ESPAÇOS BRINCANTES A CIDADE IMAGINADA POR E PARA CRIANÇAS
PFLEX Arquitetura, Cidade e Infâncias Jheniffer Lauren, Júlia Coura e Lucas Carvalho
sumário
1
introdução
2
cidades
3
imaginários
4
mobiliários
5
pinturas brincantes
6
diretrizes urbanas
7
faz de conta que
8
considerações finais
Jheniffer Lauren
Júlia Coura
Lucas Carvalho
Estudante do 5º período de Arquitetura e Urbanismo, UFMG, 21 anos. Desenhista por amor à fazer caber no traço o que as palavras não abarcam. Fascinada pelo modo como as crianças enxergam as coisas desde os 16 anos, quando tive contato com infantes trabalhando em um centro educacional, até ingressar na faculdade. Nos últimos três anos a arquitetura e o urbanismo me ensinaram que eles estão presentes em diversos aspectos da vida, nós apenas não aprendemos a enxergá-los e nos apropriarmos corretamente.
Estudante do 5° período de Arquitetura e Urbanismo, UFMG, 20 anos. Nos últimos 3 anos, tenho me dedicado ao estudo das cidades, das relações interpessoais, o que sentimos e como podemos traduzir isso na arquitetura e urbanismo. Gosto de imaginar espaços sensíveis produzidos por e para as pessoas, onde todos nós possamos nos sentir acolhidos e livres para exercermos nossos imaginários.
Estudante do 5° período de Arquitetura e Urbanismo, UFMG, 20 anos. Me interesso por desaprender para quem sabe aprender alguma coisa. Acredito na importância da valorização de qualquer tipo de conhecimento e em uma prática da arquitetura e urbanismo que promova a autonomia, entendendo as necessidades reais, e não a dependência baseada na reprodução de padrões.
introdução ESPAÇOS BRINCANTES é um projeto desenvolvido pelo trio: Jheniffer Lauren Martins Cabral, Júlia Coura Bonifácio e Lucas Carvalho de Jesus, para a disciplina Arquitetura, Cidade e Infâncias do curso de Arquitetura e Urbanismo na Escola de Arquitetura e Design da Universidade Federal de Minas Gerais. Nossos princípios partem de transformar o espaço público urbano em um ambiente mais receptível ao universo infantil e que corresponda aos reais desejos das crianças. Queremos chamar atenção para outros jeitos de construir e criar o espaço coletivo, trazendo uma perspectiva por vezes esquecida pelos planejadores: enxergar a cidade pelos olhos de quem tem um metro e vinte de altura.
cidades Este projeto foi idealizado a partir de três municípios mineiros: Carandaí, Curvelo e Lagoa da Prata. Cada uma dessas cidades corresponde ao lugar onde um membro do nosso trio nasceu e viveu enquanto criança, por isso foram escolhidos como ponto de partida da construção de um novo imaginário.
Localização
Carandaí Inserir um pouquinho de texto
Curvelo Praça da Estação
Associação do Bairro
Lagoa da
Prata
imaginários Com esse objetivo, o primeiro passo para idealizar o nosso projeto foi conversar com crianças de Carandaí, Curvelo e Lagoa da Prata, para coletarmos seus imaginários acerca do espaço público. Para isso, levantamos algumas questões para as crianças pensarem e nos responderem por meio de um desenho — identificado por nós como uma maneira de se expressar muito criativa e divertida, que abrange idades que vão de antes da alfabetização até as crianças mais velhas. As questões foram: Como é a sua relação com as ruas, as praças, os caminhos que você percorre na cidade? E se você pudesse brincar onde quisesse? Para realizarmos essa primeira etapa contamos com o apoio de escolas situadas em cada uma dessas localidades, como intermediação entre nós e as crianças. Nosso objetivo era criar um diálogo a partir desses questionamentos para entender, indo direto na fonte, como se dá essa relação infância e cidade.
imaginários
CARANDAÍ O cartaz foi enviado para três turmas do Ensino Fundamental de uma escola estadual de Carandaí (Escola Estadual Francisco do Carmo) com a sugestão de uma atividade para ser realizada com as crianças de modo a conhecer o imaginário delas em relação a rua e ao espaço público. A faixa etária dos alunos é de 6 a 8 anos. Por se tratar de uma escola estadual, o ensino remoto é bem mais complexo que em instituições particulares, o que faz com que nem todos os alunos realizem a atividade sugerida.
