Nº4 - 4º TRIMESTRE 2017
WITCHCRAFT IBÉRICO E O SAGRADO FEMININO
aMALA SHAKTI DEVI
cátia j. martins
a Deusa e os cristais
fernanda barros
cristais, florais e o arquétipo de mãe
SACERDOTISA, TERAPEUTA HOLÍSTICA, BAILARINA, MÃE E MULHER PORTUGUESA
iris lincan
silvana correia
a linguagem da astrologia no feminino
SUSANA SOARES
UMBIGUEIRA E OVO DE Obsidiana
joana pinto
solstício de inverno
Sagrado feminino e cristaloterapia www . associacaoportuguesadecristaloter apia . com A P C M AG A Z IN E # 4
ÍNDICE 4 SAGRADO FEMININO E CRISTALOTERAPIA Joana Pinto
12 ENTREVISTA . SACERDOTISA, TERAPEUTA HOLÍSTICA, BAILARINA, MÃE E MULHER PORTUGUESA Iris Lican
20 CRISTAIS, FLORAIS E O ARQUÉTIPO DE MÃE Fernanda Barros
25 A Deusa E OS CRISTAIS Cátia J. Martins 31 A LINGUAGEM DO FEMININO NA ASTROLOGIA Silvana Correia
38 CONTO MÁGICO . A DANÇA DO CORPO E DA ALMA Sara Correia
40 SOLSTÍCIO DE INVERNO Joana Pinto 44 ENTREVISTA . WITCHCRAFT IBÉRICO E O SAGRADO FEMININO Amala Shakti Devi
50 UMBIGUEIRA E OVO DE Obsidiana - OSIRIS E OMI Susana Soares
56 A LOJA . O QUE PODES ENCONTRAR NA APC 60 SUGESTÕES PARA TI 62 QUEM SOMOS E ONDE ESTAMOS Redacção . geral@casabrahma.com Propriedade . Associação Portuguesa de Cristaloterapia Sede . APC - Colectivo Casa Brahma. Porto. Portugal Administração . Joana Pinto - associacaoportuguesadecristaloterapia@sapo.pt Site oficial . www.associacaoportuguesadecristaloterapia.com Design gráfico . Patrícia Poção Esta revista não segue as normas do novo Acordo Ortográfico 2
EDITORIAL APC MAGAZINE
« (...) reclamo por corações abertos, espíritos atentos e mentes despertas que sejam curiosas o suficiente para mergulharem na grandeza deste tema divino.»
«O mundo precisa de Amor.»
Bem-vindos a mais uma edição da APC Magazine. Desta vez, o tema desta revista foca o Sagrado Feminino. Um tema muito amplo e que nos dias que correm, a meu ver, é urgente estarmos conscientes. O mundo precisa de Amor. O mundo precisa cada vez mais que a Energia Feminina seja expressa tanto no homem como na mulher para que a sociedade evolua na paz e na sabedoria do cosmos. Lentamente, a Associação Portuguesa de Cristaloterapia começa a contribuir nesse sentido e a semear no coração de todos os nossos apoiantes, sócios e amigos, a semente da consciência através do maravilhoso mundo telúrico. Por isso, reclamo por corações abertos, espíritos atentos e mentes despertas que sejam curiosos o suficiente para mergulharem na grandeza deste tema Divino. Aproveito também para enaltecer o trabalho incrível que vos apresentamos nesta revista. Uma apresentação diferente, pensada e estruturada a fim de engrandecer a evolução que tem sido constante nas nossas vidas. Convido-te a leres e a disfrutares do nosso trabalho, da nossa pesquisa e do nosso Amor em cada palavra. Boa viagem ao sagrado feminino,
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Joana Pinto
In Lak’Esh Eu sou tu e tu és eu. O que tu fazes aos outros, tu fazes a ti. Como tu ajudas os outros, é como tu te ajudas. Quando tu ajudas os outros, é quando tu te ajudas. Nós estamos todos conectados debaixo do Sol.
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Sagrado Feminino e Cristaloterapia JOANA PINTO
«Houve um tempo, em que todas as mulheres eram sagradas. Em que eram vistas como Deusas, como senhoras do seu próprio destino. Houve um tempo, em que o corpo era sagrado, em que o sexo era uma prece. Em que homens e mulheres se respeitavam e se reverenciavam. (…)» Autor desconhecido
Sinto um carinho especial em escrever este artigo, pois o meu trabalho com a energia feminina já vem desde há muito tempo. Escolhi este tema para celebrar a festividade natalícia e trazer para esta altura uma energia feminina, suave, completa e cuja consciência tanta falta faz, nos tempos tão acelerados de hoje em dia. Temos acesso aos vários relatos da perseguição, da tortura e das violações que mataram muitas mulheres ao longo da história da humanidade, sacerdotisas ou não, sob acusação de que exerceriam práticas demoníacas ou reverenciariam entidades das trevas. Nos dias de hoje, esta ignorância ainda aparece sob outras roupagens, pois o estigma ainda existe. As mulheres que buscam os saberes naturais das ervas, da ginecologia e alimentação natural, da magia, das linguagens das várias terapêuticas ancestrais, mitos femininos, instrumentos oraculares e outros saberes, que antes da apreensão da ideia de sagrado
Grandmother Crone Goddess © Wendy Andrew
pelo império das religiões monoteístas-patriarcais, eram aquelas que vestiam a coragem. Eram aquelas ligadas ao oculto, à sexualidade e à adoração dos espíritos da natureza. Não desprezando de qualquer forma o Sagrado Masculino e generalizando, noto que muitas mulheres se perderam do feminino. Desde o momento que acorda, a mulher desta cultura de trabalho sobre o trabalho, já têm a sua agenda diária toda organizada, não encontrando tempo para “respirar”. Ela não se permite sentir. É uma super mulher, super mãe, super trabalhadora, mas sabe e sente muitas vezes, que as suas forças estão no limiar do cansaço e ainda assim continua, de braços abertos, com fé, em frente, desejando ter um tempo para si. Um tempo que lhe dê suporte, força, descanso e paz interior. Ela sente que o tempo é sempre curto, como se estivesse perpetuamente na obrigação de ser veloz. Esta mulher está muito conectada com o seu lado masculino.
«Desde o momento que acorda, a mulher desta cultura de trabalho sobre o trabalho, já tem a sua agenda diária toda organizada, não encontrando tempo para “respirar”.» A P C M AG A Z IN E # 4
SAGRADO FEMININO E CRISTALOTERAPIA . JOANA PINTO
Ametista, Cornalina, Granada, Jade, Lápis-Lázuli e Pedra da Lua
Assim, cansada, a mulher hoje em dia apresenta-se muito desconectada do feminino. E por isso sente um vazio. Costumo dizer que todas as mulheres são curandeiras. Todas, sem excepção, basta terem escolhido reencarnar no corpo de uma mulher. Por isso, precisam nutrir-se, precisam juntar-se com pessoas, mulheres e ho«(...) todas as mens, que as suportem e mulheres são lhes mostrem que podem curandeiras. e devem resgatar a sua esTodas, sem sência. A consciência de que teexcepção, basta mos um feminino sagrado, terem escolhido oferece-nos a possibilidareencarnar no de de estarmos mais atencorpo de uma tas aos ensinamentos milemulher.» nares sobre o nosso corpo, à nossa sexualidade, ao nosso emocional, aos nossos ciclos femininos e à possibilidade de conhecermos a forma como nos podemos harmonizar com a natureza, a alimentação, as ervas, os cristais e outras tantas possibilidades. E muitos estão a despertar e a relembrar
o seu Divino Feminino e por isso, acreditando nesta premissa, escrevo este artigo. Indo resgatar a missão desta revista, os cristais, os filhos sagrados gerados no ventre do nosso planeta, Gaia, Panchamama, a nossa mãe Terra que nos permite existir, são um meio incrível de canalizarmos as energias e a cura do Sagrado Feminino. Gosto particularmente de trabalhar nesta área com alguns cristais específicos, mas todos são bem-vindos para foco e intenção desta energia sagrada. Dos cristais mais fáceis de encontrar e de valor bem acessível, poderás querer experimentar a energia da Pedra da Lua, da Granada, do Lápis-lazúli, da Cornalina, do Quartzo Rosa e da Jade. Passo a falar um pouquinho sobres estas poderosas ferramentas. Existem comercialmente dois tipos de Pedra da Lua, a Pedra da Lua Indiana e a Arco -íris. Falarei sobre a variedade indiana. A Pedra da Lua Indiana conecta-nos com a Lua, com os ciclos e o efeito que a Lua tem sobre nós. É uma pedra absolutamente feminina. Encontrada na Índia, é dito que faz brilhar uma luz no futuro, para ajudar quem a carrega a vislumbrar as possibilidades
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«Acalma o espírito, faz com que se sinta desejável e sexy, activando o seu lado feminino nato, o Feminino Selvagem.»
O Lápis-Lazúli, desperta a terceira visão, aumentando quase imediatamente as nossas habilidades psíquicas e estimulando o nosso poder pessoal. Ajuda a entrar em contacto com os guias espirituais, guardiões, anjos e antepassados, resgatando os teus poderes para a tua protecção. O Lápis-Lazúli é formidável se desejas recuperar o conhecimento interno sobre ti mesma, encorajando a pessoa a assumir o controlo. É também, muito estimulante intelectualmente, abrindo a tua mente superior e trazendo uma clareza profunda. Diz-se que esta pedra te pode ensinar uma grande verdade. A Cornalina, foi uma pedra muito usada desde tempos idos, como amuleto da sorte. A Cornali-
Deusa Ametista © Patrícia Poção
que lhe são oferecidas enquanto desencadeia diferentes caminhos para lá chegar. A lenda afirma que esta pedra aclara e suaviza os ciclos da Lua. Ela auxilia a pessoa a assumir o controlo sobre o seu futuro, o seu destino e assim, a sua felicidade. Trabalhar com esta pedra também ajudará a aperfeiçoar os teus dons psíquicos naturais e a teres uma prática espiritual consciente que funciona perfeitamente com a tua vida prática, esperanças e sonhos. A Granada, é dita ser uma das doze pedras no peitoral do Sumosacerdote. A lenda afirma também que essa foi a única fonte de luz, na escuridão, para a Arca de Noé. Inclusivé foi adorada nas tribos indígenas. O fio comum entre as lendas, é que a Granada age como uma luz durante os tempos obscuros, curando o nosso coração. Ela fornece-nos a vitalidade perfeita e harmoniza as variações internas ao longo da vida de uma mulher. Há uma magia especial dentro desta pedra. Forte e constante, silenciosa e poderosa, a Granada é uma profunda “pedra de crise” que acalma o caos, para que se vislumbre a solução. A sua vibração energética é estimulante. Melhora a auto-estima e activa o amor-próprio. Acalma o espírito, faz com que te sintas desejável e sexy, activando o teu lado feminino nato, o Feminino Selvagem.
