Revista Litera

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EDITORIAL

Diretor-executivo Jéssica Prado

CARTA DE UMA JOVEM APAIXONADA

Edição e redação Jéssica Prado Edição de arte André Luiz Lopes Rodrigues Revisão Bianca Zaniratto Impressão DPI Digital

LITERA

Redação e administração Rua Regina Ghedin Frolini, 205 Barra Bonita – SP CEP: 17340-000 Fone: (14) 3641-3560 Sugestão de pautas/ reclamações revistalitera@gmail.com Visite nossa Fanpage www.facebook.com/revistalitera

Os artigos aqui publicados © copyright 2015 Jéssica Prado. Todos os direitos reservados. Fica proibida a reprodução total ou parcial de qualquer foto ou artigo desta revista sem autorização por escrito dos editores. Os artigos desta edição representam a opinião de seus autores e são de sua responsabilidade. Esta revista faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso no curso de bacharelado em Comunicação Social – Jornalismo, das Faculdades Integradas de Jaú. É um produto experimental e sua comercialização é proibida.

Eu já tive 15, 16, 17 anos e, pode crer, sei o quando é chato ouvir o professor dizer aquelas temidas palavras: livros e resenhas. Hoje estou com 23, e muitas vezes ainda ouço isso na faculdade. Não julgo se vocês estiverem pensando: “blá, uma revista que quer forçar a gente a ler aqueles livros chatos. Nem ferrando!”. Não é com intuito de fazer você ler “livros chatos” que idealizei, produzi e dei vida à revista Litera. Ao contrário, meu primeiro objetivo foi fazer que vocês, leitores e não leitores, vissem a literatura de uma forma descompromissada, algo jovem, da nossa idade. Isso parece surpreendente, né? Como aqueles livros cheirando a mofo podem ser atuais? Queria compartilhar a sensação que experimento desde criança, aquela de pegar um livro em mãos, de sentir o cheiro das páginas, de folheá-lo rapidamente antes que veja, sem querer, algum spoiler. Pode parecer cafona, mas aposto que é uma sensação única que todo mundo deveria experimentar. Mas, o que é sem igual, é estar apaixonada pela literatura, ter prazer em ler. Não falo em ler as páginas apressadamente, em menos de um dia, para copiar algumas partes, pôr na resenha e entregar para a professora amanhã de manhã. É pegar um livro que você queira – seja ele falando de bruxas, fadas, vampiros brilhantes, romances eróticos, duendes – e ler! Ler sem vergonha, sem ver o tempo passar, sem compromisso de “eu tenho que terminar isso logo!”; sem pensar: “Que droga, odeio ler!” Leia, sem medos. Já falaram que sou infantil por curtir Harry Potter, Filhos do Éden ou qualquer outra literatura classificada como best-seller. Possivelmente, você já precisou se defender porque curte Crepúsculo ou Diários de Vampiros. Tem até aqueles que precisam esconder que gostam, realmente, dos bons clássicos (também adoro Machado de Assis). Não importa o que quer ler, contanto que leia e sinta prazer nisso. Aqui não vamos te julgar e tão pouco te obrigar a algo. Você tem liberdade de virar as páginas desta revista e parar naquela que te chamar mais atenção. Tem a liberdade de ver as sugestões de livros e optar por aquele que te agradar mais. Sem neura. O objetivo do Litera é fazer que você, leitor, saiba que a literatura é algo jovial, mágico, e que basta tentar só um pouquinho para se apaixonar completamente. Não há contraindicações: leia, se apaixone e viva!

Jéssica Prado


O que você vai encontrar aqui!

internet

DESVENDANDO OS JOVENS ESCRITORES

MACHADO PODE SER LEGAL

SONHOS DE CRIANÇA

LIVROS E FILMES: AMIZADE PERFEITA?

O MUNDO FANTÁSTICO DA LITERATURA

OS IRMÃOS GREEN SÃO OS CULPADOS

A LONGA JORNADA DE UM HERÓI

SUGESTÃO DE LIVROS

ARTIGO QUER LER ALGO LEGAL E BOM? O ROCK INDICA!

Literatura a um

clique!

LEITORES USAM CANAIS NO YOUTUBE E BLOG PARA TROCAREM FIGURINHAS SOBRE OS LIVROS QUE LERAM. UM CLUBE DA LEITURA ONDE SUA OPINIÃO É SEMPRE BEM-VINDA Quando você encontra uma pessoa que leu o mesmo livro que você dá uma vontade de abraçá-la e não soltar nunca mais, não é? Vocês podem discutir sobre o enredo, falar das referências, chorarem juntas por um personagem morto. Agora imagine ter milhares de pessoas assim reunidas em um mesmo lugar? Canais no Youtube e blogs literários estão possibilitando a aproximação de leitores do mundo todo. Suas ideias ou opiniões acerca da leitura não precisam mais ficar presas em sua mente. Hoje, você pode exibi-las por meio de um vídeo. É só gravar, postar e pronto! É questão de tempo para receber comentários positivos ou negativos. Selecionamos alguns canais e blogs literários para você acessar, curtir e, quem sabe, usar como inspiração para criar um também.

ENTÃO, EU LI O canal Então, eu Li, que hoje reúne 14 mil seguidores, foi idealizado pelo estudante e booktuber (assim são chamados os “resenhadores de livros do YouTube”) Daniel Destro, 16 anos. A maioria de seu público tem entre 15 e 24 anos, o que faz que Daniel tenha uma lista de livros bem variada, alternando entre best-sellers e obras consideradas “mais complexas”, como Memórias de um Sargento de Milícias (Manuel Antônio de Almeida) e O Corcunda de Notre Dame (Victor Hugo). “Vejo que meus leitores gostam de livros como A Culpa é das Estrelas, Harry Potter, Percy Jackson, mas o público mais experiente curte algo diferente, como clássicos da literatura ou literatura nacional, como Raphael Montes”, contou Daniel. As resenhas dos livros clássicos tiveram uma aceitação bem legal dos seguidores do canal. O intuito de incentivar a leitura por meio de um bate-papo descontraído de jovem para jovem deu certo. Daniel afirma que muitos seguidores o contataram e afirmaram que não curtiam muito ler, mas, após suas sugestões, deram uma chance aos livros. “É diferente. Se alguém da sua idade recomendar um livro, acho que dá interesse maior em lê-lo. Os canais literários, hoje, incentivam muito a leitura”, conclui.

Foto Jéssica Prado

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KEMILYN VANESSA MACIEL, 17 ANOS “Sempre gostei de ler, desde meus cinco anos, e por meio de vídeos como os do Daniel Destro eu me interessei em ler algumas obras, principalmente ficção científica. No entanto, gosto mais de um canal chamado Resenhando Sonhos, que me influenciou da mesma forma que o Daniel. Até passei a me interessar por alguns romances, apesar de não ser meu tipo preferido de livros. Acho que é uma forma legal de incentivar a ler, porque às vezes você pode estar em dúvida quanto a alguma obra, e se você vê a opinião de alguém sobre tal livro você fica mais interessado em lê-lo. Além de eles te darem informações sobre a obra, eles te deixam curioso.”

Arquivo pessoal

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Canal literário, recomendo!

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Assessoria Casa de Notícias

internet

CABINE LITERÁRIA A turma da Cabine Literária publica diariamente vídeos não apenas com opiniões sobre livros, mas discussões sobre gêneros, português, brincadeiras de improviso, tudo de uma forma bem divertida. Eles também possuem o blog (cabineliteraria.com.br). Dá uma acessada lá e veja o que eles estão aprontando.