Douglas, 7 anos Como é...
Como ele imagina...
Possíveis interpretações... O Douglas coloca no primeiro desenho o espaço que ele vivencia na cidade. Parquinhos convencionais com gangorras e escorregadores e a rua para os carros. Ao contrário dos outros, ele imagina um cinema na cidade dele. Nem só de brincar vive uma criança né? Não podemos esquecer também do destaque às árvores no desenho...
Helena, 6 anos Como é...
Como ela imagina...
Possíveis interpretações... Ao analisar os dois desenhos é possível perceber que a empolgação do que mostra como ela gostaria que fosse é muito maior, através das cores e dos elementos da natureza. Dos desenhos recebidos até agora, Helena foi a única que de alguma maneira lembrou de desenhar uma criança no espaço público.... Por que será que as crianças lembram de tantas coisas mas não lembram de se colocar em um desenho sobre o espaço que teoricamente seria público?
Júlia, 7 anos Como é...
Como ela imagina...
Possíveis interpretações... Ao analisar os dois desenhos é possível perceber que a empolgação do que mostra como ela gostaria que fosse é muito maior, através das cores. A Júlia também lembrou das pessoas e colocou que a rua que ela imagina teria gangorras nas árvores e crianças pulando corda. Mais uma vez o "brincar" aparece com destaque no imaginário das crianças.
Melissa, 7 anos Como é...
A Melissa desenhou primeiro a rua como ela é hoje, com as casas, as árvores e o enfoque interessante nos carros... .
Como ela imagina...
Depois, desenhou como ela queria a rua, e colocou um parquinho com um escorregador e uma gangorra - sem lembrar dos carros...
Possíveis interpretações... É interessante o fato de a Melissa lembrar dos carros e não das pessoas quando ela desenha o espaço público e as ruas. Além disso é legal destacar a presença da natureza e o desenho de um parquinho. O que balançar numa gangorra ou escorregar em um escorregador pode significar pra uma criança? Principalmente se pensarmos na rua como um lugar de encontro de crianças diversas.
Sérgio, 6 anos Como ele imagina... O Sérgio enviou um áudio para a professora dele dizendo que esse primeiro desenho era um parquinho com um tobogã...
Como é... E esse segundo era um parquinho normal.
Possíveis interpretações... Ao olhar atentamente para os dois desenhos percebe-se que o primeiro, que seria do jeito que ele queria, apresenta o que ele coloca como tobogã, com muitas cores, arco-íris, natureza e chuva, enquanto o segundo, como ele mesmo diz, ele desenha só o “parquinho normal”. É visível também a diferenciação de cores entre o que ele queria e o normal.
imaginários
CURVELO O cartaz foi enviado para o colégio privado Bom Começo e Leme, na cidade de Curvelo, com o intuito de captar o imaginário das crianças acerca do espaço público urbano que elas vivenciam. A atividade foi realizada com crianças de 5 a 9 anos e resultou nos desenhos que serão mostrados a seguir, feitos com muita criatividade, carinho e talento, do jeitinho das crianças.
Alice, 5 anos Como é...
“minha pracinha do bairro é o meu lugar favorito, ela tem várias flores e um coqueiro”
Como ela imagina...
“eu queria um balanço, uma casinha de boneca e uma gangorra”
Nesses desenhos, da Alice, achei interessante o fato de que na representação do espaço existente (desenho 1), ela coloca o coqueiro, flores; porém, no desenho que representa o que ela imagina, apesar de ter o que é considerado coisas de brincar - gangorra, balanço, casinha - ela representou pouco o verde no espaço. Isso pode chamar a atenção para relação da criança com a natureza: a natureza está presente no meio urbano? As crianças tem espaços para brincar e interagir com o verde nas ruas das cidades?
Amanda, 7 anos Como é...
Como ela imagina...
“ o local é a praça da estação mas o que eu gostaria é que tivesse rampa para deficientes, sinalização no chão, uma casa na árvore, balanço e também separação de lixeiras”
Nesse desenho, Amanda representou a Praça da Estação, que é um espaço no centro da cidade de Curvelo frequentado por pessoas de todas as classes e idades.