na é perfeita para a devoção à feiticeira celta Ceridwen, a mãe galesa e Deusa do Conhecimento. Esta pedra encerra em si o raio laranja, estando então ligada ao 2º chacra, o chacra sexual. Por isso, tem uma relação directa com o útero e os ovários. A Cornalina, em textos antigos, é apontada como pedra que dirige o poder do Sol e de Vénus. No antigo Egipto, textos hieroglíficos do ‘’Livro dos Mortos’’, também chamado Odem, foram gravados em amuletos de Cornalina. Os escritores modernos acham que a Cornalina nos ajuda a construir confiança e aumentar o nosso entusiasmo pela vida. Esta pedra fortalece a coragem e a força no nosso propósito de alma. Se procuras o poder de Isis e o poder do Sol para erguer a tua auto-confiança e encontrar maneiras de atingir ou aumentar o teu potencial, usa sem dúvida, uma Cornalina. O Quartzo Rosa, é um cristal de amor e devoção. É usado para honrar três Deusas, Juno, Inana e Afrodite. Todas Deusas do Amor. É
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SAGRADO FEMININO E CRISTALOTERAPIA . JOANA PINTO
Menalite, Pedra da Deusa
Cornalina
conhecido como sendo uma pedra que ajuexemplo a um grupo. A Jade mostra-te a da a trazer amor, romance e novos relaciotua beleza, a tua vitalidade, o teu valor e namentos para a tua vida. Eu costumo dizer o que é o propósito da tua alma, dissolvenque esta pedra tem a energia de um abrado as limitações que colocas sobre ti mesço. Muito nutritiva e calorosa, mas suave e ma(o). Também inspira amor e pode mesaconchegante. O Quartzo Rosa é também, mo ajudar a atrair amor para a tua vida, se sem dúvida, um cristal calmante que vai usada com esta intenção. nutrir o teu ser, que vai transOutros cristais que também mutar energias que possas não posso deixar de nomear «A Menalite, é ainda não ter ultrapassado, conhecida como a Pedra são a Menalite e as Pedras de que ainda te magoam e não Mooki. da Deusa (Goddess te deixam andar para a frenA Menalite, é conhecida Stone). É conhecida te, seja perdoar uma situação como a Pedra da Deusa (Godpor vibrar a energia da dess Stone). É conhecida por a alguém ou a ti mesma. Não te critiques, todos fazemos vibrar a energia da Deusa, a Deusa, a Mãe Terra.» o melhor que sabemos, e se Mãe Terra. Sem forma definimantivermos esta máxima, verás que a sida, esta pedra cinza-claro, encerra em si um tuação fica menos pesarosa e mais positiva. enorme poder. Tem uma longa história de A Jade, era adorada em civilizações annos ajudar a focar os nossos pensamentos tigas, porque se dizia que “tudo que seja e as nossas orações. Através da sua capacitocado por uma Jade será abençoado com dade de focar e ampliar o nosso poder de boa sorte”. A Jade ajudará a pessoa que concentração, estas pedras encontraram a usa a ter acesso à profunda e vasta saum lugar muito valioso em práticas de mebedoria do mundo espiritual, mostrando ditação e em rituais. É a única pedra usada como as coisas realmente são, removendo para homenagear todas as Deusas (e todas a máscara e o véu colocado sobre nós pela as mulheres). A Menalite gosta particularsociedade moderna. Ajuda a ver a verdade, mente da luz da Lua. Experimenta deixá-la aliviando os anseios que são muitas vezes no exterior, numa noite de Lua cheia ou gerados na adaptação por obrigação, por quarto crescente! Coloca uma no teu quar-
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to. Ela irá trazer-te nutrição espiritual, calor e amor. Muitas pessoas, inclusive eu, gostam de usar esta pedra particularmente para honrar Gaia, a Mãe Terra. Sendo um cristal muito xamânico, Judy Hall, refere inclusive na ‘’Bíblia dos Cristais 2’’, que estas pedras melhoram as tuas capacidades de divinação. É dito que esta pedra conecta a pessoa que a usa com o poder da Sacerdotisa. São também particularmente úteis para o renascimento e o rejuvenescimento.
«As Pedras de Mooki, são pedras incrivelmente xamânicas, que nos conectam com as nossas raízes, que nos dão força, que nos animam a alma e nos empoderam.»
As Pedras de Mooki, são pedras incrivelmente xamânicas, que nos conectam com as nossas raízes, que nos dão força, que nos animam a alma e nos empoderam. São encontradas em dois lugares na área ocidental dos Estados Unidos, embora mais comumente nas Formações de Sandstone em Navajo. Acredita-se que estas pedras estejam entre as mais energéticas da Terra. Considera-se que cada pedra possui uma energia distinta, da qual depende o seu tamanho e género. O género da pedra está ligado ao movimento que pode ser medido com um pêndulo quando este é mantido directamente por cima das pedras. Se ele se mover numa direcção linear, a pedra é masculina, enquanto um movimento circular indica que a pedra é feminina. Diz-se que as pedras pequenas têm uma energia mais rápida e vibrante, enquanto as maiores possuem uma energia mais lenta e profunda. Eu gosto de usar estas pedras como pedras de ritual na menstruação, para honrar o meu Sagrado e Divino Feminino.
Pedra de Mooki
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SAGRADO FEMININO E CRISTALOTERAPIA . JOANA PINTO
Fica a dica! Este ritual foi criado por mim, mas usa a tua intuição para, se sentires, acrescentares algo! Coloca a tua Pedra de Mooki num pratinho. Preenche a base do prato com sal negro ou sal com ervas próprias de purificação, de forma a sustentar a pedra e protegê-la de eventuais energias densas que precisem de ser limpas e que são muitas vezes transportadas através da pessoa. Verte umas gotas do sangue menstrual sagrado sobre a pedra (se usas um mooncup será mais fácil) e invoca a energia da Deusa a que és devota e de quem pretendes receber essa energia. No final do ciclo, lava a pedra e deita essa água na terra. Não precisas fazer este ritual em todas as menstruações, apenas quando precisas de nutrir a tua força espiritual ou o teu ser em geral. Este exercício regenerará a tua energia e a energia da tua casa. Recomendo todas as mulheres a experimentarem, pois apesar de muitas até inicialmente o acharem estranho, somos levadas a observar-nos, a auto curarmo-nos e a honrarmos o nosso corpo, coisa que provavelmente muitas, nunca o fizeram durante toda a sua existência. Poderia nomear mais pedras relacionadas com o tema, mais práticas e formas de as usarmos, mas o espaço do artigo é limitado. Por isso, convido todas as interessadas a participarem em eventos do género nas zonas das vossas residências, ou a virem participar connosco nas nossas Rodas e Círculos Femininos, nas nossas formações e workshops do Sagrado Feminino. E claro, convido-te Mulher, a experimentar os cristais que referi. Boa viagem em ti, Mulher Sagrada!
«E claro, convido-te Mulher, a experimentar os cristais que referi. Boa viagem em ti, Mulher Sagrada!»
© SarahKate_Butterworth
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www.feminineconsciousness.com www.irislican.blogspot.pt
© Lila Nuit
www.teceraalma.blogspot.pt
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ENTREVISTA IRIS LICAN
Sacerdotisa, terapeuta holística, bailarina, mãe e mulher portuguesa
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«De certa forma, os modelos antigos estão a colapsar e nós estamos a trilhar um caminho que se perdeu e que precisa de ser recriado(...)»
Joana: Como não poderia deixar de ser, sendo tu uma das pessoas mais conhecidas em Portugal que trabalha e invoca o conhecimento do Sagrado Feminino, agradeço em nome de todos os membros da APC, sócios e apoiantes em geral, por teres aceite o convite para esta entrevista na quarta edição da APC Magazine que foca o tema do Sagrado Feminino. Iris: Eu também agradeço muito este convite maravilhoso. Joana: Como Sacerdotisa, terapeuta holística, bailarina, mãe e mulher portuguesa, como descreverias a noção de “Sagrado Feminino” das nossas mulheres e homens de hoje em dia, em Portugal? Iris: Sinto que tanto as Mulheres como os Homens estão cada vez mais despertos para a percepção clara de que o masculino e feminino são qualidades essenciais e inerentes a to-
dos os seres humanos, porque são parte da nossa Natureza e da Natureza Mãe da qual nós próprios somos parte. A nível social e relacional sabê-lo ajuda-nos a criar relações de equilíbrio connosco mesmas(os) e com as outras pessoas. Temos em Portugal, como no mundo, um longo caminho a percorrer, mas também sinto que já temos um movimento espiritual e filosófico rico e em expansão, com muitos pensadores e praticantes de diferentes ideologias mais acordados para a importância do equilibrio entre géneros, económico e para com a Natureza. De certa forma, os modelos antigos estão a colapsar e nós estamos a trilhar um caminho que se perdeu e que precisa de ser recriado (não apenas reproduzido), para que o mundo seja um lugar melhor para nós e para os nossos descendentes. Ao trazer a
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Deusa e o Deus como partes vivas e essenciais da Natureza e ao reverenciar a sua expressão como sendo sagrada, aproximamo-nos mais dos ciclos da vida, da idade humana, das estações, da biologia da Terra e do corpo. Entendemos que somos parte de uma divindade viva que está aqui, não além, que é concreta e não abstracta e quem tem mais que fazer do que julgar os nossos comportamentos, mas que nos apoia a desenvolver uma consciência ampla de que somos todos gotas do seu oceano e que não estamos separados, somos Um sendo cada um, somos Uma sendo cada uma. Joana: Em relação às pedras e cristais, existe alguma pedra que gostes muito e que conheças em ti o seu resultado (baseado no trabalho do Sagrado Feminino)? Iris: Eu sou uma praticante da
© Lila Nuit
«Falar com pedras, ouvi-las e ser abraçada por elas quando preciso de chorar e processar dor ou sentir-me em casa e sentir a infinitude através delas é algo que me salvou literalmente a vida muitas vezes, devolvendo-me sentido de pertença, propósito de vida, capacidade de resposta a situações desafiantes e sobretudo ampliando a minha consciência e empatia de e por tudo o que vive e se transforma, como a vida animal e vegetal e tudo o que permanece em silêncio testemunhando todas as travessias.»
Via Selvagem, ou seja, da conexão total à Natureza como Sagrada e por isso ao culto das pedras e elementos. (Podemos chamar-lhe paganismo, bruxaria, xamanismo, espiritualidade da Terra, espiritualidade da Deusa, ecologia espiritual, com a variante muito específica de que não fazemos culto a entidades específicas mas às forças elementais da Terra e Universo, manifestadas materialmente ou não, na Natureza. É uma visão panteísta, que entende que tudo é Sagrado, tanto o que percebemos, como o que transcende a nossa percepção. Ancorando-se também na práctica directa em locais selvagens naturais (em todas as estações) como sendo verdadeiramente os templos primordiais. Para mim as pedras são muito importantes desde sempre. O contacto com os penedos de Sintra, bem como da Beira Baixa (granito e Quartzo) estão na base de toda a minha experiência de estar viva, desde que me lembro.
Os minerais são o primeiro reino que chegou à Terra e existe na Terra, em todo o Universo e dentro do corpo de animais e plantas. São literalmente os nossos ossos e as nossas ancestrais, as pedras. Vivi no bosque, junto de árvores e pedras, grande parte dos momentos mais significativos da minha vida. Tenho alguns cristais que me são essenciais, posso salientar a Merlinite, a Pedra da Lua, a Ametista, o Quartzo Rosa, a Turmalina Negra, o cristal de Quart-
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ENTREVISTA . IRIS LICAN
zo Arco-Íris e a Obsidiana Teia de Aranha como sendo os que me acompanham sempre e me trouxeram experiências mais profundas. A nível físico, energético e psico-emocional. Joana: Queres contar-nos um pouco sobre essa experiência? Iris: Eu comecei a trabalhar intensivamente com cristais há 8 anos atrás, precisamente nesta fase do ano. Fui Mãe num parto em casa maravilhoso, mas fiz uma laceração vaginal que apesar de não ter sido muito grave, para mim foi extremamente dolorosa e demorada de tratar. Tentei de tudo o que na altura existia disponível, e foi com a prática taoista de ovos de Jade associada à prática de Tantra Yoga Feminino que consegui cuidar esta lesão e
repara-la definitivamente. Foi um processo longo, desafiante e claro muito rico. Nessa altura, trabalhei muito com Jade e Obsidiana, que eram as gemas mais comuns para o trabalho de ovos de cristal vaginais. Depois comecei a explorar outra pedras e com a Lila Nuit desenvolvemos a prática de Yoga do Útero com cristaloterapia, de forma a usar várias gemas (seguras para uso interno) associadas à prática de Yoga para mulheres e exercícios do soalho pélvico feminino, vagina e útero. Joana: Em relação aos cristais, o que podes aconselhar aos nossos leitores para desenvolverem ou darem mais foco no seu trabalho do Divino Feminino?
