TCC HABITAÇÃO

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JÉSSICA MARIA BOMFIM DE PAULA

CASA DO TRÓPICO ÚMIDO: PROPOSTA DE HABITAÇÃO UNIFAMILIAR DE INTERESSE SOCIAL PARA O CONTEXTO CLIMÁTICO DE MACEIÓ – AL. .

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

Federal

de

Alagoas

como

requisito para obtenção de título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profª. Drª.Gianna Melo Barbirato

MACEIÓ- AL 2015 2


DE PAULA, Jéssica Maria Bomfim. Casa do trópico úmido: proposta de habitação unifamiliar de interesse social para o contexto climático de Maceió-AL. Maceió, 2015.

Trabalho Final de Graduação - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal de Alagoas, 2015.

Área: Conforto Ambiental

Orientadora: Profª. Drª. Gianna Melo Barbirato

1. Anteprojeto

2. Habitação de Interesse Social

3. Estratégias

Bioclimáticas

3


CASA DO TRÓPICO ÚMIDO: PROPOSTA DE HABITAÇÃO UNIFAMILIAR DE INTERESSE SOCIAL PARA O CONTEXTO CLIMÁTICO DE MACEIÓ – AL.

Trabalho APROVADO EM: ____/____/2015

desenvolvido

Final

de

Graduação,

pela graduanda

Jéssica

Maria Bomfim de Paula, orientado pela Profª. Draª.Gianna Melo Barbirato, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________ Profª. Drª. Gianna Melo Barbirato Orientadora - UFAL

_________________________________ Profª. Drª. Juliana Oliveira Batista Examinadora - UFAL

_________________________________ Profª. Drª. Maria Lúcia Gondim da Rosa Oiticica Examinadora - UFAL

_________________________________ Examinador – Eveline Maria de Athayde Almeida

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RESUMO

Para reduzir o déficit habitacional brasileiro, na última década os programas de incentivo à moradia cresceram em todo o território nacional. Com o objetivo de minimizar os custos e o tempo de construção, os empreendimentos habitacionais oriundos desses programas se caracterizam frequentemente por unidades habitacionais com espaços reduzidos e soluções arquitetônicas padronizadas, trazendo prejuízos, entre outros, aos aspectos funcional de conforto ambiental. Diante deste cenário, o presente trabalho consiste em apresentar uma proposta de habitação unifamiliar de interesse social para a cidade de Maceió-AL, em nível de anteprojeto: a Casa do Tópico Úmido. A premissa da proposta projetual é permitir flexibilidade quanto às possibilidades de orientação da unidade habitacional no lote, de modo a adequar as fachadas ao contexto climático através da adoção de estratégias bioclimáticas. O trabalho visa contribuir com as discussões acerca do cenário da habitação do país, quebrando o paradigma da má qualidade da habitação popular.

Palavras-chave:

Anteprojeto

arquitetônico,

Habitação

de

Interesse

Social,

Estratégias bioclimáticas.

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AGRADECIMENTOS

A Ele, o arquiteto supremo, por traçar e colorir essa jornada com muita luz, por não me permitir desistir nem nos momentos mais difíceis. Agradeço por cada porta e janela que me foi aberta; Aos meus pais, fundação e pilares de quem eu sou hoje, pelo amor incondicional e a valorização da minha educação. Aos meus avós ( in memoriam), por serem exemplos de determinação e superação; A minha orientadora Gianna Barbirato (Gigi), pelo privilégio de participar do GATU e por todo carinho, paciência e dedicação em suas orientações; A Maria Luiza, minha irmã, por se fazer presente nesta conquista, como também Kiara, minha pequenina, pela companhia nas madrugadas de trabalho; A Olavo Barbosa, meu amigo e namorado, por estar ao meu lado ao longo desta caminhada, agradeço o carinho e compreensão que me tem dedicado; Aos meegs pela companhia ao longo destes cinco anos de curso, em especial à Bianca Pontes e Layanna Rocha por todos os risos, choros e histórias inacreditáveis que compartilhamos – principalmente as urbanísticas; Aos colegas do LabConf, minha segunda casa ao longo de três anos, por todas as contribuições à minha formação acadêmica; A Metro Quadrado Arquitetura e Florense Maceió pelas contribuições à minha formação profissional; As amigas Lizzie e Mandis por sempre se fazerem presentes mesmo quando distantes; As examinadoras e mestres Ju Batista e Lucinha Oiticica por todas as contribuições valorosas a este trabalho; Por fim, obrigada a todos que, mesmo não citados aqui, contribuíram para a conclusão desta etapa.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Mapa da distribuição do déficit habitacional total por unidades da Federação. Fonte: IBGE, 2010 ................................................................................. 20 Figura 2: Casas do Programa Minha Casa, Minha Vida em São Paulo - SP, um exemplo de conjunto com residências unifamiliares repetidas. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/assets/pictures/27560/minha-casa-minha-vida-casas-sao paulo-size-620.jpg?1295862198> Acesso em out. 2014. ......................................... 25 Figura 3: Exemplo de padronização de habitação social em Maceió-AL. Conjunto Recanto das Cores. Fonte: A autora, 2013. ............................................................. 25 Figura 4: Perspectivas ilustradas da identidade visual do projeto vencedor do Concurso Habitação para Todos desenvolvida pelo 24.7 Arquitetura. Disponível em: <<http://www.archdaily.com.br/141035/habitacao-de-interesse-social-sustentavel-24 ponto-7-arquitetura-design>. Acesso em out. 2014. ................................................. 26 Figura 5: Estratégias bioclimáticas adotadas no projeto do escritório 24.7 Arquitetura Disponível

em:

http://casa.abril.com.br/materia/projeto-de-53-m2-sustentavel-e-

economico-vence-concurso-da-chdu#1. Acesso em out. 2014. (Adaptado, 2015) ... 27 Figura 6: Projeto do escritório Jirau Arquitetura para o Programa Minha Casa, Minha Vida

em

Pernambuco.

Disponível

em:

<http://www.leonardofinotti.com/projects/minha-casa-slash-minha-vida>. Acesso em maio 2014. ................................................................................................................ 28 Figura 7: (A) Localização da região Nordeste; (B) Localização do estado de Alagoas; (C) Localização do Município de Maceió. Fonte: SIRQUEIRA (Adaptados, 2015). .. 29 Figura 8: Rosa dos ventos para a cidade de Maceió- AL; (a) Frequência da ocorrência dos ventos; (b) Velocidades predominantes por direção. Fonte: SOL-AR, 2005.......................................................................................................................... 30 Figura 9: Setorização dos ambientes de acordo com os usos. Fonte: A autora, 2015 .................................................................................................................................. 36 Figura 10: Plantas baixas das moradias com dois e três dormitórios. Fonte: A autora, 2015.......................................................................................................................... 38 Figura 11: Casa do Trópico Úmido em implantação hipotética. Fonte: A autora, 2015. .................................................................................................................................. 40

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Figura 12: Perspectiva ilustrada do estudo volumétrico da fachada principal para ambas propostas. Fonte: A autora, 2015.................................................................. 40 Figura 13: Perspectiva ilustrada do estudo volumétrico das fachadas posteriores para tipologia 1, opção dois dormitórios. Fonte: A autora, 2015. .............................. 41 Figura 14: Perspectiva ilustrada do estudo volumétrico das fachadas posteriores para a tipologia 2, opção três dormitórios. Fonte: A autora, 2015. ........................... 41 Figura 15: Paleta de cores com baixa absortância térmica adotada para identidade visual do projeto. Fonte: A autora, 2015. .................................................................. 42 Figura 16: Área para ampliação da proposta Casa do Trópico Úmido de dois dormitórios. Fonte: A autora, 2015. .......................................................................... 43 Figura 17: Proposta de layout aplicado à acessibilidade. Fonte: A autora, 2015...... 44 Figura 18: Acessibilidade no banheiro para usuários cadeirantes . Fonte: A autora, 2015.......................................................................................................................... 45 Figura 19: Quando comparativo de propriedades témicas entre telha térmica em fibrocimento TopComfort, Brasilit x telha fibrocimento comum. Disponível em: <http://www.brasilit.com.br/produtos/coberturas-em-fibrocimento/telha-termica-emfibrocimento-topcomfort>. Acesso em: out.15. ......................................................... 47 Figura 20: Corte esquemático com as estratégias adotadas para favorecer a ventilação cruzada. Fonte: A autora, 2015. .............................................................. 47 Figura 21: Esquadrias e elementos vazados adotados no projeto. Fonte: A autora, 2015.......................................................................................................................... 48 Figura 22: Esquema do funcionamento dos ventos para fachada principal orientada a norte. Fonte: A autora, 2015. .................................................................................... 50 Figura 23: Esquema de funcionamento dos ventos para fachada principal à oeste. Fonte: A autora, 2015. .............................................................................................. 51 Figura 24: Esquema de funcionamento dos ventos para fachada principal à sul. Fonte: A autora, 2015. .............................................................................................. 52 Figura 25: Esquema de funcionamento dos ventos para fachada principal à leste. Fonte: A autora, 2015. .............................................................................................. 53 Figura 26: Janelas com venezianas para controle da iluminação e marquises de proteção contra radiação solar direta. Fonte: A autora, 2014. .................................. 54 Figura 27: Perspectivas proposta de ambientação para cozinha. Fonte: A autora, 2015.......................................................................................................................... 55 8


