RECEÇÃO A Públicos de Teatro e de Shakespeare no Teatro Municipal Joaquim Benite Jorge Augusto dos Santos
e-Working Paper n.º4/2012
ISCTE-IUL – Instituto Universitário de Lisboa | Escola de Sociologia e Políticas Públicas E-mail: jorge.augusto.s@netcabo.pt
RESUMO Neste trabalho, dividido em três partes, propõe-se uma reflexão metodológica, embora breve, sobre o teatro enquanto forma de arte performativa de civilização, particularmente aquele que é apresentado pela Companhia de Teatro de Almada no Teatro Municipal de Almada (atual Teatro Municipal Joaquim Benite) e, especificamente, o de autoria de William Shakespeare, incluindo a sua atualidade. Numa primeira parte são apresentadas algumas reflexões e contributos teóricos e conceptuais, analisando-se sociologicamente a arte teatral, o público e os gostos, incluindo algumas reflexões sobre a sua análise semiótica. Na segunda parte apresentam-se técnicas e instrumentos de recolha e tratamento da informação, dados esses analisados, brevemente, na terceira parte deste trabalho. Em conclusão, apresentam-se algumas reflexões suscitadas ao longo do desenvolvimento do estudo proposto, para o qual se adiantaram algumas questões consideradas cruciais e que foram aplicadas num pré-teste (questionário), cujo resumo de respostas se analisa, também, de forma breve.
PALAVRAS-CHAVE: teatro, Teatro Municipal de Almada (atual Teatro Municipal Joaquim Benite), Companhia de Teatro de Almada, William Shakespeare, público, receção, expetativa.
ABSTRACT This work, divided in three parts, proposes a brief methodological approach to the theater as a form of civilization, particularly the one presented by the Companhia de Teatro de Almada in the Teatro Municipal Joaquim Benite, specifically the authorship of William Shakespeare and his actuality. In the first part we present some conceptual and theoretical contributions, analyzing sociologically the theatrical art, audiences and tastes, including some thoughts about its semiotic analysis. The second part presents techniques and tools for collecting and processing information. This data is briefly analyzed in the third part of this work. It concludes with some reflections arising during the development of the proposed study, stepping forward to some crucial questions that have been applied in a pre-test (questionnaire), which summary of responses is also analyzed.
KEYWORDS: theater, Teatro Municipal Joaquim Benite, Companhia de Teatro de Almada, William Shakespeare, public reception, public expectation.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO Tema, problemática, enquadramento histórico, objetivos, estratégia teórico-metodológica e organização do trabalho
1
1.
APRESENTAÇÃO E REFLEXÃO SOBRE OS PRINCIPAIS CONTRIBUTOS TEÓRICOS E CONCEPTUAIS Como fazer (foi feito) e com que bases teóricas: análise sociológica da Arte, do teatro, dos públicos e do(s) gosto(s); reflexões sobre a análise semiótica do espetáculo teatral
3
2.
TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE RECOLHA E TRATAMENTO DE INFORMAÇÃO Como fazer (foi feita) a recolha e o tratamento de informação (metodologia)
5
3.
DADOS RECOLHIDOS E TRABALHADOS (Análise) E A RECOLHER/TRABALHAR (Projeto)
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CONCLUSÃO E INCONCLUSÕES
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BIBLIOGRAFIA / WEBGRAFIA
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ANEXOS
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“O Teatro é um grande meio de civilização mas não prospera onde a não há.” – A. Garrett INTRODUÇÃO Estará o teatro, atualmente, tão diferente daquele que se fazia há uns séculos atrás? Certamente. Receberá o público, diferentemente, nos dias de hoje, esta arte performativa? Provavelmente. Não há dúvida, porém, que esta forma artística, enquanto meio de comunicação, tem servido para entreter mas, igualmente, para civilizar. No momento de tensão que se vive, neste momento, no mundo e, particularmente, em Portugal, é urgente que o teatro prospere e continue a cumprir a sua função de cidadania e de utilidade pública, social, ideológica e, até, política. É sobre a forma de arte teatral, rainha do eterno efémero, que se propõe uma reflexão metodológica, apresentada breve, mas pertinentemente, neste trabalho. Faz-se, a seguir, um breve enquadramento histórico, na temática em estudo, da Companhia de Teatro de Almada (CTA) e do Teatro Municipal de Almada, atual Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB), sobre os quais incidirá este estudo, particularmente sobre a apresentação de textos dramatúrgicos de William Shakespeare na atualidade, seguido dos objetivos, estratégia e organização do trabalho. Breve enquadramento histórico, no tema em estudo, da CTA e do TMJB Em 1971 Joaquim Benite dirigia o Grupo de Campolide (Lisboa), que então iniciou a sua actividade. O relevo da actividade desenvolvida e a importância pública que foi adquirindo, determinaram a profissionalização do Grupo a partir de 1977. O público e a sua forte afluência garantem o projeto e a sua continuidade. Em 1978 instala-se em Almada, passando a designar-se Companhia de Teatro de Almada. Dez anos depois, devido à intensidade da actividade teatral, torna-se residente do Teatro Municipal de Almada. Em 1984 a CTA e a Câmara Municipal de Almada organizam a I edição do Festival de Teatro Almada (com 29 edições em 2012), sendo “considerado o festival internacional de teatro mais importante do país” 1 (FITA). Até aos dias de hoje a CTA estreou inúmeras produções, incluindo digressões no estrangeiro, de grandes textos da dramaturgia clássica e contemporânea, tendo convidado encenadores nacionais e internacionais da contemporaneidade. Desde 2006 é uma das mais importantes estruturas do teatro (e não só) em Portugal e ‘reside’ no novo Teatro Municipal de Almada, que em final de 2012 foi renomeado para Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB), em homenagem ao primeiro e único diretor desde a sua formação, falecido no início de dezembro desse ano. Ele, que foi, é e será uma das referências da encenação teatral em Portugal, dirigiu também o FITA, tendo encenado, desde o início da década de setenta do século XX, centenas de peças de consagrados autores portugueses e internacionais, como Shakespeare. No TMJB, William Shakespeare (1564-1616) renasce sempre atualizado. Devido à intemporalidade da sua dramaturgia, as histórias que contou em numerosas obras são revividas em experiências que passam de geração em geração, mantendo, no entanto, juntamente com as opções estéticas da encenação, uma adaptação singular aos dias de hoje. Para o diretor de teatro e cinema Peter Brook, “Shakespeare é o modelo de um tipo de teatro que contém Brecht e Beckett, mas que os transcende”2 e o seu teatro “tem a particularidade de agradar tanto ao palato mais refinado, como ao espetador menos preparado”3. A perspetiva multidimensional dos textos, que 1
[Em linha]. CTA. [Consulta: 23 nov.2012]. Disponível na internet: <URL: http://www.ctalmada.pt/historial.shtml >. BROOK, 2008:122. 3 Apud QUADRIO:5. 2
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nunca se esgotam, resulta numa pluralidade que atrai e entretém o público com tragédias, comédias, tragi-comédias, sátiras, sarcasmo, ironia, burlesco ou zombaria. Os assuntos, aparentemente datados, não se esgotam no tempo e mantêm-se atuais. Esse é o poder dos clássicos. Como Romeu e Julieta (1594-1595), a partir de uma história contada por Arthur Brooke, e que Shakespeare estreia (com grande sucesso) no auge do período de obras de comédia. O emocionante enredo e a sua espantosa atualidade serão apenas dois dos ingredientes que fazem desta história intemporal, bebendo no mito Píramo e Tisbe (narrado por Ovídio em Metamorfoses). Porque são míticas, as histórias evoluem e sobrevivem no tempo. Como afirmou Italo Calvino1 em Porquê ler os clássicos?, elas nunca acabam de dizer o que têm para dizer. Objetivos e estratégia Shakespeare ainda tem muito para dizer. Em pleno centro de uma crise em que Portugal está mergulhado, o TMJB acolheu no final de 2012 mais de oito centenas de espetadores em apenas três dias (de 20 a 22 de dezembro) do espetáculo teatral Timão de Atenas, de William Shakespeare, com uma taxa média diária de ocupação da sala (com 442 lugares) superior a 60%. Este número é exemplificativo de uma realidade que se crê ser mais abrangente. Por isso se parte, neste trabalho, à descoberta de como Shakespeare chega, ainda, ao público português, particularmente ao do TMJB, que ao longo dos anos tem sabido manter e cativar o interesse nesse género artístico, não só através do FITA, que há quase três décadas organiza com crescente sucesso, mas através de uma programação regular e de qualidade, apesar de todos os cortes que a cultura em Portugal tem sofrido. É este o objetivo do trabalho que agora se apresenta, propondose uma análise de leitura à experiência teatral de Shakespeare, procurando dar, simultaneamente, algumas pistas sobre a significação e opções cénicas do TMJB, cerca de quatro séculos após a estreia de um dos seus textos. Para isso pensou-se, desenhou-se e desenvolveu-se, cuidadosamente, um questionário para aplicar ao público que assiste às peças desse dramaturgo, com o objetivo de, através da análise a esses resultados, se estudar a contemporaneidade deste fenómeno teatral, apresentando-se para isso, por exemplo, um questionário pré-teste. Organização do trabalho Essa foi a estratégia adotada para a reflexão metodológica com vista à realização de um estudo quantitativo e qualitativo, que se desenvolve no primeiro ponto deste trabalho, tendo em vista uma aplicação prática por forma a colher e analisar os resultados recolhidos. Num segundo ponto apresentam-se algumas técnicas e instrumentos de recolha e tratamento da informação, nomeada e detalhadamente o inquérito desenvolvido, inspirado na obra Como Perguntar, de William Foddy, nos estudos Públicos do Porto 2001 e Públicos do Festival de Almada. Reservou-se o terceiro ponto à análise quantitativa e comparativa, partindo de fontes administrativas, sobre a evolução do número de espetadores de espetáculos ao vivo nos últimos anos, com particular incidência nos dos espetáculos teatrais e naqueles com textos de Shakespeare, apresentados no TMJB. Neste ponto é, ainda, apresentado um primeiro olhar sobre os resultados de um pré-teste a uma amostra reduzida de espetadores da última peça de teatro apresentada no TMJB em 2012, Timão de Atenas, de Shakespeare, com base no inquérito desenvolvido, aplicado nas duas últimas semanas de 2012 e nas duas primeiras de 2013. No ponto conclusivo, propõem-se algumas reflexões sobre o trabalho realizado e dar continuidade ao estudo, por forma a identificar e melhor segmentar o público do teatro daquele dramaturgo. 1
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CALVINO:9.
