Galáxia Paradoxal - Internet, Arte e Pessoas, numa galáxia da informação

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Galáxia Paradoxal: internet, arte e pessoas, numa galáxia da informação Jorge Augusto dos Santos (#62214)


GALÁXIA PARADOXAL Internet, Arte e Pessoas, numa galáxia da informação Jorge Augusto dos Santos

e-Working Paper n.º1/2012

ISCTE-IUL – Instituto Universitário de Lisboa | Escola de Sociologia e Políticas Públicas E-mail: jorge.augusto.s@netcabo.pt


RESUMO Este trabalho aborda o tema da complexa relação das pessoas com a Arte na Era da Internet. Os paradoxos que envolvem as partes são o denominador comum e recorrente da forma como a vida das pessoas está a mudar com o desenvolvimento da tecnologia, como as relações humanas e sociais diminuem com o aumento da mediação na rede ou como os media já não são a mensagem, mas sim as pessoas. Reflete-se sobre as fronteiras da galáxia da informação, os seus limites na comunicação humana e na mudança, sobre consciencialização e educação. Lança-se, ainda, um olhar sobre globalização/individualização, local/global, novas lógicas e alteridade(s). Deixam-se, propositadamente, questões em aberto, sobre a (nova) cultura, os novos media, os ‘novos’ prazeres, as redes sociais, a Arte e o entretenimento, a Era da criatividade, da inovação e de (quase) todas as experimentações, do(s) ecrã(s) à hiper-informação ou das utopias da mobilidade e da interatividade. PALAVRAS-CHAVE: pessoas, arte, Internet, paradoxo das relações digitais, tecnologia, relações humanas, informação, media, novos media, globalização, redes sociais, educação, entretenimento, criatividade, ecrãs, interatividade e utopia.

ABSTRACT This paper addresses the issue of people's complex relationship with Art in the Age of the Internet. The paradoxes involving the parts are the common denominator on how people's lives are changing with the development of technology, such as human relations and social decline with the rise of mediation in the network, or how the media are no longer the message, but people. We reflect on the borders of the galaxy of information, its limitations in human communication and in change, its awareness and education. We overview globalization / individualization, local / global, new logics and otherness. We purposely leave open questions about the (new) culture, the new media, 'new' pleasures, social networking, art and entertainment, the Age of creativity, innovation and (almost) all experiments, from screens to hyper-information, from interactivity to utopia. KEYWORDS: people, art, Internet, digital paradoxes of relations, technology, human relations, information, media, new media, globalization, social networking, education, entertainment, creativity, screens, interactivity and utopia.


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“Não há solução porque não há problema.” – Marcel Duchamp Introdução

Em 1789 Jean-Paul Marat1 (1743-1793) criou um jornal, L’Ami du peuple (O amigo do povo), com o objetivo de divulgar e identificar aqueles que considerava os ‘inimigos’ do povo na altura da Revolução, em França. Cientista e ativista, empenhou-se em denunciar para que se tomassem medidas (extremas): cortar-lhes a cabeça. No dia 13 de julho de 1793, uma revolucionária centrista consegue entrar no seu apartamento, apresentando uma carta falsa, quando Marat estava na sua banheira, forrada a lençóis, onde habitualmente trabalhava, devido a um tratamento de pele. Charlotte Corday apunhala-o no peito, ele morre e Jacques–Louis David2 (1748-1825) presta homenagem ao homem que amava o seu povo, pintando a cena da sua morte no quadro La Mort de Marat (1793) [Fig.1]. A obra de arte, para além de documento histórico, é um documento jornalístico, uma vez que narra os momentos seguintes ao homicídio. O pintor, colega de Marat na Convenção, terá imaginado as circunstâncias a partir da que ele próprio recordava do dia anterior, quando havia visitado o deputado em sua casa. Não se pode excluir o estado emocional em que David se encontrava quando pintou a cena do homem que, na tela, está moribundo, ainda não sem vida. Marat segura na mão esquerda a falsa carta e na direita, que tomba para fora da banheira, a pena com que escrevia. Tem o peito, de onde escorre apenas uma gota de sangue, furado, provavelmente pela faca caída do lado de fora da ‘caixa’ onde quase jaz. Este episódio da História da Arte mundial, particularmente da pintura francesa do final do século XVIII, é trazido aqui com o propósito de introduzir o tema da relação das pessoas com a Arte e com a informação na Era da Internet. O momento talvez seja complexo, mas deve ser descomplicado. O paradoxo encontra-se na necessidade imperial de imparcialidade por parte de um ser humano jornalista, que é parcial por natureza. Mas encontra-se, também, no Homem que, enquanto ser, precisa de sociabilizar para viver e que, ao procurar a máxima sociabilização na nova Era da Comunicação, dos novos media e das tantas redes sociais, se afasta do contacto humano. Esse paradoxo é o denominador comum recorrente neste trabalho, dividido em quatro partes. Na primeira parte, aborda-se a forma como a vida das pessoas está a mudar com o desenvolvimento da tecnologia, como as relações humanas e sociais diminuem com o aumento da mediação na rede ou como os media já não são a mensagem, mas sim as pessoas. Na segunda, reflete-se sobre as fronteiras da galáxia da informação, os seus limites na comunicação humana e na mudança, sobre consciencialização e segmentação. A terceira parte é dedicada ao tema da globalização e da individualização, o confronto de dimensões da rede, novas lógicas e alteridade(s). Na quarta e última parte deixam-se questões em aberto, infinitas, sobre a (nova) cultura, os ‘novos’ media, os ‘novos’ prazeres, a Arte e o entretenimento, a Era da criatividade, da inovação e de (quase) todas as experimentações. Esta é a viagem de hiper-reflexões que se propõe. 1

Físico, cientista e teórico político, nascido na Prússia, mais conhecido pela sua carreia em França como jornalista radical e político durante a Revolução Francesa. [Em linha]. Princeton University, Allison Chaney. [Consult. 21-0120113]. Disponível na internet: <URL: http://www.princeton.edu/~achaney/tmve/wiki100k/docs/JeanPaul_Marat.html >. 2 Pintor francês influenciador do estilo Neoclássico, considerado prominente nessa Era. [Em linha]. The Metropolitan Museum of Art. [Consult. 21-01-20113]. Disponível na internet: <URL: http://www.metmuseum.org/toah/hd/jldv/hd_jldv.htm >.

