos educativos e artesanais”.


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BRINCA R EVITA COMPORTAMENTOS AGRESSIVOS NAADOLESCÊNCIA

“O brincar pode ser um instrumento de prazer para qualquer criança”. Este simples ato possui efeitos terapêuticos e até mesmo, pedagógicos, afirma a psicóloga Carla Maia, idealizadora de um curso que ensina a adultos a importância do brincar. Segundo a especialista, a prim eira infância é a fase preparatória para a adolescência. “Por isso, Carla defende a importância dos pais darem suporte em ocional á criança neste p e río d o ” Q uando os pais têm consciência do quando isso é vital, estão na verdade prevenindo futuros adolescentes agressivos ou deprimidos, “enfatiza” O efeito positivo do brincar também é verificado em crianças p o rtadoras de deficiências físicas e m entais. B rinquedos especialmente desenvolvidos para estas crianças transformam o brincar numa oportunidade preciosa de ensinar. A DESCOBERTA DO BRINCAR A riqueza do mundo infantil enche o universo adulto dc perplexidade diante de cada nova descoberta da criança. O brincar é um desses portais, no qual os pais podem e devem romper as barreiras da fala para participar ativam ente das descobertas infantis. O que parece simples - o brincar - é, na verdade, uma oportunidade única de ensinar e compartilhar como o bebê à exploração de um novo e maravilhoso mundo. Sem dúvida alguma, de todas as tarefas humanas, introduzir um pequeno ser ao mundo, é o mais desafiante e gratifícante trabalho. A American Academy o f Chil na A dolescent Psychiatry, concentuada instituição norte americana com experiência de cinco anos de trabalhos e estudos do desenvolvimento infantil, realizou


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uma pesquisa na área educacional e codificou quatro tópicos básicos do desenvolvimento infantil (de 0 a 18 meses), através da brincadeira: movendo e explorando, interagindo e sentindo, pensando e aprendendo, e comunicando e conversando. O estudo tem a finalidade de auxiliar os pais, tios e avós a transformar a brincadeira num exercício lúdico de aprendizado constante. POR QUE BRINCAR É TÃO IMPORTANTE? A criança passa a entender o mundo que o cerca através das brincadeiras. Para o bebê, a exploração dos objetos com a boca, os olhos e as mãos são fonte inesgotável de prazer. A cada idade, as aptidões motoras da criança vão se desenvolvendo e tomam possível a comunicação do adulto com este pequeno universo. As informações que os pais podem transmitir como segurança, amor e alegria são mais compreensíveis aos pequenos quando passadas durante ou por uma brincadeira. Portanto, brincar é também educar, mimar, proteger... MOVENDO E EXPLORANDO Incentivar o bebê a realizar pequenas atividades é vital para que ele chegue aos dos anos dotados de pequenas aptidões musculares, alcançarem, segurar, mover objetos de uma mão para outra, pegar objetos utilizando as duas mãos juntas, pegar coisas isoladas e junta lãs... Enfim, desenvolver a capacidade motora. Dicas de brincadeiras e brinquedos: é importante que os pais motivem a criança a formas e cores diferentes são indicadas.


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TAREFAS MAIS IMPORTANTES COMO OS PAIS PODEM AJUDAR 0 a 3 meses Desenvolvimento continuo da cabeça e do pescoço.Segue objetos com os olhos.Vira para verificar fonte de som. - Prover suporte confortável para o desenvolvimento do bebê. 3 a 6 meses: Suporta o peso do antebraço quando está de bruços.Alcançar e segura objetos. -Incentive o bebê a brincar nesta posição para que ele desenvolva os músculos do pescoço e fortaleça os ombros. -Incentive - o a alcançar os brinquedos. 6 a 9 meses. Senta sem suporte. Move o tronco em volta da barriga e alcança os joelhos. Pega a manipula objetos. Coloca coisas na boca. -Sorria e gargalhe com o bebê. -Curta cada descobrimento da criança e demonstre claramente isso. -Converse com o bebê enquanto aponta a imagem dele no espelho ou fotografias. 9 a 12 m eses. Engatinha, levanta sozinho e cam inha segurando nos moveis. Devolve objetos, mostrando precisão nas mãos. -Incentive o bebê a andar pela casa, segurado nos moveis. -Procure cobrir moveis e objetos pontiagudos para que o bebê não se machuque. -Dê brinquedos coloridos para a criança explorar. 12 a 18 meses. Levanta, senta e rasteja escada acima. Empurra brinquedo sozinho. Empilha brinquedos. -Incentive o bebê a tentar andar. -Ofereça brinquedos de vários tamanhos para que ele empurre. -B rinque no chão com o bebê, oferecendo brinquedos coloridos com anéis e blocos de plástico coloridos. Quebra-


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cabeças plásticos também são bem vindos. INTERAGINDO OS SENTIDOS As primeiras relações sociais da criança-sejam com os pais com familiares mais próximos, são vitais para desenvolver o sentido de confiança, segurança e conforto. A partir daí, o bebê passa a explorar emocionalmente o mundo que o cerca. Essa interação ocorre devagar e alcançar seu ápide quando o pequeno chega ao décimo oitavo mês. N esta fase ele está compreendendo plenamente o sentido social e é capaz de expressar e se comunicar através das emoções, choros, sorriso, irritação. TAREFAS MAIS IMPORTANTES COM O OS PAIS PODEM AJUDAR 0 a 3 meses. Responde a sorrisos espontaneamente. Mostra suas necessidades pelo choro. -Mime e segure o bebê. -Responda ao choro da criança. 3 a 6 meses. Sorrisos sociais espontâneos. Chora para atrair atenção. Responde a palavras e sons em geral. -Mostre ao bebê que você sente alegria em trocar suas fraldas/ roupas. -Deixe-o tocar o rosto da mãe/pai e olhe nos olhos. -Converse, conte histórias e coloque música para o bebê. 6 a 9 meses.Interessa-se por objetos e pessoas.Toca no espelho quando vê a própria imagem refletida.Demonstra medo quando vê estranho. -Sorria e gargalhe com o bebê. -Curto cada descobrimento da criança e demonstre claramente isso. -Converse com o bebê enquanto aponta a imagem dele no


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espelho ou fotografia. 9 a 12 meses. Curte a interação social, mostra ansiedade frente a estranhos. -Brinque e se divirta com o bebê. -Tente não se afastar por longos períodos. -Deixe-o abraçar o cobertor ou travesseiro. 12 a 18 meses. Mostra afeição a pessoas e coisas. Chora quando não está na brincadeira. Sente quando separado dos pais por longo período. -Abrace e beije o bebê, dizendo que o ama. Antes de sair avise aonde vai e quanto tempo levará. -Deixe o bebê em companhia de familiares. COMUNICANDO E CONVERSANDO O choro, gestos e sorrisos são, na verdade, primeiras tentativas de comunicação do bebê com os pais. Desde o primeiro momento de vida ele usa essa linguagem para comunicar e pedir o que lhe falta. Essas tentativas os levam ás primeiras frases completas por volta dos dois anos. Dicas de brinquedos e brincadeiras: use brinquedos simples que perm itam á criança m astigar. Telefones de brinquedo, pequenos bonecos, objetos que emitem sons, bolas, urso de pelúcia e objetos que mostrem repetições de ritmo e sons são alguns dos brinquedos indicados pelos especialistas. TAREFAS MAIS IMPORTANTES COMO OS PAIS PODEM AJUDAR 0 A 3 MESES. Comunica necessidades através do choro. Ouve, sente e vê.Associa vozes de parentes ao conforto e segurança. -Responda ao choro da criança


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-Emita sons e converse com o bebê, mostrando objetos. -Cante para o bebê. 3 a 6 meses.Responde ao próprio nome.Emite sons e imita gestos dos adultos.Ouve seletivamente. -Chame o bebê pelo nome. -Converse e repita sons. -Cante rimas e declare poesias infantis. 9 a 12 meses. Copia sons. Reconhece e começa apontar objetos que deseja. Repete sons de animais e fala papai e mamãe. -Brinque com jogos gestuais. -Aponte e dê nomes a objetos e pessoas. Identifique animais e papai/mamãe. 12 a 18 meses. Segue direções e obedece a ordens. Aponta objetos e pessoas da família. Fala palavras simples. -Converse com o bebê, usando frases curtas. -Jogue bola no sentido do bebê e peça que ele devolva. -Peça para que ele chame as pessoas pelo nome. PENSANDO E APRENDENDO O olhar do bebê é desbravador. Quando ele fixa os olhos nas bocas dos adultos busca compreender melhor este novo mundo que se descortina diante do seu pequeno ser. Ao olhar a criança também interage com os pais e essa comunicação silenciosa é carregada de simbologias e sentido. Na medida em que cresce, o bebê passa a elaborar pensamentos e correlações com o que vê. Aos dois anos ela já é capaz de compreender os elementos básicos do mundo e sabe de certa forma como as coisas funcionam. Dicas de brinquedos e brincadeiras: os bebês com dois meses sentem-se atraídos por cores, desenhos e modelos diferentes. Providencie brinquedos com texturas, tam anhos e form as diferentes.


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TAREFA MAIS IMPORTANTE COMO PAIS PODEM AJUDAR 0 a 3 m eses.Reflexos sensoriais e motores: suga, vê e ouve.Move com regularidade durante a alimentação, o sonho e quando faz xixi ou coco. -Estimule os sentidos do bebê com texturas variadas, sons suaves e objetos coloridos. -Adapte o bebê a comidas e ao sonho em horários prefixados. 3 a 6 meses. Morde e toca tudo, colocando objetos na boca. Dem onstra interesse. Olha para o lugar onde objetos são movidos. -Introduza brinquedos coloridos e de diferentes texturas. -Brinque com jogos. -Brinque de esconder brinquedos e incentive o bebê a procurálos. 6 a 9 meses.Transfere os brinquedos de uma mão para outra.Puxa, bate e mexe enquanto brinca. Explora e investiga. -Brinque no chão. -Incentive o bebê a imitar gestos que você faz com brinquedos. -Elogie o bebê pelos feitos. 9 a 12 meses. Começa a demonstrar interesse Manipula objetos para obter diferentes efeitos. Incentive-o a faze imitações. Brinque de apontar e dar nomes aos brinquedos. 12 a 18 meses. Procura novas experiências de sons com os brin q u edos. D em onstra novos com portam entos durante á brincadeira. Tenta relações de causa e efeito. Usa cajados/bengalas como instrumento. Amontoa brinquedos. Incentive o bebê á exploração do espaço físico. Mostre as causas e efeitos dos brinquedos (ao apertar um botão o brinquedo emite um determinado som). Brinque de amontoar brinquedos ( j o g o s de4plástico).


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PAIS: TEMPO PARA OS FILHOS É NECESSÁRIO

Desde o nascimento e, até antes, dentro da barriga da mãe, o bebê já é capaz de captar sentimentos e sensações externas. Desta forma, o carinho da mãe toma-se um fator positivo para a criança, desde a fase uterina. Nos primeiros dias de vida, o bebê sente-se tranqüilo e feliz nos braços da mãe e o ato de amamentar toma essa ligação ainda mais forte. No entanto, ao termino da licençamatemidade normalmente a mãe tem que voltar ao trabalho e em muitos casos, o ritmo frenético de trabalho dos pais, impede que estes perm aneçam mais tempo com os filhos. Nesse caso, é aconselhável deixa-lo com alguém que tenha algum vínculo de afetividade com ele. Se na maior parte do dia os pais não têm tempo para ficar com a criança, deve-se ter um ambiente de pessoas substitutas tais como avós, tios e pajens. Hoje essa é uma grande dificuldade da fam ília m oderna que não tem aquela dimensão de antigamente? Declara o Psicanalista, Dr. Roberto Azevedo, membro do Comitê de Psicanálise de Campinas. O Dr. Azevedo ressalta que, anteriormente, se a mãe não estava presente, freqüentemente a avó estava e o número de filhos do casal era bem maior que hoje, o que contribuía para que a criança tivesse sempre uma companhia. ”Se não podem estar presentes a semana toda com a criança, á avó, no caso de for afetiva e carinhosa, vai suprir em parte esta ausência. Quanto mais pessoas a criança tiver por perto, mais crianças para brincar será melhor” , detalha o Psicanalista. Felipe corre, pede para a perua esperar. -B ianca vamos logo, pega chupeta, vamos nos atrasar? Repete Márcia Camargo Costa, 57 anos, para seus netos de cinco e dois anos, respectivamente, ao desce as escadas do prédio onde mora. A rotina se repete todos os dias e entre uma correria e outra comenta: ”Espero viver o bastante para vê-los crescer!” Márcia viúva, mãe de duas filhas e


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avó de quatro netos. Dois deles manda para a escolinha logo cedo e os outros dois, Thiago, um ano e nove meses e Eduardo, 6 meses, ficam em casa. Uma de suas filhas, Ana Eliza, 18 anos, mãe de Thiago e Bianca está em tratamento por dependência química. A outra, Ana Cláudia, 35 anos, separada do marido há pouca tempo, deixou por conta da avó a educação dos pequenos, alegando falta de condições para tal tarefa. Apesar da rotina estressante, Márcia não reclama do seu diaa-dia. Ela sabe que é uma das inúmeras avós que chamaram para si a responsabilidade de educar os filhos de seus filhos, e para isso, é como se tivesse a chance de me dedicar mais, dar mais carinho e atenção, com vantagem de ter muito mais experiência no assunta”, destaca. Segundo ela os pais ela, os pais estão cada vez mais atarefados, a tal ponto de esquecerem , ou simplesmente, imporem a educação dos filhos aos avós. “No meu caso, por exemplo, com uma filha dependente de droga e outra que está saindo de uma casamento extremamente conturbado, acho que é o mínimo que eu posso fazer “, justifica, acrescentando que sua maior recompensa é o sorriso dos netos.Para Márcia ser avó é m uito mais do que bajular os netos espontaneam ente com presentinhos e beijos carinhosos.Ser avó é vivenciar a maternidade plenamente,cada detalhas, enfim é ser a segunda mãe.


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POR QUE AS CRIANÇAS PEDEM QUE ADULTO REPITA SEMPRE A MESMA HISTÓRIA?

Você já contou milhares de vezes a história do Chapeuzinho Vermelho para seu filho ou filha? O que parece incompreensível para os pais é para a criança uma fonte de compreensão renovada. Por trás deste repetido pedido da criança está à necessidade de com preender m elhor as emoções passadas por determinadas histórias. “Os adultos perceberão que a criança geralmente pede lhe seja contada a mesmas histórias muitas vezes seguidas, e que, se mudamos alguma coisa no texto, logo é percebido pela criança, que corrige ou se irrita”, afirma a psicóloga carioca Fernanda Roche. De acordo com Fernanda, este fato ocorre porque as crianças adoram a repetição, já que a ajuda de compreender melhor os sentimentos que aquela história despertou nela. Por exemplo, em João e M aria, a criança é levada a lembrar do medo de ser abandonada pelos pais todas as crianças sentem este medo, e que lhes causa grande ansiedade. Através da repetição do conta, aq u elas em oções vão sendo e x p erim en tad a s,m elh o r compreendidas e elaboradas através do final feliz?, Salienta. COM O E QUAIS H ISTÓ RIAS CONTAR PARA AS CRIANÇAS? M agia dos contos, lendas e fábulas infantis, povoam não apenas a imaginação de crianças, mas também de adultas. Na verdade, ao abrir um livro para contar história aos pequenos o adulto também desfruta de momentos de pura diversão. Mas, até que ponto este prazer conjunto - criança e adulto-, influencia na c o n stru çã o da in tele ctu a lid a d e da cria n ça e da p ró p ria personalidade? Quais as histórias, mais indicadas e como contálas?


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Segundo a psicóloga carioca Fernanda Roche, não existe uma técnica certa para ler livros para s crianças. O adulto apenas precisa ter disposição para dar mais esta atenção a elas. Cada um descobre sua própria maneira de explorar melhor à hora da leitura. È muito importante o adulto escolha livros que encantem a criança, salienta. As fábulas. A cigana e a formiga. A tartaruga e a lebre. A cegonha e a raposa, por exemplo, são importantes para a formação do caráter da criança. È fundamental que o leitor comente com a criança, ao final, ajudando a firmar as lições que as histórias trazem. Detalha a psicóloga. C ontos c lá ssic o s com o O sold ad in h o dc C hum bo, Chapeuzinho Vermelho, Os três porquinhos, ser comentados, procurando sempre observar qual a compreensão que a criança tem da história. Ao fazer este exercício, o adulto está, na verdade, estimulando o raciocínio e capacidade de observação da criança. Finaliza. CUIDADO: O LIVRO OFERECIDO AO BEBÊ PODE CAUSAR RISCO Á SAÚDE. N a ânsia de estim ular o hábito da leitura, rmiitos pais presenteiam o bebê com livros que, muitas vezes, oferecem riscos á criança. È preciso ter cuidado com o tipo de material do livro que será dado á criança pequena. Existem livros apropriados para cada faixa de idade, que não oferecem risco de machucar o bebê ou de ser estragado? Alerta a psicóloga Fernanda Roche. Segundo especialista, as crianças até aproximadamente três anos-, não devem m a n u se a r livros de papel sozinha, p o is não têm coordenação motora fina necessária? Dependendo do material do livro, pode ferir os olhos, além de rasgar com facilidade, afirma. Os livros mais indicados para os pequenos são os de tecido, os de plástico para o banho e, ainda livros de folhas durarem e


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grossas, mais resistentes. As crianças maiores podem receber materiais mais elaborados, livros-brinquedos que exercitam sua criatividade. PERGUNTAS “COMPLICADAS” PODEM SER RESPONDIDAS COM LIVROS Os livros podem ser aliados importantes para os pais. Eles podem aju d ar na hora em que a c rian ça faz p erg u n tas “complicadas” sobre assuntos como o nascimento dos irmãos, a perda de dentes, a entrada na escola, educação sexual e, até mesmo, sobre situações difíceis como hospitalização e morte. O que acontece é que as crianças costumam se identificar com os personagens principais e sentem-se aliviadas com os finais felizes e percebem que não são únicas a enfrentar situações mais complicadas. Livros que tragam história com assuntos similares ao assunto que os pais querem abordar ajudam e muito neste processo. Segundo a psicóloga Fernanda Roche, é importante estimular a criança a criar suas próprias histórias, usando a imaginação. A criança só conseguirá inventar sua própria história após ter aprendido o bom hábito de ouvir as histórias contadas por um adulto? Salienta. Segundo a psicóloga, a criança aprende ao ouvir as histórias, e então passa a conseguir dar seu próprio conteúdo. Desta forma, falará de seus sentimentos e das coisas que são importantes para ela naquele momento, dando pistas do que lhe vai à mente? Detalha a psicóloga.


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AFETO DO PAI É FUNDAMENTAL

A dificuldade que alguns pais têm em demonstrar afeto aos filhos, pode prejudicar a criança e constantemente tais atitudes deixa a mãe bastante preocupada, podendo gerar até sentimentos de raiva e vingança com relação ao marido. N este caso, a mãe deve controlar tais sentim entos e se concentrar em auxiliar o marido a superar esta dificuldade, estimulando-o a demonstrar a efetividade. Ajuda muito lembrar ao marido que ele não é o único homem a ter esse tipo de problema e que a questão tem solução. A mãe deve dizer que a criança vai gostar muito de receber um agrado, de brincar com ele c que cia irá sofrer se isso não ocorrer?Afírma o psicanalista Dr. Roberto Azevedo, membro do Comitê de psicanálise de Campinas. Normalmente alguns homens agem desta forma porque foram criados num ambiente desprovido de afeto. ”Eles tentem a repetir isso.É a transgeracionalidade passa de geração em geração uma herança, uma herança social” , detalha Dr. Azevedo. E necessário que a mãe saiba trabalhar esta característica do pai e estimule-o a procurar um profissional que o ajude a lidar com esta situação, uma vez que a criança corre o risco de se identificar com os pais, pois que não deu carinho e crescer com esta carência.