© Lila Nuit
«Ao cuidar a herança familiar, abre-se o caminho de encontro à Grande Mãe e Grande Pai como sendo o ponto de origem de todas as linhagens.»
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Iris: Ovos ou esferas de cristal, de uso interno ou externo. Podem usar-se em meditação, debaixo da almofada, em pendente. Com acompanhamento adequado, também em práticas de yoga, dança e outras práticas energéticas. Ajudam imenso a ligar-nos ao ovo enquanto Geometria Sagrada da criação (ovário como testículo), a curar toda a memória herdada e a re-significar positivamente todos os legados de linhagem familiar, sexualidade, criatividade, afectividade e espiritualidade. Ao cuidar a herança familiar, abre-se o caminho de encontro à Grande Mãe e Grande Pai como sendo o ponto de origem de todas as linhagens. Assim, estas geometrias apoiam a relação com a Mãe primordial, a Fonte essencial, ajudando-nos também a entender que tudo está em movimento num tempo espiral e que para crescer e voar temos que quebrar o ovo em que fomos gerados e criar um espaço mais amplo de Ser. Joana: O teu trabalho, tem vindo a crescer e a especializar-se. Queres falar um pouco sobre ele? Iris: O meu trabalho reflete sempre a jornada interior que estou a trilhar, as encruzilhadas e margens desta jornada. Sou extrema e intencionalmente sensível a tudo e todos os que me rodeiam. Isso leva-me a envolver muito pro-
ENTREVISTA . IRIS LICAN
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da Grande Mãe e é esse mesmo trabalho que estou também a desenvolver em Glastonbury.»
morrer, outras a crescer, tudo isso é expansão. Sobretudo procuro sempre, em tudo o que faço e sou, a maior honestidade e transparência, para ser um leito limpo através do qual o rio da vida flui. Questiono-me muito, sou muito radical (no sentido de raíz, de levar tudo em profundidade e às vezes tenho que aprender a aligeirar), dou sempre o meu melhor e sou incrivelmente exigente comigo mesma e com o trabalho que faço. Joana: Sei que na Senhora d’Azenha tens um trabalho forte nesta área de Cristaloterapia. Queres falar-nos um pouco sobre o que fazem e o que as pessoas podem esperar? Iris: Essencialmente, na Senhora d’Azenha trabalhamos muito na natureza, em conexão às pedras e cristais nos seus locais de origem. Quem trabalha com Cristaloterapia, mais específicamente, são a Lila Nuit e o Vitor Lugh. Eu e a Lila colaboramos nas práticas de Yoga do Útero e também nas práticas rituais elementais ligadas à Via Selvagem e espiritualidade da Terra. Joana: Mais uma vez te agradeço pelo tempo e carinho com que nos recebeste e nos mostras-te um pouco da tua visão do Sagrado Feminino.
© Lila Nuit
fundamente com pessoas, situações, visões e a precisar ao mesmo tempo de um espaço/tempo de solidão essenciais, porque sou sempre transformada a partir desse contacto, nada está isolado. Dou mesmo todo o meu ser no encontro e tenho que depois recuperar espaço para digerir e refazer quem sou. Um pouco como a velha do bosque, na sua gruta, sendo visitada por muitas situações e dimensões diferentes. De certa forma o trabalho que faço é um resultado disso mesmo, dessa confluência entre o dentro e o fora, o eu, o outro, o todo. Trabalho muito sobre a faceta Negra e Fértil da Alma e da Grande Mãe e é esse mesmo trabalho que estou também a desenvolver em Glastonbury. Se o meu trabalho está a expandir? Sim, está, porque na vida temos duas escolhas essenciais: crescer ou morrer e qualquer uma das duas envolve transformação. Para mim, transformação é expansão, «Trabalho há partes muito sobre a de mim e do faceta Negra e meu trabalho Fértil da Alma e que estão a
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Sabias? É tudo uma questão de ritmo: os cristais são repetições e arranjos tridimensionais de átomos, iões ou moléculas.
Cristal e mineral? Um cristal é um sólido que tem uma estrutura organizada. Os minerais são substâncias inorgânicas que ocorrem naturalmente e possuem estruturas cristalinas. Simplificando, um cristal é uma estrutura composta de vários materiais naturais, enquanto que um mineral é um material em si mesmo. De um modo muito simplista, podemos fazer a seguinte analogia: a madeira é uma substância que pode estar na forma de mesa, porta, cadeira, etc.
Os cristais estão nos nossos olhos e ossos Por exemplo, a maioria das hastes e cones dos olhos que conduzem a luz ou formam uma imagem, são feitas de cristais. Cerca de 65% da massa óssea de um adulto é feita de cristal de hidroxiapatita.
Cristal de hidroxiopatia © Montoya M.
Deusa de pedra desconhecida Ainda hoje, não se conhece a origem da Vénus de Willendorf. Descoberta no sítio arqueológico do paleolítico situado perto de Willendorf, na Áustria por Josef Szombathy, estimou-se que tivesse sido esculpida há 22 000 ou 24 000 anos. Pouco se sabe sobre a sua origem, método de criação e o seu significado cultural. Especula-se que fosse usada para ser trazida por alguém em vez de ser apenas observada, podendo ser um amuleto. Há ainda quem avance a hipótese de que poderia ser inserida na vagina, em rituais de fertilidade. Vénus de Willendorf, Museu da História Natural de Viena 18
SABIAS QUE ...
Ametista Esta pedra é a variedade roxa do Quartzo. Até ao século XVIII, a Ametista era tão valiosa quanto o diamante, mas com o passar do tempo o seu valor tornou-se inferior ao diamante. Segundo uma lenda Grega, a Ametista, foi criada quando o Deus Dionísio ficou irritado com os homens e jurou lançar tigres contra o primeiro ser humano que se cruzasse à sua frente. Uma mulher chamada Ametista, que se dirigia ao templo da Deusa grega Diana, surgiu e foi atacada pelos tigres. A Deusa Diana teve piedade da mulher e transformou-a num cristal, para que ela não sentisse mais dor. Arrependido, Dionísio derramou vinho sobre o cristal, tornando-o violeta.
Criamos 208 novos minerais. Cristal de Ametista
Tudo Cristaliza Quase todo o material sólido pode cristalizar - mesmo o ADN. Químicos da Universidade de Nova York, da Universidade de Purdue e do Laboratório Nacional de Argonne criaram recentemente cristais de ADN grandes o suficiente para ver a olho nu. O trabalho poderá ter aplicações na nanoeletrónica e desenvolvimento de medicamentos.
ADN © Shutterstock
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Os cientistas identificaram uma explosão súbita de diversidade mineral na superfície do nosso planeta que não existiria se não fossem os seres humanos, acrescentando peso ao argumento de que estamos a viver uma nova época geológica, o Antropoceno. Um novo estudo descobriu que o incrível aumento de novos minerais em torno da época da Revolução Industrial levou à diversificação sem precedentes de cristais na Terra, eclipsando até o Grande Evento de Oxidação, há 2,3 bilhões de anos, como o “maior aumento de minerais da história do globo”. “Este é um pico de novidades minerais que tem sido extremamente rápido - a maior parte nos últimos 200 anos, em comparação com a história de 4,5 bilhões de anos da Terra. Não há registos de tal crescimento na história da Terra”, relata Robert Hazen da Carnegie Institution, um dos membros da equipa, ao “The Guardian”. Hazen e sua equipa analisaram 5,208 minerais na Terra que são oficialmente reconhecidos pela International Mineralogical Association e descobriram que 208 deles não existiriam se não fosse para actividade humana.
ARTIGO
FERNANDA BARROS
A Mãe, essa Mulher Divina, quase santificada, que se sacrifica em prol da sua família, nomeadamente das suas crias, para que nunca, jamais, em caso algum, exista alguma falha ou engano no seu percurso de Vida.
Cristais, florais e o arquétipo de Mãe
A Mãe, essa Mulher Divina, quase santificada, que se sacrifica em prol da sua família, nomeadamente das suas crias, para que nunca, jamais, em caso algum, exista alguma falha ou engano no seu percurso de Vida. As Mães, esses seres mágicos que estão sempre certas de tudo quanto fazem, não existindo margens para erros, são omnipresentes, omniscientes e omnipotentes. Fazem tudo e muitas vezes fazem ainda mais que tudo, fazem milagres! São criaturas extraordinárias e carregam o peso da sociedade nas costas e da romantização do papel materno. Não bastasse já o peso da barriga, a azia, as infecções urinárias, os comentários dos especialistas, as incalculáveis dores das contracções e trabalho de parto, ainda podemos acrescentar o processo da amamentação, as noites sem dormir! E ainda… as birras dos nossos mui amados filhos, as doenças, os gritos, a gloriosa fase da adolescência... Mas as Mães, essas mantêm-se firmes e esplendorosas, perfeitamente arranjadas e sempre com um sorriso no rosto e um crachá no peito a dizer “Amo os meus filhos”.
E amamos, mesmo! Muito! Aliás, nem existe um algarismo que consiga quantificar o Amor de uma Mãe pelo seu filho. Nem palavras, nem gestos, só Amor, essa é de facto a medida certa, o Amor sem medida! Mas nós, Mães, também nos zangamos, sentimos raiva dentro das nossas células, duvidamos várias vezes se este era de facto o nosso percurso, ou se não estaríamos melhor antes… Normalmente, estas dúvidas desvanecem ao fim de uns quantos minutos, quando retornamos ao nosso centro, ou quando o filho nos fita nos olhos e, sem dizer absolutamente nada, sorri… As sombras existem em nós e ser mãe não nos transforma em seres desprovidos de emoções ou em avatares búdicos. Não deixamos de ser Mulheres. Não deixamos todo o nosso passado, as nossas esperanças, sonhos, expectativas e tudo o resto, dentro de uma caixa de sapatos que se coloca num sótão e lá fica guardada, sem mexer, sem usar, sem nos lembramos mais que existe. Não! Isso não existe, não é real! As Mães amam os filhos mas são Mulheres, são indivíduos únicos, cheias de carisma, autenticidade e valor. Imenso valor!