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1.

(R)evoluções tecnológicas vs. (e-)relações humanas: medias sem rede e sem meio termo?

A forma de relacionamento das pessoas, em geral, e dos jovens, em particular, tem mudado. Mas o relacionamento inter-media também, como a utilização das redes sociais para debater/comentar programas de televisão. O Facebook, por exemplo, assumiu um papel de relevo no acompanhamento dos Jogos Olímpicos de Londres (2012). Os números ‘dizem’ que 3,5 mil milhões de peças e conteúdos são colocados nessa rede social pelos utilizadores a cada semana, que estão ativos no Twitter 100 milhões de utilizadores e que a Google recorre a 900 mil servidores para responder à carga necessária para os seus serviços. Ou que na União Europeia 77% dos jovens têm perfil em redes sociais e que 44% das crianças dizem não saber alterar os parâmetros de privacidade nessas páginas1. Os números mostram, ainda, e particularmente em Portugal, que 38% dos jovens, com idades entre os 9 e os 12 anos, e que 78% com idades entre os 13 e os16 anos, estão presentes nessa redes2. Os números não mentem. Eles mostram, por exemplo, o aumento de literacia informática, ao mesmo tempo que diminui a preocupação com a segurança na disponibilização de dados pessoais na rede global. Os números dizem muito. Mas dirão tudo? As crianças são alvos relativamente fáceis no emaranhado da rede e das solicitações exteriores que permanentemente as prendem, rodeiam, envolvem e atrofiam, ao mesmo tempo que as tentam educar. Com enorme facilidade se adaptam aos equipamentos tecnológicos, fora ou dentro da sala de aula. O computador (com acesso à Internet) é, como refere o professor Rui Lima 3, uma ferramenta de trabalho “eficaz e uma importante ajuda no processo de aprendizagem”, mas não basta haver um computador por aluno ou um quadro interativo por sala. É necessário mudar mentalidades e paradigmas [e perceber] que os alunos mudaram, [...] que este mundo está em permanente mudança, [...] as crianças estão constantemente sujeitas a uma quantidade de estímulos sensoriais o que, há alguns anos, era impensável. [...] caberá aos «novos professores» bem como aos pais da era digital saberem fazer a filtragem dos melhores recursos e guiar as crianças nas descobertas que, inevitavelmente, vão fazendo.

Não deixa de ser paradoxal notar que neste mesmo país ‘evoluído’ existe um baixo nível de escolarização da população (muito abaixo da média da OCDE), elevadas taxas de abandono precoce, baixos níveis de aprendizagem, elevadas desigualdades sociais ou a persistente separação entre as escolas e as famílias (segundo um relatório do CNE4). Na atual nova Era, ganha-se em informação e perde-se em raciocínio. Eduardo Lourenço, o professor, que aos 89 anos é um dos maiores pensadores contemporâneos, não usa um computador, mas afirma saber o que é e já ter ouvido falar. Não usa porque nasceu numa época em que não existiam computadores e diz que se usasse “não teria escrito uma linha. Porque aquilo é um universo sem fim e como [ele não resiste] a uma tentação senão cedendo...”5. Por isso não se pode dar ao luxo de se perder em todas essas solicitações. 1

Dados do projeto EU KIDS, estudo realizado em 25 países e com a colaboração de 25 mil jovens (Apud Marina:13). 2 Dados da Comissão Europeia, Apud Marina:14. 3 Apud MARINA:15. 4 Conselho Nacional de Educação, apud MONTEPIO:20. 5 Apud LUCAS:33.