MINHA ESTANTE

O Literatortura foi um dos pioneiros dos blogs literários no Brasil. Foi justamente a falta de um site que reunisse literatura, colunas de discussões e notícias sobre o mundo literário, além da intenção de consolidar um futuro público leitor de seus livros, fez que o escritor Gustavo Magnani, 20 anos, desse “à luz” a esse projeto e suprisse a necessidade de uma turma que estava bem esquecida na internet. Apaixonado pelos livros desde os 13 anos, Gustavo participou de cursos, workshops, basicamente tudo que pudesse ensiná-lo sobre o fazer literário e sobre a literatura em si. Percebe-se que boa parte dessa bagagem é transmitida aos seus curtidores por meio de postagens no blog e vídeos no YouTube. Para o escritor, qualquer meio que dialogue com as pessoas pode incentivar elas a qualquer coisa, até mesmo à leitura. Acrescenta que o vídeo é um formato

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muito mais pessoal, individualiza a opinião, mostra a cara do sujeito, seus trejeitos, sua voz, seu rosto, suas qualidades e suas imperfeições. Mesmo com essa experiência, e com recados que recebe de pessoas afirmando que de alguma forma ele influenciou em sua vida, Gustavo não se considera um agente influenciador. “Mas fico muito feliz quando recebo tais mensagens e vejo que, de alguma forma, fiz a diferença na vida de alguém. Isso é lindo”, garante o criador da página que possui mais de 600 mil curtidores. Atualmente Gustavo publicou um livro, Ovelha – Memórias de um Pastor Gay, que já está disponível nas livrarias e na internet. A história é sobre um homem religioso e temente a Deus, mas homossexual e casado com uma ex-prostituta. Internado em um hospital, ele liberta todos seus demônios e relata seu drama de trinta anos. Vale a pena dar uma conferida.

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LITERATORTURA

Arquivo pessoal

Bruno Miranda faz uns vídeos bem comédia mesmo. Além das típicas resenhas, ele faz encenações, convida outros booktubers (como os da Cabine Literária) para gravar e ainda responde questões dos seguidores. Falar de literatura pode ser bem divertido!

THE TINY LITTLE THINGS A booktuber Tatiana Feltrin iniciou seu canal em 2007 e hoje reúne resenhas de livros best-sellers até obras exigidas em vestibulares. Além disso, os seguidores podem opinar sobre qual livro Tatiana lerá. Bem interativo e democrático.

RULLYAN FERREIRA, 20 ANOS “Minha casa tem uma biblioteca de quase dois mil livros e, por ser criado nesse meio, sempre me senti atraído e familiarizado com a leitura. Quando eu pesquiso por alguma obra, vou a canais que já tenham gravado vídeos sobre ela. Então não sou fiel a nenhum canal na verdade, vejo o que quero naquele instante. Acho que esse tipo de abordagem faz a leitura parecer mais interessante e atrativa, nós vivemos de influências e indicações. Quando são positivas, tendem a nos motivar. Como um acadêmico de engenharia de computação, acompanho a evolução diária da tecnologia, e o uso dessas ferramentas para o bem comum da sociedade é de extrema importância para a formação da nossa cultura.”

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DESVENDANDO OS JOVENS ESCRITORES

utro jovem destaque na literatura nacional é o carioca Raphael Montes, 24 anos, autor dos livros Suicidas, Dias Perfeitos e O Vilarejo. Ele é superelogiado pela crítica, já foi finalista de grandes prêmios literários brasileiros (Prêmio Benvirá de Literatura, Prêmio São Paulo de Literatura, entre outros) e, como Ana Beatriz, leva uma vida comum de qualquer jovem de sua idade. Conversamos sobre a vida, profissão e, claro, sobre os jovens escritores do Brasil.

RAPHAEL MONTES E ANA BEATRIZ BRANDÃO CONCILIAM SUAS ROTINAS DE JOVENS COM A DEDICAÇÃO À CARREIRA LITERÁRIA. AMBOS SÃO PUBLICADOS E FAZEM O MAIOR SUCESSO PELO BRASIL

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uem é que quando ouve falar sobre algum escritor já pensa automaticamente numa pessoa mais velha, talvez homem, com uma barba mais grisalha e um ar de seriedade? Há a impressão que todos eles só escrevem coisas chatas, ultrapassadas, com todo aquele mimimi. Pasmem: estamos todos errados, pois há muito jovem bacana por aí que escreve histórias que você adoraria ler. Uma delas é Ana Beatriz Brandão, de apenas 15 anos. Ela já publicou os livros de ficção Sombra de um Anjo e Caçadores de Almas - Segredos e Maldições e é jovem como a gente: fica online no Facebook e nas redes sociais, curte ficar com os amigos e o namorado e adora viajar. Viu? Ela não parece nenhuma anciã. Vamos conhecê-la!

• NÃO, NÃO E NÃO! “É muito difícil publicar um livro no Brasil. Quando terminei meu primeiro livro, Suicidas, tinha 19 anos e não conhecia ninguém do mercado literário. Mandei o livro para as principais editoras do país e levei ‘não’ de todas elas. Consegui a publicação depois de ser finalista no concurso Benvirá, aos 22 anos.”

• EU E A LITERATURA “Sempre gostei de ler e comecei a escrever aos 13 anos, depois de um sonho maluco que tive durante uma viagem. A história ficou na minha cabeça até eu voltar para casa e colocar no papel, foi aí que escrevi Sombra de um Anjo. Por ser publicada, me sinto meio especial (hahaha), mas triste ao mesmo tempo, porque muitos jovens querem ser publicados e não têm a oportunidade.”

• JOVEM E ESCRITOR “É legal ser jovem e escritor já publicado, mas é engraçado, vejo a idade só como um elemento. Confesso que não gosto de ser lido porque sou um autor jovem, e sim porque minha obra é boa. No entanto, estou satisfeito, mesmo que eu quisesse ter publicado mais.”

• ÔNUS E BÔNUS “A maior dificuldade de ser uma jovem escritora é conciliar os deveres que tenho com os livros e com os estudos. Às vezes, preciso faltar às minhas aulas por causa de algum evento e acabo perdendo muito conteúdo. Mas tem também a parte boa, que é saber que ainda há uma vida inteira para praticar e refinar a minha escrita. Se puder, vou escrever pelo resto da vida.”

• OBRAS INDICADAS “Ninho de Fogo, da Camila Deus Dará, Palavras do Brasil, que é um livro de contos que tem a participação da Alexandra Cristina, Depois dos Quinze, da Bruna Vieira... ah... são tantas obras para indicar! Quanto ao meu livro favorito, no momento, é Sangue Quente. É um livro bem engraçado que mistura zumbis e romance em suas páginas.

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arquivo pessoal

• DIA A DIA “Procuro ter uma vida mais normal possível, lendo meus livros, desenhando, saindo com meus amigos e namorado.”

• DESCONFIANÇA “Para mim, bons escritores são aqueles que leem muito, e muitos jovens ainda não leram tanto ou não possuem muita experiência. Estamos em constante construção, pretendo a cada trabalho e dia me tornar uma pessoa e escritor melhor, mas acho que muita gente lê na orelha do livro que nasci em 1990 e não quer ler o livro por isso. Com o tempo tenho conseguido vencer esse tipo de preconceito e mostrar que é possível fazer boa literatura aos 18, 19, 20, 40 anos, enfim, não tem idade para isso.”

Bel Pedrosa

• AGORA SIM, SIM E SIM! “Tive uma recepção ótima, o livro foi bem elogiado pelos críticos e foi finalista de outros concursos literários renomados. Vendeu bem, teve sucesso de público, e a partir daí foi mais fácil [risos].”

