Curitiba: arquitetura no processo de legitimação cultural 2
Trabalho de Graduação Integrado II Instituto de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo
JESSICA SAYAKA KOMORI Comissão de Acompanhamento Permanente: Aline Coelho Sanches David Moreno Sperling Lúcia Zanin Shimbo Joubert José Lancha Coordenadora de grupo temático: Camila Moreno de Camargo
São Carlos – SP Novembro de 20193
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FICHA DE APROVAÇÃO
Curitiba: arquitetura no processo de legitimação cultural Trabalho de Graduação Integrado apresentado ao Institudo de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – campus São Carlos JESSICA SAYAKA KOMORI
Banca examinadora
__________________________________________ Aline Coelho Sanches Instituto de Arquitetura e Urbanismo – USP
__________________________________________ Camila Moreno de Camargo Instituto de Arquitetura e Urbanismo – USP
__________________________________________ Marina Mange Grinover Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – USP
Aprovado em:
/12/2019 5
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sumário introdução
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arquitetura, cultura e política
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Cultura marginal e políticas urbanas
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Curitiba: inquietações e motivações
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histórico de urbanização de curitiba
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rede integrada de cultura
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cultura de rua
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projeto genérico ou generalista
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referências projetuais
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composição do projeto
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bibliografia
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introdução
Apresento neste trabalho uma análise crítica sobre o debate da questão identitária e cultural, sob um contexto de globalização, assim como os atuantes sociais, econômicos e artísticos deste campo que legitimam esta produção. Com base na compreensão dos processos de desenvoltura econômica, estética e social no campo da arquitetura e urbanismo, busco, então, identificar os códigos de autoridade e de legitimidade dentro desta esfera a fim de esclarecer a atuação destes agentes e embasar um ideário de combate a um cenário apático de aceitação de culturas hegemônicas. O referente debate busca compreender uma visão alternativa em relação à práticas culturais marginalizadas. Apesar destes grupos sofrerem recorrentes enfrentamentos institucionais, suas práticas perduram até hoje; servindo como contraponto ao imperativo de mercado. A disputa simbólica e política de um território é inerente ao cenário urbano, portanto, inegável. Por isso o reconhecimento deste “vandalismo” – como definido pela Prefeitura de Curitiba – é fundamental dentro da lógica urbana. Invisibilizar esta condição apenas reforça as hierarquias sócio-espaciais vigentes. Em razão da complexa composição de práticas culturais disposta na cidade, o projeto desenvolve-se transposto em um circuito a fim de dinamizar o fluxo artístico. Assim, cada intervenção dos ponto da referida rede abordaria a atuação coletiva como protagonista nos espaços. 9
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FIG. 01 – FONTE: TRIBUNA PARANÁ HTTPS://TINYURL.COM/Y5N7WZKX
Frente a uma mutação na esfera das artes, esta fagocitada pela indústria cultural, legitima-se um ritmo de produção cuja função estrutural, segundo Fredric Jameson (1984), baseia-se na inovação estética e no experimentalismo. A relação imediata da arquitetura com o capital privado – mercado imobiliário – dá forma a obras superficiais de extrema sofisticação tecnológica patrocinadas por empresas multinacionais; produção esta espelhada nesta ânsia pela renovação do desejo de consumo. Um “apelo esnobe” (ORTIZ, R. 2007) a fim de diminuir processos históricos existentes na malha urbana em função de um imperativo estético e dominância cultural. No entanto, tal cenário não é homogêneo apesar da existência de uma autoridade cultural. Formas de produção marginais ao sistema hegemônico também se mostram presentes, conformando assim divergentes campos de força e influência social. A fim de despertar este sujeito artificial, produto da sociedade de consumo, proponho uma busca por identidade e apreensão do sentido do espaço público e social. Uma das abordagens destacadas, 12
sob análise crítica ao urbanismo enquanto ideologia neoliberal, é a presença de expressões artístico-culturais na cidade, e como esta é incorporada na paisagem e retoma um papel social dentro desta. O campo de atuação do arquiteto entra, nesse sentido, pela retomada de um partido social na indústria da construção civil como combativa ao imperativo financeiro da manutenção das relações trabalhistas. Sob a ótica macro da constituição da cidade há um notório agravamento de problemáticas tanto no aspecto social do espaço quanto no planejamento de grandes centros urbanos.
O embate de forças políticas mostra-se, portanto, inerente à profissão do arquiteto, assim como a compreensão da condição em que sua atuação se institui e os agentes que inferem direta ou indiretamente neste campo. Promovendo, enfim, a configuração de um sistema estrutural que reconhece o aspecto social e cultural da cidade.