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Não se podem, contudo, ignorar os benefícios dos novos media, que proliferam para divulgar e cultivar emoções de alegria, prazer, otimismo, amor ou sentido de humor. Através deles o ser humano envolve-se em causas ou em experiências de partilha. Mas eles não ensinam tudo. As pessoas (incluindo, sobretudo, os jovens) têm de aprender a aprender. Como pertinentemente notou o professor, sociólogo e investigador Gustavo Cardoso, “ensinar alguém a carregar num botão é diferente de ensinar a lógica da razão para o fazer.”1 A Internet ajuda e encoraja os seus utilizadores a resolver puzzles de informação, que se fragmenta em múltiplas frações. O resultado nunca é final porque a busca é contínua. Aprendeuse a pensar de forma acelerada, intensa e intensiva. Mas à medida que se vai fazendo, começa-se “a sacrificar outras formas de pensamento [...] aquelas que exigem atenção e concentração, que envolvem a contemplação, a reflexão e a introspeção.” Quem o afirma é Nicholas Carr2, autor do best seller, nomeado para o prémio Pulitzer, Os Superficiais – o que a Internet está a fazer aos nossos cérebros (2011). Estarão as pessoas cada vez mais superficiais em proporção ao aumento da utilização da Internet? Impor-se-á nas suas vidas este novo media, desequilibrando o próprio pensamento, as relações humanas (incluindo as físicas, face-a-face) e a culturalidade? Carr aponta consequências práticas para essa transformação mental na educação, na inovação, na literatura, nas artes ou, até, na saúde. A eficiência e a produtividade em prol de um mundo mais monótono, limitado, pobre em pensamento, em criatividade e, por conseguinte, dando lugar a um buraco na imaginação humana. O desenvolvimento tecnológico é talvez sinónimo de estagnação da mentalidade, da intelectualidade, enfim, da Humanidade. Por um lado, aprendeu-se depressa a utilizar as sempre emergentes novas tecnologias (talvez demasiado depressa, dirão alguns). Por outro, desaprende-se a estimular formas contemplativas de pensamento, ou seja, de lentamente refletir, criar, desenvolver e fazer crescer o espírito humano. Muito rapidamente se partilha uma frase, um pensamento (de um verdadeiro pensador, inventor, criativo, cientista ou filósofo), uma imagem de uma obra de arte (uma imagem, uma música ou um filme), mas com igual rapidez não se perde um momento (mais do que cinco segundos [fig.2]) para pensar. Se por um lado se acredita – aparentemente de forma gratuita – em tudo aquilo que os (novos) media dizem, por outro logo se esquece, esquecendo-se também modos de questionar criticamente. A máquina substitui os sentidos, dando (demasiada) razão a Marshall McLuhan (1911-1980) ou às profecias de Nicholas Negroponte (1943). O tempo, apesar de ser de crise – ou por causa dela – deve ser de profunda reflexão, de balanço sobre o que foi e como tem sido essa (re)volução tecnológica e social. Tempo de colocar hipóteses sobre como será o futuro e, sobretudo, como ele pode ser melhor para o Homem. A moeda tem duas faces, mas nem sempre parece a mesma. Continuamente se balança entre os benefícios e os malefícios de uma realidade que há muito deixou de ser linear, quer no espaço, quer no tempo. A cronologia da História tende a ser feita noutras dimensões, noutras hiperligações, mediadas quase sempre por janelas de máquinas tecnológicas (televisão, telemóvel, computador, tablet, e afins), que ‘dão’ para algures ou nenhures da vida real. Essa está, ainda, presa ao próprio corpo, à própria vida. Por isso a relação entre a(s) tecnologia(s) e o 1

Oratória, MCCTI, Dinâmicas Sociais da Internet (aula), em 01-10-2012. Em “Sequestrados pela Net”, entrevista a Ricardo Nabais (09-12-2012). [Em linha]. Sol. [Consult. 10-12-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://sol.sapo.pt/inicio/Tecnologia/Interior.aspx?content_id=64428 > 2

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Homem é paradoxal: porque é uma relação de amor/ódio. A solução estará no equilíbrio das forças. Como genialmente notou Manuel Castells 1, “o que é maravilhoso na tecnologia é que as pessoas acabam por fazer com ela algo diferente daquilo que era pretendido inicialmente.”

2.

Zapping, searching, browsing, surfing, consuming & drowning: nova cultura e(m) novos media

Os termos em inglês – a linguagem universal da Internet –, comummente conhecidos por quem navega pelos novos media, foram já introduzidos e assimilados na linguagem atual. A estes juntou-se a expressão drowning (afogamento), para se ilustrar que o perigo espreita. Atualmente vive-se submerso num mar de informação. Se antes havia alguns produtores de conteúdos, destinados a ser consumidos por muitos utilizadores, hoje estes últimos assumem também o papel de transmissores de informação. Nesse sentido, todos são criadores de ligações de uma rede sem núcleo mas com muitos pólos difusores. Assim nasce uma nova cultura da informação e dos media, “uma construção coletiva que transcende as preferências individuais, enquanto influencia as práticas das pessoas na cultura, neste caso, os produtores/utilizadores da Internet.”2, como preconiza Castells. Para ele, o objetivo da nova cultura talvez seja “reinventar a sociedade”3, com o empreendimento de algumas pessoas que materializam ideias, ganham dinheiro e assim fomentam a economia, que por seu turno forma a cultura como valores válidos e funcionais na sociedade. A narrativa da Internet é transmedia. Embora se viva essa realidade de forma natural, ainda se sabe muito pouco dela e as perguntas alastram e abundam mais do que as certezas. Os novos media são interativos e dinâmicos, são o movimento que a estagnação do corpo a teclar ou a fazer scroll permite iludir que se está em movimento. Enquanto o corpo se torna estático, criando raízes nas confortáveis cadeiras do pensamento amorfo. São velozes, móveis e portáteis, a ‘botija de oxigénio’ que se carrega para todo o lado para se poder respirar à vontade. Vive-se num mundo hiper-inter-ativo, com a tecnologia a (tentar) satisfazer todas as emergentes necessidades, ou necessidades a emergir com as novas tecnologias. A multidimensão alastra à medida que o ser humano progride, apoiada na criatividade tecnológica. A criatividade não é, de facto, tecnológica mas humana, pois são as pessoas que a criam. A influência é, nitidamente, mútua. As pessoas domesticam-na e ela domestica as pessoas [fig.3]. A utilização da tecnologia acabará por mudar a própria tecnologia. Esta, por sua vez, molda a forma de pensar dos seres humanos, para quem o ciberespaço é um espaço complexo e de ilimitadas capacidades. O grande modelo da nova cultura é a Internet, provavelmente a forma de mediação mais democrática que existe. Com ela se encontra mais liberdade, possibilidade de partilha e fonte de (quase) toda a informação, todo o saber que se conhece, tudo o que foi bem feito, mal feito e que está por fazer. Autêntico depósito de informação onde quem tem olho, e sabe separar os factos que realmente importam ou interessam, tem o poder, na World Wide Web experimentam-se, combinam-se “e recombinam conhecimentos e práticas”4.

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CASTELLS:195. Idem:36-37. 3 Idem:61. 4 MOURA:58. 2

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3.