• CENÁRIO BRASILEIRO “A idade não influencia em nada, mas as editoras possuem medo de publicar o romance de um autor de 18 anos, mas existem exemplos (não sou o único) de autores que foram publicados quando eram jovens. • PROCESSO DE CRIAÇÃO “Quando penso na história de um livro, ela fica em minha cabeça por muito tempo. Se estou escrevendo um livro agora, já penso na história do próximo. Anoto frases, penso em cenas, faço a espécie de um esqueleto do livro, processo que demora mais. É quando defino mais ou menos quantos capítulos terá, o que vai acontecer em cada um deles, etc. Depois disso, sento para escrever, é mais fácil para mim manter essa organização de ideias.” • LIVROS FAVORITOS “Gosto de ler de tudo, como, por exemplo, Ian McEwan (autor de O Jardim de Cimento, Amsterdam, A Balada de Adam Henry). Minha sugestão de leitura é O Caso dos Dez Negrinhos, de Agatha Christie. Foi o livro que fez que eu gostasse de ler. Recomendado para quem gosta ou não de ler.

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SONHOS DE CRIANcA

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uando algumas crianças e adolescentes olham para os adultos, às vezes, não se dão conta que eles também já foram jovens e passaram pelos mesmos dilemas, alegrias, frustrações, obrigações. Esquecem que os adultos já foram crianças, que tiveram o primeiro contato com alguns livros e, depois disso, mergulharam de cabeça em um universo mágico, cheio de imaginação e criatividade. Foi o que ocorreu com a psicopedagoga e escritora Gilmara Pansardi Giavarina, de 43 anos. Quando criança, amava escutar contos de fadas e fábulas. Lembra que quando ficou doente, aos cinco anos, ganhou de seus pais uma vitrolinha azul que reproduzia uns discos coloridos cheios de histórias.

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“Ah... faziam-me viajar pelo mundo maravilhoso da imaginação. Nunca mais deixei a leitura longe de mim. Minha adolescência foi repleta de diários, enquetes e livros apaixonados”, relembra Gilmara. Passou a ler romances como Pollyanna Menina e Pollyanna Moça, Meu Pé de Laranja Lima e o clássico O Pequeno Príncipe. A paixão foi tanta que hoje escreve também. Apesar dessa experiência marcante, muitas vezes nos esquecemos o quanto que isso influenciou direta ou indiretamente nos jovens que somos hoje. A pergunta que recorre é: por que é tão importante?

LITERATURA NA ADOLESCÊNCIA Não é apenas na infância que podemos adquirir o hábito de ler. Na adolescência, por meio dos incentivos, é possível fazer o jovem adquirir simpatia pela leitura. Gilmara comenta que quando ouve um adolescente dizer que odeia ler, sente que o mesmo está distante da literatura ou a desconhece profundamente. “Nas escolas, a obrigação de apresentar resenhas, fichamentos e resumos ao professor impede o aluno de se interessar pela leitura. Eles

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LITERATURA NA INFÂNCIA Gilmara comenta que na infância muitas crianças amam livros, uma vez que os professores da escolinha promovem a leitura e oportunizam o conhecimento de diferentes gêneros, como as fábulas, os contos de fadas, história em quadrinhos, etc. Para nascidos dos anos 80 e 90, por exemplo, havia a coleção de livros Vagalume, com obras como A Ilha Perdida, A Turma da Rua Quinze, Aventuras de Xisto, O Escaravelho do Diabo. Havia ainda obras como Os Miseráveis (em versão reduzida), Bisa Bia, Bisa Bel e A Formiguinha e a Neve, da coleção Literatura em Minha Casa. Esse contato é muito importante, uma vez que a leitura é um ato de prazer que possibilita a recriação de mundos, expansão das ideias e a validação de sonhos (aqueles que a gente viaja enquanto está lendo ou conhecendo um personagem). “Ninguém sonha com algo que detesta. Sonhamos com aquilo que nos encanta”, garante Gilmara.

passam a acreditar que todos os livros são enfadonhos e que existem apenas com um propósito: o da avaliação escolar”, opina a psicopedagoga. Nós, jovens, já passamos por alguma situação semelhante e pensamos: “Que saco, eu odeio esse livro!”. Mas não podemos generalizar, e talvez tenham nos introduzido na literatura com livros que não eram indicados para nossa idade. Gilmara acredita que os educadores esquecem de promover o encantamento aos alunos, de mostrar que a leitura, além de informar, relaxa, diverte, interage com a vida. “Não existe uma pessoa que não goste de ler, existe quem não teve a oportunidade de conhecer o gênero que se identifica e não se deu a oportunidade de buscar, entre tantas opções, aquela que lhe agradasse”, garante a profissional. “Não desenvolvemos o hábito de leitura com imposições, mas com mobilizações intencionais.”

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Thomaz Melnek / Colégio da Fundação

HÁ MUITOS LIVROS QUE MARCARAM NOSSA INFÂNCIA E FIZERAM QUE NOSSA IMAGINAÇÃO VOASSE BEM LONGE. VOCÊ LEMBRA QUAIS LIVROS MARCARAM SUA VIDA?

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LIVROS QUE MARCARAM MINHA VIDA! ISABELLA VASCONCELOS THEOTONIO, 19 ANOS “Minha mãe comenta que, quando eu era criança, meu livro favorito era Rosaflor e a Moura Torta. E, realmente, gosto muito dessa história. Na adolescência, o livro que marcou foi A Estrada da Noite, de Joe Hill, porque eu não gostava muito de ler e foi por meio dessa obra que passei a gostar. Sinto que essas obras me tornaram uma pessoa mais intelectual e com uma escrita melhor. Os livros incentivam a imaginação, a criatividade, você aprende muito.” WINNY FRANÇA ROCHA, 19 ANOS “O livro que marcou minha infância foi Dani e a Boneca de Milho, praticamente aprendi a ler com ele. Lembro que ficava horas e horas olhando as figuras e tentando entender o que estava escrito. Já na adolescência, marcou muito Dom Quixote, primeiro livro grande e complexo que li. Valeu muito a pena. Com essas leituras, passei a acreditar no lado bom da vida. A fantasia nos faz viajar e esquecer um pouco das coisas ruins, é uma longa jornada com altos e baixos. A leitura edifica a alma.” TIAGO COELHO PEREIRA CARDOSO, 25 ANOS “Há muitos livros que marcaram minha vida, mas gosto da ideia de que tenha sido A Rainha dos Condenados, de Anne Rice. Os vampiros que Rice criou são extremamente humanos na sua falta de humanidade. Aprendi a ser tolerante, a suprimir os preconceitos até que não existam mais em mim. Tornei-me uma pessoa melhor. E foi também por meio dessa obra que conheci pessoas importantes em minha vida, amigos que carregarei pra vida toda.”

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Experiência em sala

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•Memórias Póstumas de Brás Cubas •Dom Casmurro •A Cartomante

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Ingrid Rosário Costa, 18 anos As famosas obras literárias são apresentadas no colégio de uma forma que parece que são incompreensíveis. Quando tentei ler Memórias Póstumas, não entendi bulhufas. As HQs são uma forma de contar a história de uma maneira mais compreensível, com linguagem coloquial. A primeira HQ que li foi Dom Casmurro, me apaixonei pela história, também já li a do O Cortiço. Começar a ler clássicos pelas HQs foi uma ótima opção pra mim. Além delas, procuro livros que tenham uma linguagem que fuja um pouco da coloquial, acho importante para complementar o vocabulário.