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www.oventredaterra.blogspot.pt A P C M AG A Z IN E # 4
Š Fernanda Barros
www.fernandarutebarros.wixsite.com/oventredaterra
«O ser Mãe eleva a posição da Mulher a uma postura de Deusa que cria seres inofensivos e os transforma num passe de mágica em homens adultos prontos para trilharem seu caminho sozinhos.» Nenhum ser, seja ele masculino ou feminino deveria ter de abdicar de si mesmo para servir o outro, ou então isto não é Amor! Claro que o arquétipo da grande DeusaMãe cuja missão é conceber, sustentar e acalentar os seus filhos, encontra-se presente no inconsciente colectivo da humanidade desde as suas origens. A ideia do Amor Maternal, da protecção e do carinho, são as características do arquétipo materno que nos irá possibilitar crescer e tornarmo-nos adultos maduros prontos para encarar os desafios da vida. Assim, como disse Alexandre Quinta Teixeira: “O ser Mãe, eleva a posição da Mulher a uma postura de Deusa que cria seres inofensivos e os transforma num passe de mágica em homens adultos prontos para trilharem seu caminho sozinhos”. Contudo, jamais deveríamos esquecer que esta divindade, esta característica má-
Alexandre Quinta Teixeira
gica da maternidade, se encontra em todas as mulheres, sejam elas Mães ou não. E, de facto, as Mães deveriam aproveitar esta energia da maternidade, acentuada no seu período fértil, tornando-se mais amorosas, compassivas e empáticas consigo próprias, nutrindo-se e amando-se. Quantas de nós fazem isto? E todas nós atravessamos desertos na nossa vida, situações em que temos de ser as nossas próprias mães.
© Fernanda Barros
Existem algumas formas de potenciarmos este Amor Materno em nós, entre elas o uso dos cristais. E, nesse sentido, tenho que referir o Quartzo Rosa. Este cristal, delicado e belo, é a pedra do Amor Incondicional e da Paz infinita. Ele é, sem dúvida, o mais importante cristal para o coração e para o chacra cardíaco, ensinando a verdadeira essência do Amor. Ele purifica e abre Anahata a todos os níveis, acalma, serena e é excelente para casos de trauma ou crises. As dores emocionais do passado, presas em teias que construímos no nosso coração, irão soltar-se dando lugar à paz. Trata-se «(...) as Mães deveriam aproveitar esta energia da da pedra da energia do Amor maternidade, acentuada no seu período fértil, tornando-se Incondicional por excelência, mais amorosas, compassivas e empáticas consigo próprias, Amor esse que deve começar em nós, ou seja, devemos amar-nos nutrindo-se, amando-se.» primáriamente, afinal, como já escutamos várias vezes, “Se eu não me amar, jamais poderei amar alguém.” Outro cristal especial, é o Larimar. Esta pedra irradia Amor e paz, promovendo a tranquilidade. Psicologicamente, remove bloqueios auto-impostos e restrições. Dissolve comportamentos de auto-sabotagem, especialmente a tendência para o martírio, tão enraizada na nossa cultura no significado da palavra Mãe. É particularmente útil para amenizar sentimentos de culpa e para a remoção de medos, dois dos fantasmas mais comuns que assombram os ninhos das Mães. Esta pedra traz calma, clareza, serenidade e equilíbrio, conectando-nos com a energia da Mãe Terra e permitindo à mulher conectar-se com a sua feminilidade, que
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CRISTAIS, FLORAIS E O ARQUÉTIPO DE MÃE . FERNANDA BARROS
muitas vezes se encontra adormecida entre fraldas, mamadas ou até crises de adolescência. Também os Florais de Bach são particularmente úteis para as Mães, nomeadamente, Olive (Oliveira). Os tipos Olive sentem cansaço absoluto, mental e físico. As suas reservas de força ficam esgotadas, pelo que esta essência possibilita a quem a toma, a renovação da energia e vitalidade. Trata-se de um floral excelente para Mães, na época de parto, aleitamento e para noites sem dormir. Não posso deixar de falar de Agrimony (Agrimónia). Os tipos Agrimony escondem as tristezas por trás de uma máscara de alegria. Quanto mais difíceis as coisas se tornam ao seu redor, maior esforço fazem para manter as aparências. Inclusivamente realizam sacrifícios para manter a paz e a tranquilidade. Ora não é assim que as Mães tendem a agir? Auto sacrificando-se em prol da sua mais bela obra de arte?
Nesse sentido, este floral irá permitir que encontrem a paz no seu interior e que possam exprimir os seus sentimentos, com segurança, certas de que é normal sentir cansaço, dúvida, medos e dor nesta vossa jornada. Em último lugar gostaria de falar de Rock Water, a única essência do sistema de Bach que não deriva de uma flôr. Os tipos Rock Water praticam a auto-negação e são muito exigentes consigo mesmos, suprimindo as suas necessidades básicas. Sentem a necessidade constante de serem melhores do que são. Esta é uma das maiores pressões das Mães; serem melhores, todos os dias, auto negando-se em busca da perfeição que reside, curiosamente, na imperfeição diária dos seus gestos para com as suas crias. Este floral irá permitir à Mulher, Mãe, que descontraia e aprecie as suas qualidades, possibilitando que uma bondade suave invada o seu ser interior. A todas as Mães e a todas aquelas que não sendo Mães fisicamente o são de Alma, deixo aqui o meu sincero abraço, relembrando que estamos a fazer o melhor que sabemos e que o Amor, tudo cura.
© Fernanda Barros
«Somos Mulheres, somos Mães, somos cíclicas, somos sangue, somos intuição e razão, somos sombra e Luz, alegria e raiva, esperança e desânimo, fé e descrença, dor e Amor, somos o Todo e o Todo somos nós.»
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ARTIGO
CÁTIA J. MARTINS
«Embora a crença e conhecimento da Deusa seja mais antiga do que nos conseguimos lembrar, vivemos atualmente tempos em que Ela está a retornar às nossas vidas com grande presença e cada vez maior impacto.»
© Joana Oliveira
A Deusa e os cristais Embora a crença e conhecimento da Deusa seja mais antiga do que nos conseguimos lembrar, vivemos atualmente tempos em que Ela está a retornar às nossas vidas com grande presença e cada vez maior impacto. Uma grande parte de nós, que já percorremos esta Terra há muitas vidas e acompanhamos o peso da instauração do Patriarcado (esmagando quase totalmente o Matriarcado, que era a existência natural no planeta), deparamo-nos com um redespertar quase silencioso dos conhecimentos que nutrimos no passado e abafamos. Os nossos corações há muito tempo pedem algo mais do que a vida que se instituiu com os hábitos consumistas e desumanizantes, temos carência de olhos nos olhos e de sentir verdade e conforto na nossa pele. O Sagrado Feminino vem então como o despertar da energia feminina dentro do ser humano, convidando a uma postura de maior conexão com as emoções, de aceitação e expansão do coração. Vem suprir a necessidade de Amor de que tanto carecemos, seja de o sentirmos ou de o recebermos, ou na verdade, de ambas. É o abraçar da sabedoria ancestral e da natureza amorosa que vibra dentro de nós. Com o Patriarcado, a energia masculina tomou uma forma castradora e violenta, esganando a sensibilidade e o poder não só da energia feminina, mas também das mulheres. Milénios se arrastaram com a invasão da sua natureza sensível e ao mesmo tempo forte, expressando-se no seu expoente máximo através da violação física e desrespeitar profundo do templo uterino. Aprendemos a ter medo de falar, de saber, de fazer, de sentir. Desenrolou-se um longo tempo de silêncio doloroso, em consequência da castração das nossas capacidades e potencial. A sabedoria guardou-se debaixo das mantas, o calor disfarçou-se nas fogueiras, e a natureza cíclica
A Deusa E OS CRISTAIS . CÁTIA J. MARTINS
©Cátia Martins
era manifesta nas estações do ano e oculta debaixo das saias, a cada Lua. Mas não foram só as mulheres a sofrer com a ânsia de poder e conquista do Patriarcado. Também os homens, tão portadores de uma energia feminina, quanto as mulheres o são de uma energia masculina, passaram a viver a pressão de voltarem totalmente as costas ao seu lado emocional e doce, focando-se na luta, desafio e sangue. Com as guerras, o sangue menstrual honrado cedeu lugar de destaque ao sangue dos corpos ceifados e expostos com orgulho. E o mundo, ao mesmo tempo que expandia, mergulhou nas sombras e na dor. Hoje, erguemo-nos. Homens, Mulheres, somos chamados a pacificar, a permitirmo-nos o equilíbrio de todas as nossas partes, a abrirmos as portas à emoção e à força, a vibrar os dois lados da moeda em harmonia. A Deusa vem chamar-nos para a Luz, convidar ao autoconhecimento profundo e aceitação plena de quem somos, ao crescimento e expressão da sabedoria que carregamos em nós, e a construirmos pontes que reparem os danos que foram feitos ao longo da História. De mansinho, tão típico da sua natureza amorosa e calorosa, Ela impulsiona-nos, direciona a buscarmos, junto com outros que sentem do mesmo modo, esse retorno à
fonte, ao útero que nos aconchega. A presença Dela espalha-se um pouco por todo o mundo, nos ensinamentos relembrados, nas inspirações, nos círculos que crescem e se abrem às almas sedentas de um pouco de luz e de serem relembradas da sua sacralidade. Foi essa busca de mim mesma no Universo que me levou ao Sagrado Feminino, e foi quando finalmente cheguei a casa. O convite a amar-me era estranho e ao mesmo tempo reconfortante, a ver o meu corpo como abençoado e perfeito tal como é, a sentir-me viva e cuidar-me com ferramentas práticas, saudáveis e de fácil alcance como a respiração, o movimento, o som. Com Ela, renasci. O ponto máximo dessa busca (pelo menos até agora) levou-me ao local que desde a adolescência desejava conhecer, que hoje tenho a felicidade de já ter visitado 12 vezes (sim, o amor é tanto que as conto a todas!) e onde tenho a honra de levar grupos de peregrinos que desejem, como eu, mergulhar na sua magia e poder transformador: Avalon (Glastonbury, UK). Foi lá que me consagrei oficialmente como Priestess Healer (Sacerdotisa Curadora), após uma formação de 1 ano no Goddess Temple, dispondo-me ao trabalho em Seu nome. Se já antes se tinham aberto portas de conheci-
«Também os homens, tão portadores de uma energia feminina, quanto as mulheres o são de uma energia masculina, passaram a viver a pressão de voltarem totalmente as costas ao seu lado emocional e doce, focando-se na luta, desafio e sangue. »
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mento e descoberta (sempre me considerei uma aprendiza e o gosto pelo novo levou-me a perder a conta às formações já frequentadas), estudar em Avalon foi e é a grande pérola. De anos estudo, emerge a transmutação de um projeto com quase 10 anos para tornar-se a Casa da Deusa, da qual sou a guardiã e cuidadora e onde procuramos oferecer as mãos, o coração e a alma em representação da Deusa, no trabalho de amparo, descoberta e expansão a que Ela nos inspira. É com alegria que estamos ao Seu serviço! Entre várias práticas disponíveis, surge a Cura da Deusa, resultado de 12 anos de formação cuja pedra base é a licenciatura em Psicologia. A Cura da Deusa é uma sessão terapêutica que pode assumir variadíssimos contornos, sempre ajustados às necessidades do paciente e com base nas áreas com que estou preparada para lidar, dos conhecimentos adquiridos em Portugal e em Inglaterra. Na prática, aplicam-se ferramentas como a Hipnose, a Regressão de memória, o Reiki, a Meditação, a Aromaterapia, o Xamanismo, o Poder da Palavra, a respiração, os elementos, as Constelações Familiares, o Yoga, e claro, entre outras ferramentas mais e dentro do contexto deste artigo, a Cristaloterapia. O gosto pelas “pedras” já me acompanhava desde criança, mas ganhou nome ao frequentar a formação em Cristaloterapia em 2014 com a Joana Pinto. Além do amor pelos cristais, passei a incluí-los não só no uso pessoal e diário, mas também no trabalho. Hoje, os cristais e os seus efeitos fazem parte do trabalho na Casa da Deusa, seja em terapia individual, em eventos ou formação. Iniciando no simples facto de eles fazerem parte da decoração, colocados no espaço de forma pensada e com vista a manifestarem a sua magia, até serem aplicados em altares de eventos, mencionados e aconselhados em formação (como é o caso do workshop “O Coração do Ventre: o Útero, do Físico ao Cósmico”, focado em trabalho com o útero e onde os cristais mais adequados às questões do feminino são abordados) e em terapia (não só na Cura da Deusa, mas também na sessão de Cristaloterapia). A par com a presença na Casa da Deusa, os cristais são também um dos focos do Raízes da Lua, um projeto de criação de produtos naturais que será lançado futuramente e onde tomam a forma de pulseiras, uma forma simples de os trazermos sempre connosco e usufruir deles.