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APRESENTAÇÃO E REFLEXÃO SOBRE OS PRINCIPAIS CONTRIBUTOS TEÓRICOS E CONCEPTUAIS Este ponto incide sobre as teorias que estiveram na base do trabalho que se pretende desenvolver. Primeiro, faz-se uma análise sociológica do teatro e do público, a partir de considerações de Idalina Conde e Pierre Bourdieu. Seguem-se algumas reflexões sobre a análise semiótica de um espetáculo de teatro, partindo de análises teatrais de reconhecidos encenadores, como Peter Brook e Gordon Craig, mas, sobretudo, através do olhar de Rolland Barthes, da contemporaneidade histórica de Luciana Stegagno Picchio e das excelentes notas de semiótica do teatro de Ana Isabel Vasconcelos. O objetivo não é desenvolver a análise sociológica ou semiológica, mas a partir delas criar mais ricas e abrangentes reflexões sobre a questão que se aborda. É com base nelas que se apresentam, no ponto seguinte, as técnicas e instrumentos de recolha e tratamento da informação, nomeada e detalhadamente o inquérito desenvolvido. Análise sociológica da Arte, do teatro, dos públicos e do(s) gosto(s) Idalina Conde, numa comunicação apresentada nas IV Jornadas de Comunicação do ISCTE em novembro de 1984, intitulada “O sentido do desentendimento – nas bienais de Cerveira: arte, artistas e público”, refletiu sobre a receção de uma obra de arte, sua relação (ou dissonância) com a produção, tentando situar a “lógica estética e social” 1, particularmente na arte moderna. Para os objetivos deste trabalho, interessa mais reter, sobre essa reflexão, o tema dos significados e insignificância das obras de arte. Desse modo, mais facilmente se entenderão opções estéticas da contemporaneidade, relativamente a uma obra literária (dramática) escrita no século XVII. A representatividade das criações devem ser vistas exatamente sob essa perspetiva: a da construção de outras (novas?) realidades, sob outros (novos) olhares. No entanto, independentemente da abolição dos signos e dos seus significados, subsiste o significante, ou seja, o que se apercebe. Como afirma Pierre Bourdieu (em La Distinction), “o teatro, lugar por excelência do gosto popular, é uma das expressões artísticas onde os dramas ficcionais são vividos como reais, onde os protagonistas e as histórias significam potenciais situações da vida quotidiana.”2 É uma questão de gostos. Discutidos uns, indiscutidos ou indiscutíveis outros. Uma obra pode sucitar indignação. Mas a violação, para uns, pode ser exaltação dos sentidos, para outros. “A teoria da cultura de massas é, nas palavras de Pierre Bourdieu, uma «massmediologia» [...] É a frequência e a familiaridade para com este campo de produção simbólica que assegura posturas de gosto reconhecidas como legítimas e que distinguem a assistência da vanguarda do público de vanguarda. [...] A aporia da sensibilidade estética como dom natural da apreciação da arte é a expressão da fides implícita que [...] opera nos campos de produção simbólica.” 3
A complexidade do assunto é proporcional à subjetividade do conceito de estética e da própria arte. No sentido da procura de significações na arte, o entendimento não encontra inteligibilidade matemática, mas divergências nas atitudes, opiniões e apreciações perante as obras. Como afirmou Conde4, “a obra é aberta: são os diálogos com ela virtualmente permitidos que a fecham” e a sociologia da arte deve “[...] afirmar a inexistência do Público e observar uma pluralidade de pertenças sociais ao nível dos receptores da arte. Cada um dos públicos, 1
CONDE,1984:67. Apud CONDE,1984:67. 3 CONDE,1984:51. 4 Idem. 2
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representa uma disposição estética própria e transporta consigo posturas diferenciais face às obras que indiciam as suas posições de incluídos e excluídos do campo artístico.” Reflexões sobre a análise semiótica do espetáculo teatral Peter Brook, em O espaço vazio, afirma que os melhores dramaturgos são aqueles que se explicam menos, porque o excesso é inútil. Pouco ou quase nada, o invisível ou o silêncio, significa muito! Nesta obra, encontram-se pistas para a compreensão desse fenómeno cultural e social: a representação teatral. Acredita este encenador que o teatro “é a ocasião em que algo é representado, em que o passado é novamente mostrado, volta a ser [...], não é uma imitação [...], abole a diferença entre ontem e hoje.” Ou seja, ele torna presente e renova a vida, não tendo necessariamente de ser parecido com o real nem “visível de todos os ângulos” 1! O signo teatral não existe por si: é uma linguagem privilegiada que nasce da necessidade que o Homem tem de “fazer significar as coisas” 2. Diferente da língua, que é linear, o teatro é um sistema “polifónico”, numa série de signos (auditivos, visuais, aparelhos cénicos e técnicos, atores e público). A arte do teatro é uma simbiose que nos oferece a experiência única do espetáculo, que pode ser tratado cognitivamente, em vez de emotivamente, como era visto na Antiguidade ou na Idade Média. Como formulou o encenador Gordon Craig 3, em 1905, ele é “o gesto, que é a alma da representação; as palavras, que são o corpo da peça; as linhas e as cores, que são a própria existência do cenário; o ritmo, que é a essência da dança”. Mas é mais do que literatura dramática. Luciana Stegagno Picchio 4 nota que no teatro a atenção deve “deslocar-se do autor para o público, do momento criativo ao recetivo, e ter em conta principalmente o ambiente em que nascem os textos dramáticos e a maneira como o público os recebe”. Numa apresentação teatral a comunicação “é uma estrutura de signos constituída não apenas por signos do discurso como também por outros signos” 5, que aqui se procura analisar. O teatro reune (como nenhum outro meio de comunicação ou obra de arte), na coincidência espáciotemporal da sua efemeridade, um diálogo entre quem o apresenta e quem o vê e ouve. O público absorve e digere para crescer, como ser humano, rumo à satisfação, à elevação e à saciedade emotiva, num lugar de convergências e significações diversas. Uma análise dos vários sistemas sígnicos utilizados numa encenação permite entender, por exemplo, como se preencheu o “espaço vazio”, de um palco negro (uma “tela em branco”), assim como a sua receção e relação semiótica com o(s) público(s). Expectativa, curiosidade e ansiedade, são os estados que descrevem o sentimento de algumas pessoas que evidenciam a sua opinião, momentos antes de uma apresentação artística. Numa peça de Shakespeare, esse sentimento não é exceção. Como serão os cenários, os figurinos, a música, os actores? Qual será(ão) o(s) cheiro(s) da/na sala? Qual(is) é (são) a(s) reação(ões)? Apesar de, nos últimos anos, se terem destruído importantes edifícios teatrais para dar lugar a espaços comerciais (por exemplo o Condes, em Lisboa), há exemplos de renovações ou combinações (atualizações?) de espaços que dão lugar a eventos culturais (como é o caso do Campo Pequeno). Outros tardam (o Parque Mayer, em Lisboa, que nunca mais ‘renasce’). É animador para a arte e sobretudo para um enriquecimento cultural da sociedade, a edificação de novos espaços (como o TMJB), novos pólos de prazer intelectual e de 1
BROOK,2008:202. BARTHES,1977:356. 3 REBELLO,1984:10. 4 PICCHIO,1969:24. 5 VASCONCELOS:40. 2
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recreio artístico. Neles se pode estimular a comunicação com os outros (sociabilização) em que os sentidos são tomados por contagiantes emoções. Em anexo I encontra-se um exemplo de análise semiótica a Troilo & Créssida, uma peça de Shakespeare, com encenação de Joaquim Benite e José Martins, em 2010, para melhor se entender esta questão e, sobretudo, expandir a reflexão sobre o fenómeno teatral e consequente efeito na receção e fruição pelo público e na criação de novos públicos. A seguir, apresentam-se algumas técnicas e instrumentos de recolha e tratamento da informação, nomeada e detalhadamente o inquérito desenvolvido, com base nas duas análises apresentadas.
2.
TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE RECOLHA E TRATAMENTO DE INFORMAÇÃO As ciências sociais têm sido cada vez mais dominadas pela utilização de informação verbal, recolhida por perguntas incluídas em questionários ou entrevistas. A informação a recolher tem o objetivo de, por exemplo, segmentar comportamentos, motivações, expetativas, experiências ou atitudes que, como refere William Foddy1 em Como Perguntar, são “um conjunto de variáveis do foro subjetivo não directamente mensuráveis”. Mas o crescente aumento de interesse pela sociologia nesta forma de recolha de informação acarreta algumas questões que têm de ser tidas em conta pelo investigador, para que não se assuma nenhuma ideia baseada em conceitos préestabelecidos pela sociedade. Daí que este defenda algumas ressalvas no fundamento teórico sobre a utilização de entrevistas e questionários, como a (in)congruência entre o que o(s) sujeito(s) diz(em) e aquilo que efetivamente faz(em), o contexto cultural e a sua afetação na interpretação e nas respostas, a atenção ao vocabulário ou a (boa ou má) interpretação das perguntas. No entanto, Foddy afirma que apesar da “ausência de referenciais teóricos explícitos sobre a interpretação de informação recolhida por entrevistas e questionários”, apontada por Cicourel2, a “confiança na informação verbal não parece estar verdadeiramente em perigo.” Estes métodos podem ser optimizados através da formalização de perguntas construídas cuidadosa e previamente, por forma a aumentar a qualidade da informação recolhida. Um préteste será um instrumento útil para atingir este objetivo, uma vez que nele se podem testar perguntas e recolher dados que permitam ajustá-lo melhor aos objetivos a atingir. O inquirido deve conseguir descodificar o que o investigador lhe pede e este deve também conseguir descodificar a resposta que aquele lhe dá. Por isso as perguntas devem ser feitas pelo entrevistador de forma simples mas significativa, evitar a ambiguidade, ser precisas, claras e inteligíveis pelo entrevistado, sem conduzir ao embaraço, à manipulação ou à mera hipótese. Consideraram-se os seguintes pressupostos na inquirição por questionário 3, desenvolvido nesta proposta de estudo sobre o teatro de Shakespeare e a sua receção pelo público do TMJB: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Definição precisa do tópico relativamente ao qual se pretende informação; O inquirido detém a informação que se pretende obter; O inquirido consegue disponibilizar essa informação; O inquirido consegue compreender todas as questões, como se pretende; O inquirido quer (ou é motivado para) fornecer as respostas; A validade das respostas é maior se o inquirido não conhecer as razões da questão;
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FODDY:1. Apud FODDY:10. 3 Com base nos indicados por FODDY:14. 2
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7. 8. 9. 10.
