Produção e Consumo Sustentáveis

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Produção e Consumo Sustentáveis OPORTUNIDADE E DIFERENCIAL COMPETITIVO A PARTIR DO EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL


EXPEDIENTE PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO NACIONAL Roberto Simões

DIRETOR-­PRESIDENTE Luiz Barretto

DIRETOR-­TÉCNICO Carlos Alberto dos Santos

DIRETOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS José Claudio dos Santos

GERENTE DA UNIDADE DE ACESSO A MERCADOS E SERVIÇOS FINANCEIROS Paulo Cesar Rezende Alvim

GERENTE-­ADJUNTA DA UNIDADE DE ACESSO A MERCADOS E SERVIÇOS FINANCEIROS Patrícia Mayana Maynart Viana

COORDENAÇÃO TÉCNICA Louise Alves Machado

CONSULTORIA E APRESENTAÇÃO FINAL Rede www.empresaresponsável.com

EDITOR Joana d ’Arc Bicalho Félix

SEBRAE Setor de Grandes Áreas Sul -­ SGAS Quadra 605 -­Conjunto A -­ Asa Sul -­ Brasília/DF CEP: 70200-­645 – Tel.: (61) 3348-­7455 www.sebrae.com.br

CENTRAL DE RELACIONAMENTO 0800 570 0800

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Produção e Consumo Sustentáveis OPORTUNIDADE E DIFERENCIAL COMPETITIVO A PARTIR DO EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL


ÍNDICE APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO 1. A VISÃO DE ESPECIALISTAS SOBRE ECONOMIA VERDE E SUSTENTABILIDADE NA MICRO E PEQUENA EMPRESA SUSTENTABILIDADE COMO CONDIÇÃO PARA QUE UMA EMPRESA PERMANEÇA NO MERCADO Reinaldo Dias -­

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CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE NA MICRO E PEQUENA EMPRESA Célia Braga -­

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ECONOMIA VERDE: UMA FORMA DE TRAZER SUSTENTABILIDADE PARA UM PATAMAR DE OBJETIVIDADE Maria Elizabeth -­

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SUSTENTABILIDADE NA PRÁTICA DA MICRO E PEQUENA EMPRESA Claudio Andrade -­

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A NECESSÁRIA ECONOMIA VERDE Claudio Boechat -­

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A SUSTENTABILIDADE AO ALCANCE DE PEQUENAS EMPRESAS Joana Bicalho -­

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PASSOS PARA A SUSTENTABILIDADE NA MICRO E PEQUENA EMPRESA Claiton Mello -­

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O DESAFIO DE IMPLEMENTAR SUSTENTABILIDADE E PENSAR MAIS A LONGO PRAZO Heiko Spitzeck -­

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AS EMPRESAS DEVEM BUSCAR UM MODELO DE CRESCIMENTO SOCIALMENTE JUSTO, ECONOMI-­ CAMENTE VIÁVEL E AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL Thomas Enlazador -­

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AS QUESTÕES AMBIENTAIS E OS NOVOS NEGÓCIOS Fernanda Borger -­

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UM NEGÓCIO SUSTENTÁVEL RESPEITA AS REGRAS QUE PRESERVAM E APERFEIÇOAM A SOCIEDADE. Vicente Ambrósio -­

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A SUSTENTABILIDADE MOBILIZADA POR DIÁLOGOS E PROCESSOS COOPERATIVOS Rosa Alegria -­

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PEQUENO NEGÓCIO: ÁTOMO DA SUSTENTABILIDADE Mauro Castro -­

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A GESTÃO BASEADA NO TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE E OS GANHOS EM REPUTAÇÃO E IMAGEM Ricardo Voltolini -­

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A DIMENSÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DOS NEGÓCIOS

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Denis Donaire -­

COMÉRCIO JUSTO E A RELAÇÃO PRODUÇÃO E CONSUMO

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Naji Harb -­

SUSTENTABILIDADE: O termo sustentabilidade diz respeito à capacidade presente e futura de suporte, e deve con-­ siderar as dimensões ambiental, social e econômica nos processos, procedimentos e gestão empresarial.

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ÍNDICE 2. EMPRESAS E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS LANCHES RÁPIDOS E SAUDÁVEIS

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Mega Matte -­

TRANSFORMANDO PRODUTOS EM NOVOS PRODUTOS

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Ama Terra -­

SISTEMA DE PRODUÇÃO ECOEFICIENTE

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Aquacoco -­

O SUCESSO DOS PRODUTOS SUSTENTÁVEIS E INOVADORES

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Amazongreen -­

A SUSTENTABILIDADE NA ARTE DE BEM RECEBER

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Bonserá -­

SUSTENTABILIDADE E RETORNO FINANCEIRO

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Carbono Zero -­

MUDANÇA NOS INSUMOS PARA AMPLIAR A GESTÃO AMBIENTAL

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Cooperativa Café Boa Esperança -­

SUSTENTABILIDADE E RETORNO FINANCEIRO

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Cerâmica Ituiutaba -­

RECICLAGEM DE RESÍDUOS ELETRÔNICOS

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RCTEC -­

ECONOMIA DE RESÍDUOS, TECNOLOGIA E ECOEFICIÊNCIA

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Eko Foot Print -­

3. A OPINIÃO DE ALGUNS CONSUMIDORES SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE NO COMPORTAMENTO DE CONSUMO

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Norio Takaki Junior -­

MAIS ATENÇÃO AOS PRODUTOS E MARCAS OFERTADAS

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Ana Façanha -­

É PRECISO TER COMO FOCO FAZER MELHOR COM MENOS

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Monica Prado -­

CONSUMO: É PRECISO HAVER OPORTUNIDADES DE ANÁLISE E ESCOLHA

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Renata Dalla Bernardina -­

COMUNICAR O DIFERENCIAL AMBIENTAL E DAR, AO CONSUMIDOR, A OPÇÃO DE ESCOLHA

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Ursula Diesel -­

DEVEMOS TODOS COMEÇAR A PESQUISAR, OPTANDO PELOS PRODUTOS ECOEFICIENTES

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André Ramos -­

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APRESENTAÇÃO Há 20 anos, o mundo já discutia a necessidade de preser vação ambiental. Hoje, vivemos um debate mais amadurecido e também ampliado, tratando do desenvolvimento sustentável nos seus eixos ambien-­ tal, econômico e social. Ou seja, a busca pelo lucro não está dissociada dos objetivos para um planeta melhor. Com esta publicação, o Sebrae reúne análises de especialistas sobre essa nova realidade do merca-­ do e formas práticas de como as empresas devem basear seus sistemas de produção, afim de atender um consumidor cada vez mais consciente. O que hoje é um diferencial competitivo para a empresa, num futuro próximo será padrão exigido pelo mercado. Aproveite para encaminhar esta publicação para seu e-­mail e analisar cuidadosamente todas as opor-­ tunidades de negócios apresentadas. Boa leitura!

Luiz Barretto Presidente do Sebrae

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INTRODUÇÃO PEQUENOS NEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A consciência cada vez maior sobre a finitude dos recursos naturais e os riscos às gerações futuras colocam desafios inadiáveis aos governos, iniciativa privada e sociedade civil. A perspectiva de desen-­ volvimento sustentável, que busque o equilíbrio em suas três dimensões – ambiental, social e econômica – abre novas oportunidades de negócios, e as micro e pequenas empresas têm papel primordial nesse processo, principalmente pela sua flexibilidade e capacidade de adaptação para atender as deman-­ das ainda emergentes dos mercados. No Brasil, os pequenos negócios convivem com um ambiente mais favorável, nos últimos anos, impulsio-­ nados pelo crescimento da demanda interna, mais empregos e maior oferta de crédito a um custo menor, além de políticas públicas voltadas à inclusão produtiva e redução da pobreza, bem como investimen-­ tos em infraestrutura. A municipalização da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e as oportunidades em função dos megaeventos esportivos nos próximos anos tornam o cenário ainda mais favorável. Neste ano, também a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, coloca em pauta o empreendedorismo sustentável. Nesse ambiente, consumidores cada dia mais exigentes, seletivos e bem informados dão preferência a marcas, produtos e ser viços provenientes de processos e gestão baseados em práticas sustentáveis. Esse é um diferencial competitivo das empresas que, atentas às necessidades do presente, vão obter ganhos por meio de práticas e gestão sustentáveis, contribuindo para garantir qualidade de vida e bem-­estar às gerações futuras. Os pequenos negócios já se antecipam a esse novo tempo. Sondagem feita pelo Sebrae entre feve-­ reiro e março deste ano mostra que práticas sustentáveis estão na agenda das micro e pequenas empre-­ sas. Grande parte delas vê ganhos de imagem e redução de custos, entre outras vantagens, depois de incorporar esses diferenciais à sua atuação, seus processos, produtos e ser viços, garantindo prestígio as suas marcas. O desafio está em consolidar a gestão com foco nas possibilidades oferecidas por essa tendência do mercado global. As perspectivas são estimulantes, desafiadoras e muito promissoras. Para atender as necessidades de consumo e produção sustentável, os processos produtivos e modelos de gestão bem como as relações com seus clientes e comunidades precisam ser remodelados ou desenvolvidos sob no-­ vas bases. Terão mais competitividade aquelas empresas que se dedicarem desde já à perspectiva de desenvolvimento sustentável. Inovar, então, torna-­se pré-­requisito aos empreendimentos de pequeno porte no ambiente de negó-­ cios sustentáveis. Disseminar e ampliar o conhecimento às micro e pequenas empresas sobre práticas sustentáveis é uma alternativa para garantir diferenciais de competitividade aos pequenos negócios no mercado globalizado. O Sebrae tem a sustentabilidade na sua missão e a inovação como prioridade estratégi ca. Nos últimos anos, intensificou ações estruturadas e transversais em projetos e programas. inaugurou o Centro Sebrae de Sustentabilidade, em Cuiabá (MT), lançou o Termo de Referência para Atuação do Sistema Sebrae em Sustentabilidade, realizou a Sondagem O que Pensam as Micro e Pequenas Empresas sobre Sustenta-­ bilidade, e foi a primeira instituição a formalizar parceria para a realização da Rio + 20, a Conferência das Nações Unidades sobre Desenvolvimento Sustentável. Esta publicação reúne uma série de orientações a empresários do segmento de pequeno porte, a partir de entrevistas com especialistas de diferentes áreas do conhecimento que tratam aspectos da gestão sustentável, visando à redução dos impactos ambientais decorrentes de atividades empresariais. Apontam oportunidades, modelos e diferenciais competitivos provenientes de ações socioambientais, tendo em vista o desenvolvimento sustentável. Nossa expectativa é de tornar a sua leitura uma fonte de possibilidades aos empresários, em especial, das mi-­ cro e pequenas empresas que decidirem pela adoção de uma agenda de inovações efetivamente sustentável. Que sua leitura seja bastante proveitosa! Carlos Alberto dos Santos Diretor-­técnico do Sebrae Nacional

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1 A VISÃO DE ESPECIALISTAS SOBRE ECONOMIA VERDE E SUSTENTABILIDADE NA MICRO E PEQUENA EMPRESA


SUSTENTABILIDADE COMO CONDIÇÃO PARA QUE UMA EMPRESA PERMANEÇA NO MERCADO REINALDO DIAS Quais os benefícios práticos da gestão socioambiental na empresa? Há ganhos econômicos? Quais os aspectos essenciais a considerar na deci-­ são de implantação de ações de sustentabilidade socioambiental? Segundo Reinaldo Dias, doutor em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política, um dos principais benefícios da adoção da sustentabilidade socioambiental na empresa é a incorporação institucional da inovação como um processo contínuo vinculado a um estímulo permanente de cria-­ tividade, voltado à manutenção do equilíbrio entre sustentabilidade e competitividade.

COMO VOCÊ PERCEBE A INSERÇÃO DA GESTÃO SOCIOAMBIENTAL NAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (MPE)?

O envolvimento das MPE, com práticas associadas ao desen-­ volvimento sustentável, é funda-­ mental para a sobrevivência no mercado em médio prazo, pois há uma forte tendência de aumento da demanda por sustentabilida-­ de e responsabilidade social.

A ECONOMIA VERDE E OS GANHOS EMPRESARIAIS DE MERCADO. O QUE SE ACONSELHA À MICRO E PEQUENA EM-­ PRESA? Há, pelo menos, três aspectos es-­ senciais que implicam na necessida-­ de de maior envolvimento das MPE com práticas sustentáveis. Em primeiro lugar, a pressão da so-­ ciedade tende a se tornar mais for-­ te, em decorrência do aumento da conscientização e do agravamento da crise ecológica e, em consequên-­ cia, a legislação tende a ficar mais rigorosa e mais efetiva. Em segundo lugar, muitas MPE inte-­ gram a cadeia de valor de grandes empresas e estas, pela sua maior vi-­ sibilidade econômica e social, são as primeiras a reagir às pressões

para manter sua competitividade, e nesse sentido, estão exigindo, cada vez mais, que seus fornecedores e empresas contratadas, que integram sua cadeia produtiva, adotem estratégias de gestão sustentável. Em terceiro lugar, há uma forte tendência de maior integração da máquina dos governos em práticas de responsabilidade social, o que deve levar as administrações públicas a incorporarem iniciativas de compras sustentáveis e de responsabilidade social, o que implicará na seleção de empresas que participem de licitações públicas, com base nos seus compromissos efetivos com a Economia Verde. EM QUE IMPLICA INSERIR A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NA EMPRESA? A adoção de práticas socialmente responsáveis em qualquer empresa en-­ volve, necessariamente, um processo de mudança de comportamento, adap-­ tação, reconversão, transformação e, em muitos casos, substituição de al-­ gumas tecnologias, equipamentos e processos adotados pela organização. Um dos aspectos, bastante positivos na implantação da sustentabilidade, é que essas mudanças levam a organização, como um todo, a se reinventar em novas bases para disputar mercado e manter, ou aumentar, sua competitividade.

ECONOMIA VERDE “É aquela que resulta na melhoria do bem-­estar humano e da igualdade so-­ cial, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológicas”. Disponível em:How is a Green Economy Defined. Disponível em: Relatório Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza. <http://www.pnuma.org.br/comunicados_detalhar. php?id_comunicados=125>.Acesso em 06/05/2012. “Uma economia verde é aquel cujo crescimento da renda e do emprego são impulsionados por investimentos públicos e privados que reduzam as emissões de carbono e de poluição, melhoram a eficiência energética e de recursos e evitam a perda de biodiversidade e dos ecossistemas”. Disponível em http://www.unep.org/greeneconomy/.Acesso em 06/05/2012.