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Eu e João Por Dra. Beatriz Botelho

No carnaval estive na casa de um amigo muito especial. Ele mora num lugar gostoso na Serra da Cantareira e, durante aqueles dias, o programa foi conversar muito e, por exemplo, ouvi-lo de manhã na cozinha pegar o violão: Seis da manhã Toda manhã Levo João para escola Descendo a serra O cêu amarelo ...E o dia do chão. O meu menino E um rapazola Se preparando pra vida logo decola Por isso é que eu gosto De levar João pra escola? Nesta manhã, depois de cantar enquanto tomava café com bolo de broa nos falou sobre uma conversa sua com alguém entendido em adolescentes e que, pasmem, referia-se a eles como, monstros, horríveis, como ele é um artista, ficaram especialmente indignadas com esta visão do especialista, e pensou que nós adultos é que precisamos entender cada fase na vida de nossos filhos, aqueles seres hum anos que, dependendo do nosso referencial, podem a cada instante nos parecer... Gente ou monstro. Ainda mais sério Falando grosso gosta de estar nessa história Brincar comigo, Meu grande amigo As vezes nem me dá bola... Fala o idiota


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Dos intemautas Tá encarano o futuro Tem sentimentos puros E toca baixo na banda da escola Estes versos fazem parte da linda canção que foi motivada por duas coisas: as conversas sobre o tema e sua atenção para com o filho, vendo as transform ações pelas quais ele vem passando, o mundo que ele vai ganhando desde que nasceu. Olha pra ele Adolescente Como é bonito ser gente Às vezes me irrita As vezes me enrola ...As vezes me consola. Uma obra (uma crônica?) como esta fala de sentimentos com uns e c o rriq u e iro s que quase sem pre nos passam despercebidos, embora neste caso, a grandeza e sensibilidade de seu autor fiquem claras e singelamente declaradas.ele captou tudo, as mudanças de seu filho a beleza desta fase de sua vida, e também, o quanto os adultos (principalmente os pais) podem a aprender se forem sábios e humildes para também se deixarem cuidar por eles. Ele me ensina A olhar por cima Da minha própria história Durmo mais cedo E acordo mais cedo Pra levar João pra escola E a Responsabilidade? Os filhos podem remeter os pais a uma nova condição, que muitas vezes, era vista como incômoda enquanto não tinham filhos. Mas quando eles existem, estas mesmas condições de vida


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passara a ter uma nova dimensão. Acordar todo dia ás seis da manhã não é fácil, mas, de repente, na troca que vai existindo entre pais e filhos no caminho para a escola, o passeio passa a ser prazeroso. Você deve estar se perguntando: por que esta psicanálise vem nos falar de adolescentes num site de bebê? Acho que você mesmo já tem a resposta: tudo que se fala aqui vale também para os bebês. Quantas vezes não ouvimos isto?Ele (ou ela) anda terrível, um monstrinho...? Então encare assim o seu bebê, esta “novidade” que todo dia pode mudar sua vida. Afinal, já foi dito que ser mãe, ou pai, é padecer no paraíso. Este meu amigo especial, o Renato Teixeira um grande compositor e músico, á parte da conversa com a entendida em adolescentes, refletiu e. Compôs a canção que monstro aqui em primeira mão para seu filho João, um menino-grande e carinhoso. Um novo ser que, aos poucos, vai surgindo diante de seus olhos. Ele, e nós ganhamos um grande presente: saber que seis da manhã também pode ser uma hora linda, como esta de ganhar um bebê, se estivermos abertos para ver nossos filhos nascendo como um novo dia que todo “dia que sai do chão” ... A parece para nosiluminar. Seis da manhã Toda manhã Levo João para escola Descendo a serra O céu amarelo ...e o dia sai do chão? Dra. Beatriz Helena Falcão Botelho, mestre em Saúde mental pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e professora de psicologia no Departamento de Pediatria da UNIFESP.


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COMO SURGE O CIÚME ENTRE IRMÃO?

A rivalidade entre irmãos está ligada A duas emoções extremamente importantes, existentes desde a infância até a vida adulta, a inveja e o ciúme. A inveja surge como antecedência aos ciúmes, que por sua vez pode tomar-se patológico quando ganha intensidade. A inveja tem inicio segundo o professor Dr.Roberto Azevedo, presidente do Comitê Multidisciplinar de Psicanálise e Medicina da Associação Paulista de Medicina, no momento em que a criança é capaz de diferenciar ela da mãe e do seio da mãe. Ela percebe que a mãe tem uma coisa que ela gostaria de ter e sofre por não ter: o seio. Esse sentimento é extremamente importante na vida psíquica da criança e do adulto, afirmou, ressaltando que esse sentimento bipessoal surge como antecessor do ciúme. Já o ciúm e, de acordo com o professor que é tam bém Presidente da Sociedade de Psicanálise de Cam pinas, é um sentimento tripessoal e surge quando ela começa a perceber que além da mãe, existe uma terceira pessoa-pai. ”0 que caracteriza o ciúme é a noção de posse, se alguém quer partilhar dessa posse, ele se intensifica”, explicou, acrescentando que se torna patológico quando ganha intensidade, podendo trazer problemas na vida adulta. Quando surge outra criança, ela passa a ter ciúmes do irmão que nasceu e a se manifestar como a criança. Nessa situação, de acordo com ele, a criança desenvolve um sentimento de raiva e hostilidade agressiva tendo inclusive fantasias. Um exemplo narrado pelo Dr. Azevedo é o caso de um paciente seu de 3 anos e oito meses que tinha medo que o cachorro o mordesse.Mostrouse um cachorro para ele e explicou-se que não mordia, porém o menino passou a dizer que o cachorro não mordia, mas o gato mordia.Fez-se a mesma coisa com o gato, explicando que o animal


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não mordia e então o garoto passou a dizer que o gato não mordia, mas a galinha mordia. “Ai a mãe perdeu a paciência, comentou”. Ele tinha o desejo de agredir a quem tinha nascido ligado ao desejo de mordê-lo, quando começou a fantasiar de agredir ficou com medo, para se proteger pôs a boca dele na boca do cachorro, do gato e da galinha, utilizando um mecanismo de projeção, ou seja, por em outra pessoa uma coisa que é dela “, explicou o médico. Mas como agir para prevenir o ciúme? Tratar o nascimento de outra criança com naturalidade, não alterando o comportamento que tinha com ele já é um bom começo.”Os pais devem dizer a criança que vai chegar um amiguinho, companheiro de brinquedo e ressalta que gostam muito dele, lhe dando bastante atenção “ . Finalizou.


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AGRESSIVIDADE INFANTIL: O QUE FAZER?

Por mais paciência que os pais tenham, há dias em que o comportamento da criança parece simplesmente insuportável e tudo indica que você vai perder o controle da situação. Um passeio ao parque ou playground pode ajudar a distrair a criança, enquanto se recupera a calma. Os meninos são, em geral, mais agressivos que as meninas, mas se as brigas saírem do controle, evite tomar partido já que não é possível saber quem esta certo ou errado numa situação como esta. Lembre-se: a criança que foi machucada merece toda atenção, por isso não deixe de intervir. Uma outra característica das crianças,quando começam brincar em grupo,é tomar os brinquedos das outras. Cabe aos pais ensina-las a partilhar e a conviver com as demais crianças. Ser gentil e paciente, porém, deixando claro sua posição nas ocasiões de punição mostre que desaprova o comportamento da criança. Além disso, os pais não devem jamais ceder quando o pequeno a g ir de m odo a g ressiv o para o b ter algo. E sse tipo de comportamento dos pais pode sinalizar á criança que este é o comportamento adequado cada vez que quiser obter algo dos pais. Se possível detectar o inicio da crise, deve-se procurar distrair a atenção da criança com outras atividades, porém, quando o acesso de raiva for iminente, ignore-a e se for possível coloque a criança em outro local da casa até que se acalme. A calma e a tranqüilidade para lidar com estas situações são essenciais para cada criança perceber que não deve agir daquela forma. Por outro lado, o bom comportamento não deve ser passado em branco. A criança merece afagos, carinho e elogios quando se comporta bem, como forma de estimular tal atitude.


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AS DOENÇAS DAALMA

Será possível transformar emoções negativas em doenças?De acordo com e sp e c ialista s v árias d o en ças-ch am ad as psicossomáticas-, têm fundo emocional. São conseqüências físicas de condições psicológicas?Detalha Dra. Beatriz Helena Falcão B o telho, m estre em Saúde m ental pelo dep artam en to de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo/Escola paulista de M edicina (U nifesp/EPM ) e professora de psicologia no Departamento de Pediatria da Unifesp. Segundo a professora entre as doenças psicossomáticas estão as asmas, diabetes, doenças gástricas e alergias?Não podemos generalizar e dizer que sempre a asma ou quadro alérgico tem fundo emocional. E preciso uma investigação clinica mais apurada para se detectar se a causa é devida condições genéticas ou emocionais?Alerta. Em muitos casos, ao procurar um especialista pais recebem a orientação de que devem procurar, também um psicólogo para crianças.O trabalho conjunto de um pediatra ,por exemplo e um psicólogo é fundamental para estabilizar um quadro de doenças psicossomáticas , afirma a Dra Beatriz. Mas o que causa na criança uma doença psicossomática? De acordo com a professora, são muitas motivações, mas há quadros clássicos. Pais que cercam a criança de cuidados e atenção desmedidos, por exemplo, podem verificar uma tendência dos filhos apresentarem dificuldades em expelir o ar, ou seja, asma. Exemplifica. Neste caso a dica da Dra. Beatriz é que os pais tenham mais tranqüilidade e passem equilíbrio para a criança. Com o outro exem plo, a D ra B ea triz re s sa lta que a sensibilidade infantil faz com que a criança seja um “Termômetro” da família. Se a família esta passando por um momento difícil, a criança denuncia o que sente fisicamente. Ela sinaliza que não


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está bem em o cio n alm en te através do co rp o , d etalh a, acrescentando que quanto menor é a criança, maior o grau de sensibilidade. Por isso é tão importante esclarecer a causa de uma doença infantil, para que possa tratar adequadamente, finaliza.


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SEXUALIDADE INFANTIL: A DESCOBERTA DE NOVAS SENSAÇÕES

A descoberta do próprio corpo pelos órgãos dos sentidos é m uito prazerosa para o bebê, contribuindo para a base da sexualidade. Os especialistas afirmam que esta descoberta ocorre durante o primeiro ano de vida, olhando e brincando com as próprias mãos. No decorrer do segundo ano, as crianças se interessam em descobrir por onde sai o coco e o xixi, o chamado mistério dos buraquinhos. É nesta fase que acabam descobrindo as sensações agradáveis do toque nos genitais. Os psicólogos ressaltam que a manipulação direta dos genitais se intensifica á partir do terceiro ano de vida, acompanhado do ato de roçar-se em móveis, objetos ou pessoas. Diferentemente do que costumam pensar alguns familiares, que ficam transtornados ao observarem estas manifestações, tais atividades fazem parte de uma série de brincadeiras e da busca por sensações agradáveis. No entanto, quando a criança se manipula ou se roça seguidamente muitas vezes ao dia é sinal de alerta. Além disso, muitos pais contribuem para a estimulação precoce e indevida do interesse sexual do filho. Chamar a atenção do menino para observar foto de mulheres nuas ou para examinar as que passam pela rua é um exemplo clássico de estimulação precoce. As perguntas constrangedoras que a criança faz em determ inados m om entos devem ser re sp o n d id as com clareza de acordo com cad a etap a de desenvolvimento infantil. Segundo os psicólogos, em geral a primeira pergunta ocorre em relação aos órgãos genitais masculinos e femininos. As meninas costumam desejar ter o pênis dos meninos e perguntam quando os terão. Já os meninos se preocupam com a possibilidade de perder o pênis, pois imaginam que no corpo das meninas falta algo. È importante esclarecer, no


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entanto, que o pênis aparece para fora e pode ser visto e que a vagina é um buraquinho que vai para dentro do corpo e não pode ser visto.


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O BEBÊ ACOSTUMOU A DORMIR COM OS PAIS. E AGORA?

Desde primeiro dia em casa, o bebê já deve ser colocado no berço para evitar que este se acostume a dormir com os pais. Uma vez ou outra é tolerável em que determinadas circunstâncias à criança durmam na cama com os pais, mas isso não deve se toma um hábito, afirma o psicanalista, Dr. Roberto de Azevedo, presidente do comitê Multidisciplinar da Sociedade Psicanalitica de Campinas. No entanto, quando isso ocorre, seja porque a mãe considera mais fácil ter o bebê por perto para que possa ficar mais tranqüila ou pela comodidade de não precisar levantar da cama á noite, tem se que procurar mudar a situação o quanto antes. Quando a criança não fala, de acordo com o Dr. Azevedo, ainda é mais fácil concertar. A mãe pode ficar ao lado da criança, até que ela durma, pode pegá-la um pouco e dar carinho, até que ela fique tranqüila e durma, disse, ressaltando que é preciso recondicionar a criança dormir no berço. Quando a criança está falando, os pais têm que dizer, com carinho, mas com firmeza, que é preciso dormir na cama e dar exemplos tais como explicar que o papai dorme com a mamãe, as outras crianças dormem na cama delas e assim por diante. Desta forma a criança passará a se habituar ao berço ou com a sua própria cama, resgatando a privacidade dos pais.


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ESTIMULE A INDEPENDÊNCIA DO SEU FILHO

Ivany Soa Com uma no e meio de idade, a criança passa a assumir a personalidade e começa a impor a própria vontade aos pais. È esse o momento em que a criança percebe que é uma pessoa distinta das outras. Os pais podem ajudar muito nesse processo em que a criança começa a ter noção de identidade. Algumas medidas simples no dia-a-dia podem ser um bom começo para isso. Um exemplo?A partir dos dois anos dc idade passe a organizar as coisas do bebê de tal modo que ele mesmo possa fazer o máximo sozinho. Coisas simples como colocar um degrau junto a pia do banheiro para ele lavar as mãos sozinho pode ser de grande utilidade nesta fase. Tarefas simples podem e devem ser delegadas á criança. Varrer o chão, ajudar a arrumar a mesa e trocar objetos de lugar fazem a criança se sentir útil e integrada á vida familiar. Os elogios São extremamente importantes para o baixinho, por isso não deixe de entusiasm ar-se a cada nova conquista dele. Mas também respeite o seu sentimento, no caso da criança sentir-se infeliz e não deixe de dizer o quanto é amada. Colo e carinho devem fazer parte da rotina do bebê, desta forma ele se sentirá especial e contribuirá para torná-lo forte e equilibrado emocionalmente.


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A VIL A DAS CRIANÇAS

“As crianças de hoje vivem num ambiente criado por adultos e para os adultos. Elas acreditam que o ovo vem da geladeira porque nunca viram uma galinha. Há crianças que não conseguem comer uma maça inteira,simplesmente porque só comem comida m acia.A m a io ria vive num a cáp su la m ãe e têm poucas experiências de brincar e conviver com outras crianças”,afirma num tom quase de lamento, a japonesa Fukiko,educadora da Vila Yamaguishi, um projeto que reúne numa comunidade rural crianças brasileiras,japonesas e suíças. Na Vila, instalada na cidade de Jaguariúna, São Paulo por um período de oito dias crianças e adolescentes de sete a 16 anos vivem as experiências de conviver diretamente com a natureza e, o que é melhor, em meio a outras crianças jovens de várias nações?Num ambiente natural com montanhas, rios e matas, as crianças enchem os pulmões de ar puro e se familiarizam com coisas reais e não virtuais. Através deste contato passam a cultivar a capacidade de pensar e desenvolvem a sensibilidade?Detalha Fukiko. Segundo a educadora a ligação dessas crianças com a natureza e com os amigos de várias raças faz com que passe a enxergar a real posição do ser humano no universo. “A convivência com crianças que têm costumes e línguas diferentes faz com que elas vejam que o mundo é vasto”, ressalta. Na Vila tudo se aprende na prática. As crianças plantam, colhem, brincam, dormem se alimentam... Juntas. O clima alegre é facilmente identificado em cada atividade e que o poderia ser uma barreira-a diferença da língua-, torna-se uma brincadeira. "Brincando juntas e convivendo 24 horas por dia durante uma semana, as crianças se tomam mais independentes e passam a conhecer uma forma cie amizade que vai além de gostar de outra


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pessoa. É a amizade que faz pensar no outro como um ser social. Neste momento forma-se um cidadão consciente” enfatiza a educadora. Há vilas Yamaguishi em paises como Suíça, Coréia, Estados U nidos e Japão, dotados de infra-estrutura e profissionais esp e c ia liz a d o s para aten d er crian ças de v árias id ad es e nacionalidades. Mas do que um “acampamento”, á vila propõemse a ser um a oportunidade de integrar crianças de várias nacionalidades. Brincando juntas e convivendo 24 horas por dia durante uma semana, as crianças se tornam mais independentes e passam a conhecer uma forma de amizade que vai além de gostar de outra pessoa. E a amizade que faz pensar no outro como um ser social. Neste momento forma-se um cidadão consciente” enfatiza a educadora. Há vilas Yamaguishi em paises como Suíça, Coréia, Estados U nidos e Japão, dotados de infra-estrutura e profissionais e sp e c ia liz a d o s p ara aten d er crian ças de v á ria s id ad es e nacionalidades. Mas do que um “acampamento”, á vila propõemse a ser um a oportunidade de integrar crianças de várias nacionalidades.


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VIAGEM COM O BEBÊ

De acordo com a psicanalista infantil e terapeuta familiar, A n elise S andoval S cappaticci, g rad u ad a p ela P o n tifíc ia Universidade Católica (PUC) e faculdade italiana La Sapienza, a partir de um ano de idade a criança está apta a realizar viagens com os pais. Os locais mais adequados, por pro p o rcio n ar experiências novas com a natureza, são praias e fazendas. “Estes locais propiciam á criança a oportunidade de caminhar, andar descalço, fazer experiências com areia. Durante a noite, costumam dormir bastante porque se cansam muito”, afirmou a psicanalista. A partir dos seis meses, o bebê pode viajar desde que os pais respeitem os limites e o ritmo da criança. “Nessa fase, os pais devem se lembrar que não é a criança que deve se lembrar que não é a criança que deve entrar no ritmo deles e sim eles, entrarem no ritmo do filho. A criança não pode ficar com fome, por exemplo, ou ficar depois do horário recomendado no sol, no caso de viagens á praia. Planejar uma viagem a uma cidade grande com a criança também não dá”, ressalta Analise. O ideal é manter a rotina do pequeno e escolher sempre um local que seja adequado e confortável, onde os horários para banho, refeições e sono sejam respeitados. VIAGEM: NÃO ESQUEÇA DE LEVAR O BRINQUEDO PREFERIDO DO SEU FILHO. Nas viagens de fim de semana ou em feriado prolongado os pais podem ter desagradáveis surpresas devido a um simples esquecimento: o brinquedo preferido da criança. A situação complica ainda mais se for aquele bichinho de pelúcia velhinho, que o seu filho não abre mão na hora de ir para a cama. Mas como os pais podem saber quais são os itens imprescindíveis para os


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baixinhos? Se a criança não dispensa a chupeta. È bom levar algumas de reserva (da mesma marca utilizada). Isso vale também para copos e pratos preferidos. E aquele travesseiro velhinho sem o qual seu filho não dorme? Não pense que ele não vai se acostumar a dormir com tais objetos, na maioria das vezes não abrem mão dele, nem quando o assunto é passeio. Isso vale também para os brinquedos inseparáveis. Está tudo ótimo está tudo certo, mas de repente a criança pede aquele carrinho de bombeiro pequeno que risca e faz barulho. E ai o casal Nice c Marcos viveram há pouco tempo uma situação semelhante. Eles foram passar uma semana no interior de Minas Gerais, fazenda dos avós paternos de Vinicius de oito anos e Lucas, de cinco anos. Na hora de arrumar as malas Nice deixou de fora os carrinhos preferidos de Lucas, mas não im aginou que isso fosse um problema, já que eles estavam muito empolgados com a viagem. ”Foi incrível, algumas horas após termos chegado à fazenda, Lucas me pede para ‘encontrar o carrinho’, conta. Quando o disse que o tínhamos deixado em São Paulo, ele fez um tremendo escândalo”, afirmou Nice. Não deu outra. No dia seguinte o pai rodou por horas a cidade mais próxima até achar um parecido. ”E mesmo assim constantemente ele lembrava que aquele não era o seu carrinho, que o dele era o mais bonito, etc”, diz Nicc. Por razões como esta é bom evitar esquecimentos e mesmo achando que o seu filho nem vai se lembrar do tal carrinho ou boneca, é melhor prevenir do que remediar . Certo?


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ALÉM DE PRESENTEAR, OS PAIS DEVEM INTERAGIR.

Além de presentear os filhos com brinquedos, os pais devem buscar interagir, brincar com a criança e m ostrar as várias possibilidades de manuseio do brinquedo, melhorando no dia-adia do desenvolvimento dos pequenos. A indicação é do Dr. Sales Schmidt, pediatra, mestre e doutor em Pediatria da Universidade Federal de São Paulo. Segundo o Dr. Sales Schmidt, os cuidados na compra do brinquedo deve se basear, principalmente, na adequação da idade e no selo do imetro, que garante a qualidade do produto. Os brinquedos muito barulhentos ou pequenos, não são indicados para as crianças de até três anos, pois a criança. Poderá engolir peças ou se machucar. Além disso, na compra de brinquedos, que deve conter inform ações sobre a idade adequada é também fundamental na hora da compra. Os brinquedos que contêm as cores verdes, azuis, vermelhas (que mais chamam atenção da criança) são recomendamos. Segundo o médico á partir do primeiro ano de vida pode-se recomendar os brinquedos de encaixe. ”Perto dos três anos a criança passa a gostar de brinquedos que possam dividir com outras crianças, é a fase de sociabilização”, afirmou o pediatra, enfatizando que nesta fase a criança passa a prestar atenção em algumas regras, interagindo como outras crianças. De acordo com o Dr. Sales Schimidt, o tipo de brinquedo ad o tad o (so fistic a d o ou im portado) não in flu e n c ia no desenvolvimento infantil, pois o mais importante é que saibam que não devem interagir com a criança. "Interagir é participar ativam ente, m ostrar as várias possibilidades de brincar. A brincadeira tem que dar prazer tanto para o pai quanto para a criança”, concluiu o pediatra.os pais saibam que não devem


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interagir com a criança. "Interagir é participar ativam ente, mostrar as várias possibilidades de brincar. A brincadeira tem que dar prazer tanto para o pai quanto para a criança”, concluiu o pediatra.


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ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO ESTIMULAM A RESPONSABILIDADE.