A P C M AG A Z IN E # 4
© Marina Costa
«Foi essa busca de mim mesma no Universo que me levou ao Sagrado Feminino e foi quando finalmente cheguei a casa.»
RETIRO A AVALON GLA S TON B UR Y J U L H O A A GOS T O 2018 Nesta viagem muito especial, mergulhamos num retiro único, de 8 dias e 7 noites. Espera-nos um trabalho interno profundo, em visita a um dos locais mais mágicos do planeta e envolvidos nos seus efeitos de espelho... Adesão: 1ª fase ~ 10 de Outubro 2017 2ª fase ~ 10 de Dezembro 2017
MAIS INFORMAÇÕES w w w.casadadeusa.com
© Mia Cristal
Possuidores de propriedades energéticas Deusas, iremos encontrar referências da que produzem efeitos nos espaços e nas sua ligação a determinados cristais, que pessoas numa acção preventiva e de cura, eram colocados em joias e outros elemenos cristais são uma ferramenta inspirada tos sagrados e mágicos, cujo poder era pelas necessidades específicas de cada potenciado pela presença das pedras. Popessoa, com resultados felizes. A escolha demos assim usar esses mesmos cristais dos cristais utilizados para buscarmos a energia «Se nos permitirmos abrir pode ser feita mediante dessas Deusas, conectana este mundo dos cristais, o problema que se deseja do-nos aos seus dons e trabalhar ou efeito preseremos mergulhados numa capacidades, ou escolher tendido, mas pode focarnós mesmos o cristal que espiral de conhecimento se também na energia do nos pareça mais adequaprofundo e de verdadeira trabalho a realizar ou da do à energia de cada fase magia, que se gera durante Deusa que se enquadra do ano, da vida, do ciclo milhões de anos, debaixo dos ou que desejamos invocar no evento. Sendo a Deusa um marno momento. Nem o céu nossos pés, e hoje está aí, co da crença espiritual já é o limite… para nos amparar.» muito antiga, como referido no início deste artigo, não deverá surSe nos permitirmos abrir a este mundo preender-nos que a Ela se associem cristais, dos cristais, seremos mergulhados numa que são uma das suas produções naturais. espiral de conhecimento profundo e de São filhos gerados no seu ventre terreno, verdadeira magia, que se gera durante mie que com Amor ela nos honra trazendo-os lhões de anos, debaixo dos nossos pés e às nossas mãos. Medicina natural e pura, da hoje está aí, para nos amparar. Mãe Terra. Que a Deusa nos abençoe sempre com os Se fizermos alguma pesquisa acerca das seus presentes!
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A P C M AG A Z IN E # 4
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A Deusa E OS CRISTAIS . CÁTIA J. MARTINS
Uma sugestão (entre muitas possíveis) para a
RODA DO ANO
SOLSTICIO INVERNO
This is for the
The ones who
ones we call
hold each
our sisters…
other up The
Circles of trust
nurturing
and honour and love…
women, the kind
This is for the wise
women…
council… and the good company…
The dancers to the
This is for the warrior women.
drum…
The shield crone
The warriors of the heart… the keepers
sisters…
of the code…
The Protectresses…
The ones who mend
The blessed women kindness…
each other’s tears… The teaching women, the wise women…
This is for the
warrior women. The shield maiden
This is for the ones
sisters…
who went ahead,
The Protectresses…
Over the wall,
This is for the ones
into the fire for us…
This is for the
who have each other’s
ones with buzzard
backs… The strong women, the
sight…
wild women…
The watchers at the edge…
The defenders of honour… the keepers of
This is for the warrior
justice…
women.
The fighters unto death and
The shield mother sisters…
The Protectresses…
beyond… Suzi Edwards-Goose . 2015 30
ARTIGO
© Carolina Maria_Projecto Mandágora
SILVANA CORREIA
A Linguagem do Feminino na Astrologia Vénus, Lua e Lilith uma vez que menciono a mitologia associada a cada planeta/ ponto, que um tema mitológico é também astrológico uma vez que os seus símbolos estão intimamente entrelaçados e representam arquétipos que carregamos. Dizem respeito a estruturas psíquicas que são semelhantes a todos os seres humanos, um inconsciente colectivo representado por um conjunto de arquétipos que são “imersos” em nós aquando da nossa primeira respiração neste plano. Estes dão origem
ao nosso inconsciente pessoal, bem como a traços de personalidade. A Deusa Vénus, Deusa do Amor na mitologia Grega, ou Deusa Afrodite - na mitologia Romana, é uma das divindades mais emblemáticas da antiguidade. Segundo o mito, Vénus nasceu do sangue que jorrou dos testículos cortados do seu pai Úrano. Ao caírem no mar, o seu sémen misturou-se nas águas e fecundou Gaia, que gerou Vénus. Da espuma, e vinda numa
“
Há um jogo de forças que “opera” no nosso DNA e que traduz uma linguagem cósmica misteriosa e profunda. Quando falamos da linguagem do feminino na astrologia, falamos da energia que habita em nós através da Vénus, Lua e Lilith, a Lua negra. Falamos de uma matriz energética cujo potencial de acção pode e deve, ser harmonizada, aprofundada e/ou potenciada pelas nossas dinâmicas próprias, conscientes e inconscientes. Importa primeiro clarificar, e
«Vibração doce e alegre, possuidora de uma energia magnética, sensual e erótica, coloca-nos a um outro nível da natureza feminina.» A P C M AG A Z IN E # 4
A LINGUAGEM DO FEMININO NA ASTROLOGIA . SILVANA CORREIA
www.silvanacorreia.wixsite.com/silvana concha, emergiu a belíssima Vênus. Assim que chegou ao Olimpo, foi admirada e invejada pela sua beleza. Ela foi adorada como a Deusa do Amor e do Prazer. Vibração doce e alegre, possuidora de uma energia magnética, sensual e erótica, coloca-nos a um outro nível da natureza feminina. Na astrologia, o planeta Vênus, revela padrões de segurança, valores pessoais e necessidades de nutrição. Representa a estética, a arte, a busca impulsiva pelo prazer, harmonia, amor e beleza. Representa as características femininas emocionais, sexuais e sociais das mulheres e dos homens. Fala-nos do equilíbrio do feminino em nós. Vênus governa o signo de Touro e Balança. Onde está posicionada a “sua Vénus” no seu Mapa Natal? Quais são os contactos energéticos que ela estabelece
© Carolina Maria_Projecto Mandágora
com outros planetas? Dar “luz” Sol representa o Yang, a nossa à sua Vénus, é dar luz ao “seu” natureza masculina e o consfeminino. É entender os seus ciente, a Lua representa o Yin, impulsos no amor, nas rela- a nossa natureza feminina e o ções, é mergulhar no lado inconsciente. Personifibelo que a nutre e ca a maternidade, que a faz sentirportanto o funse desejada e damento e a «O Sol é a semente em equilíbrio base da exisque precisa ser como mutência. O Sol fecundada na Lua para lher/amancria, contudo se manifestar. te. é a Lua que É a mãe. É um símbolo dá forma à da fecundidade e de Na mitolosua criação. O ciclos.» gia do Egipto, Sol é a semena Lua é Isis, a te que precisa Mãe da Terra. Prode ser fecundada tegia as crianças, o parna Lua para se manifesto, a agricultura. Era mãe con- tar. A Lua é a Mãe. É um símboselheira e guardiã dos Deuses. lo da fecundidade e de ciclos. Na mitologia Grega, a Lua era Ela figura o princípio do femirepresentada por Selene. Se- nino, a nossa infância, o noslene representa todas as fases so lar materno e a nossa mãe. da Lua e está relacionada ao Fala de sensibilidade, raízes, nascimento, crescimento, fer- afetividade e nutrição. Revela tilidade e ao falecimento. as nossas memórias, a nossa Na astrologia, enquanto o natureza, o que nos motiva, as
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nossas necessidades profundas, a inteligência intuitiva, a forma como expressamos as nossas emoções e as nossas inseguranças mais profundas. A Lua governa o signo de Caranguejo. Onde está posicionada a sua Lua no seu Mapa Natal? Em que signo? Que contactos estabelece com outros planetas? O terreno, signo onde as “raízes” da “sua” Lua cresce, representa o terreno de onde o seu subconsciente se nutre para o seu crescimento emocional equilibrado. Tomando por base o tema central do artigo, no mapa de uma mulher, a Lua irá representar a sua fertilidade ovários, útero e seios, e a sua personalidade como Mãe e Mulher. Consideremos, como exemplo, o caso de uma mulher que foi abandonada pelo seu companheiro. Refletindo, muitas vezes um padrão, pode reagir emocionalmente com medo e com mágoa, considerando que todos os homens têm comportamentos menos “correctos”. Na verdade, essa mulher poderá estar a atrair situações modelo para curar memórias dos seus sentimentos. Há uma retenção de padrões de comportamento, de memória. Compreender a “sua” Lua, é compreender as suas raízes e o seu passado emocional.
“
«Na astrologia, a Lilith representa a sombra, o feminino, a líbido primitiva e instintiva.»
lunar, em relação à Terra, projectado na eclíptica zodiacal. Corresponde portanto, ao que simbolicamente podemos designar pela “Sombra da Lua”. Na mitologia hebraica, Lilith foi a primeira mulher criada por Deus para fazer companhia a Adão, que se insurgiu e fugiu do paraíso. Ela era vista como uma mulher de carácter maléfico, que transgredia e era obscena. Tal como a Lua, ela tem uma natureza mágica, enigmática e difícil de ser ignorada. Na verdade, Lilith surge como um símbolo do empoderamento da mulher reprimida por séculos de patriarcalismo. Na astrologia, a Lilith representa a sombra, o feminino, a líbido primitiva e instintiva. Possui “energias” mais desafiadoras,
Lilith, ou por muitos identificada como Lua Negra, não é um corpo celeste, mas um ponto astronômico correspondente ao grau do apogeu - ponto orbital mais afastado da órbita Imagem do paraíso
inconscientes e mais inacessíveis ao ser, podendo eclipsar o racional. A área de experiência do Mapa Astrológico Natal, ou a qualidade arquetípica (signo), no qual ela se situa, é a área de vida na qual o indivíduo vive um sentimento inexplicável de frustração. Assim sendo, Lilith no mapa pode “provocar” crises, transtornos emocionais e inseguranças. O indivíduo é impelido a desapegar-se e a curar determinada energia. A energia perturbadora e magnética da Lilith, a Lua Negra, leva-nos a mergulhar nos nossos demónios interiores que vagueiam no mundo da noite e no mundo do subconsciente. Vénus, Lua e a Lilith, as três faces do feminino no Mapa Natal,
A LINGUAGEM DO FEMININO NA ASTROLOGIA . SILVANA CORREIA
revelam-nos, tomando por base apenas o tema central do artigo, uma matriz energética que representa o feminino em nós, em diferentes papéis. Ao entender as dinâmicas destas energias cósmicas no seu Mapa Natal, empodera-a(o) no sentido em que a(o) torna consciente do porquê de diferentes acontecimentos ou “estados de alma” na sua vida. A título de exemplo, vai compreender porque vive as relações de uma determinada forma, porque tem necessidades de determinados prazeres, porque atrai os mesmos padrões nas relações, porque é tão intensa(o), porque é tão compulsiva(o) e muitas vezes vulnerável, porque tem medo de assumir desejos, entre outros.