Danielma Mendes Queiroz de Morais, 19 anos Eu sempre gostei de ler, mas nunca me interessei por clássicos, sabe? A primeira vez que li fui “obrigada”, para um trabalho da escola. Então desde aquele dia, meu “preconceito” quebrou, passei a realmente ver a qualidade e importância que eles nos trazem, e hoje eu gosto desses livros. Me ajudaram a “amadurecer”. As HQs definitivamente podem incentivar os jovens a lerem esses livros. É um jeito novo e mais divertido.

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Já precisou ler alguma obra do Machado de Assis, por exemplo, por que a professora pediu que você o fizesse? Pode ser um pouco chato no começo, mas Machado é um cara legal. Ok... pode ser que você realmente não ache isso, mas vale a pena dar uma chance para as histórias do escritor, ainda mais aquelas que foram adaptados em quadrinhos. Isso mesmo, HQs! Esqueça Marvel ou DC Comics, o papo agora é com as editoras, como a Escala, que começaram a produzir as histórias dos clássicos brasileiros nessa plataforma. Há adaptações de obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas, livro popular pelo sarcasmo e crítica ferrenha da sociedade brasileira. As ilustrações, os diálogos mais curtos e a síntese da história fazem que a obra fique mais atrativa para os jovens que, ainda, possuem dificuldades em ler cânones.

Alguns professores já estão fazendo uso dessa ferramenta para complementar as aulas de literatura, como é o caso do professor Renato Ferreira Narduci, 24 anos, que leciona para o ensino fundamental 2 (6º ao 9º ano) e ensino médio (1º a 3º) há quatro anos. O profissional diz que as adaptações são úteis, porém para determinados públicos. Na fase de apresentação do mundo literário ao aluno, não se pode disseminar um livro clássico em escrita original, porque a não aceitação da obra será muito grande. Renato diz ainda que é preciso fazer o aluno começar a gostar desta literatura clássica para depois usar os textos originais, e o uso dos quadrinhos é uma boa opção. No entanto, aponta que pode ocorrer o problema de o aluno não atingir a maturidade suficiente para ler e compreender alguma das obras necessárias e exigidas pelo sistema de ensino ou vestibular e, mesmo assim, por meios legais, acaba passando de módulo. Por isso, embora os quadrinhos sejam legais, vamos dar uma chance aos livros escritos, ok? Apostamos que você não vai se arrepender.

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Agora as obras da literatura brasileira estão disponíveis também em quadrinhos. É uma opção para os jovens que ainda possuem dificuldade em ler os clássicos

Leiam as HQs!

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Clássicos? Eu li!

Renato compartilhou conosco uma experiência que teve em sala de aula, nas turmas do 8º ano do ensino fundamental. A obra escolhida foi Dom Casmurro, de Machado de Assis. A HQ, segundo o professor, era muito bem feita e mantinha a narração em primeira pessoa de Bentinho, personagem principal do livro. “Além de o texto ter tido muito pontos fiéis, lógico que com adaptações e condensações, foi de grande acréscimo à turma. Quando estes forem estudar a mesma obra, original, na escola literária realista, no ensino médio, já terão uma grande noção do que se trata”, afirmou. O professor acrescenta que por trás de toda adaptação existe um autor, uma equipe de revisão, edição e pedagógica, que estará trabalhando a venda de um título, mas, além disso, contribuindo com a educação. “Se o trabalho chegar às prateleiras, e a instituição escolar e familiar souber lidar com isso, têm-se em mãos um mecanismo a mais para suprir a necessidade da leitura”, finaliza.

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O MUNDO FANTASTICO DA

LITERATURA

OS LIVROS DE FANTASIA PERMITEM NOSSA VIAGEM POR MUNDOS REPLETOS DE HERÓIS, VILÕES, MONSTROS OU CRIATURAS MÁGICAS. O MAIS LEGAL É QUE MUITAS DESTAS HISTÓRIAS SÃO DE AUTORES BRASILEIROS. É OU NÃO REALMENTE FANTÁSTICO?

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A fantasia é um gênero literário que faz a cabeça de muitos leitores. O livro oferece um passaporte para que você embarque e desembarque de um mundo mágico a qualquer momento. Nele, pode-se conhecer, simpatizar ou até mesmo odiar personagens, como se eles realmente existissem. Mas eles existem sim... só que dentro de nossas mentes fantásticas. E quando falamos desse gênero, logo pensamos em personagens ou histórias que ficaram eternizadas em nosso imaginário e foram adaptadas para filmes e séries. Muitos deles você pode ver na ilustração desta matéria. Quantos deles conhece? Possivelmente lembraremos dos autores que criaram esses personagens, como é o caso de J. R. R. Tolkien,

autor da trilogia Senhor dos Anéis e O Hobbit. Podemos nos recordar também de C. S. Lewis, que criou As Crônicas de Nárnia. Outro exemplo atual é George Martin, popular pela série de livros As Crônicas do Gelo e do Fogo. No entanto, há muitos escritores fantásticos no Brasil. Isso mesmo, aqui! Ao falar de anjos, demônios, vampiros ou dragões, eles conquistaram destaque em meio aos leitores e ajudaram a consolidar uma literatura que até então não era valorizada por nós. Podemos citar vários exemplos, como Eduardo Spohr e André Vianco. Eles bateram um papo conosco e deram suas opiniões sobre vários pontos da fantasia brasileira.

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especial FANTASIA NO BRASIL

EDUARDO SPOHR O escritor é nerd assumido e já possui três livros publicados. O tema abordado por Eduardo é a guerra e conflitos entre o mundo dos anjos, arcanjos, humanos e dos demônios, embora muitas vezes inclua outras criaturas, como deuses e heróis. Podemos garantir: é muita ação! Influenciado pelo avô e pelo jogo de RPG (role playing game), Eduardo cada vez mais se interessava pelo mundo fantástico. Quando adulto, tornou-se colaborador do blog Jovem Nerd e utilizou desta popularidade online para publicar de forma autônoma seu primeiro livro, Batalha do Apocalipse, mesmo sem apoio das editoras. Após o sucesso que a obra fez na internet, a obra foi publicada, enfim, pela Verus (selo do Grupo Editorial Record). E depois daí, não parou mais de crescer no mundo literário e vendeu mais de 500 mil exemplares pelo país!

TRINDADE FANTÁSTICA

Não curto muito essa definição que eu, Raphael Draccon e André Vianco compomos uma trindade fantástica brasileira, pois fica parecendo que estamos em um patamar elevado, enquanto na verdade somos pessoas iguais a todo mundo ;-)

Essa brincadeira começou, acho, com o Raphael Draccon, mas não acho que sejamos a trindade, talvez sejamos os que vendem mais, mas a verdade é que, ainda bem, existem muitos outros escritores e escritoras de talento no gênero, como Kizzy Ysatis, Eric Novello, Felipe Castilho, Giulia Moon, Cristina Lasaitis, Ana Lúcia Merege.

PRECONCEITO COM O GÊNERO

Acho bacana e democrático cada um ter a sua opinião. Para mim, a literatura de fantasia é por vezes mais realista do que outros gêneros, por tratar de questões humanas de forma metafórica, e como sabemos a metáfora é uma das formas mais refinadas de comunicação. Mas, obviamente, cada um tem a liberdade de ter a opinião que quiser.

Busco inspiração para escrever minhas obras em tudo, na vida em geral. Quando você está escrevendo ou bolando uma história, o seu “radar” fica ligado para diversas situações ou obras que possam te inspirar - não necessariamente do mesmo gênero. Sinceramente, qualquer coisa pode me inspirar.