O fascínio que os animais exercem sob a criança, muitas vezes leva os pais a cogitar a possibilidade de adoção de um bichinho de estimação. Esta decisão é correta, já que faz bem aos pequenos e funcionam como um estímulo á responsabilidade. Porém, antes de levar algum bichinho para casa é aconselhável rever alguns aspectos importantes como, por exemplo, saber se alguém da família tem alergia. Antes de tomar a decisão, deve-se consultar um médico para verificar se a criança não tem alergia. O ideal é que a criança tenha mais que seis anos, pois nesta fase tem condições de alimentar ou limpar a sujeiras provocadas pelo animal. Além disso, nesta idade entende os limites de cada animal. Se o animal convive com a família desde antes do nascimento do bebê, os cuidados devem ser redobrados principalmente quando a criança começa a andar. Nesta fase o contato entre a criança e o animal deve ser sempre acompanhado pelos adultos. As vacinas também são muito importantes para que o animal se mantenha sadio. Os cães devem tomar as vacinas óctupula ou contra raiva, em aplicações anuais. Os pais devem ficar atentos para o tratamento que a criança oferece ao animal de estimação. Caso observem situações em que a criança mostra-se agressiva com o animal, deve-se intervir e orientar a criança sobre respeito e carinho que o animal mercê. A insistência em comportamentos agressivos e cruéis deve-se avaliado por um psicólogo infantil.


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MEDIAÇÃO FAMILIAR AUXILIA O CASAL A ENTENDER MELHORA SEPARAÇÃO.

Muito utilizado no Exterior, a meditação familiar é um tipo de terapia a auxiliar a família (pais e filhos) a entender melhor a separação, evitando os desgastes de um processo litigioso. No Brasil, a terapia já está sendo aplicada por alguns psicoterapeutas para ajudar o casal a “amadurecer”, a idéia da separação. De acordo com a psicoterapeuta infantil e terapeuta familiar, professora Anelise Sandoval Scapaticci, que passou recentemente a atuar também na área de meditação familiar, a grande maioria dos casais, após passar por esse tipo de terapia, abandonam a idéia de processo litigioso? Afirmou a especialista, ressaltando que atualmente alguns terapeutas familiares desenvolvem este tipo de trabalho com a supervisão de profissionais do Exterior. Segundo a Terapeuta, num primeiro momento o casal tenta amadurecer e elaborar melhor a busca, pois muitas vezes vivem uma crise que ser superada e quando enxergam essa possibilidade, não se separam. A criança entra numa segunda etapa, quando o casal tem certeza do caminho a seguir, sendo verificado até que ponto ela está absorvida com o processo. M uitas vezes, o que ocorre é que o casal, que enfrenta problemas acha que se falar sobre determinados assuntos irá gerar e, por isso, tendem a colocar a separação em primeiro plano, como forma de evitar dizer um para o outro o que pensam. A terapia de meditação familiar pode ajudar o casal a descobrir o que realmente quer e auxilia a criança a compreender esta situação.


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SEPARAÇÃO DOS PAIS: A SINCERIDADE AJUDA A CRIANÇA

O processo de separação é sempre doloroso, tanto para os pais como para as crianças. È fundamental que os pais continuem a desempenhar os seus papeis, não deixando que as transformações desta fase interfiram no relacionam ento com acriança. È importante que a mãe continue sendo mãe e o pai continue sendo pai. Nesse sentido, não deve haver separação nem alteração de comportamento? Afirma a psicanálise infantil e terapeuta familiar, professora Anelise Sandoval Scapaticci. Segundo ela, muitas vezes a criança acha que está sendo a causa da separação e passa a desenvolver algumas doenças para camuflar o conflito. Quando o casal que está vivendo um momento de dor e frustração, puder conversar com filho e dizer que a relação deles vai continuar a mesma e que não vão deixar de ser pais, será melhor para a criança. O melhor é sempre contar a verdade, porém isso não que dizer que seja necessário expor a intimidade do casal. Explicar que não estão se dando bem e procurar confortar a criança nesse sentido é o caminho, salienta. Nessa fase, é normal a criança se sentir impotente, porém se, o processo de separação for conduzido de forma transparente, a criança entenderá. Colocar a situação de uma forma bem sincera e verdadeira é a chave para auxiliar a criança a entender esta mudança.


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PAIS SEPARADOS: CO M O FALAR SOBRE OUTRO RELACIO N A M EN TO COM A CRIANÇA.

Normalmente o casal que se separa acaba reconstruindo a vida afetiva e até formando uma nova família. No entanto, quando não se tem certeza de que a nova relação é estável e sólida, devese poupar a criança para que no futuro ela não se decepcione e não sinta novamente o sentimento de perda. A separação dos pais, por si só, gera tal sentimento, pois a criança acha que vai acabar perdendo o pai ou a mãe. Num p rim eiro m om ento, devem -se tra b a lh a r estas q u estõ es, enfatizando que o pai vai ser sempre pai e a mãe, sempre mãe e que a separação não influencia nem altera isso. A tendência natural para o casal que se separa é que cada um tenha novas experiências afetivas, ms não se deve envolver a criança nisso, pelo menos até que se tenha a certeza que o relacionamento é sólido. ”Os pais devem evitar submeter à criança a mais uma separação, pois ela poderá achar que nunca poderá contar com ninguém. Há ainda o risco de pensar que o namorado da mãe vai acabar tomando o lugar do pai, ou a namorada do pai tomará o lugar da mãe”, afirma Dr. Anelise Sandoval Scapaticci, psicanalista infantil e terapeuta familiar. U m outro problem a bastante constante apontado pela psicanálise é o fato de alguns casais insistirem em usar o filho como pivô de uma briga. Ao reclamar do pai na frente da criança, a mãe acaba jogando um contra o outro, o que pode acontecer também caso o pai tenha o mesmo comportamento. ”Deve-se sempre preservar a imagem do pai ou mãe para criança”, salienta. Quando o pai ou a mãe sentir que o novo relacionamento está sólido e estável, deve-se dizer a criança que vai tentar de novo um novo casamento q que vão morar juntos, mas que a criança terá seu próprio quarto e que esta pessoa vai cuidar dela, porém,


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não tomará o lugar do pai ou da mãe “A criança tem sempre como figura modelo o pai e a mãe, nesse caso a nova pessoa será uma figura modelo complementar. Tudo isso deve ser conversado com tempo e calma suficiente para a criança se acostum ar com a nova situ a çã o ” , conclui a especialista.


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A MÃE SOLTEIRA DEVE FALAR SOBRE O PAI PARA A CRIANÇA?

A decisão de ter um filho sozinha faz parte da vida de muitas mães brasileiras, que a dia têm que driblar problemas e decidir sozinha inúmeras questões pertinentes á maternidade. Por mais que cumpra bem o duplo papel-mãe e pai-,há sempre um momento em que a criança questiona sobre o pai, seja porque percebeu ao seu redor estruturas familiares diferentes da sua, seja porque foi questionada na própria escola.Com o a mãe deve agir nesse momento? Segundo a psicóloga carioca Fernanda Roche, a mãe deve falar sobre o pai para ela desde cedo, para que a criança possa saber a respeito de suas origens, seja ela qual for. A criança precisa sentir que tem um canal de comunicação aberto com a mãe, portanto, quando começar a questionar a ausência do pai, evite desconversar ou dar desculpas fantasiosas, tampouco se irrite com tantas perguntas, aconselha a psicóloga. È papel de a mãe ajudar o filho a elaborar a falta que sente do pai, deixando-o expressar seus sentimentos. Ser natural, buscar na memória algumas boas lembranças e faze-la compreender que as pessoas podem ser felizes mesmo estando distantes umas das outras, são posturas da mãe, altamente benéficas á criança. Ao mostrar que há vários caminhos para ser feliz, a mãe estabelece uma relação em que ela e o filho vão ajudando mutuamente, fortalecendo os laços, com partilhando sentim entos que os ajudarão a crescer juntos, salientam.


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MÃE SOLTEIRA: COMO SE PREPARAR PARA ENFRENTAR ESTE DESAFIO?

Enfrentar a gestação sem compartilhar com um parceiro seja por opção seja por ocorrência alheias á vontade da gestante-, é um desafio e tanto, que na sociedade atual se toma constante. As chamadas, produções independentes, muito em voga na década de 80 abriram caminho para a postura de uma nova mulher: moderna, consciente de seus desejos e, acima de tudo decidida. Ainda assim quando a questão envolve afetividade, as coisas não transcorrem de forma tão simples. A situação da mulher que espera um bebê e não pode contar com o parceiro para dividir a tarefa de criar e educar seu filho não parece nada animadora, mas com o apoio emocional da família e de uma boa dose de maturidade e coragem, é possível diblar a sensação de medo, insegurança e desam paro nos m om entos em que, m esm o nos m om entos fragilizadas, a mulher se vê obrigada a assumir este duplo papel, ressalta Fernanda Roche, psicóloga carioca.Segundo ela em primeiro lugar, a gestante deve lembrar-se de que este é um momento realmente especial.Em segundo, deve buscar sentir plenamente o dom de ser mãe.E importante que esta futura mãe estabeleça um bom relacionamento com pessoas próximas, que possam estar sempre ao seu lado nos momentos mais difíceis, salienta.


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COMO A CRIANÇA IMAGINA SER A MORTE?

Apesar de ser um assunto doloroso, a morte faz parte do diaa-dia de todos nós. Ainda assim, há certa tendência dos pais em “esconder” da criança esta ocorrência natural da vida. Segundo a p sicó loga carioca Fernanda R oche, é preciso que os pais compreendam que, ainda que desejem, não conseguirão manter as dificuldades da vida afastada de seus filhos. ”Para protegê-los, no entanto, será preciso prepará-los adequadamente para tomar contato com estas ocorrências, infelizmente, o fato de evitar se falar sobre a morte não a deixará longe de nós. Evitar falar de sofrimento não nos afasta, apenas impede que ele seja elaborado pela criança”, salienta Fernanda. Um aspecto importante sobre o tema, segundo a psicóloga, ó a questão das fantasias que a criança faz a respeito da morte. Todo individuo a partir da ciência e ou de crenças religiosas, tem uma maneira particular de compreender, com maior ou menor dificuldade o que leva uma pessoa à morte. A criança, autocentrada tem a tendência a acreditar que tudo o que acontece gira ao seu redor. Assim, acredita que, de alguma forma, os sentimentos negativos que possa ter tido com relação a seu parente próximo em dado momento pode te-lo aniquilado, ou ainda, que ela não teria se comportado da forma que deveria, causando-lhe a morte. “Fantasia infantil bastante comum é a de que o parente vai voltar um dia”, cita Fernanda. Segundo ela, a criança pequena não tem noção de finitude, trazida pela realidade. Para ela, a vida é regida segundo principio do prazer. Assim, tomar-se difícil para a criança compreender que uma situação de morte de um ente a querido seja definitiva. A psicóloga faz um alerta. Ainda que a realidade tenha sido imposta a criança cedo demais, pode ser muito perigoso deixa-la acreditar que seu parente irá retornar para a vida. Estas crenças, se não forem devidamente .esclarecidas,


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podem trazer sérios prejuízos ao desenvolvimento emocional da criança. Para bordar o assunto recomenda a psicóloga-, os pais podem utilizar filmes infantis, clássicos como Bambi, O rei leão, ambos da Disney, ou em busca do vale encantado. Os livros de história infantis também falam da morte de várias maneiras e há, inclusive, algum as obras dirigidas especialm ente para estes momentos. A própria brincadeira não dirigida, com bonecos que formem uma família, costuma dar a chance da criança se expressar a este respeito, detalha Fernanda.


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COMO CONTAR A UMA CRIANÇA QUE UM PARENTE PRÓXIMO FALECEU? A morte é um tema presente em todos os lares, mas essa incidência não esta ligada necessariamente, á facilidade em lidar com a ocorrência. Na dor da perda, muitas vezes, torna-se difícil para a família refleti sobre melhor maneira de apresentá-la á criança. De acordo com a psicóloga carioca Fernanda Roche, a morte deve ser com unicada pelos pais à criança em conversas despretensiosas. Costumo orientar os pais para que introduzam o tema nas conversas com a criança, antes mesmo que aconteça algum falecim ento na própria fam ília, afirm a a psicóloga, salientando que se for cronologicamente possível, o tema deve aparecer em conversas sobre animais, flores ou pessoas. A criança deve ser esclarecida nos limites da sua curiosidade, salienta. M uitas vezes a criança surpreende os pais ou familiares, trazendo o assunto da morte. Nesse momento muitos pais conversam, tentando ganhar algum tempo para procurar saber o que responde ou como fazelo.E neste instante que o tema se transforma num tabu.A criança percebe que o adulto teve dificuldades para responde-las e,por medo de desagradar, acaba por desistir de interrogar aquela pessoa,fechando um canal de comunicação importante, alerta Fernanda,acrescentando que a criança vai tirar sua dúvidas com outra pessoa mais acessível,talvez não tão bem informada ou com uma visão de morte diferente daquela que os pais gostariam de transmitir. A criança deve ser informada sobre a morte na medida de sua curiosidade. Não serão necessárias explicações longas ou elaboradas, pois o importante é que a criança possa reconhecer, entre seus familiares, uma fonte segura de informações para as suas dúvidas. “É essencial que a criança possa arrumar a morte em sua cabecinha no lugar adequado”, finaliza.


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CRIANÇAS AGRESSIVAS Relação familiar é responsável por 90% dos casos Fanny Zygband Violência Juvenil nas ruas, crianças armadas nas escolas. Esses fatos que aprecem com freqüência no noticiário são a faceta pública de um fenômeno que se desenrola a surdina, ganha corpo nos lares brasileiros e começa a preocupar os médicos: a escalada da agressividade infantil. Embora não haja estatísticas, eles garantem que é cada vez maior o número de famílias, de todas as classes sociais, que procuram nos consultórios e serviços de saúde ajuda para lidar com o comportamento agressivo dos filhos Os especialistas afirmam que a agressividade pode ser uma reação normal e até saudável. A questão é identificar quando esse comportamento deixa de ser aceitável para se tomar um problema. Em um ponto eles são unânimes: a agressividade não é um fato isolado que envolve apenas a criança. Não é doença, é um sintoma. Sintoma de que algo vai mal com a criança, sua família e o ambiente. Segundo o neuropediatra “Mauro Muszkat” da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), menos de 5% dos casos de agressividade são provocados por problem as celebrais ou psiquiátricos. Esse índice salta para 10% quando se leva em conta a depressão infantil-que também está aumentando. Nas outras ocorrências-90% dos casos de agressividade têm relação com um am biente fam iliar hostil de repressão, carência, rejeição ou negligencia e se manifesta como uma reação a essa situação. “Em geral a agressividade da criança é uma cópia do modelo que ela tem em casa. Ocorrem-se espancamentos ou abusos na família, se os pais se relacionam sem amor, ela fará o mesmo com amigos, com os pais e com os animais. Se não for ensinada


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a substituir esse modelo por outros mais adequados, esse padrão se estenderá por toda vida”, adverte o presidente do Comitê de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria, Salvador Célia. Os médicos apontam ainda outras formas de comportamento fam iliar que podem induzir á agressividade. Um a delas é a permissividade-a ausência de limites, regras e valores claros. “Essa é uma tendência atual. O sistema de valores da família é frouxo e as crianças são educadas para levar a vantagem a qualquer custo”. Aprendem que o importante não é fazer as coisas certas, é não ser pego. A noção de certo e errado de uma criança é dada pelo adulto. Q uando isso não corre, ela perde seus re fe re n c ia is. “ A agressividade é um reflexo disso”, afirma o diretor do serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital das Clinicas, Francisco Assunção. No outro pólo dessa equação, está de acordo com os médicos, a violência da sociedade e a influencia dos meios de comunicação, especialm ente da televisão, no comportamento das crianças. Segundo Muszkat, um dos problemas é que a carga agressiva a que estão expostas é superior á sua capacidade de absorver e processar essas informações. “A criança é como uma esponja. Quando e estimulo que recebe é maior que sua habilidade de expressa-lo corporalmente, ela se desorganiza. A agressividade é como uma convulsão”. Motora, um sinal de que ela não está conseguindo lidar com tantos estímulos. “Quando reage assim, tudo que está perdido é ajuda”, explica.


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PICOS DE AGRESSIVIDADE

A Influência da TV Junto com o comportamento., familiar, os especialistas afirm am que os m eios de com unicação, prin cip alm en te a televisão, também estimulam a agressividade ou - na melhor das hipóteses banalizam a violência, fazendo com que a criança a aceite como algo natural. - O que mais está despertando a atenção dos médicos são os relatos das crianças durante o tratamento, estabelecendo uma relação entre seu comportamento agressivo e o que assistiram na televisão. - “Na época em que o Maníaco do Parque fo i preso, por exemplo, o número de consultas aumentou bastante. As crianças tinham p e sa d e lo s com m ortes e cadáveres ”, a firm a o neuropediatra Mauro Muszkat, da Unifesp. - O Psiquiatra Salvador Célia, da Sociedade Brasileira de Pediatria, é da mesma opinião e aponta também os videogames como indutores da agressividade, por brutalizar as crianças. “Tanto o mocinho como os bandidos são violentos. A violência é sempre recompensada e as crianças aprendem que essa é uma boa maneira de resolver as coisas”, analisa o médico. Para reverter essa situação, Célia sugere que as famílias assumam maior responsabilidade pelo que as crianças assistem na TV e desempenhem um papel mais ativo para reduzir seus efeitos. Eis as principais propostas.


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1. As crianças nunca devem assistir televisão sem a presen­ ça dos adultos. 2. Os adultos devem atuar como “filtros”, comentando o que está sendo visto e apresentando para as crianças uma outra opção de comportamento. 3. Film es e desenhos anim ados violentos e program as erotizados devem ser evitados pelo menos até os 12 anos.


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LIDANDO COM A CRISE

Quando as crianças têm uma crise de agressividade, os familiares costumam reagir da mesma forma gritando, batendo ou xingando. Segundo o neuropediatra da U nifesp, M auro M uszakat, esse é exatamente o comportamento que deve ser evitado. Veja as recomendações do médico para lidar com a situação. 1. Controle suas emoções antes de agir. Nunca reaja com violência ou passividade. 2. Aproxima-se fisicamente da criança olhando bem nos seus olhos. 3. Tente c o n tê-la, e stre ita n d o -a co n tra o p e ito . A agressividade é uma convulsão motora. A contenção devolve á criança o limite físico que ela perde durante a crise. 4. A contenção deve ser suave e firme. Não o faça como punição ou com raiva. 5. Passada a crise, converse com a criança. Deixe claro que aquela atitude prejudica a família e não é aceitável. Evite culpala. 6. E importante para a criança perceber que os pais têm rédeas. Aplique pequenos castigos, como manda-la para o quarto. 7. Adote um método para dar limites á criança. Ele deve ser usado por todos os membros da família e transmitido de forma organizada e disciplinada.


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8. Em vez de dizer a criança “Não faça isso”, adote a forma positiva. Comunique o que deseja que ela faça.


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SOLUÇÃO EM FAMÍLIA

Na maioria dos casos, a agressividade infantil é sinal de que toda família requer cuidados. Embora 80% dos pais atribuem o problema apenas à criança, os médicos recomendam que família participe do tratamento. “A recuperação é muito mais rápida quando ela assume sua parcela de responsabilidade”, explica o diretor do Serviço de Psiquiatria da Infancia e Adolescência do HC, Francisco Assunção. Infância de 3 à 5 anos. Adolescência de 12 à 16 anos. Eis suas dicas para ajudar a família a transformar seus valores e relacionamentos. 1. A família é a primeira “escola” da criança, por isso deve ser organizada, com hierarquia, regras e papéis. 2. Fornecer à criança padrões claros de respeito, diálogo e tolerância. 3. Fazer atividades em conjunto, para co m p artilh ar e estabelecer vínculos. 4. E a qualidade do relacionamento que conta. Ausência de família é sinônimo de ausência de modelos.


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SINAIS DE ALERTA

N em sem pre é fácil d istin g u ir o m om ento em que a a g re ssiv id a d e deixa de ser norm al para se to rn a r um comportamento que requer assistência médica. Esses são, segundo os especialistas, alguns indicadores de que a criança precisa de ajuda especializada. - RISCOS Quando a crise agressiva coloca em risco a vida ou a integridade da criança ou de outra pessoa (Quando ela se machuca propositalmente ou tenta ferir alguém) - FREQUENCIA Quando a agressividade se torna um hábito com frustração da criança. - INTENSIDADE Quando a reação é desproporcional ao fato que a gerou. - ALTERNÂNCIADE REAÇÕES Quando a criança alternar apatia com agressividade e ocorrer que da no rendimento escolar. Esse quadro pode indicar depressão. - SIN T O M A S FÍSIC O S Q uando a ag ressiv id ad e for associada a sintomas como dor de cabeça, tontura e turvação da vista. Copilação para fins didáticos Fonte: Diário Popular, 16 de maio de 1999.


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CONCEPÇÃO PSICANÁLITICA DA CRENÇA E DO BRINCAR

Tradicionalmente acredita-se que há um vinculo direto e imediato entre a criança, o brinquedo e o brincar. Parte-se da idéia de que a criança na história da humanidade, sempre teve brinquedo e brincou. Não havendo nada mais natural que a associação criança, brincadeira e jogo infantis. Para a psicanálise tais colocações são altamente questionáveis, revelando formas prévias de conceder a criança, o brinquedo e o brincar. Anos de trabalho terapêutico e a elaboração teórica levaram á redefinição do próprio trabalho terapêutico com crianças. Assim, uma Psicanálise de crianças vai se tomando, cada vez mais, uma Psicanálise com crianças “Para a Psicanálise com crianças não é somente com discurso da criança que lidamos, mas também com o discurso dos pais”.