Figura 28: Corte esquemático com as estratégias adotadas no projeto. Fonte: A autora, 2015.............................................................................................................. 55 Figura 29: Exemplo de medidores de ângulo verticais e horizontais para determinação da máscara de sombra. Fonte: A autora, 2015. ................................. 56 Figura 30: Comparativo das cartas solares para as quatro orientações hipotéticas propostas. Fonte: A autora, 2015 ............................................................................. 57 Figura 31: Carta solar para fachada principal à norte. Fonte: A autora, 2015. ......... 58 Figura 32: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 1 da casa tipo 1 com fachada à norte. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 59 Figura 33: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 2 da casa tipo 1 com fachada à norte. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 59 Figura 34: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 1 da casa tipo 2 com fachada à norte. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 60 Figura 35: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 2 da casa tipo 2 com fachada à norte. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 60 Figura 36: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 3 da casa tipo 2 com fachada à norte. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 61 Figura 37: Carta solar para fachada principal à leste. Fonte: A autora, 2015. .......... 62 Figura 38: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 1 da casa tipo 1 com fachada à leste. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 63 Figura 39: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 2 da casa tipo 1 com fachada à leste. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 63 Figura 40: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 1 da casa tipo 2 com fachada à leste. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 64 Figura 41: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 2 da casa tipo 2 com fachada à leste. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 64 Figura 42: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 3 da casa tipo 2 com fachada à leste. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 65 Figura 43: Carta solar para proposta com fachada principal à sul. Fonte: A autora, 2015.......................................................................................................................... 66 Figura 44: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 1 da casa tipo 1 com fachada à sul. Fonte: A autora, 2015 ...................................................... 67

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Figura 45: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 2 da casa tipo 1 com fachada à sul. Fonte: A autora, 2015 ...................................................... 67 Figura 46: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 1 da casa tipo 2 com fachada à leste. Fonte: A autora, 2015 ................................................... 68 Figura 47: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 2 da casa tipo 2 com fachada à sul. Fonte: A autora, 2015 ...................................................... 68 Figura 48: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 3 da casa tipo 2 com fachada à sul. Fonte: A autora, 2015 ...................................................... 69 Figura 49: Carta solar para proposta com fachada principal à oeste. Fonte: A autora, 2015.......................................................................................................................... 70 Figura 50: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 1 da casa tipo 1 com fachada à oeste. Fonte: A autora, 2015 .................................................. 71 Figura 51: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 2 da casa tipo 1 com fachada à sul. Fonte: A autora, 2015 ...................................................... 71 Figura 52: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 1 da casa tipo 2 com fachada à oeste. Fonte: A autora, 2015 .................................................. 72 Figura 53: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 2 da casa tipo 2 com fachada à oeste. Fonte: A autora, 2015 .................................................. 72 Figura 54: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 3 da casa tipo 2 com fachada à oeste. Fonte: A autora, 2015 .................................................. 73

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Programa de necessidades para famílias com até 4 usuários Fonte: A autora, 2014 ............................................................................................................. 35 Tabela 2: Programa de necessidades para famílias com até 6 usuários Fonte: A autora, 2014 ............................................................................................................. 35 Tabela 3: NBR15220 Parte 3 - Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações Fonte: ABNT, 2005 .................................................... 46

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Transição da taxa de fecundidade no Brasil 1940-2020 Fonte: ALVES e CAVENAGHI, 2012................................................................................................... 34 Gráfico 2: Domicílios particulares permanentes - Número de moradores por domicílios em áreas urbanas Fonte: IBGE, 2010 ..................................................... 34

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15 1.1

OBJETIVOS ................................................................................................ 16

1.1.1

Geral ..................................................................................................... 16

1.1.2

Específicos............................................................................................ 17

1.2

ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................... 17

1.3

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 17

2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 20 2.1

HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL ................................. 20

2.2

ARQUITETURA E CLIMA ........................................................................... 22

2.3

PROJETO DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL ......... 24

2.4

CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ....................................... 29

2.5

ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS .............................................................. 30

3. PROJETO DA CASA DO TRÓPICO ÚMIDO .................................................... 33 3.1

CONCEITUAÇÃO DO PROJETO ............................................................... 33

3.2

ESTUDO DO PROGRAMA DE NECESSIDADES ...................................... 33

3.3

SETORIZAÇÃO .......................................................................................... 36

3.4

PROPOSTA ARQUITETÔNICA.................................................................. 37

3.4.1

Projeto................................................................................................... 37

3.4.2

Estudo plástico ...................................................................................... 39

3.5

FLEXIBILIDADE ......................................................................................... 42

3.6

ACESSIBILIDADE ...................................................................................... 43

3.7

ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS ADOTADAS ........................................ 45

3.7.1

Ventilação natural ................................................................................. 49

3.7.2

Iluminação natural ................................................................................. 54

3.7.3

Carta solar e máscara de sombra ......................................................... 56

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 78 ANEXOS

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1. INTRODUÇÃO

O projeto de uma edificação é fruto do olhar do arquiteto sob, entre outros aspectos, as teorias da arquitetura, programa de necessidades, avaliação do repertório existente, como também as tecnologias de construção disponíveis e de suas experiências pessoais. A edificação não é um produto fixo, independente do meio ao qual está inserida. Esta se relaciona diretamente com outras edificações de seu entorno, com os usuários e, sobretudo, ao meio ambiente e clima. O adequado desempenho térmico é um requisito importante para que os ambientes apresentem melhores condições de habitabilidade. Sua importância não está relacionada apenas à sensação de conforto dos seus usuários, mas também ao seu desempenho no trabalho e à sua saúde. Desse modo, é função da arquitetura construir espaços que amenizem o desconforto imposto por climas muito rigorosos, independentemente de quais sejam estas condições térmicas externas. Para o desenvolvimento de um projeto arquitetônico de qualidade é necessário que o arquiteto tenha sensibilidade de tomar as melhores decisões baseadas

nas

reflexões

das

especificidades

de

cada

lugar,

abordando,

principalmente, questões como forma de implantação, tipologia e orientação, a fim de proporcionar as melhores condições de conforto aos usuários. Em áreas de clima quente e úmido, como Maceió – AL, além da preocupação com as condições de conforto, existe o paradigma da conservação de energia através da proposição de estratégias bioclimáticas, quando permitidas frentes às exigências da edificação. No entanto, nota-se o descaso, ainda persistente, quanto à importância da agregação desses conceitos na etapa de projeto, principalmente em habitações de cunho social. O déficit habitacional brasileiro estimado pela Fundação João Pinheiro e, de acordo com o último Censo Demográfico (IBGE, 2010), chegou a 6,49 milhões de unidades, sendo 5,88 milhões em áreas urbanas, o que impulsiona o surgimento de favelas e loteamentos ilegais. Assim, a habitação social surge da demanda gerada pela parcela da população de baixa renda, a qual não consegue pagar por sua moradia, a não ser que esta seja financiada. Com a justificativa da redução de custos e do tempo do obra, hoje os empreendimentos habitacionais de interesse social no Brasil caracterizam-se por 15


unidades habitacionais com espaços reduzidos e solução arquitetônica padronizada. Diversos estudos nesse âmbito realizados no país (TRIANA e LAMBERTS, 2013; CRUCIO e SILVA, 2013; NEGREIROS e PEDRINI, 2013) apontam que essas unidades habitacionais, em muitos casos, são incompatíveis não apenas com as necessidades dos usuários, mas com a qualidade projetual visto que está comprometida, tanto no aspecto funcional, quanto aos níveis de conforto ambiental, em particular o térmico. Os programas para habitação de interesse social são frequentemente implantados em todo o território nacional de forma padronizada, com pouca flexibilidade quanto à organização do espaço e sem preocupação com as peculiaridades locais, principalmente no que diz respeito à adequação das moradias ao clima. Neste caso, qualquer erro de projeto assume grandes proporções, visto que o mesmo modelo será repetido inúmeras vezes. Assim, uma mesma tipologia de projeto e de mesmo sistema construtivo é adotada em locais com características muito distintas, sendo desconsiderada a grande diversidade socioeconômica, cultural, tecnológica e principalmente climatológica entre as diferentes regiões do Brasil, resultando em edificações inadequadas às necessidades de seus usuários. Diante do exposto, este trabalho consiste no desenvolvimento de uma proposta arquitetônica em nível de anteprojeto, para uma residência unifamiliar de interesse social para o contexto climático de Maceió-AL. A premissa do projeto é que esta edificação seja adaptável a possibilidades de orientação - através de sua flexibilidade – e que, através de estratégias bioclimáticas, seja capaz de oferecer condições de conforto ao usuário.

1.1

OBJETIVOS

1.1.1 Geral

Elaborar uma proposta de residência unifamiliar de interesse social em Maceió – AL, em nível de anteprojeto, denominada Casa do Trópico Úmido, permitindo flexibilidade para possibilidades de orientação no lote, adequado para as especificidades climáticas da cidade.