Giulio Carlo Argan (1993) define a prática arquitetônica como ato representativo da cidade; hoje controladas pela especulação imobiliária refletindo, assim, a infeliz realidade social e política. A disciplina – tida como autônoma – abarca um papel como meio de expressão evidenciando, por sua vez, a crise urbana, sendo que o denominador arquitetônico não mostra-se capaz de solucioná-la por si mesmo. 13
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FIG. 02 – FONTE: ARQUIVO PESSOAL
A partir do entendimento de cultura como uma coligação entre tradição e arte, releva-se o processos de desenvoltura e compreensão destes conceitos, assim como a necessidade de avaliação dos agentes que as compõem perante ao sistema vigente. O ato artístico é englobado pela sociedade de consumo, e esta mostra-se como um agente de autoridade perante às produções dos artistas.
“As artes têm assim dificuldade de se constituírem em modelo econômico para ação cultural.” (ORTIZ, R. 2007.) A economia liga-se diretamente às artes tendo em vista a imposição cultural advinda da elite burguesa. Mostra-se um evidente determinismo estético em que se revela a classe social do sujeito espectador e do autor. A classe burguesa difunde seus ideários estéticos por meios institucionais – como museus, escolas, livros, mídia – deste modo, escancaram esta ferramenta de discriminação social. Assim, fundamenta-se um imaginário de preconceitos em relação a qualquer 16
outra cultura que não a erudita. Este palco de privilégios desvaloriza o cenário cultural popular cerceando-o socialmente. Então para além da influência do Estado-nação, do universo “culto” e das indústrias culturais, ascende-se uma possibilidade: a cultura marginal. Cultura do desvio que se impõe como uma perturbação à hegemonia político-social na qual a sociedade se rende. Assim auto legitima-se, não sob o olhar do mercado, mas pela autonomia da prática e de seus praticantes. Seguindo este cenário alternativo, nota-se outras condições em que tais culturas se inserem. A convivência em sociedade possui regras sociais que variam dependendo da classe em que se aplica. O comportamento, então, é marcado como apropriado ou não. Aquele que não segue a linha dada é tachada como “outsider”; definição esta na qual Howard Becker (1963) desenvolve seu discurso. Este tribunal imposto por uma comunidade, por outro lado, pode ser visto como “outsider” pelo sujeito que sofre tal julgamento. Logo
estas convenções não devem ser tratadas como um posto de autoridade inquestionável e neutro. O pressuposto do desvio impera como um fenômeno de ambiguidade. Aqueles que mantêm a estabilidade na sociedade e aqueles que a infringem, os funcionais e os disfuncionais. Tal conceito, portanto, é um produto da sociedade. Embora exista um evidente processo elitista de normatização e punição da sociedade, grupos de desviantes mantêm atividades estáveis. Um cultura também pode ser expressa dentro de coletivos pequenos a partir de entendimento comuns. Ou seja, a cultura do “outsider” desenvolve-se em conjunto com outros membros que discordam de uma mesma postura da sociedade. Merten Nefs (2015) trata esta perspectiva apontando a integração de subculturas e políticas públicas urbanas. O autor traça um panorama de projetos que seguem essa linha destacando a relação destas práticas como “instrumentos de revitalizacão urbana”. Buscando, desse modo, contrapor a condição 17
em que recaem inúmeras intervenções: a gentrificação urbana e cultural; no sentido em que estas podem servir como ferramentas de exclusão social quando incorporadas pela lógica da especulação. Tais minorias culturais compõe um importante papel em opor a espetacularização urbana e o estigma passivo em torno das sociabilidades contemporâneas nas metrópoles. A valorização destas práticas pelo estado sustenta a autonomia e protagonismo destes coletivos a partir de reconhecimento institucional. Possibilitando uma alternativa para estes emanciparem-se dos processos de mercantilização das culturas referidas. Célio Turino (2009) retrata os desdobramentos dos Pontos de Cultura – política pública implementada pelo Ministério da Cultura em 2004 – enquanto proposta de dinamizar o investimento neste setor invertendo o tradicional sistema de regulamentação brasileiro. O autor compreende em seu discurso três pilares que justificam este método: a autonomia, protagonismo e empodeiramento sócio-cultural.
“Os grupos sociais, quaisquer grupos, precisam e querem ver-se no espelho e saber que a imagem refletida é aquela que desejam refletir, seja por meio audiovisual, exposição, dança, literatura, música ou na política.” (TURINO, Célio. 2009.) 18
Seguindo esta lógica, fundamento o projeto a partir desta composição entre ação estatal e culturas marginais. Assim, encaminhando o partido projetual como uma “incubadora urbana” (NEFS, Merten. 2015) ao promover um palco para que tais atividades sejam concebidas e possam ser desenvolvidas a partir de suas dinâmicas próprias. Planejando uma ocupação que até certo ponto seria espontânea, mas constrói uma legitimidade tanto pelos usuários quanto pelo poder público.