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A CRIANÇA DAS TEORIAS X A CRIANÇA REAL

Um dos problemas mais sérios da chamada Psicanálise com crianças é resgatar a criança através da sua fala, da sua palavra. Geralmente ela se encontra misturada ás concepções que pais, professores e especialistas fazem dela. A Psicanálise revela o quanto à palavra da criança pode ser encoberta, através de conteúdos transferênciais, pela fala dos adultos. “Tansferênciais de palavra foi o primeiro termo que Freud utilizou para falar de transferência. Em seguida o termo se transformou em transferência de pessoas, transferência de objetos, até chegar como vocês sabem á transferência de sentimentos”. A criança, ao longo da história da humanidade, tem sido depósito de processos transferênciais dos adultos, em termos de conteúdos e formas. A história ajuda-nos a com preender esse fenôm eno de espelhos que invertem entre o adulto e a criança; eles refletem-se como dois espelhos colocados indefinitivamente um diante do outro. A criança é o que acreditamos que ela seja o reflexo do que queremos que ela seja. Só a história pode fazer-nos sentir até que ponto é os criadores da” mentalidade infantil. Em parte alguma a tomada de consciência é tão difícil quanto dando se trata de nós, e o fenôm eno nos escapa quase sem pre quando estam os diretamente implicados na situação. Através da história e da etn o grafia compreendemos a pressão que fazemos pesa sobre á [criança”. i: Para a Psicanálise é fundamental que a palavra e o brincar da criança sejam resgatados em toda a sua autenticidade. Para isto é [necessário que os adultos fiquem atentos a alguns esclarecimentos básicos. O primeiro deles se refere á especialidade d^ noção de


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infancia. Geralmente a criança tem sido confundida com uma co n cep ção de in fân cia o do in fa n til a p re se n ta d a pelos pesquisadores. Philippe Áries revela que o infantil, enquanto faixa etária, ainda é bastante recente na história da humanidade. Ele data praticamente do século XVI para cá. Anteriormente a criança era vista como um adulto em miniatura. O infantil, como substantivo e não adjetivo, perde o impacto de conteúdo especifico, ficando reduzido á mera concepção que se ten h a da in fân cia, de um determ inado autor, de um a determinada teoria, de uma determinada época. A abordagem p sican alítica com crianças vai além da concepção cronológica, objetiva revelar o que há de especifico no infantil e na criança. Em segundo lugar, o infantil tem sido reduzido a uma mera etapa do desenvolvimento linear e único, tido como comum a todas as crianças e culturas. O corpo humano, em toda a sua complexidade, ainda não foi suficientemente simbolizando em relação aos referenciais individuais e sociais. A Psicossomática revela estes impasses. As asmas, a enxaqueca, a úlcera gástrica, etc, são quadros clínicos que demonstram a complexidade das reações do corpo hum ano, denunciando o quanto ainda é necessário investigar. Em quarto lugar, a sexualidade humana tem sido reduzida a um processo de desenvolvim ento físico, tom ado natural e predeterminado. A Psicanálise revelou que a diferença sexual não é uma diferença meramente anatômica, ela trouxe á tona as dificuldades do sujeito em assum ir seu sexo. Para Freud a diferenciação sexual não decorre apenas de conteúdos sociais e individuais, mas de um longo processo de elaboração. Nos três ensaios, de 1915, Freud assinalava que haveria uma bissexualidade inicial, que se manteria ao longo do processo de constituição do sujeito, levando-o a nunca se constituir plenamente em homem ou mulher.


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Lacan leva o processo às últimas conseqüências, com o conceito de sexuação ou opção de identificação sexuada. Este processo apresentaria três tempos: no primeiro há na captura da diferença entre os sexos e o sexo apresentado pela criança, na segunda etapa, a criança aprece no discurso sexual apresentado pela família e apenas na terceira etapa é que ela faz a eleição sexual propriamente dita. Para desses pressupostos, a Psicanálise passou a criticar as formas prévias de conceber a criança, tecidas a partir das chamadas teorias de desenvolvimento estabelecidas pelos adultos. Isto porque os processos de erotização que correm com a criança, não coincidem necessariamente com as construções teóricas. Daí, ser preciso dar a palavra á própria criança. Em quinto lugar, quando a apalavra é passada á criança há ainda a emergência de um outro tipo de preconceitos. Os adultos acreditam que ela não sabe se explicar muito bem, porque lhe faltam palavras, lhe faltam argumentos. Em decorrência, eles acabam por colocar a criança no lugar daquele que não sabe, e de novo passam a tentar deduzir como ela pensa e age. A Psicanálise enfatiza a importância dc se passar à palavra á criança, para que ela nos diga quem ela é e como pensa. Em sexto lugar, isto acabou por levar a Psicanálise a privilegiar a noção de desenvolvimento. Esta opção é um marco estratégico. Isto porque não há um desenvolvimento igual ao outro, seja físico, social, emocional, etc. Os processos maturacionais de cada criança são discrepantes sem reação ás demais. Sua fe strutura é sempre singular, seguindo os processos específicos, ;VÍnculados á história de cada sujeito. Para a Psicanálise a noção de estruturas possibilitará captar a criança de uma maneira mais precisa, sem transformá-la em uma peça dos jogos de encaixe das teorias. Em suma, para a Psicanálise não se trata de demonstrar que a


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teoria captou corretamente o sujeito, mas, que em todos os casos, se ultrapassa sempre รง plano da teoria. As crianรงas nรฃo podem ser reduzidas ao enfoque teรณrico.


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A CRIANÇA INTERPRETADA PELOS ADULTOS

Poderíamos pensar que, após termos esclarecidos a questão dos referencias teóricos, seria possível nos voltarmos apenas para a criança em toda a sua singularidade. Na verdade, as coisas não são simples assim. A criança intemaliza a palavra dos adultos que convivem com ela. Ela acaba por acreditar que sua imagem que eles fazem dela. Assim, como os adultos costumam acreditar que na sua imagem a respeito da criança é a própria criança. Por exem plo, é bastante comum os professores confundirem as imagens que as teorias psicológicas e pedagógicos trazem, como sendo criança. Eles acreditam que basta ter um bom conhecimento teórico para saber como a criança é, pensa e age. Há uma confusão das imagens de desenvolvimento do infantil ou das teorias com as próprias crianças. “Esta criança é pré-silábica!” Ela está na etapa das operações concretas. Eles acabam por confundir a imagem da criança universal trazida pelas teorias com a criança particular. Um outro a ser assinalado é que eles acreditam que são os referenciais mais importantes para as ações para as ações da criança. Por exemplo, é bastante comum o professor acreditarem que as aços das crianças foram feitas para chamar a atenção deles. Ou seja, eles tomam as ações da criança como tendo um só direcionamento, um só sentido, uma só intencionalidade: aqueles que eles atribuem. Freud havia chamado a atenção, desde o século passado, para um modelo de atuação narcísea, onde o sujeito se coloca como o centro de todas as coisas. Os adultos desejam ser o centro de atenção da vida da criança. Como N arciso, ficam cegos e fascinados pela própria imagem, que acreditam ver as ações das crianças. Com isto, não é de se espantar que a criança não tenha ainda


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sido percebida em toda a sua singuralidade, pois o que emerge em seu lugar são as imagens das teorias psicológicas, médicas, etc e/ ou as imagens sociais individuais que os adultos fazem dela. A mesma coisa acontece com os brinquedos e o brincar da crian ça. Os adultos costum am a trib u ir a eles sen tid o s e significações prévias, que concebem como sendo o verdadeiro sentido e significado das brincadeiras e jogos infantis. Para a psicanálise a palavra criança precisa ser resgatada. Para que ela deixe de ser objeto dos desejos e necessidades dos adultos, para se investigar como ela pensa, sente, percebe o mundo á sua volta. Para a Psicanálise a criança, o brincar e os brinquedos são processos que precisam ser ainda investigados. Porque estamos iniciando esta discussão através da critica das teorias de estágios de desenvolvim ento? Porque elas fundamentalmente pré-concebem como deverá se o processo de desenvolvimento da atividade lúdica na criança. Ou seja, elas fazem o professor acreditar, e esperar, que todas as crianças, em d e term in ad as etap as, tenham o m esm o p ro cesso de desenvolvimento. Onde o professor deveria estar descobrindo como cada criança brinca, que tipo de brinquedo e jogos ela gosta, etc. emergem em seu lugar as respostas prévias que as diferentes teorias apresentam como sendo o brincar da criança ou as elaborações que os adultos propuseram a respeito dela. Em decorrência é fundamental que o professor perceba que cada cria n ça fren te ao lúdico a p re se n ta a sua própria especificidade. A ssim , em bora m esm a fam ília dois irmãos apresentem processos de constituição parecidos, quando se dá a palavra a cada uma das crianças se constata que elas são diferentes. “A transferência é a atualização da realidade inconsciente. () inconsciente. São feitos da fala sobre o sujeito, é a dimensão que o sujeito se determina no desenvolvimento dos efeitos da fala,


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em conseqüência do que o inconsciente é estruturado como uma linguagem”. O processo de desenvolvimento de cada criança necessita de desencadeadores através da linguagem e da fala. Isto quer dizer que, sem a linguagem e a fala, os cham ados processos de desenvolvimento não serão acionados. O uso da atividade lúdica como uma das formas de revelar os conflitos interiores das crianças foi, sem duvida, uma das maiores descobertas da Psicanálise. È brincando que a criança revela seus conflitos. De uma form a muito parecida como dos adultos revelariam falando. No entanto, o brincar e as brincadeiras infantis não podem ser tomados como processos iguais á linguagem e á fala. Eles apresentam uma singuralidade típica. Um outro aspecto a ser assinalado é que os brinquedos e jogos são reduzidos a objetos concretos. Não se percebe que eles são objetos estabelecidos na mesma e através da linguagem. Em segundo lugar, é um fato de experiência que, mesmo na criança mais nova, vemos aparecer esses objetos que Winnicott chama de objetos transicionais porque não podemos dizer de que lado eles se situam na dialética reduzida, e encarnada, da aludição e do objeto real. “ Todos os o b jeto s de jo g o s da c ria n ça são o b jeto s transicionais. Os brinquedos, falando propriamente, a criança não precisa que lhe sejam dos que já que os cria apartir de tudo o que lhe cai nas mãos. São os objetos transicionais”. A propósito destes, não é preciso perguntar se são mais subjetivos ou mais objetivos, eles são de outra natureza. Mesmo que o Sr. Winnicott não ultrapasse os limites chamando-os assim, nós vamos chamá-los simplesmente, de imaginário. Para a Psicanálise, não se deve confundir os objetos concretos (brinquedos e jogos), com as suas simbolizações e imagens. Há a distinção entre a realidade psíquica da criança e a realidade concreta. Para que possamos saber como a criança pensa, o que


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sente, deseja etc, é preciso que nós nos orientemos pela sua realidade psíquica, e não pela chamada realidade concreta ou por sua realidade psíquica. Freud e Lacan lembram que os seres humanos se orientam pela linguagem e pela fala, sem perceber os efeitos que elas acarretam. Sem se dar conta de que elas tecem a realidade psíquica dos sujeitos. A realidade psíquica da criança não pode ser reduzida á realidade psíquica dos seus pais ou dos seus professores. Quando o professor ou pais tenta captá-las a partir das suas próprias representações, o que fazem é perdê-la, irremediavelmente, pra uma mascara que eles compuseram acreditando que fosse ela.


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A CRIANÇA NA CONCEPÇÃO PSICANALITICA FREUDIANA

As crianças não chegam isentas à escola. Elas trazem no pensamento, nas emoções ou na forma de brincar a maneira como foram olhadas e percebidas pelos outros. Ao brincar, a criança não se situa apenas no momento presente, mas, também, no seu passado e no seu futuro. O brincar, como atividade terapêutica, possibilita que a criança supere a situação traumática. È simbolizando, falando e representando os conteúdos que a perturbaram que ela pode nomear e conhecer melhor as situações, idéias, pessoas e coisas. O brinquedo da mesma forma que o brincar não é um objeto neutro, pois condensa a história da criança com outros objetos. Para Freud, o brinquedo e o brincarão os melhores representantes psíquicos dos processos interiores da criança. Eles estão em significação, na busca do sentido dos atos da criança. A transferência revela o tipo de laço social que se teceu no ambiente familiar da criança. Através dela acredita-se que ela revivera aos principais conteúdos emocionais que marcaram. Na verdade, esta forma de conceber a transferência capturaria apenas uma parte do circuito transferência, a da linha dos afetos, excluindo outra, a da transferência enquanto um circuito do saber. Pode se dividir a historia da transferência com crianças em dois grandes períodos estruturais a transferência concebida enquanto conteúdo afetivo e a transferência enquanto uma forma de saber. No primeiro caso, a transferência, na Psicanálise Clínica com crianças, tem sido concebida tradicionalmente como se fosse uma relação dual, onde as emoções entre o sujeitos seriam recipocras. A transferência revela o ponto onde o circuito emocional se paralisa.


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“ Se a transferência é apenas repetição, ela será apçnas repetição, da mesma rata. Se a transferência pretende, através da repetição, restituir a continuidade de uma historia, ela só fará fazendo ressurgir uma relação”. A transferência, como Freud a concebeu inicialmente revela a existência de formas repetitivas de atuação dos sujeitas a determ inados objetos, pessoas e conteúdos. Há a constante repetição do repetido. Por exemplo, a criança que atira pela vigésima vez no chão o mesmo objeto, chamado a professora: “Oi, tia (e joga o objeto no chão)”. Muitos psicanalistas, assim como os professores entendem esta situação como uma ação feita propositadamente para irritálos. Como se a criança fizesse aquilo para chamar a sua atenção. Segundo a perspectiva freudiana clássica é uma relação contra transferêncial. Onde o professor só aparentemente se dá conta do que acontece com o aluno. Ele transfere o seu conteúdo para a criança, tomando a sua forma de ver as coisas, como sendo a forma de ver da criança. Para Freud, o professor confundiu o seu eu, com o eu da criança. Por trás das emoções como formas repetitivas de atuação nos brinquedos e jogos da criança, encontram-se outros conteúdos além daqueles que o adulto supõe. Freud chamava esse processo de Mais Além do Prazer, ao assinalar que a criança não repete apenas ações prazerosas, mas as complicadas e difíceis. Freud acabou por se dar conta que os símbolos, as imagens, os objetos não são neutros, mas se apresentam sempre erotizados. Esta erotização instaura os circuitos libidinais de repetição. Sejam as repetições prazerosas ou aquelas que não são. Para Freud, foi se tomando cada vez mais importante perceber qual era o sentido, o significado destes circuitos repetitivos. E por tudo isto que os psicanalistas se voltaram inicialmente para a busca do significado das ações, dos sintomas da criança.


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A sua realidade psíquica era diferente da realidade dôo adulto, tomando-se necessária investigar como ela se apresenta, quais sentidos e significações traziam. Um dos conceitos Psicanálise, na captura da realidade psíquica como criança se constitui, quais os sentidos que foram dados as suas ações. Pôr fantasmas, tradicionalmente, a Psicanálise entende: “Um roteiro imaginário em que o sujeito está presente, e que figura de maneira mais ou menos deformada pelos processos defensivos, a realização de um desejo inconsciente. O fantasma se constitui a partir das coisas vistas e ouvidas”. O fantasma da criança é produto do que ela viu, viveu c ouviu em suas relações com os adultos. Ela ocupa, geralmente, o lugar do objeto, sendo deposito para o desejo dos adultos. D entro de um a concepção m ais d ire c io n ad a p ara a transferência im aginária, certos psicanalistas (R ené Spitz, Margaret Malher e Maud Mannoni, por exemplo, passaram a fazer uma leitura fantasmática referida apenas ás relações entre a mãe e a criança). Acreditava-se na importância de uma boa relação materna para que a criança não caísse sob o impacto da neurose, da psicose ou da perversão. A boa mãe seria aquela que propiciasse á criança um ambiente afetivo bem estruturado, reconheccndo-a como sujeito, retirando-a da posição de objeto, isto é, de deposito dos sonhos, das expectativas e do desejo dos adultos. A ludoterapia passou a ser o meio pelo quais as relações ruins da criança seriam recriadas “concertadas”. Através dos jogos e brincadeiras infantis, a criança poderia simbolizar seus problemas, resolvendo-os em um outro contexto. O conceito de transferência passou a se direcionar para os aspectos afetivos (imaginários). A relação mãe e filho foram tomados como uma relação de amor necessária, para que as crianças pudessem crescer saudáveis. O chamado fenômeno do afeto ou das emoções adquire no


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contexto escolar importância fundamental. Pois é no chanado plano do imaginário, isto é, no âmbito das relações duais, q e as emoções desempenham papel essencial. Freud vai dizer qie as emoções são recíprocas. Ao imputar ao outro sentimento qu< são nossos, nós também os fazemos reagir perante as nossas emoiões. Para Melanie Klein, não se tratava apenas de resgatar a rehção de amor que a criança não teve. Há outras emoções em jogo: tdio, inveja, agressividade, sexualidade, etc. Constatou-se que a crimça h av ia perdido a inocência. As suas b rin c a d eiras e j«gos apresentavam conteúdos sexuais. Através do caso Dick, Melanie Klein representa esse proctsso, fazendo a criança simbolizar a relação familiar através do uso de três brinquedos, um trenzinho pequeno será Dick, o trenznho maior será papai e o túnel será a mamãe. A autora considera que os brinquedos e jogos da crimça tornam-se processos simbólicos, com sentidos e significações específicos para cada criança. Winnicott acrescenta que além das significações e sentidos, as significações são construídos, é preciso saber como a crimça constrói os objetos interiormente, como vai tecendo símbolos e imagens, ao mesmo tempo , em que é tecida pela linguagem e pela fala: “Esse jogo (o Fort-Da para Freud, isto é, a criança que biinca em fazer aparecer e desaparecer o carretei dado pela mãe para brincar) mediante o qual a criança se exercita em fazer desaparecer de sua visão, um objeto, por mais indiferente que seja enquanto a natureza, por sua vez m odula essa alternância com silabas distintivas-esse jogo, diremos, manifesta em seus traços radicais a determinação que o animal humano recebe da ordem simbólica”. E a matriz simbólica estabelecida através da linguagem e da fala que irá constituir o sujeito. Ela estabelecerá a presença e a ausência dos objetos. E um dos traços mais fulgurantes da intuição de Freud na


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ordem do mundo psíquico, que haja captado o valor revelador dos jogos de ocultação, que Freud, em uma intuição genial, apresentou aos nossos olhos, para que nos reconhecêssemos neles o momento em que o desejo se humaniza é também o momento em que a criança nasce para a linguagem.


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A CRIANÇA NA CONCEPÇÃO PSIC ANALÍTICA LACANIANA

A abordagem lacaniana trouxe contribuições ao pensamento psicanalitico, a partir de um novo conceito: o de gozo. O gozo, para Lacan, está articulado àquilo, que está além do principio do prazer. A criança não repete situações passadas apenas porque elas têm determinados sentidos e significações. Ela repete porque elas passam a se constituir em formas de gozar. “A realidade é abobadada com os aparelhos de gozo. E aparelho de gozo não há outro senão a linguagem. E assim que no ser falante o gozo é aparelhado. E o que diz Freud”. A criança não repete certas ações desagradáveis apenas para chamar a atenção do professor. Ela faz porque aquilo tem um determinado sentido, porque se encontra presa em cadeias de gozo das quais não consegue sair. Quando a criança se aproxima de um brinquedo, para brincar, já está aparelhada com formas estruturadas de pensar e de saber. Durante muito tempo os psicanalistas acreditam que bastava o sujeito saber o sentido e os significados das suas ações para mudar. O problema é muito maior: estamos presos ás cadeias de gozo formas de gozar padronizada das quais não conseguimos nos desvencilhar, nem saber o sentido. Para Lacan, a linguagem e a fala não dão conta de dizer os sujeitos, as crianças, suas vidas, suas histórias, de delinear o que acontece com elas. O saber tem limites, não é um saber integral como pensam a Pedagogia e Psicologia. Lacan elabora uma concepção de saber como “não - todo”, isto é, sempre irá faltar um pedaço. Ele será incompleto. Este saber do sujeito, de cada criança, não pode ser reduzido, como acreditam a Psicologia e a Pedagogia, a um saber universal, a um saber completo e total.


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Cada paciente cada criança, cada professor terá que tecer o saber a partir das linguagens e da fala. Um saber que tecerá a verdade do sujeito. O saber universal não traz em seu bojo a verdade do sujeito. Seja, porque ele agiu de determinada forma, porque ele se encontra preso ás cadeias de gozo etc. A ssim , como a palav ra, as significações em sentidos das ações das crianças elaboradas pelos adultos não dão conta de dizer que elas pensam, sente e porque repetem determinada ação. A criança precisa saber por que ela age de determinada forma, porque se encontra presa a determinadas cadeias de gozo. È devido ás cadeias de gozo, e não ao sentido ou significado de um determinado jogo ou brincadeira infantil, que a criança repete. Ou seja, que ela repete algo que ainda não conseguiu elaborar. È isto que a criança esta presa, e não aquilo que o professor acha que seriam o sentido e as significações de suas ações. A criança não age de determinada forma para chamar a atenção do professor. Ela age porque está conseguindo sair desse processo, porque não consegue encontrar outra forma de gozar. Muitos são aqueles que acreditam que a Psicanálise apresenta um saber universal o do mito Edipo. Lacan vai reformular esse conceito introduzindo a noção de complexos familiares ao afirmar: O que define o complexo é o fato de que ele reproduz certa realidade do ambiente (ambiência), e o faz de uma forma dupla: 10 Sua forma representa esta realidade o que ela tem de destino de um a dada etapa de desenvolvimento psíquico, esta etapa especifica a sua gênese; 2o Sua atividade repete no vivido a realidade assim fixada em toda oportunidade em que produziram algumas experiências de objetivação superior, especificam o condicionam ento do complexo.


