Relatório ondacidadã10

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#OndaCidadã10 por Jéssica Balbino “Eu tive fora uns dias, numa Onda diferente (...)” (Herbert Vianna) O convite para o #OndaCidadã10 foi um presente. Chegou por meio do Écio Salles e com o compromisso apenas do ‘livre pensar’. Fiquei, durante todo o tempo seguinte à viagem, relembrando histórias, conversas, momentos e todo aprendizado e pensando em como condensar tudo em um único texto?! Como fazer um ‘relatório sobre algo que foi tão bem observado por tantas pessoas, de repente, com muito mais experiência do que eu?! E resolvi seguir o conselho da Beá Meira: tudo que fazemos fácil e com prazer, fazemos bem. Portanto, eis aqui. Uma experiência única. Difícil de ser pontuada e impossível de ser esquecida. A sensação de que há muito por fazer, discutir, ensinar e aprender torna tudo mais prazeroso. Agradecer um por um seria redundante e chato, portanto, vou parafrasear Sérgio Vaz, que já esteve presente em outras edições: “Obrigado por tudo, por nada obrigado”.

#OndaCidadã10 O que um padre italiano morador de Fortaleza (CE) tem para trocar com um adolescente de 15 anos, morador da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ). Pode um descendente de índios Venezuelano e morador de Boa Vista (RR) debater com uma feminista da região do Cariri (CE)? E a troca entre uma jovem coordenadora de ONG de Teresina (PI) e um agrônomo de Porto Alegre (RS). Uma biblioteca criada dentro de um açougue e um sarau dentro de um bar que se tornou referência para outros em todo país e que faz os homens ajoelharem no mês das mulheres e lhe pedirem perdão.

Toda essa pluralidade no sertão nordestino, em uma cidade com pouco mais de dois mil habitantes e que entrou na ‘rota turística’ do Estado do Ceará após a inclusão da Casa Grande como roteiro e ponto turístico. E o que crianças e jovens com idades a partir de 7 anos podem contribuir com todo este cenário? Ponto para a curadoria feita por Écio Salles e Fábio Malini, capaz de formar um caldeirão de iniciativas e diferenças que transformaram o #OndaCidadã10, realizado entre os dias 24 e 27 de julho de 2013 na Fundação Casa Grande, em Nova Olinda (CE). O eixo do debate, que começou com os protestos, terminou com a elaboração de uma carta


com sete propostas, que será remetida ao MINC e ao MC e entre a criação deste material, o tempo de estar em um novo ritmo proporcionado pela cidade, afastada das grandes redes de fastfoods, das torres de telefonia celular e

da correria das metrópoles, capitais e cidades de médio porte. Nesse tempo, discussões acerca do tema principal ‘Formação para a Cultura Livre’ e a troca de experiências entre os participantes.

Dia 1 – chegada Pelo menos 35 midialivristas de todo o Brasil desembarcaram no aeroporto de Juazeiro do Norte (CE), a terra do ‘Padinho Cisso’ (Padre Cícero) e rumaram para a Fundação Casa Grande, em Nova Olinda. O vilarejo que fica às margens de uma das BRs tem pouco mais de dois mil habitantes e recebe, por meio do Turismo Comunitário, em pousadas familiares os comunicadores do Brasil que atuam com mídias livres, radicais e de guerrilha. Saídos de diferentes partes do Brasil, ora com temperaturas baixíssimas entre 0ºC e 4ºC, até os locais mais quentes, em torno dos 35ºC, chegaram ao vilarejo e encontraram a temperatura ideal: a do calor humano e das ideias, fervilhadas e disparadas, o tempo todo, a cada breve apresentação e poucas palavras sobre cada atuação e trabalho, em cada uma das partes, onde formam-se lideranças que resenham a comunicação do país.

Dia 1 – Debate: Educação não formal e redes sociais – diálogos possíveis com o cotidiano escolar


“A escola, no formato em que funciona, é horrível. Talvez devêssemos pensar fora dela, para além dela, porque eu sempre odiei frequentar escola. Não sei como poderíamos fazer isso, mas teremos algum tempo aqui para discutir a possível extinção da escola”, esta foi a fala do hacker Pedro Markun, talvez a mais polêmica durante a abertura do encontro, que trouxe um debate sobre a educação.