O desenho 1 é o espaço como ele é atualmente; já o desenho 2 é como ela o imagina, com muitas possibilidades de brinquedos e brincadeiras — o que revela um déficit neste âmbito no espaço —, além de uma maior acessibilidade para pessoas com deficiência. É interessante analisar a sua preocupação nesse sentido, já que ela não possuir nenhuma deficiência ou pessoa próxima com deficiência não a impediu de ser sensível e atenta acerca do assunto.
Bernardo, 5 anos Como é...
“eu brinco com minha bicicletinha mas eu gostaria que tivesse uma pracinha cheia de amiguinhos”
Como ele imagina...
“...pra colocar uma roda gigante que eu queria e um escorregador”
Bernardo usou bastante das cores e formas em ambos os desenhos, tanto ao representar a rua atualmente como ao imaginar como ele gostaria que fosse... Acho interessante observar que, apesar de ele representar a rua no desenho 1, ele não coloca carros em nenhum dos desenhos, podendo sinalizar a falta de importância e protagonismo que esses tem na visão do Bernardo.
Emanuel, 7 anos Como era... “perto da minha casa fizeram um parquinho, tem amarelinha, pneu para brincar, escorregador, balanço, várias coisas legais”
Como ele imagina... “tem a quadra de areia e o que eu mais queria: ping pong e gira-gira” “o mais legal é o coronavírus acabar e todo mundo brincar junto” Nesses desenhos, é interessante observar como a criança explorou bem mais as possibilidades de cores, formas e elementos no desenho 2, o que ela gostaria que tivesse no espaço. A leitura que faço é que ela se sentiu livre para imaginar e criar um espaço dela para ela. Ao contrário do desenho 1, representando o espaço que existia, que possui menos elementos e cores, o que, para ela, não representa o ideal.
Ludimila, 9 anos Como é...
“A aluna pensou na Praça do Fórum da cidade de Curvelo. Ela imagina na praça um lugar que traga alegria, brincadeiras e também uma área para descanso. Como gosta sempre de interagir com outras crianças, idealizou através do desenho a possibilidade de criar uma praça com: gangorra, gira-gira, e também bancos para descansar e conversar com as pessoas. Ela retratou, também, um espaço para as crianças soltarem pipa e um campo de futebol.”
Como ela imagina...
Aqui, a criança fez o primeiro desenho (o espaço que existe) sem o uso de cores, com lápis preto em uma folha branca...
Já o desenho 2 é cheio de cores, brinquedos, muito verde, uma hortinha e há inserção de crianças brincando, o que passa a sensação de um espaço mais vivo e de mais alegria em relação ao primeiro desenho. É interessante observar também, que ela não ignora a presença dos carros na rua, que foram representados, porém eles não possuem local de destaque no desenho, estão em uma das laterais e com um tamanho bem menor em comparação com as crianças e brinquedos.
Stela, 5 anos Como é...
Neste desenho, Stela representa com cores e muitas flores um espaço público que ela frequenta, além de desenhar ela mesma com a sua gatinha neste espaço. O que eu observo é que, provavelmente, em seu contexto ela tem contato com um ambiente público com muito verde e que ela considera satisfatório; já que se representa sorrindo.
Stela, 5 anos Como ela imagina...
“eu fiz um parque que eu sempre quis pra brincar com uma casinha na árvore e arcoíris, borboletas e a minha gatinha”
O segundo desenho, Stela mantém bem colorido, agora com borboletas, arco-íris e uma casinha na árvore que ela imagina no espaço. Acredito que Stela vivência um espaço com presença de verde mas com poucas possibilidades de brincar e que não atendem o que ela realmente deseja para o lugar.
imaginários
LAGOA DA PRATA O cartaz foi enviado para a Escola Estadual Chico Rezende, onde uma de nós, Jheniffer, cursou os ensinos fundamental e médio. A classe alvo foi o primeiro ano do ensino fundamental, com crianças de seis, sete anos. Outrossim, também foi realizado contato com duas professoras de atuação independente nos dias de hoje, que compartilharam com Jheniffer uma experiência profissional de dois anos na educação infantil em uma escola particular no município. Seus alunos, por sua vez, apresentam de seis a oito anos.
Ana Júlia, 6 anos Como é... Nesse caso, a criança desenhou a Praia Municipal de Lagoa da Prata, se inserindo no local.
Como ela imagina... Ana Júlia gostaria de ter uma casa na praia, e que nela houvesse um escorregador, além de "água gigantesca" com muitos peixes.