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Os complexos familiares são o ambiente familiar, tecido através das palavras, imagens, e símbolos que acompanhan a criança em todos os lugares, isto quer dizer que, quando a criança age, ela não faz ao acaso, mas apresenta as formas de gozar que aprendeu em sua família. São elas que estabelecem a gênese do processo da criança, isto é, que iniciam o seu processe de c o n stitu iç ã o de su jeito e não as cham adas etapas de desenvolvimento gerais. Desde o começo, é necessário dizer que há uma diferença entre Freud e Lacan, o que leva Jacques-Alian Miller a dizer que “Lacan corrige, nisto, a Freud”. A indicação de Lacan é, quando a questão de desenvolvimento, revisar o tratamento que se dá ao imaginário pelo simbólico, cuidando de não cair na tentação (tão amiúde presente) de abandonar o fundamento da palavra. Quando ás teorias chamadas de desenvolvimento, é preciso assinalar que tanto os seus impasses como as contradições que entre elas se colocam, dão mostras da insistência de algo indomável, de algo impossível de dizer, que ainda que se trate de cerca-lo através de vários métodos ou técnicas de investigação, só se consegue alcançar as suas bordas. “Esse real inabordável através de qualquer psicologia, é o que perm ita conceber os vãos esforços pôr constituir uma verdadeira teoria do desenvolvimento” . E ex atam en te o real da c rian ça que as teo rias de desenvolvimento não conseguem aprender. Elas não capturam o especifico de cada criança em suas cadeias de gozo. Suas repetições são produtos destas cadeias, e não de etapas prefixas do desenvolvimento humano. A Psicanálise revela as armadilhas desse empreendimento. Tomam-se como sendo da criança, construção de linguagem que foram feitas para falar dela. Confundem-se os sentidos, as significações elaboradas através da linguagem como o próprio


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pensamento da criança. Para Lacan é importante que nós percebemos que há na linguagem e na fala sempre algo que vaza, algo que não se atinge, anão ser aproximadamente a própria criança a brincar. É nesta região que Lacan assinala a existência do registro real. Algo que nos tentam os apreender, mas só identificam os através dos símbolos, das imagens, das significações e dos sentidos da nossa cultura. É pela repetição, dos circuitos de gozo que a criança revela a sua discordância em relação ás nossas teorias de desenvolvimento. Ela revela o quanto singular é sua ação e seu brincar. A importância da concepção psicanalítica encontra-se em que ela revela os limites dos pesquisadores a respeito das teorias sobre o brincar, o brinquedo e a criança. Ainda falta muito para nos aproximarmos de uma visão mais precisa do que são estes elos na vida da criança. E preciso que primeiro, nós possamos nos desfazer de nossos próprios preconceitos teóricos, para capturálos da forma mais próxima possível. O que não quer dizer que nós tenhamos a verdadeira idéia de quem é a criança, o brincar e o brinquedo. Como revelou Lacan, esta ainda nos falta e vai faltar sempre. Lacan assinala que a Psicologia costuma enfatizar o que é percebido através da Linguagem. E preciso que nós percebamos que o sujeito, a criança, está em outro lugar, distinto de tudo que escrevemos e falamos sobre ele. Porque esta abordagem é importante para se lidar com a criança, os brinquedos e os jogos infantis? Porque ela revela que o adulto apresenta sempre estereotipo em relação á sua percepção da criança, dos brinquedos e dos jogos infantis. Além dos significados e das significações: o real da criança, dos jogos e das brincadeiras infantil. Costuma-se dar como naturais os conteúdos referentes ás ligações entre a criança, os brinquedos, as brincadeiras e os jogos


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infantis. Ao longo deste trabalho, fomos percebendo que essas icéias não se apresentam juntas. Elas se estruturam tanto a partir de concepções sociais quanto individuais. É preciso que nós saiamos dessas concepções preestabelecidas para que realmente possamos identificar como a criança pensa, brinca e joga. Como ela concebe os brinquedos, os jogos e as brincadeiras. “Podemos chamar com Freud de infantil, o que da criança não se desenvolve, e o que não se desenvolve tem a ver com o gozo”. Fracionar fenomenicamente as brincadeiras, os jogos e o contato da criança com os brinquedos, não resolvem a questão. O brincar não se reduz ás diferentes etapas e tipo de brincadeiras infantis. O brincar ultrapassa esses processos e se institui como uma categoria para cada criança. Ao aprender a criança através das etapas de desenvolvimento, nós não nos damos conta de que estamos agindo de uma forma redutora, fazendo a criança se encaixe na linguagem que conhecemos. Há um novo brincar nos brinquedos e nos jogos infantis que precisa ser resgatado pelos educadores e pelos pesquisadores infantis. Um novo que sempre existiu. Um novo que pertence ao registro do real, mas que, por nossas construções de linguagem, sempre tentamos aprender á nossa moda, perdendo muitas vezes irremediavelmente a criança, o brincar e o brinquedo.


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DELINQÜÊNCIA JUVENIL

A fim de co m p reen d er os p adrões e p ro b lem as de comportamento devemos procurar explica-los, não em função de simples relações de causa e efeito, mas em termos de motivações. Em outras palavras, não é apenas o sobre a criança, mas é o efeito do lar destruído sobre toda a massa de fatores que desenvolve e cria a personalidade da criança e sua adaptação á vida.Por inconscientes do indivíduo, que fazem parte do estilo de vida e contribuem para seu ajustamento a ele.Este ajustamento é um processo que se inicia na infância e tem seu período mais importante de elaboração nos primeiros anos da infância. Isto naturalmente, não excluiu o fato de que certas mudanças de comportamento possam ser imputadas a causas especificas tais como modificações orgânicas no cérebro, devidos acidentes, inflamações ou envenenamento. No sentido mais amplo em que aqui se estuda o comportamento, somos levados a procurar motivos. A criança traz para a vida os mesmo impulsos instintivos e desejos que encontramos no adulto. No período inicial, o caráter da expressão desses impulsos e desejos pode ser chamado prim itivo “bárbaro” e “narcisista” . O objetivo eventual dos cuidados e da Educação da criança consiste em modificar as expressões dos impulsos e desejos, em plasmas para dar-lhes uma forma madura, adulta, socialmente aceitável. A criança necessita de segurança emocional a fim de encarar as novas adaptações que tem de fazer constantemente. Abandonar o comportamento infantil por um comportamento num plano mais adulto significa abandonar uma atividade da qual a criança retira satisfação imediata por outra atividade que, no momento, exige renúncia. Como por exemplo, podemos tomar a aprendizagem da criança para deixar de molhar-se quando surge uma tensão em sua bexiga


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e esperar para urinar até alcançar à privada. A criança está disposta a passar por todo este processo educacional se receber amor em troca. Se o amor é consistente, dado como criança o necessita e não meramente para satisfazer as necessidades internas do adulto, a segurança emocional se estabelece, porque os impulsos e desejos instintivos da criança se dirigem sempre para os pais ou para pessoas que cuidam dela. As a titu d es e as reações destes adultos não to can tes ás necessidades e ás expressões do bebe são, em grande parte, determinadas pelo tipo de adaptação dos primeiros anos da vida. Desta forma, o adulto plasma o tipo de adaptação que a criança fará isto, por sua vez tende a determinar a caráter e a personalidade do adulto em que se tomará eventualmente a criança. A delinqüência juvenil, como um aspecto do comportamento, é, neste momento, um problema particularmente importante. Tem recebido boa dose de atenção pública porque relatórios de fontes diversas indicam visível aumento numérico em sua incidência. A ruptura da estrutura normal do lar e as influencias amiúde ocasionadas pelas necessidades e exigências do esforço de guerra, a ausência do lar de irmãos mais velhos, e agora de irmãos maiores e do pai, mães que trabalham fora, habitações superlotadas e uma m ultidão de outros fatores agravam indubitavelm ente um problema que, não obstante, exige uma atenção igualmente séria em tempos de paz. Descobre-se que mocinhas de quatorze e quinze anos de idade,com freqüência depois de haverem abandonado seus lares, mantém relações sexuais com homens das forças armadas. Naturalmente isso também constituía um problema em tempos de paz. Rapazes e moças de boas escolas secundárias faltam ás aulas e procuram abandonar seus estudos para conseguirem trabalho. Amiúde deste esforço, embora bem intencionado, tomase mal orientado. O fascínio de salários aparentemente maiores permite á esses jovens uma válvula de escape para seus desejos


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de se precipitarem á vida adulta, com os privilégios dos adultos. E assim, em vista das tendências particulares de um período se encontrarem refletidas no comportamento social dos adultos e das crianças encontra-se menores tomando parte ativa em ataques a grupos m inoritários, profanando propriedades da igreja e difundindo “slogans” viciosos utilizados pelos mais velhos. Tal com o se a p resen ta hoje, o p ro b lem a é en carad o principalmente de dois ângulos. Estes dois ângulos abrangem algumas zonas comuns, porém em outros sentidos estão bem distanciados um do outro. Um é o ângulo da sociedade, visto através dos olhos da lei; o outro, o ângulo clinico, baseado na estrutura e na personalidade do indivíduo. A delinqüência juvenil, num sentido legal, é definida pela Lei. Visto que, de modo geral, se atribuem maior liberalidade neste sentido ás leis do Estado de Nova Iorque que ás de muitos Estados, podemos tomar sua definição, com ligeiras modificações, como um exemplo prático. Lei 317- Bem Estar Social (3) Será considerado delinqüente o menor: a) Que viole qualquer lei ou qualquer postura municipal, ou; b) Que pratique qualquer ato que, cometido por um adulto, seria um crime não punível por morte ou prisão perpetua, ou; c) Que seja incorrigível ou incontrolável ou habitualmente desobediente, e esteja fora do domínio de seu pai, tutor, guardião ou outra autoridade legal, ou; d) Que fuja habitualmente ás aulas, ou; e) Que sem causa justificada e sem o consentimento de seu pai, tutor,ou outro guardião legal, abandone repentinamente seu lar ou lugar de residência, ou; f) Que se dedique a qualquer ocupação que constitua violação da lei, ou; g) Que mantenha relações sexuais com pessoas imorais ou viciadas, ou;


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h) Que freqüente qualquer lugar cuja existência constitua uma violação á lei, ou; i) Que habitualmente empregue linguagens obscenas ou injuriosas, ou que peça ou solicite esmola ou dinheiro em lugares públicos, sob qualquer pretexto, ou; j) Que se conduza deliberadamente de maneira a lesar ou pôr em perigo a moral ou a saúde dele próprio ou de outros; (Leis 1940; C.619 posta em vigor em Io de março de 1941) LEI PENAL 2186 Um menor de mais de sete e menos de dezesseis anos de idade que comete ou omite qualquer ato que, cometido ou omitido por um adulto, seria um crime não punível com morte ou prisão perpertua, não será considerado culpável de crime algum, mas somente de delinqüência juvenil, porém qualquer outra pessoa relacionada com o fato quer seja como principal, quer como cúmplice será punível como principal ou cúmplice do mesmo modo que se tal menor tivesse mais de dezesseis anos no momento em que se comete o crime. Agora não somente sabemos o que é o ato de delinqüência juvenil de acordo com a lei, como também sabemos o que é o ato de delinqüência juvenil de acordo com a lei, como também sabemos o que significa roubar, fazer gazeta, abandonar o lar e praticar transgressões sexuais segundo o dicionário. Contudo, o que ainda necessitamos saber, a fim de entendemos o delinqüente juvenil, é o que significam para este, para o delinqüente juvenil, o roubo, a mentira, a ausência da escola por vadiagem, o abandono do lar e as transgressões sexuais. Neste ponto a psicanálise nos ajuda preencher as lacunas deixadas pelo dicionário e pela lei, esclarecendo os motivos conscientes e inconscientes que estão em jogo no método individual de adaptação á vida. A verdadeira questão é: quais são os seus motivos, que diz e o expressa com


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esse comportamento cujo verdadeiro significado não vem á tona? É certo que a lei busca os motivos e as intenções de um ato criminoso ou delinqüente, a fim de distinguir o ato criminoso de um ato de paixão, por acidente, de ignorância ou de grave enfermidade mental, tal como o retardamento mental ou a insânia. A lei, porém, interessam essencialmente os motivos conscientes. Para os estudiosos do comportamento humano, do ponto de vista clinico, os motivos para devem ser procurados unicamente na vida psíquica consciente do indivíduo, os motivos mais potentes para o bem ou para o mal devem ser buscados na vida psíquica inconsciente, na totalidade do tipo de ajustamento que o indivíduo faz aos problemas da vida. Disso o indivíduo não pode ter pleno conhecimento. Como já tivemos ocasiões de afirmar, aqui a psicanálise nos proporciona a m aior ajuda para entender o problema. Permita-me, por exemplo, relatar o estudo e tratamento de um menino que, na idade de quinze anos, havia cometido um homicídio durante um assalto. O jovem, a quem chamaremos de Jerry, era um estudante secundário de inteligência superior á média. Segundo a lei, podia ser considerado um delinqüente ju v en il e sido m andado para uma escola correcional para delinqüentes juvenis, e as entrevistas semanais, de uma hora de duração, continuaram durante os três anos em que permaneceu na escola. Durante todo o tratamento ficava sentado numa cadeira, voltado para o psiquiatra. Foi-lhe explicado a função deste último e foi ele estimulado a discutir suas dificuldades de comportamento como um problema que necessitava ser solucionado e para o qual receberia ajuda, sem assim o desejasse. Disse Jerry que estava interessado em saber por que se havia desenvolvido desse modo, porque sua vida era uma longa série de erros e por que havia praticado tantos atos criminosos. Expressou sua disposição de ser tratado, se pudesse descobrir por que e de que maneira modificar-se. Foi-lhe explicado o método da livre associação e,


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em certas medida, o entendeu rapidamente. Foram empregados os sonhos, com vistas ás interpretações e pelas novas lembranças que ajudavam a evocar. Encontraram-se oportunidades adequadas para lidar com ás várias fases da situação de transferência. O jovem não foi submetido á psicanálise no sentido clássico, mas o processo psicanalítico foi adaptado ás necessidades da situação e ás condições da escola. No curso das primeiras semanas, o incidente do homicídio surgiu freqüentemente na discussão e se obteve do jovem a seguinte descrição do mesmo. O incidente parecia ter sido o epílogo de uma série de acontecimentos que se prolongaram por um período de vinte e quatro horas, começando numa noite de sexta feira e terminado na noite seguinte. O assassinato foi perpretado sábado à noite. ”Na sexta-feira á noite, na véspera-segundo o relato de Jerry - tive uma discussão com minha mãe. Foi na hora do jantar. Levantei-me da mesa. sai correndo e bati com a porta”. Pediu-se que ele descrevesse a cena da briga. ”Ela ficou aborrecida com meu jeito de segurar a faca na manteiga. Eu a segurava desta forma”. Nessa altura fez o gesto de mergulhar um punhal em alguma coisa. A mãe não gostou da forma como ele segurava a faca e repreendeu. Ele disse que ficou muito zangado porque lhe pareceu que ela entendia o que queria significar aquele gesto. Bem, que a havia querido significar com gestos? Contou então o seguinte relato: Era muito popular entre rapazes e as moças. Sempre se vestia com capricho e apuro. Ora, havia outro indivíduo no bairro, que surgira com uma roupa nova, e a Jerry pareceu que esse indivíduo o suplantaria. ”Bem, já sabem como me sinto quando alguém se atravessa em meu caminho. Pensei que gostaria de matá-lo e, enquanto pensava nisso, segurava a faca da manteiga, como um punhal, e a cravei na manteiga como gostaria de enterrá-la nele”. Sentiu-se muito abalado e abatido quando a mãe o repreendeu. Não queria que ela soubesse que tinha tais idéias ou intenções.


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Ficou oborrecidissimo com a mãe e consigo mesmo e saiu de casa a correr. Dirigiu-se á casa de um amigo, um rapaz de sua idade. Ali bebeu dois copos de vinho e ficou embriagado. Havia bebido em outras oportunidades bebidas mais fortes e em maior quantidade e nunca se embriagou. Jamais uma dose tão pequena conseguiu embriaga-lo. Não podia compreender isso. Os rapazes desceram a rua e, no lugar habitual de reunião, se encontraram com um grupo de rapazes e moças e se dirigiram á casa de uma delas, onde se realizava uma festa. A namorada de Jerry estava na reunião. Sobre a namorada, Jerry relatou o seguinte: “Oh, tive meus contatos com moças, relações sexuais, etc, e conseguia que fizesse o que eu queria. Considerava uma jovem como algo que podia usar para meus próprios prazeres. Essa moça era diferente. Não podia pensar em ter relações sexuais com ela. Não podia pensar em fazer com ela nada que não fosse digno de um cavalheiro. Por ela, durante três meses, não roubei nem tive relações sexuais nem fiz nada de mau”. Não podia recordar-se do que aconteceu na festa, na Sextafeira á noite. Acordou por volta das onze horas da manhã de sábado. Não se lembrava como chegara á casa. Preparou seu café da manhã e depois saiu para a rua. Viu sua garota com um grupo de moças, cumprimentou-a e ela lhe voltou às costas e, sem dizerlhe uma palavra, afastou-se. Ele ficou estarrecido. Perguntou a uma das jovens do grupo: ”Que está acontecendo?” Ela lhe respondeu: “Não sabe o que aconteceu ontem á noite?” Não, não se recordava do que tinha ocorrido na noite anterior. “Você estava bêbado. Você se meteu com uma das garotas e arrastou-a para um quarto de dormir. No inicio todos nós pensamos que era uma brincadeira, mas quando a moça começou a gritar, entramos e descobrimos que você estava procurando força-la. Sua namorada disse que se é assim que você cumpre suas promessas, não quer


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mais nada com você”. Ela disse a essa jovem que o havia informado do que houvera: Muito bem, se eu tiver o dinheiro? Que quero dizer com isso?Você sabe o que eu quero dizer nesse caso, vou lhe mostrar o quanto posso ser mau. Quer sair comigo esta noite.Cinco dólares são o bastante? Ela concordou em encontrar-se com ele, se conseguisse o dinheiro. Jerry estava muito zangado consigo mesmo e com a namorada. Separou-se da jovem e traçou um plano. Praticaria um roubo, um assalto, conseguiria dinheiro e fugiria da cidade. Com freqüência havia empregado o dinheiro que roubara para curtas viagens de um dia para fora da cidade. Contudo, jamais havia feito um assalto direto. Pegou da arma que havia escondido durante três meses. Seu companheiro de sempre não podia ajudálo naquela noite.Escolheu outro jovem, Phil. Descreveu Fhil como um rapaz obtuso, um verdadeiro delator, que com freqüência haviam descoberto outros praticando alguma coisa errada, denunciando-os imediatamente. Era um individuo submisso que tinha necessidade de descarregar logo sua culpa. Fizeram as combinações. Estudaram o terreno e não puderam encontrar um lugar adequado para o assalto. Eram quase dez da noite e Jerry, desesperado resolveu assaltar um velho negociante. Não era a escolha ideal, mas tarde dem ais para continuar procurando. Em sua longa serie de furtos e roubos haviam-se habituado a ser circunspetos. Traçaram se planos. Jerry entraria empunhando a arma assaltaria o velho. Phil lhe vasculharia os bolsos. Tudo simples. Disse a Phil exatamente o que tinha a fazer, não obstante, teve que anima-lo um pouco, porque tinha medo da arma. Entraram na loja e o velho foi assaltado. Como afirmou Jerry, o hom em fico u d esco n certad o . F ico u de q ueixo caído. Aparentemente não podia acreditar naquilo. Pensou que era uma brincadeira. Um menino com uma arma.


