Fueled
K. BROMBERG
Fueled Série Driven Livro 2
Fueled Copyright © 2013 by K. Bromberg Copyright © 2015 by Universo dos Livros Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Diretor editorial: Luis Matos Editora-chefe: Marcia Batista Assistente editorial: Letícia Nakamura Tradução: Monique D’Orazio Preparação: Francisco Sória Revisão: Juliana Gregolin e Tássia Carvalho Arte: Aline Maria e Valdinei Gomes Capa: Rebecca Barboza Projeto gráfico e diagramação: Vanúcia Santos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 B811f Bromberg, K. Fueled / K. Bromberg ; tradução de Monique D’Orazio. –– São Paulo : Universo dos Livros, 2018. 512 p. (Driven, 2) ISBN: 978-85-503-0290-4 Título original: Fueled 1. Literatura norte-americana – Romance 2. Literatura erótica 3. Automobilismo I. Título II. D’Orazio, Monique 18-0270
CDD 813.6
Universo dos Livros Editora Ltda. Rua do Bosque, 1589 – Bloco 2 – Conj. 605 Barra Funda – Cep: 01136-001 – São Paulo/SP Telefone/Fax: (11) 3392-3336 www.universodoslivros.com.br E-mail: editor@universodoslivros.com.br Siga-nos no Twitter: @univdoslivros
Para J.P. Obrigada pela paciência enquanto eu encarava este desafio que sempre foi meu sonho. Ah, e olha aqui, isso não é mais apenas um hobby…
Prólogo
COLTON
Malditos sonhos. Pedaços de tempo misturados que despencam no meu subconsciente. Rylee está aqui. Preenchendo-os. Consumindoos. E, porra, é incrível como a constante visão dela num lugar geralmente muito nublado por essas memórias horríveis me invade com uma sensação de calma – acho que pode ser esperança – e me faz perceber que posso mesmo ter uma razão para me curar. Que posso ter um motivo para superar as coisas fodidas que espreitam por aqui. Que o abismo negro no meu coração pode ter a capacidade de amar. A presença dela aqui, em um lugar tão escuro, me faz pensar que as feridas que consomem minha alma, sempre purulentas e abertas, podem enfim cicatrizar. Estou sonhando – e sei que estou sonhando –, então como é possível que ela esteja em toda parte, até nos meus sonhos? Ela rouba meus pensamentos a todo instante, durante todos os malditos dias, e agora está se esgueirando para a porra do meu subconsciente. Ela me empurra. Me abate. Me consome. Ela me deixa apavorado. Rylee parece o início de uma corrida, fazendo com que meu coração pare e acelere ao mesmo tempo. Ela me traz pensamentos que eu não deveria ter. Escava fundo na minha escuridão e me faz pensar nos quandos, não nos ses. Porra!
Devo estar mesmo sonhando para pensar numa puta besteira como essa. Quando foi que me tornei covarde desse jeito? Becks vai acabar comigo quando me ouvir falar uma merda dessas. Não pode ser mais do que a necessidade de me enterrar nela de novo. De sentir seu corpo morno debaixo do meu e de me afundar nele. Curvas suaves. Seios firmes. Boceta apertada. É só isso. Até lá vou ficar bem. Minha cabeça vai voltar ao lugar. Bom, na verdade, as duas cabeças. E, uma vez satisfeito, vou ser capaz de me concentrar em alguma outra coisa que não seja essa merda inútil que são os sentimentos e um coração palpitante incapaz de dar ou de aceitar o amor. Só pode ser a novidade representada por ela que me faz sentir como uma putinha carente; tanto que não tenho sonhado mais com aquele corpo perfeito e sem rosto com que sempre sonho e, sim, especificamente com ela. Existe algo tão sexy nela que me faz perder a cabeça. Merda, chego a cultivar a mesma expectativa pelo tempo que vou passar com ela antes de fodê-la, quanto pela foda em si. Bom, quase. À diferença de tantas outras garotas que se jogam para cima de mim de modo descarado e sexual, com os peitos de fora e um olhar que me sugere fazer o que eu quiser com eles, e com as pernas prontas para se abrir num estalar de dedos. E, pode acreditar, na maioria das vezes, sou apenas um joguete nas mãos delas. Rylee, no entanto, foi diferente desde o início, desde o momento em que caiu daquela porra de armário para dentro da minha vida. As imagens tremulam nos meus sonhos. O choque inicial, quando ela me fitou com aqueles olhos magníficos pra caralho. A primeira vez que senti seu gosto, que ficou impresso na minha mente, me causou um arrepio na coluna, agarrou minhas bolas e me disse que não a deixasse ir embora, que eu precisava tê-la a todo custo. A imagem daquela bunda oscilando de um lado para o outro quando ela se afastou sem olhar para trás, me provocando com algo que eu nunca tinha achado sexy: um desafio. As imagens continuam a se suceder. Rylee ajoelhando-se para Zander, tentando trazer sua alma ferida para fora do esconderijo; montada no meu colo, vestida com a camiseta e a calcinha de que eu mais gosto, ontem à noite no pátio; no escritório dela, quando
confusão misturada com raiva percorreram suas feições incríveis, depois da minha oferta irrecusável; Rylee parada na minha frente de calcinha e sutiã de renda, oferecendo-se, me concedendo tudo. Porra, Donavan, acorda! Você está sonhando. Acorda e vai atrás do que você quer. Ela está bem aí. Quente. Convidativa. Tentadora. A frustração toma conta de mim. Frustração por estar tão desesperado de desejo e não poder sair desse sonho e fazer o que eu bem entender com seu corpo sensual e pecador. Talvez seja isso. Ela não se dá conta do quanto é sexy. Diferente das inúmeras mulheres anteriores, que passavam horas olhando para si mesmas, analisando seus melhores ângulos, ela não tem a menor ideia. Suas imagens da noite anterior me consomem. Ela me olhando com os olhos cor de violeta, o lábio inferior carnudo entre os dentes, e seu corpo respondendo e se submetendo a mim por instinto. Sua marca registrada: perfume de baunilha misturado com xampu. Seu gosto viciante, doce e pecaminoso. Irresistível e inocente, malvada e tentadora, tudo dentro de uma embalagem curvilínea. Só de pensar, fico de pau duro. Só preciso de mais uma com ela. Nunca é o suficiente. A não ser que a novidade passe e eu siga em frente, como de costume. Não vou me submeter ao poder sexual de nenhuma mulher. Por que vou me apegar a alguém que, no fim, vai me deixar? A alguém que vai sair correndo após descobrir a verdade mais íntima a meu respeito, o veneno que se impregna na minha alma. Sexo casual é exatamente o que eu preciso. É a única coisa que eu desejo. A única coisa que vou permitir. Sinto sua mão acariciar meu abdome e mergulho na sensação. Merda, preciso disso agora. Preciso dela agora mesmo. Só de saber que algo apertado quente e molhado, algo que eu tanto desejo, está ao meu alcance, meu pau já acorda. A um estalar de dedos está a possibilidade de mergulhar na maciez do seu corpo e esquecer toda essa merda que está na minha cabeça. Minha ereção matinal chega a ser dolorosa, a implorar por ela. Meu corpo fica tenso quando me dou conta de que os braços que me envolvem não são macios ou suaves nem têm perfume de baunilha, como os de Rylee. Tremores de repulsa sacodem minha coluna e reviram meu estômago. A bílis sobe até a garganta e me
sufoca. O cheiro de cigarros velhos e bebida barata permeia o ar, exalando dos poros dele por causa da intensa excitação. Sua barriga avantajada se encosta nas minhas costas e seus dedos carnudos e implacáveis se espalham sobre meu abdome. Fecho os olhos com força, e o som do meu coração disparado sobrepõe meus gemidos fracos de protesto. Homem-Aranha. Batman. Super-Homem. Homem de Ferro. Estou com tanta fome, tão fraco por não comer durante todo esse tempo em que a mamãe está fora, numa viagem, que estou dizendo a mim mesmo para não resistir. Mamãe disse que, se eu for bonzinho e fizer o que ela mandar, nós dois vamos ser recompensados. Que essa atitude por ela faz com que ela me ame; ela vai conseguir dele sua dose de “mamãe está se sentindo bem”, e eu terei aquela maçã meio comida e dois biscoitos embrulhados em plástico que, por sorte, ela achou em algum lugar e trouxe. Meu estômago dói e minha boca se enche de água só de pensar que vou comer alguma coisa depois de tantos dias. Homem-Aranha. Batman. Super-Homem. Homem de Ferro. Tenho que ser bonzinho. Tenho que me comportar. Repito esse mantra para mim mesmo enquanto o queixo barbado arranha meu pescoço por trás. Tento segurar a náusea e, embora não tenha nada no estômago para vomitar, meu corpo dá um espasmo violento, tentando mesmo assim. O calor do corpo dele nas minhas costas – sempre nas minhas costas – faz escorrer as lágrimas que tento tanto impedir. Ele geme no meu ouvido – meu medo o excita – e as lágrimas escorrem sob minhas pálpebras apertadas. Rolam pelo meu rosto e caem no colchão mofado da minha mãe, que fica no chão. Digo a mim mesmo para não resistir a essa coisa cada vez mais dura que está pressionando meu traseiro. Eu me lembro bem demais do que acontece quando eu resisto. Resistir ou não, as duas opções são doloridas, um pesadelo que termina sempre do mesmo jeito: na luta contra a dor, ou na aceitação da dor, mas sem lutar contra ela. Será que dói quando a gente morre? Homem-Aranha. Batman. Super-Homem. Homem de Ferro. – Eu te amo, Colty. Faça isso pela mamãe e eu vou te amar de novo, está bem? Um bom menino faz tudo pela sua mamãe. Tudo.
Amar quer dizer fazer coisas assim. Se você me ama de verdade e sabe que eu te amo, faça isso, assim a mamãe pode ficar bem de novo. Eu te amo. Sei que você está com fome. Eu também estou. Eu disse pra ele que desta vez você não vai resistir porque você me ama. Sua voz suplicante ressoa no meu ouvido. Sei que posso gritar à vontade que ela nunca vai abrir a porta para me ajudar, mesmo que esteja sentada do outro lado. Sei que ela ouve meus gritos – a dor, o terror, a perda da inocência, – mas está tão chapada, a urgência da sua necessidade é tão forte que ela não se importa. Ela precisa da droga que ele vai lhe dar assim que terminar comigo. O pagamento dele. É só com isso que ela se importa. Homem-Aranha. Batman. Super-Homem. Homem de Ferro. Homem-Aranha. Batman. Super-Homem. Homem de Ferro. Repito o nome dos super-heróis, minha fuga silenciosa deste inferno. Do medo que corre nas minhas veias, cobre minha pele de suor e inunda o ar com esse cheiro inconfundível. Repito os nomes mais uma vez. Rezo para que um desses quatro heróis venha me salvar. Lutar contra o mal. – Me fala – resmunga ele –, fala, ou vou te machucar mais até você dizer. Mordo o lábio até sentir o gosto metálico do sangue, na tentativa de não chorar de medo e de terror. Para dar a ele o que ele quer, meus gritos pedem pela ajuda que nunca chegará. Ele me agarra com força. Me machuca muito. Eu desisto e digo o que ele quer ouvir. – Eu te amo, eu te amo, eu te amo… – repito mais e mais, sem parar até a respiração dele acelerar com a excitação provocada pelas minhas palavras. Enterro as unhas nos punhos cerrados, e as mãos dele agarram minhas costas. Seus dedos grossos encontram o cós da minha cueca esgarçada, a única que eu tenho, e eu ouço ele rasgá-la em movimentos bruscos de excitação. Prendo a respiração, meu corpo está tremendo muito porque sabe o que vem depois. A mão segura o volume entre minha virilha e me aperta com tanta força que machuca, enquanto a outra mão me parte ao meio por trás. Homem-Aranha. Batman. Super-Homem. Homem de Ferro. Não posso fazer nada. Estou com fome, mas… dói demais. Encolho o corpo junto ao dele.
– Não! – escapa dos meus lábios feridos. Luto com força para fugir do que acontece em seguida. Sacudo o corpo com violência e acerto alguma parte dele quando saio da cama num salto e fujo por um momento. O medo me consome e me engole quando ele se levanta do colchão manchado e vem até mim, uma expressão determinada no rosto e um desejo nos olhos. Tenho a impressão de ouvir chamarem meu nome. A confusão se agita na minha mente sobrecarregada de emoções. O que ela está fazendo aqui? Ela tem que ir embora. Ele vai machucá-la. Merda! Rylee também, não. Meus pensamentos desvairados gritam para ela fugir, para dar no pé, mas não consigo colocar as palavras para fora. O medo as aprisionou na minha garganta. – Colton. O horror vai se dissolvendo devagar na minha cabeça e se infiltra na luz matinal suave que entra pelo meu quarto. Não sei se posso confiar no que vejo. O que é real? Tenho trinta e dois anos, mas sinto como se tivesse oito. O ar frio da manhã se mistura com o brilho do suor que cobre meu corpo nu, mas o frio que sinto está no fundo da alma e eu sei que, por mais quente que eu esteja, nada vai me aquecer. Todo o meu corpo está tenso com o ataque iminente. Levo um tempo para me dar conta de que ele não está aqui de verdade. Olho para outro lado com o sangue pulsando nas veias e fixo o olhar em Rylee. Ela está sentada na cama gigantesca. Os lençóis de um tom azul-claro rodeiam sua cintura, e seus lábios estão inchados de dormir. Olho para ela, torcendo para que seja real, mas não acredito muito. – Que merda! – Solto o ar de modo entrecortado, relaxo as mãos e as esfrego no rosto, na tentativa de dissipar o pesadelo. A aspereza da barba por fazer, em contato com minhas mãos, é bem-vinda. Indica que estou mesmo aqui. Que sou um adulto e que ele não está por perto. Que não pode mais me machucar. – Meeerrrdaaa! – Esfrego o rosto de novo tentando dar um tempo no caos que há dentro da minha cabeça. Deixo as mãos caírem do lado do corpo. Quando Rylee se mexe, minha visão entra em foco. Bem devagar, ela levanta a mão e acaricia meu ombro oposto. Seu rosto se contrai de dor, mas seus olhos focados em mim demonstram
preocupação. Eu a machuquei? Puta merda! Eu a machuquei. Isso não pode ser real. Meus nervos estão a milhão. A mente está agitada. Se isso é real, e se é mesmo Rylee, por que ainda sinto o cheiro dele? Como posso ainda estar sentindo a barba dele arranhando meu pescoço? Como posso ainda ouvir seus gemidos de prazer? Sentir dor? – Rylee, eu… Eu juro que o gosto dele ainda está na minha boca! Meu Deus. Meu estômago se revolve com o pensamento que a memória evoca. – Me dá uma porra de um minuto. – Não consigo chegar ao banheiro rápido o bastante. Preciso me livrar desse gosto na boca. Nem bem chego lá, caio de joelhos e esvazio o conteúdo inexistente do estômago no vaso. Meu corpo estremece com força enquanto faço o que posso para expurgar cada vestígio dele de dentro de mim, mesmo que os vestígios estejam apenas na minha mente. Escorrego para o lado, encosto na parede de azulejos, e o frio do mármore contra a pele quente me faz sentir bem. Limpo a boca com as costas da mão trêmula. Encosto a cabeça, fecho os olhos e tento empurrar as memórias para o esconderijo, mas é tudo em vão. Homem-Aranha. Batman. Super-Homem. Homem de Ferro. Que merda aconteceu? Faz quinze anos que não tenho esse sonho. Por que fui ter agora? O que foi – merda! Mas que merda! Rylee. Rylee viu tudo. Rylee foi testemunha do pesadelo que eu nunca confessei. O pesadelo cheio de coisas que ninguém nunca ficou sabendo. Será que eu disse alguma coisa? Será que ela ouviu? Não, não, não! Ela não pode descobrir. Ela não pode estar aqui. A vergonha recai sobre mim e para na garganta, forçando-me a respirar fundo para não vomitar de novo. Se ela souber as coisas que fiz – as coisas que ele me fez fazer, as coisas que fiz sem me opor –, vai saber que tipo de pessoa eu sou. Ela vai saber como sou horrível, imundo e imprestável. Por que amar alguém, por que aceitar o amor de alguém que não serve para mim? Nunca. O medo arraigado que vive na superfície do meu interior, sobre alguém descobrir a verdade, borbulha e sobe, escorre pela borda.
Puta que pariu! De novo não. Meu estômago reage violentamente, e quando minhas náuseas secas se acalmam, dou descarga e me forço a levantar. Vou tropeçando até a pia e, com as mãos agitadas, aperto o tubo de pasta de dentes na escova e escovo os dentes agressivamente. Fecho os olhos, mandando os pensamentos embora, ao mesmo tempo em que tento me lembrar da sensação das mãos de Rylee – em vez de qualquer uma das inúmeras mulheres que usei descaradamente por todos esses anos, sob o pretexto de atenuar o horror na minha mente –, para conseguir apagar as memórias. De usar o prazer para enterrar a dor. – Porra! – Não dá certo, então escovo os dentes até sentir o gosto de cobre do sangue da gengiva. Jogo a escova na pia, encho de água as mãos em concha e espalho no rosto. Pelo reflexo do espelho, vejo os pés de Rylee entrando no banheiro. Respiro fundo. Ela não pode ver isso. Ela é muito inteligente, tem muita experiência com esse tipo de coisa, e eu não estou pronto para revelar meus segredos, para expor tudo e passar um pente fino. Acho que nunca estarei. Enxugo o rosto na toalha sem saber o que fazer. Quando a jogo de lado, olho para Rylee. Meu Deus, como ela é linda. É de tirar o fôlego, ela é linda pra caralho. As pernas saindo da minha camiseta toda amassada, o delineador borrado, o cabelo despenteado depois de dormir e uma marca do travesseiro no rosto não a fazem menos atraente. Por algum motivo, quase provocam o efeito oposto. Fazem com que ela pareça tão inocente, tão intocável. Eu não a mereço. Ela é muito mais do que alguém como eu merece. E agora está perto demais, mais perto do que eu já deixei alguém chegar. Isso me aterroriza. Nunca deixei ninguém se aproximar até agora porque isso significa que segredos começarão a ser revelados e que passados começarão a ser descobertos. E porque isso significa que você precisa. Até hoje, só precisei de mim mesmo. Precisar dos outros acaba em dor. Em abandono. Em horrores indizíveis. E, ainda assim, preciso de Rylee neste instante. Cada célula do meu corpo quer correr para ela, puxá-la contra mim e agarrar-se a ela neste exato momento. Usar o calor de sua pele macia e o som da sua respiração para aliviar a pressão que se
expande no meu peito. Quero me perder nela para me encontrar de novo – nem que seja por um minuto – e, por esse simples motivo, ela precisa ir embora. Por mais que eu queira, não posso… Não posso fazer isso com ela. Comigo. Com a minha vida tão bem planejada e com meu modo de lidar com as coisas. Sozinho é melhor. Sozinho, eu sei o que esperar. Posso mapear as situações e atenuar os problemas com antecedência. Porra! Como vou fazer isso? Como vou afastar a única mulher em quem pensei que permitiria se aproximar de mim? Melhor perdê-la agora do que deixá-la fugir depois de descobrir a verdade. Respiro fundo para me fortificar e me preparar para olhá-la nos olhos. Muitas emoções invadem suas íris cor de violeta, e mesmo assim, é sua pena que me desestabiliza, que me faz agarrar uma desculpa esfarrapada: o que estou prestes a fazer. Já vi esse olhar tantas vezes na vida que nada me deixa mais irritado do que ele. Não mereço pena. Não preciso da compaixão de ninguém. Em especial, não a dela. Rylee diz meu nome com aquela voz rouca de sexo por telefone e eu quase desisto. – Não, Rylee. Você tem que ir embora. – Colton? – Seus olhos procuram os meus e fazem perguntas demais. No entanto, nada passa através de seus lábios. – Vá embora, Rylee. Não quero você aqui. – Ela fica pálida com a minha declaração. Meus olhos percorrem seu rosto e vejo que seu lábio superior está tremendo. Mordo a parte interna da boca. Meu estômago se contorce. Acho que vou vomitar de novo. – Só quero ajudar… Estremeço por dentro ao som de sua voz, me odiando porque sei a dor que vou lhe causar. Mas ela é teimosa demais, e eu sei que não vai sair sem lutar. Rylee dá um passo até mim e eu reajo apertando os dentes. Se ela me tocar – se eu sentir a ponta dos dedos dela na minha pele –, vou ceder. – Sai daqui! – grito. Os olhos dela procuram os meus, e a descrença se reflete neles, mas também sinto que está decidida a me confortar. – Caralho! Dá o fora daqui, Rylee! Não quero você aqui! Não preciso de você aqui!
Ela arregala os olhos e contrai o maxilar para impedir que os lábios tremam. – Você não está falando sério. O arrebatamento silencioso de sua voz chega aos meus ouvidos. As lágrimas alcançam lugares dentro de mim de cuja existência eu nunca soube. Acaba comigo ver como a estou fazendo sofrer, vê-la disposta a ficar aqui e a ouvir o que estou dizendo até ter certeza de que estou bem. Agora, mais do que nunca, está provado que ela é uma santa e que, sem dúvida, eu sou o pecador. Puta que pariu! Vou ter que destruí-la com mentiras deslavadas para fazê-la sair daqui. Para evitar ter que me desculpar e deixar que ela fique, para ter que revelar coisas das quais sempre tentei me proteger. – Pode ter certeza de que estou falando sério, porra! – grito, frustrado, jogando do outro lado do banheiro a toalha que eu estava segurando e fazendo-a derrubar umas porcarias de uns vasos em forma de garrafa. Rylee levanta o queixo, obstinada, e me encara. Só vá embora, Rylee! Facilite as coisas para nós dois! Em vez disso, ela sustenta meu olhar. Chego mais perto, tentando ser o mais ameaçador possível, tentando ver se ela vai embora. – Eu comi você, Rylee, e agora acabou! Eu disse que era só pra isso que eu servia, querida… As primeiras lágrimas escorrem pelo rosto dela. Forço a respiração a parecer normal, tento fingir que nada me afeta, mas a dor naquele olhar cor de ametista quase me mata. Ela precisa ir… Agora! Pego sua bolsa de cima do balcão da pia e empurro em cima dela. Estremeço ao ver que ela se inclina para trás com a minha força. Colocar as mãos nela faz meu estômago se revirar ainda mais. – Fora! – rosno, cerrando os punhos para não tocá-la. – Não está vendo que eu já enjoei de você? Foi só uma diversão para passar o tempo. Agora já chega. Sai! Daqui! Ela me olha pela última vez. Seus olhos lacrimejantes ainda procuram os meus com uma força silenciosa. Um soluço escapa de sua garganta, e ela sai do meu quarto com passos incertos. Eu me agarro no batente da porta e fico parado ali, com o coração disparado e os dedos doendo de me segurar para não ir atrás dela. Quando ouço a porta da frente bater, dou um suspiro trêmulo.
Que diabos eu acabei de fazer? As imagens do meu sonho ressurgem, e é só disso que eu preciso me lembrar. Tudo me atinge de uma só vez. Vou cambaleando até o chuveiro e abro a água quente no máximo que consigo suportar. Pego o sabonete e esfrego o corpo com força, na tentativa de remover a sensação das mãos dele de mim. Para lavar a dor de ter me lembrado dele e a dor de ter mandado Rylee embora. Quando a barra de sabonete acaba, viro em mim um frasco de um sabão líquido e começo de novo, com as mãos desesperadas na tarefa. Minha pele está esfolada, mas ainda não está limpa. O primeiro soluço arrancado da minha garganta me pega completamente de surpresa. Merda! Eu não choro. Meninos bonzinhos não choram se amam a mamãe. Meus ombros estremecem, tento segurar as lágrimas, mas tudo o que aconteceu nas últimas horas foi demais; todas as emoções, todas as memórias, ver a dor nos olhos da Rylee. As comportas se abrem e não consigo mais fechá-las.
Um
Quando os soluços que sacodem meu corpo vão se acalmando, o ardor nos joelhos me traz de volta ao presente. Percebo que estou ajoelhada na calçada em frente à casa de Colton, usando apenas a camiseta dele. Sem sapatos. Sem calça. Sem carro. E o celular ainda está lá dentro, em cima do balcão da pia do banheiro. Balanço a cabeça. A dor e a humilhação dão lugar à raiva. Ainda estou sob o choque inicial de suas palavras e agora quero dar o troco. Ele não pode me tratar nem falar comigo desse jeito. Com uma descarga repentina de adrenalina, eu me levanto e escancaro a porta da frente com força. Ela bate com um barulho seco. Colton pode não querer mais saber de mim, mas eu ainda não comuniquei o que tenho para dizer. Existe tanta coisa confusa na minha cabeça que talvez eu não tenha a chance de expressá-las numa outra situação. Arrependimento é o único sentimento que não preciso acrescentar à lista de coisas a lamentar. Subo a escada de dois em dois degraus, nunca tão ciente do pouco que estou vestindo como ao sentir o ar frio da manhã atravessar a camiseta e me atingir a pele nua; pele que está ligeiramente inchada e machucada da minuciosa atenção recebida de Colton e de suas enormes habilidades nas inúmeras vezes em que transamos ontem à noite. Esse desconforto acrescenta uma tristeza silenciosa ao feroz incêndio de raiva. Baxter me cumprimenta balançando a cauda assim que entro no quarto e ouço o som do chuveiro ligado. Corre fogo nas minhas veias agora que os comentários dele começam a se repetir na minha mente: um completando o outro. Cada qual transitando entre a
raiva e a humilhação. Focada no que vim fazer aqui, jogo a bolsa de qualquer jeito no balcão, ao lado do celular. Entro no banheiro com raiva, pronta para cuspir o veneno de volta em Colton e informar que não dou a mínima para quem ele é na escala social, e que babacas declarados como ele não merecem garotas como eu. Ao passar pelo boxe, as palavras morrem na minha boca. Colton está em pé debaixo do chuveiro, com as mãos apoiadas na parede. A água cai sobre seus ombros curvados e derrotados. A cabeça pende para a frente, sem vida, sem esperança. Seus olhos estão fechados e apertados. A linha distinta e forte de sua postura, que passei a reconhecer, não está mais lá. O homem confiante e poderoso não está em parte alguma. Está completamente ausente. O primeiro pensamento a cruzar minha mente é: bem feito para esse imbecil. Ele tem mesmo que ficar chateado e sentir remorso pelo modo como me tratou e pelas coisas detestáveis que me disse. Nem que ele venha rastejando vai conseguir apagar a dor que me causou com suas palavras e com a rejeição. Cerro os punhos ao lado do corpo, envolvida num conflito sobre o que fazer, pois agora que estou aqui me sinto perdida. Demora um pouco, mas decido sair sem chamar atenção, solicitar um táxi e ir embora sem dizer uma palavra. Contudo, bem quando dou um passo atrás em retirada, soluços escapam da boca de Colton e fazem seu corpo sacudir. Um som gutural e primitivo que sugere seu controle à custa de cada grama de suas forças. Fico imóvel ante o som, vendo esse homem forte e viril se acabar, e noto que a angústia que o devasta tem a ver com algo muito maior do que a nossa discussão. Neste momento, testemunhando tamanha agonia, eu me dou conta de que as pessoas têm muitas maneiras de sofrer. São muitas definições que eu nunca percebi que podiam estar contidas em uma simples palavra. Meu coração dói com a humilhação que Colton provocou em mim a partir de suas palavras. Eu me abri depois de todo esse tempo e agora vejo meu coração dilacerado novamente com tanta crueldade. Minha cabeça dói por saber que há muito mais coisas acontecendo, coisas que eu não percebi nem com toda a minha experiência, pois estava cega demais por ele, pela sua presença, pelas suas palavras e
por seus atos, nos quais não prestei a devida atenção. Olhei para as árvores e não enxerguei a floresta. Minha alma dói por ver Colton lutar como um cego contra os demônios que o perseguem durante o dia e contra os pesadelos que o torturam à noite. Meu corpo dói pelo anseio de ir até ele e oferecer algum tipo de conforto, na tentativa de aliviar o tormento que esses demônios causam. De deslizar minhas mãos sobre ele e tentar aliviar as memórias das quais ele acha que nunca vai conseguir fugir, de que nunca vai conseguir se curar. Meu orgulho dói por querer defender minha posição, por ser teimosa e permanecer fiel a mim mesma. Para nunca voltar por vontade própria para alguém que me tratou daquele jeito. Estou à beira de um abismo de indecisão, sem saber a qual dor interna dar ouvidos, quando Colton solta mais um lamento abafado e inconsolável. Seu corpo treme com a violência do martírio. Sua expressão está tão contorcida que a dor parece palpável. Meu conflito sobre o que fazer em seguida é mínimo, pois não posso me esquivar do fato de que, quer aceite ou não, ele precisa de alguém neste momento. Precisa de mim. Todas as palavras cruéis cuspidas na minha cara evaporam com a visão do meu homem derrotado. Evaporam para algum lugar; serão encaradas em outro momento. Os anos de treino me ensinaram a ser paciente e também o momento de tomar a iniciativa. Desta vez, não vou ignorar os sinais. Nunca fui capaz de abandonar alguém necessitado, ainda mais um garotinho. E agora, bem aqui, olhando para Colton tão desolado e desamparado, só enxergo um garotinho ferido que acaba de partir meu coração – que ainda está partindo meu coração – e, por mais que eu saiba que ficar aqui resultará no meu suicídio emocional, não consigo ir embora. Não consigo me salvar em detrimento de outra pessoa. Eu sei que, se visse alguém tomar essa decisão, diria que era burrice voltar. Questionaria seu julgamento e diria que mereceu o que teve. Mas é muito fácil julgar de fora sem saber que decisão tomaria se estivesse no lugar do outro. Porém, desta vez… desta vez estou no lugar dele. E a decisão é tão natural, está tão enraizado em mim dar um passo à frente
enquanto outros teriam ido embora, que isso nem sequer pode ser chamado de decisão. Por instinto, entro no chuveiro com cuidado, caminhando voluntariamente rumo ao suicídio emocional. Ele está debaixo de um dos dois grandes chuveiros, debaixo de numerosos jatos de água que rebatem na parede azulejada e escorrem ao longo de seu corpo. Há um banco embutido na parede; há vários frascos em um canto. Em outras circunstâncias, eu ficaria de queixo caído com a grandiosidade do chuveiro e pensaria em ficar lá durante horas. Mas não agora. A imagem de Colton parado ali – tão magnífico de corpo, embora isolado na emoção – e o modo como a água corrente forma riachos que descem pelas linhas artisticamente esculpidas de seu corpo me oprimem de tristeza. A angústia que irradia dele em ondas é tão tangível que posso sentir seu peso opressor ao me aproximar. Eu me inclino contra a parede ao lado de onde suas mãos estão apoiadas. A água escaldante que ricocheteia dele faz cócegas na minha pele. A indecisão reaparece quando tento tocá-lo, mas recuo, não querendo assustá-lo, pois ele já está fragilizado. Depois de um tempo, Colton levanta a cabeça e abre os olhos. Soluça alto ao me ver parada diante de si. Choque, humilhação e arrependimento reluzem fugazes em seus olhos, antes que ele os abaixe por um instante. Quando Colton me olha novamente, a dor incontida que vejo no mais profundo do seu ser me deixa sem palavras. Ficamos parados assim por algum tempo: imóveis, mudos, olhando nas profundezas desconhecidas de cada um. Uma troca silenciosa que não resolve nada, porém explica tanto. – Me desculpa – diz ele, por fim, num sussurro vacilante, antes de baixar os olhos e se encostar na parede. Cambaleando, ele recua, senta no banco embutido e eu não consigo mais me segurar. Dou alguns passos para cruzar o espaço do boxe e uso o corpo para afastar seus joelhos e me colocar entre suas pernas. Antes que eu possa fazer menção de tocá-lo, ele me pega de surpresa, prende os dedos na carne dos meus quadris e me puxa para junto de si. Enfia as mãos debaixo da minha camiseta, que agora está molhada, e a levanta até eu cruzar os braços na frente do corpo e me livrar dela.
Deixo a roupa cair de forma displicente atrás de mim, como um tapa forte contra o azulejo. No minuto em que fico nua, Colton me abraça e aperta meu corpo junto ao seu. Ele está sentado e eu em pé, seu rosto pressiona meu abdome, e seus braços são ferrenhos ao meu redor. Ponho as mãos em sua cabeça e apenas o seguro ali, sentindo seu corpo tremer em virtude dessa emoção que o engole. Sinto-me desarvorada, sem saber o que dizer nem o que fazer com alguém tão fechado emocionalmente. Posso lidar com uma criança, mas um homem feito tem suas fronteiras. E, se eu as ultrapassar com Colton, não sei como ele poderá reagir. Com carinho, deslizo os dedos em seu cabelo molhado, visando acalmá-lo da melhor maneira. Tento expressar com o toque o que ele não quer ouvir, e esse movimento é tão reconfortante para mim quanto, tenho certeza, é para ele. Nesse ínterim, meus pensamentos são processados e entram num redemoinho. Na ausência de suas palavras que me entorpecem a mente, sou capaz de ler o que reside por trás de sua explosão venenosa. A rejeição. O ataque verbal. Qualquer coisa para me fazer sair e não testemunhar sua ruína e sua tentativa de convencer a si mesmo de que não precisa de nada nem de ninguém. Essa é a minha profissão e eu não enxerguei nenhum dos sinais. O amor e a dor sobrepujaram minha experiência. Aperto os olhos que já estavam fechados e mentalmente me repreendo, embora saiba que eu não conseguiria ter agido de outro modo. Ele não teria deixado. É um homem acostumado a ficar sozinho, a lidar com os próprios demônios, fechado para o mundo exterior e sempre esperando o inevitável, o pior. Sempre esperando que alguém fosse abandoná-lo. O tempo se prolonga. Só se ouve o som da água do chuveiro caindo no chão de pedra. Colton vira o rosto, e sua testa encosta na minha barriga. É um gesto tão íntimo e inesperado que sinto um aperto no coração. Ele leva a cabeça para a frente e para trás com cuidado e me pega de surpresa quando beija as cicatrizes espalhadas por meu abdome. – Me desculpa por ter te machucado – ele murmura um pouco mais alto do que o som da água. – Sinto muito mesmo, por tudo.
E sei que esse pedido de desculpas é por muito mais do que a crueldade e as agressões verbais com que ele me rejeitou. É por outros motivos que vão além da minha compreensão. A angústia que ele transmite na voz é desoladora; mesmo assim, meu coração palpita e exulta com suas palavras. Pressiono os lábios no topo da sua cabeça e os mantenho ali como uma mãe faria ao filho, como eu faria a um dos meus meninos. – Lamento que você também esteja sofrendo. Colton solta um grito abafado e puxa meu rosto. Entre uma respiração e outra, seus lábios estão nos meus num beijo devorador de almas. Os lábios colidem e as línguas se chocam. A necessidade cada vez maior. O desespero que consome. Eu me abaixo de forma que meus joelhos ficam entre os joelhos dele. Seus lábios ferem os meus, marcam-me como propriedade sua. Suas mãos trêmulas envolvem meu rosto. – Por favor, Rylee, eu preciso de você – suplica, sem fôlego e com a voz engasgada. – Só preciso sentir você junto de mim. – Ele muda o ângulo do beijo e move minha cabeça, controla-me. – Preciso estar dentro de você. Posso sentir o gosto da urgência e o desespero no seu toque frenético. Seguro seu rosto com as duas mãos e puxo. Ele ergue os olhos, procura os meus e enxerga minha sinceridade quando pronuncio as seguintes palavras: – Então me come, Colton. Ele me olha e sinto os músculos do seu maxilar pulsarem nas minhas mãos. Sua hesitação me irrita. Meu homem arrogante e autoconfiante nunca vacila quando se trata do contato físico entre nós. Pensamentos sobre o que o faz reagir assim me assustam. Eu afasto a cabeça. Posso processar tudo isso depois. Colton precisa de mim agora. Estendo a mão para baixo, seguro o membro rígido e o conduzo em direção à minha abertura. Uma respiração curta e forte é a única resposta. Quando ele não dá nenhuma indicação de movimento, seus olhos se apertam, e sua testa se enruga com o que ainda assombra os limites da memória. Passo a mão por todo o seu comprimento, para cima e para baixo. Fazendo a única coisa que pode ajudá-lo a esquecer, eu me abaixo sobre ele. Solto um grito de espanto quando
ele me empurra e nossos corpos se conectam e se tornam um só. Ele fixa os olhos bem abertos nos meus e me permite vê-los escurecer e ficarem vítreos de luxúria até ele não poder mais resistir ao sentimento. Colton joga a cabeça para trás, fecha os olhos com a sublime sensação e com luta pelo autocontrole – luta para afastar o que é ruim e focar apenas em mim e no que estou lhe oferecendo. Conforto. Segurança. Contato físico. Salvação. Observo o conflito perpassar seu rosto, incitá-lo em silêncio. – Não pense, querido, só me sinta – murmuro no seu ouvido, ao me mexer e criar a sensação necessária que vai ajudá-lo a esquecer. Ele solta o ar de um jeito trêmulo, mordendo o lábio inferior e levando as mãos para agarrar meus quadris com força. Colton me penetra de novo, enterra-se em mim o mais fundo possível, como jamais fez. Solto um gemido extasiado sentindo-o tão dentro de mim. Minha única reação possível é entreabrir a boca e dizer: – Vem… vem mais, faça o que quiser comigo… Ele grita, sua contenção obliterada, e me mantém imóvel ao mesmo tempo em que impulsiona os quadris com um ritmo implacável, punitivo. Nossos corpos, escorregadios da água, deslizam com facilidade. O atrito nos meus seios aumenta meu desejo de libertação. Ele passa a língua sobre um mamilo e vai deslizando sobre meu corpo arrepiado até capturar o outro na boca. Solto um gemido de prazer, aceitando cada golpe contundente. Permito que me possua para encontrar o alívio de que ele precisa e esquecer seja lá o que o assombra. A agilidade dos movimentos aumenta à medida que ele se empenha mais e mais e não dá a si mesmo outra opção a não ser esquecer. Seus grunhidos e o som da pele molhada dos nossos corpos se chocando reverbera nas paredes do banheiro. – Goza pra mim – peço entre dentes, ao encontrar suas estocadas com meu corpo. – Deixa vir. Ele acelera o ritmo. Pescoço e rosto tensos com propósito. – Ah, caralho! – Colton grita alto, apertando-me contra si com braços poderosos e enterrando o rosto no meu pescoço, no instante em que encontra a libertação. Embala nossos corpos unidos e suavemente se esvazia dentro de mim. O desespero no aperto sufocado me diz que estou proporcionando a ele apenas o mínimo do
que precisa. Ele suspira meu nome sem parar, tecendo beijos ausentes a cada vez, e transparecendo emoção. Sua absoluta reverência depois dos insultos anteriores me rouba o ar e me imobiliza por completo. Ficamos sentados em silêncio durante alguns minutos até ele se recompor. Não deve ser fácil para um homem como ele, sempre no controle, ter uma testemunha para seu momento tão emocional. Colton passa os dedos na pele arrepiada das minhas costas. A água corrente bem atrás de mim soa como o paraíso. Quando ele finalmente fala, não é sobre nada do que acabamos de experimentar juntos. Mantém a cabeça enterrada no meu pescoço, recusando-se a encontrar meus olhos. – Você está com frio. – Estou bem. Colton dá um jeito de se levantar com minhas pernas em volta dele. – Fique aqui – ele me diz, colocando-me debaixo da água quente antes de sair do boxe. Confusa, eu o observo, tentando saber se aquele rompante de emoção foi demais e por isso agora ele precisa de certa distância. Não tenho certeza. Ele volta em seguida, água ainda escorrendo pelo corpo. Então me surpreende quando me arrebata em seus braços, desliga o chuveiro com o cotovelo e me carrega. Estremeço com o ar frio do banheiro. – Espera aí – murmura ele por cima da minha cabeça. Na mesma hora, descubro qual é sua intenção. Depois de alguns segundos, ele para na frente da banheira que está se enchendo e me coloca em pé. Entra e se afunda na enorme abundância de bolhas de sabão e puxa minha mão para que eu o siga. Eu me abaixo e sinto um calor de felicidade plena me envolver ao me sentar entre suas pernas. – Ah! Isso é o paraíso. Estou encostada nele, o silêncio nos consome e eu sei que Colton está pensando no pesadelo e no que aconteceu depois. Traça linhas invisíveis no meu braço, para cima e para baixo, tentando, com os dedos, acalmar os arrepios que ainda estão ali. – Você quer falar sobre o que aconteceu? – questiono. Seu corpo fica tenso com a pergunta. – Foi só um pesadelo – ele responde, alguns instantes depois.
– Aham… – Como se eu acreditasse que era o tipo de pesadelo em que um monstrinho qualquer estivesse correndo atrás dele num beco escuro. Sinto-o abrir e fechar a boca ao lado da minha cabeça antes de falar. – Só espantando meus demônios. – Entrelaço as mãos nas dele e as levo unidas até meu tronco. O silêncio se estende entre nós por um momento. – Que merda! – ele diz com um suspiro. – Faz anos que isso não acontece. Acho que ele ia dizer mais alguma coisa, mas fica quieto. Penso no que falar e escolho as palavras com cuidado. Sei que se disser do jeito errado vamos acabar onde começamos. – Tudo bem precisar de alguém, Colton. Ele dá uma risada de deboche e fica quieto enquanto meu comentário pesa entre nós. Queria poder ver seu rosto para avaliar se devo ou não dizer as próximas palavras. – Tudo bem precisar de mim. Todo mundo tem seus momentos. Os pesadelos podem ser horríveis e eu entendo isso mais do que qualquer pessoa. Ninguém vai te criticar por precisar de um minuto para se recuperar. Não precisa ter vergonha. Quer dizer, não vou correr para o primeiro tabloide e publicar seus segredos… segredos que eu nem sei. Com o polegar, ele afaga minha mão. – Você não estaria aqui se eu soubesse que faria uma coisa dessas. Reluto antes do que dizer em seguida. Ele está sofrendo, mas também me fez sofrer. Preciso colocar para fora umas coisas que estão dentro de mim. – Olha aqui, você me mandou embora, tudo bem. Me diga que precisa de um tempo… que precisa… – Vacilo à procura de algo com que ele possa se conectar. – Que precisa de um pit stop. Não precisa me magoar para me afastar e conseguir seu espaço. Ele xinga em voz baixa na parte de trás do meu cabelo. Sinto seu hálito quente aquecer meu couro cabeludo. – Você simplesmente não iria embora. – Ele exala, exasperado. Quando estou prestes a responder, ele continua: – E eu preciso que você vá. Fiquei apavorado que pudesse conseguir enxergar dentro de
mim, Rylee, do jeito que só você foi capaz… e, se você olhasse, se visse as coisas que fiz… você nunca mais iria voltar. – Sua última fala é quase um sussurro, tão baixinho que tenho de me esforçar para ouvir. As palavras abriram seu invólucro exterior endurecido e expuseram a vulnerabilidade que havia por baixo. O medo. A vergonha. A culpa infundada. Então você queria ter certeza de que minha ida seria do seu jeito. Não do meu. Você precisava ter controle. Tinha que me machucar para não machucar a si mesmo. Sei que a confissão é difícil para ele. O homem que não precisa de ninguém – que rechaça as pessoas antes que elas se aproximem demais – estava com medo de me perder. Minha mente gira mediante tais pensamentos. Meu coração se oprime de emoção. Meus lábios se apertam em busca das palavras adequadas. – Colton… – Mas você voltou. – O choque absoluto de sua voz me desconcerta. O significado por trás da aceitação paira no ar. Ele me testou, tentou me afastar, porém eu ainda estou aqui. – Ei! Eu já enfrentei um adolescente com uma faca antes… Você não é nada – provoco, tentando aliviar o clima. Espero uma risada, mas Colton me puxa para trás e me abraça mais apertado, como se precisasse ter certeza da minha pele nua contra a sua. Começa a dizer algo, mas depois limpa a garganta e para, enterrando o rosto na curva do meu pescoço. – Você é a primeira pessoa a saber sobre esses pesadelos. O impacto da confissão atinge minha mente. Será que com toda a terapia sobre seja lá o que aconteceu, ele nunca falou disso com ninguém? Será que está sofrendo tanto, que está tão envergonhado, tão traumatizado com o que aconteceu que guardou tudo para si por quase trinta anos sem procurar nenhuma ajuda? Deus. Meu coração se aperta pelo garotinho que cresceu e se tornou o homem que está atrás de mim… tão perturbado pelo trauma que manteve tudo trancado dentro de si. – E os seus pais? Seus terapeutas? Colton está quieto, com o corpo tenso e imóvel, e eu não quero forçar a barra. Inclino a cabeça no ombro dele e me posiciono para me aconchegar. Beijo a parte inferior do seu maxilar suavemente e
descanso a cabeça, fechando os olhos, absorvendo sua tranquila vulnerabilidade. – Eu pensei… – Ele limpa a garganta, na tentativa de encontrar a voz. Engole em seco e sinto o movimento de sua garganta nos meus lábios. – Pensei que, se eles soubessem, se soubessem de verdade os motivos de eu ter esses pesadelos, eles não… – Colton para de falar por um momento. Sinto a dificuldade que ele sente, como se as palavras fossem fisicamente difíceis de pronunciar. Dou outro beijo no pescoço dele em confirmação silenciosa. – Eles não iriam me querer mais. – Expira devagar, sabendo que admitir lhe custou caro. – Oh, Colton. – As palavras saem da boca sem que eu possa segurá-las, embora saiba muito bem que a última coisa que ele deseja é minha compaixão. – Não… – ele implora. – Não tenha pena de mim… – Eu não tenho – digo, apesar de que meu coração não pode fazer nada a não ser sentir pena. – Só estou pensando como deve ter sido difícil ser apenas um garotinho sozinho sem nunca poder falar sobre o assunto… É isso. – Fico em silêncio pensando no que acabo de dizer, insistindo num ponto no qual, é óbvio, ele não quer tocar. Porém, não posso evitar que outras palavras saiam da minha boca, sussurradas sobre sua pele: – Você sabe que pode contar comigo. Não vou julgar nem tentar te consertar, mas, às vezes, o fato de colocar para fora, de se livrar do ódio e da vergonha, ou de seja lá o que estiver te consumindo, torna tudo um pouquinho mais suportável. – Quero dizer muito mais, mas me forço a deixar para outro dia, para outra hora, para quando ele estiver menos vulnerável, menos exposto. – Peço desculpas – sussurro –, eu não deveria ter… – Não, eu é que peço desculpas – diz ele, suspirando nervoso, inclinando-se para trás e beijando o ombro que marcou com o cotovelo. – Peço desculpas por muita coisa. Pelas minhas palavras e pelas minhas ações. Por não querer lidar com as minhas próprias merdas. – O arrependimento em sua voz é muito profundo. – Primeiro eu te ofendo, depois pego pesado com você no chuveiro. Não posso evitar o sorriso que se forma nos meus lábios. – Não vou dizer que achei ruim. Ele ri um pouco. É um som maravilhoso de se ouvir, depois da angústia que havia antes.
– Por causa do seu ombro ou por causa do chuveiro? – Hum, do chuveiro – respondo, percebendo sua tentativa de desviar o tema. Acho que mudar de assunto é exatamente o necessário para acrescentar um pouco de leveza a essa manhã extremamente intensa e sombria. – Você me surpreende a cada momento. – Como assim? – Alguma vez o Max te tratou assim? O quê? Aonde ele quer chegar com isso? Seu comentário me pega de surpresa. Quando me viro e o encaro, ele apenas aperta os braços ao redor do meu corpo e me puxa para mais perto. – O que isso tem a ver com alguma coisa? – Tratou? – insiste o mestre da mudança de assunto. – Não – admito de modo contemplativo. Percebendo que estou um pouco mais relaxada, ele desenlaça os dedos dos meus e sobe de novo para desenhar linhas aleatórias nos meus braços. Olho para as mãos e, distraída, começo a furar as bolhas de sabão. – Você estava certo. – Sobre o quê? – Quando nos conhecemos. Você me disse que meu namorado devia me tratar como se eu fosse de vidro e pudesse quebrar – digo baixinho como se estivesse traindo a memória de Max. – Você tem razão. Ele era um perfeito cavalheiro. Até fazendo sexo. – Não há nada de errado com isso – Colton admite, levando as mãos para massagear meu pescoço. Não falo nada, chocada comigo mesma por estar me sentindo dessa forma. – O que foi? Seus ombros ficaram tensos. Exalo um suspiro entrecortado, constrangida com minha linha de pensamento. – Eu pensava que as coisas deveriam ser daquele jeito… era como eu queria que o sexo fosse. Ele era minha única experiência. E agora… – E agora o quê? – explode, com um toque de diversão na voz. – Nada. – Um calor enrubesce meu rosto. – Rylee, fala comigo, pelo amor de Deus. Acabo de te foder no chuveiro feito um animal. Pra todos os efeitos, eu te usei para o meu próprio alívio, e ainda assim você não pode me dizer em que está
pensando? – É exatamente isso. – Começo a fazer círculos nas coxas que me rodeiam. O fato de admitir joga meu pudor no chão. – Eu gostei. Nunca pensei que poderia ser diferente. Que poderia ser tão selvagem e… – Meu Deus, estou me afogando aqui. Acho que nunca falei sobre sexo assim com Max, e olha que ficamos juntos por mais de seis anos. Conheço Colton há menos de um mês e estamos discutindo o tesão que me dá ser maltratada. Como Colton diria, puta que o pariu. – Carnal – completa ele, e eu percebo certo orgulho no tom de sua voz. Ele beija a lateral da minha cabeça. Dou de ombros, sem graça com minha falta de experiência e confissão irrestrita. Ao sentir meu desconforto, Colton me aperta mais. – Não precisa ficar com vergonha. Muitas pessoas gostam disso de maneiras diferentes, querida. Há muito mais do que a posição papai e mamãe para se experimentar. – Ele respira no meu ouvido, e eu me pergunto como ele pode me deixar excitada com essa declaração. Minha mente volta para Colton exigindo que eu lhe confessasse meu desejo de que ele me comesse na nossa primeira vez. Para ele me levando ao limite ao me possuir rápido e com força. Para ele dizendo coisas explícitas no meu ouvido enquanto transávamos… levantando-me, pressionando-me contra a parede e nos apertando até o alívio. Para como a consciência de que qualquer uma dessas coisas pode me fazer arder com uma necessidade tão intensa que chega a me enervar. Fico vermelha com os pensamentos e grata por ele não poder ver meu rosto, pois saberia exatamente por onde minha mente estava andando. Solto um suspiro trêmulo, em uma tentativa de sufocar a vergonha pelo rumo que a conversa está tomando e pelas revelações a meu respeito. – Essa é uma das coisas que gosto em você. Você é muito desinibida. O quê? Quero olhar ao redor do banheiro para ver com quem mais ele está falando. – Eu? – pergunto com a voz rouca. – Aham – ele murmura. – Você é incrível. – O movimento de seus lábios roça minha orelha, e sua voz no meu rosto é suave como uma
pena. Suas palavras me deixam sem ação. Colton disse o que eu estava pensando dele, apesar do caos e da mágoa de antes. Será possível que essa química combustível que existe entre nós é porque eu significo mais do que algumas das outras? Colton está me enviando todos os sinais para confirmar essa afirmação e, ainda assim, ouvi-la significaria muito mais. Ele ensaboa as mãos e começa a passá-las nos meus braços e na frente do peito. Prendo a respiração quando seus dedos roçam preguiçosamente o bico dos meus seios, e sua boca desliza na curva do pescoço. – Acho que eu nunca poderia me satisfazer de você. – Provando o que eu pensava. Palavras que quase dizem, mas não dizem de verdade. – Você é sempre tão reservada, mas quando estou em você… – Ele balança a cabeça, e um som gutural escapa do fundo da garganta – … você perde o sentido de tudo, torna-se só minha, submete-se a mim por completo. As palavras são pura sedução, isso sem contar o pênis ereto que pressiona a fenda na minha bunda. – Como isso faz de mim uma mulher desinibida? – pergunto, inclinando a cabeça para esfregá-la contra a barba do seu maxilar. A risada de Colton reverbera nas minhas costas. – Bom… vamos usar uma analogia do futebol, já que você parece gostar tanto delas. Quase enfiou a bola na rede num lugar público. Duas vezes. – Ele dá risada. – Pegou a bola na praia, quando estávamos deitados na esteira. – Cada palavra deixa meu rosto mais corado. – E gol na janela do meu quarto… – ele faz uma pausa – … com vista para uma praia pública. – O quê? – gaguejo. Ah. Puta. Merda. O que acontece com ele que me faz perder a cabeça? Minha bunda estava pressionada contra uma parede de vidro enquanto a gente transava. E qualquer um podia ver. Acho que morrer de vergonha seria a única alternativa viável no momento. Não tenho escolha senão jogar a culpa nele. – A culpa é sua – digo, dando um empurrão e jogando água. Um sorrisinho maldoso ilumina seu rosto. É um sinal positivo depois do olhar assombrado de antes. O bad boy, sombrio e invocado está de volta na minha frente, com o tronco e o joelho emergindo de uma
abundância de bolhas de sabão, e com um olhar brincalhão no rosto. Não admira que eu tenha me apaixonado por um homem que seja essa justaposição de características e ações. Caí direitinho, sem um apoio para me segurar. Droga, estou completamente ferrada. – Que tal? – Ele joga água em mim e agarra meu pulso com rapidez antes que eu devolva. Brincando, me puxa para ele e eu resisto. Colton desiste. Eu me viro e espalho a água da banheira para todo lado. Caímos num acesso de riso, e as bolhas flutuam no ar com meus movimentos bruscos. – Já estive com muitas mulheres, querida, mas a maioria não foi tão sincera na hora do sexo como você, por isso não pode me culpar. Fico feliz por estarmos rindo quando Colton faz seu comentário espontâneo, pois noto que está tenso, mesmo que mostre um sorriso no rosto. Tomo uma decisão rápida e continuo descontraída apesar da aflição que suas observações me causam. Na verdade, não quero pensar sobre todas as mulheres com quem ele já esteve, mas acho que também não posso ignorá-las. Talvez eu possa usar esse deslize a meu favor e conseguir mais informações sobre o meu futuro, além de transmitir minha mensagem. – Ah, é mesmo? – Levanto uma sobrancelha e chego mais perto com um sorriso. – Todas as mulheres, hein? Que bom que consigo surpreender um homem tão experiente como você – brinco enquanto passo os dedos no pescoço e entre o peitoral. O pomo de adão sobe quando ele engole sob meu toque. – Fala – cochicho de modo sugestivo, mergulhando a mão na água e alcançando o pênis já rígido. – São muitas? Por quanto tempo você costuma mantê-las por perto? Ele respira fundo quando meus dedos tocam a ponta do membro. – Agora não é hora de… Aahh! – Ele geme quando minha mão envolve e massageia suas bolas com suavidade. – Nunca é uma boa hora, mas as mulheres precisam saber dessas coisas. – Abaixo a cabeça e chupo um dos seus mamilos, prendendoo de leve com a boca. Ele solta um grunhido, e seus lábios se separam quando o observo sob os cílios. – Quanto tempo, Ace? – Rylee… – ele implora quando mordo o outro mamilo e, ao mesmo tempo, pressiono o ponto logo atrás dos testículos. – Quatro ou cinco
meses – ele responde, ofegante. Dou uma risadinha sedutora escondendo o arrepio que me percorre a coluna, sabendo que meu tempo com ele está se esgotando. Passo a língua ao longo do pescoço e dou uma mordidinha no lóbulo da orelha. – Ah… – ele suspira quando traço o contorno dela. – Bom saber… Colton permanece em silêncio. Só se ouve a respiração rasa. – Você joga sujo. – Uma vez, alguém me disse que é preciso jogar sujo para conseguir o que se quer – repito suas palavras, respirando junto dele. Meus mamilos endurecidos por causa do ar frio roçam em seu peito. Colton emite uma risada baixa e profunda, e seus olhos se iluminam com humor, pois sabe que não é o único atingido. Escorrego a outra mão no peito dele por debaixo da água e o observo notá-la desaparecer. Ele olha para mim e levanta as sobrancelhas, curioso para saber até onde vou. Continua me olhando quando agarro seu pênis pela base e o movimento para a frente e para trás, e o polegar da outra mão dá uma atenção especial à glande. – Nossa, que delícia, linda – ele murmura. A olhada que me lança é tão intensa de desejo e luxúria que me acende por dentro. Massageio o pênis mais algumas vezes, gostando desse jogo em que estamos envolvidos, gostando do fato de gerar uma reação tão visceral nesse homem. Paro o movimento, e os olhos de Colton, que estavam semicerrados de prazer, se abrem de repente para encontrar os meus. Esfrego o corpo no dele bem devagar. – Só mais uma coisa. – Posso ver a confusão em sua expressão, o maxilar cerrado como se implorasse em silêncio para o prazer voltar. Agora que tenho a atenção dele, prossigo, alternando o toque e o ângulo dos movimentos. Colton suspira com a sensação diferente, sua cabeça cai para trás sobre a borda da banheira. Paro e seguro os testículos de novo. – Olha, eu sei que você está chateado, mas nunca mais me trate como me tratou hoje de manhã… – Pronuncio cada palavra, agora sem o tom de humor da minha provocação, ainda movendo a mão em volta dele. – Se você me desrespeitar, degradar ou desprezar, ou me mandar embora com humilhações, fique sabendo que não volto mais, como voltei hoje… Não me interessa quais sejam seus motivos, o que
sinto por você, ou o que existe entre nós. Colton encara meu olhar implacável, mas não se intimida. Sua boca se abre num leve sorriso. – Bom, parece que você me segurou pelas bolas, nos sentidos literal e figurativo, sabia? – brinca, e a malícia dança em seus olhos. Aperto com carinho, segurando o sorriso travesso que escapa dos cantos da minha boca. – Está entendido? Não tem acordo. – Perfeitamente claro, querida – ele diz, transmitindo sinceridade no olhar. Satisfeita por ele ter compreendido minhas palavras, me desloco na água e liberto as bolas do meu domínio. Mantendo os olhos fixos nos dele, deslizo as mãos até seu longo comprimento e repito o movimento que derruba suas barreiras. Colton resmunga, rendido: – Não tem acordo. – Não dou nenhuma resposta porque estou muito excitada observando a reação. – Pelo amor de Deus, mulher – ele desabafa, entre dentes, agarrando meus quadris e me puxando para ele. – Você joga pesado, não é? Aceito a alfinetada e me posiciono sobre a parte superior do membro. Inclino o corpo para a frente, passando meus dedos em seus cabelos e encosto o rosto no seu. Vou descendo num ritmo dolorosamente lento, apesar de suas mãos me pedirem para acelerar. Sussurro no ouvido suas próprias palavras: – Bem-vindo à liga dos campeões, Ace.
Dois
– Tem certeza de que vai aguentar? – Tenho – ele responde da cozinha, em tom de brincadeira. – Porque, se você não conseguir, eu posso preparar alguma coisa bem rápido. – A imagem que você me fez enxergar na cabeça, você com um chicote, saltos altos e mais nada, é exatamente o que vai me impedir de fazer o café da manhã. – Sua risada chega até o deque, onde estou sentada. – Tá bom, vou ficar aqui sentada tranquilamente, aproveitando o sol e vou te deixar com essas imagens enquanto espero minha comida. Ouço uma nota de descontração quando ele volta a rir e isso deixa meu coração mais leve. Ele parece ter posto de lado o pesadelo e o incidente provocado como consequência, mas, lá no fundo, sei que tudo está logo abaixo da superfície, esperando com toda a paciência para lembrá-lo das atrocidades que sofreu quando criança. Pesadelos. Vergonha. A necessidade imperiosa de estar fisicamente com mulheres. Memórias tão horríveis que ele vomita quando reaparecem. Só espero que essas causas que oscilam na minha mente por causa do meu trabalho pregresso com os meninos que apresentavam sintomas semelhantes de estresse pós-traumático não sejam as mesmas no caso de Colton. Faço um esforço para me livrar da tristeza, para receber o bemvindo calor do sol matinal e aproveitar o fato de que conseguimos superar o desastre que tínhamos começado. Só posso esperar que, com o tempo, Colton confie em mim, consiga se abrir comigo e ficar à vontade. Por outro lado, quem sou eu para achar que serei a mulher
especial que consegue fazer a diferença na vida de um homem que há tempos vive isolado de si e dos outros? As caixas de som no terraço ganham vida ao meu redor. Baxter levanta a cabeça por um instante e depois a deixa cair novamente. Estendida na espreguiçadeira, fico olhando as primeiras pessoas a se exercitarem na praia. Acho que agora já não é mais tão cedo, depois de toda a nossa brincadeira na banheira. Juro que não sei o que deu em mim para me fazer agir daquela forma. Não tem nada a ver comigo; mas com certeza foi divertido ter Colton nas mãos. E depois que tudo acabou, com a água do banho esfriando, ele garantiu que meu corpo todo acabasse tão lânguido quanto o dele. E também teve o lado negativo do nosso momento na banheira: ele admitir que o tempo médio que passa com uma mulher é entre quatro e cinco meses. Merda. Talvez Tawny esteja certa. Ele vai se cansar de mim e da minha falta de habilidade na cama. Tento não me focar na ideia de que meu tempo está acabando. Só de pensar, minha respiração acelera e sinto o pânico tomar cada nervo meu. Não posso perdê-lo. Não posso perder o que sinto quando estou com ele. Colton já significa muito para mim, e isso mesmo eu tentando ser reservada com as minhas emoções. Jared Leto está cantando sobre estar cada vez mais perto do limite. Fecho os olhos pensando que já estou com os dois pés e mais além da fronteira onde, conforme Colton explicou sem meias-palavras, ele não desejava se arriscar. Mas como não vou despencar no precipício dessa fronteira quando ele me faz sentir tão bem? Tento racionalizar que é só o sexo incrível – e é devastadoramente incrível – que me faz sentir todas essas coisas insanas, apesar de nos conhecermos há apenas algumas semanas. E sei que sexo não é igual a amor. Preciso me lembrar disso. Muitas e muitas vezes, para prevenir a queda. Porém, suas palavras e suas ações me informam que entre nós há mais do que um mero acordo. Tudo isso fica martelando na minha cabeça – coisas diferentes, nas últimas três semanas – e eu não consigo olhar para ele sem pensar que, definitivamente, existem possibilidades. Se não existirem, então ele me fez de boba. A voz de Matt Nathanson preenche o ar ao meu redor, e eu murmuro a letra de “Come on Get Higher” sentindo os pensamentos
espalhados e desconectados, mas, por incrível que pareça, contentes. – Voilà! Abro os olhos e vejo Colton colocar um prato sobre a mesa ao meu lado. Quando vejo o conteúdo, rio alto. – Está perfeito, senhor, e aprecio profundamente suas finas habilidades culinárias. – Eu me inclino e dou uma mordida na torrada de bagel com cream cheese e faço um gesto dramático avaliando: – Delicioso! Ele faz uma reverência teatral, obviamente agradando a si mesmo, e se senta ao meu lado. – Obrigado! Obrigado! – Colton ri, pega a outra metade e dá uma mordida bem grande. Está apoiado no cotovelo, com o tanquinho à mostra e o cós da bermuda na altura dos quadris. A visão desse homem já é uma refeição por si só. Comemos ao mesmo tempo em que nos provocamos de brincadeira, pensando, em silêncio, o que virá depois. Por mais que eu não queira, acho que preciso ir para casa e delimitar certa distância entre nós, antes que a noite que passamos juntos e os sentimentos que ela solidificou por acidente acabem saindo pela minha boca de súbito.
– Eu te disse para deixar a louça aí – diz Colton atrás de mim enquanto seguro o prato. – A Grace lava, ou eu mesmo lavo mais tarde. – Não tem problema eu lavar. – Tem sim… – ele sussurra no meu pescoço, disparando um impulso elétrico direto para o meu sexo, ao deslizar os braços em volta da minha cintura e me puxar contra si. Minha nossa, como eu já me acostumei a isso. Ainda bem que não dá para ele ver meu rosto, porque tenho certeza de que demonstra minha completa satisfação. Adoração. Felicidade. – Obrigado, Rylee – Colton sussurra isso tão baixinho que quase não ouço por causa do barulho da água. – É só um prato e uma faca, Colton. Sério.
– Não, Rylee. Obrigado. – As palavras estão inundadas de sentimento; um homem se afogando em emoções desconhecidas. Ponho o prato dentro da pia e fecho a torneira para poder ouvi-lo. Assim crio a oportunidade para que ele expresse tudo o que precisa dizer. Posso não ser muito experiente em se tratando de homens, mas sei bem que, nos raros casos em que eles querem falar sobre sentimentos ou emoções, é hora de ficar quieta e ouvir. – Obrigado por quê? – pergunto casualmente. – Por esta manhã. Por me deixar processar essa merda que está dentro da minha cabeça do jeito que eu precisava. Por me deixar te usar, por falta de um termo melhor. – Ele afasta meu rabo de cavalo da nuca e pousa um beijo suave ali. – Por me deixar ter minha parte e não reclamar quando não recebeu a sua. A sensibilidade por trás das palavras me faz morder o lábio para não cair na armadilha verbal com a qual eu estava preocupada antes. Paro um segundo para refletir sobre as palavras seguintes e não tropeçar nelas. – Bom, você mais do que compensou na banheira quando me fez ter a minha parte. – Ah, é mesmo? – Ele encosta o nariz no ponto sensível logo abaixo da minha orelha, o que me deixa louca. – É bom saber, mas eu ainda acho que preciso fazer mais para corrigir aquela situação não resolvida. – Sério? – Aham… – Você é insaciável, Colton. – Dou risada, girando nos braços dele para ter meus lábios capturados por um beijo tentador que canaliza faíscas por todo o meu corpo até a ponta dos meus dedos. Sua mão escorrega para baixo pelo meu tronco até a bunda e me pressiona contra ele. – Agora vamos falar sobre a imagem que não sai da minha cabeça: você segurando um chicote, usando apenas sapatos com salto agulha, vermelhos e brilhantes. – O sorriso malicioso nos lábios dele faz o calor fluir desde os meus dedos do pé até em cima. – Ca-ham! – O som de alguém limpando a garganta me faz saltar para trás como se eu tivesse sido chamuscada por fogo. Levanto a cabeça num movimento brusco, sentindo o calor queimar
minhas bochechas, e ouço Colton gritar: – E aí, velho! – E então ele abraça seja lá quem for com um enorme abraço de urso. Eles se viraram e continuam abraçados tão forte que eu só consigo ver o prazer evidente na cara de Colton. Ouço palavras murmuradas em tons roucos durante o abraço e tapinhas nas costas. Quando acho que sei quem é, fico mais vermelha ainda ao saber que ele pode ter ouvido o que Colton estava me dizendo. Meu palpite se confirma quando os dois se separaram e o visitante põe a mão no rosto de Colton e o observa com intensidade, demonstrando a preocupação por algo que viu nos olhos do filho. – Você está bem, filho? Colton sustenta o olhar do pai por um momento, e o músculo do seu maxilar treme em virtude da tentativa de controlar as emoções que transparecem no rosto. Depois de um instante, ele assente com a cabeça e um leve sorriso aparece nos cantos da boca. – Sim… estou bem, pai – afirma Colton, antes de lançar um olhar para mim e retornar ao pai. Trocam mais um abraço de homem com sonoros tapas nas costas antes de se separarem. Os olhos cinzentos de Andy Westin se voltam para mim, depois olham de novo para Colton. Vejo amor refletido neles e uma surpresa, acho, beirando o choque. – Pai, quero que conheça a Rylee. – Colton pigarreia. – Rylee Thomas. A mulher que, para sempre, você vai relacionar com sapatos de salto agulha vermelhos e um chicote. Maravilha. Posso morrer agora? Andy e eu damos um passo à frente e ele estende a mão para me cumprimentar. Tento agir com calma e fingir que não estou diante de uma lenda de Hollywood que acaba de me pegar em situação comprometedora, mas, quando vejo afeto misturado com incredulidade em seus olhos, relaxo um pouco. – Prazer em conhecê-la, Rylee. Sorrio um pouquinho ao encontrar seus olhos e apertar sua mão. – O prazer é meu, Senhor Westin. Não é tão alto quanto eu esperava, mas algo nele parece gigantesco. É o sorriso que me cativa. Um sorriso capaz de amolecer a pessoa mais dura.
– Ah, não precisa disso – ele me repreende, tirando os cabelos grisalhos da testa. – Pode me chamar de Andy. – Sorrio, concordando, e ele se vira para Colton, com olhar confuso e um sorriso no rosto. – Eu não pretendia interromper nada… – Não interrompeu – respondo depressa. Colton se vira para mim com sobrancelhas levantadas por minha negação, e eu fico aliviada quando ele não me corrige. – Bobagem a minha, Rylee. Peço desculpas. – Andy olha para Colton de modo indecifrável. – Passei os últimos dois meses trabalhando em uma locação na Indonésia. Voltei ontem à noite e queria ver meu garoto aqui. – E dá um tapinha carinhoso nas costas de Colton. O amor evidente por seu filho faz com que eu goste dele ainda mais. Mais afetuosa do que a adoração que Andy tem pelo filho é a reciprocidade de Colton. Seu rosto se ilumina com a enorme reverência com que olha para o pai. – De qualquer forma, sinto muito ter interrompido. Colton nunca tem… – Ele limpa a garganta. – Colton está sempre sozinho no deque, se recuperando de seja lá qual for o caos que a noite anterior trouxe sobre ele. – Andy dá risada. – É claro que vocês dois não se veem há algum tempo, por isso não quero atrapalhar. Vou pegar minha bolsa e já vou indo… – Sorrio educadamente e depois enrugo a testa ao me lembrar de que estou sem carro. Colton dá um sorriso maroto para mim ao perceber a besteira que falei. – Pai, preciso levar a Rylee para casa. Quer esperar aqui ou posso passar na sua casa mais tarde? – Vá tranquilo. Tenho coisas para fazer. Apareça mais tarde se puder, filho. – Andy se vira para mim com um sorriso convidativo. – Foi um prazer conhecer você, Rylee. Espero vê-la novamente.
A volta de Malibu é linda, como era de se esperar, mas uma camada de nuvens começa a se mover sobre a orla quando estamos chegando a Santa Monica. Falamos disso e daquilo, nada sério, mesmo assim sinto que Colton está se distanciando um pouquinho de mim. Não é nada do que ele diz, mas o que ele não diz.
Não está grosseiro, apenas quieto, mas dá para notar. Aqueles pequenos toques estão ausentes. Os olhares conhecidos e os sorrisos leves se foram. A conversa brincalhona silenciou. Presumo que ele está aproveitando a viagem para pensar no pesadelo, por isso o deixo com seus pensamentos e fico olhando a linha do litoral passar pela janela. O volume do rádio está baixo e “Just Give Me a Reason”, da Pink, é a música de fundo quando saímos da via expressa e nos dirigimos para minha casa. Canto baixinho, e a letra me faz pensar sobre o que aconteceu de manhã. No refrão, percebo pelo canto do olho que Colton está me observando. Sei que está prestando atenção na letra, pois ele sacode a cabeça, e uma nesga de sorriso ilumina seus lábios. É seu reconhecimento calado do talento especial que tenho para encontrar a música perfeita para expressar meus sentimentos. Como diz a música, preciso de um motivo. Permanecemos em silêncio contemplativo um pouco mais, até que Colton finalmente fala: – Então, hum… tenho uma agenda absurdamente lotada nas próximas duas semanas. – Ele me olha por um instante e eu faço que sim antes que ele volte os olhos para o semáforo em frente. – Tenho que gravar um comercial para o patrocínio do Merit, dar uma entrevista para a Playboy, hum… fazer um talk show e um monte de outras merdas – enumera ele quando o sinal fica verde. – Isso sem contar todos os programas de TV que vão derivar do patrocínio do seu pessoal. Não me ofendo com o comentário porque também não sou muito chegada nesses programas populares de TV. – Bem, isso é bom, não é? Publicidade é sempre bom. – Sim, é. – Percebo que ele está irritado pelo modo como desliza os óculos escuros no rosto. – A Tawn está fazendo um grande trabalho cuidando da assessoria de imprensa este ano. É tudo muito bom e tal, e eu agradeço a atenção, mas, quanto mais merda aparece, menos tempo tenho na pista. E preciso me focar, já que a porra da nova temporada já está aí. – Dá para entender – respondo, sem saber mais o que falar. Quando ele chega à minha rua e para, não posso evitar o sorriso de satisfação no canto da boca. Foram 24 horas intensas com Colton.
Ele deixou que eu entrasse um pouco no seu mundo pessoal e isso já vale alguma coisa. Nossa química sexual continua estratosférica e acho que até aumentou depois dessa última noite. Falei para ele sobre Max e ele ouviu com compaixão e sem julgamento. E depois teve hoje de manhã. Uma hora repleta de palavras venenosas e de emoções devastadoras. E nem uma vez ele mencionou o acordo idiota. Que ele só quer aceitar menos, quando eu quero aceitar mais. Chegamos a um suposto impasse, apesar de suas ações mostrarem o extremo oposto. Talvez meu sorriso reflita o otimismo sobre as possibilidades que existem entre nós. Que as palavras não ditas por Colton falem tanto para mim quanto as que são ditas. Suspiro quando paramos na entrada, e Colton abre a porta para mim. Ele mostra um sorriso tenso antes de colocar a mão na parte inferior das minhas costas e me levar até a porta. Tento descobrir o que esse sorriso significa, sem deixar que ele perceba. – Obrigada pela ótima noite – digo sorrindo e me viro para encarálo da varanda. – E… – Deixo a palavra no ar para ponderar qual seria a abordagem de hoje. – Uma manhã de merda? – ele completa por mim, com arrependimento pesado na voz e a vergonha perpassando os olhos. – Sim, isso também – admito com brandura. Colton desvia a atenção para o molho de chaves que tem na mão. – Mas conseguimos superar… Seu olhar continua fixo nas chaves sem encontrar os meus enquanto fala. – Olha, me desculpa. – Ele suspira, e passa a mão pelos cabelos. – Só não sei como… – Colton, está tudo bem – digo, tocando seu bíceps: um toque que o fizesse perceber que já tinha expressado tudo o que podia sobre o que aconteceu de manhã e minha falta de tolerância, se acontecer de novo. – Não, não está tudo bem. – Por fim, ele levanta a cabeça, e eu vejo um conflito de emoções em seus pensamentos. – Você não merece passar por isso… lidar com toda essa merda – murmura baixinho, como se quisesse convencer a si mesmo dessas palavras. Percebo que a luta interna tem a ver com muito mais do que o
acontecido pela manhã. O arrependimento nada em seus olhos. Em seguida, ele estende a mão e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Enquanto isso, tento entender no seu rosto as palavras não pronunciadas. – Colton, o que você… – Olha o que fiz com você hoje de manhã. As coisas que eu disse. Viu como te magoei e fiz você se afastar? Esse sou eu. É isso que faço. Não sei como… Merda! – diz entre os dentes, antes se se virar e olhar para a rua, onde um adolescente está descendo pela calçada. Eu me concentro no barulho da sola dos sapatos até chegarem nas linhas dos painéis da calçada, enquanto processo o que Colton está dizendo. Ele se vira, e as linhas acentuadas das suas feições marcantes me fazem fechar os olhos por um momento e respirar fundo em preparação para o que vem a seguir. Para que eu veja o que está escrito em sua expressão resignada. – Eu gosto de você, Ry. Eu gosto de você. – Ele balança a cabeça. Na mandíbula cerrada, na tentativa de encontrar as palavras certas, os músculos do maxilar pulsam. – Só não sei como ser… – Ele tropeça nas palavras tentando pôr para fora o que quer dizer. – Você, no mínimo, merece alguém que tente ser isso para você. – Tente ser o que para mim, Colton? – pergunto, dando um passo para a frente enquanto ele dá um passo para trás, relutante em quebrar a nossa conexão. Minha perplexidade diante das declarações confusas só piora o mal-estar que esmaga a boca do meu estômago e sobe para oprimir meu coração. Separo os lábios e respiro fundo. Seu desconforto é aparente, e tudo o que eu quero é correr para abraçá-lo. Tranquilizá-lo com a conexão física de que ele precisa, mais do que qualquer outra coisa. Ele baixa os olhos de novo. Solta o ar com frustração. Eu respiro fundo. – Você merece alguém que pelo menos tente ser o que você precisa. Que te dê o que você quer, e acho que eu não sou capaz disso. – Ele balança a cabeça, com os olhos fixos na porra das chaves. A crua sinceridade das palavras faz meu coração parar na garganta. – Obrigado por ser você… Por ter voltado hoje de manhã. Finalmente ele diz algo em que eu possa me apegar, uma tábua afundando da qual tenho que saltar. – É exatamente isso! – digo. Usando um de seus movimentos,
levanto seu queixo para que ele me olhe nos olhos, para que veja que eu não tenho medo de como ele é. Que posso ser forte pelos dois enquanto ele lida com essas merdas que tem dentro da cabeça. – Voltei. Por você. Por mim. Pelo que somos quando estamos juntos. Pelas possibilidades do que podemos ser se você deixar… Passo a mão ao lado do rosto dele e deixo que repouse ali. Ele fecha os olhos com meu toque. – É demais pra mim, rápido demais, Rylee. – Colton respira fundo e abre os olhos para encontrar os meus. O medo ali é de tirar o fôlego. – Por tanto tempo eu… Sua abnegação é tão avassaladora que… – Ele diz isso com dificuldade, levando a mão à minha, que emoldura seu rosto. – Não posso dar o que você precisa porque não sei como viver, como sentir e respirar sem ser uma pessoa incompleta, destruída. E, ficar com você? Você merece alguém inteiro. Eu não posso… A letra da música que toca no carro me vem à mente e escapa antes que eu possa impedir: – Não, Colton. Não – digo, certificando-me de que seus olhos estejam focados nos meus. – Você não está destruído, Colton. Só está abatido. Embora eu diga com intenção séria, Colton ri com escárnio da minha intenção melodramática de usar a letra de uma música para me expressar. Balançando a cabeça, ele diz: – Fala sério, Rylee. Letra de música? – pergunta, e eu dou de ombros tentando tirá-lo desse ciclo vicioso ao qual ele insiste em voltar. Vejo o sorriso desvanecer e a preocupação voltar. – Eu preciso de tempo para processar isso… Você… só é muito… Posso sentir a dor que ele sente. Em vez de ficar aqui parada vendo ela se manifestar nos olhos dele, opto por dar o que ele precisa para confirmar nossa conexão. Chego mais perto e pouso minha boca sobre a sua. Uma vez. Duas. E em seguida deslizo a língua entre seus lábios e toco a dele. Colton não quer ouvir minhas palavras, então preciso mostrar desse jeito. Com os dedos se insinuando desde o maxilar até os cabelos. Pressionando forte meu corpo contra o seu. Nossas línguas dançando preguiçosamente, em um beijo lascivo e indulgente. Aos poucos ele vai soltando a tensão do corpo e começa a dar e a
receber o sentimento que há entre nós. O desejo. A necessidade. A verdade. Suas mãos seguram meu rosto, e os polegares acariciam minhas faces. Com força e depois devagar, do jeito que fazemos. Beija meus lábios lentamente e encosta a testa na minha. Ficamos assim por um momento, de olhos fechados, nossa respiração se sobrepondo, e almas à procura. Sinto-me resolvida. Plena. Conectada. – Pit stop – ele sussurra sobre meus lábios. As palavras saem do nada, e eu vibro com o som. Como é? Tento me afastar para observá-lo, mas ele segura minha cabeça com força e me mantém junto dele, testa com testa. Não sei o que fazer. Meu coração não consegue seguir o caminho que ele acaba de escolher e minha cabeça já está cinco passos adiante. – Um pit stop? – pergunto devagar. Meus pensamentos correm a mil por hora. Ele solta um pouco minha cabeça, e eu me inclino para trás para olhar para ele. Colton, porém, se recusa a me olhar nos olhos. – Ou é pit stop, ou digo que Sammy vai deixar um conjunto de chaves da casa em Palisades e nós vamos nos encontrar lá de hoje em diante… – Lentamente ele levanta os olhos para encontrar os meus – …Para impedir que as linhas fiquem confusas. Escuto-o dizer as palavras, mas na verdade não estou ouvindo. Não consigo compreendê-las. Será que está tentando me dizer que, depois da noite passada, e depois de hoje de manhã, ele vai vir com essa para cima de mim? Me jogar outra vez na categoria dos acordos que ele faz na vida? Então é assim que vai ser? Puta merda, Donavan! Dou um passo para trás, precisando ficar longe do toque dele. Permanecemos parados em silêncio, nos encarando. Olho para o homem que desmoronou na minha frente um pouco antes, e que agora tenta se distanciar de mim para recuperar o estado de autopreservação. O pedido me perfura, mas eu me recuso a acreditar nele, me recuso a acreditar que ele não sente nada por mim. Talvez tudo isso o tenha assustado… alguém próximo demais quando ele está acostumado a ficar totalmente sozinho. Talvez esteja batendo em retirada e tentando me machucar, me colocar no meu lugar, para que eu não possa feri-lo no longo prazo. Quero acreditar desesperadamente que
é isso, mas é muito difícil não deixar que essa dúvida persistente entre direto na minha psique. Espero que ele possa ver a descrença nos meus olhos. O choque no meu rosto. O medo na minha postura. Começo a processar a dor que está vindo à tona: o sentimento persistente de rejeição logo na superfície… então cai a ficha. Ele está tentando. Talvez esteja me dizendo que precisa de um tempo, mas também diz que eu tenho uma opção. Que posso dar a ele o espaço de que necessita para processar tudo o que está acontecendo na sua cabeça, ou posso escolher a rota do acordo. Ele me diz que me quer aqui, como parte de sua vida – pelo menos por enquanto –, mas sente-se sobrecarregado com todas essas emoções. Está tentando. Em vez de me mandar embora e me ferir de propósito fazendo isso, ele está me perguntando – usando um termo que eu lhe disse para usar se precisasse de espaço – para que eu entenda o que ele está pedindo. Deixo de lado a dor e a rejeição que estão fervendo porque, embora eu entenda, seus tapas verbais ainda ardem. Respiro fundo na esperança de que o pit stop que ele me pede seja apenas por causa de um pneu furado, e não porque a corrida está quase no fim. – Tudo bem – deixo as palavras saírem da minha boca. – Um pit stop, então – proponho, resistindo ao desejo urgente de abraçá-lo e de usar o contato físico para ter certeza. Ele vem até mim e passa o polegar no meu lábio inferior. Seus olhos demonstram profundas emoções inconfessáveis. Alívio. Fico pensando se ele está aliviado porque eu decidi pelo pit stop em vez do acordo, ou porque ele precisa ir embora agora para não ser pressionado mais adiante. – Aham. – É só o que consigo dizer enquanto as lágrimas me sufocam a garganta. Colton se inclina para a frente e eu fecho os olhos por um momento enquanto ele dá um beijo respeitoso no meu nariz. – Obrigado por ontem à noite. Por hoje de manhã. Por isso. – Apenas concordo acenando a cabeça sem confiar em mim mesma. Ele passa a mão por todo o comprimento do meu braço e aperta minha mão. Recua um pouquinho, com os olhos fixos nos meus. – Eu
te ligo, tá? Não digo nada, só balanço a cabeça. Ele me liga? Quando? Daqui a dois dias? Daqui a duas semanas? Nunca mais? Ele se aproxima e dá um leve beijo no meu rosto. – Tchau, Ry. – Tchau – respondo quase sussurrando. Ele aperta minha mão mais uma vez antes de virar as costas e sair andando pelo caminho da casa até a calçada. Orgulhosa do pequeno passo que acabo de dar, mas manchada por uma pincelada de medo, observo Colton subir no Range Rover, sair da entrada da casa até desaparecer quando vira a esquina. Balanço a cabeça e suspiro. Taylor Swift está certíssima. Amar Colton é como dirigir um Maserati por uma rua sem saída. E, com o que ele acabou de me dizer, sinto como se eu tivesse batido a cabeça primeiro.
Três
Nos últimos dias, Haddie e eu temos passado uma pela outra sem conseguir nos falar, mas ela está morrendo de curiosidade de saber sobre os comentários enigmáticos que fiz a respeito da noite passada com Colton. Ainda estou confusa pra caramba com o que aconteceu entre eu sair da casa dele e chegar à minha. As duas vibrações diferentes me deixaram perdida, mal-humorada e desesperada para vê-lo de novo, para ver se o que aconteceu entre nós foi real ou se eu imaginei. Ao mesmo tempo, estou com raiva e magoada; meu coração dói por causa daquilo que tanto quero ter, mas receio que nunca consiga. Pensei e analisei o assunto até demais, revisei cada segundo da minha volta para casa e a única conclusão a que cheguei é a de que nossa conexão o deixa irritado. Que a minha boa vontade para voltar, enquanto as outras mulheres teriam fugido, o apavora. E, mesmo sabendo disso, os últimos dias foram inquietantes. Derramei algumas lágrimas por causa das minhas dúvidas, e Matchbox Twenty tem repetido sem parar no meu iPod. Também ajudou o fato de que eu tenha um emprego no qual preciso trabalhar turnos de vinte e quatro horas para ocupar meu tempo. Tomo um gole da Coca diet cantando “Stupid Boy” e estou terminando de adicionar os ingredientes na salada quando ouço baterem na porta da frente. Não consigo evitar o sorriso que se espalha em meu rosto assim que me dou conta do quanto senti falta de Haddie nesses últimos dias. Ela também anda tão ocupada trabalhando nos projetos de um cliente novo que a PRX está por lançar, que praticamente tem dormido no escritório. – Meu Deus, como senti sua falta, sua bobinha! – anuncia ela ao
entrar na cozinha, abrir os braços e me dar um abraço de aquecer a alma. – Eu sei. – Passo a ela uma taça de vinho. – O jantar está quase pronto. Vá se trocar e volte logo pra gente poder colocar a conversa em dia. – Acho bom você não esconder nada de mim – ela avisa dando uma de suas olhadas e saindo da cozinha. Já terminamos o jantar, e acho que estamos na segunda ou terceira garrafa de vinho. O fato de eu não saber indica que foi o suficiente para eu relaxar e contar tudo a ela. Sua postura aberta e descontraída diante do meu relato me deixou sem fôlego de tanto rir. Enquanto “Should I Stay” toca baixinho, Haddie se inclina para trás na cadeira e estende as pernas no chão. As unhas dos seus pés bem-cuidados estão num tom de rosa bem vivo. – Então, você já falou com ele depois disso? – Não. Ele mandou algumas mensagens, mas só respondi com monossílabos. – Dou de ombros, ainda sem ter conseguido nada de clareza depois de ter contado tudo a ela. – Acho que talvez ele tenha uma ideia de que estou magoada com alguma coisa, mas também não perguntou. Haddie faz um ruído alto de desdém. – Fala sério, Ry, ele é homem! Isso significa que, primeiro, ele não tem nem ideia; segundo, ele não vai perguntar mesmo achando que você está zangada com ele. – É verdade – admito com uma risadinha. A aura de tristeza que me rodeou nesses últimos dias continua a se dissipar com o meu riso. – Mas isso não é desculpa para ele ser um babaca – diz ela, em voz alta, levantando a taça. – Eu não diria que ele é exatamente um babaca – argumento, e em silêncio me culpo por defender justo a pessoa responsável pelo meu estado deplorável e confuso. Haddie olha para mim, levanta uma sobrancelha e dá um sorrisinho. – Quer dizer, fui eu que disse a ele para dar um pit stop se ele precisasse lidar com os problemas dele em vez de me descartar. Só não entendo por que ele me beijou num minuto e no outro estava pedindo um tempo. – Me deixa pensar um pouquinho – diz ela, com um olhar divertido de concentração. – Minha cabeça está um pouco confusa com todo
esse vinho. Acho graça no olhar determinado de Haddie enquanto tenta refletir sobre o assunto. – Tudo bem, tudo bem, já entendi – ela diz, vitoriosa. – Eu acho que… hummm… Eu acho que você deixou ele apavorado pra caralho, Rylee! No meu riso histérico em resposta, até jogo a cabeça para trás. Haddie bêbada significa Haddie boca-suja. – Isso foi muito perspicaz, Had! – Espera aí, espera aí, espera aí! – Ela levanta os braços e, por sorte, não derruba o vinho. – Quero dizer, pelo que me contou, você se abriu para ele, depois vocês conversaram sobre muitas coisas, e ele te fodeu de tudo quanto foi jeito… Tenho que me segurar para não cuspir o vinho ao ouvir essas últimas palavras. – Minha nossa, Haddie! – Bom, mas é verdade! – Ela grita comigo como se eu fosse uma idiota, sustentando meu olhar até eu concordar com a cabeça. – De qualquer forma, o que eu estava dizendo é que vocês estavam flertando, às vezes rindo, às vezes sérios, mas sempre se divertindo muito. Ele percebeu que era bom ter você por perto. Ficou à vontade com você. E então chega o pai dele. Outra pessoa vê você… com ele… ele se dá conta de que é verdade. Tudo isso junto deve ter assustado o senhor sexo-sem-compromisso, Rylee! Olho para ela por cima dos óculos, ajeitando os joelhos que estavam dobrados até o peito. Suas palavras parecem verdadeiras para mim, mas não apagam a dor que sinto. A dor que certamente só ele pode aplacar. Preciso cuidar melhor do meu coração e protegê-lo mais. Preciso me poupar mais enquanto ele não me dá nada em troca. – Meu Deus – eu gemo, colocando a cabeça no encosto do sofá. – Nunca estive tão insegura na minha vida como estou com ele. Estou ficando louca sentada aqui, choramingando como uma daquelas garotas bobinhas que eu jurei que nunca iria ser. Essas de quem a gente tira sarro. – Suspiro. – Pode atirar em mim agora! Haddie dá risada. – Você fica perdida quando se trata dele. Porra, vocês dois estão
me deixando maluca. Continuo a olhar para o teto. Expresso minha concordância à opinião não solicitada de Haddie com um grunhido sem sentido, antes de levantar a cabeça e olhar para ela. – Talvez você tenha razão na parte em que ele fica apavorado – reflito, dando um gole para esvaziar a taça –, mas, para sermos bem justas, ele me disse desde o início que não poderia me dar mais que isso. – A justiça que se foda! – grita ela, erguendo o dedo do meio com ênfase. Dou risada. – Eu sei, mas me apaixonar foi culpa minha… – Eu sabia! – Ela se levanta num salto, apontando para mim. Fecho os olhos e sacudo a cabeça, amaldiçoando a mim mesma por ter deixado isso escapar. – Merda, preciso de mais vinho depois dessa revelação! – Ela se levanta e passa por mim, daí volta para me olhar nos olhos. – Escute aqui, Ry, você já chorou por causa disso? Já chorou por causa dele? Oh-oh! Ela deu aquele olhar de “vamos aprofundar o assunto”. Eu simplesmente fico olhando. Meu silêncio é resposta suficiente. – Escuta, sei que ele parece um deus grego e deve foder como um garanhão, mas, queridinha, se é ele o que você quer, então está na hora de você dar um pouco mais de trabalho a ele. Torço o nariz. – Isso pode ser fácil para você, que já jogou esse jogo antes, mas eu não tenho a mínima ideia do que fazer. – Vire o jogo. Você já mostrou a ele como é a vida com você por perto; agora que ele está na sua, você precisa mostrar como a vida é quando você não está. Deixe ele perceber que não é o ar que você respira, nem todos os seus pensamentos, mesmo que isso acabe com você. – Ela se senta no braço da poltrona e me encara. – Olha aqui, Ry, todo cara quer ser ele e toda garota quer trepar com ele. Colton está acostumado a ser desejado. Acostumado com as pessoas atrás dele. Você precisa agir como fez no início, antes de se apaixonar por aquele filho da puta, e deixar que ele venha te procurar. – Eu só olho para ela, balançando a cabeça diante de tanta franqueza. Ela inclina a cabeça de lado e torce a boca enquanto
pensa. – Eu sei que ele te fez chorar, mas ele vale a pena, Rylee? Eu quero dizer: realmente vale a pena? Fico olhando para ela com lágrimas nos olhos e faço que sim com a cabeça. – Vale. Ele vale, Haddie. Ele… ele tem um lado que é exatamente o oposto desse bad boy taciturno que a mídia retrata. Ele é sincero e carinhoso. Quero dizer que é mais do que apenas sexo. – Encolho os ombros, e um sorriso escapa no canto da minha boca quando ela arqueia a sobrancelha para mim. – E, sim, ele é realmente tudo de bom… – Eu sabia! – ela grita e aponta o dedo para mim. – Você estava escondendo o jogo! – Cala a boca! – grito de volta, rindo com ela. Haddie se levanta, cambaleando um pouquinho antes de pegar minha taça vazia. – Vamos lá, desembuche os detalhes sórdidos para sua velha amiga seca aqui. Como é o beijo australiano? Quantas vezes ele te fez gozar na casa dele? Fico supervermelha, amando e odiando minha amiga ao mesmo tempo. – Beijo australiano? De que diabos você está falando? Ela solta uma risada marota e tem um brilho malicioso nos olhos. – Como ele é com a boca lá embaixo? – Ela ri, deliberadamente olhando para a minha virilha, e depois de novo para mim, com uma sobrancelha levantada. Eu só olho para ela com a boca aberta e não consigo evitar uma risadinha. – Me deixa viver isso indiretamente por você. Por favor, por favorzinho? Aperto os olhos de vergonha, sem poder olhar para ela. – Bem, eu diria que ele fala australiano como um nativo. – Eu sabia! – ela grita, balançando os quadris e fazendo uma dança da vitória no meio da sala. – E… – instiga. – E o quê? – Me faço de boba. – E o vigor, queridinha? Preciso saber se ele merece a fama de deus grego em outros departamentos que não a beleza. Quantas vezes? Torço os lábios e mentalmente penso nas horas e nos lugares onde Colton e eu transamos. – Hummm… não sei, oito vezes, talvez? Ou nove? Perdi a conta.
Haddie para no meio da dança e seu queixo cai antes de seus lábios se alargarem em um sorriso perverso. – E você consegue andar? Sua safadinha. Sorte sua! – Ela se vira e oscila antes de ir para a cozinha pegar mais uma garrafa de vinho. – Caralho! Eu apostaria todas as fichas em um cara que conseguisse ter um desempenho como esse. Acho que eu estava certa sobre a parte do garanhão – ela provoca, da cozinha, fazendo um som de cavalo relinchando. Com isso eu me dobro de tanto rir. Meu celular toca pela primeira vez em vários dias. Não corro para atender. Já bebi demais e foram tantos alarmes falsos que já sei que não é Colton. Além do mais, segundo Haddie, tenho que dar um pouco de trabalho a ele. É fácil falar, quero ver fazer. Minha decisão dura dois toques e já começo a me levantar, tropeçando nos próprios pés no meu estado de embriaguez. Falo para mim que não vou atender. De jeito nenhum. Haddie vai me matar. Mas… mesmo que eu não atenda, quero ver quem é. – Veja só, se não é o homem do momento – ouço Haddie dizer quando chega ao celular antes de mim e lê a tela. Eu a encaro, confusa quando ela liga o rádio e atende meu telefone. Isso não vai dar certo. Haddie bêbada e tentando me proteger não é uma boa combinação. – Dá aqui o telefone, Had! – peço, mas sei que é inútil. Oh, merda! – Celular da Rylee, pois não? – ela grita como se estivesse na balada, aumentando a voz a cada palavra. Olha para mim, dá um sorriso e levanta a sobrancelha enquanto o ouve falar do outro lado. – Quem? Quem? Ah, oi, Colby! Ah, desculpe. Pensei que você era o Colby. Quem? Ah, e aí, Colton? Aqui é Haddie. Que mora junto com Rylee, sabe? Mmm-humm. Olha, agora ela está um pouco bêbada e muito ocupada, não pode falar com você, mas eu gostaria de falar. – Ela ri alto com alguma coisa que ele diz. – Então, é o seguinte: eu não te conheço muito bem, mas, pelo que sei, parece que você é um cara decente. A mídia fala demais sobre as suas aventuras, se você quer saber minha opinião, e você dificulta trabalhos como o meu, mas, ei!, falta de notícia é má notícia, não é verdade? Então, mas já estou de conversa mole… – Ela ri fazendo um som descontraído com a resposta de Colton. – Começamos com vinho, mas agora já
partimos para as doses – ela responde. – Tequila. Bem, eu só queria dizer que você precisa mesmo pensar muito bem quando se trata da Rylee. Acho que meu queixo acabou de cair no chão. Gostaria de ver a cara do Colton agora. Ou talvez eu não queira. – Sim, estou falando com você, Colton. Eu. Disse. Que. Você. Precisa. Pensar. Muito. Bem. – Ela enfatiza cada palavra. – A Rylee é daquelas que fazem toda a diferença, meu bem. Acho melhor você não deixar ela escapar, ou então alguém vai roubá-la bem debaixo do seu nariz. E, pelos tubarões que estão rodeando hoje à noite, acho melhor você mexer esse seu traseiro bonito rapidinho. Que bom que eu bebi tanto. Caso contrário, agora eu estaria morrendo de vergonha. Mas o álcool não diminui o orgulho que sinto de Haddie. A mulher não tem medo de nada. Apesar do que estou sentindo, continuo olhando para ela com a mão estendida, pedindo meu telefone de volta. Ela vira de costas e continua fazendo sons de quem está concordando com Colton. – Como eu disse, ela está muito ocupada agora, escolhendo quem vai pagar a próxima bebida, mas eu falo que você ligou. Hum-hum, sim. Eu sei, mas achei que você deveria saber. Faz. Toda. A. Diferença. Ah, Colton? Se você deixar ela se apaixonar, acho melhor ficar com ela. Fazê-la sofrer não é uma opção, entendeu? Porque, se você a magoar, terá que se ver comigo e eu posso tornar sua vida um inferno! – Ela dá uma risada endiabrada. – Boa noite, Colton. Espero te encontrar por aí, quando você já tiver pensado bem. Falou! – Haddie olha para mim com um sorriso de satisfação e desliga o rádio. – Haddie Marie, eu poderia matar você agora mesmo! – Você diz isso agora. – Ela segura o gargalo da garrafa de vinho e provoca um tilintar quando a encosta nas taças para servir mais uma dose. – Espere e verá. Você vai beijar meus pés quando a coisa toda acontecer.
Terminamos nossa cota de vinho por esta noite e estamos sentadas no sofá, melancólicas, relaxadas e um pouco bêbadas, falando sobre o que aconteceu durante a semana. Em segundo
plano, o jornal local das onze está acabando, quando entra uma chamada do programa Jimmy Kimmel Live. Estou ouvindo Haddie falar, mas, de repente, nós duas escutamos o nome de Colton como um dos convidados. Viramos e olhamos uma para a outra, surpresas. Com os acontecimentos dos últimos dois dias, eu tinha me esquecido completamente de que ele havia comentado isso comigo. – Bem, isso vai ser interessante. – Ela levanta as sobrancelhas para mim e muda o foco para a televisão. Ouvimos o monólogo inicial e, apesar das piadas serem engraçadas, não dou risada. Talvez por ter tomado tanto vinho, ou por estar apreensiva com o que vai acontecer, não consigo rir com o que Jimmy está falando. Sei que ele vai falar da quantidade de mulheres nos braços de Colton, e não estou no estado de espírito certo para ouvir esse tipo coisa esta noite. – Então, nosso próximo convidado é… como posso descrevê-lo? Um mestre de muitos talentos? O homem na direção? Vamos dizer apenas que ele é um dos mais brilhantes talentos da Fórmula Indy, considerado o corredor que vai trazer o circuito de volta aos holofotes, e um dos solteiros mais desejados de Hollywood. Vamos dar uma recepção calorosa para o primeiro e único Colton Donavan. – O público no estúdio irrompe num frenesi de gritos femininos e alguns “eu te amo”. Inspiro fundo no instante em que Colton aparece no palco vestindo jeans preto e uma camisa verde-escura. Cada parte do meu corpo se inclina para a frente no sofá, absorvendo a imagem de Colton. Observo. Sinto falta dele. A câmera está afastada, mas sei de cara qual efeito a camisa vai causar nos olhos dele. Como vai escurecer o círculo cor de esmeralda ao redor da íris, deixando o centro verdeclaro quase transparente. Ele acena para o público ao atravessar o palco com seu típico sorriso radiante no rosto. Haddie faz um barulho com a garganta. – Porra! O rosto dele é uma obra de arte. Você precisa se certificar de enquadrá-lo entre as pernas sempre que puder. Engasgo com a bebida olhando para Haddie e vendo a piscadinha que ela me dá. Caio na risada. – De que dimensão você tira essas coisas? – Tenho minhas fontes – ela responde com um sorrisinho maroto.
Balanço a cabeça achando graça e volto a prestar atenção na entrevista. Colton dá a volta na mesa, um dos papéis de Jimmy voa e Colton se inclina para pegar. A enorme quantidade de mulheres na plateia fica em polvorosa com a visão da bunda dele na calça jeans justa, e Haddie dá uma gargalhada. Colton se vira. Em resposta à plateia e sua reação, ele balança a cabeça. – Isso sim que é uma entrada de efeito! – exclama Jimmy. – Foi de propósito? – Colton pergunta para provocar o público. – Não. Foi a quantidade enorme de suspiros das mulheres na plateia que acabou soprando o papel de cima da mesa. O público ri, e uma mulher grita: – Casa comigo, Colton! – Quero que alguém diga a ela para enfiar uma meia na boca. – Obrigado – responde Colton rindo. – Mas nada disso vai acontecer por enquanto. – E o público desmaia de tristeza. – Jimmy ri. – E aí, cara, tudo bem? Bom te ver de novo. Faz quanto tempo? Um ano? – Por aí – diz Colton, inclinando-se e cruzando o tornozelo no joelho. A câmera dá um close no rosto dele e eu respiro fundo. Acho que nunca vou me acostumar com o quanto ele é deslumbrante. – Como você consegue não ficar encarando o tempo todo quando está com ele? – pergunta Haddie. Sorrio, mas não respondo. Estou ocupada assistindo. – Meu Deus, ele é lindo – ela geme, apreciando. – E como está a família? – Está bem. Meu pai acabou de voltar de uma locação na Indonésia, então pude estar com ele e, você sabe, é sempre muito bom. – Sim. Ele é uma figura. – Colton ri do comentário, e Jimmy continua: – Para os que não sabem, Andy Westin, o pai de Colton, é uma lenda em Hollywood. – Não vamos encher tanto a bola dele usando a palavra lenda – brinca Colton, enquanto Jimmy segura uma foto dele e Andy abraçados em algum evento. – Aí está ele. – E sorri com sinceridade. – Então, o que você tem feito ultimamente? – Só estou me preparando para o início da próxima temporada. A primeira corrida é no final de março, em St. Petersburg, Flórida, por isso já estamos nos preparando para ela agora.
