O REI DE CUCURBITA

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J. Ivo Brasil

Ilustrações – Joel CostaMar

J. Ivo Brasil Ilustrações – Joel CostaMar

Quinze deles eram comerciantes natos e ricos e, como tais, tinham negócios em comum por todos os reinos, por onde costumavam viajar frequentemente.

Em uma dessas viagens para um reino mais distante, no meio da negociação, um rei local, o sábio Jack, comentou que faltava uma pessoa da família na comitiva e perguntou aos irmãos mais próximos:

– Está faltando uma pessoa da família aqui na comitiva. Quem é? Eles se entreolharam sem jeito e disseram: – É Akim, nosso irmão mais novo. Ele nunca participa de nossos negócios e nós, quase nunca, o procuramos.

O sábio Jack não fez nenhum comentário sobre o que ouviu.

Deixou transcorrer as negociações normalmente e, ao final, praticou o que era costume em seu reino: presentear os convidados.

Bateu palmas e entraram 15 serviçais com bandejas nas mãos e, em cada uma, havia um tipo específico de “jerimum”.

Gentilmente, o rei pegou um a um e foi entregando aos príncipes.

Eles receberam os presentes, agradeceram, entreolharam-se, saíram e no caminho para suas carruagens um deles comentou; – Esse reizinho não nos dá valor mesmo!

Onde já se viu?! Nos presentear com

“jerimuns”, uma coisa tão insignificante e ainda por cima bem pesados.

Todos concordaram, entraram em suas

carruagens e seguiram viagem, mas, como já era muito tarde, precisavam de um lugar para pernoitar e para deixar os animais descansarem. Entretanto, só havia um local para onde ir que ficava na direção de suas casas: A morada do irmão mais novo. Relutantes, decidiram ir até lá.

Chegaram na casa de Akim à noitinha, bateram à porta e foram recebidos gentilmente por um rapaz que não era Akim. Os irmãos entraram, não saudaram o rapaz, passaram direto por ele e, de forma esnobe, saudaram o irmão mais novo e mais pobre que, apesar de tudo, ficou muito satisfeito com a visita inesperada deles: – Mas o que houve com vocês? Qual o motivo da visita?

Como era de costume, eles se entreolharam e disseram, zombeteiramente, entre risos:

– Fomos visitar o reino do sábio Jack para fazermos negócios e, na volta, precisávamos de um lugar para pernoitar. Como sua casa é a mais próxima do caminho, resolvemos, a contragosto, passar por aqui.

Akim abanou a cabeça, riu da maldade dos irmãos e resolveu brincar também:

– Já que é assim, um bom anfitrião, mesmo quando recebe visitas indesejáveis, deve lhes oferecer um jantar com o que há de melhor em sua casa.

Sorrindo, acenou para o rapaz e foram montar a mesa com tudo que tinham em casa – comida suficiente para passar o mês!...

Os irmãos esnobes não se fizeram de rogados. Aproveitaram a oportunidade e comeram tudo que lhes fora servido.

Terminaram, não agradeceram, levantaram-se e foram dormir.

No dia seguinte, cedinho, saíram de fininho sem falar nada, mas, antes, cada um deixou seu “jerimum” em cima da mesa como “presente” para Akim.

Durante 3 dias, houve uma forte chuva.

O rapaz voltou de uma caçada frustrada e disse a Akim que os animais e as frutas

da mata tinham sumido. Todo o estoque de comida da casa havia acabado, exceto os “jerimuns

Akim lembrou-se dos “jerimuns” e disse ao rapaz que passariam a comer isso. Não morreriam de fome!... Foram até a despensa e começaram a abrir os “jerimuns” menores. Qual não foi a surpresa!

À medida que os abriam, verificaram que, no primeiro, havia moedas de ouro; o segundo estava cheio de brilhantes; o terceiro estava repleto de pérolas... Por curiosidade, foram abrindo os outros “jerimuns” e perceberam que cada um tinha dentro riquezas inomináveis.

Quando terminaram de abrir o último
“jerimum”, uma voz retumbante disse:

Assustados e sem entenderem direito, recolheram toda a riqueza, guardaram e passaram a comer os “jerimuns” durante dias. De fato, não morreram de fome... Com toda a riqueza que passaram a ter, começaram a prosperar aos poucos para não levantarem suspeitas de ninguém.

Passados alguns meses, os irmãos

de Akim tiveram de voltar ao reino de

Jack para acertarem outros detalhes de novas negociações. Mais uma vez, o

sábio falou:

Está

faltando uma pessoa da família aqui na comitiva. Quem é?

Eles se entreolharam e mais uma vez, sem jeito, disseram:

– É Akim, nosso irmão mais novo. Ele nunca participa de nossos negócios e nós, quase nunca, o procuramos.

O rei balbuciou:

Desde a última vez que vocês estiveram aqui, a resposta foi a mesma... Desde a última vez que vocês estiveram aqui, cada um recebeu um grande presente, o qual todos menosprezaram.

O mais velho dos irmãos retrucou com escárnio:

O sábio Jack que nos desculpe, mas aqueles presentes não estavam à nossa altura e, para nos livrarmos deles, acabamos por deixá-los para nosso irmão pobre e aquele lá que vive com ele. Eles precisam muito mais do que nós.

Então o sábio, rindo muito, falou altissonante:

– Na realidade, vocês deram uma imensa riqueza para eles!