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Empresa e gestão sustentável “Sustentabilidade exige inovação, o que representa benefícios práticos à Micro e Pequena Empresa.” SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA EMPRESA – BENEFÍCIOS PRÁTICOS. Um dos principais benefícios, da adoção da sustentabilidade socio-­ ambiental na empresa, é a incor-­ poração institucional da inovação, como um processo contínuo vincu-­ lado a um estímulo permanente de criatividade, voltado à manutenção do equilíbrio entre sustentabilidade e competitividade. A incorporação permanente de novas tecnologias, novos processos, e a formação continuada dos fun-­ cionários da empresa são, sem dúvi-­ da, o benefício prático mais visível.

COMO IMPLANTAR OS PROGRAMAS SO-­ CIOAMBIENTAIS? Não se deve mitificar a implanta-­ ção de programas socioambientais nas empresas, como algo complica-­ do e difícil de ser implantado. Embo-­ ra do ponto de vista técnico, haja certa complexidade, não é o ponto fundamental. Sugiro, assim, os seguin-­ tes passos: A) O que importa, inicialmente, é a decisão política adotada pela dire-­ ção, ou seja, sem vontade política de implantação do programa, ele não terá sucesso. B) O passo seguinte é o completo envolvimento de todas as lideran-­ ças da empresa, em todos os níveis. Sem o comprometimento de lideran-­ ças não se muda cultura organiza-­ cional dentro de uma empresa, e a implantação de programa socioam-­ biental envolve a mudança cultural necessariamente. C) O terceiro passo é o processo de difusão dos novos valores que a empresa assumirá;; trata-­se de con-­ seguir o apoio integral de todos os funcionários da organização, e nes-­ se sentido, palestras, reuniões, cur-­ sos, entre outras atividades, devem ser desenvolvidos procurando con-­ solidar um processo de educação socioambiental interno. D) Os passos seguintes são decor-­ rência da consolidação desses pas-­ sos iniciais, e envolvem o diagnós-­ tico da situação atual da empresa,

mudanças em processos e produtos, avaliação das relações da empresa com o entorno, entre outras medidas. NA PRÁTICA, QUAL DEVE SER A ATITUDE PARA SUSTENTABILIDADE NA MICRO E PEQUENA EMPRESA?

Em termos práticos, imediatos, no âmbito da empresa deve-­se proceder à implantação pro-­ gressiva de medidas preventivas e corretivas, orientadas a reduzir o consumo de recursos energé-­ ticos, a diminuir a produção de resíduos e tornar efetivo o cum-­ primento da legislação ambien-­ tal, em especial a setorial. Esse é o movimento inicial da implan-­ tação de qualquer programa, qual seja, adotar boas práticas ambientais. HÁ GANHOS ECONÔMICOS POR INVES-­ TIR NA GESTÃO AMBIENTAL? O retorno dos investimentos pode se concretizar por meio de ganhos: a) pela redução de custos – ecoe-­ ficiência – derivada de melhor ges-­ tão ambiental;; b) em imagem e em vendas;; c) pelo fortalecimento e fidelidade à marca e ao produto;; d) pela valorização da empresa na sociedade e no mercado;; e) em tributação, com as possibili-­ dades de isenções fiscais em âmbi-­ tos municipal, estadual e federal, di-­ retamente para os projetos ou para empresas patrocinadoras;; f) em produtividade, pelo maior em-­ penho e motivação dos funcioná-­ rios;; g) em retorno publicitário advindo da divulgação de mídia espontâ-­ nea;; h) com contratos com o setor públi-­ co, que tende a selecionar empre-­ sas socialmente responsáveis i) e contratos com grandes empre-­ sas, que necessitam alinhar sua ca-­ deia produtiva com os novos valo-­ res que assume.

“Implantação progressiva de medidas preventivas e corretivas, orientadas a re-­ duzir o consumo de recursos energéticos. ”

HÁ GANHOS DE IMAGEM POR INVESTIR NA GESTÃO AMBIENTAL? A sensibilidade social, relaciona-­ da com o desempenho social, ético e ambiental das empresas, tem au-­ mentado, e um dos efeitos dessa mu-­ dança é que a fidelidade do cliente tende a migrar de uma marca para outra com base na percepção de seus compromissos socioambientais. Além disso, a reputação da empresa tende a se consolidar de forma po-­ sitiva quando assume compromissos éticos como um princípio vinculado à sua estratégia de mercado. A re-­ putação se converte, assim, num dos ativos mais importantes da organi-­ zação, superando uma imagem de marca, que pode ser efêmera. Este investimento resulta em maior eficiência, por exemplo, na utili-­ zação da matriz energética e dos recursos naturais, redução de des-­ perdícios, redução de emissão de gases e reutilização de materiais. Também, as operações comerciais se beneficiam com a melhoria dos recursos humanos, que se sentem es-­ timulados, ocorrendo, por exemplo, redução do absenteísmo, retenção de talentos, maior compromisso com o trabalho, entre outros fatores que incrementam a produtividade e, consequentemente, aumentando o diferencial competitivo da empresa como um todo.

“Mercados verdes es-­ tão em alta, e a tendên-­ cia é o crescimento con-­ W­QXR H GLYHUVLŹFDGR Œ

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Empresa e gestão sustentável

OS CLIENTES PROCURAM POR PRODU-­ TOS “DO BEM”? Essa é uma tendência irreversí-­ vel, consolidada pelo aumento dos problemas ecológicos que afetam o planeta e que são divulgados pela mídia, provocando um efeito de conscientização pelo perigo, por meio d e i magens d as t ragédias. A lém disso, as crianças e os adolescen-­ tes possuem, hoje, maior consciên-­ cia ecológica do que as gerações anteriores, pois recebem um nível de informação muito maior desde a mais tenra idade, tornando-­se nas famílias verdadeiros fiscais ambien-­ tais. Desse modo, há um crescente envolvimento dos consumidores com práticas ambientalmente corretas, e já há uma demanda sensível de partes consideráveis da população por esse tipo de produto.

“Há um crescente en-­ volvimento dos consumi-­ dores com práticas am-­ bientalmente corretas, e já há uma demanda sensível de partes con-­ sideráveis da popula-­ ção por esse tipo de produto.”

HÁ VANTAGEM COMPETITIVA PARA MI-­ CRO E PEQUENAS EMPRESAS QUE ADO-­ TAM A GESTÃO AMBIENTAL? Sim, pois terão cada vez mais tra-­ tamento preferencial: A) por parte dos consumidores;; B) por parte das grandes em-­ presas (que preferirão as MPE que agregam valor socioambiental à sua cadeia produtiva);; C) e do poder público (que con-­ dicionará a participação em lici-­ tações e contratos àquelas que adotarem posturas socialmente ami-­ gáveis). Deste modo, terão uma vantagem competitiva concreta em relação aos seus concorrentes que não ado-­ tam a gestão ambiental. A agenda

de negócios deve sofrer profundas alterações no futuro próximo, pois a mudança climática e outras políti-­ cas ambientais marcarão as pautas das empresas nos próximos anos e, portanto, é o momento para que os empresários assumam estes desafios que o tornarão não somente susten-­ táveis, mas também competitivos.

Em termos globais, nos países mais desenvolvidos há uma maior cons-­ cientização ambiental, e a partici-­ pação dessa região, seja na orga-­ nização, patrocínio e público será enorme, ou seja, se dará muita im-­ portância para as questões socio-­ ambientais durante o evento. Além disso, o Brasil é visto como uma re-­ gião privilegiada em termos de na-­

NO QUE SE REFERE À CADEIA PRODUTIVA, VOCÊ PERCEBE HAVER COBRANÇAS POR PROCESSOS OU PROCEDIMENTOS SO-­ CIOAMBIENTAIS? PODE CITAR EXEMPLOS? Aquelas organizações, que mantêm em sua cadeia de valor pequenas em-­ presas que adotam práticas insusten-­ táveis e não éticas, poderão sofrer um grande prejuízo em sua imagem e re-­ putação quando essas práticas se tor-­ narem públicas, como ocorreu, recen-­ temente, com várias empresas no Brasil que mantinham contratos com Micro e Pequenas Empresas que adotavam trabalho escravo em suas instalações. Além disso, essas organizações foram processadas e deverão sofrer preju-­ ízo, com o pagamento de pesadas multas. Os casos denunciados se tor-­ naram assunto na mídia internacional e produzem um efeito demonstração para outras empresas, que passam a ter cada vez mais cuidado com as Mi-­ cro e Pequena Empresa que integram sua cadeia produtiva.

A COPA DO MUNDO DEMANDARÁ POS-­ TURA SOCIOAMBIENTAL PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS? PODERIA DAR EXEMPLO NOS DIVERSOS SETORES? A copa do mundo é um dos even-­ tos mais midiáticos do Planeta, sua realização atrairá os olhares de bilhões de pessoas ao redor do mundo, não somente às atrações es-­ portivas, mas a tudo que a envolve-­ rá. A logística de um evento como esse envolve um número enorme de segmentos econômicos: alimentos, bebidas, transportes, comunicação, reciclagem, produtos petroquímicos, metalurgia, construção civil, turismo, hotelaria etc.

tureza, há toda uma expectativa em relação às nossas condutas socio-­ ambientais durante o evento. Nesse sentido, todas as empresas deverão atentar para essas questões, o que já vem ocorrendo na construção e ampliação dos estádios que sedia-­ rão os jogos, como o Maracanã ou o Itaquerão, que controlam a des-­ tinação do lixo, e da terra remo-­ vida nos locais. No Maracanã, os materiais reciclados têm sido trans-­ formados em tijolos que constroem casas populares, fato amplamente noticiado na imprensa. A hotelaria verde deverá ser reconhecida, e aqueles que assumirem essa postura terão como retorno uma vantagem competitiva em relação a seus con-­ correntes após o evento.

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Empresa e gestão sustentável

COMO IDENTIFICAR UMA EMPRESA AM-­ BIENTALMENTE SUSTENTÁVEL? Uma empresa ambientalmente sus-­ tentável é aquela em que a cultura ambiental permeia toda organiza-­ ção. Não está somente associada a um “gueto” dentro da organização – um departamento, setor ou mes-­ mo uma só pessoa. É aquela onde todos os seus integrantes, desde o funcionário mais humilde até os diri-­ gentes do topo, têm consciência do papel que desempenham na socie-­ dade;; consciência da sua diferença em relação aos concorrentes, que compreendem que a postura ética, é não só um diferencial competitivo, mas um valor agregado construído com a participação de todos.

COMPORTAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DO CONSUMIDOR CONSCIENTE. O consumidor consciente compreende que as pequenas ações conduzem a grandes transformações, nesse sentido sensibiliza-­se com exemplos de pessoas e organizações que se pautam por engajamento em questões de responsabilidade socioambiental. No entanto, desconfia da lavagem ver-­ de ou social (da propaganda de empresas que se dizem socioambientais, mas que muito pouco fazem por isto). Nesse aspecto, obter a credibilidade é fundamental, e isto se obtém envolvendo-­se em todas as dimensões da sustentabilidade, vinculando estreitamente o social, o ambiental e o eco-­ nômico.

“Apresentar relatórios de sustentabilidade, periódicos e de amplo acesso, preferencialmente, colocados à dispo-­ sição no site da empresa, amplia a credibilidade do valor de sustentabilidade à empresa.”

COMO ESTABELECER A CADEIA DE SUPRIMENTOS COM BASE NA ECONOMIA VERDE? A empresa deve identificar quais são as práticas e respectivos impactos sociais e ambientais de seus fornecedo-­ res, abolindo aquelas, por exemplo, que utilizam mão-­de-­obra infantil ou escrava, e privilegiando as que atendam aos padrões ambientais de cada setor. Todo produto, sem exceção, que é utilizado na cultura humana tem origem em materiais encontrados na natureza. Um telefone celular, por exemplo, possui todos os seus componentes originários de minas ao redor do mundo, e um dos seus principais componentes é o Coltan (Columbita-­tantalita), cujas reser vas, em sua maioria, estão na Repú-­ blica Democrática do Congo, uma região de conflito armado alimentado pela exploração desse mineral. Optar por tecnologias, produtos e processos de empresas com gestão socioambiental fortalece posturas sustentáveis em toda a cadeia produtiva.

Reinaldo Dias é doutor em Ciências Sociais e mestre em Ciência Po-­ lítica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmen-­ te, é professor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo. Especialista, com pós-­graduação em Ciências Ambientais. É autor de vários livros publicados nas áreas de turismo, meio ambiente, sociologia, ciência política entre outros. Dos títulos publicados, destacam-­se Gestão Ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade, Turismo sus-­ tentável e meio ambiente, e o mais recente, Responsabilidade So-­ cial: fundamentos e gestão.

Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/5937396816014363

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CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE NA MICRO E PEQUENA EMPRESA CÉLIA BRAGA Como implantar processos baseados na sustentabilidade socioambiental QD HPSUHVD" 3RU RQGH FRPH§DU" 4XDLV RV GHVDŹRV" Segundo Célia Braga, mestre em Controladoria e Contabilidade, e dou-­ toranda em Gestão de Empresas, a sustentabilidade deve envolver todos na empresa, do presidente ao chão de fábrica.

A P L I C A R A S U S T E N TA B I L I D A D E N A E M P R E S A S I G N I F I C A G A N H O S ECONÔMICOS? Sim, a sustentabilidade pode sig-­ nificar, no médio prazo, redução de custos, o que pode aumentar a mar-­ gem de lucro da empresa, ou reduzir o preço de venda e torná-­la mais competitiva no mercado. O concei-­ to de sustentabilidade também faz o produto ser mais competitivo. Se ven-­ de para um mercado diferenciado terá margem de lucro diferenciada pela categoria do seu público con-­ sumidor. Vale lembrar que os resulta-­ dos de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos/serviços e maté-­ rias-­primas consolidam-­se no médio e longo prazo. A ação, o operacional e o estratégico são contínuos, mas a inovação exige um tempo mínimo. VOCÊ CONSIDERA QUE EXISTE UM NOVO MERCADO CONSUMIDOR SE FORMANDO A PARTIR DA AMPLIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA SOBRE A ECONOMIA VERDE? Existe um novo mercado para os produtos verdes, com consumidores mais conscientes. Ainda que essa realidade não seja expressiva nos países mais populosos do mundo, porque se compra mais pelo custo que pela diferenciação do produto e pela consciência cidadã, cons-­ tatam-­se avanços desde a década de 90. As pequenas empresas precisam ter um diferencial competitivo no mercado para garantir a continui-­ dade das suas atividades.