– E como está o carro? – Até agora, muito bom. O pessoal está trabalhando bastante para deixá-lo nos trinques. – Isso é ótimo. Agora me fala sobre os novos patrocinadores deste ano. Colton cita uma série de nome dos anunciantes. – E este ano temos um novo patrocinador, o Rum Merit. – Ótimo rum – diz Jimmy. – É, não posso reclamar por ser pago para beber um rum de qualidade. – Colton sorri passando o polegar e o indicador no maxilar sombreado. – Acho que temos um trecho do comercial deles. Viro a cabeça bruscamente para Haddie. – Você já viu? – Não. – Ela parece tão surpresa quanto eu. – Ando tão ocupada com esse novo cliente que nem sequer consigo acompanhar o que acontece com as outras contas. – Nós gravamos esse outro dia mesmo – diz Colton. A tela inteira mostra Colton correndo na pista com seu carro de Indy, e o logo do Rum Merit bem na frente do carro. A voz sexy de Colton se sobrepõe à cena. “Nas corridas, corro para ganhar.” A cena muda para a praia e ele está jogando futebol com outros caras. Garotas de biquíni com bebidas na mão estão por perto torcendo. Ele está de bermuda de surfista, sem camisa. Seu tronco esculpido está molhado de suor, com areia grudada aqui e ali. Ele mostra um sorriso arrogante no rosto. Se alonga, mergulha para um passe e pega a bola caindo na areia. Ouve-se sua voz: “Quando jogo, eu sempre jogo duro”. O comercial muda para uma cena noturna. As luzes piscam e a multidão dança. Flashes pipocam por toda a televisão. Colton está rindo. Dá um gole na bebida que está segurando, enquanto relaxa num camarote cheio de mulheres lindas. Uma tomada de quem a gente presume que seja Colton no meio de duas mulheres, porque só o que se vê são mãos nos quadris, dedos agarrando o cabelo e bocas se encontrando em um beijo. A câmera muda para uma foto de Colton com os braços na cintura de uma mulher linda. A câmera filma os dois de costas na saída da boate. Ele se vira e olha por cima do ombro, com um sorriso sem-vergonha no rosto. “Você sabe o que
acontece depois.” A câmera corta para uma garrafa vazia do Rum Merit na mesa da boate. “E quando eu saio?”, diz a voz de Colton, “Só bebo o melhor. Rum Merit. Como nenhum outro.” – Uau! – suspira Haddie. – O comercial ficou o máximo. Sei que ela está olhando por uma perspectiva estritamente de relações públicas, e está certa. É um excelente comercial. Apelo sexual, colocação do produto e um cenário que faz a gente se sentir lá, querer ser como ele. E a boca de Colton está na de outra mulher. Tremo só de pensar. – Belo lugar – Jimmy diz quando os aplausos diminuem. – Aposto que você curtiu fazer esse comercial. – Colton faz uma careta e deixa escapar um sorriso que diz tudo. – As câmeras te adoram, cara. Como é que você nunca pediu pro seu pai te arrumar um emprego? Tenho certeza de que as mulheres não iam achar ruim te ver numa telona por aí. A plateia dá gritinhos para concordar. Colton torce o canto da boca e balança a cabeça. – Nunca diga nunca. – Ele ri e meu estômago se contrai quando penso em milhões de mulheres olhando para ele durante cenas de amor. Os cinemas iriam lotar só com isso. – Então me diga, Colton, em que mais você está envolvido? – Bem, nós temos mais algumas coisas acontecendo, mas o departamento jurídico não quer que eu anuncie oficialmente ainda, porque ainda não estão finalizadas. – A multidão solta um “ahhh”, e Colton faz um gesto pedindo um tempo. – Mas desde quando eu faço o que tenho que fazer? – O sorriso de Colton é assimétrico e malicioso. O público ri. Prendo a respiração, chocada e ao mesmo tempo satisfeita que Colton vá levar o nome da minha empresa a público. – Só o que eu posso dizer é que minha empresa está trabalhando com um grupo dedicado – diz ele, pondo aspas no nome da minha empresa. – Estamos unidos para levantar fundos para assistência a orfanatos, promovendo melhores condições de vida para as crianças e um ambiente familiar estável em caráter permanente. – Uma causa muito importante para todos. – Sem dúvida. – Colton balança a cabeça e para por aí. – Que fantástico. Mal posso esperar até que se torne oficial para
sabermos mais a respeito. Mas sei que você não pode me contar. – Jimmy revira os olhos para o público. – Como você vai levantar o dinheiro? Colton dá toda a explicação respondendo às perguntas de Jimmy. Fico olhando, pasma, tentando decifrar o Colton que eu conheço em comparação ao que está na televisão, bem na minha frente. Vejo a mesma pessoa e a mesma personalidade, com pequenas nuances diferentes. Percebo que ele está um pouco na defensiva. Brinca com o público, e, sem dúvida, ele faz isso muito bem. – Bem, nosso tempo está se acabando – fala Jimmy, e a plateia reclama –, mas acho que o público vai me enxotar do estúdio se eu não perguntar o que eles mais querem saber. Colton olha para a plateia com meu sorriso favorito de menino espalhando-se pelo rosto. – O que é? – ele diz logo. – Bem, toda vez que eu te vejo na imprensa ou na televisão, você sempre está abraçado com uma beldade. – Jimmy mostra várias páginas de revistas com Colton e suas panteras. – Qual é o seu estado nesse momento? Está namorando? Existe uma mulher especial na sua vida agora? Ou talvez várias mulheres especiais? Colton joga a cabeça para trás em meio a uma risada e eu fico ansiosa esperando a resposta. – Para com isso, Jimmy, você sabe como é… – Não, na verdade eu não sei. – O público ri. – E, por favor, não vá me dizer que está namorando Matt Damon – ele acrescenta, na lata. Dessa vez eu dou risada da cara de Colton com a piada recorrente do Jimmy sobre Matt Damon. – Com certeza, não com o Matt Damon. – Ele ri e encolhe os ombros. – Você sabe como eu sou, estou sempre com alguém – diz Colton, inclinando-se para a frente e fazendo um gesto descontraído para o público. – São tantas mulheres bonitas por aí que seria uma pena não aproveitar. – Ele mostra um sorriso irresistível para a plateia. – Então, olha só quantas mulheres bonitas estão aqui na plateia esta noite. – Em outras palavras – emenda Jimmy –, você está fugindo da resposta. – Não quero revelar todos os meus segredos. – Colton mostra um
sorriso maroto e dá uma piscadinha. – Sinto muito, meninas. Nosso tempo acabou, então não posso aprofundar mais. – O público dá um gemido coletivo. – Bem, foi ótimo te receber de novo, Colton. Mal posso esperar para vê-lo arrasar nas pistas este ano. – Espero você lá em alguma das corridas. – Pode contar com isso. Boa sorte para você. Colton se levanta e aperta a mão de Jimmy, dizendo-lhe algo longe do microfone que o faz rir. – Senhoras e senhores, Colton Donavan. – Colton acena para o público, e logo entra o comercial. Haddie senta-se e desvia os olhos da televisão. – Bom – ela reflete –, foi divertido.
Quatro
– Isso me parece ótimo, Avery. Toda a papelada foi aprovada pelo RH. Eu gostaria de te dar as boas-vindas ao time. Nos vemos na segunda-feira que vem. – Desligo o telefone e pego uma caneta para riscar esse item da minha lista. Nova garota contratada, check. Agora, vamos ver se consigo completar a lista. Olho para a agenda da semana, ignoro a data inevitável de amanhã e imagino se vou conseguir me focar na lista do que tenho para fazer, pois não tenho mais turnos no Lar esta semana. Isto é, se eu conseguir ficar motivada. Não tenho a quem culpar por meu ritmo letárgico esta manhã, exceto a mim mesma. Bem, e à Haddie, já que ela instigou a quarta, ou foi quinta, garrafa de vinho. Pelo menos minha dor de cabeça diminuiu um pouco. Assim consigo pensar sem a ressaca latejando no fundo. Pego a pilha de papéis que estava evitando – a porcaria dos orçamentos, que leva tanto tempo para elaborar e que, no final, é anulada pelos chefes no andar de cima –, mas tenho que passar por isso. Inspiro para ganhar forças e ouço uma batida na porta. Juro que os momentos seguintes acontecem em câmera lenta, mas sei que foi só impressão. Quando levanto o olhar, grito alto e dou um pulo, chocada, ao ver aqueles olhos. Dou a volta na mesa e vou com tudo para os braços do meu irmão. Tanner me abraça, me gira e me aperta tanto que mal consigo respirar. Toda a preocupação com a segurança dele, a ansiedade pela falta de notícias e a solidão de não o ter por perto desaparecem e se manifestam em lágrimas de felicidade escorrendo
pelo meu rosto. Ele me põe no chão. Abraço-o e encosto o rosto em seu peito. Preciso dessa conexão. Não consigo parar de chorar, então ele fica ali me abraçando e desferindo muitos beijos na minha cabeça. – Se eu soubesse que ia ser recebido assim, teria vindo mais vezes – comenta ele, segurando meus ombros e me afastando de si. Seus olhos procuram os meus. – O que foi, Bubs? Sorrio ao ouvir o nome pelo qual ele me chamou a vida toda. Acho que estou em choque. – Olhe só pra você! – Dou um passo para trás e lhe acaricio os braços. Tanner parece mais velho e muito mais cansado. Pequenas rugas despontam do canto de seus olhos, e os vincos ao lado da boca são mais profundos do que eram há seis meses, quando o vi pela última vez. Seu cabelo cor de cobre está mais comprido e se enrola sobre o colarinho. A questão é que ele está vivo, inteiro e bem na minha frente. As rugas, de algum modo, o deixam mais atraente; dão mais maturidade às suas feições dinâmicas. – Continua feio, né? – E você cada vez mais bonita – ele recita, uma brincadeira que já repetimos mil vezes durante esses anos todos. Tanner segura meus braços e me olha sacudindo a cabeça como se não acreditasse que estou bem aqui. – Meu Deus, como é bom te ver! Eu o abraço de novo e caio na risada. – A mãe e o pai sabem que você está nos Estados Unidos? – Seguro sua mão e o puxo para dentro da minha sala, não querendo que ele vá embora logo. – Voei para San Diego e fiquei com eles ontem à noite. Vou para o Afeganistão hoje à tarde em uma missão repentina… – O quê? – Nem bem chega e já vai me deixar de novo. – O que você quer dizer com ir embora de novo? – Você pode sair agora? Vamos almoçar e a gente conversa? – Mas é claro!
A única exigência de Tanner para a refeição é que seja em um lugar onde ele possa ver o mar e sentir o cheiro da brisa marinha. Dirijo até o litoral e decido levá-lo a um restaurante à beira da praia,
onde Colton me levou no que eu considero nosso primeiro encontro. É perfeito para ele. No caminho, Tanner me explica que decidiu de última hora tirar uma semana para voltar para casa e nos visitar. Ele estava no Egito, cobrindo muita agitação por lá. Assim que chegou aos EUA, um colega de tropa ficou doente, e agora a viagem foi encurtada para que ele volte ao Oriente Médio e cubra esse colega. – Quer dizer que você viajou tudo isso só para ficar dois dias e nos ver? – Tomo um gole da minha Coca Diet e fico olhando para ele. Estamos sentados no mesmo terraço onde Colton e eu nos sentamos, algumas mesas à direita. Rachel não está trabalhando, mas a hostess em serviço atendeu nosso pedido e nos colocou longe do movimento constante da hora do almoço. Tanner olha para mim e abre um largo sorriso. Eu me dou conta do quanto sinto falta dele e do efeito calmante que ele causa em mim. Meu irmão leva a garrafa de cerveja até a boca e se reclina para trás, olhando para as ondas. – Nossa, como é bom estar em casa. – Sorri. – Mesmo que seja só por um dia. – Nem consigo imaginar – digo, com medo de afastar os olhos dele, pois nosso tempo é muito curto. Enquanto comemos, colocamos nossos assuntos em dia. Ele me conta tudo sobre suas condições de vida e sobre as coisas que estão acontecendo no Egito, mas que não aparecem na mídia. Fico sabendo que ele está saindo com outra jornalista, mas que não é nada sério, apesar da expressão carinhosa que vejo em seu rosto quando fala dela. Adoro ouvi-lo falar. Sua paixão pelo trabalho é tão evidente, que, embora o leve a milhares de quilômetros de mim, não consigo imaginá-lo fazendo outra coisa. Conto sobre meu trabalho, sobre Haddie e tudo mais. Só não falo de Colton. Tanner pode ser superprotetor, e por que mencionar algo de que eu não tenho certeza ainda? Acho que o estou enganando direitinho quando ele balança a cabeça e olha bem para mim. – O que foi? Ele estreita os olhos e me analisa. – Quem é ele, Bubs?
Olho para Tanner perplexa, como se não estivesse entendendo, mas sei que seus instintos investigativos entraram em ação e que ele não vai desistir até conseguir a resposta que deseja. Por isso ele é tão bom no que faz. – Quem é quem? – Quem é o cara que deixou você tão apaixonada? – Ele dá um gole na cerveja. Com um sorriso de canto de boca, ele não tira os olhos de mim. Arrogante filho da mãe! Fico parada na frente dele querendo saber como ele sabe. – Desembucha. – Por que você acha isso? – Porque conheço você muito bem. – Quando cruzo os braços, ele ri de mim. – Vejamos, você está evitando o assunto de propósito em vez de falar. Fica girando esse anel no seu dedo como se fosse um amuleto. Fica mordendo a parte interna do lábio do jeito que você faz quando está matutando alguma coisa, fica olhando para uma mesa ali como se estivesse esperando alguém chegar. Ou é isso, ou você está se lembrando de alguma coisa que você e ele fizeram ali. – Ele ergue uma sobrancelha para mim. – Além disso, você tem um fogo nos olhos que não tinha desde… antes – ele reflete, esticando o braço para pegar minha mão e dar um apertinho. – É bom ver você. – Sorrio para ele, tão feliz por ele estar aqui. – E então? – Existe uma pessoa – falo devagar –, mas ainda está tudo confuso e não sei ao certo o que é. – Giro o anel no dedo sem perceber até Tanner levantar uma sobrancelha para mim. Paro na hora e dou a ele uma ideia de tudo, sem dizer o nome de Colton. – Ele é um cara incrível, mas acho que não está procurando nada mais do que sair sem compromisso. – Dou de ombros, olhando para a paisagem, antes de me voltar para ele, com os olhos quase marejando. – Que merda, Ry, nenhum cara que faça você chorar vale a pena. Mordo o lábio inferior e olho para o guardanapo que estou despedaçando inconscientemente. – Talvez, se ele me faz chorar é porque vale a pena – digo baixinho. Ouço meu irmão suspirar e olho de novo para ele. Sussurro com a voz trêmula: – Pelo menos é o primeiro passo. A compaixão em seus olhos quase me desfaz, rompe o domínio que tenho sobre as lágrimas e queima no fundo da minha garganta. – Oh, Bubs, vem aqui – diz ele, virando a cadeira e me puxando
para perto dele. Tanner me abraça e eu retribuo. Meu irmão é a única pessoa com quem eu posso sempre contar. Fecho os olhos e encosto a cabeça no ombro dele. – Sei por que você está aqui, Tan. Obrigada por ter vindo para ter certeza se estou bem. Ele me abraça de novo, me afasta um pouco para trás e me olha com preocupação. – Eu só queria ter certeza, com tudo o que está acontecendo essa semana… Eu me preocupo com você. Quero estar aqui caso você precise de mim – diz ele, com carinho. – Para que, se ela ligar, eu possa lidar com a situação. Uma onda de amor me percorre, pelo fato de o meu irmão ter acabado de dar meia volta ao mundo por um dia para se certificar de que estou bem. É difícil imaginar que o irmão com quem eu cresci, com quem briguei como cão e gato, tenha se tornado um homem tão sensível e carinhoso. Que ele queira lidar com as consequências do inevitável telefonema que eu vou receber amanhã, da mãe do Max. Seguro o rosto dele com as duas mãos e sorrio. – Não sou sortuda por ter você como irmão mais velho? – Lágrimas brilham nos meus olhos quando lhe dou um beijo no rosto. – Você é o máximo, sabia? Tanner sorri, desconfortável com meu carinho por ele. Levanto-me. – Volto já. Preciso ir ao banheiro. – Dou a volta na mesa e, em seguida, sem pensar, volto e o abraço depressa, passando os braços ao redor de seus ombros enquanto ele permanece sentado. – Ei, por que isso? – Ele ri. – Só porque vou sentir sua falta quando você for embora. – Eu o solto tão rápido quanto o abracei e cruzo o restaurante. A porta da cozinha se fecha assim que passo por ela para ir ao banheiro, do outro lado do salão. Quando saio do toalete, me distraio observando uma adorável garotinha de cabelo encaracolado tentando usar o garfo. Por instinto, levo uma das mãos até a barriga e pressiono. A visão me causa uma pontada mais forte do que o habitual, e a única coisa que posso supor é que seja o significado do dia de amanhã. O aniversário do que levou tudo de mim. Roubou-me o que eu queria mais que tudo nesse mundo.
A única coisa que me faria desistir de tudo – de tudo –, se eu apenas pudesse ter mais uma chance. Estou tão envolvida nas memórias que não percebo a comoção no terraço até ouvir: – Mas que diabos você está fazendo? – É a voz do meu irmão. Demoro alguns segundos para passar entre as mesas e conseguir ver quem está na nossa. – A garota está comigo, babaca. Segure essas mãos. Meu coração para. Eu reconheceria essa voz áspera em qualquer lugar. Vou até a porta às pressas. Meu pulso está acelerado e há incredulidade na minha expressão. Apareço no terraço e encontro a mão de Colton em punho na frente da camisa do meu irmão; seus maxilares tensos, seus olhos soltando fogo. Tanner, ainda sentado, olha para ele com uma cara de bajulador. Seus ombros estão tensos, as mãos fechadas ao lado do corpo. Sem dúvida nenhuma a testosterona está no ar. – Colton! – grito. Ele lança um olhar para mim e não se desvia. Há uma mistura de raiva, ciúmes e agressão vibrando sobre ele. Tanner me olha, sobrancelha arqueada e língua contra a bochecha. – Colton, solta! – exijo, correndo até ele. – Não é o que você está pensando. – Puxo seu braço. Ele encolhe os ombros para se desvencilhar de mim, mas, enfim, solta meu irmão. Aos poucos, meu coração vai desacelerando. Tanner se levanta e confronta Colton com uma cara indecifrável. – Ace, este é meu irmão, Tanner. Colton vira a cabeça para mim. O aborrecimento e a hostilidade dão lugar ao reconhecimento. Posso ver uma gama de emoções faiscando nos seus olhos: alívio, desconforto, irritação. Olho para meu irmão e ainda não consigo decifrá-lo. – Tanner, este é meu… – Vacilo, pois não sei como chamá-lo. – Quero te apresentar Colton Donavan. – Olho para Tanner e vejo suas sinapses começando a disparar assim que ele percebe quem está em sua frente. A pessoa com quem estou saindo. A tensão nos ombros de Colton relaxa um pouco, e um sorriso de descrença lhe repuxa o canto da boca. Sem se desculpar, ele estende a mão para Tanner. Este olha para Colton e para o aperto de mão forte, e em seguida olha para mim.
– Então, Bubs, esse é o filho da puta? – ele pergunta. Seus olhos imploram em silêncio para saber se essa é a atual causa das minhas lágrimas. Olho para ele e dou um sorrisinho tímido. – É – sussurro em resposta às duas perguntas, a dita e a não dita, e então olho para Colton. – Que merda – diz Tanner, pegando a mão de Colton e sacudindo com força. – Senta aí, cara. – Ele solta o ar. – Depois dessa, preciso de uma porra de uma cerveja. – Olho para os dois, perplexa de ver como os homens agem: quase se pegando em um minuto, e se entendendo perfeitamente no outro. – Eu gostaria, mas estou atrasado para um compromisso agora à tarde. – Colton emite uma nesga de risada. – Então, prazer em conhecê-lo. Talvez outro dia? – Colton volta o olhar para mim. – Você me acompanha até lá fora? Olho para Tanner e ele concorda com a cabeça. Solto o ar sem me dar conta de que estava prendendo a respiração, de repente com medo de ficar sozinha com Colton. Nervosa demais para fingir desinteresse e indiferença. – Volto já – digo a Tanner, me sentindo uma criança que pede permissão. – Tanner. – Colton se despede do meu irmão antes de colocar a mão na minha lombar, me guiar através da cozinha e para a porta do restaurante. No pouco tempo que leva para sairmos pela porta dos funcionários, penso em como as coisas terminaram da última vez em que nos falamos. Nas duas opções que ele me deu: pit stop ou acordo. Que eu respondi pit stop, mas ainda sinto que as coisas não ficaram definidas. Isso é porque tenho nadado em incerteza – tanto faz o termo – e ainda me sinto só mais uma na longa fila de suas companheiras de cama. Livro-me desse pensamento, e me forço a não ser emotiva demais, nem analítica demais, ciente de que, em geral, o sucesso é alcançado em pequenos passos. E, mesmo que Colton não tenha expressado nada mais do que um acordo comigo, ele deu apenas um passinho quando pediu pit stop. Não, nada de ficar em cima do muro, digo a mim mesma, lembrando-me do conselho de Haddie sobre como devo
agir com ele. Distante, inatingível, porém desejável. Quando Colton abre uma porta e me encoraja a sair, me preparo para a pergunta de por que não liguei para ele. Colton me ligou duas vezes, eu me forcei fisicamente a não reagir e atender o telefone. Colton fecha a porta e se vira para mim. Que se dane se eu não sou inatingível. Preciso de toda a minha dignidade para não o empurrar contra a parede e beijá-lo como louca. Sem dúvida, o cara me deixa irracional e completamente lasciva. Ele cruza os braços sobre o peito, me encara e inclina a cabeça de lado. – Quer dizer que seu irmão está na cidade? Expiro de modo grosseiro. – Acho que isso já ficou claro entre nós – respondo, irônica, lutando contra o desejo de acabar com a distância entre nós. – Alguém aqui tem pavio curto, hein? Não consigo ler o que se passa nos olhos dele, porque o lampejo é muito depressa. – Quando se trata de você, sim. Eu vi os braços dele ao seu redor. – Ele dá de ombros, a única explicação que eu recebo. – Ele vai ficar aqui por muito tempo? Fico olhando para ele por um momento, confusa por sua indiferença em relação a uma briga que quase teve com meu irmão, sem motivo nenhum. Por fim, olho para o relógio e encosto os quadris na parede atrás de mim, pensando se, por enquanto, deixo passar. – Não, só por hoje. Ele precisa estar no aeroporto daqui a uma hora e meia. – Tiro um fiapo de algodão do meu suéter comprido, como meio de manter os olhos e as mãos ocupados, antes de passar as mãos pela calça justa. Colton inclina um ombro contra a parede na minha frente, e quando olho para cima, vejo seus olhos passando pelo comprimento das minhas pernas. Passeiam pelo resto do meu corpo, param nos lábios e, em seguida, voltam para os meus olhos. – Andou ocupada? – ele pergunta. – Mmm-hmm – respondo vagamente. – E você? – Eu também, mas essa é a calma antes da tempestade, porque a temporada está chegando aí. – Colton me encara com olhos verdes penetrantes. – Você se divertiu aquela noite? – questiona.
Arregalo os olhos com espanto, mas logo me dou conta de que ele se refere ao comportamento de Haddie ao telefone, aquela noite. – Pelo que eu me lembro, sim. – Mostro um rápido sorriso maroto, na esperança de que minha encenação seja convincente a ponto de enganá-lo. – Você sabe como é quando a gente sai e… muitos caras se achando o máximo, muito álcool e pouca roupa… fica tudo fora de foco. Percebo um brilho de raiva nos olhos dele pelo comentário dos “muitos caras” e gosto do fato de ele se incomodar com a ideia o suficiente para perguntar. Depois da reação com Tanner fica claro que Colton tem uma veia desenfreada de ciúmes. É um tanto sexy saber que essa veia corre por minha causa. Ele inclina a cabeça e me analisa um pouco. Dessa vez eu não desvio o olhar de seus olhos severos. Observo-o com uma expressão de pouco caso. – Por que você parece tão distante? Tão inacessível? – resmunga e me surpreende com o comentário. – Inacessível? Eu? Não sabia que estava assim. – Finjo inocência, quando tudo que quero fazer é chegar perto e tocá-lo. – Bem, você está. – Ele suspira, exasperação estampada nas feições do seu rosto. – Bom, acho que só estou tentando atingir seus parâmetros, Ace. Ser exatamente o que você quer que eu seja. – Abro um sorriso meigo. – Que parâmetros? – ele suspira, confusão em seu rosto. – Sem apego emocional, disponível sexualmente e sem drama. – Posso ver o músculo do maxilar pulsando quando ele dá um passo até mim. Há irritação no seu olhar frente ao meu tom desafiador. – O que você está fazendo aqui? Ele me olha por tanto tempo e com tanta intensidade que quase desisto e digo o quanto o desejo. Que se danem meus joguinhos mentais. – Por sorte, consegui escapar sem os paparazzi atrás de mim. A Kelly me deixou subir no telhado para almoçar sossegado e longe da multidão. – Arqueio uma sobrancelha para ele. – A dona – ele explica, soltando um suspiro exasperado pela dificuldade da conversa entre nós, ou por sentir a necessidade de uma explicação. Talvez um
pouco de cada. Olho para baixo e foco no adesivo na minha unha, querendo muito me aproximar dele. Beijá-lo. Abraçá-lo. – É um bom lugar para sentar e ficar remoendo os pensamentos. – E o que exatamente você está remoendo? – As merdas que eu devo resolver – responde ele, irônico. Meus olhos percebem uma mistura de divertimento e sinceridade nos dele. Nos encaramos por um momento; meu pulso acelera com a proximidade. Tento ler a expressão do seu rosto. Ele está falando sério? Está tentando organizar os pensamentos ou apenas caçoando da Haddie? Não dá para saber. – E… eu preciso entrar. Não tenho muito tempo, pois o Tanner já vai embora de novo. – Endireito o corpo e fico ali um instante. Colton dá mais um passo e nossos corpos se roçam brevemente. O dele dispara faíscas de desejo no meu organismo. – A gente pode se ver mais tarde? – ele pergunta, passando o dedo na lateral do meu rosto. Quer dizer que o pit stop acabou? Ou ele precisa dar um trepada? De qualquer modo, preciso esclarecer as coisas. Luto contra a urgência de aconchegar o rosto à sensação dos dedos dele na minha pele. Seja forte, seja forte, seja forte, repito para mim mesma. Não sei como responder. O que dizer? – Vou mandar Sammy buscar você em casa às seis – ele responde por mim, que permaneço em silêncio. Uau, acho que ele pensa que sou fácil, uma coisa certa. E então, me ocorre que talvez o que ele sempre quis mesmo foi um acordo comigo, mas que acabou indo mais longe do que esperava. Por isso, usou o pit stop para me colocar de volta no meu lugar. Para recolocar uma distância entre nós. O conselho de Haddie, que passa pela minha mente, misturado à noção de que ele pensa que eu vou simplesmente voltar ao jogo sem maiores explicações, reforça minha determinação. – Que pena. – Nego com a cabeça para desviar o olhar e disfarçar a mentira. – Tenho um compromisso para hoje à noite. Ele fica tenso com minha resposta. – O que é? – Seu tom é forçado, mas calmo. É óbvio que ele não está acostumado à rejeição.
– Tenho planos com a Haddie – adianto a explicação, com medo de que ele possa pensar que vou sair com outro cara. E se ele pensar que vou sair com outro cara, então vai se achar no direito de sair com outra garota. Só de pensar, meu estômago dá uma volta e percebo que não sou muito boa nesse tipo de joguinho, porque tudo o que eu quero é dizer sim a ele, dizer que quero vê-lo à noite. Que eu mudaria qualquer compromisso para ficar com ele. E então, eu o pressionaria contra a parede e lidaria com a frustração de não fazer o que mais quero, sem pensar antes de assustá-lo ou de cruzar fronteiras imaginárias. Colton solta um grunhido insatisfeito. – Vamos só jantar em casa – digo a ele –, mas é importante, porque a gente não tem se encontrado. – Pare de enrolar, Rylee, ou ele vai perceber que você está mentindo. – Não posso voltar atrás na promessa que fiz a ela. Colton põe o dedo no meu queixo e levanta meu rosto até encontrar suas íris verdes, que me analisam. – Bom, nesse caso você não está se esforçando muito – ele adverte, apesar de o humor brilhar no seu olhar. Eu balanço a cabeça sem entender. Ele sorri com arrogância. – Em ser o que você quer ser. – Dá para ouvir minha expiração enquanto ele me encara. – Porque, se você se esforçasse mesmo – explica, terminando o joguinho que eu comecei –, esta noite você estaria onde eu queria que você estivesse. Úmida, quente e embaixo de mim. Continuo a encará-lo, pensando no que dizer. Meu corpo estremece com suas palavras. Espero uns segundos até meu cérebro se recuperar do comentário e, quando isso acontece, dou um passo atrás. A distância é fundamental quando se trata de lidar com Colton. – É, acho que você tem razão. – Solto o ar observando a surpresa em seu rosto, ao ver que eu concordo. – Por que eu iria querer ser alguém de reserva? Previsível é chato, Ace. E, pelo que sei, você se cansa rápido. Ele fica parado me olhando, com a perplexidade estampada no rosto. Passo em volta dele. Ele me alcança e agarra meu braço, forçando-me a encará-lo.
– Onde você vai? – ele exige saber. – Vou ver o meu irmão – respondo, olhando para sua mão e para ele. – Me avisa quando você terminar de pensar nessa merda toda. – Eu me desvencilho de sua mão e empurro a porta aberta que dá para a cozinha, sem olhar para trás. Tudo o que ouço antes de a porta se fechar é Colton rindo e xingando ao mesmo tempo.
Cinco
COLTON
Puta mulher geniosa! Meus pulmões queimam. Meus músculos ardem. Piso forte na esteira como se quisesse puni-la. Tanto faz. Não adianta ficar pensando, minha cabeça está fodida. Rylee continua bagunçando meus pensamentos. O tempo todo. Que porra é essa que está acontecendo comigo? Fui eu quem pediu uma droga de um pit stop. Fui eu que me arrisquei a tentar colocá-la de volta num terreno mais familiar. Então por que sou eu quem está se sentindo rejeitado por ela? Filha da puta. Complicada. Temperamental. Necessária. Estou fodido. A música vibra nos fones de ouvido. A batida do Good Charlotte me estimula, mas a pressão no peito não vai embora. Conto os passos enquanto corro. Só até noventa e nove e aí começo de novo. Juro por Deus que já recomecei a contar cem vezes até agora, e não adiantou nada. Nunca joguei essa porra de joguinho com as mulheres e não tenho a menor intenção de começar agora. Eu digo quando. Eu digo quem. Eu dou as cartas. Eu pego o que eu quero. Quando eu quero. Todas as mulheres que antes passaram pela minha cama aceitaram meus parâmetros, sem dar uma porra de um vacilo. Sem perguntas, a não ser “Amor, como você me quer esta noite? De
joelhos ou de costas? Algemas ou amarrada? Boca ou boceta?” . Todas menos a Rylee. Puta frustração. Primeiro, quase meto a mão na cara do irmão dela hoje, e depois ela vai embora se recusando a ficar comigo esta noite. Sei que ela me quer. Está escrito em todo aquele corpo absurdamente sexy. Está refletido naqueles olhos incríveis, que me atraem e me engolem inteiro. Estou fodido porque quero transar com ela o tempo todo. Mas que porra? Ela foi embora, me deixou plantado e nem sequer hesitou em dizer não. Não? Você está de brincadeira comigo? Quando foi a última vez que ouvi isso? Ah, tá bom. Tá certo. Foi a Rylee. Merda. Agora eu só penso nela. Quero vê-la. Ouvi-la. Me enterrar nela até escutar aquele som que ela faz antes de gozar. É tão sexy que chega a ser absurdo. Não estou sendo dominado por mulher nenhuma. De jeito nenhum. Não tem como. Nem de longe. Então, por que não chamo alguém para uma rapidinha descomplicada? Por que não gosto dessa ideia? Você está ficando louco, Donavan. Devo ter afogado demais o ganso com um monte de mulher louca, e agora isso começou a mexer com a minha cabeça. Aperto o dedo na tela e aumento a inclinação, me forçando a ignorar meus malditos pensamentos. A música muda para “Desperate Measures”, mas o sarcasmo da letra de que eu gostava já não surte mais nenhum efeito em mim. Puta que pariu. Nada faz efeito. Música. Inclinação. Velocidade. Porra! Continuo visualizando Rylee na banheira, dedos firmes nas minhas bolas, olhar intenso, lábios me dizendo exatamente como devo tratá-la. Que não ia admitir aquelas coisas de mim novamente. É a primeira vez. Ter alguém estabelecendo os parâmetros para mim. O inferno congelou e ninguém me avisou? Ela segurava minhas bolas num aperto ferrenho e eu só conseguia pensar no quanto eu a desejava. Na minha cama. No meu escritório. Na pista. Na minha vida. E não só de costas. Deve fazer vodu de boceta, ou alguma coisa assim. Fazendo de mim o que quer, prendendo-me nos seus grilhões sem nem perceber. Estou com um puta tesão, só pode ser por isso que minha cabeça está toda fodida. Uma semana é muito tempo para ficar sem trepar.
Merda! Nem me lembro quando foi a última vez que fiquei na seca desse jeito. Então por que outro dia você pediu a ela um pit stop, seu imbecil? Ela estaria embaixo de você esta noite se você não tivesse dito aquilo. Por que foi abrir a boca? Solto um gemido de frustração por causa da minha burrice. Por causa da minha necessidade de descontar nessa maldita esteira, mas não está funcionando nada. Não consigo parar de reviver aquela manhã. Porra! É oficial. Remoendo as merdas? Agora, sem dúvida, virei uma garotinha. Devo ter perdido minhas bolas em algum lugar, na semana passada. Só as garotas ficam remoendo as coisas, mas eu continuo pensando sobre aquele instante na varanda com ela… em como eu estava apenas tentando fazer a coisa certa, tentando protegê-la, afastá-la do desastre iminente que é a minha cabeça. Tentando dar a ela a chance de conhecer alguém que proporcione o que ela precisa – e merece –, mas, por mais que eu tentasse, as palavras não saíam. E então ela se aproximou e me beijou, com tanta sinceridade e segurança que eu mal pude respirar. Só pude sentir. O momento foi tão real. Tão natural. Tão íntimo. É, agora tenho boceta. Disso eu não tenho dúvidas. Mas, porra, o mero gosto me fez perceber o quanto eu estava faminto e há quanto tempo. E então eu soube que precisava colocar alguma distância entre nós e a estranha sensação de necessidade que eu senti. A necessidade de cobiçar. De proteger. De cuidar. Tive que me afastar de uma coisa que eu sei, com uma puta certeza, que eu não quero. Amor. O amor e as coisas que a gente tem que fazer por causa dele. Pedir um pit stop era exatamente o que eu não precisava. Eu não precisava tentar dizer a mim mesmo que eu precisava de espaço para nos levar ao único tipo de arranjo que posso aceitar. De volta à categoria de acordo. Devo ter usado o termo para atenuar o golpe, mas meu único pensamento foi: se eu nos colocar de volta nos parâmetros preestabelecidos, vou conseguir recuperar o controle que, eu sinto, está escorrendo pelos meus dedos. Recuperar a necessidade de só contar comigo mesmo.
Aperto o dedo na tela e aguardo a esteira parar. Fico assim, peito arfando, pingando de suor – sem me sentir nada melhor depois do castigo que acabei de me autoinflingir. Olho pela janela panorâmica para a oficina que fica lá embaixo, observando os rapazes terminarem alguns ajustes de motor sobre os quais decidimos ontem. Esfrego a toalha no rosto e pelo cabelo ensopado. A sensação no meu corpo quando piso no chão depois de estar tanto tempo na esteira é como se estivesse flutuando um pouco. Passo pela porta à minha esquerda e vou ao banheiro que liga minha academia ao escritório. Tomo uma chuveirada, me olho no espelho e decido que não vou fazer a barba. Passo qualquer coisa no cabelo. Será que ela sabe como eu estou detonado? Será que ela tem alguma ideia de como sou um imbecil? Como geralmente eu uso o que preciso e depois descarto? Preciso falar pra ela. De algum jeito. Preciso avisá-la sobre essa porra de veneno que existe dentro de mim. Passo a camisa pela cabeça. De repente, tenho um lampejo de que preciso sair desse estado emocional em que me encontro. Entro no escritório e vou direto pegar meu celular para fazer algumas ligações e manter as coisas acontecendo. Mas, antes, tenho que mandar uma mensagem de texto para ela. Preciso avisá-la do único jeito que ela vai ouvir. Encontro o nome dela no celular e digito: “Push – Matchbox Twenty”. Aperto “enviar”. Minha mente percorre a letra dessa música sem parar: “I wanna take you for granted. Well I will”.1 – Qual é a porra do seu problema? Apesar da familiaridade, levo um susto ao ouvir o som da voz. Dou a volta e encontro Becks sentado em uma das cadeiras na frente da minha mesa, com os pés apoiados na outra. – Você me assustou – rosno, passando a mão pelo cabelo. Você tá de parabéns, Becks! – Pelo visto, você precisa comer uma P, cara. Tem um buraco extra e com toda certeza você parece que faria bom uso do alívio adicional – ele conclui arrastando as palavras, com divertimento nos olhos ao estreitá-los para me estudar e tentar descobrir o que está rolando. Uma nesga de risada escapa dos meus lábios, e meu coração começa a acelerar. Afundo na cadeira e ponho os pés em cima da
mesa, imitando-o. Só ficamos nos encarando; os anos de companheirismo permitem que haja conforto no silêncio enquanto avalio o que dizer, e ele mede o quanto me perguntar. Ele decide finalmente quebrar o silêncio. – É muito mais fácil e mais barato pôr isso pra fora do seu peito, Wood, do que quebrar a porra da esteira, sabia? – Só balanço a cabeça para ele, antes de olhar para a oficina mais uma vez, um dos meus hábitos obsessivos. – Você vai ficar todo enigmático pra cima de mim com tratamento de silêncio, agora? – Quando olho de volta para Becks, seus olhos agora observam os homens lá embaixo, ignorando a cara feia que estou lhe mostrando. – Ou vai explicar por que ficou sentado durante toda aquela reunião depois do almoço com a cabeça enfiada no traseiro, fazendo de poucos a nenhum comentário e só se mostrando como um otário em geral. Só para acabar aquilo sem decisão nenhuma para que você viesse aqui quebrar a esteira? – Lentamente ele traz o olhar de volta ao meu, sobrancelhas arqueadas em questionamento, e um aspecto avaliador nos olhos. Sempre posso contar com o Becks. A única pessoa que pode me colocar no meu lugar. A única pessoa que vou permitir me chamar pra briga. A única pessoa que me conhece bem o suficiente para saber que estou irritado e vir me perguntar na nossa conversa de macho que merda está errada. – Não é nada. – Dou de ombros. Ele sufoca uma longa risada e balança a cabeça para mim. – Tá bom. Até parece que não é nada – diz ele, endireitando o corpo na cadeira. Seus olhos nunca deixam os meus. – Já que você anda tão falador, acho então que vou pegar o caminho da roça. Que se foda. Antes que Becks alcance a porta, estou colocando a carteira no bolso de trás, apanhando o celular, e caminhando em direção à porta. – Vamos – murmuro ao passar por ele, sabendo que ele vai estar bem atrás de mim. E estou certo, porque ouço sua risada tranquila nas minhas costas. Uma risada que diz: sim, eu estava certo.
Mostro o sinal universal de “mais uma rodada” e faço um gesto para a garçonete, em cujo crachá está escrito “Connie”. Se ela vai ficar aqui só me olhando, poderia muito bem fazer alguma coisa para pagar pelo espetáculo grátis. Merda. Estou meio alegre e só agora começo a relaxar. Não estou bêbado o suficiente para afastar meu humor de merda, mas estou fazendo progresso. Connie oscila os quadris no caminho até minha mesa, com nossas bebidas nas mãos. Ela se inclina e coloca as garrafas ali, garantindo que eu tenha visão completa dos peitos que ela anda exibindo para quem quiser ver. A garota é inquestionavelmente gostosa em todos os jeitos certos e em todos os lugares certos. Com certeza eu traçaria – em outro momento, outro lugar, talvez –, mas contenho o comentário espertinho sobre como, de repente, entre eu ter pedido a bebida e ela vir trazê-la, sua camiseta simplesmente ficou mais decotada, e a saia ficou mais curta. – Posso fazer mais alguma coisa por vocês dois, cavalheiros? – ela pergunta com um tom sugestivo na voz e a língua lambendo os lábios. – Está tudo certo por aqui – rebate Beckett, inexpressivo, sacudindo a cabeça e interrompendo a tentativa de flerte. Ele está acostumado a essas coisas. É um santo por conseguir lidar com tudo isso, todos esses anos, com seu jeito sutil e calculista. Uma mensagem de texto faz meu telefone apitar. Pego a garrafa nova e olho o que é. – Smitty está dentro – digo a ele. Eu deveria ficar feliz por Smitty ter topado ir a Las Vegas com a gente. Já saímos juntos pra farra milhares de vezes antes. Com certeza ele vai me tirar desse meu humor de merda. Se estou tão feliz, então por que fiquei decepcionado por não ter sido o nome de Rylee apitando no celular? – Legal. Quase toda a turma, então – diz Becks, recostando-se na cadeira e tomando um longo gole de cerveja. Posso sentir seus olhos em mim, esperando, paciente, para eu falar. Eu me inclino para a frente e apoio a cabeça nas mãos por um momento, tentando me livrar do caminho para onde meus pensamentos sempre acabam voltando. A droga da Rylee. – Quer me dizer o que diabos estamos fazendo aqui, Colton, quase
seis horas da tarde numa sexta-feira? Que bicho te mordeu, porra? Apenas balanço a cabeça enquanto puxo o rótulo da garrafa e mantenho os olhos baixos. – A droga da Rylee – murmuro, sabendo que minha confissão acaba de abrir a caixa de Pandora. – Então é isso? – ele brinca. Eu levanto a cabeça devagar e encontro seus olhos, surpreso pela falta de comentários engraçadinhos que são sua marca registrada. Ele me olha por cima da garrafa de cerveja, toma mais um gole. Eu apenas aceno com a cabeça. – Que porra você fez com ela? – Obrigado pelo voto de confiança, Becks. – Dou risada. – Quem disse que fiz alguma coisa? Ele só me olha de um jeito que diz “e por acaso de quem a gente está falando?”. – Bom… – Nada. Absolutamente porra nenhuma – rosno, rebatendo o tiro para ajudar a enterrar o fato de que estou mentindo para meu melhor amigo. – A questão é que ela é frustrante demais. – Como se fosse alguma novidade. Estamos falando de uma mulher aqui, não estamos? – Eu sei. Ela anda me dando nos nervos e agora está se fazendo de difícil. Só isso. – Suspiro, recostando-me na cadeira para que eu possa encontrar o olhar de Beckett. – Ela te deu um pé na bunda? – Becks tosse, em choque. – Tipo, pra sempre? Você está brincando comigo? – Não. – Chamo a atenção de Connie novamente para pedir outra rodada. – Bom, que merda, cara. Estamos indo para a cidade do pecado daqui a algumas horas. Tenho certeza de que deve ter alguma gostosa lá pra você comer à noite e esquecer da Rylee. Diga-se de passagem, várias gostosas. – Ele dá de ombros, e um ligeiro sorriso antagonista surge no canto da sua boca. – Já que só o que você estava fazendo era comer a Rylee… porque isso era só o que você fazia, né? Comer? Não existe nenhum compromisso aí para arruinar. Sem vodu de boceta. Sei que ele está tentando mexer comigo. Tentando conseguir uma reação, de uma maneira ou de outra, sobre qual é minha posição
quanto à Ry. Mas, por algum motivo, não mordo a isca. Deve ser o álcool correndo nas minhas veias. Em vez disso, dou de ombros para concordar sobre encontrar outra pessoa com quem passar a noite, mas a verdade é que não tenho vontade. Nenhuma. E por que diabos esse tipo de comentário – que só estou comendo a Rylee – me irrita? Afinal, é com Beckett que estou falando. Meu melhor amigo e irmão para todos os efeitos – o homem com quem eu discuto todo tipo de coisas, e quero dizer todo tipo –, então por que esse comentário despreocupado me incomoda? É como se ela ainda estivesse me segurando pelas bolas. Que merda. – Ela tem uma amiga gostosa. Becks me olha como se eu tivesse acabado de ganhar duas cabeças. – Como é que é? Não estou acompanhando. – Bom, a gente poderia dar uma passada na casa da Rylee no caminho para o aeroporto, e as duas poderiam vir junto. – As palavras saem da minha boca antes que meu cérebro consiga processar o pensamento. Beckett engasga com o gole de cerveja e começa a tossir. Sua expressão é de completo choque. Pelo visto, agora eu realmente tenho duas cabeças. Ignoro e volto minha atenção para o rótulo da cerveja. De onde diabos veio isso? Levar Rylee para Vegas comigo? O único lugar em que seria mais provável eu esquecê-la por algum tempo? O melhor lugar onde eu posso usar o prazer para enterrar a dor. Levar uma garota para Vegas é como levar a esposa para a casa da amante. É por isso que nunca levei nenhuma. Nunca nem sequer pensei nisso. Evitei a todo custo. Companheiras, ficantes, seja lá como sejam chamadas, sempre ficam em casa. Elas nem ao menos ficam sabendo que eu vou. Sem exceções. Então, por que diabos eu fiz essa sugestão? E mais importante, por que diabos eu quero que ela vá, mais do que tudo? Devo ter perdido a porra do juízo. Vodu de boceta. Caralho. – Puta merda… – Beckett diz com uma voz arrastada. – Eu nunca pensei que veria o dia em que o maldito Colton Donavan diria isso. –
Ele suspira com um assobio. Eu juro que consigo ouvir algo se encaixar na cabeça dele. – Você parou de usar camisinha, não foi? Não consigo evitar que meus olhos disparem para os dele depois desse comentário. Em nosso jargão especial de conversa de macho, isso significa ficar com uma mulher só. Por pensar nela em mais do que apenas sexo sem compromisso. Fazer sem camisinha porque a gente tem completa confiança na outra pessoa. Pau-mandado de mulher. Nenhum de nós já passou por isso antes. Nunca. É uma espécie de solidariedade silenciosa que temos entre nós. Isto é, nenhum de nós até agora. – Filho da puta! – Becks pula no assento. – É verdade, não é, seu filho da puta! – Cala a boca, Beckett – rosno ao virar o resto da minha cerveja e levantar o copo vazio para Connie, que ainda continua atendendo com o máximo esmero, a um metro e meio de distância. Becks apenas fica me olhando em silêncio até a mais nova rodada ser colocada na nossa frente. Eu olho para ele por mais algum tempo, deixando meu comentário se assentar entre nós, e eu me sentir confortável com a ideia que percorre minha cabeça… então me dou conta. Claro que sim, porra, quero que a Ry vá com a gente. Agora, o que diabos isso significa? Viro a dose e solto um silvo ao sentir a queimação do líquido e o amortecimento se espalhar nos meus lábios. Esfrego a mão no rosto. Beckett continua olhando para mim como se eu fosse algum tipo de atração de circo de aberrações. Posso dizer que ele está mordendo a bochecha para não sorrir e não dizer as merdas que estão voando pelos seus olhos na velocidade de um raio. Ele leva a mão à orelha e se inclina sobre a mesa. – Desculpa aí. Acho que não ouvi direito. Qual foi a sua resposta, caralho? Não consigo evitar o sorriso que repuxa um canto da minha boca. No livro do Beckett isso é ser bonzinho, então eu sou grato por ele estar se mantendo controlado diante do meu óbvio desconforto. – Puta que pariu! – diz ele, deslocando-se na cadeira para me observar mais um pouco com um ar de descrença no rosto. Ele olha
para o relógio. – Bom, se a gente pretende decolar no horário, garoto apaixonado, é melhor a gente ir. – Isso é tudo o que você vai dizer? – pergunto, incrédulo. – Ainda nem comecei, Wood! Preciso de tempo para processar… não é todos os dias que o inferno esfria abaixo de zero. Por mim tudo bem. Se eu puder me livrar dessa apenas com o que foi dito até agora, já está bom. Faço que sim com a cabeça e começo a digitar no celular. – Estou mandando uma mensagem para o Sammy vir nos pegar – explico. A música ambiente no bar continua tocando, e eu rio da droga da canção que está passando agora. É claro que é a Pink. Rylee e sua droga de Pink. Envio a mensagem para Sammy e, em seguida, procuro o nome dela na lista dos contatos. Antes de me dar conta, eu também já escrevi uma mensagem rápida para Rylee. Afinal, quem está na chuva é para se molhar. 1
Quero poder contar com você. Bem, eu vou. (N.T.)
Seis
– Você disse mesmo isso pra ele? – Haddie pergunta, sem acreditar. A expressão em seu rosto é engraçada de um jeito superexagerado e hilário. – Juro! – respondo, erguendo a mão para dar efeito. Olho para meu celular, pois acaba de chegar uma mensagem. É de Colton, e diz apenas: “Get this Party Started” – Pink.2 Haddie não percebe a estranheza no meu rosto quando leio, porque está concentrada em lixar as unhas. Que droga é essa? Primeiro, a mensagem sobre o Matchbox Twenty que me deixou perdida, e agora isso? Ele está bem aleatório hoje e um pouco confuso também. – Caramba! Adoraria ter visto o rosto dele quando você fechou a porta. – Eu sei. – Dou risada. – Meio que me senti bem por tê-lo deixado atônito em vez do contrário. – Tá vendo só? Eu te disse! – Ela dá um empurrãozinho no meu joelho. – Além do festival de testosterona com Colton, você e Tanner tiveram um encontro legal? – Tivemos. – Sorrio de leve. – Foi muito bom ver meu irmão. Eu não percebi o quanto sentia falta dele até… – Uma batida na porta me interrompe. Olho para Haddie, e meus olhos perguntam quem poderia estar batendo à nossa porta às sete horas numa sexta à noite. – Não faço ideia. – Ela encolhe os ombros e se levanta para atender, já que estou com uma enorme quantidade de papéis de trabalho espalhados no colo e no sofá ao meu lado.
Instantes mais tarde, ouço vozes, risadas e Haddie exclamando: – Olha só o que o gato trouxe pra dentro de casa! Curiosa, começo a recolher meus papéis. Haddie entra na sala com um largo sorriso no rosto. – Alguém está aqui para te ver – diz ela, com um olhar de quem sabe das coisas. Antes que eu possa perguntar quem é, Colton entra com tudo na sala, numa passada nada graciosa, e com Beckett bem atrás, dando risada. Algo está errado com Colton, e não tenho certeza do que é, até que ele me vê. Um sorriso bobo se espalha por seu rosto e parece fora de lugar em conjunto com a intensidade das suas feições. Ainda bem que estou juntando meus papéis, porque, sem cerimônia, ele se estatela ao meu lado. – Rylee! – ele exclama com entusiasmo, como se não me visse há semanas. Então estende a mão, dedos calejados raspando minha pele nua, me agarra e me puxa para o seu colo. Só o que consigo fazer é rir porque percebo que O Senhor Cuca-Fresca e Sempre no Controle está um pouquinho bêbado. Minto: ele está muito bêbado. E, antes que eu possa sequer reagir ao seu súbito aparecimento, sua boca se fecha sobre a minha. Primeiro eu resisto; mas, assim que sua língua investiga minha boca e eu sinto seu gosto, já era. Solto um gemido de aceitação e envolvo a língua na dele. Faz apenas alguns dias, mas, Deus, como senti falta disso. Falta dele. Esqueço que tem mais gente na sala quando Colton enreda a mão no meu cabelo e assume controle sobre mim. Ele tem gosto de cerveja e pastilhas e tudo o que eu quero. Tudo que eu anseio. Curvo as costas de um jeito que meu peito pressiona o seu, e meus mamilos formigam ao roçarem no calor firme do peito dele. Colton engole o gemido que arrancou de mim, ao mesmo tempo em que sua ereção pressiona meu pijama fininho e se esfrega em mim. – É melhor a gente sumir da sala? – Ouço Haddie dizer, antes de pigarrear alto para chamar a atenção e me trazer bruscamente de volta à realidade. Afasto um pouco a cabeça para trás para me separar de Colton, mas sua mão permanece presa no meu cabelo, fazendo meus cachos de reféns. Ele apoia a testa na minha enquanto nós dois recuperamos
o fôlego em respirações entrecortadas de necessidade. Depois de um segundo, ele joga a cabeça para trás no sofá e ri alto. Todo o seu corpo treme, tamanha a força. – Caralho, eu precisava disso! – ele exclama, sem ar. Começo a me mexer para descer de seu colo, agora consciente de que estou vestindo uma regatinha de pijama bem fina, sem sutiã, e estou com os mamilos rígidos despontando, tudo isso na frente de Beckett – que só encontrei uma vez –, sentado na minha frente, nos observando com uma discreta, porém divertida, intensidade. Antes que eu possa sequer cruzar os braços na frente do peito, as mãos de Colton me agarram por trás, me envolvem e me puxam de encontro a seu corpo. – Ei! – grito. – Tá bom! – ele grita em resposta, brincando. – E Colton está inebriado. O quê? Eu me mexo sobre seu colo e tento me virar para encará-lo. – Como? Ele dá risada e é um riso tão despreocupado de menino – tão contraditório com a intensidade que ele exala – que meu coração se enche de alegria só de ouvir o som. – Ace – ele afirma, confiante. – E Colton está inebriado. Cai na gargalhada de novo e eu acabo rindo também. – Não. – E, antes que eu possa dizer qualquer outra coisa, Beckett entra na conversa. – Você está mais mamado do que eu pensava. Inebriado começa com “I”, otário. Soletrou muito? Colton mostra o dedo do meio, e o sorriso de menino retorna. – Tanto faz, Becks. Você sabe que me ama! – ele diz, me puxando de novo para si. – Agora, de volta ao que importa – Colton anuncia em tom alto. – Você vem com a gente. Haddie arqueia as sobrancelhas. Minha expressão aturdida provoca uma diversão que transparece em seu rosto. – Colton, me solta! – disparo num gritinho entre risadas, tentando me livrar do aperto ferrenho dos seus braços ao meu redor. Ele simplesmente aperta mais e apoia o queixo no meu ombro. – Não! Não até você concordar que vai com a gente. Você e a Haddie vão partir numa viagenzinha comigo e com o Becks. –
Começo a me contorcer de novo e sinto a mão livre de Colton subir e apalpar meu seio através da camiseta; seu polegar roça o mamilo. Sugo o ar bruscamente. O constrangimento inunda minhas faces. – Nã-nã-não – brinca ele, e seu hálito sopra no meu rosto. – Cada vez que você me enfrentar, linda, vou usar a mão boba. – Ele mordisca a pele entre meu ombro e o pescoço, e sua ereção fica cada vez maior debaixo de mim. – Então, por favor, Rylee – ele implora –, por favor, briga comigo. Reviro os olhos, apesar da onda de desejo que reverbera pelo meu corpo ao som de sua voz sensual. Não consigo segurar a risada espontânea que deixo escapar. Haddie e Beckett também se juntam a mim. Colton bêbado significa Colton brincalhão. Gosto dessa faceta dele. – Típico macho – provoco. – Sempre interpretando tudo errado e pensando com a cabeça de baixo. Ele me puxa mais junto dele, um braço ao redor dos meus ombros, e o outro ao redor da cintura. – Bom, então não tenha medo de fazer minha cabeça explodir – ele murmura, um grunhido baixinho e sedutor no meu ouvido, que me provoca riso de tão besta e ao mesmo tempo tão tentador que foi o comentário. – Então levantem a bunda do sofá, senhoritas, e se arrumem! – ele ordena de repente, interrompendo nossa conexão, me puxando para ficar em pé e finalizando com um tapa na minha bunda. – O que você está pensando? – pergunto ao mesmo tempo em que Haddie pula na conversa: – Aonde a gente vai? Beckett ri alto da reação imediata de Haddie antes de trazer a garrafa de cerveja aos lábios. – Ei! – grita Colton. – Não beba minha cerveja, seu imbecil, ou vou te derrubar. – Relaxa, Wood. – Ele dá risada. – Você deixou a sua no aparador lá na entrada. – Merda – Colton resmunga. – Sou um homem precisando de uma cerveja e de que as mulheres comecem a se mexer. Estamos perdendo tempo! – De que diabos você está falando? – Eu me viro para ele, braços
cruzados sobre o peito. Ele me encara. Um sorriso lento e travesso se espalha por seus lábios. – Vegas, linda! Mensagem misteriosa resolvida. – O quê!? – gritamos Haddie e eu ao mesmo tempo, mas com objetivos e entonações diferentes. Até parece que vou para Las Vegas neste exato momento. Ele está pensando o quê? Colton levanta o celular e morde o lábio, tentando se concentrar na tela, e percebo que ele tenta entender que horas são, apesar da cabeça bagunçada pelo álcool. – Vamos estar de volta de manhã, mas o voo sai daqui a uma hora, Rylee, então é melhor mexer essa bunda linda que você tem! O quê? Vamos pegar um voo? “Vamos”? De onde eu tirei isso? Eu não vou a lugar nenhum. – Colton, você não pode estar falando sério! Ele se levanta do sofá e parece um pouco instável nas próprias pernas antes de recuperar o controle. Então me olha. Uma mecha perdida de cabelo escorre de sua testa, e a camisa está fora da calça do lado direito. – Será que vou ter que colocar você sobre o meu ombro e te levar pro quarto para deixar claro o quanto estou falando sério, querida? Olho para Beckett em busca de algum tipo de ajuda. Ele apenas dá de ombros, rindo em silêncio da nossa conversa mole. – Se eu fosse você, apenas aceitaria, Rylee – ele diz arrastando as palavras, e me dá uma piscadinha. – Ele não desiste quando está desse jeito. Sugiro que você vá se trocar. Abro a boca para falar, mas não sai nada. Olho para Haddie, cuja empolgação é visível nos olhos. – Vamos, Ry – ela insiste. – Não faria mal nenhum dar uma fugidinha, com tudo o que vai acontecer amanhã. – Ela encolhe os ombros. – Ter um pouco de diversão e esquecer um pouco. – Confirmo com a cabeça e o sorriso dela se alarga. Haddie dá um gritinho. – Vamos para Las Vegas, bebê! Beckett se levanta da poltrona e pergunta onde fica o banheiro. Haddie, a caminho do quarto para se trocar, se oferece para mostrar onde é. Eu me viro para Colton, mas sou pega desprevenida, pois ele
me joga sobre o ombro e dá palmadas na minha bunda quando sai andando com passos um tanto instáveis, rumo ao corredor. – Colton, para com isso! – eu grito, batendo na bunda dele também. Sua única resposta é uma risada. – Qual é o seu quarto? – Solto outro gritinho quando ele faz cócegas no meu pé. – Fala, mulher, ou vou ser forçado a usar um pouco mais de tortura! Ah, não tenho dúvida: eu adoro o Colton bêbado e brincalhão! – A última porta à direita – guincho pra ele em meio a mais cócegas, antes de ser jogada na cama sem cerimônia alguma. Estou sem fôlego de tanto rir, e, antes que consiga falar, o corpo de Colton está em cima do meu. A sensação de seu peso sobre mim, me pressionando tão intimamente, cria uma fissura na minha determinação. O gelo que eu ia dar nele durou pouco… Essa carta foi jogada pela janela no minuto em que ele entrou trôpego na sala de casa com aquele sorriso brincalhão e cativante no rosto. Sua boca se cola à minha e sua língua mergulha na minha boca. Deslizo as mãos debaixo de sua camisa e percorro suas costas lisas. O beijo é cheio de voracidade, angústia e paixão, e sei que estou me perdendo nele. Me perdendo em Colton. Suas mãos me exploram, tocam cada centímetro da minha pele nua que ele encontra, como se precisasse dessa conexão para lhe dizer que tudo está bem entre nós. Que essa nossa união o está reassegurando, confirmando que seja lá o que existia entre nós ainda existe. Paraliso quando ouço a maçaneta. – Anda, garoto apaixonado. – Beckett dá uma risadinha meio constrangida. – Segura as pontas aí. Vocês podem fazer isso depois. Neste momento, temos um avião para pegar. Colton rola de cima de mim, grunhindo ao ajustar a ereção dentro do jeans. – Você é um empata-foda, Becks! – É por isso que você me ama, cara! – Ele ri e some no corredor, dando-me um pouco de privacidade para me arrumar. Colton coloca as mãos atrás da cabeça e cruza os pés na altura dos tornozelos. Eu desço da cama. – Nossa, como você está sexy agora – murmura Colton, olhos focados nos meus mamilos, que pressionam o algodão da regata.
– Ela vai ficar ainda mais sexy daqui a vinte minutos, Donavan, se você der o fora daqui e deixá-la fazer o que ela precisa fazer – comenta Haddie, sem se abalar, ao entrar às pressas no meu quarto segurando um monte de cabides com vestidos curtíssimos para eu experimentar. – Merda – diz Colton, levantando-se do colchão. – Acho que entendi o recado. Beckett? – ele grita pelo corredor. – Hora de outra cerveja.
Torço uma mecha do cabelo de Colton com os dedos, sem pensar, enquanto observo soa cabeça deitada no meu colo. Ele acabou de adormecer. Balanço a cabeça observando a calma pacífica em seu rosto. Ainda estou chocada com a direção que a noite tomou. Sorrio, lembrando-me da cara de Colton quando Haddie e eu entramos na sala com nossos trajes sexy especiais para Las Vegas. Assim que ele me viu, a garrafa de cerveja que estava inclinada em direção aos seus lábios parou no meio do caminho. Seus olhos percorreram o comprimento do meu corpo numa leitura preguiçosa, e um sorriso diminuto assombrou seus lábios antes que seu olhar encontrasse o meu. O que seus olhos me disseram naquele único instante foi tudo o que eu precisava ouvir, mas que não tinha ouvido dele nos últimos dias. Desejo. Necessidade. Querer. E, sem que eu tivesse nenhum poder na questão quando Colton mencionou voo, eu não fazia ideia de que ele já tinha alugado um jatinho, e que este estava esperando por nós no Aeroporto Municipal de Santa Monica, onde chegamos de limusine. Haddie e eu simplesmente trocamos um olhar e sacudimos a cabeça diante de tanto esbanjamento. E quando embarcamos, além de Sammy sentado em silêncio no fundo do avião, havia uma comissária de bordo disposta a providenciar qualquer pedido de bebida ou comida que a gente fizesse. Enquanto Haddie, Becks e eu tirávamos vantagem da oferta de bebida, Colton recusou tudo e subiu no sofá ao meu lado, deitou a cabeça no meu colo e declarou que precisava de uma soneca rápida em preparação para a noite que teria pela
frente. Balanço a cabeça pensando nisso tudo, com uma sombra de sorriso no rosto. Levanto o olhar e vejo Haddie e Beckett numa conversa aos sussurros na minha frente. Haddie tirou os sapatos de salto e está sentada com os pés embaixo do corpo. As pernas compridas de Beckett estão esticadas na frente dele, e seus dedos desenham linhas despreocupadas nas gotículas que se condensaram na garrafa. Ele tem uma beleza discreta e atípica. Observo-o e percebo que ele tem mais sex appeal do que beleza propriamente dita. Seus cabelos loiros cor de areia são curtinhos e espetados com gel. Os olhos azuis cristalinos são emoldurados por cílios grossos. São olhos calmos que absorvem e observam tudo de um jeito reservado. Seus ombros são largos e o corpo é esguio como o de Colton. Fico olhando para ele, o melhor amigo do meu caso, e há muitas coisas que eu gostaria de lhe perguntar sobre Colton. Muitas coisas nas quais eu acho que ele poderia jogar alguma luz, mas sei que ele nunca trairia o amigo para me contar nada. Se é por acaso ou porque sente o peso do meu olhar, Beckett ergue os olhos e encontra os meus; a frase que estava dizendo à Haddie fica bambeando nos lábios. Ele inclina a cabeça de lado e curva os lábios para cima, como se na tentativa de decidir se deve dizer alguma coisa ou não. – Você sabe por que estamos aqui neste momento… por que motivo o Wood se embebedou esta noite, não sabe? – Seu sotaque sulista se arrasta. Ele baixa os olhos e sacode a cabeça ao ver o amigo, então me encara de novo. – Não – replico. Beckett se inclina para a frente, apoia os cotovelos sobre os joelhos e me olha diretamente nos olhos. – Porque você disse não pra ele, Rylee. – Ele balança a cabeça, um sorriso cresce no seu rosto. – E ninguém, a não ser eu, jamais diz não a ele. – Que absurdo – respondo, e lanço um olhar para Haddie, que arqueou as sobrancelhas ao ouvir a conversa. Há um sorriso satisfeito nos seus lábios. Eu me dou conta de que Beckett está me dizendo que sou a primeira mulher a dizer não para o Colton. A não
fazer tudo o que ele manda, sem questionar. Olho para Colton e de novo para Beckett. – Com certeza alguma das muitas outras deve ter dito não para ele alguma vez. Ele pensa em silêncio antes de responder. – Não que eu saiba – diz Beckett, virando a garrafa nos lábios. – E, se disseram, nunca vi Colton se importar desse jeito. – Ele se recosta e se alonga de novo e eu tento ler em seus olhos as palavras não ditas. – Ele voltou do almoço parecendo um FDP mal-humorado, Rylee. Cheguei até a me sentir mal pelas pessoas que fizeram reunião com a gente hoje. – Ele sorri com o pensamento. – E depois, quando vi, ele estava extravasando a frustração na esteira. E então me levou com ele para um bar, ficou lá emburrado e começou a fazer ligações telefônicas. Bolando um plano. Dizendo para as pessoas que a gente ia estar em Las Vegas às dez, para elas estarem lá e o encontrarem no lugar de sempre. No lugar de sempre? – Vocês fazem isso com frequência? – A cada alguns meses. – Ele dá de ombros como se não fosse grande coisa. – Mas a questão é a seguinte, Rylee: não importa com quem ele esteja, eu nunca, nunca, vi o Colton levar a mulher com quem ele está saindo ou sei lá o que estejam fazendo junto com a gente. – Ele inclina a garrafa em minha direção. – Agora essa história com você está me dando o que pensar. Os olhos de Beckett sustentam os meus até ele saber que eu entendi. Entre mim e Colton está rolando algo diferente, que ele nunca viu antes. Balanço a cabeça para demonstrar que eu compreendo. Ele se inclina para a frente de novo. – Conheço Colton há muito tempo, Rylee. Ele pode ser todo arrogante e às vezes um teimoso insuportável, mas é um cara legal. Um cara muito legal. – Percebo a sinceridade em sua voz e o amor de irmão que ele tem pelo Colton. Beckett olha para o amigo adormecido e depois para mim novamente. – Ele pode nem sempre fazer as coisas do jeito certo, ou às vezes nem sabe o que fazer, mas costuma ter as melhores intenções por trás das ações. – Quando eu não digo nada, ele apenas assente e continua: – Estou te contando isso porque você é importante para ele. Mais do que ele está disposto
a admitir ou a compreender neste momento, mas é importante que você saiba. Porque se ele é importante pra você como eu acho que é… de verdade… não só pela fama de estar com ele, mas por quem ele é, então você precisa ouvir. Merda – ele xinga, passa a mão sobre o maxilar e se reclina no encosto sacudindo a cabeça. – Eu devo estar bêbado se acabei de te contar isso. Caralho. – Ele suspira. – Ele acabaria com a minha raça neste exato momento se soubesse que eu estava te contando qualquer uma dessas coisas. – Obrigada – respondo, mas minha voz mal é audível enquanto tento digerir tudo o que ele acaba de me dizer… tudo o que eu quero perguntar, mas tinha receio. Minha cabeça está confusa com essa confissão. Tento manter o controle sobre a esperança e as possibilidades que borbulham dentro de mim. Sou tão importante que o melhor amigo consegue notar a diferença nele. Só preciso me lembrar de que, a menos que Colton reconheça esse fato, os sentimentos continuam sem significar nada. Haddie olha para mim e dá um sorrisinho. Ela sabe o quanto eu precisava ouvir isso. Essas palavras justificam as profundezas de sentimentos que eu já sinto por Colton. Ele agradece à comissária de bordo, que acaba de lhe entregar outra cerveja. – Já que contei até aqui, tanto faz eu concluir – ele murmura para si mesmo com um sorriso tímido que começa a se espalhar por seus lábios. Colton se mexe e se vira para mim. O rosto se aconchega na minha barriga e tudo o que eu quero é me abaixar para beijá-lo. – Tentar controlar o Colton é como segurar o ar. Nem se dê ao trabalho… – Ele sacode a cabeça. – Ele vai pisar na bola, Rylee. Vai cometer um monte de erros e dizer todos os tipos de coisas erradas porque não sabe como fazer nada diferente do que tem feito. Beckett dá um gole na cerveja e suspira. – Ele nunca vai admitir, Rylee. E, a menos que você seja uma das poucas pessoas próximas dele o bastante para enxergarem isso, nunca vai passar pela sua cabeça que ele é um homem que está se afogando no passado. Aceitar que pode haver mais do que só o acordo usual com você, e o fato de você estar aqui já prova, ele pode simplesmente te puxar e te fazer se afogar junto com ele. – Beckett se mexe um pouco no assento, mas seus olhos nunca se afastam dos
meus. – Quando isso acontecer, Rylee, mais do que tudo, ele vai precisar que você o salve. Ele vai estar tão consumido e obcecado em impedir que o passado encontre o futuro, que vai precisar de tudo o que você tiver para mantê-lo acima da linha d’água. Ele sustenta meu olhar por um minuto mais e depois recua no assento. Um leve sorriso dança em sua boca. – Eu o amo mais que tudo, Rylee, mas tem dias que eu também o odeio. – Ele dá de ombros sem se desculpar. – Mas o Colton é assim. Olho de novo para Beckett e sorrio de leve, uma concordância silenciosa à sua constatação. – Estou começando a compreender isso – murmuro. A comissária vem para repor nossas bebidas uma última vez e nos informar de que em breve vamos começar o percurso de aterrisagem em Las Vegas. Olho para Colton e sinto uma onda de calor se espalhar pelo meu corpo quando me dou conta do quanto eu passei a gostar dele e amá-lo – sim, amá-lo. Balanço a cabeça. Os olhos de Haddie encontram os meus e, deles, transborda sua felicidade por mim. 2
Em inglês, “vamos começar a festa”. (N. T.)
Sete
Já se passaram vários anos desde que estive em Las Vegas pela última vez, e não consigo acreditar no quanto a cidade do pecado mudou nesse meio-tempo. Novos hotéis brotaram, enquanto alguns dos velhos foram desativados. Alguns antigos foram reformados para se equiparar ao calibre dos novos. Estou morrendo de vontade de ter um momento a sós com Haddie. A verdade é que não tivemos um desde que toda essa aventura começou, e preciso dos conselhos dela sobre como devo agir à luz das revelações de Beckett. Tivemos um momento sozinhas bem breve no avião quando demos uma passadinha no banheiro, mas não o suficiente – nem de perto – para uma discussão real sobre os eventos da noite. Luzes e sons nos cercam, bombardeiam nossos sentidos assim que saímos da limusine. Sammy faz um aceno discreto com a cabeça para Colton e toma a dianteira quando subimos um lance de escadas até a entrada do The Venetian. Em instantes, estamos entrando no restaurante TAO. A mão de Colton está pousada na minha lombar, e eu noto convenientemente que a mão de Beckett está na mesma posição na coluna de Haddie. Será que ele está apenas sendo um cavalheiro, ou é possível que tenha alguma coisa rolando? Interessante. Percebo que as pessoas começam a nos encarar assim que o nome de Colton é sussurrado às pressas perto do público da sextafeira à noite, que se reuniu na esperança de ver uma celebridade. Câmeras de celular disparam e eu levanto os olhos para ver a reação de Colton. Ele é todo sorrisos com o público, mas, quando olha para
mim, seus olhos se aquecem com algo que falta na reação dele diante das demais pessoas. O cochilo fez passar um pouco da bebedeira, mas ainda posso sentir que o Colton brincalhão permanece ao alcance. Margeamos uma longa fila de gente que espera por uma chance de entrar. Quando nos aproximamos da entrada, a hostess sai detrás do púlpito e faz um sinal para a seguirmos. Uau, a vida deve ser legal quando se é Colton Donavan. Ao seu alcance: mulheres e nada de filas. Colton me leva pela mão quando passamos pelo Buda gigante a caminho da nossa mesa particular. À medida que passamos, cabeças viram e flashes são disparados na atmosfera escura do salão. Ouço murmúrios do nome de Colton algumas vezes mais entre os presentes no salão. De repente ele para e me olha. Eu olho para ele. Há uma expressão confusa no meu rosto, quando ele vem em minha direção e, inesperadamente, captura minha boca na sua. De início, eu paraliso – afinal estamos no meio de um restaurante moderno e abarrotado de gente –, mas Colton aprofunda o beijo e seus dedos envolvem meu rosto e seguram minha cabeça. Eu me deixo levar por ele. Seu gosto é devastador demais e sua pegada é magnética demais para resistir. Os sons dos clientes do restaurante somem ao fundo. Colton me beija como se fosse um homem dando os últimos suspiros e eu sou seu ar. É apaixonado, possessivo e provocativo. E, puta que pariu, esse gosto viciante me arrasta para baixo e me segura. Minha mente começa a retornar à realidade quando meu cérebro começa a registrar os assobios e gritinhos dos observadores. Os clientes ao nosso redor ficam mais barulhentos e incitam nossa demonstração pública. Colton continua com as mãos no meu rosto, mas afasta os lábios dos meus. Seus olhos registram desejo indisfarçado, mas o sorriso que ele me mostra é arrogante e travesso. O único pensamento na minha mente é “uau”, mas ele me deixou tão sem fôlego que até mesmo formar uma simples palavra não é possível. Mostro um olhar questionador. Ele apenas inclina a cabeça de lado. Um brilho ilumina seus olhos cor de esmeralda. – Se é para eles ficarem olhando, Ryles, então vamos logo dar um
show! – Ele balança as sobrancelhas para mim e toca um beijo casto nos meus lábios antes de pegar minha mão e seguir a hostess parada à nossa esquerda, mais à frente. A expressão perplexa da moça reflete exatamente como eu me sinto. Colton brincalhão voltou a dar as caras. Vivas nos seguem quando saímos do salão principal e entramos na nossa área privativa e só então consigo ler os pensamentos perplexos que dançam na expressão de Haddie. Encolho os ombros. Ela me devolve com um sorriso de olhos arregalados e covinhas pronunciadas. Alcançamos nossa mesa e Colton me puxa para seus braços antes que eu tenha uma chance de me sentar na cadeira que ele puxou para mim. – Eu ainda não te disse como você está deslumbrante esta noite. – Ele está tão perto que respira o meu ar. – E agora todos os caras nesse restaurante sabem que você é minha – ele conclui, caso a mensagem não tenha ficado clara o bastante. Então pressiona os lábios no ponto abaixo da minha orelha. – Você ficou sexy pra caramba nesse vestido, mas preciso confessar que só consigo pensar em tirar ele de você. – Colton dá risada: um som sensual que envolve meu corpo e faz dedos de desejo provocarem cócegas na base da minha barriga. – Obrigado por vir esta noite, Ryles. O jantar é delicioso e parece tranquilo se comparado ao redemoinho das últimas horas. A conversa entre nós quatro flui com facilidade e eu vejo por que Colton gosta de Beckett. Ele é divertido, espirituoso e muito centrado; não tem problema algum em colocar Colton no devido lugar quando há necessidade. Eles batem papo direto e reto como duas velhinhas, mas a afeição que existe entre os dois é óbvia. Sammy fica na mesa conosco e seu olhar é cauteloso o tempo todo. Ele impediu que nossa refeição fosse interrompida algumas vezes por mulheres ansiosas em busca de fotos com Colton, se não de algo mais. Várias vezes durante o jantar eu me pego olhando para ele. Seu carisma e entusiasmo são contagiantes. Adoro observar seu rosto se iluminar durante uma história ou reproduzindo um evento. Ele é educado e atencioso com todo mundo durante a refeição, garantindo
que todas as nossas necessidades sejam atendidas. Rouba um beijinho aqui e outro lá, incluindo apertinhos de mão ou um roçar de dedos no meu ombro nu. Será que ele tem alguma ideia do fogo que está acendendo dentro de mim com os afetos casuais? Beberico o resto do meu coquetel Tom Collins e percebo que estou meio alegre. O celular de Colton apita com uma mensagem. Ele olha e dá risada: – Achou uma gostosa por aí, Ace? – provoco com um sorrisinho no rosto. Ele ergue os olhos do telefone para encontrar os meus, ao mesmo tempo em que Haddie ri do meu apelido. Ele apenas ergue uma sobrancelha e desfere aquele sorriso maroto que eu adoro. Enquanto me observa, vejo o momento em que seu cérebro registra por que Haddie está rindo. – Você – diz ele, por cima da mesa, apontando para Haddie. – Eu? – pergunta ela, tímida, tomando um golinho da bebida pelo canudo. – Você sabe o que a sigla ACE significa – ele diz com empolgação. Vejo as engrenagens de seu cérebro funcionarem à media que ele vai descobrindo como brincar com isso. – Ué, por que você pensaria nisso? – Haddie bate as pestanas com inocência fingida. – Desembucha, Montgomery – Colton exige de brincadeira. Os olhos de Haddie disparam para mim e seu sorriso se alarga, mas ela não diz nada. – Como posso chantagear você? – Bom – responde Haddie, com sua melhor voz sensual. – Com certeza tem um monte de coisas que você poderia fazer comigo para eu falar – ela diz num sussurro. Depois lambe o lábio inferior e para. – Você sabe que Rylee e eu gostamos de brincar um pouco sozinhas – acrescenta, sugestiva, me observando de cima a baixo. Colton demonstra absoluto choque no semblante e, sendo o cara que ele é, tesão descarado. Preciso de todas as minhas forças para não desatar numa gargalhada. – Se você quer que eu fale, pode se juntar a nós – sugere – e brincar um pouquinho… Ele engole em seco com dificuldade. Seus olhos disparam de mim para ela e vice-versa, antes que um sorriso lascivo distenda essa boca habilidosa que ele tem. – Muito convincente, Haddie… Por mais que meu pau goste da
ideia, não vou morder a isca, linda – ele responde. Beckett dá uma gargalhada. – Caralho, Haddie. – Becks sacode a cabeça. – Você quase me convenceu! Todos nós rimos. Haddie joga o guardanapo nele e se vira para mim com um sorriso no rosto. – Ele nunca vai conseguir. – Atraente, charmoso e exuberante – palpita Colton e depois sopra sobre o nó dos dedos e esfrega-os no peito. – Não. – Sorrio e brinco com o canudo da minha bebida. – Mais na linha do arrogante, convencido e egocêntrico – ironiza Beckett. – Não – repito. É minha resposta padrão. – Salvo pelo gongo! – diz Colton assim que o garçom serve na nossa frente os pratos de sobremesa cheios de confeitos de chocolate. Saboreamos a sobremesa, e o bate-papo continua, mas, não importa para onde vaguem os meus olhos, eles sempre voltam para Colton. Ele ergue os olhos enquanto estou admirando seu rosto lindo de morrer e me dá um sorriso discreto. – Pronta? Retribuo o sorriso e faço que sim. – Haddie? Becks? Estão dentro? – Os dois confirmam com a cabeça e pegam as coisas. Começo a me levantar, mas sou puxada para trás e caio no colo de Colton. Vislumbro seu sorriso travesso antes que seus lábios cubram os meus. Sua língua escorrega entre meus lábios e brinca com a minha em lambidas lentas irresistíveis e depois penetra a boca. Seu gosto é de menta e rum, e só consigo pensar em como esses beijinhos aqui e acolá não são suficientes para me fazer aguentar a noite toda. São uma provocação cruel quando eu já experimentei o ato propriamente dito e sei que é infinitamente melhor. Sua mão desliza devagar na lateral da minha coxa, e os dedos escorregam para debaixo da barra do vestido, trilhando minha pele macia com a ponta dos dedos ásperos. Querendo me provocar. Antes que eu conseguia processar um pensamento coerente, ele recua e me beija na ponta do nariz. Solto um suspiro frustrado,
precisando de muito mais para acalmar o desejo que ele instalou em mim. Ele dá uma risadinha ao perceber minhas reações. – Vamos – diz ele, indicando a porta com um movimento de cabeça. Passamos a última hora e meia ocupando o espaço do cassino, com uma atitude extravagante. Para a grande preocupação de Sammy, Colton decidiu que queria jogar dados. Depois de perder um pouco para começar, acabou em uma mesa cercado por uma multidão enquanto jogava os dados de novo e de novo diante dos gritinhos de encorajamento e dos benefícios da carteira. Seu nível de adrenalina ainda é alto. Consigo senti-la vibrando nele quando nosso carro sai do Palms Casino, um pouco depois da meianoite. Todos bebemos um monte e estou mais do que pronta para liberar um pouco de energia na pista de dança. – Agora a diversão realmente vai começar, meninas! – ele exclama antes de virar o resto da bebida e pegar minha mão. Saímos do carro e recebemos uma passagem discreta por uma porta lateral do hotel. Somos levados a uma entrada dos fundos para a danceteria, Rain. A batida energética da canção “Animal” enche a balada e reverbera pelo meu corpo. Um funcionário nos leva por uma escada e puxa uma corda de veludo com uma placa escrito “reservado”, para podermos entrar na área VIP. É uma sensação muito estranha sermos tratados como os únicos clientes em uma casa cheia de centenas de pessoas a poucos metros de distância. Somos levados ao mezanino, e quando entramos, um rugido de gritinhos me assusta. Colton não parece surpreso, e percebo que essas trinta e poucas pessoas na minha frente são o pessoal com quem ele estava combinando desde o início. Colton de repente é puxado para um grupo de pessoas, e sai levando tapinhas nas costas dos homens e abraços entusiasmados demais das mulheres. Dou um passo para trás e permito que ele receba a atenção dos amigos. Olho à nossa volta. Conto seis camarotes nesse andar, de frente para a pista, e parece que Colton alugou todos eles esta noite. Dou um passo até a grade e fico observando a massa de gente lá embaixo girar e se movimentar no ritmo da música.
– Tudo bem? Olho para Haddie, aliviada de tê-la aqui, e sorrio. – Estou sim. Só é tudo um pouco além do que estou acostumada. – Acho que ele é um pouco exagerado, né? – Só um tiquinho. – Dou risada. – Então, e o Beckett? – pergunto, arqueando a sobrancelha. – Lindo demais… – Ela dá de ombros. – Mas você sabe como são essas coisas. – Ela ri do seu jeito típico e despreocupado. Se Haddie quiser, vai ter o cara comendo na mão dela até o final da noite. Haddie é assim. – Quer dançar? Procuro Colton para lhe dizer que vamos descer para a pista, mas ele está no meio de uma conversa loucamente animada. Ele vai perceber. Dentro de instantes, já descemos e cruzamos a multidão em movimento na pista. É gostoso largar tudo e se deixar levar por um ritmo, se perder por um momento e esquecer o aniversário que começou no minuto em que o relógio bateu a meia-noite. Depois de algumas músicas, olho para cima, e encontro Colton na grade do camarote. Ele procura entre o público e leva alguns instantes até me encontrar. Tenho um momento déjà-vu quando nossos olhares se travam – uma balada diferente desta vez, mas o mesmo fogo intenso entre nós. Seu rosto se mostra encoberto durante um momento, e não consigo evitar a lembrança do nosso primeiro encontro, quando fiquei me perguntando se ele era um anjo enfrentando a escuridão ou um demônio cruzando para a luz. Neste momento, olhando para cima e totalmente consumida por ele, Colton sem dúvida é meu anjo em conflito. E, ainda assim, eu sei que o demônio dentro dele está sempre próximo da superfície. Continuo me mexendo, a despeito da conexão irrefutável entre nós – a que me faz perder o fôlego e faz meu coração bater toda vez que ele me olha. Sorrio e faço um gesto para ele descer. Colton apenas mexe a cabeça numa comedida aceitação de seja lá o que está pensando e sorri antes de desaparecer de vista. A música muda e eu ouço as notas de abertura de “Scream”, do Usher. Jogo os braços para o alto e balanço os quadris no ritmo, deixando que a música tome conta de mim. Canto meu verso preferido: “Got no drink in my hand but I’m wasted, getting drunk on the thought of you naked”.3 Arregalo os olhos com essa última
palavra, pois sinto mãos deslizarem ao redor da minha cintura e me puxarem para trás. O sorriso de Haddie me diz que é Colton, e eu relaxo no corpo dele. Vejo Beckett e alguns de seus outros amigos que estavam lá em cima chegarem para se juntar a nós. As curvas macias do meu corpo se encaixam na dureza do corpo dele. Fecho os olhos quando começamos a nos mexer juntos. Cada movimento de um no outro faz minha pele arrepiar e minhas entranhas pegarem fogo. Cada nervo no meu corpo é afinado para senti-lo junto de mim. Suas mãos fortes mapeiam as linhas do meu tronco: incitam, agarram, envolvem. Seus quadris se movem com os meus e a crista de sua ereção me tenta a cada movimento. Imitamos um ao outro em necessidade não satisfeita, em desejo cada vez maior. Ele me vira de frente. A exigência de suas mãos, que me forçam a fazer o que ele quer, me excita ainda mais. Evoca imagens de seus dedos habilidosos percorrendo meu sexo antes de me abrir e me penetrar. Solto um gemido só de pensar, e, em algum lugar, ele me ouve apesar da música, pois o sorrisinho sexual no seu rosto e olhos carregados de desejo me dizem que ele sente o mesmo. Sei que ele quer mais do que apenas esse jogo tão sensual de mãos, embora frustrante, por cima das roupas. 3 Do inglês: “Não tenho bebida na mão, mas estou chapado, me embebedando com o pensamento de você nua”. (N.T.)
Oito
Dançamos mais algumas músicas. Cada esfregada no corpo dele potencializa minha necessidade crescente. Um jogo sedutor, provocante, sexy e sentido por nós dois, apesar da ausência de palavras. As notas de abertura de “Pony”, de Ginuine, sai dos altofalantes, e o tom sugestivo da música é demais para Colton suportar. Ele pega minha mão e me puxa com propósito óbvio pela multidão da pista. Impaciência, desejo e determinação irradiam dele e reverberam em mim quando ele para no pé da escada. Cada parte do meu corpo está em alerta máximo sentindo sua mão nas minhas costas, que me encorajam a subir os degraus. Estou no primeiro patamar quando ele me gira e captura minha boca num beijo aterrador e repleto de urgência. Colton ataca minha boca com um objetivo definido, aniquilando completamente minhas esperanças de autodisciplina. Porém, antes que eu possa ceder à tentação na ponta dos meus dedos e reagir de corpo e alma, ele põe fim ao beijo tão abruptamente quanto o começou, e me deixa querendo mais… quase implorando. Colton sobe as escadas e eu sigo atrás puxada por sua mão. Quando alcançamos o topo, onde Sammy está, Colton diz alguma coisa no ouvido dele, mas a música não me deixa escutar. Sammy faz que sim e gira nos calcanhares. Colton e eu seguimos logo atrás. Alcançamos o sexto e último camarote VIP no mezanino. Assim como ele, eu paro e olho a pista lá embaixo. Olho por cima do ombro e encontro Sammy tirando os amigos de Colton do último camarote. Olho para ele de novo e vejo seus olhos focados na multidão lá embaixo. Seu maxilar está tenso. Será que fiz alguma coisa para
irritá-lo? Estou um pouco atônita. Que diabos eu fiz? Ele vai escolher este exato momento para ficar bravo? A essa altura, acho que eu deveria estar acostumada à sua confusão de humores, que sobem e descem, mas não estou. Permanecemos em silêncio à espera de seja lá o que Sammy está fazendo, e me resigno com o fato de que provavelmente há uma briga no horizonte para nós. Não podemos ter pelo menos uma noite livre disso? Sammy se aproxima e diz alguma coisa no ouvido de Colton, e começamos a nos mexer novamente. Colton me leva pela mão para o sexto e agora vago camarote da área VIP. No minuto em que estamos longe da vista de todo mundo, o corpo dele colide com o meu mais que depressa e me imprensa contra a parede. Só tenho tempo para um pensamento coerente antes que o gosto de Colton me tire do chão. Ele não está bravo comigo. De jeito nenhum. Está consumido pelo desejo. Todo o calor e a urgência no beijo da escada são intensificados, e muito. Nossos dentes se colidem e nossos corpos se esmagam. Sua língua entra pelos meus lábios e lambe minha boca. Suas mãos estão por todo o meu corpo ao mesmo tempo. Cada toque incendeia minha necessidade e dispara meu desejo como uma linha direta com o meu âmago. Preciso dele em mim, me preenchendo e se movendo no meu interior neste exato momento, tanto quanto preciso da minha próxima respiração. Sua língua continua a invasão torturante na minha boca, sua cabeça procura minha pele nua, e as palavras da música alimentam o desejo que pega fogo entre nós. Ele baixa o braço e puxa minha perna para colocar ao redor de seu quadril. Sua mão entra debaixo da bainha do vestido. Dedos desesperados se cravam na minha carne desejosa. Sua mão está tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe de onde eu preciso que esteja que tudo o que faço é gemer numa mistura de frustração e necessidade. Colton dá uma mordidinha no meu lábio inferior, seguido por uma lambida calmante. Agarro seu cabelo com mais força e puxo, na minha forma silenciosa de dizer que também preciso dele. Que o desejo desesperadamente. Aqui. Agora.
Ele se afasta de mim. Seu peito sobe e desce com as respirações difíceis, e seus olhos sustentam os meus a despeito da névoa de luxúria que há neles. – Não gosto de todos esses caras dançando em volta de você – diz ele. Sua voz, que sai com dificuldade, é brincalhona apesar do desejo violento que eu vejo arder em seus olhos. – Chamou sua atenção, não chamou? – provoco em meio às inspirações e expirações ofegantes, surpresa por todo esse ciúme. – Querida, se você quer minha atenção… – ele dá um sorriso maroto, apalpa minha bunda e me puxa para mais junto dele. A crista da ereção pressiona deliciosamente na minha maciez. – Só precisa pedir. – E tirar você da multidão de amigos bajuladores? – provoco ao erguer as sobrancelhas para ele. Meu sarcasmo é evidente. – Então você preferiria dançar entre uma multidão de homens desconhecidos? Ele move as mãos pelas laterais do meu tronco e ao lado dos seios. Sugo o ar com força. Meu corpo está tão aceso, tão no limite do desejo que responde instantaneamente ao receber o toque pelo qual anseia. Os polegares de Colton se unem aos meus mamilos e os transformam em pedra na hora, estimulando-os para cima e para baixo. Tombo a cabeça para trás, fecho os olhos e me permito ser sugada na sensação que as carícias provocam. Minha cabeça fica embotada, tentando pensar numa resposta inteligente às brincadeiras provocativas. – Fez você chegar junto, não fez? – Jogo a isca e passo a língua no lábio inferior. – Pense nisso como um meio para chegar a um fim, Ace. Colton roça os polegares para cima e para baixo mais uma vez, garantindo que minha atenção esteja toda nele. – Ah, linda – ele murmura –, o único fim que vai estar enfiado no seu meio é o meu. – Ele se aproxima para dar uma mordidinha no meu lábio antes de se afastar para encontrar o meu olhar. Sua mão pressiona meu seio de um jeito possessivo. – Tudo meu. A intensidade em seus olhos me impede de rir. Apoio o corpo no dele, e minha mão sobe para acariciar o volume de sua excitação e apal-pá-lo por cima da calça. E não sei afirmar de onde vem minha
confiança destemida, mas levo a boca a sua orelha e sussurro acima do barulho: – Prove. Colton emite um gemido estrangulado e, numa fração de segundo, segura minha cabeça e me prende. Sua boca colide na minha, mas logo se afasta, rápido demais. – Venha – diz ele, ao me puxar junto e caminhar para o fundo do camarote, em uma das poltronas. Ele se senta e me puxa sobre ele. – Monta aqui. – É uma ordem. A necessidade em mim é tão avassaladora que obedeço sem pensar duas vezes. Puxo a saia pelas coxas e coloco os joelhos de cada lado dele, abaixando meu centro sobre seu colo. Colton me olha com um sorriso malicioso no rosto que me faz querer ser maliciosa também. Olhos travados nos meus, ele põe as mãos nos meus joelhos nus e sobe pelas coxas. Quando alcança a barra do vestido, continua empurrando-o para cima. Meus lábios se afastam diante da progressão devassa, e, num rápido instante de pudor, eu giro a cabeça para olhar sobre o ombro e garantir que não tem ninguém olhando da porta. – Não se preocupe – sussurra, e sua voz mostra o desejo evidente –, o Sammy está montando guarda na porta. Não vai deixar ninguém entrar. Fico aliviada, embora constrangida, com o pensamento de que Sammy saiba ou possa imaginar o que estamos fazendo. Minha preocupação é jogada ao vento, pois as mãos de Colton apertam minhas coxas e, por instinto, eu as afasto mais, sentindo o desejo trovejar pelo meu corpo. – Eu estava a fim de foder essa bocetinha a noite toda. – Sua voz ruge nos meus ouvidos. – Desde que eu vi seus mamilos duros aparecendo por detrás da regata. Desde que eu te vi dançar e me provocar com esse corpo sexy que você tem. – Seu polegar percorre minha calcinha encharcada. Estremeço. Seu toque no meu sexo é como um raio. – Quero sentir você por dentro. Quero te foder e sentir seu gozo me encharcar. Quero ouvir seus gritos enlouquecidos. E. Não. Aguento. Mais. Esperar. – Ele pronuncia as palavras entre dentes, no intervalo de beijos tentadores. E então finalmente me dá o que eu desejo. Sua boca captura a
minha, separa meus lábios e toma para si todas as minhas reações. Ao mesmo tempo, um polegar puxa minha calcinha de lado e o outro se liga ao meu clitóris. Uma explosão de prazer indescritível me atravessa com seu toque e seus lábios abafam o gemido que ele arranca de mim. Cravo os dedos na carne musculosa de seus ombros, sem me importar que as unhas deixem marcas. Sua língua mergulha na minha boca: uma exploração langorosa completa e sedutora. Seus dedos separam os lábios do meu sexo e me provocam com habilidade. Cada parte do meu corpo fica tensa num frenesi de desejo. Sua mão escorrega para baixo, onde as minhas pernas estão separadas, e molha os dedos nos fluidos da minha excitação óbvia, depois desliza para cima de novo e me reveste com eles. Na carícia de volta para baixo, ele não se detém e enfia dois dedos dentro de mim. A sensação sublime arranca de mim um suspiro entrecortado. Estou desesperada por essas sensações e pela expectativa do que está por vir. Seus dedos começam a se mover dentro de mim e eu flexiono os quadris da melhor forma que posso, me abrindo para que ele tenha acesso completo. Fecho os olhos, tombo a cabeça para trás sentindo o êxtase de seu toque ameaçar a tomar conta de mim. – Puta merda – ele geme na pele macia da minha garganta. – Linda, você está muito molhada pra mim. Prontinha. Meu pau fica duro pra caralho. Goza pra mim. Goza pra eu poder me afundar em você ainda durante o seu orgasmo. Suas palavras diretas me seduzem, me empurram mais rumo ao precipício. As sensações que seus dedos incitam me fazem esquecer que estamos em uma boate com mais gente, mas, ao mesmo tempo, eu sei. Eu sei porque a alegria de estar onde podemos ser pegos tão facilmente aumenta meu tesão, me faz perceber cada roçar e esfregar de seu corpo contra o meu. Cada toque de carne contra carne. Seus lábios provocam a curva do meu pescoço, e a outra mão me dá o atrito de que preciso no clitóris, forçando-me além da linha tênue de sanidade. A descarga intensa de calor me atinge, me domina sob suas ondas e eu me divido no que parece ser um milhão de pedacinhos. Deixo cair a cabeça no ombro de Colton. Meus batimentos cardíacos estão desvairados, pulsando o prazer orgástico
que me inunda. Sugo o ar em lufadas curtas e bruscas assim que ele retira os dedos e mexe com seu zíper entre as minhas pernas. Antes que eu tenha tempo para me recuperar, Colton está guiando meus quadris para cima e se posicionando na minha entrada. Estou tão perdida no momento, no prazer e nele, que o mundo exterior deixa de existir. Neste momento, só somos eu, Colton e a necessidade carnal que está dando início a um incêndio entre nós. Quando estamos assim – conectados como um só e absortos um no outro –, esqueço o resto do mundo. Seu gosto, seu cheiro e sua dominação dos meus sentidos são meu único foco. Afundo lentamente nele, sentindo cada centímetro de espessura conforme vou abaixando os quadris até ser totalmente empalada. O rosnado áspero de Colton, que é sua resposta, e os dedos que cravam em meus quadris são a única reação de que preciso. Eu me inclino para a frente e cubro sua boca com a minha, me balançando lentamente sobre ele. Seu corpo fica tenso quando o meu aperta, demonstrando aceitação. Continuo o movimento, deslizando para cima e para baixo de seu comprimento torturado. Minhas mãos se espalham sobre os músculos rígidos de suas costas, e minha língua persuade e exige que ele tome tudo de mim porque eu quero tudo, simplesmente tudo. Suas mãos me empurram e puxam para encontrar cada um dos seus impulsos. Estou tão focada em lhe dar tudo o que ele precisa, tudo o que ele quer, que nem mesmo percebo o meu corpo se afogando no calor líquido que me preenche. O rosto de Colton se aperta e as narinas se dilatam: um sinal claro do prazer que aflora e do clímax iminente. Seu membro engrossa dentro de mim e me expande de tal forma que, na estocada seguinte, eu me incendeio com uma explosão de sensações. Ele se movimenta dentro do meu corpo mais algumas vezes. Em seguida, suas mãos apertam meus quadris com força e me seguram imóvel assim que seu orgasmo toma conta. Colton joga a cabeça para trás, e sua boca se abre para emitir um gemido alquebrado que enche o nosso espaço imediato antes de ser afogado pela cacofonia de ruído na boate. Observo seu rosto, as reações de sua libertação iluminando suas feições, quando me dou conta do que acabei de fazer. Puta merda!
Que diabos estou pensando, quem me sequestrou e colocou essa mulher devassa no meu lugar? Começo a sair de cima de Colton, mas ele me impede de interromper nossa ligação. Em vez disso, segura-me junto dele por um doce momento inesperado antes de beijar o topo da minha cabeça e, em seguida, a ponta do meu nariz. Sem falar nada, a gente se limpa e dá uma geral na aparência desgrenhada. Começo a me mexer com impaciência. Colton então agarra minha mão e dá um apertinho até eu olhar para ele. Um sorriso lento curva os cantos de sua boca. Ele me puxa junto de si e pressiona um beijo na minha boca. Então balança a cabeça de um lado para o outro. – Você é cheia de surpresas constantes, Ryles. E você é a maior surpresa de todas.
Saboreio a bebida. Estou sentada com Haddie no salão VIP; meu corpo balança de leve ao ritmo da música que toca lá embaixo. Preciso de uma rápida pausa para sentar um pouco, pois meus sapatos estão começando a machucar. Vejo Sammy fazendo a segurança das escadas e desvio os olhos imediatamente, envergonhada por quaisquer conclusões que ele tenha elaborado quanto à natureza nada inocente do tempo que Colton e eu passamos juntos. Ouço um grito agudo quando Sammy tenta evitar que alguém suba as escadas. Colton, imerso em uma conversa, vira a cabeça em direção à comoção. Recua um passo para ver quem é, e um largo sorriso se espalha por seu rosto antes que ele faça um gesto para Sammy deixar seja lá quem for subir. Minha curiosidade é definitivamente desperta ao ver um dos caras com quem ele está falando cutucá-lo de uma forma tipicamente masculina. Tanto Haddie quanto eu viramos a cabeça bem a tempo de avistarmos o par de pernas mais longo que eu já vi – no que acho que é a saia mais curta de todos os tempos – andar toda empertigada para perto de Colton. O resto da mulher é tão espetacular quanto as pernas, ela joga a cabeça e a cabeleira comprida loira sobre o ombro, de forma que cai logo acima do traseiro perfeitamente apresentado.
Ela pega Colton em um abraço mais longo do que o necessário, e seus lábios beijam o canto da boca dele. Quando ela se afasta, há um sorriso enorme no seu rosto perfeito. Logo percebo quem é. Inspiro o ar com força. O reconhecimento se faz em Haddie ao mesmo tempo, e a gente troca um olhar surpreso. É Cassandra Miller, a queridinha atual de Hollywood, bem como a mais recente capa da Playboy. E, apesar de já ter completado o cumprimento, ela deixou as mãos ainda apoiadas nos bíceps de Colton, e seu corpo perfeitamente favorecido está se esfregando no dele. Colton, por sua vez, está com a mão apoiada educadamente na lombar dela. Fico surpresa com a pontada que sinto no meu interior diante da visão dos dois juntos. Nunca fui uma pessoa ciumenta, mas, para falar a verdade, nunca estive com alguém tão envolvente quanto Colton Donavan. Não gosto das mãos dela nele. De jeito nenhum. Tudo meu. Ele me diz isso o tempo todo. É uma daquelas declarações possessivas que, por incrível que pareça, eu acho tão excitantes. E agora, eu não gostaria de fazer nada mais do que valsar entre os dois e deixar bem claro que Colton me pertence, assim como ele fez antes, no TAO. Mas não me movo. Apenas fico sentada e os vendo interagir, conversar, os risinhos bobos dela e seu bater de pestanas absurdamente veloz – tudo com a mão ainda nele. Por que eu não me mexo? E então cai a ficha. Eles ficam deslumbrantes juntos. Absolutamente deslumbrantes. É com uma mulher como ela que a maioria das pessoas esperaria que ele estivesse: a loira pantera – a fantasia para muitos homens – com o playboy de beleza devastadora – o desejo das mulheres em toda parte. A imagem do casal perfeito nos padrões de Hollywood. Ele pode ter vindo aqui comigo e vai sair comigo, mas, como toda mulher, tenho minhas inseguranças sobre minha aparência e meu apelo sexual. E agora, olhando a beldade loira e depois de novo para mim, essas inseguranças acabam de ser colocadas em exibição para que todos vejam. Para que todos possam fiscalizar. Mesmo que eu pareça ser a única a fazer isso. Levo os dedos aos lábios, pensando, e um sorriso de alguém que
está tramando alguma coisa começa a se espalhar por todo o meu rosto. A insegurança que se foda. As loiras perfeitas de pernas longas que se fodam. O jogo seguro que se foda. Fecho os olhos por um instante, lembrando a sensação da barba de Colton raspando a pele do meu pescoço; seus dedos marcando meus quadris quando ele me ajudou a sentar sobre seu colo, seu rosto quando ele gozou; o leve desespero com o qual ele me segurou junto de si depois do ato feito aqui perto de onde estamos sentados agora. Lembro-me do alerta de Beckett; tentar controlar Colton é como tentar agarrar o vento. Ele ganhou o título de playboy por um motivo. O pouco tempo que estamos juntos não vai mudar isso. As mulheres vão sempre ser atraídas por ele, vão sempre desejá-lo. Cassandra, obviamente, sim. Ela é jogo fácil com seus toques constantes e exigência de monopolizar a atenção dele. Com o jeito com que se inclina para falar com ele, pressionando-lhe a mão no peito, deixando-a lá quando ele aproxima a boca da orelha dela e responde. Não vou ser irracional e negar que estou com um tiquinho de ciúmes: o álcool deve estar alimentando minha insegurança. Ou talvez seja só uma questão de hormônios… não sei. Sou mulher; insegurança apenas faz parte do jogo, no grande esquema das coisas. Dou uma risada debochada. Haddie olha para mim como se eu tivesse enlouquecido. – Você está bem com… – Ela empina o queixo na direção de Colton e Cassandra. Olho para eles por mais um instante antes de acenar com a cabeça. – Pelo menos não preciso me preocupar com Colton vê-la pelada. – Dou risada, me referindo ao ensaio de capa da Playboy. – Uma grande parte da população masculina já viu e provavelmente se masturbou com ela. Haddie dá uma gargalhada e balança a cabeça para mim. Acho que ela ficou um pouco surpresa com minha falta de reação.
– Verdade. Pelo menos você não tem grampos no meio do corpo. – Exatamente. – Sorrio. – Eu tenho Colton em mim em vez disso. – Adoro o olhar de choque em seu rosto durante meu gole final na bebida. – Preciso de mais uma dose e quero dançar. Você vem? – Saio do nicho sem olhar para ver se ela está seguindo ou não. Depois de virarmos nossa típica dose dupla de tequila, Haddie e eu descemos as escadas e entramos no caos rítmico da pista de dança. Canções vêm e vão enquanto dançamos, e, depois de algumas, eu paro de olhar para o mezanino para ver se Colton está me observando. Eu sei que não está. O formigamento na pele que me informa a sua presença está ausente. Tenho sede e preciso fazer uma pausa. Aceno para Haddie dizendo que vou ao bar para pegar outra bebida. Algo para ajudar a amortecer a insegurança que ainda está fazendo meus pensamentos reféns. Vou abrindo caminho até o bar apertando-me no meio da multidão. Já me preparo para uma espera, pois percebo as inúmeras pessoas na fila. O cara ao meu lado tenta iniciar uma conversa comigo usando uma voz arrastada, mas eu apenas sorrio com educação e afasto o corpo dele ligeiramente. Concentro a atenção em observar os barmen lentamente se aproximarem do bar, um pedido atrás do outro. O homem ao meu lado tenta novamente, agarra meu braço e me puxa em direção a ele, insistindo em me pagar a bebida. Balanço os ombros para afastar o braço de seu alcance com uma recusa irritada, porém educada. Acho que ele entendeu a dica, mas percebo que estou errada quando ele coloca a mão no meu quadril e me puxa à força ao seu lado. – Vamos, gata. – Ele respira no meu ouvido, e o álcool curtido em seu hálito me dá nojo. Meu desconforto cresce, o cabelo na minha nuca começa a se arrepiar. – Linda, posso fazer você se divertir. Empurro seu peito, tentando me separar, mas ele simplesmente aperta mais meu quadril. Viro-me para procurar a ajuda de Haddie na multidão. De repente, o braço do cara é arrancado de mim. – Tira a porra das mãos de cima dela! – Ouço o rugido um segundo antes do punho de Colton se unir à mandíbula do sujeito. A cabeça dele dá um tranco para trás. Ele perde o equilíbrio, tropeça na perna de alguém e desaba no chão. Apesar de eu não gostar de violência,
um tremor de alívio percorre meu corpo assim que avisto Colton. Antes que eu possa reagir com qualquer coisa diferente de “Colton, não!”, um dos amigos do sujeito desfere um soco. O punho passa de raspão na bochecha de Colton. Tento correr em direção a ele, mas meus pés estão pregados no chão. Adrenalina, álcool e medo percorrem meu corpo. Com a velocidade de um raio, Colton recua o braço e ataca. Ele tem sangue nos olhos e uma expressão impassível no rosto. Antes que possa retaliar, os braços de Sammy se fecham em torno dele e o puxam para trás. A raiva de Colton é óbvia. Uma veia pulsa em sua têmpora. Seu rosto faz uma careta em resposta à contenção, e seus olhos ardem com um alerta ameaçador. – Hora de ir, Colt! – Beckett grita. Há resignação em seu rosto estoico. – Não vale a pena o processo que eles vão tentar jogar contra você. – E então vejo Haddie e vários outros caras da equipe na periferia do meu olhar. Os rapazes agarram pelos braços um Colton ainda fervilhando de ódio, porém mais contido, e o tiram de Sammy. Assim que Sammy considera que Colton está sob controle, ele se vira para os homens, fazendo-os parecer anões frente a seu porte avantajado. Há uma expressão beligerante e irônica em seu rosto, como se dissesse: “Atrevam-se”. Os caras olham para ele, depois recuam e se espalham depressa quando a equipe de segurança vem abrindo caminho até nós. Eu fico aqui, tremendo, até Sammy colocar o braço em volta de mim e me acompanhar para fora da boate.