“A escola, no formato em que funciona, é horrível” Pedro Markun Transparência Hacker

Na mesa, Beá Meira (Universidade das Quebradas) e Jailson de Sousa de Silva (Observatório das Favelas) foram mediados por Valéria Toloi e discutiram sobre como associar a formação de uma universidade ou escola, já legitimada e com seu valor às novas proposições múltiplas e participativas.

Durante o debate, com a participação dos presentes – convidados de todo Brasil e membros da Fundação Casa Grande – foram apontadas questões como o tradicionalismo das escolas e a falta de um novo formato educacional no país, já que o professor mudou – e hoje é ativista, artista-cidadão e formador – mas a escola permanece, de certo modo, antiquada e fechada. Deste modo, tomou-se como exemplo a forma como a educação é empregada junto à Casa Grande e quem o trouxe foi Filipe Alves, o Filipinho, um garoto de apenas 14 anos, que fez as logomarcas de uma história em quadrinhos com lendas do sertão nordestino e que, com a fala simples, reinou sobre o silêncio do público. “Aqui aprendemos a trabalhar em grupo, a valorizar as diferenças e a ter objetivos simples. Tudo isso para garantir a melhor convivência com as pessoas que gostamos, com caráter, honestidade e respeito”, disse. O debate é deixado de lado quando não há conclusões sobre de que maneira a escola poderia ser melhor, mais livre e proveitosa, como vem sendo com a mídia construída às margens. Do lado de dentro, o lançamento do projeto ‘Radioestória’, com quadrinhos e lendas gravadas pelos frequentadores da Casa Grande, que tornaram-se protagonistas da #OndaCidadã, por transformarem as lendas do Cariri em preservação história e estética brasileira. Dia 2 – Apresentações e a simplicidade da Casa Grande Manhã com café regional. Suco de goiabada e manga natural, tapioca e o tempo, que aparentemente, passa mais devagar no nordeste. Já na Casa Grande e na temperatura em que é possível não morrer nem de calor, nem de frio, mas sobra vontade de viver, o auditório é preenchido pelos participantes, que já entre si trocam ideias e estabelecem contatos: motivos para futuros encontros. Do lado de fora, as crianças que frequentam a Casa Grande levam os visitantes para um passeio pelo local, que dá acesso também ao Memorial do Homem Kariri e passa pelo local onde já ouve exploração mineral e de fósseis.


Dentro, Alemberg Quindins, o criador da Fundação Casa Grande dá detalhes

históricos sobre o surgimento da Ong, que veio da ameaça de demolição do espaço. Adquirida pela família dele em 1932, a casa seria vendida, quando houve a apropriação e passou a abrigar conteúdos literários e servir para apresentações musicais. Desde 1992, recebe crianças e adolescentes de Nova Olinda, que já construíram sua história no local e hoje retornam, como jovens empreendedores e capazes de multiplicar e sequenciar o projeto.

Responsabilidade é a do artesanato e muitas, nas palavra que define a “Eu estudo e vivo aqui desde pousadas familiares, que Casa Grande e seus recebem os visitantes e que eu nasci” frequentadores, que estudantes de grande parte em um quadro do Brasil. Yasmin, 8 anos bastante visível, A sustentabilidade anotam o quanto é gasto é água, luz, econômica do espaço é apresentada por alimentação e manutenção e o quanto Alemberg a partir de pequenos valores, custa cada uma das visitas ao espaço. que fazem muito. Organização, Com pouco mais de R$ 4 mil por mês a praticidade e, sobretudo, simplicidade. Fundação Casa Grande é mantida e São estas as palavras implícitas que garante com que crianças como a reinam de forma explícita, se é que isso Yasmim, de 8 anos, tenham orgulho de é possível, em toda a Casa Grande. frequentá-la. “Eu estudo e vivo aqui desde que eu nasci. Sou adotada e “Trabalhamos com crianças, jovens e minha mãe trabalha aqui, então, me seus familiares em quatro programas trouxe do hospital para cá. Minha vida como educação infantil, é na Fundação Casa Grande, é a Casa profissionalização, geração de renda Grande”, disse. familiar e sustentabilidade institucional. Também são eles – jovens e crianças que fazem a limpeza e organização do espaço. Algumas mães trabalham na cozinha, outras, na lojinha e na venda

A Fundação tem como destaque a direção feita por crianças e jovens”, destacou Alemberg.