LIVROS DO AUTOR

Não digo que é forte, mas está mais forte. Infelizmente, no assunto de mercado, a literatura estrangeira ainda é muitas vezes superior em número de publicações e, consequentemente, de vendas. O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para ficar em pé de igualdade com outros mercados, não só na literatura de terror e fantasia. divulgação

Saraiva Conteúdo

Está se tornando mais forte e começando, aos poucos, a desenvolver um estilo próprio. Se bem me lembro, quando eu terminei o meu primeiro romance (2005) o mercado de literatura de fantasia no Brasil estava melhorando por conta dos livros do Harry Potter.

Toda boa história vale a pena, essa é a minha opinião. Essa coisa de separar literatura erudita de literatura de entretenimento é uma bobagem sem tamanho. O que importa são os olhos dos leitores percorrendo as linhas da sua história.

ANDRÉ VIANCO Autor de mais de 15 livros sobre o mundo sombrio dos anjos, demônios e vampiros, André Vianco começou a se interessar por esse gênero na infância, por intermédio de livros, filmes e quadrinhos. Sempre curtiu uma história de terror, aquelas de arrepiar os pelos do braço. Seu primeiro romance foi O Senhor da Chuva, lançado em 1998. Nessa época, como conta André, o mercado não era tão promissor e nenhum autor nacional de terror tinha destaque. O gênero estava refém da opinião das grandes editoras na época, que não acreditavam na literatura de terror e fantasia escrita por brasileiros. Atualmente, além de querer contar mais histórias, tem como projeto adaptar suas narrativas em audiovisual.

INSPIRAÇÃO

Acho que é um processo no qual me alimento de várias fontes, não fico segregado apenas a fantasia e terror para me inspirar. Tudo ao nosso redor, as pessoas, as notícias, o teatro, cinema, games, acaba se misturando num caldeirão. Uma hora, deste caldo todo, nasce uma ideia, que pode aparecer pequenininha, como um grão de arroz, ou grande, intimidadora.

LIVROS DO AUTOR

VALE A PENA LER

BATALHA DO APOCALIPSE

FILHOS DO ÉDEN ANJOS DA MORTE

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FILHOS DO ÉDEN HERDEIROS DE ATLÂNTIDA

Pessoalmente, o meu autor de fantasia favorito é o Robert E. Howard, criador do Conan, o Bárbaro.

Indico Rick Yancey do A Quinta Onda, o escritor Stephen King, por várias obras legais que escreveu, mas especialmente por A Dança da Morte. Há também Neil Gaiman, Antônio Xerxenesky, Alan Poe, iiih, a lista é longa.

OS SETE

O SENHOR DA CHUVA

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SÉTIMO

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especial

cinema

fotos divulgação

MAIS ESCRITORES BRASILEIROS...

FÃS FANTÁSTICAS! PATRÍCIA GUILLERMO, 24 ANOS Desde criança sempre tive contato com livros de fantasia, especialmente os de mitologia grega como Os Doze Trabalhos de Hércules. Gosto do gênero porque a temática não me cansa ao ler, provoca a imaginação e me transporta para dentro do livro. Não dá vontade de parar de ler! Defino literatura de fantasia como algo inspirador.

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CAROLINA MUNHOZ Carolina não se envergonha de falar que adora fadas e reality shows. E são justamente sobre esses temas que a autora escreveu O Inverno das Fadas, Feérica e Por um Toque de Ouro.

AFFONSO SOLANO Outra revelação brasileira escreveu o livro Espadachim de Carvão. Além de escritor, Affonso é ilustrador e co-criador do podcast Matando Robôs Gigantes.

MIDIAN LUIZ, 21 ANOS O fantástico, o oculto, o desconhecido sempre me chamaram a atenção. Há tanta coisa nesse mundo, tantas histórias... a literatura fantástica, mais do que os outros gêneros, me permite transitar por esses muitos mundos que existem dentro do nosso. Administro uma fanpage das obras do Eduardo Spohr e me dá muito prazer ver o quanto os jovens se interessam. Certamente, é um número cada vez maior de jovens que preferem um bom livro do que ficar direto colado na internet. Isso é mágico, é a verdadeira fantasia!

JOGOS VORAZES E SHERLOCK HOLMES SÃO SÓ ALGUMAS ADAPTAÇÕES DE LIVROS QUE LEVARAM MILHÕES DE FÃS EUFÓRICOS AS SALAS DE CINEMA

Quando recebemos a notícia que nosso livro favorito ganhará uma adaptação cinematográfica, nosso coração acelera e um gritinho histérico acaba ecoando por onde estamos. No entanto, logo somos arrebatados por uma dúvida que, muitas vezes, chega a ser torturante: a adaptação seguirá fielmente o livro? Será que transformarão nosso personagem principal em um babaca e a nossa vilã favorita em uma drama-queen? Muitas vezes somos surpreendidos por adaptações ótimas, como os dois filmes de Harry Potter e Relíquias da Morte, mas também ficamos um pouco receosos com mudanças de roteiro como ocorreu em O Hobbit (o filme foi elogiado por fãs, mas muitos estranharam a inserção de personagens que não pertencem à obra original). Até que ponto essas alterações são permitidas no cinema? Tem como o filme ser fiel ao livro? Assistir aos filmes é a mesma coisa que ler o livro? A profissional Anna Carolina dos Santos Israel, formada em cinema na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), ganhadora de vários prêmios internacionais de curta-metragem e integrante da equipe da Giros Produtora, manja do assunto e respondeu a esses questionamentos. Vamos conferir:

A cineasta Anna Israel fala tudo sobre adaptações

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arquivo pessoal

RAPHAEL DRACCON O autor tornou-se conhecido pela trilogia Dragões de Éter, que reúne em uma mesma obra um mundo de fantasia e releitura dos contos de fadas tradicionais.

LIVROS E FILMES: AMIZADE PERFEITA?

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cinema

LIVROS VERSUS FILMES

Aqui surge novamente aquela nossas reclamações sobre as adaptações dos livros que amamos: “Por que a Hermione estava com um vestido rosa e não azul, como no livro?”, “por que colocaram essa elfa no meio do filme do Bilbo Bolseiro?”, “por que a aparência da Cressida é diferente?”. São muitos por ques, não é? Anna comenta que devemos levar em consideração que filmes e livros são plataformas e raciocínios diferentes. Enquanto a literatura tem como objetivo penetrar muito mais na psique (mente) dos personagens que amamos, além de explicar sua história mais detalhadamente, no cinema é preciso que as ações e os conflitos sejam exteriorizados o tempo todo. Além disso, há uma limitação de tempo de tela, que força os roteiristas, em caso da adaptação de uma obra extensa, a fundirem personagens e cortarem outros para resumir a história às suas tramas e conflitos centrais, aqueles nos quais o tema, a premissa e os pontos de virada essenciais estão baseados. Agora entende porque muitos dos nossos personas não aparecem nas telonas? Outro ponto que Anna ressalta é que o leitor de um livro constrói um mundo inteiro baseado em sua própria interpretação da história, e essa idealização pode entrar em choque com a adaptação realizada. “Nunca vai satisfazer a todos porque pode não condizer com o que foi construído pelo leitor. Por isso, pode despertar certa repulsa quanto a um aspecto do filme”, explica.