«Seremos vítimas desta matriz energética feminina impressa em nós, que se revela numa determinada personalidade, num determinado perfil psicológico? »
Como verificado, a estrutura zodiacal é universal, porém, a qualidade, a forma como vivemos estas energias, é individual. A posição dos planetas e suas variáveis, particulariza a experiência que num plano maior é arquetípica. O Mapa Natal é como uma semente que já contém em si um plano de desenvolvimento potencial e que será revelado em diferentes períodos, através dos trânsitos e progressões, durante a vida de um indivíduo. Somos uma semente em crescimento e desenvolvimento. Seremos vítimas desta matriz energética feminina impressa em nós que se revela numa determinada personalidade, num determinado perfil psicológico? Neste âmbito, Dane Rudhyar, astrólogo incontornável do inicio do sec XX, profundamente influenciado pelos ensinamentos de Jung - percursor da Psicologia Transpessoal, apresenta uma nova dimensão do estudo da astrologia, a Astrologia Humanista. A astrologia centrada na pessoa e não no evento. Segundo o mesmo, “se as acções de uma pessoa atendem sempre a necessidades profundas sentidas por ela e originárias de seu próprio inconsciente, a astrologia deveria ser utilizada para facilitar a descoberta dessas necessidades profundas”. Rudhyar foi revolucionário ao introduzir uma nova abordagem filosófica na astrologia a partir de conhecimentos psicológicos. Numa perspectiva evolutiva, o mesmo refere aquilo que eu entendo ser um dos aspectos mais relevantes na leitura de um Mapa Astrológico, no qual
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Afrodite, Deusa do Amor (Vénus)
o indivíduo passa a entender as forças inconscientes exercidas pela energia cósmica que habita em si e que “dirigem” o seu comportamento. A ênfase é colocada mais no universo interno da pessoa e menos no acontecimento. Neste sentido, ele coloca o individuo como alguém que pode “exercer” poder sobre uma energia que aparentemente o “comanda”, quase como se fosse uma fatalidade do destino restando apenas esperar o “acontecimento” chegar. Na verdade, tendo por base a Astrologia Humanista de Rudhyar, as forças planetárias indicam apenas um potencial que ocorreria face a um sistema próprio — personalidade. Como afirma Sri Yuktéswar, mestre de Yogananda: ”Astrologia é o estudo das reações do homem aos estímulos planetários. Os astros não têm qualquer benevolência ou aversão consciente, eles meramente enviam radiações positivas ou negativas. Ele pode transcender qualquer limitação, em primeiro lugar, porque possui recursos espirituais que não estão sujeitos à pressão planetária”. Respondendo à questão previamente colocada, não, não somos vítimas, somos co-criadores de uma nova energia em nós. Viver as diversas faces do feminino em nós é transcender as forças energéticas desafiadoras do Mapa Natal. Esse é o desafio no qual nos propusemos a um outro nível. Invocando a temática da revista, sugiro a Selenite como sendo um cristal indicado para equilibrar a energia da Lua. Para harmonizar a energia da Lilith, a Granada surge como um apoio no equilíbrio da energia sexual. Para o planeta Vénus, o Quartzo Rosa apresenta-se como um excelente cristal que permite trabalhar o Amor em nós. Beneficiar destes presentes da Mãe Terra, no sentido de harmonizar as energias cósmicas que “navegam” em nós, é para mim, viver o lado mais belo do feminino: a nutrição, o Amor e a beleza.
A P C M AG A Z IN E # 4
Primeira representação conhecida de Lilith - Alto relevo Sumério 1950 a.c.
« (...) não somos vítimas, somos co-criadores de uma nova energia em nós. Viver as diversas faces do feminino em nós é transcender as forças energéticas desafiadoras do Mapa Natal. »
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Women are like trees Rooted in the soil of soul Embodied trunks of woman hood Stretching towards the canopy Of light that fills our wombs. Yes, women are like trees Growing deep into the Earth Sourcing life From tendrils reaching out Below ground Feeling for sister roots To wrap around. Yes, women are like trees Sap flowing through our veins Surfing upward and outward To all we embrace. Strong and noble and gentle In the breeze We expand and grow taller With every season and moon phase.
Š Catarina Maria_Projecto Mandågora
Yes, women are like trees Our canopy of leaves Senses the light Required for life and spirit To merge through the storms As we reach heavenward To pull downs our dreams. Yes, women are like trees Alone we are majestic and mysterious Together we are a forest Of the Wild Feminine. Yes, women are like trees. Edveeje Fairchild - Treesisters
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Ilustrações de Ana Moreira Pintar a Alma e Usá-la ao Vento
Numa noite de radiosa luz lunar, na vasta floresta que cobria as Terras Altas, Helena dançava no interior do farto anel de árvores que pareciam tocar as estrelas. Usava um vestido de seda branca adornado com flores de um vermelho vivo que ela própria bordara. Quem a visse, haveria de a julgar uma fada nocturna ou uma dançarina que habita as histórias mais belas. Era a inocência e a beleza, cuja presença honrava a Natureza. Encostado a uma árvore estava um homem de cara velha e estranha. Observava a jovem sem um qualquer traço de alegria ou espanto. Era como uma daquelas criaturas medonhas que povoam os sótãos frios e escuros das casas assombradas, cujos olhos nunca se hão-de deslumbrar, nem diante das majestosas montanhas tocadas pelo sol nascente.
Texto de Sara Correia www.saracorreia.pt 38
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« (...) muitos e muitos rostos de mulheres, com os olhos sem brilho. Mulheres que não reconheciam o caminho para o coração luminoso e verdadeiro. (...) »
CONTO MÁGICO SARA CORREIA ILUSTRAÇÕES ANA MOREIRA TEXTO
A dança do corpo e da alma Quando o homem se ergueu, quando olhou bem nos olhos da jovem mulher, um vento gélido avançou forte tolhendo o corpo de todas as árvores, tornando-as gastas, como se fossem feitas de ferrugem e sombra. A floresta tornou-se estranhamente imóvel, escurecida. Um medo frio percorreu o corpo de Helena e antes mesmo que pudesse gritar, fechou os olhos e caiu na terra, que parecia vidro ou gelo. Imediatamente, entrou num sonho profundo. Durante mil sóis e mil luas, ficou ali, sobre a Terra cheia de uma tristeza antiga. Todas as noites, assim que a Lua salpicava de prata a floresta, as corujas, as raposas, as lebres, os corvos, os lobos, os ursos, os veados, envolviam Helena e cantavam-lhe a canção que o grande rio murmurava há milénios para dentro de si aos peixes, às plantas, às pedras e aos milhares, milhões de rostos que olharam o rio como quem olha as coisas sublimes carregadas de mistérios. Num momento belo, enquanto ouvia o murmúrio suave do grande rio, Helena viu o tempo muito longe de si, muito quieto. Olhou com cuidado, reparando em tudo o que nele despontava. Observou aldeias de casas envelhecidas, montanhas a desafiarem as nuvens, planícies sequiosas a perderem de vista, vulcões de dimensões gigantescas. Porém, o que viu por entre as névoas mais finas do tempo, causou-lhe uma súbita tristeza: muitos e muitos rostos de mulheres com os olhos sem brilho. Mulheres que não reconheciam o caminho para o coração luminoso e verdadeiro, esquecidas de como entrar dentro de si e buscar os mágicos
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horizontes das auroras estivais. Mulheres esquecidas do som do silêncio da Terra, das mãos cheias de imaginação e beleza, da alma pura e selvagem, do corpo dançante e amoroso. Enquanto isso, a Lua resplandecia de mil formas diversas: lançava sobre a floresta a cor púrpura das extraordinárias auroras boreais, o perfume suave de incenso e rosa da velha Índia, o orvalho cristalino das manhãs outonais que caiem sobre os campos de lírios. E no movimento lento da noite, Helena despertou do sonho profundo. Sorria docemente, serena. O seu corpo tinha regressado completo à magia da Lua. Os animais sopravam-lhe sons ternos feitos de água, fogo, vento, terra. Animada por estas melodias, chamou todas as mulheres que encontrara no sonho para dançar. Assim foi, pouco a pouco, elas chegaram alegres e dançaram com Helena como as águas soltas de um rio. Ali mesmo, sob a esplendorosa copa da Árvore Mãe, celebrando a Lua, a Terra, todo o mundo livre que traziam dentro.
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ARTIGO
JOANA PINTO
Solstício de Inverno
Peace at Yule © Wendy Andrew
Honrando as estações do ano, escrevo sobre o Yule ou Juul, o Solstício de Inverno.
Este evento, celebrado a 21 de Dezembro (hemisfério norte) mas que em tempo idos, era celebrado no norte da Europa antes da Europa cristã, desde próximo do fim de Dezembro até início de Janeiro. Segundo registos, foi a primeira festa sazonal comemorada pelas tribos neolíticas do norte da Europa e um pouco pelo resto do mundo sendo até hoje considerado o início da Roda do Ano por muitas tradições Pagãs. É a noite mais longa do ano, que na tradição pagã se celebra invocando a Luz ou o retorno do Sol, numa altura de escuridão. Quando a obscuridade parecia não ter fim, homenageava-se a natureza e faziam-se oferendas aos Deuses, pedindo para que o inverno passasse. Esta festividade comemora o nascimento do Sol, nascido da Deusa. Realizavamse grandes fogueiras, há volta das quais era reunida a família e amigos. O fogo era sempre o elemento central, o símbolo da Luz e da própria vida. As casas eram decoradas com ramos verdes, conhecidos por “evergreen” ou “sempre verdes” que representam a vida eterna e eram tradicionalmente pendurados em portas e janelas. Cada um com um simbolismo próprio. Hoje, ainda usamos o Azevinho e o pinheiro como decoração natalícia (cristã), decorações estas que perduram desde esta tradição Pagã. O Azevinho era usado como protecção. Acredita-
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se que as cerdas espinhosas do Azevinho repeliam os espíritos indesejados. Os bebés recém-nascidos, costumavam ser polvilhados com “água de Azevinho”. A água em que o Azevinho tinha sido mergulhado seria especialmente forte se fosse deixada sob a ener-
«Quando a obscuridade parecia não ter fim, homenageava-se a natureza e faziam-se oferendas aos Deuses, pedindo para que o inverno passasse. » gia da Lua cheia. O Azevinho, em inglês Holly, deu o seu nome à sagrada Deusa Holle, a Deusa do mundo subterrâneo germânico, que simboliza a vida eterna, a boa vontade e a morte/renovação. As bagas vermelhas desta planta, representam o sangue feminino.