Mapeamento de midialivrismo rapidamente evoluiu para se pensar as formas de comunicação autônomas ou mídia livre do Brasil.

Para o consultor do #OndaCiddadã10, o ensaísta e gestor cultural Écio Salles, o projeto nasceu para reuni reunir rádios livres, públicas e comunitárias em 2003, Ainda de acordo com ele, o programa promove encontros com representantes de diversas mídias livres para debater temas importantes para esta vertente cultural brasileira. “O que há de muito especial, além das propostas que surgem, é o fato de juntarmos pessoas que estão realizando, com ideias

“Desde então vem realizando encontros no Rio de Janeiro e em São Paulo e agora chegamos a Nova Olinda com duas frentes muito importantes, que são o mapeamento da mídia livre no Brasil, com as iniciativas desse sentido e ao mesmo tempo criar formas de interação entre essas experiências e tentar perceber quais as demandas, quais são as questões que existem nesse contexto, afim de produzir, propor e inventar formas que viabilizem atenção a essas demandas”, disse. incríveis em vários pontos do país. Além disso, o encontro promove algo que a meu ver é muito importante, que é a troca, ou seja, o que cada um pode aprender e ensinar a partir das próprias experiências. Isso é um dos bens mais valiosos do #OndaCidadã”, destacou.

Dia 2 – Rua x Rede: os debates sobre os protestos no Brasil #VemPraRua – uma das tags mais utilizadas durante a onda de manifestações e protestos que aconteceram em todo Brasil foi também uma das mais pronunciadas durante os dois grupos de debates que aconteceram durante o Fórum. Alguns participantes pediram, inclusive, a troca de grupos, para garantir que estariam ‘na rua’, mais uma vez, dando voz às reivindicações dos debates.


As múltiplas vozes que gritaram nas ruas e nas redes do Brasil potencializaram-se em debates sobre a cobertura da mídia – tanto a tradicional como a radical e de guerrilha – bem como as concepções e níveis de reivindicações que chegaram até às redes e que, não obstante, também tiveram papel de destaque durante o mês de junho no Brasil. No grupo mediado pelo jornalista Toninho Prada, os participantes puderam relatar experiências próprias durante os protestos, tanto em relação à participação ativa, como cidadãos,

quanto em relação à cobertura, jornalística e por outras mídias. Segundo o jornalista e professor Fábio Malini, boa parte dos protestos no Brasil foi organizada e difundida pela internet, que pode, de certo modo, ser considerada o motor e o combustível para a organização das manifestações de massa. De acordo com ele, é inevitável que rua e rede encontrem-se em situações semelhantes e que uma ‘dependa’ da outra, já que “a emoção que acontece nas ruas entra na internet e motiva mais gente a ir para esta mesma rua”. E essa ‘onda’ chegou, de fato, em todos os estados brasileiros.

Houve também uma discussão quanto ás capas do jornal Folha de São Paulo – que foram extremamente divergentes entre os dias 13 e 14 de junho, antes e depois da agressão sofrida por jornalistas 0 e quanto ao que excessos da Polícia Militar contra o Movimento Passe Livre (MPL) em São Paulo (SP) no dia 13 de junho e se rebelou contra isso, indo às ruas na segunda-feira seguinte (17 de junho), pelo direito de protestar.

impulsionou mais gente às ruas. Quais seriam os motivos? As reivindicações? De acordo com a observação dos midialivristas da roda, boa parte do Brasil acompanhou os protestos.