Nove
Quando Sammy abre a porta para mim, o ar frio da noite me atinge como uma explosão refrescante após a fumaça que enchia a boate abafada. Ele me leva aos arredores do estacionamento, onde está apenas a limusine, separada do resto dos carros. Conforme nos aproximamos, vejo as costas de Colton. Ele está com as mãos bem abertas na parede que cerca o estacionamento, seu peso apoiado nelas, e com a cabeça baixa entre os ombros. Quando nos aproximamos do carro, vejo a fúria irradiar dele em ondas. Beckett, encostado na porta aberta do carro, encontra meus olhos quando nos aproximamos. A incerteza é evidente nos seus. Em seguida, ele faz um sinal com a cabeça para mim e entra no carro ao lado de Haddie. Sammy para, mas eu continuo a seguir em direção a Colton. O clique-claque de meus saltos no concreto alerta Colton de que estou perto, mas ele permanece de costas. Traço as linhas da silhueta do seu corpo contra o brilho expansivo da Strip de Las Vegas. Sua figura imponente pinta um forte contraste com o brilho das luzes mais adiante. Paro a alguns passos dele e observo seus ombros subirem e descerem numa veloz sucessão à medida que sua tensão aos poucos vai relaxando. Quando ele, enfim, se vira para me olhar, ombros retos, olhos dançando com fogo, o maxilar rígido de tensão, eu me dou conta de que estou errada em pensar que sua raiva passou. – Que porra você acha que está fazendo? – Sua voz é fria como gelo. As palavras me atingem como o estalo de um chicote, e me
arrebatam com uma força inacreditável. Pensei que ele estava zangado com o cara em que ele bateu e não comigo. Como assim ele acha que pode ficar bravo comigo? Se tivesse prestado atenção à sua acompanhante na balada, ele saberia a resposta. – O que você acha que eu estava fazendo, Colton? Que eu estava… – Eu fiz uma pergunta, Rylee – ele diz entre dentes. – E eu estava tentando responder antes que você me interrompesse com tamanha falta de educação – cuspo as palavras, sem me recusar a peitá-lo esta noite. Talvez minha ingestão de álcool tenha tirado um pouco dos meus limites, por isso não me sinto intimidada pela intensidade dele. Seus olhos perfuram a escuridão e chegam até os meus. Ou talvez sim. – Eu estava comprando uma bebida, Colton. Uma bebida. Só isso! – Jogo os braços para o alto quando grito para ele; minha voz ecoa pelas paredes de concreto. Ele me olha. O músculo em seu queixo pulsa. – Comprando uma bebida, Rylee? Ou flertando por aí para fazer alguém pagar a bebida pra você? – ele acusa, aproximando-se um passo de mim. A despeito da falta de luz, vejo fogo queimando nos seus olhos e a raiva alimentando a tensão em seu pescoço. Qual é o motivo de tudo isso? Que. Porra. É. Essa? Como ele se atreve a me acusar de me oferecer para outros caras quando ele estava lá em cima preocupado com a Sra. Coelhinha do Mês? Eu estava levando numa boa, não me irritando por ele não economizar passadas de mão quando Cassandra estava lá. Eu estava preocupada em evitar as emoções juvenis que eu queria sentir ao ver aquilo. Mas que se dane. Se ele vai ficar zangado pelo fato de um cara me pagar uma bebida e me tocar mesmo contra a minha vontade, então com toda certeza eu vou ficar zangada por ela dar em cima dele para quem quisesse ver. Atenção que ele, certamente, não rejeitou. Estou de saco cheio dessa conversa. Álcool e raiva só resultam em palavras que não podemos desdizer pela manhã. E nós dois bebemos demais para agir racionalmente. – Não importa. Já acabamos aqui – encerro e dou as costas, determinada a voltar para a limusine. – Responde – ele exige, agarrando meu braço e me fazendo parar
no caminho. Vejo Beckett sair de novo do carro, um olhar cansado no rosto quando encara Colton por cima do meu ombro. O alerta silencioso é óbvio, mas a mensagem atrás dele é incerta. – E o que isso te importa? – Estou esperando – diz ele, mantendo a mão no meu braço, mas dando a volta para bloquear minha passagem até o carro. – Eu estava comprando uma bebida para mim. Foi isso. Que merda! – Puxo o braço com um tranco. A fadiga dos eventos dessa noite de repente me atinge como um porrete na nuca. Os olhos de Colton se fixam nos meus como se ele estivesse procurando pela minha traição ou confissão de ter feito algo errado. – Tinha álcool o suficiente lá em cima. Por acaso não era o bastante para você? – ele provoca. – Você precisava sair e procurar um cara para pagar? Suas palavras são como um tapa, cortam meu barato. Que diabos é o problema dele? Para começar, não acredito que ele sequer tenha pensado nisso, mas, em segundo lugar – e isso é chocante –, fico surpresa pelo tremor na sua voz, que sugere um toque de insegurança. Como se eu pudesse querer algo mais depois de tê-lo. Dou um passo em sua direção. Minha voz é baixa, mas implacável. – Não preciso de homem e nem de serviço de garçom para me fazer feliz, Colton. Ele arqueia uma sobrancelha para mim. – Aham. – Seu tom é sarcástico, claramente ele escolhe não acreditar em mim. Falou quem já saiu com a nata da mulherada. Suspiro, frustrada com a nossa conversa. – Você já gastou bastante esta noite. Comigo. Com tudo. – Bufo. – Você pode estar acostumado a todas as suas mulheres que precisam serem satisfeitas. Eu não sou assim. – Claro que não. – Seu riso é sarcástico. – Sou uma menina crescida. – Continuo ignorando o ar sarcástico. – Posso muito bem comprar as porcarias das minhas bebidas e pagar do meu jeito, em especial se o fato de você pagar significa que tem algum tipo de posse sobre mim. Seus olhos se arregalam diante das minhas palavras. – Você está sendo ridícula.
Ele não percebe que faz isso? Que oferece tudo de mão aberta em troca de que as pessoas gostem dele e o amem? – Olha, você é um cara generoso. Mais do que a maioria das pessoas que eu conheço, mas por quê? – Coloco a mão no braço dele e aperto. – Diferente da maioria das pessoas por aí, eu não espero que você pague as coisas para mim. – Nenhuma namor… ninguém paga quando está comigo. – Muito cavalheirismo da sua parte. – Passo a mão pelo seu braço e pouso-a no rosto. Minha voz amolece; fico aliviada por parecer que conseguimos contornar essa discussão. – Mas eu não preciso dessa pompa e frescura para querer ficar com você. – Ele simplesmente me olha: íris verde-esmeralda tentando compreender a honestidade nas minhas palavras. – Você tem muito mais a dar do que apenas os excessos materiais. Acho que minhas palavras atingiram o ponto certo, pois Colton fica em silêncio. Uma guerra de emoções flui em seus olhos. Seu olhar se separa dos meus e se volta para a cidade do pecado. O músculo em sua mandíbula pulsa. Colton tenta abafar seja lá quais forem seus demônios internos. Noto sua postura enrijecer quando ele tira a mão do meu rosto, e percebo seu desconforto com a direção que a conversa tomou. – Você deixou um cara pôr as mãos em você – ele diz num tom perigosamente inflexível. Primeiro eu me sinto magoada com a acusação, mas, quando olho em seus olhos, eu vejo. Vejo a verdade por trás das revelações de Beckett sobre os sentimentos que Colton nutre por mim. Vejo que ele está assustado e não sabe como lidar com eles. Vejo que está procurando um motivo para arranjar briga como uma forma de negar os sentimentos. Ele quer brigar? Então ele vai ter briga, pois abaixo da minha superfície está o medo de que talvez eu seja exatamente o que ele precisa e pode ser que ele nunca se dê conta disso. Que ele seja exatamente o que eu preciso e que alguém como Cassandra pode tirar essa chance de mim. Minha mente retorna para o pensamento das mãos dela em Colton. – O que você está querendo dizer com isso? – contra-ataco, com mais confiança do que sinto. – Não vou pedir desculpas só porque
alguém me achou atraente. – Dou de ombros. – Com toda certeza você não estava prestando atenção em mim. Ele ignora meu comentário como só ele sabe fazer, encolhendo os ombros sem dar importância, como se a errada aqui fosse eu. – Eu já te disse antes, Rylee, eu não divido. Cruzo os braços por cima do peito. – Bom, nem eu. – O que você tá querendo dizer com isso? – O espanto no seu rosto me diz que ele realmente não faz ideia do que estou falando. Típico homem desligado. – Ah, fala sério, Colton. A maioria das mulheres lá dentro queria você, e você estava mais do que disposto a usar sua mão boba com elas. – Ele me olha como se eu tivesse ficado louca. Jogo os braços no ar, frustrada, e resolvo dar um exemplo específico. – Você parece não ter problema nenhum em colocar as mãos na Cassandra e nem que ela coloque as dela em você – acuso. Jogando o cabelo como ela, eu coloco a mão no peito dele e bato as pestanas. – A Cassie? – ele gagueja de um jeito incrédulo. – Ah, não brinca. – É sério? Ficou óbvio para tudo mundo lá dentro que ela quer você. Pode revirar os olhos o quanto quiser e fingir que não percebeu, mas você sabe que adorou cada minuto: o centro das atenções, Colton. Vida de festa, Colton. Playboy, Colton – acuso e viro as costas para ele, endireitando os ombros e sacudindo a cabeça. Cruzo o olhar brevemente com Beckett, que ainda está encostado na limusine, de braços cruzados sobre o peito e uma expressão estoica desprovida de julgamento. Eu me viro de novo para Colton. – Por que pra você aquilo estava tudo bem? Não é uma questão de dois pesos e duas medidas? Pelo menos eu mandei o cara que você socou tirar as mãos de mim. Não vi você pedindo para a Cassie parar… Colton dá um passo em minha direção. As luzes no entorno brincam com sombras em seu rosto. O diabo mais uma vez aflorou e está, de fato, tentando me puxar para suas trevas. – Acredito que era você que eu estava comendo lá em cima hoje. Não era nenhuma delas. – Sua voz é implacável e sustenta um toque ameaçador, à espera de uma reação minha. Eu me encolho sabendo que Beckett acabou de ficar sabendo disso. – É, você está certo. Você estava comigo, mas eu descobri, alguns
minutos depois, que estava com ela! – retruco aos gritos. – Você bateu num cara porque ele encostou a mão em mim e, apesar disso, você ficou lá deixando ela se esfregar em você sem nem pensar em se afastar dela. Bom, fique sabendo que eu também não divido. Que ironia, hein? A mandíbula de Colton flexiona antes de ele erguer as sobrancelhas, um fantasma de sorriso agracia seus lábios. – Não achei que você fosse do tipo ciumento. – E eu não achei que você fosse meu tipo de jeito nenhum – retruco. Minha voz é gélida e hostil. – Vê bem o que você fala – ele alerta. – Ou o quê? – instigo, inspirando para reunir forças. – Como eu disse, sei tomar conta de mim. O cara me ofereceu uma bebida. Eu estava no processo de dizer a ele “não, obrigada”, com essas mesmas palavras quando você apareceu de repente e salvou o dia. – Não sei bem por que sinto a necessidade de mentir. Talvez eu esteja tentando provar a Colton que, de fato, sei tomar conta de mim. Que não preciso dessa palhaçada de machismo. Não sei por quê, mas, agora que já comecei, vou chegar até o fim. Ele não tem que saber que eu estava ficando um pouco nervosa com a situação. – O cara não precisava apanhar. Colton levanta a cabeça bruscamente, como se eu é que tivesse acabado de lhe dar um soco. – Agora você está defendendo ele? – Ele leva as mãos ao pescoço e depois tira com frustração. – Caralho, você é inacreditável! – ele grita para o estacionamento vazio. – E você está bêbado, irracional e fora de controle! – grito também. – Ninguém encosta a mão no que é meu sem sofrer as consequências – ele diz, entre dentes. – É preciso que eu seja sua antes, Colton – disparo, sacudindo a cabeça –, e você deixou bem claro que tudo o que quer de mim é uma rapidinha quando for conveniente pra você! – Minha voz é firme, mas sou traída pelo tremor das últimas palavras. – Você sabe que isso não é verdade. – Seu tom é baixo, mas com um toque de desespero ao fundo. – Eu sei? E como é que eu sei? – Jogo as mãos para o alto, exasperada. – Toda vez que chego perto demais, ou quando as
coisas vão além das suas regras idiotas, você faz questão de me colocar no meu lugar. – Puta. Que. Pariu. Rylee. – Ele inspira e solta o ar por entre os dentes cerrados, ao mesmo tempo em que passa os dedos pelo cabelo e me dá as costas para se afastar alguns passos. – Um pit stop não vai te salvar dessa vez – declaro em tom calmo, querendo que ele saiba que não pode tirar o corpo fora agora para evitar o resto da discussão. Eu preciso de respostas e mereço saber qual é minha posição nisso tudo. Sua expiração chia alto, suas mãos se fecham e se abrem ao lado do corpo. Ficamos assim em silêncio por alguns instantes. Fico olhando para suas costas, e ele olha para cidade adiante. Depois de um momento, ele se vira e abre os braços. Seus olhos estão cheios de sentimentos sem nome que não consigo decifrar. – Eu sou assim, Rylee! – ele grita. – Eu em toda minha glória fodida! Não sou Max, perfeito de todas as formas, que não comete merda de erro nenhum. Não posso fazer jus ao padrão incomparável que ele atingiu, não posso chegar ao pedestal onde você o colocou! Sugo o ar com força; suas palavras acertam o alvo em cheio. Como ele se atreve a jogar Max e tudo o que tivemos na minha cara? Pensamentos não processam. Palavras não se formam. Lágrimas brotam dos meus olhos quando penso em Max e em quem ele era e depois em Colton e no que ele é para mim. A confusão me inunda. Me arrasta para o fundo. Me afoga. – Como você se atreve! – vocifero, e minhas mágoas se transformam em raiva antes de sucumbirem ao sofrimento. Porém, Colton ainda não terminou. Ele se aproxima um passo de mim e aponta o dedo no meu peito. – Mas eu estou vivo, Rylee, e ele não! – Sua declaração me dilacera. Uma lágrima escorre pela minha face. Dou as costas para Colton, tentando me esconder de suas palavras, pensando que, se eu não puder ver a súplica e a mágoa nos olhos dele, não tenho que aceitar a verdade de sua afirmação. – Sou eu que estou aqui na sua frente, carne, osso e necessidade; então ou você aceita que é você que eu quero e ninguém mais… – diz exasperado. Sua voz ecoa do concreto que nos cerca e volta para mim duas vezes, como se para reforçar as palavras. – Você precisa me aceitar por quem eu sou, com
defeitos e tudo mais – sua voz falha – ou precisa sair da porra da minha vida… porque agora, neste exato momento, isso é tudo o que eu posso te dar! É só o que posso oferecer. Ouço a dor em sua voz, sinto a agonia de suas palavras, e elas me destroem até um soluço escapar da minha boca. Coloco a mão para cobri-la e segurar o choro, e aperto a outra sobre o abdome. – Já chega, Colton! – A voz de Beckett perfura a madrugada quando ele vê minha angústia. – Já chega! Na periferia da visão, vejo Colton girar para ele, punhos cerrados, sentimentos à flor da pele. Beckett nem se abala com o olhar impositivo de Colton; em vez disso, dá outro passo em sua direção, desafiando-o com os olhos. – Experimenta, Wood – ele desafia, voz dura como aço. – Vem pra cima e eu quebro sua cara de garoto bonito bêbado num piscar de olhos. Meus olhos encontram os de Beckett por um breve segundo, e o gelo nos seus me surpreende antes de eu me virar e encarar Colton. Suas feições estão rígidas, seu cabelo escuro caiu sobre a testa. A angústia nos olhos é evidente. Observo-o encarar Beckett. Seus olhos desviam para os meus e, seja lá qual for a expressão que encobre meu rosto, eu o encaro de volta. Posso ver medo, dor e incerteza neles, e me dou conta de que, embora suas palavras perfurem – por mais que me doa ouvi-las –, há muita verdade nelas. Max está morto e nunca mais vai voltar. Colton está aqui, muito vivo, e me quer na sua vida de uma forma ou de outra, a despeito de sua inabilidade em reconhecer ou aceitar. Vejo uma súplica em seus olhos para eu o escolher, para o aceitar. E não o fantasma das minhas memórias. Apenas ele. Todo ele. Até as partes destruídas. E a escolha é tão fácil que nem preciso tomá-la. Dou um passo em direção aos olhos que se alternam desesperadamente de mim a Beckett, como se pertencessem a um garotinho. Olho para Beckett e mostro um sorriso incerto. – Está tudo bem, Becks. Ele está certo – sussurro, virando-me de novo para Colton. – Você está certo. Não posso ficar esperando que você seja como Max, e nem te comparar com o que eu tinha com ele. – Avanço outro passo tímido. – E eu não quero você pensando que tem que ser como a
Cassandra – diz ele. Sou pega de surpresa pela forma como sua inferência sobre minha insegurança acerta na mosca. Estendo a mão, uma bandeira branca para nossa discussão, e ele a pega e me puxa para junto de si. Aterrisso sobre a firmeza de seu corpo em nosso abraço, seus braços fortes ao redor de mim como uma reafirmação depois dos insultos cruéis e insensíveis que acabamos de trocar um com o outro. Pressiono a face no seu pescoço e sinto a batida da sua pulsação debaixo dos meus lábios. Ele passa a mão pelas minhas costas, mergulha nos cachos do meu cabelo e segura minha cabeça ali. Beija o topo dos meus cabelos e eu inspiro para sentir seu cheiro. – Você. Isso – ele murmura ao soltar o ar, trêmulo – me deixa apavorado. – E meu coração para e a respiração enrosca. Ele fica em silêncio. Seus batimentos são a trilha sonora dos meus pensamentos. – E eu não sei como… não sei o que fazer… E se eu já não soubesse, as emoções cruas em sua voz teriam me feito perder o chão. Meu coração começa a bater de novo, afunda dentro de mim e despenca gloriosamente. Só espero que ele consiga pegá-lo. Fecho os punhos nas costas de sua camisa; a confissão me embala na esperança e na possibilidade. Ela nos oferece uma chance. Fecho os olhos e levo um minuto para gravar a memória deste momento. – Nem eu, Colton – murmuro na pele de seu pescoço. – Eu também tenho medo. – Você merece muito mais do que eu vou conseguir te dar um dia. Não sei como ou o que fazer pra te dar o que você precisa. Eu só… Agarro sua camisa com mais força. O medo é tão transparente em seu tom que esmaga meu coração e puxa junto a minha alma. – Tudo bem, querido – digo a ele, com outro beijo no pescoço. – Não temos que saber todas as respostas agora. – É só que… – Ele estrangula as palavras, e seus braços me apertam firme nos seus, enquanto os sons de Las Vegas preenchem o ar ao nosso redor. Nesta cidade de pecado e imoralidade desenfreados, eu encontrei tamanha beleza e esperança no abraço apertado de um homem. – Tanto, que eu não sei como… – Não temos que nos apressar com isso. Podemos ir devagar, no nosso tempo e ver aonde chegamos. – Há desespero entranhado nas minhas palavras.
– Não quero te dar falsas esperanças se eu não puder… – Ele sacode a cabeça de leve com um suspiro para terminar a declaração. Eu me reclino e olho para o rosto do homem que eu sei que capturou meu coração. O coração que eu achei que nunca mais amaria ninguém. – Apenas tente, Colton – suplico. – Por favor, apenas me diga que você vai tentar… Sentimentos conflitantes estampam as feições de Colton e sua resistência à necessidade. Há tanta coisa sem ser dita em seus olhos. Ele se abaixa e toca um beijo leve e reverente nos meus lábios, quase um suspiro, antes de afundar o rosto na curva do meu pescoço e simplesmente me abraçar. Eu fico ali com ele nas profundezas de um estacionamento de concreto. Oferecendo-lhe o mesmo tanto que extraio do homem que consome cada parte de mim. E não deixo de perceber que ele nunca chegou a responder ao meu pedido.
O horizonte está apenas começando a se iluminar no leste quando nos arrastamos para fora do avião e entramos na limusine que nos aguarda em Santa Monica. Estamos todos exaustos da noite-furacão. Lanço um olhar para o perfil de Colton enquanto esperamos que Sammy termine seja lá o que ele está fazendo. Sua cabeça reclina no apoio do banco e seus olhos estão fechados. Os meus percorrem do contorno de seu nariz até o queixo, descem para o pescoço e sobre o pomo de adão. Meu coração se enche diante da visão dele e do que ele passou a significar para mim num espaço de tempo tão curto. Colton está me ajudando a superar meus medos e só posso esperar que, em tempo, ele vá confiar em mim o bastante para eu conhecer os seus. Beckett estava certo sobre Colton. Ele evoca emoções extremas demais. É fácil de amar e de odiar ao mesmo tempo. Esta noite foi, de certa maneira, uma novidade – ele admitir que eu o assusto –, mas sei que não significa, de forma nenhuma, que ele me ame. Ou que ele não vá me fazer sofrer no final.
Sua falta de resposta me diz que suas palavras e seu coração ainda estão em conflito. E que ele não tem certeza se vai conseguir colocar todos no mesmo contexto. Ele quer. Eu vejo em seus olhos, na sua postura e na ternura de seu beijo. Mas também vejo o medo, a sensação de incerteza e inabilidade para confiar que eu não vou abandoná-lo. Que amar não significa abrir mão do controle. Parece que toda vez que ele se aproxima demais, quer me afastar de novo. Me segurar a uma certa distância consegue manter seus medos um pouco contidos. Ajuda-o a enterrá-los. Bom, e daí se eu não me acovardar com os comentários? Não me preocupar com a distância silenciosa? E se, em vez de permitir que isso mexa comigo, eu simplesmente deixar para lá e seguir em frente como se nada tivesse sido dito? O que ele vai fazer então? Colton sacode a cabeça e me olha com uma leveza nos olhos que me faz querer ficar abraçadinha com ele. Como é que, algum dia, eu poderia me afastar desse rosto? Nada menos que traição me faria desistir. Ele parece sonolento, contente e ainda um pouco embriagado. Haddie murmura a canção que está tocando baixinho nos altofalantes do carro. Faço um esforço para ouvir e encontro os olhos dela quando reconheço “Glitter in the Air”. De todas as músicas que poderiam estar tocando, claro que tinha de ser essa. – Droga de Pink – desdenha Colton numa voz sexy e sonolenta que faz meu sorriso se alargar. Haddie abre uma risada preguiçosa no assento diante do meu. – Eu poderia dormir por horas – diz ela, apoiando a cabeça no ombro de Beckett. – Aham – murmura Colton, se arrumando deitado no banco e com a cabeça no meu colo. – E eu vou começar agora. – Dá uma risadinha. – Você precisa de todo o sono de beleza que conseguir. – Vai se foder, Becks. – Colton boceja. Sua voz é arrastada pela mistura tanto de álcool quanto de exaustão. – Não deveríamos terminar o que começamos mais cedo? – Ele ri baixo e tenta abrir os olhos. Está tão esgotado que só os abre um pouquinho. Beckett profere uma gargalhada que ressoa no silêncio do carro.
– Não seria desafio nenhum. Nós, garotos do sul, sabemos como se dá um soco. – Você não é nada, perto de alguns socos que já tentaram acertar em mim. – Colton aconchega a nuca na minha barriga. – Sério? Levar uns tapas de uma garota que descobriu ser a trepada de uma noite só não conta – retruca Beckett, encontrando meus olhos e sacudindo a cabeça para me dizer que está inventando isso só para provocar Colton. Sinto que ele pode estar mentindo. – Aham – murmura Colton e depois fica em silêncio. Todos achamos que ele está dormindo, sua respiração cada vez mais constante, até que ele fala de novo de um jeito juvenil, quase onírico: – Espera só ter a sua mãe levantando um porrete pra você… – ele respira – … ou te causar uma fratura exposta na porra do braço. – Ele resmunga. Meus olhos encontram os de Beckett de repente, com o mesmo olhar de surpresa que sinto refletido nos seus. – E agora? Esse ganha do único soco que eu te deixaria dar antes de te jogar de bunda no chão. – Ele emite uma lâmina de risada. – É certeza que eu ganho de você a qualquer hora, seu filho da puta – ele conclui antes de um leve ronco. Minha mente na hora se concentra na cicatriz irregular no braço dele – a que eu notei semana passada. Agora sei por que ele mudou de assunto quanto eu perguntei. Penso em um garotinho encolhido de medo, olhos verdes cheios de lágrimas quando sua mãe o ataca. A dor no meu coração que, instantes antes, era por causa dos meus sentimentos por Colton agora se transformou e intensificou por causa de algo que eu nem consigo entender ou assimilar. O olhar no rosto de Beckett me diz que isso para ele é novidade. Que, embora ele conheça Colton há todos esses anos, não tem noção dos horrores que seu amigo enfrentou quando criança. – Como eu disse – Beckett sussurra. – Você precisa salvá-lo. Meus olhos encontram os seus e ele apenas faz um movimento de cabeça com intensidade subjacente. – Acho que você é a salvação. – Trocamos um reconhecimento e uma aceitação silenciosos antes de olharmos de novo para o homem que amamos, roncando de leve no meu colo.
Dez
A casa está silenciosa e vazia apesar do sol forte que brilha pelas janelas da cozinha. Já é bem perto do meio-dia, mas todo mundo ainda continua dormindo, menos eu. Estou acordada, com calor e me sentindo claustrofóbica, com um Colton apagado e abraçado de qualquer jeito ao redor do meu corpo. Por mais deliciosa que seja a sensação de ter seu corpo no meu, por mais que eu quisesse voltar a dormir, não consigo. Então, a despeito de Colton deitado no travesseiro ao lado do meu, eu me desvencilho lentamente dele e desço da cama sem acordá-lo, à procura de um analgésico para minha dor de cabeça. Sento à mesa da cozinha, e ouço o ronco baixinho de Beckett, dormindo no sofá. Engulo um grande gole de água na esperança de que vá espantar a confusão alcoólica que anuvia minha cabeça. Bocejo de novo e descanso a testa nos braços, que estão dobrados sobre a mesa. Meu Deus, como estou cansada. O toque distante e distinto do meu celular permeia meus sonhos. Estou tentando ajudá-lo. Ajudar o garotinho de cabelos escuros e olhos assombrados para não ser arrancado de mim por algum tipo de força invisível. Minha mão agarra a sua, mas meus dedos estão deslizando um pouquinho de cada vez, enquanto meus músculos se esforçam. Ele está implorando pela minha ajuda. O toque do telefone começa e me assusta. Com um solavanco, ele desliza das minhas mãos e chora de medo. Grito pela perda. Acordo assustada, desorientada pela minha posição sobre a mesa da cozinha. Meu coração bate forte e minha respiração é ofegante quando tento me equilibrar. É apenas um sonho, digo a mim mesma. Apenas um
sonho sem sentido. Largo a cabeça entre as mãos e esfrego os olhos para tentar me livrar da imagem do garotinho que eu não pude salvar. Ouço o timbre grave que a voz de Colton tem pela manhã, vindo do meu quarto. Eu me levanto para ir até ele, quando a inflexão de sua voz se eleva: – A senhora tem muito atrevimento! – É o que ressoa pelo corredor. Levo um momento para minha mente registrar o que está acontecendo. Que dia é. O som do meu celular interrompendo meu sonho. Empurro a cadeira para trás e corro pelo corredor até meu quarto. – Me dá esse telefone, Colton! – grito. Meu coração dispara e minha garganta se aperta de pânico quando cruzo a porta. Meus olhos se fixam no meu celular na orelha dele. Na expressão confusa em seu rosto. Meu coração se aloja na garganta, sabendo bem quais são as palavras que estão atacando seus ouvidos. Rezo para ela não falar nada. – Por favor, Colton – imploro, com a mão estendida para que ele me dê o telefone. Seus olhos se erguem e encontram os meus, à procura de uma explicação para o que ele está ouvindo. Colton sacode a cabeça abruptamente para mim quando eu mantenho a mão estendida. Emite um suspiro ruidoso e fecha os olhos antes de falar. – Senhora? Senhora? – ele pergunta, mais enérgico. – A senhora já disse o que queria, agora é a minha vez. – A voz dela pelo fone silencia em resposta ao tom severo de Colton. Ele passa a mão pelo cabelo. O V dos seus músculos, que afunda abaixo dos lençóis, flexiona quando ele fica tenso. – Mesmo que eu lamente muito a perda do seu filho, acho suas acusações revoltantes. A Rylee não fez nada de errado além de sobreviver a um acidente horrível. Só porque ela viveu e Max morreu não significa que ela o assassinou. Não, a senhora vai me deixar terminar – ele diz muito sério. – Eu entendo que a senhora esteja sofrendo e que vá sofrer para sempre, mas não faça a Rylee culpada de ter matado ele. Foi um acidente horrível com circunstâncias fora do controle de qualquer pessoa. Em resposta, ouço uma litania de palavras que não consigo decifrar de fora, e meu corpo ainda continua tenso de pensar no que acho que ela está revelando.
– E a senhora não acha que ela se sente culpada todos os dias por ter sobrevivido? A senhora não foi a única que o perdeu naquele dia. Por acaso acha que se passa algum dia sem que ela pense em Max e no acidente? Que ela não deseja que tivesse morrido no lugar dele naquele dia? Lágrimas brotam nos meus olhos. As palavras de Colton acertam muito próximo da verdade. Não consigo lutar contra elas, que rolam pelas minhas faces. Na minha mente, passam imagens que vão estar para sempre gravadas aqui. Max lutando pela vida. Max lutando pela morte. Meus milhares de promessas a Deus naqueles dias, se eu ao menos pudesse sair viva. Se todos nós. Algo se acende nos olhos de Colton com as palavras dela, e as lágrimas vêm com mais força. Há silêncio no telefone por algum tempo, no qual Colton digere o que ela acaba de esclarecer. Seus olhos cruzam com os meus, e me sinto incapaz de compreender a expressão enigmática que eles sustentam, antes de voltarem a olhar lá fora pela janela. – Sinto muito pela sua perda, mas esta vai ser a última vez que a senhora vai ligar pra Rylee e acusá-la de qualquer coisa. Entendeu? – ele diz com autoridade. – Ela atende o telefone porque sente culpa. Ela deixa a senhora disparar insultos e acusações, deixa menosprezá-la porque amava o seu filho e não quer que a senhora sofra mais do que já está sofrendo. Mas chega. A senhora está fazendo ela sofrer e eu não vou permitir. Ficou claro? Colton solta o ar com força quando joga o celular na beira da cama. Fica olhando fixo para ele por vários instantes sem falar nada. Meu coração palpita, e o som reverbera nos meus ouvidos enquanto o encaro, com minhas emoções revoltas e dilacerantes. Por fim, depois do que parecem horas, ele nega com a cabeça e olha para as mãos sobre o colo. – Você é a mulher mais altruísta que eu conheço, Rylee. Carregando sua culpa para todo lado. Permitindo que ela desconte o sofrimento em você. Dando tudo o que você tem para os garotos… – Meu coração treme de expectativa ao que ele vai dizer em seguida, sobre o porquê de estar olhando para as mãos e não conseguir encontrar meus olhos. Tantas emoções me consomem e trovejam no
meu corpo enquanto eu espero que ele reúna os pensamentos. Ele me olha devagar e seus olhos se enchem de uma mistura de confusão e compaixão. – Por que você não me contou? – ele pergunta delicadamente. Seus olhos vasculham os meus em busca de uma explicação. Encolho os ombros e desvio os olhos dos dele na tentativa de segurar o dique que ameaça se romper. Meu fracasso é retumbante, a barragem estilhaça e as lágrimas se transformam em soluços. Colton estende a mão e me puxa para si. Afundo na cama, em meio aos braços que me envolvem e me aproximam dele. Ele alisa meu cabelo com as mãos, repetidas vezes, tentando acalmar minha dor com palavras encorajadoras enquanto eu choro. Colton me solta por um instante e coloca travesseiros nas costas para se apoiar neles e me puxar para perto de forma que meu rosto repouse no seu peito nu e minha mão cubra seu coração. O ritmo constante do coração de Colton me acalma. Percebo que estar aqui com ele alivia um pouco do mal-estar da nossa noite em Las Vegas. Não dói menos, mas está ficando mais fácil. Percebo que, pela primeira vez, posso pensar em Max e vê-lo nos bons tempos, não apenas nas imagens finais que tenho dele, ferido, ensanguentado, morrendo. Posso sorrir sobre o adolescente por quem me apaixonei, tão inocente, e sobre o homem com quem prometi passar a vida. Eu me lembro da ansiedade no seu rosto no dia em que ele me pediu em casamento e na surpresa, no amor e no entusiasmo nos seus olhos quando eu lhe disse que estava grávida. Meu Deus, eu tive tanto medo de contar, como eu tive medo, mas, quando ele me abraçou e me disse que estava extasiado e que tudo daria certo, eu me permiti sentir a esperança e o deslumbramento que estava segurando. Colton planta um beijo suave no topo da minha cabeça. – Você quer falar sobre isso? Quase rio de suas palavras. Parecem tão hipócritas vindas de alguém que nunca fala sobre o passado. Algumas lágrimas escapam, rolam pelo seu peito e eu logo as enxugo. – Me desculpa – digo. Não consigo olhar para ele. – Tenho certeza de que, depois da última noite, a última coisa com que você vai querer lidar é uma idiota babona.
Ele ergue os braços e passa a mão pelos cabelos. Solta um suspiro ruidoso. – Não sou bom nesse tipo de coisa, Rylee. Merda, eu nem sei o que fazer ou falar aqui… Sinto seu desconforto por ter uma mulher que está se desfazendo nos braços. Ele odeia drama. Eu sei disso. Passo a mão por seu peito. – Você não tem que fazer nada. Só estar aqui, me defender para a Claire… – sussurro – …é o suficiente. – Como você nunca me contou? – Ouço um traço surpreendente de mágoa em sua voz. E eu sei que ele está se referindo ao bebê. Ao meu bebê. A parte de mim que morreu para sempre naquele dia. A parte que para sempre vai ficar vazia no meu ventre. – Suas histórias também não são tão lindas assim – tento. As palavras pairam entre nós silenciosamente. – Você é tão inflexível sobre não ter filhos que não achei importante você saber. Não achei que você fosse se importar. Sinto Colton sugar a inspiração. – Cristo, Rylee. – Sua voz sai com dificuldade, mas a mão se fecha num punho nas minhas costas. – Você pensa tão pouco assim de mim? Só porque não quero filhos não significa que não compreendo a sua situação. A sua perda. Viro a cabeça e apoio o queixo na mão. Mantenho os olhos longe dos dele. Em vez disso, percorro com o dedo as linhas da tatuagem que se espalha por uma porção do tórax. – Eu estava… – Paro de falar, tentando mapear minhas memórias. – Fiquei chocada no dia em que descobri que estava grávida. Quero dizer, eu tinha acabado de me formar na faculdade, e as coisas eram muito simples naquela época. Eu tinha um plano: primeiro a faculdade, depois o casamento e depois uma família. – Sorrio de leve. – Mas você sabe o que se diz dos melhores planos. – Dou um suspiro trêmulo. – Fiquei com muito medo de qual reação Max teria. E, quando eu contei, ele me olhou maravilhado. Ainda consigo vê-lo na mente. Ele admitiu que estava com medo, mas me disse que não importava, pois tudo daria certo. E eu fiquei me perguntando como ele podia ter tanta certeza quando tudo estava prestes a mudar de forma
tão drástica. Fico em silêncio por um instante, e minhas memórias percorrem minha mente como uma apresentação de slides. Eu me viro e olho para Colton. Uma lágrima desliza em silêncio pelo canto do meu olho. – Ela… – digo com a respiração trêmula. – O bebê era menina. – Ele assente para mim e enxuga a lágrima. – Eu ainda estava assustada, em pânico com o pensamento de ter um bebê, mas então eu senti ela chutar. – Paro. Meu peito se aperta com a lembrança da sensação que nunca mais vou sentir. – E imediatamente eu me apaixonei por ela. Toda a minha relutância se foi. – Limpo a garganta. Colton fica comigo, paciente, olhos travados nos meus. – Eu estava de sete meses e meio quando sofremos o acidente. Eu sabia naquela primeira noite que ela não tinha sobrevivido, mas me recusei a acreditar. Eu estava com uma hemorragia enorme e a cólica… era uma dor de outro mundo. Eu queria que ela se mexesse. Que me chutasse só uma vez. Um estremecimento me percorre, aquelas negociações silenciosas que eu tive de fazer com Deus naquela noite percorrem minha cabeça. – Em algum nível, eu sabia que a esperança de que ela ainda pudesse estar viva foi o que me fez continuar lutando pela minha vida. – Sinto muito, Rylee – ele sussurra. – Demorou tanto para eu ser resgatada que peguei uma infecção bacteriana. Do que os médicos viram, o estrago foi tão grande que acabou com minha capacidade de engravidar. – Limpo a garganta antes de continuar. – A mãe de Max, Claire, me culpa por tudo. – Quanta burrice – ele intervém. Dou de ombros, concordando, mas ainda deixo que a culpa me faça pensar diferente. – Ela achava que se a gente não tivesse feito sexo antes do casamento nada disso teria acontecido. Colton faz um ruído de desdém pelo nariz. – Vocês ficaram juntos o quê? Seis anos? Mostro um sorriso pálido. – Quase sete. – E ela esperava abstinência por todos esses anos?
– Cada um tem suas crenças. – Encolho os ombros. – Partimos numa pequena viagem porque era nossa última chance de escapar. Eu estava estressada com tudo e a médica estava ficando preocupada com minha pressão sanguínea. O Max queria tentar me acalmar. Passar algum tempo juntos antes que o caos se instalasse. Então a Claire me culpa por matar o filho e a neta. – Você sabe que isso não é verdade, Rylee. – Eu sei, mas não tira a culpa do caminho. No aniversário da morte e do nascimento, ela me liga para extravasar a raiva e a tristeza. – Fecho os olhos por um instante, lutando contra as imagens horríveis que espreitam meus sonhos. – É a terapia dela, eu acho… e, embora acabe comigo, ouvi-la é o mínimo que eu posso fazer. – Ele me puxa mais para cima no seu peito e me conforta entre seus braços poderosos e com o queixo apoiado na minha cabeça. – Por estranho que pareça, conhecer você e passar tempo com você me permitiu perceber que estou pouco a pouco fazendo as pazes com o que aconteceu. O tempo me permitiu lembrar de Max e de como ele era antes do acidente, não apenas depois. Acho que a parte mais difícil é o bebê. – Solto o ar de forma entrecortada. – Sempre vou guardar comigo o sentimento de uma vida crescendo dentro de mim, ainda mais já que provavelmente nunca vou ter essa chance de novo. – Eu me aconchego no calor do seu pescoço e suspiro. – Ela teria dois anos de idade. Contenho o choro antes que escape da minha boca, mas Colton sente. Ele me abraça mais apertado, e sua respiração constante, bem como a habilidade de me ouvir, é exatamente o que eu preciso. Sinto como se um peso tivesse sido removido dos meus ombros. Todos os meus segredos foram expostos. Agora ele sabe. De tudo. Eu me apego a ele, pois, por algum motivo, sua presença aqui completa a transformação em mim. Não quero ficar mais sozinha e estou exausta de me sentir entorpecida. Quero sentir de novo… nos extremos que Colton me faz sentir. Estou pronta para viver de novo. Viver de verdade. E, neste momento, eu sei que só consigo imaginar partilhar essas memórias com Colton. Fecho os olhos e me perco nele; o sono que não consegui ter antes começa a tomar conta de mim. Estou apenas
começando a me deixar levar, quando sua voz me faz abrir os olhos de repente. – Quando eu tinha seis anos – ele diz tão baixinho que, se não fosse pela vibração no seu peito, eu não ouviria suas palavras. Ele para um instante e limpa a garganta. – Quando eu tinha seis anos, minha… a mulher que me deu à luz me espancou tanto que eu acabei inconsciente no hospital. – Ele solta o ar ruidosamente. Eu prendo a respiração. Puta merda! Conforme ele fala, eu sei pela dor em sua voz que as feridas ainda estão frescas e escancaradas. Infeccionadas. Como é possível se recuperar de um espancamento desses feito pela própria mãe? Como aceitar o amor de quem quer que seja, quando a única pessoa que deve te proteger de tudo é aquela que mais feriu? Estou sem palavras, então passo meus braços ao redor dele e aperto antes de pousar um beijo suave sobre seu esterno. – O hospital chamou a polícia? O conselho tutelar? – pergunto timidamente, sem saber o quanto ele está disposto a compartilhar comigo. Sinto-o mover a cabeça para afirmar. – Foi minha mãe que ligou para a emergência. Ela disse que tinha sido meu pai. E que ela fez ele parar. – Ele faz uma pausa, e eu lhe dou um minuto para se compor e clarear as emoções que nadam em sua voz. – Eu nunca conheci meu pai, então… Eu tinha medo demais do que ela faria comigo se eu falasse que era mentira… era jovem demais para saber que a vida podia ser melhor do que a que eu tinha. Ela me tirou da escola depois disso. Não parava de se mudar para que o conselho tutelar não pudesse ver como a gente estava… – Suas palavras somem. Há tantos pensamentos percorrendo minha cabeça, tantas coisas que eu quero dizer a ele para consolá-lo… Que não foi culpa dele. Que o amor não tem que ser assim. Que ele é um verdadeiro sobrevivente por sair daquela situação e prosperar. Mas sei que minhas palavras não fazem nada para apagar os anos de maus-tratos que ele deve ter suportado ou aliviar os efeitos psicológicos posteriores. Além do mais, tenho certeza de que ele já ouviu de tudo dos psiquiatras, repetidas vezes. Olho para ele. Seu olhar assombrado me diz que o que ele acaba de admitir é o menor de seus pesadelos de infância. Será que eu falo
o que ele confessou ontem à noite na limusine? Em conflito com a decisão, escolho não falar. Compartilhar seu passado deve ser nos seus próprios termos. Abro a boca para falar, mas ele me interrompe antes que eu comece. – Rylee, por favor, não sinta pena de mim. – Eu… eu não sinto – respondo com a voz falhada, sabendo que é a última coisa que ele desejaria, mas ele consegue ver além da minha mentira. Como não vou ter pena do garotinho que ele foi um dia? – Essa vida foi há muito tempo. O garotinho… ele não é a mesma pessoa que eu sou agora. Mentira. Ele é quem é por causa do que aconteceu. Será que não enxerga? Pressiono um beijo suave no centro de seu peito. – Você sabe o que aconteceu com a sua mãe? – A pergunta é hesitante, quase temerosa, mas eu quero saber o máximo que conseguir já que ele está falando. Ele fica em silêncio por um instante. Depois ergue a mão das minhas costas e passa pelo queixo levemente barbudo antes de suspirar ruidosamente. – Depois que meu pai me achou na escada do trailer dele… ele me levou para o hospital. Ficou comigo – ele conta de novo, com absoluta reverência na voz. – Mal sabia eu que ele era esse diretor tão importante. Não que eu soubesse, naquela época, o que isso significava. Depois… muito depois, eu fiquei sabendo que ele tinha perdido um dia inteiro de estúdio para ficar comigo no hospital. Daquele dia eu me lembro de pensar que ele tinha a voz mais gentil do mundo. E me lembro dos olhos. Não tinha maldade neles nem quando eu me encolhia com o seu toque… Sua voz some novamente, perdida nas memórias. Eu o deixo em silêncio por um instante. – E ele pediu todos os tipos imagináveis de comida para mim e pediu para entregar no quarto do hospital. Nunca vou esquecer a expressão dele quando me viu comer coisas que eu nunca tinha comido antes. Coisas que todo garoto naquela idade já deveria ter provado milhares de vezes. Eu me lembro de fingir que estava dormindo quando a polícia disse a ele que tinham encontrado minha mãe e que a estavam levando para interrogatório… que as
radiografias e os exames mostravam anos de… – Ele para, tentando encontrar as palavras certas enquanto eu prendo a respiração e me pergunto qual das opções horríveis ele vai usar. – Negligência. E foi a primeira vez na vida que eu ouvi meu pai dar uma carteirada para conseguir o que queria. Eu o ouvi perguntar aos policiais se sabiam quem ele era. Para resolverem o que eles quisessem, mas que eu ia ficar sob a custódia dele a partir daquele dia. Que ele conseguiria uma equipe de advogados se fosse preciso, mas era assim que seria. – Ele sacode a cabeça com um risinho. – Isso é… – Estou sem palavras. Não quero tirar a magia das memórias ao dizer as palavras erradas, então deixo como está. – É. – Ele toma fôlego. – Eu vi minha mãe mais uma vez, mas foi no tribunal. Eu sei que ela foi pra cadeia, mas nada além disso. Nunca quis saber. Por que a pergunta? – Eu só queria saber até onde você tinha levado isso. Pensei que, talvez, se você descobrisse o que aconteceu com ela… preenchesse os espaços vazios que tivesse vontade, pudesse ajudar. Os pesadelos podem ir embora e… – Acho que já é o suficiente de trocas por hoje – diz ele, interrompendo-me e mudando a posição dos nossos corpos de forma abrupta para me deixar de costas e deitar mais ou menos em cima de mim, prendendo minhas pernas com as suas. – Ah, é? – Sorrio vendo a tensão aliviar no rosto dele e a dor desvanecer de seus olhos. – É o único jeito de fazer você falar? Uma troca? Olho por olho, digamos? – Bom… – Ele mostra um sorriso malicioso e me pressiona no colchão com os quadris. – Você já ouviu a minha parte. – Ele arqueia as sobrancelhas sugestivamente. – Agora é justo que… O fato de Colton arquitetar uma mudança brusca de assunto não me passa despercebido. É seu jeito inerente de fazer as coisas entre nós partirem para o lado físico quando eu cavo um pouco fundo demais. Em situações normais eu hesitaria em usar intimidade para aliviar a dor da tristeza dentro de mim, mas esta manhã eu só quero que ele me ajude a esquecer por um instante as lágrimas restantes na minha alma, daquele dia há dois anos. Eu me contorço debaixo dele. Meu corpo pulsa de desejo e ama o lado brincalhão de Colton que ressurgiu para aliviar a escuridão da
nossa manhã. – E pensei que você tinha dito que a gente já tinha feito trocas suficientes por hoje. – O som da sua risada é bem-vinda vibrando do seu peito para o meu. Levanto a cabeça, capturo seu lábio inferior no meu e puxo. O grunhido de desejo no fundo de sua garganta atiça meu anseio por ele. Sua mão roça minhas costelas e apalpa o seio que não está coberto por seu corpo e então passa o polegar sobre meu mamilo já enrijecido. Seu toque é uma descarga de sensações que lentamente vai crescendo dentro de mim. Ele se inclina para baixo e planta um beijo suave nos meus lábios. – Agora quanto à parte que você me dá algo em troca – ele murmura, com um sorriso curvando os cantos de sua boca. Ele aperta meu mamilo entre o polegar e o indicador. Meu gemido é absorvido por sua boca na minha. – Será que algum dia eu vou ter o suficiente de você? – ele pergunta sobre minha boca, e eu fico me perguntando a mesma coisa. Será que algum dia vou me cansar dele? Disso? De seu gosto e de seu toque ou do grunhido na garganta que expressa o que eu o faço sentir quando o toco? Será que ele sempre vai me levar a esse estado tão grande de excitação? Com certeza meu desejo tem que ser saciado em uma hora ou outra. Seu mero toque faz todos os meus pensamentos desaparecerem, exceto um. Ele pisca na minha mente. Nunca.
Onze
Avery sorri para mim enquanto eu percorro alguns dos itens na nossa agenda e as regras e procedimentos padrão. – Sei que é muito para absorver, mas, assim que você estiver familiarizada, não vai precisar pensar duas vezes. Ela faz que sim e olha para Zander. Ele está sentado no sofá, com o cachorrinho de pelúcia surrado bem junto no peito, assistindo à televisão. – Qual é a história dele? – ela pergunta baixinho. Olho para Zander por cima do ombro e sorrio. Embora ele ainda não fale muito além de palavras esporádicas aqui e acolá desde a corrida, parece estar melhor. Está interagindo um pouco mais com os meninos e vejo traços de emoção no seu rosto onde antes havia o vazio. A terapeuta diz que ele está começando a participar, começando a interagir com ela. É um começo. O progresso leva tempo. Como protejo minhas crianças como se fosse uma galinhona mãe, eu raramente falo sobre o passado delas até que um funcionário já esteja comigo há algum tempo. – Este é Zander. Não fala muito, mas estamos trabalhando nisso. Ele passou por uma situação difícil com a qual agora está lidando internamente. Mas ele vai conseguir. Ela mostra um olhar enigmático, mas eu ignoro seu interesse e começo a repassar a próxima sequência de procedimentos. A campainha toca e a interrupção inesperada me assusta. Jax está no treino de basquete com Shane e Connor, então eu me levanto para atender a porta.
Quando olho pelo olho-mágico, sou pega de surpresa pela visão da irmã de Colton. Abro a porta com cautela, mas a curiosidade toma o melhor de mim. – Que surpresa! Oi, Quinlan. – Tento mostrar um sorriso alegre, embora meu coração tenha disparado no peito com sua presença. Fico perplexa como uma mulher tão bonita e doce pode instigar tamanha ansiedade em mim. – Rylee. – Ela assente. Seus lábios perfeitos mal formam um sorriso. – Vim visitar o lar antes de fazer uma doação para o novo projeto. Quero saber exatamente em que meu dinheiro vai ser usado. Bom, oi para você também! Mostro um sorriso contrito e a convido a entrar. Ela poderia pelo menos me agraciar com uma atitude um pouco calorosa… qualquer coisa para derreter sua fachada gélida. Que diabos eu fiz para merecer um gelo tão deliberado da parte dela? – Seria um prazer levar você para conhecer – digo forçosamente. Meu desejo era passá-la para fazer a visita com outro conselheiro, mas meus modos e meu profissionalismo acabam vencendo. Além disso, algo me diz que essa visitinha é para algo mais do que conhecer as instalações antes de fazer uma doação. Ponho um sorriso falso no rosto. – Por favor, me acompanhe. Informo a Avery que ela está responsável por ficar de olho nos meninos e então passo a mostrar à Quinlan todo o espaço e a explicar os benefícios. É provável que eu esteja tagarelando, mas ela não fez nenhuma pergunta. Em vez disso, apenas fica me olhando durante todo o tempo com uma avaliação discreta, porém crítica. E, depois de uns vinte minutos, percebo que a inspeção não está sendo feita no Lar, ou no que temos a oferecer aos meus garotos. É apenas em mim. Já chega. Lanço um olhar para garantir que todos os garotos estejam lá fora brincando com Avery antes de me virar para ela. – Qual é o verdadeiro motivo da sua visita, Quinlan? – Meu tom se equipara a um “vá se foder”. Não estou para brincadeira. – Ver se as instalações são dignas da minha doação – ela responde, doce demais para ser verdade. Sustenta meu olhar, mas vejo algo reluzir nos olhos da rainha de gelo. – Eu agradeço, pois o lugar e as crianças valem a pena – respondo
–, mas vamos ser honestas, por que você está aqui? Para ver se o Lar é digno da sua doação ou se eu sou digna do seu irmão? – Os olhos de Quinlan brilham quando eu acerto o alvo na mosca. Proteger o irmão é uma coisa. Eu entendo. Ser uma filha da puta já é outra bem diferente. – Qual dos dois? Ela inclina a cabeça de lado e me olha. – Só estou tentando compreender a sua abordagem. – Minha abordagem? – É, sua abordagem. – Sua voz é implacável e seus olhos se equiparam aos de Colton em termos de intensidade. – Você não é o tipo de biscate que Colton costuma escolher… então estou tentando entender exatamente o que você quer extrair disso tudo. Dele. – Ela torce os lábios e me encara. Tenho certeza de que minha expressão de choque é algo para se ver. – Perdão? – digo com a voz trêmula, mais do que ofendida. – Você é tiete das pistas? Está a fim de conseguir um papel no mais novo filme do meu pai? Uma aspirante a modelo a fim de fazer o teste do sofá? Mal posso esperar para saber qual é o seu caso. – O quê? – Simplesmente fico a encarando por um momento. Meu choque reverbera por mim e se transforma em raiva. – Como você se atreve a… – Ah, agora eu entendi. – Ela dá um sorrisinho. O sarcasmo pinga de cada palavra sua. Só o que eu quero fazer é esganá-la. – Você precisa do dinheiro dele para concluir esse projetinho seu – diz ela, fazendo um gesto para o espaço ao seu redor. – Está usando meu irmão para conseguir notoriedade com isso. – Isso é desnecessário. – Recuo um passo. Fui levada a um ponto em que não me interessa mais se ela é irmã de Colton ou não. Gostaria de dizer algo muito pior, mas estou no trabalho e nunca sei quando pode haver ouvidos impressionáveis me ouvindo. Mas tenho um limite antes que minhas boas maneiras sejam jogadas pela janela, e foi exatamente isso o que ela fez. – Sabe de uma coisa, Quin? Eu tentei ser legal, tentei fazer vistas grossas para sua falta de educação, para seus sorrisinhos de pena, mas já chega. Foi o Colton que me usou, não o contrário. – Ela arqueia uma sobrancelha para mim como se não acreditasse. – É… – Dou risada. – Também acho difícil de acreditar, mas usou. E eu não quero merda nenhuma do seu
irmão a não ser que ele se abra para a possibilidade de que merece mais do que está se permitindo ter até o momento na vida dele. – Dou um passo atrás, balançando a cabeça para ela. – Não preciso me explicar para você, muito menos justificar suas acusações imbecis. Obrigada pelo fingimento da doação, mas não quero seu dinheiro. Não em troca de ser julgada por você. Acho que é hora de ir embora. – Aponto o corredor. Meu corpo está vibrando de raiva. Ela abre um sorrisão para mim, seu semblante baixa a guarda e se enche de calor pela primeira vez desde que a conheci. – Ainda não. Não terminamos aqui. O quê? Ótimo, mal posso esperar pelo resto dessa conversa estimulante. – Eu sabia que você estava sendo verdadeira. – Ela dá um sorrisinho e suga uma inspiração profunda. – Só precisava ter certeza de que estava certa. Na cara. Por acaso perdi alguma coisa? Estou tão confusa neste momento que minha boca se abre e eu olho para Quinlan como se ela fosse louca de pedra. Essa mudança de assunto esquizofrênica, como a de Colton, deve correr na família. Já que eu simplesmente fico parada olhando para ela com desdém, ela continua: – Nunca vi Colton nos eixos assim antes. Ele arranja as biscates, eles andam pra lá e pra cá de braços dados, mas ele não está nem aí para elas. Ele nunca deixa que alguém o distraia quando está no carro. Você o distraiu. Eu nunca o vi tão… – ela procura a palavra certa – …abalado com alguém antes. – Ela cruza os braços sobre o peito e se inclina na parede. – E meu pai me disse que você estava na casa em Broadbeach? E, para fechar com chave de ouro, o Becks me diz que você foi para Vegas com eles? O que acontece com as mulheres na vida do Colton, acompanhando tudo o que eu faço e me julgando? Abalado? Colton pode ter dito que eu o assusto, mas de forma alguma ele pensaria em amor ou sequer uma sugestão nesse sentido. Abalado, definitivamente, não. Sou algo diferente das mulheres “na lata”, das mulheres “quero algo em troca”. Eu o queimo. Eu o assusto. Mas por alguma razão, apesar de tudo isso, não o faço
se aventurar em algo além do que ele está acostumado. Não sou o suficiente para fazê-lo mudar seu jeito. Ele não vai confrontar seus demônios quando não está nem a fim de falar sobre eles. E essa é a única forma pela qual ele vai conseguir ceder às emoções que eu vejo transbordando em seus olhos, e que sinto no jeito reverente do seu toque. Saio dos meus pensamentos e me concentro em Quinlan. Ela me encara, realmente encara, e me faz encolher debaixo do seu escrutínio silencioso. – E aonde você está querendo chegar, Quinlan? – Escuta, por mais que o Colt tente bancar o Senhor Mundo da Lua e pense que eu não… merda, que minha família inteira… – ela expira – …não sabe dos arranjos… – Ela revira os olhos para demonstrar repulsa ao dizer a palavra. – Não é segredo para nós. As regrinhas idiotas e o jeito machista correm soltos. Por mais que eu não concorde com ele e com suas palhaçadas, sei que é a única forma de ele ter um relacionamento afetivo… a forma necessária dele lidar com o passado. – Seus olhos sustentam o meu e eu percebo que ela está pedindo desculpas pelo irmão. Pelo que ele acha que não pode me dar. Sobre o fato de que ele tem medo até mesmo de tentar. – Foi assim tão horrível? – sussurro, já sabendo a resposta. Enfim certa ternura alivia seu semblante contrito e uma verdadeira tristeza lhe preenche os olhos. Ela faz um leve sinal de confirmação com a cabeça. – Ele raramente fala sobre isso, e eu tenho certeza de que há partes das quais ele nunca falou, Rylee. Experiências que nem consigo conceber. – Ela olha para as unhas pintadas de rosa e retorce os dedos. – Ter pais e mães que não querem a gente já é difícil o bastante quando se é adotado. O Colton… O Colton teve que superar muito mais do que isso. – Ela balança a cabeça e eu vejo que está com dificuldade para definir o quanto mais vai me contar. Ela ergue os olhos: translúcidos, porém em conflito. – Um garotinho de oito anos tão faminto… trancado no quarto enquanto a mãe fazia sabe-se lá o quê por dias… que de alguma forma ele fugiu e saiu em busca de comida, por sorte desfalecendo na porta do meu pai. Inspiro fundo, meu coração acelera, minha alma se aperta e minha fé na humanidade desmorona.
– É apenas um vislumbre do inferno dele, mas cabe a ele contar a história, Rylee. Não a mim. Só estou te contando para você ter uma pequena noção daquilo pelo que ele passou. Da paciência e da persistência de que você vai precisar. Faço que sim, sem saber o que dizer para uma mulher que, momentos antes, estava me repreendendo e agora está me dando conselho. – Então… – Então eu tinha que ter certeza de que você não estava de brincadeira. – Ela oferece um sorriso de desculpas e resignação. – E, quando eu tive, quis dar uma boa olhada na primeira mulher que poderia ser quem conseguiria fazê-lo superar. Suas palavras me deixam sem ação. – Você me pegou de surpresa aqui – admito, incerta do que mais poderia dizer. – Sei que minha atitude pode ser um pouco forte, presunçosa, até mesmo de vir aqui… mas eu amo Colton mais que tudo no mundo. – Ela dá um leve sorriso ao dizer o nome do irmão. – Só estou cuidando dele. Não quero nada menos do que o melhor para ele. Isso eu posso entender. Ela se afasta da parede e se apruma na minha frente. – Olha, se você olhar além do exterior rude e maravilhoso… há um garotinho assustado ali dentro que tem medo de amar. Que, por algum motivo, associa amor com expectativas maravilhosas em um minuto e, depois, no outro, acha que não é digo disso. Creio que ele tem medo de amar alguém porque sabe que essa pessoa vai embora. Ele provavelmente te magoaria para provar que você vai… – Ela sacode a cabeça. – E só por esse inferno, eu já peço desculpas, pois, pelo que eu vejo, você merece coisa melhor. As palavras dela me atingem com força total. Entendo o garotinho que há dentro dele, pois tenho um quintal cheio deles neste momento, com problemas individuais. Só gostaria que eles tivessem o amor incondicional que Colton parece receber de Beckett e Quinlan. Alguém que os defenda e cuide deles porque não quer nada que não seja o melhor para eles. Esse amor, esse sentimento protetor, eu entendo. Quinlan passa a mão no meu braço e dá um apertinho para provar
o que está dizendo. – Eu amo muito o meu irmão, Rylee. Alguns poderiam dizer que eu venerava o chão por onde ele passava quando éramos crianças. – Ela põe a mão no bolso e tira algo, desviando os olhos dos meus. – Sinto muito pela minha intromissão. Eu realmente não deveria estar aqui… interferindo. – Ela parece constrangida de repente ao dar um passo em direção à porta. Quinlan estende a mão e coloca um cheque na minha, Seus olhos encontram os meus e, pela primeira vez, eu vejo aceitação. – Obrigada pelo seu tempo, Rylee. – Ela passa por mim, então hesita e olha para trás. – Se você tiver chance, cuide do meu irmão. Confirmo balançando a cabeça e tudo o que consigo dizer, no redemoinho de caos na minha cabeça, provocado por essas revelações inesperadas, é um lacônico: – Tchau.
Doze
O grito me acorda na calada da noite. É uma súplica estrangulada e feroz que se repete e se repete, de novo e de novo antes que eu sequer possa sair da porta do quarto. Corro pela casa em direção ao terror incontido. Dane e Avery vêm logo atrás de mim, e nossos passos tamborilam no chão com urgência. – Mããããããeeeeee! – berra Zander. Entro em disparada no quarto, em meio ao som demolidor que reverbera pelas paredes. Ele se contorce violentamente na cama. – Nããããão! Nãããão! Ouço a voz em pânico de Shane no corredor, tentando ajudar Dane a acalmar os garotinhos que acordaram e agora estão assustados. É triste como me ocorre nesse momento a frequência com que esse tipo de terrores noturnos é uma visita tão constante nesta casa, tanto que Shane já nem se abala com eles. Mas eu me concentro somente em Zander, neste momento, sabendo que Dane vai cuidar de Shane e do resto dos meninos. Ouço Dane pedir para Avery me ajudar se eu precisar. Bem-vinda a sua primeira noite no Lar, Avery. Sento-me cuidadosamente na cama de Zander. Seu corpo gira e se contorce debaixo dos lençóis; seu rosto está molhado de lágrimas; sua roupa de cama, encharcada de suor; e gemidos amedrontados escapam do fundo de sua garganta. O cheiro inconfundível do medo apavorante sufoca o quartinho. – Zander, querido – digo numa voz calma, com o cuidado de não falar alto e contribuir para piorar a violência que já ronda o pesadelo. – Estou aqui. Estou aqui. – O choro não para. – Estendo a mão e tento sacudi-lo para fazê-lo acordar, e me surpreende a força com que ele revida e acerta o punho no meu rosto. A dor registra logo
abaixo do meu olho, mas não dou importância; preciso levantar Zander para impedi-lo de machucar a si próprio. – Papai, não! – ele geme com tanta tristeza que lágrimas brotam dos meus olhos. E, apesar de ser um sonho que não pode ser usado para fins legais, Zander acabou de confirmar a suspeita de que o pai matou a mãe. Bem diante dos seus olhos. É com esforço que envolvo os braços ao redor dele. Apesar de ser um garoto pequeno, a força que é fruto do terror resultante da adrenalina é incrementada. Consigo prender os braços com força ao redor dele e puxá-lo para o meu peito, sem parar de murmurar que estou aqui, que não vou machucá-lo. – Zander, está tudo bem. Vamos, Zand, acorde – sussurro de novo e de novo, até que ele acorda com um sobressalto. Então se esforça para sentar e sair do meu abraço, olhando em volta pelo quarto, com olhos vazios, para se orientar nos arredores. – Mamãe? – ele pergunta com tanto desespero que meu coração se parte em um milhão de pedacinhos. – Está tudo bem, estou aqui, amiguinho – acalmo, esfregando a mão por suas costas com carinho. Ele me olha, olhos vermelhos e machucados de chorar, e desaba nos meus braços. Ele me abraça com tamanho desespero que eu sei que eu faria qualquer coisa para apagar sua memória daquela noite se tivesse chance. – Quero a minha mamãe – ele chora, repetindo de novo e de novo. É a primeira frase que eu o ouço dizer e, ainda assim, não há nada que comemorar. Não há nada para encorajar ou celebrar. Ficamos juntos num abraço apertado por um longo tempo até que sua respiração constante me convence de que ele voltou a dormir. Lentamente eu o viro para deitar na cama, mas, quando tento tirar meus braços de volta dele, Zander se segura ainda mais forte. Só quando os raios do sol espiam por entre as persianas fechadas, nós dois pegamos no sono profundo.
Treze
COLTON
O ronco do motor vibra pelo meu corpo, quando passo em alta velocidade pela zebra na curva quatro. Porra. Alguma coisa não parece certa. Alguma coisa está fora do prumo. Diminuo a velocidade mais do que o necessário ao cruzar a zebra e atravesso a área de escape que margeia a curva. – O que está acontecendo? – A voz descarnada de Becks preenche meus ouvidos. – Porra, eu não sei – digo entre dentes, ao recuperar a velocidade do carro para tentar decifrar o que ele está me dizendo. Cada tremor. Cada som. Cada descarga no meu corpo. Minha atenção se esforça para tentar compreender o que parece esquisito… algo que embase o fato de o carro não estar respondendo como deveria. Não consigo entender o que falta, o que estou deixando de enxergar e que pode nos custar a corrida. Ou me fazer acertar a cabeça na mureta. Minha cabeça lateja com estresse e concentração. Cruzo a linha de chegada e vejo as arquibancadas à direita, uma grande extensão de cores misturadas. O borrão no qual eu vivi minha vida. – O que… – Quanta pré-carga no diferencial? – exijo saber, ao atingir outra zebra, na primeira curva. A traseira do carro começa a derrapar quando pressiono o acelerador e faço o carro atingir o máximo de velocidade. Meu corpo automaticamente se move para compensar a
pressão imposta pela força e pelo ângulo da pista. – Será que é a placa de embreagem? A traseira está dançando o tempo todo – explico, ao lutar para recuperar o controle do carro antes de entrar na segunda curva. – Não é possí… – Você está pilotando a porra do carro agora, Becks? – vocifero no microfone, e minhas mãos agarram o volante com frustração. Beckett obviamente lê meu humor, pois desliga o rádio. Minha mente se volta para os pesadelos que infestaram meu sono ontem à noite; para o fato de eu não conseguir falar com a Rylee hoje de manhã, quando liguei; para minha necessidade de ouvir a voz dela, na tentativa de eliminar os remanescentes da minha mente. Mas que droga, Donavan, coloca sua cabeça na pista. Irritação – comigo, com Beckett e com a porra do carro – me faz pisar no pedal com mais força do que eu deveria. Minha tentativa fodida de usar a adrenalina para afogar minha cabeça. Sei que Becks deve estar louquinho pensando que vou pôr fogo no carro. Detonar todo o tempo e a precisão que colocamos no motor. Estou quase na terceira volta e uma parte de mim queria que não tivesse curva nenhuma. Apenas uma retona enorme de pista onde eu pudesse continuar seguindo em frente, enfiar o pé na tábua, correr com o vento e ultrapassar as merdas na minha cabeça: o medo que esmaga meu coração. Perseguir as possibilidades que estão logo além do alcance dos meus dedos. Mas não há nenhuma. Apenas outra porra de curva. Um hamster girando na roda. Entro na curva acelerado demais, com a mente bagunçada demais para estar na pista. Tenho que me lembrar conscientemente de tentar não corrigir demais a traseira que está dançando e puxando para a direita, levantando demais. Um estremecimento de medo percorre a base da minha coluna, por aquela fração de segundo em que não tenho certeza se vou conseguir manobrar o carro a tempo de não beijar o guard rail. Beckett xinga no rádio. Escapo por um fio e também grito um palavrão. A única forma de dar voz ao ápice do medo que acabou de disparar pelo meu sistema. Adrenalina, minha droga do momento,
reina até a consciência da minha estupidez ganhar a melhor, nos instantes seguintes. Sempre preciso de alguns segundos para cair em mim. Mas que merda. Pra mim já chega. Eu não deveria estar no carro agora. É idiota da minha parte estar aqui quando minha cabeça está em outro lugar. Diminuo a velocidade na curva quatro e desacelero ao pegar a reta dos boxes. Paro com minha equipe, que está atrás da parede guarda-fogo. Silencio o motor e suspiro alto. Todos eles ficam ali, ninguém avança nem um passo, enquanto desafivelo o capacete e desencaixo o volante. Puxo o capacete para cima e ele é arrancado das minhas mãos. – Você estava tentando se matar ali? – grita Beckett, quando tiro a balaclava e os protetores de ouvido. Agora sei por que a equipe ficou atrás da parede. Eles estão acostumados aos ânimos inflamados e à honestidade brutal entre mim e Becks. Eles sabem quando manter distância. – Então faça isso sozinho, não debaixo das minhas vistas! – Ele está louco da vida e tem todo o direito de estar, mas, foda-se, não vou admitir. Com um leve sorriso curvando os cantos da boca, só observo meu amigo mais antigo. Minha tentativa de provocá-lo para que ele não note minhas mãos trêmulas. Uma forma infalível de ele saber que estou apavorado, além de servir para acrescentar combustível ao incêndio dele. Que diabos eu estava pensando para entrar no carro com a mente tão fora do prumo? Ele só fica me encarando, mandíbula cerrada e ombros retos, antes de negar com a cabeça, me dar as costas e sair andando. No minuto em que Becks vira a esquina, minha equipe abandona a parede e começa a desempenhar suas várias tarefas. Saio do carro. Acho bom que eles me deem espaço. A essa altura, obviamente todos devem estar acostumados ao meu mau humor, quando os testes são uma merda. Esfrego as mãos sobre o rosto e pelo meu cabelo ensopado de suor. Sigo na mesma direção de Becks, sabendo que ele já teve tempo suficiente para se acalmar e podermos conversar. Talvez. Porra. Não sei. Quando as coisas saem dos eixos entre nós, o resto da equipe também sente. Não posso me dar ao luxo de ter esse clima, com a nova temporada se aproximando.
Sigo Becks até o trailer e subo os degraus. Ele está sentado na poltrona em frente à porta, inclinado para a frente, cotovelos apoiados nos joelhos. Ele simplesmente me olha e sacode a cabeça, o que provoca uma onda de culpa em mim, por tirar alguns anos de sua vida com meu showzinho imprudente. – Que porra foi aquilo? – ele pergunta numa voz inflexível demais: a voz de um pai decepcionado pelo que o filho fez. Abro o zíper do macacão até a cintura e deixo as mangas penduradas, antes de descolar a camiseta molhada do corpo e desabar no sofá. Fecho os olhos e me viro, de forma que encosto a cabeça em um dos apoios de braço e minhas pernas, no outro. Estou exausto. Preciso de um sono que não seja repleto de todos os sonhos fodidos que têm me acometido, direto e reto, desde aquela manhã com Rylee. Me sinto um desastre, todo confuso. Não consigo pensar direito. E é claro, não consigo dirigir porra nenhuma. – Não sei, Becks – suspiro. – Minha cabeça não estava no lugar. Eu não deveria… – Pode crer que você não deveria! – ele grita comigo. – Aquilo foi uma merda de showzinho e se algum dia você fizer isso de novo… entrar no carro com a cabeça confusa… pode procurar outra droga de líder de equipe. – O rangido da poltrona me diz que ele acabou de se desencurvar e se levantar. O trailer balança com seu movimento e a porta bate com uma pancada assim que ele sai. Mantenho os olhos fechados, afundando no sofá cheio de calombos, só querendo esquecer, querendo falar com a Rylee, mas sabendo que ela deve estar dormindo depois dos eventos da sua noite. Não sei por que entrei em pânico esta manhã quando não consegui falar com ela. Na hora minha mente deu uma guinada para pensamentos sobre ela acidentada. Aprisionada na porra de um carro destruído, em algum lugar. Sozinha e assustada. Meu peito ficou apertado com o pensamento até eu conseguir falar com a Haddie, que me deu o número de telefone do Lar. Eu me senti melhor – e pior – depois de falar com Jackson e ficar sabendo do caos que foi o pesadelo do Zander. Droga, coitado. Pesadelos podem ser brutais pra caralho. Causam recuos enormes e zoam nossas lembranças ainda mais. Tornam
piores. Fazem a gente revivê-las do pior jeito possível. Lembrar de coisas que não deveria. Que não lembraria de outra forma. Que não queria lembrar nunca mais. Mas, pelo menos, ele tinha a Rylee para confortá-lo, para ficar com ele e deixar os demônios longe com a voz suave que ela tem e com o toque encorajador. Exatamente o que eu precisava dela ontem à noite. O que ainda preciso hoje. Suspiro só de pensar nela, só de querê-la da pior forma… da melhor forma. Dou risada de mim mesmo no trailer vazio. Não consigo decidir o que quero mais: um sono sem sonhos ou ouvir a voz de Rylee. Merda, minha mente deve estar muito fodida se tudo o que eu quero de Rylee é ouvir sua voz. Nego balançando a cabeça e esfrego as mãos no rosto. O pensamento me faz sentir um molenga. O que eu não daria para voltar alguns meses no tempo, quando dormir era tão fácil. Quando meu pau e minhas bolas estavam firmemente no lugar, no controle dos meus pensamentos. Quando a escolha entre dormir, transar e querer ouvir a voz de uma mulher específica não era difícil; algumas horas de sexo descomplicado levava ao estupor do sono. Dois coelhos com uma cajadada só. E a voz da mulher? Quem se importava se ela falasse ou se fizesse qualquer outra coisa, contanto que arreganhasse a boca e engolisse sem reflexo de náusea. Rylee passa pela minha cabeça. Seus cabelos escuros sobre o travesseiro branco e eu acima do seu corpo. O olhar no seu rosto – lábios entreabertos, olhos escancarados, faces rosadas – e eu mergulhando dentro dela. O jeito como ela me aperta forte quando goza. Porra de vodu de boceta. Meu pau se contorce com o pensamento – querendo, precisando dela –, mas minha exaustão leva a melhor e me engole inteiro nas suas profundezas infinitas.
Homem-Aranha. Batman. Super-Homem. Homem de Ferro. Homem-Aranha. Batman. Super-Homem. Homem de Ferro.
Acordo do pesadelo com um sobressalto, desorientado com a passagem desconhecida do tempo. Meu coração palpita nos ouvidos. Meu estômago revira. Minha cabeça esquece detalhes instantaneamente, mas as garras medonhas do pesadelo ainda me dominam contra minha vontade, me arrastam de costas para as lembranças venenosas. – Puta que pariu! – grito para o trailer vazio, ao me forçar a recuperar a calma e respirar. Tentar esquecer o medo que nunca me abandona. Nunca. O medo dá lugar à raiva. Pego o que está mais próximo de mim, uma das bolas de pano de alguém da equipe, e jogo no corredor com o máximo de força que consigo. O baque não faz nada para acalmar os sentimentos que estão com as unhas cravadas em mim, acopladas a cada fibra do meu ser, mas é só o que me resta fazer. Minha única válvula de escape. Estou indefeso, refém do veneno dentro de mim. Suor escorre pela minha face. Estou ensopado. O cheiro do medo está grudado em mim, meu estômago se contorce e protesta de novo. Merda! Eu me levanto com tudo do sofá e tiro o macacão antichamas como se o tecido estivesse pegando fogo. Preciso de um banho. Preciso limpar a fuligem da pista e a mancha do toque imaginário dele da minha carne não disposta a recebê-lo. A água é escaldante. O sabonete não faz nada para lavar as memórias. Pressiono a testa no boxe de acrílico, deixando que a água queime linhas ao escorrer pelas minhas costas. Faço força para meu cérebro desligar e descansar pela porra de cinco minutos, para eu conseguir algum tempo de silêncio. As palavras de Rylee ficam repetindo na minha cabeça, me atormentando, me questionando, me fazendo perguntar se é a solução para o veneno constante que eu tenho medo que me consuma. Soco a parede. O som ressoa pelos meus pensamentos desgovernados. Eu me arrasto para fora do chuveiro, enrolo uma toalha ao redor da cintura e pego o celular. Preciso fazer isso antes de perder a coragem. Antes de amarelar e pensar nas ramificações. As respostas que tenho medo de encontrar. A verdade que sinto que vai me detonar. Disco o número no celular e engulo a bile que ameaça subir. Eu me preparo a cada toque do telefone. – Colton? Achei que hoje você tinha teste.
Um calor se espalha pelo meu corpo ao som da voz dele, da preocupação que a permeia. E depois o medo. Como ele vai lidar com as perguntas que tenho de fazer? As que Rylee acha que podem me ajudar, que podem aliviar o peso na minha alma e o tormento na minha mente? Faço um esforço descomunal para perguntar sobre a mulher que me roubou tudo ao homem que me deu possibilidades. Minha juventude. Minha inocência. Minha confiança. Minha capacidade de amar. O meu eu. O conceito de amor incondicional. – Filho? Está tudo bem? – Meu silêncio faz a preocupação espreitar na voz dele. – Colton? – Pai… – Minha voz some, minha garganta parece estar se afogando na areia. – Você está me assustando, Colt… Balanço a cabeça para tentar recuperar o controle. – Desculpa, pai… Estou bem. Estou ótimo. – Ouço ele soltar o ar da respiração presa, do outro lado da linha, mas permanece em silêncio, o que me concede um instante para reunir os pensamentos. Ele sabe que algo está errado. Eu me sinto como se tivesse treze anos e acabasse de pisar na bola de novo. Aquele medo adolescente me preenche – a ansiedade de que, se eu forçar muito a barra ou ferrar com tudo mais uma vez, eles vão me devolver. Eles não vão mais me querer. O engraçado é que eu pensei que tinha dominado o medo muito tempo atrás, mas, conforme a pergunta pesa na minha língua, tudo volta de uma vez. O medo. A insegurança. A necessidade de se sentir desejado. Um pavor estrangula minhas palavras. – Eu… é… só tinha uma pergunta. Não sei como perguntar, na verdade… Silêncio toma conta da linha e eu sei que meu pai está tentando descobrir o que diabo deu em mim. Por que estou agindo como o garotinho que eu costumava ser. – É só perguntar, filho. – É tudo o que ele diz, mas seu tom, aquele tom que acalma, que demonstra aceitação a todo custo, me diz que ele sabe que algo me levou de volta àquele ponto no tempo. E, embora eu só sinta medo e incerteza, tudo o que eu ouço é paciência,
amor e compreensão. Sugo a respiração e inspiro de um jeito trêmulo. – Você sabe o que aconteceu com ela? Onde ela está? O que foi feito dela? – Meus dedos tremem quando levo a mão para percorrer meu cabelo. Não quero que ele se preocupe ou ache que eu quero encontrá-la e… Não seio que aconteceu com ela. Reconciliação? Nem fodendo. Nunca. Mas me deixa apavorado o fato de que ela – só o mero pensamento dela – possa me deixar assim tão confuso. Possa foder com a minha cabeça mais que os sonhos. – Deixa pra lá, eu… – Colton… não tem problema. – Encorajamento preenche sua voz. – Só não quero que você pense que… – Eu não penso nada. – Ele me acalma de um jeito que só um pai pode fazer ao filho. – Respira fundo, Colt. Está tudo bem. Já esperei bastante pela sua pergunta… – Você não está bravo? – O medo que sinto borbulha da minha boca. – Não. Nunca. – Ele suspira, resignado com o fato de que uma pequena parte de mim sempre vai se preocupar, a despeito da passagem do tempo. Sinto como se um peso de cinquenta quilos tivesse sido removido do meu peito. Tivesse me libertado do medo de perguntar. – É sério? – É natural querer saber – ele garante. – Normal querer conhecer o passado e… – Sei tudo o que preciso saber do meu passado… – As palavras saem como um sussurro antes que eu possa impedi-las. O silêncio se propaga na linha. – Eu só… droga de Rylee… – murmuro, exasperado. – Você está tendo sonhos de novo, não está? A resposta é difícil. Quero contar a ele porque me sinto obrigado a ser honesto, depois de tudo o que ele fez por mim, e, ao mesmo tempo, sinto a necessidade de mentir para ele não ter de se preocupar com as lembranças que me debilitavam durante a infância. Para ele não se lembrar de como foram prejudiciais. Para não descobrir tudo o que aconteceu.
– Eu vi nos seus olhos quando voltei da Indonésia. Você está bem? Você precisa… – Estou bem, pai. É só que a Rylee me perguntou se eu sabia o que tinha acontecido com ela. Que talvez, se eu soubesse, poderia conseguir encerrar o ciclo. Fechar algumas portas antigas… Ele fica em silêncio por um instante. – Eu acompanhei por algum tempo. Queria garantir que quando ela saísse da cadeia não voltaria para encontrar você ou te causar problemas quando seu começo estava sendo tão bom. Faz uns dez anos que eu parei – ele admite –, mas posso ligar para o detetive particular que usei na época, ele conhece os hábitos dela melhor do que ninguém. Assim poderemos ver o que ele consegue encontrar. Se é isso o que você quer… – É. Obrigado. Eu só… – Não precisa explicar, Colton. Faça o que for preciso para preencher essa peça que você sempre sentiu que estava faltando. Sua mãe e eu sabíamos que esse dia estava chegando, e a gente quer que você faça o que precisa ser feito para encontrar a paz. Não vemos problema nisso. Aperto a ponte do nariz entre o dedo e o polegar e fecho os olhos, enfrentando o ardor que me ameaça por dentro. – Obrigado, pai. – Não há mais nada que eu possa dizer para o homem que me deu a vida depois de eu estar morto nos oito primeiros anos da minha existência. – Imagina, filho. Eu te ligo quando tiver novidade. Te amo. – Obrigado, pai. Também te amo. Estou prestes a desligar, quando ele fala de novo: – Colton? – Fala. – Estou orgulhoso de você. – A voz dele vacila com a emoção, o que, por sua vez, me faz engolir um nó na garganta. – Obrigado. Desligo o telefone, jogo-o na mesa, me reclino para trás e encosto na parede. O suspiro alto que exalo no silêncio não faz nada para aliviar as emoções devastadoras que nadam dentro de mim. Fico sentado um momento, sabendo que preciso pedir desculpas a Beckett e querendo Rylee da pior maneira. Precisando de alguma
coisa para clarear a cabeça. A ideia me atinge como um raio e logo estou em pé, vestido e saindo do trailer, em menos de cinco minutos. Vejo os caras trabalhando na garagem à direita, mas não posso falar com ninguém agora. Não quero. Entro na baia aberta onde minha garota favorita está estacionada, Sexo. Nem olho duas vezes para apreciar as linhas suaves da F12 e a perfeição vermelha incendiária impecável, mas com toda certeza vou aproveitar sua velocidade daqui a cerca de um minuto. Entro atrás do volante e, quando o motor ruge para ganhar vida, eu sinto que uma peça minha se encaixa. Volta a se acender. Passo com velocidade pela garagem e noto que Beckett se recusa a encontrar meus olhos – maldito filho da puta teimoso – e saio do circuito. Coloco o volume do rádio no máximo quando “The Distance” surge nos alto-falantes. Música boa pra caralho. No minuto em que chego na 10 e a vejo vazia, por incrível que pareça nesta hora do dia, enfio o pé no acelerador e saio voando. Voo mais do que seria seguro, mas a sensação – o luxo que me envolve, a perfeição nas minhas mãos e um motor que conversa comigo – clareia minha mente, e alivia a tensão autoimposta que me puxa de todas as direções. Sexo nunca me decepciona quando mais eu preciso dela. Entro no fluxo de carros, minha cabeça um pouco mais leve e minha decisão tomada. Pego o celular e faço a ligação.
Catorze
Meus olhos cruzam a cozinha e encontram Zander e a tutora exercitando ortografia, em seguida, ouço a porta da frente se abrir com tudo. As conversas ansiosas dos meninos enchem o corredor. Eles costumam estar animados quando chegam em casa, mas hoje a barulheira é sem precedentes. Tanto que Zander ergue os olhos de cima do papel e arqueia as sobrancelhas para mim. Zack vem correndo e entra, tão ansioso que gagueja, como normalmente faz quando está exaltado: – Ry-Rylee e Za-Zander… Venham logo e peguem suas coisas! – Sem correr na casa, Zack – alerto. – Do que você está falando? Os outros meninos entram voando na sala principal antes de ele ter a chance de responder. Repreendo os meninos com o olhar por correr na casa, mas logo minha voz falha. Na entrada da sala está Colton. Ousado. Sexy. Devastador. As três palavras me atingem de uma só vez quando o vejo. Sei que é bobo. Só se passaram quatro dias desde que eu o vi ou falei com ele, mas agora que ele está bem na minha frente, estou surpresa pelo tanto que senti sua falta. O quanto tive vontade de vêlo. De ficar embaixo dele. De ouvir sua voz de novo. De ter uma conexão com ele de novo. Lá se vai meu espaço para clarear a cabeça. Absorvo sua imagem, meus olhos se demoram pelo seu corpo. Quando encontro os seus, um tênue sorriso curva um canto de sua boca e forma a covinha que eu acho irresistível. Juro que meu coração pula um batimento diante de seu olhar ardente. Engulo ruidosamente na tentativa de recuperar o equilíbrio que ele acabou de
tirar de debaixo de mim. Nós nos entreolhamos, e a barulheira dos meninos desaparece ao fundo quando falamos sem palavras. Kyle pega minha mão e puxa, e com isso quebra o transe entre nós. – O Colton vai levar a gente para andar de kart! – ele exclama, excitação dançando nos seus olhos. – Ele vai, é? – pergunto, erguendo as sobrancelhas e olhando para Colton. – É, ele vai – diz Colton, ao se aproximar um passo de mim. Seu sorriso de canto de boca agora ganhou força total. – Vão guardar as coisas, pessoal, e entrem na van. Jackson está esperando. – Meus olhos se arregalam com o comentário. Como foi que ele coordenou tudo isso? Colton se vira e encontra os olhos esperançosos de Zander. – Ei, Zander, achei que seria legal vocês descansarem um pouco dessa coisa de escola. Sei que é muito importante, mas às vezes um cara precisa descansar, não acha? – Os olhos de Zander ficam enormes como pratos e sua boca se distende num sorriso enorme. É um pequeno milagre como a graça de um sorriso é capaz de aliviar, em seu rosto precioso, a severidade dos efeitos do pesadelo. – Vamos pegar seus sapatos e podemos encontrar todo mundo na van. Você vem? – ele pergunta. Zander se levanta num salto e corre para o quarto. Eu engulo de volta a reprimenda de “sem correr”. Peço desculpas à tutora e a dispenso, com olhos encantados pela presença de Colton. Coitada. Quando ela sai da sala, ouço os meninos correndo para a porta da frente cheios de entusiasmo. Só então Colton se aproxima de mim e me imprensa no balcão da cozinha. Ele pressiona os quadris nos meus, ao mesmo tempo em que sua boca captura a minha em um beijo de alterar mentes, confundir cabeças e esvaziar almas. Meu Deus, como eu senti falta desse gosto. O beijo é breve demais para preencher meus quatro dias de saudade. Quando nossos lábios se afastam, ele passa os braços ao meu redor num abraço apertado no qual eu poderia me perder: um abraço que pulsa com um quase desespero. Ele me abraça junto de si, seu rosto se aconchega na lateral do meu pescoço, e eu sinto que ele me respira, que suga forças da nossa conexão.
– Oi – murmuro baixinho enquanto suas mãos pressionam minhas costas. – Você está bem? – Estou. – Colton respira. – Agora sim. Sua confissão murmurada me embala. Atinge aquelas partes profundas não saciadas dentro de mim e, ainda assim, cheias de esperança e de possibilidades. Ele finalmente me libera quando ouve sons no corredor. Olho para o seu rosto e enxergo além das belas feições que ainda fazem a minha respiração enroscar na garganta. Noto manchas escuras debaixo dos seus olhos cansados e cautelosos. Ele não anda dormindo. Mais pesadelos? Não sei e não quero perguntar. Ele vai me dizer se quiser. Quando for capaz de contar. Fico olhando para ele por um instante e tento descobrir o que está diferente. É só quando ele inclina a cabeça para questionar minha avaliação silenciosa que eu percebo. Ele fez a barba. Passo a mão em seu queixo, ele inclina o rosto no meu toque. E tem algo nesse pequeno gesto, misturado com sua confissão anterior, que faz meu coração se encher de alegria. – O que foi isso? – pergunto, desviando os olhos para impedi-lo de ver minha transparência emocional. – Todo macio e barbeado. – Não pega bem fazer um comercial de barbeador sem fazer a barba. – Ele dá um sorriso maroto passando a palma das mãos para cima e para baixo pelo meu tronco. Seu toque faz lambidas de desejo acenderem meu baixo ventre. Dou uma gargalhada. – É compreensível. Mas eu gosto – digo a ele, passando os dedos de novo. Ele franze a testa. – Não se preocupa, Ace, você ainda transborda essa atmosfera de bad boy mesmo de barba feita. Além disso, vou poder dormir com alguém diferente daquele cara de queixo áspero com quem tenho perdido meu tempo. Ele abre um sorriso malicioso. – Perdendo tempo, hein? – Ele dá um passo em minha direção. A luxúria claramente proporciona um toque ao humor nos seus olhos. Seu corpo se move em direção ao meu de forma predatória. Fico tensa. Meu Deus. Me leva, quero dizer. Leva cada parte de mim que você já não tenha roubado, tomado ou reivindicado. – Ah, com certeza. Ele é um rebelde… – Torço o nariz e entro na
brincadeira. – E os bad boys definitivamente não fazem o meu tipo. – Ah, não? – Ele umedece os lábios com uma passada veloz da língua. – E que tipo exatamente é o seu? – Um sorriso diabólico serpenteia até o canto de seus lábios. Ele estende a mão para tocar meu rosto, e, num instante, o sorriso desaparece. Seus olhos se estreitam ao notar o machucado provocado por Zander na minha bochecha. Meu disfarce obviamente já era. – Quem fez isso com você? – Seu tom é autoritário, com as mãos cobrindo meu pescoço, inclinando minha cabeça de lado para ver a gravidade da lesão. – Isso aqui foi feito ontem à noite pelo Zander? Suas palavras me dão um susto. – Tem a ver com território. – Dou de ombros. – Como você sabe disso? – Caramba, coitado do menino. – Ele sacode a cabeça. – Eu te liguei hoje de manhã. Você ainda estava dormindo depois de ter passado a noite toda acordada com ele. Não tive notícias suas e fiquei preocupado. – Ele para uns instantes e essas palavras, a admissão de que ele se importa comigo a ponto de me dizer com todas as letras que precisava de mim, põe fogo na minha alma e faz meus lábios se curvarem automaticamente. – Então eu liguei para o Lar e o Jackson atendeu. Ele me contou o aconteceu. – Colton empina meu queixo para ver minha bochecha de novo. – Tem certeza de que você está bem? – Tenho. – Balanço a cabeça. A preocupação dele é adorável. – Então, pensei que as crianças poderiam precisar de uma pausa para aliviar da noite de ontem. – Ele se inclina para a frente e roça os lábios nos meus de novo. – E eu queria muito ver você – ele murmura sem fôlego. Suas palavras disparam direto para meu coração e se fincam em cada fibra do meu ser. Como ele pode dizer que não é ligado em romantismo quando diz essas coisas de forma tão casual e quando menos se espera? – Vou a um evento de trabalho esta noite, por isso não tenho muito tempo, mas queria me divertir e aliviar um pouco o estresse. – Ele faz um aceno sutil com a cabeça e eu vejo o toque de tristeza espreitando seus olhos. – Além do mais, foi um dia difícil e eu precisava fugir. Fazer alguma coisa para relaxar. – Está tudo bem?
– Nada para você se preocupar. – Ele força um sorriso apertado, se aproxima e me beija na ponta do nariz. – Além do mais, achei que os meninos também pudessem gostar. – Tenho certeza de que sim – concordo. – Preciso pegar a bolsa. Começo a seguir para a sala dos funcionários, quando ouço Zander chamar meu nome do lado oposto da casa. Paro e um sorriso largo se espalha pelo meu rosto ao ouvi-lo chamar meu nome como todas as outras crianças da casa fazem. Deixa meu coração feliz. – O que foi, Zand? – pergunto. – Sapato. – É só uma palavra, mas é uma palavra. E ele está se comunicando, o que é ainda melhor. Abro um grande sorriso. Colton compreende e me acompanha. – Vá pegar a bolsa – ele me diz. – Eu vou ajudá-lo. – Tem certeza? – pergunto, mas ele já está virando no corredor. Recolho minhas coisas, tranco a porta dos fundos e me preparo para sair. Quando me aproximo do corredor, ouço o murmúrio de vozes. Dou alguns passos e depois paro quando percebo que Colton e Zander estão falando sobre a noite anterior. Eu sei que não deveria bisbilhotar a conversa – que deveria sair andando e deixá-los ter um pouco de privacidade –, mas a minha curiosidade foi aguçada. E, quando ouço Colton falar, sei que não vou a lugar nenhum. – Sabe, eu também costumava ter sonhos muito ruins, Zander. Não posso vê-los, mas tenho a sensação de que Zander reconhece Colton de alguma forma, porque este continua: – Quando eu era pequeno, umas coisas muito ruins aconteceram comigo também. E eu tinha medo. Muito medo. – Ouço Colton suspirar, e alguma coisa se mexe. – E, quando eu ficava com bastante medo, sabe o que eu dizia para não ter tanto medo? Repetia na cabeça: “Homem-Aranha. Batman. Super-Homem. Homem de Ferro”. Repetia e repetia. E sabe de uma coisa? Se eu apertasse os olhos bem forte, desse jeito, ajudava. Fico em pé no corredor. Meu coração derrete ao ouvir um homem que sofreu tanto a ponto de jurar que nunca teria filhos, mas é tão incrível com as crianças. Ainda mais as que também sofrem. As que mais precisam dele. As que ele entende melhor do que ninguém. Eu sinto uma pontada fantasma no meu abdome, e afasto os
pensamentos do que nunca pode acontecer. Para mim. E com ele. Em seguida, o melhor som me resgata da autopiedade. É manso, mas é um riso que aquece meu interior. Eu gostaria de poder ver o que Colton está fazendo para fazê-lo rir. Que barreira ele está quebrando para extrair aquele som de Zander. – Você sabe o que mais? Vou te contar outro segredo… até agora, mesmo que eu seja adulto, quando tenho um pesadelo ou quando fico com muito medo, eu continuo a dizer isso. Eu juro… – Colton ri e eu dou um passo adiante em direção à porta aberta. E o que vejo rouba meu fôlego. Colton está sentado na cama e Zander está sentado de lado em seu colo, observando-o com reverência. Um leve sorriso nos lábios. Colton ergue os olhos por uma fração de segundo quando me percebe ali, e o sorriso gentil no seu rosto se alarga, e depois ele se volta de novo para Zander. – E ainda ajuda. Bom, você está pronto para pilotar um kart e me derrotar? Zander olha para mim e abre um sorriso largo. – Certo, então vamos para a van! – digo a ele. Zander olha de volta para Colton e acena com a cabeça uma vez, antes de pular do colo e sair correndo em direção à porta da frente. Colton permanece sentado por um momento, e nós só ficamos nos entreolhando. Uma troca silenciosa que lhe diz que eu ouvi tudo, e que ele está feliz que eu tenha ouvido. Essa troca – vê-lo com Zander – faz o muro protetor ao redor do meu coração fraturar em um milhão de pedacinhos e o amor vazar por entre as rachaduras. Balanço a cabeça de um lado para o outro para esvaziá-la de todas as coisas que quero dizer neste momento. Em vez disso, estendo a mão para ele. Ele se levanta devagar e dá um meio-sorriso. – Vamos lá. – Ele pega minha mão e puxa. – Você acha que consegue me vencer numa corrida? – Eu sei que consigo até te fazer perder as calças – respondo sugestivamente. Ele dá risada do meu comentário. – Por mais que eu goste de sua linha de pensamento, Ry, vamos estar cercados por uma multidão de gente. Solto sua mão e envolvo o braço em seu corpo, querendo a sensação dele contra o meu. Agora sou eu quem precisa se sentir
próxima dele. Ele ri do meu ataque repentino. – Achei que sacanagem em público te dava tesão – sussurro em seu ouvido. – Deus do céu, mulher. – Ele solta um gemido. – Você sabe o que dizer para me deixar duro. Planto um beijo de boca aberta no ponto logo abaixo da mandíbula. – Eu sei. Pena que vamos estar rodeados por sete meninos que ficam ligados em cada palavra sua ou eu deixaria você aliviar esse formigamento que eu estou sentindo. – Caramba, você sabe como provocar um pau – ele ri enquanto saímos pela porta da frente. Ele me solta para que eu possa trancar, mas um olhar de desejo encobre seus olhos, que me observam. – Você acha? – murmuro timidamente, batendo as pestanas para ele. Colton concorda. – Talvez eu vá ter que mostrar o quanto sou boa em provocar paus – brinco e saio rebolando pela calçada na frente dele, balançando os quadris de um lado para o outro. Sei que sexo está fora dos planos desta noite, pois ele tem que sair logo depois do kart com as crianças, e que só nos veremos de novo no sábado à noite. Eu me viro e olho para ele, dando um passo atrás. – Pena que você se barbeou – comento, lutando contra o sorriso que quero lhe mostrar. – Eu gostava bastante da sensação áspera entre as minhas coxas. – Balanço as sobrancelhas. Ele suga o ar bruscamente. Isso poderia ser divertido. Uma expectativa crescente. Eu posso passar a semana provocando e instigando para que no sábado à noite a gente não consiga tirar as mãos um do outro. Como se precisássemos de ajuda com isso.
– Vamos, Rylee! Você tem que vencer ele. Você é a nossa última esperança! – Shane grita para mim do outro lado da grade, quando estou ao lado do kart, esperando a minha revanche. As duas últimas horas foram uma delícia. Da corrida, passando pela risada dos meninos, à conversa constante entre mim e Colton, e eu não poderia pensar numa forma melhor de os garotos gastarem
energia e se reconectarem depois do caos que foi o pesadelo do Zander ontem à noite. Depois de uma hora de corrida de todos contra todos, os meninos imploraram para disputar contra Colton, um a um. Ele aceitou de boa vontade e, por sua vez, ensejou minha atual situação. Colton derrotou todos os meninos, todos que o enfrentaram, menos eu. Eu o acusei de me deixar vencer, o que, na hora, chamou por uma revanche. A segunda corrida quem ganhou foi ele. Agora estamos no tira-teima. – Melhor de três, Thomas. Quem ganhar vai poder se gabar – ele me fala. Em seus olhos há divertimento e no sorriso há desafio. Meu Deus, eu o amo. Ainda mais quando ele mostra esse olhar: confiante, despreocupado e sexy no último. – Falar é fácil, Donavan. Sua vitória foi um mero acaso. – O sorriso arrogante que ele desfere me incita a pressionar mais. – Corredores profissionais famosos que nem você têm que manter a dignidade, sabe. Não podem admitir que novatos como eu lhes deem uma lição! Ainda mais uma mulher. – Ah, linda, você me conhece, eu deixo as mulheres fazerem o que quiserem comigo. – Ele dá um sorrisinho e ergue a sobrancelha de modo sugestivo. Dou risada e atravesso os três metros que nos separam. Olho sobre o ombro e vejo os garotos que estão me encorajando e dou uma piscadinha para deixar claro que estou do lado deles. À medida que me aproximo, Colton se vira para me olhar, mão segurando o capacete encostado no quadril, como se fosse a pose mais natural do mundo para ele, e os dedos da outra mão se esfregam como se ele estivesse se controlando para não esticar a mão e me tocar. Que bom que está funcionando. Meu discurso provocativo. Meus comentários sugestivos sussurrados aqui e ali. Minha leitura cuidadosa do seu corpo até ele perceber. Apesar de tudo isso ter acontecido debaixo dos olhos detetivescos da nossa plateia, fico feliz de saber que nenhum dos sinais passou despercebido. Vejo nos olhos dele e no músculo que pulsa no maxilar, conforme me aproximo. – Está com medo de perder, Ace? – Dou um sorriso travesso. Estou de costas para nossa plateia, então me inclino e amarro o sapato, mostrando o decote de propósito. Quando olho para cima, as
pupilas de Colton escureceram e sua língua desponta para umedecer os lábios. – Eu sei o que você está fazendo, Rylee – ele murmura baixinho abaixo do sorriso –, e, por mais que suas peripécias tenham me feito querer te empurrar até aquela parede e te comer forte e rápido, mais de uma vez, desde que estamos aqui, mesmo com todo mundo olhando, não vai funcionar. – Ele desfere o sorriso radiante para mim. – Ainda vou te fazer comer poeira com essa boca linda e chegar primeiro. – Bom, por mais que eu goste de um pouco de jogo sujo… – digo sem fôlego, olhando por entre os cílios, e capto sua inspiração rápida em resposta às minhas palavras – …eu só vim aqui ver se você precisava de ajuda para colocar o motor em funcionamento. – O sorriso que mostro é inocente, embora minha linguagem corporal não tenha nem sombra de inocência. Observo sua garganta se contrair quando ele engole, seus lábios se contorcendo quando ele tenta se impedir de sorrir. – Ah, meu motor está funcionando muito bem, querida – ele provoca, e seus olhos percorrem meu corpo novamente. – Acelerado e ansioso para entrar em ação. Você precisa de ajuda para ajustar o seu antes da corrida? Mordo o lábio inferior e fico olhando para ele com a cabeça inclinada de lado. – Bom, parece que a traseira anda meio justa. Nada que um pouco de lubrificante não resolva – lanço por cima do ombro quando volto para o carro, desejando que pudesse ter visto a reação no rosto dele. Os garotos continuam com os gritos e comentários quando colocamos o capacete e ajustamos o cinto de segurança no kart. Lanço um olhar para Colton e balanço a cabeça ao pisar no acelerador. E então estamos em movimento, numa disputa acirrada percorrendo as curvas do circuito. Minha natureza competitiva ressurge quando o bico do carro de Colton me ultrapassa. Não consigo ouvir os garotos torcendo por mim com o ronco dos motores, mas vislumbro seus braços acenando freneticamente na minha visão periférica. Chegamos à próxima curva e eu coloco o nariz do carro na frente para tomar o canto a toda velocidade e ultrapassando-o com velocidade total. Disputamos na reta em direção à linha de chegada,
pau a pau. Quando finalmente a cruzamos, tenho certeza de que eu ganhei, tendo em vista a histeria dos meninos e de Jackson nas laterais do circuito. Paro o kart cantando os pneus e salto para fora, incapaz de suprimir o largo sorriso no meu rosto. Tiro o capacete ao mesmo tempo em que Colton tira o dele e, quando me viro, juro que o sorriso é tão largo quanto o meu. Faço uma dancinha da vitória boba para divertir os meninos, que estão comemorando à sua própria maneira. Ele apenas nega com a cabeça, achando graça de mim com um sorriso genuíno e despreocupado no rosto. – Rá! – Sorrio para ele. – Toma essa! – provoco ao segui-lo para o pequeno escritório na beira da pista e saindo da vista dos espectadores. No minuto em que estamos fora da linha de visão, Colton me gira e me imprensa na parede. Seu corpo longilíneo e esbelto pressiona cada curva do meu e nos encaixamos um no outro como o yin e o yang. – Você faz alguma ideia de quanto tesão eu estou sentindo, Rylee? – Ele rosna para mim. – O quanto eu quero me apoderar do que você está sacudindo na minha frente a tarde toda? Levo cada grama da minha concentração para demonstrar não estar afetada por ele. Cada grama. Arqueio as sobrancelhas de um jeito indiferente. – Bom, eu tenho a impressão de que seu pau, que está me pressionando, é um indicativo. – Meu Deus, quero te comer agora até esse sorriso safado desaparecer do seu rosto. As meras palavras incitam os músculos do meu sexo a se apertar. Nunca imaginei que o ato de sedução pudesse provocar partes iguais de desejo tanto em mim, quanto nele. Meus mamilos enrijecem em contato com o peito firme. A respiração de Colton sopra no meu rosto e seus olhos permanecem travados nos meus. Ele inclina a cabeça de lado e encontra meus lábios, a língua lambe o espaço entre eles, e se enlaça com a minha. Há uma paixão branda nesse beijo. Eu emito um gemido quando ele me solta e me deixa com vontade de mais. – Eu não poderia concordar mais, mas preciso ir… tenho a impressão de que o fã-clube vai entrar com tudo por essa porta a
qualquer momento. – Ele pega meu capacete e o coloca na mesa ao mesmo tempo em que a porta se abre e os meninos entram de uma só vez. Colton olha para mim e arqueia a sobrancelha como se para dizer “não falei?”. Engulo uma risada imprudente quando vejo todos os meninos carregando algodão-doce. Meus pensamentos retornam para a experiência mais que memorável que tive com o doce e Colton. Ele geme, sua própria forma de demonstrar a lembrança, o que faz meus lábios se contorcerem num sorrisinho endiabrado. – Um segundo, meninos! – grito acima de toda a barulheira, ao pegar um pouquinho do algodão de Ricky. Dou um passo em direção a Colton e deliberadamente deslizo a língua nos lábios antes de colocar a doçura fofa na boca. Fecho os olhos e brinco saboreando o sabor. Quando os abro de novo, os olhos de Colton escureceram e seu maxilar está firme de frustração e desejo: exatamente a resposta que eu estava procurando. Eu me aproximo do seu ouvido, contendo de propósito quaisquer toques do meu corpo no dele, minha voz um sussurro sedutor somente para seus ouvidos. – Ei, Ace? – Ele olha para mim e ergue a sobrancelha. – Estou sem calcinha. – Sorriso maroto. Ele suga o ar ruidosamente em resposta e eu oscilo os quadris um pouco mais do que o normal ao me afastar dele. O que os olhos não veem, o coração não sente, penso, e visualizo na cabeça a calcinha branca de algodão que estou vestindo por baixo do jeans Levi’s.