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Entraram na loja e o velho foi assaltado. Como afirmou Jerry, o hom em ficou d esco n certad o . F icou de queixo caído. Aparentemente não podia acreditar naquilo. Pensou que era uma brincadeira. Um menino com uma arma. O velho aproximou-se de Jerry. Jerry calculou que teria de golpear o velho na cabeça, esvaziar-lhe os bolsos e fugir ou simplesmente escapulir sem nada fazer. O ancião continuava a aproximar-se dele. Jerry hesitou entre golpeá-lo ou atirar contra ele, e nesse estado de confusão, retrocedeu. Nesse momento bateu com a perna em algo saliente. Deu-se conta que havia calculado mal à distância. Encontrava-se de trás do balcão, não podia chegar facilmente á porta para fugir. Não sabia o que fazer.,mecanicamente apertou o gatilho. Logo divisou um pequeno orifício surgir na camisa do homem, apareceu um pouco de sangue. O velho caiu. Tinha um a expressão aparvalhada ao cair de joelhos e agarrou-se ás pernas de Jerry. Phil ficou apavorado. Estava ponto de chorar. Jerry falou: “Vamos dar o fora daqui”. Saíram a correr. Correram uma quadra e Jerry conservara a arma na mão. Recordou que enquanto corria viu outro velho, sentado num tamborete, comendo mecanicamente um a m açã. P a re c eu -llh e tão id io ta que teve v o n tad e de descarregar-lhe as balas restantes no corpo. Phil começou a fraquejar. “Que faremos?” Perguntou. Jerry deu-lhe pontapés e socos dizendo: ”Vamos, ou eu te mato”.Chegaram ao bairro onde residiam. Sob a ameaça de ser assassinado, Phil prometeu guardar silêncio. Jerry disse a Phil que este nada mais tinha a ver com o incidente, não tinha responsabilidade. Jerry se encarregaria de tudo. Foi para casa e, enquanto subia a escada assoviava como de costume. Guardou a arma no esconderijo, jantou a dormiu. As 24 horas haviam terminado. O caso naturalmente é um exemplo extremo de um ato de delinqüência juvenil, mas evidencia os fatores dinâmicos básicos que encontraremos ao estudar problemas da delinqüência. Jerry foi inquirido pelo tribunal: por que havia praticado o


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crime e quais os motivos. Admitiu que o assalto foi executado com fins de roubo; que levou a arma para garantir o que queria, e que queria dinheiro para divertir-se. Insistiu, contudo em que o disparo foi acidental; só teve a intenção de assustar a vitima. Depois de novos interrogatórios, admitiu que pudesse ter sofrido a influencia dos filmes sensacionais de “gangster” em voga nesse período, e que havia procurado experimentar uma emoção com roubo. Negou que tivesse feito algo de errado no passado. O tribunal ficou perplexo ante seu comportamento imperturbável e ausência de remorsos. Naturalmente lamentava o que havia feito devido á confusão em que se metera e ás graves preocupações que isso causava á sua família. Com freqüência afirmava que queria receber seu castigo e encerrar tudo aquilo. Parecia compreender que seria julgado um delinqüente juvenil e que não sofreria a pesada pena que seria aplicada a um criminoso adulto. Temos, agora, os motivos de Jerry para o crime, em essência, dizia a verdade até onde ele a conhecia, mas não a verdade real. A verdade real, os verdadeiros motivos residiam em suas motivações inconscientes. No decorrer do tratamento apresentou causas mais profunda de seu comportamento, tais como eles a via. Sentia que a perda do pai, quando contava quatro anos de idade, o havia deixado sem a influencia paterna de que tanto necessitava, pois disse que era “uma criança mimada, fizeram-lhe as vontades em dem asia e sob muitos aspectos, fora mimado pela fam ília” . Somente depois divulgou seu profundo e obscuro segredo que, segundo ele, havia exercido influencia máxima sobre seu mau comportamento. Este segredo dizia respeito a uma história de jogos “incestuosos” com a irmã, que começaram quando contava sete anos e prosseguiram até aproximadamente os onze. Sentiu que acabaria mal e amiúde pensava que deveria ser morto porque era um “degenerado”, porque somente um degenerado podia entregar-se ao incesto. Agora se alegrava por ter sido preso e encerado, porque tinha uma oportunidade para ser tratado, e


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lamentava que isso não houvesse acontecido mais cedo. Compreendemos, agora, de acordo com os ensinamentos da psicanálise, que o sintoma neurótico é um complexo fenômeno de compromisso que representa a luta entre as necessidades do inconsciente e a proibição do superego, tendo, de permeio, como agente de expressão, o ego perturbado. Além do mais, numa descrição esquemática, podemos dizer que o ego não permite a plena expressão de desejo inconsciente devido ás proibições do superego. Este problema comporta três tipos principais de solução. O desejo inconsciente pode ser totalmente reprimido, e neste caso direm o s que o indiv id u o capaz de su b lim a r seu desejo inconsciente, isto é de traduzi-lo numa forma de expressão socialmente aceitável. Em outros casos, as proibições do superego podem ser subjugadas e se concede plena força ao desejo inconsciente, condição esta próxima da manifestação psicótica. Uma terceira solução é aquela em que se chega a um acordo graças ao qual o ego realiza algo que satisfaça em certa medida o desejo inconsciente e, ao mesmo tempo, também satisfaça o superego. Esta ação, que constitui o sintoma neurótico, traz satisfação por gratificar o desejo inconsciente e traz também ansiedade e punição devido ás exigências do superego. Nesse sentido, podemos comparar o sintoma neurótico, traz satisfação por gratificar o desejo inconsciente e traz também ansiedade e punição devido ás exigências do superego. Nesse sentido, podemos comparar o sintoma neurótico a uma pantomina, ou uma representação muda. Mas nesta, embora não se pronuncie qualquer palavra, podemos entender os significados dos gestos ou das palavras pronunciadas, a não ser que entendam os a linguagem do inconscienteSe observarm os o com portam ento de Jerry a luz dos sintomas neuróticos e procurarmos entender quais os seus conflitos internos e quais os seus impulsos inconscientes, chegaremos então á uma verdadeira compreensão das motivações de seu comportamento. Temos que estudar o desenvolvimento de sua vida instintiva, as


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personalidades dos que estavam em íntimo contato com ele, toda a variedade de experiências que encontrou a estrutura de seu superego, sua forma de lidar com os problemas que surgem dentro dele e os problemas que encontra no mundo que cerca. Em outras palavras, temos que entender seu padrão de ajustamento ao mundo. Somente então serão entendidos, em termos das motivações mais profundas, os roubos, as m entiras, as atividades sexuais, o homicídio. Os seguintes dados históricos, extraídos dos arquivos do tribunal de investigação de assistentes sociais e de entrevistas com pacientes e sua família embora não apresentados aqui em detalhe, nos proporcionarão um material com o qual podemos chegar a compreensão do padrão de ajustamento de Jerry. Ele era o mais novo de quatro filhos e o único varão. Seu pai, com quem teve de fato, pouco contato porque estava doente, no hospital ou em viagem de negócios, morreu quando menino tinha quatro anos. Recorda-se de ouvir dizer que o pai era bondoso e manso e que ele, Jerry havia sido seu predileto. Teve vários sonhos nos qual o pai e a mãe apareciam junto de seu berço e seu pai o contemplava com orgulho. A situação econômica que era boa quando o pai vivia logo se modificou a família mudou-se indo viver com os avós maternos. Sua mãe, mulher forte e energética, foi primeiro comerciante e mais tarde se empregou. Não permitia que ninguém punisse Jerry e, quando este via em dificuldades com suas irmãs ou outras, sabia que a mãe sempre estaria do lado dele. Recorda que a família inteira o distinguia muito; que o exibiam diante das visitas em roupas enfeitadas por ser uma criança tão bonita e porque sabia ler e recitar tão bem, ainda muito novo. Sua primeira lembrança que afirma remontar aproximadamente a idade de quatro anos consiste numa visão de si mesmo correndo em tomo da mesa da cozinha, procurando escapar á cólera de sua mãe, porque esta o perseguia com uma escova para puni-lo por ter feito algo mau. A única influencia masculina da casa era o velho e


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patriarcal avô, a quem, contudo não se permitia que o punisse. Jerry desafiava toda autoridade, exceto a mãe, para quem jamais teve uma palavra ou um gesto hostil. Aceitava em silencio seus castigos e reprimendas. Mostrava-se extremamente afetuoso em relação a ela, beijando-a e abraçando-a todo o momento. Ela aceitava tais demonstrações com reserva. Não obstante, todos sabiam que Jerry era seu favorito e que ela depositava nele todas as suas esperanças. Até a idade de quatorze anos, Jerry dormiu no quarto da mãe, numa cama próxima á dela. Desde sua primeira infância viu-se assaltado por temores da morte, temores de que Deus lhe tirasse a vida. De noite só podia acalmar esses temores e conciliar o sono quando lhe era possível segurar a mão de sua mãe u abraçala. A única pessoa que reconhecia temer era sua mãe, nunca pode su p o rtar sua ira ou seu desagrado para com ele. Em tais oportunidades se sentia dominado pela cólera, porém nunca a extravasava contra ela. Recorda que já se masturbava desde a idade de quatro cinco anos. Mais ou menos com seis anos e continuarem até o onze. A rigor, as atividades constituíram em ten ta tiv as in fru tífe ra s de coito e em div ersas form as de manipulação. Jerry encontrou as maiores dificuldades em trazer á luz esse material. Deixou de mastubar-se aos doze anos, porque sentiu que faria mal e porque sua mãe, nessas ocasiões, lhe aparecia em suas fantasias. Não podia compreender este ultimo fato, visto que, como disse, era com a irmã que “eu brincava sexualmente, e não com mamãe”. Começou a roubar aos oito anos, primeiro em sua casa, do avô, das irmãs e da mãe, e mais tarde dos vizinhos e comerciantes. Os furtos, que depois se tornaram mais sistem áticos e bem planejados, continuaram até o momento de sua prisão. Desde os oitos até os doze anos, enquanto era religioso, dedicava-se a complicados rituais podeis de roubar ou de qualquer outro culposo. Como a prática de roubo de animais para ofçrendar, que


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acrescentará o seu senso de culpa. Precipitava-se ao encontro de algum autom óvel que se aproximava, dizendo consigo mesmo: “Se Deus julga que sou culpado, serei morto”. Em outras ocasiões subia perigosamente no limiar de uma janela, ou ao teto e saltava de um telhado vizinho para o outro e novamente dizia: ”Deus me m atará se eu for culpado”. Depois dos doze anos não era mais religioso, porém o temor á morte e ao castigo ainda pairava perto dele, de forma imprecisa. N a época de seu tratamento, aterrorizava-o a vingança por parte dos filhos de sua vitima. No começo, sempre cometia seu roubo sozinho. Sempre morou em bairro comum, de classe média, nunca em favelas. Pertencia á quadrilha do quarteirão, porém os outros jovens não roubavam. Mas tarde, mais ou menos aos doze anos travou amizade com outro menino de sua idade, de um bairro vizinho, e, juntos projetavam furtos, estudavam a disposição do terreno e planejavam as formas de fuga. Desse modo obteve consideráveis somas de dinheiro, com que pagava despesas para garotas, ai ao cinema, comprava cigarros, etc. Costumava voltar ao local dos seus roubos, misturarem-se á multidão e fazer perguntas. Tinha nisso um prazer especial. Significava para ele que era um ator inteligente e que sabia safar-se, quando sua mãe o privava de dinheiro porque chegava á casa tarde, aceitava o castigo, porém, naturalmente, sentia que a enganava porque já tinha seu próprio dinheiro. Em toda a sua historia de furtos jamais foi capturado, embora, nos últimos tempos, quando os roubos eram de maior vulto, correu muitas vezes perigo de morte nas ocasiões em que a policia o perseguia por telhados ou atirava contra ele.”Por que corri um risco tão louco de ser morto?”.Pensava consigo. Com cerca de onze anos, com outro grupo de garotos, não os de seu bairro, iniciou atividades de masturbação mutua e de francas atividades homossexuais em que , como os demais, alternava os papeis passivos e ativos. Aproximadamente com a


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idade de treze anos começou a ter relações heterossexuais e em pregava o dinheiro que roubava para divertim entos com garotas. Jerry era extremamente vaidoso quanto ao seu aspecto, sua virilidade sexual e seus dotes intelectuais. Agradava lhe enganar a todos quanto a suas atividades reais. Orgulhava-se de seu temperamento violento, que ilustrava com um relato de uma ocasião em que tomou de uma faca e procurou atacar um cunhado que se atreveu a esbofeteá-lo: desistiu do intento de apunhalá-lo somente quando a irmã o implorou com lagrimas nos olhos. Uma vez apunhalou um rapaz no braço porque este se negou a devolver o dinheiro que havia tomado emprestado a Jerry. Certa ocasião, quando tinha uns quatorze anos, quebrou, com um cano de chum bo, o queixo de um m enino que havia feito alguns comentários desairosos a seu respeito. Durante vários anos alimentou fantasias de vingança no caso em que alguém o delatasse. Punha-se diante de um espelho e, com o punho, cerrado e o indicador em riste simulando uma pistola, ensaiava com liquidaria o “delator”, ou como “seria liquidado” se fosse ele o “delator”. Depois disso comprou uma automática, cerca de seis meses antes de sua prisão, passando a exercitar-se com a arma. Vemos, assim que matar e ser morto, o desejo de morrer e o castigo merecido o apanhavam por toda a sua vida. H á m ais provas disso em seus rituais, sintom as neuróticos, de tipos obsessivos, aproximadamente aos oitos anos. Já temos diante de nós dados suficientes para procurarmos descrever o tipo de ajustamento á vida que Jerry havia seguido até então. Tinha uma mãe que não era débil e condescendente, mas exigente, dura e pronta a castigar, uma mãe que estimulava a d ep en d ên cia da criança. Tal tipo de mãe teve in flu en cia particularmente notável sobre as atividades básicas estabelecidas na personalidade da criança. Era um tipo de mãe privadora, uma mãe castradora. Suas atitudes autoritárias e proibitivas podem


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muito bem ser consideradas como reguladoras normativas para todas as forças semelhantes com que à criança se defrontariam mais tarde. Estas autoridades essencialmente masculinas que se encontram mais tarde em nossa sociedade, pareciam, mas severas do que realmente eram, visto que na mente da criança partiam do ponto em que a mãe havia deixado de atuar, mas em momento algum teriam as qualidades compensadoras e carinhosas que encontrava em sua mãe. A ausência na constelação familiar de uma nítida figura paterna ressaltava ainda mais o importante papel da mãe. As oportunidades de Jerry para a identificação masculina através dos processos normais de uma relação afetuosa e de rivalidades com o pai se viram assim fortemente limitadas. O desenvolvimento normal da vida instintiva de Jerry ficou deformado. Por um lado, a mãe o mimava e lhe fazia todas as vontades, estimulando-o desse modo a conservar atitudes e formas infantis de expressão intuitivas. Por outro lado, mostrando-se dura e exigente, perturbou seus sentimentos de segurança e provocou nele violenta cólera e protestos. Cólera e protestos que não podia dirigir contra a mãe, visto que tão carente estava do amor dela. Não obstante, tinha que expressa-los e , em conseqüência, os dirigiu contra os outros,substituídos de sua mãe,ou contra si mesmo e, naturalmente os expressou também em fantasias. Como era de esperar, encontramos fixações nos primeiros planos de desenvolvimento instintivos fortes interesses orais e anais, tais como constante necessidade de satisfação, por exemplo, em falar, a constante necessidade de beijar a mãe, os violentos acessos de cólera, a excessiva escrupulosidade no vestir e em relação com o asseio pessoal, e o interesse exagerado pelas “coisas sujas” que evidencia seus interesses anais O problema nuclear, o edipiano, não pode em tais dependências dela, deixou-o dormir com ela durante todos esses anos ainda crescidos ao fato da ausência do pai foi fortem ente estim ulada a necessidade da mãe para gratificação instintiva e satisfação sexual inconsciente. Na idade


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de cinco seis anos, quando o período de latência devia iniciar-se, verificamos que em lugar disso as necessidades dos impulsos edipianos continuaram não foram atenuados. Seu superego estava plasmado segundo o sentido de justiça da mãe e a disposição desta de administrar mediato e pronto castigo. O sentimento de culpa de Jerry era tão forte como sua “necessidade de castigo” pela massa de culpa que, esquematicamente, podemos centralizar em torno da situação edipiana. A sedução causai por uma menina mais velha lhe permitiu redigir suas atividades sexuais, afastandoas de sua mãe. Aos nove anos uma irmã mais velha tornou-se a substituta e os impulsos sexuais inconscientes dirigidos à mãe foram então transferido para irmã. A necessidade da mãe continuava sendo acentuada, o que se evidencia em sua necessidade de dormir com ela e a de abraçá-la. O temor á morte, os ditames de seu superego, como sintomas se ; prestam a uma pronta interpretação. Tinha que ser punido por uma relação sexual inconsciente com sua mãe, mas o próprio medo da morte o impelia para a mãe, na qual encontrava sua satisfação sob forma encoberta. Esse jogo sexual inconsciente com sua mãe tinha sua contrapartida em suas atividades sociais no mundo da realidade. Exemplos disso era sua necessidade de privilégios extras, indulgências e isenção de responsabilidade. Ainda mais: era preciso fazer certos sacrifícios devido a essas relações edipianas com a mãe. O dormir com ela durante todos esses anos era como se tivesse de ser castrado, a fim de que sua mãe não se dessa conta da existência de interesses sexuais diretos por parte dele. Em vez de uma identificação com ela, que teria levado a um ajustamento homossexual, Jerry representando o papel de “homem grande” antes do tempo, e representando-o segundo os conceitos do menino. A única coisa que não podia tolerar era a perda do am or de sua m ãe, porque então seria como um a criança ! abandonada e teria que morrer. Como para um bebe, sua mãe era í tudo para ele, e a recusa, por ela, de seus desejos, despertava nele


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seu impulso assassino. Visto que não podia assassinar a mãe, o impulso era dirigido para outras autoridades proibitivas ou contra si mesmo, como no caso da criança que, encolerizava com a mãe, bate sua própria cabeça contra a parede. Conseguiu os excessos cuidados e carinhos de que necessitava de sua mãe por meio de seus temores, de seus rogos, de sua confiança na necessidade que ela tinha em protegê-lo. Não era isto roubar? Devido a dependência da mãe, viu-se privado de sua cota de masculinidade. Obtinha-a de forma indireta, por meio de subterfúgios, e não era isto roubar? A masturbação para ele um crime horrendo; esse uso do pênis lhe estava negado; usa-lo de tal forma, era como se o estivesse roubando para seu próprio prazer. O dinheiro era o símbolo do poder e da força masculina; queria obte-lo como um substituto inconsciente da masculinidade da qual se sentia privado. Satisfazia as exigências de seu superego punindo-se com seus constantes temores da morte iminente e posteriormente com as ansiedades e perigos relacionados com seus roubos. Não importava de onde roubasse ou que autoridade desafiasse essas atividades basicamente eram dirigidas contra sua mãe. As atitudes destas que são podemos analisar em detalhe porque não foi ela o objeto de nosso estudo indicavam claramente sua necessidade de um papel masculino e a rejeição do chamado papel feminino. Encontra-se em conflitos com seus filhos e em desacordo com seus genros. Jerry a quem amava intensamente a seu modo especial era sua masculinidade simbólica. Vemos assim, que os roubos, as transgressões sexuais e demais problemas de conduta de Jerry perante a lei tem um significado, mas para as necessidades inconscientes de Jerry tem outro. Basicam ente, ele tem o mesmo problema de ajustamento de muitas outras crianças, isto é, o de ajustar as expressões de suas necessidades instintivas ás exigências do mundo de realidade que o cerca. No caso de Jerry, devido á natureza e ás circunstanciam de sua história de desenvolvimento, vemos que as expressões de


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sua vida instintiva estão dominadas e plasmadas pelas exigências infantis e não pelas adultas. Ao roubar está dizendo, na realidade, que é um homem, que está se vingando, que é independente de sua mãe, que recebe castigo, que obtém amor. Um sintoma neurótico é polivalente, isto é, tem muitos significados. Ora, se submetermos os acontecimentos do ciclo de vinte e quatro horas a um estado tal como o que impusemos á nossa compreensão da vida anterior de Jerry, se os considerarmos como um sintoma de algo básico vê que esses homicídios, essas vinte e quatro horas, representam à culminação e expressões diretas e inevitáveis de todos os fatores que form aram o padrão de ajustamento de Jerry á vida. E, assim, vemos aqui a motivação, tal como aqui defina a complexidade dos fatores que terminam num ato que chamamos de ato delituoso-é que constitui o próprio objetivo do nosso estudo. Somente quando exam inam os os motivos e fatores inconscientes de toda a vida de Jerry podemos começar a entender a significação total do drama desenrolado nas vinte e quatro horas. Na sexta-feira à noite ele incorreu na cólera de sua mãe, porque, como sentia, ela o havia surpreendido no ato de assassinar. Sua posição na comunidade estava ameaçada pelo outro jovem. Desde a infância, sua posição não pode ser posta em perigo; não pode tolerar competição alguma, nem em sua cada, nem em qualquer lugar, sejam sua mãe ou os substitutos dela os objetos cujo amor procura. A energia da fúria contra a mãe, que lhe negava amor, que o afastava simbolicamente. Tinha que dirigi-la contra si mesmo ou contra outros. Ao embriagar-se, atuou um suicídio simbólico. Ao mesmo tempo este ato implicava uma agressão a um plano oral infantil, graças ao qual encontrava certa fonte de alívio da ansiedade e certa satisfação. Havendo perdido sua mãe, havendo destruído seu superego, seus impulsos inconscientes ficavam donos do terreno. Seus impulsos sexuais surgiram com


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toda a sua força, dominados novamente pelos conceitos infantis, que consistiam na noção de um ataque violento do macho soore a fêmea. Nessa oportunidade usou não sua namorada, a mãe boa não sexual, mas outro aspecto da mulher, aquela que não é boa, mas é sexual. Para Jerry as mulheres estavam claramente divididas em boas e más, assim como para seu inconsciente sua mãe aparecia como boa e má. No dia seguinte descobriu uma vez, mas que sua mãe boa, agora na pessoa de um substituto sua namorada o havia surpreendido no outro terrível crime, o do sexo e fora novamente repelido. Estava agora com pletam ente perdido. Sua cólera despertou outra vez, e outra vez lhe era impossível dirigi-la contra a pessoa de sua mãe. Com tudo estava sóbrio e consciente, acossado por seu superego. Foi inconscientemente impulsionado a procurar mais castigo. Afastaria para um lado tudo o que até então o havia freado. Teria relações sexuais, o que implicava, de um lado, em aproximar-se novamente da mãe; e de outro, em tentar representar o papel do “homem grande”. Ao roubar dinheiro, tomou para si um pênis com que funcionar. O ancião, em sua negativa de executar desejos de Jerry, representava a autoridade que não lhe permitia fazer o que queria: representava sua mãe, seu superego. Apresentou-lhe novamente o problema. Encontravase outra vez encolerizado, e nessa ocasião tinha um substituto adequado para toda a autoridade que frustrava. Atirou contra o velho. O elemento castigo estava presente nas conseqüências que podiam sobrevir. Havia uma massa de outros elementos como do ancião comendo maça que se representava a interpretação, porém isto nos levaria a um excesso de minúcias. Vemos o desejo de morte e, por sua vez, a ameaça de morte pervagando toda sua vida. As motivações ressaltam agora claramente. Podemos dizer que, aqui o homicídio foi um substituto do suicídio. Apontaram-se muitas causas para explicar a delinqüência juvenil, tais como lares desfeitos, perda de um pai, precária situação econômica, má influencia exercida pelo lar, falta de