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FIG. 03 – FONTE: ARQUIVO PESSOAL
A escolha de Curitiba dá-se, a priori, por reconhecer inquietações que ancoram intervenções condizentes com este embate cultural. Uma destas questões é a linha argumentativa que a Prefeitura segue para legitimar aspectos culturais em detrimento de outros. Nos discursos oficiais há um clara predileção por enfatizar os movimentos migratório que ocorreram para o local a partir de 1820; amparados pela política nacional da época. Referem-se, especificamente, aos imigrantes europeus. Estes compõe, assim, um complexo arranjo cultural. Em meio ao turbulento fim da Guerra do Contestado (1912 - 1916) e a conflituosa relação entre os imigrantes europeus de aceitarem a etnia de seus patrões brasileiros, a busca por uma nova identidade que representasse o Paraná posteriormente culminou no movimento Paranista (1920). Embasado, então, em torno do ideário do colonizador como símbolo do progresso e modernização pretendido pelas elites. Indicando a aspiração por desenvolver um imaginário cultural de heróis e datas comemorativas republicanas exaltando os membros que construíram sociedade paranaen22
se – no caso apenas o branco europeu, o indígena nativo e os bandeirantes paulistas; a população negra era subtraída da história. Desse modo a memória curitibana é traçada por um cenário envolto por insígnias de pinhões e araucárias, e, futuramente, pela instauração de memoriais dedicados à esta leva de imigrantes.
“Ser paranaense é, até certo ponto, um acidente; ser paranista é uma glória!” (GUIMARÃES, Acir. 1940.) “É nesse sentido que podemos dizer que a identidade curitibana foi construída pelo princípio da alteridade, isto é, por uma relação fundada pela diferença (identidade nacional vs. identidade paranaense). Assim, contrapondo ao estereótipo brasileiro – país tropical, povo alegre, que gosta de carnaval e futebol –, criou-se o simulacro para o estado
do Paraná – cosmopolita, com uma diversidade étnica e um povo que ama essa terra –, e para Curitiba – cidade, clima e população com características europeias.” (CARVALHO, Tatiane Valeria Rogerio de. 2016.) Consolida-se, assim, uma comunidade cuja identidade fora, estigmaticamente, estabelecida. Seleto grupo que em seguida passa a reagir com hostilidade às rotas migratórias advindas de território nacional. Frente a tal estrutura de normas sociais estabelecida pelos curitibanos, aqueles que são externos a isso mostram-se como perturbações. Uma clara relação entre outsiders e insiders. A migração nacional incha as capitais com a instalação de indústrias nas primeiras décadas do século XX. Curitiba, então, propõe uma série de projetos urbanos inspirados no modelo republicano nacionalista de modernização do Brasil; dividindo espacialmente a cidade em setores; escancarando uma segre23
gação de cunho político-social. O ideário de “cidade modelo” de Curitiba nasce a partir disto. Baseado em padrões elitistas e higienistas. Consequentemente a cidade é coroada com a 17º posição no ranking das cidades mais desiguais do mundo, segundo o Fórum Urbano Mundial da ONU (2010). Desde o ideário retrógrado do movimento separatista o “O Sul é Meu País”, a apoteose arquitetônica do Jardim Botânico de Curitiba (1991) até a presença de uma elite econômica que se contenta em ser um apêndice cultural, a cidade ainda hoje instiga uma forte rejeição à cultura outsider comprometendo a inclusão e o desenvolvimento social e político.
24 FIG. 04 – FONTE: BRASIL DE FATO HTTPS://TINYURL.COM/Y54HXWFW
“Artistas de rua de Curitiba protestam contra decreto [Decreto Municipal nº 1422/2018] que limita apresentações: medida da Prefeitura traz inúmeras restrições, diminui locais e tempo para apresentações artísticas” Notícia de Brasil de Fato. Curitiba (PR), 15 de Janeiro de 2019.
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FIG. 05 – FONTE: HTTPS://WWW.DEMOCHILAECANECA.COM.BR
Eleita como capital da província do Paraná em 1853, o seu desenho urbano seguia um tradicional molde colonial cujas edificações circundavam a capela central. O crescimento da densidade populacional deu-se com a chegada de imigrantes europeus a partir de 1820 devido à política imigrantista da época. Frente a isto, foram empreendidas as primeiras intervenções na malha urbana e, também, a implantação de estabelecimentos culturais e educacionais. O desenvolvimento econômico visto nos anos posteriores é notável pela expansão do território urbanizado, assim como a inauguração da primeira Universidade do Brasil, a UFPR (1912), visando alcançar os ideais modernos da época. As seguintes propostas de planejamento de Curitiba baseadas – justamente em premissas modernas de intervenção urbana – contribuíram na formação do ideário da cidade enquanto “modelo” a ser seguido pelas demais capitais. Tendo em vista o sucessivo progresso industrial atraindo um grande contingente de imigrantes nacionais, a implantação de um novo projeto urbano mostrou-se necessária. Assim a cidade passa a 28
ser organizada em Centros Funcionais sob uma malha concêntrica. O território, então, divide-se entre três zonas: Zona I (central, definida para estabelecimentos comerciais e moradias de alto padrão), Zona II (industrial, abrangendo moradia de operário qualificados) e Zona III (designada para as moradias de baixo padrão). (IPPUC: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, 2008) A partir desta divisão, os investimentos em estrutura urbana seguiam um direcionamento cujo critério político ressaltava o cenário de segregação sócio-espacial. O Plano Agache (1941-43), implantado em seguida, reflete esta lógica a medida em que distribuia os recursos urbanos de forma setorizada. Frente à obsolescência do Plano Agache devido às demandas populacionais e de estruturação urbana decorrente dos próximos anos, em 1965 aplicou-se um novo método de organização urbana: o Plano Preliminar de Urbanismo (PPU). Este projeto constrói uma base argumentativa amparada em conceitos segregacionistas, reforçando a relação de
insiders e outsiders.