“Uma das colocações mais interessantes da internet foi que quem não estivesse se sentindo confuso com os protestos estava no caminho errado”, disseram vários participantes durante a discussão, no grupo de Rede.

causa do calor, são raros os protestos, mas que o ponto algo foram as agressões policiais e o vandalismo.

E, de fato, esse foi o sentimento e colocação de quem nunca viu protestos acontecer, por exemplo, em Boa Vista (RR). O jornalista e sociólogo, Edgard Borges pontuou que na cidade, por

“Que quem não estivesse se sentindo confuso com os protestos estava no caminho errado”

“Meu filho nunca tinha visto protesto e quando vivemos o primeiro, eu não acreditei que isso estava acontecendo. Era um dia de muito calor e eu saí com ele, mas não demorou até que começaram as agressões, os atos de vandalismo e os abusos por parte da polícia”, destacou.


Encontro de timelines Por fim, os participantes debateram o encontro das ideologias no meio digital. Tanto no encontro de temas nas timelines do Twitter e do Facebook, quando nas redes sociais, amigos da elite e da periferia passaram a compartilhar, curtir e ‘dar RT’ em mensagens semelhantes. “A minha timeline sempre foi diversificada, tanto pela região onde eu moro em São Paulo, quanto pelos jovens de periferia com quem convivo e eles até diziam, inicialmente, que as pessoas gritavam que ‘O gigante acordou’, mas a periferia nunca tinha dormido, então, em um espaço de duas semanas, notei um encontro de ideias na timeline. Tanto meus amigos quanto os jovens do projeto postavam e acreditavam na mesma coisa”, destacou a jornalista Amanda Rahra, coordenadora do projeto de comunicação ‘É Nóis’.

Disputa de narrativas Por fim, os debatedores concordaram que o Brasil viveu e narrou, de maneira singular, um importante acontecimento histórico e, mais do que isso, precisou se reinventar no sentido de ‘cobertura’, já que, nos primeiros dias, o que se via era uma mídia tradicional muda, ou mesmo que chamavam os manifestantes apenas de vândalos e, após a agressão de repórteres, passou a se portar de maneira diferente, como quem quer dar voz aos manifestantes e ao mesmo tempo, precisa disputar espaço de narrativas com eles, já que de um lado existe a pauta a ser cumprida (ouvir todos os lados, ser imparcial, entre outras recomendações) e do outro existe a pauta de mão única, feita por jovens que dispõe de tecnologia e disposição e trouxeram às redes a cobertura ‘Ninja’, como foi batizada, posteriormente, a Mídia Ninja.


Tanto para Toninho Prada, que mediou a conversa, quanto para Renato Rovai (Revista Fórum), houve um deslocamento da grande mídia, que tentou, a todo custo, acompanhar o que se passava em todo Brasil, mas sofreu represálias – e teve inclusive carros incendiados – por parte dos manifestantes, o que gerou desconforto e obrigou os grandes veículos a repensarem as maneiras de cobertura. Neste meio tempo, jovens munidos com câmeras, tablets, smartphones e adeptos do ‘código aberto’, transmitiram, em tempo real, os protestos para todo o Brasil, no entanto, provocaram discussões, chamaram atenção e obrigaram uma reconsideração nos noticiários. Quem ‘cobriu’ virtualmente os protestos também foi alvo de represálias, como a estudante de psicologia Jarid Arraes, que do Cariri, se fez presente através do Twitter e após postagens contra as agressões oriundas da Polícia Militar, foi atacada verbalmente, via internet.

“Disseram: essas vandalizinha está incitando a violência, mandando quebrar tudo. Vamos processá-la. E me ameaçaram. Tem cabimento dizer que uma postagem no Twitter dizendo ‘quebra tudo’, é incitar a violência?!”, desabafou.