SOLSTÍCIO DE INVERNO . JOANA PINTO
No norte da Europa, a noite mais longa do ano era chamada de “Noite Mãe”, pois vivia-se a escuridão. A Deusa Frigga (Frigg ou Freya), Deusa da mitologia nórdica, trabalhava nesta altura para trazer o nascer «A Deusa Frigga da Luz, o novo Sol, Bal(Frigg ou Freya), dur, seu filho e de Odin. Deusa da mitologia Baldur controla o Sol e a nórdica, trabalhava chuva e traz fertilidade nesta altura para aos campos, uma divindade relativa à sabedoria e trazer o nascer da Luz, justiça. A bênção de Frigo novo Sol, Baldur, seu ga era invocada para profilho e de Odin.» teger todas as mulheres na altura do parto e uma vela branca a queimar durante todo o Solstício era um ritual que se dizia ajudar a conduzir um parto seguro.
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Um pouco por todo o mundo, Deuses e Deusas de Luz nasciam durante o Solstício de Inverno. A Deusa egípcia Isis entregou Hórus, cujo símbolo era o Sol alado. Mithras, o Sol Invicto da Pérsia, nasceu durante o Solstício. O Soyal é a cerimónia do Solstício de Inverno dos índios americanos Hopi. Este festival é em homenagem a Mulher Aranha e a Donzela Falcão e comemora a vitória do Sol sobre a escuridão do Inverno. O nascimento de Sarasvati, a Deusa Hindu do conhecimento e Rainha dos Céus, também é celebrado durante a altura do Yule. O Solstício de Inverno é tempo de visões. Rhiannon, uma encarnação galesa de Eponae e Deusa celta Mare, passa pelos sonhos
Deusa Frigga a tecer a Luz 42
Solstice Stillness © Wendy Andrew
Samhain © Wendy Andrew
do seu povo à noite, transportando-os para um lugar entre mundos, onde podem criar as suas próprias visões, dando-lhes o que mais precisam: tornar os seus sonhos reais. Na Escócia, a última noite do ano é chamada de ‘’Wish Night’’ noite de desejos, feriado este onde é dito ser a altura mais poderosa para se colocarem os desejos do próximo ano. Várias Deusas e Deuses são então invocados e celebrados no Yule. Eu particularmente gosto de relacionar esta altura com o inverno da nossa natureza interior, com a Bruxa-anciã, uma energia
Hare Hug © Wendy Andrew
feminina que nos pede introspecção, recolha e silêncio. É um fim de um ciclo, a fase da Lua Nova, um convite à profunda reflexão. A Bruxa-anciã é a faceta mais crua e mais nua que habita em nós. Aqui não existem máscaras nem nada a esconder, somos NÓS, a verdade. Este arquétipo chama por ti, chama-te de volta a ti. O que aprendemos? O que renovamos? O que podemos melhorar? Serei forte o suficiente para as provações da vida? Que ilusões criei de mim e em mim? Existem cristais que poderás sentir vontade de querer utilizar nesta época, a Ametista, o Rubi, a Pirite, o Jaspe vermelho ou a Obsidiana. Estes cristais ajudam-te a olhar para o teu interior e a renovar o teu ser. Podes também realizar uma mandala com todos os cristais que referi e invocar protecção, limpeza e regeneração.
Então, convido-te a sentares-te e com o calor da chama de uma vela ou de uma fogueira e com um cristal destes na mão, reflecte, medita e deixa a tua alma aquecer-se com o teu conhecimento interior.
‘’Eu liberto o que não é meu. Eu liberto todos os obstáculos do meu caminho. Eu liberto os pensamentos que me bloqueiam. Eu liberto medos e dúvidas. Eu liberto todas as relações que não me servem para o meu bem maior. Eu liberto a minha relação de apego com valores. Eu liberto desejos externos. Eu liberto dor e sofrimento como meios de crescimento. Eu liberto tudo aquilo que não está alinhado com o meu ser e o meu bem supremo.”
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Š Amala Shakti Devi
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ENTREVISTA Amala Shakti Devi
Witchcraft ibérico
E O SAGRADO FEMININO
Joana: É com um enorme prazer e honra que te convido a estar presente nesta edição da APC Magazine. Reconhecendo-te como uma das pessoas com mais destaque em Portugal que foca e desenvolve a energia feminina, sexual, tântrica e assumidamente bruxa ibérica, agradeço-te por teres aceite este convite. Agradeço não só em meu nome como em nome de todos os sócios e apoiantes da APC. Amala, iniciaste à pouco um projecto maravilhoso que acredito já estares a trabalhar nele há uns anos. Queres falar-nos um pouco desse trabalho? Amala: Viva Joana! Muito grata por este convite. Este projecto congrega várias das minhas explorações e aprendizagens feitas em diferentes áreas, principalmente dentro do Xamanismo Ameríndio e Norte-Europeu, Caminho
«E comecei a procurar literalmente debaixo de pedras, em livros antigos, a falar com o Povo, a visitar lugares de Poder, a ouvir e dançar canções folclóricas e a sintonizar uma linguagem codificada nas letras, nos passos e ritmos.» Vermelho, Cerimónias de Medicina, Busca de Visão, Práticas Mediúnicas, Wicca, Reclaiming, Plantas Sagradas da Ibéria e Magia. Muita Magia. Estes trabalhos, em paralelo com o trabalho que já fazia há muito com o Sagrado Feminino e Sexualidade Sagrada, fizeram nascer em mim uma sede pela sabedoria das minha próprias raízes… Comecei a interrogar-me: “onde estão os nossos sábios e magas?”, “Onde posso encontrar bruxas anciãs que me ensinem?”, “Existem canções de poder cantadas em português?”, “Que cerimónias
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os ancestrais faziam nesta terra?”, “Tendo a Península Ibérica as pinturas pré-históricas mais antigas, haverá um Xamanismo Sul-Europeu?” E comecei a procurar literalmente debaixo de pedras, em livros antigos, a falar com o Povo, a visitar lugares de Poder, a ouvir e dançar canções folclóricas e a sintonizar uma linguagem codificada nas letras, nos passos e ritmos. Os últimos anos passei-os a receber ensinamentos e inspiração com a Abuela Margarita, com quem faço a Busca de Visão: 4 dias e 4 noites na montanha sem comer, sem beber,
WITCHCRAFT IBÉRICO . AMALA SHAKTI DEVI
em silêncio e sem sair do lugar. Em comunhão e comunicação com o Grande Espírito. A montanha que me tem acolhido (Etxalar, Navarra) tem memórias muito presentes da Bruxaria Antiga. Nas grutas de Zugarramurdi teci um feitiço-oração para que os espíritos ancestrais desse lugar comigo comunicassem se assim o entendessem. Nos anos seguintes, nos dias e noites que passei em Busca de Visão na montanha, eles vieram e comunicaram. E ajudaram-me a pôr de pé este trabalho. Joana: Como vês que está em Portugal e na nossa cultura, a noção que temos das nossas raízes ancestrais relacionadas com o Sagrado Feminino? Amala: Creio que vivemos um tempo de reconexão profunda com a Mãe Terra e com a Memória Antiga do Mundo. Nos últimos anos, aqui em Portugal, temos visto muitas propostas relacionadas ao Sagrado Feminino e acredito que todas, como um belo colectivo, estão a ajudar a acordar a alma das portuguesas e dos portugueses e, por conseguinte, a estabelecer um contacto firme com a memória nas raízes plantadas neste território. As vozes das Antigas e dos Antigos que vivem em nós querem ser cantadas de novo e as mensagens que nos legaram estão a ser sonhadas, desencriptadas e partilhadas. É urgente! Urge olhar com outros olhos para a nossa Mãe Terra - Mãe Deusa, activar a sabedoria que temos dentro e a consciência do nosso verdadeiro papel aqui e agora. Joana: E relativamente ao termo ‘’bruxa’’? Não achas que existe ainda um certo estigma? Amala: Acredito que as novas gera-
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«As vozes das Antigas e dos Antigos que vivem em nós querem ser cantadas de novo e as mensagens que nos legaram estão a ser sonhadas, desencriptadas e partilhadas.» © Amala Shakti Devi
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ções estão a resgatar este “título” com muito orgulho e alegria. Sim, ainda existe estigma e preconceito, penso que muito à conta de todas as projecções cinematográficas da “bruxa má”, da associação a práticas esotéricas sombrias e, claro, da memória colectiva de dor e pavor da terrível época de caça à bruxaria. Fico em choque quando vejo países onde, hoje em dia, ainda se torturam e matam pessoas (geralmente mulheres) por serem “bruxas”. No entanto dá-me muita esperança ver como as tradições pagãs estão a ganhar todo um novo fôlego, um movimento forte que reflecte a necessidade imperiosa da alma de recuperar a ligação mágica com o mundo e de aceder às ferramentas antigas que as bruxas e os bruxos (curandeiras/ os, rezadeiras, benzedeiras, feiticeiras/ os, sonhadoras/es e visionárias/os) usavam com sabedoria. Para mim, assumir-me como bruxa é uma forma de honrar a minha ancestralidade e honrar todas as irmãs e todos os irmãos que morreram por esta titularidade, afirmando uma posição de “Não temo!” Joana: Acredito que terás as tuas pedras e cristais com que, com certeza, gostas de trabalhar. Queres apresenta -los? Amala:Tenho uma relação especial com pedras. Acredito que guardam segredos e que nos sussurram silenciosamente ao coração. Gosto de todas, sem excepção. Fascinam-me as rochas gran-
© Amala Shakti Devi
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«Para mim, assumir-me como bruxa é uma forma de honrar a minha ancestralidade e honrar todas as irmãs e todos os irmãos que morreram por esta titularidade, afirmando uma posição de “Não temo!”»
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WITCHCRAFT IBÉRICO . AMALA SHAKTI DEVI
des e os maciços de granito. De todas as vezes que faço caminhadas, acabo por trazer pedras no bolso que “me falam” de alguma maneira e quando viajo a outros países trago sempre pelo menos uma pedra para manter a ligação com o lugar onde estive. Com o meu companheiro e com o meu filho é igual, por isso cá em casa às vezes é um pesadelo, temos pedras por todo o lado e custa-nos libertá-las de novo na Natureza. Quanto a cristais, tenho um grande cristal de Quartzo que me foi oferecido por uma das minhas mestras e que é para mim uma fonte de ligação profunda; trabalho muito com bastões de Selenite e Obsidianas. Gosto muito de usar Lápiz-Lazuli, Pedra da Lua e Ametista em peças de joalharia. Joana: Queres deixar alguma mensagem para os nossos leitores? Amala: Sim, partilho uma fórmula-ritual ou oração-gratidão que me veio aquando as últimas chuvas… fiquei tão feliz, tão emocionada, com um forte sentimento de pequenez e reverência ao mesmo tempo, que me veio isto:
«Celebremos, ó Gente! esta Chuva que cai Celebremos, ó Gente! estas Ervas que despontam Celebremos, ó Gente! a Terra que se sacia E Honremos em Gratidão à Água para que siga caindo dos céus!» Amala S.D.
Um grande bem haja a todos e, uma vez mais, grata por esta entrevista! Joana: Grata mais uma vez! Desejo verdadeiramente que o teu trabalho e aquilo que nos ofereces seja cada vez mais uma referência, não só para aqueles que já buscam o entendimento sobre as nossas raízes e o que temos gravado no nosso ADN, como para todos os curiosos que indagam por este saber.
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© Autor desconhecido
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«(...) uma pedra formada a grande velocidade no ventre ardente de um vulcão pode-nos levar aos nossos próprios vulcões e lagos interiores…muito rapidamente.»