Quinze
Colton me olha enquanto ouve a assessora de imprensa repassar os eventos da noite. Estamos deslizando por Los Angeles em uma limusine, rumo a um baile beneficente. É o primeiro dos vários eventos das próximas semanas, pelos quais Colton e eu vamos passar, formalmente promovendo a joint venture das nossas empresas e, espera-se, conseguindo alguns participantes no programa de patrocínio do carro. Olho para ele sem me abalar ao murmurar “Hero/Heroine”, que toca baixinho ao fundo, nos alto-falantes do carro. Absorvo todos os aspectos dele que se tornaram tão familiares, tão viciantes, tão tudo para mim num período tão curto de tempo. Ele está tão deslumbrante no smoking – o traje que ele já confessou detestar várias vezes – e eu não posso deixar de pensar em como sou uma garota de sorte. Seu rosto está barbeado novamente, e, mesmo sem a sombra usual de pelos, ele exala a aura de bad boy despreocupado. É algo que transborda dele a despeito do que esteja vestindo. Ele está quase mais sexy esta noite com esse visual, porque sei que debaixo do exterior sofisticado se esconde um cara de coração rebelde. Colton lança um olhar para mim outra vez, sentindo a análise nos meus olhos, e um sorriso lascivo se espalha por seus lábios. Seus olhos encontram os meus e sei que ele está ansiando tanto quanto eu para sentir a união da nossa pele nua. O lembrete na nossa semana desde a corrida de kart foi repleta de e-mails e mensagens provocativas explicando profundamente o que queremos fazer um com o outro assim que o evento desta noite acabar. Meu Deus, só
com palavras esse homem consegue fazer uma mulher necessitar, ansiar, desejar – e até mesmo implorar, se demorar muito – como eu nunca pensei que fosse possível. Mas tenho uma boa certeza de que esse ardor não resolvido é o mesmo para os dois lados; percebo pelo chiado na sua respiração quando atendi a porta no meu vestido vermelho sexy. – Certo, então chegamos em cinco minutos. Eu saio antes de vocês serem chamados a entrar, e fico esperando enquanto os carros dão a volta no quarteirão – diz Chase, olhando para nós dois por cima dos óculos de aro preto. Coloco a mão na barriga só de pensar em ser fotografada no tapete vermelho na frente de toda aquela gente. Ai! E eu achando que era um evento pequeno. Não tinha me dado conta de que era um baile Hollywoodiano completo, com cobertura de imprensa. A publicidade vai ser boa para a caridade, mas será que eu não posso entrar de fininho pela porta dos fundos para evitar os holofotes? É claro que essa nunca seria uma opção se eu estiver com Colton. Ele estende a mão e aperta a minha. – Não precisa ficar nervosa. – Ele me dá uma piscadinha. – Deixa comigo. – É disso que eu tenho medo. – Sorrio para ele. Nossos olhos é que conversam por nós. Eu juro que vejo a eletricidade crepitar com toda essa tensão sexual que preenche a limusine. Chase se ocupa em ficar com a cabeça baixa. Suas faces ficam vermelhas diante da nossa troca silenciosa, porém óbvia. – Bom, eu fico por aqui – ela resmunga, pegando os papéis enquanto Colton esfrega as costas da minha mão com o polegar. – Obrigado, Chase. A gente se vê daqui a alguns minutos – ele diz, sem nunca tirar os olhos dos meus. No minuto em que a porta da limusine é fechada, Colton se mexe e me pressiona contra o banco de trás. Sua mão se entranha nos meus cachos soltos e eu arqueio as costas, empinando o peito e ardendo para sentir o calor do corpo dele contra o meu, mas ele para a centímetros do meu rosto. Meus lábios se afastam e minha respiração acelera quando o olho nos olhos. A intensidade silenciosa contida no lampejo de verde me vence. Me desnuda.
Acende meu fogo. – Você tem alguma ideia de quantas vezes esta semana eu quis fazer isso com você? – Muito lentamente ele baixa os lábios ao meu, só um sussurro de toque que me faz gemer com um desespero latente. – Colton – imploro, quando seus lábios recuam uma fração, deixando meu corpo focado somente no deslizar lento de sua mão pelas minhas costelas logo abaixo do seio, antes de continuar descendo devagar. Minha respiração exala um suspiro trêmulo que faz os lábios dele se curvarem para cima, e os olhos franzirem nos cantos. – Você quer alguma coisa? – ele sussurra contra meus lábios enquanto puxa meu cabelo de leve para trás, de modo que meu pescoço fica exposto. Sua língua desliza uma trilha lenta pela coluna da garganta, claramente se valendo da expectativa que construímos ao longo dos últimos dias, mas estou tão acesa pelo desejo que o quero dentro de mim. Agora. Para preencher esse vazio doloroso que anseia por ele. – Quero. Eu. Preciso. De. Você. Dentro. De. Mim. Colton. Agora. – Minha voz entrecortada ofega enquanto sua língua lambe meu decote oferecido. Sua risada de tenor, lenta e gutural, preenche meus ouvidos e atiça o fogo do meu desejo até que sua língua deixa minha pele. Abro os olhos e o observo por entre pálpebras pesadas de desejo e encontro seu olhar fixo no meu rosto. – Você não achou que eu ia deixar você se livrar dessa, ou se aliviar dessa, tão fácil, achou? – Ele dá um sorriso travesso e eu vejo a diversão dançando nos seus olhos. Merda! Meu corpo já tenso com desejo fica ainda mais tenso. – Você me deixou com dor nas bolas a semana inteira e eu acho que é hora do jogo sujo. – Ele sorri. – Para usar seus termos. Por mais que eu quisesse ter orgulho no fato de que ele confessou que eu tive sucesso em deixá-lo louco, saber que ele não vai matar minha vontade num futuro próximo me faz gemer de frustração. O sorriso de Colton só se alarga diante do som, e a travessura em seus olhos me faz estreitar os meus. – Você está me matando aos poucos a semana toda, Rylee, com
seus comentários sugestivos… insinuações… então é hora de eu te mostrar exatamente como é. Ah, puta que pariu! Sério? O que será que ele tem em mente agora? – Eu sei como é – tento enfatizar, mas só consigo demonstrar que estou sem ar. Desesperada. – Suas respostas fizeram o mesmo comigo. Ele beija meu pescoço de leve, seguindo a trilha do meu prazer até alcançar o ponto debaixo do lóbulo da orelha. Seu quase toque me deixa molhada de tesão. – Não, eu acho que não, Rylee – ele murmura, seus lábios se movendo para a minha orelha. – Você sabe como é difícil se concentrar numa reunião tentando esconder a ereção porque não consigo tirar suas mensagens de texto da minha cabeça? Com que cara de idiota você acha que eu fico quando me perguntam sobre ajuste de aerofólio e me dá um branco, porque só consigo pensar em quando vou sentir o gosto doce da sua bocetinha de novo? – Ele ergue a mão e coloca a palma na base do meu pescoço, segurando firme minha cabeça, para que eu não tenha opção a não ser encontrar o desafio nos seus olhos. – Foi a mesma coisa pra você, Rylee? Mordo o lábio inferior e nego com a cabeça. Nossos olhos, violeta contra verde, têm uma conversa silenciosa. – Fala. – Não. – Dou um suspiro trêmulo, completamente sob seu feitiço. Cativa. Hipnotizada. – Então hoje de noite eu vou te mostrar – ele me diz, ajoelhando-se no assoalho da limusine ao se colocar entre minhas pernas e capturar minha boca de novo. Sua língua lambe e lentamente se move com a minha. Sua mão sobe pela parte de fora da minha coxa, erguendo a barra do meu vestido no mesmo movimento. – Meu Deus. – Ele expira o ar no exato momento em que seus dedos passam pela cintaliga que estou usando com o único intuito de seduzi-lo. Por alguma razão, no entanto, acho que agora o jogo virou. Sou eu quem está sendo seduzida. – Agora vou pensar em tirar sua roupa durante a noite toda até você estar só de salto, isso e mais nada – diz ele, puxando um
elástico da cinta e o fazendo estalar na minha coxa. O leve ardor dispara raios diretos para meu sexo já latejante. – Acho que você está um pouquinho vestida demais. – Seu sorriso é malicioso, e o olhar diabólico voltou ao seu rosto. Olho para ele com ansiedade. Todo o meu foco se concentra na expressão carnal em suas feições, até sentir seus dedos dançando na seda molhada da minha calcinha. A barreira fininha do tecido retém um pouco o tato, então, por instinto, eu levanto os quadris, implorando por mais. – Colton – ofego. – E eu estou precisando de mais roupa – ele murmura, uma qualidade provocativa na sua voz. Tenho um rápido segundo para me perguntar que diabo ele quer dizer com esse comentário, mas então o ar frio da limusine sopra na minha carne quente assim que ele puxa minha calcinha de lado e a pergunta desaparece da minha mente. Mantenho os olhos nele, meu corpo vibrando com uma necessidade incontrolável ao sentir seu dedo, muito lentamente, entrando e saindo pelas minhas dobras cada vez mais inchadas. E eu já era… meus pensamentos se perdem na dança dos dedos, no ardor incandescente do desejo e na incessante dor do prazer. Ele se inclina sobre mim e me provoca com um beijo suave e hipnotizante – fodendo minha boca com reverência – que me suga até a ponta dos pés e depois sobe. Ele está atacando todos os meus sentidos, rendendo todos os meus pensamentos coerentes, manipulando meu corpo com um propósito focado. Grito em seus lábios pacientes quando ele enfia três dedos em mim, circundando-os para roçar em toda a volta das paredes sensíveis. Jogo a cabeça para trás, sem vergonha, e solto um gemido estrangulado. Seus dedos invadem as profundezas do meu sexo e me manipulam do jeito que eu preciso tão desesperadamente. Empino o quadril e me esforço para ficar mais perto. Seus dedos vão mais fundo e também querem essa libertação provocada por ele. A conexão. Meu corpo sobe. Fica tenso de expectativa à espera do orgasmo cada vez mais próximo. Estou tão perto de despencar no êxtase que não consigo conter o gemido que se derrama dos meus lábios. E, de repente, estou vazia. – O quê? – grito, lançando um olhar rápido e encontrando os olhos
verdes de Colton cheios de humor e uma dose pesada de luxúria diante de mim. – Só mais tarde, Rylee. – Um sorrisinho lascivo encontra o caminho até sua boca maravilhosa. – Quando eu vou poder seguir um ritmo lento delirante e delicioso com você. Te levar para lugares que você ainda nem sabe que existem – diz ele, reiterando a promessa da nossa primeira noite, exceto que agora eu não tenho nenhuma resposta espirituosa. Eu só o quero. Agora. De todas as formas possíveis. Porque agora eu sei que ele pode realizar essa promessa. E muitas outras. Começo a protestar, e ele coloca o dedo no meu lábio inferior e o cobre com meus próprios fluidos antes de capturar minha boca na sua. Sua língua encontra a minha. O murmúrio no fundo de sua garganta é sexy demais. Ele segura meu rosto entre as mãos e depois puxa um pouquinho, abandonando meu lábio inferior de novo, ao bater em retirada. Ele me olha nos olhos, e aquele murmúrio soa no fundo de sua garganta mais uma vez. – Meus dois gostos favoritos no mundo inteiro. Meu gemido é de frustração. Merda, ele está brincando comigo? Ele não pode falar comigo assim e não pensar que vou pular nele para pegar o que quero. – Shhhh – ele sussurra. – Eu te disse que é sua vez de ser torturada de vontade. – Fecho os olhos por um instante e me resigno a sentir esse anseio profundo e fastidioso ainda não realizado por ora. – E eu pretendo te mostrar como essa tortura pode ser deliciosa a noite toda, querida. A promessa sombria de suas palavras faz meu corpo todo vibrar com um desejo não correspondido. Meu sexo pulsa de desejo. Tenho a intuição de que vai ser uma noite muito longa e frustrante. – Começando agora – ele murmura, desferindo um sorriso perverso ao descer lentamente pelo meu corpo e baixar a boca para provar meu gosto doce lentamente. Solto um gemido louco ao toque macio da língua. Sou rendida de imediato, fico à mercê do que ele quiser fazer comigo. Colton passa a língua para cima e para baixo por um instante e seus dedos sussurram pela minha carne aberta e inchada.
– Colton – falo, sugando um alarido no momento em que um terremoto de sensações me embala e ele mergulha a língua dentro de mim. Mal consigo respirar. Mal consigo enxergar. Meus dedos cravam na pele das minhas coxas – incitando, empurrando, subindo a montanha da libertação explosiva que espreita logo ali. – É isso, Ry. – Ele sopra nas minhas dobras. Eu tombo a cabeça para trás no assento, olhos fechados e corpo entregue. – Quero você desse jeito a noite inteira. Ouço, em vez de sentir, o rasgar do tecido quando Colton se senta nos calcanhares. Estou tão acesa pelo meu clímax negado que nem acho graça por ele ter destruído mais uma das minhas calcinhas. O gemido grave e gutural que ele emite faz meus olhos reluzirem bem a tempo de vê-lo limpar minha umidade de seus lábios com a seda vermelha da calcinha. Só fico olhando, lábios entreabertos, olhos arregalados, respiração ofegante e coração disparado. E frustrada. – Você queria alguma coisa? – De novo o sorriso travesso. Minha cabeça está confusa de desejo. Foda-se esse joguinho. Tudo o que eu quero é ele. Agora. Urgentemente. – Quero. Por favor, Colton. Por favor. – O que faço é implorar e não me importo nem um pouco por isso. Nosso olhar silencioso é quebrado quando seu telefone apita para anunciar a chegada de uma mensagem. Ele olha para ela e depois para mim, com divertimento dançando nos olhos. – Hora perfeita. É nossa vez na fila. Apenas nego com a cabeça, e meu corpo permanece no estado suspenso de negligência. Ele sorri, arruma meu vestido de novo sobre as pernas – e falta de calcinha – e se senta novamente no assento ao meu lado. E neste instante eu vejo em seus olhos. O fio tênue de navalha sobre o qual seu autocontrole se equilibra. Seu corpo está aceso com uma necessidade inacreditável e abastecido por um desejo intenso e devastador. O quanto esse joguinho de sedução o mata tanto quanto a mim. – Uma única palavra – diz ele, inclinando-se devagar para a frente, de modo que uma de suas mãos consegue afagar a lateral do meu rosto. Ele passa a almofada do polegar para a frente e para baixo,
pelo meu lábio inferior. – Expectativa. A simples palavra provoca um estremecimento de consciência por todo o meu corpo. Ele roça os lábios com ternura pelos meus, antes de recuar uma pequena fração. Eu me adianto, na expectativa de aprofundar o beijo e me afogar no gosto pelo qual anseio, mas ele recua e me nega com uma risada sedutora e um brilho travesso e sem-vergonha nos olhos. E, por algum motivo, minha mente escolhe esse momento para se lembrar do comentário que ele fez momentos atrás. – Precisando de mais roupa? – pergunto e meus olhos se estreitam com o pensamento, tentando compreender o que ele realmente quer dizer. Ele segura minha calcinha e passa a língua no interior da boca ao pensar em quais palavras vai usar para me provocar. – Veja, isso aqui estava aconchegado exatamente onde, durante toda a porra da semana, eu queria estar. E, já que eu não pude estar aí, isso aqui também não vai poder. – Ele se inclina para plantar o mais terno dos beijos nos meus lábios e apoiar a testa na minha. – Esta noite, Rylee – murmura nos meus lábios –, quero você pensando em mim o tempo todo. Mais especificamente em tudo o que eu planejo fazer com você depois, quando a gente estiver a sós. – Ele solta o ar, sua voz é um sussurro sedutor que faz o desejo dentro de mim arder como um incêndio. – Onde minha língua vai lamber. Onde meus dedos vão segurar. Onde minha boca vai provar. Onde meu pau vai penetrar. Como meu corpo vai venerar cada centímetro inacreditável do seu. Estendo as mãos e aperto seu bíceps. Minha boca fica seca e meu sexo umedece com a provocação de suas palavras. Ele tem que saber que fui afetada – tem que saber que já estou desesperada para sentir seu toque –, mas ele continua. – Quero saber que, enquanto você estiver falando com todos esses potenciais doadores, cheia de pose, elegante de tirar o fôlego, debaixo desse vestido você está molhada e pingando de desejo por mim. – Sugo o ar com dificuldade; suas palavras quase são mais do que eu suporto ouvir no meu atual estado. – Que você está com tanta vontade que até dói. Que sua boceta pulsa só de pensar em como mais tarde meu pau vai estar enterrado nela. Por horas. – Sua voz é
dolorosa ao dizer as últimas palavras, e tenho algum nível de satisfação que ele esteja sofrendo tão deliciosamente quanto eu. Não posso evitar o gemido de desejo no fundo da garganta ao sentir sua boca se curvar num sorriso com a minha resposta. – Cada vez que olho para você, eu quero saber que estou te matando aos pouquinhos por dentro, enquanto você se mostra tão decente e perfeita por fora. – Ele inclina a cabeça para a frente e me dá o beijo que estava segurando de mim. Fico sem fôlego quando ele me solta. – E saber disso vai me deixar com tanta vontade quanto você. Ele recua de novo e se arruma no assento ao meu lado. Eu não falei nada por todo esse tempo, mas nossa conversa me deixou exausta e com os nervos à flor da pele. – Pouca roupa – ele diz, um sorriso terrível puxando o canto de sua boca ao segurar minha calcinha e começar a dobrá-la. – Você não está mais vestida demais agora que tirei isso de cena… – Ele enfia o retalho de seda vermelha na abertura quadrada do bolso e me dá uma piscadinha. – E agora eu fiquei perfeito. Eu o encaro e fico me perguntando a quais profundezas do desejo ele vai me levar esta noite. Um rubor se espalha pelas minhas faces e ele sorri, sabendo que eu estou mais do que dentro do jogo. Nego com a cabeça num leve movimento. – Você sabe jogar sujo, né? Reluz em seus olhos algo que eu identifico como medo, mas sei que não é possível. O que ele teria a temer de mim? – Você não faz ideia, Rylee. – Ele cerra a mandíbula e me observa, de repente sério, e eu fico confusa pensando por quê. Ficamos nos encarando em silêncio por um momento antes de ele se virar e olhar para o cenário que passa pela janela. Sua voz é estranhamente baixa e contemplativa quando ele, por fim, fala. – Se você fosse esperta… se eu pudesse deixar você… eu te diria para entregar o jogo. Fico olhando sua nuca, sentindo uma perplexa confusão. O que ele acha que é tão horrível dentro dele a ponto de não ser digno de mim? Me mata o fato de que, depois de todo esse tempo, ele ainda se sinta assombrado pela infância. Se ao menos ele me deixasse ajudá-lo. Estico o braço e coloco a mão em suas costas. – Colton, por que você diz isso?
Ele olha de novo para mim, mas seu rosto é uma máscara. – Eu gosto demais da sua inocência para dar os detalhes sórdidos. Inocência? Ele não sabe os horrores que eu já vi trabalhando no Lar? Ou isso, ou é outra desculpa para fugir do passado. – Seja lá o que for, Colton, não afeta como eu me sinto a seu respeito. Eu preciso que você saiba que… – Colton? – Levo um susto quando o interfone do carro nos chama. – Deixa pra lá, Rylee – ele alerta de leve. – Fala, Sammy. – Chegada em dois minutos. Ele baixa a divisória de privacidade que nos separa. Sammy vira a cabeça em direção a Colton. – Sammy, por favor, traga a Sexo aqui. Estou a fim de dirigir esta noite. Sexo? Dirigir? De que diabos ele está falando? – Pode deixar – diz Sammy, um sorriso de canto de boca ilumina seu rosto antes que a divisória suba novamente. – Sexo? – Olho para Colton como se ele fosse louco, contente pela mudança de assunto para dar um pouco de leveza ao repentino clima pesado da nossa conversa. – É. Minha F12. Minha garota. Esse é o nome dela. – Ele dá de ombros como se fosse a coisa mais perfeitamente normal no mundo, mas agora ele me deixou toda confusa com F12, garota e sexo. – Hum, você pode explicar numa linguagem para nós que temos dois cromossomos X? – Intrigada, eu dou risada. Ele me mostra um sorriso de garoto que derreteria minha calcinha; isto é, se eu ainda estivesse com ela. – A F21 é minha favorita de toda a coleção. É uma Berlinetta Ferrari. A primeira vez que Beckett a dirigiu, me disse que a sensação era equivalente ao melhor sexo que ele já teve. No começo era uma brincadeira, mas o nome pegou. Então… – Ele encolhe os ombros e eu nego com a cabeça. – Sexo. – Coleção? – Mulheres têm sapatos. Homens têm carros. – É a única explicação que ele me dá. Estou prestes a perguntar mais, quando ele anuncia: – Chegamos. – Ele se arruma no assento para ficar mais perto da porta. Um frio enorme toma conta da minha barriga. – Hora do show.
Antes que eu possa me preparar mentalmente, a porta da limusine se abre. Embora o corpo de Colton na porta me bloqueie parcialmente dos flashes das câmeras, sou temporariamente cegada pela intensidade. Colton dá um cumprimento despreocupado para os paparazzi ao abotoar o casaco do smoking e se virar para me ajudar. Respiro fundo, pego a mão dele e desço da limusine. Olho para ele. Há um sorriso encorajador no seu rosto. A cara fechada de momentos antes, dentro do carro, já desapareceu. Olá, playboy de Hollywood. – Você está bem? – ele pergunta movendo os lábios, mas sem emitir som. Faço um discreto aceno afirmativo com a cabeça, sentindo-me sobrecarregada com a investida de gente gritando para nós, junto com os repetidos flashes de câmera. Ele me puxa para junto de si e sua boca toca minha orelha. – Lembre-se de sorrir e fazer o que eu faço – ele murmura. – Você está deslumbrante hoje. – Ele recua, apertando minha mão e me agraciando com um dos sorrisos de molhar a calcinha, antes de se virar e começar o desfile pelo tapete de entrada. E o único pensamento que irrompe de todo o burburinho nos arredores de nós é que, deste ponto em diante, não sou mais anônima para a imprensa.
Dezesseis
Meus olhos ainda estão enxergando pontos de luz na minha visão periférica, mas sobrevivi ao tapete vermelho. Eu me sinto desorientada e usada pelas perguntas invasivas e fotos incessantes da imprensa. Não faço ideia de como Colton pode estar tão relaxado numa situação como essa. Talvez sejam os anos de prática. Ele estava calmo e educado, e evitava responder às questões que eram jogadas sobre ele – se estávamos juntos, há quanto tempo estávamos juntos, qual era meu nome? – e se esquivava delas com o brilho do seu sorriso; em vez disso dando a foto perfeita para a capa da revista. Colton aperta minha mão de um jeito compreensivo. – Às vezes eu esqueço de como pode ser estressante para alguém que nunca fez isso antes. – Ele me dá um beijo casto e rápido nos lábios, antes de me direcionar para o salão de baile. – Me perdoa. Eu deveria ter preparado você com antecedência. – Não se preocupe com isso – digo a ele, relaxando sob o calor de sua mão nas minhas costas. – Estou bem. O tapete vermelho é uma coisa, mas acho que nada poderia ter me preparado para o que eu sentiria ao entrar no salão com Colton. Parece que todas as cabeças no salão se viram quando cruzamos a entrada, toda a atenção dos presentes se foca no homem ao meu lado. O homem simplesmente magnético em todos os sentidos da palavra: aparência, postura, carisma e personalidade. Eu vacilo com a atenção repentina. Colton sente minha hesitação e me puxa mais junto de si, uma demonstração não tão sutil de posse e propriedade, diante dos olhos especulativos. A ação inesperada tanto me
surpreende quanto aquece meu coração. Ele inclina a boca no meu ouvido. – Respira, linda – murmura –, você está indo muito bem. E mal posso esperar pra te comer mais tarde. – Meus olhos se cruzam com os seus e o sorriso que ele dá apazigua meus nervos. A hora seguinte, mais ou menos, passa num piscar de olhos. Colton e eu nos misturamos à multidão e eu fico espantada com a quantidade de gente que ele conhece, nem que seja de vista. Ele é tão despretensioso que eu me vejo esquecendo as circunstâncias nas quais ele cresceu, onde as celebridades são amigos de família e os smokings são roupa do dia a dia. Colton, de fato, esbanja charme, sempre sabendo o comentário certo a fazer ou quando acrescentar um toque de leveza na conversa com uma brincadeirinha. De forma sutil, ele insere o programa de patrocínio em cada conversa e responde pacientemente às perguntas sobre ele de um jeito informal, que faz as pessoas se comprometerem com a causa sem se sentirem assediadas ou atormentadas. E ele usa minha calcinha como lenço no bolso, um lembrete constante para mim do nosso pequeno interlúdio na limusine e das promessas sedutoras que ele fez. Lanço um olhar pelo salão e noto várias mulheres conversando juntas e roubando olhares nossos. De início, acho que estão olhando para Colton porque, vamos falar a verdade, é difícil não ficar encarando. E então, quando olho duas vezes, percebo que os olhares não são de admiração a Colton, mas, em vez disso, de julgamento à acompanhante: eu. Me observam com olhos inquisidores, caretas no rosto, antes de se entreolharem de novo e continuarem. Me criticando, sem dúvida. Tento não me abalar nem deixar minha insegurança levar a melhor, mas sei o que elas estão pensando. Vejo as observações de Tawny ecoarem nos olhares delas. Estou tão imersa nos meus pensamentos que não percebo que Colton me levou até uma mesa bistrô. Ele dá as costas para o salão atrás de nós e me beija para renovar meu desejo torturante por ele. Então fixa o rosto em mim, enquanto sua mão, protegida da vista da multidão atrás do smoking, apalpa o V entre minhas pernas. – Rápido e duro? Ou gentil e lento, Rylee? De que jeito eu vou te foder primeiro? – ele murmura baixinho. O timbre de sua voz chega
até meus ouvidos. Minha respiração prende na garganta quando um dedo pressiona entre as minhas dobras, por cima do tecido do vestido. Não é pressão suficiente para me enlouquecer, mas o suficiente para disparar um estremecimento de sensações pelo meu corpo. – Colton? Uma voz nos interrompe sobre o ombro de Colton. Eu levo um susto, hiperconsciente do que ele estava fazendo, enquanto um sorriso suave desliza por sua boca quando ele se vira para se dirigir ao conhecido. Colton cumprimenta o cavalheiro e me apresenta, embora ele saiba que eu, muito provavelmente, preciso de um momento para recobrar os sentidos. Tenho certeza de que o rubor nas minhas faces deixa isso claro, mas, quando olho para ele, está imerso na conversa sobre algum evento ao qual eles compareceram juntos no passado. Seus olhos cruzam com os meus e a sombra de um leve sorriso perpassa seu rosto e seus olhos, sugerindo muito mais. Observo Colton, ouvindo apenas parcialmente o que ele está dizendo, até que o casal é chamado a outro lugar. O tempo todo, meu corpo canta de desejo. Tê-lo tão perto de mim – na ponta dos meus dedos, para falar a verdade – e não poder tocá-lo? Deslizar minhas mãos por seu peito esculpido debaixo da camisa? Percorrer a língua pelo V dos seus quadris e sentir seu gosto? Tortura absoluta. Ele se inclina perto de mim, obviamente supondo para onde oscilaram meus pensamentos e seu rosto roça de leve pelo meu cabelo. – Meu Deus, você fica sexy quando está excitada – ele sussurra antes de um beijo na minha têmpora. – Isso é tão injusto – repreendo, pressionando seu peito com força, um sorriso bobo nos meus lábios. Meu sorriso falha momentaneamente quando capto, pelo canto do olho, um olhar nojento de uma mulher que vem passando por nós. Qual é o seu problema?, quero perguntar. O que eu fiz para você? – Quer outra bebida? – ele pergunta, parecendo adivinhar que estou descendo a lenha na biscate desconhecida número um, em pensamento. Acho que tenho que classificar por números, porque imagino que vai haver mais do que algumas poucas esta noite. Faço um sinal afirmativo com a cabeça, sabendo que a noite mal começou
e que preciso de um pouco de coragem líquida se pretendo permanecer à mercê sexual de Colton. – Já volto – ele me diz antes de dar um apertinho na minha mão e seguir para o bar. Eu o observo e vejo vários atores famosos o pararem no caminho para apertar a mão ou dar tapinhas nas costas como cumprimento. Uma loira escultural acompanha seu passo e se coloca ao lado para chamar sua atenção. Observo Colton, curiosa para saber como ele vai interagir com ela e avaliar seu nível de familiaridade – a forma como ela o toca, sua linguagem corporal, voltada para ele, o modo como Colton olha para ela, mas, ao mesmo tempo, incomodado pela presença dela – faz eu me perguntar se ele já dormiu com ela antes. Não consigo afastar meus olhos, pois no fundo eu já sei a resposta. Sei que ele já teve sua cota de mulheres e aceito; porém, ao mesmo tempo, o fato de eu ter consciência disso não significa que concordo. Que quero bisbilhotar e constatar com meus próprios olhos. Eu o observo dispensar a loira e continuar pelo salão. Quando ele, de fato, chega ao bar, é cercado por um grupo de pessoas, todas disputando sua atenção, variando de jovens a velhos, de homens a mulheres. – Ele não vai manter você por perto, viu? – diz uma voz com sotaque ao meu lado. – Perdão? – Eu me viro e encontro uma beldade deslumbrante com o pré-requisito de cabelos loiros e lisos. Olá, biscate número dois. Ela sorri para mim, balançando a cabeça de um lado para o outro em desaprovação ao me medir dos pés à cabeça. – Exatamente o que eu disse – ela repete, na lata. – Ele não fica com a gente por muito tempo. A gente? Como se eu quisesse ser parte de qualquer coisa junto com ela, que dirá a mais nova integrante do Clube das Dispensadas por Colton Donavan. Maravilha! Mais uma de suas mulheres desprezadas. – Obrigada pela dica – respondo, sem esconder meu desprezo por sua presença. – Vou ter isso em mente. Agora, se você me dá licença. Quando começo a sair de perto, ela agarra meu braço. Uma raiva incendeia minhas veias. Cada osso educado no meu corpo briga para
não se revoltar e mostrar a ela que, debaixo desse vestido glamoroso, há uma barraqueira a fim de lutar pelo que é dela. E, neste momento, Colton é meu. Minha mão coça para tirar a mão dela de mim com um tapa. Ou dar vários tapas, em geral. – Só pra você ficar sabendo, quando ele terminar com você e te jogar de lado, eu vou estar esperando para pegar seu lugar. – Com essas palavras, eu tenho sucesso em me livrar das garras dela e me viro para encará-la. Quando fico olhando com hostilidade gélida sem dizer nada, chocada e em silêncio com sua audácia, ela continua: – Você sabia que Colton gosta de brincar com as ex dele quando está na entressafra? – E daí? Quer ficar esperando pra ver? A mim isso parece patético – alfineto, sacudindo a cabeça e tentando esconder o fato de que suas palavras me enervam. – Ele é tudo isso de bom – ela retruca. Como se eu já não soubesse. E, com suas palavras, eu percebo que é por isso que todas as ex são tão possessivas em relação a ele, mesmo que seja em memória. Ele é o pacote completo em vários aspectos. Menos a habilidade de se comprometer, claro. De repente, o esgar no rosto dela é substituído por um sorriso deslumbrante. Noto sua linguagem corporal se transformando, e sei que Colton está atrás de mim, mesmo antes que meu corpo comece a zunir ao demonstrar a consciência da proximidade. Eu me viro e abro um sorriso. Minha expressão é de gratidão por ele me salvar das garras dessa mulher. – Teagan. – Ele faz um aceno com a cabeça. Há um sorriso reservado no seu rosto e indiferença em sua voz. – Você está bela como sempre. – Colton – ela fala quase sem ar. A postura agora se transformou por completo. – Que bom te ver de novo. – Ela dá um passo à frente para lhe dar um beijo na bochecha, mas ele a dispensa inconscientemente ao colocar a mão na minha cintura e me puxar para mais perto. Percebo que ela está ofendida pela falta de atenção, então ela tenta de novo, sem sucesso. – Se você nos der licença, Teagan, temos um salão inteiro para rodar – ele diz em tom educado, dispensando-a e me levando dali.
Colton faz um aceno com a cabeça para outro conhecido e continua, quando estamos a uma distância na qual não podemos ser ouvidos. – Ela é jogo duro – ele diz antes de dar um gole na bebida. – Me desculpa não ter salvado você antes. – Tudo bem, ela estava ocupada me informando de que, quando você me dispensar, ela vai ser a garota que vai te atender na entressafra até você achar uma mulher nova. Que você sempre brinca com as ex enquanto procura pela próxima conquista. – Reviro os olhos e tento deixar meu tom leve, como se as palavras dela não me incomodassem, mas eu sei que depois elas vão me afetar com tudo, quando eu menos esperar. Porque tenho mais do que certeza de que ela estava falando a verdade. Colton joga a cabeça para trás e ri alto. – Quando o inferno virar gelo! – exclama, descartando as observações dela. – Me lembra de te falar sobre ela depois. Ela é uma peça. – Bom saber. Vou me manter longe dela. Vamos nos misturando à multidão mais um pouco, conversando sobre a joint venture num salão cheio de gente que nada em dinheiro. Somos separados aqui e ali por conversas diferentes que nos levam a direções opostas. Nessas ocasiões, quando estamos longe um do outro, não posso deixar de olhar para Colton. Meu sorriso suave é a única resposta que posso oferecer a seu sorriso malicioso. Quando me encontro sozinha por um instante, decido seguir para o bar à procura de um refil para minha bebida. Estou esperando numa longa fila quando ouço três mulheres a alguns convidados de distância, atrás de mim. Primeiro acho que elas não percebem que posso ouvi-las. Comentários mal-educados sobre minha escolha de vestido. Sobre como não sou nem de perto o tipo de Colton, pois não correspondo ao tamanho modelo. Como me cairia bem uma plástica no nariz e uma lipo. Como eu não saberia como lidar com Colton na cama nem que ele me desse um mapa da pista. E continuam e continuam até eu ter certeza de que estão dizendo isso em voz alta de propósito, com esperanças de me afetar. Não importa o quanto eu saiba que elas só estão com inveja e que
pretendem me provocar; mesmo assim, já tocaram fundo e estão conseguindo. Elas me afetaram a despeito do meu conhecimento de que sou eu que está com ele esta noite. Decido que o refil que eu quero – o qual com plena certeza me faria bem – não vale a angústia mental que essas vagabundas estão provocando. Opto por sair da fila e respirar fundo para conseguir forças, planejando ignorá-las quando passo por perto. Mas não consigo. Não consigo dizer a elas que venceram. Em vez disso, paro no meio do caminho e me viro. Não me importo com como me sinto por dentro. Não vou deixar as biscates número três, quatro e cinco saberem que elas conseguiram me atingir. Levanto o rosto e encontro seus olhos julgadores, os sorrisinhos condescendentes, e não dou importância a seus olhares desaprovadores e indiscretos. – Oi, meninas. – Sorrio e me inclino para perto. – Só para vocês saberem, o único mapa da pista que eu preciso é o gemidinho que Colton faz quando eu vou lambendo pelo caminho da felicidade delicioso que aponta direto para o pau obscenamente enorme. Mas obrigada pela preocupação. – Desfiro um sorriso ferino antes de sair andando sem olhar para trás. Minhas mãos tremem quando eu ando, dando uma guinada para o corredor perto dos toaletes por um momento para me recuperar. Por que eu deixei que elas me atingissem? Se estou com o Colton, não é a única resposta de que eu preciso? Mas será que estou mesmo com ele? Vejo em seus olhos, ouço em suas palavras não ditas, e sinto no seu toque habilidoso. Em Las Vegas ele me disse que havia me escolhido, mas, quando pedi para tentar me dar mais do que o acordo idiota, ele nunca me respondeu, nunca me deu nenhum tipo de segurança que um simples “Sim, vou tentar” teria me dado. Talvez seja encontrar esta noite todas essas que eu imagino serem as dispensadas; vê-las ainda querer o que não mais podem ter e desfilando na minha frente. Será que ele não poderia ter ao menos me alertado? E então o pensamento serpenteia na minha psique. Será que vou ser uma delas daqui a alguns meses? Uma das muitas mulheres rejeitadas pelo notório Colton Donavan. Eu gostaria de pensar que não, mas, depois de vê-las aqui esta noite, por que acho que sequer tenho chance de domar o homem incontrolável? Por que ele mudaria
por mim quando a miríade antes de mim nem chegava a tentá-lo? Posso ficar o dia todo pensando que sou diferente, mas meus pensamentos não significam nada quando suas palavras podem significar tudo. Suspiro. Meus nervos se acalmam e se agitam ao mesmo tempo quando olho para meu copo vazio. Solto um gritinho agudo quando mãos deslizam pela minha cintura por trás. – Aí está você – a voz de Colton murmura no meu ouvido. Seus lábios roçam a curva do meu ombro até meu pescoço. – Não conseguia achar você. – Oi pra você também, Ace – respondo, e o sussurro dos seus lábios por hora silencia minhas dúvidas. – Ace, hein? – Ele dá risada e eu tento me virar, mas ele mantém o corpo colado ao meu, os braços ao redor do meu tronco. Ele começa a andar para a frente, e minhas pernas se movem por instinto no compasso das suas. Com cada passo, eu o sinto cada vez mais duro contra minha lombar. A dor que nunca realmente desapareceu dá um rugido ao voltar à vida. A risada ressonante de Colton no meu ouvido me faz esquecer os pensamentos do que eu quero – não, necessito – que ele faça comigo neste instante. É demais para mim ter nossos corpos unidos da coxa ao ombro. Implorar fica dentro do reino das possibilidades neste momento. – Uma experiência no armário? – ele pergunta, e levo um momento para entender que ele está oferecendo outra tentativa patética para o significado por trás de Ace. – Não. – Rio para ele. – Onde essa… – Caralho, não poderia ser mais perfeito se eu tivesse planejado. E eu vejo no minuto em que as palavras deixam sua boca. Ele nos levou para o canto isolado das dependências do zelador, e, ironicamente, estamos na frente de uma porta cuja plaquinha diz “Depósito”. Começo a rir, mas antes que sequer escape, ele me virou e me imprensou na parede. Seu corpo pressiona o meu: aço contra macio. Colton coloca as mãos de cada lado da minha cabeça e aproxima o rosto, parando a um tiquinho do meu. Seu peito pressiona o meu quando nosso desespero para sentir o gosto um do outro consome
nosso ar, sequestra nossa habilidade de respirar e rouba nosso raciocínio. Apesar de tamanha proximidade, nossos olhos permanecem abertos, a conexão entre nós não se abala. Elétrica. Inflamável. – Você tem alguma ideia de como eu estou desesperado para te foder neste momento? – murmura ele, o movimento de seus lábios roça muito de leve os meus. Eu me afogo no calor líquido que suas palavras evocam, imploro que ele me leve para o fundo e me segure lá, mas tudo o que consigo fazer é soltar o ar de modo trêmulo. Ele se inclina e prova meu gosto. Minhas mãos cerradas em punhos deslizam por baixo do casaco do smoking e abrem a camisa – os botões que se danem. Colton se afasta quando ouve o ruído de saltos, mas abre a porta do armário e me coloca lá dentro. No minuto em que a porta se fecha no armário escuro, Colton tem meus braços presos acima da cabeça. A única iluminação no armário é a luz que se infiltra pela fresta no batente da porta. Minha mente nem chega a registrar meus demônios internos – a claustrofobia do acidente que normalmente me domina só de pensar na possibilidade de ficar confinada. Meu único pensamento é Colton. O medo cessa. Eu estremeço, antecipando o momento que seu corpo vai desabar sobre o meu, me pressionar contra a porta e me possuir do jeito que estamos necessitando tão desesperadamente. Libertação. Conexão. Intensidade. Mas não é o que acontece. A única conexão entre nós é sua mão, que mantém meus punhos reféns acima da minha cabeça. O armário é escuro demais para decifrar o contorno de seu corpo, mas sinto sua respiração soprar no meu rosto. Ficamos assim por um momento, tão próximo que chegamos a nos arrepiar. Cada nervo do meu corpo formiga para sentir o toque que ele ainda vai me dar, suspenso num estado confuso de necessidade. – Expectativa pode potencializar – ele sussurra, e, neste momento, é sem dúvida a definição de Ace. Sem dúvida. Mas não tenho tempo de compreender, que dirá responder, pois seus lábios enfim encontram os meus. E, desta vez, fazem mais do que só provar. Eles devoram. Tomam sem pedir. Marcam a posse reivindicada a fogo. O mundo do outro lado da porta deixa de existir. As dúvidas
amotinadas na minha cabeça ficam em silêncio. Tudo se perde na sensação de sua boca venerando a minha. Nossas línguas dançam. Nossos suspiros reverentes se fundem. Nossos corpos sucumbem, mas nunca se tocam. Além das mãos de Colton no meu punho e dos lábios na minha boca, ele não permite que nenhuma outra parte dos nossos corpos se conectem. E eu preciso tocá-lo tão desesperadamente, sentir os bicos duros dos meus seios roçando seu peito, sentir seus dedos trilhando minhas coxas e tocando meus lugares mais íntimos. Mas ele recusa esse meu pedido silencioso, no completo controle da situação do meu desejo a ponto de ser detonado. Ele recua diante de um gemido de nós dois. – Meu Deus, mulher – ele blasfema. – Você está deixando inacreditavelmente difícil me afastar de você. – Então não se afaste. – Eu ofego, sentindo o desejo latente e tão intenso por tê-lo tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim de mais do que uma só forma. Ele solta um grunhido em resposta frustrada e, tão depressa quando entramos no irônico depósito, estamos fora dele. Fecho os olhos momentaneamente diante do banho de luz repentino. Quando os abro de novo, Colton está a alguns passos na minha frente. A tensão em seus ombros é um resultado do que eu assumo ser o domínio escorregadio que ele tem do autocontrole. Ele olha para mim por cima do ombro, mandíbula rígida e olhos guerreando contra algo internamente. – Colton? – pergunto, tentando compreender seu estado mental. Ele apenas nega com a cabeça. – Só vou ao banheiro. Te encontro depois lá? Fico olhando para ele e deixo escapar com os lábios trêmulos: – Tá bom. Ele começa a se afastar, mas para, se vira e vem andando até mim. Sem preâmbulo, ele agarra minha nuca e me puxa para junto de si com um beijo casto nos lábios, antes de sair andando. Ouço-o dizer sobre os ombros: – Preciso de um minuto. Preciso de uma vida inteira. Estou imersa numa conversa sobre os méritos da minha
organização e o que as novas instalações vão ter que oferecer, quando sou interrompida. – Rylee! – Uma voz ribomba atrás de mim, e, quando eu me viro, me vejo engolida num grande abraço de urso de Andy Westin. Eu retribuo o abraço, pois seu afeto é contagioso, e então ele se inclina para trás e segura meus braços para dar uma boa olhada em mim. Ele assobia. – Uau! Você está deslumbrante esta noite – ele elogia, e eu vejo exatamente de quem Colton aprendeu o charme. – Senhor Westin, é um prazer ver o senhor de novo – digo, e fico surpresa de estar sendo sincera. Num salão cheio de gente pretenciosa, ele traz vitalidade e sinceridade. Ele acena com a mão. – Eu te disse, por favor, me chame de Andy. – Está bem, Andy, então. Colton sabe que você está aqui? Aceita uma bebida? – Não se preocupe com isso. Eu mesmo pego uma bebida já, já – diz ele, apalpando meu braço enquanto observa a multidão. – Eu ainda não o vi. Estamos ocupados vendo velhos amigos e ouvindo sobre esta grande causa. – Crianças Já, sem dúvida é – comento. Ele abre um grande sorriso. – Falando em boas causas, ouvi dizer que você e o meu garoto estão trabalhando em alguma coisa juntos para a sua organização. – Sim, a gente está! – exclamo, ao mesmo tempo em que um arrepio dispara por mim diante da repentina consciência do que está realmente acontecendo. Na verdade, estou aqui para promover as novas instalações e o que ela implica. – Aí está você – me interrompe uma voz sensual. Viro para ver a quem pertence, e dou de cara com Dorothea Donavan-Westin. Está absolutamente impressionante, e há uma graciosidade a seu respeito, em seu movimento, no seu sorriso, na forma como ela se comporta, que faz a gente querer ficar olhando e admirando. – Dottie, querida! Eu não sabia para onde você tinha ido – diz Andy, ao beijar sua bochecha. Dorothea olha para mim. Seus olhos azul-safira se acendem com humor. – Ele está sempre me perdendo – ri ela.
– Dottie querida, esta é Rylee… – Thomas – concluo para Andy. – Thomas. Sim – diz ele, com uma piscadinha para mim, grato pela ajuda. – Quero apresentar minha esposa, Dorothea. – Ele se vira para ela. – É com a Rylee que Colton está trabalhando… – Sim, eu sei, querido. – Ela dá um tapinha no braço do marido, carinhosamente. – Afinal, estou no conselho. – Ela se vira para mim e estende a mão tão bem-cuidada. – É um grande prazer finalmente conhecê-la em pessoa, Rylee. Já ouvi falar grandes coisas sobre o seu trabalho por meio do comitê. Estendo a mão para cumprimentá-la, surpresa com meu nervosismo. Se por um lado Andy é acolhedor e convidativo, Dorothea é reservada e suntuosa. Uma pessoa que faz a gente buscar sua aprovação sem nem mesmo precisar dizer uma palavra. Uma pessoa no comando. – Obrigada. Também é um prazer conhecê-la. – Sorrio calorosamente para ela. – Seu marido e eu estávamos falando sobre isso. A doação generosa feita pelo seu filho tornou as novas dependências uma realidade tangível para nós. Quando a equipe dele tiver decidido sobre o patrocínio, podemos começar a pensar nas permissões. O rosto de Dorothea se enche de orgulho diante da menção a seu filho, e eu vejo amor incondicional em seus olhos. – Bom, acho que foi bom eu ter ficado doente e o forçado a comparecer no meu lugar. – Ela ri. – Apesar das reclamações incessantes que eu tive de ouvir sobre ser forçado a vestir smoking. Não consigo evitar um sorriso ao ouvir suas palavras; afinal, ouvi as mesmas reclamações hoje mais cedo. – Ficamos lisonjeados com a generosidade dele. Não há palavras para expressar o tamanho da nossa apreciação. E depois, ir além e tentar conseguir patrocínio para completar o levante de recursos… – Coloco a mão sobre o coração. – Isso só nos deixa, deixa a mim, sem fala. Lisonjeada, para falar a verdade. – Esse é nosso garoto! – exclama Andy, estendendo a mão para uma taça de champanhe, de uma garçonete que passa por nós, e entregando-a à Dorothea. – Vocês devem ter muito orgulho dele. Colton é um bom homem.
As palavras escapam da minha boca antes de que eu sequer me dê conta disso, e eu me encontro ligeiramente constrangida. Minha admissão inesperada para os pais dele são uma pista dos meus sentimentos pelo seu filho amado. Dorothea inclina a cabeça de lado e me olha sobre a taça de champanhe ao tomar um golinho. – Então, me conte, Rylee, você está com o Colton esta noite em nível profissional ou pessoal? Devo parecer um animal acuado diante dessas palavras. Olho de Dorothea para Andy e de novo para ela. O que devo dizer? Que estou apaixonada pelo seu filho, mas ele ainda pensa em mim como uma mulher que ele está comendo porque se recusa a aceitar que pode nutrir sentimentos por mim? Acho difícil pensar nisso como algo apropriado para dizer aos pais de alguém, quer seja verdade ou não. Minha boca se abre para dizer alguma coisa, quando Andy intervém. – Não atormente a menina, Dottie! – ele diz em tom de brincadeira, piscando para mim enquanto eu o agradeço em silêncio. – Bom… – Ela dá de ombros em caráter de desculpas, embora eu duvide de que esteja sentindo remorsos. – Uma mãe gosta de saber dessas coisas. Aliás, eu acho… – Que ótima surpresa! – Ouço a aspereza suave da voz de Colton, e sou inundada por uma onda de alívio ao não ter que responder à pergunta. – Colton! – exclama Dorothea, ao se virar para o filho. Fico surpresa quando ele pega a mãe num grande abraço de urso e a oscila para a frente e para trás antes de beijá-la na face. Seu rosto se acende com amor por ela. Ela aceita o afeto e coloca as duas mãos abertamente no rosto dele e olha em seus olhos. – Me deixa olhar para você. Parece que faz uma eternidade que nos vemos! Ele sorri para ela; a adoração é aparente. – Só foram algumas semanas. – Ele sorri para ela ao dar um tapinha nas costas do pai à moda de cumprimento. – E aí, pai? – Oi, amigão – diz Andy, colocando um braço ao redor dos ombros de Colton e dando um apertinho rápido. – O que é isso? – ele pergunta, levando a mão ao rosto de Colton e esfregando de leve. – Quer dizer que você fez a barba esta noite? Sua mãe ficou surpresa quando te viu na foto do evento de outra noite e…
– Você estava tão lindo, Colton. Todo barbeadinho… – ela interrompe o marido com um olhar de alerta antes de abrir um sorriso adorável para o filho. – Você sabe o quanto eu gosto quando você raspa essa aspereza do rosto. Você fica muito melhor sem barba! Colton me olha, um sorriso assimétrico no rosto, e olhos que me dizem lembrar do meu comentário sobre como eu adoro a aspereza contra a parte interna das minhas coxas. – Vi que você já conheceu a Rylee? – ele diz ao passar um braço pela minha cintura e me puxar para junto de si, inclinando-se para tocar os lábios na minha têmpora. Por instinto, eu me inclino para ele também, sem deixar de perceber o olhar de surpresa que é trocado ente os pais dele. Quanto ao motivo, eu não tenho certeza, mas o olhar de Andy para Dorothea parecer dizer eu entendi o que você quer dizer. – Sim, só estávamos falando sobre o projeto novo da empresa dela – a mãe responde, observando Colton com atenção e exibindo um olhar intrigado no rosto. – A Rylee fez um ótimo trabalho – diz ele. O orgulho que transparece em seus olhos me deixa surpresa. – Se você visse os meninos, os que atualmente estão sob a responsabilidade dela, veria que são crianças incríveis e entenderia por que eu não precisei pensar duas vezes para me envolver no projeto. O que ele precisa é ser concluído. – Seu entusiasmo é de coração. Ele me comove. – Mas você já sabe disso, não sabe, mãe? Falamos por alguns instantes antes de Andy pedir licença para ir buscar uma bebida, e eu aproveitar a deixa para ir ao banheiro. Afasto-me alguns passos quando Colton coloca a mão na minha lombar e me detém ao murmurar meu nome. Seu corpo pressiona o meu por trás e nos conecta como duas peças de um quebra-cabeças. – Nem pense em se masturbar no banheiro. – Ele dá um grunhido baixinho no meu ouvido, o que dispara espirais de desejo elétrico em cada um dos meus nervos. – Eu sei que você está desesperada para me sentir enterrado dentro de você tanto quanto eu estou. Sei que o desejo é tão grande que queima. Mas, linda, fique sabendo que eu sou o único que pode te fazer chegar lá. – Ele sobe a mão pela lateral das minhas costelas. – Não seus dedos. Não um brinquedo. Nenhum outro filho da puta nesse salão. – Ele solta a respiração e eu fico com
inveja de sua habilidade de respirar num momento como esse. – Só eu. E não estou nem perto de terminar com você ainda. – Colton pressiona um beijo na minha nuca. – Minha. Entendeu? Engulo, tentando encontrar minha voz. Suas palavras foram tão sexy que eu juro que consigo sentir a umidade se acumulando entre as coxas. Faço um sinal afirmativo com a cabeça e só quando estou a alguns passos de distância – na verdade quando consigo pensar sem que ele confunda minha coerência – é que eu consigo sugar o ar. O banheiro está vazio quando entro, e sigo para a cabine mais distante, junto da parede. Só preciso de um momento para mim mesma. Estou acabando o que vim fazer quando ouço a porta se escancarar e dois pares de saltos altos estalarem no piso de concreto. Risadas ecoam das paredes azulejadas. – Então, com quem ele está aqui esta noite? Ele parece muito sério em relação a ela, porque os olhos nem ficaram desviando pelo salão como de costume. A outra mulher dá uma risada gutural em resposta e algo sobre a familiaridade do som me faz parar com a mão na porta da cabine. – Ah, ela? Ela não é absolutamente nada com que se preocupar. Ouço estalo de lábios de alguém que acabou de retocar o batom e está espalhando. – Bom, pela aparência da Página 6, você parece estar bem. – Você viu aquilo? – pergunta a mulher da voz gutural. – Vi! Você e Colton estavam lindos juntos. Como um casal perfeito pra caralho. – Eu me arrepio toda quando reconheço a voz gutural, a que diz que não precisam se preocupar comigo. É Tawny. – Obrigada, querida! Eu também acho. Foi uma noite maravilhosa, e, como de costume, Colton estava naquele estado superatencioso. Espera aí! De que diabos ela está falando? Noite? Como usual? Minha conversa com os pais de Colton retornam à mente. Andy dizendo a Colton que a mãe viu uma foto dele com alguma outra pessoa antes que Dorothea o interrompesse. A foto era com Tawny? Engulo a bile que sobe pela minha garganta, tentando acalmar meus pensamentos para não saírem demais de sintonia e ficarem analisando os comentários. Tento ignorar minha pulsação latejando forte nos meus ouvidos, desesperada para ouvir um pouco mais. Sinto náusea, então recuo e me sento de novo no vaso, totalmente
vestida. – Pra começo de conversa, eu não acredito que você deixou ele escapar! – Eu sei. – Ela suspira. – Mas ele é um homem definitivamente difícil de dobrar depois que toma uma decisão. Mas eu fiz de tudo para ele saber que não pode mais usar a desculpa de que sou como uma irmã para ele. – Sua risadinha é sugestiva. – E eu fiz de tudo para estar presente em todos os passos do caminho para que, no fim, ele vá se voltar para mim. – Cala a boca! Não, você não fez isso… – Alguém tem que dar um jeito naquele menino. – As palavras fazem meu estômago se revolver. – Bom, eu acho que agora ele não vai demorar muito, pelo jeito da coisa – diz a amiga dela, e eu vejo mentalmente o sorrisinho que está se espalhando por seus lábios. – É, eu sei – responde Tawny. – Ela não pode dar a ele o que ele precisa. Ela é ingênua demais. Aqueles dois são como a Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau. Ele vai comê-la viva, cuspir depois e partir para a próxima. – E ele tem mesmo o apetite sexual para isso. Lobo Mau… hum… o apelido se encaixa. Sem dúvida está entre minhas melhores transas. – Espera aí! Colton também esteve com a amiga? Respira fundo, Rylee. Quantas ex-casos dele estão aqui esta noite? Respira fundo. Ouço o fechar do zíper de uma bolsa. – Ele vai se cansar dela logo, logo, quando ela não puder mais satisfazê-lo. Quero dizer, olha só para ela… Não tem um osso sedutor sequer no corpo. É chata demais… comum demais… blá demais para arrebatar a atenção dele. E, se ela é assim por fora, nem posso imaginar como ela deve ser sem graça debaixo dos lençóis. Você sabe como ele é. Previsibilidade é uma coisa que ele não tolera. – Dá risada. – Além disso, eu lancei algumas indiretas outra noite para deixar claro que eu ainda estou a fim. E mais do que disposta a ser quem e o que ele quiser. A amiga concorda com um “Aham”. – E quem não estaria no caso dele? O cara é um deus incansável na cama.
– Eu sei melhor do que ninguém. – Tawny dá risada. O som causa um arrepio na minha coluna. – Além do mais, eu sei ser paciente. O tempo está a favor, com certeza. – Está pronta? – Ouço a segunda bolsa se fechar e o clique-claque de saltos altos novamente até a porta se fechar e eu ser banhada novamente em silêncio. Que diabos? Procuro o celular na bolsa com mãos atrapalhadas. Abro o Google e procuro “Página 6, Colton Donavan”. Abro o primeiro link que aparece e me preparo quando a imagem preenche a tela. É uma imagem de Colton saindo do Chateau Marmont. Sua mão está posicionada na lombar de Tawny, paramentada num vestido vermelho sexy impressionante. Ela está virada, olhando para ele, com a mão pousada na lapela. Adoração em seus olhos e um sorriso sugestivo no rosto. Colton está olhando para ela, rosto enrugado numa risada como se eles tivessem acabado de compartilhar uma piada interna. Quando finalmente consigo arrancar meus olhos da química óbvia que há entre eles, olho para a data da foto. Quarta-feira passada. O mesmo dia em que Colton levou as crianças, junto comigo, para a pista de kart. Solto um gemido alto no banheiro vazio ao me dar conta de que acionei toda sua frustração sexual e depois o despachei para um evento com Tawny. Maravilha, porra! Lanço um olhar para a foto de novo, esperando que talvez seja uma foto de banco de imagens que o jornal usou para preencher espaço, mas então observo com mais atenção e noto que Colton está barbeado. Ele nunca está barbeado. Na quarta foi a primeira vez, desde que eu o conheço, em que ele estava assim. Sinto uma dor aguda no meu âmago ao olhar para a foto de novo. Colton me disse que tinha um evento para ir. No Chateau Marmont com Tawny? Que diabo de evento era esse e por que eles estão saindo com uma aparência tão à vontade? Respiro fundo. Meus pensamentos lutam violentamente na cabeça à medida que as investidas verbais de Tawny reentram na minha consciência de novo e tomam posse. Começo a me sentir sufocada no confinamento da cabine do banheiro. Abro a tranca com as mãos trêmulas e passo às pressas pelas pias. Olho-me no espelho rapidamente e fico chocada com minha aparência tão calma e controlada, quando minhas entranhas
estão se contorcendo em resposta a essa informação recémdescoberta. Eu me forço a recuperar a calma e não tirar conclusões precipitadas. Tawny é uma amiga da família e uma colega de trabalho. É claro que eles iriam a eventos juntos. A foto provavelmente foi tirada no momento exato para capturar uma cena que daria o que falar. Uma de que o público pudesse tirar conclusões. Deve haver umas vinte outras fotos nessa cena que ficaram sem graça e indignas de fofoca. Além do mais, o fato de que Tawny ainda sente algo por Colton não deveria me surpreender; ela mesma me disse isso na pista. Quando saio do banheiro, ainda estou tentando me convencer a pular da plataforma da insegurança. Não consigo encontrar Colton, então sigo para o bar, precisando de outra bebida para acalmar meus nervos em frangalhos. Digo a mim mesma que eu sei que Colton já teve sua cota de mulheres, mas ele me disse em Vegas que sou eu quem ele quer. Seria muito mais fácil aceitar se ele ao menos admitisse para mim que éramos algo mais – que éramos exclusivos –, qualquer coisa para me dizer verbalmente que emoções fazem parte do quatro. Que eu não sou apenas um joguete físico. Tira isso já da sua cabeça, Rylee! Tenho que aceitar que ele me mostra tudo isso com ações, não com palavras. Que é tudo o que ele está disposto a me dar e eu tenho que aceitar ou cair fora. Suspiro frustrada. Pensei que tinha me conformado com essa ideia. De fato, eu me conformei, mas então basta adicionar um monte de biscates esta noite e minhas inseguranças afloraram de novo. E tê-las jogadas no meu rosto repetidamente por Tawny e depois hoje por Teagan – isso sem falar nas biscates três, quatro e cinco – torna tudo muito mais difícil. Colton é o pacote completo. Eu deveria me sentir lisonjeada que outras mulheres queiram estar com ele. Continue dizendo isso para si mesma, Rylee, e talvez algum dia você acredite. Peço uma bebida no bar e, quando me viro para voltar, avisto Colton conversando com algum cavalheiro do outro lado do salão. Sorrio. A visão dele dissipa todas as minhas dúvidas. Assim que tomo o caminho até ele, a conversa acaba e, antes que ele se vire para sair, uma mulher o alcança e o abraça por um tempo longo demais
para o meu gosto. E claro que é uma loira, linda de morrer que se equipara a ele no quesito aparência deslumbrante. Quando ela se vira e eu consigo vê-la, não é ninguém menos que a biscate número cinco da fila do bar. As chamas de irritação ganham vida dentro de mim. Aqui vamos nós de novo. Paro no caminho e observo sua interação. Se por um lado a interação com Teagan era agradável, mas desapegada, a conversa com a biscate número cinco não tem nada de distante. Quando o vejo sorrir sinceramente para ela e deixar a mão pressionada na base da coluna em vez de se separar dela, eu engulo o ciúme que me atinge. Ele não fez nada errado e nem impróprio, mas a familiaridade entre eles é óbvia. Eu me forço a desviar o olhar e é quando meus olhos encontram os de Tawny do outro lado do salão. Seus olhos azuis sustentam os meus: hostilidade e condescendência são lançadas a mim nesse simples olhar fulminante. Ela cruza os braços sobre o peito ao desviar os olhos para Colton e depois retornar a mim. Um sorrisinho zombeteiro ergue um canto da boca quando ela sacode a cabeça de um lado para o outro. Ela é teatral ao olhar para o relógio e bater na face dele antes de me encarar de novo. O tempo está passando, Rylee. Sua hora está quase acabando. Eu me viro de novo para Colton, tendo cuidado para não mostrar nenhuma reação no meu rosto, apesar da raiva cada vez maior. Não há álcool suficiente neste salão no momento para eu conseguir manter uma conversa com ela. Agora viria bem a calhar uma boa conversa preliminar com Haddie. Onde diabos ela está quando eu preciso dela? Começo a tomar o caminho em direção a Colton quando a loira com quem ele está desvia os olhos dele e encontra os meus. Ela mostra o mesmo olhar avaliador de antes, mas desta vez seguido por um lampejo de sorriso insolente. Mais uma mulher que gostaria de me tirar do jogo para que possa partir para cima. Quer dizer, não me parece que ninguém está a fim de esperar nada. Elas não parecem se importar em absoluto em mexer os pauzinhos bem na minha frente mesmo. Preciso de uma trégua de toda essa merda de drama e do incêndio de irracionalidade que está sugando todo meu oxigênio. Decido sair e
tomar um pouco de ar fresco para recuperar a autoconfiança que essas sanguessugas loiras parecem estar tirando de mim pouco a pouco. O olhar de Colton acompanha a biscate número cinco e encontra o meu. Um sorriso ilumina seu rosto quando eu me aproximo, mas vacila de leve quando vê minha cara. – Você está bem? – Aham – murmuro, evitando de propósito olhar para a acompanhante dele. – Só preciso de um pouco de ar – digo, ainda passando por ele sem parar para responder ao olhar questionador em seu rosto. Saio do salão. Consegui alcançar a saída, ilesa. Abro as portas e sugo o ar fresco da noite. É frio, mas mais do que bem-vindo. Preciso dele depois da atmosfera sufocante lá de dentro. Caminho apressada para os jardins que eu havia notado quando chegamos, na expectativa de estarem vazios a essa hora da noite. Na esperança de solidão.
Dezessete
– Rylee! – Colton chama meu nome, mas eu continuo andando. Preciso manter minha distância momentânea dele. – Rylee! – ele repete, e eu ouço o peso de seus passos na calçada ao meu lado. Ecoam das paredes de concreto, confirmando como eu me sinto, que não importa que distância eu percorra, Colton sempre vai estar ali. No pensamento. Na memória. Em tudo. Agora já não vou querer ninguém que não seja ele. Não tenho outra opção a não ser parar quando chego ao fim do caminho. – Pare de correr! – Ele vem ofegando atrás de mim quando me alcança. – Me fala qual foi o problema. Na prática, Colton não fez nada errado esta noite, mas toda a minha angústia e insegurança, acionadas pelas várias mulheres do evento, ferve dentro de mim. Mesmo a mulher mais confiante e segura de si acabaria se sentindo afetada por esse número de admiradoras em uma só ocasião. Eu sei que deveria me sentir confiante na noção de que Colton veio até aqui comigo – e vai embora comigo –, mas, por outro lado, não foi o que Raquel pensou no lançamento do Rum Merit? Preciso ouvir palavras da boca dele. Preciso ouvi-las. E ele ainda não me falou nada disso. Ações podem ser descontruídas. Palavras não… e vamos falar a verdade, sou mulher. A gente não nasceu para ficar lendo nas entrelinhas? Colton faz menção de tocar meu braço e tudo chega ao ponto crucial. Eu me viro. – Quantas, Ace? – grito para ele. Minha respiração cria fumacinhas brancas no ar frio da noite.
– O quê? – Seu rosto é uma mistura de confusão e surpresa. – Quantas o quê? – Quantas ex-casos estão aqui esta noite? – Rylee… – Nem Rylee e nem meia Rylee – berro, recuando de modo a ter o espaço de que preciso com tamanho desespero para manter as ideias claras. – Se você vai me trazer aqui esta noite e desfilar seu rebanho de loiras na minha cara, todas as mulheres que você comeu, o mínimo que você poderia fazer era me avisar antes. – Quando ele começa a me interromper, eu encontro seus olhos, e os meus fazem as palavras enroscarem nos lábios dele. – Já é ruim o suficiente você ter Tawny, sua garota-estepe permanente, que ainda te quer e que está sempre por perto. Trabalhando para você. Empinando os peitos comprados na sua cara. Fazendo de tudo para você saber que ela vai estar disponível para você quando se cansar do sabor do mês. – O olhar de absoluto choque no seu rosto é impagável. Ele faz uma cara como se eu tivesse acabado de revelar que o céu é amarelo. Como assim ele nunca notou? Que ela está disposta? Uma parte de mim relaxa ao saber que ele não enxerga Tawny desse jeito, mas o que dizer de todas as outras da noite? – E então você me traz aqui esta noite para desfilar mais mulheres na minha frente? O mínimo que você deveria ter feito era me avisar com antecedência… me preparar para a carnificina de olhares mortíferos e farpas traiçoeiras. Então quantas, Ace? – exijo saber. – Ou será que eu quero mesmo saber? Colton me olha e sacode a cabeça. O canto dos seus lábios se curva para cima de modo inocente. – Fala sério, Rylee, não é tão ruim assim. A Tawny é só uma velha amiga. Ela trabalha para mim, pelo amor de Deus. E as outras… apenas frequentamos os mesmos círculos. Acabamos nos encontrando de vez em quando. – Ele dá um passo em minha direção, e um sorriso lascivo se espalha por seu rosto lindo. – Você só está frustrada porque está na seca… – Ele se aproxima mais, e sua voz é sugestivamente suave. – E tem desejos. Você está sexualmente frustrada. Eu o encaro boquiaberta. Ele acabou mesmo de dizer isso? Essa é a porra da resposta dele ao meu motivo por estar tão aborrecida? A por que estou no limite? Eu preciso gozar e isso vai deixar tudo certo
outra vez? Depois disso, todas as putas dele vão recuar e se enterrar nos buracos onde elas estavam escondidas? – Vem aqui, me deixa cuidar disso pra você. – Ele estende a mão, ignorando o quanto estou zangada por esse comentário insensível e tenta me puxar para junto de si. Por mais que eu queira que ele cuide dessa dor que me queima por dentro, por mais que a intimidade com ele vá mitigar as dúvidas que eu tenho em relação ao que ele sente por mim, minha raiva e dignidade superam minhas necessidades. Eu me livro da mão dele e dou um passo atrás. O rosto de Colton fica encoberto pelo choque. A boca se entreabre enquanto ele me encara. – Você está me dizendo não? – Ele pergunta com incredulidade. Faço um ruído de desdém. – Um novo conceito para você, sem dúvida, mas sim. – Suspiro. – Estou dizendo não. Ele me encara por um momento, estreita os olhos e depois seu rosto relaxa com a tomada de consciência. – Você tem mais resistência do que eu. Já entendi o que está tentando fazer aqui – ele murmura, sacudindo a cabeça e, por algum motivo, eu tenho a sensação de que ele pensa que estou brincando. Que estou dizendo não só para me fazer de difícil. – Sexo não vai resolver as coisas, Colton. – Inspiro e solto o ar bufando. Esfrego as mãos para cima e para baixo pelos braços para me proteger do frio. – Pelo menos um pouquinho eu acho que sim – ele brinca, tentando arrancar um sorriso de mim. Enquanto eu continuo a fulminá-lo com o olhar, sacudindo a cabeça e suspirando fundo, ele murmura um palavrão e se afasta alguns passos de mim. Coloca a mão no pescoço e puxa ao mesmo tempo em que inclina a cabeça para o céu e solta a respiração ruidosamente. – Merda! – murmura, antes de ficar em silêncio por um segundo. – Não posso mudar meu passado, Rylee. Eu sou quem eu sou e não posso mudar isso. Você sabia disso quando entrou nessa e começou toda aquela maldita conversa de não ser capaz de aceitar a única coisa que eu posso te dar. – O quê? Então agora voltamos a isso? A um acordo? Não sou nenhuma das suas putas, Colton. Nunca fui. Nunca vou ser. – Minha
voz rasga o silêncio da noite ao nosso redor. Ele dá outro passo em minha direção, baixando a cabeça e olhando para o chão em sua frente, mandíbula cerrada ao encontrar as próximas palavras. Quando por fim ele fala, sua voz é inflexível. – Eu te disse que ia foder com tudo. Suas palavras, sua desculpa, na esteira de tudo o que aconteceu hoje me encolerizam. – Pare de bancar o mártir! – grito para ele. – Porra, vê se cresce e para de usar seu mecanismo de defesa como desculpa, Colton! – As palavras saem antes que eu possa controlá-las, pois a raiva suplanta o bom senso. Ele ergue a cabeça num movimento brusco, e quando seus olhos encontram os meus, fulguram de raiva. Ele dá um passo atrás. A distância física serve apenas para enfatizar o desapego emocional que eu sinto acontecer. Sei que devo estar exagerando. Mas essa consciência não faz nada para impedir as emoções desenfreadas que vêm correndo em minha direção. – Foda-se – murmuro. – Se você já teve sua dose de mim e não me quer mais… se você prefere uma das loiras esculturais lá dentro, então seja homem e fala na minha cara! Ele não diz nada, apenas fica ali sentado, mandíbulas cerradas, ombros tensos e olhos que me encaram. Uma mistura de reações cruza seu rosto sombreado. Não sei o que espero que ele diga, mas eu esperava que ele ao menos dissesse alguma coisa. O pensamento de que talvez ele brigasse para me segurar com ele, para provar que eu valho a pena. Acho que, se eu vou fazer ultimatos, tenho que estar preparada para sustentá-los. Medo serpenteia pela minha coluna quando ele não emite som nenhum. Eu o encaro, querendo que ele fale. Para provar que estou errada. Para provar que estou certa. Qualquer coisa. Mas ele não diz nada. É apenas a carapaça de um homem me encarando com olhos sem emoção, lábios silenciosos e paciência cada vez menor. Sou invadida pela raiva. Consumida pela dor. O arrependimento pesa. Eu sabia que isso iria acontecer. Ele tinha previsto e eu ignorei. Eu achei que era suficiente para mudar o desfecho. – Sabe de uma coisa, Colton? Vá se danar! – berro, as únicas palavras que consigo verbalizar para retratar como me sinto. Não
soam muito inteligentes, mas é o que eu tenho. – Só me fala alguma coisa antes de me dar as costas e pular para a próxima candidata disposta… além do óbvio, o que foder essas mulheres significa para você, Ace? – Eu me aproximo dele, querendo ver a reação em seus olhos, precisando ver algum tipo de resposta. – Que necessidade isso preenche que você se recusa a confessar. Você não quer mais que isso? Não merece mais desse tipo de conexão do que apenas um corpo quente e um orgasmo relâmpago? – Quando ele não responde, mas demonstra irritação no rosto, eu continuo. – Está bem, não responda a essa pergunta. Responda a esta outra: Você não acha que merece mais? Vejo dor nos olhos de esmeralda e um lampejo de algo mais escuro, mais profundo, mais sombrio, e eu sei que acabei de mexer algo dentro dele. Machucá-lo. Mas eu também estou machucada. Ele permanece em silêncio, e isso me deixa ainda mais irritada. – O quê? Você é covarde demais para responder? – provoco. – Bom, eu não sou! Eu sei que eu mereço mais, Colton! Eu mereço muito mais do que você está disposto a experimentar. Você está perdendo a melhor parte de estar com alguém. Todas as pequenas coisas que fazem os relacionamentos especiais. – Jogo os braços para o alto a fim de enfatizar meu ponto de vista. O tempo todo ele me observa, rosto de pedra e mandíbulas cerradas. Ando de um lado para o outro na frente dele, tentando conter minha frustração reprimida. – Seu limite de tempo de quatro, cinco meses, não te dá nada disso, Ace. Não te dá o conforto de saber que alguém gosta de você a ponto de ficar do seu lado mesmo quando você está sendo irracional. Ou um babaca. – Meu sorriso é de desdém. Meu sangue pulsa e meus pensamentos vêm tão depressa que eu não consigo cuspi-los rápido o bastante. – Você se priva de saber o que é se entregar, entregar mente, corpo e alma para alguém. O que é estar completamente nu, exposto e altruísta, quando está completamente vestido. Você não entende como nada disso é especial – vocifero, percebendo como ele está tristemente desprivilegiado em suas escolhas. – Bom, eu sei. E é isso o que eu quero. Por que as coisas sempre são o que você quer? E quanto a mim? Eu não mereço sentir como eu me sinto e não me conter por causa de umas regras impostas?
Ele apenas me encara, corpo tenso, voz silenciosa, e eu o sinto escapar entre meus dedos. Uma lágrima rola silenciosa pela minha bochecha, minha respiração ofegante solta fumaças esbranquiçadas depois da minha diatribe verbal. Não me sinto nada melhor, porque nada foi resolvido. A parede atrás da qual ele se escondeu por tanto tempo – por cima da qual ele tem espiado pouco a pouco – é de repente reforçada com aço. Olho para ele, para o homem que eu amo, e meu peito fica tenso. O coração se contorce de dor. Era disso que eu tinha medo. O que minha cabeça e coração lutavam contra. E, ainda assim, aqui estou eu, amedrontada e ferida, mas ainda lutando por ele, porque Teagan está certa. Ele é tudo isso de bom. Suas palavras correm pela minha cabeça. Você me queimou, Rylee. Você. Isso. Me deixa apavorado, Rylee. Será que algum dia eu vou ter o suficiente de você? Dou um passo adiante, querendo tocá-lo. Ansiando por qualquer tipo de conexão, precisando lembrá-lo dessa fagulha entre nós quando nos tocamos e tentando impedir que ele suma por entre meus dedos. Como tentar agarrar o vento. Estendo as mãos trêmulas, seus olhos seguem o movimento e pousam no seu peito. Sinto-o ficar rígido em resposta, um tapa figurado na minha tentativa de me conectar a ele que me empurra para o precipício. Meus olhos faíscam para os dele, e eu vejo que ele sabe o quanto que me ofendeu com esse pequeno titubear: a rejeição não verbal que disse tudo. Por instinto, ele estende os braços para me envolver, para tentar me apaziguar, e eu não posso deixar isso acontecer. Eu não posso deixá-lo me puxar para o único lugar onde eu quero estar mais do que qualquer outro lugar neste momento, porque nada entre nós mudou. E eu sei que, se estiver envolta por seus braços, vou sucumbir a tudo de novo para não perder aquilo que mais temo – ele. Mas eu mereço Colton inteiro, o que ele não consegue – não de boa vontade – me dar. Empurro seu peito, mas as mãos apertam meus ombros. Ele tenta me puxar para si, mas eu resisto. Quando ele não reage… eu perco a cabeça. – Lute, droga! Lute, Colton! – grito. O desespero transparece na
minha voz que fraqueja e na ameaça das minhas lágrimas. – Por você. Por nós. Por mim – imploro. – Você não pode me mandar embora. Você não pode virar as costas sem pensar duas vezes. – Ainda estou tentando resistir a suas mãos, mas o dique se rompe e minhas lágrimas transbordam. – Eu sou importante, Colton. Eu mereço o mesmo mais que você merece. O que temos aqui não é insignificante! Tomada de emoção, eu me entrego às lágrimas, aos medos, ao vazio que espreita. Paro de resistir e ele me pega nos braços e me puxa para junto de si. Suas mãos sobem e descem pelas minhas costas, braços e pescoço. O sentimento é conflitante, pois sei que é passageiro. Sei que as palavras que desesperadamente eu quero e preciso ouvir – que isso é alguma coisa… que somos alguma coisa… qualquer coisa para ele – nunca vão ser pronunciadas. Então eu gravo a memória desse momento na minha consciência. Seu calor. A aspereza dos dedos calejados na minha pele nua. A mandíbula cerrada na minha têmpora. O timbre dos murmúrios baixinhos. O cheiro. Fecho os olhos e absorvo tudo isso porque sei que eu o assustei. Sei que estou pedindo demais, quando há tantos outros desejando se contentar com muito menos. – Rylee… – Meu nome é um sussurro quase inaudível agora sobre minhas novas lágrimas secas. Fico em silêncio, e minha respiração irregular é o único som da noite. Eu me inclino para trás, sentindo suas mãos nos meus ombros me guiarem para que ele possa ver meu rosto. Eu me fortaleço antes de erguer os olhos e encontrar os dele. Vejo medo, confusão e incerteza neles, e estou esperando que ele verbaliza o que está na ponta da língua. Seu conflito interno brinca no rosto normalmente estoico, antes que ele o controle. Meu peito dói quando tento sugar o ar e me preparar porque o que eu vejo me deixa em pânico. Ele está negando todo o meu futuro porque está se preparando para me deixar. Para dizer adeus.
Para me devastar. – Eu mereço mais, Colton. – Solto a respiração, tremendo a mão quando uma única lágrima trilha pela minha bochecha. Seus olhos acompanham antes de se voltarem para mim e, por um momento, amolecem com a preocupação. Sua garganta trabalha para engolir em seco e ele balança a cabeça para concordar comigo. Coloco a mão no seu queixo. Seus olhos acompanham meus movimentos. Sinto os músculos do maxilar ficarem rígidos debaixo da minha palma. – Eu sei que esse é todo o motivo por você ter suas regras e estipulações, mas eu não posso mais me submeter a elas. Eu não posso mais ser essa garota pra você. Abaixo a cabeça depois do último comentário, evitando os olhos dele porque não aguento ver a reação. Querer e não receber uma reação, ou querer e ser rejeitada. Ambos vão dilacerar meu coração mais do que ele já está ferido. Dou um suspiro fundo, olhos focados intensamente no bolso do smoking e minha mente se perde pensando em como as coisas pareciam simples apenas algumas horas atrás, quando ele estava com pouca roupa e eu estava com muita roupa. Seus dedos ficam tensos no meu bíceps, e eu me forço a olhar para ele de novo, feliz que tenha feito isso, pois seu olhar tira meu fôlego. Meu lindo bad boy parece uma criança: em pânico, petrificado. Eu luto para encontrar as palavras, pois ficar aqui com esse olhar dele; parece exatamente um dos meus garotos traumatizados. Levo um instante, mas enfim consigo encontrar minha voz. – Me desculpa, Colton. – Balanço a cabeça. – Você não fez nada de errado esta noite além de ser o homem que você é… mas ver suas ex aqui esta noite, ainda querendo mais… – Suspiro. – Não quero virar uma delas daqui a três meses. Do lado de fora, com olhos pidões. Não posso mais ficar parada e obedecer cegamente aos parâmetros que você dita. – Ele sacode a cabeça de um lado para o outro, rejeitando a ideia automaticamente, e eu nem sequer acho que ele se dá conta de que está fazendo isso. As mãos ficam mais firmes nos meus braços, mas ele não diz nada para refutar o que estou dizendo. – Não estou pedindo seu amor, Colton. – Minha voz mal é um sussurro quando eu falo, mas minha consciência grita para mim que é exatamente o que estou pedindo. Que eu quero que ele me ame do
jeito que eu o amo. Seus olhos se arregalam diante da minha confissão. Ele inspira brusca e ruidosamente. – Não estou nem pedindo por comprometimento de longo prazo. Eu só quero poder explorar seja lá o que for isso entre nós sem me preocupar em cruzar fronteiras imaginárias que eu nem sei que existem. – Eu o encaro, desejando que ele dê ouvidos às minhas palavras. Que realmente dê ouvidos ao que estou dizendo, não apenas ao que ele quer ouvir. – Estou pedindo para ser sua amante, Colton, não o seu felizes para sempre e nem seu acordo estruturado. Eu só quero uma chance… – Minha voz some no final, pedindo o impossível. – Que você me diga que vai tentar… – Você nunca foi um acord… – Vamos dar nome aos bois. – Arqueio as sobrancelhas para ele, tentando invocar o fogo que percorreu minhas veias momentos antes, que foi substituído por desolação. – Você tem um jeito habilidoso de me colocar no meu lugar sempre que eu cruzo uma das suas barreiras idiotas. Nós nos entreolhamos, palavras não ditas nos nossos lábios. Ele é o primeiro a desviar o olhar e interromper nossa conexão. Então tira o casaco do smoking, envolve ao redor dos meus ombros, sempre o cavalheiro consumado mesmo no meio da turbulência, mas se antes seus dedos normalmente se demorariam na minha pele, ele se encolhe instantaneamente. – Eu nunca quis te fazer sofrer, Rylee. – Sua voz falha com uma vulnerabilidade latente que eu nunca ouvi antes. Que eu nunca esperei dele. Colton abaixa a cabeça, e a sacode de leve, murmurando porra para si mesmo. Uma sensação de déjà-vu da noite no quarto de hotel me invade, e todo o ar some dos meus pulmões como se eu tivesse levado um soco. – Eu não quero te fazer sofrer mais. É isso. Ele vai terminar bem aqui, bem agora. Fazer o que eu não consigo fazer sozinha nem pela minha vida. Pressiono a base da mão no meu peito, tentando aliviar a dor que me queima por dentro. Ele passa a mão pelo cabelo. Eu estremeço com a expectativa, querendo que ele continue, mas esperando que não faça isso. Ele ergue a cabeça e, relutante, encontra meus olhos. Colton está desnudo – assombrado,
desolado. As emoções são tão transparentes nos seus olhos que é difícil de sustentar seu olhar. E, neste momento, eu me dou conta. Percebo que eu o estava repreendendo por não lutar por mim, mas será que alguém alguma vez lutou por ele, a não ser os pais? Não pelas posses materiais ou pela notoriedade, mas pelo garotinho que ele era e pelo homem que ele é agora? Pelos anos de maus-tratos e negligência, que tenho certeza de que ele enfrentou. Será que alguém alguma vez lhe disse que o amava não a despeito disso, mas por causa disso? E que todas essas experiências combinadas, de fato, o fizeram uma pessoa melhor. Um homem melhor. Que o aceitavam apesar disso – cada parte enlouquecedora, confusa e acolhedora dele. Aposto que ninguém fez isso. E, por mais que eu esteja sofrendo e queira gritar com ele em resposta, uma parte de mim quer deixá-lo com algo que ninguém jamais lhe deu. Algo que o fará se lembrar de mim. – Por você, Colton… – Minha voz pode ser baixa quando eu falo, uma resignação do nosso futuro, mas minha honestidade transparece em alto e bom som. – Eu faria uma tentativa. – Posso ver seu corpo visivelmente ficar tenso diante da minha admissão. Seus lábios se abrem de leve, e a tensão deixa sua mandíbula, como se ele estivesse chocado por eu querer fazer uma tentativa com ele. Por eu acreditar que ele é digno do risco. Colton dá um passo em minha direção e coloca a mão com cautela no meu maxilar. Ele encara meus olhos com uma intensidade irrestrita. Seus lábios se abrem várias vezes para dizer algo, mas se fecham sem som. Eu inalo o ar bruscamente em ressonância ao seu toque, que termina na carícia do polegar no meu lábio inferior – a aspereza dos dedos calejados contra a maciez dos meus lábios. Uma tristeza horrível me domina quando eu me dou conta de que áspero e macio, de certa forma, é muito da nossa relação. – Por você, Rylee – sussurra com a voz quase falha. Suas mãos normalmente firmes tremem muito de leve nas minhas faces, e eu juro que consigo ver o medo reluzir em seus olhos antes de piscar para afastar a umidade que se acumula neles. – Eu vou tentar. Ele vai tentar? Minha mente precisa mudar de marcha tão depressa que eu fico desorientada. Isso sim que é passar do incrivelmente
lento para o inesperado veloz. – Você vai tentar? – pergunta minha voz entrecortada, sem acreditar nos ouvidos. Apenas um traço do sorriso malandro de canto de boca, o que eu acho irresistível, curva um canto de sua boca, mas eu ouço a trepidação em seu tom. – Sim – ele repete. Seus olhos ardem nos meus até os meus fecharem quando ele se aproxima mais de mim e me dá o beijo mais gentil e reverente que eu já recebi. E então ele beija a ponta do meu nariz antes de apoiar a testa na minha. Sua respiração assobia nos meus lábios, e seu coração tatua uma batida frenética no meu peito, ao mesmo tempo em que minhas entranhas dão saltos de felicidade, transbordando de esperança. Puta que pariu! Colton vai tentar. Ele vai lutar por nós. Por mim. Por ele. Há tantas coisas não ditas debaixo de sua declaração. Tanta promessa, medo, vulnerabilidade e disposição a superar o que for que infeste seus sonhos à noite e que assombre suas memórias sem cessar. Apenas para tentar e ficar comigo. Colton baixa a cabeça e me beija de novo. Um beijo leve, lento e uma dança de línguas tão carregada de palavras não ditas que fazem lágrimas brotarem nos meus olhos. Ele finaliza beijando meu nariz outra vez e então me puxa para junto de si num abraço esmagador. Suspiro, recebendo seu calor, sua força, e desfrutando de como a linha longa e esbelta de seu corpo se encaixa perfeitamente nas minhas curvas. Bebo seu cheiro e o som de seu coração batendo no meu ouvido. Ele abaixa o rosto, face esfregando minha têmpora, ao emitir um suspiro que soa semelhante a um juramento murmurado. E eu juro que ele parece murmurar algo sobre vodu de boceta, mas, quando levanto a cabeça e olho para ele, Colton apenas nega e sorri. – O que eu vou fazer com você, Rylee? – Ele me abraça mais forte, provocando arrepios na minha coluna. O que eu vou fazer? – Ele suspira de novo e eu suprimo uma risada abafada ao me mexer junto dele. A mistura do seu corpo no meu, o alívio de saber que ele vai tentar, e que a expectativa crescente da noite me deixou mais do que desesperada por um mero abraço platônico no jardim. Como uma simples declaração pode me deixar sem fôlego com toda a expectativa e desesperada por seu toque, emocional e
fisicamente? Ele desce um dedo pela linha do meu pescoço, antes de mergulhá-lo no meu corpete e depois continuar descendo num caminho longo e torturante para baixo, partindo a fenda do vestido no meu sexo hipersensível. Seus dedos habilidosos me fazem chorar e querer e, quando ele me toca, eu juro que já estou pronta para me estilhaçar em um milhão de fagulhas de prazer. O efeito me provoca um gemido estrangulado. Eu me aperto mais nele, testa pressionando-lhe o peito, minhas mãos agarrando seu bíceps. Não sei se minha receptividade é da disposição que Colton tem de tentar, ou do assalto de sensações, mas meu corpo sobe no precipício mais rápido do que o normal. Estou tão perto. Tão perto do limite que cravo as unhas em seus braços. Colton desliza o dedo para a frente e para trás mais uma vez antes de emitir um grunhido feérico. – Ainda não… Eu quero estar enterrado dentro de você quando você gozar, Rylee – ele murmura contra a coroa da minha cabeça. – Estou desesperado para isso. Sugo o ar ruidosamente. Meus músculos estão tão rígidos e meus nervos tão acesos com a sensação do seu corpo no meu que eu não posso me conter. Eu me lanço nele como uma viciada precisando de mais uma dose. Agarro sua nuca com uma das mãos, automaticamente me enredando em seus cabelos, e baixo mais seu rosto para eu poder encontrar sua boca. Minha outra mão alcança o comprimento da ereção cada vez maior dentro das calças. Seu gemido gutural me diz que ele está refém de tanto desejo quanto eu. Beijo-o com desespero faminto, com uma paixão que se desfralda entre nós, e entrego tudo o que estava contendo na união das nossas bocas. Ele serpenteia a mão entre o casaco que estou vestindo e meu vestido, e suas mãos mapeiam as linhas da minha bunda e dos quadris, incitando uma necessidade tão forte que me deixa sem sentido e sem fôlego. – Colton – gemo ao sentir seus beijos trilhando a linha da minha garganta, disparando terremotos de sensações no meu corpo. – Carro. Estacionamento. Agora – ele diz entre beijos repletos de desespero. A autocontenção já não existe mais. Concordo com um gemido incoerente, mas meu corpo não quer
ceder nem soltar. Sua mão agarra meu cabelo e puxa para baixo, fazendo-me empinar o rosto. O desejo sombrio encobrindo seus olhos faz minhas coxas se apertarem uma na outra, implorando alívio. – Ry? Se a gente não for agora, você vai acabar dobrada naquele banco ali, em plena vista desses quartos de hotel. – Seu alerta carregado de desejo me faz engolir com força. Ele me beija de novo, de leve desta vez, e sua língua traça a linha do meu lábio inferior. – Você aniquilou meu controle, querida. Elevador. Agora – ele ordena. Colton me puxa ao seu lado, mão firme no meu quadril enquanto andamos depressa. Com a mão livre, Colton pega o iPhone do bolso. – Sammy? Onde está a Sexo? – Ele ouve por um momento. – Perfeito, está ótimo. – Ele ri alto, e o timbre ecoa pelas paredes de concreto pelas quais passamos. – Como se você tivesse lido minha mente. Você é foda, Sammy. Tá. Eu te falo. – Ele devolve o telefone ao bolso ao alcançarmos um caminho e eu fico perdida em relação à conversa que ele acabou de ter. Colton olha para a esquerda e depois para a direita, pesando as opções com uma urgência forçada antes de dar uma guinada para a direita. Em instantes, estamos num elevador nos arredores do estacionamento de concreto. As portas de um cinza monótono se fecham. A presença de Colton domina o pequeno espaço e, antes que o elevador comece a subir, ele me imprensou na parede com os quadris, e sua boca banqueteia com uma carnalidade nua e crua. Não tenho tempo nem sequer de recuperar o fôlego antes de o elevador apitar. Ele arrasta a boca da minha, e me deixa trêmula com o desejo que tudo consome.
Dezoito
Quando saímos do elevador, uma risadinha escapa dos meus lábios. Quem diabos é essa garota em quem eu me transformo quando estou com Colton? Essa mulher destemida, lasciva e tão segura da sua sexualidade? Com certeza eu não era ela uma hora atrás. Eu juro que é o efeito Colton. Levo um susto quando viramos num corredor e damos de cara com Sammy esperando ali. – Oi, Sammy – cumprimento, tímida, pois mais uma vez ele está me vendo em pleno caminho da indecência incitada por Colton. Ele acena com a cabeça, e seu rosto permanece estoico quando entrega o molho de chaves para Colton. – Valeu. A barra tá limpa? – pergunta Colton. – A barra tá limpa – Sammy assente, antes de entrar no elevador. – Venha – Colton me instrui ao puxar minha mão e me fazer acabar ao seu lado à força antes de seus lábios encontrarem os meus novamente num beijo ganancioso. Eu empurro para trás momentaneamente, a despeito dos protestos, e dou uma olhada nos nossos arredores para garantir que não temos uma plateia desavisada. Meus olhos se focam imediatamente no esportivo vermelho reluzente, sexy como o pecado, no canto oposto. Não sou muito chegada em carros, mas sei que, se esse é o nome dela, sem dúvida combina. Desvio os olhos do carro, surpresa de encontrar a garagem monocromática completamente vazia. – Como…? – Colton apenas mostra um sorriso maroto do tipo “é bom ser eu” e eu nego com a cabeça. – Sammy?
– Aham. – Sua mão sobe pela minha cintura e apalpa um seio por trás do vestido. Suspiro com um gemidinho em resposta à sensação atenuada pelo tecido, querendo seu corpo, nu e em movimento, no meu. Dentro do meu. – Ah, Colton… – Suspiro, virando gelatina nas mãos dele, sentindo seus dedos penetrarem debaixo do tecido. – Aquele cara precisa de um aumento – murmuro enquanto cruzamos a garagem desolada meio andando e meio nos apalpando às cegas. Colton dá uma gargalhada em resposta ao meu comentário, e o som se mistura ao tamborilar dos meus saltos altos que ecoa pelas paredes. Deixo de lado a sensação incômoda na minha cabeça de querer saber o que mais Sammy deve ter visto enquanto esteve empregado por Colton. Isso foi o passado. O passado dele. E agora, ele é meu futuro. Tudo o que importa agora é que Colton está disposto a tentar. Alcançamos o carro, e eu sinto alívio por podermos sair daqui. Neste momento, estou sendo egoísta. Não estou pensando sobre o evento beneficente acontecendo lá embaixo nem nada. Só consigo me focar nas sensações que giram dentro de mim, as que eu preciso que sejam correspondidas, à medida que conduzo nossos corpos ao lado do passageiro. Mas Colton fica parado – não arreda o pé –, apenas mantém minha mão na sua e nossos braços estendidos em conexão. Olho para ele. Seus olhos perpassam a frente do carro e depois voltam para mim. O sorrisinho lascivo que curva os cantos de sua boca tira meu mundo do prumo. – Nã-não – ele me diz. Fico confusa. O quê? Agora ele não quer… oh… Oh! Oh, merda! Ele reconhece o minuto em que entendo sua intenção. – Você. Aqui. – Ele aponta para o capô reluzente e vermelho do carro. Eu ruborizo e hesito, lembrando-me do comentário impulsivo na Starbucks, que agora parece ter acontecido anos atrás, sobre como eu queria transar com ele no capô do carro. – Agora! – ele rosna. Eu e minha boca grande. Dou uma olhada em volta e engulo em seco antes que meus olhos reencontrem os seus. Sempre de volta aos seus.
– Aqui? – Aqui. – Colton abre um sorrisinho e faz um arrepio disparar pelo meu corpo. – Já vou te corromper. – Mas… – Não questione, Rylee. Se você obedece a todas as regras, linda, acaba perdendo toda a diversão. – Só Colton poderia citar Katharine Hepburn num momento como esse e fazer parecer sedutor e sexy. Seus olhos dançam com a adrenalina do que estamos prestes a fazer. Até parece que eu vou desprezar a chance de estar com ele. Depois desta noite – a limusine, a crescente expectativa, o fato de que ele vai tentar – nada no mundo me faria pular fora. Não tenho um instante para ficar preocupado com a nossa localização, pois ele me agarra e aferra os lábios nos meus. Sinto o gosto do seu desejo. A fome. A impaciência. A disposição. A mistura é uma combinação inebriante que gela minha coluna e arrepia minha pele toda quando ele me faz andar de costas. Nossos lábios se separam apenas para ele sussurrar promessas indecentes do que ele quer fazer comigo. Será que ele vai me foder forte? O quanto ele quer que eu grite? Quantas vezes ele planeja me fazer gozar. Como eu sou insanamente linda. Como ele anseia para sentir meu gosto. A parte atrás dos meus joelhos atinge o para-choque dianteiro do carro e ele desliza o smoking dos meus ombros. Pega o casaco e o coloca aberto sobre o capô do carro atrás de mim, enquanto eu tento abrir o zíper das suas calças, embora minha destreza seja arruinada por esse calor líquido que me preenche. – Rápido – ele exige, e sua voz é entrelaçada com uma necessidade angustiada. Dou risada, mas há um toque histérico no meu desespero. Suas mãos param quando ele recua da nossa proximidade tão grande e me olha nos olhos. Um momento de calma entre uma tempestade de necessidade. Ele passa os dedos pela minha face. Há um sorriso de descrédito no seu rosto e um olhar nos seus olhos… um olhar que diz que ele não consegue acreditar que sou real. Que isso é real. Ele sacode a cabeça e sua boca se curva de um dos lados, ressaltando a covinha. E, com os olhos travados nos meus, ele passa a mão pelo meu cabelo e o agarra. Inclina minha cabeça de lado, expondo a
curva do meu pescoço. E então a necessidade e o desejo tomam as rédeas quando ele baixa a boca para o espaço da minha pele nua. Os sentimentos, as sensações, as emoções – tudo me domina, me consome. Fecho os olhos. Meu corpo fica mole e se aquece ao mesmo tempo. Sinto Colton pulsar nas minhas mãos e elas acordam para a vida, enfim trabalham para que eu consiga lhe abaixar as calças para libertar o membro ingurgitado. Ele sussurra uma litania incoerente em apreciação, quando meus dedos o envolvem e dançam sobre sua pele quente. – Rylee. Por favor. Agora. – Ele ofega, intercalando beijos de boca aberta. Minhas mãos continuam a tortura de prazer, ao mesmo tempo em que eu sinto Colton amontar a barra do meu vestido até conseguir pôr as mãos por baixo e segurar minha bunda. Sinto o calor dos dedos de Colton ao afastarem minhas pernas, e fico tensa, sabendo que seu toque é tudo o que eu preciso para chegar ao limite. Seus dedos acariciam minha pele e encontram o destino, me fazendo gritar ao senti-los provocar e torturar. Cravo as unhas em seus ombros quando minhas pernas começam a tremer, respondendo à pressão cada vez maior dentro de mim. – Colton – sussurro quando o prazer toma conta de mim: um alarido no fundo da minha garganta é o único som que consigo fazer à medida que ele me leva mais e mais alto. Sua boca captura a minha de novo quando levanto a cabeça, o calor de seus dedos habilidosos me rasga e queima cada nervo imaginável no meu corpo. Meu fogo é aceso quando ele insere dois dedos nas profundezas do meu sexo com uma das mãos, enquanto a outra agarra meu quadril possessivamente. Dedos ferventes afundam na pele ardente de desejo. Estou tão excitada, tão próxima do clímax, que não demora muito para eu despencar numa queda livre de êxtase. Toda a expectativa, os flertes, os altos e baixos da noite intensificam a mistura de sensações que estilhaçam em mim. Colton põe a mão no meu pescoço, e pousa o polegar debaixo do meu queixo, enquanto meus olhos se entreabrem. O simples roçar do polegar ali é como colocar gasolina num incêndio. Meu corpo fica tenso de novo durante outra onda de prazer que pulsa por mim. Seus
olhos nunca desviam dos meus. Os olhos de Colton reluzem e se acendem com luxúria ao me observar recuperar algo que se pareça com equilíbrio na terra que ele acabou me fazer mover debaixo dos meus pés. Antes que eu sequer possa compreender o que está acontecendo, o autocontrole de Colton evapora, ele me empurra de costas sobre o smoking por cima do metal frio e envernizado do capô. Então pega meus quadris, empurra meu vestido para cima de forma que fico vestida da cintura para cima e nua da cintura para baixo, exceto pelas cintas-ligas e meias. Ele ergue meu quadril para se equiparar à altura do seu, de modo que meus ombros e pescoço apoiem-se na seda fresca do casaco. Seus olhos percorrem minha pele desnuda. – Meu Deus do céu, mulher – murmura sua voz rouca de desejo quando fecho os olhos para me deleitar na necessidade que ele está prestes a satisfazer porque, embora eu tenha gozado, meu corpo arde desesperadamente para tê-lo dentro de mim, me preenchendo e me esticando para alcançar a sublime satisfação. – Abra os olhos, Rylee – ele ordena ao colocar a mão de aço na minha entrada. Perco o fôlego com a sensação, mas preciso de mais. Sempre preciso de mais e nunca consigo ter o suficiente dele. – Quero ficar vendo você enquanto eu te possuo. Quero ver esses olhos seus ficarem enevoados de desejo. Meus olhos se abrem de repente e se fixam nos seus. Minha boca fica seca do desejo absoluto refletido nos dele. Neste momento, a calmaria que antecede a tormenta, sou irrevogavelmente sua. Grito em uníssono ao gemido gutural que Colton solta ao me penetrar numa só investida escorregadia, segurando-se no fundo ao mover o quadril contra minha pélvis. Fico tensa com a invasão e o salto dos sapatos mergulham no seu traseiro. Meu canal escorregadio apertando-se ao redor dele a espasmos dos seus quadris. – Ah, Rylee – grunhe, a cabeça tombada para trás, os lábios entreabertos e a face tensa de prazer. Então ele começa a se movimentar. Realmente movimentar. Encaixando-se no meu corpo, dentro de mim, de modo que cada penetração devasta meus sentidos. Só me resta absorver as sensações impossíveis que ele extrai de mim a cada estocada,
cavalgar na investia quente e veloz junto com ele. A jaqueta debaixo de mim serve como um tipo de escorregador. Com cada investida eu deslizo para trás e para cima sobre o capô, e logo sou puxada de volta contra ele para iniciar uma descida deliciosa e empurrada de volta mais uma vez. O movimento provoca uma miríade de sensações esmagadoras que só servem para persuadir meu orgasmo a vir mais depressa. Mais intenso. Mais rápido. Meus músculos apertam em torno dele. Levanto a cabeça e vejo nossa união, vejo os fluidos da minha excitação revestindo-o quando ele se retira de mim e mergulha de volta. E a visão do que faço com ele, do que ele faz comigo, é incrivelmente sexy. – Colton – gemo numa respiração afetada, quando um de seus dedos roçam meu clitóris. Meu corpo estremece ao seu toque. – Você. É. Minha. Rylee – ele rosna entre investidas. – Fala. Fala que você é minha, Rylee – ele exige. – Colton. – Suspiro quando meu corpo é mergulhado no prazer que me inunda. Seus dedos se cravam nos meus quadris ao mesmo tempo em que seus músculos ficam tensos e eu sou capaz de alcançar a superfície momentaneamente. – Sim. Sua. Colton – ofego entre as estocadas. – Eu sou. Sua! – grito ao me afogar no calor líquido de êxtase, ao mesmo tempo em que ele chega ao clímax com um gemido áspero e derrama meu nome dos lábios. Alguns momentos se passam, mas nosso peito ainda sobe e desce em busca de ar. Nossos corpos ainda pulsam com a adrenalina da união. Abro os olhos pela primeira vez. Colton ainda está segurando meus quadris, seu pau ainda está dentro de mim, mas, fora isso, ele continua completamente vestido. Diante de mim, tão alto, tão imponente. Não é à toa que ele domina tanto meus pensamentos quanto o meu coração. Meu tudo. Meu mundo inteiro. Seus olhos se abrem lentamente e me olham através das pálpebras pesadas, com um sorriso enigmático espalhando-se preguiçosamente nos seus lábios. Ele exala um suspiro saciado, e nós dois estremecemos quando ele se retira antes de, lentamente, abaixar as minhas pernas. Colton agarra meus braços para me ajudar a me levantar. O casaco debaixo de mim desliza do capô do carro.