Ana Júlia faz representações bastante similares em formas e cores, e o brinquedo é o principal destaque de seu imaginário.
Davi, 7 anos Como é... Nesse desenho foi apresentado um local que a criança costuma brincar.
Como ele imagina... Davi gostaria que houvessem balanços e um escorregador.
Possível interpretação: Dada a presença de uma casa e uma rua no segundo desenho e a ausência dos mesmos elementos no primeiro, talvez a criança desejasse que esse local fosse perto de sua residência ou que houve um outro espaço, similar ao que ele já frequenta, nas proximidades de sua casa.
Felipe, 8 anos Como é... Ele representou a pracinha Don'Ana, pois é onde gosta de brincar. Os elementos mais importantes desse espaço para Felipe são o balanço, o banco, o brinquedo de escalar, o escorregador, a escada e a ponte.
Como ele imagina... A criança pensou que os brinquedos não deveriam estar só na pracinha, mas também na rua de sua casa. Nesse desenho tem um balanço e uma gangorra, além deles Felipe gostaria que houve uma pista de skate e cabines com patinetes e bicicletas comunitárias. O que mais chama atenção é o fato de Felipe ter a percepção de que os espaços para crianças são estritamente definidos nas cidades, e além de levantar a possibilidade da apropriação de outros, ainda acrescenta opções simultâneas de lazer e mobilidade urbana coletiva não poluente.
Giovanna, 6 anos Como é... Giovanna representou uma praça.
Como ela imagina... Ao imaginar espacialidade, acrescentou escorregador.
a ela um
Nota-se que a criança se ateve bastante ao que já existia no local, mas sentiu falta de um equipamento especificamente destinado ao público infantil no espaço que já frequenta.
Ísis, 6 anos Como é... A criança desenhou a pracinha que está situada na esquina de sua casa. Ela representou os bancos e a vegetação presente.
Como ela imagina... Ísis gostaria que esse espaço tivesse amarelinha, pula-pula e balanço.
Como a maioria das crianças que participaram dessa investigação, ao imaginar um espaço para apropriação, Ísis evidenciou a atual ausência de mobiliário infantil na cidade.
Jesiel, 6 anos Como é... Jesiel escolheu a Praia Municipal de lagoa da Prata para representar, com pessoas sentadas e nadando.
Como ele imagina... Como melhorias, a criança gostaria que fossem instalados balanços, uma gangorra e um tobogã gigante nesse lugar.
No primeiro desenho, pelo tamanho das pessoas representadas e pela descrição da ação "sentada", sem nenhum "brincando'', talvez não haja a presença de crianças sendo marcada, ao contrário do segundo. Portanto, para Jesiel, se houvessem mais brinquedos, as crianças se apropriariam mais desse espaço público.
João Otávio, 6 anos Como é... Para a criança, na Praia Municipal as pessoas nadam, sentam e tomam "suco de coco".
Como ele imagina... Nessa representação foram acrescidos um tobogã, uma gangorra, um escorregador e uma sorveteria ao local.
João Otávio e Jesiel são irmãos, portanto compartilham muitas experiências e desenharam o mesmo lugar. É interessante notar que ambos tornaram as representações expressivas ao representar diversas pessoas, dando a entender que essa espacialidade é muito viva no contexto em que se insere.
Joshua, 7 anos Como ele imagina...
Joshua pensou em uma pracinha com muitos bancos, árvores e diferentes tipos de brinquedos, como escorregador, casinhas, balanços e equipamentos para escalar.
Esse relato chegou até nós com a informação de que o espaço representado na verdade é existente, entretanto muito menos interessante do ponto de vista da criança. Joshua pede constantemente à mãe para levá-lo nessa praça e os elementos desenhados evidenciam o que ele continuamente sente falta para aproveitar o total potencial do lugar.
Juliana, 6 anos Como ela imagina...
Juliana criou um "projeto muito alegre" para o espaço que imaginou. Nele tem muitas árvores frutíferas e um lago para os patos. As ruas são coloridas e tem gente brincando e praticando esportes. Algumas edificações foram consideradas, como uma biblioteca, um museu e uma igreja.
Juliana fez uso de muitas cores para representar a alegria pretendida. Ademais, algo a ser destacado é que a criança considerou diferentes tipos de espaço público para a cidade pensando a apropriação infantil.