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FILMES + LIVROS Até agora falamos sobre os leitores que muitas vezes criticam as obras adaptadas de seus livros favoritos. Mas e aqueles que não possuem hábito de ler, podem ser incentivados a ter contato com o livro por meio do cinema? Anna acredita que sim, que o amor por alguma obra da sétima arte desperte nos espectadores o desejo de voltar às origens daquela história ou mesmo daquele meio. “Uma das razões de o audiovisual ter assumido o lugar de prevalência cultural que tem atualmente é porque ele reúne muitas outras artes - a literatura em seu roteiro, a dança em seu movimento, a música em sua trilha sonora, as artes plásticas em sua fotografia...”, acrescenta.

SESSÃO PIPOCA

JOGOS VORAZES Já pensou em viver em um mundo dividido por distritos e que possui como principal atração um reality show mortal, onde apenas o mais forte sobrevive? Loucura né, mas é por isso que Katniss Everdeen terá que passar se quiser ver a luz do dia novamente. Filme inspirado na obra de Suzanne Collins, The Hunger Games.

Que tal se juntar com seus melhores amigos, fazer uma vaquinha para comprar pipoca e refrigerante e assistir a algum (ou todos) dos filmes que vamos sugerir? Só não se esqueça de também dar uma chance aos livros que deram origens a essas obras, ok?

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO Baseado em livro homônimo de John Boyne, o filme é daqueles que esquecemos a pipoca e afogamos as mágoas com sorvete mesmo. Retrata a amizade de Bruno, filho de um oficial alemão e nazista, e o judeu Shmuel, que vive em um campo de concentração.

SHERLOCK HOLMES É, nem mesmo o detetive mais famoso da literatura escapou desta lista. Há várias adaptações das obras de Arthur Conan Doyle, mas a qual nos referimos é a que traz o ator Robert Downey Jr. como o protagonista. O filme é repleto de sarcasmo ímpar e genialidade da observação de nosso querido Sherlock.

O PODEROSO CHEFÃO “Mantenha seus amigos perto. Seus inimigos, mais perto ainda”. Nunca ouviu essa frase antes? Então está na hora de fazer uma visitinha a dom Vito Corleone! Como todo bom filme de máfia, tem muitas intrigas, tiroteios e traições. Esse filme vale dois potes de pipoca sabor bacon! Foi baseado no livro The Godfather, de Mario Puzo.

CLUBE DA LUTA Esse aqui é para quem gosta de muita, mas muita pancada! O filme, baseado em Fight Club , de Chuck Palahniuk, conta a história de Jack, um executivo jovem que está cada vez mais infeliz com sua vida medíocre. Tudo muda quando ele conhece Tyler Durden e um grupo secreto, que tem como objetivo “extravasar angústias”.

POR QUE ADAPTAR? Perguntamos a Anna por que muitas histórias de livros, quando adaptadas ao cinema, sofrem modificações (essas que muitas vezes deixam os fãs de cabelos em pé). A cineasta explica que como fica cada vez mais caro produzir e distribuir um filme, a indústria cinematográfica não pode se dar ao luxo de errar. Por isso, tende a fazer apostas que provavelmente terão um bom retorno. “Isso também tem a ver com a aposta no cinema espetáculo”, acrescenta a cineasta. “Ir ao cinema requer dinheiro e tempo, então o filme precisa atrair o público.” Sabe quando a gente não está muito a fim de ir ao cinema e ficamos em casa esperando o filme ser disponibilizado em sites de download? É justamente essa atitude que as produtoras querem evitar, por isso há tantos filmes de aventura e ação hoje em dia, “pois eles fazem sentido em serem vistos na tela grande” e nos atraem ao cinema.

APOCALIPSE NOW O filme é recomendado por Anna Israel, já que para ela a adaptação dirigida por Francis Coppola é única na história do cinema. Foi inspirada no livro Heart of Darkness, de Joseph Conrad. A trama do livro se desenvolve na época do Imperialismo, mas a adaptação nos cinemas pegou as mesmas questões e as abordou no contexto da Guerra do Vietnã. Vale ser visto e revisto!

O SILÊNCIO DOS INOCENTES Hannibal Lecter é o canibal psicopata mais famoso da história. Neste filme, o ex-psiquiatra irá ajudar a agente do FBI Clarice Starling a encontrar um assassino que arranca a pele de suas vítimas. O filme é inspirado em livro homônimo de Thomas Harris.

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deboísmo

Os irmAos Green sAo os culpados!

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Sabemos que John Green, nos últimos anos, tornou-se um dos escritores mais populares do mundo. Uma legião de fãs, até hoje, chora ao reler o livro A Culpa é das Estrelas, que aborda o romance entre dois pacientes que possuem câncer, Hazel Grace e Augustus Waters. Muitos também ficam vidrados nas histórias de Cidades de Papel. Há também os haters, que não hesitam em falar mal dos romances. A popularidade de John Green trouxe algo além de seu sucesso na literatura ou um grupo extenso de fãs. A partir de vídeos publicados nas redes sociais por ele e seu irmão, Hank, surgiu um grupo bem heterogêneo que queria diminuir as coisas ruins do mundo, tornar nossa realidade melhor, seguir a vida de boa, dedicando-se a hobbies como ler. O grupo recebeu o nome de nerdfighters, ou guerreiros nerds. Eles são muitos e estão espalhados no mundo todo. No Brasil, há um grupo bem popular no Facebook que reúne quase quatro mil seguidores. Além de discussões sobre o tema, os nerdfighters receberam de presente uma postagem exclusiva de John Green, que elogiou a iniciativa dos brasileiros.

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O ESCRITOR JOHN E SEU IRMÃO HANK INSPIRARAM A CRIAÇÃO DOS NERDFIGHTERS, UMA TURMA QUE QUER SEGUIR A VIDA NA BOA, DEDICANDO-SE A FAZER O BEM AO PRÓXIMO

O QUE É SER NERDFIGHTER?

A nerd Samira Andrade, uma das administradoras do grupo Nerdfighter Brasil, explica que basta querer ser um nerdfighter para se tornar um. Há algumas características nesse grupo que podem ser apontadas, como hábitos de leitura, ligação com as novas tecnologias, gosto pela ficção (filmes, HQs, séries de TV, livros) e ser fãs da cultura geek/nerd. Também é muito usual interesse em questões que afetam, ou afetarão, a coletividade, como sustentabilidade e filantropia. Para Bárbara Morais, outra nerd assumida, o objetivo desse grupo é, ainda, querer tornar o mundo melhor, mais consciente e mais empático, “sem pedir desculpas pelo que você gosta porque não parece ser socialmente aceitável”. “Somos unidos pela vontade de diminuir as coisas ruins (que chamamos de worldsuck) do mundo.”

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deboísmo início virtual) ultrapassou as barreiras virtuais. Samira brinca que na primeira vez que viajou ao Rio de Janeiro, ela já queria conhecer seus amigos pessoalmente, embora sua família temesse esse encontro. “Com essas amizades, aprendi a me envolver em questões sociopolíticas nas quais não se interessava antes, como o feminismo”, apontou Samira. JOHN GREEN > ALL

COMO ME TORNEI UMA GUERREIRA

Bárbara brinca que não sabe quem a influenciou mais em ser uma nerd: os vídeos dos irmãos Green ou os livros de John. “Mas tenho certeza que me envolvi mais com a comunidade após ler Quem é Você, Alasca, em 2010, e começar uma campanha com outros blogueiros para a publicação desse livro aqui no Brasil. Foi quando o grupo no Facebook estava começando!”, relembrou. Diferente de Bárbara, que já era fã de John, Samira ingressou no grupo a partir das postagens que os irmãos Green faziam no Tumblr. Ela afirma que nem sabia que John era escritor, achava que eram apenas vloggers. “Quando compartilhei um vídeo deles no Facebook, uma amiga me adicionou ao grupo dos nerdfighters. Na época, tinha menos de 150 membros”, conta Samira. Ela relembra que ficou no grupo não por ser fã dos irmãos ou pelos livros, mas pela ótima recepção que teve dos integrantes. A partir daí, a paixão em ser nerdfighter cresceu cada vez mais. UNIDOS FAZEMOS A FORÇA!