Me, myself and I vs. os outros: alteridade, ‘novo’ mundo e novas lógicas

Na passagem do século da Revolução Industrial (XIX) para a contemporaneidade do século das grandes guerras, da teoria da relatividade, da criação da CEE e da UE, da invenção do avião e da viagem à lua, a noção de duplicidade do Ser altera-se e deve ser contextualizada. O que foi inicialmente uma fantasia científica de meados do século XIX ou início do século XX, que inspirou a literatura científica 1 e o cinema2, tornou-se realidade antes do século XX terminar. A revolução, no entanto, não se faz apenas na viagem espacial ou no átomo. A ambivalência do indivíduo, da sua personalidade e da sua sexualidade é pensada por Freud na primeira década de novecentos. A alteração nas ideias ao longo dos tempos afeta a perceção do homem de si próprio. A interiorização e compreensão da personalidade humana, sobretudo depois de Freud, deslocaram o mal para o exterior do indivíduo. Na literatura, os autores aplicam as novas conceções da psicologia à ficção literária - neste caso, o desdobramento patológico da personalidade. Perante os novos meios de comunicação, as pessoas encaram a sua duplicidade, numa luta como a que o Dr. Jekyll3 trava para se livrar da forma outra, maldita ameaça, tentação (juventude, vigor e felicidade) e, ao mesmo tempo, sentimento de ódio por Mr. Hyde. O desejo (consciente?) move o indivíduo na busca pela força extra-humana, através de outros, que criam como avatares, para dar significado à sua metade em falta. Seguindo o princípio socrático de que “dentro do homem existe um Deus desconhecido”4, ele tenta encontrar a sua ipseidade e identidade fora de si. Compreender o conceito de alteridade passa pela compreensão do outro e pela tomada de consciência de si, conforme a ideia que o filósofo alemão Hegel (1770-1831) sustentou. Realidade versus imaginário/simbólico, a complementaridade é necessária para a unidade integral. Mito ou metamorfose, amantes ou almas gémeas, são exemplos da dualidade neste tema. O bem e o mal, preto e branco, dia e noite, luz e escuridão, não podem existir um sem o outro. Procura-se, portanto, o equilíbrio da difícil coexistência. A Arte e a literatura têm aproveitado o tema do duplo como abstração ou projeção da realidade. A fórmula não é nova: a mitologia grega inspirou muitas obras e formas de arte, desde o quadro de Narciso (1596), do pintor barroco Michelangelo Caravaggio (1571-1610), ao filme A.I. Inteligência Artificial (2001), do realizador de cinema contemporâneo Steven Spielberg (1946). Replicada na literatura pelo dramaturgo William Shakespeare (1564-1616), em A comédia dos enganos (1594), foi utilizada também por Plauto (230 a.C. – 180 a.C.) nas suas comédias, Anfitrião (194 a.C.) ou Os Menécmos (195 a.C.). A palavra de origem grega “anfitrião” (amphitryon) pode ser interpretada como “assédio de ambos os lados” 5, que tão bem se aplica no contexto das dinâmicas sociais na Internet (em que toda a gente é anfitriã de outrem). No princípio não havia o duplo, mas um original Eu, um uno. Tudo o que lhe é exterior – diferente de si – causa estranhamento e leva, tendencialmente, à exclusão, por ser considerado um mal e uma ameaça, como foram vistos Peter Schlemihl (sem sombra), ou Erasmo Spickherr (sem reflexo), respetivamente em A História Fabulosa de Peter Schlemihl, de Adelbert von 1

Júlio Verne em De la Terre à la Lune (1865), ou H.G.Wells em The First Men in the Moon (1901). Georges Méliès em Le Voyage dans la lune (1902). 3 Em Strange case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1886), de Robert Louis Stevenson. 4 Carlos Ceia, Alteridade, definição em linha, em < http://www.edtl.com.pt >. 5 [Em linha]. Worldlingo [Consult. 12-12-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://www.worldlingo.com >. 2

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Chamisso (1781-1838) e em O reflexo perdido, de E.T.A. Hoffman (1776-1822), ambos de 1814. Sem as suas sombras e reflexos, as pessoas veem-se nuas. Um duplo nunca será o original, apesar de ganhar outra essência. É uma extensão, uma sombra, um eco ou um reflexo (oposto?) do sujeito. Como no caso narcísico de William Wilson (1839), de Edgar A. Poe (1809-1849), que encontra no Outro homónimo a sua réplica, a voz da sua (in)consciência, que o persegue como uma maldição. Ou como a perseguição ao senhor Goliádkin, em O duplo (1846), de Dostoiévski (1821-1881). A duplicação do Eu pode adquirir existência própria e/ou autónoma, uma extensão e desdobramento externo e/ou interno do indivíduo, com o qual este se identifica ou não. Essa coexistência pode ser pacífica ou inspirar traços mais sombrios, difíceis de controlar. O Eu e o seu duplo entram num jogo mortal e paradoxal: cada um deles deseja ser único mas não ficar sem a sua representação outra. A esta replicação chamaram os alemães Doppelgänger: o espectro espelhado que o segue como uma sombra. O tema gera estranheza ou fascínio. Por isso continuará a ser explorado em obras artísticas e literárias, ou na psicologia e análise de comportamentos humanos, como o dos utilizadores dos novos media, da Internet, das redes sociais ou das novas formas de comunicação. O estranhamento (estrangeiro, diferente, deviant) causa deslumbramento. Por isso o inesgotável (e sedutor) tema foi (e tem sido, desde a Antiguidade e sobretudo depois da Idade Média) tão ricamente explorado na literatura, noutras artes e fora delas, até aos dias de hoje. Na música, por exemplo, encontra sempre atualizações: do tema Mirror in the Bathroom (1980) da banda inglesa The Beat, passando pela wake-up call music de Michael Jackson Man in the mirror (1988), até ao ‘existencialista’ tema rap/pop Mirror (on the wall) (2011), do cantor americano Lil Wayne com Bruno Mars. Sombras, fantasmas, espectros, espelhos, reflexos, entre o verdadeiro e o falso, desdobram-se numa infinidade de conceitos, novos ou centenários, que povoam a vida, o mundo e, consequente e inevitavelmente, a Arte. Esta por sua vez influencia e é influenciada por outras ciências, como a filosofia ou a psicologia. O desdobramento é um conceito complexo de difícil explicação criado pela psicologia e importado pelas Artes – da mesma forma que esta empresta outros termos à ciência – para criar personagens com personalidades duplicadas, por exemplo. Desta forma as dimensões multiplicam-se, enriquecem as histórias e exponenciam o interesse na sua leitura. Na perturbação comportamental e patológica de um indivíduo, encontra o escritor uma pedra preciosa em bruto, um veículo inesgotável e objeto criativo com maior ou menor complexidade. Na vida real, o caso não deixa de ser complexo, mas talvez esteja mais camuflado pelos ecrãs dos aparelhos que refletem a personalidade de quem os utiliza. As pessoas desdobram-se em tarefas e multiplicam a sua personalidade. Afinal, a vida também se desdobra em várias funções e atividades: família, trabalho, sociabilização, divertimento, etc. O multi-tasking é (re)corrente nos dias atuais. Mas a velocidade e a (nova) forma com que é feito estonteariam qualquer ser humano de séculos passados. Que (novo) ser humano é este, que partilha interesses e que comunga de afinidades no seio de conjuntos de pessoas, algumas das quais só existem (para si) em linha e na virtualidade? Quer dizer, efetivamente e na realidade as pessoas existem. Provavelmente, não exatamente como se ‘pintam’ ou descrevem na rede (social, por exemplo). A vida em comunidade é cada vez mais