Lara Luiza, 6 anos Como é... O
desenho apresenta a Praia Municipal de Lagoa da Prata.
Como ela imagina... Ela gostaria que o espaço público fosse mais bonito e feliz. Para tal, Lara Luiza acha importante que houvessem mais bebedores, uma barraca de sorvete, um escorregador e um balanço.
A associação da presença de mobiliário infantil e, por conseguinte,, mais crianças ao aumento da felicidade no espaço público é uma importante percepção a ser levada em consideração.
Paolla, 6 anos Como é... Essa é a pista de skate municipal. Paolla se desenhou em duas posições: subindo e descendo. Ela representou as rampas pequena, média e grande.
Como ela imagina...
Torna-se interessante notar que a criança possui um imaginário bem livre sobre a rua, não se limitando aos elementos considerados comuns.
Ela gostaria que a rua tivesse pedras de queijo; brinquedos; espaço para deitar e para brincar com terra; 7 lugares para pegar sorvete de graça todos coloridos; 90 ursinhos; 8 telefones; ''40 e 10'' pedaços de queijo nas portas das casas; córregos de sorvete rosa derretido e branquinho de creme.
Paulo Henrique, 6 anos Como é... O desenho representa uma pracinha que a criança gosta de estar. Além de correr, brincar nos bancos e de pega-pega, Paulo também cita a prática de apanhar acerolas.
Como ele imagina... Para ele, o que falta nessa espacialidade é mobiliário infantil, como escorregador, balanço e gangorra.
Diferentemente da maioria das crianças, Paulo ainda tem a oportunidade de colher frutos no espaço público, e essa é a primeira atividade citada no vídeo que ele produziu. Em seu desenho os pontos mais destacados são justamente as árvores, elementos naturais que outros desenhos da mesma cidade não valorizam tanto ao representar espacialidades similares.
Pedro Lucas, 6 anos Como é... A criança relatou que costuma brincar nesse espaço perto de casa.
Como ele imagina... Para ele, o local carece de um escorregador e de um balanço.
A representação é clara e direta: par Pedro Lucas falta mobiliário infantil na cidade.
mobiliários Uma parte imprescindível do projeto ESPAÇOS BRINCANTES é constituída pelos mobiliários propostos, surgidos a partir da Coleta de Imaginários previamente realizada. Com as ações de escutar os infantes e enxergar o mundo sob a sua visão por meio dos desenhos, pudemos compreender a necessidade de criar diferentes equipamentos que incentivassem a sua presença nos espaços públicos, que sinalizassem a urgência em fazer com que as cidades sejam planejadas também para as crianças. Não se pode deixar de considerar que, como trabalhamos em três contextos urbanos, foi preciso alinhar ideais e adaptar escalas e materialidades para que a replicação fosse o mais facilitada e adequada possível para Carandaí, Lagoa da Prata e Curvelo. Ademais, alguns de nossos mobiliários não são fixos, e isso se tornou um importante ponto para nós: que esses objetos pudessem circular e serem movidos no espaço de acordo com a vontade das crianças, que possam ser virados e montados, quando possível, que elas possam inventar novos usos ou determinar se ficam na sombra ou sob o sol. Vivemos em um mundo em que os infantes têm tão pouca autonomia e seria injusto criar apenas módulos fixos e chumbados em concreto por causa de uma minoria que poderia não entender a finalidade coletiva e democrática das proposições. Como norte, escolhemos alguns conceitos voltados não apenas para o lazer, mas também relevantes no desenvolvimento da agilidade corporal na infância. Outrossim, pensamos em objetos brincantes que propiciassem uma experiência estética rica, não apenas visual, estimulando também outros sentidos humanos. Nesse sentido, os conceitos a serem suscitados são: o ESCALAR, o PULAR, o ESCORREGAR, o EQUILIBRAR, o BALANÇAR, o MONTAR, o OLHAR, o TOCAR, o OUVIR e o IMAGINAR.
ESCALADINHA
Para ESCALAR, ESCORREGAR, TOCAR, OLHAR, OUVIR e IMAGINAR.
396,9 68,4
179,2
90
49,3
10
2,5
95
90
2,5
5
Planta baixa
10 10 10 10 10 10
99
0
1
2m
25
12 12
137,5
220
12
2,5
82,5
Além das interações típicas desse tipo de mobiliário, o ESCALADINHA conta com partes vazadas em suas laterais, preenchidas por tubos de PVC, criando pequenos túneis que funcionam como mirante, telefone sem fio ou até mesmo passagem de bolinhas.