Neste momento, escutaram toques e clarins, batidas de tambores e foi anunciado que dois homens muito ricos queriam fazer negócios com o sábio rei Jack. Os irmãos correram para a janela para ver quem chegava e, surpresos, viram de longe dois homens ricamente vestidos de branco, montados em cavalos brancos, seguidos por um séquito de soldados montados em cavalos puros-sangues com arreios de ouro. Surpresos, gritaram: – É Akim, nosso irmão, e aquele lá!

O sábio então jogou a cabeça para trás, riu mais alto ainda e disse: – Isso tudo que vocês estão vendo é fruto das riquezas que estavam nos “jerimuns”! Chocados, os irmãos entreolharamse, coçaram a cabeça e juraram, em silêncio, que retomariam o que era deles. Para não verem a chegada triunfal do irmão, deram uma desculpa esfarrapada ao rei e saíram apressados, mas, antes, receberam outro presente de Jack: O sábio rei ofereceu a cada um deles uma moeda de prata, dizendo que guardassem, pois aquele ano não seria nada bom para eles

As manhãs passaram... O tempo passou... As coisas mudaram e não foram boas para os negócios dos irmãos esnobes de Akim. Por fim, foram até ele para reivindicarem o que achavam que lhes pertencia.

Outra grande surpresa: O lugar simples de outrora se tornara uma próspera propriedade, com um lindo palácio no centro e muitos trabalhadores felizes. Na entrada, havia um portal com uma placa em que se lia: REINO DE CUCURBITA.

O chefe da guarda, assim que os viu se aproximarem, perguntou a quem deveria anunciar. Ao ser informado, anunciouos imediatamente, mas não foram recebidos por Akim, rei de CUCURBITA, que estava com visitas importantes e não tinha horário na agenda para receber os irmãos naquele momento. Enraivecidos com a afronta, começaram a gritar que queriam os “jerimuns” de volta. Dentro do palácio, a mesma voz que saíra do último “jerimum” sussurrou para Akim:

Imediatamente, o rei de CUCURBITA falou para um de seus soldados ir avisar aos irmãos que os “jerimuns” apodreceram, foram jogados fora e que eles deveriam ir embora.

Relutantes, partiram com raiva, esbravejando que aquilo não ficaria assim. O soldado voltou para o palácio sorrindo e cantarolando: “Um homem bateu em minha porta

E eu abri

Senhoras e senhores

Põe a mão no chão

Senhoras e senhores

Pulem num pé só

Senhoras e senhores

Deem uma rodadinha E vá pro olho da rua”

Depois disso, nunca mais ouviram-se falar das peripécias dos irmãos ricos e esnobes que desprezavam o irmão mais novo que era o “pobre” da família. Agora, a história era outra e, longe do falatório e do preconceito, o reino de CUCURBITA só prosperava!

Todos que por ali passavam eram tratados com dignidade e respeito. O rei Akim acolhia a todos, nunca revelando o que tinha, nem de onde vinha sua riqueza, pois não queria correr o risco de perdê-la. Reinava com alegria, generosidade e fartura, pois tinha o caminho da prosperidade e sempre buscava a positividade.

Seguindo a linha de escrita de seu primeiro livro NO REINO DE SA, LA e DA o jornalista J. IVO BRASIL lança o seu quarto livro, O REI DE CUCURBITA, inspirado em uma lenda africana que nos fala de fartura e prosperidade por meio da positividade, alegria e generosidade tendo como coadjuvante o “jerimum” (sinônimo de abóbora) que representa o renascimento e à fertilidade, e também simboliza colheitas e fartura.

Nascido na cidade de Condado/PE, especialista em docência para o Ensino Superior, o autor e escritor mora na cidade de São Paulo. Acredita que “aprender é não se prender a preconceitos e perceber-se incompleto, porque a incompletude infunde o movimento da vida” – (palavras do mestre Alexander Martins).

Vive em contínua busca por cultura e arte. Atua como presidente do Ponto de Cultura Itaquerendo Folia, além de ser Produtor e Gestor Cultural.

@jivobrasil

@itaquerendofolia

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

B r a s i l , J . I v o

O r e i d e C u c u r b i t a [ l i v r o e l e t r ô n i c o ] / J . I v o

B r a s i l ; i l u s t r a ç õ e s J o e l C o s t a M a r . - - S ã o P a u l o :

I t a q u e r e n d o F o l i a , 2 0 2 4 . H T M L

I S B N 9 7 8 - 6 5 - 9 8 4 1 4 9 - 2 - 4

1 . A n c e s t r a l i d a d e - L i t e r a t u r a i n f a n t o j u v e n i l

2 . C u l t u r a a f r i c a n a - L i t e r a t u r a i n f a n t o j u v e n i l

3 . L e n d a s - Á f r i c a - L i t e r a t u r a i n f a n t o j u v e n i l

I . C o s t a M a r , J o e l . I I . T í t u l o . Índices par a catálogo sistemático:

2 4 - 2 3 3 8 6 5 C D D - 0 2 8 . 5

1 . L i t e r a t u r a i n f a n t i l 0 2 8 . 5

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E l i e t e M a r q u e s d a S i l v a - B i b l i o t e c á r i a - C R B - 8 / 9 3 8 0

Feito o depósito legal É proibida a reprodução total e/ou parcial desta obra sem a devida autorização do autor/escritor e/ou do selo independente Itaquerendo Folia. E-book - Audiobook e V-book itaquerendofolia.org

AKIM era o 16º filho de um rei muito rico, sendo o mais pobre dos irmãos. Desprovido de interesse pela vida social e opulência, vivia afastado do reino de seu pai em suas próprias terras, mas isso estava prestes a mudar... Nem mesmo uma inesperada fortuna faria os seus irmãos aproximarem-se dele com afeto, porque, além de interesseiros, eram capacitistas.

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