[...] uma certa imigração, especialmente de nacionais [...]. Comparece então, com muito maior vigor o mecanismo do loteamento [...], sem controle do poder público. Tal fenômeno ocorreu especialmente no setor sul, mais plano de menor valor comercial, em virtude das freqüentes inundações da baixada. (PMC. Plano preliminar de urbanismo de Curitiba. Curitiba, Prefeitura Municipal de Curitiba/Serete & Wilheim Associados, 1965, p. 81.) O critério que fundamentou a distribuição de equipamentos urbanos foi a densidade populacional. Contudo a base de dados utilizada pelo PPU derivou das informações do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), e não do Censo do IBGE. Estratégia esta a qual invisibilizava os habitantes analfabetos e não eleitores, sendo estes majoritariamente imigrantes ad29
vindos do interior do país. Os investimentos em infraestrutura, então, concentravam-se no sentido nordeste-sudoeste mascarando as reais demandas da cidade. Em meio ao cenário ditatorial, Curitiba concretiza o título de “cidade modelo” através da implantação deste novo molde urbanístico.
SÉC. XVII SÉC. XVIII - XIX SÉC XIX
PECUÁRIA (TROPEIROS) CICLO DA ERVA MATE E MADEIRA
1820 - 1900
IMIGRAÇÃO (ÁPICE EM 1860)
1850 - 1900
PROSPERIDADE ECONÔMICA E DEMOGRÁFICA
1912
INAUGURAÇÃO UFPR
1927
MOVIMENTO PARANISTA
1920 - 1940
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MINERAÇÃO, AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA
INDUSTRIALIZAÇÃO E MIGRAÇÃO NACIONAL
1943
PLANO AGACHE
1953
PLANO DE ZONEAMENTO
1965
PLANO PRELIMINAR DE URBANISMO (PPU)
1980
AUGE DO MARKETING DA “CIDADE MODELO”
Expansão urbana de 1654 a 2000
FIG. 06 – FONTE: IPPUC
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Mito [de cidade modelo] que na realidade se sustenta a partir do fato que Curitiba tem um planejamento urbano histórico que naquilo que se propôs deu muito certo: o planejamento urbano ex cludente. (MALATESTA, Sylvia. Movimento Popular por Moradia de Curitiba)
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FIG. 07 E 08 – FONTE: IPPUC
Plano Preliminar UrbanĂstico (1965)
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Por que uma rede? A proposta de uma rede procede a partir do entendimento da cidade de Curitiba enquanto conformação hierárquica de territorialidades. A relação periferia-centro resultante dos planos de urbanização situa uma dinâmica de frequente deslocamento. Historicamente, a legislação de uso e ocupação do solo destinava as áreas centrais para o comércio – ou seja, com maior densidade de empregos – circundadas por terrenos residenciais. Em consequência da expansão
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FIG. 09 E 10 – FONTE: IPPUC
urbana, o afastamento longitudinal das periferias gerou uma disposição desigual de infraestrutura urbana e, particularmente, de equipamentos de cultura. Um exemplo explícito disto é a localização dos monumentos em memória à ocupação imigrante, que em sua maioria são comtemplados pela linha de ônibus de turismo. Frente a isso o acesso à cultura associa-se à locomoção até o centro, distanciando a periferia socialmente. A escolha dos locais de intervenção, desse modo, tange a pro-
blemática de mobilidade fora da Regional Matriz (centro histórico). Assim a conexão com a Rede Integrada de Transporte (RIT) mostra-se imprescindível para definir as diretrizes projetuais; visto que esta também abarca a dinâmica metropolitana da capital. Os mapeamentos de renda e densidade populacional das regionais em que irei apontar, também determinaram um fator relevante no processo de escolha. Reforçando, novamente, a concepção de uma estrutura urbana desigual.
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Outro aspecto a ser analisado é o Zoneamento desenvolvido pelo IPPUC vigente na atualidade. Uma das maiores consequências da implantação deste é conformação de Eixos Estruturais pelo território urbano, os quais sistematizam a dinâmica da cidade. Formando, então, “centros lineares” planejados em conjunto com as principais vias de circulação do transporte coletivo. Todavia nota-se que estas zonas formam pólos de gentrificação – visto nos arredores de alguns terminais de ônibus – mas por outro lado também desvalorizam outras áreas ao não prever equipamentos urbanos apesar da densidade populacional – como ocorre na Regional Cidade Industrial de Curitiba.