92,5
12
12 2,5
82,5
10 5 10 17,5
Corte AA
12,7 16
49,7
15
60
15
159,2
396,9
Corte BB
19,9
49,3
25
4 10
5 15,9
35
10
123
10 5 10
30
20 10 10 10
10
220
12
Composto por madeira de reflorestamento certificada e do tipo dura, com possibilidade de adaptação para a disponibilidade da região de implantação.
192,5
20,9
55 25
35
5
25,9
50
75
20,9
10
20,9
177,5
20,9
20,9 7,3
82,5
Elevações
0 2,5
2
5
10
228,5
15
60
15
78,5
95 396,9
Deve ser assentado necessariamente nivelado. Recomenda-se consideraração de piso anti impacto, como a grama natural.
Por ser um mobiliário externo, a madeira necessitará de impermeabilização antes da pintura.
4m
PRA LÁ, PRA CÁ 5 2
2
2
28
28
2
5
8,7
8,8
25
45
8,8
8,7
28
87 102
Para BALANÇAR, EQUILIBRAR, IMAGINAR, TOCAR e OLHAR. .
Planta baixa
28
2
2
28
28
2
5
2
21
2
45
10
5 2
4
4
4
Corte AA
Corte BB 0
0
Elevações
0.4
0.4
0.8m
0.8m
O PRA LÁ, PRA CÁ é feito de madeira de reflorestamento certificada e do tipo dura, com possibilidade de adaptação para a disponibilidade da região de implantação.
Por ser um mobiliário externo, a madeira necessitará de impermeabilização antes da pintura.
MONTA MONTINHOS Para PULAR, MONTAR, TOCAR, EQUILIBRAR, OLHAR, e IMAGINAR.
15
15
15
15
Ø2
30
Planta módulo com pinos
Planta módulo sem pinos
4
0,5
2,5
2
30
Corte BB
Corte AA
0
Elevações
0.2
0.4m
O conjunto é formado por módulos hexagonais em dois tipos de peças: uma com pinos e furos e outra com uma face furada e outra lisa. A segunda tipologia se destina aos módulos que ficarão no topo. Composto por madeira de reflorestamento certificada e do tipo dura, com possibilidade de adaptação para a disponibilidade da região de implantação. Por ser um mobiliário externo, a madeira necessitará de impermeabilização antes da pintura.
pinturas brincantes O que fazer quando o lugar não é projetado para as crianças e elas não tem outra opção para brincar? Aliás, como deixar claro que naquele espaço a presença de crianças é constante e que o urbanismo precisa levá-las em conta? A disponibilidade dimensional é outro ponto crítico ao se pensar em espacialidades brincantes, pois o nosso urbanismo rodoviarista consolidado reforça cada vez mais que as ruas são apenas para veículos e não pessoas. Isso serve não apenas para a cidade pública, mas também para o intramuros. Parcela significativa dos infantes não possuem quintal, moram em apartamentos e veem em suas casas mais vagas para carros do que para suas brincadeiras. Nessa esteira de pensamento, começamos a refletir sobre modos de fazer intervenções urbanas fáceis, rápidas e até mesmo temporárias para essas ocasiões. Inspiramo-nos mais uma vez na Coleta de Imaginários, onde uma criança evidenciou a vontade de ter uma amarelinha no espaço que representou. Assim, desenvolvemos um pequeno catálogo de pinturas brincantes, constituídas por adaptações de algumas atividades, geralmente desenhadas em giz, muito comuns nas primeiras séries escolares, e outras totalmente novas e abertas à interpretações diversas.
TIPO A
TIPO B
TIPO C
TIPO D
TIPO E TIPO F
TIPO G
TIPO H
diretrizes urbanas O ESPAÇOS BRINCANTES foi desenvolvido em uma disciplina de projeto do curso de Arquitetura e Urbanismo e, como elemento caracterizador para a escala local, foram estabelecidas diretrizes em áreas de intervenção específicas nas três cidades mineiras referidas. Tanto os mobiliários quanto as pinturas brincantes poderiam ser implantadas nos mais diferentes tipos de situação, entretanto as diretrizes estrategicamente criadas objetivam demonstrar que, mesmo quando abertas à diversidade, as intervenções e equipamentos urbanos pontuais são muito melhores quando apoiadas em projetos sistemáticos. Indubitavelmente, grande parte dos municípios brasileiros carecem de urgentes requalificações para terem espaços públicos mais vivos e totalmente explorados em sua potencialidade.