As grandes empresas e os gover-­ nos que assumiram um compromisso de sustentabilidade vão querer, na sua cadeia de fornecedores, em-­ presas que atuem no mercado de forma sustentável A Micro e Pequena Empresa pode, também, ampliar seu mercado de forma a atuar em segmentos espe-­ cíficos, ganhando vantagem com-­ petitiva com a diferenciação. Ex.: produtos orgânicos.

COMO IMPLANTAR OS PROGRAMAS SOCIOAMBIENTAIS? As macroetapas são as mesmas em qualquer tipo de empresa: conhecer o modelo e o processo de gestão da empresa;; identificar o objetivo da empresa quando se propõe a as-­ sumir uma postura de empresa social e ambientalmente responsável, bem como o conceito de sustentabilida-­ de;; realizar o diagnóstico do marco ‘ zero’ da sustentabilidade;; definir com os gestores as ações estraté-­ gicas e apresentar uma proposta operacional, que, se aceita, deverá ser implantada com os respectivos ajustes. Tudo isso deve envolver to-­ dos na empresa, do presidente ao ‘chão de fábrica’. E, em seguida, es-­ tender-­se aos stakeholders externos.

VOCÊ PODERIA PROPOR UM PASSO-­A-­PASSO PARA A EMPRESA? Adquirir o conceito de sustentabi-­ lidade de forma individual (todos os

colaboradores), e consolidá-­lo na cultura e na estrutura organizacio-­ nal da empresa;; Comprometer os proprietários e os gestores com a importância da sustentabilidade para o negócio e para o mundo (e este mundo come-­ ça com cada pessoa da empresa e com a sua respectiva família);; Expandir esta cultura para fora da empresa por meio dos seus stakehol-­ ders prioritários (destacadamente: fornecedores, clientes e a comuni-­ dade);; Acompanhar as exigências do mercado consumidor;; Criar uma estrutura para o acom-­ panhamento dos indicadores;; Assumir o custo da implementação da Responsabilidade Social e Am-­ biental (RSA);; Assumir uma postura ética de Res-­ ponsabilidade Social e Ambiental (RSA) e não apenas de divulgação;; Ao se mostrar sustentável para o mercado, a empresa deve dar con-­ tinuidade às ações sustentáveis, e divulgá-­las sempre que possível, principalmente quando se tratar do seu relatório de sustentabilidade. As micro e pequenas empresas vão enfrentar desafios adicionais: A falta de recursos financeiros;; A carência de pessoas capacita-­ das para iniciarem os trabalhos;; e A decisão por uma mudança de cultura da empresa familiar ou Ltda., pois não há a cobrança externa dos investidores, como acontece com a empresa “sociedade anônima de capital aberto”.

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Caminhos para a sustentabilidade na empresa

“As grandes empresas e os governos que assumiram um compromisso de sustentabi-­ lidade vão querer, na sua cadeia de fornecedores, empresas que atuem no mer-­ cado de forma sustentável.”

NO QUE SE REFERE À CADEIA PRODUTI-­ VA, VOCÊ PERCEBE HAVER COBRANÇAS POR PROCESSOS OU PROCEDIMENTOS SOCIOAMBIENTAIS? Sim. Esse fato vai sendo ampliado à medida que as Micro e Pequenas empresas tornam-­se fornecedoras de grandes empresas (destacada-­ mente as que estão no mercado de capitais e publicam relatório de sustentabilidade). Essas grandes empresas costumam incluir cláusulas de compromisso com a sustentabi-­ lidade em contratos com fornece-­ dores e tratam sobre o tema nos relatórios de sustentabilidade no segmento de stakeholders e nos có-­ digos de conduta.

A COPA DO MUNDO DE 2014, NO BRASIL, DEMANDARÁ POSTURA SOCIOAMBIENTAL TAMBÉM PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS? PODERIA DAR EXEMPLOS NOS DI-­ VERSOS SETORES? Sim, certamente irá demandar. No setor de alimentos, por exemplo, pro-­ ceder a um descarte correto dos resíduos viabilizando a logística reversa. Buscar estimular a produção de alimentos sem agrotóxicos (destacada-­ mente frutas, verduras e legumes). Evitar os corantes e produzir alimentos frescos e típicos da culinária brasileira. No transporte de turistas, estimu-­ lar a redução no uso de combustíveis fósseis, seja pelo uso correto do equipamento – lotação e viagens programadas, bem como pelo uso de combustíveis de menor impacto. Educação ambiental deve acontecer nos hotéis, tanto em relação ao uso controlado dos recursos naturais, como por exemplo, evitando lavagens excessivas de roupas de cama e banho;; estimulando a redução no consumo de água e energia pelos hóspedes e funcionários;; orientando para o uso de materiais de limpeza que menos agridem ao meio ambiente. Sensores de presença podem vir a contribuir com a redução do consumo de energia. No setor de moda e confecções, utilizar tecidos de fibras naturais, ou mesmo de materiais recicláveis, como PET e bambu, bem como minimizar o uso excessivo de tintura e graxa devem ser práticas incorporadas. O governo e secretarias estatuais, juntamente com as empresas do setor de turismo, podem ajudar na comunicação para a sustentabilidade, orientando os turistas. UM RECADO PARA TODOS Apesar de tudo o que está sendo, foi e será estudado sobre o assunto, nada ocorrerá se cada pessoa que vive neste Planeta não tomar para si o compromisso de salvá-­lo. Afinal, para se conquistar algo “É preciso, antes de mais nada, querer.”, palavras de Amyr Klink, UOL (2012). 1

“As grandes empresas costumam incluir cláusulas de compromisso com a sustentabilidade em contratos com fornecedores.”

Célia Braga é graduada em Ciências Contábeis, mestre em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo e doutoranda em Gestão de Empresas na Universidade de Coimbra. Professora-­Assistente da Universidade Federal do Ceará e organizadora do livro Contabilidade Ambiental: ferramenta para a gestão da sustentabilidade. E-­mail: celiabragac@hotmail.com

Referência Bibliográfica 1

UOL (2012) Frases de Amyr Klink. Disponível em http://pensador.uol.com.br/frases_amyr_klink/

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ECONOMIA VERDE: UMA FORMA DE TRAZER A SUSTENTABILIDADE PARA UM PATAMAR DE OBJETIVIDADE MARIA ELISABETH PEREIRA KRAEMER O que é Economia Verde? Há ganhos de imagem por investir em gestão ambiental? Existe demanda para produtos “sustentáveis”? Como medir re-­ sultados? Segundo Maria Elisabeth Pereira Kraemer, mestre em Relações Econômi-­ cas Sociais e Internacionais, a Economia Verde é uma forma de trazer sus-­ tentabilidade para um patamar de objetividade que evidencia as vanta-­ gens econômicas e sociais, buscando crescimento econômico, empregos e renda, pesquisa e inovação tecnológica e qualidade ambiental.

HÁ GANHOS TANGÍVEIS PARA MICRO E PEQUENAS EMPRESAS QUE ADOTAM A GESTÃO AMBIENTAL? Sim. Identificando os custos am-­ bientais gerados pelas atividades e processos organizacionais, as em-­ presas podem estabelecer planos de ações de controle com o intuito de mitigar ou eliminar custos, melho-­ rando decisivamente a eficiência da utilização de recursos na orga-­ nização. O princípio da reciclagem pode representar uma boa fonte de renda para as empresas. A vantagem competitiva é obtida quando a em-­ presa apresenta custos mais baixos do setor. Segundo Faria (2000) um bom programa de gestão ambiental paga-­se sozinho em um prazo de 10 a 15 meses. SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA EMPRESA: VOCÊ PODERIA RELACIO-­ NAR ALGUNS BENEFÍCIOS PRÁTICOS? Os benefícios estão ligados à mudança comportamental -­ inclusi-­ ve de paradigmas -­, aprendizado e inovação organizacional. Podemos citar, dentre os benefícios econômi-­ cos: a abertura de novos mercados;; o aumento da contribuição marginal de “ produtos verdes” que podem ser comercializados com maior va-­ lor agregado;; mais facilidade para obtenção de financiamentos. Há ainda os benefícios estratégicos, tais como a renovação da carteira de produtos, o incremento da pro-­

dutividade, o alto comprometimen-­ to dos colaboradores e a melhoria das relações com os órgãos gover-­ namentais, comunidade e grupos ambientais. É ainda importante destacar pos-­ síveis alterações internas positivas na organização, e o aumento da satisfação e confiança dos clientes. COMO IMPLANTAR OS PROGRAMAS SOCIOAMBIENTAIS? A decisão de execução de pro-­ gramas socioambientais deve partir da alta direção, após adequação do per fil da empresa em consonân-­ cia com as normas da Responsabili-­ dade Social Ambiental (RSA), e le-­ vando em consideração os valores a serem despendidos. A organiza-­ ção deve estabelecer e manter pro-­ gramas para atingir seus objetivos e metas, passando pela atribuição de responsabilidades em cada função e nível pertinente, os meios a serem utilizados e o prazo dentro do qual eles devem ser atingidos. Havendo outros projetos relativos a novos empreendimentos, ativida-­ des ou produtos, novos ou modifica-­ dos, estes devem ser revistos para assegurar que a gestão ambiental se aplica a eles. (Barbiere, 2004). A quantidade de empresas que adotam modelos de gestão socio-­ ambiental tem aumentado no mundo todo. A execução de determinados programas, mesmo pelo seu cará-­ ter facultativo, contribui de forma

positiva para a empresa, enqua-­ drando-­se às exigências legais de preser vação ambiental, refletindo positivamente na organização e valorizando, por conseguinte, sua imagem. HÁ GANHOS ECONÔMICOS POR INVES-­ TIR NA GESTÃO AMBIENTAL? Sim. Há redução de custos via melhoria da eficiência dos proces-­ sos de utilização de matéria-­prima, água e energia elétrica. O proces-­ so de inovação de produtos, pos-­ sibilita aumento da fatia de parti-­ cipação no mercado e, ainda, há ganhos devido a utilização de ma-­ teriais que tenham sido reciclados. Percebe-­se que há aumento da demanda para produtos que con-­ tribuam para a diminuição da poluição e para a preser vação ambiental. Atualmente, face às ex-­ pectativas dos consumidores, eles estão cada vez mais informados e predispostos a comprar e usar pro-­ dutos de empresas que respeitam o ambiente. O fato de se interessar pela procedência e composição dos produtos representa um indica-­ tivo neste sentido.

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Economia Verde: sustentabilidade e objetividade O TEMA AMBIENTAL DO ANO GIRA EM TORNO DA ECONOMIA VERDE. O QUE DE FATO SIGNIFICA ESSE TERMO? O PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente define Economia Verde como “ uma economia que resulta em melhoria do bem-­estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz, signifi-­ cativamente, riscos ambientais e escassez ecológica”. De acordo com o PNUMA, uma transição para a Economia Verde não apenas reconhece e demonstra o valor do capital natural – como provedor de bem-­estar para a humanidade, como provedor de sustento para famí-­ lias carentes, e como fonte de empregos novos e decentes – mas também investe neste capital natural e o desenvolve para um progresso econômico sustentável. Neste sentido, uma Economia Verde gera empregos e melhora a igualda-­ de social, substitui os combustíveis fósseis por energias renováveis e tecno-­ logias de baixa emissão de carbono, oferece um estilo de vida urbana mais sustentável e uma mobilidade com baixa emissão de carbono. Diante do exposto, Economia Verde é uma forma de trazer sustentabili-­ dade para um patamar de objetividade que evidencia as vantagens eco-­ nômicas e sociais, buscando crescimento econômico, empregos e rendas, pesquisa e inovação tecnológica e qualidade ambiental.

“Economia Verde é uma forma de trazer sustentabilidade para um patamar de objetividade que evidencia as vanta-­ gens econômicas e sociais, buscando crescimento econômi-­ co, empregos e rendas, pesquisa e inovação tecnológica e qualidade ambiental.”

HÁ GANHOS DE IMAGEM POR INVESTIR NA GESTÃO AMBIENTAL? Sim. Percebe-­se que empresas que adotam práticas gerenciais adequadas de gestão ambiental conseguem obter melhoria da ima-­ gem da organização por parte de órgãos governamentais, consumi-­ dores, fornecedores, investidores e sociedade como um todo. O setor de marketing ou assessoria de im-­ prensa possui, também, papel pre-­ ponderante no sentido de difundir as ações e práticas adotadas pela empresa. OS CLIENTES PROCURAM POR PRODU-­ TOS DO BEM? Sim. Cada vez mais as pessoas procuram seguir um estilo de vida mais saudável e aderem aos chama-­ dos produtos do bem. São rotulados deste modo, produtos cultivados de forma orgânica, os integrais, natu-­ rais, além dos sustentáveis e intitula-­ dos ecologicamente corretos.

QUE DICAS VOCÊ DARIA PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO QUE SE REFERE A GANHOS DE MERCADOS SUSTENTÁVEIS? Há algumas ações que podem ser implantadas: um bom planejamen-­ to para melhoria do ambiente dos negócios e da qualidade de vida;; investir os ganhos em soluções de energia limpa;; em gestão, fator que impacta diretamente a produtivida-­ de dos negócios;; investimento em inclusão digital;; iniciativas de re-­ dução de poluição e de aumento da eficiência energética;; gerir os negócios, com eficiência, a partir da utilização do capital humano de forma adequada e manter normas e regulamentos adequados aos obje-­ tivos que se pretende alcançar.

“Empresas podem esta-­ belecer planos de ações de controle com o intuito de mitigar ou eliminar cus-­ tos, melhorando decisiva-­ mente a eficiência da uti-­ lização de recursos.”

COMO MEDIR RESULTADOS NA GESTÃO AMBIENTAL? Deve-­se estabelecer os indica-­ dores ambientais. Estes expressam informação útil e relevante sobre a atuação ambiental da empresa e sobre seus esforços pela influên-­ cia em tal atuação. São os cálculos específicos de um aspecto concre-­ to que possam ser utilizados para acompanhar e demonstrar o desem-­ penho. Os indicadores de meio ambien-­ te estão estreitamente associados aos métodos de produção e de consumo e refletem, frequentemen-­ te, intensidades de emissões ou de utilização dos recursos e suas ten-­ dências e evoluções dentro de um determinado período. Podem ser vir para evidenciar os progressos re-­ alizados, visando dissociar as ati-­ vidades econômicas das pressões ambientais correspondentes. Portanto, para que esses sejam calculados, Paiva (2003) diz que se faz necessário que a empresa divulgue algumas informações rela-­ tivas ao meio ambiente que ser virão como dados na geração de novas informações, que por sua vez trarão dados valiosos para decisões que envolvam a posição econômica da empresa em sua relação com o meio ambiente, afetando sua posição presente, mas, fundamentalmente, no futuro.