A Obsidiana é vidro soprado dentro de um vulcão. A lava arrefeceu tão rapidamente que não teve tempo de formar uma estrutura cristalina. A Obsidiana é amorfa, não sendo, geologicamente falando, um cristal. No entanto, para efeitos ornamentais e terapêuticos ela é referida como cristal. A sua fractura é conchoidal – quer dizer que parte numa onda e não numa linha recta – o que tem implicações interessantes no trabalho terapêutico. Pode ter várias tonalidades ou reflexos, conforme os minerais presentes, micro-bolhas de ar, etc. As mais comuns são a negra e a floco de neve, podendo ter várias tonalidades de negro. Aqui vamos cingir-nos à negra. Das minhas pedras preferidas, a Obsidiana é muito mal-amada, talvez por não se comprazer em meias tintas e exigir uma auto-honestidade brutal ao incauto que pega nela. Também não é um cristal de acção suave, é mais “vamos lá a isto de uma vez por todas” e como compete a uma pedra formada a grande velocidade no ventre ardente de um vulcão, pode-nos levar aos nossos próprios vulcões e lagos interiores…muito rapidamente. Tão rapidamente que nos assustamos e a colocamos de lado, perdendo a oportunidade de cura e desperdiçando a capacidade de absorção e limpeza, fornecida pela bela Obsidiana. Também perdemos a oportunidade de atravessar a escuridão e encontrar o brilho interior; se a Obsidiana nos leva à sombra, também nos pode levar à luz. Com Obsidianas, o trabalho não pode ficar a meio; podemos ranger os dentes, verter lágrimas ou telefonar à nossa terapeuta a meio da noite, mas o trabalho deve ser completado. Fisicamente, a Obsidiana ajuda a regular a temperatura e a polarização do corpo, sendo constituída maioritariamente por dióxido de silício com quantidades variáveis de ferro e magnésio, todos minerais importantes no corpo humano. Vou falar aqui especificamente do uso do ovo e umbigueira de Obsidiana segundo a metodologia de Ana Sílvia Serrano / Sociedade Internacional de Terapeutas de Obsidiana. Depois de ter experimentado outros ovos, creio que este é o mais adequado, assim como creio que a metodologia é acertada e poupa vários contratempos. As geometrias de Obsidiana com que trabalhamos têm nomes muito específicos; o ovo de Obsidiana chama-se Osíris e a umbigueira Omi. Omi, umbigueira de Obsidiana e ponta de Quartzo. 50
ARTIGO
Umbigueira e ovo de Obsidiana: Osiris e Omi
SUSANA SOARES
A lava rica em sílica, torna-se Obsidiana quando arrefecida imediatamente após contacto directo com a água.
Existem várias outras geometrias de Obsidiana, umas de imposição, outras de penetração, outras de projecção, etc., mas sem dúvida Omi e obviamente Osíris são muito apropriadas ao tratamento das mulheres. Omi é uma umbigueira de Obsidiana. Usa-se presa ao umbigo, durante o dia. É um eficaz método de protecção e limpeza, pelo que se recomenda o seu uso a terapeutas e pessoas que têm muito contacto com outros. Além disso, é também uma ferramenta terapêutica. Trabalhando desde o centro, une os campos físico e subtil, as emoções ao pensamento. Ao fazê-lo, desbloqueia energia estagnada e traumas passados. Por vezes sentimo-nos incomodadas, perdemos a Omi, de repente detestamos certa pessoa, relembramos situações que nos incomodaram no passado, ficamos enjoadas… Estes são sinais de movimento, de cura, que pas-
«Os vulcões sonham, e os seus sonhos se cristalizam em pedras de Obsidiana»
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sarão com o tempo. Se usarmos um método de equilíbrio, (meditação com cristal de Quartzo, por exemplo, ou uma sessão semanal de Cristaloterapia) os “sintomas” desvanecem. Esta acção requerida, de tomarmos conta de nós, de nos mimarmos, é um dos resgates do feminino: amar o corpo e a alegria, dirigir a extraordinária capacidade de compaixão e cuidado para o nosso corpo, agir por isso. Passados três meses, com descansos de uso de Omi, ela continuará a trabalhar, principalmente como agente de protecção e limpeza. Os “efeitos secundários” vão desvanecendo. Devo alertar para o facto que a aplicação de qualquer geometria de Obsidiana obedece a tempos regulados com intervalos de descanso; quando digo por exemplo que Omi se usa por três meses, quero dizer que se usa 6 dias, descansando 1, durante três semanas, descansando uma semana, e
UMBIGUEIRA E OVO DE Obsidiana . SUSANA SOARES
assim sucessivamente. Estes períodos são essenciais para integrar, recuperar e descansar. Esquecemos muitas vezes o valor do descanso, mas este é essencial ao nosso bem-estar. Uma das características a trabalhar como mulher nos dias de hoje, relativamente ao trabalho, é a negação do descanso – uma mulher, uma mãe, supõe-se fresca e pronta para trabalhar, cuidar dos seus, ter inúmeras actividades, ... sem descanso. Até Deus descansou ao sétimo dia, a Deusa certamente também, é altura de nos outorgarmos o direito e o
hábito do descanso dos nossos corpos. Osíris é o ovo de Obsidiana. O ovo de Obsidiana é introduzido na vagina, idealmente com a parte larga para dentro e usa-se durante a noite. Osíris tem um tamanho e peso específicos e não tem buracos para fio. É a própria mulher que o introduz, na perfeita entrega de que ele há-de sair de manhã ou em outro dia. Essa é uma questão que muitas vezes me colocam: tenho medo que não saia. Aceitar e eventualmente atravessar esse medo faz parte da terapia. O feminino tem
«O feminino tem uma faceta de recepção e aceitação que devemos recuperar conscientemente;
Quando nos abrimos, abrimos sabendo que de alguma forma vamos ser invadidas.»
Osíris, ovo de Obsidiana.
uma faceta de recepção e aceitação que devemos recuperar conscientemente; quando nos abrimos, abrimos sabendo que de alguma forma vamos ser invadidas. A consciência, a “autorização” a essa invasão é nossa. O que queremos deixar entrar em nós? E se queremos, porque resistimos? O que colocou em nós esse medo de perder o controle de nós mesmas e do nosso corpo? A mulher que trabalha com este ovo de Obsidiana, Osíris, propõe-se a duas coisas: reconhecer o que se move na sua sombra e reconstruir-se a partir de pedaços de si mesma (como no mito de Isis e Osíris). Reconstruir-se a si mesma, recriar-se como uma Deusa cria. O trabalho com Osíris dura três, seis ou nove meses e durante esse tempo muitas afecções físicas podem desaparecer. Na minha experiência, o uso de Osíris regula imediatamente o período menstrual, o sono, o transito intestinal, por exemplo. Também pode causar incómodos – uma pressão nos ovários, uma leve inflamação, erupções cutâneas, por exemplo – além das manifestações psicológicas – irritação, vontade de chorar, necessidade de silêncio. Estes incómodos físicos ligeiros desaparecem no espaço de um mês ou menos, as mudanças emocionais, psicológicas, mentais têm que ser olhadas e pacientemente integradas. Mais uma vez, uma rotina de “mimos” incluindo uma sessão semanal de ristaloterapia, ajuda. 52
Osíris, Omi, ponta de Quartzo e Obsidiana em bruto. As suas arestas são extremamente afiadas e a fractura ondulada (conchoidal).
Porquê o ovo? O ovo é o início, o uno, o local onde feminino e masculino coabitam harmoniosamente criando vida. Também nós nascemos de um óvulo fertilizado a nadar numa calda escura e silenciosa. Se mergulharmos no vácuo aparente do nosso escuro silêncio, aí encontraremos também a semente do nosso brilho. Se polirmos uma prata oxidada, ela brilha. Osíris leva-nos a esse vácuo silencioso onde moram partes de nós e das nossas vidas que não queremos ver, ou não quisemos ver em determinado momento, que não foram aceites no colectivo em que vivemos, a quem nunca demos voz e vida, ainda que “boas”; aí moram os sonhos de ser astronauta, bombeira, dançarina de hoola hoop. Aquilo que em psicologia jungiana se chama “sombra” não esconde apenas “coisas más”, também nela moram a nossa criatividade, a nossa resposta intuitiva e de alguma forma os alicerces de quem somos ou podemos ser. Estamos formatadas por uma dualidade de bem e mal, um sistema de culpa e castigo. Habituadas a varrer para baixo do tapete as várias angústias existenciais para não sermos consideradas loucas (porque no nosso mundo estar triste é estar deprimida, estar de luto é viver no passado, estar zangada é estar frustrada). É-nos difícil acreditar que algo de bom virá quando olhamos para a parte de nós que está enraivecida, triste, traída. Que algo de bom virá daquilo que carregamos secretamente connosco e para as razões e frutos desse segredo. O ovo de Obsidiana, no entanto, não só nos mostra, como ajuda a curar e integrar estas situações, se lhe dermos essa hipótese e consentirmos essa ajuda.
«O ovo de Obsidiana, no entanto, não só nos mostra, como ajuda a curar e integrar, se lhe dermos essa hipótese e o ajudarmos. »
susana3soares@gmail.com
UMBIGUEIRA E OVO DE Obsidiana . SUSANA SOARES Porquê ovo, porquê vaginal, porquê Obsidiana? Para mim, a Obsidiana mostra-nos a totalidade de nós mesmas, competindo a nós reconhecer e ordenar as várias partes num todo (ovo) harmonioso, como Íris fez com o corpo despedaçado de Osíris. Para isso, temos que nos reconhecer como criadas e criadoras, como responsáveis e participadoras na criação diária do nosso mundo, como portadoras de direito próprio da centelha Divina que, uma vez soprado, o nevoeiro nos dará força, beleza, harmonia. Começando no sítio óbvio: dentro da porta por onde todos entramos neste mundo, dentro de nós.
© Féjérvary-Mayer
Porquê vaginal? Grande parte da “sombra” da mulher está de facto na sua sexualidade, murmurada, negada, violentada, esquecida… Basta a ideia geral de que uma mulher após a menopausa não necessita dos órgãos femininos, o duplo standard para comportamentos sexuais para mulheres e homens. Isto para não referir as tradições de mutilação, burkas e cintos de castidade. Essas recordações, se não estão na nossa vida, estão na nossa pele de mulheres, na raiz do medo de nos mostrarmos, de nos revelarmos inteiras e assim nos “perdermos” de nós próprias (ocorre-me que talvez seja isso uma mulher perdida). Muitas mulheres não se tocam, não olham os seus órgãos genitais (facilmente feito com um espelho), não conhecem a anatomia da vagina e de todo o aparelho sexual /reprodutor, enfim, não reconhecem nem sequer nomeiam essa parte do corpo. Está na sombra. Porquê Obsidiana? Na cosmovisão Maia e Azteca, a Obsidiana está ligada ao Deus Tezcatlizposca, que tinha a substituir o pé esquerdo um espelho de Obsidiana, um espelho fumado, sombrio. O mito e a tradição dizem que o espelho de Obsidiana mostra-nos o pior de nós mesmos, podendo levar à loucura. Sendo um vidro, a Obsidiana permite olhar não só para a sombra mas também através da sombra, até aparecer o brilho interior que todos carregamos connosco. Só há sombra onde há um foco de luz. Ao meio dia, quando Sol está exactamente por cima das nossas cabeças assim como a Terra debaixo dos nossos pés, não há sombra. É apenas um momento após o qual a sombra se volta a manifestar. Mas sabemos que esse momento voltará.
Tezcatlipoca, cujo pé foi tomado por Tlalteotl, Deusa da Terra
«(...) temos que nos reconhecer como criadas e criadoras, como responsáveis e participadoras na criação diária do nosso mundo, como portadoras de direito próprio da centelha Divina (...) » 54
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