Meu vestido faz um som estranho contra a pintura impecável conforme ele me puxa para cima, e eu suspiro em voz alta. Na minha necessidade desesperada de ter Colton, nunca passou pela minha cabeça que eu poderia arranhar, ou, ainda pior, amassar o carro. Um carro que provavelmente custa mais do que eu ganho em vários anos. – O que foi, Rylee? – pergunta, olhando por cima do ombro e achando que alguém acabou de testemunhar nossa travessura, e, depois, olhando para mim ao não ver ninguém. – Seu carro… Sexo. – Estremeço; mas, ao mesmo tempo, me sinto ridícula chamando o carro por esse nome. – Espero não ter arranhado a pintura. Colton inclina a cabeça e olha para mim como se eu fosse louca, antes de jogar a cabeça para trás e dar uma risada encorpada. Ele se enfia de volta dentro da calça e a fecha. – Relaxa, linda, é apenas um carro. – Mas… mas vale uma pequena fortuna e… – E pode ser consertado ou substituído se danificado. – Ele se inclina e pega minha boca em um beijo estonteante e, em seguida, recua com um sorriso. – E outra, se danificar, eu posso mantê-lo como lembrança. – Ele levanta as sobrancelhas para mim enquanto endireita o colete e a gravata-borboleta. – Meio que como um souvenir – pondero, alisando meu vestido sobre os quadris. Ele ergue a cabeça e olha para o carro por cima do ombro, antes de olhar para mim. – Um souvenir e tanto, querida. – Ele assobia entre dentes, um sorriso lascivo em seu rosto bonito. – E agora o nome dela tem um significado totalmente novo para mim. – Sim, é verdade. – Sorrio timidamente em resposta quando ele me puxa para si e aperta mais os braços ao meu redor. Colton me olha com aquele sorriso travesso ao qual eu não consigo resistir e que ilumina suas feições e seus olhos intensos e cheios de tanta emoção. Ele planta um beijo suave nos meus lábios, daqueles que não são nada além de lábios nos lábios, tão suave, tão cheio de significado, que faz todo o meu corpo arder da maneira mais doce. Colton recua e coloca o casaco por cima dos meus ombros.
Depois, estende a mão para mim. – Vem. Precisamos voltar ou as pessoas vão querer saber o que estamos fazendo. – Dou uma risadinha de deboche: alta e do jeito mais vulgar. Como se o rubor nas minhas bochechas e o brilho nos meus olhos não deixassem estampado para quem quisesse ver. Ele aperta minha mão enquanto caminhamos em direção ao elevador. Minha cabeça ainda se recupera da intensidade e da emoção do que aconteceu. Colton me puxa para mais perto, ao seu lado. Uma risada escapa de sua boca. – O que foi? – Uma experiência de carro – diz ele, olhando para mim e erguendo as sobrancelhas. Definitivamente foi. – Não. Nem perto disso – devolvo a provocação contra sua tentativa criativa, embora desesperada. Por algum golpe de sorte, conseguimos nos infiltrar de volta na festa um momento após o serviço de jantar ser anunciado. Colton me guia para a nossa mesa indicada, da mesma forma como outros convidados estão tomando seus lugares. Ele puxa minha cadeira e tira o paletó dos meus ombros, colocando-o sobre o espaldar. Noto o sorriso libidinoso em seu rosto quando ele balança a cabeça para mim e se inclina para sussurrar: – Gol. – Não posso conter a risada que surge com o pensamento. Durante o jantar, eu vejo Colton interagir com os outros convidados na mesa, defendendo suas várias causas e, ao mesmo tempo, respondendo a perguntas sobre a próxima corrida. As mulheres mais velhas na mesa ficam encantados com ele, e os homens têm inveja de sua boa aparência e do estilo de vida de revista. Ele é uma mistura de contradições. Emocionalmente fechado e isolado, mas ao mesmo tempo tão aberto e generoso em relação às causas com as quais ele se preocupa. É arrogante e tem uma confiança excessiva, mas apesar disso tem uma vulnerabilidade calma e discreta da qual estou tendo vislumbres quando ele não se fecha. Ele pode confraternizar com os extremamente ricos nesta sala e também compreender um menino traumatizado de sete anos suas necessidades. Colton é impetuoso e agressivo, mas compassivo e
atencioso. E, meu Deus, como ele é capaz de me enfurecer em um momento e depois amolecer meus joelhos no próximo. Sorrio ao ver as abotoaduras de bandeira quadriculada e sei que apenas Colton poderia fazer um acessório tão inovador parecer sofisticado e elegante. Porém, mais do que qualquer coisa, eu me vejo olhando fixamente para suas mãos e me perguntando o que será que elas têm, que me parecem tão incrivelmente sexy. Observo as pontas dos dedos brincarem, distraídas, com a haste da taça de vinho antes de deslizar para cima e cobrir a fina camada de água condensada. Minha mente vagueia para esses dedos, com sua maestria hábil em outras coisas. Quando ergo os olhos, Colton está me observando. Há um olhar divertido nos olhos, e eu sei que ele tem consciência de que meus pensamentos são tudo menos inocentes. Ele levanta a taça aos lábios e toma um gole, sem nunca desviar os olhos dos meus. Então se inclina, e sinto sua respiração a milímetros da minha orelha. – Toda vez que eu tomo um gole, ainda sinto seu cheiro nos meus dedos. Isso está me fazendo contar os minutos até eu poder tomar você do meu jeito, lento e doce, Rylee – ele sussurra. A ressonância em sua voz permeia todos os nervos do meu corpo. – Quero explorar cada delicioso centímetro seu. – Ele pressiona um beijo na minha bochecha. – E então eu vou te foder até você perder os sentidos. – Um grunhido. Meu núcleo se aperta e fica tenso em resposta aos pensamentos que suas palavras evocam. – Ok, por favor – murmuro, e Colton joga a cabeça para trás com uma gargalhada, chamando a atenção das pessoas em nossa mesa. Ficamos sentados pelo resto do jantar e durante o discurso do anfitrião sobre a causa da noite. Colton suspira de alívio quando o aplauso termina e as pessoas começam a se levantar. – Graças a Deus! – murmura baixinho, o que provoca um sorriso no meu rosto. Pelo menos eu não sou a única ansiosa para o encerramento do nosso encontro na garagem. – Está pronta, Ry? – Pronta e disposta – admito, apreciando a forma como minhas palavras o deixam imóvel.
– Disposta é bom – ele sussurra. – Molhada é ainda melhor. – Estou assim a noite toda, Ace – murmuro em resposta, sorrindo para mim mesma quando ouço que ele inspira rápido enquanto me segue através do labirinto de mesas. – Colton! Ei, Donavan! – uma voz grita à nossa direita. Colton xinga para si mesmo quando eu viro o rosto para ele. – Vou tentar ser rápido – diz ele, antes de tocar um beijo casto em meus lábios. Ele se vira e cruza o salão para encontrar o cavalheiro. – Vincent! – Ouço-o dizer em saudação. Os dois trocam um aperto de mãos e tapinhas nas costas, como dois homens que são mais do que conhecidos casuais. Observo-os de longe. Um leve sorriso se desenha no meu rosto, maravilhada que estou com Colton e com o rumo inesperado nos acontecimentos desta noite. – Esse sorriso no seu rosto não vai durar, você sabe – uma voz diz ao meu lado. O som me ofende. Lá vem a chuva para foder com meu desfile. – Que surpresa agradável – digo, meu tom adocicado é envolto em sarcasmo. Mantenho os olhos voltados para a frente, com foco em Colton. – Está se divertindo, Tawny? Ela ignora a pergunta e parte direto para a jugular. – Você sabe que ele já está ficando entediado com você, não sabe? Que já está à procura da próxima transa? Seu riso é baixo e malicioso. Na minha visão periférica, eu a vejo se virar para me encarar, procurando uma reação que eu recuso lhe oferecer. – E você sabe tão bem quanto eu que há um mar de mulheres disputando essa vaga cobiçada. Agora tenho o privilégio da revelação que Colton me fez esta noite, por isso me sinto audaciosa. Já estou farta do veneno da Tawny. – Ah, acredite em mim, eu sei. – Eu sorriso. – Mas não se preocupe, eu não sou tão ingênua quanto você pensa quando se trata das necessidades do Colton. Chapeuzinho Vermelho é que eu não sou. – Ouço Tawny respirar num movimento brusco e audível ao perceber que eu ouvi a conversa. Colton ergue os olhos e encontra os meus. Um olhar interrogativo cruza seu rosto quando ele vê quem está ao meu lado. Sorrio docemente para ele, como se tudo estivesse
sob controle. Afinal, já, já vai estar. – Seu tempo está acabando, Rylee – ela antagoniza. Tomo um gole de champanhe da minha taça e escolho com muito cuidado minhas próximas palavras, minha voz baixa e rancorosa. – Bom, então acho que é hora de começar um relógio novo, Tawny, porque me parece que você está presa ao passado. Você realmente precisa encarar o aqui e o agora… porque, quando fizer isso, vai ver que já não tem vez com Colton e nem domínio sobre a vida pessoal dele. Observo seu peito subir e descer com a raiva que se acende dentro dela. A vontade que eu tenho é de dizer que, se isso que ela está sentindo é raiva, dentro de mim há um incêndio de fúria. E estou apenas começando. – Deve ser uma droga pra você, Tawny, quando só te resta na vida esperar ser uma substituta para o Colton. Pensar que você só serve para ele voltar quando já experimentou todo mundo que ele acha que pode ser melhor. Nossa, uma bomba para esse seu ego inflado demais. – Sua vaca! – ela fala cuspindo. – Você não é capaz de satisfazer as necessidades dele. Você… Eu me viro rápido para ela, e meu olhar contém suas palavras. – Ah, boneca, eu acabei de fazer isso. Era você que ele estava comendo no capô da Sexo na garagem, antes do jantar? Acho que não, né – entrego com um sorriso, mas meus olhos dizem que ela está na minha mão e que é hora de eu me mandar. Sua cara é impagável: olhos arregalados, lábios entreabertos, digerindo o que eu acabei de dizer. – Colton nunca o faria… – ela bufa, perdendo o fôlego. – A Ferrari é a gata dele. Ele nunca se arriscaria a arranhar a pintura. – Bom, acho que você não o conhece tão bem assim do jeito que pensava. – Mostro o mesmo sorriso malicioso com que ela me agraciou várias vezes. – Ou é isso, ou você simplesmente não significava mais para ele do que o carro. – Torço os lábios e olho para ela enquanto seu ego tenta processar o que eu acabei de dizer. – Então já acabamos aqui – digo com uma risada e saio andando em direção a Colton.
Nossa, como isso foi bom! Bem feito pra ela. Quando alcanço Colton, ele estende a mão para mim, enlaça minha cintura, e me puxa para seu lado, ainda terminando a conversa com Vincent. Eles se despedem e, quando o homem se afasta, Colton me beija de leve. – Sobre o que vocês estavam falando? – ele pergunta com cautela. Inclino a cabeça de lado, olhando para ele, ao mesmo tempo em que traço os dedos pelo seu maxilar. – Nada… era insignificante – respondo, torcendo o nariz com a palavra.
Dezenove
– Tem certeza de que não está muito frio? – Aham – murmuro quando Colton esfrega as mãos para cima e para baixo pelos meus braços. A brisa do oceano é congelante na minha pele nua, mas não quero estragar o momento. Esta noite, a discussão pós-jardim, foi uma que eu nunca vou esquecer. Algo mudou em Colton ao longo da noite. Não sei exatamente distinguir o que é, mas sei que várias coisas estão diferentes de uma forma sutil. As olhadinhas. Os toques casuais aqui e ali sem nenhuma razão específica a não ser me lembrar de que ele está ao meu lado. O sorriso tímido que eu notei estar reservado apenas a mim esta noite. Ou talvez tudo isso sempre esteve aqui, mas agora estou enxergando as coisas através de lentes novas, agora que eu sei que Colton vai tentar a possibilidade de existir um “nós”. Ele está disposto a tentar quebrar um padrão que ele jura ter internalizado. Por mim. A noite de breu é iluminada apenas por uma lasca de lua pendurada no céu da meia-noite. Fecho os olhos, murmurando baixinho a música “Kiss Me Slowly”, que flui dos alto-falantes, e levanto o rosto para sentir a brisa salgada que sopra no terraço onde estamos. Colton repousa o queixo no meu ombro e envolve os braços na minha cintura por trás. Derreto em seu calor; não quero que ele me deixe. Ficamos assim, perdidos cada um nos próprios pensamentos, imersos na atmosfera da noite escura e com plena consciência da corrente subjacente de desejo que existe entre nós. Baxter late no portão para ir até a praia. Colton reluta, mas me solta para levá-lo lá fora. – Quer uma bebida? – pergunto. Meu corpo esfria no minuto em
que seu calor deixa o meu. – Cerveja, por favor? Vou até a cozinha e pego as bebidas. Quando chego de novo lá fora, Colton está em pé, com as mãos apoiadas no parapeito, olhando para a noite vazia, completamente perdido em pensamentos. Seus ombros largos se recortam contra o céu escuro – o branco da camisa para fora da calça é um contraste visual gritante. Mais uma vez eu me lembro da minha guerra santa para irromper da escuridão. Coloco minha taça de vinho em uma mesa do pátio e vou atrás dele. O quebrar das ondas abafa o som dos meus passos no deque. Deslizo as mãos por seus braços e tronco, a frente do meu corpo nas suas costas, e passo os braços em torno dele. Um segundo depois do meu toque, Colton gira bruscamente. Um grito duro ecoa no ar da noite. Sua cerveja voa das minhas mãos e se quebra no chão. Como consequência de suas ações, sou jogada de lado e meu quadril colide na cerca. Quando eu tiro os cabelos do rosto e olho para cima, Colton está de frente para mim. Suas mãos são punhos apertados ao lado do corpo, seus dentes rangem de ódio, seus olhos estão selvagens com a raiva – ou será medo – e seu peito ofega com respirações rápidas rasas. Seus olhos travam nos meus, e eu paraliso no meio do movimento com o quadril inclinado e a mão pressionando onde dói. Uma miríade de emoções fulgura em seus olhos, fixos em mim, finalmente rompendo o verniz do medo que mascara seu rosto. Já vi esse olhar antes. O medo absoluto e devorador de alguém traumatizado, quando tem um flashback. Sustento seus olhos com propósito. Meu silêncio é a única forma que eu sei que poderá fazê-lo se livrar da névoa que o dominou. Minha mente filtra de novo a última manhã que passei nesta casa e o que aconteceu quando eu o abracei por trás. E agora eu sei, lá no fundo, que, seja lá o que aconteceu com ele, tudo o que habita nessa escuridão da sua alma tem a ver com isso. Que a ação – a sensação de ser abraçado, tomado, segurado pelas costas – desencadeia um flashback e o leva momentaneamente de volta ao horror. Colton respira fundo – uma inspiração trêmula, que limpa a alma – antes de interromper o contato visual comigo. Ele olha para o deque por um instante antes de gritar um longo:
– Porraaaaa! – A plenos pulmões. Eu me assusto com sua voz que ecoa no abismo da noite à nossa volta. Essa única palavra é repleta de tanta frustração e angústia que tudo o que eu desejo fazer é aconchegá-lo nos meus braços e oferecer consolo, mas, em vez de virar para mim, ele se volta para o parapeito, apoiando-se nele mais uma vez. Os ombros que eu admirava momentos antes agora são pesados com um fardo que não compreendo de jeito nenhum. – Colton? – Ele não responde, apenas mantém a face para a frente. – Colton? Me desculpa. Eu não queria… – Só não faça mais isso, tá? – retruca. Eu tento não me chatear com a veemência em seu tom, mas estou vendo seu sofrimento e só quero ajudar. – Colton o que acontec… – Olha aqui… – Ele gira de frente para mim. – Nem todos nós tivemos uma porra de uma infância perfeita e cercas branquinhas em casa como você, Rylee. É mesmo tão importante para você saber que eu passava dias sem comida e nem atenção? Que a minha mãe me forçava… – Ele para as próprias palavras e cerra os punhos. Seus olhos vão muito longe antes de retomar o foco em mim. – Que ela me obrigava a fazer o que fosse necessário para garantir o próximo barato maldito? – Sua voz é vazia de toda emoção, exceto raiva. Inspiro fundo. Meu coração se parte por ele e pelas memórias que o atormentam. Quero me aproximar. Abraçar. Fazer amor com ele. Deixá-lo se perder em mim. Qualquer coisa para fazer sua mente esquecer por um momento. – Merda, me desculpa. – Ele suspira com remorso, esfrega as mãos sobre o rosto e olha para o céu. – Eu me desculpo um monte quando estou perto de você. – Ele olha para baixo e encontra meus olhos. Põe as mãos nos bolsos. – Me desculpa, Ry. Eu não queria… – Não tem problema em se sentir assim. – Dou um passo em direção a ele, levanto a mão e a coloco na sua bochecha. Ele inclina o rosto na minha mão, virando-a brevemente para colar um beijo no centro da minha palma, antes de fechar os olhos para absorver quais forem as emoções que ele está processando. Sua aceitação do conforto que lhe ofereço aquece minha alma. Me dá esperanças de que, com o tempo, ele possa falar comigo. Sua vulnerabilidade
irrestrita puxa meu coração e abre minha alma. Me suga para dentro. Quando ele abre os olhos, eu olho dentro deles, procurando nas suas profundezas. – O que aconteceu, Colton? – Eu já te disse antes. Não tente me consertar… – Eu só estou tentando entender. – Passo a mão sobre seu rosto mais uma vez antes de descê-la e colocá-la sobre seu coração. – Eu sei. – Ele exala. – Mas é algo que eu não gosto de falar. Merda… é uma coisa de que ninguém deveria ter que falar. – Ele balança a cabeça. – Eu te disse, meus primeiros oito anos foram um maldito pesadelo. Não quero encher sua cabeça com os detalhes. Foi… caralho! – Ele bate a mão na cerca ao nosso lado, o que assusta tanto a mim quanto a Baxter. – Não estou acostumado a ter que me explicar para ninguém. – Ele aperta a mandíbula, fazendo aquele músculo pulsar. Ficamos em silêncio por um tempo antes que ele olhe para mim com um sorriso triste. – Eu juro por Deus que é você! – Eu? – gaguejo boquiaberta. O que eu tenho a ver com o que aconteceu? – Aham – ele murmura, me olhando atentamente. – Eu nunca baixei a guarda. Nunca me abri até… – Ele balança a cabeça, sua confusão e clareza estão escritas no seu rosto. – Eu tenho sido capaz de bloquear as coisas já faz muito tempo. De ignorar os sentimentos. De ignorar tudo, mas você? Você derruba paredes que eu nem sabia que estava construindo. Você me faz sentir, Rylee. Sinto como se todo o ar fosse sugado dos meus pulmões. Suas palavras esvaziam meus pensamentos e, ao mesmo tempo, me inundam com pensamentos. Possibilidades faíscam e fulguram. A esperança se faz. Meus próprios muros desmoronam. Meu coração incha com o reconhecimento. Ele franze os lábios bem esculpidos ao trazer a mão e pousá-la no meu ombro. Seu polegar me acaricia sem rumo e para trás da minha clavícula nua. – Me sentir assim quando estou tão acostumado a viver a vida num borrão… é o mesmo que desenterrar as merdas antigas… velhos fantasmas que eu achava que tinha enterrado há muito tempo. Ele estende a outra mão e coloca na minha cintura, ao me puxar para si. Afago seu pescoço com o rosto, inalando o cheiro exclusivo
de Colton com que eu pareço não conseguir me satisfazer. Ele envolve os braços fortes ao meu redor e me agarra como se precisasse me sentir para ajudar a lavar algumas de suas memórias. – Por muito tempo eu vivi tentando me fechar das pessoas. Deste tipo de emoção… Rylee? Você tem alguma ideia do que você está fazendo por mim? Suas palavras nutrem o amor que floresce no meu coração, mas eu sei que ele se sente desconfortável com a confissão inesperada, e não quero que ele se assuste de repente quando se der conta dela. Chamada para um pit stop. Sinto a necessidade de fazer algo – de acrescentar um pouco de leveza – de espantar os demônios nem que seja apenas por esta noite. Eu me inclino e dou um beijo lento, intoxicante em seus lábios até sentir sua ereção aumentar na minha cintura e friccioná-la com o corpo. – Acho que eu sinto isso com bastante facilidade – murmuro no seu pescoço. Sua risada vibra seu peito contra o meu. – Tão linda. – Ele traz a mão até meu queixo e inclina minha cabeça para trás para encontrar a provocação da sua boca na minha. Meu nome é um suspiro reverente em seus lábios. Sua língua acaricia a minha mais e mais, me tenta com uma promessa de dança, sedução completa e entrega total. Nunca pensei que era possível fazer amor com alguém num simples beijo, mas Colton está aqui para provar que estou enganada. Ele vibra a língua suavemente na minha. A suavidade de seus lábios firmes me persuade a precisar mais dele: a precisar de coisas que eu nunca pensei serem possíveis, e nem mesmo existirem novamente. Sua ternura é tão inesperada, tão avassaladora, que as lágrimas fazem arder meus olhos quando eu me perco nele. Me rendo a ele. – Você é linda de tirar o fôlego, Ry. Não é o que eu mereço, mas apenas o que eu preciso. – Ele respira na minha boca, suas mãos cobrem meu pescoço. – Por favor, me deixa te mostrar… Como se ainda tivesse que pedir. Subo na ponta dos pés e passo os dedos pelos seus cabelos da nuca. Olho para ele, para seus olhos emoldurados com cílios grossos e repleto, de todas as palavras não ditas que suas ações tentam
expressar. Inclino a cabeça para trás e levo os lábios aos seus em resposta. Dou risada quando ele se curva para a frente e passa o braço por trás dos meus joelhos. Ele me pega e me carrega sobre o vidro quebrado da cerveja que está espalhado por todo o deque. Então continua para dentro e sobe as escadas para o quarto. Aciona um interruptor rapidamente com o cotovelo assim que entramos no quarto. Ao mesmo tempo, o fogo ganha vida na lareira no canto. Ele para na beira da cama e me coloca em pé. – É esta a parte em que você me toma do seu jeito, lento e doce? – sussurro, usando as mesmas palavras que ele me disse mais cedo. Vejo seus olhos faiscarem com as minhas palavras. Ele se inclina para baixo e mergulha a língua entre meus lábios entreabertos. – Linda, eu quero aproveitar cada centímetro desse corpo absurdamente sexy que você tem. Sinto suas mãos no zíper nas minhas costas e então minha pele fica gelada com o ar do quarto enquanto ele abre meu vestido devagar. Ele sugere as coisas que quer fazer comigo. Sua voz áspera me acaricia, igualando-se à sensação da ponta dos dedos, que ele arrasta para baixo no caminho do zíper que está abrindo. Sinto o puxão no tecido, que desliza para baixo e se amontoa em torno dos meus saltos altos. – Meu Deus, mulher, você testa o autocontrole um homem – ele provoca. Suas pupilas se dilatam quando ele absorve todo o visual da minha lingerie, da qual ele só teve vislumbres esta noite. Passo as mãos pela renda preta customizada com um motor em chamas nas taças vermelhas do corpete, e continuo descendo o tecido até chegar às cintas-ligas. – Gostou? – pergunto timidamente, com um sorriso nos lábios. – Ah, linda. – Ele suga o ar numa lufada e elimina a distância entre nós, enquanto seus olhos devoram a visão diante deles. Colton me abraça e me puxa de forma que ficamos face a face, com os lábios a um sussurro do outro. – Mais do que gostei. Eu quero. – Ele grunhe quando me leva de costas e me deita sobre a cama. Apoio o peso nos cotovelos e olho para ele, diante de mim, antes de desabotoar o resto da camisa. Minha boca se enche de água, e o desejo se concentra à medida que meu olhar o percorre centímetro
por centímetro e descobre a magnificência debaixo da roupa. A fome em seus olhos é uma promessa do que ele quer fazer comigo, e isso me acelera de necessidade. Ele sacode os ombros e tira a camisa. Os músculos afiados de seu peito e abdome fazem meus dedos coçarem para tocá-los. Ele rasteja sobre a cama, abrindo minhas pernas com os joelhos e se senta entre elas. As pontas dos dedos traçam linhas quentes para cima e para baixo pelas minhas coxas. Meus músculos ficam tensos na sensação e trêmulos de expectativa. – Colton – eu imploro quando seu toque inflama a dor dentro de mim. A necessidade é tão intensa que minhas mãos escorregam pela minha barriga e meus dedos cravam a carne dos meus quadris reféns. Estou tão acesa que preciso de libertação. – Ah, sim – ele geme. – Toque-se, querida, e me deixa ficar olhando. Mostra o quanto você precisa de mim. Suas palavras são tudo o que eu preciso para jogar meu pudor pela janela. Meus dedos dançam no meu púbis, e eu me abro, suspirando de prazer quando meus dedos começam a adicionar o atrito de que eu preciso sobre a minha parte mais sensível. Colton geme com luxúria enquanto assiste, e o som me incita. Mordo o lábio inferior e a sensação começa a me dominar. – Rylee. – Ele solta um suspiro torturado. – Minha vez. Meus olhos piscam e encontram os seus, pálpebras pesadas de desejo, quando arrasto os dedos pelo clitóris uma última vez antes de recolhê-los. Seus lábios se abrem em reação ao gemido que escapa entre meus lábios e, em seguida, se curvam num sorriso malicioso que me faz arquear as costas, me faz pedir mais do seu toque. Seus olhos sustentam os meus quando ele começa a se abaixar. Eu sinto o toque suave de sua boca quente no meu ponto ardente e mais uma vez ele me afoga. Sua paixão me engole inteira.
Vinte
Ficamos de lado, um de frente para o outro, cabeças sobre os travesseiros, corpos nus, e nosso desejo momentâneo temporariamente saciado. Craig David toca suavemente nos altofalantes do teto. Bebo a visão de Colton; nossos olhos falam volumes, embora nossos lábios permaneçam em silêncio. Tantas coisas que eu quero dizer a ele depois do que acabamos de trocar. Não foi apenas sexo. Não que algum dia tenha sido para mim, mas esta noite foi especial, a conexão foi diferente. Colton sempre foi um amante mais do que generoso, mas o jeito como ele estava esta noite – seu toque lento e adorador – me deixou num estado de torpor feliz. Eu me percebo tão perdida nele, cada vez mais, tão envolta por tudo o que ele é, que, em certo sentido, eu me encontrei novamente. Estou inteira novamente. – Obrigado. – Suas palavras quebram o silêncio. – Obrigado? Acho fui eu que acabou de gozar um monte de vezes. O sorriso assimétrico e arrogante me enche de felicidade. – Verdade – ele admite com um aceno de cabeça. – Mas obrigado por não forçar a barra mais cedo. – Disponha – respondo, sentindo como se o sorriso no meu rosto fosse um elemento permanente. Caímos em silêncio de novo por alguns instantes, até que ele murmura: – Eu poderia ficar te olhando por horas. – Fico vermelha sob a intensidade do seu olhar, o que é engraçado, considerando que eu deveria ficar corada em relação às inúmeras coisas que ele acabou de fazer para me dar prazer. Mas, neste momento, percebo que estou
corando porque estou completamente desnuda para ele, despojada, descoberta, aberta – e não apenas em sentido literal. Ele está olhando para mim, enxergando nos meus olhos e através da guarda que eu abaixei para revelar a transparência dos meus sentimentos por ele. Deixo os pensamentos de lado. – Acho que deveria ser eu a dizer isso – comento. As chamas dançantes na lareira banham suas feições escurecidas numa luz suave. Ele ri com desdém para mim e revira os olhos. Uma reação tão infantil em um homem tão intenso que o amolece, faz meu coração afundar ainda mais no peito. – Você tem alguma ideia de quanta, porcaria eu sofri quando era criança por ser tão bonitinho? – ele pergunta com desdém. – Em quantas brigas eu entrei para provar que eu não era? Estendo a mão para trilhar os dedos sobre as linhas de seu rosto e, depois, para baixo sobre a linha torta do seu nariz. – Foi assim que você conseguiu isso aqui? – pergunto. – Aham. – Ele ri baixinho. – Eu estava no último ano do ensino médio e estava a fim da namorada do capitão do time de futebol americano. Stephanie Turner era o nome dela. Ele não ficou muito feliz quando o rebelde da escola fugiu de uma festa com a garota dele. – Colton sorri timidamente. – Eu era… Eu tinha uma reputação e tanto naquela época. – Só naquela época? – provoco. – Engraçadinha – diz ele, mostrando de novo aquele sorriso tímido. – É, só naquela época. – Quando reviro os olhos, ele continua. – De qualquer forma, eu tinha o pavio bem curto. Entrava em brigas constantemente sem nenhum motivo, a não ser provar que ninguém podia dizer o que eu deveria fazer e nem me controlar. Eu sentia muita raiva quando era adolescente. Por isso, no dia seguinte, ele fez os amigos me segurarem enquanto me dava uma surra. Quebrou meu nariz e me deixou detonado. – Ele dá de ombros. – Pensando hoje, eu merecia. Não se põe a mão na mulher de outro homem. Encaro-o. Achei seu último comentário estranhamente sexy. – O que seus pais disseram? – Ah, eles ficaram putos! – ele exclama antes de continuar a
explicar a reação. Ficamos conversando assim durante a próxima hora. Ele explica como foi ser criado pelos pais adotivos, acrescentando pequenas histórias aqui e ali que me fazem rir tanto de sua rebelião como das desventuras. Caímos num silêncio confortável depois de um tempo. Ele estende a mão e puxa as cobertas sobre minhas costas, depois de perceber que eu fiquei gelada e enfia uma mecha errante atrás da minha orelha. – Tenho orgulho de você – diz ele em voz baixa. Minhas pálpebras sonolentas se abrem por inteiro em forma de pergunta. – Você entrou naquele armário hoje à noite e não surtou. Olho para ele, e sinto pouco a pouco a consciência de que ele está certo. Que eu não pensei duas vezes. Com ele ao meu lado, eu fui capaz de esquecer o medo. – Bem, é verdade, eu entrei mesmo… Mas acho que fui coagida. É o efeito Colton – brinco. – Você tinha me feito focar os pensamentos em outro lugar. – Eu poderia fazer isso de novo agora mesmo se você quisesse – ele sugere. – Tenho certeza de que poderia, Ace, mas… – Paro e fico olhando para ele. A conversa que Tawny teve no banheiro penetra meus pensamentos. A curiosidade se funde com a insegurança e toma o melhor de mim. – Colton? – Humm? – ele murmura, com os olhos quase fechados enquanto desenha círculos inconscientes com os dedos no dorso da minha mão. – Eu sou o que você precisa? – Aham. – A indiferença da resposta me diz que ele não entende a pergunta ou está perdido nas garras do sono. As palavras dela ecoam na minha cabeça. – Eu te satisfaço sexualmente? – Não consigo evitar a falha na minha voz quando digo isso. O corpo de Colton fica tenso com as minhas palavras, as pontas dos dedos tornam-se imóveis na minha pele e seus olhos se abrem com lentidão e confusão deliberados. Ele me encara como se estivesse olhando diretamente na minha alma, e a intensidade do ato é tão forte que eu acabo desviando os olhos para observar os meus
dedos puxarem o lençol. – Por que você me faria uma pergunta tão ridícula? Dou de ombros, e as cores do constrangimento tomam meu rosto. – Não sou muito experiente e você… você sem dúvida é, então eu estava pensando… – Minha voz desvanece. Eu não sei ao certo como perguntar o que está na vanguarda da minha mente. Colton se desloca na cama e se senta, puxando meu braço para que eu não tenha escolha a não ser seguir o exemplo. Ele empina meu queixo com a mão, de modo que sou forçada a olhar em seus olhos. – Você estava pensando o quê? – ele pergunta baixinho. A preocupação está gravada em suas feições. – Quanto tempo até você se entediar comigo? Quer dizer, eu… – Ei, de onde você tirou tudo isso? – Colton questiona, ao roçar o polegar de leve na minha bochecha. Como é que eu consigo deixar este homem fazer o que quer comigo, sexualmente falando, mas agora, quando o confronto sobre minha falta de experiência,eu me sinto mais nua do que nunca? A insegurança obstrui minha garganta quando eu tento explicar. – Foi uma noite difícil – começo. – Me desculpa. Esqueça que eu falei alguma coisa. – Nã-não, você não vai se safar dessa assim tão fácil, Rylee. – Ele se mexe na cama e, apesar dos meus protestos, me puxa para sentar entre suas coxas, cara a cara, com minhas pernas de cada lado de seu quadril. Não tenho escolha, a não ser olhar para ele agora. – O que está acontecendo? O que mais eu não fiquei sabendo esta noite que você não está querendo me dizer? – Seus olhos procuram respostas nos meus. – Na verdade é bobagem – admito, tentando minimizar meus sentimentos de inadequação. – Eu estava na cabine do banheiro e ouvi umas mulheres falarem como você é um deus na cama. – Reviro os olhos para causar efeito, não querendo que seu ego fique maior do que já é. – E como é óbvio que eu sou mais do que inexperiente. – Olho para baixo e me concentro em seus polegares, esfregando, distraída, para a frente e para trás nas minhas coxas. – Como você vai tomar o que quer, me mastigar e me cuspir. Elas disseram que você não gosta de previsibilidade e…
– Chega. – Sua voz é severa, e eu não posso deixar de olhar para cima e encontrar seus olhos perplexos. – Olha, eu não sei como explicar. – Ele balança a cabeça e recomeça com tom mais suave. – Eu realmente não consigo. Tudo o que sei é que ,com você, as coisas apenas foram diferentes desde o início. Você quebrou o padrão, Rylee. Suas palavras dão vida aos sentimentos de esperança dentro de mim, e ainda assim eu continuo sentindo as raízes de inadequação pesadas na minha alma. Estamos aqui sentados tentando nos equilibrar sobre areia movediça. – Eu sei – digo eu. – Eu só… – Você não entende, não é? – questiona ele. – Você pode não ter a experiência, mas… – Sua voz some na tentativa de encontrar as palavras certas. – Você é a pessoa mais pura que eu já conheci, Rylee. Essa parte em você, essa inocência em você, é sexy pra caramba. Incrível pra caramba. Ele apoia a testa na minha, puxando meu corpo ainda mais no seu. Ele suspira e ri baixinho, sua respiração sopra de leve nos meus lábios. – Você sabe, alguns meses atrás, eu poderia ter respondido de forma diferente. Mas, desde que você caiu daquele maldito armário, nada tem sido a mesma coisa. – Ele faz uma breve pausa, e a ponta do dedo se arrasta pela linha nua da minha coluna. – Ninguém era importante antes. Nunca. Mas você? Caralho, de alguma forma você mudou tudo. Você é importante – diz ele, com tanta clareza que suas palavras mergulham em lugares dentro de mim que eu pensei que nunca poderiam ser curados. Lugares e pedaços que agora, lentamente, começam a se reunir e a se costurar uns nos outros. Fico imóvel quando os braços quentes de Colton envolvem a pele gelada nas minhas costas. Ele puxa meu cabelo para o lado e pressiona os lábios na curva do meu pescoço. A aspereza da barba que começa a despontar no rosto dispara arrepios na minha coluna. – O que aconteceu com você esta noite para tirar conclusões precipitadas? – ele murmura, mantendo os lábios pressionados na minha pele. As vibrações deles se propagam pelos nervos hipersensíveis. Dou de ombros, sem nenhuma explicação, de repente constrangida
por ter confessado a ele meu momento de flagrante insegurança quando ele, tão obviamente, me mostrou esta noite que sou eu quem ele quer. O silêncio se instala ao nosso redor um pouco mais, enquanto inspiramos o cheiro um do outro. – Se tiver alguma coisa que você não está recebendo comigo, você vai me dizer, né? – Ele se afasta um pouco para me observar, mãos apoiadas nos meus ombros, polegares acariciando distraidamente sobre o vale da minha clavícula. O questionamento está presente em seus olhos. Eu continuo: – Quando a Tawny disse… – Os olhos de Colton se abrem em alerta. – Tawny? – Ela estava no banheiro – confesso e vejo irritação cintilar no seu rosto. – A porra da Tawny – ele murmura, arrastando a mão pelo cabelo. – Olha para mim, Rylee – ele comanda. Levanto os olhos e encontro a intensidade crua nos seus. – Tawny só está com inveja porque ela não tem um décimo do seu apelo sexual. E a melhor parte disso, sobre você, é que você nem sequer percebe. Você se lembra daquela noite no The Palisades? – pergunta ele e tudo o que posso fazer é assentir, hipnotizada por suas palavras e pelo sorriso suave que encobre seus lábios. – Foi com isso que eu estava lutando. Com o fato de eu ser um idiota. Como eu poderia te levar lá e te tratar como se fosse qualquer uma quando você não é como ninguém com quem eu já estive antes? E então fui até você, e você estava lá tentando descobrir qual era o meu problema, tão linda e involuntariamente sedutora. E, mesmo que eu tivesse sido um imbecil, você deu um passo na minha direção e ofereceu tudo de si pra mim, sem uma única explicação. – Ele ergue a mão e traça uma linha na minha testa e nariz, mas para nos lábios. – É excitante pra caralho, Rylee. Como ninguém com que eu já estive. Ninguém. Sugo uma respiração irregular, com medo de acreditar no que ele realmente está me dizendo. Que eu lhe dou o que ele precisa. Que ele sente que as coisas entre nós são diferentes. Meio que uma primeira vez para ele. Engulo ruidosamente antes de apertar a mandíbula. Se eu falar agora, três palavras que ele não quer ouvir vão despencar da minha boca. Foi uma noite cheia de sentimentos, e eu estou mais do que sobrecarregada com as emoções. Só consigo
responder com um simples aceno da cabeça. – Eu nunca precisei me esforçar tanto para conseguir algo que eu nunca pensei que queria – confessa, e as palavras roçam em mim e acoplam no meu coração cada vez mais cheio e na alma cada vez mais transparente. Como é possível sentir um amor tão intenso quando eu pensei que minha capacidade de amar tinha morrido com Max? Aproximo meus lábios dos seus para expressar as palavras que minha língua atada não consegue. – Obrigada – sussurro, pelas muitas coisas que eu nem sequer pensei que ele poderia entender, nem que eu lhe contasse. Ele recua e eu não deixo de ver o sorriso em sua boca diabolicamente sexy. Ele levanta a sobrancelha para mim. Há diversão nos seus olhos. – Um deus na cama, hein? Não posso evitar o riso que borbulha e se derrama. Não me surpreende que ele se lembre. – Eu disse isso? – provoco ao mesmo tempo em que corro os dedos pelos músculos do seu abdome. Sinto sua excitação cada vez mais grossa pulsar debaixo de mim ao meu toque. – Deve ter escapado da minha língua sem que eu percebesse. – Ah, é mesmo? – ele pergunta com um sorriso brincalhão nos lábios, e um olhar que me diz que suas necessidades já não parecem mais saciadas. – As línguas são engraçadas, você não acha? – Ele traça meu lábio inferior com a língua. – Elas podem lamber assim – ele sussurra. – E podem beijar desse jeito – prossegue gravando a boca na minha, sua língua parte meus lábios e domina minha boca. Ele nos desloca para trás no colchão para que seu peso pressione deliciosamente em cima de mim. Colton interrompe o beijo, e a luxúria nos seus olhos faz o desejo se revelar na minha barriga. – E podem lamber assim – ele sussurra antes de percorrer um caminho no meu pescoço para provocar o botão rígido do meu mamilo. – Eles podem provocar e dar prazer assim. – Sua língua acaricia um depois outro e então desce pela minha barriga em um ritmo dolorosamente lento. Meus músculos se flexionam com a expectativa quando ele para no topo do meu sexo.
Ele olha para mim e eu vislumbro um lampejo de sorriso. – E definitivamente… – Sopra entre as minhas dobras, e o calor da sua respiração roça minha carne sensível. – Adora sentir o gosto assim. Sua língua me percorre. Tudo o que eu consigo fazer é sugar o ar bruscamente e soltá-lo com um gemido baixinho. Minhas palavras se perdem e minha mente é obscurecida pelo deslizar suave e habilidoso de sua língua. À medida que ele me consome. Me dá prazer. Me desfaz.
Vinte e um
COLTON
Deus, ela é linda pra caralho. Não posso evitar a necessidade de afastar da sua face uma onda de cabelo. O sentimento – aquele maldito sentimento estranho que não é mais tão estranho – me percorre, me agarra pelas bolas e depois as entrega de bandeja. Faz o medo arrepiar a base da minha coluna em um estado constante de reverberação. Meus dedos se demoram no ombro dela, tocando-a para se certificar de que ela seja real. Não existe possibilidade de ela ser. Rylee me deixa apavorado pra cacete, mas não consigo me forçar a sair dessa. Desde aquele primeiro encontro não tenho forças para conseguir. Merda, num primeiro momento, foi sem dúvida o desafio. A língua afiada, os olhos violeta, e o gingado do quadril… Que homem com sangue nas veias teria forças para pular fora? Cristo. Basta me dizer que não posso ter algo, e pode ter uma certeza danada de que eu vou atrás até conseguir. Entro no jogo. E fico nele até a maldita bandeira quadriculada. Mas, então, na primeira vez em que apareci no Lar – aquele olhar dela me dizendo para dar o fora e não mexer com o Zander dela, ou ela mesma acabaria comigo – tudo se transformou. Mudou de figura. Tornou-se real. O desafio deixou de existir. Tudo o que vi naquele momento fui eu mesmo quando criança. Eu agora. Eu soube que ela amava o que havia de traumatizado em nós. Não se importava com a escuridão, porque era tão cheia de uma maldita luz. Eu soube que ela
entenderia muito mais do que eu jamais seria capaz de dizer. Essa alma altruísta junto com o corpo “vem me comer ” foi o que me atraiu, retorceu partes dentro de mim que eu pensei que tinham morrido e que nunca se regenerariam. Fizeram-me sentir, quando eu estava tão contente em viver no borrão que existia ao meu redor. Sério, quem realmente faz as merdas que ela faz? Pega crianças fodidas – muitas crianças fodidas – e as trata como se fossem filhos seus. Ela as defende. Ama. Luta por elas. Está disposta a fazer um pacto com um diabo como eu em benefício delas. Naquele dia, na sala de conferências quando eu a aprisionei no meu pequeno acordo, eu vi o medo e a consciência que eu tinha magoado naqueles malditos olhos sedutores, e, por mais que ela soubesse, concordou em prol dos meninos, independentemente dos danos que iria causar para si. E é claro, eu sou um filho da puta por ficar querendo saber o tempo todo se sua boceta tinha gosto doce. Sabe, se o beijo já era viciante pra diabo, eu não podia sequer imaginar como o resto do seu corpo iria me drogar. Ela está se sacrificando para os meninos, e lá eu estava pensando no meu jogo final. E isso em si acabou comigo, me obrigou a levantar a guarda. Eu sabia que ela ia deixar-me tê-la, mas não fazia a mínima ideia naquela primeira vez juntos – quando ela olhou para mim com uma clareza tão definitiva depois – que ela seria capaz de enxergar dentro da minha maldita alma. Eu fiquei apavorado, aquilo revirou coisas dentro de mim que eu nunca quis mexer de novo. Coisas que eu tinha aceitado passar a vida sem. Ninguém sabe as coisas que eu fiz – as coisas que eu permiti serem feitas comigo. O veneno vivo dentro de mim. Como eu amei e odiei e fiz coisas inimagináveis por razões que eu não entendia na época e que ainda não entendo agora. E temo a cada minuto de cada dia de merda que ela acabe descobrindo, que saiba sobre as verdades que há dentro de mim e que depois me deixe muito pior do que ela me encontrou. Rylee destrancou coisas dentro de mim que eu nunca pretendi permitir que vissem a luz do dia novamente. Ela eleva o conceito de vulnerabilidade para um patamar totalmente novo. Mas não consigo afastá-la de mim. E eu queria afastá-la. Por ela.
Mas, cada vez que tento – cada vez que se abre uma rachadura em mim, ela tem um vislumbre de meus demônios –, fico apavorado. Deus, eu tento fazê-la ir embora – nem que seja na minha cabeça fodida, mas nunca tenho sucesso. E não sei se é porque ela é teimosa ou porque é uma tentativa meia-boca da minha parte, pois só assim eu posso dizer para mim mesmo que realmente tentei. Eu sei que o melhor para ela não é ficar comigo. Merda, ontem à noite… ontem à noite foi… porra. Eu me entreguei a ela de bandeja. Disse-lhe que ia tentar, quando cada parte do meu ser gritava em protesto com todo o medo de ser dilacerado por me permitir sentir. Eu sempre usei o prazer para enterrar a dor. Não os sentimentos. Não o compromisso. Prazer. De que outra forma posso provar para mim mesmo que não sou aquele menino que fui forçado a ser? É a única maneira com que eu sei fazer isso. Minha única forma de lidar com isso. Fodam-se os terapeutas que não faziam ideia do que acontecia comigo. Meus pais desperdiçando um dinheiro danado com pessoas que me diziam como superar os problemas que eles achavam que eu tinha. Que eu poderia usar a hipnose para regredir e superar. Que se foda tudo isso. É só me dar uma boceta apertada, molhada e a fim para eu me enterrar por um momento e essa é toda a prova de que eu preciso. Prazer para enterrar a dor. Então, o que eu faço agora? Como faço para lidar com a única pessoa que eu receio que pode me dar as duas coisas? E ela dá; mesmo assim, eu a fiz sofrer ontem à noite. Tenho a sensação de que sempre vou fazê-la sofrer, de alguma forma ou de outra. Em dado momento, ela simplesmente vai parar de me perdoar ou de voltar. E então, e aí, Donavan? Que porra você vai fazer então? Merda, se já estou quebrado agora, vou ficar aos pedaços. Fico observando-a dormir, tão inocente e minha e que se fodam todos os motivos pelos quais não consigo ficar longe dela. Estou cagando de medo e foi ela que fez isso comigo. Ela me agarrou e me forçou a dar ouvidos às palavras silenciosas que ela falou, ouvir de verdade. Agora que diabos eu tenho que fazer? Meu Deus, do jeito que ela olhou para mim na noite passada com os olhos cheios de ingenuidade e a mandíbula firme com toda sua obstinação, me perguntando se ela era suficiente para mim. Antes de
mais nada – a porra da Tawny – e depois, em segundo lugar, ser o suficiente? Sou eu quem não é o suficiente. Nem de perto. Eu estou me afogando nela, e nem sei ao certo se quero subir para tomar ar. O suficiente? Balanço a cabeça com a ironia disso. Ela fica, apesar – se não por esse motivo – da escuridão no fundo da minha alma. Uma santa de quem eu não sou digno, quem eu não devo profanar. Ela faz um barulho suave na garganta e gira de costas. O lençol desliza para baixo e expõe seus peitos perfeitos pra caralho. Puta que pariu. Meu pau acorda para a vida com a visão. Passaram-se o quê? Três horas desde a última vez em que estava enterrado nela, e eu já estou mais do que pronto para fodê-la de novo. Vodu de boceta viciante. Eu juro por Deus. Ela geme mais uma vez e balança a cabeça para trás e para a frente sobre o travesseiro. Ouço Baxter bater a cauda em resposta ao som e à possibilidade de que alguém possa já estar acordado. Meus olhos trilham lábios e voltam para os peitos. Gemo com a visão dos mamilos rosados duros com o frio da manhã. Eu realmente deveria cobri-la de novo, mas, caralho, a vista é fantástica, e eu ainda não quero arruiná-la. Seu gritinho me assusta pra caramba. É um lamento perfurante que provoca um aperto no peito. Ela grita de novo e é um som torturado seguido por seus braços jogados sobre o rosto. Eu me sento e tento trazê-la para junto de mim, mas ela se afasta para trás. – Rylee. Acorde! – digo, balançando seus ombros algumas vezes. Ela finalmente acorda assustada e se esforça para sair dos meus braços e se senta com um sobressalto. O som de sua respiração ofegante me faz querer envolvê-la nos meus braços e livrá-la do medo e da dor que emanam dela em ondas. Faço a única coisa em que posso pensar e passo a mão para cima e para baixo pela pele nua de suas costas, o único conforto que posso oferecer. – Você está bem? Ela só confirma balançando a cabeça e olha para mim. E nesse único olhar, eu fico paralisado. Paralisado pra caralho. Como um cara que você tem o instinto de proteger e de cuidar. Você sempre ouve sobre como esse é o seu trabalho. Está entranhado. Que-se-dane. Além das poucas vezes em que Q sofreu na mão de alguns valentões, eu nunca me senti assim nem remotamente. Nunca.
Não até agora. Rylee olha para mim e seus olhos cor de violeta estão se enchendo de lágrimas e de tanta dor e medo absolutos. Faço a única coisa que eu quero fazer, mesmo sabendo que não é o suficiente para ela, e que vai amenizar as minhas necessidades. Eu a puxo para mim e para o meu colo, antes de me inclinar para trás na cabeceira da cama. Quando envolvo os braços ao redor dela, Rylee pousa o rosto no meu peito. No meu coração. E, apesar da calma que me traz a sensação de sua pele nua na minha, eu continuo sentindo apenas a conexão de seu rosto no meu coração. Aquele exato lugar onde eu nunca esperei sentir de novo acabou de se acelerar num simples gesto tão natural. Eu juro que seu pulso e sua respiração estão voltando a ficar regulares, e os meus estão acelerando. Percorro os dedos pelos cachos do seu cabelo, precisando fazer alguma coisa para combater o pânico que sinto estar se assentando. Primeiro eu sinto que preciso protegê-la, cuidar dela, desejá-la. E então a simples noção de tê-la recebendo conforto do meu coração me enlouquece. Você consegue dizer refém, Donavan? Refém de uma mulher. Que. Porra. É. Essa? Essas merdas não eram para acontecer comigo. Dizer que vou tentar é uma coisa. Mas essa porra de sentimento que toma conta de mim como um aperto ferrenho no peito? Não, obrigado. Ouço a voz da minha mãe. Infiltra-se na minha cabeça. Minha mão para no cabelo da Rylee. Eu juro que paro de respirar. “Colty. Eu sei o quanto você me ama. Quanto você precisa de mim. Que você entenda que o amor significa fazer o que a outra pessoa te diz para fazer. Então, estou te dizendo isso porque você me ama, vá se deitar na minha cama para mim e espere, como o bom menino que você é. Você quer comida, né? Faz dias. Você deve estar com fome. Se você é um bom garotinho, se você me ama, não vai se opor agora. Não vai ser um menino travesso como foi a última vez. Se você ficar machucado, a polícia pode nos levar para longe um do outro. E então você não vai conseguir nada para comer. E então eu não vou te amar mais.” A mão de Rylee traçando círculos displicentes nas minhas tatuagens me sacodem de volta para o aqui e o agora. A ironia disso – de seu toque nas tatuagens que representam tanto – é suficiente
em si mesma. Eu me forço a respirar com calma, e tentar limpar a repulsa no meu estômago. Acalmar o tremor na minha mão para que ela não perceba. Porra. Agora eu sei que o sentimento de antes foi mesmo um acaso feliz. Como posso querer proteger e cuidar de Rylee quando não posso nem mesmo fazer isso por mim? Respira, Donavan. Respira, porra. – Será que a gente se atrai porque os dois são fodidos emocionalmente de alguma forma? – ela murmura em voz alta, quebrando o silêncio. Não consigo evitar a forma como minha respiração enrosca no peito. Eu engulo devagar, digerindo suas palavras – percebendo que são apenas uma coincidência, mas como a carapuça serve para mim. – Nossa, obrigado – respondo, forçando uma risada, na esperança de acalmar nós dois com um pouco de humor. – Nós e todo mundo em Hollywood. – Aham – diz ela, aconchegando-se mais em mim. O sentimento é tão calmante para mim que eu queria poder trazê-la para dentro de mim para aliviar a dor que sinto aqui dentro também. – Eu te disse, uma aberração. – Deixo assim. Não consigo forçar mais palavras para fora da minha boca sem que ela perceba que existe algo de errado comigo. Ela desliza a mão da minha tatuagem e brinca com a leve camada de pelos do meu peito. – Eu poderia ficar aqui para sempre – ela suspira naquela voz gutural que ela tem de manhã. Rezo pro meu pau se mexer com o som. Preciso que ele faça isso. Preciso provar para mim mesmo que a lembrança inesperada da minha mãe e do meu passado não pode mais me afetar. Que eles não são quem eu sou. Meus pensamentos retornam para o que eu faria normalmente. Que invoquem minhas preferências atuais e a usem. Comê-la até perder a consciência sem um segundo para pensar nas necessidades dela. Usar o prazer fugaz para enterrar a porra da maldita dor infinita. Mas não posso fazer isso. Não posso simplesmente abandonar a única pessoa que eu quero e temo e desejo e cada vez mais passei a necessitar. Bolas presas em garras ferrenhas. E, antes que eu sequer pense, as palavras estão fora da minha boca.
– Então fique aqui comigo neste fim de semana. – Acho que estou tão chocado quanto Ry diante dos meus comentários. Ela fica imóvel, junto comigo. A primeira vez que meus lábios alguma vez até hoje já proferiram essas malditas palavras. Palavras que eu nunca quis dizer antes, mas sei que, sem dúvida, agora são sinceras. – Com uma condição – diz ela. Uma condição? Acabei de entregar a ela minhas bolas de bandeja em troca de ser um pau mandado de mulher e ela vai acrescentar uma condição? Malditas mulheres. – Me fala o que significa vodu de boceta. Pela primeira vez esta manhã, sinto vontade de rir. E rio. É mais forte que eu. Ela apenas me observa, com aqueles olhos que fazem coisas loucas comigo, como se eu não batesse bem da cabeça. – Caralho, eu precisava disso – digo a ela, pressionando um beijo no topo de sua cabeça. – E então? – Rylee pergunta nesse tom direto ao ponto que ela tem e que normalmente me excita. Dou um leve suspiro. Começo a ficar duro só de pensar em seu calor molhado, do qual eu pretendo me aproveitar daqui a meros instantes. – Vodu de boceta? – Engasgo com as palavras. – Isso. Foi o que você falou ontem à noite no jardim. – Falei? – pergunto, incapaz de esconder a diversão no meu tom de voz. Ela apenas balança a cabeça sutilmente com as sobrancelhas arqueadas, à espera de uma resposta. Ah, sim. Duro sem a menor dúvida e ansioso para partir para cima agora. Graças a Jesus. – Bom… é aquela boceta que domina o pau e não solta. É boa pra caralho, a sensação, o gosto, tudo, que chega a ser mágica. – Eu me sinto um idiota explicando. Acho que nunca precisei. Eu falo e o Becks sabe exatamente o que eu quero dizer. Rylee dá uma gargalhada e o som é lindo. Lindo? Porra. Virei escravo de boceta. – Então você está me dizendo que eu tenho uma boceta mágica? – ela pergunta conforme o dedo trilha um círculo em torno do meu mamilo antes de olhar para mim e lamber os lábios. Não consigo falar uma palavra no momento, porque todo o sangue necessário para elaborar um pensamento coerente no meu cérebro acaba de viajar para o sul, por isso apenas faço um sinal com a cabeça. – Bom,
talvez eu deveria te mostrar… O celular sobre a cômoda começa a tocar. É um toque diferente do que o que ela normalmente usa, e algo sobre isso a faz pular da cama às pressas. Ela está sem fôlego quando atende. E, porra, ela é de tirar o fôlego. Rylee fica na parede onde as janelas dão vista para a praia lá embaixo, celular no ouvido, e a luz do sol banhando seu corpo nu. A preocupação em sua voz me tira dos pensamentos perversos sobre todas as formas como eu posso possuí-la. As posições. Como posso corrompê-la. – Calma, Scooter – ela diz numa voz tranquilizante. – Está tudo bem, amigo. Eu estou bem. Estou bem aqui. Shhh-shhh-shhh. Não aconteceu nada comigo. Na verdade, agora estou sentada na praia, olhando para o mar. Eu juro, amigo. Não vou a lugar nenhum. – A preocupação em sua voz me deixa inquieto na cama. Ela percebe meu movimento, olha e sorri com jeito de quem me pede desculpas. Como se eu fosse ficar zangado que ela tivesse me deixado para falar com um dos meninos. Jamais. – Você está bem agora? Sim. Eu sei. Não se desculpe. Você sabe que, se eu não estiver aí, você sempre pode me ligar. Sempre. Hum-hum. Vejo você na segundafeira, tá bom? Pode me ligar se precisar de mim antes disso. – Rylee caminha de volta para a penteadeira enquanto termina a chamada. – Ei, Scoot? Eu Homem-Aranha você. Tchau. Eu Homem-Aranha você? Rylee desliga o telefone, joga de novo no balcão e volta para a cama. Meus olhos vagueiam sobre a linha de suas curvas, pensando em como eu tenho sorte por tê-la nua e vindo em direção a mim com uma cama extremamente durável abaixo de mim. – Desculpa – diz ela. – Scooter teve um pesadelo e ficou com medo de que eu tivesse me machucado. Que eu fosse ser tirada dele como a mãe foi. Ele só precisava ter certeza de que eu estava bem. Desculpa – diz ela novamente, e eu juro que meu maldito coração se retorce no peito com essas desculpas por ela ser altruísta. Porra, essa garota é de verdade? – Não precisa pedir – digo, enquanto ela sobe na cama ao meu lado e se senta sobre os joelhos. Falo para mim mesmo que é melhor perguntar agora, antes que eu me distraia com a visão dela sentada
aqui, parecendo obediente ao extremo. – Eu Homem-Aranha você? Ela ri com aquela carinha adorável. – Isso. – Rylee dá de ombros. – Quando chegam a nós, alguns dos garotos têm dificuldade com carinho. De duas uma: ou eles sentem que estão traindo os pais, independentemente do quanto seja péssima a situação em casa, por terem sentimentos pelos conselheiros, ou sentimentos em geral tinham uma conotação negativa lá de onde eles vêm. Na verdade, tudo começou com Shane, mas de certa maneira pegou e agora a maioria dos meninos fala assim. Pegamos aquilo que eles mais amam e usamos como o nome da emoção. O Scooter ama o Homem-Aranha, então é isso que ele usa. Olho para ela com espanto, sentindo um pouco de nervosismo, se olhar muito de perto, que ela tenha essas crianças tão envolvidas – que tenha a mim tão envolvido. A questão é que ela, inconscientemente, fodeu com a minha mente de tal forma que meus olhos não vagaram ao sul de seu rosto para absorver a visão do corpo gloriosamente nu abaixo do pescoço, como fariam em situações normais. Ela confunde o olhar que eu lhe dou como se eu não estivesse entendendo o que ela tenta esclarecer. Rylee se mexe de joelhos e se aproxima de mim. – Vejamos, finja que você é um dos meus meninos. Fala uma coisa que você ama mais do que tudo. – Essa é fácil. – Sorrio para ela. – Sexo com você. O sorriso se espalha nos seus lábios, e as bochechas ficam vermelhas. Tão sexy. – Bom, essa é uma resposta que eu nunca recebi de nenhum dos meus meninos antes – brinca ela, rindo de mim. – Não, sério, Colton, fala alguma coisa. Dou de ombros e falo meu primeiro e único amor. – Eu amo corrida. – Perfeito – diz ela. – Se você fosse um dos meus meninos e quisesse dizer que me amava, ou vice-versa, você diria “eu corrida você, Rylee”. Meu coração falha novamente ao ouvi-la dizer essas palavras, e eu acho que ela percebe o que acabou de falar no instante que as
palavras saem de sua boca. Ela fica imóvel e seus olhos disparam para mim e, em seguida, para as mãos que ela está retorcendo sobre o colo. – Quero dizer… – Ela tenta voltar atrás. Fico feliz que esta conversa a esteja deixando tão nervosa quanto eu estou agora. – Se você fosse um dos meninos, é o que eu quero dizer. – Claro. – Engulo em seco, precisando desesperadamente de uma distração. Com um dedo, eu traço a linha no meio do seu peito: do pescoço, entre os seios e paro no umbigo. Eu corrida você, Rylee é o que percorre minha mente. Só para ouvir como soa, por nenhum outro motivo que não seja sentir como um dos meninos se sentiriam dizendo isso. O aperto no meu peito me obriga a me concentrar naquela única coisa que sempre me permite esquecer. Não haverá corridas entre mim e Rylee. Nenhuma. Eu olho para cima, partindo de onde o dedo repousa sobre sua barriga e encontro seus olhos. – Agora, eu acho que você estava prestes a me mostrar o quanto sua boceta é mágica, quando fomos interrompidos.
Vinte e dois
O toque do meu celular me acorda assustada, e, à luz sombria da madrugada, eu tateio pelo aparelho sobre o criado-mudo. – Alô – murmuro, grogue, com medo de que, embora não seja o toque certo, algo talvez esteja errado com um dos meninos no Lar. – Bom dia, dorminhoca. – A voz áspera e aveludada de Colton preenche meus ouvidos. Ouço seu riso do outro lado da linha, e dispara arrepios pela minha coluna até a ponta dos meus dedos. Agora estou acordada com certeza. – Bom dia – murmuro, afundando de volta no conforto da minha cama quente. – Você tem alguma ideia do quanto eu queria estar enroscado com você nessa sua cama? E que eu estivesse acordando ao seu lado e estivesse fazendo sexo matinal em vez de simplesmente ligar para o seu celular? Suas palavras sutis, porém sedutoras, servem ao propósito, pois preciso me sentar na cama para acalmar o anseio que ele acabou de acender dentro de mim. – Eu estava pensando a mesma coisa. – Suspiro baixinho, minha mente vagando para o quanto eu já sinto falta dele. O quanto meu corpo automaticamente responde ao som de sua voz. Olho para minha regata de dormir e calcinha e dou um risinho. – Considerando que estou morrendo de frio e muito pelada e que sei exatamente o que fazer para me aquecer. – Uma mentirinha nunca fez mal a ninguém que estava tentando manter a chama acesa, não é? Ouço-o inspirar o ar num silvado. – Deus do céu, mulher, você sabe como fazer um homem desejar –
ele diz em tom baixo. Ouço outras vozes no fundo e percebo que ele não está sozinho. Só se passaram quatro dias desde nosso fim de semana de êxtase juntos, mas parece que faz uma eternidade que tive chance de colocar as mãos nele. Ele me levou para casa na segunda-feira de manhã a caminho do aeroporto e desde então eu tive que sobreviver com mensagens de texto e telefonemas que me deixam sem chão, agindo como uma adolescente apaixonada. – Volto já – ele diz para alguém que está lá perto dele, e eu ouço a conversa sumir no plano de fundo. – Acho que o pessoal tomando café da manhã aqui não hotel não está a fim de me ver batendo uma porque minha namorada é gostosa pra caralho – ele ri aquela risada sedutora típica e eu deixo que ela me envolva. E então eu paro quando aquela exata palavra que ele disse atravessa meu cérebro entorpecido pelo sono. Namorada. Quero pedir para ele falar de novo para eu ouvir a palavra que é tão simples, mas acabou de literalmente me deixar sem fôlego. Mas foi o fato de que ele disse isso de uma forma tão casual, como se realmente pensasse isso de mim, que não quero chamar atenção para ele. Afundo mais no conforto da minha cama com um sorriso enorme colado aos lábios. – Como vai Nashville? – É Nashville – ele responde em tom divertido. – Não é ruim, mas também não como a minha cidade. Desculpa acordar você com a diferença de fuso horário, mas eu vou ficar superocupado o dia todo, então quis garantir que iria conseguir falar com você. Ouvir sua voz. Suas palavras suavizam meu sorriso. Saber que ele está pensando em mim mesmo que esteja trabalhando e se preparando para seu maior patrocinador. – Sua voz definitivamente é um despertador melhor do que meu aparelhinho… – Minha voz fraqueja. Eu me contenho antes que ligue o “foda-se” e fale o que está na minha cabeça. – Estou com saudades – digo, esperando que ele ouça o que eu realmente quero dizer por trás das palavras. Que eu sinto falta de mais do que apenas sexo. Que sinto falta dele de uma maneira geral. Ele fica em silêncio do outro lado da ligação por um momento, e eu
acho que talvez eu tenha expressado afeição verbal demais para o Senhor Estoico. – Também estou com saudades, linda. Mais do que eu imaginei ser possível. – Sua declaração final é dita em voz bem baixa, como se ele também não pudesse acreditar. Abro um grande sorriso e me aconchego mais nas cobertas, sentindo suas palavras me aquecerem. – Então quais são seus planos para hoje? – Hum… dormir um pouco mais e depois uma corrida, lavar roupa, limpar a casa… Talvez jantar com a Haddie. – Dou de ombros, mesmo sabendo que ele não pode ver. – Como está sua agenda? – Reuniões de marca com a equipe da Firestone, eventos com patrocinadores, uma visita ao Hospital Infantil (a melhor parte do dia se você me perguntar) e depois algum tipo de jantar formal à noite. Vou ter que confirmar com a Tawny a ordem exata. – Ele suspira e eu reviro os olhos involuntariamente ao ouvir o nome. – Os dias se misturam todos às vezes nessas viagens. É tudo importante, mas também é meio chato. – Aposto que é mesmo. – Dou risada. – Da próxima você que você estiver pescando em um desses eventos, é só lembrar o que a minha boca fez com você sábado passado – murmuro para ele na minha voz mais sussurrante. Imagens surgem na minha mente e eu não consigo evitar o sorriso que vem com a memória. Um gemido sufocado vem do outro lado da linha. – Meu Deus, Ry, você está fazendo isso de propósito para eu andar por aí com uma ereção permanente hoje? – Quando minha única resposta é um suspiro contente, ele continua. Há uma nota em sua voz que expressa o desejo não satisfeito: – Quando eu voltar, vou trancar você no meu quarto por um fim de semana inteiro, vou amarrar se for preciso, e você vai ser minha escrava sexual. Seu corpo vai ser meu para usar do jeito que eu quiser. – Ele dá risada. – Ah, e não se preocupe, Ryles, sua boca vai ser usada. E como. Olá, Senhor Dominador! – Por que você está nos limitando a só o seu quarto? Acredito que você tem numerosas superfícies naquela sua casa enorme que podem ser usadas. O gemido que ele emite faz o desejo potencializar dentro de mim. – Ah, não se preocupe com o lugar. Só se preocupe com a forma
como você vai andar depois. – Sua risada é tensa e soa exatamente como eu me sinto. – Promete? – eu sussurro, sentindo meu corpo se aquecer só de pensar. – Ah, querida, eu apostaria minha vida nessa promessa. – Ouço seu nome ser chamado ao fundo. – Está pronto, Becks? – ele diz isso longe do telefone, antes de dar um suspiro audível. – Preciso ir, mas eu te ligo depois se não for muito tarde, tudo bem? – Tudo bem – respondo baixinho. – Não importa a hora. Eu gosto de ouvir sua voz. – Ei, Ry? – Sim? – Pense em mim – diz ele, e eu percebo algo em sua voz: insegurança, vulnerabilidade, ou será que é a necessidade de se sentir desejado? Não, desejado, não. Isso ele é o tempo todo. Talvez seja a necessidade de se sentir necessitado. Não consigo decifrar, mas esse pequeno pedido faz meu coração se apertar no peito. – Sempre. – Suspiro, um sorriso nos meus lábios quando a linha fica muda. Fico sentada com o celular no ouvido por algum tempo. Há muitos pensamentos correndo sobre minha cabeça a respeito de Colton e de seu lado doce e afetuoso. O lado do qual estou tendo vislumbres de mais e mais. Não posso evitar o sorriso amplo no meu rosto quando desligo o telefone e afundo de novo na cama. Tento me fazer dormir de novo, mas, pensando nele e nas possibilidades infinitas, eu não consigo. Da próxima vez que olho no relógio, levo um susto de perceber que se passou uma hora enquanto eu estava perdida em pensamentos, pensando sobre nosso tempo juntos. Sobre como, num espaço de tempo tão curto, ele me tirou de uns baixos enlouquecedores a altos inacreditáveis como o que estou sentindo agora. Enfim, eu estava começando a pegar no sono quando meu telefone tocou novamente. – Fala sério! – digo em voz alta até ver quem está ligando. – Oi, mamãe! – Oi, queridinha – diz ela, e o mero fato de ter ouvido sua voz me
faz querer vê-la novamente. Sinto como se tivesse se passado uma eternidade desde que pude abraçá-la. – Então, quando você ia me contar sobre o novo homem na sua vida? – ela pergunta num tom insistente. Nada como ir direto ao ponto. – Sem rodeios, nem nada. – Rio dela. – Como você acha que eu me senti quando estava folheando a revista People da semana passada e, de repente, pensei ter visto uma foto sua? Então eu voltei na página e, com toda certeza, lá estava você, minha filha, de tirar o fôlego, de braço dado com um Colton Donavan alto moreno e pecaminosamente lindo. – Começo a falar, mas ela prossegue: – E então eu leio a legenda, onde está escrito que “Colton Donavan e sua provável nova parceira incendeiam a noite no evento de caridade Crianças Hoje”. Você sabe como eu fiquei chocada de te ver lá? E depois pensar que você está namorando alguém que eu nem sequer conheço. Percebo o choque em sua voz. Depois o aborrecimento por eu não ter contado a ela sobre meu primeiro encontro desde Max. Que ela tenha ficado sabendo por uma revista. Lanço um olhar para minha penteadeira onde está um exemplar da People. – Ah, mãe, não seja boba. – Suspiro sabendo que eu a magoei por não ter me aberto com ela. – Não seja boba? – ela ironiza. – O homem doou uma batelada de dinheiro para fazer seu projeto acontecer só para chamar a sua atenção e você me diz que estou sendo boba? – Mãe – alerto –, não é por isso que ele doou o dinheiro. – Ela bufa do outro lado da linha ao ouvir minha resposta. – Não mesmo. A empresa dele escolhe uma organização por ano para se dedicar, e este ano calhou de ser a minha. E não é que eu não queria contar para você… é que as coisas andaram uma loucura. – Bom, eu acho que seria um pouco como me dizer que a empresa dele fez uma doação para o projeto, mas se esqueceu de me dizer que você o conhece de verdade… E então? – pergunta ela, com ceticismo. – Eu o conheci no evento de caridade – respondo, sem entregar mais o jogo. – E o que aconteceu naquele evento?
– Você anda falando com a Haddie? – questiono. Não existe a menor possibilidade de ela saber o que perguntar sem ter falado com a Haddie. – Pare de evitar a pergunta. O que aconteceu no evento? – Nada. A gente conversou por alguns minutos e, depois, tive que sair por causa de um problema com o leilão de encontros. – Minha querida e velha mãe não precisa saber sobre o breve interlúdio nos bastidores antes disso. – E qual foi o problema? – Mãe! – Bom, se você tivesse me respondido logo de cara, não teríamos de fazer esse jogo de gato e rato que agora você anda jogando, não acha? Qual o problema das mães? Elas são clarividentes? – Tá bom, mãe. Uma das competidoras ficou doente. Eu fiquei no lugar dela. Colton deu um lance para um encontro comigo e ganhou. Está feliz agora? – Interessante – diz ela, prolongando cada sílaba, e eu juro que posso ouvir o sorriso em seu rosto nessa única palavra. – Então você me diz que eu estou sendo boba quando um dos homens mais sexy na face da Terra está perseguindo minha filha, fazendo caridade para chamar a atenção dela, eu imagino, e levando-a a eventos de alto nível só para exibi-la? Sério? E como que isso é ser boba, Rylee? – Mãe… – Isso é sério? Quanto? – ela pergunta na lata, e eu não deveria ficar chocada com sua franqueza, mas, mesmo depois de todos esses anos, eu ainda fico. – Mãe, o Colton não se envolve com ninguém a sério – tento desviar. – Não tente disfarçar, Rylee – ela repreende. – Eu te conheço bem o suficiente para saber que qualquer homem a quem você dedique o seu tempo, obviamente, vale a pena. E você não perde tempo com alguém que esteja nessa só para dar uma rapidinha. – Estremeço com suas palavras. Se ela soubesse sobre os acordos de Colton, tenho certeza de que não teria tanta certeza do meu julgamento na ocasião. – Então me conte, querida, é sério ou não é? Eu suspiro alto, sabendo que minha mãe é tenaz quando quer uma
resposta. – Para ser sincera, do meu ponto de vista, poderia dar em alguma coisa. Já do lado dele… bem, Colton não costuma se envolver por mais do que alguns meses nesse tipo de coisa. Estamos sentindo e vvendo como isso se desenrola – eu respondo do jeito mais tranquilo e sincero possível. – Hummm – ela murmura antes de cair em silêncio. – Ele trata você bem? Porque você sabe que eles sempre tratam a gente melhor no início do relacionamento, e, se não for bom no início, não vai ficar melhor depois. – Sim, mãe – respondo como uma criança. – Estou falando sério, Rylee Jade – diz ela, com a voz implacável. Ela deve estar falando muito sério se está usando meu nome do meio. – Trata ou não trata? – Trata, mãe. Ele me trata muito bem. Ouço sua risada calorosa do outro lado da linha. Percebo que ela está aliviada. – Lembre-se do que eu sempre digo; não se perca tentando agarrar alguém que não se importa em perder você. – Acabo repetindo as palavras dela para mim mesma, sem som. Palavras que ela me diz desde que comecei a me interessar pelos meninos quando era adolescente. – Eu sei. – Ah, querida, estou tão feliz por você! Depois de tudo o que você passou… você só merece a felicidade, minha doce menina. Sorrio sentindo seu amor e preocupação incondicionais por mim, agradecendo a grande mãe que eu tenho. – Obrigada, mãe. No momento, estamos apenas levando as coisas um dia de cada vez agora para ver aonde isso nos leva. – Essa é a minha menina. Sempre com a cabeça no lugar. Suspiro. Abro um sorriso suave no rosto. – Então, como vão as coisas? Está tudo bem por aí? Como está o pai? – Está tudo bem por aqui. Seu pai está bem. Ocupado como sempre, mas você sabe como ele é. – Ela ri e consigo imaginá-la passando a língua sobre o lábio superior, como é seu hábito. – Como estão os meninos?
Sorrio com a pergunta de minha mãe. Ela os trata como se também fossem da família, sempre manda doces, biscoitos ou coisinhas para fazer com que sintam especiais. – Eles estão bem. Acho que o Shane está com uma primeira namorada, e o Zander está melhorando pouco a pouco. – Vou relatando as coisas sobre cada um dos meninos, respondendo às perguntas. Sinto que outro pacote de agradinhos para eles está a caminho. Falamos um pouco mais e então ela diz que precisa desligar. – Também estou com saudades, mãe. – Minha voz falha com essas palavras, porque ela pode ser dura e arrogante, mas só quer o melhor para mim. Eu a amo mais do que qualquer coisa. – Também estou com saudades, Ry. Já faz muito tempo que eu vi você. – Eu sei. Eu te amo. – Também te amo. Tchau. Desligo e me aconchego de volta na cama quentinha em que, por alguma razão, ninguém vai me deixar dormir esta manhã. Apanho a People de cima da cômoda. Abro na página marcada e lá estou eu. Fico olhando para a imagem de mim e Colton no tapete vermelho do Crianças Hoje. Ele está parado com os ombros retos diante da câmera, com uma mão no bolso da calça e outra em volta da minha cintura. O lenço no bolso do paletó está impecável. Seu rosto está olhando para a câmera, mas o queixo e os olhos estão angulados para mim e há um sorriso enorme no seu rosto. Meus olhos gravitam para a parte da imagem que eu mais amo, a forma como sua mão aperta meu quadril, uma pegada possessiva que anuncia ao mundo que sou sua. Releio a legenda e suspiro. Fico contente que a imprensa ainda não tenha descoberto meu nome. Não estou pronta para ser jogada no circo da mídia, mas sei que é inevitável se eu estiver com Colton. – Quem está na chuva é para se molhar – murmuro para mim mesma. Seguro a imagem na mão, observo-a até me convencer a sair para correr. Estou saindo da cama quando meu celular apita com uma mensagem. Rio em voz alta do controle que a tecnologia exerce sobre a minha vida esta manhã e, apesar disso, pego o celular para ver o nome de Colton. Não consigo evitar o sorriso nos meus lábios.
Pensando coisas indecentes sobre você no meio da reunião. Não vou conseguir levantar daqui por algum tempo. Bruno Mars, “Locked Out of Heaven”. “Trancado fora do paraíso.” Rio alto, pois conheço a música e me sinto lisonjeada também por causa da letra. Respondo com outra mensagem: Que bom que pude ajudar com seu tédio, Ace… é o mínimo que posso fazer. Pense em mais indecências! TLC, “Red Light Special”. Dou um sorrisinho ao jogar o celular sobre o criado-mudo, sabendo que ele agora vai ter muito mais dificuldade em se concentrar na reunião.
Vinte e três
– Stella? – chamo da porta da minha sala. – Stella? O que aconteceu com a minha agenda para hoje? Abaixo a cabeça muito cansada e dolorida sobre as mãos e deixo-a repousar assim enquanto tento descobrir como conciliar tudo esta semana: projeções de orçamento, horários, reuniões de projeto; tudo isso junto com a rotina diária habitual. E agora só posso esperar que a súbita reunião de quatro horas bloqueada na minha agenda para depois do almoço seja apenas uma falha do computador. Por que a Stella não colocou nenhum detalhe? Eu juro que não estava aqui trinta minutos atrás. Talvez eu tenha olhado no dia errado. – Merda – murmuro para mim mesma, esfregando as têmporas para aliviar o início de uma dor de cabeça. Espero que não seja uma daquelas sessões de brainstorming intermináveis do Teddy. Nosso otimismo já tinha sido testado no início da semana quando novas projeções orçamentais nos mostraram que estávamos perto de ficar sem dinheiro graças à mudança na legislação de seguros da Califórnia. E, como nossa angariação de fundos tem ficado à risca, estamos cruzando os dedos na esperança de que a equipe de Colton consiga suprir com os patrocínios necessários para manter tudo nos trilhos. Olho para minha agenda uma vez mais, controlando minha impaciência com a falta de resposta de Stella, e me lembro da acusação de Haddie quando estourei com ela no início desta manhã. – Ooooh, alguém está sofrendo de abstinência de Colton – apontou ela enquanto colocava creme no café. – Cala a boca – murmurei, empurrando meu pão na torradeira com mais força do que o necessário.
– Acho que então é culpa da torradeira você estar irritada. – Desfiro um olhar de morte para ela, mas sua única resposta é um sorriso bajulador. – Olha, eu entendo. Você está tão acostumado a foder o fim de semana inteiro que, quando fica presa numa semana como essa, está para lá de sexualmente frustrada. Você já se acostumou a fazer sexo incrível regularmente, e agora ele está fora há o quê? Nove dias? – Oito – retruco. – Isso. – Ela riu. – Mas não significa que você está contando, né? E agora a queridinha precisa de uma para ficar feliz. – Na hora eu sufoquei o riso para ela, mesmo que estivesse de costas. – Meu Deus, Rylee, isso que eu vou falar não chega nem perto do lado real da coisa, mas liga pra ele no Skype e se masturba para ele ver se isso fizer você parar de ficar insuportável com todo mundo! – Quem disse que eu não fiz isso? – respondi timidamente, mas muito feliz por ela não ter visto o rubor tomar conta do meu rosto quando me lembrei do bate-papo entre mim e Colton ontem à noite. Ah, as maravilhas da tecnologia. – Safadinha! – Ela bateu na mesa da cozinha. – Pelo menos alguém está conseguindo alguma coisa nesta casa esta semana. – Ela riu. Eu cedi e por fim dei meia-volta, unindo meu riso ao seu. Ela levou a xícara aos lábios de novo e olhou para mim enquanto assoprava a fumaça para esfriar o café. – Estou feliz por você, Rylee. Muito feliz. Aquele homem te olha como se você fosse a única mulher no mundo. – Quando faço um ruído desdenhoso para dizer a ela que está completamente errada, ela apenas continua: – Foi o Colton quem devolveu essa faísca ao seu olho. Deixou você confiante e segura de si outra vez. Ele fez você se sentir sexy também… não me olhe – ela me disse quando eu estreitei os olhos para ela. – Eu vi a lingerie que estava pendurada para secar no seu banheiro, menina, por isso nem sequer tente. Adorei! Então, me conta, quando o bonitão volta, hein? – Daqui mais dois dias. – Suspirei. – Graças a Deus! Aí você pode parar de ser insuportável e ranzinza! – brincou ela com um sorriso. – Você conseguiu, menina malvada. – Eu sei. Eu sei. – Lancei-lhe um sorriso rápido ao mesmo tempo
em que guardava meu almoço na bolsa, sabendo que as próximas 48 horas seriam arrastadas. – Tenho que ir para não me atrasar. Te amo. Tchau. – Te amo. Tchau. Respiro fundo para sair do meu devaneio. Haddie está certa, estou caidinha. Giro na cadeira e chamo Stella novamente pelo interfone. – Sim? – Aí está você… Então, que história é essa de reunião ocupando toda a minha tarde? – Tento manter a irritação longe da voz, mas é difícil. Ando trabalhando sem parar desde domingo e só quero a tarde para colocar as coisas em dia. – Hum, não sei bem. O quê? Quem levou minha assistente eficiente ao extremo daqui e a escondeu? – Como assim você não sabe bem? – Bom… – Sinto seu desconforto até mesmo por trás de sua voz desencarnada no interfone. – Quero dizer… – Para que é? – Bem, alguém da CDE ligou e pediu que eu esvaziasse a sua agenda para uma reunião muito importante sobre o programa de patrocínio. O Teddy estava aqui quando eles ligaram e disse que tudo bem. Disse que te passaria essa informação… agora, pelo seu tom de voz, eu imagino que ele não fez isso, fez? Meu coração palpita com a menção ds empresa de Colton e depois esvazia sabendo que ele não vai estar lá. Aí minha mente começa a girar e o coração a acelerar, porque tenho a sensação de que isso significa que eu vou ter que estar cara a cara com Tawny e sua equipe. Justamente a pessoa com quem eu quero passar quatro horas confinadas numa sala… – Não, ele não me avisou. Você está brincando comigo? – digo antes de poder me controlar. – Não. – Ela ri, compreensiva, sabendo que eu ando no limite. – Sinto Muito. Eu sei que seu dia estava lotado, mas consegui rearranjar tudo. Deixei uma mensagem de voz… Acho que você também não recebeu, né? – Nem sequer tive chance. Só ouvi as mensagens uma vez hoje cedo.
– Bem, pelo menos você vai poder ver aquele pedaço de mau caminho, hein? Dou risada abertamente em resposta ao comentário, sabendo que os rumores andam percorrendo o escritório sobre o que Colton e eu estamos ou não estamos fazendo. Ainda não justifiquei nenhum deles além de falar que fomos ao evento beneficente juntos para promover o patrocínio apesar da legenda que apareceu na People. Não sei dizer se alguém acredita em mim ou não e, para falar a verdade, estou ocupada demais para me importar com isso, mas tenho certeza de que o bebedouro tem sido um lugar bem frequentado ultimamente. – Imagina… Quando conversamos na semana passada, ele mencionou que estaria fora durante a semana para algum tipo de agenda promocional – minto. – É uma pena – ela murmura. – Olhar para ele durante uma reunião de quatro horas animaria a vida de qualquer um. – Sua gargalhada percorre a linha, e posso ouvi-la ecoar em som estéreo do lado de fora da minha porta. – Você é incorrigível, Stella. Que horas eu tenho de estar lá? – Eles vão mandar um carro para você. Deve chegar em menos de meia hora. Mandar um carro? A Tawny provavelmente quer ter certeza de que eu não tenha nenhum jeito de fugir dos planos malignos que ela tem para mim. Dou uma risada irônica de mim mesma, e levo as mãos à boca para sufocá-la. – Tudo bem, Stell… Não gosto disso, mas acho que não tenho escolha, não é? – Não – ela concorda antes de eu desligar. – Maravilha! – murmuro em voz alta antes de pegar um chocolate na tigela sobre a mesa. Acho que vou precisar de todos eles para me ajudar a lidar com o resto da tarde.
– Estamos quase lá – diz Sammy, do assento do motorista. – Mais uns dez minutos. – Ok. Obrigada, Sammy – murmuro observando o belo interior do Gclass SUV. Este deve ser mais um dentre a coleção de carros.
Tento evitar o sorriso que quer invadir meus lábios. Acho que não importa quantos ele tenha; Sexo é definitivamente a minha favorita. Sammy me olha pelo retrovisor, e eu sorrio. Fiquei chocada quando foi ele quem veio me buscar. Falei isso a ele, expressando que estava surpresa por Colton tê-lo deixado para trás quando saiu de viagem. Pensei que fossem inseparáveis. Sammy só deu de ombros, sem se comprometer, sem dizer uma palavra. E agora minha imaginação hiperativa começa a vagar durante a viagem e eu começo a me preocupar com Colton. E se ele precisar de ajuda para manter algum fã louco e irracional à distância, e Sammy não estiver presente para ajudar a protegê-lo? Balanço a cabeça, dizendo a mim mesma que estou louca. Colton admitiu para mim que ele se defendia rápido na juventude. Tenho certeza de que ele poderia segurar as pontas, se precisasse. Meu celular emite um sinal de mensagem e eu o tiro da bolsa. Um sorriso seespalha no meu rosto. É de Colton. O Beckett me repreendeu por não fazer gestos românticos para você. *revira os olhos* Ele diz que eu preciso de gestos como flores e poesia. Aqui está o mais próximo a que eu chego e o melhor em que consegui pensar. Rosas vermelhas arrumadas em buquê. Sentado em Nashville. Pensando em você. Rio alto imaginando a imagem de Beckett e Colton sentados em Nashville tendo uma discussão sobre mim. Enxergo claramente Colton revirando os olhos diante das recomendações de irmão mais velho feitas por Beckett para gestos românticos, e, durante todo o tempo, ele estava elaborando versinhos primários para mim. Rapidamente abro a internet e procuro versões desse poema préescolar. Depois de consultar alguns links, encontro um que é perfeito Que fofo! E você disse que não gostava de romantismo. Calma, coraçãozinho acelerado. Essas aí devem ser umas reuniões muito chatas. Agora, tenho um para você. Rosas vermelhas arrumadas em buquê. Estou usando minha mão, pensando em você. Bj. Sorrio na hora em que aperto enviar, satisfeita com minha resposta espirituosa e desejando que eu pudesse ver seu rosto ao ler. Rodamos na rua mais alguns minutos, quando meu celular apita de novo. Fique sabendo que meu pau tá duro como o de um adolescente.
Minha vez, agora digitando com uma só mão. Rosas vermelhas, flores de amora. Abra as pernas, e vou estar aí em uma hora. Engulo a risada que borbulha na minha garganta, apertando os joelhos juntos para sufocar o tesão que nossa pequena troca de mensagens despertou. Olho para cima e encontro os olhos de Sammy no espelho. Meu rosto fica corado como se ele soubesse o que estou lendo, os pensamentos indecentes que estou pensando. Eu me apresso a desviar os olhos. Respondo: Belo poeta você é, Ace. Pena que não está aqui. O voo leva pelo menos quatro horas. Acho que não posso esperar tudo isso. Acho que vou ter que fazer justiça com as próprias mãos. Tenho que ir agora. Bj. Preciso das mãos para outra coisa no momento. Teclo enviar enquanto estamos entrando no estacionamento de um prédio cinza comum de três andares, anódino com um exterior de vidro espelhado. O edifício abrange a maior parte do quarteirão, e o único marcador que indica quem são seus ocupantes são as letras “CD Enterprises” em azul-elétrico no topo da fileira de janelas. – Chegamos – murmura Sammy, e minha ansiedade acelera só de pensar em ter que me sentar na frente de Tawny. Fecho os olhos por um instante e respiro fundo enquanto Sammy vem até o meu lado do carro para abrir a porta. Preciso manter a calma com Tawny porque a última coisa de que preciso é ser conhecida como a megera namorada de Colton. Graças a Deus eu tive uma pequena distração com as mensagens de texto para aliviar o medo. Em instantes, ele me levou por uma entrada lateral e estou seguindo-o por um lance de escadas até uma sala de conferência à espera. – Alguém já vem aqui falar com você – diz ele, já saindo. – Obrigada, Sammy. – O prazer é meu, Srta. Thomas. Viro-me e dou uma olhada pela sala de conferências a que fui trazida. Há uma longa mesa de reuniões típica no meio da sala com paredes pintadas de um tom cálido de café, mas o ponto focal da sala é a parede oposta à porta. É uma parede de vidro matizado. Ao me aproximar, percebo que a abertura dá vista para uma espécie de oficina enorme. Ao redor de vários carros de corrida há uma enxurrada de atividades, homens deslocando-se de um lado para o
outro. Caixas de ferramentas azul-cobalto estão alinhadas em uma das paredes do espaço que é contornada por uma espécie de chapa de aço inoxidável aplicada no meio, com vários cartazes e faixas acima dele na parede. Chego mais perto, fascinada e sentindo a energia de toda as atividades lá embaixo. – Rosas vermelhas arrumadas em buquê. – A voz às minhas costas me assusta, mas giro bruscamente, pois conheceria a aspereza dessa voz em qualquer lugar. – É melhor que sejam apenas as minhas mãos em você. – Colton! – Seu nome sai numa lufada sem fôlego e, apesar de todos os nervos do meu corpo formigarem por senti-lo tão perto, meus pés permanecem cimentados no chão. Juro que a frequência dos meus batimentos cardíacos duplica na hora só de vê-lo, e, embora minha intenção seja manter a calma e mascarar a emoção que está causando estragos dentro de mim, não consigo evitar o sorriso largo que se espalha sobre meus lábios. – Surpresa! – exclama, estendendo os braços ao lado do corpo. Ele entra na sala e fecha a porta atrás de si. É vê-lo em carne e osso que me faz perceber o quanto senti sua falta. O quanto, num período tão curto de tempo, eu me acostumei a tê-lo como uma parte da minha vida diária. Aproximamo-nos, bebendo a imagem um do outro. Seu olhar faminto rouba minha respiração e sugere coisas que fazem meu âmago arder com calor líquido. Meus olhos descem para essa boca sensual que ele tem. Está curvada em um dos cantos, como se seus pensamentos não fossem exatamente puros e inocentes. E eu espero que não sejam, porque então combinariam com o meu. Meu corpo vibra com sua proximidade, confirmando que o tempo não fez nada para amortecer a atração instantânea que ele exerce em mim. Já estou além de ficar pisando em ovos na fronteira do que seria me apaixonar por ele há muito tempo a agora estou mergulhando de cabeça. Nossos olhos travam à medida que suprimimos a distância que nos separa, e eu sei que não é possível, mas nesse instante eu juro que vejo um flash de meu futuro em seus olhos. A revelação me enerva e dispara um enorme frio na minha barriga.
Paramos a um passo de distância um do outro e eu levanto a cabeça para que meus olhos se fixem nos seus. – Olá, Ace. – Sorrio. Meu pulso ainda salta de forma irregular. – Oi – ele responde quase sem som. Aquele seu sorriso tímido curvando o canto dos seus lábios. Olhamos um para o outro por um instante, e, antes que eu possa processar o pensamento, as mãos de Colton estão enredadas nos meus cabelos, me puxando para a frente, lábios tomando os meus. Seu gosto é de menta e urgência, todo Colton, e, mesmo que eu esteja me afogando nele, ainda não consigo ter o suficiente. Sua língua lambe minha boca e me provoca: recuando e depois lançando-se adiante novamente. Sua boca capta meu gemido. Ele abaixa a mão nas minhas costas e sobe por debaixo do meu suéter para traçar os dedos calejados na minha pele nua antes de me pressionar contra seu corpo rígido. E bem quando o beijo começa a suavizar e se tornar carinhoso, a boca de Colton domina a minha novamente. Nossas mãos começam uma série de toques e movimentos como se não pudéssemos nos saciar um do outro. Ele interrompe nosso beijo e apoia a testa na minha. Sua respiração ofegante roça meus lábios. – Eu não podia deixar você recorrer às próprias mãos, Rylee – ele murmura, e eu sinto seus lábios formarem um sorriso pressionados nos meus, suavizando a risada despreocupada que suas palavras incitam. – Agora você é minha. Eu sou o único que pode te dar prazer. Antes que eu possa pensar em uma resposta espirituosa, a boca de Colton está na minha de novo; sua língua mergulha entre meus lábios, seu corpo me empurra para trás de forma que meus quadris encontrem a borda da mesa de reunião. Ele me aperta, me faz sentar, afastando minhas pernas com seus joelhos, e se encaixa no meio delas. Agora estou em desvantagem de altura com ele, que se inclina e sustenta meu rosto em suas mãos. Sua língua acalma o ponto no meu lábio inferior onde ele acabou de me morder. Meus sentidos se aguçam com a necessidade à medida que ele continua seu ataque tentador na minha boca, e todo o senso de coerência é perdido. Em um movimento inesperado, ele afasta o rosto para trás, com as mãos ainda emoldurando meu rosto sob seu domínio, e olha para
mim. Seus olhos nadam com emoção enquanto sua mandíbula aperta com palavras não ditas. Olhamos um para o outro, ofegantes com o desejo que está guiando cada uma das nossas ações e subsequentes reações. Sentimentos que eu quero confessar morrem nos meus lábios quando sinto que a ponta de seu polegar os acaricia com ternura. Algo mudou entre nós, mas não consigo compreender exatamente o que foi: Ele me quer tanto quanto eu o quero. Quaisquer dúvidas que eu tinha de que ele pudesse querer outra mulher desvanecem neste único olhar. – Senti sua falta, Rylee – diz ele suavemente, antes de passar os braços ao meu redor e moldar meu corpo ao seu. Apoia a bochecha no topo da minha cabeça e me abraça apertado. Ouvi-lo dizer isso, admitir que também sou uma parte de sua vida cotidiana, aquece-me por dentro. – Eu também senti sua falta – murmuro derretendo no conforto de seus braços –, mais do que eu queria admitir. – Um pequeno som estremece em seu peito, e eu sei que minhas palavras o afetaram. Ficamos desse jeito por alguns instantes, deleitando-nos no calor e no conforto do outro, de que tanto sentimos falta durante esta última semana e meia; estamos absorvendo o que finalmente reconhecemos, verbalizamos e que ambos aceitamos à nossa maneira. Sem pensar, planto um beijo suave sobre seu coração. – Gostei muito da minha surpresa. Você com certeza sabe como mimar uma garota. Obrigada. – De nada – ele me diz, beijando o topo da minha cabeça novamente. – Eu não tinha certeza de como o seu escritório reagiria se eu aparecesse lá do nada e tirasse você da sua mesa. – O quê? – Rio em voz alta, sentindo meu corpo se aquecer com o pensamento. Eu me reclino para trás para olhar em seus olhos. – O plano era esse, não era? – Tempos desesperadores requerem medidas desesperadoras. – Acho que uma vez você me disse que estava longe de desesperado – brinco, devolvendo-lhe as próprias palavras. Ele ri baixinho e franze os lábios – Isso foi antes de eu passar uma quantidade infinita de tempo, em Deus sabe lá quantas reuniões chatas, pensando sobre o que exatamente eu gostaria de estar fazendo com você. – Um sorriso
lascivo se espalha por seus lábios. – E para você. – Isso é um monte de pensamentos indecentes. – Ah, Rylee, você não tem ideia. Engulo em seco ruidosamente. A luxúria que pula em seus olhos e escurece sua íris me dá uma dica. – Então, você planejava agir segundo esses pensamentos impuros no meu escritório? Na minha mesa? – Arqueio as sobrancelhas num gesto de desaprovação jocosa, mas o sorrisinho no meu rosto me trai. – Isso. Foi o que eu te disse – diz ele, entrando no jogo. – Eu pego o que é meu quando eu quero… – Na frente dos meus colegas de trabalho? – Aham. – Ele sorri como um garoto travesso de colégio. – Eu tinha planejado vir direto do aeroporto hoje de manhã, mas acho que o Teddy não iria aprovar. Passo a língua pelo meu lábio superior. Observo Colton, coloco as mãos atrás de mim sobre a mesa para me inclinar para trás, de ombros arqueados e seios empinados. Noto os olhos de Colton e sua apreciação langorosa da minha nova postura – seus olhos se aquecem e sua língua dispara para umedecer os lábios. – Desde quando você se importa com o que as pessoas pensam? – Ah, querida, acredite em mim, eu não me importo… – Ele sorri. – Mas ainda temos que preservar a sua reputação. – Eu acho que ela foi arruinada no momento em que comecei a sair com você. – Provavelmente. – Ele dá de ombros com indiferença. – Eu ainda acho que o seu chefe pode se opor a ter sua funcionária de ouro sendo fodida em cima da mesa. – Mas e o seu chefe? – pergunto em tom de brincadeira. – Ele está de acordo que os empregados dele façam algo parecido com isso? Aqui? Um sorriso lento e sugestivo curva um canto de sua boca, e a covinha se aprofunda. – Ah, eu acho que sim – diz ele, inclinando-se para colocar as mãos ao lado dos meus joelhos sobre a mesa. – Você acha? Por que você diz isso? – me interesso, estreitando os olhos para ele, jogando o mesmo jogo. – Ah, ele tem um interesse bastante especial nesta situação aqui –
murmura Colton quando se inclina mais em mim. – Ah, é mesmo? – sussurro. Involuntariamente, arqueio as costas de um jeito que meus seios roçam seu peito. Mordo o lábio inferior. Continuamos nos entreolhando fixo. A respiração de Colton sopra de leve no meu rosto. – Às vezes é ótimo pra caralho ser o chefe – diz ele antes de baixar os lábios nos meus de novo, mas desta vez é um beijo dolorosamente lento que me seduz e me tortura a um ponto irreversível. Eu o quero, e eu o quero agora. Meu Deus, o cara me provoca um desejo tão intenso que eu nunca pensei que fosse imaginável. Seus dedos começam a deslizar num movimento lento e lânguido até meus braços, meu corpo fica cada vez mais tenso com o pensamento de onde será que seus dedos talentosos vão percorrer em seguida. Deito a cabeça para trás. Sua boca desliza pelo meu maxilar e expõe meu pescoço para ele. Direciono uma das mãos para seu quadril e o puxo mais forme contra mim. Sua boca segue provocativa e mergulha por baixo da gola do meu suéter. – Colton. – Solto a respiração que estava presa sentindo a necessidade sufocar meu núcleo e o fogo se espalhar pelas minhas veias. Um alto sinal sonoro enche a sala de repente, e Colton larga o corpo sobre mim. Do interfone no aparador, eu escuto: – Perdão, Colton? – Porra – ele murmura baixinho contra o meu pescoço. – Alô? – Beckett está procurando por você em toda parte. Algo sobre um problema com Eddie… – A voz dela some, como se estivesse com medo da resposta. – Meu Deus! – ele blasfema em voz alta. Seu corpo fica tenso em resposta ao comentário da interlocutora. – É exatamente o que estou pensando. – Onde? – Eles estão no piso da oficina. – Estou indo para lá. Obrigado, Brooke. O interfone desliga. Colton se levanta e endireita a postura. Eu me levanto da mesa de conferência e o vejo caminhar até a janela panorâmica para olhar a oficina lá embaixo. Quando ele se volta para mim, já se transformou de amante brincalhão em homem de negócios
inveterado. – Peço desculpas, Ry. Preciso descer para cuidar de alguma coisa. Você vem comigo? – pergunta ele, estendendo a mão, e eu fico um pouco surpresa. O Senhor Não-assumo-compromissos quer segurar minha mão no seu ambiente de trabalho? Será que não é um pouco “demonstração pública” demais para alguém com seu histórico? – Posso ficar aqui se você preferir – ofereço em tom manso, mas sem querer me afastar dele. Ele me olha de um jeito estranho e logo agarra minha mão e me puxa com ele. – Eu não vou deixar você ir embora, Ryles, até eu me satisfazer de você – ele adverte numa promessa que faz as chamas do desejo lamberem meu núcleo. – E isso pode demorar bastante.
Vinte e quatro
Beckett acena com a cabeça para mim; há o fantasma de um sorriso em seus lábios, quando Colton me leva do piso da oficina. Seguimos e atravessamos uma porta lateral e eu nos vejo num tipo de escadaria. – Subir. – Colton aponta ao colocar a mão nas minhas costas. Subo na frente dele, com sua mão restante na curva do meu traseiro por todo o primeiro lance de escada. – Eu falei como você está sexy pra caramba hoje? – Sua voz áspera diz atrás de mim. Eu olho por cima do ombro e sorrio. – Obrigada – respondo, reconhecendo o olhar lascivo em seus olhos. – Mas tenho a sensação de que a sua visão está um pouco enviesada por causa da falta de sexo. O ruído de apreciação no fundo de sua garganta me faz sorrir. – Ah, linda, com certeza não tem nada de errado com a minha visão – diz ele com uma risada. Começo o segundo lance de escada, mas desta vez as mãos de Colton parecem me tocar em vários lugares a cada degrau. Uma carícia suave na parte de trás da minha coxa. Um ligeiro roçar pelo meu braço nu. Uma palmada rápida na minha bunda. Sei exatamente o que ele está fazendo, mas não que ele esteja precisando avivar as brasas, porque já estou no fogo do desejo. Ao saber que ele me quer desse jeito, ardendo e precisando mais do seu toque, começo a me sentir meio devassa e disposta a entrar também no jogo. Balanço os quadris um pouco mais do que o habitual, ao atravessar o segundo patamar. Minha mão levanta um pouco minha
barra para levar apenas um traço do que está por baixo. Na velocidade da luz, Colton me agarra por trás passando os dois braços ao meu redor num aperto ferrenho. – Sua garota atrevida – ele rosna no meu ouvido e eu sinto o movimento de músculos nas minhas costas. – Você vai me provocar assim mesmo quando faz tanto tempo que eu não entro em você e não sinto seu gosto? Ainda mais quando você sabe como eu estou desesperado para ter você. Graças a Deus, ele está tão carente como eu, porque não vou ser capaz de aguentar muito mais tempo. Ele belisca o lóbulo da minha orelha quando tento me livrar de seus braços. A necessidade é quase debilitante. – O desespero não combina com você. Afinal, você não vai fazer nada a respeito dentro de um prédio cheio de funcionários por perto, certo? – provoco de brincadeira. Colton me gira de frente para ele. Seu corpo pressiona o meu e suas mãos seguram firme a base da minha coluna. O sorriso no rosto corresponde ao brilho malicioso em seus olhos. – Ah, Ryles, você não sabe que é para esse tipo de desafios que rebeldes como eu vivem? – Ele se curva mais sobre mim. Seus lábios estão a milímetros da minha orelha. Meu coração bate contra as costelas. – Eu vou ter você, Rylee, quando quero, onde quero e do jeito que eu quero. É melhor você se lembrar disso. O domínio em sua voz me excita. A promessa cheia de ameaça me desperta. A sensação de seu corpo contra o meu vibrando de necessidade e suas mãos possuindo minha pele fazem a umidade se acumular entre minhas coxas. Empino a cabeça para trás e entreabro os lábios – precisando de sua boca na minha desesperadamente. Do que leio nos olhos de Colton, ele sente o mesmo. Os dias separados alimentaram nosso desejo e o transformaram num grande incêndio. Tudo o que desejo é tomar o que ele puder me dar. A tentação do paraíso na ponta dos meus dedos. Deito o corpo no dele, sucumbindo ao meu desejo, mas, antes que possa provar, ele me gira e solta uma gargalhada dolorosamente perversa. – Mais um lance – diz ele, com uma palmada na minha bunda antes de colocar as duas mãos na minha cintura e me dar um
empurrãozinho para a frente. Suspiro de frustração sexual e da dor esmagando algumas partes dentro de mim. Estou no segundo degrau, quando sinto o ar fresco da escada na minha bunda: ele levanta a parte de trás da saia para descobrir o que há por baixo. Sorrio para mim mesma, sabendo exatamente o que ele vai encontrar. É uma daquelas manhãs em que eu não estava me sentindo particularmente atrativa e estava mal-humorada porque estava sentindo falta dele, então deciditentar me sentir melhor vestindo algo sexy e feminino por baixo. Por alguma razão, esse tipo de lingerie sempre me faz andar rebolando um pouco quando necessário. Mal sabia eu como essa decisão seria recompensada, mas agora eu sei, ouvindo Colton inspirar o ar bruscamente com o que encontra. – Deus do céu – ele murmura inspirando com dificuldade. Mexo uma das pernas para alcançar o próximo degrau e paro ao sentir seu dedo traçar o topo das minhas meias e seguir pela cintaliga. Olho para baixo de um jeito tímido. – Algum problema, Ace? Ele apenas sorri para mim e balança a cabeça sutilmente, olhos firmes no que eu imagino ser a textura da renda e do cetim aqui embaixo. – Mulher, você não joga limpo mesmo, né? – Colton solta o ar num gemido antes de afastar os olhos dali e encontrar os meus. – Que diabos você está falando? – Bato as pestanas para ele e, de propósito, mordo o lábio inferior. Adoro ver sua boca se abrir e sua língua se pôr para fora para lamber o lábio inferior. Seus olhos ficam escuros e encobertos, mas não deixam os meus: verde contra violeta. Adoro saber que posso deixá-lo num estado como esse de desejo sem nem tocá-lo. E é só por causa dele que consigo fazer isso. Ele me faz sentir confiante, sexy e desejável, quando antes eu só me sentia comum e incapaz de ser dona da minha sexualidade. Os olhos de Colton continuam nos meus, mas seus dedos roçam na minha pele até a beira da minha calcinha. Meus músculos estremecem ao sentir a proximidade de seu toque – tão perto e ao mesmo tempo tão longe de onde eu quero que seus dedos estejam. Onde preciso que estejam. – Esse jogo é para dois – ele murmura ao se aproximar. – Parece
que eu me lembro de ouvir você dizer que previsibilidade não combina comigo. Por que eu não te mostro como absolutamente certa você está… agora mesmo? Mordo o lábio mais forte para abafar um gemido ao sentir seus dedos habilidosos puxarem minha calcinha de lado e ele deslizar um dedo no meu núcleo derretido. Seguro firme no corrimão ao meu lado quando ele recua e faz movimentos de vai e vem por entre as dobras do meu sexo antes de mergulhar três dedos dentro de mim. – Ah, linda, eu adoro como você está molhada e pronta para mim. – Ele rosna e eu perco o fôlego. – Você tem alguma ideia do que isso faz comigo? O quanto me deixa transtornado saber que você me quer? – Colton, por favor – imploro. No momento não estou além de lhe implorar para me preencher. Para me levar àqueles limites sem precedentes que só ele pode me ajudar a alcançar na velocidade da luz. – Me fala o que você quer, Rylee. – Ele dá risada quando tira os dedos, e eu gemo ao sentir o repentino sentimento de vazio. Jogo a cabeça para trás. Meus olhos se fecham. Meu corpo convulsiona com tamanha necessidade que as provas disso reluzem nos dedos de Colton. – Você, Colton. – Ofego. – Eu. Quero. Você. Ele passa o dedo no meu lábio inferior antes de se aproximar e substituir o dedo pela língua, colocando-a entre meus lábios e depois recuando novamente. Não consigo evitar o gemido que rola da minha boca. – Me fala, linda. – Só você, Colton. Em uma fração de segundo, ele me vira e pressiona minhas costas na parede da escadaria. Seu peito ofega e seu maxilar está cerrado. Seu olhar é de tal intensidade que me perco nele. O mundo exterior deixa de existir neste momento em que estou aqui exposta e disponível. Estou desnuda física e emocionalmente. Nunca fui mais dele. Colton ergue minha saia de novo e afasta mais minhas pernas. Ele dá um sorriso lascivo ao se ajoelhar devagar sem nunca desviar os olhos dos meus.