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um individualismo em grupo. Permanentemente se vive num mundo globalizado, podendo estarse em todo o lado, apesar do corpo só poder estar presente num lugar. A mente viaja pelas pontas dos dedos e através dos olhos, atravessando dimensões outrora inimagináveis. A ‘contaminação’ é geral e global, o que faz com que a sociedade possa ser (e estar) mais interessante, mas criando a noção (o medo?) da homogeneidade humana, onde a personalidade se perde. O maior bem é também o maior mal, e vice-versa. Uma vez mais, a solução deverá encontrar-se num necessário equilíbrio e na melhor gestão possível destes dois pólos: a autonomia e liberdade, por um lado, o condicionamento e aprisionamento, por outro. As pessoas navegam na Internet porque buscam [fig.4] entretenimento ou informação. A informação é poder. Poder procurá-la está ao alcance de alguns, mas encontrá-la é uma dádiva. Ao tê-la adquire-se o dom de estar informado e tem-se o poder de escolher [fig.5], de decidir e de resolver bem os problemas e, no fundo, viver melhor. A Internet não é um milagre total nas comunicações, que sempre existiram entre as pessoas, seres sociáveis por natureza, desde tempos primitivos. Ela agrupa, com maior ou menor facilidade, uma série de ferramentas úteis que medeiam a informação. A alteridade justifica, mais do que nunca, estudar-se a humanidade à luz da nova Era da Informação digital(izada), onde a falta de pensamento crítico está ligada aos meios de comunicação em massa. Talvez o problema da relação entre as pessoas e os media resida na falta de consciência (e de consciencialização) da mesma. Essa inconsciência, muitas vezes admitida conscientemente, dá lugar a um conformismo que pode sossegar. Para filósofo Vilém Flusser (1920-1991)1 “[...] onde há autêntica comunicação, isto é, onde dois seres humanos se abrem mutuamente, o diabo é derrotado”. Esta afirmação, que pode ser colocada entre a ficção científica filosófica e a inventividade artística, consegue transmitir a posição do homem informático no novo paradigma da comunicação, da antropologia, da sociologia e, até, da História. A “revolução telemática” 2 em curso apresenta uma Era pósindustrial do homem máquina, que se desdobra em tarefas simultâneas, não tanto com as mãos mas com as pontas dos dedos, com os quais produz informação e conteúdos, mas não coisas. As ações deram lugar às sensações. Mas terão entorpecido as emoções e a capacidade para sentir verdadeiras criações?

4.

A (media) arte como informação e divertimento

Na emergência – ou já em velocidade cruzeiro – da globalização, potenciada pelos media e pela tecnologia, a Arte Contemporânea está a tornar-se uma mistura anárquica de media, técnicas e ideias. Por causa deles, a própria infraestrutura do mundo da Arte também está a mudar. Como afirmou o sábio Eduardo Lourenço3, numa época de “crise generalizada de civilização”, o divertimento qualquer pessoa o pode ter. Mas, “o divertimento é raro na História. Eram as elites que se divertiam. Isso que nem os reis tinham qualquer pessoa tem agora.” A Internet possibilita mostrar mais e em maior número as obras dos artistas. A audiência aumenta as relações destes com as pessoas e potenciais compradores. A distribuição é global e não se limita aos locais, cidades, países ou continentes onde a obra de arte é criada. Uma das consequências deste 1