16


1.1.2 Específicos

Relacionar

as

estratégias

bioclimáticas

para

projeto

de

edificações

residenciais dentro do contexto climático de Maceió - AL; Definir o partido da proposta da Casa do Trópico Úmido para diferentes orientações, de forma a obter desempenho térmico adequado, com base nas estratégias bioclimáticas para o clima quente e úmido.

1.2

ESTRUTURA DO TRABALHO

O trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro, a Introdução, faz um breve panorama do tema abordado, apontando os objetivos, a estruturação e procedimentos metodológicos da monografia. O capítulo 2, denominado Revisão de Literatura, trata dos conhecimentos sobre o tema desta pesquisa: o contexto da habitação popular no cenário brasileiro, a adequação da arquitetura ao clima, o projeto de habitações de interesse social e o uso de estratégias bioclimáticas em projetos; O capítulo 3 é apresentada a proposta arquitetônica da Casa do Trópico Úmido: o projeto, suas possibilidades de implantação e as estratégias bioclimáticas adotadas. Ao final, serão apresentadas as Conclusões e descritas as Referências Bibliográficas utilizadas na elaboração deste trabalho.

1.3

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica e documental para subsidiar o anteprojeto. Através de artigos científicos, dissertações e teses, foram estudadas as relações existentes entre os aspectos climáticos e arquitetura, bem como sua influência no conforto térmico dos usuários, com ênfase no uso de estratégias bioclimáticas indicadas para as características climáticas da cidade de Maceió - AL. Também foram estudadas normas técnicas 17


referentes ao conforto térmico e acessibilidade, além de estudo de repertório de projetos de habitação de interesse social. Para iniciar a concepção do anteprojeto, foram definidos os principais condicionantes do projeto, como: o público alvo, dimensões mínimas do lote e programa de necessidades. Com base no programa de necessidades foi possível elaborar um pré-dimensionamento e zoneamento dos ambientes, ponto de partida para o estudo da implantação da edificação mediante as condicionantes ambientais, finalizando com o estudo plástico da casa modelo. Em paralelo, estudou-se as estratégias de ventilação natural e proteção solar a fim de obter adequação ao contexto climático da edificação, nas alternativas de sua implantação no lote.

18



2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1

HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL

A partir da Segunda Guerra Mundial, com o processo de industrialização e urbanização iniciado no Brasil, ocorreram movimentos migratórios dos trabalhadores rurais para os centros urbanos. Em 1970, a população urbana ultrapassou a rural e, segundo dados do último censo demográfico (IBGE, 2010), hoje esta representa mais de 80% do total da população do país. Como consequência desse processo de expansão desordenada, os centros urbanos foram pressionados e cresceram em direção às periferias, através da ocupação de imóveis abandonados ou com a construção irregular, contribuindo significativamente para o processo de favelização das cidades. De acordo com o IBGE (2010), o Brasil aponta um déficit habitacional que correspondente a 12,1% dos domicílios do país. Verifica-se que cerca de 70% desse índice estão localizados nas regiões Sudeste e Nordeste (Figura 1), sendo 1,495 milhões apenas no estado de São Paulo.

Figura 1: Mapa da distribuição do déficit habitacional total por unidades da Federação. Fonte: IBGE, 2010

20


A fundação João Pinheiro (IBGE, 2010) conceitua o déficit habitacional como a deficiência do estoque de moradias, englobando aquelas sem condições de serem habitadas em razão da precariedade das construções ou do desgaste da estrutura física. Assim como a coabitação familiar e adensamento excessivo de moradores em domicílios alugados. Basicamente o conceito de déficit habitacional indica a necessidade da construção de novas moradias. No entanto, existe também a realidade de habitações inadequadas que, por sua vez, não está relacionada ao dimensionamento do estoque de moradias, mas sim às especificidades dos domicílios existentes que prejudicam a qualidade de vida de seus moradores, como carência de infraestrutura, adensamento excessivo de moradores (em domicílios próprios) e problemas de natureza fundiária, cobertura inadequada, ausência de unidade sanitária domiciliar exclusiva ou em alto grau de depreciação. Para

Lopes

e

Junqueira

(2008),

no

Brasil,

as

condições

do

(sub)desenvolvimento sempre foram altamente excludentes,resultado de uma estrutura social, patrimonial e fundiária na qual poucos podem ter acesso ao mercado formal de bens, em geral, e de habitação, em especial. Nas regiões brasileiras onde durante o processo histórico houve a combinação de latifúndio, monocultura e escravidão, as condições de pobreza associadas às más condições sociais e de habitação se apresentam, para a maioria da população, até os dias atuais, de modo mais agudo. Em especial no Nordeste brasileiro, esse processo foi mais contundente, onde até hoje os índices de distribuição de renda e de acesso à propriedade e a direitos fundamentais de cidadania caracterizam-se como os piores do cenário nacional. O expressivo déficit habitacional tem sido pauta de amplas discussões em diferentes esferas, seja por parte do governo ou do setor da construção. Da mesma forma, as relações entre o ambiente construído e a sustentabilidade, também é assunto corrente, tendo em vista os expressivos impactos ambientais, sociais e econômicos provocados pelo setor da construção. (SILVA et. al., 2010).

Nesse contexto, com o objetivo de amenizar o déficit habitacional, o poder público criou o Programa da Habitação de Interesse Social, que viabiliza o acesso à moradia. Este é gerenciado pelo Ministério das Cidades, operando com recursos do 21


Orçamento Geral da União (OGU). O programa proporciona a aquisição de empreendimentos na planta, garantindo as condições básicas de abastecimento de água, esgotamento sanitário e energia elétrica. O Programa de Arrendamento Residencial (PAR) foi o primeiro programa de Habitação de Interesse Social que atingiu grande proporção devido à As facilidades de financiamento. Criado em 2001, possibilitou a compra de empreendimentos na planta, em construção, concluídos ou para reforma, com opção de parcelamento de até 15 anos. Prioritariamente essas unidades habitacionais foram implantadas nos grandes centros urbanos, possuindo uma tipologia mínima de 02 quartos, sala, cozinha e banheiro, onde apresentam área útil mínima de 37 m² (CARTILHA PAR ARRENDAMENTO, 2008).

Em setembro de 2009, os

financiamentos para novos empreendimentos do PAR foram suspensos em virtude do novo plano habitacional desenvolvido no Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, denominado Programa Minha Casa, Minha Vida, sancionado pela Lei 11.977/2009. O Minha Casa Minha Vida (PMCMV) é um programa do Governo Federal – lançado em julho de 2009 – financiado através do FAR e operacionalizado pela CAIXA Econômica Federal. Seu objetivo é promover a aquisição de terreno e construção ou requalificação de empreendimentos habitacionais em regime de condomínio ou loteamento, constituídos de apartamentos ou casas para famílias com renda mensal de até R$ 4.650 mil (quatro mil, seiscentos e cinquenta reais) (BRASIL, 2011). Em áreas urbanas, o Programa Minha Casa Minha Vida oferece à população dois padrões construtivos que são diferenciados de acordo com a receita familiar mensal, onde o primeiro abrange rendimentos de até R$ 1.600 (mil e seiscentos reais) e o segundo até R$ 5 mil (CARTILHA CAIXA, 2012). Esta diferenciação consiste pela tipologia arquitetônica e especificação de materiais, ou seja, o valor de construção do imóvel.

2.2

ARQUITETURA E CLIMA

Desde os tempos mais remotos o homem busca se proteger das intempéries do meio em que vive, seja através de vestimentas ou abrigos. Para Olgyay (1998) e 22


Passos (2009), o clima - durante toda a evolução humana - exerceu forte influência sobre os costumes e modo de viver do homem. Na antiguidade, ao adaptar o seu abrigo ao clima, o homem buscava soluções de forma bastante intuitiva, já que os conhecimentos acerca da atmosfera terrestre e do clima eram limitados. Conforme Frota e Schiffer (2003): “A arquitetura, como uma de suas funções, deve oferecer condições térmicas compatíveis ao conforto térmico humano no interior dos edifícios, sejam quais forem as condições climáticas externas”, uma vez que o homem tem as melhores condições de vida e de saúde quando seu organismo não está submetido à fadiga ou estresse. O conforto ambiental esta relacionado a satisfação com relação as condições de habitabilidade disponíveis em um determinado ambiente, ou seja, as condições de bem estar,como conforto térmico, acústico, visual, de aromas, segurança e ainda a capacidade de orientação do individuo em tal espaço. (MENEZES, 2006).