Parques e Linha de Turismo
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FIG. 11 E 12 – FONTE: IPPUC
Macrozoneamento (2015)
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Densidade populacional (hab/ha)/ Linha Expressa de ônibus
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FIG. 13 E 14 – FONTE: IPPUC
Rede Integrada de Transporte/Cultura Terminal Cidade Industrial de Curitiba
Terminal nho
Pinheiri-
Terminal BoqueirĂŁo 41
Escolha dos locais de intervenção: 42
A partir dos parâmetros apresentados, aponto três áreas sob influência direta de fluxos decorrentes dos terminais de ônibus. Situo, assim, espaços cujo potencial corresponde à proposta de diretrizes da Rede Integrada de Cultura e, assim, alavancam a possibilidade de formalizar conexões paralelas às esferas centrais de lazer. E além disso, visando estruturar uma identidade cultural da periferia criticando uma visão excludente de inferiorização e criminalização de tais expressões na cidade.
Gráficos de faixa etária 0 - 14 anos 15 - 29 anos 30 - 64 anos + 65 anos
Neste trabalho irei desenvolver mais detalhadamente o projeto na Regional Pinheirinho, mas pontuo a viabilidade da implantação dos equipamentos nas outras áreas. 1. Terminal CIC: Regional Cidade Industrial de Curitiba:– bairro CIC Densidade: 29,07 hab/ha Renda média: R$ 2.148,14 2. Terminal Pinheirinho: Regional Pinheirinho - bairro Capão Raso Densidade: 59,70 hab/ha Renda média: R$ 2.882,5 3. Terminal Boqueirão: Regional Boqueirão – bairro Alto Boqueirão Densidade: 49,58 hab/ha Renda média: R$ 2.837,22 FIG. 15 – FONTE DE DADOS: PREF. CURITIBA
FIG. 16 – BASE DO MAPA:IPPUC
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Análise de inserção urbana
FIG. 17 – BASE DO MAPA: IPPUC
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Boqueirão
Pinheirinho
Cidade Industrial
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FIG. 18 – BASE DO MAPA: IPPUC
FIG. 19 – BASE DO MAPA: IPPUC
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FIG. 20, 21 E 22 – FONTE: GOOGLE EARTH
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Equipamentos urbanos planejados devem ser entendidos como equipamentos de poder, pois atuam dividindo certos espaços, integrando, combinando ou bloqueando outros, reforçando as hierarquias sociais e normalizando comportamentos. (...) Os equipamentos urbanos cuidadosamente planejados e distribuídos na cidade [de Curitiba] expressam, e ao mesmo tempo atuam sobre, o jogo de forças pela apropriação dos bens urbanos de ordem material e simbólica. (SOUZA, Nelson Rosário de.)
“Não piso em terra de playboy.” fala de Mano Brown ao apresentar-se de cadeira de rodas em um show em Curitiba.
50 FIG. 23 – FONTE: REVISTA CULT HTTPS://TINYURL.COM/Y47G8N5A
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A função cultural na cidade opera indissociavelmente ao espaço ocupado, assim desenvolve o “habitar poético” (HEIDEGGER, 2008. apud BLOOMFIELD, T. 2010). Seria ilógico, então, considerar as artes como uma linguagem autônoma. Trata-se de uma reflexão perante a expansão desta enquanto potência cultural e identitária; ou seja, é uma ferramenta de articulação social. A partir disso Giulio Carlo Argan (1993) define a cidade como um produto artístico a medida em que se percebe a articulação entre fatores estéticos, éticos, culturais, sociais, econômicos e políticos. O espaço toma responsabilidade de despertar a ideia do coletivo a partir de sua capacidade de comunicação. Desse modo, a arte entra como um convite, assim, compreende-se em um campo ampliado (BEYUS, Joseph. 1997). Seguindo a lógica de que a experiência humana é inerente ao pensamento artístico e vice-versa, a estética do trabalho do homem tende a aproximar-se da esfera das artes. O sujeito,
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então, passa a conceber um reconhecimento próprio e do cenário que o circunda. A rua possui uma complexa multiplicidade de vivências, as quais impactam diferentes percepções e julgamentos de valor. Os grupos ocupantes devem ter liberdade para residir atividades coerentes ao seu referente campo de expressão subvertendo, assim, a autoridade do mercado. Em contraponto aos meios institucionalizados de consumo artístico-cultural, o reconhecimento da cultura de rua embasa uma representação popular. Nota-se que diversos coletivos atuam em Curitiba, mas proponho o estudo de duas esferas culturais marginais – o punk e o hip hop – para análise de suas práticas e meios de ocupar a cidade. Estudos estes que nortearam a definição do programa arquitetônico. Não excluo a possibilidade de outros grupos periféricos residirem no proposto projeto, apenas reitero este argumento visto a influência desses grupos em específico na região.