Entretanto, o mesmo monitoramento nas redes sociais foi lembrado por Fábio Malini, que também foi relator da atividade. Segundo ele, durante os protestos, foi possível perceber tuítes e mensagens que destacam as ideias de espionagem pelas redes. A partir daí, o debate se encaminhou também para o caso Snowden e a revelação da espionagem dos Estados Unidos no Brasil e foi finalizado com a amostragem da nuvem de tags e do uso de palavras pelo Twitter durante as manifestações. O levantamento feito pelo Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) em Vitória (ES) mostraram que os usuários da segunda rede social mais utilizada no Brasil viralizaram as tags #protestoRJ e #VemPraRua. Contudo, somente sete dias depois do ‘estouro’ dos protestos em São Paulo e no Rio de Janeiro e três dias depois de uma grande manifestação nas capitais e em cidades de médio porte foi que a chamada grande mídia conseguiu se ‘apropriar’ da cobertura e construir uma narrativa, digamos ‘linear’ sobre os protestos. Foi quando, também, muitos manifestantes e pessoas da rede começaram a temer um possível golpe. Talvez midiático. E a partir daí, abriu-se novas discussões acerca do tema, tanto pela web, como nas ruas. Em muitos casos as ruas chegaram a ser evitadas para que discussões e manifestações sólidas fossem formadas.


fizeram alusões às prisões por “porte de vinagre”, ocorridas na capital paulista no dia 13 de junho.

Porte de vinagre e poesia Entretanto, o debate sobre os protestos e as redes mostrou também variações do que resultaram as manifestações em todo Brasil, como o livro digital ‘Vinagre – Uma Antologia de Contos Neobarracos’, organizada por escritores que se denominaram “Os Vândalos” e

Entre as mais de 170 páginas do livro, que está na 2ª edição revisada, dois autores: Makely Ka e Jéssica Balbino estiveram no #OndaCidadã10. Para Makely Ka, esta iniciativa mostra também a importância das redes para a comunicação. “É importante lembrar que são várias pessoas, de todo país, que se manifestaram poeticamente durante os protestos e que isso gerou o resultado de um livro – digital – em que boa parte dos autores não se conhece, mas que trataram de um mesmo tema, uma mesma linguagem, um mesmo problema”, resumiu.

Aqui, cabe uma reflexão e livre pensar pessoal, que, para mim, determina uma nova forma de narrativa latente no país: a literária-poética. Foi por meio de poesias, contos, crônicas e até poemas concretos/visuais, que muita gente se manifestou e, de certo modo, relatou e se posicionou durante os debates. Quando eu não posso me posicionar claramente nas redes sociais, tampouco na rua, acerca das manifestações e cabe a mim apenas o papel de relatar/reportar com todos os lados o que acontece – de repente o papel de repórter P2 – é por meio de um desabafo talvez poético, bastante visual, que consigo me expressar e enviar a mensagem: está claro o que eu penso, mas a licença poética me resguarda de qualquer má interpretação. São poesias regadas de vinagre, que antológicas, marcam um momento onde “longe” da ditadura, foi proibido carregar vinagre, se proteger e o gosto que ficou: agridoce !!!


Rua: de dentro para fora – ações territoriais e sustentabilidade

inauguração do Museu de Arte do Rio (MAR), viu toda a organização de um banquete e de uma bateria formada por Em debate mediado por Jailson de crianças impedidas de se manifestarem Sousa e Silva e já que segundo a guarda “não nos manifestamos, relatado por Écio municipal, colocariam em Salles, os porque ‘colocaríamos em risco risco a segurança da protagonistas dos presidente Dilma Rousseff, a presidente” protestos presente na inauguração. organizados na rua Júlio Callado Coletivo Opavivará! e para a rua “Nós tínhamos tudo pronto, puderam expor a eram crianças com a escola visão sobre o que aconteceu no Brasil de samba mirim Pimpolhos, que se durante o mês de junho e entre as mais apresentariam na rua, mas não nos diversas causas pelas quais se ganhou as manifestamos, porque ‘colocaríamos ruas, a linearidade foi uma só: o direito em risco a presidente’”, lamentou. de protestar. E esta colocação veio para mostrar que Que ficou bem claro ser motivo de antes mesmo do volume de protestos no censura a partir do depoimento de Júlio país, a arte estava censurada nas ruas ou Callado, representante do Coletivo mesmo em espaços ditos públicos e com Opavivará! do Rio de Janeiro (RJ), que convite da organização. em março deste ano, durante a