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Economia Verde: sustentabilidade e objetividade

E QUAIS INDICADORES DEVEM SER UTI-­ LIZADOS? Podemos partir de três indicadores: INDICADORES ABSOLUTOS – São indi-­ cadores que informam os dados básicos sem análise ou interpretação. Como exem-­ plo de um indicador absoluto, pode-­se citar o kg de reciclagem de alumínio. INDICADORES RELATIVOS – Ilustram a HŹFLªQFLD DPELHQWDO GD SURGX§£R 'H-­ monstram o comportamento ambiental de uma empresa em relação ao seu tamanho ou capacidade de produção. Demons-­ tram se as medidas ambientais dão lugar V PHOKRUDV GD HŹFLªQFLD INDICADORES DE EMPRESA, DE CEN-­ TRO DE TRABALHO E DE PROCESSO – Os indicadores ambientais podem referir-­se a diferentes equipamentos e, em conse-­ quência, podem ser obtidos a partir de dados de toda a empresa, de projetos ou centros individuais de trabalho, e de departamento ou processo de produção HVSHF­ŹFD Os indicadores determinados a partir dos processos de produção são apro-­ priados como instrumentos de planeja-­ mento, controle e supervisão para o de-­ SDUWDPHQWR HP TXHVW£R $ ŹP GH GHWHFWDU pontos fracos e iniciar rapidamente ações corretivas, é aconselhável determiná-­los a intervalos mais curtos, por exemplo, trimes-­ tralmente, mensalmente ou semanalmente.

PARA CONCLUIR, COMO IDENTIFICAR UMA EMPRESA AMBIENTALMENTE SUS-­ TENTÁVEL? Apesar de não ser uma tarefa fácil, podemos realizar a identificação por meio de algumas obser vações, como por exemplo: inexistência de notícias desabonadoras ou envolvi-­ mento com problemas relacionados à poluição;; funcionários valoriza-­ dos, motivados e exercendo as fun-­ ções com boas condições de traba-­ lho;; satisfatória relação via ações com a comunidade;; organização que atua em segmento produtivo voltado às questões sociais e cultu-­ rais é também indício considerável. Considera-­se, ainda, uma empresa ambientalmente sustentável, quando essa dispõe de produtos e/ou ser-­ viços considerados ecologicamen-­ te corretos ou que procura reduzir ou eliminar os impactos oriundos do processo produtivo;; possui o reco-­ nhecimento do público, legislado-­ res, clientes e fornecedores e pra-­ tica controle e ações preventivas que visam atender as necessidades humanas desta e das próximas ge-­ rações. Afinal, as reser vas naturais são finitas.

“Uma empresa é ambien-­ talmente sustentável, quan-­ do e ssa d ispõe d e p rodutos e/ou serviços considerados ecologicamente corretos ou que procura reduzir ou eliminar os impactos oriun-­ dos do processo produtivo;; possui o reconhecimento do público, legisladores, clientes e fornecedores e pratica controle e ações preventivas que visam atender as necessidades humanas desta e das pró-­ ximas gerações.”

Maria Elizabeth é mestre em Relações Econômicas Sociais e Internacionais pela Universidade do Minho, de Portugal. É con-­ tadora, professora e integrante da equipe de ensino e ava-­ liação na Pró-­Reitoria de Ensino da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). E-­mail: beth.kraemer@terra.com.br

Currículo lattes: HTTP://LATTES.CNPQ.BR/6610121454493187.

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SUSTENTABILIDADE NA PRÁTICA DA MICRO E PEQUENA EMPRESA CLAUDIO ANDRADE Há mercados e clientes para os “produtos do bem”? Como acessar este mercado? Qual a estratégia? Segundo Claudio Andrade, especialista em Comunicação e Sustentabi-­ lidade e Responsabilidade Social Empresarial, o mercado dos produtos ecologicamente e socialmente corretos está em franca expansão. A so-­ ciedade está mais preocupada com o meio ambiente e procura viver melhor e com mais saúde. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS PELA MICRO E PE-­ QUENA EMPRESA NO QUE SE REFERE À GESTÃO PARA A SUSTENTABILIDADE? Mudar o paradigma de gestão e acrescentar a preocupação com o meio ambiente. Vejo nas Micro e Pequenas Empresas (MPE) uma pre-­ ocupação legítima com a questão do lucro -­ fator de sustentabilida-­ de financeira. Portanto, inserir ou-­ tros processos de gestão estrutural, como substituição de equipamentos convencionais de alto consumo;; in-­ clusão de torneiras com fechamento automático;; formas alternativas para geração de energia, como exemplo, a solar, ou mesmo luz natural;; substi-­ tuição de lâmpadas convencionais por lâmpadas de baixo consumo;; separar e destinar resíduos reciclá-­ veis;; participar de programas com a comunidade local. Praticar essas ações pode parecer caro e fora do contexto das Micro e Pequenas Empresas, porém é pensar sob uma nova concepção do padrão de in-­ vestimento que, no decorrer do tem-­ po, se transformará em lucro.

NA SUA OPINIÃO, HÁ GANHOS POR IN-­ VESTIR NA GESTÃO AMBIENTAL? Os “ produtos verdes” são cada vez mais procurados pelo consumi-­ dor, o que permite às empresas que os oferecem, maior acesso aos mer-­ cados. Isto implica no desenvolvi-­ mento de pesquisa e inovação que, sem dúvida, traz imenso benefício para todos os envolvidos com o ne-­

“O termo ecoeficiência foi definido como “a compe-­ titividade na produção e colocação no mercado de bens e/ou ser viços que satisfazem às necessidades hu-­ manas, trazendo qualidade de vida, minimizando im-­ pactos ambientais e o uso de recursos naturais.” gócio. A centenária General Eletric (GE) possui um lema sensacional: green is green, que faz uma relação direta de causa e efeito de produtos sus-­ tentáveis e dólares. De acordo com a GE, (REVISTA EXAME: 26/03/2008) as vendas dos produtos verdes já superaram o faturamento de companhias como Google e Avon nos EUA, e representam uma parcela, cada vez maior, de receitas totais da GE com seu portfólio ecomagination: lucro de 1 bi-­ lhão de dólares por ano. O acesso a capitais é outro benefício prático, tendo em vista a transpa-­ rência que exigem as boas práticas de governança, atraindo investidores e crédito financeiro seguro. Outros pontos são: capacidade de adaptação, valorização da marca, atração e retenção de empregados mais motivados e comprometidos

“Os “ produtos verdes” são cada vez mais procurados pelo consumidor, o que permite às empresas que os ofe-­ recem, maior acesso aos mercados” E COMO A MICRO E A PEQUENA EMPRESA PODE COMEÇAR? PODERIA ELENCAR AL-­ GUMAS DICAS? Comece reunindo um grupo de trabalho. Crie um comitê de estudo sobre os impactos do seu negócio. Identifique os gaps na cadeia de valor e priorize questões conjuntas. Não se esqueça de contextualizar políticas e práticas desenvolvidas, isto é, a conformidade é elemento chave. Cada empresa tem uma personalidade própria e é quem decide como os recursos serão usados e onde o dinheiro será investido. Todavia, articular riscos, oportunidades e estratégias associadas ao setor de atuação, será um bom caminho a ser seguido. Comunique sempre o que faz, e como faz, e quais os produtos disso. A coerência na comunicação da sustentabilidade é fator preponderante nos programas socioambientais. Porte de empresa não faz diferença. A diferença está na liderança e na vontade dos interessados. Todavia, iniciar programas socioambientais, situ-­ ando questões críticas do setor em que atua, no plano anual de atividades, já será um grande passo. Por exemplo, programa de redução, reciclagem e

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Sustentabilidade na prática

reutilização numa loja de sapatos. Alguém já obser vou a quantidade de papel que é entregue ao clien-­ te, que rapidamente o descarta em casa: desde aquela bolinha den-­ tro do sapado, seda pra embrulhar, além das caixas e sacolas? Quando se multiplica esta quantidade, para o uso diário e anual, percebe-­se o impacto que pode vir a ser reduzi-­ do. E todo esse material será joga-­ do fora. Como disse, cada empresa é úni-­ ca, mas vale a pena destacar algu-­ mas dicas que ser vem como reflexão para começar a busca pela susten-­ tabilidade: procure seguir as maiores empre-­ sas do setor. Se envolva com um tema e busque cooperação na ca-­ deia de valor;; crie novos mercados. É tarefa de todos na empresa pensar em novos produtos;; torne o diálogo com os emprega-­ dos um hábito;; assuma, publicamente, sua estraté-­ gia verde;; invista em equipamentos de con-­ tenção de energia e água. Pode custar caro, inicialmente, mas rapi-­ damente o ganho aparece na conta do mês;; crie programas de redução de resíduos. Entre na luta contra as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE);; participe de programas voluntá-­ rios como diferencial conceitual da organização;; cumpra as leis estabelecidas e tenha conduta transparente base-­ ada na prestação de contas. Esse é o comportamento esperado pela sociedade;; a sustentabilidade de uma empre-­ sa não depende do seu tamanho.

“Porte de empresa não faz diferença. A diferença está na liderança e na vontade dos interessados.”

NA SUA OPINIÃO, HÁ MERCADO E CLIEN-­ TES PARA OS “PRODUTOS DO BEM”? O mercado dos produtos ecolo-­ gicamente e socialmente corretos está em franca ascensão. A socie-­ dade está cada vez mais preocupa-­ da com o meio ambiente e procura viver melhor, com mais saúde. Uma pesquisa, realizada com 5000 entrevistados, em sete países (Alemanha, Brasil, China, Estados Unidos, França, Índia e Reino Uni-­ do), revela que 94% dos consumi-­ dores preferem comprar produtos de uma empresa associada ao meio ambiente. Portanto, podemos con-­ cluir, sim, que o vínculo com o tema potencializa o conceito de marca e a reputação empresarial. Todavia, e apesar dos dados aci-­ ma, creio que a demanda ainda é limitada nas classes mais populares, seja por falta de informação ou pelo preço superior aos produtos tradi-­ cionais. Mas a tendência é uma mudança qualitativa no padrão de compra do consumidor. Um desafio para o marketing será lidar com o fim da era do descartável e o começo (ou retorno) do bem durável.

ő8P GHVDŹR SDUD R PDUNHWLQJ VHU¡ OLGDU FRP R ŹP GD HUD GR descartável e o começo (ou retorno) do bem durável.” ECONOMIA VERDE: EM QUE CONSISTE? Os princípios da Economia Verde atendem ao conceito da sustenta-­ bilidade de forma prática integran-­ do pessoas, planeta e negócios. Na Economia Verde, todos ganham: a empresa, em competitividade e re-­ putação, pois atende uma demanda que não existia antes;; o mercado, com a expansão do comércio de produtos ecoeficientes;; a socieda-­ de, em qualidade de vida, e o Pla-­ neta, com a redução do nível de carbono. Segundo o World Business Council for Sustainable Development, o ter-­ mo ecoeficiência foi definido como “a competitividade na produção e colocação no mercado de bens e/ ou ser viços que satisfazem às neces-­ sidades humanas, trazendo qualida-­ de de vida, minimizando impactos ambientais e o uso de recursos na-­ turais”. Com isso, a reflexão a fazer é sobre os processos de produção, desde a matéria-­prima ao descarte, principalmente sob o aspecto do planejamento estratégico, que en-­ volverá competência profissional.

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Sustentabilidade na prática VOCÊ PERCEBE HAVER COBRANÇAS POR PROCESSOS OU PROCEDIMENTOS SOCIO-­ AMBIENTAIS NA CADEIA PRODUTIVA? Não vamos generalizar, mas existem, sim, bons exemplos de atitudes de empresas âncoras em associar suas condutas à cadeia produtiva. Um caso bem conhecido é do Wal-­Mart, que determinou que até 2013 todos os seus fornecedores deverão diminuir em 5% o tamanho de suas embalagens – medida que deve reduzir o lixo e gerar economia de 3,4 bilhões de dólares para a empresa. A Procter & Gamble desenvolveu o detergente em pó Ariel Oxiazul Ecomax, que faz menos espuma e, por isso, exige menos água no enxague das roupas e sua granulação mais densa também permitiu redução de cerca de 15% no volume da embalagem. As empresas têm se movimentado, inovando em produtos e processos, criando tecnologias capazes de reduzir o impacto ambiental e mudar o paradigma da economia, mas isso não é tudo. Falta de outro lado, centralidade política de governo que articule um projeto nacional como referência básica aos empreen-­ dedores desejosos de um posicionamento estratégico nesse novo mercado de “produtos verdes”. Há oportunidade de crescimento porque todas as empresas estão buscando soluções ou vínculos com outras empresas para atender necessidades comerciais. QUE DICAS VOCÊ DARIA PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, NO QUE SE REFE-­ RE A GANHOS DE MERCADOS SUSTENTÁVEIS? Potencializar investimento, estrategicamente, alinhado a outras empresas com os mesmos objetivos, principalmente na adequação de operações. A cooperação é íntima da competitividade. Veja o exemplo da serraria que só compra madeira de fornecedor certificado (madeira de reflorestamento) e vende suas apararas para construção de briquetes para queima em for-­ nos e caldeiras. Esse ciclo virtuoso precisa apenas do entendimento sobre a cadeia de valor para obter resultados práticos socioambientais. SUSTENTABILIDADE E COPA DO MUNDO: O QUE PODE FAVORECER PARA A MICRO E PEQUENA EMPRESA ESTA UNIÃO DE CENÁRIOS? A copa do mundo será um grande momento para o Brasil. Será uma gran-­ de oportunidade que nosso país terá para mostrar que é capaz de unir crescimento econômico e desenvolvimento social. Todos os setores serão envolvidos: agronegócio, comércio varejista, construção civil, madeira e móveis, economia criativa (artesanato, gastronomia, entretenimento etc.), moda (têxtil e confecção), ser viços, tecnologia da informação, comunica-­ ção e turismo. O SEBRAE (Ser viço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) listou mais de 930 oportunidades de negócios para a MPE na copa do mundo, em seu programa SEBRAE 2014: são nove áreas de estudo e atuação nas 12 cidades-­ sedes, em todas as regiões do Brasil.