A validade das respostas é maior se não forem sugeridas pelo investigador; As respostas fornecidas não são influenciadas pela própria pesquisa; O processo de resposta não interfere com as opiniões, crenças e atitudes do inquirido; As respostas de diferentes inquiridos a determinada pergunta podem ser comparadas entre si.
Como fazer: recolha da informação e metodologia utilizada1 Para analisar o tema em causa, de uma forma geral, recorreu-se a informação recolhida, por um lado, de fontes de dados administrativas, e por outro, para uma análise mais específica, de um inquérito de pré-teste ao público de uma peça teatral em cena no TMJB. No primeiro caso, as fontes foram o Instituto Nacional de Estatística (INE), para os números gerais no território nacional, em Lisboa e no concelho de Almada (desde 2000 até 2011); e a Companhia de Teatro de Almada (CTA), para os dados específicos, referentes ao número de espetadores de teatro, particularmente o de Shakespeare (em 1993, 2010 e 2012). No segundo caso, com os pressupostos referidos em mente, e por forma a ir ao encontro dos objetivos, desenvolveu-se um inquérito extensivo por questionário, utilizando-se como modelo o aplicado no estudo Públicos do Porto 20012, coordenado por Maria de Lourdes Lima dos Santos, e em Públicos do Festival de Almada3, de Rui Telmo Gomes, Vanda Lourenço e João Gaspar Neves. Detalha-se a seguir o objeto de estudo, os destinatários, a forma de recolha e de divulgação, e a sua composição. Inquérito: “Receção a Shakespeare” O inquérito, que se intitulou “Receção a Shakespeare” (anexo III), é destinado ao público da peça de teatro Timão de Atenas, de William Shakespeare, levada à cena pela Companhia de Teatro de Almada (CTA) na sala principal do Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB), de 20 a 22 de dezembro de 2012, e com encenação de Joaquim Benite com Rodrigo Francisco. A recolha da informação foi efetuada através do referido inquérito, acessível, exclusivamente, através de uma ligação à internet4 (a recolha pessoal pode ser tomada em conta numa investigação posterior). A divulgação foi feita nas páginas da rede social Facebook da CTA e TMJB, e através do envio de mensagens a alguns utilizadores/seguidores dessa página, solicitando e agradecendo a sua colaboração. De um total de 838 espetadores (nas três sessões realizadas no referido período), recolheram-se 17 questionários (cerca de 2%). O questionário é composto por 45 perguntas, sendo as respostas pessoais e os dados recolhidos confidenciais. Para responder a cada uma, os inquiridos escolheram a opção mais adequada à sua situação, ou escreveram a sua resposta, quando solicitado. Pretende-se avaliar, numa primeira parte (questões 1 a 20), a relação do público com o teatro (expectativa e satisfação), perante a programação do TMJB em particular e especificamente a de teatro e a de Shakespeare. As questões que compõem esta parte permitem reconhecer hábitos e motivações de frequência, nomeadamente se o inquirido foi só ou acompanhado (e quem ou quantas pessoas o acompanhou), como se deslocou (transportes públicos, veículo próprio ou a pé, por exemplo), como tomou conhecimento do espetáculo (eficácia dos meios de comunicação utilizados para divulgar o espetáculo) ou como adquiriu o ingresso para o espetáculo. 1
Esquemas de abordagem em anexo II. AAVV,2002:anexo I (p.303-315) e anexo IV (p.333-335), respetivamente. 3 GOMES:263-274. 4 [Em linha]. [consulta: 8/dez./2012]. Disponível na internet <URL: https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dGxqLVhFd2lOc2Q0SnN5VzEzNmJEeGc6MQ#gid= >. 2
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A questão número 5 incide sobre as razões que levam o inquirido a optar por assistir ao referido espetáculo (podendo o inquirido assinalar até três opções). Ela é, para o objetivo e tema deste trabalho, muito importante, porque através dela pode verificar-se se a motivação para assistir a este tipo de teatro (de Shakespeare) se prende com a ampla divulgação da peça ou com o poder dos novos media – nomeadamente das redes sociais. Em resultado das respostas a esta questão, pode concluir-se, ainda, que o reconhecimento do autor ou dos textos do autor, o desempenho do(s) ator(es), a excelência da encenação, uma pertinente crítica ou simplesmente porque gosta de assistir a espetáculos de artes performativas, estão por detrás das escolhas do inquirido. Será possível, através das respostas à questão 7, saber exatamente o que mais (ou o que menos) agradou no espetáculo de uma forma geral ou particular: cenários e figurinos, texto, atores, encenação, tema ou luzes e som. Ainda nesta grande parte do questionário, avaliam-se as expetativas do espetador, relativamente àquelas que tinha antes de assistir ao espetáculo, sendo pedida uma justificação para a resposta dada. Estas questões permitem entender as seguintes, que incidem sobre a recomendação do espetáculo e comentários (divulgação pessoal, positiva ou negativa) a outras pessoas (como amigos, familiares ou colegas). Pode saber-se, ainda, que atividade o inquirido teve a seguir ao espetáculo (nomeadamente se foi trabalhar, estudar, dar um passeio, divertir-se para um bar ou discoteca, se foi para sua casa ou para a casa de/com amigos). As questões 12 a 16 incidem sobre a frequência de teatro, em geral, e o da CTA e de Shakespeare, em particular, permitindo avaliar o grau de assiduidade a peças de teatro em 2012, ao número de peças que o inquirido assistiu na CTA, a quantas peças de teatro de Shakespeare já assistiu, incluindo na CTA ou se, de uma forma geral, lhe agrada assistir às peças deste autor, sendo solicitada uma razão para a sua resposta. As questões 17 a 20 têm por incidência a frequência do TMJB (se frequenta, o que leva a frequentar ou a que outros eventos já assistiu ou costuma assistir neste espaço, e se tenciona assistir (e porquê) a próximos espetáculos no TMJB). Numa segunda parte (questões 21-38), pretendeu-se avaliar os hábitos culturais desse público, incluindo o consumo de teatro. Tenta conhecer-se, de uma forma geral, a frequência (semanal, mensal, rara ou inexistente) de teatro e de espetáculos de dança, exposições, bibliotecas, museus, monumentos e concertos (de música clássica e de música popular) – questões 21 a 29. Relativamente a atividades culturais, as questões 30 a 38 incidem sobre a frequência (diária, semanal, rara ou inexistente) com que se realizam atividades como ver televisão ou cinema, ouvir rádio ou música, ler livros (sem ser de estudo ou profissionais) ou jornais, jogar jogos eletrónicos ou outros jogos, ou usar a Internet. As respostas permitirão analisar (e/ou comparar, por exemplo) a relação dos hábitos culturais, especificamente de teatro, com outras atividades. Foi incluída, ainda, uma secção para caraterização sociográfica (questões 39 a 45) dos espetadores, por forma a segmentar e analisar o público segundo o género, o estado civil, a agregação etária, o grupo ocupacional, a residência e o nível de escolaridade. Estes dados são importantes para traçar um perfil ou capital cultural do público, permitindo uma análise cruzada (mais detalhada) entre si ou com a informação recolhida nas outras duas partes do questionário. Tratamento da informação O inquérito referido, aplicado aos espetadores da peça de Shakespeare, serviu de pré-teste. Os questionários recolhidos serviram de base a uma breve análise, que se apresenta na segunda parte do ponto 3, a seguir. O tratamento foi simples, servindo para mostrar a sua aplicabilidade a uma amostra maior, para uma análise mais pormenorizada, num possível futuro trabalho.
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DADOS RECOLHIDOS (Análise) E/OU A RECOLHER (Projeto) Este ponto do trabalho incide sobre duas análises relacionadas com o tema em causa. A primeira incide sobre a informação recolhida sobre a evolução do número de espetadores de espetáculos ao vivo em Portugal, tendo sido utilizadas, para isso, fontes de dados administrativas: o Instituto Nacional de Estatística (INE), para os números gerais em Portugal, em Lisboa e para o número de espetadores de teatro (de 2002 a 2011); e a Companhia de Teatro de Almada (CTA), para os dados específicos, referentes ao número de espetadores de teatro no TMJB, incluindo os das peças de Shakespeare (em 1993, 2010 e 2012). A segunda incide sobre os dados recolhidos no referido inquérito de pré-teste ao público de uma peça de teatro específica. Evolução dos espetáculos ao vivo: INE Se se observar a evolução do número de espetadores de espetáculos ao vivo em Portugal na última década - desde 2002 até 20111 (quadro 1 e gráfico 1) -, nota-se um crescimento quase constante, interrompido em 2006 e a partir de 2010, quando decresce consideravelmente. No entanto, o número em 2011 (8.484 milhares) é praticamente o dobro comparativamente ao do ano de referência (4.264 milhares em 2002). Se compararmos estes números com os dos espetadores de teatro em Portugal, notaremos que estes acompanham a mesma tendência. Embora o número em 2011 (1.460 milhares) seja superior ao do ano de referência (1.267 milhares), este representa um acréscimo de 15%, uma percentagem muito menor àquela registada em 2008 (1.850 milhares), o ano em que se registou o maior aumento (46% relativamente a 2002, o início do período analisado). Ainda assim, se se atentar no quadro 2, que mostra a evolução do número de espetadores por tipo de espetáculo, por ano, em Portugal de 2007 a 2011, é notória a diferença entre o elevado número de espetadores de cinema, comparativamente ao de espetadores de espetáculos ao vivo, particularmente aqueles relativos aos espetáculos de teatro. Relativamente ao ano índice (2007), verifica-se, no gráfico 2, que o número de espetadores de cinema se mantém mais ou menos constante e que o número de espetadores de música apresenta uma oscilação, quase sempre acima desse índice, assim como os de dança, que foi o tipo de espetáculo que apresentou maior subida (45% em relação a 2007). No entanto, em 2011 é geral a descida em todos os tipos de espetáculos, abaixo do número índice, sendo mesmo o número de espetadores de teatro aquele que regista maior quebra (17% abaixo dos números de 2007), como verificado anteriormente. Espetadores de teatro de Shakespeare no TMJB Comparativamente aos números do território nacional, os de espetadores de teatro do TMJB 24.372 e 21.545, em 2010 e 2011 2, respetivamente -, refletem a descida verificada e referida anteriormente. Para comparar os números de espetadores do teatro de Shakespeare, tomaram-se como referência quatro peças promovidas pela Companhia Teatro de Almada (CTA), com dramaturgia desse autor, que estiveram em cena em espaços do TMJB, como indicado no quadro 3. O quadro 3 e os gráficos 3 e 4 mostram dados como a capacidade das salas, o número de sessões e a lotação de sala registada em cada peça 3.
