A História do Atari 2600
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m outubro de 1977 o Atari foi lançado nos EUA. Na verdade, o console se chamava Atari Video Computer System e com ele o conceito de videogame mudaria para sempre. Pela primeira vez, um console poderia ter centenas de jogos, ao invés de ser uma caixa com uma pré-seleção de um punhado de games, como os anteriores. Como o Atari CX2600 teria os jogos em cartuchos, a variedade de games diferentes era o maior apelo aos gamers. Seria possível criar uma indústria de produtoras de jogos para o sistema, um novo mercado com lançamentos constantes sem que o consumidor precisasse comprar um novo console.
A Criação do Atari 2600 A Atari ficava em Sunnyvale, na Califórnia. Alguns funcionários da companhia, mais precisamente os designers Steve Meyer, Joe Decuir e Harold Lee, iniciaram um projeto chamado Stella em 2
1976. O dono da Atari, Steve Bushnell, percebeu que não teria fundos suficientes para que eles concluíssem o ambicioso projeto, então ele vendeu a Atari para a Warner Communications em outubro do mesmo ano por 28 milhões de dólares. O projeto então decolou e quando foi lançado se chamou Atari 2600 ou Atari Video Computer 3 System, nome mais usado para fins de marketing. O sistema contava com um micro-processador de 1.19 Mhz e 8-bits. A memória RAM era de apenas 128 bytes, para manter os custos de produção baixos. Claro que isso dificultou e muito a programação dos jogos. Os desenvolvedores tiveram que fazer milagre para permitir que os games rodassem nos 128 bytes de memória. O primeiro “truque” usado é que os jogos eram carreados diretamente a partir da ROM (o código não era copiado para a memória RAM como atualmente), o que liberava a memória RAM para ser usada em variáveis e pequenos blocos de código que precisavam de execução rápida.
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Como o chip TIA 1A não oferecia memória de vídeo, a atualização da tela não podia ser feita usando um frame-buffer (em outras palavras, não pra armazenar uma cópia da imagem na memória de vídeo como se faz hoje). Aproveitando o fato de que o Atari era ligado na TV (que trabalha com uma taxa de atualização fixa de 30 Hz interlaçados), os projetistas criaram um sistema engenhoso, onde a imagem era atualizada linha a linha, em um processo contínuo, onde o processador precisava armazenar apenas alguns poucos bytes relacionados aos pixels seguintes. A necessidade de sincronizar a atualização da tela com as demais tarefas executadas pelo software complicava bastante o desenvolvimento dos jogos para o Atari, mas acabou se revelando um fator essencial, já que permitiu que o console exibisse gráficos muito superiores ao que seria possível obter de outra forma. Os jogos bem programados conseguiam manter uma movimentação fluída, mesmo com a atualização da tela sobrecarregando o processador. O grande talento dos programadores tornou isso possível, pois conseguiam aproveitar ao máximo cada linha de código em assembly. Os cartuchos de Atari utilizavam ROMs de 1 a 4 KB e, para os jogos mais “pesados”, existia a opção de incluir 128 bytes de memória adicionais no cartucho, suplementando a memória interna do console. Inclusos na caixa do aparelho está consistia em uma roda com um botão, ao invés do manche do joystick. O joystick era o CX40, enquanto o paddle era o CX30. Um adaptador que contava com 4
uma chave seletora TV/Game permitia a conexão com as televisões. Além dos controles e do adaptador, o jogo Combat fechava o pacote. Quando o Atari foi comercializado no Brasil pela Polyvox, apenas os joysticks acompanhavam o Atari e o jogo grátis era Missile Command. O detalhe em madeira na frente do console também foi substituído por plástico preto. Quando o Atari foi lançado nos EUA, 8 jogos estavam disponíveis nas lojas: AirSea Battle, Basic Math, Blackjack, Indy 500, Star Ship, Street Racer, Surround e Video Olympics. Com a consolidação do Atari no mercado, a empresa lançou vários periféricos para o console: teclado, usado em jogos como A Game of Concentration e Basic Programming, um touch pad para Star Riders, volante para o Indy 500, um controle com uma trackball para games como Centipede e Crystal Castles e por fim um controle para crianças junto com a série de games Sesame Street. Um módulo de computador foi anunciado como sendo uma expansão do Atari, mas nunca foi lançado. Nos EUA o Atari foi vendido inicialmente por 199,95 dólares. Era bem caro para a época e a Warner não lucrou muito com as vendas do console. O que trazia um lucro extraordinário para a empresa era a venda dos cartuchos de jogos. Um jogo foi o grande responsável pelo enorme sucesso do console.