Kowaltowski e Labaki (2007) conceituam que cada projeto de uma edificação, de modo geral, deve basear-se na teoria da arquitetura, através de observações do repertório existente e avaliação pós-ocupação de obras semelhantes, além de necessidades específicas de conforto ambiental, bem como suas experiências pessoais. “O projeto ainda necessita da inserção correta no local, na cultura e no momento social e político da obra. A pesquisa, o acúmulo de conhecimento, bem como a percepção das especificidades são portanto importantes elementos para o desenvolvimento de um projeto arquitetônico de qualidade”. Na arquitetura nas regiões dos trópicos – caracterizadas por clima quente seco ou quente úmido – é inerente que as reflexões abordem particulares de cada lugar, como: implantação, tipologia e orientação; estratégias de sombreamento; ventilação e iluminação natural. No entanto, percebe-se a adoção de projetos padrão para habitações de interesse social, resultando em edificações, muitas vezes, inadequadas ao microclima. O desempenho térmico de uma edificação está relacionado à temperatura do ar, umidade relativa do ar e velocidade do ar interior nas diferentes estações do ano. Estes problemas de desempenho podem ser constatados através de simulações computacionais e medições realizadas in loco. 23


2.3

PROJETO DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL NO BRASIL

Uma habitação de interesse social difere de outra habitação apenas pela pouca disponibilidade financeira de seus moradores. As necessidades são as mesmas, mas no Brasil, infelizmente, o custo inicial da construção ainda é priorizado em detrimento a um conjunto maior de benefícios ao usuário. A construção de habitações populares ocorre com maior frequência, devido aos programas lançados pelo Governo Federal em parceria com Governos Estaduais e Municipais, no auxilio da aquisição da casa própria por famílias de baixo poder aquisitivo. Muitos conjuntos habitacionais populares, recentemente inaugurados, revelam falhas de projeto e de construção, além de insuficiente atendimento às necessidades da população, devido à urgência em sanar os problemas de déficit habitacional. (NEVES; FREITAS, 2010 )

De acordo com Mello (2004), a seleção da tecnologia para habitações de interesse social busca simplificação e maior grau de padronização dos elementos construtivos e do projeto, devido à grande escala de produção e a busca pela redução dos custos. As habitações populares não respeitam as especificações mínimas de dimensionamento, acarretando em espaços problemáticos e insatisfatórios para a realização de atividades domésticas.Pesquisas de Almeida e Peregrino (2009) e Porangaba (2011) assinalam que a configuração arquitetônica de habitações de interesse social, muitas vezes, não permite arranjos de layouts apropriados: são incompatíveis com o dimensionamento do mobiliário disponível no mercado ou com as necessidades de cada usuário. Conforme Folz apud Almeida e Peregrino (2009), os indicadores da qualidade do padrão de moradia podem ser obtidos por intermédio da área construída pelo número de moradores, afirma que abaixo de 14m²/pessoa é uma situação onde pode provocar "perturbações à saúde física e mental", entre 12 a 14m²/pessoa considera-se um nível crítico, 8 a 10m²/pessoa é um "limite patológico" e abaixo de 8m²/pessoa é um indicador onde a saúde física e mental pode ser prejudicada. Além do fator dimensionamento das habitações, é recorrente a reprodução de tipologias de arquitetura sem uma preocupação maior com as especificidades sócio24


culturais e climáticas regionais. Assim, uma mesma tipologia é adotada em cidades com características distintas (Figura 2 e 3), sendo desconsideradas as diversidades socioeconômicas, culturais, climáticas e tecnológicas entre as diferentes regiões do Brasil, o que resulta em construções de baixa qualidade construtiva que não atendem às necessidades de seus usuários (TAKEDA, 2005). No Brasil, a habitação voltada para as populações de baixa renda tem sido concebida desde o séc. XIX para ser pequena e barata. Pequena, para não ocupar grandes áreas das cidades, liberando espaço para os ricos setores produtivos; barata, porque tem que garantir lucro fácil para quem produz. A baixa qualidade era a principal característica (PALERMO, 2009, p. 213).

Figura 2: Casas do Programa Minha Casa, Minha Vida em São Paulo - SP, um exemplo de conjunto com residências unifamiliares repetidas. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/assets/pictures/27560/minha-casa-minha-vida-casas-saopaulo-size-620.jpg?1295862198> Acesso em out. 2014.

Figura 3: Exemplo de padronização de habitação social em Maceió-AL. Conjunto Recanto das Cores. Fonte: A autora, 2013.

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Para Abiko e Ornstein (2002)a adoção de projetos padrão em habitações destinadas à população de baixa renda resulta, muitas vezes, em condições precárias de conforto e salubridade de seus usuários, além de gastos desnecessários com energia elétrica. Este fato ocorre devido à baixa qualidade dos sistemas construtivos adotados e ao não atendimento das necessidades de seus usuários, especialmente quantos às condições de conforto térmico. Em contrapartida à massa de projetos que está sendo produzida no Brasil, observa-se uma crescente iniciativa dos escritórios de arquitetura em proporem habitação social com estratégias bioclimáticas e volumes soluções plástica mais arrojada. Em 2010, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) em parceria com o IAB/SP promoveu o Concurso Nacional Habitação para Todos que visava selecionar as melhores propostas de habitação para diferentes tipologias. O escritório 24.7 Arquitetura, vencedor da categoria casas térreas, trouxe uma proposta interessante para Habitação de Interesse Social não apenas no sentido visual do projeto, mas, sobretudo, no uso de estratégias bioclimáticas. O objetivo consiste na idealização de uma casa compacta e bioclimática que pudesse estimular os usuários com espaços livres dentro de suas dependências [...], a preocupação com a fachada, com a identidade e heterogeneidade e a descompactação do tradicional modelo da casa retangular, são pontos chaves na elaboração da nossa proposta. (24.7 Arquitetura, 2010)

Figura 4: Perspectivas ilustradas da identidade visual do projeto vencedor do Concurso Habitação para Todos desenvolvida pelo 24.7 Arquitetura. Disponível em: <<http://www.archdaily.com.br/141035/habitacao-de-interesse-social-sustentavel-24ponto-7-arquitetura-design>. Acesso em out. 2014.

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O projeto (Figura 4) foi idealizado a partir da análise minuciosa do clima da cidade de Ribeirão Preto e das cidades de Santos e Atibaia que também podem vir a receber tal solução. Devido as características bioclimáticas, a casa conta com iluminação e ventilação natural predominante, além de se aquecer por efeito "invernadeiro" e obter água quente por meio de captores solares (Figura 5). Outro ponto importante a ressaltar no projeto é a valorização da individualidade. Nesta proposta cada morador tem a possibilidade de se identificar com os seus imóveis através de uma simples escolha:as fachadas podem ser facilmente modificadas a partir da escolha por diversos materiais distintos de vedação de parte da fachada, bem como a possibilidade da casa possuir dois ou três dormitórios.

Figura 5: Estratégias bioclimáticas adotadas no projeto do escritório 24.7 Arquitetura Disponível em: http://casa.abril.com.br/materia/projeto-de-53-m2-sustentavel-e-economico-venceconcurso-da-chdu#1. Acesso em out. 2014. (Adaptado, 2015)

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Ainda neste contexto, vale mencionar o residencial Wirton Lira em CaruaruPE, do escritório Jirau Arquitetura para o Minha Casa, Minha Vida (Figura 6). O projeto concilia referências modernas com a tradição construtiva pernambucana: o volume é marcado por altas empenas de alvenaria que delimitam a cobertura de telha cerâmica com beiral generoso. A planta deste projeto conta com dois dormitórios, mas prevê possível ampliação sem descaracterizar bruscamente a identidade visual da habitação.

Figura 6: Projeto do escritório Jirau Arquitetura para o Programa Minha Casa, Minha Vida em Pernambuco. Disponível em: <http://www.leonardofinotti.com/projects/minha-casa-slash-minha-vida>. Acesso em maio 2014.

Os dois projetos mencionados acima são exemplos de iniciativas tomadas pelos arquitetos com o objetivo de mudar o cenário da habitação de interesse social no Brasil, estigmatizado com soluções padronizadas, esteticamente desagradáveis e incompatíveis com as necessidades dos usuários, sobretudo quanto aos quesitos de conforto ambiental. Contudo, apesar de buscarem inovações estéticas e até do ponto de vista de conforto, estes projetos ainda carecem de melhorias como, por exemplo, a proteção das aberturas propostas e melhorias nas estratégias para condicionamento térmico passivo de acordo com cada região. A NBR 15220 (ABNT,2005) apresenta recomendações para quanto ao desempenho térmico em habitações de interesse social aplicáveis na fase de projeto. Através do Zoneamento Bioclimático Brasileiro são dadas diretrizes construtivas de estratégias de condicionamento térmico passivo com objetivo de otimizar o desempenho térmico destas habitações através de melhores adequações

28


climáticas. Para o estabelecimento de estratégias de condicionamento térmico passivo a norma considera os parâmetros para cada região região.

2.4

CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Localizado na região Nordeste, o município de Maceió possui as coordenadas 9°45’ Sul (Latitude) e 35°42’ à oeste do Meridiano de Greenwich (Longitude), onde a incidência de radiação solar é intensa (Figura 7).. Abaixo da Linha do Equador, compreende-se se na Zona Térmica Tropical, apresentando clima quente e úmido com variações térmicas micas diárias, sazonais e anuais anuais.