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Ano a que reportam os últimos dados disponíveis, Estatística de Cultura, INE [Em Linha]. Disponível na internet: <URL: www.ine.pt >. 2 Os números de anos anteriores não foram fornecidos atempadamente para este estudo. 3 O número de espetadores, por sessão, encontra-se detalhado em anexo IV.
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Quadro 1 Espectadores de espectáculos ao vivo
Gráfico 1 Espetadores de espetáculos ao vivo (Portugal, Lisboa) e de
(N.º milhares) por localização geográfica (Portugal e Lisboa) e teatro; Anual (2002-2011) Ano
Portugal
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Lisboa
4.264 4.638 6.974 9.038 8.804 9.805 11.104 10.138 10.161 8.484
teatro (Portugal); Anual (2002-2011) – (números índice, 2002=100)
300
TEATRO
1.813 2.255 2.564 3.495 3.523 3.651 4.133 4.121 4.062 2.780
250
1.267 1.281 1.706 1.746 1.556 1.762 1.850 1.816 1.620 1.460
200 150 100
50 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Portugal
FONTE: Estatística de Cultura, INE [Em Linha]. Disponível na internet: <URL: www.ine.pt >
Quadro 2 Espetadores por tipo de espetáculo
MÚSICA
CINEMA
DANÇA
TEATRO
2007
4.234
16.318
284
1.762
2008
4.954
15.979
371
1.850
2009
4.397
15.705
325
1.816
2010
4.613
16.560
412
1.620
e por ano (2007-2011) – (números índice, 2007=100)
160 140 120 100 80 60 40 20 0 2007
2011
4.091
15.702
280
TEATRO
Gráfico 2 Espetadores por tipo de espetáculo (N.º milhares)
(N.º milhares); Anual (2007-2011)1 Ano
Lisboa
(método) números índice a partir de Reis (1991: 137 e ss.)
1.460
2008
MÚSICA
FONTE: INE2.
2009 CINEMA
2010 DANÇA
2011 TEATRO
(método) números índice a partir de Reis (1991: 137 e ss.)
Quadro 3 Relação de número de espetadores (incluindo média por sessão) e a lotação da sala, Peça
em quatro peças de Shakespeare no TMJB. FONTE: CTA Dias em Nº espetadores Lotação cena Média / % de ocupação da Sala Total (sessões) sessão (média)
[1] Othello (1993) [2] Troilo & Créssida (2010) [3] O mercador de Veneza (2012) [4] Timão de Atenas (2012) TOTAL
1 2
9
(1)
(2)
= (2) / (1)
120
60
5.320
89
74,1%
442
14
3.889
278
62,9%
442
22
6.843
311
70,4%
442
3
838
280
63,3%
99
16.890
Existe quebra de série em 2011 nos items música, dança e teatro. Estatísticas da cultura - séries históricas. [Em Linha]. Disponível na internet: <URL: www.ine.pt >.
Jorge Augusto dos Santos
67,7%
Receção a Shakespeare: Públicos de Teatro e de Shakespeare no Teatro Municipal Joaquim Benite
Relativamente à taxa total das quatro peças analisadas (gráfico 4), em quase todas elas a média de ocupação foi superior a 50%. Troilo e Créssida apresenta valores inferiores, com média por sessão de quase 43%, quando as outras três têm perto ou abaixo de 30%. Ou seja, a sala teve quase sempre uma lotação de mais de metade, sendo que em duas peças (Othello e O mercador de Veneza) cerca de metade das sessões teve mais de 75% de ocupação. Aparentemente, a capacidade, a sala, o número de sessões, o ano ou as condições económicas do país não terão tido influência no número total de espetadores das peças de teatro analisadas. Gráfico 3 Taxa de ocupação média, em quatro peças de Shakespeare no TMJB. 76,0 74,0 72,0
74,1
70,0
68,0
70,4
66,0 64,0 62,0
63,3
62,9
60,0 58,0 56,0 [1] FONTE: CTA
[2]
[3]
Gráfico 4 Relação da taxa de ocupação média com o número de sessões, em 4 peças de Shakespeare no TMJB. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%
14,3 33,3
42,9 33,3 27,3
20,0
>75%
42,9 23,3
[1]
[4]
50,0
56,7
33,3 22,7
[2]
[3]
51-75% <50%
[4]
FONTE: CTA
Para o propósito principal deste trabalho uma análise individual e mais detalhada a cada uma das peças, relativamente ao número de espetadores e à taxa de ocupação das salas, não foi incluída neste ponto. No entanto, esta foi feita e encontra-se em anexo V. Para melhor se compreender e avaliar a relação, expetativa e satisfação do público, perante a programação da CTA, nomeadamente a teatral e a de Shakespeare, apresentam-se, de seguida, algumas conclusões que a amostra de pré-teste, através do inquérito referido no ponto anterior, permite tirar. Resultados de um pré-teste e resumida caraterização (geral) do público de Shakespeare, no TMJB: expectativa, satisfação e hábitos culturais O inquérito foi aplicado de 27 de dezembro de 2012 a 13 de fevereiro de 2013 e destinou-se ao público da peça de teatro Timão de Atenas, de William Shakespeare e com encenação de Joaquim Benite, levada à cena pela CTA no TMJB, em Almada, de 20 a 22 de dezembro de 20121. Foram recolhidas 17 respostas da página em linha2 onde foi disponibilizado o inquérito. Estas representam cerca de 2% do universo total de 838 espetadores que viram a peça nesse período. Uma vez que não foi efetuado nenhum questionário pessoalmente, parte-se do princípio que todos os inquiridos estão à vontade com a (nova) tecnologia. À partida, excluiram-se desta amostra, as pessoas que não têm (fácil) acesso ou literacia informática. No entanto, ressalva-se – e sublinha-se uma vez mais – que se trata de um pré-teste e que a realizar-se e a estender-se o estudo, este e outros apetos, relativamente à recolha da informação, serão tidos em conta.
1
Com reposição de 9 de janeiro a 3 de fevereiro de 2013. Disponível na internet: <URL: https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dGxqLVhFd2lOc2Q0SnN5VzEzNmJEeGc6MQ#gid=0 >. 2
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Jorge Augusto dos Santos
Receção a Shakespeare: Públicos de Teatro e de Shakespeare no Teatro Municipal Joaquim Benite
De acordo com os objetivos, apresentados nos pontos anteriores, tiraram-se as seguintes conclusões, resumida e simplificadamente, sem cruzamento de dados (um resumo de resultados, com gráficos, e uma análise geral, encontram-se em anexo VI e VII, respetivamente). Perfil tipo A amostra permite traçar o seguinte perfil tipo, sem, no entanto, se pretender generalizar: O público de teatro de Shakespeare, do TMJB, é maioritariamente do sexo feminino, tem entre 30 e 40 anos, é solteiro, reside no distrito de Setúbal e concelhos limítrofes, tem uma categoria social e habilitação académica de estatuto elevado, correspondendo a profissional qualificada. Uma vez por mês vai ao teatro, a uma exposição e a um museu ou a um monumento. Raramente vai ao cinema mas diariamente utiliza a internet, vê televisão e ouve rádio ou música, lê jornais e livros. Deslocou-se ao TMJB em veículo próprio, acompanhado pelo companheiro (ou namorado) e foi através dos novos media (newsletter da CTA) que teve conhecimento da peça. Assistiu à peça provavelmente por convite mas afirma gostar de assistir a espetáculos de artes do palco, como teatro, dança ou circo. As principais razões que o levaram a assistir à peça foram a popularidade e reconhecimento do dramaturgo (o autor do texto), e o trabalho do encenador. Ficou muito agradado pelo cenário e figurinos, luzes e som, prestação dos atores, texto, encenação e pelo assunto abordado. De uma forma global, todo o espetáculo excedeu as suas expetativas iniciais devido à atualidade e à qualidade do texto, do tema, da encenação, da cenografia e da interpretação dos atores, o acolhimento e o profissionalismo da CTA, e, por isso, recomenda o espetáculo e comenta-o com amigos, familiares ou colegas. Em 2012 assistiu entre 1 a 5 peças de teatro. Na CTA já assistiu a mais de 11, das quais 1 a 5 são de autoria de Shakespeare, de que gosta pela excelência, qualidade, temas, atualidade, contemporaneidade dos seus clássicos textos. É frequentador habitual do TMJB – maioritariamente das peças de teatro - e tenciona assistir a próximos espetáculos neste espaço, principalmente pela qualidade da programação.