Meus pensamentos racionais deveriam entrar em ação agora. Minha cabeça deveria subir ao topo da cascata de luxúria na qual estou me afogando e me dizer que estou na escadaria da empresa dele, mas não faz nada. Em vez disso, meu corpo traiçoeiro estremece com a expectativa e, quando Colton percebe, seus olhos faíscam e seu sorriso me provoca. Ele se afunda em mim. Dentro de segundos, uma única risada escorrega dos meus lábios trêmulos em resposta a ele rasgar minha calcinha sem o menor esforço e depois guardar no bolso. Minha mente e meu corpo estão tão focados nele, no que eu preciso dele, que eu não me atenho ao fato de que ele arruinou outra lingerie minha sem pensar duas vezes. Seus dedos afastam minhas dobras, seus olhos nunca deixam os meus, e ele fecha a boca sobre meu feixe de terminações nervosas. Minhas mãos voam para os cabelos dele, e eu luto com todas as minhas forças para não fechar os olhos e ceder ao êxtase de sua língua esperta. Quero vê-lo me levar às alturas e além, mas a sensação é tão forte que me domina. Arqueio o corpo – o pescoço, a cabeça, as costas –, ergo os quadris para me movimentar sobre ele. Ele ergue minha perna e a passa ao redor de seu ombro antes de acrescentar um dedo à brincadeira. Eles pressionam, empurram e circulam dentro de mim. Meus músculos se apertam tão firme que, quando o clímax me consome, eu sinto como se meu corpo estivesse se estilhaçando em um milhão de pedacinhos de êxtase. Colton passa a língua sobre meu sexo e então lambe dentro de mim, sugando cada último tremor do meu orgasmo. Largo o corpo na parede ao lado dele, precisando do suporte, pois minhas pernas acabaram de virar gelatina. Fecho os olhos e tento me acalmar, mas ele acabou de mandar meus sentidos para o espaço com uma invasão como essa. Acabei de perder uma parte minha para ele pela eternidade. – Meu Deus, mulher, dá para um cara ficar bêbado com o seu gosto. – Ele geme ao dar um beijo suave no meu abdome antes de se levantar. Fecho os olhos para não ver seu sorrisinho convencido e satisfeito e nem seus olhos pesados de desejo. Ele se aproxima e me beija com força. Meu gosto nos seus lábios me excita inesperadamente. Solto um gemido em sua boca. Minhas mãos descem serpenteando
por seu corpo e apalpam a ereção através da calça, ainda querendo mais, ainda precisando de mais. Ele separa nosso beijo com um gemido torturado e se afasta de mim. – Colton – murmuro –, me deixa cuidar de você. – Não aqui – ele me diz, alisando minha saia e abrindo um sorriso maroto ao arrumar o que sobrou da minha calcinha mais fundo no bolso. – Quero ouvir você gritar meu nome quando eu te comer. Quero ouvir você se despedaçar com as coisas que vou te fazer, Rylee. Quero te tomar pra mim. Te fazer minha. Arruinar você para qualquer homem que queira tocar em você. – A convicção em suas palavras lhe provoca uma careta. – Você já fez isso, Colton – suspiro sem pensar, e toco os dedos em seus lábios. – Sou sua… – Minha voz some. Ele me encara, de maxilar cerrado, absorvendo as palavras que acabo de dizer. Um fantasma de sorriso misturado à descrédito incerto brinca nos seus lábios antes de ser posto de lado. – Eu… a gente não pode continuar aqui com tudo que eu quero fazer, mas isso – ele faz um gesto para mim e para a parede – vai me dominar. – Ele desfere um sorriso rápido e pega minha mão para subirmos o último lance de escada. Sigo atrás, sabendo no coração e no meu corpo que estamos longe de recuperados daquele pequeno episódio. As palavras de Haddie lampejam na minha cabeça, mas não posso evitar discordar dela. Quando se trata de Colton, eu não estou só caidinha. Eu já me afoguei, fui consumida e agora sou absoluta e inegavelmente dele. Colton abre a porta no topo da escada. Fico surpresa de nos encontrar no interior de um escritório bem masculino e parcamente decorado. Suposições de lado, eu sei que é dele, pois é muito parecido com o escritório de Malibu. Entro atrás de Colton e então ouço uma voz surpresa. – Ah, Colt, você me deixou apavorada! – exclama a voz feminina, e, instantaneamente, minhas costas se arrepiam ao perceber a familiaridade que ela tem com ele. Será que essa mulher tem que estar em todo lugar? Poorraaa! – Posso ajudar com alguma coisa, Tawn? – pergunta Colton, e eu juro que ouço um toque de curiosidade na pergunta. Tawny endireita a postura, pois estava inclinada sobre a mesa dele,
e alisa os papéis com os quais estava mexendo. É claro que ela está impecável com uma camisa que desafia o decote, calça agarrada e rosto recém-maquiado. A mulher está absoluta e perfeitamente deslumbrante. Seus lábios formam um “O” de surpresa quando ela olha para Colton, depois para mim e então para ele de novo. A garota malvada e territorial dentro de mim quer que ela perceba meu rosto corado e o sorriso de “acabei de dar”, para reafirmar que ela não passa de um pontinho insignificante no radar de Colton. – Desculpe. Você me assustou. – Ela suspira. – Eu só estava procurando pelo contrato da Penzoil. Eu não sabia se você tinha tido a oportunidade de assiná-lo. Só isso. – Seu sorriso é doce demais. Sei onde ela pode enfiar esse sorriso falso. Colton a observa por um momento como se estivesse tentando decifrar alguma coisa, mas nega com a cabeça, despreocupado. – Tawny, você já conhece a Rylee, né? Os olhos dela passam de mim a ele e vice-versa, notando que estamos de mãos dadas, antes de recolocar o sorriso que abandonou ligeiramente seu rosto. – Algo assim – ela diz ao sair de trás da mesa dele e caminhar (não, rebolar) em nossa direção. A verdade é que não existe outra forma de descrever. Seus olhos permanecem firmes nos de Colton. Ela é definitivamente uma dessas mulheres com plena consciência de cada movimento do seu corpo e o efeito que provoca no sexo oposto. Se eu não gostava dela antes, agora eu a detesto. Colton me mostra um olhar de alerta ao sentir minha mão ficar tensa com a aproximação de Tawny. – Que bom ver você de novo – minto, e fico me perguntando se ela e faz alguma ideia da luta livre a que ele acabou de dar início. Preciso abafar a vontade que tenho de rir só de pensar na imagem de Tawny e eu voando nas cordas de um ringue de luta com fantasias ruins e movimentos ainda piores numa luta para disputar Colton. – Verdade, que surpresa ver você aqui. – Ela sorri e eu sou observadora o suficiente para notar Colton erguer as sobrancelhas de um jeito intrigado diante da óbvia tensão entre nós duas. Ele se vira para mim, e seus olhos reavivam o alerta para eu me comportar bem, como se ele soubesse dos meus pensamentos de luta.
– Como você sabe, a Tawny aqui é a chefe da minha equipe de marketing e foi ela que veio com a ideia do patrocínio. Sim, por favor me relembre para que eu não meta a mão na cara dela, porque a tentação está de matar. – Sim – respondo, indiferente, sabendo que devo agradecer a ela adequadamente, mas não estou a fim. Penso por um instante, mas meus bons modos, por fim, vencem. – E a Corporate Cares agradece a todos vocês pelo enorme esforço que empregaram na ideia – digo, sincera. – De nada –,responde ela. Seus olhos nunca deixam os de Colton, embora ela esteja se dirigindo a mim. Será que ele não vê o encantamento de Tawny por ele? É tão óbvio que é hilário. – Já conseguimos alguns patrocinadores, mas ainda temos que mexer mais alguns pauzinhos para algumas empresas de nome. Estamos resolvendo isso no momento e muito provavelmente vamos conseguir aquele número mágico para solidificar o financiamento para o projeto. – Inacreditável – digo, tentando expressar meu entusiasmo ao mesmo tempo em que escondo meu total desdém por ela transpirar, sim, pois é isso o que ela faz, seu charme para Colton por todos os poros. Vejo-a observar Colton. De repente me percebo incomodada por me sentir uma estranha na conversa. Ela se vira lentamente para mim, um sorriso sarcástico nos lábios, e eu tenho que me lembrar de que é comigo que Colton estava fazendo coisas inapropriadas, porém muito excitantes, agora mesmo na escada. Não com ela. E, com essa nota mental, estou mais do que pronta para jogar esse jogo. – Se você acha que pode contribuir de alguma forma… Rylee, né? – ela pergunta como quem se desculpa. Eu apenas inclino a cabeça de lado e mordo a língua como reação a essa provocação, pois ela sabe muito bem meu nome. – Por favor, sinta-se à vontade para falar comigo. – Obrigada, mas tenho certeza de que qualquer ajuda que eu possa dar… seria… – Olho para o alto como se estivesse pensando na palavra perfeita. – Insignificante. – Meus olhos derivam dos dela para os de Colton quando digo isso. Um sorriso brinca no canto dos meus lábios. Arqueio a sobrancelha de um jeito questionador. – Você não acha, Ace?
– Insignificante – murmura Colton, também com um sorriso nos lábios, sacudindo a cabeça em resposta à minha escolha de palavra. Ele sustenta meu olhar e eu vejo que, mesmo com essa mulher deslumbrante ao meu lado, é a mim que ele deseja. A mim. O ar entre nós se enche de eletricidade. Nosso olhar se trava. Sinto o desconforto de Tawny, que muda o peso do corpo de um pé para o outro no silêncio carregado. – Obrigado, Tawny – diz Colton, dispensando-a sem interromper nossa conexão. – A Rylee e eu temos um compromisso – ele conclui, pegando minha mão. E espera-se que esse compromisso seja dentro de mim.
Vinte e cinco
– Sabe, Rylee, você realmente está mudando a forma como eu tenho olhado para certas coisas no mundo – ele comenta quando paramos com o carro na frente da minha casa. – E por que você diz isso? – murmuro distraída. Minha mente ainda está tentando processar os eventos do dia, o fato de que Colton está aqui comigo. – Nunca mais vou limpar o capô do meu carro ou subir escada novamente sem pensar em você – diz ele, abrindo seu sorriso radiante para mim. – Para sempre você vai ser a pessoa que me fez olhar para as coisas mundanas sob uma nova luz. Dou uma gargalhada quando ele se aproxima para me dar um beijo casto antes de sair do carro. Observo-o dar a volta para abrir a minha porta, e de repente me sinto abalada por seu comentário. Uma parte de mim sorri com o conhecimento de que ele nunca vai conseguir se esquecer de mim, enquanto outra parte se entristece com a noção de que não vai durar para sempre. Mesmo se pudéssemos ficar juntos, acho que ele nunca aceitaria. O problema é que sou eu quem leva um tombo atrás do outro, que se afunda cada vez mais. Sou eu que estou tentando me manter na superfície. Sou eu que preciso de um pit stop. Colton abre minha porta e o comentário em seus lábios morre assim que ele vê minha cara. Tentei mascarar minha tristeza repentina, mas é óbvio que não tive grande sucesso. – O que foi? – ele pergunta, posicionando-se entre a abertura da porta e o V entre minhas pernas. – Nada. – Dou de ombros para desviar. – Só estou sendo boba – respondo. Suas mãos sobem pelas minhas coxas e debaixo da minha
saia, onde está meu sexo nu. O toque de pluma de seus dedos sobre minha pele me faz suspirar e encontrar seu olhar. O sorriso em seu rosto me tira da melancolia e eu sorrio de volta. – Sabe, a gente precisa fazer alguma coisa sobre esse seu hábito de rasgar minhas calcinhas. – Não, a gente não precisa – ele murmura antes de se abaixar e tascar um beijo na minha boca. – Não me distraia. – Dou uma risadinha sentindo suas mãos subir em mais nas minhas coxas e seus polegares roçar em minha faixa de pelos. Meu corpo se curva em reação. – Estou falando muito sério. – Nã-não… prefiro você distraída – ele diz sobre meus lábios. – E também gosto quando você está muito séria. – Ele imita meu tom e me faz rir de novo. – Você está começando a desfalcar minhas gavetas – respondo ofegante, sentindo seu polegar descer um pouco mais. – Eu sei e espero continuar fazendo isso muito em breve. – Ele ri de novo na lateral do meu pescoço. A vibração me acalma. – Você é um caso perdido. – Suspiro ao subir a mão em seu peito e envolvê-la em seu pescoço antes de tomar sua boca na minha. – Isso eu sou mesmo, Rylee… – Ele suspira quando abrimos os lábios. – Isso eu sou. Entramos no silêncio da minha casa. Haddie vai trabalhar até tarde em um evento esta noite, portanto a casa é toda nossa e eu pretendo tirar total vantagem disso. – Está com fome? – pergunto ao colocar minhas coisas no balcão da cozinha. – Em mais de um sentido – ele sorri para mim. Eu apenas nego com a cabeça. – Bom, que tal eu preparar alguma coisa para nós e tomar conta da sua primeira fome, repor suas energias, e depois eu prometo que vou providenciar uma sobremesa para a sua segunda fome – falo sobre o ombro, inclinando-me para espiar na geladeira. – Quer seja oferecida, ou não, querida, eu vou comer – diz ele. Ouço o riso em sua voz. Esqueço, com um instante de atraso, que minhas partes baixas estão expostas quando me curvo, pois Colton passa um dedo pelo meu traseiro desnudo antes de acertar uma
palmada brincalhona e me fazer pular, incitando meu desejo constante por ele com esse ardor incandescente. Comemos uma refeição simples que eu arranjei num clima confortável. Ele me conta sobre as reuniões intermináveis em Nashville e o que ele esperava conseguir com elas. Eu conto sobre o progresso do projeto no escritório além de pequenos detalhes sobre a semana dos meninos. Acho fofo que ele está realmente prestando atenção quando falo dos garotos e que ele faça perguntas para me informar que tem um verdadeiro interesse neles. É importante para mim que ele entenda como esses garotos são uma parte importante da minha vida. – Então, por que sua viagem ficou mais curta? – pergunto enquanto terminamos de comer. Ele limpa a boca num guardanapo. – Começamos a rever as reuniões que já tínhamos feito. Começou a ficar redundante… – dá de ombros – …e eu odeio coisas repetitivas. Não é isso o que diz a Teagan é o que passa pela minha cabeça ao pensar em como ela me disse que Colton gosta de um repeteco das mulheres anteriores na entressafra das novas. Repreendo a mim mesma por tentar sabotar um momento perfeitamente bom. – Além do mais – diz ele, erguendo os olhos do prato e os concentrando em mim. – Senti saudades de você. E eu me sinto um lixo por ter pensado essas coisas. – Sentiu saudades de mim? – pergunto, sem acreditar. – Sim, senti saudades – ele repete, sorrindo timidamente. Seu pé roça o meu debaixo da mesa para enfatizar as palavras. Como é possível que três palavras de sua boca possam significar tanto para mim? O bad boy emocionalmente indisponível que eu me esforcei tanto para manter à distância e de quem agora não quero jamais me separar. – Eu percebi depois de ler os poemas lindos que você me escreveu – provoco. Ele abre um sorriso caloroso que me faz querer me beliscar para saber que isso é real e que esse sorriso é destinado a mim. – Aqueles foram comportados perto de alguns apimentados que eu escrevi. – Ele ergue as sobrancelhas. Seus olhos se iluminam de
humor. – É sério? – É, sim. Acho que eu gostaria de te mostrar. – É mesmo? – Sorrio e mordo o último morango. – É, sim. E fizemos um brainstorming para chegar a um significado para “Ace”. – Ah, mal posso esperar para ouvir… – Levanto as sobrancelhas com ele e dou risada. – Sempre criando êxtase. – Não. – Rio. – Você sabe que criou tanta coisa em torno disso que vai se decepcionar quando ouvir a resposta verdadeira, não sabe? Ele apenas sorri para mim quando me levanto e começo a limpar os pratos, rejeitando sua oferta de ajuda. Conversamos mais um pouco sobre o patrocínio até que somos interrompidos pelo toque do celular dele. – Um segundo – diz Colton, ao atender. Depois de uma breve conversa sobre algo relacionado com o trabalho, ele diz: – Obrigado, Tawny. Boa noite. Automaticamente reviro os olhos ao som desse nome. Ele me pega no flagra. – Você não gosta mesmo dela, hein? – pergunta com um olhar intrigado no rosto. Suspiro fundo. Não sei se quero tocar nesse assunto aqui e agora. Ela é uma ex-namorada e amiga da família que os pais dele provavelmente adoram, e uma integrante importante da equipe da CDE. Se eu quero mesmo lutar uma batalha perdida aqui? Se vou ficar com Colton, tenho que enfrentar o fato de que ela vai ser uma parte da vida dele, quer eu goste ou não. Torço os lábios contemplando as palavras certas. – Vamos dizer apenas que eu e ela já tivemos algumas conversas que me levaram a crer que ela não é tão inocente quando parece… e vou deixar por isso mesmo – concluo. Ele me encara por um longo tempo. Um sorriso curva seus lábios. – Você tem ciúmes dela, não tem? – questiona ele, como se tivesse acabado de ter uma epifania. Retribuo a encarada que ele me dá e logo desvio os olhos. Eu me levanto e vou limpar o balcão que já tinha acabado de limpar.
– Não é ciúmes… mas fala sério, Colton. – Dou uma risada incrédula. – Olha pra ela e olha pra mim. É muito fácil ver por que eu me sentiria assim. – Do que você está falando? – pergunta Colton. Ouço a cadeira se arrastar debaixo dele. – Sério? Ela é um sonho erótico ambulante. Perfeita em todos os sentidos, enquanto eu sou apenas… sou apenas eu. – Dou de ombros, conformada. Colton apoia o quadril no balcão ao meu lado. Eu mexo com o pano de prato e sinto o peso do seu olhar em mim. – Você é algo totalmente diferente, sabia disso? – diz ele numa voz exasperada. – E por que você diz isso? – pergunto, de repente me sentindo constrangida sobre revelar minhas inseguranças quando se trata da Tawny. Por que eu fui abrir a boca? Eu e minha boca enorme. Colton puxa minha mão, mas eu não me abalo. Alguém atraente como ele não faz ideia do que é sentir insegurança. – Vem cá – diz ele, ao puxar minha mão novamente sem aceitar não como resposta. – Quero te mostrar uma coisa. Sigo-o a contragosto pelo corredor até meu quarto, curiosa por ele estar tão determinado. Entramos no meu quarto e Colton me leva para o banheiro da minha suíte. Ele me leva para dentro de modo que minhas costas estão encostadas na frente do seu corpo. Seus olhos ardem nos meus e suas mãos sobem pelas laterais do meu corpo e descem de novo. Na segunda passada, seus dedos se desviam para a frente e começam a abrir os botões na frente do meu cardigã. Embora eu sinta e veja o que ele está fazendo no espelho, baixo os olhos por instinto. – Aham, Rylee – ele murmura. Sua voz é um sussurro sedutor de encontro ao meu pescoço. – Não tire os olhos dos meus. – Meus olhos voltam a mirar os seus, e nos encaramos assim algum tempo. Nenhum de nós fala. Os dedos de Colton terminam de abrir meu suéter. Ele dá um passo para trás e o puxa dos meus ombros. Seus dedos roçam a pele nua da minha lombar, e depois eu sinto o zíper da minha saia descer. As mãos de Colton passam pela minha cintura e depois escorregam para dentro do cós folgado da saia. Ele puxa a peça até passá-la pelos meus quadris e a deixa cair no chão.
Lanço um olhar inquisitivo para baixo. Suas mãos permanecem na frente da minha pélvis. A cor oliva é um contraste brusco com minha pele branquinha. A aparência de posse que elas têm sobre meu corpo – mãos grandes e fortes sobre seda e renda e pele – faz minha respiração enroscar entre meus lábios entreabertos. – Olhos bem aqui, Rylee – ordena Colton, aproximando-se de mim mais uma vez, colocando a cabeça à direita da minha. Mantenho meus olhos fixos nos seus, que acompanham meu corpo preguiçosamente, o sutiã, a cinta-liga e as meias que estou usando, sem a calcinha da qual ele cuidou mais cedo. Quando seus olhos terminam a varredura e se conectam com os meus em nosso reflexo espelhado, vejo muitas coisas nadando em suas profundezas. – Rylee, você é de tirar o fôlego. Você não vê? – ele questiona. Suas mãos sobem pelas minhas costelas e param no sutiã. – Você é muito mais do que qualquer homem poderia ter a vida inteira. – Ele mergulha um dedo na taça de um dos lados do sutiã e a puxa para apoiar meu seio sobre ela. Meu mamilo já está rígido e querendo mais. Ele se move para o outro lado e repete o mesmo processo, mas desta vez eu não evito o leve gemido que escapa dos meus lábios com seu toque. Apoio a cabeça em seu ombro e fecho os olhos, sentindo. – Abra, Rylee – ele manda. Meus olhos se abrem de repente e encontram os seus. – Quero que você veja o que estou vendo. Quero que você veja como você é sexy, desejável e gostosa pra caralho – sussurra na pele nua do meu ombro. – Quero que você veja o que faz comigo. Como você… neste corpo lindo por dentro e por fora… me faz perder a cabeça. Você me desvenda. – Suas mãos descem pelos meus quadris. Uma delas sobe devagar entre meus seios e depois segura a lateral do meu pescoço, enquanto a outra desce mais para acariciar meu púbis. – Pode me reduzir a nada e me reconstruir ao mesmo tempo. – Suas palavras me seduzem. O erotismo do momento me enfeitiça. Ele me hipnotiza por completo. Preciso de todos os meus esforços para não fechar os olhos, inclinar a cabeça para trás e ceder a essa tempestade de sensações que ele evoca com seu toque, mas sou incapaz por causa da mão firme no meu pescoço. Sua doce sedução de palavras me deixa molhada, me provoca desejo; a conexão íntima entre nossos olhares
me preenche emocionalmente. – Quero que você me veja te possuir, Rylee. Quero que nos veja ir ao limite e despencar. Quero que veja por que isso é o bastante para mim. Porque eu escolho você. Suas palavras me percorrem, abrem cadeados em lugares profundos que eu tentava manter protegidos. Minha alma se incendeia. Meu coração se enche. Meu corpo anseia. Inspiro um fôlego trêmulo. As preliminares de suas palavras foram bemsucedidas na busca da excitação. Seus olhos ardem numa mistura de necessidade e desejo. – Mãos no balcão, Rylee – ele manda e me empurra para a frente com uma das mãos. A outra agarra meu quadril. Sinto-o duro e pronto nas minhas costas, através da calça, e movimento o corpo para trás. – Cabeça erguida! – exige. Eu obedeço. Sua mão desce e me abre pouco a pouco. – Colton – arquejo, enfrentando a predisposição a fechar os olhos em resposta às sensações avassaladoras que embalam meu corpo, quando ele insere um dedo em mim, tira e espalha a umidade ao redor. Mantenho os olhos nos dele e sorrio quando noto que ele também está com dificuldades para manter o autocontrole. A tensão rígida em sua mandíbula e o fogo que saltam de seus olhos me incitam. Seus dedos sobem e provocam meu feixe de nervos ao mesmo tempo em que o sinto se mexer atrás de mim para abrir seu zíper. – Agora – imploro. Por dentro sinto que estou me perdendo num abismo de necessidade. – Rápido. Vejo o sorriso perverso que recobre o rosto de Colton e franze o canto de seus olhos quando ele posiciona a cabeça rígida na minha abertura. – Você quer alguma coisa, Rylee? – ele pergunta, mal pulsando dentro de mim. – Colton – digo sem fôlego, abaixando a cabeça, sentindo a dolorosa e deliciosa agonia de precisar de mais. – Olhos! – rosna sobre meu ombro. Ele nega a nós dois o prazer para que o desejo se torne desesperado. – Fala, Rylee. – Colt… – Fala! – ele ordena. Seu rosto é a imagem do homem à beira de
perder o controle. – Por favor, Colton… – ofego – …por favor. – E ele mergulha dentro de mim por inteiro em uma só estocada escorregadia. O movimento inesperado rouba meu fôlego e me lança numa explosão de calor incandescente. – Deus, Rylee. – Seu gemido é insano, seus olhos se tornam fendas, suas pálpebras estão pesadas de desejo. Ele envolve os braços em volta de mim, seus dedos pressionam minha carne, sua face pressiona a base do meu pescoço. Meu corpo se ajusta à sua invasão. Ele trilha uma sequência de beijos de boca aberta na linha do meu ombro até minha orelha. Então se levanta e começa a se mexer. Mexer mesmo. Começa a me dar exatamente o que eu preciso pois, neste momento, eu não me importo sobre lento e constante. Quero forte e rápido, e ele não decepciona: impõe um ritmo punitivo que arranca das minhas profundezas sensações inexplicáveis com cada recuo e nova investida. Eu me perco no ritmo constante, nossos olhares ainda estão travados um no outro. A expressão de Colton me tira o fôlego. Seus olhos escurecem e seu rosto fica tenso de prazer. Ele ergue a mão no meu seio e gira o mamilo entre os dedos. Um gemido incoerente desliza dos meus lábios. O fogo no meu interior é quase demais para que eu possa suportar. Com sua mão ainda no meu quadril, ele move a outra do seio ao ombro e me puxa junto de si, minhas costas na sua frente, diminuindo o ritmo implacável para girar os quadris num movimento circular dentro de mim. – Olha pra você, Rylee – murmura no meu ouvido entre os movimentos. – Olha que sexy você está agora. Por que eu ia querer outra pessoa? Interrompo a conexão do nosso olhar no reflexo e olho para mim. Pele vermelha das suas mãos. Mamilos eretos e rosados de prazer. As dobras do meu sexo inchadas de desejo. Meus lábios entreabertos. Minhas faces coradas. Meus olhos abertos e expressivos. E vivos. Meu corpo reage instintivamente aos movimentos de Colton – conduzido por uma necessidade inesperada, alimentado por um desejo incessante e colidindo em possibilidades inimagináveis. Olho para essa mulher misteriosa no espelho, e um
sorriso lento e sensual assombra meus lábios quando olho de volta para Colton. Nossos olhos travam de novo e eu percebo, pela primeira vez, que vejo o que ele vê. Que aceito. Colton me empurra de novo para a frente de modo que eu possa apoiar as mãos e ser penetrada diversas vezes. Uma de suas mãos mapeia meu quadril e se posiciona na frente para estimular meu clitóris. Meu corpo fica tenso com a sensação, minhas aveludas paredes internas ordenham o pau de Colton. – Caraaalho! – ele geme, jogando a cabeça para trás, esquecendo, por um momento, sua própria regra de contato visual. Ele está absolutamente deslumbrante. Magnífico como um deus grego. Cabeça para trás, lábios entreabertos de prazer, pescoço tenso na iminência do clímax, e meu nome é um arquejo em seus lábios. Ele começa a se mover de novo, acelerando o ritmo, arrastando-me para os limites do êxtase com cada investida incansável. Inclina a cabeça para a frente de novo e trava os olhos com os meus. A onda me leva mais e mais alto, a intensidade aumenta, minhas pernas amolecem, meu prazer deixa todo o meu corpo tenso. E, logo antes de eu desabar na inconsciência, vejo em seu rosto que ele também já alcançou um ponto onde não há mais volta. Alcançamos a crista ao mesmo tempo: olhos encobertos, lábios abertos, almas unidas, corações enfeitiçados, corpos mergulhados em espirais de sensação. Meus joelhos fraquejam debaixo de mim e meus músculos reverberam com meu clímax. As mãos ásperas de Colton me seguram no lugar quando ele se esvazia dentro de mim. Suas mãos permanecem firmes nos meus quadris por um instante mais, como se a mera ação fosse suficiente para impedir ambos de desabarem no chão. Logo eu me levanto e encosto o corpo no dele, inclinando a cabeça sobre seu ombro quando, enfim, fecho os olhos. Dou-me um momento para absorver o que acabei de vivenciar. Estou consumida pelas sensações, nervos à flor da pele. Sei que amei Max com todas as minhas forças, mas o sentimento não é nada em comparação ao que Colton e eu acabamos de compartilhar. Juntos somos tão intensos, tão voláteis, tão poderosos, tão íntimos que eu não acho que alguma vez já me senti tão próxima de outro ser humano como me sinto em relação a Colton neste momento. Meu
corpo treme com a aceitação desse fato quando ele sai de dentro de mim pouco a pouco e me vira de frente para ele. Tento enterrar a cabeça em seu ombro, evitar o contato visual com ele porque me sinto completamente exposta, nua, vulnerável – mais do que em qualquer outro momento da minha vida. Colton coloca um dedo no meu queixo e ergue meu rosto ao seu. Seus olhos procuram os meus em silêncio e, por um instante, acho que vejo como eu me sinto refletido nos olhos dele, mas não sei se é possível. Como é que há algumas semanas este homem diante de mim era um completo estranho e agora, quando olho para ele, vejo meu mundo inteiro? Sei que Colton sente algo diferente em mim, mas ele não pergunta, apenas aceita, e por isso sou grata. Ele se curva e toca um beijo carinhoso nos meus lábios que traz lágrimas aos meus olhos antes de passar os braços ao meu redor. Eu me deleito no sentimento de sua força silenciosa e, antes que eu sequer possa pensar direito, minha boca está se abrindo. – Colton? – Hum? – murmura ele, sobre o topo da minha cabeça. Eu te amo. Preciso de todas as minhas forças para tirar as palavras dos meus lábios. Quero gritar para todos ouvirem. – Eu… eu… isso foi… nossa. – Eu me recupero e digo em silêncio as outras três palavras que quero dizer. – Nossa mesmo. – Ele ri na minha têmpora.
Vinte e seis
Acordo nos braços quentes de Colton pressionado nas minhas costas. Suas mãos sustentam meu seio nu. Seu dedo desenha círculos preguiçosos ao redor de sua forma, de novo e de novo, até meu mamilo enrijecer com seu toque. Dou um leve sorriso para mim mesma e mergulho de volta nele, absorvendo o momento e as emoções que estou sentindo. – Bom dia. – Sua voz ressoa na minha nuca e ele planta um beijo suave bem ali. Sua mão desce devagar pela curva do meu corpo. – Hum. – É tudo o que consigo dizer. A sensação de tê-lo duro e pronto encostado em mim me faz desejar e querer. – Gostoso, né? – Ele ri. – Aham – respondo novamente, pois não há mais nenhum lugar onde eu gostaria de estar no momento que não fosse acordando nos braços deste homem. – Que horas começa seu turno hoje? – ele pergunta. Sinto sua ereção endurecer e pressionar o vinco entre minhas nádegas. – Às onze. – Hoje meu turno no Lar é de vinte e quatro horas. Em vez disso, eu preferiria ficar na cama durante o dia todo. – Por quê? Você tinha alguma coisa em mente? – pergunto de um jeito tímido, movendo os quadris para trás de encontro ao dele. – Sem a menor dúvida – ele sussurra ao enfiar o joelho entre minhas coxas por trás de um jeito que eu fique aberta para sua mão que brinca com minhas dobras sensíveis. – Que horas você tem que estar no trabalho… aahh… – Sou distraída quando seus dedos encontram o alvo. – Mais tarde. – Ele ri na minha pele. – Muito mais tarde.
– Então é melhor a gente aproveitar ao máximo o tempo que temos. – Suspiro quando ele me move e eu monto em cima dele. – Seu prazer é minha prioridade número um, querida – diz ele, desferindo o sorriso radiante. Colton ergue a mão e apalpa minha nuca, depois me puxa para ele. Solto um gemido no momento em que sua boca encontra a minha e me perco num labirinto de luxúria.
– Tem certeza de que você não se importa se eu usar sua gilete? – Colton me pergunta. Seus olhos encontram os meus pelo reflexo no espelho. – Não. – Nego com a cabeça observando-o da porta do meu quarto. Uma toalha está presa ao redor de sua cintura, logo abaixo do V de seus músculos. Gotículas de água agarram-se a seus ombros e costas musculosos, e seu cabelo está molhado e desarrumado. Minha boca não é a única coisa que fica úmida quando olho para ele. Essa visão de seu corpo, tão maravilhoso e fresco do banho, me faz querer arrastá-lo de volta para a minha cama e sujá-lo tudo de novo. Não sei se é porque ele está no meu banheiro servindo-se das minhas coisas depois de uma longa noite e manhã de sexo incrível, mas sei que nunca o achei mais sexy do que agora. Mordo o lábio e vou até ficar atrás dele sentindo o quanto parece normal. Como é doméstico e reconfortante. Passos os braços pelas alças do sutiã enquanto ando, sentindo os olhos de Colton em mim quando abotoo a peça e a ajusto. Olho para ele pelo espelho e noto que ele parou o que estava fazendo. Minha gilete cor-de-rosa está a meio caminho de seu rosto. Há um sorriso suave em seus lábios. – O quê? – pergunto, de repente tímida sob a intensidade desses lindos olhos verdes. – Você tem mais sutiãs do que qualquer mulher que eu já conheci – diz ele, olhos fixos no que eu acabei de vestir. É rosinha, contornado em preto e cumpre o papel perfeito de criar a curva certinha entre os seios. Seus olhos sobem e encontram os meus. Aperto os lábios para ele. – Posso interpretar esse comentário de várias formas – provoco. –
Posso ficar muito ofendida que você esteja me comparando a todos as outras mulheres com quem você esteve, ou posso ficar satisfeita por você apreciar minha vasta coleção de lingerie. – Eu te diria para ficar com a segunda opção. – Ele dá um sorriso maroto. – Só um homem morto poderia ignorar seu pendor para roupa de baixo sexy. Sorrio desafiadora para ele e mostro uma calcinha fio-dental do conjunto, feita de renda; de muito pouca renda. – Está falando de tipo isso? Sua língua dispara para lamber o lábio inferior. – É, tipo isso – ele murmura. Seus olhos acompanham meus movimentos quando visto a calcinha. Faço um pequeno show ao me inclinar para puxar a peça pelos meus quadris oscilantes. – Meu Deus, mulher, você está me matando! Dou risada dele, pego minha camiseta e puxo sobre a cabeça. – Não se pode culpar uma garota por ter uma quedinha por roupas de baixo sexy, para usar suas palavras. – Não, senhora. – Ele sorri para mim e passa a gilete para cima para remover uma faixa de creme de barbear do queixo, um gesto tão masculino e sexy de se ver. Apoiada na porta, eu o observo com pensamentos de amanhãs e de futuro me percorrendo a mente. Achei que sabia como era o amor, mas aqui, inspirando o cheiro dele, percebo que eu não fazia ideia. Amar Max era doce, delicado, inocente e o que eu achava que deveria ser um relacionamento sério. Como uma criança enxerga quando olha para os pais através de lentes cor-de-rosa. Confortável. Inocente. Amoroso. Eu amei Max com todo o meu coração – sempre amarei, de certa maneira –, mas, pensando em retrospecto e comparando esse sentimento com o que eu sinto por Colton, sei que estaria me entregando por pouco. Que me acomodaria. Amar Colton é muito diferente. É muito mais. Quando olho para ele, meu peito se aperta fisicamente das emoções que se derramam sobre mim. São intensas e cruas. Avassaladoras e instintivas. A química entre nós é combustível, apaixonada, volátil. Ele consome todos os meus pensamentos. É uma parte de tudo o que eu sinto. Todas as suas ações são as minhas reações. Colton é meu ar em cada inspiração. Meu amanhã infinito. Meu
felizes para sempre. Observo a linha entre suas sobrancelhas quando ele se concentra, angulando o rosto para cá e para lá. Ele já quase terminou; há apenas algumas manchas de creme de barbear no seu rosto aqui e ali quando ele me nota. Quando o vejo limpar o rosto em uma toalha, vou até ele devagar e me posiciono à esquerda. Seus olhos nunca deixam os meus. Levanto a mão e passo-a delicadamente pela linha de sua coluna, parando na nuca para poder mergulhar os dedos em seu cabelo molhado. Ele inclina a cabeça para trás com a sensação e fecha os olhos por um momento. Quero muito me aconchegar em suas costas largas e ombros poderosos e sentir meu corpo pressionado contra o dele. Detesto que o horror de seu passado me roube – e roube dele – a chance de dormir de conchinha com ele na cama ou poder ir até ele pelas costas e abraçá-lo, me envolver nele – outra forma simples de me conectar. Na ponta dos pés, dou um beijo suave em seu ombro nu. Meus dedos traçam a linha de sua coluna. Sinto seus músculos se moverem e a pele se arrepiar ao meu toque. Meus lábios formam um sorriso contra a firmeza de seu ombro. – Você está me fazendo cócegas – ele diz com uma risada ao se encolher debaixo do meu toque. – Hum-hum – murmuro. Agora estou com a face apoiada em seu ombro de um jeito que consigo encontrar seus olhos no espelho, e observar seu rosto ficar tenso quando passo a ponta dos dedos na lateral de seu torso. Não consigo evitar o sorriso que se forma nos meus lábios ao ver seu rosto fazer uma careta e se preparar para o toque de meus dedos em sua caixa torácica: uma expressão de garoto no rosto de um homem crescido. Encontro meu poder e me esforço para ser muito minuciosa nas minhas cócegas. – Para com isso, sua bruxa má. – Ele faz de tudo para permanecer estoico, mas, quando meus dedos continuam sua tortura incansável, ele se esquiva de mim. – Não vou deixar você sair dessa. – Dou risada com ele e o envolvo com os braços para tentar impedir que ele fuja. Ele está rindo. A lâmina foi jogada e está esquecida na pia. A toalha está perigosamente próxima de cair de seus quadris e meus
braços o estão envolvendo pelas costas. Sem que tivesse a intenção, eu o fiz ficar na posição na qual eu estava pensando. Sei que ele percebe no momento em que eu percebo, pois sinto seu corpo ficar tenso por um momento, e a risada desaparece antes que ele tente encobrir. Seus olhos olham para nosso reflexo no espelho e encontram os meus. O olhar que eu já vi em qualquer um dos meus meninos perpassa o rosto dele, e me dilacera por dentro. Porém, tão rápido quanto surge, ele some. A despeito da quantidade de tempo, eu sei o quanto essa pequena concessão é um passo enorme entre nós dois. Antes que eu perceba, Colton se virou nos meus braços e está atacando minhas costelas com os dedos. – Não! – grito, tentando escapar dele, mas sem obter sucesso. A única forma em que consigo pensar de fazê-lo parar é envolver meus braços no seu tronco e pressionar meu peito ao seu o mais forte que consigo. Estou sem fôlego e sei que não sou páreo para sua força. – Está tentando me distrair? – ele brinca. Seus dedos sobem debaixo da minha camisa e encontram a pele nua debaixo dela. O protesto nos meus lábios se apaga com meu suspiro dentro dele e acolho o calor de seu toque e os braços que ele envolve eu meu redor. Sinto conforto aqui, uma paz que nunca pensei que fosse conhecer de novo. Ficamos assim por algum tempo – não sei quanto. Mas é longo o bastante, pois seus batimentos no meu ouvido ficaram significativamente mais lentos. Em dado momento eu pressiono os lábios no seu pescoço e apenas absorvo tudo o que há ali sobre ele. Sinto-me com as emoções tão afloradas com tudo isso. Sei que ele acabou de compartilhar algo monumental comigo – destinou uma confiança enorme em mim – e talvez, no subconsciente, eu queira lhe dar uma parte de mim em retribuição. Falo antes que minha cabeça possa filtrar o que meu coração diz. E, quando o faço, é tarde demais para retirar as palavras. – Eu te amo, Colton. – Minha voz é equilibrada e não fraqueja quando as palavras são ditas. Não há como confundir o que eu disse. O corpo de Colton fica rígido com as palavras que são sufocadas e morrem no ar ao nosso redor. Ficamos assim em silêncio, ainda fisicamente enlaçados por vários minutos mais. Colton então
desvencilha os dedos dos meus e deliberadamente tira minha mão da sua; fico parada quando ele vai até a beirada do balcão, pega a camisa e coloca de qualquer jeito sobre a cabeça. Um sussurro de “Merda!” escapa de seus lábios. Acompanho sua imagem no espelho. O pânico em seus olhos, no seu rosto, refletido nos seus momentos é duro de ver, mas estou implorando em silêncio que ele me olhe nos olhos. Que veja que nada mudou. Mas ele não olha. Em vez disso, anda por mim apressado e entra no meu quarto sem fazer contato visual. Observo-o pegar o jeans de ontem, sentar-se na cama e enfiar as botas nos pés. – Preciso ir para o trabalho – diz ele, como se eu não tivesse falado nada. As lágrimas que ameaçam enchem meus olhos e borram minha visão assim que ele se levanta da cama. Não posso deixá-lo ir embora sem dizer nada. Meu coração palpita forte nos meus ouvidos. O ardor de sua rejeição faz minhas entranhas se contorcer.em Vejo-o pegar as chaves da cômoda e enfiá-las no bolso. – Colton – sussurro. Ele passa por mim a caminho da porta. Para ao som da minha voz. Seus olhos permanecem focados no relógio que ele está afivelando no pulso. Os cabelos molhados caem na testa. Ficamos assim em silêncio: eu olhando para ele. Ele olhando para o relógio. O cisma entre nós se alarga mais segundo a segundo. O silêncio é tão barulhento que ensurdece. – Por favor, fala alguma coisa – imploro baixinho. – Olha, eu… – Ele para, suspira pesado e larga as mãos ao lado do corpo, mas não encontra meus olhos. – Eu te disse, Rylee, isso não é uma possibilidade. – Sua voz áspera mal se ouve. – Não sou capaz disso e não mereço… – Ele pigarreia. – Não tenho nada além de escuridão dentro de mim. A capacidade de amar, de aceitar o amor, não passa de veneno. E ,com isso, Colton sai do meu quarto e, eu temo, talvez da minha vida também.
Vinte e sete
COLTON
Não consigo respirar. Porra. Meu peito dói. Meus olhos estão borrados. Meu corpo treme. O pânico ataca com força total na hora em que agarro o volante. Os nós dos meus dedos ficam brancos. Meu coração palpita como um maldito trem desgovernado e ecoa nos meus ouvidos. Tento fechar os olhos – tento me acalmar –, mas só vejo o rosto dela dentro da casa diante de mim. Só ouço aquelas palavras envenenadas caindo da boca dela. Meu peito se contrai novamente e eu me forço a sair com o carro da calçada na frente da casa e a me concentrar na rua. A não pensar em nada. A não deixar a escuridão dentro de mim dominar e nem permitir que as memórias se infiltrem. Faço a única coisa que consigo fazer – eu dirijo –, mas não com a velocidade suficiente. Só na pista é possível eu acelerar o bastante para me enfiar no borrão que me cerca, para me perder nele, para que nada disso me alcance. Paro num bar: janelas enegrecidas, nenhuma placa acima da porta com o nome, e uma miríade de cinzeiros trasbordando no parapeito das janelas. Nem sei onde diabos eu estou. Estaciono o carro ao lado de alguma lata velha e nem penso duas vezes. Só consigo pensar em como me entorpecer, em como apagar o que a Rylee acabou de dizer. O bar está escuro quando abro a porta. Ninguém se vira para me olhar. Todos mantêm a cabeça baixa, cuidando da própria porra de
cerveja. Que bom. Não quero conversar. Não quero ouvir. Não quero ouvir Passenger nos alto-falantes no alto cantando sobre deixá-la ir embora. Só quero abafar tudo o que estiver acontecendo ao meu redor. O barman me vê. Seus olhos amarelados me medem, percebem minhas roupas caras e registram o desespero no meu rosto. – O que você vai querer? – Tequila. Seis doses. E pode continuar mandando. – Nem reconheço minha voz. Nem sinto meus pés se moverem para o banheiro no canto mais distante. Entro, vou até a pia suja e jogo um pouco de água na cara. Nada. Não sinto absolutamente nada. Olho para o espelho rachado e nem sequer reconheço o homem na minha frente. Tudo o que vejo é a escuridão e um garotinho de quem não quero mais me lembrar, não quero mais ser. Humpty Dumpty, porra. Antes que possa me conter, o espelho está se quebrando. Uma centena de pedacinhos minúsculos pra caralho estilhaçam e caem. Não registro a dor. Não sinto o sangue escorrendo e pingando na minha mão. Só o que eu ouço é o tilintar dos cacos tocando o ladrilho do chão ao meu redor. Sonzinhos de música que momentaneamente afogam o esvaziar da minha alma. Lindo na superfície, mas tão fodido como um todo. Irreparável. Nem todos os homens e cavalos do Rei conseguiram juntá-lo outra vez. O barman olha minha mão enrolada quando chego ao balcão. Vejo minhas doses alinhadas perto de alguns outros clientes. Caminho até a extremidade livre do balcão e me sento. Meu estômago se contorce com o pensamento de me sentar entre os dois homens ali. O barman pega os copinhos, coloca onde estou e fica olhando fixo para as duas notas de cem dólares que acabei de colocar sobre o balcão. – Cem pelo espelho – digo, indicando o banheiro com um movimento do queixo. – E mais cem para você continuar descendo as doses sem fazer perguntas. – Arqueio as sobrancelhas para ele, e ele apenas assente. As notas deslizam de cima do balcão e vão parar no bolso dele antes que eu vire a segunda dose. O ardor é bem-vindo. O tapa imaginário no meu rosto pela forma como acabei de deixar Rylee.
Pelo que vou fazer com a Rylee. A terceira se foi e minha cabeça ainda dói. A pressão ainda está no meu peito. Você sabe que só tem permissão para me amar. Colty. Só a mim. E eu sou a única pessoa que vai amar você. Eu sei as coisas que você os deixa fazer com você. As coisas que você gosta que eles façam. Ouço você lá com eles. Ouço-o cantarolar “eu te amo” sem parar, o tempo todo. Sei que você se convenceu que os permite porque você me ama, mas a verdade é que você faz isso porque gosta. Você é um menino safado, Colton. Tão mau que ninguém nunca vai poder amar Colton. Nunca vai querer. Nunca. E se eles amassem e descobrissem todas as coisas feias que você fez? Eles saberiam da verdade – que você é horrível, nojento, envenenado por dentro. Que qualquer amor que você tiver aí dentro de você por qualquer um que não sejar eu é como uma toxina que os vai matar. Por isso você não pode contar a ninguém, pois, se contar, eles vão saber como você é repulsivo. Eles vão saber que o Diabo mora dentro de você. Eu sei. Eu sempre sei e ainda assim eu te amo. Sou a única pessoa que pode te amar. Eu te amo, Colty. Tento afastar as memórias da minha mente. Jogá-las de volta no abismo no qual elas sempre estão escondidas. Rylee não pode me amar. Ninguém pode me amar. Minha cabeça fode comigo quando olho para o balcão. O homem sentado de costas para mim me causa náusea. Cabelo escuro e oleoso. Uma barriga avantajada. Eu sei que aparência ele terá quando se virar. Que cheiro vai ter. Que gosto vai ter. Viro a sétima dose, tentando engolir a bile. Tentando amortecer a porra da dor – dor que não vai embora mesmo que eu tenha certeza de que não é ele. Não pode ser. É só minha mente fodendo comigo porque o álcool ainda não me entorpeceu o suficiente. Apoio a testa nas mãos. É a voz de Rylee, clara como o dia que eu ouço na minha cabeça – mas é o rosto dele que eu vejo quando ouço aquelas três palavras. Não o de Rylee. Só o dele. E o da minha mãe. Seus lábios e aquele sorriso arreganhado me dando sua confirmação constante do show de horror dentro de mim. A escuridão já me envenenou. Não existe a menor possibilidade de
eu deixar que mate Rylee também. A número dez é mandada para dentro e meus lábios estão começando a não funcionar mais. Uma saída catastrófica. A porra do significado perfeito para Ace. Começo a rir. Dói pra caralho e não consigo parar. Mal estou me contendo. E temo que, se eu parar, vou me quebrar exatamente como aquele maldito espelho. Humpty Dumpty, porra.
Vinte e oito
– É assim que você quer que seja. Acho que você não me quer – canto solenemente com minha velha banda de sempre, Matchbox Twenty, no caminho de casa ao fim do meu turno, no dia seguinte. Ainda não ouvi notícias de Colton, mas a verdade é que eu também nem esperava. Entro com o carro na calçada de minha garagem. As últimas vinte e quatro horas foram um borrão. Eu deveria ter dito no trabalho que estava doente; afinal, não seria justo com os meninos ter uma guardiã tão imersa nos próprios problemas e que não estivesse presente de verdade. Revivi aquele momento tantas vezes que não consigo mais pensar nele. Eu não esperava que Colton confessasse seu amor imortal por mim em troca, mas também não pensei que ele agiria como se as palavras nunca tivessem sido ditas. Estou magoada e sentindo a ferroada da rejeição, sem saber para onde ir agora. Eu peguei um momento importante entre nós e estraguei tudo. O que fazer agora? Não sei. Eu me arrasto para dentro de casa, jogo a bolsa sem cerimônia no chão ao lado da porta da frente e desabo no sofá. E é onde Haddie me encontra horas depois quando ela entra em casa. – O que ele fez com você, Rylee? – A pergunta direta me desperta do sono. Suas mãos estão nos quadris quando ela para diante de mim. Seus olhos procuram uma resposta nos meus. – Ah, Haddie, eu estraguei tudo majestosamente. – Suspiro e libero as lágrimas que estava contendo. Ela se senta na mesinha de centro, na minha frente, com a mão no meu joelho em forma de apoio. Eu
conto tudo. Quando termino, ela apenas sacode a cabeça e me olha com olhos cheios de compaixão e empatia. – Bom, queridinha, se existe alguma coisa estragada nessa história, com certeza não é você! – diz ela. – Só posso te dizer que você precisa dar um tempo a ele. Vai ver você apenas assustou o Senhor livre-leve-e-solteiro-até-a-morte. Amor. Compromisso. Todas essas merdas… – ela acena a mão no ar – …são passos grandes para alguém como ele. – Eu sei. – Choro de soluçar. – Eu só não esperava que ele fosse tão frio… tão inexpressivo a respeito disso. Acho que é o que mais dói. – Ah, Ry. – Ela se inclina e me abraça apertado. – Vou falar que estou passando mal e não vou no evento de hoje à noite para você não ficar sozinha. – Não faça isso – falo para ela. – Estou bem. Acho que vou tomar um litro de sorvete e depois vou deitar. Pode ir… – Faço um gesto para espantá-la de perto. – Vou ficar bem. Prometo. Ela apenas me encara por um instante, debatendo internamente se estou mentindo ou não. – Está bem – diz ela, respirando fundo –, mas lembre-se de uma coisa… você é incrível, Rylee. Se ele não enxergar isso… se não vir tudo o que você tem a oferecer por dentro e por fora… ele que se foda. A fila anda. Mostro-lhe um leve sorriso. Sempre posso contar com a eloquência de Haddie.
A manhã seguinte passa sem ter notícias dele. Decido mandar mensagem. Oi, Ace. Me liga quando tiver uma chance. Precisamos conversar. Bj. Meu celular permanece silencioso pela maior parte do dia, apesar da quantidade de vezes em que verifiquei para ver se estava com sinal. Conforme o dia se arrasta, minha inquietação ganha campo. Começo a me dar conta de que devo ter causado dano irreparável.
Por fim, às três horas, recebo uma resposta. Minhas esperanças disparam com a perspectiva de ter contato com ele. Ocupado com todas as reuniões. A gente se fala. E então minhas esperanças despencam em queda livre.
No terceiro dia depois da confissão desastrosa de “eu te amo”, tomo coragem e ligo para o escritório dele a caminho do meu. – CD Enterprises, pois não? – Colton Donavan, por favor – respondo. Os nós dos meus dedos estão brancos de agarrar o volante. – Por favor, quem gostaria? – Rylee Thomas. – Minha voz falha. – Oi, Srta. Thomas, vou verificar. Só um momento, por favor. – Obrigada – sussurro. Sou consumida pela ansiedade de que ele atenda e sobre o que dizer se ele atender. – Srta. Thomas? – Sim? – Desculpe. Colton não veio hoje. Está doente. Quer deixar recado? Será que a Tawny pode ajudar com alguma coisa? Meu coração sobe pela garganta ao ouvir essas palavras. Se ele estivesse mesmo doente, ela não precisaria ter ido verificar. Ela nem saberia. – Não, obrigada. – Disponha.
Os últimos dias começaram a pesar. Estou com uma aparência péssima, tanto que nem maquiagem está adiantando. No quarto dia, sinto que eu daria tudo para retirar o que eu disse. Para nos levar de volta a momentos antes, quando estávamos conectados no voto de confiança que ele estava me dando. Mas não posso. Em vez disso, fico sentada atrás da minha mesa com o olhar perdido para a pilha de trabalho nela, sem nenhum desejo de fazer nada. Levanto os olhos quando ouço baterem à minha porta e vejo
Teddy. – Tudo bem por aí, menina? Você não está parecendo muito bem. Forço um sorriso. – Estou. Acho que estou superando umas coisas – minto. Qualquer coisa para evitar o olhar questionador e o “eu não te disse?”. – Vou ficar bem. – Então está bem, mas não fique até muito tarde. Acho que você é a última. Vou falar pro Tim lá na recepção que você ainda está aqui para que ele te acompanhe até o carro. – Obrigada, Teddy. – Sorrio. – Boa noite. – Boa noite. Meu sorriso some no instante em que ele vira as costas para mim. Observo Teddy caminhar até os elevadores e entrar no carro aberto enquanto reúno coragem para ligar para ele de novo. Não quero parecer desesperada, mas estou. Preciso ligar para ele. Mostrar que, embora eu tenha dito as palavras, as coisas ainda são as mesmas entre nós. Pego o celular, mas sei que ele provavelmente não vai atender se vir meu número. Escolho a linha do escritório. No terceiro toque, ele atende. – Donavan. Meu coração bate pesado no peito só de ouvir sua voz. Pega leve, Rylee. – Ace? – digo, sem fôlego. – Rylee? – Sua voz parece muito distante quando diz meu nome. Tão distante. Tão alheia e beirando irritada. – Oi – respondo, tímida. – Que bom que consegui falar com você. – É. Desculpa não ter retornado a ligação – ele diz, mas não parece sincero. Ele está falando comigo no mesmo tom irritado com que falou com a Teagan. Engulo o nó na minha garganta, precisando de qualquer tipo de conexão com ele. – Não se preocupe com isso. Só fico feliz por você ter atendido. – É, então, eu estava ocupado demais com o trabalho. – Está se sentindo melhor, então? – pergunto, depois me encolho com o silêncio que se propaga pela linha: a pausa que me diz que ele precisa pensar em algo rápido para dizer e encobrir a mentira. – É… eu só estava resolvendo uns detalhes de última hora e
tentando patentear um dos nossos novos dispositivos de segurança. Minhas entranhas se contorcem com esse tom oco, porque consigo sentir. Consigo sentir que ele está se removendo de tudo o que compartilhamos juntos. De todas as emoções que eu achei que ele sentia, mas que não conseguia expressar com palavras. Tento esconder o desespero na minha voz quando a primeira lágrima escorre pela minha face. – Então, como estão as coisas? – Hum… mais ou menos… olha, linda… – ele ri – …preciso ir. – Colton! – imploro. Seu nome cai da minha boca antes que eu possa pará-lo. – Sim? – Olha, me desculpa – digo baixinho. – Eu não queria… – Minhas palavras fraquejam. Eu me sufoco para colocar a mentira para fora. A linha fica em silêncio por um instante, e essa é a única razão por eu saber que ele me ouviu. – Bom, que tapa na cara – ele diz com sarcasmo, mas eu ouço a irritação em sua voz. – Qual dos dois vai ser, linda? Ou você me ama, ou não ama, certo? É quase pior quando você diz e depois retira o que disse. Não concorda? Acho que é o escárnio óbvio em sua voz que acaba comigo desta vez. Seguro o choro antes que saia alto demais. Ouço Colton rir com alguém do outro lado da linha. – Colton… – É tudo o que consigo dizer. O sofrimento me engole inteira e me puxa para as profundezas. – Eu te ligo – ele diz. O telefone fica mudo antes que eu tenha a chance de dizer o que eu temo que possa ser meu adeus final. Mantenho o telefone no ouvido. Minha mente percorre todas as outras formas pelas quais essa conversa poderia ter saído diferente. Por que ele teve que ser tão cruel? Ele me avisou. Acho que a culpa é minha nisso tudo. Primeiro por não dar ouvidos e depois por abrir minha boca enorme. Cruzo os braços e abaixo a cabeça na mesa. Solto um gemido ao perceber que coloquei a cabeça em cima da agenda que o escritório dele me enviou. Dos eventos aos quais tenho que comparecer por contrato. Com ele. Que diabos eu fiz comigo? Como pude ser tão idiota e concordar com isso? Porque é ele, reitera uma vozinha na
minha cabeça. E porque é pelos meninos. Pego a programação, amasso e jogo do outro lado da sala na expectativa de que fizesse barulho, pelo menos, mas o barulhinho dela atingindo a parede não faz nada para dissuadir a dor no meu peito. Dentro de instantes, o choro sacode meu corpo. Estou fodida. Ele que se foda. O amor que se foda. Eu sabia que isso ia acontecer. Maldito.
Acordo no sábado de manhã me sentindo uma merda, mas com um propósito renovado. Eu me levanto e me forço a sair para correr, dizendo a mim mesma que vai me fazer sentir melhor. Vai me dar uma nova perspectiva das coisas. Corro e bato os pés no asfalto com um ritmo incansável para aliviar um pouco da minha dor de cabeça. Chego em casa, sem fôlego, com o corpo cansado, e ainda sentindo a dor no fundo da minha alma. Acho que eu estava mentindo para mim. Tomo um banho e prometo para mim que não haverá mais lágrimas hoje e, definitivamente, nada mais de sorvete. Estou pegando o último pedacinho de chocolate com menta da embalagem quando meu celular toca. Olho o número desconhecido. A curiosidade me domina. – Alô? – Rylee? – Tento identificar a voz feminina do outro lado da linha, mas não consigo. – Sim? Quem é…? – Que diabos aconteceu? – a voz me pergunta de forma autoritária, em tom abrupto e obviamente irritado. – É a Quinlan. – Um leve suspiro chocado escapa dos meus lábios. – Acabei de sair da casa do Colton. Que diabos aconteceu? – C-como assim? – gaguejo porque posso responder a essa pergunta de muitas formas diferentes. – Deus! – Ela suspira, frustrada e impaciente, do outro lado da linha. – Será que vocês dois podem cair na real e tirar a cara de dentro da bunda? Puta que pariu. Talvez assim vocês vão se dar conta de que têm algo real nas mãos. Algo inegável. Só um idiota não
enxergaria a faísca que existe entre vocês. – Permaneço em silêncio do outro lado da linha. As lágrimas que eu me forcei a não derramar vazam dos cantos dos meus olhos. – Rylee? Você está aí? – Eu disse a ele que o amava – falo baixinho, querendo lhe fazer a confidência por algum motivo. Talvez precisando de algum tipo de validação sobre a resposta dele, vinda de alguém muito próxima dele, para que eu não precise ficar repassando os acontecimentos sem parar na minha cabeça. – Ai, merda – ela sussurra, chocada. – É… – Solto uma risada ansiosa. – Trocando em miúdos, é isso mesmo. – Como ele recebeu essas palavras? – ela pergunta, cautelosa. – Relato a reação dele e como ele esteve comigo desde então. – Parece o que eu esperaria dele. – Ela suspira. – Ele é um cretino! Permaneço em silêncio diante desse comentário. Enxugo as lágrimas com as costas da mão. – Como ele está? – pergunto. Minha voz falha. – Mal-humorado. Rabugento. Intratável. – Ela ri. – E pelo número de amigos chamados Jim e Jack, vazios e ocupando todo seu balcão da cozinha, eu diria que ele está tentando se embebedar até perder a consciência ou para ajudar a esquecer seus demônios ou para afastar o medo que ele tenha em relação aos sentimentos por você. – Solto a respiração que estava presa. Uma parte de mim se deleita no fato de que ele também está sofrendo. Que ele foi afetado pelo que aconteceu entre nós. – E por que ele está sentindo uma falta terrível de você. Meu coração se aperta com essas palavras finais. Sinto como se tivesse ficado num mundo sem luz por alguns dias, então é bemvindo saber que ele também está se afogando em escuridão. E então a parte de mim que toma consciência disso não quer que ele sofra, lamenta ter causado toda essa dor com aquelas palavras idiotas e só quer que tudo fique bem novamente. Minha voz sai embargada pelas lágrimas e falha quando começo a falar: – Eu fodi com tudo quando falei aquilo, Quinlan. – Não é verdade! – ela me repreende. – Grrr! – ela grunhe. – Meu Deus, eu o amo e o odeio tanto às vezes! Ele nunca se abriu para
essa possibilidade antes, Rylee… ele nunca esteve nessa situação. Só posso supor como ele reagiria. – Por favor – imploro. – Não faço ideia do que fazer. Só não quero estragar ainda mais e o afastar ainda mais de mim. Ela fica em silêncio por alguns instantes, contemplando as coisas. – Dê um pouco de tempo a ele, Rylee – ela murmura –, mas não tempo demais, ou ele pode fazer algo idiota de propósito, e arriscar perder a única garota boa de quem ele já gostou. – Não a Tawny… – As palavras saem antes que eu possa contêlas. Eu me encolho, sabendo que acabo de insultar abertamente uma amiga da família. – Nem me faça falar dela. – Quinlan ri com sarcasmo, o que faz uma parte minha lá no fundo sorrir ao saber que não sou só eu que detesto a Tawny. Rio entre as lágrimas. – Aguenta firme, Rylee – diz ela. Sinceridade flui de sua voz. – Colton é um homem maravilhoso, embora complicado… é digno do seu amor, mesmo que seja incapaz de aceitar esse conceito por enquanto. – O nó na minha garganta me impede de responder, então eu apenas murmuro para concordar. – Ele precisa de muita paciência, de um forte senso de lealdade, confiança inexorável, e uma pessoa que lhe diga quando ele sai do riscado. Ele vai levar tempo para perceber e aceitar tudo isso… mas, no fim das contas, ele vale a espera. Só tenho esperanças de que ele saiba. – Eu sei – sussurro. – Boa sorte, Rylee. – Obrigada, Quinlan. Por tudo. Ouço sua risada e depois ela desliga.
Vinte e nove
O conselho de Quinlan ainda ecoa nos meus ouvidos quando estou deitada na cama na manhã seguinte. A dor no meu peito e a dor na minha alma ainda estão presentes, mas minha determinação voltou. Uma vez eu disse a Colton para lutar por nós. Por mim. Agora é minha vez. Eu lhe disse que ele vale o risco. Que eu arriscaria. Agora eu preciso provar. Se Quinlan parece pensar que sou importante para ele, então eu não posso desistir agora. Eu tenho que tentar. Dirijo até a costa, ouvindo Lisa Loeb. Minha mente é um turbilhão de pensamentos – o que eu vou dizer e a forma como vou dizê-lo. As nuvens no alto lentamente assumem um tom queimado e dão lugar ao sol da manhã. Tomo isso como um sinal de que, de alguma forma, quando eu vir Colton cara a cara, ele vai ver que é só ele e eu, como era antes, e que as palavras não significam nada. Que elas não mudam nada. Que ele sente a mesma coisa e que age do mesmo jeito. E que somos nós. Que a escuridão que sinto vai se dissipar porque vou voltar para sua luz mais uma vez. Viro em Broadbeach Road e paro na frente de seu portão. Meu coração palpita como se fazendo uma tatuagem frenética, e minhas mãos tremem. Toco a campainha, mas ninguém atende. Tento de novo, e de novo, pensando que talvez ele esteja dormindo. Que não consiga ouvir a campainha porque está lá em cima. – Pois não? – pergunta uma voz feminina no interfone. Meu coração despenca e vai parar no estômago. – É a Rylee. Eu… Eu preciso ver o Colton. – Minha voz é um emaranhado de nervosismo e lágrimas não derramadas.
– Oi, querida. É a Grace. Colton não está em casa, querida. Ele saiu ontem à tarde. Está tudo bem? Gostaria de entrar? O fluxo de sangue na minha cabeça é tudo o que eu ouço. Minha respiração falha e eu encosto a cabeça no volante. – Obrigada, Grace, mas não vou entrar. Só diga… só diga que eu passei. – Rylee? – A incerteza em sua voz me faz inclinar o corpo na janela do carro. – Sim? – Não cabe a mim dizer… – ela pigarreia – …mas tenha paciência. Colton é um bom homem. – Eu sei. – Minha voz mal se ouve. Meu estômago está alojado na garganta. Se ao menos ele se desse conta disso. A viagem de volta à beira-mar não é tão preenchida de esperança como a viagem de vinda. Digo a mim que ele deve ter saído com Beckett e que ficou bêbado demais para voltar para casa de carro. Que ele saiu com o pessoal e ficou num hotel no centro de Los Angeles depois de festejar um pouco demais. Que ele decidiu que era hora de outra viagem a Las Vegas e agora está no avião voltando para casa. Os cenários inesgotáveis percorrem minha cabeça, mas não fazem nada para aliviar as ondas de medo que ricocheteiam dentro de mim. Não quero pensar no outro lugar onde ele pode estar. Na casa de Palisades. O lugar onde ele vai para ficar com os “acordos”. Meu coração dispara e os pensamentos voam desgovernados diante dessa ideia. Tento justificar que ele tenha ficado lá. Que esteja sozinho. Mas tanto os comentários de Teagan quanto os de Tawny lampejam na minha mente, alimentando o fluxo inesgotável de dúvida e desconforto que revira dentro de mim. Minha mente se enche com os vários alertas que ele me deu. “Eu saboto qualquer coisa que lembre um relacionamento. Funciona assim, Rylee. Vou fazer alguma coisa de propósito para te fazer sofrer e provar que eu posso. Para provar que você não vai ficar por perto não importa quais sejam as consequências. Para provar que eu posso controlar a situação.” Não me lembro de virar o carro nessa direção, mas, antes que eu perceba, estou virando na sua rua de memória. Lágrimas brotam e
escorrem pelas minhas faces. Seguro firme no volante. A necessidade de saber pesa a agonia de reconhecer o que minha mente teme. Aquilo com que meu coração se preocupa. O que minha consciência já sabe. Estaciono no meio-fio. Um leve suspiro escapa dos meus lábios no alívio momentâneo quando vejo que nenhum dos carros de Colton está ali. Mas, quando vejo a porta da garagem, eu me pergunto se ele está ali. Tenho que saber. Afasto o cabelo do rosto e inspiro fundo antes de sair do carro. Caminho sentindo os joelhos bambos pelo caminho e entro em um pátio de paralelepípedos. Meu coração bate tão forte que só ouço o trovejar, é só nisso que consigo me focar além de dizer aos meus pés para caminhar um na frente do outro.
Trinta
COLTON
A porra da minha cabeça. Solto um gemido ao girar na cama. Parem a batida nos tambores. Por favor. Alguém. Qualquer um. Caralho. Jogo o travesseiro sobre a cabeça, mas a droga do latejar continua nas minhas têmporas. Meu estômago gira e se contorce, e eu tenho que me concentrar em não vomitar, porque minha cabeça ainda não quer que eu acorde. Puta que pariu! Que porra aconteceu ontem à noite? Pedacinhos e fragmentos voltam aos poucos. Becks vindo me sacudir dos efeitos do vodu de boceta. Efeitos dos quais não sei bem se quero ser sacudido. Beber. Rylee – querer a Rylee. Precisar da Rylee. Sentir falta da Rylee. Tawny se encontrando com a gente no bar para algumas assinaturas. Litros e litros de álcool. Álcool pra caralho, de acordo com minha cabeça, neste momento. Prazer para enterrar a dor. Luto para enfrentar minha confusão mental para me recordar do resto. Lampejos de luz entre todos os borrões. Voltar para cá. Casa de Palisades era mais perto que a de Malibu. Beber mais. Tawny não se sentindo confortável no terninho de trabalho. Pegando uma camisa minha para ela. Estar na cozinha olhando para a porra do pote de plástico com algodão-doce sobre o balcão. Lembranças do carnaval fazendo a dor queimar. – Ai, porra. – Gemo encontrando um flash da próxima lembrança, alto e claro.
Sentar no sofá. Becks, o filho da puta, parecendo inteiro mesmo depois de ter me acompanhado bebida por bebida, sentado na cadeira na minha frente. Seus pés apoiados e a cabeça inclinada para trás. Tawny ao meu lado no sofá. Eu me esticar por cima dela para pegar minha cerveja na mesa de canto. Ela me abraçando. Suas mãos ao redor do meu pescoço. Boca nos meus lábios. Álcool demais e o peito ainda queimando de desejo. Doendo tanto porque eu preciso da Rylee. Só da Rylee. Prazer para enterrar a dor. Retribuindo seu beijo. Me perdendo dentro dela momentaneamente. Tentando me livrar da porra de dor constante. Me esquecer de como me sinto. Tudo errado. Tão errado. Empurrando-a de perto de mim. Ela não é Rylee. Olhando para cima e encontrando a desaprovação nos olhos de Becks. Poooorrraaa! Eu me levanto da cama com tudo e imediatamente me encolho com a dor absurda dentro da minha cabeça. Chego ao banheiro e me apoio na pia por um momento, lutando para conseguir fazer coisas mínimas. Imagens de ontem à noite continuam piscando. A porra da Tawny. Olho no espelho e faço careta. – Você está com uma cara de merda, Donavan – murmuro para mim mesmo. Olhos injetados. Barba na cara. Cansado. E vazio. Rylee. Olhos cor de violeta que me imploram. Sorriso suave. Grande coração. Perfeita pra caralho. Eu te amo, Colton. Deus, eu preciso dela. Necessito. Quero. Escovo os dentes. Tento me livrar do gosto de álcool e infelicidade da minha boca. Começo a tirar a camiseta e entro debaixo da água – preciso tirar a sensação das mãos de Tawny de mim. Seu perfume. Preciso de um banho desesperadamente. Estou prestes a ligar a água quando ouço uma batida na porta da frente. – Quem, diabos…? – resmungo antes de olhar para o relógio. Ainda é cedo pra caralho. Apressadamente, procuro algo para vestir, tento me livrar da confusão mental. Não consigo encontrar a porra das calças que usei ontem. Onde, diabos, eu a coloquei? Frustrado, abro a cômoda com força, pego o primeiro jeans que encontro e enfio as pernas nele de
qualquer jeito. Desço a escada às pressas, começando a abotoá-las, tentando imaginar quem será que está na minha porta. Lanço um olhar para Becks desmaiado no sofá. A cara dele. Depois encontro Tawny e suas pernas compridas abrindo a porta. A visão dela – camiseta, pernas e nada mais – não me causa reação nenhum. Para mim, quando costumava significar tudo. – Quem é, Tawn? – Minha voz soa estranha quando falo. Grave. Sem emoção, porque a única coisa que quero é que Tawny dê o fora daqui. O que eu quase arruinei. Porque agora é importante. Ela é importante agora. E, quando encontro o sol ofuscante da manhã entrando pela porta, juro por Deus que meu coração para no peito. Ali está ela. Meu anjo. Quem está me ajudando a atravessar as trevas e me deixando me banhar em sua luz.
Trinta e um
Minha batida soa oca na porta da frente. Coloco a mão nela, considero se vou bater de novo, só para garantir. Meus ombros começam a afundar, aliviados, que ele não esteja enfurnado lá dentro com alguém, quando a porta se abre para dentro sob meus dedos. Todo o sangue vai parar nos meus pés assim que a porta se abre e Tawny aparece na minha frente. Seu cabelo está bagunçado do sono. Maquiagem borrada nos olhos de quem acordou agora. As pernas longas e bronzeadas vão desde os pés descalços, desaparecem debaixo de uma camiseta que sei pertencer a Colton, e vão até a pequena abertura debaixo do ombro esquerdo. O frescor da manhã mostra seus seios sem sutiã. Tenho certeza de que o choque no meu rosto espelha o dela, nem que seja por um breve instante, pois ela rapidamente se recompõe. Um lento sorriso perverso de sereia se espalha em seu rosto. Seus olhos dançam com triunfo. Ela passa a língua pelo lábio superior assim que ouço passos vindos de dentro. – Quem é, Tawn? Ela apenas alarga o sorriso e usa a mão para abrir mais a porta. Colton vem até a porta sem nada além de um jeans; jeans que seus dedos estão lutando para conseguir fechar. Seu rosto exibe mais do que a barba costumeira de um dia, e o cabelo está sujo e bagunçado do sono. Seus olhos estão injetados e o fazem franzir o rosto no sol da manhã que entra pela porta. Ele parece rude e desleixado, como se o álcool da noite anterior tivesse cobrado o preço. Sua aparência é de como eu me sinto, uma merda, mas não importa o quanto que eu o odeie neste momento, vê-lo ainda faz
minha respiração enroscar na garganta. Tudo acontece rápido demais, mas sinto como se o tempo tivesse parado e começado a se mover em câmera lenta. Ficasse parado. Os olhos de Colton disparando para os meus quando ele percebe quem está na porta. Quando ele entende que eu sei. Seus olhos verdes sustentam os meus. Imploram, questionam, pedem desculpas, tudo de uma só vez pela dor e devastação esmagadora que está refletido nos meus. Ele vem até a soleira e um grito estrangulado escapa dos meus lábios para pará-lo. Respirar é difícil. Tento sugar o ar, mas meu corpo não está ouvindo. Ele não compreende os comandos inatos do meu cérebro para sugar o ar porque está tão sobrecarregado de emoções. Tão devastado. O mundo gira debaixo de mim e ao meu redor, mas não consigo me mover. Olho para Colton, as palavras na minha cabeça se formam, mas nunca atravessam meus lábios. Lágrimas queimam na minha garganta e ardem nos meus olhos, mas eu luto para contê-las. Não vou dar à Tawny a satisfação de me ver chorar enquanto ela me mostra um sorrisinho irônico sobre o ombro dele. O tempo volta a se mover. Respiro fundo e os pensamentos começam a se formar. A raiva começa a lançar fogo nas minhas veias. O vazio começa a se registrar na minha alma. A dor irradia do meu coração. Balanço a cabeça de um lado para o outro, sentindo nojo dele. Dela. Num choque resignado. – Que se foda tudo isso – digo baixinho, mas implacável, ao dar meia-volta para ir embora. – Rylee – Colton me chama, desesperado. Sua voz está grave do sono. Ouço a porta bater atrás de mim. – Rylee! – ele grita. Estou praticamente correndo pela calçada, precisando fugir dele. Dela. Disso. – Rylee, não é o que você… – Não é o que eu acho? – grito sobre meu ombro para ele, incrédula. – Porque ,quando sua ex atende a porta da sua casa tão cedo de manhã vestindo a sua camiseta, o que mais eu devo pensar? – Seus passos são pesados atrás de mim. – Não me toca! – berro assim que ele agarra meu braço e me gira para encará-lo. Eu me livro de sua mão, meu peito sobe e desce, pesado, meus dentes estão cerrados. – Não me toque, porra! Embora temporariamente, a raiva substituiu a dor. Está me
percorrendo como um incêndio descontrolado, exalando de mim em ondas. Fecho os punhos com força e aperto os olhos. Não vou chorar. Não vou lhe dar a satisfação de ver como ele me dilacerou. Não vou lhe mostrar que ter entregado meu coração pela segunda vez pode ter sido o maior arrependimento da minha vida. Quando olho para cima, seus olhos encontram os meus, e ficamos nos encarando. Meu amor por ele ainda está presente. Tão fundo. Tão cru. Tão abandonado. Seus olhos nadam em emoção. Ele aperta e relaxa as mandíbulas na tentativa de encontrar as palavras certas. – Rylee – ele implora –, me deixa explicar. Por favor. – Sua voz falha na última palavra, e eu fecho os olhos para bloquear para fora a parte de mim que ainda quer consertá-lo, confortá-lo. E então a raiva me atinge de novo. Me atinge por eu ainda gostar dele. Atinge Colton por ele partir meu coração. Atinge Tawny… só por existir. Ele passa a mão pelo cabelo e coça a barba no rosto. O som da aspereza – aquele que normalmente eu acho tão sexy – não faz nada para enfiar mais fundo a faca no meu coração. Ele dá um passo à frente, e eu o acompanho, recuando um passo. – Eu juro, Rylee. Não é o que você está pensando… Dou uma risadinha sarcástica, sabendo que o playboy inveterado vai dizer qualquer coisa – fazer qualquer coisa – para se livrar dessa. A imagem de Tawny vestida com nada além da camiseta dele dispara na minha mente. Tento abafar as outras que se formam. Das mãos dela nele. Dele enlaçado com ela. Fecho os olhos e engulo em seco, tentando remover as imagens. – Não é o que eu estou pensando? Se tem cara de pato e anda como um pato… – dou de ombros – …bem, é como eles dizem. – Não aconteceu na… – Quack! – grito para ele. Sei que estou sendo infantil, mas não me importo. Estou louca da vida e estou sofrendo. Ele nega com a cabeça para mim, e eu vejo o desespero em seus olhos. O sorriso convencido de Tawny preenche minha cabeça. Suas provocações anteriores ecoam na minha cabeça, e atiçam o fogo da minha raiva. Os olhos de Colton procuram os meus. Ele dá mais um passo em minha direção. Eu recuo. Vejo a pontada de rejeição cruzar seu rosto.
Preciso de distância para pensar claramente. Nego com a cabeça para ele. O desapontamento nada nos meus olhos e a dor se afoga no meu coração. – De todas as pessoas, Colton… por que escolhê-la? Por que se voltar para ela? Ainda mais depois do que compartilhamos outra noite… depois do que você me mostrou. – A memória da intimidade entre nós quando nos olhávamos no espelho é quase insuportável para ser resgatada, mas inunda minha mente. Ele atrás de mim. Suas mãos no meu corpo. Seus olhos me bebendo. Seus lábios me dizendo para olhar para mim, perceber por que ele me escolhe. Que sou suficiente para ele. Um início de choro que não consigo segurar escapa, devastador, e vem tão do fundo de mim que eu envolvo os braços ao redor do corpo e tento amenizar seus efeitos. Colton estende a mão para me tocar, mas para no caminho quando olho feio para ele. Seu rosto está gravado em dor, e seus olhos parecem desvairados de incerteza. Ele não sabe como aplacar a dor que causou. – Rylee, por favor – implora. – Eu posso consertar isso… Seus dedos estão tão próximos do meu braço que preciso de tudo o que tenho para não me inclinar em seu toque. Esquivando-se visualmente de me tocar, ele enfia as mãos nos bolsos para se proteger do frio do início da manhã. Ou talvez de mim. Sei que estou ferida e confusa e odeio-o neste momento, mas ainda o amo. Não posso negar. Posso lutar contra, mas não posso negar. Amo-o mesmo que ele não me permita. Amo-o mesmo com a dor que ele me causou. As comportas que estive tentando controlar explodem e se derramam pelas minhas faces. Encaro-o pela visão borrada, até não conseguir mais encontrar minha voz novamente, apesar do desespero. – Você disse que tentaria… – É tudo o que consigo dizer, embora minha voz falhe a cada palavra. Seus olhos imploram nos meus e ali eu vejo a vergonha. Pelo quê, só posso imaginar. Ele suspira; ombros curvados, corpo derrotado. – Estou tentando… eu… – Suas palavras fraquejam, ele tira as mãos dos bolsos e algo cai de dentro de um. O pedaço de papel brilha até o chão em câmera lenta, o sol capta a embalagem refletora prateada. Minha mente leva um momento para processar o que
chegou aos meus pés – e não apenas porque não entendo, mas porque espero, acima de tudo, estar errada. Vejo o emblema da marca de preservativo gravada na embalagem aberta. Minhas sinapses começam lentas e pegam fogo. – Não, não, não… – Colton repete em choque. – Você está tentando? – grito para ele. Minha voz se eleva à medida que as chamas dentro de mim se acendem. – Quando eu falo “tentar”, Ace, não quero dizer enfiar o pau na primeira candidata disposta na primeira oportunidade em que você sente medo! – Agora estou berrando, sem me importar com quem possa ouvir. Sinto o pânico de Colton cada vez maior: sua incerteza de como ter que, na realidade, lidar com as consequências de suas ações, para variar, e a noção de que ele nunca teve que fazer isso antes… que nunca ninguém o encostou na parede, que nunca jogou a responsabilidade para cima dele, acelera ainda mais minha raiva. – Não é isso que eu… Eu juro, não é de ontem à noite. – Quack! – grito para ele, querendo agarrá-lo e nunca mais soltá-lo e, ao mesmo tempo, querendo socá-lo e mostrar o quanto ele me machucou. Estou numa droga de uma montanha-russa, mas o que eu quero é pular dela. Parar a viagem. Por que ainda estou aqui? Por que estou lutando por algo que é tão óbvio que ele não quer? Que não merece de mim? Ele passa as mãos pelos cabelos de um jeito exasperado, rosto pálido, olhos em pânico. – Rylee, por favor. Vamos fazer um pit stop. – Uma merda de um pit stop? – grito para ele, minha voz fica cada vez mais alta, irada que ele queira mandar em mim agora. Um pit stop? Melhor reconstruir o motor. – Você não acredita em nós o suficiente? – pergunto, tentando entender, apesar do sofrimento. – Outro dia você me disse que Tawny tinha um décimo do meu sex appeal. Acho que agora você resolveu nivelar por baixo, né? – Sei que estou sendo excessivamente dramática, mas meu peito dói com cada inspiração minha. Francamente, já não me importo mais. Estou ferida, devastada, e quero que ele sofra tanto quanto eu. – Você não acreditou o suficiente em mim que teve que correr para os braços de outra pessoa? Teve que comer outra pessoa? – Seu silêncio é a única resposta que eu preciso para saber da verdade.
Quando, por fim, tenho a coragem de erguer os olhos e encontrar os seus, acho que ele vê a resignação nos meus, o que, por sua vez, faz o pânico lampejar nos dele. Ele sustenta meu olhar, esmeralda contra ametista, um volume de emoções é trocado entre nós – o arrependimento é o maior de todos. Ele faz menção de enxugar uma lágrima da minha face, e eu me encolho ao seu toque. Sei que, se ele me tocar agora, vou dissolver numa confusão incoerente. Meu queixo treme quando me viro para ir embora. – Eu te disse que ia te fazer sofrer – ele sussurra atrás de mim. Paro depois de me afastar dois passos. Grande distância… Mas a questão é que suas palavras me enfurecem. Sei que, se for embora sem dizer, vai ser algo que lamentarei para sempre. Giro de volta e o encaro. – É! Você disse! Mas só porque você me alertou não significa que tudo bem! – grito para ele, com sarcasmo respigando de raiva. – Corta essa, Donavan! Nós dois temos um passado. Nós dois temos problemas que precisamos superar. Todo mundo tem! – Estou irada. – Recorrer a outra pessoa… foder outra pessoa é inaceitável para mim. Algo que não vou tolerar. Colton suga o ar com força, como se minhas palavras o atingissem como socos. Vejo o tormento em seu rosto e uma parte de mim fica aliviada de saber que ele ainda está sofrendo – talvez não tanto quanto eu –, mas pelo menos eu pensei que não éramos essa mentira toda. – Você não pode me amar jamais, Rylee – diz ele, em tom baixo e resignado, olhos nos meus. – Bem, você fez de tudo para se certificar disso, não fez? – digo com a voz vacilante. – Você dormiu com ela, Colton? – Meus olhos procuram os seus, finalmente fazendo a pergunta que não sei se quero ouvir respondida. – Foder a Tawny valeu a pena de me perder? – Isso importa? – ele retruca. Suas emoções lhe consomem o rosto assim que ele começa a ficar na defensiva. – Você vai pensar o que quiser pensar, de qualquer forma, Rylee. – Não jogue isso contra mim, Colton! – grito para ele. – Não fui eu que estraguei tudo isso! Ele me encara por alguns instantes antes de responder, olhos acusadores, e, quando o faz, sua voz é uma farpa gelada.
– Então não foi você? Suas palavras são um tapa que fazem meu rosto arder. Colton insensível acabou de ressurgir. Lágrimas brotam de novo dos meus olhos e rolam pelas faces. Não suporto mais ficar aqui lidando com minha dor. Algo atrás dele capta minha visão, e eu olho para ver que Tawny abriu a porta. Ela está inclinada ao batente, observando nossa troca com curiosidade entretida. A visão dela me dá a força de que eu preciso para sair andando. – Não, Colton – respondo, rígida –, a culpa é inteiramente sua. – Fecho os olhos e respiro fundo, na tentativa de controlar as lágrimas que não param nunca. Minha respiração falha e meu queixo treme na consciência do que eu deveria ter feito na noite em que nos conhecemos. – Adeus – sussurro. Minha voz sai embargada de emoção e meus olhos estão cheios de lágrimas não derramadas. Meu coração está cheio de amor não aceito. – Você está me deixando? – Sua pergunta é uma súplica de esmagar o coração que serpenteia na minha alma e me agarra. Balanço a cabeça tristemente quando olho para o garotinho perdido dentro do bad boy diante de mim. Vulnerabilidade encapsulada em rebeldia. Ele tem alguma ideia do quanto ele está irresistível assim? Do homem maravilhoso, compreensivo, carinhoso e apaixonado que ele é? Como ele tem tanto a dar para alguém, para contribuir num relacionamento, se ao menos ele derrotasse seus demônios e deixasse alguém entrar? Como eu posso estar pensando numa coisa dessas agora? Como posso estar preocupada que o fato de eu deixá-lo vai fazê-lo sofrer quando as evidências dolorosas estão aos meus pés e diante de mim? Seus olhos disparam desesperados quando o pânico toma conta. A dor é demais para suportar. Ela o machuca. Ele me machuca. Abandonar o homem que eu amo quando eu nunca pensei que fosse possível me sentir tão forte de novo. Abandonar o homem que estabeleceu o padrão com que todos os homens vão ser comparados. Meu peito se aperta, eu tento controlar minhas emoções. Preciso ir. Preciso chegar até o carro. Em vez disso, eu me aproximo dele, a droga do meu vício. Seus
olhos se alargam quando estendo a mão e passo os dedos delicadamente sobre seu maxilar forte e lábios perfeitos. Ele fecha os olhos ao sentir meu toque e, quando os abre, vejo a devastação brotar neles. A visão de Colton se desfazendo em silêncio aperta algo no meu peito. Ergo o corpo na ponta dos pés e o beijo muito levemente nos lábios, precisando sentir um último gosto dele. Uma última sensação. Uma última memória. Uma última fratura no meu coração estilhaçado. Um soluço escapa da minha boca no instante em que recuo. Sei que vai ser nosso último beijo. – Adeus, Colton – repito ao absorver tudo o que lhe diz respeito uma última vez e gravar na memória. Meu Ace. Dou meia-volta e tropeço na calçada, cega pelas lágrimas. Ouço meu nome nos seus lábios e o arranco da minha cabeça, ignorando sua súplica para eu voltar, porque podemos consertar tudo isso. Forço meus pés a se moverem para o meu carro. Porque, mesmo se consertarmos desta vez, com Colton, sempre vai haver uma próxima. – Mas, Rylee, eu preciso de você… – O desespero partido em sua voz me contém. Me desmonta. Quebra partes de mim que ainda não estavam quebradas. Rasga minhas entranhas, põe fogo nelas. Porque, por tudo o que Colton não é, existe muito que ele é. E eu sei que ele precisa de mim tanto quanto preciso dele. Posso ouvir em sua voz. Posso sentir na minha alma. Mas precisar já não é mais suficiente para mim. Olho para o chão na minha frente e nego com a cabeça. Não consigo virar o rosto para ele porque não vou conseguir ir embora depois de vir o que há naqueles olhos. Eu me conheço bem demais, mas não posso perdoar. Aperto meus olhos com força e, quando falo, não reconheço minha própria voz. É fria. Desprovida de qualquer sentimento. Protegida. – Então talvez você devesse ter pensado nisso antes de precisar dela. Mando meu corpo ir embora assim que ouço Colton sugar o ar atrás de mim. Abro a porta com força e me jogo no carro bem a tempo de sucumbir a todas as minhas lágrimas e ao sofrimento infinito. E então a verdade se faz. Como eu me senti sozinha nos dois últimos anos. Como, até deixar Colton, eu não tinha percebido que foi
ele quem conseguiu preencher esse vazio para mim. Foi ele quem me fez inteira de novo. Não sei por quanto tempo fico sentada ali, emoções explodindo, mundo implodindo, e coração partindo. Quando consigo me recompor o suficiente para dirigir sem bater, dou partida no carro. Ao pegar a rua, vejo pelo espelho retrovisor que Colton ainda está ali com um olhar ferido no rosto e arrependimento dançando nos olhos. Eu me forço a ir embora. Ir embora dele. Do meu futuro. Das possibilidades que eu pensei que fossem uma realidade. De tudo o que eu nunca quis, mas agora não sei como é que vou conseguir viver sem ter.
Trinta e dois
Meus pés golpeiam a calçada levados pela batida da música. A letra raivosa ajuda a aliviar um pouco da angústia, mas não toda. Viro pela última vez na minha rua para chegar em casa, mas a verdade é que eu queria continuar correndo e passar por ela – passar pelas lembranças dele que encobrem minha casa e sobrecarregam meu telefone diariamente. Mas não consigo. Hoje é um grande dia. Os figurões da empresa estão fazendo uma visita, e eu tenho que apresentar os detalhes finais do projeto, além de dar o showzinho que Teddy quer que eles vejam. Eu me dediquei de corpo e alma na preparação para essa reunião. Coloquei de lado – ou tentei da melhor forma possível – a imagem convencida do rosto de Tawny percorrendo minha mente. Tentei usar o trabalho para afogar a voz de Colton me fazendo a súplica, me dizendo que ele precisa de mim. Tentei esquecer o sol reluzindo na embalagem metálica. Lágrimas brotam dos meus olhos, mas eu as afasto. Não hoje. Não posso fazer isso hoje. Percorro os últimos metros até a varanda da frente num trote leve, e me ocupo com o iPod para conseguir ignorar o novo buquê de dálias esperando por mim na soleira da porta. Enquanto abro a porta, tiro o cartão do arranjo sem realmente olhar para as flores e o jogo no pratinho no aparador do hall de entrada que já está transbordando com seus pares idênticos e também ainda fechados. Suspiro, entro na cozinha e enrugo o nariz ao sentir o cheiro poderoso de flores indesejadas demais, espalhadas aleatoriamente pela casa. Tiro os fones de ouvido e me abaixo na geladeira para
pegar uma água. – Celular? A voz hostil de Haddie me assusta. – Meu Deus, Had! – Você me deu um susto daqueles! Ela me olha por um instante, lábios franzidos, enquanto eu bebo minha água às goladas. Seu semblante normalmente alegre foi substituído por irritação. – O quê? O que eu fiz desta vez? – Desculpe se eu fiquei preocupada com você. – Seu sarcasmo se equivale com sua expressão facial. – Você ficou fora mais tempo do que o normal. É irresponsável sair para correr sem levar o celular. – Eu precisava clarear a mente. – Minha resposta não faz nada para aliviar sua irritação visível. – Ele me liga e manda mensagens o tempo todo. Eu precisava fugir do meu telefone... – Faço um gesto para indicar a quantidade risível de arranjos de flores. – E da nossa casa, que está cheirando a casa funerária. – É um pouco absurdo – ela concorda, enrugando o nariz. Enquanto ela me observa, suas feições suavizam. – Imbecil, isso que é – murmuro para mim mesma ao me sentar à mesa da cozinha para desamarrar os tênis. Entre os um ou dois buquês enviados diariamente, com cartões que nem são abertos, as numerosas mensagens de celular que eu deleto sem ler, Colton não consegue captar os sinais de que eu já terminei com ele. Completamente. Já superei. E, a despeito do quanto eu pareço forte ao dizer essas palavras, estou silenciosamente me despedaçando por dentro. Alguns dias são melhores que outros, mas esses outros são debilitantes. Eu sabia que seria difícil superar Colton, mas eu não fazia ideia do quanto seria difícil. E some-se a isso o fato de que ele não me larga. Não falei mais com ele, não o vi, não li suas mensagens e nem seus cartões. Também não ouvi suas mensagens de voz que estão consumindo a memória do meu celular, mas ele continua resoluto em suas tentativas. Sua persistência me diz que ele deve estar sendo consumido pela culpa. Minha cabeça já aceitou que é definitivo; meu coração, não. E, se eu ceder e ler os cartões, ou se prestar atenção nas músicas a que ele faz referência nas mensagens, que demonstram o que ele está
sentindo, não tenho mais tanta certeza do quanto minha cabeça vai permanecer resoluta com essa decisão. Ouvir a voz dele, ouvir suas palavras, ver seu rosto – qualquer uma dessas coisas vai fazer desmoronar o castelo de cartas que estou tentando reconstruir ao redor do meu coração partido. – Ry? – Sim? – Você está bem? Olho para minha mais querida amiga, tentando segurar as pontas para que ela não veja além da minha faixada, e mordo o lábio para segurar as lágrimas que ameaçam novamente. Nego com a cabeça e as contenho. – Estou ótima. Só preciso ir para o trabalho. Começo a me levantar e passo às pressas por ela, querendo evitar desesperadamente o sermão de Haddie Montgomery. Não sou rápida o suficiente. Sua mão agarra meu braço com firmeza. – Ry, talvez ele não… – Ela vacila quando meus olhos encontram os seus. – Não quero falar sobre isso, Haddie. – Tiro sua mão de mim e sigo para meu quarto. – Vou chegar tarde.
– Tudo pronto? Olho para Teddy enquanto termino minha última passada na apresentação de Power Point na sala de conferência e garanto que meu sorriso reflita confiança. Caso Teddy tenha ouvido os rumores, eu não posso deixar transparecer para ele que exista qualquer coisa entre mim e Colton. Se deixar, ele vai ficar todo alvoroçado sobre perder o financiamento. – Definitivamente. Só estou esperando que Cindy termine de tirar cópias da pauta para colocar sobre as pastas. Ele entra na sala no instante em que eu prendo de novo um diagrama no cavalete. – Tenho certeza de que você notou que eu ajustei e acrescentei alguns itens na pauta. Não afeta a sua parte, mas… – A reunião é sua, Teddy. Tenho certeza de que, seja lá o que você
acrescentou, está ótimo. Você não precisa fazer nenhuma mudança por minha causa. – Eu sei, eu sei – diz ele, olhando para o slide projetado na tela –, mas hoje é o seu bebê que vai ser apresentado para os figurões. Abro um sorriso genuíno para ele. – E vou deixá-los a par de tudo. Tenho minhas atualizações, projeções de orçamento, estimativa de cronograma, e tudo o mais relacionado ao projeto, atualizado e pronto para apresentar. – É você, Ry. Não estou preocupado. Você nunca falhou comigo. – Ele retribui o sorriso e dá um tapinha nas minhas costas antes de olhar para o relógio. – Eles devem chegar a qualquer minuto. Você precisa de alguma coisa de mim antes que eu desça para recebê-los? – Nada que eu me lembre. Cindy passa por Teddy no caminho dele para sair da sala de reuniões. – Você quer a pauta antes ou posso simplesmente colocar em cima das pastas? Olho para o relógio e me dou conta de que meu tempo está se esgotando. – Você pode apenas colocar tudo sobre as pastas. Já seria de grande ajuda. Obrigada. Arrumo minha bagunça, coloco minha apresentação de novo no primeiro slide e apenas fujo da sala de conferências para guardar os itens que não são necessários de volta na minha sala, quando ouço a voz ressoante de Teddy do outro lado do corredor. Hora de colocar a expressão profissional no lugar. – E aqui está ela – ele diz numa voz potente, reverberando pelos corredores da empresa. Eu paro, mãos cheias de coisas, e sorrio calorosamente para o pessoal dos ternos. – Cavalheiros. – Aceno com a cabeça para cumprimentá-los. – É um prazer tê-los aqui. Mal podemos esperar para informar os senhores sobre o nosso projeto e receber suas impressões. – Olho para minhas mãos cheias de coisas e continuo: – Só preciso guardar essas coisas bem rapidinho e já volto. Entro às pressas na minha sala, jogo as coisas sobre a mesa e uso um minutinho para dar uma olhada no visual antes de voltar para a
sala de reuniões. Entro bem na hora em que Teddy começa a se dirigir ao grupo diante dele. Tentando não interromper seus comentários de boas-vindas, eu me sento no primeiro assento disponível na frente da mesa enorme e retangular, sem olhar para os ocupantes da sala atrás de mim. Teddy fala e fala sobre as expectativas e como ele vai superá-las, enquanto eu ajusto os papéis na minha frente. Como a pauta da reunião é o primeiro papel da pilha, meus olhos viajam sobre ela distraidamente, já que eu a conheço como a palma da mão. E então olho duas vezes quando noto uma das mudanças feitas por Teddy. Logo abaixo da minha parte, as palavras “CD Enterprises” maculam a página. Meu coração para e o pulso acelera simultaneamente. Perco o fôlego e começo a sentir a cabeça leve. Não! Agora não! Não posso fazer isso agora. Esta reunião significa muito. Ele não pode estar aqui. O pânico começa a me dominar. O fluxo de sangue vai parar nos meus ouvidos, abafando as palavras de Teddy. Lentamente eu abaixo o papel e coloco as mãos sobre o colo, na esperança de que ninguém note que estão trêmulas. Abaixo a cabeça e fecho os olhos com força, tentando estabilizar minha respiração. Como fui idiota por pensar que ele não estaria aqui? Afinal de contas, sua doação e programa de patrocínio são a razão por nossas mãos estarem pairando no controle da missão. Estive tão envolvida em evitá-lo e ficar doente convenientemente nos outros eventos aos quais deveria comparecer que apaguei completamente essa possibilidade do meu subconsciente. Talvez Colton não tenha vindo. Então é claro que isso significaria que é muito provável que Tawny esteja presente aqui. Não sei qual dos dois seria pior. Quando não estou aguentando mais, respiro fundo para ganhar forças e levanto os olhos para passar em revista os ocupantes da sala. E imediatamente eles travam com as íris verde-claras de Colton, cuja atenção está concentrada apenas em mim. O castelo de cartas ao redor do meu coração desaba, e todo o ar é expulso dos meus pulmões no instante em que o vejo. Não importa o quanto eu tente quebrar o contato visual, é como um acidente de carro. Não consigo deixar de olhar.