Figura 7: (A) Localização da região Nordeste; (B) Localização do estado de Alagoas; (C) Localização Locali do Município de Maceió. Fonte: Fonte:SIRQUEIRA (Adaptados, 2015).

Possui duas estações definidas: verão caracterizado por altas temperaturas e baixa pluviosidade e “inverno”” com alta pluviosidade e temperaturas mais amenas. A temperatura média anual fica e em torno de 25,5ºC – amplitude térmica de 3,4ºC – e umidade relativa de 78%RH, podendo chegar aos 100% no período de inverno. Os meses de abril a julho concentram a maior quantidade de chuva, onde a pluviosidade anual chega a 2167 mm (BRASIL,1992). Com condição de céu predominantemente parcialmente nublado, Maceió está sob influência dos ventos alísios, oriundos do quadrante leste , sendo o do sudeste predominante durante grande parte do ano (Figura 8),, com velocidades mais 29


moderadas, e os do nordeste, nos meses de setembro a dezembro, considerados os mais quentes do ano.

Figura 8: Rosa dos ventos para a cidade de Maceió- AL; (a) Frequência da ocorrência dos ventos; (b) Velocidades predominantes por direção. Fonte: SOL-AR, 2005.

2.5

ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS

As estratégias bioclimáticas são soluções extraídas da observação da arquitetura vernácula e de estudos realizados, onde o repertório existente concede ao arquiteto um leque de possibilidades de soluções para as construções de edificações adequadas ao clima local, seja na escala do projeto da edificação ou do projeto do loteamento. Em climas quente e úmidos, as flutuações diárias e sazonais da temperatura do ar são pequenas e os níveis de umidade são geralmente altos. A temperatura do ar é, em geral, menor que a temperatura da pele. O céu típico é parcialmente nublado, produzindo uma quantidade apreciável de radiação difusa e intensa luminosidade. Nestas regiões, as construções devem evitar ganhos de calor proveniente da radiação solar enquanto dissipam o calor produzido internamente. (BITTENCOURT, 2008, p. 6)

Em climas quente e úmido, a sensação de conforto dos usuários está associada à ventilação natural. Para Morais e Labaki (2013), a ventilação natural é 30


uma estratégia projetual que deve ser usada sempre que possível em países de clima quente como o Brasil, pois dentre suas vantagens está o conforto térmico e a economia de energia. O uso desta estratégia deve ser priorizado principalmente em projetos destinados à população de baixa renda. Para um bom aproveitamento da ventilação natural deve-se privilegiar os cômodos com aberturas à barlavento, optar por pés direitos generosos e utilizar esquadrias com venezianas superiores ou inferiores para permitir a permeabilidade dos ventos mesmo com portas e janelas fechadas. As estratégias para promover a iluminação natural em edificações são recomendadas para todos os tipos de microclima, pois além de promoverem conforto lumínico e salubridade, são bastante eficazes na busca pela eficiência energética (PROCEL, 2005). Contudo, em climas quentes, é necessário que haja o cuidado para evitar o ganho térmico através da radiação solar direta. Desta forma é necessário buscar soluções de sombreamento para fachadas, coberturas e esquadrias, no entanto, sem prejudicar a entrada de luz difusa como, por exemplo, pergolados com trepadeiras, varandas ou beirais generosos. Recomenda-se dispor os cômodos pouco ocupados à tarde e à noite para fachadas poentes, e ambientes como quartos devem estar locados à nascente. O projeto deve ser pensado de forma que a edificação receba radiação direta até as 10 horas da manhã ou após as 16horas para reduzir os efeitos da umidade sobre os ambientes. Uma boa estratégia é o uso prateleiras de luz para refletir a luz para o interior da edificação em parceria com elementos móveis, como persianas e venezianas, para controlar a luz natural e insolação direta dentro da habitação. Como já citado, cabe ao arquiteto a escolha dos elementos mais adequados para o seu projeto, podendo utilizá-los como partido para a composição plástica final do projeto.

31



3. PROJETO DA CASA DO TRÓPICO ÚMIDO

3.1

CONCEITUAÇÃO DO PROJETO

A Casa do Trópico Úmido proposta consiste na idealização de uma casa com princípios bioclimáticos, capaz de ser implantada em possibilidades de orientação e ainda sim oferecer condições de conforto térmico aos seus usuários. Este projeto busca por uma solução funcional e plástica agradável – diferenciada dos projetos existentes de habitação de interesse social –,que seja capaz de demonstrar que a qualidade de uma habitação não deve corresponder ao padrão econômico de uma determinada classe social, assim eliminando o paradigma de que as casas populares devem ser caracterizadas pela má qualidade de suas construções.

3.2

ESTUDO DO PROGRAMA DE NECESSIDADES

O conhecimento das necessidades e anseios da família facilita e é o ponto de partida para determinação de parâmetros de um projeto. Contudo, como este trabalho trata-se de um projeto de uma casa modelo, sujeita a um mercado de usuários desconhecidos, a casa foi projetada visando oferecer compatibilidade com diferentes configurações familiares e também padrões de vida com o decorrer do tempo. Neste caso pensou-se na flexibilidade espacial do projeto, onde foi abordado do ponto de vista tipológico, de adaptabilidade e ampliabilidade. De acordo com Galfertti apud Brandão (2006), a flexibilidade é um dos objetivos da modernidade, funciona como um mecanismo para compensar a lacuna na conexão entre o arquiteto e o ocupante desconhecido. A flexibilidade espacial é de suma importância sobretudo em projetos de cunho social, visto sua escala de abrangência. De acordo com o último censo do IBGE (2010), o perfil da família brasileira mudou: número de pessoas que moram sozinhas aumentou de 8,6% para 12%; o número de casamentos e taxa de fecundidade diminuiu (Gráfico 01) e as mulheres, hoje mais inseridas no mercado de trabalho, tem menos filhos e optam por engravidar mais tarde. Os resultados de moradores por domicílios - em áreas urbanas - a maioria das casas possuem de 2 a 4 moradores, conforme gráfico 02. 33


1940 Gráfico 1:: Transição da taxa de fecundidade no Brasil 1940-2020 Fonte: ALVES e CAVENAGHI, 2012

Gráfico 2:: Domicílios particulares permanentes - Número de moradores por domicílios em áreas urbanas

Valor relativo

Fonte: IBGE, 2010 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%

Moradores por domicílios

Neste contexto foram desenvolvidos dois projetos, visando atender famílias com até quatro usuários ou até seis usuár usuários.. Onde no primeiro caso propõe-se propõe uma casa com dois dormitórios e o segundo com três dormitórios. Pensado em uma eventual possibilidade de crescimento do número de integrantes da família, a residência com dois dormitórios prevê a possibilidade de adição de mais um dormitório. 34


O projeto da residência consiste em um programa mínimo, com adequado dimensionamento dos ambientes. Em ambos os casos de ocupação foi considerado a atual ou eventual presença de um usuário portador de necessidades especiais. Estimou-se a habitação com 2 dormitórios e 3 dormitórios com, respectivamente, 61,76 m² e 72,76m² de área útil, conforme o programa de necessidades apresentado nas tabelas 1 e 2.

Tabela 1: Programa de necessidades para famílias com até 4 usuários Fonte: A autora, 2015. PROGRAMA DE NECESSIDADES - Famílias de até 1 a 4 usuários SETOR

AMBIENTE

QUANT.

ÁREA (m²)

Varanda

1

6.30

Sala estar/ jantar

1

14.56

WCB

1

3.67

Dormitório

2

20.31

Rouparia

1

0.78

Circulação

-

3.39

Cozinha/ área de serviço

1

9.11

Coradouro

1

3.64

SOCIAL

ÍNTIMO

SERVIÇO

TOTAL

61.76

Tabela 2: Programa de necessidades para famílias com até 6 usuários Fonte: A autora, 2015. PROGRAMA DE NECESSIDADES - Famílias de 3 a 6 usuários SETOR

AMBIENTE

QUANT.

ÁREA (m²)

Varanda

1

6.30

Sala estar/ jantar

1

14.56

WCB

1

3.67

Dormitório

3

28.85

Rouparia

1

0.78

Circulação

-

5.85

Cozinha/ área de serviço

1

9.11

Coradouro

1

3.64

SOCIAL

ÍNTIMO

SERVIÇO

TOTAL

72.76

35


Deste modo definiu-se como dimensão mínima do lote de 12m de testada e 15m de profundidade, totalizando 180m². Este, possuindo uma mesma área quadrada, é capaz de comportar duas diferentes maneiras de ocupação, com dois ou três dormitórios. 3.3

SETORIZAÇÃO

A casa, do ponto de vista funcional, deve facilitar atividades domésticas. Deve ser tratada como um conjunto de cômodos destinados a atender funções relativas à vida do lar (PALERMO, 2009, p. 222). Os setores são áreas definidas por ambientes com funções semelhantes ou complementares e que são utilizados por um grupo específico de pessoas. Para uma melhor organização e funcionalidade do espaço agrupam-se os cômodos que compartilham de atividades similares. A partir dos ambientes estipulados no programa de necessidades foram definidos 3 setores: social, íntimo e serviço, dispostos conforme figura 9.