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Space Invaders e Atari Em 1979 os arcades dispararam com Space Invaders. A Atari garantiu os direitos do game, que tinha sido criado pela Taito Corporation e em janeiro de 1980 lançou uma versão para o Atari 2600. Com Space Invaders o console vendeu como água. Só para se ter uma ideia, ao final de 1979 o sistema tinha vendido 200 milhões de dólares, depois de Space Invaders a Atari fechou 1980 com vendas superiores a 400 milhões de dólares. Era 1/3 de todo lucro da Warner no ano. Vendo o sucesso que um port de jogo de arcade poderia trazer, a Atari começou a investir pesado em outros sucessos de arcade: Asteroids, Missile Command,Berzerk e Pac-Man foram os carroschefes. Outro fronte atacado foi o de jogos baseados em filmes. Caçadores da Arca Perdida e E.T. lotaram os cinemas, mas venderam muito abaixo do esperado como jogos de Atari. Inclusive, se fala muito que E.T. foi o último prego no caixão do Atari 2600, mas isso é assunto mais para frente.
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O Começo do Fim Com o sucesso do Atari 2600 era inevitável que outras empresas entrassem na competição pelo mercado de jogos. O pior é que a maior concorrente da própria Warner/Atari viria de dentro da própria Warner! Descontentes com as rígidas condições de trabalho impostas pela Warner, os programadores David Crane, Larry Kaplan, Alan Miller e Bob Whitehead deixaram a Atari para fundar uma nova empresa em 1981, a Activision. Logo em seus primeiros passos a nova concorrente da Atari lançou ótimos jogos que se tornariam clássicos: Pitfall, River Raid,
Keystone Kapers, Hero, Freeway e Kaboom. Com o caminho aberto pela Activision, outras pequenas empresas quiseram entrar na brincadeira, inundando o mercado de jogos para Atari. Imagic, Parker Brothers, Coleco e M Network, entre outras, lançavam uma tonelada de novos jogos.
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Hero, clássico da Activision para Atari Fácil pensar que isso era ótimo para os donos do Atari 2600. De fato, no começo era o paraíso, uma oferta incrível de jogos a qualquer momento. Porém, cada vez mais os prazos de lançamento e custos de produção eram encurtados pelas produtoras e o resultado foi fatal. Games de péssima qualidade eram mais regra do que exceção, consoles concorrentes ganhavam mais espaço, como os mais avançados Colecovision e Intellivison. O Atari 2600 declinou rapidamente e a indústria de games como um todo entrou em colapso em 1983.
NES - A Ressureição Apenas em 1985 a indústria rescussitaria através do Nintendo Entertainment System, o NES ou Nintendinho para os íntimos. Com a volta da indústria, a Atari ainda tentou um último suspiro com o relançamento do Atari 2600 no final dos anos 80. Com novos jogos como Solaris and Midnight Magic, o console de mais de uma década ganhou uma versão com design mais compacto e moderno, além de uma campanha de marketing que dizia: “The Fun is Back” (A diversão está de volta). Mesmo custando meros US$49.00, o Atari 2600 não era páreo para a enorme popularidade do NES. Ainda tinha o Master System da Sega entrando na jogada, assim o Atari 2600 foi pulverizado pela concorrência.
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Mas sua importância e lugar nos corações dos gamers nunca serão apagados. São tantos clássicos e história que até hoje o Atari vive. Nós do JogosDeAtari.com.br sabemos disso e prestamos nossa homenagem merecida a esse gigante. Seja você um saudosista ou um curioso desbravador, aqui você pode jogar todos os grandes jogos de Atari, basta entrar, escolher, clicar e se divertir! The Fun is Really Back!
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Atari no Brasil
década de 80 é considerada por muitos um período mágico. Ela trouxe diversos ícones para a cultura pop mundial e brasileira, com filmes como De Volta para o Futuro e Rambo, com bandas como Pet Shop Boys e a brasileira RPM, bem como diversas inovações tecnológicas que aos poucos começaram a fazer parte do dia a dia do brasileiro, como os primeiros microcomputadores, em especial o MSX, que foi bastante vendido por aqui, principalmente em razão do suporte dado por Gradiente e Sharp. Além desses ícones históricos, há um aparelho que chegou no Brasil na década de 80 e que mudou para sempre a vida de muitos brasileiros: o videogame. Com certeza o primeiro que vem a mente do leitor é o Atari 2600, conhecido aqui apenas como Atari. Ele não foi o primeiro videogame, porém foi o primeiro que atingiu sucesso suficiente para popularizar um mercado que até então era desconhecido dos brasileiros, e ainda restrito a poucos. O Atari 2600 foi lançado nos Estados Unidos em 1977, atingindo grande sucesso por lá. Foi ele que popularizou o sistema de troca de cartuchos nos videogames, pois até então, boa parte dos consoles produzidos tinham apenas jogos em sua memória e não poderiam ser alimentados com novos jogos. Um bom exemplo é o Tele-jogo, que foi o primeiro videogame comercializado oficialmente no Brasil, lançado em 1977 memória: futebol tênis e por uma parceria entre Ford e Philco. O Tele-jogo possuía 3 jogos na memória: futebol, paradão, todos com gráficos simples ao extremo, sem opção de inserir novos jogos.