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Jorge Augusto dos Santos
Receção a Shakespeare: Públicos de Teatro e de Shakespeare no Teatro Municipal Joaquim Benite
CONCLUSÃO OU INCONCLUSÕES Os investigadores sociais confiam na informação verbal, que é tão válida como outros tipos de informação, como procedimentos de observação, que apesar de não estarem incluídos nos números apresentados neste trabalho, não devem ser excluídos de um estudo mais profundo. Um inquérito não ‘diz’, por exemplo, que no final da apresentação de uma peça de Shakespeare, como Timão de Atenas (2012), todo o público aplaudiu de pé, chamando com os seus aplausos os atores ao palco por mais de uma ou duas vezes. O público inquirido pode deixar claro, nas suas respostas, que as expetativas iniciais foram amplamente ultrapassadas, mas uma ‘ovação’ observada in situ só se consegue registar através da emoção. Ainda assim, uma investigação pode ser bem conduzida se, no momento em que se prepara o método de recolha, se tiver em conta a emoção e a relação entre a arte e o público. Os “sujeitos activos”1 podem (ou devem) ser envolvidos na tarefa de pergunta-resposta a que estão sujeitos. Melhorar a capacidade de recolha e a pertinência da informação, assim como a sua clara e adequada interpretação e validação, são os objetivos da investigação social. Neste trabalho procurou-se saber que “novo tipo” de relação se estabelece entre o público e o texto teatral, e tentou demonstrar-se que este vai muito para além do texto dramático que está na sua base. Buscaram-se respostas a questões fulcrais sobre a motivação das pessoas, tentando caraterizar-se ou distinguir-se um público, procurando descobrir que cultura é praticada, de que forma é consumida, percecionada e apropriada, ou que qualidade de entretenimento existe e se procura em Shakespeare. Pretende-se que as linhas de pesquisa propostas possam ser utilizadas para, no futuro, se desenvolverem outras reflexões sobre a articulação da cultura com a educação, com o turismo e, consequentemente, com a economia e o desenvolvimento cultural, regional e nacional. Não se pretendeu fazer um retrato do estado da arte teatral em Portugal, mas lançar a proposta para uma forma específica do texto dramático clássico e sobre a sua influência, sua receção e sua proximidade ao público contemporâneo (neste caso, o do TMJB). É preciso ver com olhar crítico os resultados do inquérito proposto e saber aplicar na prática as conclusões possíveis deste tipo de estudos, que se sugere tornarem-se regulares. A breve análise efetuada ao pré-teste apresentado é exemplo dessa proposta a aplicar-se de uma forma mais completa e global, não só a nível do teatro local e municipal, que aqui foi objeto, mas também a nível regional ou nacional. Tendo presente a multidimensionalidade do tópico abordado, neste trabalho deixam-se pistas para que seja desenvolvido, seguindo os pressupostos indicados, de forma a orientar uma futura e mais completa investigação sobre o público contemporâneo de textos clássicos. Embora se tivessem procurado algumas conclusões, não se pretendeu concluir a temática. Deixaram-se as ‘portas’ da pesquisa abertas, para que o movimento da investigação flua, no espaço e no tempo, como parecem fluir as verdadeiras obras de Arte da Humanidade. “O teatro é uma arte viva, não permanente, extemporânea, que se prepara, ordena e executa da mesma maneira que uma experiência química ou uma batalha. Tudo o que se pode dizer antes ou depois do ato, do espetáculo, antes ou depois da representação é incerto e relativo.” - Louis Jouvet 2 1 2
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FODDY:209. Apud SOLMER:44.
Jorge Augusto dos Santos
Receção a Shakespeare: Públicos de Teatro e de Shakespeare no Teatro Municipal Joaquim Benite
BIBLIOGRAFIA AAVV (2004) - Públicos da Cultura, Lisboa, Observatório das Actividades Culturais. AAVV (2002) - Públicos do Porto 2001, Lisboa, Observatório das Actividades Culturais. ACKROYD, Peter (2010) – The Globe: esse vasto e universal teatro. Caderno de Textos nº 42 “Troilo e Créssida”. Edição CTA. Pp.30-37 (in Shakespeare/A biografia. Tradução de Telma Costa. Teorema. 2008. Pp.320-324). ADELMAN, Janet (s/d) – “Espelho negro”. Jornal O Mercador de Veneza, Edições do TNSJ, pp.11-14. BARATA, José Oliveira (1991) - História do Teatro Português, Lisboa, Universidade Aberta. BARTHES, Roland (1977) – Ensaios Críticos (Colecção Signos nº11), tradução de António Massano e Isabel Pascoal, Edições 70. BROOK, Peter (2008) – O Espaço Vazio, tradução de Rui Lopes, Lisboa, OrfeuNegro. CALVINO, Italo (1993) – Porquê ler os clássicos, Lisboa, Teorema, pp.7-13. COHEN, Walter (s/d) – “O Mercador de Veneza e o proto-capitalismo”, em Jornal O Mercador de Veneza, Edições do TNSJ, pp.17-18. CONDE, Idalina (coord.) (1984) - “O sentido do desentendimento – nas bienais de Cerveira: arte, artistas e público”, comunicação apresentada nas IV Jornadas de Comunicação do ISCTE em novembro de 1984. Pp.47-68 _________________________ (1992) - Percepção Estética e Públicos da Cultura, Lisboa, ACARTE/FCG. DIMAGGIO, Paul (1987) - “Classification in art”, American Sociological Review, 52, pp. 440-455. FITZGIBBON, Marian e Anne Kelly (eds.) (1997) – From Maestro to Manager, Dublin, Oak Tree Press. FODDY, William (2002) – Como perguntar – Teoria e prética da construção de perguntas em entrevistas e questionários, tradução de Luís Campos, Oeiras, Celta Editora. GOMES, Rui Telmo, Vanda Lourenço e João Gaspar Neves (2000) - Públicos do Festival de Almada, Lisboa, Observatório das Actividades Culturais. KOTT, Jan (2010) – Troilo & Créssida. Excertos do ensaio Troïlus et Cressida / Surprenants modernes, publicados no jornal de informação do TMJB “Mais TMJB”, nº7, Maio/Junho 2010. LOPES, João Teixeira (2000) - A Cidade e a Cultura, Porto, Afrontamento MANTECÓN, Ana Rosas (2009) - "O que é o público?" Poiésis, 14, pp. 175-215. PICCHIO, Luciana Stegagno (1969) – História do Teatro Português, Lisboa, Portugália Editora. QUADRIO, Miguel-Pedro (2010) – William Shakespeare: unidade na diversidade. Entrevista ao encenador Joaquim Benite. Em Caderno de Textos nº 42 “Troilo e Créssida”. Edição CTA, pp.47. REIS, Elizabeth (1991) – Estatística descritiva, Lisboa, Edições Sílabo. SANTOS, Maria de Lourdes Lima dos (1994), "Deambulação pelos novos mundos da arte e da cultura", em Análise Social, XXIX(125-126), pp. 417-439. SERRA, J. Paulo (2007) – Manual de teoria da comunicação, Estudos em Comunicação, Covilhã, UBI – Universidade da Beira Interior.
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Jorge Augusto dos Santos
Receção a Shakespeare: Públicos de Teatro e de Shakespeare no Teatro Municipal Joaquim Benite
SOLMER, Antonino (Dir.) (1999) - Manual de Teatro, Lisboa, IPAE. VASCONCELOS, Ana Isabel (1991) – Um «modelo» teórico de análise: para uma semiótica do teatro”, in José Oliveira Barata, História do Teatro Português, Lisboa, Universidade Aberta, pp.33-44. WARNER, Michael (2002) - "Publics and Counterpublics (abbreviated version)", Quarterly Journal of Speech, 88(4), pp. 413-425.
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Jorge Augusto dos Santos
Receção a Shakespeare: Públicos de Teatro e de Shakespeare no Teatro Municipal Joaquim Benite
ANEXOS (ordenados segundo referências ao longo do trabalho)
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Jorge Augusto dos Santos
ANEXO I: Análise semiótica de uma peça de Shakespeare: Troilo & Créssida (enc. Joaquim Benite e José Martins, 2010) (por Jorge A. dos Santos, 2010) A experiência teatral começa assim que se entra no contemporâneo edifício – o apelidado Teatro Azul1 - e, mentalmente, antes disso. As instalações fazem juz à já habitual qualidade das produções, reunindo as condições técnicas para a apresentação de vários tipos de espectáculos artísticos: além do teatro, concertos de música, ópera e dança, provando a sua multiplicidade, que a evolução e os “novos” tempos (o mesmo público?) exigem. Bem longe do formato circular – uterino? – da estrutura de madeira do The Globe, inaugurado por Shakespeare em 1599, que parecia aconchegar o público, é curioso constatar que a maior parte das novas salas (como a do TMJB) herdaram o seu formato rectangular – quer a sala, quer o palco – e o seu aspecto despojado e minimalista, dos primeiros espaços para apresentações de há séculos. Sem camarotes, o público assiste à frente do palco, sentado confortavelmente, esperando expectante ser envolvido pelas estórias e pela História (do Homem, da Arte ou da Literatura). A Companhia de Teatro de Almada (CTA), estreou na sala principal do Teatro Municipal de Almada (TMA) em 2010 a peça teatral Troilo e Créssida (1603), de William Shakespeare, em co-produção com a Companhia de Teatro de Braga e a Companhia de Teatro do Algarve, e esteve em cena de 29 de abril a 16 de maio desse ano. Inédita até então em Portugal, esta tragicomédia (ou “black comedy”, como a apelidou Mário Barradas2) foi o ponto de partida para a encenação concretizada pelo condecorado director da CTA Joaquim Benite, com José Martins. Uma das linhas da trama dramática desta história é o amor entre o herói Troilo (o mais jovem dos filhos de Príamo, rei da cidade de Tróia) e a grega Créssida, numa Tróia sitiada pelos gregos. Temas centrais como o amor, a infidelidade, a guerra e a morte são apresentados transversalmente. A sala enche-se de um público entusiasta (muitos jovens fazem o ruído habitual), “prostra-se” em silêncio perante o poder da escuridão, que antecede o inicio da peça. No espaço cénico a ausência de cortina de boca de cena (comum nas apresentações desta companhia) revela um palco despido de superficialidade: o cenário resume-se ao chão do próprio palco, preto, recortado com linhas brancas que se cruzam, como que a insinuar um tabuleiro de xadrez3, uma ‘cortina’ de ferro, ao fundo (tem recortadas duas portas que abrem e fecham consoante a entrada e saída dos actores) que quando é elevada, mostra, mais ao fundo, outras cortinas, estas em pano branco, como que a simular as tendas de guerra montadas pelos gregos em terras de Tróia, de onde se entra ou sai, uma escada amovível e um ou dois bancos simples. Não existem bombalinas ou pernas e por isso conseguem ver-se objectos que normalmente se encontram ocultos, como o extintor ou os sinais de saída de emergência em cima do palco. Embora não façam parte dos objectos ou adereços ‘participantes’ na acção da peça, estes signos 1
Obra dos arquitectos Manuel Graça Dias e Egas José Vieira (2006), considerado um dos mais bem equipados Teatros do país. 2 Nas notas inéditas que deixou pouco tempo antes de morrer em Novembro de 2009. Apud QUADRIO 3 O xadrez parece ter sido a metáfora para a apresentação desta peça.