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educação religiosa, falta de adequadas facilidades de recreação, inadequado programa escolar, turbulências sociais, debilidade mental, enfermidade mental e muitas outras. Não resta duvida de que estas assim chamadas causas constituem uma parte integrante no ajustamento da pessoa e que influenciam sobre as forças emocionais dos indivíduos. Verificamos porem, que nem todas as crianças submetidas a essas influenciam se tomam delinqüentes juvenis, a rigor, a maioria não se tornam delinqüentes. Estas causas não podem ser consideradas como entidades, mas como fatores muito complexos. As estatísticas indicam que a m aioria dos delinqüentes provém de favelas, dos bairros mais pobres, porém, do mesmo modo, descobrimos que a maioria das crianças de tal procedência não se torna delinqüentes juvenis. E enquanto seguimos esta linha de pensamento, surgem interessante questões poucas vezes estudadas adequadamente. Por os irm ãos dos delinqüentes juvenis não são afetados de forma semelhante? Aqui, mais uma vez, temos a agradecer á psicanálise, que nos mostrou as sutilezas e a variedade de formas com que cada indivíduo reage à massa de influencia ambientais. Descobrimos que na mesma família uma criança obtém amor e segurança, de modo que pode abandonar as atitudes infantis pelos adultos, ao passo que outra se sente repelida e rejeitada e, em conseqüência, mantém todas as atitudes infantis, visto que não pode progredir mais. Sally, a mais nova de quatro filhos e a mais jovem de duas irmãs, foi qualificada de delinqüente juvenil aos treze anos, porque habitualmente faltava á escola, vestia-se com roupas de rapazes e vendia jornais. Isso começou aos dez anos. A irmã de Sally não era delinqüente juvenil nem tentava desem penhar um papel masculino; de fato, casou-se com a idade de dezessete anos. Os dois irmãos mais velhos não apresentavam problema algum em matéria de comportamento. Em linhas gerais, podemos assinalar como explicação parcial das diferenças de ajustamento, os


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seg u in tes fato res. A m ãe era um a m u lh er que m ostrava preferências pelos filhos varões e que rejeitava o papel feminino, Sally que de forma alguma era bonita, era vestida com roupas de homens e, desde cedo, para diversão da família, e especialmente da mãe, era aplaudida pela imitação de atitudes de menino. Sally deu-se conta de que sua mãe amava os meninos, mas desprezava as meninas. Por conseguinte, aprendeu desde cedo que para obter o amor de sua mãe teria que ser menino. Estava condenada ao fracasso em sua busca maternal. Sua mãe mais velha, Charlotte, sempre fora bonita, não se fazia com ela a mesma brincadeira e sempre obteve grande satisfação por causa de sua beleza. Não obstante, seu conflito com a mãe levou-a a um casamento prematuro. N a literatura da delinqüência juvenil descobrim os com freqüências tentativas para estabelecer uma distinção entre delinqüente juvenis normais e anormais. As estatísticas citadas, tais como a de 55% para os delinqüentes juvenis normais, não são convincentes devidos á confusão de conceitos quanto ao que é normal e o que é anormal. As doenças físicas e mentais e as debilidades mentais são consideradas as principais provas do delinqüente juvenil anormal. Todavia, a questão não se torna mais clara quando considerarmos o indivíduo e seu comportamento como motivado por conflitos profundos ou por fatores superficiais e influencias simplesmente externa, em lugar de estabelecer a distinção entre normal e anormal. A resposta se encontra no estudo da personalidade total e seu ajustamento. Necessariamente se encontrarão conflitos em todos os delinqüentes juvenis. Jerry , como vimos, era impulsionado por profundos conflitos. Exibia uma quantidade de sintomas neuróticos nos qual a lei não estava interessada. N ós estam os obrigados a ver com o sintom as neuróticos àquilo que interessa a lei. Se Jerry resolvesse seus conflitos unicamente em termos de sintomas somáticos e mentais, poderíamos clamá-lo francamente de neurótico, o tipo particular


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de neurótico a que pertencesse seria determinado pelo caráter de seus sintomas. Em troca solucionou seus conflitos e problemas p rin cip alm en te atuando-os no m undo da re a lid ad e e, em conseqüência, podemos classificá-los no grupo dos caracteres neuróticos. Todos os atos dos delinqüentes juvenis representam conflitos que tem raízes no inconsciente e que, então, constituem sintomas neuróticos? A resposta poderia muito bem ser afirmativa, a menos que um estudo adequado demonstra o contrario. Mas a questão importa é a seguinte: estão às motivações do comportamento em consonância com as exigências da realidade, ou são elas ditadas pelas necessidades inconscientes de satisfazer problemas infantis da primeira infancia, não solucionados? Um problema comum é o da mocinha que abandona o lar, tem relações sexuais e é mantida por vários homens. Flora, na idade de quinze anos e meio, foi levada ao juizado de menores devido a uma historia de abandono do lar, vivendo com homens, em quartos mobiliados, desde os quinze anos. A fígura-se nos que a uma reação a necessidade sexual do tipo aqui descrita não é uma reação a exigências reais, pelo menos em nossa sociedade. Em menos ainda aos doze ou treze anos de idade. Flora era filha única, de inteligência normal, proveniente de um lar cuja situação econôm ica estava realm ente acim a do nível marginal. Sentia-se rejeitada pela mãe, e com razão. A mãe adoeceu gravemente depois do nascimento de Flora e mostrou claramente sua rejeição à menina. O pai era dedicado a ambos. Flora não obstante, tinha intuição dos ciúmes da mãe, e, portanto, se encontrava em constante conflito com ela, visto que era profundamente apegada ao pai, que lhe demonstrava seu amor. Ao abandonar o lar e ao passar a viver com homens entre outras coisas realizava seu desejo inconsciente de livrar-se de sua rival, a mãe, e de conseguir seu pai sob a forma de substitutos. Citaremos um exemplo de outro tipo, em que o ato delituoso


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pode ser considerado como principalmente determinado nela situação externa e, em menor grau, pelas necessidades de tipo delinqüente. Este caso não foi estudado pelo autor, mas lhí foi relatado por assistente do Juizado de Menores. Jane, com a idade de quinze anos apunhalou mortalmente seu pai bêbado, quando este atacou sua mãe com violência, Jane havia presenciado tal cena muitas vezes, tendo ela própria sofrido ás mãos do pai. Embora o homem fosse levado ao tribunal em várias ocasiões, não se conseguiu com isso uma verdadeira solução. Como seria de esperar, devido ás influencias do lar, Jane mostrava uma série de desajustamento. Não obstante, estas se manifestavam em seus sintomas neuróticos, porém não eram atuadas numa conduta delituosa. Poder-se-ia considerar como um ato de paixão o assassinato de seu pai. Chega-se a esse raciocínio não somente estudando a situação externa como também mediante um estudo pormenorizado da personalidade total. O pai tem pouco tempo para passar com seus filhos, deyido ás incessantes exigências de trabalho, privam-nos de importante sustentáculo da vida emocional deles. O operário que teme perder o emprego e em conseqüência sua posição na família expressará sua insegurança no meio de atitudes arbritárias que, por sua vez, afetarão a vida emocional dos filhos. Podem-se citar muitos outros exemplos deste tipo para demonstrar que, não importa quão bem in te n c io n ad o e ú til p o ssa ser o p siq u ia tra , ele ajuda predominantemente depois de criada a situação. Em essência, o problema da delinqüência juvenil tem que ser colocado no limiar da sociedade; porque se pode dizer que cada sociedade cria seus criminosos. A psicanálise pode oferecer uma profunda compreensão e um método de tratam ento. A parte principal deste problem a cabe, no entanto, á sociedade. A psicanálise só pode tratar de número limitado de indivíduos, mas pode difundir seus conhecimentos e influencias a fim de realizar uma boa proporção de trabalho preventivo. Muitos podem ser


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tratados individualmente. As escolas correcionais se dispõem de subvenções adequadas, podem atuar de forma terapêutica, com todo o seu pessoal desempenhando um papel terapêutico, mas a segurança emocional, que é o baluarte contra o desajustamento, provém de muitas fontes. Os fatores socioeconômicos podem ser considerados como provendo ou não a segurança, num sentido muito mais amplo que os dólares e dos centavos. Se encararmos os aludidos fatores socioeconômicos como exercendo influencia sobre a vida emocional e instintiva do individuo, veremos que sua importância não pode ser logo desprezada, mas que, pelo contrario, são de primacial importância.


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A FAMÍLIA COMO AGÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Em termos pedagógicos e emocionais: a criança ao nascer como uma folha de papel em branco! Compete, pois aos pais escreverem nela o que forem capazes de escrever! È no seio familiar, que se lançam os fundam entos para construção da auto-identidade do pleno desenvolvim ento da personalidade! Aquilo que a criança aprende no comportamento dos pais vai refletir na sua vida adulta! IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE FAMILIAR. O EXEMPLO NA EDUCAÇÃO. As condições do meio psicológico em que se desenrolam os primeiros anos de vida exercem, na formação do caráter e do equilíbrio emocional, influência profunda e persistente e cada vez mais se acumulam fatos que levam a essa conclusão. Um lar harmônico e feliz é a maior garantia para o desenvolvimento normal da criança. Podem -se opor objeções à p sicanálise com o processo terapêutico, mas parece inegável que ela tem concorrido para esclarecer o que se passa na complexa mente humana e para verificar o que produz os desequilíbrios tão amiudados em nossos dias. Análises de adolescentes e de adultos apontam, como causa extremamente comum de neurose e delinqüência, erros graves no clima emocional em que decorreu a infancia, sobretudo no que se refere à m aneira de proceder dos pais. O sim ples levantamento cuidadoso da história pregressa de pessoas com


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sérios desvios de conduta evidencia, desde o nascer, fortes pressões negativas no ambiente familiar. E esse ambiente que fornece o modelo de comportamento na fase crucial para a form ação da personalidade. A criança ambiciona tomar-se um adulto e, particularmente na idade préescolar, tem pelas pessoas que lhe prestam assistência, uma admiração sem limites, o que facilita sobremaneira a adoção do exemplo. Importa aos pais nunca perder de vista que o exemplo é a base fundamental da educação. E inferir dai a importância de sua atitude em casa. Cabe-lhes viver com naturalidade, sem artificialism os, como seres hum anos, com suas virtudes e fraquezas, alegrias e pesares, esperanças e desencantos. Mas sem esquecer um só momento que sua vida está, nos menores detalhes, formando a mentalidade do filho e que seus atos, todos eles, os grandes e os pequenos, se acham sob e streita an álise e, especialmente quando repisados, tendem a entranhar-se no espírito em elaboração. Convém, portanto, permanecer atentos, a fim de conservar uma postura serena e coerente. Refrear as emoções violentas, os sentimentos de contrariedade, desespero ou cólera, transmissores de influxos desfavoráveis .Empenhar-se em sustentar em casa uma atmosfera inalteravelmente afetuosa, descontraída e acolhedora. A ação educativa é contínua, verificase a cada instante, já que nada mais é que o próprio viver da criança no lar.


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FUNÇÃO DA MÃE

A m ãe exerce indubitavelm ente o papel prim ordial na educação. Inicia a criança nos contactos com o meio exterior e no re la cio n a m e n to com seres hum anos. P re sta -lh e com exclusividade uma assistência completa no primeiro trimestre da vida extra-uterina, esse delicado período de transição, e no segundo trimestre, fase do despertar da consciência. E, em todo o resto da infância, continua a ser o lastro mais importante da vida emocional do lar, assumindo a principal responsabilidade na criação de um ambiente afetuoso, tranqüilo e equilibrado. O íntimo convívio da criança com a mãe, desde logo depois do parto, seu crescimento numa atmosfera de paz e serenidade, na certeza de ser amada, confere-lhe uma segurança que se projetará ao longo de toda a vida.


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FUNÇÃO DO PAI

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O pai julga muitas vezes que lhe cabe apenas a tarefa de principal sustentáculo financeiro da família, ficando a educação por conta exclusiva da mãe. Sai cedo, regressa tarde, as crianças já estão dormindo. Nos fins-de-semana, lê, assiste programas de televisão, vai ao futebol ou descansa. Quase não encontra tempo de relacionar-se com os filhos, Se for inegável a supremacia da mãe na educação, a função do pai não deixa de ser imprescindível. E não se limita á já por si valiosa ação indireta de constante apoio material e emocional ao lar. Pesquisas realizadas ultimamente confirmaram a vantagem de seu maior envolvimento em todas as etapas da educação do filho. Acompanhar a mulher no consultório pré-natal, assistir ao parto, anima-la no puerpério, presenciar as primeiras mamadas, manipular o recém-nascido e eventualmente auxiliar num cuidado rotineiro, como oferecer o alimento ou dar banho, são atividades que aprofundam a sua simpatia e compreensão em face do bebê e reforçam os lanços conjugais. É necessária que ele encontre os meios de conciliar a atuação profissional com as obrigações de família, de tal modo que sua presença, física e espiritual, continue a se fazer sentir através da infância e da adolescência dos filhos, dedicando-lhes todos os dias alguns momentos, demonstrando-lhes afeto, interessandose por seus estudos e atividades recreativas. E, pelo menos uma vez por semana, acompanhando-os em passeios e diversões. Essa convivência vincula-o estreitamente à família e dá aos filhos idéia nítida da mãe e do pai como duas pessoas, unidas e solidárias, mas possuidoras de um modo de ser particular e desempenhando cada uma seu papel específico. O pai é, nesse sentido, de grande valor para a diferenciação sexual do filho, ensinando-lhe o que seja a conduta masculina.


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A INTEGRAÇÃO CONJUGAL. Os pais representam a base do equilíbrio emocional da criança e o exemplo em que ela, por imitação, vai pautar sua conduta. São duas pessoas, mas devem oferecer um modelo único, uniforme e equilibrado e, portanto, é preciso que suas personalidades se unam, formando um todo harmonioso. Unam-se, mas não se confundam, para facultar, nas figuras bem definidas do pai e da mãe, a compreensão exata da masculinidade e da feminilidade. A harmonia entre os pais é o primeiro requisito para uma educação conveniente. Relação conjugal estável e feliz infunde calma e segurança. O ideal é que eles se amem verdadeiramente, demonstrem comunhão de sentimentos e lealdade recíproca. Porque assim se acham nas melhores condições para desempenhar seu encargo educativo, isto é, para proporcionar o modelo a ser captado pelo educando. Modelo que não é constituído pelo que pregam, mas pelo que são pelo que pensam e pelo modo como se comportam. Esta questão, de im portância excepcional, requer cuidadosa análise antes do casamento. A atração sexual é, sem dúvida, imprescindível e qualquer desajuste neste setor prejudicará as relações conjugais. Mas seria vantajoso que também houvesse correspondência no modo de ser e de pensar. Duas pessoas lúcidas e sinceras não estão sempre de acordo em tudo. Não faz mal que os pais de quando em quando discordem dicutam. São perfeitamente cabíveis desacordos ocasionais, desde que se processem num clima de tolerância e apreço e não se refiram a fatos concretos do procedimento dos filhos. Mesmo que haja consideráveis diferenças de temperamento e de idéias, é possível conciliar a situação se, vinculados por um amor sincero e pelo respeito mútuo e cônscios de sua responsabilidade, ambos se esforçarem por atenuar as discordâncias, exaltar as afinidades e identificar-se inteiramente um ao outro no que se refere à


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educação dos filhos. O que não dá certo é a falsa harmonia, a mera coexistência pacífica. A criança tem profunda intuição e sutileza psicológica, sente as menores cambiantes no pensamento dos pais, depositários de sua personalidade. Não se deixa enganar pela simulação e não se satisfaz em presenciar-lhes um trato distante e frio, ainda que envolto numa polidez superficial. Percebe a oposição latente, a h ostilidade velada. Q uando o de que precisa é de am or e cooperação íntima e sincera entre os dois.

QUANDO OUTRAS PESSOAM CUIDAM DA CRIANÇA A criança entregue a duas orientações muito diversas tornase insegura e angustiada, por vezes de maneira permanente. Por exemplo, a que é tratada de dia pela avó ou pela babá, à noite pela mãe, que, chegando, nela concentra toda a sua dedicação, critica os erros cometidos durante o dia e procura emendá-los. Efeitos nocivos podem relacionar-se ainda com alterações repetidas no ambiente emocional, mudanças de babá, por exemplo. A criança afeiçoa-se muito a quem se dedica a seus cuidados e sente qualquer substituição. Uma das preocupações nas creches é trocar o menos possível a pessoa que tem o encargo de prestar-lhe assistência.


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A PALAVRA COMO ELEMENTO EDUCATIVO A educação repousa acima de tudo no exemplo, quer dizer, na influência dos atos praticados pelos pais e das palavras por eles enunciadas em seu viver cotidiano. Solitária ou isolada, isto é, independente do exemplo, a palavra, em itida como uma apreciação ou um conselho tem escasso valor educativo, mas fazse necessário prestar a maior atenção em seu manejo, porque, quando possui um sentido derrotista, exerce profundo efeito maléfico. Cumpre repisar neste ponto. Inadvertidamente, ou num momento em que perdem a cabeça, podem os pais, com uma palavra inoportuna, inserir no ânimo do filho a dúvida, a angústia ou a desesperança. A criança logo percebe que o mundo atuante é das pessoas grandes e deseja ardentemente ombrear com elas. Im pelida pela força vital, procura imitá-las, mas, notando a posição comparativamente precária em que se encontra quanto aos conhecimentos e às habilidades, tem motivos para duvidar de si mesma. É preciso cuidado para não desestimulá-la com uma palavra insensata ou contundente. Oferecem uma série de inconveniências os pais ranzinzas, que, embora no fundo muitas vezes amem o filho, estão sempre insatisfeitos com o que ele faz, vivem a repreendê-lo, a nele descobrir mil defeitos, a apontar-lhe erros de conduta. Não reconhecem suas atividades e seus esforços na escola: “se fosse mais cuidadoso, poderia ter obtido melhores notas” , “já devia estar lendo com mais desem baraço”, “a letra está muito feia, descuidada”, “não presta atenção a nada, é um tonto”, “eu nessa idade fazia correntemente as quatro operações” . Este proceder tem sempre conseqüências negativas. Além do desânimo que incute pode levar ao ressentimento ou à convicção de que tais defeitos são reais e irremovíveis. Talvez ainda mais prejudicial que a ranzinzice é a ironia, terrível arma de agressão psicológica, sempre nociva para um


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espírito em desenvolvimento e de efeitos imprevisíveis quando empregada repetidas vezes. E preciso tratar a criança com respeito, ouvi-la com atenção, não olhá-la de cima ou insinuar que ela é ignorante e caçoar de seus erros. Não compará-la com outras crianças: “seu irmão nunca fez uma coisa dessas”. A natureza não nos oferece duas coisas idênticas. E muito menos duas pessoas ig u ais. C ada ser hum ano tem sua in d iv id u a lid a d e , suas características biológicas e psicológicas, que é preciso preservar. O objetivo da educação não é induzir uma criança a ser como outra. E, pelo contrário, perm itir-lhe que seja ela mesm a. Proporcionando-lhe afeto, para alimentar sua força vital, seu entusiasmo pela vida. E dando-lhe liberdade, para que ela possa realizar-se plenamente.