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Naquela época vigorava no Brasil uma lei de reserva de mercado, que proibia a importação de componentes e equipamentos eletrônicos e de informática. Isso fez com que todas as novidades nessa área não conseguissem entrar no Brasil de forma lícita sem que fossem produzidas por aqui. Diante disso, empresas brasileiras começaram a copiar os hardwares dos videogames estrangeiros (em especial o Atari) e assim começaram a ser lançados aqui no começo da década de 80, diversos consoles compatíveis com o Atari 2600, tais como o Dynavision e o Dactari. Apenas no final de 1983 é que o Atari chegou oficialmente no país, pelas mãos da Polyvox, uma subsidiária da Gradiente. Naquele tempo, o Atari começou a estourar de vez no Brasil, pois juntou a grande gama de consoles e jogos já lançados pelas empresas “clone” brasileiras, com o console oficial e os games vendidos com o selo da Atari. E quantos games inesquecíveis essa época nos trouxe: Pitfall, Enduro, River Raid, Adventure (o primeiro jogo que eu lembro em que era possível terminar/zerar o game), Keystone
Kapers (jogo do policial que corria atrás do bandido dentro de um shopping), Pac-Man, Decathlon (famoso por destruir controles) e muitos outros. Nesse período, outras empresas, percebendo o sucesso da Atari no Brasil, lançaram dois consoles concorrentes: o Mattel Intellivision, lançado no Brasil pela Digiplay, e o Magnavox Odyssey, lançado por aqui por sua subsidiária brasileira, a Philips. Ambos obtiveram relativo sucesso por aqui, mas sem tirar o brilho do videogame da Atari. A própria Atari, temendo a concorrência desses consoles e do Colecovision (não lançado no Brasil), lançou nos Estados Unidos um novo console chamado Atari 5200. A mais célebre é referente ao jogo do filme E.T., que devido a um lançamento precipitado (um jogo na época tinha tempo mínimo de desenvolvimento de 3 meses... E.T. foi desenvolvido em 5 semanas e meia!!), o game lançado era “injogável”, carregando até hoje o título de “um dos piores jogos de todos os tempos”. E o problema não se resumia a isso: a Atari teve a brilhante ideia de produzir uma 13
quantidade de cartuchos do E.T. muito superior à base de consoles vendidos, imaginando que o jogo faria tanto sucesso que eles conseguiriam vender mais aparelhos com ele. A ideia obviamente não deu certo. O jogo, apesar de ter vendido 1.5 milhão de cópias, teve algo em torno de 3 milhões de unidades encalhadas. Levando em consideração o investimento que a Atari fez para obter a licença do jogo e para a fabricação dos cartuchos, o prejuízo chegou a cerca de 100 milhões de dólares aos cofres da empresa, uma cifra astronômica para a época. Toda essa situação gerou o malfadado episódio do enterro dos cartuchos realizados pela Atari em alguns desertos dos Estados Unidos, sendo que um desses aterros foi localizado recentemente por uma equipe de escavadores durante a realização de um documentário financiado pela Microsoft e que irá ao ar para os usuários dos consoles Xbox. Se no Brasil tudo ia bem, nos Estados Unidos não se podia dizer o mesmo, pois uma grande crise praticamente acabou com o mercado de videogames americano. Por lá, diversos consoles haviam sido lançados, e muitos e muitos jogos (a maioria ruins), amargavam o encalhe nas prateleiras. E acredite, a Atari foi uma das grandes responsáveis por essa crise, devido a diversas decisões erradas tomadas pela empresa.
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No Brasil, diante das limitações trazidas pela legislação da época para a realização de importações, nada dessa crise foi sentida e a indústria do videogame local seguia a todo vapor. E assim se seguiu até 1989, quando começaram a surgir por aqui os primeiros clones do console da Nintendo, o NES (conhecido por Nintendinho por aqui).
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