16
Jorge Augusto dos Santos
visuais insinuam que o encenador, propositadamente, optou por não escondê-los. A parca utilização de outros adereços, como espadas (nas poucas cenas de luta, como o duelo entre Aquiles e Heitor), uma corda (que os mirmidões utilizam para arrastar o corpo, já morto, de Heitor), sublinham ainda mais o minimalismo cénico, referido anteriormente. Até a simplicidade da maquilhagem, dos penteados, a monocromia funcional dos figurinos ou a iluminação reflectem essa tendência. Roland Barthes consigna ao figurino, precisamente, o “papel puramente funcional e que essa função será mais de ordem intelectual do que plástica ou emocional”.1 O encenador demarca a sua própria “motivação interior”2 também na música e nos ruídos, linguagens utilizadas com cuidado e parcimónia. A sua pertinente utilização nota-se nas cenas em que faz mais sentido (por exemplo, os sons da batalha). A batalha propriamente dita, entre gregos e troianos, é insinuada fora do nosso alcance visual, com o uso de sons e uma iluminação que tenta cortar, insinuosamente, o fumo que é espalhado pelo palco. Também aqui a encenação se mostra inteligente: apesar do fumo ser uma linguagem visual, que, uma vez colocado em cima do palco, não se consegue ‘domar’, é precisamente através da sua viagem descontrolada, do palco para a plateia, que o público se vê envolvido na batalha, como se estivesse a participar activamente na cena, numa interacção real, em todas as dimensões possíveis: uma sensorial “simbiose de liguagem”3: auditiva, visual, táctil, orgânica – ao inspirar-se o fumo, ele encarna-se. O encenador terá preferido dar ênfase ao signo auditivo da palavra e ao signo visual da expressão corporal. A clareza da voz, os límpidos gestos e os fluídos movimentos dos actores parecem protagonizar a peça. Apesar da linguagem formal, que se manteve fiel à original, os actores conseguiram uma interacção (e envolvência) positiva, criando reacções de deslumbramento ou riso (este provocado, por vezes, pela direcção de falas directamente para o público em vez de contracena limitada ao palco). Por trás destas indicações cénicas está uma criteriosa escolha, decisão reflectida do encenador sobre a credibilidade para o espetador do teatro de Shakespeare que, segundo as suas palavras4, “tem a sua unidade na diversidade: temas, pontos de vistas, géneros, estilos [...] tudo se mistura: cenas que exigem uma abordagem trágica, farsesca, psicológica, [...] mas à maneira de um realismo poético.” Nitidamente não lhe interessou “pintar a vida como ela é, mas transmitir num plano poético as preocupações que temos em relação à vida – uma visão que também encontramos em Brecht”. Por isso, nesta encenação de Benite existem pormenores cénicos que simbolizam e não retratam real ou exactamente. Por exemplo, no guarda-roupa, de corte atual, moderno, militar, elegante, os tons limitaram-se a dois: o escuro do lado dos troianos e o claro do lado dos gregos. Nitidamente simbólico, o jogo da guerra é também uma crítica ao exercício do poder da altura. Simples, eficaz e longe dos tempos do teatro de Shakespeare, em que se gastava mais em guarda-roupa “do que em textos ou salários de actores” 5.
1 2 3 4
5
BARTHES, 1977:76. BROOK, 2008:129. VASCONCELOS:36. Apud QUADRIO, 2010:6.
ACKROYD, 2010:36.
ANEXO II: Esquemas de abordagem do trabalho
ANEXO III: INQUÉRITO AO(S) PÚBLICO(S) DO TMJB Hábitos Culturais e de Teatro do público do TMJB (atual Teatro Municipal Joaquim Benite), especificamente o que assistiu a Timão de Atenas, de William Shakespeare (de 20 a 22 de dezembro de 2012) Este inquérito destina-se a fins estritamente científicos (no âmbito da disciplina de Receção, Fruição e Públicos da Cultura, do mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação, do ISCTE-IUL). As suas respostas são pessoais e os dados recolhidos são confidenciais. O questionário é composto por 45 perguntas. Para responder a cada uma, coloque um ‘X’ na caixa correspondente à(s) opção(ões) correta(s), ou coloque a sua resposta, conforme o seguinte exemplo:
EXEMPLO: 5. De uma forma geral, gosta de assistir a peças de Shakespeare? Sim Porquê?
Não
Pela atualidade da história .
Agradecemos desde já a sua disponibilidade, imprescindível à concretização deste estudo, garantindo a absoluta confidencialidade das respostas.
DADOS DA RECOLHA DE INFORMAÇÃO (a preencher pelo entrevistador/automáticos no inquérito em linha, na internet) [1]
Data __ __ / __ __ /20__ __
[3]
Hora
__ __ : __ __
[2]
[4]
Evento
Entrevistador
.
INQUÉRITO PARTE I COMPANHIA DE TEATRO DE ALMADA E O TEATRO DE SHAKESPEARE Esta parte incidirá sobre o espetáculo a que assistiu ("Timão de Atenas", de W. Shakespeare, de 20 a 22 de dezembro de 2012 e de 9 de janeiro a 3 de fevereiro de 2013) e a sua frequência do Teatro Municipal Joaquim Benite. 1.
Com quem foi assistir a este espetáculo? (pode assinalar mais que uma opção) [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11] [12] [13]
2.
Só (passar à p.3) Com cônjuge/companheiro(a) Com namorado(a) Com filho(s) Com pai/mãe Com outros familiares Com amigos Com outros conhecidos, colegas ou vizinhos Não sabe/Não responde
Se veio acompanhado(a), quantas pessoas integram o grupo? (uma só resposta) [14] [15] [16] [17]
3.
2 3a5 + de 5 Não sabe/Não responde
Como se deslocou até ao TMJB? (uma só resposta) [18] [19] [20] [21] [22]
4.
A pé Veículo próprio Táxi Outro transporte público Não sabe/Não responde
Através de que meio(s) teve conhecimento deste espetáculo? (pode assinalar mais que uma opção) [23] [24] [25] [26] [27] [28] [29] [30] [31] [32] [33] [34] [35]
Publicidade dispersa pelo concelho Agenda cultural da Câmara Mailing/ Newsletter do TMJB Imprensa (jornais/revistas) Rádio Televisão Internet Informação de amigo(s) Informação de familiar(es) Informação de professor(es) Outros meios Quais? ______________________________________ Não sabe/Não responde
5.
Quais as principais razões que o(a) levaram a decidir vir a este espetáculo? (pode assinalar até 3 opções) [36] [37] [38] [39] [40] [41] [42] [43] [44] [45] [46] [47] [48] [49] [50] [51] [52] [53]
6.
Conversa com / recomendação de amigo(s) Acompanhamento de amigos ou familiares Não ter um programa melhor Publicidade ao espetáculo Informações na comunicação social Divulgação em rede social Crítica especializada Por acaso Tema/assunto do espetáculo Conhecer o texto Pela popularidade/reconhecimento do dramaturgo (autor do texto) Conhecer o trabalho da Companhia Conhecer o trabalho do encenador Conhecer o trabalho dos atores Gostar de assistir a espetáculos de artes do palco (teatro, dança, circo, etc) Outra razão. Qual? ______________________________________ Não sabe/Não responde
Como adquiriu o ingresso para este espetáculo? (uma só resposta) [54] [55] [56] [57] [58] [59]
7.
Comprou bilhete Foi-lhe oferecido por um amigo ou familiar Recebeu convite Integra uma visita organizada/de estudo É um evento de acesso livre Não sabe/Não responde
No espetáculo a que assistiu, quais dos seguintes fatores lhe agradaram muito, razoavelmente, pouco ou não lhe agradaram?
8.
Fatores [60] [61] [62] [63] [64] [65] [66] 9.
Agradou muito
Agradou razoavelmente
Agradou pouco
Não lhe agradou
Ñ.sabe/ Ñ.responde
Cenário e figurinos Texto Atores Encenação Temática/assunto Luzes/ som Apreciação global
Face às suas expectativas, diria que o espetáculo a que acabou de assistir: (uma só resposta) [67] [68] [69] [70]
Excedeu as suas expectativas iniciais Correspondeu às suas expectativas iniciais Frustrou as suas expectativas iniciais Porquê? _____________________________________________________________________________________________
10.
Recomenda este espetáculo? (uma só resposta) [71] [72] [73] [74]
11.
Não Sim Talvez Porquê? _____________________________________________________________________________________________
Comenta as peças de teatro a que assiste com amigos, familiares ou colegas? (uma só resposta)
Sim Não
[75] [76] 12.
A seguir a este espetáculo o que foi fazer? (uma só resposta) [77] [78] [79] [80] [81] [82] [83] [84] [85]
Trabalhar Estudar Dar um passeio Ir divertir-se (a um bar ou discoteca) Ir para casa Ir para casa de/com amigos Outra atividade Qual? _______________________________________ Não sabe/Não responde
Nenhuma
1a5
6 a 10
> 11
Ñ.sabe/ Ñ.lembra
13.
A quantas peças de teatro assistiu no último ano (2012)?
[86]
[87]
[88]
[89]
[90]
14.
A quantas peças de teatro já assistiu na CTAlmada?
[91]
[92]
[93]
[94]
[95]
15.
A quantas peças de Shakespeare já assistiu?
[96]
[97]
[98]
[99]
[100]
16.
A quantas peças de Shakespeare já assistiu na CTAlmada?
[101]
[102]
[103]
[104]
[105]
17.
De uma forma geral, gosta de assistir a peças de Shakespeare? (uma só resposta) [106] [107] [108]
Sim Não Porquê? _________________________________________
18.