Apud MOURA:8. Idem. 3 Apud LUCAS:37. 2

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fenómeno é a exigência para se criarem novos museus, os quais têm de adotar novas estratégias para captar potenciais visitantes, criando eventos especiais para novos mecenas ou patronos e estabelecendo mais laços com as comunidades. O nascimento de novos colecionadores é outra das consequências deste fenómeno. No artigo da CNN, “Globalization, technology changing the art world”, Manav Tanneeru1 avança com o número de um bilião de dólares em vendas (no início de novembro de 2006) pelas reconhecidas leiloeiras Christie’s e Sotheby’s. O grito (1895) [fig.6], por exemplo, do expressionista alemão Edvard Munch (1863-1944), foi vendido nesta famosa casa, em maio de 2012, por 120 milhões de dólares, segundo a Reuters Brasil “estabelecendo um novo recorde como a peça de arte mais cara a ser vendida em um leilão”2. A mesma obra que serviu já para tantas interpretações e outras mais difusões pela Internet [fig.7], provando que a arte não veio apenas para ficar mas para ‘partilhar’. Para os artistas do início do século XX, a Arte era o que tornava “a vida mais interessante do que a arte”3. No século XXI, a cultura renova-se constante e velozmente. Os novos media, como as redes sociais, propiciam (ou potenciam) ‘novos’ prazeres. Nesta nova Era, da inovação e de (quase) todas as experimentações, urge procurar e encontrar uma criatividade que ao mesmo tempo preencha o vazio deixado pelo digital. É urgente, também, fazer com que a flageladora crise não corroa o sujeito e a sua identidade própria. Talvez seja necessário que os utilizadores da Internet encontrem um rumo na sua navegação por este ‘mar’ de informação, já que, segundo o relatório da Obercom, de 2012, revela que três terços dos internautas em Portugal declaram navegar na Internet “sem objetivo concreto”4. É preciso, sobretudo, que se parta à descoberta, porque o ato de descobrir permite revelar o conhecimento, reinventar e tornar claras as ideias. Encontrar novos ângulos para abordar um problema, permite incrementar a possibilidade de encontrar soluções. A propósito do lançamento do livro “Aftermath: The Cultures of the Economic Crisis”, em outubro de 2012, Gustavo Cardoso (co-autor5) afirmou em entrevista à Antena 1 6 que “economia é cultura. [...] Não há apenas uma maneira de olhar o mundo. A economia é construída em torno do que nós achamos que tem valor para nós e que depois tem valor económico.” A crise é originada por cultura, mas é também a cultura que pode solucionar essa crise. O investigador e professor Lev Manovich (1960) e os seus colaboradores (e alunos de media arte), através do estudo de visualização de milhões de imagens, utilizando novas tecnologias e novos media, como o Facebook ou o Tweeter, analisam as tendências culturais, deparando-se com novas questões e conceitos, encontrando novas dimensões culturais para as quais não existem palavras suficientes para descrever. Este é provavelmente um enorme avanço para as ciências dos signos e dos significados (semiótica).

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TANNEERU,2006. [Em linha]. CNN.com, Entertainment. [Consult.20-11-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://edition.cnn.com/2006/SHOWBIZ/11/26/art.globalization/ >. 2 “O Grito, de Munch”, Chris Michaud. [Em linha]. Reuters.com, Cultura. [Consult.21-01-2013]. Disponível na Internet: < URL: http://br.reuters.com/article/entertainmentNews/idBRSPE84203020120503 >. 3 Robert Filliou apud MOURA:24. 4 OBERCOM:20. 5 Juntamente com Manuel Castells e João Caraça. 6 Entrevista a Gustavo Cardoso. Registo áudio. [Em linha]. RTP – Antena 1. [Consult. 07-10-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://www.rtp.pt/antena1/index.php?t=Entrevista-a-GustavoCardoso.rtp&article=5612&visual=11&tm=16&headline=13 >.

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A arte do século XXI emerge de uma vasta variedade de meios, formas e materiais, que incluem as mais recentes tecnologias eletrónicas. Os artistas encontram novas formas de misturar a(s) arte(s). Não esquecendo que o termo de Gesamtkunstwerk, ou obra de arte total (a ópera), atribuído ao compositor Richard Wagner (1813-1883), pode estar na origem desta confluente mistura, terá de se admitir que atualmente a efemeridade – que estava na origem do termo referido – fica registada em formatos que ‘aprisionam’ os objetos artísticos em códigos binários que ao mesmo tempo permitem a sua movimentação (liberdade?). A imagem da pintura que ilustra a introdução deste trabalho, está na maior parte dos livros de História da Arte e encontra-se facilmente numa qualquer busca na Internet. Esse é o poder que a Internet e a digitalização das imagens (virtuais) têm sobre o trabalho das pinceladas (reais) dos artistas. Mas não o substitui, porque a pixelização limita uma experiência verdadeira, que se pode ter perante um quadro como o magnífico O incêndio da Câmara dos Lordes e dos Comuns em 16 de Outubro de 1834 (1835) [fig.8], do impressionista William Turner (1775-1851), ou a enorme tela A coroação de Napoleão I a 2 de Dezembro de 1804 (1807) [fig.9], de JacquesLouis David. Nesta última, são mais de seis metros de altura e quase dez de comprimento de História, de Arte, de comunicação e de sociologia que se podem admirar no Museu do Louvre, em Paris, e que a Internet pode apenas complementar, com maior ou menor definição. Essa informação visual serve de ferramenta para que o(s) utilizador(s) possa(m) ou saiba(m) encontrar a verdadeira emoção: descobrir a Arte na vida ‘real’. ∞

(in)Conclusão

Os infográficos1 estão na moda. Eles são ferramentas criadas na Era digital, que permitem ‘ler’ informação, como as estatísticas, de uma forma mais simples e fácil, através de um grafismo habitualmente atrativo (e criativo). Os dois que se apresentam em anexo [fig.s 10 e 11], criados pela equipa criativa Go-Globe2, em finais de 2012, permitem, por exemplo, saber que na Internet a cada minuto são colocados 20.000 novos comentários no Tumblr, 6.600 novas fotografias no Flickr, 98.000 tweets (e 320 novas contas no Twitter e 100 no LinkedIn), 600 novos vídeos no YouTube, são baixadas 13.000 aplicações para o iPhone, são registados 70 domínios na Internet, são enviados 168 milhões de e-mails, são feitas quase 700 mil procuras, são atualizados 695.000 estados no Facebook, ocorrem 11 milhões de conversações nos instant messengers, são efetuados 370.000 minutos de chamadas de voz através do Skype e são ouvidas 13.000 horas de música (em streamming) no Pandora. Nesses sessenta segundos, são vendidos 710 computadores (dos quais 232 são infetados com vírus eletrónicos), 81 iPads, 925 iPhones, 103 BlackBerry, 11 Xbox, 18 Kindle Fire, 2.500 cartuchos de impressão, e são cultivados quase 4 milhões e meio metros quadrados de ‘terra’ no FarmVille, que ajudam a gerar algumas das 38 toneladas de e-lixo. A Era é de meta-informação. Vivem-se tempos de muita hiperatividade. A interatividade entre o Homem e a(s) Máquina(s) é também elevada. Se por um lado ela aproxima mais as pessoas dos processos sociais de comunicação, por outro afasta-as do simples (mas ao mesmo tempo complexo) processo de relações humanas. Na Era atual as pessoas interagem, partilham, 1