Figura 9: Setorização dos ambientes de acordo com os usos. Fonte: A autora, 2015

36


A área social é composta por varanda, sala de estar e jantar, ambientes que são destinados a convivência da família e visitantes. Dessa forma comunica-se diretamente com o acesso principal e conecta-se com os demais setores da residência. No setor íntimo estão dispostos os ambientes destinados as atividades de dormir e higiene pessoal. Devem oferecer conforto e privacidade para os usuários, evitando-se a ligação direta com área social e de serviço. Dessa forma, locou-se uma pequena rouparia para fazer resguardar a privacidade. No setor de serviço foram locados os ambientes necessários para a manutenção da casa, que necessitam de funcionalidade e praticidade. A cozinha e área de serviço são integradas, comunicam-se com a área social - quando desejado - e também com o exterior da residência.

3.4

PROPOSTA ARQUITETÔNICA

3.4.1 Projeto O desafio do projeto da Casa do Trópico Úmido foi de criar uma nova solução projetual para Habitação de Interesse Social que atendesse diretrizes de acessibilidade e conforto ambiental, com objetivo de romper o paradigma dos projetos existentes. Partindo de um terreno hipotético de 180m², como mencionado no tópico 3.2. deste trabalho, foram desenvolvidas duas casas variando entre dois (61,76m²) e três dormitórios (72,76m²), prevendo a expansão de mais um dormitório na menor habitação, em caso de crescimento familiar ou outra eventual necessidade. Para a concepção do projeto da casa modelo, em um momento inicial, ela está com sua testada orientada à norte (Figura 10).

37


Figura 10: Plantas baixas das moradias com dois e três dormitórios. Fonte: A autora, 2015

O projeto foi organizado em dois eixos paralelos, separados conforme seus usos, de um lado o setor íntimo com dormitórios e banheiro e de outro os setores social e de serviço. Ao dispor os cômodos nos eixos propôs-se no desenho um desalinhamento dos ambientes, para conferir ideia de movimento tanto em planta quanto no volume da edificação, bem como a possibilidade de ventilação cruzada. A varanda foi projetada pensando na hipótese do morador possuir um automóvel ou na possibilidade de aquisição no futuro. A sala de estar e jantar é o ambiente integrador do projeto, é o responsável pela ligação da entrada principal da residência e define as conexões para os demais cômodos da moradia. A cozinha foi locada contígua a sala, no mesmo eixo, porém 38


com a possibilidade de isolamento através de uma porta de correr para evitar a saída de fumaça e odores indesejados. O layout da cozinha foi planejado visando oferecer funcionalidade e praticidade, deixando uma faixa de circulação livre para manuseio de equipamentos. A área de serviço nesta casa compartilha o mesmo ambiente da cozinha, sendo delimitadas por uma divisória piso teto. O tanque foi locado em ambiente coberto e, com a popularização de eletrodomésticos, previu-se a utilização de uma máquina de lavar roupas, simplificando a eventual futura instalação deste equipamento. Os quartos foram dispostos à nordeste, leste e sudeste, a fim de captar os ventos predominantes que incidem sobre sua fachada e tirar proveito da iluminação natural, proveniente do sol nascente. Devido a esta disposição, a residência conta com grandes aberturas nesta fachada, visando a permeabilidade da ventilação e iluminação natural para os usuários destes ambientes de permanência prolongada, porém fazendo-se uso de protetores solares. Apesar de o banheiro não ser um ambiente de longa permanência e usualmente ser disposto na fachada poente, neste projeto, por questões de funcionalidade, foi decidido colocá-lo mais próximo aos quartos.

3.4.2 Estudo plástico

Durante o processo criativo da Casa do Trópico Úmido buscou a criação de uma nova leitura para a composição plástica do projeto, fugindo da tradicional casa isolada no lote e com telhado de duas águas aparente, bastante recorrente em habitações de cunho social. O objetivo era que a habitação exibisse uma forma mais atualizada diante do contexto da arquitetura contemporânea. O projeto é simples, de linhas retas, onde se trabalha com jogo de volumes distintos, diferenciados pelo uso, com diferentes alturas, dispostos a partir de um elemento central. O projeto toma partido das marquises e protetores solares para fazer a composição volumétrica da edificação (Figuras 11, 12, 13 e 14).

39


Figura 11: Casa do Trópico Úmido em implantação hipotética. Fonte: A autora, 2015.

Figura 12: Perspectiva ilustrada do estudo volumétrico da fachada principal para ambas propostas. Fonte: A autora, 2015.

40


Figura 13: Perspectiva ilustrada do estudo volumétrico das fachadas posteriores para tipologia 1, opção dois dormitórios. Fonte: A autora, 2015.

Figura 14: Perspectiva ilustrada do estudo volumétrico das fachadas posteriores para a tipologia 2, opção três dormitórios. Fonte: A autora, 2015.

Para realçar os diferentes volumes - tanto os blocos de ambientes quanto os elementos de proteção - foi definida uma paleta neutra, claras e " ton sur ton" de bege, conferindo um toque sofisticado para a composição plástica da fachada. Para amenizar a sensação de repetição no conjunto e conferir mais identidade para casa residência propôs-se uma variação também em tons de verde e lilás (Figura 15).

41


Figura 15: Paleta de cores com baixa absortância térmica adotada para identidade visual do projeto. Fonte: A autora, 2015.

3.5

FLEXIBILIDADE

A adaptabilidade, segundo Garcia (2006), é um "critério que visa assegurar a polivalência mediante a descaracterização funcional das peças de uma edificação, de forma a dar-lhes alternativas de uso".

No projeto isto é aplicado com a

neutralidade dos dormitórios que permitem outras possibilidades de uso como, por exemplo, escritório, atelier, quarto casal ou quarto de criança, sem exigir serviços de construção para a troca de uso. Do ponto de vista da ampliabilidade, desde a concepção (opção dois dormitórios), o projeto prevê a adição de mais um cômodo, agregando ao projeto outras possibilidades de uso e atendendo a um maior leque de demanda espacial (Figura 16).

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Figura 16: Área para ampliação da proposta Casa do Trópico Úmido de dois dormitórios. Fonte: A autora, 2015.

A proposta permite a construção de um novo cômodo no quintal. O conjunto de localização dessa área para expansão combinada com a planta desalinhada foi uma foi uma estratégia adotada para controlar a ação dos moradores fazem na residência, evitando um comprometimento da edificação original e descaracterização da fachada do conjunto. Além da questão estética houve também a preocupação também com a questão estrutural. O projeto foi desenvolvido de modo que a nova construção não interferir-se na estrutura da coberta existente, sendo independente, além da locação estratégica das esquadrias do dormitório 2, de modo que não é necessário remoção durante a ampliação.

3.6

ACESSIBILIDADE

43


Figura 17: Proposta de layout aplicado à acessibilidade. Fonte: A autora, 2015.

O projeto buscou atender ao máximo a qualquer usuário, mesmo com necessidades especiais (ABNT, 2004). Embora dentro do objetivo do trabalho não se pretenda aprofundar no conceito e desenvolver um estudo minucioso sobre acessibilidade em edificações, procurou atender algumas funcionalidades aplicadas a usuários cadeirantes. A solução apresenta os seguintes aspectos (Figura 17): • • • • •

Dimensionamento do banheiro adequado para atender pessoas com necessidades especiais (Figura 18); Todas as portas possuem 0,80m de vão interno; No dormitório 1, em ambas as opções, é possível a locação de uma cama para casal e circulação para cadeirante em pelo menos um lado; Corredores com 1,00m de largura para circulação comum; Bacia sanitária instalada permitindo transferência perpendicular;

Possibilidade de instalação de barras de apoio articulada na lateral ou reta na parede na parede de fundo do vaso. 44


Figura 18: Acessibilidade no banheiro para usuários cadeirantes . Fonte: A autora, 2015.

3.7

ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS ADOTADAS

De acordo com Szokolay apud Oliveira (2006), o clima quente e úmido é o mais difícil de projetar, em virtude das altas taxas de umidade, grande acúmulo de calor e problemas relacionados às chuvas intensas concentradas em pequenos períodos do ano. A norma de desempenho para edificações (ABNT, 2005), em virtude das dessas variáveis climáticas, recomenda aos projetos inseridos na Zona Bioclimática 8 caso da cidade de Maceió-AL , projetos com o uso de estratégias para ventilação associada ao sombreamento, conforme sintetizado na tabela 3, para promover mais conforto aos usuários.

45


Tabela 3: NBR15220 Parte 3 -Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações Fonte: ABNT, 2005 Síntese das recomendações para Zona Bioclimática 8 Ventilação e sombreamento de aberturas Aberturas para ventilação

Grandes (40%)

Sombreamento das aberturas

Sim

Tipos de vedações externas Parede

Leve refletora

Cobertura

Leve refletora

Observações: coberturas com telha de barro sem forro, embora não atendam os critérios poderão ser aceitas. Coberturas com transmitâncias térmicas acima dos valores tabelados também serão aceitas desde que contenham aberturas em dois beirais opostos e as aberturas para ventilação ocupem toda a extensão destas fachadas Estratégias de condicionamento térmico passivo

Verão

Ventilação cruzada permanente, obtida através da circulação dor ar pelos ambientes da edificação.