Só porque tenho esse conhecimento íntimo do seu rosto, noto as diferenças sutis em sua aparência. O cabelo mais longo, a barba está de volta no queixo, leves manchas escuras debaixo dos olhos. Além do mais, ele parece ligeiramente desleixado para um homem que está sempre impecável. Arrasto meu olhar para seu rosto magnífico e estoico, e sou levada de volta para os olhos. É na segunda passada que eu percebo que a fagulha marota normalmente presente não está ali. Parecem perdidos, até mesmo tristes, implorando algo para mim em silêncio. Vejo sua mandíbula pulsar quando a intensidade de seus olhos fica mais pronunciada. Desvio os olhos, não querendo ler as palavras não ditas ali retratadas. Depois do que ele fez, ele não merece que eu olhe duas vezes. Fecho os olhos por um segundo e tento piscar as lágrimas que ameaçam sair, dizendo a mim mesma que tenho que segurar as pontas. Tenho que manter o autocontrole. E, a despeito do que eu diga para tentar me convencer, imagens de Tawny mal coberta com a camiseta de Colton perpassam minha mente. Tenho que engolir a náusea repentina e enfrentar o ímpeto de deixar o recinto. Meu choque por vê-lo aqui começa a se revirar lentamente e se transformar em raiva. Este é meu escritório e esta é a minha reunião; não posso deixá-lo me afetar. Ou pelo menos tenho que manter as aparências. Cerro os dentes e sacudo a infelicidade ouvindo a voz de Teddy lentamente penetrar o ruído do meu cérebro. Ele está me apresentando, e eu me levanto com pernas bambas para percorrer o caminho até a frente da sala de reuniões, consciente demais do peso dos olhos de Colton travados nos meus. Fico na frente da sala, agradecida por ter ensaiado minha apresentação inúmeras vezes. Minha voz falha no início, mas aos poucos eu encontro minha confiança à medida que continuo. Faço questão de olhar os figurões nos olhos, e de evitar um par de olhos em particular. Concentro minhas mágoas e minha raiva nele e em suas ações – e ao fato de ele estar ali, em geral – para alimentar meu entusiasmo pelo projeto. Falo da CD Enterprises e de suas contribuições monumentais, mas nunca, nem sequer uma vez, olho na direção dele. Termino minha apresentação de forma tranquila e sucinta. Sorrio para o grupo diante de mim. Respondo a algumas
poucas perguntas que são feitas e retomo meu assento de bom grado no exato momento em que Colton se levanta e segue para a frente da sala. Mexo com os papéis que tenho diante de mim, sem jeito, enquanto Colton fala com os presentes. Xingo-me em pensamento por minha entrada de última hora na sala de reuniões e minha proximidade da frente da sala. Ele está tão perto de mim que seu perfume limpo e amadeirado fica no ar e se envolve na minha cabeça, evocando lembranças do nosso tempo juntos. Todos os meus sentidos estão em alerta máximo, e eu daria tudo para deixar essa sala agora mesmo. É uma tortura ter a centímetros da gente aquela pessoa que a gente ama sem explicação, deseja com desespero, odeia com ferocidade e que nos faz sofrer inexplicavelmente, tudo ao mesmo tempo. Continho mexendo sem objetivo algum com os meus papéis, tentando me distrair da atração que a voz áspera exerce em mim. Meus olhos querem desesperadamente olhar para ele – procurar um motivo ou uma explicação para as ações dele, mas eu sei que nada vai apagar as imagens daquele dia da minha cabeça. – Em parceria com a Corporate Cares, a CD Enterprises percorreu todos os caminhos possíveis para garantir o maior montante em doações. Batemos em todas as portas, resgatamos todos os favores pendentes, e atendemos todos os telefonemas. Todos recebem a mesma atenção. Ninguém é negligenciado, pois constatamos em projetos anteriores que, quando menos esperamos, alguém vai aparecer, alguém que talvez tínhamos riscado da lista antes, e que agora pode ser a força determinante para mudar a maré. Às vezes aquela pessoa que achamos que seria insignificante acaba sendo quem faz toda a diferença. Por reflexo, meus olhos disparam para os de Colton diante da palavra que significa tanto entre nós. Apesar do público que nos ouve, os olhos de Colton fitam os meus à espera de qualquer reação minha para lhe informar que eu ouvi sua insinuação particular. Que eu ainda me importo. E, claro, eu caí direitinho. Droga! Os olhos esmeralda se demoram nos meus, e os músculos pulsam em sua mandíbula. Nossa troca dura mais do que seria profissional; a mensagem das palavras
se registram na minha psique. Um sorriso diminuto curva o canto de sua boca no instante em que ele interrompe nosso contato visual e continua. E aquele sorrisinho, aquela pequena demonstração de arrogância que me prova o quanto ele sabe que ainda me afeta, tanto me irrita quanto me devasta. Ou ele está tentando me dizer que eu é que sou importante para ele? Estou tão confusa… Não sei mais o que pensar. A única coisa da qual eu tenho certeza é que eu me recuso a ser essa garota. A garota para que todos nós olhamos e achamos que é burra porque ela continua voltando para o cara que sempre pisa na bola com ela – traindo-a com outras pessoas pelas costas, iludindo-a, dizendo-lhe uma coisa e fazendo outra. Tenho determinação. Por mais que eu queira Colton – por mais que o ame –, eu dou valor às excessivas coisas que tenho a oferecer, para permitir que ele, ou qualquer homem, venham brincar comigo e com minha autoestima. É o que preciso ficar repetindo a mim mesma, enquanto ouço sua voz seduzindo meus ouvidos, tentando me atrair para o jogo e fortalecendo seu controle sobre mim como nada que eu já tenha vivenciado. – E um telefonema desses aconteceu ontem, no meu escritório. E, de forma alguma, já finalizamos os esforços de levantamento de fundos, mas, com essa ligação inesperada, eu fico feliz em anunciar que, somando-se ao montante já arrecadado pela CD Enterprises, mais dois milhões de dólares foram confirmados em doações para a conclusão do projeto. Uma exclamação coletiva ecoa por toda a sala, em reação à declaração de Colton. Vozes murmuram entusiasmadas, conscientes de que nosso projeto foi completamente financiado, que todo o nosso trabalho árduo vai dar frutos. Abaixo a cabeça, comovida, e fecho os olhos com força sentindo a montanha-russa subir e depois despencar com tudo. Nem sei por onde começar a lidar com todas as emoções que estão me percorrendo. Por um lado, todos os meus esforços na causa dos meus meninos vão ser recompensados de forma monumental. Mais crianças vão se beneficiar com o programa e terão a chance de contribuir positivamente para a sociedade. Por outro lado, Colton é quem está me proporcionando essa vitória. Isso é o que eu chamo de
ironia. Estou recebendo tudo o que sonhei receber no campo profissional exatamente da pessoa que eu quero mais do que tudo no mundo, mas que não posso ter no campo pessoal. Por mais que eu lute contra os sentimentos, são mais do que consigo suportar. Estou me sentindo sobrecarregada. O vai e volta entre mágoa, raiva e sofrimento me deixou exausta. Uma lágrima escorre pela minha face e eu me apresso a enxugá-la com o dorso da mão. Meus ombros tremem com a ameaça de muitas outras mais. A dor de ter Colton ao meu alcance e, ao mesmo tempo, tão distante de mim é demais. Tudo é novo demais. Cru demais. Já me perdi tanto nas minhas emoções que esqueci de onde estou. Quando volto a mim, a sala está em silêncio. Continuo de cabeça baixa, tentando me recompor, quando ouço a voz baixinha de Teddy: – Significa muito para ela. Ela colocou o coração e a alma nisso tudo… vocês não podem culpá-la por ficar emocionada. Ouço murmúrios de concordância e fico aliviada que meus colegas tenham tomado meu visível estado emocional com felicidade em relação à boa notícia sobre o projeto, em vez de o resultado das minhas dores pessoais. Forço um sorriso tênue nos lábios e olho para as pessoas presentes, apesar das lágrimas que se acumulam nos meus olhos. Encontro o olhar de Teddy, calor e orgulho refletidos em seu rosto, e mostro-lhe um sorriso encabulado, fingido. Qualquer coisa para fugir de Colton. – Se vocês me derem licença, eu só preciso de um momento – murmuro. – É claro. – Ele sorri de leve, assim como o resto da sala, presumindo corretamente que preciso sair para me recompor, mas por todas as razões erradas. Eu me levanto e caminho com calma até a porta, afastando-me ao máximo de onde Colton está, e saio da sala. Ouço a voz de Teddy dando os parabéns a todos e declarando que a reunião está encerrada, depois de ver que não há mais necessidade de pensar em conjunto numa forma de garantir o restante do financiamento do projeto. Meu ritmo acelera à medida que aumenta a distância em relação à sala de conferências. Faço um gesto para Stella, e consigo dispensá-la, quando ela chama meu nome. Chego à minha sala e fecho a porta no último segundo antes de que o princípio do choro
pesado escape da minha garganta e me faça soluçar. Deixo-as rolar por mim, inclinada na parede oposta à porta. Tentei ser tão forte e contê-las por tantos dias, mas já não consigo mais. Estou decepcionada comigo mesma por ainda gostar dele. Chateada que eu ainda queira que ele pense em mim. Zangada que ele possa me afetar de tantas formas. Que ele ainda faça meu coração se encher de alegria por ele, enquanto minha cabeça tem consciência de que ele recorreu à Tawny quando as coisas entre nós saíram das estipulações que Colton tem para os relacionamentos. Ignoro a batida leve na minha porta, não querendo que ninguém me visse nesse estado deplorável. A pessoa persiste e eu tento enxugar as lágrimas das faces sabendo que é inútil. Não há com ocultar meu choro incessante. Levanto a cabeça bruscamente quando a porta se abre e Colton entra. Ele fecha a porta atrás de si e se apoia nela. Vacilo diante da sua presença na minha sala. Ele domina o pequeno espaço. Uma coisa é tentar superá-lo quando ele não é tangível, mas quando ele está bem na minha frente – quando posso tocá-lo com a ponta dos dedos – é muito mais insuportável. Nossos olhares se enlaçam um no outro, e minha mente gira com tantas coisas que eu quero dizer e tantas coisas que temo perguntar. O silêncio é tão gritante entre nós que é ensurdecedor. Os olhos de Colton dizem tanto para mim, pedem tanto de mim, mas sou incapaz de responder. Ele se afasta da porta e dá um passo em minha direção. – Rylee… – Meu nome é uma súplica em seus lábios. – Não! – eu lhe digo, minha calma ainda uma inútil defesa contra ele. – Não – repito com mais determinação quando ele dá mais um passo. – Não faça isso aqui, Colton. Por favor. – Ry… – Ele estende a mão para me tocar, e eu rebato sua mão. – Não. – Meu lábio treme quando ele entra no meu espaço pessoal. Olho para o chão. Em qualquer lugar, menos para seus olhos. – Não aqui, Colton. Você não pode entrar no meu trabalho, na minha sala, e dominar o único lugar que estava me mantendo sã depois do que você fez comigo e estragou tudo. – Minha voz falha nas últimas palavras. Uma lágrima escapa e cria um rastro na minha face. – Por favor… – Eu o empurro no peito e tento mais uma vez ganhar um pouco de distância, mas não é rápido o bastante, pois ele agarra
meus pulsos e os segura. A descarga elétrica que ainda permanece entre nós me faz ranger os dentes e enfrentar mais lágrimas iminentes. – Chega! – ele grita. – Não sou um homem paciente, Rylee. Nunca fui e nunca vou ser. Eu te dei o seu espaço, lidei com o fato de você me ignorar, mas a vontade que eu tenho é de te amarrar na cadeira e te forçar a me ouvir. Se você continuar, é o que eu vou fazer. – Me solta! – Puxo meus pulsos com força, precisando interromper a conexão. – Eu não dormi com ela, Rylee! – ele exclama. – Não quero saber dos detalhes sórdidos, Colton. – Tenho que detê-lo. Não posso ouvir as mentiras. – Só te digo isso: pacote de camisinha. – Tenho orgulho de mim mesma pelo aço frio na minha voz. Tenho orgulho de conseguir processar um pensamento quando minhas entranhas estão em frangalhos. – Não aconteceu nada! – ele explode bruscamente, andando de um lado para o outro no confinamento da minha sala pequena. – Absolutamente nada! – Não sou uma das suas biscates burras típicas, Colton. Eu sei o que eu vi, e o que eu vi… – Puta que pariu, mulher, foi só um beijo, porra! – Sua voz implacável preenche a sala. E esvazia meu coração. Forço minha garganta a engolir em seco. Apagar o que ele disse. – O quê? – pergunto. Incredulidade respinga da minha pergunta. Ele agarra a nuca e a puxa para baixo com uma careta de arrependimento nos olhos. – Primeiro você jura que não aconteceu nada. E agora está me dizendo que foi só um beijo. O que vem em seguida? Você vai me dizer que esqueceu que seu pau deslizou sem querer para dentro dela? A história não para de mudar, mas eu tenho que acreditar que desta vez você está me dizendo a verdade? – Dou risada, produto da histeria misturada com a tristeza. – Da última vez que eu verifiquei, não era necessário usar camisinha para beijar alguém. – Foi tudo um mal-entendido. Você está fazendo tempestade em copo d’água e eu… Uma batida na porta estoura a bolha na qual estávamos imersos.
Levo um momento para encontrar minha voz e dizer de modo controlado: – Sim? – Teddy precisa falar com você em cinco minutos – diz Stella, timidamente, do outro lado da porta. – Tá. Eu já vou. – Fecho os olhos por um instante, resignando minha alma a essa raiva e sofrimento contínuos. Colton pigarreia para limpar a garganta; seu rosto claramente mostra conflito entre me forçar a relevar e permitir que eu retenha minha dignidade aqui no meu trabalho. Relutante, ele assente com a cabeça, derrotado. – Eu vou embora, Rylee. Eu vou. Mas não vou deixar você fugir de mim desse jeito… de nós… até eu conseguir contar a minha história. Isso aqui não vai ser o fim de jeito nenhum. Entendeu? Apenas olho para ele, sentindo uma falta imensa, mas incapaz de fazer as pazes com a ideia de lhe dizer que o amo e depois vê-lo correr para os braços de outra mulher. Incapaz de aceitar essa história, que não para de mudar, sobre o que aconteceu entre ele e Tawny. Mexo a cabeça para cima e para baixo uma vez, sentindo o pânico estremecer meu corpo quando me dou conta do quanto preciso da distância. Uma parte de mim, por outro lado, sente alívio por saber que vou vê-lo de novo. É um pensamento tolo vê-lo quando um instante já é suficiente para revirar meu estômago e fazer meu coração doer, mas não consigo desfazer a névoa viciante do amor. Lágrimas transbordam nos meus olhos. Eu me seguro quando ele se inclina perto de mim e pousa um beijo demorado no topo da minha cabeça. Arrepios dançam na minha coluna a despeito da minha reação inicial de me afastar dele para me autopreservar. Ele segura minha cabeça nos lábios por um momento para que eu não me afaste. – Eu precisava te ver, Rylee. Movi céus e terra para conseguir esse patrocínio para que pudesse ligar para o Teddy e pedir para ele me deixar apresentar hoje. – Meu fôlego enrosca na garganta quando ouço essas palavras. Sinto sua garganta se mexer para engolir ao mesmo tempo que mergulho nele apesar da dor que ele me causa. – Você não querer falar comigo está me matando. Que não acredite em mim. E não sei o que vou fazer com o que tudo isso faz comigo. – Ele
para, mas continua com a bochecha sobre minha cabeça. Eu sei que se abrir desse jeito é difícil para ele. – Ainda consigo te sentir, Rylee. A sua pele. O seu gosto. Seus lábios quando você sorri de encontro aos meus. O perfume de baunilha que você usa. Consigo ouvir seu riso… você está em todo lugar. Só consigo pensar em você. Com essas palavras de despedida, Colton dá meia-volta e deixa minha sala, fechando a porta quando sai, sem nem olhar para trás. Quase desmorono. Quase cedo ao ímpeto de chamar seu nome e voltar atrás nas promessas que fiz a mim mesma há muito tempo sobre o que eu mereço num relacionamento. A memória de Tawny na porta da casa dele me traz de volta a mim. Permite que eu agarre minha determinação nem que seja com mãos escorregadias. Solto o ar devagar, tentando localizar meu autocontrole, pois suas palavras me deixaram sem chão. Essas palavras são as que eu precisava ter ouvido semanas atrás. As palavras que eu precisava ouvir em resposta quando eu lhe disse que o amava. Mas agora já não estou mais tão certa se elas vieram tarde demais. Meu coração partido diz que não, mas minha cabeça sensata fala que sim e tenta proteger meus sentimentos vulneráveis. Depois de alguns minutos, eu paro de tremer e retoco a maquiagem a tempo de participar de uma conferência menor com os figurões da empresa. Durante a reunião, meu celular vibra para indicar uma mensagem de texto. Eu olho rapidamente para não interromper a conversa. Nesse olhar fugaz, vejo a mensagem curta de Colton. Sad4 – Maroon 5. Bj. C. Conheço essa música. Um homem falando sobre os dois caminhos de um relacionamento. Um homem admitindo que ele escolheu o caminho errado. Que ele nunca disse as palavras que ela precisava ouvir. Depois ele percebe que ela se foi. Considero uma pequena vitória saber que ele foi afetado pelo desdobramento dos acontecimentos, mas não me sinto melhor com isso. Nada nessa situação me faz sentir bem. Odeio querer que ele sofra o tanto que estou sofrendo. Eu me odeio por querê-lo mesmo quando ele me faz sofrer. E, mais do que tudo, odeio que ele me faça sentir novamente porque, neste momento, eu só queria poder voltar a não sentir nada.
Eu me afasto dos meus pensamentos e me pergunto pela centésima vez se Colton realmente sente falta de mim ou se, mais uma vez, está tentando reparar aquele seu ego frágil de ser rejeitado. A despeito de qualquer coisa, ele é um garoto crescido e os garotos crescidos precisam assumir a responsabilidade por suas ações fodidas. Ele diz que nada aconteceu, mas é difícil de acreditar quando vi um usando a camisa e o outro usando a calça. Consequências. Tenho certeza de que é uma palavra com que ele nunca teve de lidar antes. Não pretendo responder, mas faço só para causar efeito. I Knew You Were Trouble5 – Taylor Swift. 4 5
Triste. (N.T.) Eu sabia que você era encrenca. (N.T.)
Trinta e três
– Então você ainda não pretende falar com ele? – – Não. – Coloco o jogo de Xbox de volta na prateleira, tentando me lembrar se Shane já tem esse. – Não? É tudo o que você vai me oferecer? – É. – Enrugo a testa, indecisa, dando uma olhada nos possíveis presentes no mercado. – Você vai dar alguma resposta maior do que uma palavra? – Hum… – Enrolo por um momento. – O que a gente compra para um garoto que está fazendo dezesseis anos? – Não faço ideia. Acho que evitar é o que você anda fazendo de melhor no momento, mas você é uma idiota se acha que vai conseguir fugir dele na corrida. – Já fiz um ótimo trabalho até agora e, depois de ontem, tenho razão de sobra para continuar a evitá-lo. – Dou de ombros, sem querer realmente ter essa conversa com Haddie. Só quero comprar o presente de aniversário para o Shane e depois voltar para casa e tomar banho antes do turno no Lar e da festa de aniversário. Ouço o longo suspiro frustrado de Haddie, mas o ignoro. – Ry, você tem que falar com ele. Você está sofrendo. Você mesma disse que ele falou que não aconteceu nada. Rio com desdém. – A palavra-chave aqui é “ele”, Haddie – pontuo, virando-me para ela. Meu tom de voz é frio como resultado da intromissão constante na forma como estou lidando com esse relacionamento que eu não tenho mais com Colton. – Coloque-se no meu lugar. Digamos que você saiu para falar com o cara com quem você anda saindo e
alguma biscate de pernas compridas, aquela que te deixou límpido como cristal em conversas anteriores que ela quer o seu homem, abre a porta. De manhã. A única coisa que ela está vestindo é a camiseta dele. Definitivamente sem sutiã. E seu namorado vem atender a porta, abotoando o jeans, com o caminho da felicidade à mostra e muito mais, só para te deixar claro que ele estava pelado no instante anterior. Você se dá conta de que a biscate de pernas compridas muito provavelmente está vestindo a camiseta que está ausente no peito nu do seu namorado. Você pergunta ao namorado o que diabos está acontecendo, e percebe que a mente dele tenta arquitetar uma forma de explicar o que você acaba de ver. – Coloco outro jogo na prateleira. – Enquanto ele está afirmando que nada aconteceu, uma embalagem de camisinha cai do bolso. Ele ainda afirma que não aconteceu nada. Acredito que as palavras exatas que ele usou foram “não aconteceu absolutamente nada”, mas basta eu pressionar um pouco, perturbá-lo e, ups!, ele deixa escapar que foi só um beijo. Só um beijo. Eu garanto que, se eu pressionar um pouco mais, mais verdades vão ser confessadas. Nada aconteceu uma ova! – Pode existir um motivo perfeitamente bom… – Haddie acrescenta, mas para quando olho feio para ela. – Foi o que eu pensei. – Eu só odeio te ver assim. – Ela inclina a cabeça para mim e torce os lábios. – Olha, eu entendo o seu lado, Ry, eu entendo. Entendo de verdade, mas eu não seria uma boa amiga se simplesmente ficasse aqui sentada assistindo você cometer um erro. Acho que você está chateada demais, e com razão, com o que aconteceu e por isso agora não está enxergando as coisas com uma visão mais ampla. Você precisa falar com ele e ouvir o que ele tem a dizer. Digo, esse cara ainda está te perseguindo sem parar. Arqueio as sobrancelhas, agitada, ouriçada automaticamente. – Culpa faria isso com uma pessoa – murmuro ao seguir em frente e dar uma olhada nas demais possibilidades de presentes. – Faria – ela concorda –, da mesma forma que ser acusado de uma coisa injustamente. – Levanto os olhos da vitrine de iPods e acessórios e encontro os dela. Ela estende a mão e a coloca no meu braço. – Eu já vi o jeito como ele te olha. Estou acompanhando as tentativas incessantes que ele faz de chamar sua atenção. Merda, ele
foi lá em casa três vezes na semana passada tentando fazer você ouvi-lo. Não vou mais mentir por você e dizer a ele que você não está em casa. Eu sei que você está morrendo de medo de deixá-lo entrar de novo, mas eu acho que esse medo pode ser saudável. Esse homem está caidinho por você. Do mesmo jeito que você por ele. Por favor, tenha isso em mente. Olho para ela por um momento e depois me volto para a vitrine. Preciso de um minuto para digerir o que a pessoa que me conhece melhor do que ninguém acabou de dizer. – Vou pensar nisso. – É tudo o que consigo dizer. – Estou deixando de ver alguma coisa aqui? Por que você está pressionando tanto quando é a rainha de partir para o próximo cara da fila quando há a menor transgressão da parte dele, que dirá esse cara comendo outra pessoa. Não entendo. – Porque ele te faz feliz. Ele te desafia. Ele tira você da sua zona de conforto. Faz você sentir novamente, tanto coisas boas quanto coisas ruins; mas pelo menos você está sentindo. Como eu poderia não fazer isso quando, no curto espaço de tempo em que vocês estiveram juntos, você voltou à vida? – Ela joga uma caixa de cereal no carrinho que estou empurrando. – Eu sei que deveria ficar do seu lado de corpo e alma porque você é minha melhor amiga, mas estou me apegando às esperanças. Tento processar as palavras dela. – Você não viu o que eu vi, Haddie. E, vamos falar a verdade, palavras não significam nada. Um minuto ele diz que nada aconteceu e depois, no outro, que foi só um beijo, mas sabe de uma coisa? Alguma coisa aconteceu, sim, e eu não estou só falando entre ele e Tawny. Eu disse que o amava. O que aconteceu foi que ele fugiu e procurou outra mulher. – Minha voz falha nas últimas palavras. Minha determinação começa a minar. – Eu entendo que ele possa ter problemas por causa do passado. Eu entendo isso. Fugir por uns tempos para se recompor é uma coisa, mas procurar outra mulher? É inaceitável. – Eu nunca vi você ser tão dura com alguém. Não tentar dar o benefício da dúvida. Do que você disse, ele parece estar tão infeliz quanto você. – Já acabamos aqui – digo a ela. E estou falando de mais que das
compras. Não quero ouvi-la buscar mais justificativas para Colton. Reviro os olhos e solto um suspiro quando Haddie para na frente do carrinho para bloquear meu caminho. – Um homem como Colton não vai ficar esperando para sempre – ela alerta. – Você precisa decidir o que você quer ou então vai correr o risco de perdê-lo. Às vezes, quando a gente ama alguém, tem que fazer e dizer coisas que nunca pensou que faria, como perdoar. É uma merda, mas as coisas são assim. – Ela dá um passo para ficar ao lado do carrinho, mas seus olhos continuam nos meus. – Existe uma linha tênue entre ser teimosa e ser burra, Rylee. – Humf. – É tudo o que consigo dizer em resposta, passando o carrinho por ela, mas a carapuça serviu. Bufo com força, enfrentando as lágrimas que ameaçam e as imagens que inundam minha memória. Eu me esforço para compreender exatamente onde está a frase certa. Onde eu paro e me abro para ouvir as explicações de Colton com a possibilidade de acreditar nele? E em que parte do processo eu me torno a burra por perdoá-lo ou por não perdoá-lo. Estou disposta a deixar o homem que eu amo ir embora por uma questão minha só de princípios? Nessa situação ninguém ganha, e eu estou cheia de pensar a respeito e de ficar remoendo. Pensando em como vou passar algum tempo com ele e com a equipe em St. Petersburg, a partir da quintafeira, acho que vou ter tempo mais que suficiente para remoer mais um pouquinho. No momento, só quero comprar o presente de aniversário de Shane e me divertir na festa sem complicações da presença de Colton. Porra! Gemo por dentro. Estou sendo uma covarde e sei disso. Só tenho medo de perdoar e depois me machucar de novo. Ser sugada no tornado que é Colton e ser lançada de novo no suicídio emocional. Eu me desnudei por completo e ele me mastigou e me cuspiu exatamente como Tawny disse que ele faria. Mas e se Haddie estiver certa? E se sou eu que estou arruinando tudo isso? E se ele não fez mesmo nada? E é no meio da minha autorreprovação que meus olhos se elevam e eu vejo a última edição da People. E lá está ele – a causa atual da minha tristeza e do meu estado emocional esquizofrênico – agraciando a capa da revista. Uma foto tirada dele e Cassandra Miller
juntos em uma festa. A pancada corta na carne e eu faço o meu melhor para me recuperar rapidamente. Para minha infelicidade, ando boa nisso ultimamente. – Sofrendo tanto quanto eu? – questiono Haddie. Minha voz transborda de sarcasmo. Tento afastar meus olhos da capa, mas eles não se movem um milímetro. Eles percorrem cada detalhe da imagem. – É, parece que ele está sofrendo de montão. Haddie suspira, exasperada. – Ry, era um leilão de caridade. Inclusive um evento onde você deveria ter ido como acompanhante dele, se eu me lembro bem, e eu li na internet que ele apareceu sozinho. Engulo o nó na minha garganta. É difícil o bastante pensar nele com Tawny, mas agora eu tenho que apagar a imagem de Cassie da minha cabeça também. – Chegar sozinho e ir embora sozinho são duas coisas completamente diferentes – respondo em tom irônico, tentando arrancar meus olhos da capa. – Ry… – Não fala nada, Haddie – peço, sabendo que estou sendo irracional, mas já passei do ponto em que ligaria para isso.
Haddie e eu conversamos sobre tudo menos Colton quando deixamos a loja. Nossa conversa anterior foi posta de lado para eu pensar nela mais tarde. Debaixo do braço levo um novo fone de ouvido que abafa o ruído externo e um cartão-presente do iTunes para Shane. Haddie e eu estamos a alguns passos de distância do meu carro quando ouço: – Com licença, moça. Olho para Haddie antes de me voltar para a voz que vem das minhas costas, de repente agradecida por Haddie ter pedido para me acompanhar ao mercado. Não existe nada que cause mais nervosismo a uma mulher do que ser abordada por um homem aleatório num estacionamento quando se está sozinha. – Posso ajudar? – pergunto ao cavalheiro que vem se aproximando
de mim. Ele tem altura mediana, veste um boné sobre os cabelos meio longos e castanhos. Os olhos estão mascarados atrás de um par de óculos de sol com lentes pretas. Ele parece perfeitamente normal, mas me deixa desconfortável mesmo assim. Algo nele parece familiar, mas sei que eu nunca o vi antes. – Você… não, não poderia ser, né? – ele diz numa voz áspera incomum, ao mesmo tempo em que sacode a cabeça. – Perdão? – Você parece aquela moça que apareceu no jornal com as crianças órfãs e aquele piloto de corrida. Era você? O comentário me surpreende. Olho para ele por um momento, pensando na melhor forma de responder e também tentando descobrir por que ele se lembraria daquele artigo em particular. Estranho, mas possível. – Hum… sou. Ele apenas inclina a cabeça de lado e, mesmo que não consiga ver seus olhos atrás das lentes escuras, tenho uma sensação pronunciada de que ele está olhando meu corpo dos pés à cabeça, o que me deixa nervosa. Bem quando estou prestes a mandar o cara para aquele lugar e entrar no carro, ele fala de novo. – Que programa incrível que vocês têm lá. Só queria te falar isso. – Obrigada – respondo, distraída, ao entrar no carro, dispensandoo e suspirando de alívio quando ele sai sem falar mais nada. Haddie lança um olhar para mim. Há preocupação gravada em seus olhos. – Que pânico – ela murmura e só me resta concordar.
Trinta e quatro
– Ainda não! – repreendo Shane, que implora para abrir um dos presentes. – Ah, fala sério, Ry. – Ele desfere um dos sorrisos arrasa-corações para mim. – Posso pelo menos abrir um? – Não! Nenhum presente vai ser aberto antes do bolo. Você tem que fazer um pedido antes! – Sorrio ao terminar de limpar as coisas depois do jantar. – Além do mais, você já abriu os presentes dos seus amigos ontem à noite quanto vocês foram ao cinema. – Você não pode culpar um cara por tentar… – diz ele, ao se sentar numa banqueta. – O que vocês assistiram? Os olhos dele se iluminam como os de um garoto normal de dezesseis anos à menção da saída para o cinema, e meu coração se aquece. Esse menino é um destruidor de corações. Faço uma nota mental de falar depois com Jackson e pedir para ele ter uma conversa de homem pra homem com Shane a respeito de responsabilidade. – O novo filme de zumbi. Foi muito legal! – Aham… a Sophie foi com vocês? – As bochechas dele ficam vermelhas só de eu falar no nome dela, e eu sei que Jackson precisa ter essa conversa o quanto antes. Shane me atualiza nos detalhes sobre a saída enquanto o resto dos meninos está lá fora com Dane, Bailey, Jackson e Austin – os outros conselheiros que estão aqui para ajudar nas comemorações. Eles estão decorando o pátio para a festa de aniversário, como é nosso costume tradicional aqui no Lar. – Pronto, estamos prontos para o aniversariante! – anuncia Austin,
ao entrar na cozinha. Shane revira os olhos diante da ideia infantil de fazer festas de aniversário, mas eu sei que, no fundo, em segredo ele adora a comoção. Saímos para o pátio onde as bandeirinhas e as bexigas foram penduradas de um jeito meio bagunçado, mas com amor. É óbvio que os meninos menores ajudaram na decoração. Há um bolo sobre uma das mesas e, sobre a outra, há um pequeno conjunto de presentes de aniversário. Shane sorri alegremente ao ver tudo, e o coro de parabéns irrompe assim que ele passa pela porta. Visitamos e fazemos algumas brincadeiras infantis de festa porque, para essas crianças, nada é bobo. Eles perderam inúmeras tradições ridículas ao longo da vida, e queremos tentar proporcionar coisas como essas para todos eles aqui. Depois de pregar o rabo no burro, decidimos que é hora do bolo. – Ups, esqueci dos pratinhos – sussurra Bailey para mim ao colocar dezessete velas no bolo. – Eu vou buscar! – oferece-se Scooter. – Não! Deixa comigo – digo rapidamente, diante do olhar esquisito de Scooter. – Todas as coisas para as cestas de natal estão no mesmo armário – sussurro para Bailey. Não quero que Scooter veja por acidente todo o suprimento do coelhinho da Páscoa lá dentro. Ela apenas sorri e o chama para ajudá-la. Levo algum tempo para pegar os pratos do armário e os levar para a garagem porque tiro todas as coisas de Páscoa e coloco numa prateleira mais alta para esconder melhor. Austin está vindo pelo corredor para me buscar quando saio para a garagem. – Está tudo bem? – ele pergunta. Seu sotaque inglês faz curvar um pouquinho os cantos da minha boca. Ele é realmente a epítome da beleza com seus cabelos loiros, pele dourada e namorada muito séria que passei a chamar de amiga. – Está. – Sorrio. Quando cruzamos a sala principal e saímos pela porta dos fundos, ele passa um braço pelos meus ombros e me puxa mais junto de si para sussurrar o que ele comprou de presente para Shane, no caminho para o pátio. Dou uma gargalhada ao ouvir o que é o presente de mentira e o presente de verdade, quando reposiciono minha atenção na festa. E, embora seja um gesto completamente inocente, sua boca está sobre meu ouvido relatando os segredos de
seu presente de aniversário quando levanto a cabeça e sou surpreendida com os olhos de Colton do outro lado do quintal. Sinto que o mundo desaba sob meus pés, meu coração vacila no peito e meu fôlego enrosca na garganta. Seus comentários se misturam aos de Haddie na minha cabeça, e todas as partes do meu corpo e da minha alma querem todas as partes dele neste exato momento. Quero que as complicações desapareçam, que as imagens dele e Tawny evaporem da minha cabeça, para voltarmos ao ponto em que ele fazia a barba no meu banheiro com minha gilete cor-derosa. Por mais que eu queira vê-lo de novo apesar da dor que sua presença me causa, eu não consigo encontrar forças para perdoar o que ele fez. Será que não aconteceria de novo, simplesmente? Seus olhos sustentam os meus por uma fração de segundo, disparando adagas contra Austin e seu braço ao redor dos meus ombros, antes de voltar para sua conversa com a estagiária Bailey, entre todas as pessoas. Sim, com a mesma Bailey. A garota que com quem eu acreditei que ele tinha aprontado antes de me ajudar a sair do armário naquela primeira noite, quando nos conhecemos. E, embora Colton continue olhando para mim, Bailey nem se toca. Todo o seu flerte descarado está focado exclusivamente nele. Meu estômago se revira quando a vejo colocar a mão sobre o bíceps de Colton e abrir um sorriso sugestivo para ele. – Alguém ainda está por fora – Dane sussurra no meu ouvido quando Austin sai para ajudar Ricky com alguma coisa. – O quê? – Bailey não parece ter ficado sabendo que Colton não está mais no mercado. – Ela pode ficar com ele – respondo com desdém, revirando os olhos ao vê-lo disparar outro olhar para mim. Dane me olha de um jeito esquisito e eu me dou conta de que deixei de mencionar o pequeno detalhe de que não estamos mais nos vendo. De propósito, eu mantive em segredo o que aconteceu, não querendo que ninguém na empresa ficasse sabendo que Colton e eu estamos nessa confusão para os efeitos não atingirem Teddy. Tem sido bem fácil, já que eu nunca falei sobre isso; em vez disso, apenas deixei os rumores correrem se confirmar nem negar nada.
– Uh-oh. – Dane dá uma risadinha: sempre alguém que gosta de uma fofoca das boas. – Parece que há problemas no paraíso. – O paraíso com toda certeza não é a palavra que eu usaria para descrever isso – murmuro, incapaz de tirar meus olhos de Colton. – Experimente um navio afundando sem coletes salva-vidas e um montão de problemas. – Todo mundo tem problemas, querida. Que pena que ele não veio pro meu lado, porque eu resolveria quaisquer problemas que ele teve com a mamãe, garantindo que ele cuide dos problemas do papaizinho aqui, se é que você me entende. – Ele balança as sobrancelhas de um jeito brincalhão. – Eca, que nojo! – Dou-lhe um tapa no ombro, mas começo a gargalhar. É mais forte que eu. É a primeira boa risada que dei em semanas, e é gostoso simplesmente baixar a guarda. – Tenho a sensação de que vai haver fogos de artifício em Srt. Petersburg, e ainda nem estamos perto do dia da Independência – zomba Dane. Estou com um ataque de riso sério, e vários dos meninos me olham como se eu tivesse perdido o juízo. – Tá bom, vamos pessoal – digo eu, me esforçando para segurar a risada. – É hora de cortar o bolo. Todo mundo se reúne ao redor da mesa. Shane se senta na frente do bolo quando acendemos as velas e cantamos para ele. Seu rosto está cheio de entusiasmo quando ele fecha os olhos para fazer o pedido. O que será que ele está pedindo? O bolo é cortado e todo mundo está desfrutando uma fatia, então eu entro de fininho para guardar o sorvete no freezer e limpar a faca. Fecho a porta do freezer e dou um salto quando vejo Colton parado lá na cozinha. – Quem é o inglesinho? – Jesus, você me assustou! Mantenho a mão na porta do refrigerador, sem saber o que fazer enquanto nos entreolhamos. Várias vezes ao longo das últimas semanas eu desejei poder voltar no tempo e pegar de volta aquelas três palavrinhas que eu tinha dito, mas me dou conta de que agora, neste momento – vendo-o diante de mim tão dolorosamente lindo por dentro e por fora –, acho que não faria isso. Eu o amava naquele instante. Eu ainda o amo agora. E ele precisava que alguém lhe
dissesse isso, para que, em algum momento do futuro, ele possa olhar para trás e aceitar o fato de que ele é digno de tal amor. Só não sei se estou a fim de ficar aqui por muito tempo e aceitar a dor que, tenho certeza, ele vai causar na pessoa disposta a afirmar esse tipo de coisa. – Me desculpa. – Ele sorri meio sem jeito, mas o sorriso nunca chega aos olhos. Em vez disso, sinto sua irritação e impaciência. – Quem é ele? – ele pergunta de novo, e já não há mais como mascarar a irritação. – Ele está com você porque te achou acolhedora? Você partiu pra outra bem rápido, Rylee. Cada parte de mim que havia relaxado ao vê-lo aqui esta noite agora está eriçada de irritação. Quem diabos ele pensa que é para vir aqui e me acusar de estar de caso com alguém? Se ele pensou que essa seria a forma certa de começar a nossa conversa, está redondamente enganado. – Fala sério, Colton. – Reviro os olhos, usando as mesmas palavras de Shane, não querendo perder tempo para apaziguar o ego frágil de Colton. Quando ele simplesmente fica ali, me encarando, eu seguro as pontas para não dar barraco, apesar do estardalhaço de macho-alfa ciumento que ele está fazendo. – Ele é um conselheiro aqui – digo bufando. Ele inclina a cabeça e me encara. O músculo em sua mandíbula pulsa. Seus olhos são penetrantes. – Você transou com ele? – Isso não é da merda da sua conta – ralho, sentindo a raiva crescendo em mim enquanto tento passar por ele. Ele estende a mão e pega meu bíceps, segurando-me no lugar de forma que meu ombro encontra o meio do seu peito. Sinto a batida rápida do seu coração contra meu braço e ouço sua respiração desigual. Fico olhando para a frente. – Tudo que diz respeito a você é da minha conta, Rylee. – Um ruído desdenhoso é toda a minha resposta. – Transou? – Hipócrita. Diferente de você, Ace, eu não tenho o hábito de transar com as pessoas que trabalham para mim. – Empino o queixo e olho nos seus olhos para deixá-lo ver a raiva, a mágoa e o desafio que transborda nos meus. A careta que abala suas feições, não fosse por isso, estoicas, me informam de que eu passei a mensagem.
Ficamos assim por um instante, encarando um ao outro. – Por que você está aqui, Colton? – pergunto algum tempo depois, resignada. – Shane me convidou para a festa de aniversário. – Ele dá de ombros, tirando a mão do meu ombro e enfiando as duas nos bolsos fundos do seu jeans. – Eu não poderia decepcioná-lo só porque você se recusa a me ver. O que posso responder a isso? Como posso me zangar com ele por estar aqui, quando ele veio a pedido de um dos meninos? – E porque… – Ele passa a mão pelos cabelos e dá um passo atrás num esforço de encontrar as palavras para dizer em seguida. Ele solta um suspiro audível e está prestes a falar de novo quando Shane entra com tudo na casa. – A gente vai… abrir os presentes agora – ele conclui depois de olhar de Colton para mim e vice-versa, testa enrugada de incerteza, na tentativa de decifrar a dinâmica entre nós dois. Respiro fundo; feliz de ser salva, pois acho que ainda não tomei uma decisão do que fazer. Meu coração me diz que eu quero ouvir o que Colton tem a dizer, entender o que aconteceu, decidir o que vai ser daqui para a frente. Só que minha mente, minha cabeça só me diz “Quack”. – Presentes! – repito ao sair da cozinha e passar por Colton sem me manifestar ao seu comentário. O entusiasmo de Shane ao abrir os presentes é mais do que contagioso para o resto de nós, expectadores. Seus olhos estão cheios de alegria e seu sorriso reflete um adolescente que se sente amado. Estou nos arredores dos grupos de convidados, observando a ação e refletindo um pouco sobre como estou fazendo um bom trabalho com esses garotos. É estranho como às vezes a gente pensa esse tipo de coisa e agora é um desses momentos. Eu me inclino numa viga da cobertura do pátio vendo Shane erguer o último dos presentes e o sacudir enquanto os pequenos gritam o que eles acham que pode ser. É uma caixa retangular achatada que eu não tinha visto na mesa antes. Dou um passo para ver mais de perto o que é; a curiosidade toma conta de mim. Shane rasga o papel e, quando abre a caixa, cai um cartão. Ele vira o cartão na mão e, quando vê que não há nada no envelope, dá de ombros e o abre. Observo seus olhos se alargarem e
seu queixo cair quando ele lê as palavras que há dentro. Ergue a cabeça bruscamente para os convidados e encontra os olhos de Colton. – É sério? – ele pergunta. Há incredulidade em sua voz. Estou curiosa para saber o que está escrito no cartão e meus olhos se focam nos de Colton a tempo de ver o sorriso tímido se espalhar por seus lábios e ele afirmar com a cabeça. – É sério, Shane. – Você está zoando comigo? – Shane! – repreende Dane, num alerta, e as bochechas de Shane ficam vermelhas. Colton dá risada. – Não, não estou. Continue tirando as notas altas e eu vou fazer isso. Prometo. Ainda sem entender do que eles dois estão falando, eu saio das sombras e caminho até Shane. Ele estende o cartão para que eu veja. É um cartão típico de aniversário, mas é a caligrafia interna que faz meu coração saltar. Feliz aniversário, Shane! O que eu mais me lembro quando fiz dezesseis anos foi querer desesperadamente aprender a dirigir… então este cartão convida você a fazer aulas de direção – comigo. (Mas eu escolho o carro… O Aston é proibido). Parabéns, cara. Colton. Olho para Shane, que ainda parece não acreditar que um piloto famoso de corrida se ofereceu para ser seu instrutor de direção. E eu vejo em seus olhos o respeito que Colton lhe atribui nessa simples oferta. Seguro as lágrimas que fazem minha garganta arder. Ele não oferece nenhum bem material que pode comprar facilmente; mas, em vez disso, dá a Shane algo muito mais valioso: tempo. Uma pessoa para servir como modelo. Alguém com quem conviver. Colton entende tão bem esses meninos e o que eles precisam e em que momentos, mas, apesar disso, não consegue compreender o que eu preciso e como eu me sinto a respeito dessa história na qual eu me meti. Shane se levanta, vai até Colton e troca um aperto de mão para agradecer a ele antes de passar o cartão para todo mundo e mostrar o que está escrito. Desvio os olhos de Shane e encontro Colton me
observando em silêncio. Apenas mexo a cabeça de leve para tentar transmitir meu agradecimento por esse presente tão bem pensado. Ele sustenta meu olhar e vem até mim devagar. Mordo o lábio, hesitante. Meu corpo está cheio com uma guerra civil de sentimentos. Não sei mais o que fazer. Colton coloca a mão na minha lombar. O contato faz minhas terminações nervosas dançarem ainda mais do que já estão dançando. Seu perfume característico me envolve, e eu entreabro os lábios por reflexo, ansiando pelo gosto dele, de que tanto senti falta. Ele se aproxima e me pergunta pela segunda vez esta noite: – Podemos conversar um instante? – Sua voz áspera enche meus ouvidos e o calor de seu hálito roça minha bochecha como pluma. Eu me afasto dele precisando da distância para manter a cabeça no lugar. – Hum… acho que não é uma boa ideia… O Lar não é o melhor lugar para… – Eu me atrapalho com as palavras. – Não importa. Não vai demorar – é sua única resposta ao me conduzir para as margens de toda a atividade no pátio. O pequeno respiro dá à minha mente algum tempo para pensar. Para racionalizar. Para decidir. – Eu falo, você ouve. Entendido? Viro-me para encará-lo e vejo todas as linhas de seu rosto magnífico parcialmente escondido pelas sombras da noite. Meu anjo lutando entre a luz e a escuridão. Respiro fundo para tomar coragem e, antes que eu abra a boca para falar, opções e indecisão rodopiam em torno de emoções mistas. – Colton… – começo, antes que ele possa falar e, quando vejo a irritação cruzar seu rosto, decido mudar a tática. Tento proteger meu coração de devastação maior, embora ele esteja gritando em protesto contra o que estou prestes a fazer. – Não há nada para explicar. – Dou de ombros; engulo o nó que sufoca minha garganta para que as mentiras possam vencer. – Você deixou claro desde o início o que era que havia entre a gente. Eu interpretei errado nossa química corpo a corpo e achei que fosse amor. – Os olhos de Colton se estreitam e seu queixo cai em resposta às minhas palavras. – Erro feminino típico. Sexo ótimo não significa amor. Desculpa aí. Sei o quanto você odeia drama, mas eu percebo que você está certo. Isso nunca teria dado certo. – Ranjo os dentes, sabendo que é para o melhor. Vejo a
confusão percorrer seu rosto. – Não existia exclusividade entre a gente. O que você fez com a Tawny é problema seu. Posso não gostar, mas a vida é assim, não é? Se eu terminar com ele, isso pode fazer com que nosso trabalho juntos fique menos esquisito para nós dois; embora eu saiba, no fundo, que ter que ficar perto dele quando meu coração ainda o deseja – merda, quando cada célula do meu corpo o quer de um jeito ou de outro – vai ser brutal. Tentndo evitar a lembrança do olhar ferido em seus olhos verdes cristalinos, começo a me virar, a me mexer para que ele não veja as lágrimas que brotam ou meu queixo trêmulo. Ele estende o braço e pega seu ponto preferido no meu bíceps. – Volte aqui, Rylee… Aperto os olhos com força ao ouvir o som desolado do meu nome de seus lábios e tento infundir indiferença na minha voz quando, por fim, eu a encontro. – Obrigada pelos bons tempos. Foi real enquanto durou. – Encolho os ombros para me livrar de sua mão, e, só quando abro os olhos para ir embora, eu vejo Shane observando nossa interação. Há preocupação em seus olhos ao ver a expressão do meu semblante. Colton murmura um palavrão para si mesmo quando me afasto sob o pretexto de ajudar com a limpeza. Em vez de ir para a cozinha para lavar pratos, eu passo direto por ela e entro no quarto dos conselheiros. Sento na beira de uma das camas lá dentro e seguro a cabeça nas mãos. O que eu acabei de fazer? Tento recuperar o fôlego. Minha consciência e meu coração não concordam com o que minha cabeça decidiu como sendo o melhor curso de ação. Largo as costas na cama e esfrego os olhos com as mãos. Uma litania de palavrões se derrama baixinho dos meus lábios no meu autoflagelo. Ouço uma batidinha na porta e, antes que eu possa me sentar, Shane coloca a cabeça pela abertura da porta. – Rylee? – Oi, amigão. – Eu me sento e o sorriso que eu pensei que precisaria forçar vem naturalmente ao me deparar com a preocupação no rosto dele. – O que foi? – pergunto, dando um tapinha na cama ao meu lado. Percebo que algo o está incomodando.
Um pouco sem jeito ele vem até mim e se senta ao meu lado, olhos concentrados nos seus próprios dedos contorcidos. – Me desculpa. – Ele sussurra. – Por quê? – Normalmente eu sou boa em captar o humor dos meninos, mas desta vez estou perdida. – É só… você está triste… e ele te faz feliz… normalmente… então eu o convidei para que você ficasse feliz de novo. E agora eu sei que você está triste… e é por causa dele. E eu… – Ele fecha os punhos com força e range os dentes. O desconforto de Shane é óbvio. Eu me dou conta do que ele está falando. Meu coração se parte quando percebo que ele convidou Colton aqui para tentar me animar sem saber que ele é que era o motivo por eu andar com humor tão sombrio nos últimos dias. E depois eu me sinto culpada porque obviamente eu deixei minha relação com Colton afetar o trabalho. Aperto a mão de Shane. – Você não fez nada errado, Shane. – Espero até ele erguer os olhos para os meus… os olhos do homem que ele está se tornando, mas que ainda refletem o garotinho inseguro que ele é por dentro. – O que faz você pensar que eu estava triste? Ele apenas nega com a cabeça. Lágrimas começam a se acumular no canto de seus olhos. – Você estava… – Ele para e eu espero pela conclusão do pensamento que eu percebo estar seguindo caminho até sua boca. – Minha mãe era sempre muito triste… sempre aborrecida porque só éramos nós dois… eu nunca fiz nada para ajudar… e então… – Um dia você a encontrou morta com os frascos vazios de remédios ao lado da cama dela. – Desculpa, eu só estava tentando melhorar as coisas… Não pensei que era ele quem estava deixando tudo pior. – Oh, meu menininho – digo a ele, puxando-o para meus braços ao mesmo tempo em que uma lágrima solitária lhe escorre pela bochecha. Meu coração se enche do amor que tenho por esse menino, tão mais velho que seus dezesseis anos, por razões indizíveis, mas com um coração tão cheio de ternura, tentando me fazer sentir melhor. – Essa foi uma das coisas mais legais que alguém já fez por mim. – Eu me inclino para trás e envolvo seu rosto nas minhas mãos. – Você, Shane, você e o resto dos meninos na nossa família são o que me faz feliz todos os dias.
– Tá… Bom, eu não preciso aceitar o presente dele se isso deixar você chateada – ele oferece sem hesitar. – Não seja bobo. – Afago sua perna. O gesto me comove. – Colton e eu estamos ótimos – minto para uma boa causa. – Ele só está sendo homem. – Ganho um leve sorriso dele com essa frase, apesar de seus olhos ainda estarem refletindo incerteza. – Além do mais, pensa só como seria legal poder contar para todos os seus amigos que um piloto de corrida de verdade te ensinou a dirigir! Seu sorriso se alarga. – Não é? Tão legal! – Nós retornamos a um solo firme. Ele se levanta e começa a andar até a porta. Meu garotinho está crescendo tão rápido… – Ei, Shane? – Sim? – Ele para na porta e se vira para mim. – Feliz aniversário, amigão. Eu te futebol mais do que você poderia imaginar. Um sorriso encabulado se espalha por seu rosto. O cabelo cai sobre a testa quando ele ajusta a cabeça e me olha. – Agora tenho dezesseis anos. Podemos parar com esse negócio de futebol. – Ele afasta o cabelo dos olhos e encontra os meus. – Eu também te amo – diz ele antes de dar de ombros como só um garoto de dezesseis anos sabe fazer e sair do quarto. Fico olhando por onde ele saiu com um sorriso colado ao meu rosto, um coração transbordando de amor, e lágrimas de felicidade se acumulando nos meus olhos.
Trinta e cinco
A sensação do belo sol da Flórida na minha pele é magnífica e levanta meus ânimos. Como cheguei um dia antes do que o necessário em St. Petersburg, aproveitei ao máximo o clima quente e a piscina maravilhosa no Vinoy Resort and Golf Club. Aqui vai ser a base de operações da CD Enterprises e da Corporate Cares pelos próximos dias. Não há nada como relaxar e sentir o toque do sol na minha pele para me rejuvenescer antes dos meus deveres oficiais e do redemoinho que o dia de amanhã anuncia. Não que eu ache ruim minha agenda louca – aliás, estou ansiosa para conhecer e agradecer as pessoas que me ajudaram a tornar esse projeto uma realidade – é o fato de que vou ter que ficar lado a lado com Colton para apresentar a união entre nossas duas empresas. Haverá sessões de fotos e eventos de agradecimento aos patrocinadores, entre outras coisas, antes da corrida propriamente dita, no domingo. Eu me encolho só de pensar na minha programação – minha proximidade com Colton – vendo como fui capaz de evitá-lo pelo resto da noite na festa de Shane e, portanto, eu não honrei minha promessa de conversar com ele. Tenho certeza de que minha hora vai chegar amanhã, quando eu o vir, mas, por ora, minha cabeça está aproveitando o sol e o relaxamento. “Stay”, da Rihanna, toca nos meus fones de ouvido. A letra quase me atinge em cheio. Como não quero ganhar queimaduras de sol logo no primeiro dia aqui, eu recolho meus pertences e volto para o quarto. Entro no elevador vazio e bem quando a porta começa a se
fechar… – Segura o elevador! – Ouço ecoar pelas paredes de mármore do saguão. Aparece uma mão no espacinho entre as portas que estão se fechando, e logo em seguida elas recuam e se abrem de novo. Respiro fundo quando um Colton extremamente suado, porém, delicioso, entra correndo no elevador. Seu impulso morre quando seus olhos encontram os meus. Uma bermuda ensopada de suor está dependurada baixa nos seus quadris, enquanto a parte superior de seu torso continua desnuda. O bronzeado está mais forte, sem dúvida pelos exercícios ao ar livre debaixo do sol forte, e seu suor reluz em cada centímetro de sua pele exposta. Meus olhos vagueiam involuntariamente para os vincos bem definidos de seu abdome, as marcas intrincadas de suas tatuagens e onde riachos de suor escorrem pelo V profundo que viaja para dentro do cós da bermuda. Engulo em seco, involuntariamente, ao me lembrar das minhas mãos mapeando aquelas linhas e as sentindo subir e descer debaixo dos meus dedos quando ele se enterra em mim. Arrasto os olhos para o alto até encontrar as piscinas verdes magníficas que me encaram com uma intensidade sombria. De todos os elevadores da droga do resort, eleteve que escolher esse aqui? Um sorriso cauteloso curva os cantos de sua boca quando ele avança no elevador em minha direção. Ele sabe que me afeta. – Que bom ver que chegou bem. – É… – Pigarreio. Tenho dificuldades para transformar meus pensamentos em palavras quando a tentação é tão dolorosa e evidente diante de mim. – É, eu cheguei. Obrigada. – Que bom – diz ele, olhos fixos nos meus. As portas começam a se fechar outra vez, e, quando um senhor faz menção de entrar, Colton interrompe nossa conexão visual e entra na frente dele, abrindo os braços na frente da porta. – Desculpe, este elevador está ocupado. – Sua voz denota que o assunto não está aberto à discussão. Começo a protestar quando as portas se fecham e Colton se vira de frente para mim. Seu olhar de predador se equipara à postura de seu corpo. – Nem começa, Rylee… – Ele grunhe, fazendo-me ficar em silêncio
e dando um passo em minha direção. Seu peito sobe e desce; não sei se por causa do esforço da corrida ou por causa da proximidade. Sua dominância neste espaço pequeno a tudo consome. – Isso vai acabar agora. Ele se aproxima mais um passo, maxilar cerrado, olhos implacáveis quando deixam os meus e percorrem meu corpo vestido de biquíni. Quando comprei o traje de banho, achei que ele proporcionaria cobertura corporal mais do que adequada, mas ficar aqui em um elevador com os olhos de Colton percorrendo cada curva do meu corpo parece sugerir coisas indecentes. E eu sei disso porque, mesmo que ele não esteja me tocando – mesmo que eu esteja magoada e não queira mais nada com ele –, meu corpo se lembra bem demais do reboliço que pode provocar no meu sistema o mero roçar de seus dedos ou a carícia de sua língua. Digo a mim mesma para cair na real. Para me lembrar do que ele fez comigo, mas é muito difícil quando seu cheiro depois do treino domina todo o espaço diminuto do elevador. Só de vê-lo, aquele anseio ressurge no fundo do meu ser, criando desejos que eu sei que ele pode satisfazer. A atração que esse homem exerce em mim é incontrolável, mesmo quando ele nem sequer se dá conta disso. – Agora não é um bom momento, Colton. Ele solta uma nesga de risada, mas seu rosto não transmite nenhum traço de humor. Ele dá um passo final em minha direção. Meu recuo deixa minhas costas pressionadas contra a parede. Ele se inclina para a frente e pressiona as mãos de cada lado do meu corpo, me encurrala. – Bom, é melhor você transformar num bom momento, Rylee, porque eu não estou nem aí. Isso vai acabar aqui e agora. Não é negociável. Meu fôlego some, traindo minha fachada falsa, assim que ele roça o corpo no meu. O calor de sua pele irradia dele e me penetra. Seus lábios estão a meros centímetros dos meus. E tudo o que tenho que fazer é me inclinar para a frente e senti-los. Sentir seu gosto novamente. E então eu percebo que é exatamente o que ele quer. Ele quer me lembrar fisicamente para que eu perdoe e esqueça sobre o que aconteceu no campo emocional. Escolheu a técnica errada para usar comigo.
Eu o quero – Deus, sim, eu o quero –, mas não nesses termos. Não com mentiras ainda pendentes entre nós. Não com a dor da mentira envenenando meu coração. Respiramos o cheiro um do outro, nossos olhos não vacilam, e eu tenho orgulho de mim por segurar as pontas. – Acho que você esqueceu como somos bons juntos – ele diz entre dentes, frustrado, quando se dá conta de que sou capaz de resistir a ele. Olho para cima e o encaro. – É fácil de esquecer quando Tawny abre a porta da frente do seu bordel vestindo nada além da sua camiseta, Ace – digo com desdém, modulando as palavras perfeitamente para que a última coincida com o “ding” do elevador abrindo a porta no piso solicitado. Tomo o barulhinho como minha deixa para me desvencilhar depressa de suas mãos e sair em disparada para o corredor, aos sons dos palavrões de Colton. Eu deveria saber a essa altura como ele é rápido, mas minha mente está confusa com todas as outras coisas. Posso ouvir seus passos atrás de mim enquanto eu brigo com o cartão do meu quarto para conseguir entrar. Chego a pensar que vou conseguir, mas, no minuto em que destranco, sua mão golpeia a porta e a força a abrir com uma grande pancada. Não tenho sequer um momento para gritar antes que ele me gire e me empurre de costas na parede com a força total de seu corpo. – Então me deixe te lembrar – ele rosna, e, no meu estado de surpresa, eu mal registro suas palavras, mas elas penetram minha consciência confusa um momento antes de seus lábios tomarem os meus. É incrível que, a despeito de quanto tempo faça, do quanto eu esteja ferida, quando nos unimos, eu sinto que estou em casa. Uma casa que no momento está em chamas, mas minha casa, de qualquer forma. Sua boca possui a minha com fervor, e suas mãos mapeiam cada centímetro da minha pele exposta. Trilhando. Estimulando. Possuindo. Eu me perco no seu gosto; no seu toque, no grunhido baixo que emana de sua garganta; o comprimento duro de seu corpo pressionado no meu à medida que sua mão agarra a cascata de cabelos que cai pelas minhas costas e me mantém refém de sua investida capaz de me fazer mudar de ideia. Levo um instante para minha mente processar os pensamentos
caóticos e a pontada de excitação que ele acabou de criar entre minhas coxas. Luto para sair do torpor induzido pelo desejo que deixa meu corpo uma gelatina. Merda! Merda! Merda! – Não! – É um grito estrangulado, despedaçado, mas é um grito. Empurro seu peito com força, descolando sua boca da minha. – Eu não posso. Eu não posso! Isto não conserta nada! Fico ali olhando para ele, nosso peito arfando e pulsações disparadas – um sinal claro de que nossa química permanece aqui – e com seu sabor mais do que viciante nos meus lábios. Suas mãos estão ao redor dos meus pulsos, segurando minhas mãos contra seu peito molhado e inebriante. – Rylee… – Não! – Tento empurrar seu peito mais uma vez, mas minha força não é pareo para a sua. – Você não pode simplesmente fazer o que você quer, quando você quer. – Meu Deus, mulher, você está me deixando louco! – ele murmura no ar. – Por quê? Porque você foi pego no flagra? – É preciso fazer alguma coisa errada para ser pego no flagra! – ele grita, soltando meus pulsos e se afastando de mim. Seu rosto é uma mistura de exasperação, frustração e desejo insatisfeito. – Porra! Nenhuma! Aconteceu! – Sua voz brada pelo quarto vazio e ecoa no vazio do meu coração ferido. – O lobo não perde o pelo, mas não perde o vício, Ace. – Você e essas merdas de lobos e patos – ele murmura antes se virar as costas e adentrar o quarto para se afastar de mim. – Não esqueça dos asnos! – grito. – Mulher frustrante e cabeça-dura! – ele diz para si mesmo antes de virar de novo para mim. O homem é enfurecedor, achando que pode aparecer aqui e me beijar até perder os sentidos para eu me esquecer de tudo. – Fala sério, desde quando o infame mulherengo, Colton Donavan, resiste a uma mulher seminua? – ironizo, dando um passo em sua direção, infundindo minha voz de sarcasmo no comentário seguinte. – E pensar que você foi generoso até mesmo para tirar sua camiseta e oferecer para ela. – Rio com desdém. – Com um histórico como o seu, tenho certeza de que você também ofereceu o que tinha dentro
das calças. Ah, me desculpe. A gente sabe que você fez isso, porque você se certificou de o guardar de novo antes de aparecer. Não aconteceu nada? Só um beijo? E você acha que eu tenho que acreditar nisso? – Acho! – ele grita, alto o bastante para me fazer franzir o rosto. – Exatamente como eu deveria acreditar na sua desculpa na festa do Shane. Foi lorota e você sabe disso. – Não se atreva a jogar isso contra mim! – grito com ele. – Você acha mesmo que entre a gente só houve sexo? – diz entre dentes, maxilar cerrado, voz desafiadora. – Ah, então houve algo mais? – Sarcasmo pinga das minhas palavras. – Claro que sim, caralho! – Ele dá um soco na parede. – E você sabe! Dou um passo na direção dele, e minha raiva vai tomando conta de qualquer intimidação que eu normalmente teria sentido. – Bem, e você não acha que, agora que você reconheceu, o que você fez foi muito pior? – E o que eu fiz, Rylee? Me fala exatamente o que eu fiz! – ele grita comigo, entrando nos domínios do meu espaço pessoal. – Agora você quer que eu me sinta mal? Quer esfregar isso na minha cara me fazendo dizer em voz alta? Vai se foder, Colton! – ralho com ele. A raiva começa a serpentear pelo meu corpo e permear minha dor. – Não. Eu quero que você se ouça dizer. Quero que você me olhe nos olhos e veja você mesma a minha reação. O que foi que eu fiz? – ele exige, dando uma balançadinha nos meus ombros. – Fala! E eu me recuso. Eu me recuso a ver o sorrisinho que eu sei que vai brincar nos cantos da sua boca se eu lhe obedecer, então, em vez disso, eu digo a única coisa que me vem à mente. – Quack! – Agora você está agindo como criança! – Exasperado, ele me solta e passa a mão com força entre os cabelos antes de se afastar alguns passos de mim para controlar seu gênio. – Como criança? – explodo, sentindo o choque irradiar pelo meu corpo. O sujo falando do mal lavado. – Porra, como uma criança? Olha só quem está falando!
– Você – diz ele, com um sorriso irônico e arqueando uma sobrancelha –, a criança fazendo a droga da birra. A criança que está tão centrada em si mesma, que não percebe que esse showzinho é por todas as razões erradas, porra. Eu o encaro por um instante; nossos olhos fixos um no outro, e eu percebo que estamos nos comendo vivos e por quê? É evidente que não vamos conseguir superar tudo isso. Eu acuso. Ele nega. – Isso é uma grande perda de tempo – digo baixinho com resignação na voz. Uma única lágrima escorre pela minha bochecha. Ele dá outro passo em minha direção, e eu apenas nego com a cabeça, incapaz de abrir mão das emoções tumultuosas dentro de mim. Como eu posso amar esse homem lindo que está na minha frente e o odiar ao mesmo tempo? Como posso ansiar por ele e desejá-lo, e ao mesmo tempo querer estrangulá-lo? Desabo encostada na parede, tentando processar tudo aquilo que eu tinha medo de que acabasse acontecendo. – Por que ela estava lá, Colton? – Olho para ele sem piscar, perguntando, mas na verdade sem querer saber a resposta. Ele abaixa os olhos por um momento, e sua hesitação me deixa muito infeliz. Reúno cada grama de sofrimento de dentro de mim e coloco na minha voz. Quando falo, tudo isso transparece. – Eu te disse que traição era o fim da linha para mim. – Não aconteceu nada. – Ele joga as mãos para o alto. Na minha cabeça, eu vejo a imagem das pernas de Tawny, os mamilos duros pressionados na camiseta dele, e o sorriso convencido. – O que é que vai fazer você se convencer disso? – O som da sua voz me pega de surpresa. Como se ele realmente não conseguisse acreditar que eu duvido dele. Os comentários de Haddie me vêm à mente, mas eu os afasto. Ela não estava lá. Ela não viu o que eu vi. Ela não viu Tawny com cara de sono e aquele sorriso de sereia vitoriosa nos lábios inchados. A embalagem de preservativo refletindo a luz no chão como o prego que selaria a tampa do caixão. – Rylee, a Tawny foi até a casa. A gente estava bêbado. As coisas saíram de controle. Tudo aconteceu tão rápido que… – Para! – grito, sustentando a mão na frente do corpo, sem querer ouvir os detalhes sórdidos que eu sei, com certeza, vão partir meu coração mais ainda. – Eu só sei, Colton, é que você me forçou a me
abrir para você. A sentir de novo depois de tudo o que aconteceu com o Max. E eu fiz exatamente o que você falou. Eu confiei em você, apesar da minha cabeça me dizer para não fazer isso. Eu me permiti sentir de novo. Eu entreguei tudo o que eu tinha para você. E estava disposta a dar muito mais… e, no minuto em que você se assustou, você saiu correndo para os braços de outra mulher. Eu não aceito isso. Ele se inclina de novo na parede diante de mim, e só ficamos assim nos olhando. A tristeza consome todo o ar entre nós. Eu o vejo lutar contra alguma coisa, mas colocá-la de lado. – Eu não sei o que mais dizer, Rylee… – Não dizer nada e fugir são duas coisas completamente diferentes. – Ele se afasta da parede e dá um passo em minha direção. Nego com a cabeça. O fato de, em nenhum momento, ele ter reconhecido que eu lhe disse que o amava é lançado de novo na minha cabeça. Ele está tentando fazer reparações, mas não é capaz de reconhecer as palavras que eu lhe disse. Isso é uma merda. – Eu poderia ter me contentado se você não falasse nada. Eu poderia ter aceitado que você fugisse, mas você fugiu para os braços de outra mulher. Não consigo confiar em você e não achar que isso aconteceria de novo. Você fez a sua escolha quando dormiu com a Tawny. Seus ombros se curvam e seus olhos se incendeiam em resposta às minhas perguntas, antes de repousar na derrota. – Eu preciso de você. – A sinceridade desimpedida atrás de suas palavras e atingem e retorce meu coração. – Existe uma linha tênue entre me querer e precisar de mim, Colton. Eu também preciso de você. – E ainda preciso. – Mas você obviamente precisa mais dela. Eu só espero que valha a pena. – Eu me sufoco nas palavras e nego com a cabeça. Qualquer coisa para tentar apagar o som de sua voz me dizendo que precisa de mim. Qualquer coisa para impedir que a dúvida se infiltre. A dor propele meus pensamentos. A devastação controla minhas ações. – Acho que é melhor você ir embora – sussurro, forçando as palavras a atravessarem meus lábios. Ele apenas me olha: piscinas de verde que me imploram em silêncio.
– Então você fez sua escolha… – Sua voz é desalentada. Silenciosa. Resignada. Não consigo me fazer concordar com ele. Meu corpo é uma confusão de respostas em conflito, e dizer alguma delas em voz alta é algo que pode simplesmente acrescentar permanência a algo que metade de mim quer que acabe e a outra metade mataria para conseguir uma segunda chance. Não me resta dizer mais nada. Mas eu digo mesmo assim. – Sim, eu fiz. Mas só porque foi você quem tomou essa decisão por mim. – Rylee… – E a minha é: chega de você. Quebro nosso contato visual e olho para o chão. Qualquer coisa para fazê-lo ir embora. Ele continua olhando para mim por um tempo, mas eu me recuso a erguer a cabeça e olhar para ele. – Isso é uma porra de uma mentira, Rylee, e você sabe – ele insiste antes de dar as costas e sair. – Acho que você não ama minha parte destruída. O choro agarra minha garganta assim que ouço essas palavras e preciso de todas as minhas forças para continuar em pé. E mesmo ficar em pé se prova algo dificílimo, porque, no minuto em que a porta se fecha, eu deslizo pela parede até chegar ao chão. As lágrimas vêm. Soluços duros e entrecortados que sacodem todo o meu corpo e roubam pedacinhos da minha alma a cada um. Suas palavras de despedida ecoam sem parar pela minha cabeça até eu saber com certeza de que sou eu quem está destruída, não ele. Dúvidas se infiltram em mim. O pesar se instala. A devastação reina.
Trinta e seis
Dou uma passada no meu quarto de hotel para um respiro rápido antes que o evento seguinte ocorra. Digo a mim mesma que só preciso de outro descanso, mas sei como fato que só estou sendo covarde e evitando Colton como evitei durante boa parte do dia. Ele não foi nada além de cordial na frente dos outros, mas fica perdido nos próprios pensamentos quando ninguém está olhando. A dor é evidente em seus olhos, mas também prevalece nos meus. Em um dos raros momentos em que ficamos sozinhos, eu tentei falar com Colton sobre as palavras que ele usou para se despedir de mim. Eu queria lhe dizer que eu também amo sua parte destruída – que ainda quero as partes que ele está escondendo de mim e com medo de deixar que sejam vistas –, mas, quando abri a boca para falar, ele apenas me dispensou com um olhar glacial. Sua paciência obviamente se acabou. Era isso que eu queria, então por que sinto que estou morrendo por dentro? O que estou fazendo? Será que estou cometendo um enorme erro? Pressiono a base das mãos nos olhos e solto um suspiro. Conseguir que ele parta para outra deveria me fazer feliz. Deveria me deixar aliviada por não ter mais que suportar a repetição do “me deixa explicar”. Então por que sinto uma tristeza avassaladora? Por que tenho que engolir o nó enorme na minha garganta toda vez que penso nele ou olho para ele? Estou estragando tudo isso. Talvez eu precise ouvi-lo. Precise lhe dar a chance de explicar. Talvez, se eu souber a história inteira, vai me ajudar a passar desta dor e seguir em frente assim que ouvir os detalhes sórdidos de sua noite com Tawny. E pensar nesses detalhes
é exatamente o que eu temo… mas e se não houver detalhes sórdidos? E se tudo o que Haddie anda me vendendo for legítimo? E se eu estiver errada? Droga. Sou eu quem está arruinando isso. Não consigo nem pensar direito – pensamentos se fragmentam em um milhão de direções –, mas sei que estou fodendo com tudo. Meu celular apita para indicar a chegada de uma mensagem, e me arrasta para fora dos pensamentos esquizofrênicos. É uma mensagem de Dane sobre Zander. Ligo para ele na mesma hora. – O que aconteceu? – pergunto em resposta ao cumprimento. – Ele teve uma noite bem ruim, Ry. – Dane solta um suspiro. – Ele chegou a falar sobre essa noite. Foi o pai dele, Ry. E ele jura que viu o pai na janela ontem à noite. Ele surtou. Literalmente. Mas Avery estava no quarto com ele e disse que não tinha ninguém lá. – Meu Deus! – É tudo o que eu consigo dizer, imaginando o medo que dilacerou seu corpinho. – É… Mas a Avery fez um ótimo trabalho com ele. Inclusive, ele não saiu de perto dela durante todo o dia. – Ele ainda está falando? – Minha mente imediatamente pensa em todos os progressos que ele fez no último mês. Sobre como, na terapia, ele começou a desenhar imagens que retratavam o que aconteceu naquela noite horrível e começou a juntar as coisas tanto para os conselheiros como para as autoridades. Uma recaída como essa poderia acabar com tudo o que já foi feito e muito mais. – Não tanto, mas tudo ainda está fresco na mente dele. Só estou mantendo Avery com ele. Os dois podem ter realmente criado um vínculo. – Eu preciso voltar para casa? Eu posso… – A culpa é uma espiral dentro de mim. Eu deveria estar lá com Zander agora. Confortando-o. Ajudando-o a passar por essa. Abraçando-o. – Não seja boba, Ry. Está tudo sobre controle. Eu só sei como você gosta de se manter informada sobre as crianças quando esse tipo de coisa acontece. – Tem certeza? – Absoluta – ele reitera. – Como está sendo resistir ao deus grego? O barco ainda está afundando ou você está mergulhando no paraíso dele?
Não consigo segurar o riso que se forma nos meus lábios. – Você andou falando com a Haddie, não foi? – Seu silêncio é a única resposta de que eu preciso. Resignada e precisando de alguém para dar uma sacudida nas coisas, relutante, eu respondo: – É… confuso. – Suspiro. – Os homens sempre são, querida. Dou risada. – Não sei, Dane. Eu sei o que eu vi. Não sou tonta. Mas, entre Haddie me dizer que eu estou sendo teimosa e a negação incessante do Colton, eu fico me perguntando se estou cometendo um erro. Só não sei por que um mais um não é dois. Ele apenas faz um som de quem não se compromete, do outro lado da linha, enquanto pensa. – Merda, Ry, nem tudo é preto no branco, se é que você me entende. Por que dói tanto ouvir o que ele tem a dizer? Solto um suspiro audível. Começa a se afundar em mim o medo de que eu realmente possa estar errada. Que já possa ser tarde demais. – Meu orgulho. – Querida, talvez você devesse agarrar seu deus grego com um pouco mais de afinco em vez do seu orgulho. Você pode acabar sozinha e com um monte de gatos. Um silêncio sedimenta ao nosso redor. Suas palavras batem perto demais da verdade do que tenho coragem de admitir. – É… eu sei. – Então levanta a bunda da cadeira e vá fazer alguma coisa a respeito! Um homem lindo como aquele não vai ficar esperando para sempre, não importa o quanto você seja deliciosa. Caramba, vou ter que fazê-lo mudar de time. Rio de novo; sou sempre agradecida por Dane e seu conselho não solicitado que, sem dúvida, me põe de volta no meu lugar. Droga! Agradeço-lhe às pressas e desligo, já com a decisão tomada. Meio atrapalhada, tiro minhas roupas práticas pela cabeça e pego o vestido mais sexy que tenho na minha mala.
No tempo que tenho para me sentar e pensar a respeito de tudo, eu
reapliquei a maquiagem e passei um sermão em mim mesma para recuperar um pouco da minha confiança. Não sei o que vou fazer com Colton, mas tenho que dizer alguma coisa. Tenho que reparar o estrago desse deus-nos-acuda em que continuamente nos encontramos imersos. É hora de fazer as coisas como menina crescida. Imagino que, se conseguir falar com ele rapidinho, então vou precisar fazer planos para vê-lo depois e conversar sobre tudo o que for necessário. Vejo meu reflexo nos espelhos do elevador mais uma vez. Minha mudança repentina fez maravilhas tanto com minha aparência quanto com a minha atitude. Sigo para o salão de baile onde vai acontecer o evento desta noite. Um evento ao qual eu não precisaria comparecer, mas não me importo. Tenho que fazer isso agora. Não posso mais esperar. Não posso perder mais um minuto agarrada ao meu orgulho. E, além do mais, eu odeio gatos. O evento da noite é um coquetel beneficente no qual as pessoas cumprem o requisito da doação e depois ganham o direito de falar que beberam na companhia do esquivo Colton Donavan. Por mais que eu esteja muito contente de que o dinheiro vá ser destinado à organização local de St. Petersburg para crianças órfãs, tenho a impressão de que os convidados vão estar mais preocupados com conseguir chamar a atenção de Colton – ou o que há dentro de suas calças – do que com as crianças que o dinheiro vai ajudar. Respiro fundo no caminho. Minha decisão está tomada. Preciso falar com Colton. Esta noite. Preciso enterrar tudo isso ou arriscar, confiar nele e ouvir o que ele tem a dizer. Acreditar nele quando ele me diz que não dormiu com Tawny – que ele nunca me traiu. Em silêncio eu ensaio as palavras que quero dizer. O nervosismo abala meu estômago. Passo as mãos para alisar o vestido e viro no saguão que conduz ao salão. De repente, eu paro no meio do caminho ao dar de cara com a única pessoa que eu estava morrendo de medo de ver durante toda esta viagem. A mesma pessoa que, eu tenho uma boa certeza, Colton manteve longe dos meus olhos de propósito, para que eu nem sequer visse passando. – Veja só se não é uma surpresa inesperada? – diz sua voz
inequívoca, em tom de desaprovação, fazendo os pelinhos na minha nuca se arrepiarem. Preciso de todas as minhas forças para não me lançar sobre ela. Para não tirar essa expressão convencida da cara dela a tapa e lhe mostrar o que eu realmente sinto por ela. E estou prestes a mostrar tudo isso quando um cavalheiro de passagem chama minha atenção e faz um aceno de cabeça. – Rylee – murmura ele. Um patrocinador corporativo. Retribuo o cumprimento, forçando um leve sorriso, sabendo que, por mais que eu desejasse atacar Tawny bem aqui e deixar claro o que eu penso dela, não posso cometer o suicídio profissional que resultaria desse ato. E eu sei que Tawny sabe a mesma coisa, pois ela põe a língua na parte interna da bochecha e alarga o sorriso. – O que foi? – diz ela, medindo-me de cima a baixo. – Você está finalmente pronta para perdoar Colton e as indiscrições dele? – Ela ergue a sobrancelha. Há muito mais do que hostilidade dançando em seus olhos. E não deixo de ver que a palavra “indiscrições” é flexionada no plural. Encaro Tawny. Há muitas coisas que eu gostaria de jogar na cara dela agora percorrendo minha mente. Tenho que cerrar os punhos para impedir que dê um passo adiante e a estapeie. A raiva é tão premente na minha garganta que as palavras não saem. Sentimentos, emoções, o ódio que tudo consome, mas as palavras não saem. – Você achou que ele mudaria só por você, bonequinha? Talvez você devesse perguntar a ele o quê, ou devo dizer quem, vem ocupando o tempo dele nessas últimas semanas. – Uma lâmina de risada escapa de seus lábios preenchidos com botox. Ela se aproxima um passo. – Nem a Raquel, nem a Cassie, nem… – Ela ergue a sobrancelha para insinuar que seria ela – …tiveram nenhuma reclamação na sua ausência. As palavras dela me deixam chocada de início, e depois catapultam minha fúria. – Vá pro inferno, Tawny – digo entre dentes, dando um passo além, invadindo os limites de seu espaço pessoal. Minhas mãos tremem. Meu sangue pulsa. Com uma só mão ela substituiu minha esperança de me reconciliar com Colton com uma ira sem filtros e com desespero absoluto. O que eu deveria esperar? Foi ela que provocou tudo isso em mim para começo de conversa.
Estou farta. Tão farta. Bem quando eu tinha me feito acreditar que eu é que estava errada – colocar a culpa de toda essa dor de cabeça em mim – aqui vem a verdade, como um tapa na cara. Minha esperança estilhaça e cai ao chão ao redor de mim. – Sabe de uma coisa? – digo entre dentes, querendo jogá-la na parede atrás de nós e apertar a mão ao redor de sua garganta. – Não me importo mais com quem fica com ele, mas, com toda certeza, vou fazer de tudo para não ser você! Ela dá uma risadinha modesta. Minhas palavras nem a afetaram. – Acredite se quiser, queridinha, quanto a isso você já fracassou, porque Colton vai ser meu pelo resto da noite. – Sorri com arrogância, pisca para mim e dá meia-volta para sair de perto. Fico onde estou, observando suas costas recuarem, e nem consigo processar meu redemoinho de pensamentos. Ele esteve com outras mulheres? E durante todo esse tempo em que ele anda tentando me ganhar novamente, também anda comendo todas as ex? As palavras de Teagan, ditas no baile beneficente, voltam a mim. Como sou uma imbecil. Eu cheguei a acreditar que ele me queria de volta. Que ele estava disposto a mudar por mim. O Lobo Mau definitivamente enganou a Chapeuzinho Vermelho. Os sentimentos familiares demais de mágoa, que agora se tornaram raiva, percorrem meu sistema. Antes, eu teria fugido e me escondido; agora – neste exato momento –, eu quero desferir toda a minha fúria em Colton. Descarregar nele e dizer exatamente o que eu penso. E, embora não seja o lugar certo nem o momento certo, meus pés obviamente não dão a mínima, porque, antes que eu me dê conta, estou entrando no salão. Uma mulher com uma missão. Quando entro, o local já está cheio de convidados, já que este é um dos pontos altos desta noite. Passo em revista o salão repleto e tento vislumbrar Colton. Não é difícil – meu corpo sempre parece saber onde ele está, a despeito do lugar –, mas a congregação de pessoas no canto mais distante, beirando uma pequena multidão, confirma um zumbido que sinto no meu corpo. Um zumbido que, neste exato lugar e neste exato momento, eu queria que fosse fulminado por um raio e desaparecesse, pois estou
de saco cheio. Estou de saco muito cheio. Ando pelo salão sentindo o coração bater pesado no peito, notando que decotes, pernas e roupa justa parecem ser o código de vestimenta desta noite. Ouço a risada de Colton irromper da multidão, o que me faz girar os ombros, faz meu estômago dar um salto. À medida que me aproximo das pessoas reunidas, juro que o grupo se abre com minha chegada e se divide no meio para destacar o espetáculo que tenho diante dos olhos. Colton está entre um grupo de mulheres que parecem dispostas a aderir ao código de vestimenta despojado. Ele está totalmente relaxado. É evidente que se trata do centro de atenção em seu círculo. Seus dois braços estão casualmente em volta de duas mulheres, uma de cada lado. A taça vazia está em uma das mãos. Há alguma coisa esquisita em seu sorriso. Os olhos estão perdidos. Algo está faltando na sua expressão. Talvez este seja Colton fazendo total uso de sua persona pública. Ou talvez, pelo jeito da coisa e por todas as taças vazias sobre a mesa que está atrás dele, ele esteja bêbado. Mantenho alguma distância, observando a demonstração de estrogênio com um toque de desespero. Minha raiva toma corpo, e, bem quando estou prestes a ir até lá e interromper a pequena reunião, Colton ergue os olhos e encontra os meus. Algumas emoções inomináveis os cruzam, mas tudo se acaba antes que eu realmente possa compreendê-las. Dou um passo adiante. Um diminuto sorriso curva muito de leve um dos cantos de sua boca. E, muito devagar, bem deliberadamente, Colton se inclina mais na loira à sua direita – seus olhos ainda estão nos meus – e ele procede para beijá-la. E não estou falando de um selinho. Estou falando de um beijo com tudo o que tem direito. Olhos verdes fixos o tempo todo nos meus. Acho que fico boquiaberta. Acho até que um gritinho fraco escapa dos meus lábios. Sei que todo o sangue some da minha cabeça e percorre minhas veias. – Seu filho da puta! – As palavras saem voando da minha boca, mas são tão baixas, tão ríspidas que não tenho certeza se alguém as ouviu. Viro as costas para ele e saio do salão às pressas. A imagem do
que eu acabei de ver gravada na minha mente. O rosto da biscate se transforma no de Tawny. No de Raquel. Nas outras sem rosto e sem nome que Tawny jogou na minha cara. Passo com tudo por um garçom, sem me importar de ter quase derrubado a travessa no caminho, e fujo pela saída mais próxima que encontro. A vontade de chorar que queima o fundo da minha garganta ameaça, mas a raiva que dispara por mim a queima. Tenho tanta raiva armazenada, tanta tristeza, que não sei o que fazer. Vou até uma ponta do salão vazio no qual entrei para descobrir que não há saída nenhuma. Um borbulhar de histeria se derrama no momento em que uma música na merda dos alto-falantes ataca meus ouvidos quando eu tento me acalmar e procurar uma outra forma de sair que não seja pelo salão. “Slow Dancing in a Burning Room.” Como se não tivesse uma música que pudesse ser mais perfeita nessa merda de momento. Pressiono as mãos contra a mesa no corredor e tento recuperar o fôlego. Repassar a imagem da boca dele naquela vagabunda, na minha cara, faz meu estômago revirar. Que diabos estou fazendo aqui? Tentando me reconciliar? Quem é essa mulher na qual eu me tornei? E eu estava disposta a abrir mão da minha própria moral por causa dele? Ouço a porta se abrir atrás de mim. Tento endireitar a postura e apagar as lágrimas dos meus olhos. – Rylee… Lanço um olhar de volta para Colton, já tão de saco cheio dele. Quantas vezes vou entrar de cabeça erguida nessa decepção sem aprender com minha própria estupidez? – Vá embora, Colton! Me deixa em paz! – Rylee, eu não queria ter feito aquilo. Desta vez eu me viro. Colton está a alguns passos de distância, mãos dentro dos bolsos, ombros curvados, olhos que pedem desculpas. Mas desta vez eu não vou cair. Cruzo os braços na frente do peito – uma proteção inútil sobre meu coração. – Vai se foder! Para alguém tão ligado em mim, com certeza você parte pra outra rápido, Ace! Com certeza agora você fez jus ao apelido. Seus olhos procuram os meus, questionando meu comentário, mas
ele não pergunta nada quando nota meus punhos abrindo e fechando com raiva. – Não é o que você está pensando, Rylee. – Estou de saco cheio de ouvir você dizer isso! Não é o que eu penso? – repito, erguendo a voz. – Acabei de ver você enfiar a língua na garganta de uma biscate qualquer e não é o que eu estou pensando? – Ele acha que eu sou idiota? Quanto? Começo a dar risada. A gargalhar. Estou quase histérica. O empurra-empurra de emoções de todo o dia é quase mais do que eu posso suportar. – Então espera. Você não queria ter feito aquilo com essa vagabunda, mas queria ter feito com todas as outras que você comeu enquanto tentava me ganhar de volta? Fingindo que era eu que você queria? Só me fala uma coisa, Ace… Você riu bastante à minha custa? Colton pega meu bíceps. Seus dedos cavam minha pele. Sua pegada é tão forte que, quando eu tento recuar de seu toque, não consigo. – De. Que. Caralho. Você. Está. Falando? – ele diz em tom baixo. Quem…? – Raquel. Tawny. Quem mais, Ace? Cassie? Elas te deram o que você queria? Sentaram-se no seu colo pacientemente e beijaram seus pés como uma boa menina deveria fazer? Aceitar o que você tem a oferecer e ficar de boca fechada? Você mandou flores para mim entre uma foda e outra? Os dedos de Colton se fixam mais firme de um jeito que acho que vão me causar hematomas amanhã. Seus olhos perfuram os meus. – Você se importa de explicar para mim… – Eu não tenho que te explicar nada! – Puxo o braço de seus dedos com força. – E pensar que eu estava vindo aqui para tentar resolver as coisas entre nós. Me desculpar por ser teimosa. Gritar que eu acreditava em você. – Nego com a cabeça, derrotada, e começo a sair andando, mas dou meia-volta. A dor consome cada fibra do meu ser. – Me fala uma coisa… você disse que elas não eram putas, mas você paga um salário para a Tawny, não paga? – Arqueio a sobrancelha e sei, pela cara que ele faz, que minha implicação foi compreendida. – Ela trabalha para mim – diz ele, soltando um dos meus braços e passando a mão com força pelos cabelos. – Eu pago porque ela
cumpre as funções dela. Não posso mandá-la embora só porque você não gos… – Sim. Você pode – grito para ele. – E não é que eu não goste dela. Eu odeio ela com todas as minhas forças! Você comeu aquela mulher, Colton. Comeu! Aquela mulher! Acho que sua escolha é óbvia pra caralho. Você não acha? – Rylee… – Sabe de uma coisa, Colton? Você me dá náusea. Eu devia ter confiado nos meus instintos no que diz respeito a você. Você só sabe se prostituir. Quando paro e enxugo as lágrimas dos meus olhos, que eu nem tinha percebido que estavam fluindo, vejo que Colton ainda está ali parado. Seu rosto é estoico e seus olhos são duros como aço. Quando ele fala, sua voz é baixa e não perdoa. – Então, se eu for ser acusado disso, de perder a única mulher que eu escolhi porque ela vai continuar interpretando errado e mantendo a absoluta obstinação, é melhor eu fazer jus à acusação. Paro de chofre ao ouvir essas palavras. Tão sarcásticas. Tão acusadoras. Encontro seus olhos sentindo minha respiração engasgar. Fecho os olhos e respiro fundo esperando o comentário se assentar. Meu mundo entra numa espiral negra, rodopia com a confusão que acaba de ficar cristalina. É a primeira vez que ele não negou ter dormido com ela. Ele não confessou – eu não ouvi as palavras saírem da sua boca –, mas ele também não negou. A dor golpeia meu peito. Eu tento me focar em tentar respirar – em tentar pensar –, mas ele só continua falando. Meu coração fraturado se quebra e estilhaça em um milhão de pedacinhos. – É assim que eu costumo lidar com a dor, Rylee. E não tenho orgulho disso, mas uso as mulheres para encobrir a dor. Eu me perco nelas para bloquear todas as outras coisas. – Ele baixa a cabeça por um segundo enquanto minha mente tenta compreender as ondas de choque que suas palavras criam. Ele acabou de me dizer duas coisas e eu não sei em qual delas minha mente perturbada consegue se focar. A admissão faz seu comentário de várias semanas atrás ressurgir na minha cabeça. O comentário que ele fez na minha casa na manhã depois de termos dormido juntos pela primeira vez. Como as toneladas de bagagem de
seu passado o fazem recorrer à sobrecarga sensorial do contato físico, a indulgência estimulante de pele contra pele. Mas por quê? E em que ponto uma explicação conveniente é apenas uma desculpa furada para um playboy pego nas próprias mentiras? Um jeito oportuno do homem que sempre consegue o que quer para, bem… conseguir o que quer. Posso amar o que há de destruído nele, mas não posso mais aceitar as mentiras. – Você me disse outro dia que tinha acabado tudo entre nós. Eu vou ser o primeiro a admitir que é um jeito péssimo de fazer isso, mas estou lidando com isso do único jeito que eu sei – diz ele. Vasculho seu rosto, olho tão profundo dentro dele que me assusta. Vejo a dor em seus olhos. Posso ouvir a hesitação e a vergonha absoluta em sua confissão. É isso o que eu quero? Um homem que, toda vez que temos uma discussão, ou toda vez que se assusta com nossa relação recorre a outra pessoa? Corre para outra mulher para ajudar a aliviar a dor? Eu lhe disse que o amava. Eu não disse que queria me casar com ele ou ser a mãe dos seus filhos indesejados, pelo amor de Deus. – Então você está me dizendo que eu sou tão importante para você que se você traçar uma garota qualquer vai me esquecer? – Balanço a cabeça de um lado para o outro. – Que, se a gente estiver junto, toda vez que as coisas ficarem difíceis você vai fugir com a Tawny ou com outra candidata disposta? Caramba, você está realmente construindo a fundação de um grande relacionamento aqui. – Ele tenta me interromper, mas eu só levanto a mão e o contenho. – Colton… – Suspiro. – Vir aqui falar com você esta noite sem dúvida foi um erro. Quanto mais você fala, mais eu começo a realmente perceber que eu não te conheço de jeito nenhum. – Você me conhece melhor do que qualquer um! – ele grita, aproximando-se um passo, ao mesmo tempo em que eu recuo outro. – Eu nunca tive que explicar nada a ninguém… E não estou conseguindo fazer as coisas direito. – Você pode repetir isso – retruco. – Vamos sair daqui e conversar. – Colton? – Uma voz sedutora o chama sobre meu ombro. Tudo no meu corpo fica tenso só de ouvir esse som. O rosto de Colton fica branco.
– Fora! – ele berra entre dentes cerrados para ela. Relaxo o aperto na mandíbula e respiro fundo. – Conversar não leva a nada. Além do mais, é óbvio que você encontrou alguém para te ajudar a enterrar a dor. – Indico a porta atrás de mim com um movimento da cabeça. – Sabe de uma coisa? Acho que agora é minha vez de tentar. – Dou de ombros. – Ver se encontrar um cara para passar a noite realmente conserta as coisas do jeito que você diz que conserta. – Não! – A expressão de desespero sofrido em seu rosto me chateia, mas já passei do ponto em que me importaria. Já passei demais do ponto dos sentimentos. Tão entorpecida. – Por que não? Mais vale um pássaro na mão do que dois voando – digo, acrescentando outro animal no zoológico mental que estou criando enquanto ele apenas me olha. Um último olhar. – Divirta-se no coquetel, Ace.
Trinta e sete
Ando sem rumo pelo resort pelo que parece ser uma eternidade. Vejo o sol afundar no horizonte, absorvo a luz do dia como se as emoções tivessem ensombrecido meu coração. A tristeza me consome, mas não é nada de novo; afinal, ela está presente há algumas semanas. Acho que é pior porque eu me permiti acreditar que, quando eu procurasse Colton, ele aceitaria o motivo de eu estar chateada e fim de conversa. Nunca pensei que ele faria o jogo idiota que fez para tentar me machucar ainda mais, de propósito. Repasso na mente a confissão que ele me fez, uma e outra vez. O reconhecimento de que ele usa as mulheres para enterrar sua dor. Se por um lado eu o entendo um pouquinho melhor agora, por outro isso só me diz que na verdade eu não sei nada sobre seu passado – das coisas que fazem dele quem ele é. Mas ele está mergulhado num enorme estado de negação – ou talvez esteja tão acostumado a ter as coisas do seu jeito – que nem sequer se dá conta das desculpas que está me dando, porque suas ações não têm desculpas. Eu me sento num banco de um dos muitos jardins do hotel e então meu telefone toca. Olho para baixo, debato se devo atender, mas sei que pode ser exatamente a pessoa que pode me ajudar a colocar a cabeça no lugar. – Oi, Had – cumprimento, tentando expressar o máximo de normalidade possível. – O que aconteceu? – Seu tom insistente ecoa pela linha muito claramente. Acho que fracassei em enganá-la. Lágrimas brotam. E não param. Quando, por fim, diminuem, eu
relato os eventos da noite. Haddie fala: – Esse é o maior saco de bobagens que eu já ouvi. O quê? – Como é? – Antes de mais nada, a Tawny. Ela é só uma vagabunda invejosa que está tentando te atingir e conseguiu! – Não importa… – Assoo o nariz, desprezando completamente a observação de Haddie. – Sério, Rylee… Esse é o ABC da Biscate. Se você não pode ter o cara, faça a mulher que o cara quer duvidar dele para que você possa ficar com ele. – Ela dá um suspiro ruidoso. – Não tenho orgulho de dizer, mas eu já fiz exatamente isso antes. – É sério? – Minha mente começa a compreender o que ela está dizendo. – Rylee… para uma garota inteligente, às vezes você é bem burra. – Valeu por jogar sal na ferida, Had. – Desculpa, mas é verdade. Você está tão centrada em si mesma neste momento que não consegue ver de uma perspectiva externa. Se Colton queria sair comendo todo mundo, então por que ele ficaria atrás de você incansavelmente? O cara está caidinho por você, Rylee. A Tawny é só uma daquelas biscates diabólicas que vai ter a lição dela em um momento ou outro. Espero que o carma dê uma rasteira naquela vagabunda uma hora ou outra. Começo a ouvir o que Haddie está dizendo. Merda, quando os relacionamentos ficaram complicados? Quando a pessoa com quem você está saindo valer inacreditavelmente a pena. – Entendi o que você está querendo dizer, Haddie, mas e quanto a hoje à noite? O beijo. O… ele me traiu. – Essa parte final sai num sussurro. – Então ele fez isso? – pergunta ela, e as palavras pairam na linha entre nós. – Puta que pariu, Haddie! Você não está me ajudando aqui. – Aperto meus olhos com força e pinço a ponte do nariz. – Não sou eu que estou passando por isso, Ry. Eu não posso te dizer o que fazer, o que sentir. Só posso te dizer para usar seus instintos. – Ela suspira. – As mulheres são diabólicas e os homens são imbecis confusos. Você só tem que descobrir em qual dos dois
você confia mais. – Porra! – gemo, sentindo a determinação ainda menor do que quando nossa conversa começou. – Te amo, Ry. – Te amo, Had. Desligo o telefone e caminho mais um pouco pelas franjas da pista de golfe, pensando nos comentários de Haddie e na falta de conselho. Caminho pelo terreno do resort, numa tentativa de fazer minha mente parar de pensar, mas não tenho sucesso. Passo por um dos salões de bar do hotel e, o que não é do meu feitio, eu me vejo entrando e me sentando no balcão. O espaço não está cheio demais, mas também não está tranquilo de forma alguma. Tanto o bar quanto as várias mesas estão salpicadas de clientes; alguns sozinhos e outros agrupados em dupla aqui e ali. Não é até eu me sentar que me dou conta do quanto que os arcos do meu pé estão doendo por causa dos saltos e da minha andança sem rumo. Olho no relógio da parede e fico embasbacada de ver que mais de duas horas se passaram. Eu me recosto no espaldar da cadeira e balanço a cabeça de um lado para o outro, diante da cadeia de eventos que me atingiram como uma colisão de cabeça. Peço uma bebida e dou um longo gole no canudinho quando minha atenção se volta para a televisão no canto à minha direita. Claro que o canal está em alguma coisa ou outra que diz respeito à corrida de amanhã – a cidade inteira foi transformada numa pista de corrida –, por isso eu entendo o motivo de a TV estar ligada. Infelizmente, para mim, o grupo de homens no programa discute certo Colton Donavan e passa em revista seus pontos altos do último ano. Imagens do carro número treze em vários circuitos se alternam na tela. Eu juro, não consigo fugir desse homem não importa aonde eu vá. Sem pensar, inclino o corpo para a frente ao ouvir um comentarista mencionar o nome de Colton. – Bom, Leigh, o Donavan parece estar cruzando as pistas como um raio essa semana – diz um deles. – Ele parece um homem com uma missão, do jeito que mal está diminuindo a velocidade nas curvas durante os treinos. – Ele deve ter trabalhado nas habilidades fora da temporada,
porque o esforço está aparecendo, sem dúvida. Eu só queria saber se ele não está correndo um pouco rápido demais. Entrando com um plano de competição um pouquinho agressivo demais para a corrida de amanhã – observa o outro comentarista. – Talvez ele esteja assumindo riscos demais. Agora, que ele está correndo como diabo que foge da cruz, isso ele está. – O outro comentarista dá risada, e eu apenas reviro os olhos diante do comentário. – Se ele correr as voltas amanhã do jeito que fez hoje, vai quebrar um recorde. A tela mostra uma foto promocional de Colton e depois volta para os destaques. “The Rest of My Life”, de Ludacris, toca como tema de fundo durante uma sequência de imagens de Colton nas corridas de teste. Balanço a cabeça: não poderia ter pensado numa canção mais adequada. Suspiro pesado e tomo outro gole pelo canudinho, desviando os olhos, que estão sendo atraídos pela visão do rosto dele na TV. – Dia difícil? Eu me viro para a voz masculina que acaba de falar comigo à esquerda. Não estou nem um pouco a fim de companhia, para falar a verdade, mas, quando vejo o par de olhos marrom-chocolate cheios de compaixão, emoldurados por um rosto muito bonito, eu sei que não posso ser mal-educada. – Mais ou menos isso – murmuro com um sorriso e um suspiro, antes de me voltar para a minha bebida, só querendo ser deixada em paz. Minhas mãos nervosas começam a rasgar pedacinhos do guardanapo. – Mais uma, por favor? – digo para a moça atrás do balcão quando ela passa. – Eu pago – diz o homem ao meu lado. Olho para ele novamente. – Não é necessário. – Por favor, eu insisto – ele diz à bartender, ao mesmo tempo em que desliza o cartão sobre o balcão para abrir uma comanda, o que me deixa sem jeito, já que não pretendo ficar aqui por tempo suficiente para ter uma comanda. Olho para ele de novo. Meus olhos captam sua aparência clean e suas vestimentas, mas retornam para seus olhos. Só o que vejo é gentileza.
– Obrigada. – Dou de ombros. – Parker – diz ele, estendendo a mão. – Rylee – respondo, apertando a mão dele. – Você está aqui a trabalho ou a lazer? Rio baixinho. – Trabalho. Você? – Um pouco dos dois, na verdade. Estou ansioso para a corrida de amanhã. – Hmph – é tudo o que consigo dizer, focada novamente no guardanapo rasgado. Percebo que estou sendo ríspida, mas não estou mesmo no espírito de conversar educadamente com alguém que, é provável, queira mais do que apenas uma bebida e uma conversa rápida no bar. – Desculpa – digo. – Não sou uma boa companhia no momento. – Não tem problema – ele responde, desanimado. – Seja lá quem ele for… é um homem de sorte. Olho para ele. – É óbvio assim? – Já passei por isso, já fiz isso antes. – Ele dá uma risada e toma um longo gole da cerveja. – Tudo o que digo é que o homem deve ser um idiota se ele está disposto a deixar você ir embora sem lutar. – Obrigada – admito. Um lampejo de sorriso ilumina meu rosto pela primeira vez desde que o conheci. – Uau! É um sorriso – ele provoca – e ainda por cima um sorriso lindo! Minhas bochechas ficam vermelhas. Desvio os olhos e tomo um gole de coragem líquida. Conversamos amenidades sobre nada em especial por algum tempo enquanto o salão enche aos poucos e a noite avança. Em dado momento, Parker aproxima seu banquinho de mim, pois estamos com dificuldade de ouvir um ao outro com o barulho cada vez maior. É fácil conversar com ele e eu sei que, se estivéssemos em outro lugar e em outro momento, eu teria gostado das suas tentativas casuais de flertar comigo, mas meu coração não está no espírito, por isso suas tentativas inofensivas permanecem não correspondidas. Já bebi algumas, e certo formigamento já começou a percorrer meu sistema – não o suficiente para suprimir as decepções do dia, mas apenas o bastante para me permitir esquecer por alguns momentos
esporádicos. Minha atenção é atraída para a risada alta que vem de fora para a abertura do salão e então eu levanto os olhos. Sufoco uma exclamação quando meus olhos encontram os de Colton. Nos encaramos por um segundo, e então seus olhos se estreitam em Parker e no ângulo de seu corpo em minha direção para me ouvir acima do barulho. Ouço Beckett e Sammy gritando no plano de fundo, misturado com o ruído do ambiente, e eu me afasto de Parker quando ouço Colton rosnar. Olho pela multidão fluida e vejo Beckett na frente de Colton, mãos pressionadas no peito dele, e Sammy atrás, segurando-o pelos ombros. Colton não está olhando para eles. Seu olhar perfura o meu. Ele está rangendo os dentes de um lado para o outro. Os músculos estão tensos no pescoço. Olho de volta para Parker, que ouviu a distração no corredor, mas não consegue ver nada desse ângulo. Ele me olha e nega com a cabeça. – Deixa eu adivinhar – diz ele, com uma risada resignada. – Ele veio aqui lutar por você? – Mais ou menos isso – murmuro. Ouço mais gritos quando olho de novo para a porta e o resto dos clientes notou o caos que está se formando aqui. O nível de ruído baixou um pouco agora que os curiosos estão assistindo. Ouço Beckett gritar: – Não! Você tem outras prioridades, Wood! E logo vejo Colton se libertar dele e vir pisando duro por entre a multidão, que se abre sem hesitar. Parker, nesse meio-tempo, notou a confusão no corredor, e, quando vê quem está se aproximando de nós, ouço-o dizer num sobressalto: – É esse o cara? – pergunta, incrédulo, com uma mistura de medo e espanto na voz. – Colton Donavan, porra? Meu Deus, estou morto! – lamenta. Eu me levanto do banquinho e dou um passo na frente dele. – Não se preocupe. Eu consigo lidar com ele – digo, confiante, mas, quando vislumbro a raiva pura refletida nos olhos de Colton, já não tenho mais tanta certeza. O que eu sei é que há numerosos coquetéis fazendo efeito no meu
organismo, mas o pensamento dispara um êxtase por mim a despeito dos eventos dos últimos dias. Algo no rosto dele, além da raiva, toca partes dentro de mim. É uma expressão do seu olhar. A que diz que ele já viu o suficiente. Que diz que ele vai entrar nesse salão, me pegar, me jogar sobre o ombro e me levar para algum lugar para fazer o que quiser comigo. Nestes poucos segundos antes de ele me alcançar – enquanto vejo os músculos estufarem debaixo do tecido ajustado da sua camisa –, cada parte de mim abaixo da cintura fica tensa de desejo. Não vejo a menor graça nesse negócio de homem das cavernas, mas, fala sério, se esse homem não faz uma mulher desejar como nada mais. E então ele para na minha frente, aqueles olhos verdes-esmeralda me prendem no lugar, me deixam imóvel, e minha mente recupera o controle do meu corpo traidor, empurrando minha libido para o acostamento. – Que porra é essa que você está tentando conseguir, Rylee? – ele rosna, baixo, mas ressoa acima do murmúrio indistinto do bar. Ouço Parker inquieto, remexendo-se atrás de mim. Sem olhar, eu estendo a mão para trás e dou um tapinha em seu joelho, dizendo para ele deixar comigo. – Por que você está se importando com isso? – respondo, um tanto arrogante. O álcool me permite refletir a coragem que eu não sinto de verdade. Estou pronta para sua mão, que é estendida para segurar meu braço, por isso eu saio de seu alcance bruscamente antes que ele se dê conta disso. Nós nos entreolhamos, ambos fervendo de raiva por motivos diferentes. Vejo Beckett se aproximar de nós com nervosismo nos olhos e Sammy não muito atrás. – Eu não gosto de jogos, Rylee. Não vou te dizer isso de novo. – Você não gosta de jogos? – Dou risada com desdém. – Mas você jogá-los não tem problema, né? Ele se aproxima, rosto a centímetros do meu. Seu hálito enredado em álcool roça meu rosto como pluma e se mistura ao meu. – Por que você não fala pro seu gato que ele pode dar o fora antes que as coisas fiquem ainda mais interessantes, hein? Saber que ambos andamos bebendo e que deveríamos parar com essa brincadeira antes que isso não tenha mais volta deveria me
fazer ir embora – mas a racionalidade deixou as premissas há muito tempo. Dou-lhe um empurrão no peito com o máximo de força que consigo para afastá-lo do meu rosto, mas ele apenas agarra minhas mãos e me puxa com o impulso que eu causei. – Seu. Arrogante. Convencido. Egomaníaco! – grito de coração partido para ele, entregando inconscientemente o significado por trás de seu apelido, mas sei que ele não vai captar. Caio contra ele e a ação atrai ainda mais olhares da multidão ao nosso redor. Nosso peito sobe e desce com a raiva que sentimos, respirações secas. Ambos de dentes cerrados em frustração. – Mas que porra você está tentando provar? – ele diz entre dentes. – Só estou testando sua teoria – minto. – Minha teoria? – É. – Bufo. – Se se perder em outra pessoa ajuda a se livrar da dor. – E como foi pra você? – Ele sorri com sarcasmo. – Não sei ainda. – Dou de ombros de um jeito indiferente, antes de estender a mão para trás e pegar a de Parker. Sei que não deveria envolvê-lo mais nisso. É extremamente egoísta da minha parte usá-lo nesta história, mas às vezes Colton me deixa enlouquecida. – Eu te conto de manhã. – Levanto as sobrancelhas para ele e dou o primeiro passo para ir embora. – Não se atreva a me deixar aqui plantado, Rylee! – Você perdeu o direito de me dizer o que fazer no minuto em que você dormiu com ela. – Faço uma careta feroz para ele. – Além do mais, você disse que gosta da minha bunda… pois aproveite a visão enquanto eu saio daqui, porque é a última vez que você vai vê-la. Dentro de instantes, tantas coisas acontecem que eu sinto o tempo parar. Colton avança contra Parker, puxando-o de forma que nossas mãos se desconectam. Nessa fração de segundo eu me odeio por envolver Parker na nossa confusão, e, quando olho para ele, tento demonstrar esse pensamento usando só o olhar, vejo o braço que Colton usa o relógio recuar para desferir um soco. Antes que avance adiante, Sammy está com os braços ao redor de Colton para impedir. Começo a gritar com Colton, lançando tudo e mais um pouco nas minhas acusações. Sinto um braço se fechar ao redor do meu ombro, e eu me encolho para me esquivar – sem sucesso. Viro a cabeça e
vejo que está conectado a Beckett. Ele me dispara um olhar de alerta ao me tirar do bar à força.