Infográficos (infographics, em inglês) são gráficos com informação, habitualmente estatística ou ilustrativa de processos, para facilitar a leitura e compreensão dessa informação. 2 [Em Linha]. Go-Globe.com. [Consult. 21-01-2013]. Disponível na Internet: <URL: http://www.mediabistro.com/alltwitter/internet-60-seconds_b10248 >.

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publicam, twittam e blogam para existirem. Esta necessidade primitiva moderniza-se, mas materializa um risco que se conhece mas que se prefere ignorar. Nunca foi tão fácil dizer (ou escrever) através de um ecrã que se ‘gosta’ de uma coisa e partilhá-la aos sete ventos, para todos os cantos do mundo, que se torna cada vez mais pequeno. Global, por um lado, mas tão infinitamente pequeno, na individualidade de cada ser humano, por outro. As ferramentas existem – ou criam-se – para ultrapassar obstáculos. Desenvolve-se e investe-se na tecnologia e não nas pessoas. Mas para que a tecnologia e a qualidade da informação, que se pretende, existam, é necessário investir no capital humano, que é “a mais importante infraestrutura da economia da informação do século XXI”1. O mundo nunca será perfeito. A utopia prova-o. As crises vêm, vão e tornam a regressar e a extinguir-se. As obras de arte não: elas ficam, se não em matéria, em memória, que é humana – logo, perecível. Os homens conseguem desenvolver tecnologia impensável há menos de um século, mas é surpreendente que o mesmo Ser criou há muitos séculos ‘resistências’ que lhe permitiu sobreviver e evoluir. Esse ‘antibiótico’ da alma humana chama-se Arte e será ela, juntamente com o Homem e com a Cultura que ele cria, que poderá salvar o Mundo. Com maior ou menor interatividade, com mais e maiores ecrãs (ou, até, sem eles!), mas sempre com conciliação e muita comunicação. Humana, de preferência. Propôs-se, neste trabalho, uma viagem a esse paradoxo, das novas configurações e dos novos media, através da sistematização de reflexões que, apesar de lineares na lógica, podem ser vividas (e lidas) como se de um hipertexto se tratasse. As hiperligações são tantas quantas as palavras, conceitos e ideias apresentadas, exatamente como acontece com as sinapses entre os neurónios. A dissecação do assunto não foi, propositadamente, exaustiva mas tentou levantar questões e pistas para outras reflexões, essas mais pessoais e, espera-se, transmissíveis.

“As fronteiras que nos protegem também nos restringem.” 2

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Millar, 1996, apud RICE:45. SILVERSTONE:182.

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BIBLIOGRAFIA CARDOSO, Gustavo e ESPANHA, Rita, Eds. (2006) - Comunicação e Jornalismo na Era da Informação, Porto, Campo das Letras. CARDOSO, Gustavo, CHEONG, Angus e COLE, Jeffrey (2009) - World Wide Internet: Changing Societies, Economies and Cultures, Publications Centre, University of Macau. CASTELLS, Manuel (2001) – The Internet Galaxy, OUP, Oxford. CRANE, Diane, KAWASHIMA, N. & KAWASAKI, K. (eds) (2002) - Global Culture: Media, Arts Policy and Globalisation, London. Routledge. CURRAN & GUREVITCH (eds) (2005) - Mass Media and Society, Arnold. ITO, M., MATSUDA, M. e OKABE, D. (Eds) (2005) - Personal, Portable, Pedestrian, Mobile Phones in Japanese Life, MIT Press. LUCAS, Isabel (2012) – “Eduardo Lourenço”, em entrevista, em revista Montepio #7, outono 2012, Lisboa, Montepio, pp.32-38. MARINA, Cláudia (2012) – “Nascer digital”, em revista Montepio #7, outono 2012, Lisboa, Montepio, pp.10-15. MELODY, William H. (1999) - “Human capital in information economies”, em What’s new about new media?, de Roger Silverstone. London, Sage Publications, pp.39-46. MOURA, Leonel (2012) – Hiperdesign, Lisboa, Edições IADE. NEGROPONTE, Nicholas (1996) – Ser Digital, Lisboa, Editorial Caminho. PERALTA, Helena C. (2012) – “Exame ao ensino”, em revista Montepio #7, outono 2012, Lisboa, Montepio, pp.18-26. RICE, Ronald E. (1999) – “Artifacts and paradoxes in new media”, em What’s new about new media?, de Roger Silverstone. London, Sage Publications, pp.24-32. SCANNELL, Paddy (2007) – “The message of Silverstone”, in International Journal of Communication 1, 2007, pp.97-105. SILVERSTONE, Roger (2005) – Por que estudar a mídia?, tradução de Milton Camargo Mota, São Paulo, Edições Loyola. WOLF, Mauro (1987) - Teorias da Comunicação, Lisboa, Presença. ___ MONTEPIO, revista #7, outono 2012, Lisboa, Montepio.