Entre os exemplos citados, pode-se destacar o da Cooperifa, que pela voz do poeta e rapper Cocão (Versão Popular), ficou explicado que a periferia se uniu, ao temer um possível golpe midiático, e se organizou de forma própria para ganhar as ruas. “Nós fomos as ruas e vimos o quanto é importante essa prática. Estamos nos saraus, estamos no rap, estamos fazendo mudança o tempo todo, mas foi importante estar presente lá, onde tudo acontece, e sentir essa energia”, pontuou.

Desta maneira, percebe-se que a Mídia Ninja ainda não tem total alcance, de repente, por falta de uma conexão eficiente em determinados pontos do Brasil – como foi uma reclamação de Fábio Pena, de Santarém (PA) – ou por que pessoas mais idosas e menos ‘conectadas’ não tem acesso ao que é reportado em tempo real e sem cortes, embora haja interesse pelo que está sem mostrado ao vivo, sem qualquer tipo de edição.

Contudo, durante a conversa levantouse, mais uma vez, a questão da cobertura na mídia e a cobertura dos Ninjas, que inovaram o modelo proposto. Até que ponto?! Conforme destacou Écio Salles, é preciso reconhecer que a Mídia Ninja fez, nitidamente, um excelente trabalho, no entanto, há mecanismos para isso. Mas a quem esse noticiário chega?!

Convergência entre rua x rede

E a questão permanece no ar, já que a partir do momento que a Mídia Ninja divulga-se de forma digital e virtual, onde não estão 100% dos brasileiros, ou muitos não validam o que está ao vivo na Pos.TV já que não foi dito em programas da grande mídia, como o Jornal Nacional, entre outros, conforme debatedores e protagonistas da rua bem lembraram. “Meus pais não tem tanto acesso à internet e assistiam pela TV convencional, mas nota-se uma preocupação neles em perguntar: o que estão mostrando por aí”, relataram os participantes.

Tanto nos debates da Rua quanto da Rede, nota-se que houve a preocupação em falar sobre os motivos dos protestos, as formas de organização (grande parte no Facebook), o desejo de estar na rua, a descentralização do movimento – ao sair das capitais e grandes centros e partir para cidades menores – a diversidade e pluralidade de pautas, o excesso de reivindicações e o ‘evento social’ e ponto de encontro que se deu em diferentes pontos a partir dos protestos. Vários foram os relatos de percepção de ausência e também excesso de motivos pelos quais reivindicar, dos perigos que isso representa e de como o Facebook foi utilizado como uma ferramenta de organização e quiçá de ‘monitoramento’ acerca das manifestações e mais, como o uso dos protestos para formas de interação social incomodou ativistas em geral.


Neste ponto, nota-se que lideranças de diferentes partes do Brasil e protagonistas não apenas em suas comunidades e localidades, mas também no #OndaCidadã10, divergem sobre questões de mídia, internet e modelo de cobertura, mas convergem na discussão e na busca por um modelo que se faça prático e acessível. Percebe-se que há ainda em diferentes pontos dificuldades de acesso à rede e às tecnologias e mais, dificuldades em saber lidar com elas. Entretanto, formase, também no #OndaCidadã, um aumento da intelectualidade de massa e da troca de saberes, o que favorece a produtividade e o entendimento em relação ao que se viveu no Brasil durante o mês de junho, o que permanece no Rio de Janeiro – já em agosto e com ocupações mantidas, violência e truculência policiais e perguntas sem respostas – e o que acontece também no Egito. Nota-se também um desejo inquieto de entender, fortalecer e sustentar o que vem sendo feito. O encontro de pares e de pessoas que atuam na linha de frente impulsiona e faz gerar o debate, a troca