FIG. 24 E 26 – FONTE: HTTP://WWW.JORLE.COM.BR/ FIG. 25 – FONTE: JUNIOR, JOSE GERALDO DA SILVA
cena punk e hip hop curitibana
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O indivíduo punk era “sujo, podre, violeno, anti-burguês, anti-hippie, anti-moda, e o visual era o escrachado” (PEDROSO; BORGES, 1983. apud VIEIRA, T. 2011.) A cena punk brasileira compreende um complexo panorama de produção de identidades e representatividade política. Dentro desta cultura independente e alternativa surgem diversas correntes cujos preceitos podem divergir, porém a mais recorrente e que impera em vários discursos é a crítica ao sistema capitalista.
“Contra todas as ditaduras: a ditadura política e a ditadura do mercado.” (MORAES, E. 2010) Estes grupos – em sua maioria de regiões periféricas de grandes cidades – desenvolvem diversos meios de manifestações desde poesia até atos políticos, cujos temas recorrentemente abordam problemáticas sociais. Assim sua autonomia decorre da crítica ao consumismo cultural e a desvinculação da mídia tradicional, sofrendo, então, a marginalização deste movimento pela sociedade.
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A cena Hip Hop movimenta uma luta por reconhecimento na cidade ao ocupar os espaços de diversas formas. Seja por manifestações visuais, musicais ou pela presença dos grupos, estes alavancam uma mobilização política a fim de receber recursos do poder público e aproximação da população em geral.
MCs, DJs, B.Boys/B.Girls e Escritores/Escritoras de graffiti dão início a este trabalho de mobilização política cuja meta é o reconhecimento social, cultural e político do movimento em que se inserem bem como de suas próprias singularidades confrontando a “desterritorialização simbólico-cultural” (JUNIOR, J. 2014) A comunicação dos membros com a sociedade é inerente ao trabalho de reconhecimento, então busca-se conformar meios para que isso ocorra em diversos pontos da cidade. Conectando e mobilizando os grupos e territórios envolvidos, a fim de provocando o imperativo do consumo cultural que invisibiliza tal cultura periférica.
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como as culturas punk e hip hop apropriam-se do espaço Bandas independentes são recorrentes na cena musical punk visto a crítica ao sistema de consumo cultural. Os shows acontecem tanto em locais fechados quanto em ruas e praças públicas.
Um dos elementos que compõe a cena musical hip hop são os MCs (mestre de cerimônia) em conjunto com os DJs (disk jockey). A letra pode incluir pautas sócio-políticas, visibilizando o debate.
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Oficinas e workshops são práticas comuns tanto entre estes grupos quanto outros coletivos. Ocupando, assim, diversos espaços a depender de seus processos produtivos.
Pistas de skate frequentemente são usadas como ponto de encontro de ambos os grupos. Estas são ocupadas por skatistas, usuários de patins e bicicletas. Os espaços também costumam ser apropriados por grafiteiros.
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como as culturas punk e hip hop apropriam-se do espaço Visto que a cultura punk rejeita a mídia tradicional, é natural que os grupos produzam seu próprio material gráfico. Estes produtos abrangem desde zines até panfletos e cartazes.
As batalhas de rap são compostas por dois MCs que se enfrentam em um duelo de rimas improvisadas; existindo duas vertentes, a batalha de sangue e a de conhecimento. Normalmente ocorrem em ruas e praças como um evento público.
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Os beatmakers produzem, por meio de MPCs (Music Production Controllers), softwares e outros meios digitais, as batidas que acompanham os versos dos MCs. É comum o compartilhamento dessas técnicas por meio de oficinas.
O estilo de dança break concebe duelos e rodas de dança. Estas atividades também ocupam espaços públicos. Os b-boys e b-girls (break boys e break girls) também podem formar grupos organizados denominados “crews”.
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A obra que separa o problema da solução, tem seu imperativo projetual enfraquecido. A organização do espaço não paira apenas sob um ideário funcional; a expressividade de um território tida a partir da concepção de quem o habita define-o melhor que tábulas rasas assépticas. Incorporar a realidade como esta se mostra – heterogênea e caótica – dá visibilidade ao excluído. Em contraponto à cidade genérica de Rem Koolhaas, destaco a cidade informal. As dinâmicas incluídas nestes espaços não enquadram-se neste estereótipo indicado pelo arquiteto. É necessário certo resguardo ao analisar um complexo arranjo de práticas culturais urbanas sem recair ao banal. Então, qual seria o “estilo mais democrático para a cidade” sem refutar a diversidade da existência de trocas e ocupações so-
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ciais? E como fazer um espaço institucional ser ocupado por grupos marginalizados de modo espontâneo sem ser genérico? Por outro lado o conceito do genérico também tem a capacidade de abarcar certa complexidade. Então agregar tal diretriz enquanto concepção não limitante destas práticas pode gerar uma arquitetura que atende a tais demandas. Assim, promovendo um palco para uma apropriação subversiva destas culturas que, justamente, se propõe como instrumentos de resistência. Portanto para o seguinte projeto tomo como base uma perspectiva que segue tal conceito do genérico, contudo levo em conta o debate em relação à massificação da cultura; então busco propor uma arquitetura que não generaliza os grupos ocupantes.