Tanto Samira quando Bárbara concordam que uma das melhores coisas que ocorreram em sua vida após conhecer o grupo foi conquistar vários amigos. “Eu gosto de como a comunidade é acolhedora e sempre tento levar essa generosidade comigo para a vida”, afirma Bárbara. Apesar de serem várias regiões do País, a amizade (que teve

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Apesar das críticas que as obras de John Green recebem, as duas nerdfighters pontuam que, por mais que sejam fãs do autor, sabem que nenhuma obra é perfeita e que as críticas, às vezes, estão corretas sobre determinado assunto no entanto, ele ainda é um autor diferenciado se comparado com outros do mesmo nicho YA (Young Adult). Samira acredita que John é bem acessível, tornando a comunicação com o fã mais próxima, como se fosse um bate -papo de amigos. “O que acaba fazendo eu me sentir como se ele fosse uma pessoa, realmente multidimensional, um amigo até, e não uma distante celebridade vendendo uma imagem etérea”, explica.

NÃO SOU FÃ DO JOHN GREEN, MAS CURTO A INICIATIVA NERDFIGHTER. E AGORA?

Jéssica Prado

Qual a importância de John Green para cada um de vocês e qual livro é seu favorito? Por que ser nerdfighter? Gabriel Lucena A nerdfighteria é um lugar maravilhoso! Sempre tem gente para você ajudar, para te ajudar, para discutir sobre alguma coisa, para te ensinar como ser “awesome” [impressionante, legal], e como deixar o mundo um pouquinho melhor. E essa coisa do “awesome” da nerdfighteria se reflete nos livros. O meu favorito é Cidades de Papel, já que realmente acredito que o mundo seria um lugar completamente diferente se pelo menos uma vez por dia a gente fizesse alguma coisa pensando no outro como um ser humano feito eu e você, e isso foi algo que aprendi com o livro. Geovanna Ataídes O John para mim é como se fosse uma pessoa que tenho aqui do meu lado, que me ensina a viver e me dá os melhores conselhos por meio de seus livros e vídeos. Ser um nerdfighter vai muito além do grupo, nós somos como uma família aqui dentro e fora nos respeitamos e nos ajudamos como podemos, acreditando sempre que o mundo pode ser melhor com nossas pequenas atitudes. O meu livro favorito é A Culpa é das Estrelas, meio clichê mas foi a partir desse livro que o conheci e percebi que não era tarde para me tornar um ser humano feito de “awesome” por dentro e por fora, gratidão por ter conhecido o John e esse grupo maravilindo. Ingrid Teixeira O John, para mim, me transporta para aquela dimensão exclusiva de um livro bom, onde o seu pensamento corre livremente e faz várias coisas ao mesmo tempo: além de estar visualizando a história do livro, está analisando a crítica/história ali presente e se perguntando o que pode fazer para melhorar como ser vivente. Ser nerdfighter é pertencer a um grupo de pessoas que se aceitam da forma bagunçada que são, tentam entender o outro e ajudam quando esse outro necessita, em resumo, puro altruísmo. Meu livro favorito é O Teorema Katherine porque mostra, uma busca por um objetivo e, em minha fase de cursinho pré-vestibular, fala muito a minha alma.

Não se preocupe, pequeno gafanhoto. Como explica a Bárbara, não precisa ser fã de John Green para ser um nerd. Ela compartilha que há muitos no grupo que gostam do conteúdo que ele produz como vlogger, não necessariamente como escritor :) Bora entrar no grupo Nerdfighter Brasil?

Tainã Souza John Green é uma senhora influência na juventude atual (incluindo a mim mesma). Seus livros são maravilhosos e, acredito, que em algum futuro próximo sejam considerados clássicos para a geração do momento. Ser nerdfighter tem tudo a ver com ajudar alguém sem olhar a quem com o objetivo de diminuir o “worldsuck” e aumentar os níveis de “awesome” no mundo inteiro, uma pessoa de cada vez. Meu livro favorito do John é Quem é Você, Alasca?, por causa dos questionamentos e turbulências da adolescência que todos já passaram.

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curiosidade

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O herói está em seu mundo normal e é chamado para a aventura por meio de uma mensagem misteriosa, algo estranho que lhe acontece

Já pararam para pensar o que os personagens Harry Potter e Frodo Bolseiro têm a ver com o protagonista da série de filmes Star Wars, Luke Skywalker? Aparentemente, a resposta é nada, afinal, os dois primeiros são originados de livros e vivem em mundos mágicos onde sequer existem naves espaciais, sabres de luz ou Jedis. No entanto, eles têm algo que os une, apesar das diferenças: sua jornada de vida. Isso mesmo, as histórias desses heróis são muito parecidas em vários pontos. É o que chamamos de Jornada do Herói, termo cunhado pelo antropólogo Joseph Campbell. O autor defende que os nossos personagens favoritos passam pelos mesmos desafios até se sagrarem “heróis”. Vamos conferir quais são esses desafios? Consegue identificar se seus heróis favoritos seguem esse padrão?

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Após o chamado, ele reluta em aceitálo, seja por medo, insegurança ou pela vontade de continuar naquela vidinha que ele sempre teve

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Ele precisa de auxílio, de alguém que o guie nessa jornada. Um mentor mais velho e sábio

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Fotos Divulgação

A LONGA JORNADA DE UM HEROI

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Ele decide sair do mundo normal e seguro e embarca para a aventura no mundo mágico

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No entanto, nada é fácil para o herói. Ele passa por testes, trabalha duro, soluciona enigmas, enfrenta criaturas ou pessoas, escapa de ciladas

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Mais experiente, ele enfrenta seu pior medo. Enfrenta a crise, a morte (ou pode até mesmo morrer), mas para renascer e enfrentar o desafio maior

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O herói pode fazer com que as criaturas se curvem ou ele precisa fugir delas para sair do mundo mágico

Dá um clique!

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Após obter a vitória, como prêmio, o herói conquista alguma recompensa, podendo ser algum tesouro, reconhecimento ou poder especial

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Depois desta aventura, o herói retorna ao seu mundo

Deem uma olhada nessa animação sobre a Jornada do Herói! Ela mostra que nós também somos heróis e passamos por todos esses desafios diariamente. www.youtube.com/watch?v=cf4e--7k2i4

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O herói retorna à situação normal, no entanto nada mais é do mesmo jeito quando se é um herói

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Todas as tramas são resolvidas

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No entanto, ele levará uma nova vida. Tudo que aconteceu com o herói muda sua vida completamente

Vale a leitura!

Quer saber mais sobre a teoria de Joseph Campbell? Leiam o livro O Herói com Mil Faces. É indicado para jovens escritores, leitores e até mesmo curiosos que querem saber mais sobre a Jornada do Herói.

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dicas

LIVROS INSPIRARAM SERIES DE TV

CRÔNICAS DO GELO E DO FOGO O canal HBO adaptou os livros da saga As Crônicas do Gelo e do Fogo para uma série de TV e hoje é uma das mais queridas do público. Além de narrar a guerra entre as famílias que querem obter o poder do sete reinos, há muitos conflitos, romances, jogos, traições, mortes... enfim, tudo que George Martin pensou em sua mente maléfica.