Observações: condicionamento passivo é insuficiente durante as horas mais quentes.

Como esse trabalho trata de uma casa modelo e está sujeito a diversas formas de implantação, o buscou-se atender ao máximo essas especificações. Propõe-se a construção com alvenaria com blocos cerâmicos - emassados e pintados com cores claras e reflexivas -, e cobertas vedadas através de telhas térmicas em fibrocimento e telhas translúcidas (banheiro). A telha térmica em fibrocimento é uma novidade do mercado da construção civil e, de acordo com manual e laudo técnico do fabricante (LPC/278.634/14), é capaz de reduzir até 4ºC da temperatura interna de ambientes. Este material é uma alternativa mais econômica em relação às telhas termoacústicas, além de não necessitar de mão de obra especializada. Oferece a vantagem em relação as telhas cerâmicas em relação à inclinação mínima ser menor.

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Figura 19: Quando comparativo de propriedades témicas entre telha térmica em fibrocimento TopComfort, Brasilit x telha fibrocimento comum. Disponível em: <http://www.brasilit.com.br/produtos/coberturas-em-fibrocimento/telha-termica-emfibrocimento-topcomfort>. Acesso em: out.15.

Adotou-se também varandas e teto jardim para favorecer as condições térmicas internas. O layout proposto propicia a ventilação cruzada nos ambientes, através de grandes aberturas sombreadas e esquadrias internas com bandeira para ventilação. O projeto também contempla o uso de elementos vazados como brises, combogós e caixilhos de concreto fundido e vidro (figura 20 e 21).

Figura 20: Corte esquemático com as estratégias adotadas para favorecer a ventilação cruzada. Fonte: A autora, 2015.

47


Figura 21: Esquadrias e elementos vazados adotados no projeto. Fonte: A autora, 2015.

48


3.7.1 Ventilação natural

A ventilação nas habitações é necessária à manutenção da qualidade do ar e à exaustão dos gases e odores produzidos na cozinha e banheiros. Para Bittencourt (2008), a ventilação natural é uma das estratégias bioclimáticas mais eficientes para promover conforto térmico em espaços urbanos e arquitetônicos. Além de sua disponibilidade no meio ambiente, possui um alcance social indiscutível. Em climas quentes e úmidos, como Maceió-AL, a norma de desempenho 15220 (ABNT, 2005) direciona os projetos a adotarem técnicas de controle passivo da ventilação através da ventilação cruzada. Visando favorecer este recurso o projetou adotou as seguintes estratégias:

• • • •

Abertura de grandes janelas para ventilação, mas protegendo da insolação excessiva; Utilização de vegetação no entorno da edificação, para que o vento entre na casa resfriado devido à evapotranspiração das plantas; Portas internas com bandeiras para permitir a ventilação mesmo com a porta fechada; Os combogós são elementos de proteção que filtram de eventuais excessos de luz natural, sem obstruir a ventilação natural. Utilizou-se deste elemento no muro da edificação, permitindo permeabilidade do vento; Foram utilizados brises horizontais nas áreas da sala e cozinha, permitindo a ventilação permanente nestes cômodos, mas conferindo privacidade ao interior. Os brises horizontais são placas fixas cujos eixos horizontais estão paralelos à fachada a ser protegida e também ao plano horizontal. Os protetores solares horizontais são mais eficientes nas horas do dia ao nascer e o por do sol.

De acordo com a rosa dos ventos predominantes para Maceió-AL foram desenvolvidos esquemas simplificados dos fluxos da ventilação predominante para quatro possibilidades de implantações. A partir do lote hipotético inicial com fachada principal a norte, girou-se a fachada 90º graus três vezes, testando-as também nas orientações: leste, oeste e sul.

49


Fachada principal a norte

Figura 22: Esquema do funcionamento dos ventos para fachada principal orientada a norte. Fonte: A autora, 2015.

Quando dispomos a Casa do Trópico Úmido com sua fachada principal a norte (Figura 22), em relação à ventilação natural, esta é a opção mais favorável, uma vez que todos os ambientes estão sendo contemplados pelas correntes de ar predominantes para a cidade de Maceió. Todos os quartos possuem suas aberturas a norte, sul e leste. As janelas amplas situadas nos cantos proporcionam maior entrada do ar, e com a estratégia de ventilação cruzada melhoram e amplificam a propagação das correntes de ar pelo ambiente e distribuem pela casa. Foi adotado no projeto portas com bandeiras, de forma a que mesmo com a porta fechada o ar ainda entrará na habitação.

50


Fachada principal a oeste

Figura 23: Esquema de funcionamento dos ventos para fachada principal a oeste. Fonte: A autora,2015.

Na situação hipotética onde a fachada principal está disposta a oeste (Figura 23)o dormitório 1, em ambas tipologias, não é contemplado pelas correntes de ar predominantes, uma vez que as aberturas estão dispostas a oeste e norte, recebendo ocasionalmente no verão com ventos de intensidade fraca. Os demais quartos contam com a ventilação leste/nordeste a favor durante todo o ano, especialmente no verão e primavera. A cozinha e sala foram os ambientes mais favorecidos pela ventilação, sobretudo a cozinha.

51


Fachada principal a sul

Figura 24: Esquema de funcionamento dos ventos para fachada principal a sul. Fonte: A autora, 2015.

A condição da casa orientada com sua fachada principal a sul (Figura 24) todos os dormitórios estão prejudicados no quesito ventilação. Nessa situação hipotética nenhuma janela está a favor dos ventos predominantes para Maceió, não sendo recomendado a construção desta maneira, uma vez que estes ambientes não serão apropriados aos usuários quanto ao conforto térmico.

52


Fachada principal a leste

Figura 25: Esquema de funcionamento dos ventos para fachada principal a leste. Fonte: A autora, 2015.

Ao orientar a fachada principal a leste (Figura 25), em ambas tipologias, todos os dormitórios estão sendo contemplados ao longo do ano pelas correntes predominantes e de maior intensidade,através das janelas dispostas a sul e leste, principalmente verão e primavera. A sala também é favorecida pela ventilação uma vez que suas aberturas se encontram no quadrante leste/nordeste.

53


3.7.2 Iluminação natural

A condição de céu parcialmente nublado, exposta a alta incidência de radiação solar em Maceió,permite ao arquiteto utilizar de artifícios que favoreçam o uso da iluminação natural ao longo do dia, assim evitando gastos desnecessários com energia. Contudo, como já mencionado, é necessário dosar essa radiação que entra no ambiente, evitando ganhos de calor. •

Para otimizar a captação de luz disponível, o projeto adotou elementos vazados, janelas com marquises e varandas (figura 26);

Figura 26: Janelas com venezianas para controle da iluminação e marquises de proteção contra radiação solar direta. Fonte: A autora, 2014.

• •

Janela na cozinha disposta de forma a permitir iluminação natural sobre a pia, área de preparo de alimentos (Figura 27); Iluminação do banheiro através de telha ondulada translúcida Brasilit (ou similar) que absorve cerca de 70% da luminosidade (Figura 28).

54


Figura 27:: Perspectivas proposta de ambientação para cozinha. Fonte: A autora, 2015.

Figura 28:: Corte esquemático com as estratégia estratégias s adotadas no projeto. Fonte: A autora, 2015.

55


3.7.3 Carta solar e máscara de sombra

As cartas solares ou diagramas solar são representações gráficas do percurso do sol na abóbada celeste da Terra, nos diferentes períodos do dia e do ano (figura 29). A elaboração dos diagramas solares se dá através da projeção do percurso do sol, ao longo do ano, e nas diversas horas do dia, num plano horizontal. A partir da carta solar é possível desenvolver a máscara de sombra, ou seja, a representação gráfica de obstáculos existentes na visão da abóbada celeste (BITTENCOURT, 2008).

Figura 29: Exemplo de medidores de ângulo verticais e horizontais para determinação da máscara de sombra. Fonte: A autora, 2015.

O diagrama solar é importante para analisar o efeito do insolação na edificação na edificação. Na etapa do projeto serve como uma ferramenta para estudo da melhor implantação do projeto sob o ponto de vista da insolação. 56


Com objetivo de uma avaliação qualitativa do projeto do ponto de vista de insolação, foram desenvolvidas as cartas solares para as quatro possibilidades hipotéticas de implantação abordadas neste trabalho, a partir destas esboçou-se as máscaras de sombras para as aberturas existentes nos dormitórios, tanto para a opção dois e três dormitórios (Figura 30). Para esse trabalho utilizou-se a carta solar para a cidade de Maceió, que possui latitude 9º 40’, na construção da máscara de sombra.

Figura 30: Comparativo das cartas solares para as quatro orientações hipotéticas propostas. Fonte: A autora, 2015

57


Fachada principal a norte

Figura 31: Carta solar para fachada principal a norte. Fonte: A autora, 2015.