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PARQUE CULTURAL TIUNA EL FUERTE (2006) LAB.PRO.FAB – VENEZUELA
ARTICULAÇÃO POPULAR PROJETO COLABORATIVO
APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO GESTÃO COMUNITÁRIA
68 FIG. 27 – FONTE: HTTP://NOSABEMOSDISPARAR.BLOGSPOT.COM
OCUPAÇÃO CULTURAL NOVO USO PARA ÁREAS SUBUTILIZADAS
EXPRESSÃO ARTÍSTICA LOCAL NOVA CENTRALIDADE CULTURAL
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TEATRO OFICINA (1984 – 1994) LINA BO BARDI E EDSON ELITO – SÃO PAULO
DINÂMICA ATOR-PLATÉIA-TÉCNICOS CONFORMAÇÃO ESPACIAL
RELAÇÃO DA RUA COM O ESPAÇO CÊNICO
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FIG. 28 – FONTE: ARCHDAILY
SISTEMA ESTRUTURAL
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CORREDOR CRIATIVO NESTOR GOMES (2015) PREFEITURA DE VITÓRIA (ES)
COMÉRCIO ALTERNATIVO ATELIERS DE ARTISTAS POLÍTICA PÚBLICA
CENTRO HISTÓRICO DE VITÓRIA 72 FIG. 29 – FONTE: HTTPS://IMGGRA.COM/USER/CORREDORCRIATIVO/1585112041
PASSAGENS SUBTERRÂNEAS BRASÍLIA
ARTE NA DINÂMICA URBANA PIXO É ARTE
APROPRIAÇÃO ARTÍSTICA DAS PAREDES VISIBILIDADE E EXPRESSÃO
FIG. 30 – FONTE: PORTAL EBC HTTPS://TINYURL.COM/YYREWR9R
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CONICAL INTERSECT (1975) GORDON MATTA-CLARK – NOVA YORK
NOVA FIGURAÇÃO PERSPÉCTICA RESSIGNIFICAÇÃO COM O ESPAÇO
QUESTIONAMENTO DA ARQUITETURA PÚBLICA X PRIVADA 74
FIG. 32 – FONTE: HTTP://WWW.JEUDEPAUME.ORG/INDEX.PHP?PAGE=ARTICLE&IDART=3005
ESCULTURA SHIT HAPPENS (2014) RIO RAMP DESIGN – MAM RJ
CULTURA DE RUA EM MUSEUS INTERAÇÃO ESCULTURA – PÚBLICO
FIG. 31 – FONTE: HTTPS://RIOADENTRO.BLOGOSFERA.UOL.COM.BR
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ARTE PÚBLICA TERMINAL DE ÔNIBUS PINHEIRINHO MAPA COLABORATIVO MEMÓRIA COLETIVA EXPERIÊNCIA DO COTIDIANO IDENTIDADE TERRITORIAL 76
DESCARTÓGRAFOS (2008) COLETIVO E/OU – CURITIBA
POR UMA PRÁTICA AVESSA À MIMESE E À SUPERESTIMAÇÃO DA PUREZA ARTÍSTICA, POR UMA ARTE NÃO COADJUVANTE E ÀS SOMBRAS DO SISTEMA DE MANUTENÇÃO DE PRIVILÉGIOS DAS ELITES ECONÔMICAS, PELA CRÍTICA À CULTURA AUTORITÁRIA E REPRESSIVA DO “GOSTO REFINADO”, POR UMA REPRESENTATIVIDADE LEGITIMAMENTE POPULAR – ATENTEMOS, ENTÃO, À ARTE URBANA E PÚBLICA. “É PRECISO REALOCAR O URINOL DE DUCHAMP NA RUA E INSTALÁ-LO NO POSTE.” (GOTO, N. MEMBRO DO COLETIVO E/OU. 2010)
FIG. 31 – FONTE: HTTPS://LUCIODEARAUJO.WORDPRESS.COM/PORTFOLIO/COLETIVO-EOU/
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diretrizes
Contrapor os processos de espetacularização de culturas urbanas e o ideário de “cidade modelo”.
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Reconhecer culturas marginais e promover representatividade popular, também, sob âmbito estatal.
projetuais
Descentralizar o acesso à cultura enfrentando a problemática da mobilidade. Abranger a categoria metropolitana de Curitiba e articular a relação de produção artística com o público.
Oferecer locais de livre apropriação e conformação espacial cuja formulação identitária advém do coletivo.