DEXTER O psicopata que usa sua inteligência e crueldade para punir criminosos tornou-se queridinho dos seguidores da série Dexter. A história é original do livro de Jeff Lindsay (pseudônimo de Jeffry P. Freundlich) Dexter - A Mão Esquerda de Deus. O autor escreveu mais cinco livros que contam a história do serial killer.

SOB A REDOMA O livro de Stephen King também recebeu uma adaptação para a TV. A história narra a vida dos moradores de Chester’s Mill, cidade que, do nada, é isolada por uma barreira invisível que impede que as pessoas saiam de lá. Mistério típico de King.

OS ROBÔS DA ALVORADA

MUITO MAIS QUE CINCO MINUTOS

O escritor Isaac Asimov traz em sua obra o detetive Elijah Baley, convocado para uma investigação no Mundo Exterior. Baley terá de solucionar um crime bastante peculiar: um caso de roboticídio que coloca em xeque a reputação de um importante estudioso naquele planeta.

Com 22 anos, Kéfera Buchmann reúne quase 12 milhões de seguidores nas suas mídias sociais (YouTube, Facebook, Twitter e Instagram). Neste livro, Kéfera fala sobre relacionamentos, bullying, moda e gafes e conta uma série de histórias divertidas com as quais é impossível não se identificar.

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GAMES TAMBEM INSPIRARAM LIVROS

GOD OF WAR O livro conta em detalhes a história de Kratos, guerreiro grego que trabalha para os deuses do Olimpo e, após ser manipulado pelo deus da guerra, Ares, almeja por vingança e pela morte do traidor.

DE OLHO

NOS LANÇAMENTOS

DIABLO O romance narra a jornada épica de Deckard Cain, último sobrevivente de uma misteriosa e lendária ordem, Horadrim, na busca pelos outros membros perdidos, para salvar o mundo de Santuário das forças demoníacas do Inferno Ardente, anos antes dos acontecimentos do jogo homônimo.

(livros lançados nos meses de setembro e outubro de 2015)

GREY: CINQUENTA TONS DE CINZA PELOS OLHOS DE CHRISTIAN Na voz de Christian, e por meio de seus pensamentos, reflexões e sonhos, E. L. James oferece uma nova perspectiva da história de amor que conquistou milhares de leitores ao redor do mundo.

WORLD OF WARCRAFT MARÉS DA GUERRA Escrito por Christie Golden e baseado no mundo do game World Of Warcraft (WOW), livro é protagonizado pela feiticeira Jaina Proudmore, que sempre lutou para manter a duradoura paz entre Aliança e a Horda. A obra relata o avanço dos conflitos entre os dois e prepara o palco para a nova expansão do jogo, Mists of Pandaria.

ASSASSIN’S CREED Traído pelos governantes das cidades-estado italianas, Ezio embarca em uma jornada épica em busca de vingança. Para erradicar a corrupção e restaurar a honra de sua família, ele irá aprender a Arte dos Assassinos. Além das adaptações do livro, assinadas por Oliver Bowden, o game ganhará um filme em 2016 estrelado por Michael Fassbender (jovem Magneto, da franquia X-Men).

OS SENHORES DOS DINOSSAUROS Neste livro, o autor Victor Milán escreve sobre o Império da Nuevaropa, um continente cuja cultura e costumes, religião, conflitos políticos, tecnologia e armamento são compatíveis com o último período da Idade Média. Mas, neste mundo, construído pelos Oito Criadores, os dinossauros também fazem parte do arsenal de guerra.

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Todo tipo de arte é capaz de exercer uma grande influência nos mais variados tipos de pessoas, promovendo também outros tipos de produção cultural, e o exemplo mais comum é ver livros que viram filmes, e filmes que nos fazem querer ler os livros. O que não vemos com frequência (talvez por não estarmos atentos o bastante) é ouvir músicas que também foram baseadas em livros. E sabe qual estilo está cheio de boas músicas que foram baseados em excelente literatura universal? O rock e o heavy metal. O Iron Maiden é prolífico nesse território. O baixista e líder do grupo, Steve Harris, é um leitor voraz e antenado e fez diversas músicas baseadas em livros. O legal é que absolutamente TODOS valem a pena. A longa The Sign of The Cross foi baseada no romance O Nome da Rosa, de Umberto Eco, uma obra tão erudita quanto seu autor, mas narrada em estilo policial e foi um sucesso nos anos 80. Há também Brave New World, baseada no clássico visionário Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. A lista segue: Lord of the Flies, no romance Senhor das Moscas, de William Golding; ainda há músicas baseadas nas obras de Edgard Allan Poe (Murders in the rue Morgue), Alistair McLean (Where Eagles Dare), do ocultista inglês Aleister Crowley (Moonchild) e do poeta Samuel Taylor Coleridge que publicou A Balada do Velho Marinheiro em 1798. E tem ainda a música The Evil That Men Do, baseada no clássico de Joseph Conrad No Coração das Trevas, que virou o filmaço Apocalipse Now nas mãos do diretor Francis Ford Coppola (o mesmo que dirigiu os filmes O Poderoso Chefão). Já a banda de rock progressivo Porcupine Tree bebeu muito do livro Lunar Park, de Bret Easton Ellis, para compor todo o disco Fear Of A Blank Planet. Tanto o livro quanto as canções retratam uma sociedade dopada, jovens entediados, pessoas com transtorno bipolar, e uma relação de passividade perante a tecnologia do século 21. A música acaba sendo tão densa quanto as páginas de Ellis (infelizmente, é o único livro deste artigo que não foi publicado no Brasil). A lista poderia seguir por páginas e páginas. Rumble On, do Led Zeppelin, é tirada de O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, assim como The Wizard, do Black Sabbath, foi feita com o mago Gandalf em mente (a jornada de Frodo e do Um Anel era muito famosa nos anos 60, quatro décadas antes de voltar à moda com os filmes do diretor Peter Jackson para a Warner). Isso porque não há como listar as músicas da banda alemã Blind Guardian. Quase todas são baseadas em livros de ficção científica, horror e fantasia (incluindo até As Crônicas de Gelo e Fogo, do R.R. Martin). Procure saber. E quantos não foram os livros que se aproveitaram da música? É sabido que o beat Jack Kerouac escreveu On The Road – Pé na Estrada ao som do acelerado e virtuoso jazz bebop, e isso teria influenciado o ritmo das frases, a

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arquivo pessoal

QUER LER ALGO LEGAL E BOM? O ROCK INDICA!

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Lucas Scaliza, jornalista e colunista do blog Escuta Essa! pontuação e até a utilização de onomatopeias que vemos ao longo das páginas. Não importa o gênero e nem a origem do autor. O que importa é que histórias bem contadas nas mãos de gente talentosa podem se tornar verdadeiras usinas de novas ideias. Com seus personagens, suas opiniões e narrativas, os livros são mundos completos capazes de nos inspirar. Compor músicas baseadas nesses livros são formas encontradas pelos músicos de continuarem dentro do universo daquela obra. Mas não só isso: eles precisam imaginar como traduzir todo aquele universo para versos, acordes, riffs de guitarra, linhas de baixo, condução de bateria e etc, levando não só um pouco do assunto da obra literária, mas também a atmosfera traduzida em sons. A relação de música e literatura é mais antiga do que supomos e não se restringe ao rock ou ao metal. Há muito disso na música brasileira também. Mas confie em mim: procure qualquer uma das obras listadas aqui e veja o que já disseram sobre elas. É um jeito divertido de ganhar um repertório literário que vale a pena ser conhecido.

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