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WEBGRAFIA HJORT, Mette (s/d) – “The Work of Art in an Age of Diversity and Globalization”. [Em linha]. [Consult.16-11-2012]. Disponível na Internet: <URL: http://www.uqtr.ca/AE/vol_4/mette1.htm >. JOHNSON, Abby (s/d) – “Is Social Media Hurting Our Culture?” – sobre Andrew Keen, (video/entrevista “What is social media really doing to society?); Global Web Index – Global Map of Social Networking 2011 (infographic) – in http://www.webpronews.com/is-social-mediahurting-our-culture-2012-06 (consulta: 2012-10-05) ROBERTSON, Jean (s/d) – “Art in the 21st century”. Em Grove art: thematic guide. [Em linha]. Oxford Art Online. [Consult.21-01-2013]. Disponível na Internet: <URL: http://www.oxfordartonline.com/public/page/themes/artin21cent >. SCHÖLLHAMMER, George (1999) - “Art in the Era of Globalization”. [Em linha]. [Consult.16-112012]. Disponível na Internet: <URL: http://www.republicart.net/disc/mundial/schoellhammer01_en.pdf >. TANNEERU, Manav (2006) – “Globalization, technology changing the art world”. [Em linha]. CNN.com. Entertainment.[Consult.16-11-2012]. Disponível na Internet: <URL: http://edition.cnn.com/2006/SHOWBIZ/11/26/art.globalization/ >. __ BOSTON COLLEGE – “Jacques-Louis David: The Death of Marat”. [Em linha]. Neo-Classicism and French Revolutio. [Consult.12-12-2012]. Disponível na Internet: <URL: http://www.bc.edu/bc_org/avp/cas/his/CoreArt/art/neocl_dav_marat.html >. __DN.PT – “'O Grito' de Munch bate recorde mundial em leilão”. [Em linha]. [Consult.12-12-2012]. Disponível na Internet: <URL: < http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=2454566&seccao=Artes%20Pl%E1sticas >. __ LEV MANOVICH – Articles. [Em linha]. [Consult.12-12-2012]. Disponível na Internet: <URL: http://www.manovich.net/articles.html __OBERCOM – “A Internet em Portugal 2012”. A Sociedade em Rede, maio de 2012. [Em linha]. Lisboa, Publicações OberCom. [Consult.02-10-2012]. Disponível na Internet: <URL: http://www.obercom.pt/client/?newsId=548&fileName=sociedadeRede2012.pdf >. __SOFTWARE STUDIES INITIATIVE - Research areas. [Em linha]. [Consult.16-11-2012]. Disponível na Internet: <URL: http://lab.softwarestudies.com/ >.

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ANEXOS IMAGENS / FIGURAS

Figura 1 – La Mort de Marat ou Marat Assassiné (1793), de Jacques-Louis David; Óleo sobre tela, 165 x 128 cm, Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique, Bruxelas; [Em linha]. Boston College. [Consult. 12-12-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://www.bc.edu/bc_org/avp/cas/his/CoreArt/art/neocl_dav_marat.html >.

Figura 2 – S/T (s/d) [«Você pode visionar esse anúncio em 5.seg.»] Jim Benton. [Em linha]. Facebook. [Consult. 12-11-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://www.facebook.com >.


Figura 3 – [Mente vs. realidade] Autor não identificado. [Em linha]. Facebook. [Consult. 11-11-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://www.facebook.com >.

Figura 4 – A História da busca (s/d). John Atkinson. [Em linha]. Wrong Hands. [Consult. 12-11-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://wronghands1.files.wordpress.com >.

Figura 5 – Escolha sua arma (s/d). Autor não identificado. [Em linha]. Facebook. [Consult. 12-11-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://www.facebook.com >.

Figura 6 – O Grito (1895), Edvard Munch. Óleo, têmpera e pastel sobre cartão; 91x73.5 cm. [Em linha]. Obvious, Artes e Ideias. [Consult. 12-112012]. Disponível na Internet: < URL: http://obviousmag.org/archives/2012/06/edvard_munch_ um_grito_infindavel.html >.

Figura 7 – Interpretação humorística/política da obra O Grito, de Munch; Autor não identificado. [Em linha]. Facebook. [Consult. 12-11-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://www.facebook.com >.


Figura 8 – O incêndio da Câmara dos Lordes e dos Comuns em 16 de Outubro de 1834 (1835), William Turner (1775-1851), óleo sobre tela, 92,1 x 123,2 cm, Philadelphia Museum of Art, Philadelphia. [Em linha]. UOL – Opera Mundi. [Consult.22-01-2013]. Disponível na Internet: <URL: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/historia/26092/hoje+na+historia+1851++morre+pintor+britanico+william+turner+precursor+do+impressionismo.shtml >.

Figura 9 – A coroação de Napoleão I a 2 de Dezembro de 1804 (1807), Jacques-Louis David, óleo sobre tela, 621 x 979 cm, Musée du Louvre, Paris. [Em linha]. O portal da História. [Consult.22-012013]. Disponível na Internet: <URL: http://www.arqnet.pt/portal/imagemsemanal/maio0203.html >.


Figuras 10 e 11 – Things That Happen On The Internet Every 60 Seconds [INFOGRAPHIC]. [Em Linha]. GoGlobe.com. [Consult. 21-01-2013]. Disponível na Internet: <URL: http://www.mediabistro.com/alltwitter/internet60-seconds_b10248 >.


CRÉDITO DE IMAGENS CAPA ►:

Design, composição gráfica e de texto de Jorge Augusto dos Santos. Foi utilizada a imagem Mona Lisa Robots Pics. [Em linha]. “Freaking News”. [Consult.: 11-12-2012]. Disponível na Internet: < URL: http://www.freakingnews.com/Mona-Lisa-Robots-Pics-36147.asp >; LAY-OUT, PAGINAÇÃO E FORMATAÇÃO:

Jorge Augusto dos Santos. < URL: http://www.jorgeaugusto.eu >.


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