Carandaí
diretrizes
CARANDAÍ A partir da coleta de imaginário e do levantamento visual da cidade foi possível perceber que as ruas da cidade são planejadas diretamente aos carros e os próprios espaços públicos não representam exatamente o que as crianças queriam. Na tentativa de criar um outro imaginário de espaço público, a área de intervenção escolhida é o Parque Municipal José Gonçalves Costa e o seu entorno. O parque está localizado no centro da cidade, em uma região de trânsito frequente de crianças. Está entre a linha férrea e um dos percursos principais da cidade. As diretrizes pensadas para transformar esse espaço em um local mais amigável para as crianças são: 1 - Requalificação dos pisos do parque: pintura e melhorias nos pisos degradados. 2 - Implantação de faixa de pedestres elevadas na Rua Major João Rocha na tentativa de diminuir a velocidade e aumentar a segurança das pessoas ao atravessar as ruas. 3 - Instalação de lixeiras recicláveis para auxiliar na limpeza dos espaços, visto que no local praticamente não existe nenhuma.
4 - Pintura recreativa dos muros com o intuito de transformar um espaço monótono em um espaço vivo, entendendo que a cor estimula o imaginário das crianças e na experiência sensível da cidade. 5 - Arborização da via principal para que seja possível andar nas calçadas de forma confortável, melhorando também a experiência visual do espaço. 6 - Ampliação dos passeios adjacentes a praça, com a retirada das vagas para estacionamento, para que as crianças caminhem e brinquem de forma confortável e segura no espaço. 7 - Diminuição da velocidade na via, entendendo que a alta velocidade diminui a segurança e não estimula a presença de crianças Todas as diretrizes podem ser adaptadas para o restante da cidade no intuito de ter uma cidade como um todo amigável para as crianças. Entendendo que o entorno da escola em que foi realizada a coleta de imaginários também segue a mesma lógica do centro da cidade e que a própria a escola não apresenta um parquinho, elemento tão presente no imaginário dessas crianças.... E se? E se as próprias crianças participassem da produção do seu próprio espaço de brincar na escola? Talvez seja projeto para um futuro próximo...
Curvelo
Curvelo
diretrizes
Curvelo Após realizada a coleta do imaginário das crianças — a partir do diálogo possibilitado pela atividade feita na escola — foi possível perceber a discrepância do espaço na visão da criança e a maneira como realmente o espaço é concebido. Mesmo aqueles ambientes considerados para crianças são idealizados e construídos seguindo parâmetros dos adultos, com raras conversas e intervenções diretamente com crianças. A partir dessa análise, propomos algumas diretrizes com o objetivo de tornar os espaços públicos urbanos, as ruas, que normalmente são protagonizadas pelos carros, em espaços que também acolham o universo infantil, respeitando seus reais desejos. Com isso em mente, para a cidade de Curvelo, na rota entre os dois pontos escolhidos para a intervenção — A Praça da Estação, localizada no centro da cidade, e o terreno da Associação do Bairro Jardim Paraíso I e II, bairro em que uma das idealizadoras desse projeto passou sua infância, ambos representados no mapa da cidade presente no início desse livreto — em regiões identificadas como menos convidativas para a circulação a pé e pouco sensíveis às crianças foram propostas as seguintes diretrizes:
1 - Requalificação dos passeios na rua José Gregório e rua Joinvile, ambas próximas à área da Associação de Bairro do Jardim Paraíso I e II (umas das áreas escolhidas para intervenção): melhoria e alargamento do passeio de 0,9m para 1,20m. 2- Implantação de faixas de pedestres elevadas na Avenida Gentil de Mato, para auxiliar na circulação e travessia na região. 3- Implantação de lixeiras de coleta seletiva, visto que não há nenhuma na região e foi um ponto observado no imaginário de uma das crianças. 4- Pintura lúdica dos muros e pisos com o intuito de transformar o espaço por meio da cor, criando ambientes mais divertidos e acolhedores aos diversos imaginários possíveis. 5- Ampliação da área permeável em contato com raízes de árvores que causaram danos aos passeios e melhorias nos pisos degradados na Avenida Gentil de Matos, que faz parte da rota que liga os dois pontos de intervenção.