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inserção urbana O ponto de intervenção da Rede Integrada de Cultura elegida para os seguintes detalhamentos situa-se dentro da Regional Pinheirinho. Como já apontado anteriormente, esta agrupa um Eixo de Estruturação Urbana previsto pelo Plano Diretor; o qual perpassa pelo Terminal de Ônibus existente. A área em destaque é atravessada pela Rodovia Régis Bittencourt e
compõe um cenário urbano que varia desde áreas residenciais de baixa densidade, um eixo comercial, complexos industriais tanto abandonados quanto ativos e – mais recentemente – empreendimentos imobiliários de moradia de grande porte. Portanto o Terminal conglomera um intenso fluxo de passageiros conformando um ponto importante para o bairro.
FIG. 34 – BASE DO MAPA: IPPUC
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FIG. FIG. FIG. FIG. FIG. FIG.
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FONTE: FONTE: FONTE: FONTE: FONTE: FONTE:
PREFEITURA DE CURITIBA HTTPS://TINYURL.COM/YXQTPX4L HTTPS://TINYURL.COM/YXM4C9Z8 PREFEITURA DE CURITIBA HTTPS://TINYURL.COM/Y4T8VHSK TOYAMA, ALAIN
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FIG. 42 E 46 – BASE DA IMAGEM: GOOGLE EARTH
O lote, anteriormente ocupado por uma empresa de transportes, agora encontra-se inativo. Nos últimos anos, após o encerramento das atividades do estabelecimento, as edificações foram abandonadas. Estas estruturas atualmente apresentam-se apenas enquanto cascas, sem cobertura, cujo terreno é inteiramente cerceado por muros. A proposta de ocupação desenvolve-se englobando algumas das construções existentes apesar de não possuírem valor histórico. A partir do entendimento das práticas culturais marginais analisadas no processo do trabalho, procuro, então, reutilizar algumas estruturas da antiga edificação. Visto que tais coletivos também compreendem a disputa do espaço público e privado, a apropriação – mesmo que subversiva – da cidade é inerente a tal argumento. FIG. 43, 44 E 45 – FONTE: ARQUIVO PESSOAL
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Planta de demolição
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implantação
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planta tĂŠrreo Planta
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planta primeiro pavimento Planta
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As passarelas em estruturas metálicas remetem a andaimes e conformam uma continuidade visual durante o percurso dentro do projeto. Em contraponto ao aspecto temporário dos andaimes tradicionais, o caráter permanente deste componente requer estruturas mais rígidas, justificando o uso de pórticos treliça-
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dos, os quais sustentam o piso de chapas metálicas. A opção por pilares engastados dá-se a fim de evitar a necessidade de estruturas de contraventamento, como ilustrado abaixo. Assim, apresenta-se como sistema independente, portanto não interfere na distribuição de cargas nas edificações existentes.
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O primeiro pavimento dos edifícios de oficina dispõem de um amplo espaço com paredes internas flexíveis a depender do uso. A concepção destes “espaços genéricos” visa não cercear a livre apropriação dos usuários. Assim, a ocupação pode variar desde oficinas até palestras; sendo que estas podem contar com espaços de armazenamento. Os edifícios de informática visam amparar atividades que dependem de equipamentos técnicos; como produção musical e rádios pirata.
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Corte esquemรกtico com detalhes das aberturas das janelas e portas
Esquema de encaixe do fechamento em chapa perfurada e painel da janela 102
Isométrica do edifício de oficinas 103
A fim de criar novas centralidades culturais é necessário prever acessibilidade, também, para os atuantes nesta área, como artistas e atletas. Visto isto, propõe-se uma pousada com intuito de dinamizar o fluxo de pessoas e eventos. A proposta dos ateliers incluem-se nesta lógica; buscando, além disso, diversificar os espaços expositivos. Os esquemas abaixo ilustram elementos construtivos nesses edifícios.
Detalhe do encaixe das peças treliçadas
Detalhe do piso de lajes alveolares cujo alvéolo incorpora fôrma de aço 104
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As estruturas em concreto das edificações pré existentes são incorporadas no programa do complexo cultural. O conjunto dos antigos galpões abrigam o anfiteatro aberto e a cozinha comunitária ligada ao restaurante/lanchonete. O térreo aberto permite a livre circulação de pessoas, assim também não obstrui vista dos trabalhadores do local. O espaço expositivo prevê amplos espaços para dispor instalações de diversos tamanhos. A biblioteca é posicionada a fim de articular uma relação com a escola pública localizada de frente ao lote.
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“Quando subculturas começam a criar uma vida cultural em uma área deteriorada, sua ação pode atrair um público que segue as novidades culturais e, indiretamente, atividades comerciais como restaurantes, lojas e galerias. A presença e manifestação física de subculturas podem acelerar ou até iniciar o processo de revitalização urbana.” (NEFS, Merten. 2015.) 108
Isométrica do galpão central
Isométrica do edifício de exposições 109
pista de skate e espaรงo expositivo
Entre o espaรงo expositivo e o galpรฃo central
110 biblioteca
passarela central
vista do mirante
intervenção no muro prÊ existente 111
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