Frequenta o Teatro Municipal de Almada? (uma só resposta) [109] [110]
19.
Sim Não [avance para a questão 20]
O que o leva a frequentar o Teatro Municipal de Almada? (pode escolher até 3 opções) [111] [112] [113] [114] [115] [116] [117] [118] [119]
20.
A fácil acessibilidade A (boa) programação O espaço O ambiente A quebra da rotina Sair do ambiente doméstico Não frequento Outra. Qual? ______________________________________________________________
A que eventos já assistiu ou costuma assistir no Teatro Municipal de Almada? (pode escolher mais do que uma opção) [120] [121] [122] [123] [124] [125] [126]
21.
Teatro (incluindo o festival anual) Dança Música Ópera Exposições Cinema Outros eventos
Tenciona assistir a próximos espetáculos no TMJB? (uma só resposta) [127] [128] [129] [130]
Não Sim Talvez Porquê? _____________________________________________________________________________________________
PARTE II HÁBITOS CULTURAIS Com que frequência realiza cada uma das seguintes actividades? Semanalmente
Pelo menos uma vez por mês
Raramente
Nunca
22.
Ir ao teatro
[131]
[132]
[133]
[134]
23.
Ir a espectáculos de dança
[135]
[136]
[137]
[138]
24.
Ir a exposições
[139]
[140]
[141]
[142]
25.
Ir a bibliotecas
[143]
[144]
[145]
[146]
26.
Ir a museus
[147]
[148]
[149]
[150]
27.
Ir a concertos de música clássica/ópera
[151]
[152]
[153]
[154]
28.
Ir a concertos de música popular
[155]
[156]
[157]
[158]
29.
Ir ao cinema
[159]
[160]
[161]
[162]
30.
Visitar monumentos
[163]
[164]
[165]
[166]
Diariamente
31.
Ver televisão
32.
Ouvir rádio
33.
Ouvir música
34.
Ver filmes
35.
Ler livros
Pelo menos uma vez por semana
Raramente
Nunca
[167]
[168]
[169]
[170]
[171]
[172]
[173]
[174]
[175]
[176]
[177]
[178]
[179]
[180]
[181]
[182]
[183]
[184]
[185]
[186]
[187]
[188]
[189]
[190]
[191]
[192]
[193]
[194]
[195]
[196]
[197]
[198]
[199]
[200]
[201]
[202]
(sem ser de estudo ou profissionais)
36.
Ler jornais
37.
Jogar jogos electrónicos
38.
Jogar outro jogos
39.
Usar a Internet
CARATERIZAÇÃO SOCIOGRÁFICA 40.
Sexo [203] [204]
41.
Idade: [205]
42.
Masculino Feminino _______________________________ anos
Nível de escolaridade Sem grau de escolaridade Sabe ler e escrever mas não possui nenhum grau 1º ciclo do Ensino Básico 2º ciclo do Ensino Básico 3º ciclo do Ensino Básico 12º ano Curso superior: licenciatura Curso superior: pós-graduação Curso superior: mestrado Curso superior: doutoramento Não sabe/não responde
[206] [207] [208] [209] [210] [211] [212] [213] [214] [215] [216] 43.
44.
Profissão (se for reformado, aposentado ou desempregado, indique também a última profissão exercida): [217] _______________________________ Condição perante o trabalho Trabalhador por conta própria Trabalhador por conta de outrém Estudante Reformado Desempregado Ocupa-se das tarefas do lar Outra Qual _______________________________ Não sabe/não responde
[218] [219] [220] [221] [222] [223] [224] [225] [226] 45.
46.
Residência [227] Concelho de Almada _______________________________ [228] Outro concelho _______________________________ [229] Qual _______________________________ [230] Não sabe/não responde Estado Civil Solteiro(a) Casado(a) União de facto Viúvo(a) Separado(a) Não sabe/não responde
[231] [232] [233] [234] [235] [236]
O questionário terminou. Muito obrigado pela sua colaboração!
ANEXO IV: Número de espetadores por sessão em quatro peças de Shakespeare, no TMJB: Othello (1993), Troilo e Créssida (2010), O mercador de Veneza (2012) e Timão de Atenas (2012). FONTE: CTA Entidade Promotora: Companhia de Teatro de Almada
Othello Data: Recinto: Lotação: Localidade/Concelho:
03 jun. a 24 out. 1993 Teatro Municipal de Almada - Sala Principal 120 Lugares Almada
Data
Número de Espectadores
Data
Número de Espectadores
Data
Número de Espectadores
03-06-1993
120
27-06-1993
71
02-10-1993
120
04-06-1993
120
29-06-1993
107
03-10-1993
51
05-06-1993
120
30-06-1993
110
05-10-1993
35
08-06-1993
91
01-07-1993
96
06-10-1993
30
09-06-1993
109
02-07-1993
120
07-10-1993
29
10-06-1993
107
03-07-1993
119
08-10-1993
61
11-06-1993
120
04-07-1993
84
09-10-1993
45
12-06-1993
108
10-07-1993
120
10-10-1993
62
13-06-1993
95
11-07-1993
120
12-10-1993
53
15-06-1993
59
20-07-1993
120
13-10-1993
45
16-06-1993
80
17-09-1993
46
15-10-1993
104
17-06-1993
90
18-09-1993
48
16-10-1993
98
18-06-1993
117
19-09-1993
49
17-10-1993
108
19-06-1993
71
21-09-1993
49
19-10-1993
105
20-06-1993
120
22-09-1993
44
20-10-1993
120
22-06-1993
62
23-09-1993
26
21-10-1993
98
23-06-1993
90
25-09-1993
101
22-10-1993
126
24-06-1993
113
26-09-1993
100
22-10-1993
120
25-06-1993
88
28-09-1993
79
23-10-1993
120
26-06-1993
116
29-09-1993
65
24-10-1993
120
TOTAL:
5320
Troilo & Créssida Data: Recinto: Almada - Sala Principal Lotação: Localidade/Concelho:
Data
O mercador de Veneza 29 abr. a 16 mai. 2010 Teatro Municipal de 442 Lugares Almada
Número de Espectadores
Data: Recinto: Almada - Sala Principal Lotação: Localidade/Concelho:
05 jul. a 11 nov. 2012 Teatro Municipal de 442 Lugares Almada
Data
Número de Espectadores
05-07-2012
451 *
06-07-2012
343 *
20-10-2012
451
21-10-2012
232
23-10-2012
183
24-10-2012
134
25-10-2012
140
26-10-2012
405
27-10-2012
416
28-10-2012
247
29.04.10
259
30.04.10
237
02.05.10
195
04.05.10
86
05.05.10
155
06.05.10
117
07.05.10
179
08.05.10
314
09.05.10
312
12.05.10
296
13.05.10
210
30-10-2012
185
14.05.10
843
31-10-2012
321
15.05.10
416
01-11-2012
185
16.05.10
270
02-11-2012
232
TOTAL:
3889
03-11-2012
391
04-11-2012
370
20 a 22 de dezembro de
06-11-2012
228
Teatro Municipal de
07-11-2012
223
442 Lugares Almada
08-11-2012
333
09-11-2012
431
10-11-2012
461
11-11-2012
481
TOTAL:
6843
Timão de Atenas Data: 2012 Recinto: Almada - Sala Principal Lotação: Localidade/Concelho:
Data
Número de Espectadores
20.12.2012
378
21.12.2012
188
22.12.2010
272
* Espectáculo inserido no 29 Festival de Almada
ANEXO V: Análise à taxa de ocupação em quatro peças de Shakespeare, no TMJB: Othello (1993), Troilo e Créssida (2010), O mercador de Veneza (2012) e Timão de Atenas (2012). FONTE: CTA Othello (1993) Se atentarmos no quadro 1 e no gráfico 1, abaixo, podemos verificar que das 60 sessões que foram apresentadas com esta peça, 14 tiveram uma lotação inferior a 50% (ou seja, menos de 60 espetadores), equivalente a 23,3% do total das sessões. Um valor aproximado (20%), equivale a 12 sessões que tiveram entre 61 a 90 espetadores, no intervalo de ocupação de 51% a 75%. Mais de metade das sessões, ou seja 36 (equivalentes a 56,7% do total), tiveram uma ocupação de mais de 76%, sendo que destas 15 esgotaram a lotação da sala (25% do total das sessões – a verde). Cabe referir, também, que duas das 60 sessões foram apresentadas no X Festival de Teatro de Almada (10 e 11 de julho de 1993), tendo ambas esgotado a capacidade da sala, e que outra sessão especial foi também esgotada com público escolar. Quadro 1- Gráfico 1 Relação da taxa de ocupação com o número de sessões da peça Othello, em 1993 Ocupação (%)
Nº espetadores
Nº sessões
%
<50
<60
14
23,3
51-75
61-90
12
20,0
>76
60,0
56,7
50,0
91-120
34
56,7
TOTAL
60
100
40,0
30,0 20,0
23,3
20,0
<50%
51-75%
10,0
25
0,0 >75%
Troilo & Créssida (2010) Se atentarmos no quadro 2 e no gráfico 2, abaixo, verificamos que das 14 sessões apresentadas com esta peça, 6 - quase metade (42,9%) - tiveram uma lotação inferior a 50% (ou seja, menos de 221 espetadores). Um valor exatamente igual, encontra-se no intervalo de ocupação de 51% a 75%. Apenas duas das sessões totais (14,3%) teve uma taxa de ocupação superior a 76%. Quadro 2 - Gráfico 2 Relação da taxa de ocupação com o número de sessões, da peça Troilo & Créssida, em 2010 Ocupação (%)
Nº espetadores
Nº sessões
%
<50
<221
6
42,9
51-75
222-331
6
42,9
>76
332-442
2
14,3
TOTAL
14
100
50,0 40,0
42,9
42,9
30,0 20,0 10,0
14,3
0,0
28
<50%
Jorge Augusto dos Santos
51-75%
>75%
O mercador de Veneza (2012) Se atentarmos no quadro 3 e no gráfico 3, abaixo, podemos verificar que das 22 sessões que foram apresentadas com esta peça, 5 tiveram uma lotação inferior a 50% (ou seja, menos de 221 espetadores), equivalente a 22,7% do total das sessões. Perto dos 30% de ocupação (27,3%), equivalentes a 6 sessões, tiveram entre 222 e 331 espetadores, no intervalo de ocupação de 51% a 75%. Exatamente metade das sessões, ou seja 11 (50% do total), tiveram uma ocupação de mais de 76%. Destas, 5 esgotaram a lotação da sala (22,7% do total das sessões), onde se inclui umas das duas apresentadas no XXIX Festival de Teatro de Almada (5 de julho de 2012). (A outra, do segundo dia - 6 de julho de 2012 - ocupou 343 dos 442 lugares da lotação da sala). Quadro 3 - Gráfico 3 Relação da taxa de ocupação com o número de sessões, da peça O mercador de Veneza, em 2012 Ocupação (%)