Só no comércio varejista são 23 funções que abrangem alimentos e bebidas, artigos de uso pessoal, material esportivo, veículos e auto-­ peças, até a moda. Quer um exem-­ plo? Entre as diversas iniciativas, buscando a redução da emissão de GEE, estão projetos de mobilidade urbana, como transporte de torce-­ dores para os estádios em que a logística e a utilização de veículos leves (biocombustível ou eletrici-­ dade) poderá, substancialmente, diminuir o acúmulo de veículos nos trajetos e reduzir poluentes. COMO IDENTIFICAR UMA EMPRESA AM-­ BIENTALMENTE SUSTENTÁVEL? Deve-­se observar se as empre-­ sas possuem postura proativa de relacionamento, facilidade de co-­ municação e canais de informação acessível. Geralmente, publicam seus resultados e tem apreço público. Conhece e administra seus impac-­ tos, baseados em valores da vida em sociedade e contribuem com as pau-­ tas públicas. Geralmente, são reco-­ nhecidas como líderes de mercado pela atuação econômica e social. Por exemplo, um shopping que usa iluminação natural ou lâmpadas LED, espaços amplos com boa ventilação e pouca ou nenhuma utilização de ar-­condicionado, paisagismo gene-­ roso, equipamentos de redução de consumo de água e energia nos ba-­ nheiros, pisos porosos para escoa-­ mento e captação de água de chu-­ va, campanha interna de reciclagem de lixo nas áreas de alimentação, são alguns indicativos de empresa ambientalmente sustentável.

“A cooperação é íntima da competitividade.” Claudio Andrade é relações públicas e atua em Comunicação e Sustentabilidade. É consultor da Rellato e Coaching para Sustentabilidade. Mestre em Propagan-­ da e Relações Públicas pela Universidade de São Paulo (USP);; possui extensão em Responsabilidade Social Empresarial pelo Instituto Ethos e em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Líbero. É facilitador dos Indicares Ethos e Global Reporting Initiative, como mecanismos de planejamento estratégico da sustenta-­ bilidade. Participa do Movimento da Responsabilidade Social Empresarial, como instrutor do UNIETHOS, desde 2004. Membro da comissão julgadora do Prêmio Amcham de Responsabilidade Social Empresarial. Professor de pós-­graduação na Pontifícia Universidade Católica (PUC-­COGEAE) e no Mackenzie. Palestrante no tema da incorporação da Responsabilidade Social Empresarial. Atualmente, é co-­ ordenador do curso de pós-­graduação Indicadores para a Sustentabilidade, no Centro Universitário SENAC – Jabaquara. E-­mail: claudio.jose.andrade@terra.com.br

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A NECESSÁRIA ECONOMIA VERDE

CLAUDIO BOECHAT Como ajudar a Micro e Pequena Empresa a inserir-­se na Economia Verde? 4XDLV V£R RV SULQFLSDLV GHVDŹRV" Segundo o especialista em Engenharia Econômica, Claudio Boechat, a Economia Verde representa a retomada das atividades econômicas e a força de mercado, que irá favorecer as empresas de todos os portes.

COMO A MICRO E PEQUENA EMPRES TEM SE INSERIDO NOS PROCESSOS DE SUSTENTABILIDADE? Há Micro e Pequenas Empresas (MPE) que já estão inseridas na ca-­ deia de produção. Essas estarão submetidas às vontades das grandes corporações. Desta forma, para al-­ cance da sustentabilidade, há de se estabelecer, na grande empresa, po-­ líticas socialmente justas e ambien-­ talmente corretas. Caso contrário, haverá transferência de responsabi-­ lidades e dificuldade de sobrevivên-­ cia dos fornecedores. As demais Micro e Pequenas Em-­ presas, que se encontram na ponta da cadeia produtiva, estão mais submetidas ao ponto de vista e desejo do consumidor. Para estes casos, é necessário ampliar o co-­ nhecimento, e estabelecer tributos adequados que contribuam com a contabilidade ambiental. A mudança de comportamento será sistêmica. Há necessidade de levar às Micro e Pequenas Empresas mais informações sobre as tendências globais, e como as Micro e Peque-­ nas Empresas podem chegar a essas tendências de sustentabilidade, am-­ pliando suas ofertas e estabelecen-­ do um crescimento constante.

“A Economia Verde será um dos caminhos para reto-­ mada das atividades eco-­ nômicas em muitos países.”

NA SUA OPINIÃO, COMO A ECONOMIA VERDE SE CONSOLIDARÁ? Não será somente um caminho, ou só uma dimensão. Há vários cami-­ nhos a percorrer. Nos países avan-­ çados, é preciso reduzir a Pegada Ecológica, refazer os processos de produção, e gerar produtos de me-­ nor impacto. A forma de funcionar da sociedade irá mudar para pa-­ drões de consumo e uso de recursos naturais mais adequados. Vários países já avançam neste sentido, investindo em energia solar ou sistemas eólicos. Com tudo isso, a Economia Verde será uma grande reativadora do crescimento econô-­ mico, nos países avançados. Já, nos demais países, ela poderá viabilizar a inclusão social, por meio da gera-­ ção de emprego e renda, de forma a estimular a ascensão das classes mais baixas. Haverá diferentes pa-­ drões de inserção da Economia Ver-­

de nos países. No Brasil, por exem-­ plo, a Política Nacional de Resíduos Sólidos cria possibilidades para o empreendedor individual, para a Micro e Pequena Empresa, para as médias e grandes corporações. Ha-­ verá mecanismos nacionais e políti-­ cas públicas que irão permitir novas formas de fazer negócios. Ativida-­ des de baixo impacto ambiental, econômicas e lucrativas deverão ser privilegiadas. Estudos do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-­ nômico e Social (BNDES), por exem-­ plo, mostram que aplicar dinheiro no reflorestamento da Mata Atlântica gera empregos. Políticas públicas, como o “Minha Casa Minha Vida”, podem ser altamente inclusivas, pois gerar empregos, ativar o comércio, construir moradia é inclusão. Crité-­ rios para projetos e materiais mais sustentáveis, entretanto precisam ser estabelecidos e cobrados. Não há, ainda, conhecimento ou cum-­ primento das normas e leis. Estamos aprendendo ao mesmo tempo em que temos que fazer. É preciso redu-­ zir a Pegada Ecológica, refazer pro-­ cessos de produção, gerar produtos de menor impacto.

“A Economia Verde será uma grande reativadora do crescimento econômico nos países avançados.”

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A necessária Economia Verde ESTAMOS TODOS INTERLIGADOS NO PLANETA. COMO CONVENCER PARA A MUDANÇA COLETIVA? A dimensão da governança global requer esforços. A grande dificulda-­ de está nos interesses sectários dos países, que não se coadunam. A necessária mudança exigirá adap-­ tação de todos. Para alguns seto-­ res, os negócios e as possibilidades se ampliarão. Para quem tem olhar empreendedor, surgirão importan-­ tes brechas a serem preenchidas. As Confederações, Federações, Sindi-­ catos e demais entidades de classe já entram na demanda para mobi-­ lizar setores para a gestão basea-­ da na Economia Verde, tornando-­se assim conectores junto às empresas e governo.

“A Política Nacional de Re-­ síduos Sólidos cria possibili-­ dades para o empreendedor individual, para a Micro e Pe-­ quena Empresa, para as mé-­ dias e grandes corporações. ”

HÁ GANHOS TAMBÉM PARA A MICRO E PEQUENA EMPRESA? Muitas pessoas ainda têm uma visão embotada sobre os ganhos do desenvolvimento sustentável. É preciso ampliar a capacidade per-­ ceptiva das pessoas, sobretudo dos empresários. Há uma falsa crença de que é difícil para o empresário in-­ vestir na Economia Verde. Na verda-­ de, existem grandes oportunidades surgindo a partir desta busca global pela mudança. Novas cadeias pro-­ dutivas, novas demandas, e novos tipos de trabalho serão formados, sendo privilegiados aqueles que

“É preciso reduzir a Pe-­ gada Ecológica, refazer processos de produção, gerar produtos de menor impacto.”

atendam às demandas contemporâ-­ neas. Por exemplo, recentemente, no Brasil, estabeleceu-­se a figura do Empreendedor Individual, antes tra-­ balhadores informais, e que podem inserir-­se nestas novas cadeias de produção. O que diferencia o bom empreendedor é exatamente a sua capacidade de perceber deman-­ das, antecipando suas ofertas. E na atividade do pequeno empreende-­ dor, as possibilidades de inovação são mais ágeis que na grande cor-­ poração.

“Novas cadeias produ-­ tivas, novas demandas, e novos tipos de trabalho serão formados, sendo privilegiados aqueles que atendam às demandas contemporâneas.”

VOCÊ CONSIDERA QUE A ECONOMIA VER-­ DE É ALGO REAL E VIÁVEL PARA O BRASIL? Não é uma questão de discutir se é viável ou não. Por necessária, ela se viabilizará. A Economia Verde será um dos caminhos para retoma-­ da das atividades econômicas, em muitos países. Temos uma dicotomia na forma como a humanidade fez o desenvolvimento econômico, pois levou a sociedade humana a sepa-­ rar o desenvolvimento humano dos limites do meio ambiente. Temos países, muito avançados, com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), porém com alta Pe-­ gada Ecológica (diz respeito à re-­ lação entre as áreas produtivas que possui, e sua necessidade de recur-­ sos para produzir os produtos, bens e ser viços para aquela nação). Em outro extremo, os países com bai-­ xo IDH possuem Pegada Ecológica dentro dos limites. O primeiro desa-­ fio do Planeta, no momento, é trazer a forma de vida dos mais avança-­ dos para uma pegada dentro dos limites, sem perder o IDH. O segundo é elevar o IDH dos demais países por meios que não aumentem sua Pegada Ecológica.

“O que diferencia o bom empreendedor é exatamente a sua capacidade de perceber demandas, antecipan-­ do suas ofertas.”

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A necessária Economia Verde QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESAFIOS NA ECONOMIA VERDE? Fazer a inclusão de forma susten-­ tável é o grande desafio do Brasil. Há, ainda, muito desconhecimento e baixa adesão. Há decisões, entre-­ tanto, urgentes, tais como diminuir as diferenças na distribuição da rique-­ za e reduzir as perdas no processo por corrupção. O Brasil está num mo-­ mento de seu processo histórico, em que apresenta as melhores oportu-­ nidades para vencer esses desafios. Vivemos e saímos de uma crise eco-­ nômica antes da Europa, que vive a sua, neste momento. Devemos buscar, assim, ordenamento da governança pública, tornando-­a adequada em relação à gestão financeira. Temos condições que nos colocam diferen-­ ciados. Com isto, a partir dessa pla-­ taforma, podemos construir um país sustentável. Estradas, água limpa, moradia, nichos ecológicos, produ-­ ção de alimentos;; são vários os de-­ safios, mas positivos, no sentido de estimular o empreendedorismo de maneira geral. E temos que pensar nisto de forma sustentável. Pensar nas forças de mercado. Compreender como avançar, de acordo com os princípios da Economia Verde, deve ser a meta. E deve-­se lembrar que a governança internacional vai forçar esta mudança.

VOCÊ FALOU DAS FORÇAS DE MERCADO. QUAIS SERIAM? Deve-­se obser var que o consumidor ainda não cobra efetivamente a sus-­ tentabilidade das empresas. Desta forma, deve-­se estimular o setor produ-­ tivo. O estabelecimento de tecnologias sustentáveis exige sabedoria. A primeira força diz respeito à oferta de empregos que viabilizem processos tecnológicos e produtos ecoeficientes. Esses devem acontecer tanto na máquina pública, quanto nas empresas, numa proporção alta de ofertas nas empresas. A atividade privada deve prover oportunidades de empregos. A segunda diz respeito ao empreendedorismo. O empreendedor deve ter espaço para atender à demanda e passar a ser um gerador de empregos da Economia Verde. Para tanto, há de se reforçar o microcrédito às Micro e Pequenas Empresas, bem como preparar o capital intelectual. Na terceira força, o consumo, deve-­se focar na mudança junto aos setores voltados para atender as necessidades básicas, tais como alimentação, educação, saúde e outros. Os preços dos ser viços ou produtos, devem passar a in-­ cluir o custo de suas externalidades, dentro de uma contabilidade social e ambiental. Já a quarta força, a propriedade dos meios de produção, hoje se apresenta muito concentrada nos grandes investidores, que absor vem a riqueza gerada nas empresas e grandes corporações. Deve-­se buscar estruturar os mercados de produção e distribuição de forma mais sustentá-­ vel, viabilizando que mais MPE possam fazer parte da oferta na economia verde. E por último, tributos também serão necessários para estimular as mudanças, com foco na contabilidade ambiental.

“O empreendedor deve ter espaço para atender à de-­ manda e passar a ser um gerador de empregos da Eco-­ nomia Verde. Para tanto, há de se reforçar o microcrédi-­ to às Micro e Pequenas Empresas, bem como preparar o capital intelectual.”

Claudio Boechat é especialista em Engenharia Eco-­ nômica e professor e pesquisador do Núcleo Petro-­ brás de Sustentabilidade, da Fundação Dom Cabral (FDC). É representante da FDC no Comitê Brasileiro do Pacto Global e na Globally Responsible Leader-­ ship Initiative, da Fundação Europeia para o Desen-­ volvimento da Gestão. Representou o Brasil na força tarefa de criação dos Principles for Responsible Busi-­ ness Education Taskforce, do Global Compact -­ Na-­ ções Unidas.


A SUSTENTABILIDADE AO ALCANCE DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

JOANA BICALHO Como envolver, no dia a dia, a Micro e Pequena Empresa nos processos para o Desenvolvimento Sustentável? O consumidor já consegue iden-­ WLŹFDU SURFHVVRV H SURFHGLPHQWRV VXVWHQW¡YHLV LQVHULGRV QDV HPSUHVDV" Como introduzir ações socioambientalmente corretas? Joana Bicalho, doutora em Economia e mestre em Planejamento e Gestão Ambiental, mostra que a sustentabilidade é um bom negócio para todos, e que a partir das pequenas atitudes, é possível obter ganhos econômi-­ cos, sociais e ambientais.