de experiências, a exposição do que se pensa, a divergência do que se vive, o confronto e por fim, o entendimento e a multiplicação. Do debate ao Hacklab Como já mencionado anteriormente, o termo ‘abrir o código’ talvez tenha sido o mais empregado durante o #OndaCidadã10 e o que mais trouxe efeitos. Durante as discussões acerca dos debates, surge então a questão: E o Facebook?! Comparado a um belo jardim, porém cercado, a rede social que atrai, mobiliza e sistematiza – além de comercializar muita coisa – é, em vários aspectos, demonizada por quem se sente controlado e monitorado. Por outros, vangloriada pela capacidade de formar-se identidades e lideranças a


partir do meio virtual e de mobilizar e organizar protestos, capaz até de potencializar o número de pessoas nas ruas (?). No entanto, surge também uma tendências à adesão em novas redes e durante a troca de conhecimentos e competências é apresentada a nova rede: Diáspora.

Facebook, porém, com uma diferença: não há como apagar o que já foi postado. O que permite que se tenha memória e que se tenha ‘controle’ sobre o que está sendo compartilhado. Será boa? Substituirá o Facebook e o Twitter? São perguntas sem respostas, mas que enfatizam a necessidade do debate e da troca.

Com nome atrativo, a rede que atrai, timidamente, novos usuários, é possível postar automaticamente no Twitter e no Dia 3 – Certificação Ter um selo que ateste sua qualidade. É assim com boa parte do que consumidos, de frutas e legumes a eletrodomésticos e carros. A necessidade de saber que o que comprados e usados é bom estabelece um mercado paralelo, nem sempre possível de ser seguido, por isso, o agrônomo Laércio Meirelles, do Rio Grande do Sul, respondeu com praticidade e simplicidade a própria pergunta, feita no Dia 2: O que eu vim fazer aqui? encontro sugere: troca de saberes e entre os próprios agricultores, desenvolveu mecanismos de autocertificação de forma com que todos ganhem sem que seja necessários investir fortunas incalculáveis e de maneira com que os produtos obtenham o tão sonhado selo de qualidade. Ensinar, de maneira sóbria e simples como desenvolver a auto certificação. E assim o fez. A partir de uma experiência do gestor do Itaú Cultural, Claudiney Ferreira, ao ler uma reportagem sobre o tema em uma revista de circulação nacional, Laércio Meirelles, embora não seja comunicador, foi convidado ao #OndaCidadã10 e trouxe na bagagem todo conceito necessário para o que é se auto certificar. A partir da experiência na região em que vive, Meirelles se propôs ao que o

“Trabalhamos com a certificação participativa e em rede, que é bem próximo do que cada um de vocês faz nas suas regiões. Quem, além de nós mesmos podemos atestar que um produto ou serviço é o que ele diz ser? Daí nasce a participação e a rede”, esclareceu. Mesmo entre as explicações técnicas sobre o trabalho desenvolvido, Meirelles conseguiu ilustrar, com precisão, os objetivos do encontro, dos midialivristas e, de repente, de tudo que


se precisa para a vida. “Lembra da simbiose? Quando dois seres se juntam para fazer algo que resulte em benefício mútuo? É isso que queremos”, destacou. E além, ele lembrou da importância das conexões. “Quando formamos uma rede é importante que estejamos todos interligados e se comunicando entre si. Isso só fortalece a teia, que é o que praticamos com a autocertificação”. Após a explicação de Meirelles, quem tomou a palavra foi Claudiney Ferreira, que lembrou a importância da troca de conhecimentos dentro do

#OndaCidadã10 após os 10 anos da criação do evento. A realização do #OndaCidadã10 em Nova Olinda (CE) é o reflexo do surgimento de múltiplas vozes e maneiras de se fazer comunicação no Brasil e daí a importância de tratar da cultura livre. “O que acontece é que nossa caixinha pode ser muito grande, mas é uma caixinha. Precisamos aprender a pensar fora da caixinha, a rasgar a caixinha e criar conexões para além dela. Essa é a verdadeira revolução”, destacou.

Dia 3 – Afinal, o que fizemos?