Nº espetadores
Nº sessões
%
<50
<221
5
22,7
51-75
222-331
6
27,3
60,0 50,0
30,0 20,0
>76
332-442
11
50,0
TOTAL
22
100
50,0
40,0
22,7
27,3
10,0 0,0 <50%
51-75%
>75%
Timão de Atenas (2012) Se atentarmos no quadro 4 e no gráfico 4, abaixo, podemos verificar que cada uma das três sessões realizadas se enquadra num tipo de ocupação. Ou seja, a primeira (da estreia) teve uma ocupação de 378 espetadores (equivalente a 85,5% da ocupação total) e a terceira teve uma ocupação de 272 espetadores (equivalente a 61,5% da ocupação total), ou seja, 66,6% da ocupação da sala nestes dois dias foi superior a 60%). Apenas a segunda teve uma ocupação inferior a 50%, ou seja, 188 espetadores (equivalente a 42,5% da ocupação total). Quadro 4 - Gráfico 4 Relação da taxa de ocupação com o número de sessões, da peça Timão de Atenas, em 2012 Ocupação (%)
Nº espetadores
Nº sessões
%
40,0 30,0
<50
<221
1
33,3
20,0
51-75
222-331
1
33,3
10,0
33,3
33,3
33,3
<50%
51-75%
>75%
0,0 >76
332-442
1
33,3
TOTAL
22
100
ANEXO VI: INQUÉRITO – resumo de resultados
ANEXO VII: INQUÉRITO – breve análise dosresultados O público é maioritariamente feminino (as mulheres representam dois terços do total da amostra), reside no distrito de Setúbal (apenas 2, cerca de 11% residem em Lisboa). O inquirido mais novo tem 29 anos e o mais velho 61. A maior parte (10, ou seja, 59%) tem entre 31 e 40 anos. Dos 41 aos 50, dos 51 aos 60 e dos 61 aos 65 anos, encontram-se 6 inquiridos (dois em cada faixa), representando 48% do total. Apenas 3 (18%) são casados, representando metade do número de solteiros (35%). 24% vivem em união de facto enquanto que os divorciados ou separados representam e igual número. Quanto ao nível de escolaridade, apenas um dos inquiridos tem habilitações ao nível do secundário. Tosos os restantes têm curso superior: 53% (9) com licenciatura, 24% (4) com pós-graduação e 18% (3) com mestrado. Quanto ao grupo ocupacional1, os desempregados (2) representam 12%, a mesma percentagem do somatório de estudantes e reformados (apenas 1 de cada). Os professores, educadores escolares e formadores constituem, claramente, a mais importante categoria profissional (41%), seguidos das profissões técnicas (psicólogo, terapeuta, veterinária, engenheiro do ambiente), que correspondem a 29%. Dois (12%) têm profissões ligadas à arte ou à cultura, o mesmo número dos trabalhadores de serviços, e apenas um (6%) tem cargo de direção. A maior parte (71%) trabalha por conta de outrém e apenas 18% é trabalhador por conta própria. Relativamente aos hábitos culturais - Cerca de dois terços dos inquiridos vai ao teatro pelo menos uma vez por mês, enquanto o outro terço afirma que raramente o faz. Este público, na sua maioria, raramente ou nunca assiste a espetáculos de dança ou concertos de música (incluindo música popular) e pelo menos uma vez por mês vai a uma exposição e a museus. No entanto, 53% afirma pelo menos uma vez por mês visitar monumentos, enquanto os restantes 47% raramente ou nunca o fazem. Já em relação às idas ao cinema, 41% deste público raramente vai, enquanto 35% vai pelo menos uma vez por mês e apenas 24% o faz semanalmente. Relativamente a outras atividades, a maioria usa a internet, vê televisão e ouve rádio ou música diariamente, pelo menos uma vez por semana assiste a filmes filmes. Quanto a hábitos de leitura, 59% deste público lê livros (sem ser de estudo ou profissionais) diariamente e 35% fá-lo pelo menos uma vez por semana, contra apenas uma pessoa (6%) que raramente o faz. A maior parte lê jornais diariamente ou pelo menos uma vez por semana enquanto raramente ou nunca jogam a jogos eletrónicos ou quaiquer outros jogos. Relação do público com a CTA e com o teatro de Shakespeare - A maior parte dos inquiridos (94%) deslocou-se ao teatro, para assistir à peça, em veículo próprio (apenas uma pessoa se deslocou a pé) e maioritariamente (82%) fez-se acompanhar pelo cônjuge, companheiro(a) ou namorado(a), ou por amigos (35%, 12% e 35%, respetivamente). Dois (12%) foram com conhecidos, colegas ou vizinhos, o mesmo numero daqueles que foram acompanhados com o pai ou com a mãe. Apenas uma pessoa foi com o(s) filho(s) e apenas uma foi sozinha assistir a esta peça. A maior parte dos grupos (82%) era constituída por duas pessoas e a restante parte (18%) por três a cinco pessoas.
1
António Firmino da Costa Apud GOMES:44.
Os novos media são os meios mais referidos, através dos quais os inquiridos tiveram conhecimento do espetáculo: a newsletter do TMJB (referida por 11), seguida pela pesquisa na internet (referida por 4). No conjunto, os outros media (mais tradicionais), como a rádio, a televisão, a imprensa, a publicidade dispersa pelo concelho (embora apenas uma pessoa tenha admitido ter ido assistir à peça motivada por este meio) e a agenda cultural da Câmara Municipal de Almada, foram referidas dez vezes. Apenas cinco inquiridos referiram ter tido informação através de amigos ou familiares. Apenas 6 pessoas afirmam ter adquirido bilhete, enquanto as restantes 11 (bem mais de metade) receberam convite. Relativamente à motivação para assistir ao espetáculo, onze inquiridos (65%) afirmaram que gostam de assistir a espetáculos de artes do palco, como teatro, dança ou circo. Dez (60%) afirmaram ter decidido ir assistir a este espetáculo por conhecer o trabalho da CTA. Apesar de apenas uma pessoa ter indicado que foi ver o espetáculo por conhecer o texto, a popularidade e reconhecimento do dramaturgo (o autor do texto) e o trabalho do encenador foram das principais razões - apontadas por 7 pessoas (41%). Quatro (cerca de um quarto) foi motivada também pelo tema ou assunto. A crítica especializada parece ter motivado apenas uma pessoa, assim como, curiosamente, a divulgação nas redes sociais. Cerca de dois terços dos inquiridos ficou muito agradado pelo cenário e figurinos, luzes e som, prestação dos atores. À maior parte agradou o texto, a encenação, o assunto abordado e, de uma forma global, todo o espetáculo, não havendo pessoas cuja expetativa inicial tenha sido frustrada. O espetáculo excedeu, aliás, as expetativas iniciais para cerca de 60% dos inquiridos, enquanto os restantes viram correspondidas as suas expectativas. As razões indicadas pelos inquiridos, que justificam esta expectativa correspondida ou excedida, incluem a atualidade e a qualidade do texto, do tema, da encenação, da cenografia e da interpretação dos atores, o acolhimento e o profissionalismo da CTA. Por essa razão, é unânime a recomendação o espetáculo. Todos os inquiridos afirmaram comentar as peças de teatro a que assistem com amigos, familiares ou colegas. Relativamente à assiduidade de espetáculos de teatro em 2012, oito (47%) afirmaram ter assistido entre 1 a 5 peças, quatro entre 6 a 10, e cinco mais de 11 peças. Onze (65%) afirmaram ter assistido a mais de 11 peças de teatro, na CTA, enquanto quatro assistiram entre 1 a 5 e apenas duas entre 6 a 10 peças. Já em relação às peças de Shakespeare a que assistiram, 14 afirmaram ter assistido entre 1 a 5, duas entre 6 a 10 e apenas uma a mais de 11. Todos indicaram ter assistido entre 1 a 5 peças de Shakespeare pela CTA e todos mostraram agrado por assistir a peças de teatro deste autor, pela excelência, qualidade, temas, atualidade, contemporaneidade dos seus clássicos textos, que ao mesmo tempo promovem a reflexão. Todos os inquiridos afirmam ser frequentadores do TMJB e todos eles tencionam assistir a próximos espetáculos neste espaço, principalmente pela qualidade da programação. O ambiente e o espaço foram também indicados (por 47% e 41%, respetivamente), nas razões dessa frequência, seguidos pela fácil acessibilidade (29%). Relativamente ao tipo de espetáculos que costumam assistir no TMJB, todos foram unânimes em indicar o teatro, seguido da música (59%), dança (53%) e exposições (41%). Apenas 18% indicou a ópera, enquanto 12% indicou costumar assistir a cinema ou a outros eventos naquele espaço.
CRÉDITO DE IMAGENS
CAPA ►Design, fotografia, composição gráfica e de texto de Jorge Augusto dos Santos. LAY-OUT, PAGINAÇÃO E FORMATAÇÃO: Jorge Augusto dos Santos < http://www.jorgeaugusto.eu >. NOTAS FINAIS Neste trabalho foi utilizada a nova grafia do português, exceto nas transcrições e citações, em que se manteve a grafia original. Nas referências bibliográficas utilizou-se as “Normas de Formatação e Apresentação Gráfica da Dissertação ou Trabalho de Projecto de Mestrado e da Tese de Doutoramento”, aprovadas pela Comissão Científica Permanente da Escola de Sociologia e Políticas Públicas (ESPP), em 17.11.2010.