INVESTIR EM PROCESSOS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL REPRESENTA GANHOS PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS? A sustentabilidade é um bom negócio para todas: Micro e Pequenas empresas, bem como para as médias e grandes corporações. Hoje, já se sabe que investir na gestão ambiental significa ganhos econômicos a médio e longo prazo, pelas seguintes razões: -­ Reduz a taxa de desperdício, que gira em torno de 40%, dos recursos utilizados: papel, energia, água, combustível e outros. -­ Estabelece processos e procedimentos dentro de um olhar sistêmico, no qual se pretende avaliar a real necessida-­ de de determinadas etapas na produção e distribuição. Neste momento, conquista-­se uma gestão mais eficaz, favore-­ cendo a redução de recursos durante os processos. -­ Sensibiliza os funcionários para as questões de responsabilidade individual com o Planeta. -­ Elimina o uso desnecessário de processos antes necessários, e nos tempos modernos, muitas vezes sem importância, como exemplo a impressão de documentos internos, hoje, facilmente substituídos por registros virtuais ou eletrônicos. -­ Alcança melhores resultados baseados em tecnologia ecoeficientes, como exemplo as lâmpadas e equipamentos de menor consumo de energia, ou mesmo optando pela iluminação natural, mediante, por exemplo, a abertura de uma janela eliminando a necessidade de luz artificial e ar-­condicionado. -­ Reavalia o processo logístico de distribuição. Aproveita os transportes realizados pela utilização de sua capaci-­ dade máxima, ou mesmo privilegia fornecedores ou clientes da redondeza. -­ Leva em conta que a logística reversa (a devolução dos inservíveis tais como embalagens, restos de materiais uti-­ lizados, entre outros) pode abastecer mercados secundários, como, por exemplo, aqueles mercados que se utilizam de matéria-­prima reciclada para produzir novos produtos. É o caso das garrafas pet, que são transformadas em vassouras. Todas essas ações, com foco no ambiental, de fato, representam ganhos econômicos para a empresa.

“Aos poucos, os consumidores vêm ampliando o conhecimento a respeito do impacto que as empresas, governo e indivíduos causam ao meio ambiente.”

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Este termo foi apresentado pela primeira vez no Relatório Brundtland – Nosso Futuro Comum, em 1987, com divulgação ampliada a partir da Eco 92. Trata-­se de “ procurar satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”. Exige uma atuação baseada na sus-­ tentabilidade social, ambiental e econômica.

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A sustentabilidade ambiental ao alcance da empresa COMO VOCÊ VÊ A SUSTENTABILIDADE NO PEQUENO VAREJO BRASILEIRO? AIN-­ DA É UM CONCEITO DISTANTE NESSES NEGÓCIOS? A tendência é que grandes bancos não mais venham a emprestar dinhei-­ ro a empresas (nem mesmo às Micro Empresas), se essas não incluírem, no Plano de Negócio, os aspectos so-­ ciais e ambientais que introduzirão e controlarão na empresa. Da mesma forma, a comprovação de uma ges-­ tão baseada nos critérios sociais e ambientais, além dos econômicos, viabiliza melhores taxas de juros, ou de investimentos. Portanto, a gestão ambiental passa a ser condição bási-­ ca para a Micro e Pequena Empresa se manter num mercado concorrencial. Por outro lado, as grandes corpo-­ rações, muitas vezes abastecidas pelos produtos e serviços das Micro e Pequenas Empresas, possuem me-­ tas socioambientais, sobretudo nas exportações. Neste sentido, passam a exigir de seus fornecedores, muitos deles MPE, comprovação de atendi-­ mento a requisitos mínimos, sociais e ambientais. Em breve, o balanço so-­ cial será exigido de maneira mais en-­ fática, também às Micro e Pequenas Empresas.

“Não se pode, retirar do meio ambiente mais do que a natureza consegue produzir.”

O CONSUMIDOR PERCEBE A EMPRESA QUE POSSUI PROCESSOS E PROCEDI-­ MENTOS ECOEFICIENTES? Aos poucos, os consumidores vêm ampliando o conhecimento a respei-­ to do impacto que as empresas, go-­ verno e indivíduos causam ao meio ambiente. Avançam em informações sobre possibilidades ecoeficien-­ tes. Recebem, nos diferentes meios de comunicação (inclusive virtuais, como emails, Twitter, Facebook entre outros), denúncias de empresas que

“A adaptação das empre-­ sas aos processos de ges-­ tão, com base no tripé da sustentabilidade (gestão social – gestão econômica -­ gestão ambiental), parece ser algo irreversível.” causam forte impacto em detrimento da saúde do Planeta Terra. Com tudo isso, a adaptação das empresas aos processos de gestão, com base no tripé da sustentabili-­ dade (gestão social – gestão eco-­ nômica -­ gestão ambiental), parece ser algo irreversível. Ressalta-­se, ainda, que a gestão ambiental torna o cenário da em-­ presa mais eficiente, estabelece indicadores de sucesso, e alcança maior rentabilidade econômica em função da minimização do desper-­ dício de energia e recursos dos processos e procedimentos.

POR QUE É IMPORTANTE UM VAREJISTA, SEJA ELE PEQUENO OU GRANDE, PENSAR NO ASSUNTO SUSTENTABILIDADE? A empresa, por fazer parte do se-­ gundo setor da economia, não pos-­ sui missão filantrópica. Nem deve possuir. Essa, cabe às organizações do terceiro setor. Ao segundo setor, cabe girar capital e promover o de-­ senvolvimento. Entretanto, é impor-­ tante ressaltar que a responsabili-­ dade com os atos e seus resultados é exigência para todos os setores -­ inclusive para o segundo setor. Não se pode retirar da nature-­ za, da sociedade, sem viabilizar um retorno justo e igualitário. Não se pode, neste raciocínio, retirar do meio ambiente mais do que a natu-­ reza consegue produzir e, da mesma forma, descartar o que não mais nos interessa, sem levar em conta a ca-­ pacidade da terra de receber esse descarte (a ela também não inte-­ ressa todo este lixo que não mais queremos). O relatório O Estado do Mundo -­ PNUD, 2010, mostra que já

estamos retirando da natureza 35% a mais de recursos naturais do que a velocidade do planeta de recom-­ posição. Numa conta simples, percebe-­se ser inviável o crescimento econômi-­ co, sem levar em conta um desenvol-­ vimento sustentável, em que se tra-­ balha hoje, para garantir recursos naturais para o futuro próximo. Alem de empresários, somos filhos, pais ou avós. Precisamos acordar para a realidade de que nossos atos de hoje refletem diretamente na qualidade de vida de nossos

“A gestão ambiental torna o cenário da empresa mais eficiente, estabelece indi-­ cadores de sucesso, e al-­ cança maior rentabilidade econômica.” parentes, num futuro próximo. Esta-­ mos transformando nossos ambientes naturais e reduzindo, sem nos dar-­ mos conta, a qualidade de vida no nosso Planeta.

“A responsabilidade com os atos e seus resultados é exi-­ gência para todos os setores.”

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A sustentabilidade ambiental ao alcance da empresa “Percebe-­se ser inviável o crescimento econômico, sem levar em conta um desenvolvi-­ mento sustentável, em que se trabalha hoje, para garantir recursos naturais para o futuro próximo.”

PODERIA DAR OUTRAS DICAS DE SUSTENTABILIDADE APLICADAS ÀS MICRO E PEQUE-­ NAS EMPRESAS? Cada empresa deve contextualizar seu plano de gestão ambiental. A par-­ tir de um diagnóstico do impacto que causa, deve-­se estabelecer metas, com prazos e controle de resultados. Pense em tudo o que entra na empresa (INPUT), na forma com que os processos são realizados, e em tudo o que a empresa gera de descarte (OUTPUT). Então, verifique se, e quanto há de impacto ambiental para que todo o processo se realize. A partir desse estudo, as ações podem ser estabelecidas e acompanhadas.

OUTRAS DICAS* : Opte por embalagens recicláveis, elas serão reutilizadas no futuro como matéria-­prima de outros ma-­ teriais. Agregue um brinde sustentável às embalagens do seu produto. Uma ecobag, por exemplo. Para a confecção do seu produto, escolha matéria-­prima que foi reciclada ou que tenha algum selo que comprove a responsabilidade socioambiental. Substitua a produção industrializada, na medida do possível, por produção artesanal, incluindo pes-­ soas no mundo do trabalho. Quando for armazenar seu produto em um recipiente, certifique-­se de preencher todo o compartimento da embalagem com o seu produto, a fim de evitar espaços desnecessários e mais descartes de recipien-­ tes. Cobre isso, também, de seus fornecedores. Mensagens de conscientização ambiental podem ser impressas nos rótulos do seu produto. Utilize alumínio reciclado na confecção de embalagens. Utilize embalagens retornáveis e refis. Elas contribuirão para diminuir a quantidade de descarte e para cortar gastos da empresa. Agregue um pequeno manual de práticas sustentáveis (com folhas recicláveis) ao seu produto. Opte por matérias-­primas vegetais na confecção do seu produto. Evite matéria-­prima de origem animal. Comercialize produtos provenientes de ONGs ou outras empresas sustentáveis da sua comunidade. Empresas que trabalham com comércio de carnes podem optar por fornecedores que comprovem que o produto não é proveniente de fazendas alocadas em áreas desmatadas. Quando o uso de embalagens plásticas for realmente necessário doe, após o uso, para uma coope-­ rativa de reciclagem. Não descarte o óleo proveniente da fritura de alimentos. Existem empresas que utilizam este insumo para fazer outros produtos, como sabão e detergente. Empresas de limpeza podem reutilizar a água da lavagem de panos para fazer a limpeza do chão.

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A sustentabilidade ambiental ao alcance da empresa INCLUA PRÁTICAS DE GESTÃO COM FOCO NO TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE: ECONÔMICO, SOCIAL E AMBIENTAL.

Trabalhe com desconto para pessoas que participam de projetos susten-­ táveis. Ofereça uma promoção em que, na compra de uma ecobag, o consumi-­ dor ganhe desconto no preço de determinado produto. Crie um cartão de fidelidade sustentável. A cada dez compras realizadas com uma ecobag, o cliente recebe abatimento nos preços dos produtos. Desenvolva um programa de pontos que atrele atitudes sustentáveis a benefícios ou condições especiais de pagamento. Ofereça algum benefício para clientes que optarem por embalagem refil em vez das embalagens convencionais. Trabalhe com coleta de pilhas e baterias. Dê preferência a acordos comerciais com fornecedores que mantêm ações sustentáveis. Conceda descontos escalonados para produtos com selo sustentável, ou seja, quanto mais produtos o cliente comprar, maior é o desconto. Faça ações de desconto relâmpago com produtos sustentáveis em dias de maior movimento. Desenvolva ações de preços especiais para revendedores que se com-­ prometam a adotar medidas sustentáveis compatíveis com as políticas da sua empresa. Negocie com os fornecedores um preço especial para os produtos am-­ bientalmente responsáveis e repasse o desconto ao consumidor. Ofereça em troca espaço para que o fornecedor divulgue o seu produto. Faça acordo com empresas que trabalham com produtos sustentáveis, fornecendo seu espaço para que elas possam fazer divulgação de sua marca e, em contrapartida elas reduzam seus preços para serem comercia-­ lizados com os seus clientes. Ofereça maior número de parcelas para clientes que comprarem acima de X produtos sustentáveis. Indique um amigo para fazer o cartão fidelidade sustentável. A cada amigo indicado, o cliente ganha um desconto nos produtos do estabele-­ cimento. Faça parceria de exclusividade com alguma empresa de produtos sus-­ tentáveis. Crie o “Dia Sustentável ” no seu negócio. Nesse dia promova uma liquida-­ ção nos preços dos produtos sustentáveis que são comercializados pelo seu estabelecimento. Contribua com a arte e a sustentabilidade em uma só ação. Selecione artistas que trabalhem com materiais recicláveis para comercialização des-­ ses produtos. Em contrapartida, eles baixam o preço para seus clientes em relação aos praticados anteriormente. Faça um ranking com os maiores compradores de produtos sustentáveis do seu negócio. Ao final do ano, os cinco primeiros receberão o privilégio de ter um grande desconto nas compras durante um ano inteiro. Faça anúncios em sites de compras coletivas de produtos sustentáveis com um bom desconto. Os funcionários da empresa que fizerem a promoção dos produtos sus-­ tentáveis do seu negócio, ganharão desconto para aquisição de bens e ser viços do seu estabelecimento. Faça um abatimento nos preços de produtos sustentáveis em datas co-­ memorativas que favoreçam o seu negócio, como o Dia das mães, Dia das crianças, Dia mundial da água e outros. Ofereça descontos para os funcionários da sua empresa caso eles admi-­ nistrem os recursos naturais utilizados no seu negócio (água, luz, resíduos plásticos e outros). Negocie com seus fornecedores: a cada 3 embalagens devolvidas pelo cliente, será concedido um desconto de X%.

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A sustentabilidade ambiental ao alcance da empresa A DIVULGAÇÃO DOS SEUS PRODUTOS, BENS E SERVIÇOS, TAMBÉM PODE SER GERADORA DE POLUIÇÃO E LIXO. AS PRÁTICAS ABAIXO ENSINAM COMO COMUNICAR O SEU NEGÓCIO REDUZINDO OS IMPACTOS AO MEIO AMBIENTE:

Explore mais a internet como meio de divulgação, assim você evitará desperdício de papel e produção de resíduos. Troque o velho e ultrapassado panfleto pelo e-­mail marketing. Mas, antes, certifique-­se do interesse do cliente em receber esse tipo de mensagem. Propagandas realizadas em mídias sociais também contribuem muito com a redução de lixo gerado pelo descarte de papel, além de atingir um público específico com maior exatidão. Diminua o número de papel não reciclável gasto na sua comunicação. O cloro utilizado para o bran-­ queamento do papel alvejado é altamente contaminante (Manual SOS). A utilização de ser viços de envio de mensagens por telefone, como SMS em promoções da empresa, pode representar ótima alternativa para amenizar os impactos ambientais causados pela abundante co-­ municação que gera lixo. Realize a comunicação interna da empresa por meio de chats de bate-­papo. Para informações internas da empresa, utilize-­se do site empresarial ou crie um com acesso restrito aos funcionários, onde eles possam acessar o conteúdo que seu negócio queira passar. Quando visitar um cliente, promova seu produto ou negócio por meio de uma apresentação em um com-­ putador portátil, evitando impressões e o uso do papel sem necessidade. Realize eventos do seu negócio em parques ou em locais abertos, utilizando-­se de recursos naturais não poluentes. Reduza a confecções de brindes feitos com recursos finitos. Troque estes tradicionais brindes por peças artesanais, feitas pelas comunidades vizinhas. Materiais como crachá de plástico para a identificação em eventos realizados pelo seu negócio, po-­ dem ser substituídos por uma simples lista de presença, e crachás feitos de papelão. Hoje existem modelos de muito estilo. Utilize a vitrine de sua loja e sua fachada, com uma decoração atraente, para a divulgação do seu negócio, evitando a utilização de outros meios de comunicação que produzem resíduos poluentes. Os painéis eletrônicos em locais de grande circulação são uma ótima maneira para realizar a comuni-­ cação com seu público-­alvo. Eles evitam a vasta impressão de papéis para expor em murais e grandes impressões de outdoors. Evite o recurso de divulgação por meio de mala direta. Esse meio de divulgação, geralmente contém grande quantidade de papel despendida com folders, panfletos e envelopes. E nem sempre agradam o cliente. Faça ações de sampling (distribuição de amostras grátis) de produtos sustentáveis. Dessa maneira você estará incentivando seu cliente a consumir de maneira mais consciente. Invista na compra de materiais duráveis para ações promocionais, em vez de descartáveis. Prefira mate-­ riais que possam ser utilizados em várias ações para evitar a produção desnecessária de lixo. Ao promover um evento, faça parceria com uma empresa de reciclagem para que ela recolha o material logo após o término das atividades. A empresa de reciclagem ganha a matéria-­prima e sua empresa ga-­ nha em divulgar a consciência ambiental. Banner e lona de outdoor, depois de usados, podem ser transformados em ecobags ou pastas, funcio-­ nando como brindes da sua empresa. Atrele a imagem de sua empresa a algum projeto condizente com seu negócio. Por exemplo, uma empresa que utiliza água em seu negócio pode adotar uma bacia hidrográfica. Ou uma empresa que trabalha com móveis pode destinar parte de seus lucros para o reflorestamento.