Lagoa da
Prata
diretrizes
Lagoa da Prata As áreas delimitadas para a intervenção se localizam nos limites do Bairro Santa Eugênia com o Bairro Santa Helena, são constituídas por duas praças que distam cerca de 100m entre si, distância essa definida pela Avenida Dona Alexandrina. Suas características são: Praça / Quadra do Bairro Santa Helena - Perímetro 166,3m; Área: 1807,25m². Praça da Avenida Dona Alexandrina - Perímetro 170m; Área: 1463m². A presença de crianças nesses espaços e imediações é constante, entretanto além da quadra e de um brinquedo isolado, não há outros atrativos. Além disso, o Bairro Santa Eugênia não conta com outros espaços destinados aos infantes e em outras porções próximas a quantidade também é insuficiente. Assim sendo, para que a localidade se torne um ponto de referência de apropriação infantil adequada e segura para o restante da municipalidade, foram ponderadas: 1 - A implantação de limite de velocidade nos trechos circunvizinhos às praças, correspondentes às vias Av. Dona Alexandrina, Av. Bela Vista, Av. Minas Gerais, Rua Manaus e Rua Mato Grosso.
diretrizes
Lagoa da Prata
2 - A requalificação dos pisos das praças, compostos por canteiros gramados e partes concretadas, através de: 2.1 - Ampliação de 1,5m de largura da Praça da Av. Dona Alexandrina em toda a extensão da face pertencente a via homônima. 2.2 - Ampliação da área permeável em contato com raízes de árvores que causaram danos aos passeios nas zonas indicadas no mapa anterior. 3 - A implantação de faixas de pedestres elevadas em: a) Rua Pará. b) Rua Amazonas. c) Av. Bela Vista. d) Rua Enéas Lobato. e) Av. Dona Alexandrina. f) Rua Manaus. 4 - A instalação de lixeiras adequadas para separação de resíduos em ambas as praças. 5 - A manutenção e pintura do mobiliário infantil preexistente na Praça da Av. Dona Alexandrina. 6 - A manutenção e pintura dos bancos de concreto preexistentes nas áreas de intervenção.
faz de conta que As representações a seguir são imagens ilustrativas e sem escala de como imaginamos as intervenções urbanas nos espaços já mencionados. As fotografias de fundo são autorais e foram catalogadas durante o período da disciplina cursada. Assim, busquem em si mesmos os seus olhos de criança e busquem ver além da técnica, pois nosso objetivo real é a valorização do mundo infantil.
Praça da Estação
Praça da Estação
considerações finais ESPAÇOS BRINCANTES é um condensado de ideias que vêm sendo plantadas desde o nosso primeiro semestre como estudantes de Arquitetura e Urbanismo. Hoje, já no "meio do caminho", notamos a nossa identidade e um modo de projetar em coletivo - e para o coletivo - unificado e também potencializado, quem diria, no tempo de distanciamento social. Espaços Brincantes não é nossa primeira experiência projetual conjunta, pois além das salas de aula compartilhamos também um grupo formado por nove estudantes da UFMG desde abril de 2020, não obstante foi a primeira vez que o trio Jheniffer, Júlia e Lucas se encontrou solo. Cada um, ao seu modo, apresentou uma bagagem prévia com crianças - e não esquecemos de modo algum as crianças que já fomos um dia, ainda vivas em alma -, tornando a trajetória totalmente enriquecedora. Hoje nos conhecemos mais e estamos gratos não apenas pelo produto, mas por todo o processo de criação. Nossa gratidão é maior ainda para com as professoras e pedagogas que gentilmente aplicaram as atividades propostas, sem elas nada disso teria sido possível. Portanto, tia Ângela, tia Daniela, tia Daliana, tia Núbia Cristina, tia Núbia Vale, tia Roberta, tia Rosiane e tia Paula, deixamos aqui registrado o nosso muito obrigado, carinho e admiração.
Por último, todavia não menos importante, agradecemos também ao professor Samy Lansky, ministrante da disciplina Arquitetura, Cidade e Infâncias e nosso orientador. Obrigado por comprar tão facilmente a nossa irmandade, nessas sessenta horas adquirimos tanto conhecimento que certamente a experiência nos acompanhará por anos a fim.