Trinta e oito
Quando chegamos ao elevador, a descarga de adrenalina havia se dissipado e queimado os remanescentes do álcool no meu sistema. Meu corpo todo começa a tremer. A emoção do que acabou de acontecer me deixa com os nervos à flor da pele. Me faz perceber a mulher maluca que acabei de me tornar em um lugar público que, de forma alguma, eu reconheço. De como eu envolvi um cara inocente que não merecia a ira que Colton direcionou a ele por motivo nenhum. Sinto como se tivesse acabado de sair do reality show Real Housewives, e eu fosse a protagonista. Meus joelhos cedem quando sinto como se tudo – ter Colton, não ter Colton, querer Colton – se torna mais do que posso suportar. – Não faça isso – diz Beckett, apertando mais firme os braços que me seguram pela cintura antes que eu deslize e sente no chão. Atendo à instrução não falada quando ele me empurra de leve para fora do elevador e depois na direção do meu quarto. Minhas entranhas estão entorpecidas com a dor e a perplexidade. Lanço um olhar para ele. Beckett apenas sacode a cabeça para mim e murmura tão baixo que eu acho que ele está falando para si mesmo: – Jesus Cristo, mulher, você está tentando tirar cada centímetro do Colton dos eixos de propósito? Porque, se está, está conseguindo bem pra caramba! Alcanço meu quarto e remexo dentro da bolsa em busca do meu cartão. Entrego-o para ele, que estava com a mão estendida. Ele destranca e abre a porta para mim. Então pressiona a mão na minha lombar para me fazer entrar. Caminho imediatamente para a minha mala e começo a tirar os
vestidos dos cabides e a enfiá-los de qualquer jeito, junto com tudo o que encontro pelo caminho, dentro da bagagem. Lágrimas histéricas brotam dos meus olhos sempre que têm vontade. – Nã-não. Nem pensar. Não se atreva, Rylee! – Beckett grita nas minhas costas quando vê o que estou fazendo. Eu apenas o ignoro. Continuo jogando, enfiando, empacotando. Os protestos de Beckett continuam. Solto um gritinho quando sinto seus braços me enlaçarem pelas costas e prender em meus braços numa tentativa de conter minha histeria. Ele apenas fica me segurando de qualquer jeito, murmurando para me acalmar como se eu fosse uma criança fazendo birra que precisa ser acalmada. Ele me abraça. Eu desmorono e sucumbo às lágrimas e à desilusão do dia. E ao que nunca vai ser. – Achei que vocês dois estavam tentando resolver essa história. Que podiam resolver essa história. Vocês dois ficam na fossa separados. – E a gente também não para de sofrer quando está junto – sussurro. Lágrimas que ele não pode ver enchem meus olhos, e eu apenas balanço a cabeça para ele. – Ele precisa se concentrar, Becks. Eu… isso… é uma distração que ele não está precisando agora. – Essa declaração é brilhante pra caralho, se é que eu já ouvi alguma… mas o que isso significa, Rylee? Enxugo uma lágrima caída da minha face com o dorso da mão. – Eu não sei… Sinto como se eu não soubesse de mais nada… Eu só preciso de um pouco de espaço, preciso ficar longe dele para conseguir pensar e tomar uma decisão. – E depois? Você vai fazer as malas e sair sem ele saber? Sair de fininho? – Ele suspira, caminhando de um lado para o outro no quarto, diante de mim. – Porque isso é muito melhor, não é? – Beckett… Eu não posso… – resmungo. – Eu só não consigo… – Pego a alça da minha mala e começo a levantá-la. Beckett puxa a bagagem da minha mão e para na minha frente. Ele me agarra pelos dois ombros e me sacode forte. – Não se atreva, Rylee. Não se atreva, porra! – ele grita comigo. A raiva incendeia suas veias. – Você quer deixá-lo? – Becks…
– Nem “Becks”, nem “meio Becks”. Em qualquer outro dia eu te diria que você é de uma covardia tão grande quanto a dele… que vocês dois são tão teimosos que preferem cortar o braço fora para não dá-lo a torcer. Vocês não conseguem se resolver? Eu entendo. Entendo mesmo. – Ele suspira alto e me solta. Afasta-se alguns passos de mim e se vira para me encarar de novo. – Só que pulando fora, Rylee, você fode com a minha equipe, com o meu piloto, com essa corrida, com meu melhor amigo. Então segura as pontas e finge pra mim. Pelo menos finja até a corrida começar. É só o que eu peço. Você me deve essa, Rylee. – Quando ele fala de novo, é com uma calma estranha e cheia de rancor. – Porque, se você não puder fazer isso por mim, que Deus me ajude, Rylee, se alguma coisa acontecer com ele… a culpa vai ser sua! Engulo ruidosamente. Meus lábios ficam moles. Fico olhando para Beckett, um exército de um homem só durante uma missão. – Olha, Ry, eu sei que é mais fácil para você fazer desse jeito… ir embora desse jeito… mas, se você o ama, se algum dia você o amou, você vai fazer isso para mim, é perigoso demais… Não posso ter Colton voando baixo a mais de 300 km/h com a cabeça focada no mundo da lua, pensando em você em vez de se concentrar na merda da pista. – Ele pega minha mala e coloca de volta no chão. Tudo o que posso fazer é olhar para ele através da visão borrada e com o coração partido. Ele está tão certo em todos os níveis, e, ainda assim, não sei se vou conseguir me fazer fingir. Agir como se não fosse afetada quando a simples imagem de Colton faz minha respiração falhar e meu coração apertar. Quando continuamos dilacerando um ao outro e fazendo um ao outro sofrer de propósito. Grito um som estrangulado, odiando a mulher que me tornei nos últimos dias. Odiando Colton. Apenas desejando que pudesse ficar com os sentidos amortecidos de novo, embora seja tão bom poder sentir de novo. Mas, se eu não puder tê-lo, ter meu homem belamente problemático, eu preferiria não sentir nada a viver nesse abismo infinito de dor. Beckett vê a histeria subir à superfície de novo – vê o momento em que eu me dou conta do quanto amo Colton, e a devastação que eu vislumbro no horizonte. – Puta que pariu! – ele murmura exasperado por ser quem ficou
com a incumbência de cuidar da minha irracionalidade antes de calmamente me conduzir até a cama e empurrar meus ombros para baixo. – Sente-se! – ele ordena. Beckett agacha na minha frente, o movimento se parece muito com o que os pais fariam com uma criança, e isso me faz perceber como ele é um cara lega. De verdade. Ele coloca as mãos nos meus joelhos e me olha nos olhos. – Ele fodeu com as coisas, não foi? – Só consigo fazer que sim com a cabeça. Minha garganta está embargada de emoção. – Você ainda o ama, correto? Fico tensa com a pergunta. A resposta vem tão espontaneamente na minha cabeça que eu sei, embora eu o ame – que amá-lo provavelmente vai me trazer um caminhão de sofrimento contínuo –, que não é o suficiente. – Beckett… não posso continuar fazendo isso comigo. – Abaixo a cabeça, ouvindo-o, mas realmente apenas querendo ficar sozinha, querendo levar minha mala com as coisas caindo para fora em todos os ângulos e sair numa disparada desvairada para o aeroporto, de volta para a estrutura e a previsibilidade de uma vida sem Colton. E esse simples pensamento rouba todas as minhas emoções possíveis. Beckett aperta meus joelhos para me fazer retomar o foco nele. – A hora é agora, Rylee. Você precisa deixar de lado tudo isso que está na sua cabeça. Se livre de todas as coisas que você acha que aconteceram e pense com o coração. Só com o coração, entendeu? – Não aguento mais fazer isso, Becks… – Só me ouça, Ry. Se você o ama mesmo, então continue batendo naquela porra de gaiola de aço que envolve o coração dele. Se ele realmente vale a pena para você, então persista. – Ele sacode a cabeça para mim. – Aquela porcaria alguma hora tem que ceder, e você é a única capaz de conseguir fazer isso. – Quando simplesmente fico olhando para ele, boquiaberta, ele balança a cabeça de novo para mim. – Eu te disse, você é a tábua de salvação para ele. Só fico olhando para ele, sem conseguir falar nada, tentando digerir suas palavras. Sou a tábua de salvação? É possível que eu seja a tábua de salvação para ele? Eu me sinto muito mais como um peso
que nos puxa para o fundo oceano. E por que Beckett não para de me falar para me livrar das ideias sobre coisas que eu acho que aconteceram? – Não vai rolar. O amor não resolve… Sou desperta dos meus pensamentos por uma batida na porta. Começo a me levantar, mas Beckett simplesmente me empurra pelos ombros e vai abrir. Vejo Sammy dar um empurrão em Colton porta adentro e depois Beckett a fecha com uma pancada. Apesar de tudo o que Beckett disse, a mera visão de Colton já acende minha raiva. Estou fora da cama num piscar de olhos assim que ele entra no meu quarto. – Não! Nem pensar! Pode tirar esse cretino egocêntrico daqui! – eu grito para Beckett. – Você tá de parabéns, Becks! Que porra é essa? – ele berra. Há confusão em sua voz. Colton lança um olhar para minha bagagem arrumada de qualquer jeito e solta um grunhido. – Graças a Deus! Não deixe a porta bater na sua bunda quando sair, querida! Dou um passo em direção a ele, abastecida com fúria e pronta para detonar. – Isso vai acabar aqui e agora! – A voz de Beckett ecoa entre nós como a de um pai dando bronca nos filhos. Colton e eu paramos de chofre vendo Beckett se virar para nós com uma grande dose de exasperação no rosto e obstinação na postura. – Não me interessa se eu vou ter que trancar vocês dois juntos nesta porra de quarto, mas vocês dois vão resolver essas merdas ou não vão sair daqui. Ficou claro? Colton e eu começamos a gritar com ele ao mesmo tempo, porém a voz de Beckett ribomba sobre a nossa. – Ficou claro? – Pode esquecer, Becks! Não vou ficar neste quarto nem mais um segundo com esse cretino! – Cretino? – Colton se vira para mim. Seu corpo está a meros centímetros do meu. – É isso mesmo! Cretino! – retruco. – Quer falar de cretinos? Experimenta falar daquela cena que você montou com o sujeito do bar. Acho que você ganhou o título antes de mim, querida.
– Sujeito do bar? Uau, porque tomar um drinque inofensivo é muito pior do que você com sua coleção de vagabundas, né? – Empurro o peito dele. O caráter físico da ação me dá um átimo do alívio de que eu preciso. Colton recua e anda para o lado oposto do quarto, mas depois volta, bufando do fundo dos pulmões. Meu quarto parece pequeno com Colton consumindo todo o espaço, e eu só queria que ele fosse embora. Ele olha para Beckett e passa a mão pelo cabelo preto. – Ela está me deixando maluco, porra! – Colton grita para Beckett. – Você saberia tudo sobre porra, afinal foi você comer a Tawny que deu início a tudo isso, para começo de conversa – grito de volta para ele. Já que Colton está ao lado de Beckett, é difícil não notar a expressão de completa perplexidade no rosto dele. – O quê? – gagueja Beckett. – O quê? Ele não te contou? – digo entre dentes, olhando para Beckett. Fecho os punhos com força assim que a imagem retorna à minha mente. – Eu falei pra esse cretino que eu o amava. Ele pulou fora o mais rápido que conseguiu. Quando eu apareci na casa de Palisades há alguns dias, Tawny abriu a porta. Vestindo a camiseta dele. Só a camiseta dele. – Meu foco em Beckett é total, porque não consigo me fazer olhar para Colton no momento. – O Colton também não estava vestindo muito mais roupa. Ele me disse que não aconteceu nada. Mas é um pouco difícil de acreditar com essa reputação notória que ele tem. Ah, e a embalagem da camisinha estava no bolso dele. Termino meu discurso raivoso, por algum motivo querendo mostrar para Beckett como o amigo dele é um otário, como se ele já não soubesse disso. Tento explicar para ele por que eu ando num ataque de nervos no momento. Mas, quando paro de falar, o olhar que espero ver não está ali. Em seu lugar está uma confusão absoluta, e, quando ele se vira para Colton, ela se metamorfoseia em incredulidade. – Caralho, você tá brincando comigo? Agora quem está confusa sou eu. – O quê?
Colton rosna: – Deixa quieto, Becks. – Que porra é essa, cara? – Estou avisando, Beckett. Fica fora dessa! – Colton se aproxima para peitar o amigo. – Quando você começa a ameaçar minha equipe para a corrida amanhã, essa porra é da minha conta… – Ele nega com a cabeça. – Fala pra ela! – grita com autoridade. – Me falar o quê? – Grito com os dois e com essa droga de código masculino que eles têm. – Beckett, falar com ela é a mesma coisa que falar com a parede. De que vai adiantar? As palavras de Colton atingem meus ouvidos, mas entram por um e saem pelo outro. Estou tão concentrada na reação de Beckett que nem assimilo o que ele disse. – Ela está certa. Você é um cretino! – Beckett declara, sem acreditar no que está acontecendo. – Você não vai falar pra ela? Muito bem! Então falo eu! Num piscar de olhos, Colton está imprensando Beckett na parede, segurando-o pelo peito, com as mandíbulas cerradas a menos centímetros dos dele. Sugo o ar com força ao ouvir o som das costas de Beckett atingirem a parede, mas noto que ele não tem reação nenhuma à explosão de Colton. – Eu falei pra você sair daqui, Becks! Eles se encaram por alguns instantes. A testosterona flui entre eles de duas formas inteiramente distintas: A de Colton com a força, e a de Beckett com um simples olhar. Por fim, Beckett levanta as mãos e empurra Colton pelo peito. – Então resolve essa merda, Colton. Resolve! Já! – ele vocifera, apontando para ele antes de abrir a porta do quarto do hotel com uma pancada e fechar atrás de si com outra. Colton desfere uma ladainha de xingamentos ao caminhar de um lado para o outro pelo quarto com as mãos fechadas em punho e os ânimos exaltados. – O que foi isso? – Colton ignora meu comentário e continua na missão de furar um buraco no tapete na minha frente, recusando-se a encontrar meus olhos. – Droga, Colton! – Eu paro no seu caminho. –
O que você não quer que eu saiba? A calma misteriosa no meu tom de voz faz Colton parar por um instante, de cabeça baixa e mandíbulas cerradas. Quando ele ergue a cabeça para me olhar nos olhos, não consigo ler o que há por baixo da raiva que vejo fervilhar na superfície. – Você quer mesmo saber? – ele grita para mim. – Quer mesmo saber? Dou um passo em sua direção para confrontá-lo, fico na ponta dos pés para tentar ficar mais alta e na linha dos olhos dele. – Me conta. – Sinto um medo do que posso ouvir percorrer minha espinha. – Você é algum maldito covarde que não pode confessar e admitir o que fez? Preciso ouvir isso da sua boca para poder superar você e seguir em frente com a minha vida! Ele inclina a cabeça para baixo e me olha nos olhos, sem vacilar. Verde no violeta. Meu peito dói tanto que respirar parece impossível à medida que o tempo se alonga. Quando ele fala, sua voz é baixa e dura como aço. – Eu comi a Tawny. – Suas palavras flutuam no espaço entre nós, mas apunhalam com força o meu coração. – Seu covarde! – berro, empurrando-o. – Seu filho da puta de um covarde! – Covarde? – ele grita. – Covarde? E quanto a você? Você é tão teimosa que passou as últimas três semanas olhando para a verdade e não a viu. Você se colocou num pedestal tão alto e imaculado que acha que sabe de tudo! Mas você não sabe! Rylee! Você não sabe de porra nenhuma! Suas palavras, cujo objetivo é me ferir e me afastar, só conseguem incendiar ainda mais a minha raiva, me levar mais próximo do limite. – Eu não sei de porra nenhuma? É sério, Ace? Sério? – Dou um passo adiante. – Então como é que isso funciona? Eu conheço um imbecil quando vejo um na minha frente – digo entre dentes. Ficamos nos encarando, ambos tão dispostos a ferir o outro que somos incapazes de enxergar que estamos dilacerando um ao outro pelo mesmo motivo. – Já fui chamado de coisa pior por muito menos, querida. – Seu sorriso é irônico. Ele dá mais um passo para se aproximar de mim com uma expressão convencida.
Antes que eu possa pensar, minha mão está diante do corpo para golpeá-lo no rosto. Porém, Colton é mais veloz e levanta a mão para agarrar meu punho no meio do caminho. Seu peito se choca com o meu pelo impulso. Meu punho está travado na mão dele, e quando começo a me contorcer para me livrar dele, Colton agarra meu braço livre que também está se agitando. Estou frustrada, quero me livrar dele. Eu o odeio tanto neste momento que meu peito até dói. Seu rosto está a centímetros do meu, e eu sinto o esforço que ele está fazendo para respirar e ofegar diante do meu rosto. – Se você estava a fim de se livrar de mim… se já tinha enjoado de mim, podia ter simplesmente me falado! Ele me olha com o rosto contorcido pelo esforço para impedir que meus braços o encham de socos. – Eu nunca vou enjoar de você. – E então, antes mesmo que eu possa processar o que Colton está fazendo, a boca dele atinge a minha. Levo um instante para reagir, e estou com tanta raiva, tão furiosa com ele, que eu me encolho e afasto a boca para interromper o beijo. Para não sentir mais o gosto que anseio e o homem que odeio. – Você quer se fazer de difícil, Rylee? – ele me pergunta. Minha cabeça não compreende suas palavras, mas meu corpo reage no mesmo instante. – Vou te mostrar o que é difícil! E, de um segundo para o outro, a boca de Colton invade a minha e toma como reféns todas as sensações do meu corpo, só de manipulálo. Sua mão ainda agarra a minha, eu ainda faço esforço para recusar seu beijo e tento empurrá-lo de perto de mim. A despeito do quanto eu balanço a cabeça de um lado para o outro, seus lábios permanecem nos meus. Pequenos grunhidos de satisfação partem do fundo de sua garganta. Tento desesperadamente negar esse desejo que começa a se infiltrar na confusão raivosa do meu cérebro. Tento rejeitar o desejo incontrolável que cresce no ápice entre minhas coxas em resposta ao sabor de sua língua misturando-se à minha. Tento me opor ao endurecimento dos meus mamilos como consequência de roçar seu peito rígido. A ira se transforma em desejo. A dor se transforma em anseio. A ausência potencializa nosso fervor. Seu toque bloqueia toda
racionalidade. Um gemido suave prende na minha garganta e sua boca continua tentando atormentar cada ponto dos meus lábios e por dentro. Em dado momento, Colton percebe que estou lutando contra ele não para me desvencilhar, mas para tocá-lo. Ele solta meus punhos, e minhas mãos vão imediatamente para seu peito, onde agarram sua camisa, puxam-no agressivamente para mim. Suas mãos, agora livres, estão em movimento, mapeando as linhas das minhas curvas, de novo e de novo, enquanto nossas bocas expressam o desejo desenfreado que ainda temos um pelo outro. Todas ações e reações refletem urgência. Necessidade. Fome. Anseio. Desespero como se temessem que a qualquer minuto a gente vá ser afastado um do outro e nunca mais viver isso. Colton leva a mão para a curva arredondada da minha bunda e me puxa para si com força. A outra mão me segura no lugar pelo pescoço. Nem sequer percebo que o gemido que ressoa no quarto é meu, no momento em que o comprimento duro de sua excitação se esfrega no V no alto das minhas coxas e me empurra de costas contra a cômoda. Ele me levanta e me coloca de costas em cima do móvel, depois sobe meu vestido pelas coxas e se coloca entre elas, o tempo todo continuando a demonstrar suas habilidades estarrecedoras nos meus lábios e na minha língua. Travo as pernas ao redor de seus quadris, puxando-o para mais junto de mim. Sei que isso está errado. Eu sei disso depois do que ele acaba de me dizer, que eu não deveria estar aqui fazendo isso com ele. Mas eu estou de saco cheio de pensar. Tão de saco cheio de querer Colton quando eu sei que nosso lugar não é um com o outro. Nossos dois mundos completamente diferentes não se misturam. Mas estou tão cansada de sentir falta dele. Tão cansada de querer ouvir sua voz quando atendo o telefone. Tão cansada de precisar dele. Tão cansada de o amar sem ser amada por ele. Preciso dessa conexão com ele. Preciso do silêncio na minha cabeça que o sentimento entorpecedor da sua pele contra a minha traz. Há paz na fisicalidade de tudo isso que eu nunca percebi antes. Uma paz que eu sei que Colton usou de novo e de novo em sua vida para amortecer a dor. E, neste momento, eu preciso amortecer a minha.
Sei que é temporário, mas eu me viro para ele. Para sentir o tato, o gosto, o som e o cheiro dele. Meu vício perturbador e que a tudo consome. Por minha própria vontade eu me permito me perder nele para esquecer por apenas um momento a dor que eu sei que vou sentir quando não formos mais apenas um só. Agarro a cintura de sua camisa e puxo-a por cima da cabeça; nossos lábios se separam pela primeira vez desde que nos reconectamos um com o outro. Imediatamente depois de o tecido ir parar longe, nós nos chocamos de novo. Ele afasta as alças do meu vestido dos ombros e sua boca salpica beijos pela linha do meu pescoço até o contorno rendado do meu sutiã. Solto um grito de choque e de necessidade no instante em que ele puxa uma das taças e captura um mamilo com a boca. A sensação me faz jogar a cabeça para trás. Uma das minhas mãos agarra o cabelo em sua nuca. O ardor no meu núcleo se torna um incêndio em plena força, que direciona minha mão livre para desafivelar seu cinto e abrir suas calças. Puxo o zíper com sucesso, enfiando as mãos entre o tecido de algodão da cueca e a pele quente. Agarro a ereção dura como pedra nas minhas mãos e solto um gemido em resposta à sensação da minha pele na sua carne. Suas mãos instantaneamente voam para minhas coxas, erguem mais o vestido e puxam minha calcinha fiodental, encharcada, de lado. Ele desliza um dedo pela minha fenda e meus quadris dão um espasmo diante da sensação do seu dedo em mim de novo. Pressiono os quadris em suas mãos, ávida e sem vergonha de me perder no prazer. Solto um grito quando ele desliza um dedo dentro do meu núcleo e espalha a umidade por todo o meu sexo. Antes que eu possa abrir os olhos e notar a ausência de seus dedos, ele me penetra com uma investida vigorosa. Nós dois soltamos um alarido. Ele para e se enfia o mais fundo que consegue dentro do meu calor. Minhas paredes internas se moldam ao redor dele e se ajustam ao volume ingurgitado. Os músculos nos ombros de Colton ficam tensos debaixo das minhas mãos. Ele tenta se apegar a seu autocontrole. Eu me sinto escorregar – sei que ele é um homem prestes a explodir –, então tomo as rédeas e começo a me mover contra ele, ondulando os quadris para dizer a ele que pode seguir em
frente. Incitando-o a perder o controle. A ser duro por mim. Não preciso de preliminares agora. Tudo o que eu preciso é ele. Há semanas que anseio por isso, e a sensação de tê-lo é tão deliciosa que não preciso de mais nada para me lançar sobre o precipício. Colton crava os dedos em mim, machucando a pele nos meus quadris, e me segura na beira da cômoda para receber suas investidas contra mim. De novo e de novo. Estocada após estocada deliciosa. – Meu Deus, Rylee! – Ele se mexe implacavelmente dentro dos confins entre minhas coxas. Ele aproxima a boca e devora a minha de novo, imitando os movimentos que está fazendo lá embaixo. E, de um beijo para o próximo, ele me puxa para si, me sustenta pela bunda para que continuemos conectados no instante em que ele me levanta e me vira, de forma que caímos os dois na cama atrás de nós. Sua boca toma a minha. Seu corpo recupera o ritmo. Sinto a pressão crescer – sinto o êxtase conflituoso logo além do meu alcance – e agarro a nuca de Colton e seguro sua boca na minha para beber seus beijos. – Você. É. Uma. Delícia – ele murmura nos meus lábios. Não consigo falar. Não confio em mim para falar. Não sei quem eu sou neste momento. Então, em vez disso eu apenas arqueio as costas para junto dele e assim mudo o ângulo dos meus quadris para permitir que ele atinja aquele ponto cheio de nervos dentro de mim, de novo e de novo. Colton já conhece tão bem o meu corpo – sabe o que eu preciso para me levar ao clímax – que pega a dica do meu reposicionamento sutil. Ele recua e fica de joelhos, pega minhas pernas e posiciona minha planta dos pés no seu peito. O ângulo permite que ele penetre ainda mais fundo. Não consigo segurar o gemido de êxtase absoluto ao senti-lo chegar até o fundo, recuar devagar e depois mergulhar de novo. Olho para ele e sua camada de suor no rosto e nos ombros. As unhas cor-de-rosa dos meus pés são um contraste com seu peito bronzeado. Encontro seus olhos. Sustento seu olhar o máximo que consigo até ser demais para eu suportar; é a primeira vez, desde que nos conhecemos, que não há nada protegendo as emoções que perpassam seus olhos. É demais para eu poder compreender –
demais para eu pensar quando tudo o que eu quero é me perder neste momento e bloquear todo o resto do lado de fora. Perder todo o raciocínio. Jogo a cabeça para trás, de olhos fechados, e agarrando os lençóis debaixo de mim, na iminência das sensações tomarem conta de mim. Colton deve concluir que meu êxtase está próximo por causa da minha respiração acelerada e das coxas que começam a se apertar. – Aguenta, Ry. – Ele ofega. – Aguenta, linda. – Ele mergulha em mim, toma ritmo até eu não conseguir mais me conter. – Meu Deus! – grito ao sentir meu corpo fraturar em milhões de pedacinhos de prazer com nada além de sensações. O clímax inunda o meu corpo e consome todo o meu fôlego, todos os meus pensamentos e todas as minhas reações. O pulsar contínuo do meu orgasmo ordenha Colton até fazê-lo alcançar o clímax também. Ele grita meu nome, sem fôlego, e joga a cabeça para trás, recebendo o próprio prazer com espasmos bruscos dentro de mim. Quando ele volta a si, ainda estou recuperando o fôlego e meus pensamentos com os olhos fechados e a cabeça deitada para trás. Sinto-o tirar meus pés de seu peito e, sem interromper nossa conexão, ele baixa o corpo em cima do meu, soltando o peso nos cotovelos apoiados de cada lado de mim. Ele segura meu rosto com os dedos, passando os polegares com cuidado sobre a pele da minha face. Sinto sua respiração roçar meus lábios como pluma – sei que seus olhos estão me encarando –, mas eu ainda não consigo abrir os meus. Preciso tomar as rédeas das minhas emoções antes que eu possa abrir os olhos, pois, não importa o quanto tenha sido maravilhoso, não conserta nada. Não apaga o fato de que ele fugiu quando eu disse que o amava. Não apaga o fato de que ele dormiu com a Tawny para enterrar a própria ideia de que alguém pode querer mais do que um mero acordo com ele. Tudo o que solidifica é que podemos fazer sexo incrível e entorpecente. E entorpecida – neste momento – é como eu me sinto. Sinto o peso do olhar de Colton, mas não consigo me fazer abrir os olhos, pois sei que as lágrimas vão rolar. Ele suspira de leve e eu sei que está tentando me entender e o que está se passando na minha mente. Ele baixa a cabeça e apoia a testa na minha. Seus polegares ainda acariciam com delicadeza a linha do meu maxilar.
– Meu Deus, como senti sua falta, Rylee – ele murmura baixinho de encontro aos meus lábios. É mais difícil ouvir essas palavras de seus lábios do que é aceitar que acabamos de transar. A vulnerabilidade na forma como ele as pronuncia com a voz áspera dá um solavanco no meu coração e torce minha alma. Acho que talvez o que pega seja a ideia de que ele transou com inúmeras pessoas, mas nunca murmurou essas palavras para ninguém antes. – Fala comigo, Ry – ele sussurra em mim. – Linda, por favor, fala comigo – ele implora. É agora que uma lágrima escorre do canto do meu olho e desliza pela minha bochecha. Apenas mantenho os olhos fechados e nego com a cabeça, num movimento quase imperceptível. As emoções guerreiam violentamente dentro de mim. Nossa conexão é suficiente para reparar as coisas para ele. Não para mim. Como vou poder confiar nele? Como vou poder confiar em mim? Esta garota que dorme com alguém depois de ter sido traída por essa pessoa – essa não sou eu. Como posso viver e amá-lo sabendo que tenho que pisar em ovos o tempo todo porque temo que, se eu disser alguma coisa que vai assustá-lo, vou jogá-lo nos braços de alguma outra pessoa? Para ele, é uma reconciliação. Para mim, é uma última memória. Meu último adeus. Eu me odeio terrivelmente. Odeio que o usei para tentar apaziguar a dor que sei que vai vencer meu coração e minha alma nas semanas e meses que virão. Odeio que, do mesmo jeito que ele parece me necessitar, eu não consigo me fazer mais necessitá-lo também. Não posso perder o “eu” que acabei de encontrar – que, ironicamente, ele acabou de me ajudar a encontrar. Veja só o que ele está fazendo comigo. Com a pessoa que estou me tornando. Eu me transformo numa louca neurótica perto dele. E, sim – sim, meu Deus, eu o amo –, mas o amor definitivamente não vale a pena se for unilateral e se for essa a retribuição que eu recebo. Ele recua e beija a pontinha do meu nariz. Meu queixo treme na minha tentativa de segurar para mim a conclusão a que acabei de chegar. – Me fala o que está se passando na sua cabeça, Ry? – ele insiste ao salpicar beijos ternos no rastro da minha lágrima solitária e depois
sobe pelos meus dois olhos fechados antes de retornar aos meus lábios. Tamanho carinho de um homem que jura que não tem a capacidade de sentir me faz lutar contra a abertura das comportas. E, mesmo que ele não tenha recuado, eu acho que ele sente a perda da nossa conexão, pois seus lábios tocam os meus e ele pressiona a língua para separá-los. Lambe minha boca devagar, sua língua dança delicadamente com a minha, expressando seu desejo por mim com um desespero leve e sutil. Respondo a ele e a seu pedido não dito, preciso dessa conexão para me apegar a tudo o que sinto por ele, embora eu saiba que não é mais suficiente. Amor não correspondido nunca é. Alguns instantes depois, Colton interrompe o beijo e suspira ao se afastar para trás. Meus olhos se mantêm fechados. – Me dá um segundo – ele me diz. Eu me encolho sentindo-o sair de mim. Um agora se tornam dois, e sinto a cama afundar quando ele se impulsiona para se levantar. Ouço a água correr no banheiro. Ouço passos cruzando o quarto e levo um susto quando ele traz uma toalha morna e me limpa com tanto cuidado antes de voltar ao banheiro. – Linda, eu preciso desesperadamente de um banho. Me dá um minuto e depois a gente precisa conversar, tá? A gente tem que conversar. – Colton planta mais um beijo leve na minha testa. Sinto a cama se afundar de novo no instante em que ele se levanta. Ouço o chuveiro ligar, e a porta do boxe fechar. Fico ali em silêncio, sentindo minha cabeça zunir com tantos pensamentos que está começando a doer. Será que eu amo esse homem tão magnífico e, ainda assim, tão traumatizado? Sem dúvida… mas, se antes eu pensava que o amor era capaz de conquistar tudo, agora já não tenho mais tanta certeza. Ele pode gostar de mim à sua própria maneira, mas será que isso é suficiente para mim? Será que é suficiente ficar sempre pensando quando o outro acontecimento vai arruinar nossa relação? Passei os dois últimos anos entorpecida para as emoções – temendo como seria sentir de novo – e agora que eu encontro Colton, e ele me fez justamente sentir, eu acho que não posso voltar ao que era antes. Não viver, apenas existir. Será que posso mesmo estar com Colton e impedir que tudo o que tenho dentro de mim exploda, enfim? Acho que não quero revisitar aquela vida de vazio. Acho que
não consigo. Só não tenho certeza se ele algum dia vai ser capaz de aceitar meu amor. Fecho os olhos com força, tento me convencer de que poderemos superar tudo isso. Que eu posso ser forte e paciente o bastante, que posso perdoar-lhe e esperar o tempo dele em enfrentar seus demônios e aceitar o amor que eu ofereci. Mas e se ele nunca fizer isso? Veja só nós dois esta noite. Fizemos um ao outro sofrer de propósito. Usamos outras pessoas de propósito para nos atingir. Tentamos nos dilacerar. Isso não é saudável. Não se faz esse tipo de coisa com alguém que a gente ama ou com quem se importa. As palavras da minha mãe perpassam minha mente. Como a pessoa sempre nos trata melhor no início da relação e que, se não for bom no início, não vai ficar nem um pouco melhor depois. Se as últimas vinte e quatro horas forem algum tipo de indicação, então nós definitivamente não vamos vingar. Somos apaixonados, enérgicos, inflexíveis e intensos quando estamos juntos. No quarto isso conduz a uma química imensurável; no quesito relacionamento, isso leva ao desastre. E por mais que pudesse ser o céu confinar Colton ao quarto, para que ele pudesse fazer o que quisesse comigo, sem parar, não é realista. As lágrimas agora chegam. Não preciso mais escondê-las. Elas sacodem meu corpo e rasgam minha garganta. Choro e choro até não ter mais lágrimas de sobra para o homem que está ao meu alcance e, ao mesmo tempo, numa distância absurda. Fecho os olhos por um momento e me fortaleço para conseguir fazer o que preciso. No longo prazo, é o melhor. E me movimento sem pensar. Uso o entorpecimento para me guiar e conseguir me pôr em movimento. Colton está certo. Ele está destruído. E agora eu estou destruída. Duas metades que nem sempre fazem um todo. A gente fodeu – sim, definitivamente foi “foder”, pois não houve nada suave, gentil ou significativo, ainda mais depois que ele me admitiu que fodeu outra pessoa. Tawny, ainda por cima. Isso não é aceitável para mim. Nunca. Mas quando estou perto dele – quando ele domina o ar que eu respiro – eu faço concessões que nunca teria feito antes. E isso não é jeito de existir. Abrir mão de tudo o que é nosso quando a outra pessoa não abre mão de nada.
Contenho o soluço na garganta. Visto as roupas com dificuldade. Minhas mãos tremem tanto que mal consigo colocar as roupas na posição certa. Lanço um olhar fugaz no espelho e paro de chofre. Desolação pura e absoluta está refletida ali e olha para mim. Forço meus olhos a se desviarem e pego minha mala no instante em que ouço Colton derrubar alguma coisa no chuveiro. Enxugo as lágrimas que começam a percorrer seus rastros familiares pelas minhas faces. – Adeus, Ace. Eu te amo – sussurro as palavras que não consigo dizer na cara dele. Que ele nunca aceitaria. – Acho que eu sempre te amei. E que sempre vou te amar. – Abro a porta com o máximo de silêncio possível e deslizo para fora do quarto de hotel, bagagem em mãos. Levo um instante para soltar a maçaneta, porque sei que, uma vez que perder a conexão, será o fim. E com a mesma certeza que tenho em relação a essa decisão, ainda estou me sentindo partir em um milhão de pedacinhos. Respiro fundo e solto o ar. Pego minha bagagem e começo a tomar o caminho para o hall dos elevadores. As lágrimas correm livremente.
Trinta e nove
A descida de elevador parece eterna, levando em conta o esforço que faço com os olhos cansados, o coração pesado, os pés que precisam sustentar o corpo e a necessidade de os meus pulmões respirarem. Tento encontrar uma razão para me mexer. Eu sabia que superar Colton seria difícil – absolutamente devastador – mas nunca, nem em um milhão de anos, eu imaginei que o primeiro passo seria o mais difícil. Com um sinal sonoro, as portas se abrem. Sei que preciso me apressar. Preciso desaparecer porque Colton vai tentar me encontrar e arrancar essa ideia da minha cabeça. Bom, talvez ele não o faça. Talvez depois dessa rapidinha ele vá me deixar partir. Não que seja fácil entendê-lo, e, para ser sincera, estou cansada demais de tentar. Pensar em uma coisa e fazer outra. Se eu tivesse aprendido apenas uma lição em estar com Colton é que eu não sei de nada. Esfrego o rosto, tentando tirar as lágrimas das faces, mas sei que nada vai atenuar minha aparência devastada. E, francamente, não restou muito mais em mim para se importar com o que as pessoas pensam. Sei que fiquei aqui alguns dias, mas minha mente está uma confusão tão grande que levo um segundo para entender para que lado preciso ir para encontrar a entrada principal e conseguir pegar um táxi. Tenho que caminhar por um jardim para alcançar o saguão principal. Eu o avisto à distância e sigo para ele com passos arrastados. Minha bagagem toda desajeitada ameaça cair para fora. Estou num estado de entorpecimento, dizendo a mim mesma que
estou fazendo a coisa certa – que tomei a decisão certa –, mas a expressão de Colton está enterrada em mim, crua, aberta, exposta, e me assombra. Não podemos oferecer o que o outro precisa de nós, e, quando conseguimos, só acabamos fazendo o outro sofrer. Um pé na frente do outro, Thomas. É o que fico dizendo a mim mesma. Contanto que eu mantenha meus pés se movendo – impedindo minha mente de vagar – posso impedir que o pânico questionador que paira logo abaixo da superfície entre em erupção. Caminho cerca de seis metros pelo jardim, vazio a essa hora da noite, e o esforço para continuar me movendo é gigantesco. – Eu não comi ela. O timbre profundo de sua voz faz as palavras rasgarem o ar parado da noite. Meus pés param. Minha cabeça diz “vá”, mas meus pés param. Suas palavras me chocam e, ainda assim, eu estou tão atordoada com todos os acontecimentos – de necessitar das sensações e depois não querer sentir, para, em seguida, me ver perdida numa avalanche emocional – que eu não reajo. Ele não dormiu com a Tawny? Então por que ele disse que dormiu? Por que ele causou toda essa dor se nada aconteceu? No fundo da minha mente eu ouço Haddie me dizer que eu sou tão teimosa que não permiti que ele falasse – não permiti que ele explicasse –, mas estou tão ocupada em tentar me lembrar de respirar que não consigo me focar nisso. Meu coração troveja no peito, e eu me sinto completamente sem saber o que fazer. Sei que suas palavras deveriam me aliviar, mas ainda não são suficientes para consertar o nós. Tudo que parecia tão claro – conflituoso, porém claro – deixou de ser. Preciso sair daqui, mas preciso ficar. Quero e odeio mais do que tudo. Eu sinto. – Eu não dormi com a Tawny, Rylee. Nem com ela e nem com nenhuma outra de que você me acusou – ele repete. Suas palavras me atingem com mais força agora. Me atingem com um sentimento de esperança tingido de tristeza. Nós fizemos isso um com o outro – nos dilaceramos verbalmente e jogamos joguinhos idiotas – e por motivo nenhum? Uma lágrima escapa e escorre pelo meu rosto. – Quando eu ouvi a batida na porta, peguei um jeans velho qualquer. Eu não usava aquilo fazia meses. Ele prossegue:
– Vira, Ry. – E não consigo encontrar forças para fazê-lo. Fecho os olhos e respiro fundo. As emoções são descontroladas e confusas, num constante estado de metamorfose. – Podemos fazer do jeito fácil ou do jeito difícil – diz ele. Sua voz implacável está mais próxima do que antes. – Mas não tenha dúvida de que vai ser do meu jeito. Você não vai fugir desta vez, Rylee. Vira. Meu coração para. Minha mente dispara no instante em que eu me viro devagar para ficar de frente para ele. E, quando viro, perco o fôlego. É mais forte que eu. Estamos num jardim cheio de plantas exóticas de cores vívidas, mas a coisa mais deslumbrante de todas na minha linha de visão é o homem em pé na minha frente. Colton veste apenas um jeans azul e mais nada. Pés descalços, peito descoberto, ofegante pelo esforço, e cabelos pingando da água do banho, em pequenos riachos no peito. A aparência é de alguém que literalmente saiu do chuveiro, notou que eu tinha ido embora e saiu correndo atrás de mim. Ele dá um passo em minha direção, sua garganta trabalha para engolir saliva com dificuldade, e seu rosto é uma máscara de convicção. Ele é absurdamente magnífico – de tirar o fôlego –, mas são seus olhos que me capturam e não me deixam ir embora. Essas piscinas lindas verdes que sustentam o meu olhar – imploram, pedem desculpas, suplicam – deixam-me paralisada nesse momento. – Eu só preciso de tempo para pensar, Colton – ofereço como justificativa às minhas ações. – E o que tem para pensar a respeito? – Ele sopra um suspiro ruidoso, seguido por um xingamento áspero. – Achei que a gente… Fico olhando para o esmalte nas minhas unhas do pé; lampejos de passado percorrem minha mente: esses dedos no peito dele há não muito tempo atrás. – Só preciso pensar em nós… nisso… em tudo. Ele se aproxima um pouco de mim. – Olha pra mim – ele exige, baixinho, e eu concedo, a despeito do quanto eu temo encontrar seus olhos. Quando levanto os olhos para encontrar os seus, que procuram os meus na luz da lua cheia, eu vejo preocupação, incredulidade, medo e muito mais nas profundezas e, por mais que eu queira desviar o olhar, queira me esconder do dano que estou prestes a causar, eu não consigo. Ele merece coisa melhor
de mim. Sua voz é tão baixa quando fala que eu mal o ouço. – Por quê? – É uma simples palavra, mas há muito mais emoção subjacente nela, que preciso de um minuto para encontrar as palavras e responder. E é a mesma pergunta que preciso fazer a ele. – Se isso é real, Colton… Temos que complementar um ao outro, tornar o outro uma pessoa melhor, não nos destruir. Olha só o que a gente fez com o outro hoje – tento explicar. – As pessoas que se gostam não tentam machucar a outra de propósito… isso não é um bom sinal. – Nego com a cabeça, esperando que ele possa entender o que estou dizendo. Sua garganta trabalha enquanto ele pensa no que dizer. – Sei que fizemos tudo errado, Ry, mas a gente pode dar um jeito – ele implora. – Podemos fazer dar certo. Fecho os olhos por um instante. As lágrimas transbordam quando me lembro de onde estamos e o que o amanhã significa. – Colton… agora você precisa se focar… na corrida… podemos conversar depois… discutir depois… neste momento você precisa colocar a cabeça na pista, onde é o lugar dela. Ele sacode a cabeça de forma enfática. – Você é mais importante, Rylee. – Não, eu não sou – murmuro, desviando os olhos de novo. Lágrimas silenciosas agora escorrem sem parar pelas minhas bochechas. Sinto seu dedo no meu queixo, guiando meus olhos de volta para os seus. – Se você for embora, não vai ser só para pensar. Você não vai voltar, né? – Ele me olha, à espera de uma resposta. Meu silêncio é a resposta de que ele precisa. – Será que a gente, você e eu, agora há pouco, não significou nada para você? Eu pensei que… – Sua voz some. Vejo que ele compreende. – Você está enfrentando a separação definitiva, é por isso que está tão aborrecida – conclui ele, falando mais para si mesmo do que para mim. – Você está se despedindo, não está? Não respondo; em vez disso, mantenho os olhos fixos nos dele para que talvez, através da dor, ele possa ver o quanto isso é difícil para mim também. Seria muito mais fácil se ele se enfurecesse e
arremessasse alguma coisa, em vez dessa súplica discreta em palavras, e olhos cheios de descrença e dor. – Só preciso de um tempo para pensar, Colton – consigo dizer enfim, me repetindo. – Tempo para se distanciar e facilitar as coisas para você, é o que você quer dizer na realidade, não é? Mordo a parte interna da bochecha e escolho com muito cuidado as minhas próximas palavras. – Só… só preciso de algum tempo longe de você, Colton, e do desastre que nós causamos nesses últimos dias. Você domina tudo de tal forma, você está em todo lugar, que, quando estou perto de você, me perco completamente. Não consigo respirar, nem pensar, nem fazer nada sozinha. Eu só preciso de um pouco de tempo para processar tudo isso… – Olho em volta antes de me virar para ele. – Tempo para tentar assimilar por que parecemos tão destruídos… – Não, Ry, não – ele insiste. A aspereza da sua voz chega a falhar. Ele leva as mãos para o alto a fim de envolver as laterais do meu rosto ao mesmo tempo em que dobra os joelhos para nos colocar a centímetros de distância, olho no olho, polegares acariciando a linha da minha mandíbula. – Não estamos destruídos, linda… só estamos abatidos. E não tem problema. Significa que estamos refletindo e assimilando as coisas. Sinto como se meu coração estivesse prestes a explodir no meu peito ao ouvi-lo recitar as minhas palavras – a letra da música que um dia eu falei para ele – de volta para mim. Dói tanto. Seu olhar. A simplicidade grotesca da explicação. A convicção suplicante em sua voz. A ironia sutil de que a pessoa que “nunca se envolve” está me dando conselho sobre como resolver um relacionamento. O nosso. Apenas balanço a cabeça de um lado para o outro. Minha boca se abre para falar, mas se fecha de novo e apenas sente o gosto salgado das lágrimas quando não consigo encontrar as palavras para responde-lhe. Ele ainda está curvado, olhos na altura dos meus. – Tenho tanta coisa pra te explicar. Tanto que eu preciso dizer… tanto que eu deveria já ter falado. – Ele solta um suspiro desesperado. Colton coloca as duas mãos na nuca, cotovelos dobrados, e dá alguns passos de um lado para o outro. Meus olhos o
seguem e, na quarta passada diante de mim, ele me agarra sem preâmbulo e cola a boca na minha com força, ferindo meus lábios num beijo que transborda desespero. E, antes que eu possa recuperar o apoio dos pés, ele afasta os lábios dos meus, me segurando ainda pelos ombros, olhos fixos nos meus. – Vou te deixar ir embora, Rylee. Vou te deixar caminhar para fora da minha vida se for isso que você quiser. Mesmo que isso acabe comigo, porra. Mas eu preciso que você me ouça primeiro. Por favor, volta pro quarto para que eu precise te dizer as coisas que você precisa ouvir. Respiro fundo, encarando seus olhos a centímetros dos meus e implorando por alguma migalha de esperança. A rejeição está na ponta da língua, mas nem pela minha vida eu consigo fazê-la deixar meus lábios. Arrasto os olhos para longe dos seus e engulo em seco. Minha aceitação é apenas um movimento de cabeça.
O quarto está no escuro, a não ser pela luz do luar. No espaço entre nós e a cama, eu vejo a sombra recortada de Colton. Ele está de lado, cabeça apoiada no cotovelo dobrado, me encarando. Ficamos assim em silêncio por um instante – ele me encarando, eu encarando o teto – e ambos tentando processar o que cada um está pensando. Colton estende o braço, hesitante, e pega minha mão na sua. Um leve sussurro escapa de seus lábios. Só posso pensar em engolir e manter meus olhos fixos nas lâminas do ventilador de teto, girando sem parar. – Por quê? – Minha voz sai esganiçada quando falo pela primeira vez desde que voltamos para o quarto, fazendo a mesma pergunta que ele me fez. – Por que você me disse que tinha dormido com a Tawny? – Eu… não sei. – Ele suspira, frustrado, e passa a mão pelo cabelo. – Talvez porque era o que você pensava de mim. Era o que já esperava sem nem me deixar explicar. Então talvez eu quisesse te fazer sofrer tanto quanto eu estava sofrendo quando você me acusou de ter feito aquilo. E você estava tão certa de que eu tinha dormido com ela. Tão segura que eu tinha usado a Tawny para substituir você, que nem sequer quis me dar ouvidos. Você me manteve de fora.
Você fugiu, e eu nunca tive chance de explicar aquela porra daquela manhã para você. Você não me deixava… então uma parte de mim achou que poderia te dar exatamente a afirmação de que você precisava para pensar em mim como o filho da puta que eu sou na realidade. Continuo em silêncio, tentando processar sua linha de raciocínio, entendendo e ao mesmo tempo não entendendo nada. – Agora estou ouvindo – sussurro, sabendo muito bem que preciso ouvir a verdade. Preciso que tudo seja posto na mesa para que eu descubra o que vou fazer daqui em diante. – Eu não sabia o quanto me sentia sozinho, Rylee – ele começa, com um suspiro trêmulo e, pela primeira vez, percebo o quanto ele está nervoso. – Como eu havia me isolado e mantido solitário ao longo dos anos, até que você tivesse ido embora. Até eu não poder atender o telefone, ou ligar para você, ou falar com você, ou te ver… – Mas você podia, Colton – respondo. Minha voz transparece a confusão que sinto. – Você fugiu de mim… não foi o contrário. Fui eu que fiquei sentada esperando você ligar. Como você pôde pensar diferente? – Eu sei – ele responde baixinho. – Eu sei… mas o que você me disse, aquelas três palavras, elas me transformam em alguém que eu nunca vou me permitir ser novamente. Traz coisas… lembranças, demônios, coisa pra caralho… E não importa quanto tempo tenha passado, eu só… – sua voz some. Ele não consegue verbalizar o que as palavras “eu te amo” fazem com ele. – O quê? Por quê? – De que diabos ele está falando? Quero gritar para ele, mas sei que preciso ter paciência. Olha só onde minha obstinação nos levou até agora. Verbalização não é o ponto forte de Colton. Preciso ficar na minha, em silêncio. – Ry, aqui vai a explicação: quando eu era criança, essas palavras eram usadas como manipulação… como uma forma de ferir… – Ele luta com as palavras para que eu possa entendê-lo melhor. Compreender o veneno que ele diz que macula sua alma. Mas me contenho. Ele me olha e tenta sorrir, mas fracassa terrivelmente, e eu odeio que esta conversa tenha lhe roubado o sorriso radiante. – … São coisas demais para eu entrar em detalhes agora e provavelmente mais do que eu vou conseguir explicar na vida. – Ele solta o ar numa
lufada longa e trêmula. – Isto, falar aqui agora, é mais do que eu já fiz… então estou tentando, tá? – Seus olhos me suplicam nas sombras da escuridão, e eu apenas faço que sim para ele continuar. – Você disse aquelas palavras para mim… e eu imediatamente me tornei aquele garotinho que estava morrendo, querendo estar morto, sofrendo por dentro tudo de novo. E, quando eu sinto aquela dor, costumo me voltar para as mulheres. Prazer para enterrar a dor… – Minha mão livre agarra o lençol ao meu lado, em solidariedade pelo garotinho que sentia tanta dor que preferia morrer e pelo homem ao meu lado, que eu amo, tão assombrado por essas memórias e pelo que eu temo que vá ser dito por seus lábios em seguida. Sua confissão. – Normalmente – ele sussurra –, mas desta vez, depois de você, deixou de ter apelo. Quando o pensamento cruzava a minha mente, era o seu rosto que eu via. Sua risada que eu sentia falta. Era pelo seu gosto que eu ansiava. E de ninguém mais. – Ele se coloca de costas, mantém os dedos ainda entrelaçados com os meus. Sinto uma perto no coração por suas palavras. – Em vez disso, eu bebia. Um monte. – Ele ri baixinho. – No dia antes de… tudo acontecer… A Q passou na minha casa e me deu um sermão completo. Ela mandou eu me lavar. Mandou eu encontrar alguns amigos que não fossem Jim Beam e Jack Daniel’s para me fazer companhia. O Becks apareceu uma hora depois. Eu sei que ela ligou pra ele. Ele não perguntou qual era o problema, porque o coração dele é bom demais, mas ele sabia que eu precisava de companhia. “Ele me levou para surfar por algumas horas. Me disse que eu precisava clarear as ideias de fosse lá o que estivesse fodendo com tudo. Ele deve ter concluído que tinha alguma coisa a ver com você, mas ele nunca se intrometeu para perguntar. Depois de termos surfado um pouco, eu disse que eu precisava sair, passar em alguns bares, alguma coisa para me entorpecer. – Ele esfrega o polegar de leve de um lado para o outro sobre nossas mãos unidas, e eu me viro de lado para que agora seja eu a observá-lo olhar para o teto. – Foi o que fizemos e, nesse meio-tempo, a Tawny me ligou dizendo que tinha uns documentos que eu precisava assinar, já que eu não passava no escritório fazia dias. Eu disse a ela onde a gente estava e ela foi. Assinei os documentos e, no instante seguinte, algumas horas tinham se passado e nós três estávamos chapados. Acesos como
você nem imaginaria. Estávamos perto da casa de Palisades, então pedi ao Sammy para nos levar até lá. Pensei em buscarmos os carros pela manhã. – Entramos pela porta da frente, e eu não ia até lá desde a noite que passei com você. A Grace tinha estado lá, é claro, a camiseta que eu havia jogado no sofá antes que a gente… – Sua voz some nas lembranças. – Estava dobrada direitinho no encosto do sofá para eu ver no instante em que entrasse na casa. Minha primeira recordação. Quando entrei na cozinha, ela havia pegado o algodão doce e guardado num pote sobre o balcão. Eu não conseguia fugir de você, nem mesmo bêbado eu conseguia fugir de você. Então eu bebi mais. Tawny e Beckett me acompanharam. Ela estava desconfortável nas roupas que estava usando, então eu peguei uma camiseta para ela ficar mais confortável. Estávamos todos sentados na sala. Bebendo mais. Eu estava tentando qualquer coisa para afogar o quanto eu precisava de você. Não me lembro da exata sequência de eventos, mas em dado momento, eu me estiquei para pegar a cerveja e Tawny me beijou…” As palavras ficam suspensas no quarto escuro como um peso amarrado no meu peito. Ranjo os dentes só de pensar, embora eu agradeça a honestidade por ele me contar. Estou começando a pensar que talvez eu precisava ouvir a história toda. Que neste caso a verdade pode não ser a melhor política. – Você retribuiu? – A pergunta sai da minha boca antes que eu possa segurá-la. Sinto seus dedos ficarem tensos por um instante ao redor dos meus, e eu sei a resposta. Aperto o lábio entre os dentes temendo ouvir a confirmação da sua boca. Ele suspira de novo e eu o ouço engolir ruidosamente no silêncio do quarto. – Sim… – ele pigarreia – …no começo. – Depois ele silencia por instantes. – Sim, eu beijei a Tawny, Rylee. Estava sofrendo tanto e a bebida não estava ajudando mais… então, quando ela me beijou, eu tentei meu velho método. – Sugo o ar com força e tento puxar a mão que ele está segurando, mas Colton se mantém firme. Ele não me permite me afastar dele. – Mas, pela primeira vez, eu não consegui. – Ele se vira de lado de novo e, embora a escuridão do quarto não nos permita ver um ao outro completamente, eu sei que ele está olhando
fixo nos meus olhos. Ele estende a mão livre e passa o dorso dos dedos no meu rosto. – Ela não era você – ele conclui baixinho. – Depois de você, não consigo mais nada casual, Rylee. Fungo as lágrimas que ameaçam no fundo da minha garganta, e não sei se são resultado do fato de que ele, realmente tentou começar alguma coisa com ela, ou se por causa dos motivos que ele apontou para não conseguir. – Eu te disse que eu te amo, Colton, e você fugiu. E, para todos os efeitos, para os braços de outra mulher – acuso. – Uma mulher que me ofendeu e me ameaçou em relação a você. – Eu sei… – Quem garante que você não vai fazer de novo, Colton? E quem garante que da próxima vez que você se assustar você não fazer a mesma coisa, droga? – Um silêncio cai ao nosso redor e entre nós, serpenteando para as dúvidas da minha cabeça. – Não posso… – Sussurro como se falar em tom normal fosse insuportável por causa das palavras que estou prestes a proferir. – Não sei se consigo fazer isso, Colton. Acho que não consigo mais acreditar… Colton se mexe de repente na cama e se senta, pegando minhas duas mãos nas suas. Eu viro de costas. – Por favor, Rylee… não decida agora… ouve o resto primeiro, tá? – Ouço o desespero na voz dele. Fico devastada, pois sei exatamente como é ter o desespero na voz. É o mesmo tom de voz que eu tinha logo antes de falar que eu o amava. Ficamos assim, as mãos dele segurando as minhas. Nossa única conexão, além do tato, é que ele é o único ar que meu corpo pode respirar. Sinto a tensão irradiar dele, que tenta transformar os pensamentos agitados na cabeça em palavras. – Como posso explicar? – ele pergunta ao quarto vazio, exalando o ar com força antes de começar. – Quando a gente corre, a velocidade é tão alta que tudo fora do carro, as laterais da pista, o público, o céu, tudo vira um grande e esticado borrão. Não dá para identificar nada específico. Sou eu no carro, sozinho, e tudo do lado de fora da minha pequena bolha é parte do borrão. – Ele para por um momento, aperta minhas mãos para conter o nervosismo que faz as suas tremerem, tentando recuperar o fio da meada e tentar explicar melhor. – É meio
como quando a gente é criança e fica girando em círculos… tudo na nossa linha de visão se torna uma imagem contínua e toda borrada. Faz sentido? Sou incapaz de encontrar minha voz para responder. Sua ansiedade se mistura com a minha. – Faz – consigo dizer. – Até agora eu vivi minha vida num estado de borrão, Rylee. Nada é nítido. Nunca paro por tempo o suficiente para prestar atenção aos detalhes, pois, se eu parar, tudo: meu passado, meus erros, minhas emoções, meus demônios, vão me alcançar. Vão me aleijar. É sempre mais fácil viver nesse borrão do que parar, porque, se eu parar, vou acabar sentindo alguma coisa. Posso ter que me abrir para as coisas que eu sempre impedi que chegassem a mim. Coisas intrincadas em mim por causa das merdas que me aconteceram quando eu era criança. Merdas de que eu não quero me lembrar nunca mais, mas lembro constantemente. Ele solta uma das minhas mãos e a passa pelo rosto dele. A aspereza da barba por fazer em contato com a minha mão faz um ruído bem-vindo, um ruído que me conforta. – Meu passado sempre está aqui, sempre nas margens da minha memória. Sempre ameaçando a me dominar. A me arrastar e me afogar. – Ouço a emoção embargar sua voz. Por impulso, pego sua mão de novo. Aperto, um sinal silencioso de apoio pelo inferno que há dentro de sua cabeça. – Viver dentro desse borrão é como viver em uma bolha. Me permite controlar minha velocidade… diminuir se preciso descansar um pouco, mas nunca parar realmente. Eu sempre estive no banco do motorista… sempre no controle. Sempre podendo acelerar mais, forçar os limites, quando as coisas ficam próximas demais… – E depois eu te conheci… – A perplexidade na sua voz é crua e sincera, e cala tão fundo em mim que me faz sentar e cruzar as pernas com os joelhos pressionando os dele. Suas mãos encontram as minhas de novo e apertam-nas com força. – Na noite em que eu te conheci foi como um rojão disparado do meio daquele borrão de cores e que explode em cima de mim. Tão forte e lindo… e tão hostil… – Ele ri. – Que eu não conseguia desviar o olhar nem que eu tentasse. Foi como se a vida pisasse nos meus freios e eu nunca
tivesse tocado o pedal. Fui imediatamente atraído para você, para sua atitude, para a forma como você me rejeitou, para seu gênio espirituoso… para seu corpo incrível. – Sinto Colton dar de ombros como quem pede desculpas nesse último comentário, e não consigo evitar o sorriso que curva meus lábios e nem a esperança que começa a brotar na minha alma. – …A tudo o que diz respeito a você. Naquela primeira noite você foi como uma centelha de cor sólida para mim, em um mundo que sempre foi uma confusão borrada de cores. Palavras escapam de mim, enquanto tento processar o que ele está me dizendo. Bem quando tomei minha decisão por um lado, ele diz algo tão intenso e dolorosamente lindo que eu sinto meu coração se encher de amor por ele. Colton aceita meu silêncio e pega meu rosto entre suas mãos antes de continuar. A ternura em seu toque traz lágrimas aos meus olhos. – Aquela primeira noite você criou uma centelha, Rylee, e todos os dias desde então, você me proporcionou a força para desacelerar por tempo suficiente para ver através do borrão que sempre temi. Mesmo quando eu não quero, sua força silenciosa, saber que você está presente, me força a ser uma pessoa melhor. Um homem melhor. Desde que você entrou na minha vida, as coisas enfim têm definição, cores específicas… não sei… – Ouço seu conflito, seu esforço, e viro o rosto para a palma da sua mão e a beijo de leve. Ele suspira… – Não sei como explicar, mas sei que não posso voltar a como eu existia antes. Preciso de você na minha vida, Rylee. Preciso que você me ajude a continuar vendo a cor. A desacelerar as coisas. A me permitir sentir. Preciso que você seja minha centelha… Ele se inclina e roça os lábios tão de leve, com tanta ternura contra os meus. – Por favor, seja minha centelha, Ry… – ele implora com um leve beijo na minha boca. Pressiono os lábios nos seus, pedindo para o beijo se aprofundar, deslizando a língua para dentro da sua boca, porque as palavras e os pensamentos na minha cabeça e no meu coração são tão confusos que eu tenho medo de falar. Medo de que neste momento da revelação, se eu colocar para fora o que está prestes a transbordar do meu coração, vou deixá-lo profundamente sobrecarregado. Em vez disso, derramo tudo no meu beijo. Ele me puxa para si e me
embala no seu colo, venerando minha boca do jeito que ele sabe como fazer. A reverência com a qual ele sussurra meu nome entre os beijos faz uma lágrima escorrer pela minha face. – Posso não poder te dizer as coisas que você precisa ouvir com as palavras tradicionais com as quais você precisa que sejam ditas, mas eu juro por Deus, Rylee, vou tentar. E, se não puder, eu vou te mostrar. Vou te mostrar com tudo o que eu tenho, com o que for necessário, onde é o seu lugar na minha vida – ele murmura para mim, estilhaçando cada resquício de proteção que tenho protegendo meu coração. Ele roubou tudo. E eu, mais do que disposta, lhe entreguei. Ele envolve os braços ao meu redor e enterra o rosto no meu pescoço, abraçando-me apertado por um longo tempo. Minha mente pensa nas sensações e emoções e deixa para fora toda a sensatez, de modo que eu possa simplesmente desfrutar esse lado desprotegido de Colton que é tão raro. Inspiro o cheiro da nossa união. Sinto a batida de seu coração no meu peito. O calor do seu hálito no meu pescoço. A força dos seus braços, que me apertam forte. A aspereza da barba sobre minha pele exposta. O conforto que sua presença me traz com a mera proximidade. Tantas coisas para absorver, empacotar para um outro dia e poder me lembrar quando eu mais precisar. Porque eu sei que estar com Colton, ficar com Colton, amar Colton, garante que eu vou precisar dessas memórias no momento mais aleatório para me ajudar a atravessar as provações que eu sei que inevitavelmente virão. – Estou me afogando aqui. Seu silêncio está me matando. Você pode dizer alguma coisa? Jogar uma tábua de salvação para eu poder me segurar, por favor? – ele diz, e o comentário me faz pensar nas palavras de Beckett a caminho de Vegas e hoje mais cedo. – Vamos – sussurro ao passar as mãos por sua coluna, para cima e para baixo. Ele me abraça mais forte e se aconchega mais na lateral do meu pescoço. – Você tem um longo dia amanhã. Está tarde. Você precisa dormir um pouco. Sua cabeça se levanta bruscamente e, em nossa proximidade, eu vejo o verde cristalino de seus olhos – a tomada de consciência, o
choque absoluto, a aceitação – das minhas palavras não ditas. – Você não vai embora? – ele pergunta dolorosamente. – Você vai ficar? Pego a lágrima que quase escapa da minha garganta com suas palavras. Que eu pense que ele é digno. Suas mãos percorrem meu rosto e descem pela curva do meu ombro e sobem de novo. Tocam para garantir que eu estou mesmo diante dele – em carne e osso, aceitando-o. Aceitando a jornada que ele quer tentar trilhar comigo. – Não, Colton. Não vou a lugar nenhum – consigo dizer assim que a queimação na minha garganta se dissipa. Ele segura minha cabeça com as duas mãos e se aproxima para pressionar um suspiro de beijo nos meus lábios antes de me envolver com os braços e me puxar com força para junto de si. – Não quero que você vá embora ainda – ele murmura na minha têmpora. – Acho que nunca vou querer. – Não precisa – digo a ele com a voz muito baixa, deitando-me na cama e puxando-o comigo. Ele se mexe de forma que nós dois ficamos de lado, corpos pressionados, braços envolvidos um no outro, e meu rosto agora aconchegado no seu pescoço. Ficamos em silêncio por algum tempo, o silêncio ao nosso redor já não é mais tão solitário. Colton suspira num leve ruído de contentamento e depois murmura: – Um encontro do acaso. – Planta um beijo no topo da minha cabeça e pigarreia para falar: – Não sei o que significava antes de mim, mas para mim, agora, significa um encontro do acaso. Um que mudou minha vida. Eu me aconchego pertinho dele e sopro um beijo suave no meu ponto favorito abaixo de sua mandíbula. Meu coração transborda de amor, e minha alma cheia de felicidade. Depois de algum tempo apenas absorvendo um ao outro em nosso recém-descoberto novo equilíbrio, sua respiração fica mais lenta e depois se torna constante. Fico sentada algum tempo, apenas sentindo seu aroma, sentindo seu calor, e meu coração se aloja na garganta quando me dou conta de que eu não tinha poder na tomada de decisão. Ela já tinha sido tomada por mim no dia em que eu caí daquela droga de armário e aterrissei na vida dele. Viro de lado para observá-lo. Meu peito dói fisicamente enquanto
eu fico olhando o homem lindo que ele é por dentro e por fora. Parece tão em paz em seu sono. Como se pudesse finalmente descansar de fugir dos demônios que o perseguem com tanta frequência quando ele está acordado. Tanto como o anjo sombrio que eu imagino que ele seja, irrompendo da escuridão inescapável para se aferrar à luz. Sua centelha de luz.
Quarenta
COLTON
Pela primeira vez em um mês, o motim na minha mente está quieto durante meu sono. Pesadelos não existem. Os eventos da noite passada perpassam minha cabeça no momento em que a manhã me tira do sono. Isso e a sensação do peso de Rylee ajeitado em mim. Solto um gemido involuntário quando ela afunda, sentada com uma perna de cada lado do meu corpo. O calor de sua boceta me provoca um esforço para ser libertado dos lençóis que ela amarrou no meu corpo. Isso sim que é uma doce tortura. Caralho, se não é a melhor forma de ser despertado? Dedos percorrem meu abdome muito de leve, circundam meus mamilos e depois trilham até o osso do meu quadril. – Bom dia – ela sussurra naquela sua voz sensual, e depois me dá um beijo leve nos lábios. Seus dedos continuam a provocar minha pele. A me tentar com a droga do meu vício. Minha resposta é um grunhido. Abro os olhos com dificuldade e encontro uma das visões mais incríveis que já vi: peitos – os peitos da Rylee, para ser exato –, cheios e empinados, com mamilos cor-derosa endurecidos de tesão na minha linha de visão. Levo um momento para admirar a maior criação de Deus, antes de arrastar meus olhos dali e fazê-los percorrer sua pele beijada pelo sol e encontrar seus olhos. Aqueles olhos.
Os olhos que me mantiveram refém e no controle de partes de mim que eu nem sabia que existiam desde aquele primeiro momento em que me viram em meio à massa de cabelos cacheados no rosto. – Bom dia – ela diz outra vez. Seus olhos sonolentos prendem os meus, e um sorriso preguiçoso repuxa os cantinhos de sua boca. Sinto como se meu coração batesse pela primeira vez. Ela é real e está aqui. Sou inundado por uma sensação de alívio. Hoje pode ser a primeira corrida da temporada, mas acordar com ela, aqui comigo depois de todas as merdas das semanas anteriores? Caralho, já sou vencedor. Arqueio uma sobrancelha para ela sentindo seus dedos descerem ainda mais em mim. Meu pau já pulsa em resposta ao seu toque. – É bom mesmo – resmungo, precisando que minha mente acompanhe meu corpo, que já está acelerado e querendo entrar em ação. – Qualquer situação em que eu possa acordar com uma visão dessas é, mesmo, um dia bom pra caralho. – Não contenho o sorriso que aparece no meu rosto. Porra, ela é maravilhosa. E minha. Sério? Que diabos eu fiz para merecê-la? O inferno só pode ter congelado. – Bom – diz ela, arrastando a palavra como se ronronasse. – Parece que temos um dilema aqui… – Dilema? – É, parece que eu estou com roupa de menos e você, Senhor Donavan, parece estar vestido demais. Balanço a sobrancelha para ela. Agora todos os meus sistemas já estão em pleno funcionamento, e mais do que prontos para a ação. – Acho que você está maravilhosa. – Eu me mexo um pouco e arrumo o travesseiro mais para cima para não perder de jeito nenhum um só detalhe da visão que tenho diante dos olhos. – Mas você acha que eu estou vestido demais, hein? – Sem a menor dúvida – diz ela – e eu acho que é hora de resolver esse problema. – Ela muda o peso do corpo. Sinto seus dedos percorrerem meus quadris no movimento que ela faz para puxar o lençol para baixo. Cacete, ela está me provocando. Meu pau se liberta do confinamento do lençol e anseia pelo toque dela. Para ser enterrado naquele calor doce que ela tem. Observo-a olhar para o
meu pau e lamber os beiços. Preciso de todas as minhas forças para não prendê-la na cama e tomar o que essa boca está insinuando. – Ah, não tenho dúvida de que é um problema. – Ela sorri e ergue os olhos para encontrar os meus. Há desejo e travessura dançando debaixo de seus cílios. – E como você sugere que a gente resolva? – pergunto, gostando do papel de tentadora que ela está encenando, mesmo que minhas bolas estejam implorando desesperadamente pelo alívio. Ela agarra meu pau com as duas mãos. Pooorrrrrrraaaaa, que delícia. Deito a cabeça para trás e mergulho na sensação de seus dedos ao redor da minha pele torturada. Ela bombeia com movimentos lentos e regulares que são bons pra caralho. Preciso de todas as minhas forças para não agarrar as mãos dela para as fazer se mover mais depressa. A bombear mais forte. Quando o assunto é a Rylee, posso até implorar. – Bom, é dia de corrida, então não posso deixar meu homem sair para as pistas sem resolver esse pequeno problema aqui. Abro os olhos de repente e capto o arco de sua sobrancelha e o sorriso irônico dos seus lábios. – Ah, linda, não tem nada de pequeno aqui. Ela se move para a frente. A mão continua no meu pau, mas os peitos estão bem diante da minha cara quando ela se aproxima do meu rosto. – Não tem? – Ela inclina a cabeça e me vê boquiaberto diante dos esforços de seus dedos habilidosos para cima e para baixo pelo meu pau. Tudo o que posso fazer é morder o lábio em resposta e negar com a cabeça assim que ela começa a destinar atenção especial à glande. Falar no momento não é uma opção. – Acho que vou ter que descobrir sozinha. Não acha? Fico olhando para ela. Absorvo toda a imagem dela ajoelhada junto de mim – bochechas coradas, olhos dançarinos, boca tentadora – e não consigo acreditar que, depois de eu ter fodido com tudo, ela ainda está aqui. Ainda está lutando por nós. Minha maldita santa. Uma resposta está nos meus lábios – e, porra nem me lembro mais do que era, porque sai voando da minha mente no minuto em que ela afunda no meu pau. Calor molhado. O prazer me inunda no instante em que sinto a
firmeza aveludada da boceta ao redor de mim. Fico tenso desde a base da coluna até o topo do saco num êxtase fenomenal de revirar os olhos. – Deus do céu! – digo gemendo assim que ela se senta inteira em mim e para se ajustar à minha invasão. – Não, Deus, não – ela murmura, inclinada para a frente, e passa a língua entre meus lábios para acrescentar ao tormento prazeroso. – Mas posso te levar ao paraíso – ela sussurra sobre meus lábios. Só então ela começa a se mover. Para cima e para baixo. O calor escorregadio e molhado sofre espasmos ao redor do meu pau a cada subida e descida. Pele na pele. A dela na minha. Tão maravilhoso. Caralho, Rylee. Meu vodu de boceta. Merda. Preciso me corrigir. Agora isso – a boceta de vodu da Rylee – é a maior criação de Deus. De todas. E, puta que pariu, se a Rylee não estava certa. Ela é o paraíso mesmo.
Enfio as pernas no jeans de ontem, sabendo que preciso me apressar. Estou empolgado para o dia que tenho pela frente – para o caos organizado e o ronco do motor ao meu comando – mas ainda não estou pronto para dividir Rylee com ninguém. Não estou pronto para estourar esta bolha ao nosso redor e entrar de volta no borrão. Olho para ela, que enfia os braços pela camiseta, e balanço a cabeça. Que pena desgraçada cobrir aqueles peitos perfeitos. Mas tenho que admitir, meio que gosto da ideia de uma camiseta com o meu nome gravado na frente e pressionado a eles. Declarando posse. Uma batida acentuada ressoa na porta e, antes que qualquer um de nós possa atender, a porta é escancarada. – Vocês dois estão vestidos? Beckett entra, vestido no macacão antichamas, mas as mangas estão amarradas ao redor da cintura. – E se a gente não estivesse? – pergunto, meio ofendido. E se a Ry
ainda não estivesse de roupa? Ou pior, deitada embaixo de mim, pelada e gemendo. Não foi nada legal, porra. Não que Becks e eu não tivéssemos ficado bêbados no mesmo quarto comendo mulheres antes, mas, porra, é da Rylee que estamos falando agora. Da minha centelha. – E como você entrou aqui, caralho? – pergunto e ele sabe que estou puto com a intromissão. E claro, sendo Becks, ele exibe um sorrisinho maroto para me deixar claro que ele está testando as águas. Que ele está me provocando para ver em que pé eu e ela estamos. Beckett olha entre Rylee e mim algumas vezes antes de jogar o cartão da porta na cama. – De ontem à noite – ele diz à guisa de explicação para seu acesso ao quarto. – Vocês dois estão bem agora? – Ele olha para Rylee fixo por um instante mínimo, e eu vejo que está procurando algo no rosto dela para garantir que ela esteja mesmo bem. Que resolvemos essa merda. Caralho, Becks. Ele pode ser um filho da puta, mas é o melhor escudeiro que um cara poderia ter na vida. – Sim, a gente está – ela responde, e o sorrisinho que ela abre para ele me faz negar com a cabeça. Tem jeito de ela ser mais perfeita? – Acho bom – ele declara e me olha com um sorriso do gato que comeu o canário. Seus olhos me dizem que já estava mais do que na hora, porra. – Não deixem isso acontecer de novo. Apenas balanço a cabeça para ele, me levanto da cama e começo a abotoar o jeans. Lanço um olhar para Rylee e noto que seus olhos estão fixos nos meus dedos, na altura das linhas rígidas do meu abdome. O olhar dela me faz querer trancar Beckett para fora e arrastar Rylee para o chão – ou jogá-la na parede – não sou exigente, e para falar a verdade não fico escolhendo – até ter minha dose dela. Mas, para falar a verdade, pode ser que isso demore pra caramba. Não acho que algum dia vou enjoar dela. – Não temos tempo para isso, garoto apaixonado. – Becks dá uma risada debochada ao ver o olhar que Ry e eu trocamos. Estou com vontade de mandá-lo se foder e sumir da minha frente para que eu possa prová-la uma vez mais antes da corrida. Ainda mais quando olho para ela e vejo as bochechas rosadas por ter sido pega pensando sacanagem. – Vocês têm quinze minutos antes de a gente ir embora.
Aproveitem ao máximo. – Ele dá uma piscadinha para Rylee e eu sei que agora ela está morrendo de vergonha. Ah, mas tenho planos pra caralho.
O ar vibra de expectativa ao meu redor à medida que nos encaminhamos para os boxes. Os caras estão verificando e garantindo que tudo esteja em ordem e pronto para a bandeira verde, mas vamos falar a verdade: estão apenas mantendo as mãos ocupadas para esconder o nervosismo. E caramba, como eu adoro que minha equipe fique nervosa antes de uma corrida. Isso me demonstra que eles se importam com ela tanto quanto eu. Eu deveria estar nervoso, mas não estou. Olho para Rylee ao meu lado e aperto seus dedos entrelaçados nos meus. Ela é a razão por eu não estar. Caramba, Rylee… o bálsamo que acalma todos os meus problemas: nervosismo, pesadelos, almas destruídas e corações convalescentes. Minha superstição número um: tê-la ao meu lado. Ela sorri para mim. Seus olhos estão escondidos por trás dos óculos de sol, e o mais sexy dos sorrisos ocupa seus lábios. Por força do hábito, vou até onde o carro está estacionado, na frente do meu boxe, e bato os nós dos dedos sobre o capô quatro vezes. Superstição número dois. Rylee olha para mim e arqueia uma sobrancelha. Eu apenas dou de ombros em resposta. Superstições são umas coisas idiotas, mas, ei!, elas funcionam. – Por que o número treze? Ela está se referindo ao número no meu carro. Meu azarado número da sorte. – É o meu número da sorte – digo a ela ao acenar para Smitty, que está passando. – Nada convencional. – Ela sorri para mim, empurrando os óculos para cima dos cabelos e inclinando a cabeça de lado, olhos firmes nos meus. – Você esperaria menos de mim? – Não. Previsibilidade não combina com você. – Ela balança a cabeça e põe o lábio inferior entre os dentes. Caralho, que sexy. –
Por que treze? – Eu já desafiei muitas probabilidades até agora na minha vida. – Encosto no carro atrás de mim. – Eu não acho que um número vá mudar a minha sorte agora. – E é o dia em que meu pai me encontrou. O pensamento inesperadamente passa pela minha cabeça, mas não falo em voz alta – apenas penso – sem querer estragar o momento. Dou um puxão na mão dela e trago para junto de mim, precisando senti-la. O bálsamo para minha alma dolorida. Ela pousa solidamente contra mim, e eu juro que mais do que nossos corpos têm um solavanco. A porra do meu coração faz o mesmo. Ele sacode, tropeça, cai, dá cambalhota, despenca em queda livre – não, não é isso – ele despenca naquela porra de sentimento estranho que pulsa no meu corpo. Eu me inclino para baixo, precisando provar o gosto dela. Aproximo os lábios dos dela e me deleito com sua doçura. O movimento da língua. O gosto de seus lábios. O aroma do seu perfume. O gemido tranquilo que ela suspira em mim. Reivindicando meu coração. Meu Deus. A mulher é minha maldita kriptonita. Como foi que isso aconteceu? Como eu fui parar na mão dela? Mais importante e chocante pra diabo, eu quero estar na mão dela. Cada pedaço de mim. Game over, linda. Ela é minha maldita bandeira quadriculada.
Quarenta e um
– Não ganho meu beijo de boa-sorte? – Colton me olha sorrindo e puxa sua camiseta da sorte pela cabeça e a joga no sofá atrás de mim. Meu Deus. O cara sabe como tirar meu fôlego. Ele fica parado na minha frente, com aquele sorriso arrogante e pecaminoso bem largo no rosto. Seus olhos refletem todas as sacanagens que ele adoraria fazer comigo agora. E os pensamentos são recíprocos. – Beijo de boa-sorte? Ou alguma outra coisa… – Deixo as palavras no ar. Arqueio as sobrancelhas para ele. Meus olhos lambem a pele bronzeada e as linhas definidas do torso nu, mas param nesses lábios devastadores. Pouso o olhar nas faíscas verdes que, com divertimento e apreciação, me veem observá-lo. Ele arqueia a sobrancelha e desamarra as mangas do macacão antichamas, que estavam ao redor da cintura. – O que de boa sorte? – ele provoca, dando um passo em minha direção e se inclinando para apoiar os braços na cadeira, um de cada lado do meu corpo. Olho para ele e sinto que estamos a milhares de quilômetros de onde estávamos há vinte e quatro horas. Sinto que foi um pesadelo muito ruim, mas fico estranhamente feliz que não tenha sido. Há alguma coisa entre nós agora, uma tranquilidade, um contentamento, eu acho, que nos mostrou que podemos superar. Que podemos lutar e amar e detestar, mas, no fim, podemos nos encontrar novamente. Podemos usar o prazer do outro para enterrar a nossa dor. – Não sei… nunca fiz esse negócio de corrida antes… – Dou um risinho e cedo à tentação, tomando agora o que realmente me
pertence, e subo os dedos pelo seu peito e chego até a mandíbula até que encontrem o caminho até o cabelo dele. Ele baixa a cabeça e captura minha boca numa exploração langorosa da sua língua na minha. O deslizar dos meus dedos sobre sua pele. O gemido de aprovação no fundo de sua garganta. Meu suspiro suave que ele inspira ao aprofundar o beijo. Ele demonstra o que sente por mim com uma urgência subjacente e completa veneração. A batida na porta do trailer faz eu me afastar de Colton com um solavanco, e Colton soltar um de seus xingamentos preferidos, ao olhar para ver o que é. Olho para ele e permito que as emoções fluam no meu corpo, deem as boas-vindas ao seu estado ainda onírico. Meu bad boy dolorosamente lindo está diante de mim. É meu de verdade. – Hora do show? – pergunto num suspiro. – Hora da bandeira quadriculada, querida. – Ele sorri e dá um último beijo casto nos meus lábios. Agarro-o de surpresa pela nuca e deslizo a língua dentro de seus lábios a meu bel-prazer. Tudo o que eu precisei e quis e de que tive tanto medo de pedir nos últimos meses. E, embora eu o pegue de surpresa, ele cede sem se opor, sem questionar. Termino o beijo e recuo um pouquinho para olhar nos seus olhos, dizendo-lhe sem palavras o quanto ele acabou de me dar. Um sorriso assombra os lábios dele, aquela covinha solitária que eu amo se pronuncia, e ele apenas balança a cabeça de um lado para o outro, tentando compreender o que eu estou querendo transmitir. – Hora da bandeira quadriculada, querido. – Sorrio para ele e me levanto da cadeira. Ele estende a mão atrás do corpo e puxa uma nova camiseta, de patrocínio, para usar debaixo do macacão antichamas agora que a camiseta da sorte já foi usada pelo tempo destinado às superstições. Lanço um olhar para o relógio. De imediato sou invadida pelo nervosismo, ao me dar conta de que falta pouco tempo para o ronco dos motores. Colton, por outro lado, parece muito calmo e controlado. – Não se preocupe – diz ele, e eu balanço a cabeça de um lado para o outro, tentando me trazer para o aqui e o agora, sem perceber que eu havia posto a mão para conter o frio na barriga. – Vou sentir a mesma coisa no minuto em que eu sair do trailer. – Ele aponta para a
minha barriga e faz um sinal com a cabeça na direção da porta, instantes antes de colocar o boné. O boné da sorte. E eu sorrio de leve percebendo que é o mesmo boné que ele usou no nosso encontro no parque de diversões. O Senhor Todo-Seguro-de-Si usou o boné da sorte no nosso primeiro encontro oficial. Como se meu coração ainda pudesse se encher um pouco mais. – Está pronta? – ele pergunta, ao caminhar até a porta e estender a mão para mim. Faço que sim. Antes de ele cruzar a porta, faço minha revelação. – Ei, Ace? – Colton para com a porta entreaberta e olha para mim com curiosidade. Hora de eu mostrar a ele o que o aguarda na linha de chegada. Encontrei uma calcinha mínima, xadrez de preto e branco, com um bordado na bunda que diz “Acelerada e pronta”, em uma loja de novidades antes de sair de casa. Com o estado que as coisas entre mim e Colton andavam, nem por que pensei em trazê-las na viagem, mas, sem dúvida, com a virada nos eventos ontem, fico feliz que tenha trazido. Seus olhos se alargam quando abro o zíper do meu shorts e balanço os quadris para fazer a peça de roupa escorregar e ele ver o toque da renda e do quadriculado do tecido. – Essa é a única bandeira quadriculada de que você vai precisar, querido. Seu sorriso se alarga. A porta aberta é esquecida no momento em que ele recua dois passos em minha direção e puxa meu corpo de encontro ao seu. Ele para por um instante e fica me olhando. Nossas bocas estão a centímetros de distância, e a emoção transborda em nossos olhos antes de ele colidir os lábios nos meus num beijo de pura fome e desejo carnal. Ele separa com a mesma brusquidão com que se aproxima e olha para mim com um sorriso. – Você pode apostar sua bunda que é essa bandeira quadriculada que eu vou vencer.
Quarenta e dois
COLTON
Estou sentindo. Aquela certeza absoluta que atinge a gente com tudo em pouquíssimos dias da nossa vida. Estou sentindo hoje. Está no ar ao meu redor. Minha cabeça se movimenta daqui para lá pelo que eu preciso fazer hoje, quando cair na pista e a borracha dos pneus pegar aderência. Ficar longe do Mason – o filho da puta não vai deixar barato pra mim –, como eu sabia das intenções dele ano passado naquele bar. Não é que ele esteja acenando com uma bandeira nem nada do tipo para declarar sua posse. Inimizade nunca é coisa boa na pista. Nunca. Segurar firme nas curvas dois e três. Freio leve. Pedal pesado. Ir devagar na primeira. Fico repetindo minhas responsabilidades na cabeça, de novo e de novo. Minha forma de garantir que eu não tenha que pensar quando estiver na pista. Só reagir. Hoje, meu objetivo é a bandeira quadriculada, e não só aquela calcinha de deixar pau duro que a porra da Rylee estava usando. Deus do céu, aquela bandeira é minha. Mas estou sentindo. Tudo parece certo no mundo, e, merda, talvez eu esteja sendo um mané, mas essa sensação de coisa certa começou quando eu acordei com a Rylee enrolada nos meus braços, cabeça aconchegada no meu pescoço, lábios pressionados na minha pele e coração batendo com o meu. Bem onde é o lugar dela.
Dou uma mordida em outra das minhas superstições pré-corrida – uma barra de Snicker – e olho para ver se a encontro lá fora. Ela está sentada discretamente perto do canto, e seus olhos travam nos meus imediatamente. Seus lábios formam aquele sorriso tímido que revira minhas entranhas do avesso, e, em vez do medo que normalmente se infiltra no meu corpo, eu me sinto controlado. Tranquilo. Alguém aí falou em pau-mandado de mulher? Mas sabe de uma coisa? Não ligo, porque tenho certeza de que ela vai ser boazinha comigo. Não vai me castigar demais. Bom, a menos que eu queira. – Wood? – Eu me viro e encontro Beckett. Já Becks, por outro lado, ainda vai acabar comigo assim que o estresse dessa corrida passar e ele perceber que, minutos antes de uma corrida, eu estou pensando no meu vodu de boceta. A droga da minha Rylee. Abro um sorriso para ela antes de me voltar para Becks. – Fala – digo ao me levantar e começar a rotina de fechar o macacão. Pronto para a corrida. Pronto para fazer o que eu sempre amei fazer. Pronto para tomar aquela merda de bandeira quadriculada.
Quarenta e três
Há muito para eu assimilar. Tantas visões e sons que me atingem e me sobrecarregam. Com a mão no coração, estou ao lado de Colton ao som do hino nacional sendo cantado no palco, às nossas costas. Bandeiras tremulam. A brisa sopra. A multidão canta. E meus nervos entram em velocidade máxima pelo homem ao meu lado que se transformou de um homem intenso e introspectivo em um homem focado no que tem que fazer. Ele estende a mão livre e a coloca na minha lombar assim que a equipe de filmagem vem se aproximando da fila de corredores nos boxes com a equipe e os entes queridos ao lado. O fato de que ele está tentando me confortar em um momento estritamente dele aquece minhas entranhas. Eu tentei lhe dizer que eu poderia ficar sentada no boxe durante o hino – que não era problema nenhum –, mas ele se recusou. – Agora você está comigo, querida. Não vou deixar você sumir das minhas vistas – ele dissera. Discussão vencida. De lavada. Fogos de artifício explodem quando a música chega ao fim e, de repente, os boxes são uma avalanche de atividade. Equipes indo trabalhar para tentar fazer toda a preparação árdua ser aproveitada pelo piloto. Homens aparecem ao redor de mim e Colton antes que eu possa desejar boa sorte uma última vez. Protetores de ouvido são colocados. O velcro é fechado. Sapatilhas são verificadas duas vezes para garantir que nada interfira no pedal. Luvas são calçadas e posicionadas. Instruções de última hora são dadas. Eu me deixo ser levada da loucura. Davis me ajuda a pular a mureta. – Rylee! – Em um caos completo e organizado, sua voz ecoa. Me
faz parar. Me assusta. Me completa. Giro de frente para ele em toda sua glória de piloto. A balaclava branca está em uma das mãos e o capacete na outra. Lindo que chega a doer. Tão sexy. E todo meu. Olho para ele com expressão confusa, já que já tivemos nosso momento de privacidade no trailer. Será que eu fiz alguma coisa errada? – Sim? Seu sorriso se ilumina. Seus olhos sustentam os meus, intensos e límpidos. – Eu corrida você, Ryles – ele diz numa voz que é implacável e firme no meio do turbilhão de caos. Meu coração para. O tempo congela e parece que só existimos nós dois no mundo. Apenas um garoto traumatizado e uma garota altruísta. Nossos olhos se fixam e, nesse momento de troca, palavras, que não podem ser gritadas no caos entre nós, são ditas. Que depois do pouco que ele explicou ontem à noite, eu sei como é extremamente difícil para ele proferir essas palavras. Que eu entendo que ele está me dizendo que ainda é uma criança traumatizada por dentro, mas, como os meus meninos, está me dando seu coração e confiando que eu vou cuidar dele com mãos gentis, compassivas e compreensivas. – Eu também corrida você, Colton – murmuro para ele. A despeito do barulho, eu sei que ele ouve o que eu disse, pois um sorriso tímido agracia seus lábios e ele sacode a cabeça como se estivesse tentando entender tudo isso também. Beckett chama o nome dele e me lança um último olhar antes de seu semblante entrar no modo trabalho. E só consigo ficar ali parada observando-o. O amor incha, me consome e cura meu coração que um dia pensei que fosse irreparável. Me preenche com felicidade sobre o homem de quem não posso desviar os olhos. Minha tempestade antes da calmaria. Meu anjo atravessando a escuridão. Meu Ace.
Meu peito reverbera junto com os carros que voam pela reta oposta. Cinquenta voltas e eu ainda estou uma pilha de nervos. Meus olhos se alternam entre a pista e o monitor da televisão na minha frente, onde passam os carros que estão fora do meu campo de visão. Meus joelhos tremem, minhas unhas já perderam todo o esmalte e a parte interna do meu lábio já foi mastigada inteira. E, ainda assim, a voz de Colton sai confiante e focada na missão, cada vez que ele fala no headset que estou usando. Cada vez que ele fala com Beckett ou com o observador eu sinto um pouco de alívio. E então ele vira numa curva, carros lado a lado – massas de metal voando a velocidades alucinantes – e esse pouco de alívio se transforma num peso de ansiedade. Verifico o monitor de novo e sorrio quando vejo “13 Donavan” em segundo lugar, lutando para conseguir retomar a dianteira depois de um pit stop feito por cautela. – Turbulência adiante – o observador diz para Colton, quando ele sai da curva três e segue em direção ao grupo de carros na volta seguinte. – Dez-quatro. – A última volta é a mais veloz – Beckett entra na conversa, estudando uma tela de computador a vários assentos de distância do meu, onde se leem todas as parciais do corredor número 13. – Está ótimo, Wood. Só continue nesse seu ritmo. A linha alta já está cheia de sujeira, então fica fora. – Entendi. – Sua voz é estrangulada pela força do carro quando ele acelera depois da primeira curva. Há um sobressalto coletivo quando um carro entra em contato com a mureta. Eu me viro para olhar com o coração na boca, mas não consigo ver nada da nossa posição. Imediatamente olho para o monitor no qual Beckett já está focado. – Desvia, Colton. Desvia! – o observador grita nos meus ouvidos. Tudo acontece tão depressa que o tempo para. Fica congelado. Volta. O monitor mostra uma nuvem de fumaça quando o carro atinge a parede primeiro e é ricocheteado de volta para a pista numa diagonal. As velocidades são tão altas que os carros remanescentes não conseguem ajustar a rota em tão pouco tempo. Uma vez Colton me disse que os pilotos sempre miram no lugar onde o acidente
aconteceu, porque o carro sempre vai ser desviado na sequência do movimento. Há tanta fumaça. Tanta fumaça, como Colton vai saber aonde ir? – Estou cego – diz o observador, em pânico, vendo a massa de carros. A fumaça resultante é tão grande que ele não consegue guiar Colton. Não consegue indicar a linha segura quando o carro vem voando a mais de trezentos quilômetros por hora. Fico olhando seu carro mergulhar na fumaça. Meu coração vai parar na garganta. Minhas preces são jogadas a Deus. Respiração presa. Alma esperançosa.
Quarenta e quatro
COLTON
Puta que pariu. A fumaça me engole. O borrão em volta de mim agora é cinza com lampejos do metal dos carros que colidem ao meu redor. Estou cego, porra. Não tenho tempo para temer. Não tenho tempo para pensar. Só posso sentir. Apenas reagir. A luz do dia brilha na outra extremidade do túnel cinzento. É para onde eu vou. Não desistir. Nunca desistir. Correr para onde aconteceu o acidente. Vai! Vai! Vai. Vamos, um-três. Vamos, querida. Vai! Vai! Vai. O clarão avermelhado surge do nada e aparece na minha frente com tudo. Sem tempo para reagir. Nenhum. Estou leve. Sendo levantado. Leve. Espiralando. Girando rápido. Juntas brancas no volante. Luz do dia novamente. Rápido demais. Rápido demais.
– Caralho!
Quarenta e cinco
Vejo o carro de Colton se elevar acima da fumaça. Está empinado no bico. Rodopiando no ar. Ouço Beckett gritar: – Wood! – É a única palavra, mas a forma devastadora com que ele a pronuncia faz chumbo despencar na minha alma. Não consigo reagir. Não consigo fazer nada. Só consigo ficar sentada com o olhar perdido. Minha mente se divide entre as imagens de Max e Colton. Quebrados. Intercambiáveis.
Quarenta e seis
COLTON
Homem-Aranha, Batman, Super-Homem, Homem de Ferro.
Fim
Agradecimentos
Uau! Por onde eu começo? Quando entrei nessa jornada de escritora há pouco mais de um ano, foi mais como um desafio para mim mesma. Será que eu consigo? Não apenas consigo, mas será que posso criar uma história capaz de provocar reações viscerais no leitor e, ao mesmo tempo, fazê-los se apaixonar por Rylee, Colton e sua história? Quando terminei Driven, eu gostei, mas isso não significou nada. A questão era: será que você, leitor, seria fisgado? Nunca, em um milhão de anos, eu esperei que essa resposta fosse ser “sim”! De início, pensei que era um fracasso, para ser sincera. Eu sabia que eu estava apaixonada por Rylee, Colton e os meninos – mas isso era óbvio – e então as mensagens e os e-mails e os posts começaram a surgir. Vocês amaram tanto quanto eu – meu macho alfa traumatizado e minha heroína ferida – e todos me disseram exatamente isso, Kindles quebrados e tudo mais. (É sério, eu recebi fotos de Kindles quebrados depois que foram jogados ao final de Driven.) Então, mais do que tudo, eu agradeço aos meus leitores. Obrigada por se arriscarem com esta autora independente e seu romance de estreia, com falhas, erros gramaticais e todo o resto. Obrigada por falarem sobre Driven, recomendarem a seus amigos, criarem páginas no Facebook sobre ele e postarem resenhas em todos os lugares para ajudar a propagar a notícia. Vocês não fazem ideia do quanto esse tipo de apoio significa para uma autora autopublicada como eu. Então, mais uma vez, agradeço a vocês do fundo do meu coração. Já li em inúmeros lugares que o segundo livro da trilogia costuma ser o ponto baixo – cheio de encheção de linguiça, sem uma história propriamente. Quanto a isso só posso dizer que
espero que Fueled tenha atendido e superado suas expectativas. Às blogueiras – as mulheres que dedicam horas intermináveis a ler nossos livros (bons e ruins), resenhá-los, fazer colagens com eles e os promoverem pra caramba, só porque amam livros. Para a maioria, é o segundo emprego, o que elas gostam, e não fazem por dinheiro e nem por reconhecimento, mas porque amam ser transportadas para outro tempo e lugar. Não estou tentando bajular, mas agradecer a elas, pois, se não fosse por sua paixão incansável, a maioria de vocês não teria ideia de que um livro chamado Driven existe. Então, blogueiras, obrigada pela força, divulgação, por fazerem parte das Colton’s Cuties (o Street Team de Driven), resenhando e dando apoio em geral para a série. Driven pode ser uma ótima história, mas, sem vocês, sem seu apoio contínuo, poderia ter perdido a força, então, obrigada! Há algumas chamadas que quero fazer, e isso não significa que as outras blogueiras sejam menos importantes, mas é porque essas, em particular, me deram enorme ajuda de uma forma ou de outra. Jenny e Gitte do Totallybooked: onde posso começar com vocês duas? Muito obrigada por responderem à mensagem ridícula PM desta novata aqui e me tratarem com o mesmo respeito como se fosse uma autora best-seller do New York Times. Agradeço pelos chats da noite e da madrugada, trabalho incansável e palavras de sabedoria. Sua gentileza é imensurável e seu apoio é surpreendente. Estou falando, é o efeito J&G! Agradeço a Liz Murach do Sinfully Sexy Reviews: obrigada pela turnê fantástica de lançamento. Uau! Entre a relação da capa e a turnê, vocês me deixaram sem fala. Obrigada Autumn e Julie do AToMR pela turnê incrível em setembro, como sempre, classe A. Obrigada à Emily Kidman do TheSubClub pelo incentivo infinito e sempre quando eu mais precisava. Há tantas outras blogueiras para agradecer que eu nem sei por onde começar, mas vou tentar enumerar todas, e, se você foi deixada de fora, por favor, é só porque meu cérebro está ultracansado de olhar para a tela deste computador. Então, obrigada Donna no The Romance Cover, Tray no BookHookers, Jessy na Jessy’s Book Club, Sandy no The Reading Café, Meagan no Love Between Sheets, Ellen no The Book Bellas, Michelle no The Blushing Reader, Stephanie no The Boyfriend Bookmark, Mary no Mary Elizabeth’s Crazy Book
Obsession, Lindsay no Beauty, Brains & Books, Liz no Romance Addiction, Stephanie no Stephanie’s Book Reports, Alicia no Island Lovelies, Jen no TheBookBar, Kimberly no Book Reader Chronicles, Jess no A is for Alpha, B is for Books, Stephanie no Romance Addict Book Blog, Cara no A Book Whores Obsession, Amy no Schmexy Girl Book Blog, Autumn no The Autumn Review, Lisa no The Rock Stars of Romance, Jennifer no Wolfel’s World of Books, Kim no Shh Mom’s Reading, Jamie em Alphas, Authors, & Books Oh My, Books by the Glass e muuuuitos muitos outros dos quais eu nem me lembro… obrigada, obrigada, obrigada! Outra sequência de agradecimentos é devida às minhas leitoras beta. Quando lancei Driven, não tinha ideia do que era um leitor beta. Só três pessoas tinham lido o livro antes do lançamento e eu acho que, se eu tivesse tido leitores beta, as principais críticas que eu recebi com Driven nunca teriam chegado ao produto final. Então, às minhas leitoras beta: Jennifer Mirabelli, Josie Melendez, Jodie Stipetich, Melissa Allum, Kim Rinaldi, Emily Kidman, Autumn Hull, Beta Hoo e Beta Haw: suas opiniões, observações e comentários foram de valor inestimável para mim e para a versão final de Fueled. Agradeço a sinceridade brutal, o tempo dedicado e o segundo olhar. Vocês ajudaram a finalizar o trabalho muito mais… Para a minha editora Maxanne Dobbs da The Polished Pen: obrigada por ter tempo para ler e reler o meu llllooonnnngggo livro e me ajudar a tentar condensar o máximo possível. Eu não gostei muito quando você me disse que a Rylee estava um pé no saco, mas estou feliz que tenha mencionado, pois esses ajustes fizeram a diferença na empatia dos leitores e diminuíram o nível de estresse deles. Para Deborah, do Tugboat Designs: capa matadora mais uma vez… e pensar que conseguimos logo na primeira tentativa! Obrigada! Para Stacey na Hayson Publishing, obrigada por diagramar Fueled tão em cima da hora! Você supera todas as expectativas. Para Jennifer, da Polished Perfection, obrigada pelo segundo e terceiro olhares! Para os vencedores do concurso ACE – obrigada por fazerem parte de Fueled! Na cena de Las Vegas, no TAO, Colton e Beckett tentam adivinhar o que significa Ace, e essas duas moças têm os créditos por aqueles palpites: Lysette Lam, pelo palpite de Colton de “Atraente, charmoso e exuberante”, e Sandy Schairer pela fala de Beckett,
“arrogante, convencido e egocêntrico”. Obrigada a todos que participaram do concurso. Dei boas risadas com as definições. A música desempenha um papel enorme nos meus livros, por isso, muito obrigada aos muitos artistas pelo seu talento nas canções que usei como inspiração para escrever várias cenas. Nada cria tão bem a atmosfera para escrever do que certa canção. Agradecimentos especiais para Matchbox Twenty, a música de terapia para Rylee, e claro, como Colton repetiu, a Pink: obrigada pela inspiração por trás de uma das passagens mais importantes do livro! Para o meu filho, por assistir aos filmes antigos do Homem-Aranha no Netflix – repetindo até enjoar. Tê-los como pano de fundo para a minha escrita me proporcionou mais duas frases significativas para este livro. Que você nunca tenha que repetir super-heróis. Nunca. Eu Homem-Aranha você, amigão! Para a minha menina: obrigada por digitar na minha cópia de trabalho de Fueled o máximo que pôde. Minhas betas pensaram que eu tinha digitado números de placas aleatoriamente no meio do parágrafo… não, foi só a CJ se certificando de que era ouvida! Eu te amo, louquinha! Para minha filha mais velha: obrigada por tentar dar uma espiadinha na minha tela sempre que tinha chance, porque agora você sabe ler, e a mamãe está nervosa sobre o que você pode acabar lendo no computador dela. Obrigada pela sua paciência e intermináveis perguntas do tipo “As pessoas leem mesmo o que você está digitando?”. Vamos esperar que sim. Também te amo, queridinha! Para o meu marido: obrigada por ser paciente durante todo esse processo. Obrigada por inventar lugares para levar as crianças para que eu tivesse algumas horas sozinha aqui e ali para escrever sem ser interrompida. Obrigada por aceitar (na maior parte do tempo) comida para viagem e comida pronta, porque eu precisava terminar uma cena. Obrigada por não reclamar que agora a roupa leva muito mais tempo para ser lavada e que a casa anda um pouco mais bagunçada. Obrigada por ir para a cama sozinho várias noites por semana, enquanto eu ficava acordada e depois dormia com o Colton. (Desculpa, meninas, essa é uma das vantagens de ser a autora!) Obrigada pela compreensão de que o computador agora fica colado
na ponta dos meus dedos e que a mulher que nunca se esqueceu de nada, agora está um pouquinho distraída – ponha a culpa nessas pessoas na minha cabeça. Te amo! Para minha família e meus amigos: obrigada por seu apoio interminável e por ouvir minhas divagações aleatórias sobre pessoas que existem na minha cabeça e no coração de todos vocês, leitores. Meu comentário final é endereçado a responder à pergunta que vai inundar meu e-mail e página do Facebook. Quando Crashed será lançado? Ainda não tenho uma data definida. Sinto muito, mas eu me recuso a dar uma data e depois ter que ajustá-la a empurrá-la para a frente alguns meses. Já fui frustrada quando autores fizeram isso e eu não quero fazer vocês se sentirem assim. Mas tenham certeza de que Crashed será o último livro da trilogia. A história de Rylee e Colton será concluída. Vocês ainda estão pensando sobre esse final? Eu achei mesmo. Sintam-se à vontade para se juntar ao “The Driven Trilogy Group” no Facebook, onde podem discutir loucamente (com spoilers e tudo) com outras pessoas que o terminaram. O link é: https://www.facebook.com/groups/394768807306804/ Mais uma vez, obrigada pela leitura. Espero que tenham gostado de Fueled. Eu corrida vocês! K.
Sobre a autora
K. Bromberg é essa mulher reservada sentada no canto, que enganou todos vocês sobre a criança selvagem que ela tem dentro de si, que ela liberta sempre que coloca os dedos no teclado do computador. É esposa, mãe, vivaz como as crianças, recolhedora de brinquedos, chofer, assistidora de Lalaloopsy, vestidora de bonecas American Girl, e que faz tudo ao mesmo tempo, assuntos domésticos ou não. Gosta da Coca Diet com rum, da música alta e da despensa abastecida com um estoque de chocolate. K. vive no sul da Califórnia com o marido e três filhos. Quando precisa de uma pausa do caos diário de sua vida, é mais provável que ela seja encontrada na esteira ou com um Kindle em mãos, devorando as páginas de um bom livro picante. Fueled é o segundo livro publicado por K. Bromberg, o muito aguardado segundo volume da Série Driven. Driven foi um livro de estreia bem recebido e é o primeiro volume.