Nesta condição, em ambas tipologias, os dormitórios estão locados nos quadrantes nordeste e sudeste, suas respectivas fachadas recebem insolação direta ao longo do ano no período das 6h da manhã até as 13h da tarde (Figuras 31 a 36). Para a opção com a fachada principal à norte, os dormitórios estão locados com aberturas para norte, nordeste, leste, sudeste e sul. Todas ficaram protegidas do sol da tarde, salvo com abertura para norte e sul que o sombreamento neste período se dá a partir das 14h em alguns períodos do ano. Com os protetores adotados as janelas com abertura para leste, em alguns períodos do ano, já começam a ficar sombreadas a partira das 11h da manhã. 58


Figura 32: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 1 da casa tipo 1 com fachada a norte. Fonte: A autora, 2015

Figura 33: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 2 da casa tipo 1 com fachada a norte. Fonte: A autora, 2015

59


Figura 34: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 1 da casa tipo 2 com fachada a norte. Fonte: A autora, 2015

Figura 35: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 2 da casa tipo 2 com fachada a norte. Fonte: A autora, 2015

60


Figura 36: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 3 da casa tipo 2 com fachada à norte. Fonte: A autora, 2015

61


Fachada principal a leste

Figura 37: Carta solar para fachada principal à leste. Fonte: A autora, 2015.

Para a condição onde a fachada principal da edificação está a leste, os dormitórios estão com suas aberturas dispostas para leste, nordeste, sul, sudeste e oeste (Figura 37). O dormitório 1 (Figuras 38 e 40), em ambos os projetos, é o mais favorecido da proposta, onde recebe insolação direta através das aberturas o ano todo pela manhã até às 10h pela janela 1 e até as 14h através da janela 2. No dormitório 2 (Figuras 39 e 41), para ambos os projetos, a janela 2 está sombreada das 6 da manhã até as 14h da tarde, a partir deste momento recebe insolação direta no interior do ambiente. Ainda neste ambiente, pela janela que está locada a oeste fica sombreada por toda a manhã estendendo-se até as 13h, deste momento em diante esta abertura não mais está sombreada.Assim como no dormitório 2, para 62


esta condição de implantação, o dormitório 3 (Figura 42) está sombreado ao longo da manhã, por sua abertura locada a oeste a insolação direta no ambiente inicia a partir das 13h, pela abertura a sul somente a partir das 15h da tarde.

Figura 38: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 1 da casa tipo 1 com fachada a leste. Fonte: A autora, 2015

Figura 39: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 2 da casa tipo 1 com fachada a leste. Fonte: A autora, 2015

63


Figura 40: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 1 da casa tipo 2 com fachada a leste. Fonte: A autora, 2015

Figura 41: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 2 da casa tipo 2 com fachada a leste. Fonte: A autora, 2015

64


Figura 42: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 3 da casa tipo 2 com fachada a leste. Fonte: A autora, 2015

65


Fachada principal a sul

Ao submeter o projeto a esta condição de implantação todos os dormitórios ficam dispostos ao poente (Figura 43). O dormitório 1, em ambos os projetos (Figuras 44 e 46), fica sombreado pela manhã até as 15h na janela 1, disposta a sul. Ainda neste dormitório, a janela dois começa a receber insolação direta no ambiente a partir das 13h. Dormitório 2 ao longo do ano só começa a receber insolação direta a partir das 7h da manhã, em determinados períodos, entre a janela locada a norte e a oeste, a máscara de sombra pode variar de proteção até as 10h da manhã ou até as 14h da tarde (Figuras 45 e 47). O dormitório 3 desta proposta de implantação possui a mesma configuração do dormitório 2 (Figura 48). A partir das 7h da manhã o ambiente começa a receber insolação direta no ambiente, sua máscara de sombra vária entre 10h e 13h entre as janelas 1 e 2.

Figura 43: Carta solar para proposta com fachada principal a sul. Fonte: A autora, 2015.

66


Figura 44: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 1 da casa tipo 1 com fachada a sul. Fonte: A autora, 2015

Figura 45: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 2 da casa tipo 1 com fachada a sul. Fonte: A autora, 2015

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Figura 46: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 1 da casa tipo 2 com fachada a leste. Fonte: A autora, 2015

Figura 47: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 2 da casa tipo 2 com fachada a sul. Fonte: A autora, 2015

68


Figura 48: Máscara de sombra das aberturas propostas para o dormitório 3 da casa tipo 2 com fachada a sul. Fonte: A autora, 2015

Fachada principal a oeste

Nesta última proposta hipotética de implantação, com fachada principal situada a oeste, os dormitórios possuem aberturas para oeste, noroeste, norte, nordeste e leste (Figura 49). O dormitório 1, com aberturas para oeste e norte começa a receber insolação direta no ambiente a partir das 7h da manhã, sua máscara de sombra varia entre até 10h ou 13h dependendo da fachada (Figuras50 e 52). O dormitório 2, com aberturas para norte e leste. Para abertura a leste esta só recebe insolação direta no ambiente até as 11h da manhã, já na abertura ao norte este período pode variar ao longo do ano, apenas a partir de 16h que está totalmente sombreada todos os dias (Figuras 51 e 53).

69


Figura 49: Carta solar para proposta com fachada principal à oeste. Fonte: A autora, 2015.

Assim como o dormitório 2, o dormitório 3 (Figura 54) desta forma de implantação a leste estará sempre sombreado a partir das 11h da manhã. Na abertura para o norte o sombreamento sofre variações ao longo do ano, ficando totalmente sombreada sempre a partir das 16h.

70


Figura 50: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 1 da casa tipo 1 com fachada a oeste. Fonte: A autora, 2015

Figura 51: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 2 da casa tipo 1 com fachada a sul. Fonte: A autora, 2015

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Figura 52: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 1 da casa tipo 2 com fachada a oeste. Fonte: A autora, 2015

Figura 53: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 2 da casa tipo 2 com fachada a oeste. Fonte: A autora, 2015

72


Figura 54: Mรกscara de sombra das aberturas propostas para o dormitรณrio 3 da casa tipo 2 com fachada a oeste. Fonte: A autora, 2015

73



CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente trabalho foi desenvolver uma proposta de uma habitação unifamiliar de interesse social abordando o uso de estratégias bioclimáticas para o contexto climático da cidade de Maceió-AL, que quebrasse o paradigma da má qualidade deste tipo de edificação. Os resultados obtidos neste projeto arquitetônico ressaltam que a adequação climática de uma edificação demanda a utilização de soluções específicas para cada forma de implantação, sendo papel do arquiteto decidir quais as melhores estratégias de projeto e implantação. Os estudos de ventilação natural, cartas solares e máscaras de sombras desenvolvidos neste trabalho, enfatizam que o arquiteto ao projetar para as condições climáticas de Maceió-AL, deve procurar dispor as áreas de maior permanência nas fachadas nordeste, leste e sudeste, que além de permitirem maiores períodos de insolação no período da manhã, são as contempladas pelos ventos com maior frequência e intensidade ao longo do ano. Fachadas sul e oeste devem ser vistas com maior critério. A fachada sul recebe insolação no período mais quente do ano, ao longo de todo o dia. Já a fachada oeste recebe sol durante o período da tarde o ano inteiro, não permitindo resfriamento à noite, quando normalmente há maior ocupação. São importantes, porém, para a higienização de áreas molhadas ou ocupação predominantemente no período da manhã. Outro ponto que se pode destacar é a possibilidade de tomar partido das estratégias bioclimáticas para tirar partido da composição plástica do projeto, eliminando a associação estética de habitação popular “com telhado duas águas”. Uma limitação do trabalho consistiu na restrição do estudo das cartas solares e ventilação natural em apenas quatro prospecções de implantações. Sabe-se que uma análise das demais possibilidades fachadas (nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste) também são de rica importância para um panorama mais apropriada da relação implantação e rebatimento do projeto no contexto climático de Maceió. Visando a continuidade e complemento do trabalho apresentado, sugere-se o desenvolvimento de

outros trabalhos no segmento da arquitetura e conforto

ambiental relacionados com a temática da Habitação de Interesse Social no Brasil como, por exemplo, um estudo sobre Avaliação Pós Ocupação (APO) de Habitações 75


de Interesse Social em Maceió-AL. O estudo do as built é importante para a verificação das condições da edificação em seu estado atual em relação ao projeto original, de forma a detectar possíveis mudanças realizadas durante a obra ou pelo usuário,

respaldando

decisões

projetuais

futuras

quanto

funcionalidade,

acessibilidade e adequação de projeto. Uma outra sugestão de tema para continuidade do trabalho é um estudo da relação de Estratégias bioclimáticas para Habitação de Interesse Social e custos de projeto, de forma a fazer uma análise do quão mais caro é projetar corretamente para o clima da cidade de Maceió, quais os materiais disponíveis são mais apropriados, quais as possibilidades para balancear a conforto e custo de obra. Por fim, sabe-se que o sucesso dos empreendimentos de habitação de interesse social é o custo de projeto e o tempo de execução para atender a demanda, contudo, é necessário cada vez mais avaliar quais as consequências de colocar preço em detrimento as necessidades e bem estar do usuário.

76



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