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A FAMÍLIA COMO AGÊNCIA SOCIABILIZADORA

É indispensável estender ao filho a comunhão espiritual que deve existir entre os pais, impelindo-o a participar, na medida de suas aptidões, de todos os aspectos da vida familiar e não dando motivo a que ele em qualquer momento se julgue marginalizado. Esta conduta, muitas vezes esquecida, é, entretanto, de valor incalculável: robustece a auto-estima sem alimentar o orgulho, revigora o amor aos pais, dá solidez e estabilidade aos vínculos que o unem à família, acena-lhe com novas perspectivas, contribui de modo apreciável para socializá-lo. Evitam-se com a maior precaução atitudes que o coloquem ostensivamente de lado, como segredinhos, conversas ao pé do ouvido, linguagem cifrada, frases em idioma estrangeiro ou exclamações contundentes, do gênero “vá brincar que estamos tratando de coisas sérias”, “criança não pode saber isso”. Foge-se tam bém a com entários im portunos, pronunciados em sua presença, na suposição de que ele não os entende ou não presta atenção. Desde tenros anos ele percebe grande parte do que os adultos conversam entre si e não raras vezes, brincando num canto, dá um inesperado aparte, que surpreende pela sutileza e adequação. Todos os momentos que aproximam cordialmente pais e filhos, em qualquer idade, são valiosos e não se deve perder ocasião de promovê-los. As refeições seriam boas oportunidades para um encontro dessa ordem, mas as aulas, o trabalho e outros afazeres impedem muitas vezes que todos as efetuem no mesmo horário e com o desejável vagar. A televisão não concorre em nada para esse objetivo: ainda que agrupe fisicamente a família, m antém seus membros espiritualm ente indiferentes uns aos outros, impõe-lhes uma posição passiva, enche as cabeças de fatos, idéias e opiniões pré-formadas, sem dar tempo de pensar e muito menos de fazer comentários, habituando-os a receberem dados e


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acontecimentos sem exercer sua crítica. Reuniões de família, inteiramente descerimoniosas, em que se debatam com franqueza assuntos pessoais e do grupo, problemas da comunidade, impressões de leitura e acontecimentos artísticos e científicos, concorrem sobremodo para estreitar os laços de afeição entre seus membros. A criança, quando atinge certo desenvolvimento e às vezes até quando parece que ainda não entende nada, exibe grande interesse por elas. Desde então é justo facilitar sua presença, que terá sempre, naturalmente, caráter facultativo. E da m aior conveniência prop o rcio n ar-lh e os esclarecimentos a respeito de qualquer tema que desperte sua curiosidade, sem fazer nenhum mistério, de modo a transmitirlhe a convicção de que ela compartilha integralmente da vida familiar. E dar-lhe ensejo a expor seus pontos de vista, escutandoa com simpatia e consideração. Se for preciso discordar, fazê-lo com sinceridade e firmeza, mas sem ‘o menor laivo de censura ou sarcasmo. A verdade é que, se souber ouvi-la, o adulto se surpreenderá am iúde com sua inteligência e sensatez. Sua participação nessas reuniões lhe faz muito bem, dissipa a maior parte das dúvidas e angústias a que está sujeita, desenvolve o raciocínio e o manejo da palavra, confere-lhe maior desembaraço no relacionamento humano. É do mais alto interesse que os pais se m an ten h am bem inform ados acerca dos p rin c ip a is acontecimentos da vida de seus filhos, suas relações com amigos, colegas e professores, em casa e na escola, o andamento de seus estudos, suas idéias e seus planos. Interrogatórios a esse respeito, longos e reiterados, seriam enfadonhos, irritantes, impertinentes, em uma palavra, inaceitáveis. A conversa em fam ília é uma oportunidade excelente para tudo isso vir à baila de maneira natural e espontânea, sem deixar o mínimo ressaibo, concorrendo pelo contrário para robustecer os laços de simpatia e confiança entre pais e filhos. No colóquio aberto com os pais a criança também relata seus


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sonhos e esperanças, com vistas às vezes em objetivos muitos altos. Convém ouvi-la com a maior atenção, exim indo se a qualquer palavra ou gesto que a desengane, mas sem alimentar suas ilusões. Misturar fantasia com realidade é próprio da criança pequena e num ambiente equilibrado ela se toma mais objetiva como fruto do desenvolvimento psicológico. Tratando-se de um escolar, principalmente ao discutirem-se coisas que lhe digam diretamente respeito, não há mal nenhum em pedir-lhe o parecer acerca da resolução a tomar, não como quem hesita e não sabe o que fazer, mas como quem, embora seguro de suas idéias e resoluções, acata a autonomia do filho e confia em seu critério. E claro que a criança tem seu mundo espiritual à parte, deve viver como criança, conviver com outras crianças e não se vai encher sua cabeça de problemas que estão acima de seu alcance e só iriam causar-lhe confusão e desassossego. U bom senso indicará em cada caso e que revelar e o que omitir ou contemporizar. Questões íntimas, assuntos que não devem ser divulgados ou problemas complexos ou que podem trazer inquietação, tratamse discretamente, em horas apropriadas, fora das vistas e dos ouvidos da criança. As más noticias, que fatalmente logo seriam conhecidas, inclusive as de morte de parentes e am igos, é preferível não ocultar, mas transmiti-las com paciência e afeto, sem d e m o n strar desespero, m as ex ibindo um a tra n q ü ila resignação. E preciso não esquecer que os pais detêm em grande parte o centro do equilíbrio emocional do filho e este se conservará calmo, desde que eles mantenham a serenidade


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AUTORIDADE DOS PAIS

Se a criança for tratada com amor e liberdade e integrar-se na vida familiar, vivendo intimamente as alegrias e esperanças de sua casa, sem permanecer de todo alheia aos momentos de dificuldades é tristezas, terá forçosam ente grande apego e admiração pelos pais e não criará problemas de comportamento. Sobretudo se eles souberem exercer seu papel com doçura, habilidade e firmeza. A firmeza nas decisões é indispensável para manter intacta sua credibilidade. É preciso a maior cautela a fim de que as resoluções sejam serenas, razoáveis e facilm ente compreensíveis e, uma vez tomadas, não se faça necessário voltar atrás nem desdizer-se. No caso de averiguar-se que uma decisão estava errada, não se vacilará em modificá-la, mas é bom que isso aconteça poucas vezes. A le g ítim a au to rid ad e dos pais é o re su lta d o de um comportamento afetuoso, liberal e justo. Em que as prescrições e as proscrições não deixem a menor dúvida de que são medidas necessárias ao bem da criança e de maneira alguma decorrem de mandonismo ou capricho pessoal. Expressa-se essa orientação muito mais por sentimentos e atos do que por palavras. O que irrita, desnorteia e provoca muitas vezes reações negativas de desobediência ou teim a é o autoritarism o, são determinações arbitrárias ou disparatadas, exigências absurdas, ameaças, intimidações e frases injustificáveis como “faça isso porque eu quero”, “desde quando criança tem querer?”, “é ordem!” Ou o procedimento oposto de pais imaturos, tímidos, hesitantes, que provocam inquietação em vez de segurança. A verdadeira autoridade provém do amor e do respeito que desperta. Jamais da força e da prepotência, da humilhação ou do medo. Quando os pais têm autoridade e sabem exercê-la, atuam quase imperceptivelmente, com a maior serenidade, ■ ‘sem nunca


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levantar a voz. E o filho os obedece de boa vontade e, obedecendoos, sente-se livre e confiante.


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LIDANDO COM OS LIMITES

Muitos estudiosos tecem comentários interessantes sobre os limites. Destacamos um dentre tantos. A Dra. Mayre Vegna no seu livro Gênios de fraldas afirma ao longo da vida, os desafios do mundo são constantes. Com a educação não é diferente. A medida que a criança vai crescendo, vai ampliando seus contatos, participando ativamente do meio em que vive. Essa participação vai exigindo da criança norm as a serem cum pridas, pois espontaneam ente a criança delim ita um espaço físico para satisfazer suas necessidades, o que nem sempre é aceito pelo adulto, que vai interferir no seu mundo, protegendo-a dos perigos e das frágeis que estão sob sua ação. As primeiras reações às ordens e in te rd iç õ e s são de o b e d iên cia e devem ser re p e tid as constantemente, para que a criança perceba o que é possível ou não. Logo no segundo ano de vida, as reações de desagrado e desobediência aumentam. Em cada família, existe um código de regras sobre o que se pode ou não fazer. Por esta razão, é necessário que a criança consiga aceitar certos limites para que se torne um ser social. Conforme os anos vão passando, estamos sempre buscando um modelo ideal para educar nossas crianças. A realidade atual tem mostrado que a conscientização de pais e filhos, no que diz respeito ao limite, diverge em muitos sentidos. Não é para menos, pois algumas décadas atrás a criança era tratada como um ser que necessitava ser civilizado. A educação era rígida e o poder absoluto estava na figura do pai, a quem a criança devia total obediência, sem qualquer tipo de questionamento. Raramente o pai demonstrava amor pela criança. Depois veio a liberdade de expressão, os valores se viram am eaçados diante de tanta permissividade. A geração que teve uma educação rígida optou por criar os filhos livres de qualquer opressão. A noção do limite foi esquecida e a sociedade atual se depara


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com jovens inseguros, totalmente despreparados para um mundo onde o mercado de trabalho busca jovens eficientes, audaciosos, seguros c io que querem. Os anos 90 mostraram que cada vez m ais os pais querem encontrar o equilíbrio entre autoridade e liberdade. Desejam estimular os filhos de maneira que saibam se virar no mundo, sem se esquecer do respeito ao limite. E comum ouvirmos depoimentos de pais de adolescentes que questionam a educação recebida e tentam oferecer aos filhos o resultado encontrado entre a educação autoritária dos avós e a liberal que tiveram dos pais, para que a próxima geração possa crescer num am biente diferente, com respeito, coerência e harmonia. As regras sobre o que se pode ou não fazer são cada vez mais utilizadas pelos pais. O diálogo esclarecedor e o bom senso vêm ocupando espaços significativos, unidos â compreensão, ao amor e ao carinho. Aprender a dizer não, sem ficar se culpando, não é ta re fa fácil para quem está acostum ado a sem pre ceder. Geralmente, cedemos desde que à criança é um bebê. Ao menor sinal de desconforto, estamos lá totalm ente à disposição da criança, realizando tudo e mais um pouco, além do que ela neces­ sita. Se quer dormir na cama dos pais, a princípio negamos, depois acabamos permitindo e assim a criança vai conseguindo seus objetivos. Quando dizemos não, é um verdadeiro desastre, com birras, choros, chantagem etc. Surge então a famosa culpa. Os pais acham que a criança pode ficar doente, receiam a imposição da autoridade a qual têm direito, criando-a totalmente sem limites. Quando a criança ingressa na escola, geralmente os problemas de ordem emocional aparecem. Afinal de contas, ela podia tudo, tinha tudo, mandava em tudo. Na escola, ela deve aprender a dividir tudo, tudo é de todos e as regras são estabelecidas por todos. Logo, o caos é geral. A escola então precisa realizar um trabalho de conscientização com toda a família, esclarecendo e


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gradativamente introduzindo noções de limites; isso quando os pais não tiram à criança da escola, pois alguns acreditam que a escola não se adaptou ao jeitinho de ser da criança. Muitas vezes, esse julgamento precipitado retarda o trabalho que pode ser ini­ ciado tão logo o educador ou responsáveis percebam que o desempenho e o comportamento da criança diferem do esperado. É comum nos depararmos numa negociação com os Filhos em troca de algo. Até nos casos em que a criança está em adaptação esco lar, costum am os p re se n c ia r os p ais in o cen tem e n te recompensando os filhos por terem permanecido na escola. O que fazer diante dessas situações de constantes promessas em troca de presentes, recompensas ou guloseimas? Algumas crianças abusam da manha para conseguir o que d esejam : fazem escân d alo s, choram , jo g a m -se ao chão, arremessam objetos longes etc. A criança aprende depressa que a chantagem é uma aliada muito eficaz. Quando os pais toleram o não cumpri mento das regras e normas, a educação tende a seguir por um caminho muito perigoso, às vezes irreversível. Chantagens para que a criança se alimente, tome banho, vista o uniform e etc. em troca de doces ou presentes geralm ente começam em casa. Por esta razão, os pais devem permanecer “sempre alertas” para não incentivar essas condutas. Pais que não agüentavam uma criança triste, julgando que a criança está sofrendo, perdem a noção do que é melhor para a criança. Mais uma vez o limite precisa ficar bem esclarecido, como nesse exemplo: o alimento é necessário para a saúde e quem não se alimentar poderá ficar doente (não simplesmente almoçar em troca de um programa de TV). D iante da satisfação de todas suas vontades, a criança chantagista pede cada vez mais... A relação com os pais, na base de trocas, toma-se um vício. Dependendo da intensidade e do tipo de relacionamento que os pais mantêm coin os filhos,


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“combinações” para determinadas situações são saudáveis e não causam danos sérios: se você terminar de arrumar o quarto, daremos uma volta pelo parque (é importante cumprir). Caso contrário podemos encontrar no futuro crianças com dificulda­ des para se adaptar a regras, leis e valores da sociedade. A convivência com os amigos torna-se insuportável, pois con­ venhamos que não é fácil interagir com um chantagista que não aprendeu a conviver com a frustração. O melhor caminho é sempre o esclarecimento de determinadas situações desde que a criança é bem pequena (diálogo), pois assim ela cresce num ambiente seguro, real e consciente de que um NAO, dito com firmeza, mas com amor e carinho, é ideal para o seu desenvolvimento e para despertar o senso de responsabilidade e o exercício da cidadania. Mas devemos sempre nos lembrar dos excessos de nãos. Se só há proibições no mundo da criança, ela não dará nenhuma atenção a elas. E necessário estabelecer as prioridades tratando de um aspecto de cada vez. E importante deixar claro para a criança tudo o que se refere a riscos ou alertar para ações que podem causar danos m ateriais. C onflitos associados à comida e à escolha de roupas muitas vezes não valem o esforço. A criança, quando está cansada, não responderá às expectativas dos pais com relação à disciplina. Os pais certamente obterão sucesso se suprirem à necessidade m om entânea da criança, dando-lhe um abraço, permitindo que ela durma, recupere as energias lanchando. Poderão tentar um novo diálogo mais tarde. N essas situações, os pais tam bém podem estar cansados e certamente não conseguirão ensinar nada de produtivo à criança. A calma precisa falar mais alto, pois a criança logo entende, pela expressão facial, tom de voz e reações, que os pais estão per­ dendo o controle. Ambos poderão assustar-se diante de reações exageradas, provavelmente se arrependendo do que disseram ou fizeram. As vezes os pais esperam demais de seus filhos, dando


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instruções muito genéricas, exigindo comportamentos que não significam muito “seja bonzinho”, ”comporte-se” Esses pedidos são muito complicados para a criança. Pouquíssimas crianças entendem o que quer dizer “arrume o quarto”. Crianças reagem melhor quando somos específicos sobre o que desejamos; delas e utilizamos frases que deixam claro o que necessitamos. “Assim estimulamos a criança a concluir a tarefa com sucesso: “Pare de gritar”, “Leonardo, esse caminho é do Lucas, devolva para ele”, guarde os brinquedos”, “coloque o pijama mo cesto”. C onflitos por controle são com uns e norm ais, m ais é importante estimular a independência da criança, que se sente mais segura quando conhece seus limites. Por outro lado, tomase ansiosa se as regras mudam ou parecem ser negociáveis. Sabemos que a mídia tem poder de influenciar as pessoas, principalmente às crianças. Os lançamentos de produtos infantis veiculados na TV; especialmente em datas como Páscoa, férias, Dia das Crianças e Natal exercem atração exagerada nos pequenos. Não é nada tranqüilo educar crianças neste século! Conhecer os limites que a vida naturalmente nos impõe é fundamental para criança. Assim ela entende que o consumismo infantil é uma epidem ia difícil de ser combatida. Em nossa sociedade o TER foi sendo valorizado de tal maneira que são poucas as famílias que conseguem fugir da febre do consumismo o ter prevalece sobre o ser isto por si só já caracteriza uma tendência para o egoísmo, avareza e toda a sorte de vidência. Os pais saem para dar uma volta no shopping e de repente são surpreendidos pelos filhos puxando-os pelas mãos ou pelas calças, desejando guloseimas, tênis importados, bonecas, Dvds, aparelhos eletrônicos e mais uma de produtos. A m ania de consum o é reforçada pela m ídia. E gera transtornos de ordem familiar e social. E importante salientar valor do ser desde a Io infancia e deixar claro que o, ter é apenas


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conseqüência é não um fim em si mesmo.


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Psicologia Infantil Conclusão

Este livro sobre Psicologia Infantil é apenas uma tentativa de alertar a sociedade aos pais e aos governantes, que custa muito menos investir na educação normal é preventiva é preventiva, pois desenvolve as aptidões enquanto a educação corretiva tipo FEBEM é “anormal”, pois é corretiva! E nunca consegue trazer à criança a normalidade educativa isto é, corrigir as deformidades com portam entais e no desenvolvim ento infantil do que na tentativa de reeducá-las, quando chegarem a fase adulta! E interessante nos lem brar que tem os um salário m ínim o de trezentos reais para criar e educar e gastamos quatro salários, isto é, mil e duzentos reais para prender, ou seja, para manter um preso na cadeia! O indivíduo está sofrendo, a família está doente e a sociedade está morrendo! No material colhido em palestras, aulas, seminários, jornais, revistas e livros organizaram este livro, que deve ser pelo menos um alerta, porquanto vivemos num mundo muito adverso aonde acriança pura, inocente e indefesa nasce e morre, morre de fome ou morre na sua índole, pois ao crescer não será o que deveria ser, mas um aborto emocional ou psicológico. Faço um apelo aos educadores, Pastores, pais, governantes a aos adultos em geral, que eduquem e trate com carinho as crianças como o bem maior da nossa vida, da família e da sociedade! Portanto não descuidarmos deste papel não teremos futuro, pois no presente estamos preparando os nossos filhos, para o consumismo, para o niilismo, o imediatismo, para a guerra e para a destruição final da humanidade! Não deixamos morrer a criança, que há dentro de cada um de


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nós e assim podemos ouvir, enxergar milhões de crianças que choram de fome, de dor, de medo e que gritam por socorro! O maior pediatra e Psicólogo infantil disse: “Não impeçais as criancinhas de vires A mim, pois dos tais é o reino dos céus”. Mateus 18:10. A influencia da mídia pode neutralizar a educação familiar, religiosa e acadêmica. É importante salientar que 83% da nossa formação, ou seja, daquilo, que absorvemos como elementos da nossa formação e informação é adquirido através da visão e 11,6 % pela audição! E aqui cabe uma pergunta; o que nossas crianças estão vendo e ouvindo? A formação do nosso caráter começa na Io infancia! E os pais são os maiores responsáveis para evitarem a educação corretiva na adolescência ou na vida adulta!


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BIBLIOGRAFIA

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P sicologia Infa n til

Autor

O Dr. José Faustino de Albuquerque Filho, nasceu em 17/ 03/1948 em Canhotinho Estado de Pernambuco. Está estabelecido em São Paulo há quarenta e dois anos é Evangélico há quarenta anos. É licenciado e bacharelado em letras, pela Universidade Camilo Castelo Branco. Bacharelado em Teologia pela Faculdade M eto d ista L ivre. M estrado em C iência da R elig ião pela U n iversidade C ristians U niversity.D iretor e F u n d ad o r da Faculdade Evangélica Beth Shalom.Presidente da Assembléia de Deus Brasileira.Presidente da Missão Evangélica “Jesus é a luz do mundo”, Presidente da Convenção das Igrejas Evangélicas Independentes do Brasil, Presidente da Comunidade Beneficiente B eth Shalom . P ro fesso r de várias d iscip lin as teo ló g icas, conferencista muito conhecido.Formado em Psicanálise Clinica pela “Faculdade Avançada”, destacado Terapeuta da Família e coordenador do pólo de apoio presencial da U niversidade Metodista de São Paulo.


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P sicologia In fa n til

Outras obras do autor I o - A Teologia da Família, 2o edição. 2o - A Cura para as doenças da Alma. 3o - Em busca de mim mesmo, em fase de publicação. 4o - A Teologia do Espírito Santo numa perspectiva do 3o milênio.Em edição. 5o - Os desafios da liderança do 3o milênio. 6o - Psicologia Infantil.. T - O mistério do sofrimento, em edição . 8o - A terapia do perdão, em edição . 9o - A família que sonhamos, em edição. 10° - A Igreja Ideal, em edição. 11° - A Igreja dos santos e dos santificados.


José F austino A lbuquerque F ilho

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Revisão: Professor José Faustino Albuquerque Filho

Capa Andrea Abbud Bussamra

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O s p a is re p re s e n ta m à b a s e d o e q u ilíb rio e m o c io n a l d a c ria n ç a e o e x e m p lo e m q u e ela, p o r im itaç ão , vai p a u ta r su a c o n d u ta . S ão d u a s p e sso a s, m as d e v e m o f e re c e r u m m o d e lo ú n ico , u n ifo rm e e e q u ilib ra d o e, p o r ta n to , é p re c is o q u e su as p e rso n a lid a d e s se u n a m , f o r m a n d o u m to d o h a rm o n io s o . U n a m -se , m a s n ã o se c o n tú n d a m , p a ra fa c u lta r, n a s fig u ras b e m d e fin id a s d o p a i e d a m ãe , a c o m p r e e n s ã o e x a ta d a m a s ­ c u lin id a d e e d a fe m in ilid ad e . A h a r m o n ia e n tre o s p a is é o p rim e iro r e q u is ito p a ra u m a e d u c a ç ã o c o n v e n ie n te . R e la çã o c o n ju g a l e stáv e l e feliz in fu n d e c alm a e se g u ran ç a . O ideal é q u e eles se a m e m v e rd a d e ira m e n te , d e m o n s tre m c o m u n h ã o d e s e n tim e n to s e lea ld ad e re c íp ro c a . P o rq u e a ssim se a c h a m n a s m e lh o re s c o n d iç õ e s p a ra d e s e m p e n h a r se u e n c a rg o e d u c a tiv o , isto é, p a ra p r o p o r c io n a r o m o d e lo a s e r c a p ta d o p e lo e d u c a n d o . M o d e lo q u e n ã o é c o n s titu íd o p e lo q u e p re g a m , m a s p e lo q u e sã o p e lo q u e p e n s a m e p e lo m o d o c o m o se c o m p o r ta m . E s ta q u e stã o , d e im p o rtâ n c ia e x ­ c e p c io n a l, r e q u e r c u id a d o sa a n álise a n te s d o c a s a m e n to .

A a tra ç ã o sex u al é, se m

d ú v id a , im p re sc in d ív e l e q u a lq u e r d e sa ju s te n e s te s e to r p re ju d ic a rá as re la çõ e s c o n ju g a is. M a s se ria v a n ta jo s o q u e ta m b é m h o u v e s s e c o r re s p o n d ê n c ia n o m o d o d e se r e d e p e n sa r.

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