Por que estivemos durante 3 dias no sertão nordestino discutindo midialivrismo? Como a Rádio Heliópolis pode se alinhar com o Cariri? Como o Opavivará! Pode se comunicar com o Transparência Hacker? Como o blog Geral Conectado da Rocinha pode atuar com a Rede Mocoronga no Pará?


Essas e outras perguntas foram pontuadas e debatidas durante o encerramento, no teatro da Fundação Casa Grande. Já com clima de encurtamento de tempo e de saudade pelo que foi vivido e ânsia pelo que não foi perguntado e debatido, novamente a ‘quebra de códigos’ voltou à discussão e ficou estabelecido, entre os midialivristas do #OndaCidadã10 de que os códigos serão abertos e as informações compartilhadas, seja em novos encontros ou em micro, sugeridos durante as propostas para o próximo. Propostas para o próximo Onda Cidadã: 1. Dar continuidade ao mapeamento incorporando novos sujeitos do midialivrismo na rede Onda Cidadã. 2. Produzir carta-manifesto direcionada à Secretaria Geral da Presidência (com cópia para o MINC e MC) para que sejam retomados programas de fortalecimento da cultura livre (como pontos de mídia livre, pontos de cultura, de periódicos para bibliotecas públicas, programas de banda larga entre outros). 3. Gerar ações de deslocamentos, intercâmbios e produção de aprendizagens de grupos midialivristas do Onda Cidadã, através da criação de microencontros vivenciais, com transmissão online e compartilhamento de experiências, saberes e abertura de códigos (a maneira como processos e produtos são fabricados). 4 Possibilitar que os mapeados possam também participar do processo de seleção do Rumos Itaú Cultural. 5. Criar mecanismos coletivos de seleção de projetos, em que o voto dos concorrentes do edital seja considerado na seleção. 6. Criar grupo de trabalho visando facilitar os processos de prestação de contas dos editais para as organizações da sociedade civil. 7. Criar carta-manifesto reivindicando a democratização das verbas publicitárias estatais e governamentais para as mídias livres e comunitárias.


Por fim, há o gosto de dever cumprido por estar em meio a midialivristas do Brasil todo, protagonizando mudanças e evoluções e há o anseio por autossuperação, por melhorar, por se estabilizar, por continuar. Por fazer mais. Por romper barreiras, por quebrar códigos, por se lançar em novos caminhos e por construir pontes, nunca muros.

“O que acontece é que nossa caixinha pode ser muito grande, mas é uma caixinha. Precisamos aprender a pensar fora da caixinha, a rasgar a caixinha e criar conexões para além dela. Essa é a verdadeira revolução” Claudiney Ferreira Itaú Cultural

Como lição, fica a simplicidade de Nova Olinda, a acolhida da Fundação Casa Grande, a alegria e a felicidade estampadas no rosto de cada uma das crianças que frequentam o espaço e os sonhos de cada um, acrescentados à muitos mais quilos de bagagens, não somente por trocas de materiais, por de experiências, vivências e construção.

Por mim, posso dizer que saí mudada. Mais feliz, mais empolgada, mais completa. E a multiplicação é obrigatória.

Por toda troca, pode-se concluir que as redes culturais espalhadas por todo Brasil e até mesmo entre estrangeiros que vivem aqui e compartilharam da experiência, que há contrastes, tanto culturais, quanto políticos, mas que estes mesmo precisam ser respeitados e, na simplicidade comprovada e auto certificada da Fundação Casa Grande, somados e multiplicados para a próxima década da #OndaCidadã !!! E como não poderia deixar de ser, para encerrar, o resumo tão bem feito e simplificado de Écio Salles, no grupo montado no Facebook (sim! Ainda esta rede social), para as trocas pós-onda: “Sim, estamos de volta às nossas cidades (menos quem mora lá, claro) e já é segunda-feira. Mas a memória do Cariri vai latejar por muito tempo. Quatro dias de um Carnaval sem quarta de cinza, porque o que aprendemos/ensinamos lá vai ser a fantasia que vestiremos ainda um bom tempo e animará a polifonia do bloco mídia livre mundial”. E que nosso coro polifônico seja perpetuado. Até a próxima onda ;)


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