“Cada empresa deve contextualizar seu plano de gestão am-­ biental. A partir de um diagnóstico do impacto que causa, de-­ ve-­se estabelecer metas, com prazos e controle de resultados.”

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A sustentabilidade ambiental ao alcance da empresa

COMECE JÁ A INCLUIR A GESTÃO AMBIENTAL EM SUA EMPRESA:

Reavalie a gestão dos processos que fazem uso de água. Veja com seus funcionários se há eficiência em reduzir fases, ou mesmo alterar procedimentos trazendo uma maior economia para o meio ambiente. Compre apenas eletrodomésticos que tenham avaliação A no selo Procel. Eles ajudam a diminuir sua conta de luz e permitem uso mais eficiente de energia elétrica (Almanaque de Práticas Sustentáveis). Se tiver de usar detergente (existem várias soluções alternativas eficientes e não poluidoras), utilize quantidades mínimas e certifique-­se de que é biodegradável. A falta de água tratada combinada com a falta de saneamento básico (esgoto, lixo) mata cerca de 12 milhões de pessoas por ano no mundo (Ma-­ nual SOS). Troque a palha de aço e a esponja pela bucha natural para lavar pratos e talheres utilizados no seu negócio (Manual SOS). Ao comprar móveis de madeira para o seu estabelecimento, exija o selo comprovando que é proveniente de um manejo sustentável (Manual SOS). Não compre listas telefônicas para seu negócio, uma pesquisa pela internet provavelmente irá sanar suas necessidades. Presenteie seus funcionários com um copo de vidro ou caneca de louça personalizado. Essa ação irá gerar um bom relacionamento, além de evitar a utilização de copos plásticos no seu estabelecimento. Opte por cores claras de tinta para o ambiente do seu negócio. Elas refletem a luz, diminuindo a neces-­ sidade de lâmpadas. Instale captadores de energia solar sobre o telhado de sua empresa para economizar energia elétrica. Aumente o número de interruptores no mesmo cômodo, para viabilizar que as lâmpadas desnecessárias naquele momento fiquem apagadas num amplo ambiente. Avalie a possibilidade de utilizar um percentual de telhas transparentes, bem como abrir uma grande ja-­ nela lateral. A entrada de luz no ambiente pode significar baixo investimento econômico, e enorme ganho financeiro e ambiental a pequeno e médio prazos. Essa atitude pode viabilizar um ambiente mais natural, além de melhorar a estética e a ambientação, contribuindo para a satisfação dos funcionários e maior produção para a empresa. Concilie essa nova luminosidade com plantas ambientes, que poderão refrescar e tornar o espaço mais acolhedor.

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A sustentabilidade ambiental ao alcance da empresa Avalie a possibilidade de pequena reforma, no sentido de incluir uma janela em cada ambiente, viabi-­ lizando a ventilação e a luz natural. Trocar o ar condicionado por um bom ventilador de teto pode significar economia. Esse aparelho con-­ some menos energia do que o ar condicionado e não incomoda como o ventilador de mesa. Racionalize o uso do ar condicionado. Na maioria das vezes, uma janela aberta resolve o incômodo do calor e ajuda na iluminação do ambiente. Caso o ar condicionado seja elemento essencial no seu negócio, desligue-­o uma hora antes de fechar o estabelecimento. Isto porque o ambiente terá sua refrigeração acumulada durante algum período, depois de desligado o aparelho. Dependendo do formato da planta de sua empresa, você pode estudar a possibilidade de criar um teto verde, ou ecológico. Você terá um espaço de maior frescor, além de contribuir para a compensação de carbono e a diminuição dos raios solares. Reavalie as características e condições de ecoeficiência dos aparelhos. Hoje os fabricantes já infor-­ mam o consumo de energia necessário para cada modelo. E pense, também, nos processos e procedimentos que complementam a sua cadeia de produção dos produtos e ser viços ao cliente: seria possível eliminar alguma fase do processo, sem comprometer a qua-­ lidade final? Por exemplo, muitas vezes, apenas por hábito, imprimem-­se memorandos e outros documentos que poderiam ser lidos e autorizados virtualmente. O papel na maioria das empresas é utilizado de forma precipitada, inconsciente e com desperdício exorbitante. Quando da prática de impressão, o impacto ambiental é não somente sobre o consumo de ár vores, mas de água e energia para sua produção, além de elementos químicos despejados, que exercem impacto ao meio ambiente. Imprima apenas o necessário. Sempre que puder, imprima no modo econômico e utilize os dois lados da folha. Assim você economiza papel e tinta da impressora. Use sensor de presença naqueles ambientes pouco frequentados e que, rotineiramente, ficam com a luz acesa desnecessariamente. Não use o vaso sanitário como lixeira. Isso contribui para aumentar o gasto de água, além de poluir nossos rios com o lixo sólido. Providencie calhas e tambores para coleta de água da chuva. Isso pode ajudá-­lo no momento de limpeza de chão, e de áreas externas. Prefira torneiras com sensor. As demais desperdiçam muito mais água, encarecendo seu orçamento e prejudicando o meio ambiente. Já existe no comércio as descargas sanitárias de caixa, com 2 botões que determinam menos ou mais água quando pressionados. A economia anual é bastante representativa, justificando o investimento. E elas cumprem os mesmos propósitos das descargas hídricas (sem caixas reguladoras) que consomem quantidades exorbitantes, pressionando o planeta e a sua contabilidade. * algumas destas, bem como outras dicas podem ser encontradas no Almanaque de Práticas Sustentáveis (www.catalogosustentavel.com.br) ou na Rede Empresa Responsável (www.empresaresponsavel.com).

Joana Bicalho é doutora em Economia de Empresas com ênfase em econo-­ mia do meio ambiente e mestre em Planejamento e Gestão Ambiental, ambos pela Universidade Católica de Brasília. É professora de Pós-­Graduação em Planejamento Estratégico;; em Comunicação e Meio Ambiente;; em Logística Reversa e em Responsabilidade Social. Representa instituições de ensino no Conselho da Apa do Planalto Central, e no Conselho de Meio Ambiente do Distrito Federal – CONAM. É palestrante e consultora na área. Coautora e co-­organizadora do livro Gestão da Comunicação e Responsabilidade So-­ cioambiental, pela Editora Atlas, 2009. É diretora-­presidente da Rede Empre-­ sa Responsável: www.empresaresponsavel.com .

CURRÍCULO LATTES: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=k4133572d4

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UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL A PARTIR DOS MICRO E PEQUENOS EMPREENDIMENTOS CLAITON MELLO Quais são as oportunidades advindas do Desenvolvimento Sustentável? Como inserir as empresas? Claiton Mello, mestre em Desenvolvimento Sustentável: Política e Gestão Ambiental, mostra quatro dimensões que podem orientar as empresas, e enfatiza ações que o País pode tomar para trazer melhorias para a Micro e Pequena Empresa.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESAFIOS QUE AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS ENFRENTAM NO QUE DIZ RESPEITO ÀS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS? Hoje, mesmo com a ampliação das mídias sociais na Internet, informa-­ ções e dados são ainda fragmenta-­ dos. Quando se pensa no desenvol-­ vimento, pensa-­se no econômico e na geração do lucro, e não se con-­ sidera os aspectos sociais, ambien-­ tais e culturais. O padrão cognitivo está inti-­ mamente ligado ao processo de construção do conhecimento mo-­ derno sujeito-­objeto. Nesse pro-­ cesso, o ser humano separa-­se da Terra. A natureza e o outro passam a se constituírem como meio e não como ser vivo. Daí, partimos para a necessidade de construirmos um novo conhecimento, uma nova tec-­ nologia, que religue e reconecte os nós rompidos, como possibilidade de alcançarmos o Desenvolvimento Sustentável. É a mudança de para-­ digma. As empresas precisam mudar seus conceitos e valores.

“Existem quatro dimen-­ sões que podem direcionar as empresas. Protagonismo social;; solidariedade eco-­ nômica;; respeito cultural e;; cuidado ambiental.”

QUE AÇÕES E COMO AS EMPRESAS PO-­ DEM AJUDAR NO DESENVOLVIMENTO DE UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL? Existem quatro dimensões que po-­ dem direcionar as empresas. Todas as ações, programas e tecnologias sociais, que desenvolvemos na Fun-­ dação Banco do Brasil, são orien-­ tadas a partir dos seguintes concei-­ tos, descritos abaixo: protagonismo social, solidariedade econômica, respeito cultural e cuidado ambien-­ tal. Protagonismo Social: a participa-­ ção e o envolvimento coletivo nos processos de desenvolvimento so-­ cial. Solidariedade Econômica: a lógi-­ ca deixa de ser a geração de lucro ou ganho individual para se con-­ verter em uma dinâmica econômica compartilhada, promovendo os con-­ ceitos da Economia Solidária como, autogestão, participação democrá-­ tica, envolvimento e responsabilida-­

de de cada um, subordinado pelo coletivo organizado. Respeito Cultural: o respeito e o fortalecimento das diversidades em processos de desenvolvimento são decisivos para a construção de uma nova sociedade sustentável. Cuidado Ambiental: essa dimen-­ são ultrapassa a condição parcial da preser vação do meio ambiente. Diz respeito ao nosso relacionamen-­ to com o todo, principalmente com o outro, e com as consequências de nossas ações no presente em dire-­ ção ao futuro. Somos responsáveis pelo legado que ficará para os nos-­ sos filhos e netos. O modo que, hoje, construímos a sociedade e o desen-­ volvimento terá impacto direto no convívio, alimentação e bem-­viver de nove bilhões de seres humanos em 2050.

“Somos responsáveis pelo legado que ficará para os nossos filhos e netos. O modo que hoje construímos a socieda-­ de e o desenvolvimento terá impacto direto no convívio, alimentação e bem-­viver de nove bi-­ lhões de seres humanos em 2050.”

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Uma sociedade sustentável a partir da empresa QUAIS AÇÕES O PAÍS PODE TOMAR PARA TRAZER MELHORIAS PARA AS MICRO E PEQUE-­ NAS EMPRESAS, E PARA A SOCIEDADE, NO QUE DIZ RESPEITO A TECNOLOGIAS SOCIAIS E AMBIENTAIS?

“Partimos para a neces-­ sidade de construirmos um novo conhecimento, uma nova tecnologia, que reli-­ gue e r econecte o s n ós r om-­ pidos, como possibilidade de alcançarmos o Desen-­ volvimento Sustentável. É a mudança de paradigma. As empresas precisam mudar seus conceitos e valores.”

Criar espaços de formação e qualificação das pessoas, “qualificar multiplicadores”, promovendo as capacidades e lideranças a partir da cultura local;; Incluir no planejamento público as compras sustentáveis, ou seja, prio-­ rizar produtos e empresas que comprovem agir de maneira socioambien-­ talmente correta;; Valorizar os aspectos socioambientais de tal forma que a análise cus-­ to-­benefício seja complementar à da análise sociotécnica, proposta pelo pluralismo, considerando que seja incluído nos projetos os custos socioambientais;; Aumentar o poder de compra do Estado, com ênfase em processos e projetos sociotécnicos (tecnologias sociais), para viabilizar licitações sustentáveis;; Fomento aos microempreendimentos agroextrativistas, à economia so-­ lidária e ao microcrédito produtivo e orientado nos circuitos urbano e rural;; Desenvolver uma proposta de Imposto Territorial Rural sustentável

“Este é o momento para construir um país que se de-­ senvolva de forma sustentável, erradicando a pobreza e melhorando a qualidade de vida de todos, com partici-­ pação e protagonismo social, solidariedade econômica, respeito cultural e cuidado ambiental.”

AS POSSIBILIDADES E OPORTUNIDADES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. As contradições da conjuntura mundial são enormes, mas, ao mesmo tempo, as possibilidades e oportunidades de construirmos as respostas em direção ao desenvolvimento sustentável, também, estão na nossa frente. No con-­ tinente sul-­americano, está em curso um processo, nunca visto, de diminuição das desigualdades sociais. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), o Brasil, a Argentina, a Bolívia e a Venezuela são os países que mais avançaram na redução da pobreza, com a promoção de políticas públicas focalizadas, valorização dos salários e processos de investimentos internos. Este é o momento para construir um país que se desenvolva de forma sustentável, erradicando a pobreza e melho-­ rando a qualidade de vida de todos, com participação e protagonismo social, solidariedade econômica, respeito cultural e cuidado ambiental. E, cada um de nós, pode ajudar a definir esse rumo. Pense nesse caminho e defina qual será o seu papel. PARA FALAR COM CLAITON MELLO: claiton@fbb.org.br Claiton Mello é jornalista e mestre em Desenvolvimento Sustentá-­ vel: Política e Gestão Ambiental, pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília -­ CDS/UnB. Possui pós-­gra-­ duação em Gestão Social e Terceiro Setor, pelo Centro Universi-­ tário Euroamericano. É bacharel em Comunicação Social / Jornalis-­ mo, pelo Centro Universitário de Brasília -­ UniCEUB. É gerente de Educação e Tecnologia Inclusiva da Fundação Banco do Brasil, contribuindo para o desenvolvimento de diversos empreendimentos econômicos e solidários, no país. E-­mail: claiton@fbb.org.br

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O DESAFIO DE IMPLEMENTAR SUSTENTABILIDADE E PENSAR MAIS A LONGO PRAZO HEIKO SPITZECK Como a Economia Verde traz ganhos empresariais de mercado? Como a Micro e Pequena Empresa pode começar? Como implantar os programas socioambientais? Heiko Spitzeck, atuante em Responsabilidade Social nos Negócios, ressalta TXH D HPSUHVD GHYH GHŹQLU RV SULQFLSDLV SRQWRV GH DFRUGR FRP D VXD HV-­ tratégia, e desdobrar as ações nas diversas áreas da empresa.

QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS PELA MICRO E PEQUENA EMPRESA?

O QUE É SUSTENTABILIDADE SOCIOAM-­ BIENTAL NAS EMPRESAS E QUAIS SÃO OS BENEFÍCIOS PRÁTICOS QUE ELA TRAZ?

O desafio de implementar susten-­ tabilidade é o mesmo que implemen-­ tar uma gestão mais estratégica, sair do 100% operacional e pensar mais a longo prazo. Uma vez que a pequena empresa pensa a longo prazo, verá as oportunidades e ris-­ cos da sustentabilidade.

O primeiro benefício, normalmente, é uma redução de custos. Depois, como os funcionários percebem que sustentabilidade pode ajudar, simul-­ taneamente, o negócio e o Planeta, surgem novas ideias de melhoras ou de inovações. COMO IMPLANTAR OS PROGRAMAS SO-­ CIOAMBIENTAIS?

COMO VOCÊ VÊ A ECONOMIA VERDE E OS GANHOS EMPRESARIAIS DE MERCADO? Os principais ganhos no mercado têm a ver com lucro ou com risco. Quanto ao lucro, a empresa pode aumentar a margem ou reduzir cus-­ tos. Pode também, trabalhar para obter recursos humanos qualifica-­ dos, com políticas de atração e retenção de pessoal. Empresas tam-­ bém conseguem aumentar a receita, ou via crescimento na participação no mercado, ou buscando atuar em novos nichos. Quanto ao risco, empresas de grandes projetos de infraestrutura conseguem acesso a linhas de crédito do Banco Mundial a condições mais favoráveis se con-­ siderarem impactos socioambientais.

Deve haver dois movimentos: de cima pra baixo e de baixo pra cima. A empresa deve definir os pontos materiais de acordo com a sua es-­ tratégia, e desdobrar isso nas di-­ versas áreas do negócio. Ao mesmo tempo, os funcionários, nas opera-­ ções, precisam ser engajados na definição desses pontos importan-­ tes, para que haja, mais tarde, uma implementação no dia a dia.

“O primeiro benefício, nor-­ malmente, é uma redução de custos. Depois, como os fun-­ cionários percebem que sus-­ tentabilidade pode ajudar, simultaneamente, o negócio e o Planeta, surgem novas ideias de melhoras ou de inovações.”

“Foco nas sinergias de im-­ pacto ambiental positivo e redução de custos.”

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2 GHVDŹR GH SHQVDU D ORQJR SUD]R ESFORÇOS EM DIREÇÃO À SUSTENTABILIDADE PODEM INFLUENCIAR TODAS AS OPÇÕES DE ALAVANCAGEM QUE AS EMPRESAS USAM PARA CRIAR VALOR

IMPACTO POTENCIAL DOS ESFORÇOS PELA SUSTENTABILIDADE

Opções de alavancagem para crição de valor

Marca mais forte e maior poder de precificação Maiores eficiências operacionais Uso mais eficiente de recursos Otimização da cadeia de supri-­ mentos Custos e impostos mais baixos-­ maior capacidade de atrair, reter e motivar funcionários Maior produtividade de empre-­ gados Mais lealdade de clientes e me-­ nos incidência de vendas para ge-­ rar comissão Maior capacidade de entrada em novos mercados Mais fontes potenciais de receita Menores riscos de mercado, ba-­ lanço e operacionais Menor custo de capital Maior acesso a capital, financia-­ mento e seguro

Poder de precificação Melhora na Margem

Recrutamento e engajamento de empregados

lucros

Retorno total ao acionista

Economias de custo

Crescimento da receita fluxo de caixa livre

Mútiplo de Avaliação

Participação de mercado Entrada em novo mercado

Prêmios de risco

Fonte: Levantamento de 2009 da iniciativa de sustentabilidade;; BCG e MIT Sloan Manegement Review;; Entrevistas com líderes formadores de opinião

COMO A MICRO OU A PEQUENA EMPRESA PODE COMEÇAR? Identificar os três pontos importantes: utiliza muita energia na produção? Como reduzir custos? Como poupar custos? Existem muitas Micro e Pequenas Em-­ presas, como Suco do Bom, Eco-­Frotas, TerraCycle entre outras, que optaram por um modelo de negó-­ cio mais sustentável. Há ganhos econômicos e de imagem por investir na gestão ambiental. O ganho econômico é por meio da redução de custos. E se a empresa exporta para mercados mais exigentes, não faz negócio sem algu-­ mas certificações, como a ISO 14000.

“Pensar mais a longo prazo.”

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2 GHVDŹR GH SHQVDU D ORQJR SUD]R OS CLIENTES PROCURAM POR “PRODU-­ TOS VERDES“? Sim. A Natura é o melhor exemplo para o sucesso desse negócio. No que se refere à cadeia produ-­ tiva, você percebe haver cobran-­ ças por processos ou procedimen-­ tos socioambientais? A Braskem desenvolveu o plástico verde por várias razões. Uma delas é o pedido do cliente que está se posicionando de maneira mais sus-­ tentável no mercado. Isso afeta tam-­ bém as Micro e Pequenas Empresas que estão colaborando com empre-­ sas como a Natura, Walmart, entre outras, que se posicionam no merca-­ do como empresas sustentáveis. Ob-­ viamente, convidam os fornecedores a fazerem parte deste processo. QUE DICAS VOCÊ DARIA PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO QUE SE REFERE A GANHOS DE MERCADOS SUSTENTÁVEIS? Começar com o foco nas sinergias de impacto ambiental positivo e re-­ dução de custos. Obser ve os novos regulamentos. Por exemplo, a Lei de Resíduos Sólidos se posiciona de maneira antecipada para que o negócio não seja inviabilizado da noite para o dia.

COMO IDENTIFICAR UMA EMPRESA AM-­ BIENTALMENTE SUSTENTÁVEL? Meu primeiro olhar é com a lide-­ rança da empresa. Existe uma visão mais além que o financeiro? Existem produtos ou ser viços com um dife-­ rencial ambiental ou social que são uma evidência de que a empresa coloca a visão na prática? A em-­ presa é reconhecida por boas prá-­ ticas e aparece, por exemplo, na mí-­ dia e em salas de aula, nas escolas de negócio, por praticar a susten-­ tabilidade?

“Empresas também conseguem aumentar a receita, via cresci-­ mento na participação no mer-­ cado, ou buscando atuar em novos nichos.” A COPA DO MUNDO DEMANDARÁ POSTURA SOCIOAMBIENTAL PARA AS MICRO E PE-­ QUENAS EMPRESAS? As olimpíadas em Londres deve ser a mais sustentável na história. Simi-­ larmente, o objetivo da Copa é estimular o desenvolvimento do Brasil. Tem muitas considerações ambientais na contratação que vão afetar a cadeia de suprimentos. Empresas com uma postura de sustentabilidade podem se diferenciar no mercado.

Heiko Spitzeck é professor da Fundação Dom Cabral. Suas áreas de interesse são em melhorias organizacionais em termos de responsabilidade corporativa e sustentabilidade. Sua experiência acadêmica, de mais de oito anos, inclui cursos de Ética nos Negócios, Empreendedor Social, assim como Responsabilidade e Negócios Sustentáveis. Publicou inúmeros artigos em jornais e revistas interna-­ cionais. Ele é diretor e membro fundador da Humanistic Management Network. Em 2010, passou a integrar o corpo de docentes da INSPER São Paulo, no Brasil. De 2008 a 2010, foi professor de Responsabilidade Corporativa na Cranfield University ’s Doughty, na Inglaterra. Entre 2004 e 2006, atuou como diretor na Oikos International. Com sua extensa experiência, foi convidado como conferen-­ cista na Áustria, Bangladesh, Brasil, Alemanha, México, Espanha, Suíça, Inglater-­ ra, e Estados Unidos. Além disso, ocupou posições de visitante da Universidade da Califórnia, em Berkeley, da Universidade Fordham, em Nova York, assim como da Universidade de Extremadura, na Espanha. Heiko foi educado na Alemanha, Espanha e Suíça. Ele recebeu seu PhD na Universidade de St. Gallen, na Suíça.

PRODUTOS VERDES São ambientalmente mais corretos visto que, em sua forma de produção e distribuição reduzem ao mínimo possivel a agressão ao meio ambiente e à saúde humana. OTTMAN, Jacqueline A. Marketing verde. Tradução de Marina Nascimento Paro. São Paulo: Ed Makron Books, 1994.

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AS EMPRESAS DEVEM BUSCAR UM MODELO DE CRESCI-­ MENTO SOCIALMENTE JUSTO, ECONOMICAMENTE VIÁVEL E AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL THOMAS ENLAZADOR Quais são os benefícios práticos da sustentabilidade na empresa? Há au-­ mento de competitividade para a Micro e Pequena Empresa que investe em gestão socioambiental? Thomas Enlazador, mestre em Gestão e Políticas Ambientais, fala de um modelo de crescimento socialmente justo, ambientalmente correto e eco-­ nomicamente viável, sugerindo caminhos que vão ao encontro dos con-­ sumidores conscientes.

COMO VOCÊ PERCEBE A ECONOMIA VERDE APLICADA À MICRO E PEQUENA EMPRESA? A Economia Verde, da forma que está posta, deve ser ampliada e redimensionada. A Rio+20 tem este papel. Porém, a visão precisa ser conjunta. A sociedade civil organi-­ zada precisa pautar o tema e cons-­ truir criticamente um conceito inclu-­ sivo. As Micro e Pequenas Empresas (MPE) precisam de uma atuação pautada nesta nova economia e mostrar a viabilidade de projetos em micro e pequena escala, em coerên-­ cia com um modelo de crescimento socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente sustentável. QUAIS OS BENEFÍCIOS PRÁTICOS DA SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA EMPRESA? O primeiro benefício é agir de acordo com a legislação ambiental. No tocante a temática emergen-­ te que engloba praticamente todo o setor produtivo, há a nova Lei nº 12.305/2010 -­ Política Nacional de Resíduos Sólidos, que minimiza os impactos socioambientais, além

de prestar um relevante ser viço so-­ cial, gerando trabalho justo e ren-­ da às cooperativas de catadores. Além disso, existem outros benefí-­ cios, como a redução e tratamento de resíduos sólidos, a destinação final ambientalmente adequada dos rejeitos, a diminuição do uso dos recursos naturais no processo de produção de novos produtos, a intensificação de ações de edu-­ cação ambiental, o aumento da re-­ ciclagem, a promoção da inclusão social e a geração de emprego e renda para catadores de materiais recicláveis. A educação ambiental é um dos maiores benefícios ge-­ rados por boas práticas socioam-­ bientais. Um programa de gestão socioambiental bem trabalhado e inclusivo ressonará a funcionários, diretores, prestadores de ser viço e comunidade do entorno. Não bene-­ ficia apenas a empresa promotora. Contagia positivamente todos os incluídos que internalizam as boas práticas no seu cotidiano.

“Um programa de gestão so-­ cioambiental b em t rabalhado e inclusivo ressonará a funcioná-­ rios, diretores, prestadores de serviço e comunidade do en-­ torno. Não beneficia apenas a empresa promotora. Contagia positivamente todos os inclu-­ ídos que internalizam as boas práticas no seu cotidiano.” COMO IMPLANTAR OS PROGRAMAS SO-­ CIOAMBIENTAIS? Qualquer programa de estrutura socioambiental passa, primeiramen-­ te, pelo viés educacional. O primeiro passo é um programa continuado de capacitação para todas as escalas de funcionários, sócios, diretores e parceiros. O tema ambiental está em voga, mas os conceitos profundos e holísticos que a terminologia carre-­ ga, foram pouco internalizados pelo setor produtivo.

“Hoje, uma empresa que não busca qualificar paulatinamente um processo integrado em ges-­ tão ambiental, se fecha para o novo, não se recicla e automaticamente perde competitividade.”

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Modelo de crescimento sustentável COMO A MICRO OU PEQUENA EMPRESA PODE COMEÇAR?

HÁ GANHOS DE IMAGEM POR INVESTIR NA GESTÃO AMBIENTAL?

OS CLIENTES PROCURAM POR PRODU-­ TOS “DO BEM”?

Primeiramente, é preciso buscar um agente externo para diagnosticar alguns pontos fundamentais para dar credibilidade e continuidade a proposta: 1-­ O sistema de pro-­ dução da empresa impacta? Quais são os impactos e como mitigá-­los ou eliminá-­los? 2-­ Os funcionários e diretores sabem o que é sustentabi-­ lidade socioambiental em uma em-­ presa? É necessário um processo de formação e sensibilização? Quem se pode chamar? 3-­ Buscando as certi-­ ficações sociais e ambientais, quais se enquadram com a atividade pro-­ dutiva da empresa? Como se ade-­ quar e manter um ciclo produtivo sustentável? 4-­ Quais são as asso-­ ciações de bairros, ambientais, cul-­ turais, cooperativas de catadores e liderança da região, que a empre-­ sa está instalada, que podem com-­ por o projeto? Como envolvê-­los em uma retroalimentação positiva para ambos os lados? 5-­ Existem in-­ centivos fiscais para boas práticas ambientais no Estado onde atua a empresa?

Sim. Principalmente na imagem que os funcionários e a comunida-­ de local têm da empresa. Com essa imagem positiva, empresa de micro e pequeno porte podem alavancar parcerias mais sólidas, gerar metas motivacionais, criar cotas partici-­ pantes -­ conforme produtividade -­ com foco na excelência socioam-­ biental e verter, auspiciosamente, para um modelo de empresa social, que rompe o paradigma do patrão-­ -­empregado e tem os funcionários como aliados na transformação do modelo cartesiano empresarial.

Sim. Quando existem ações que denotem compromisso e transparên-­ cia. As empresas não são vilãs. Não é uma questão do bem contra o mal. Elas existem devido a uma demanda pelo consumo dos seus bens e ser-­ viços. O setor produtivo só irá des-­ pertar quando o consumidor deixar de ser um mero espectador e passar a atuar como um cidadão político que, no ato da compra, elege uma empresa e os valores que ela carre-­ ga. Não os valores vendidos pelas agências de marketing, mas os va-­ lores reais no papel social, ambien-­ tal e cultural que ela carrega. As empresas precisam despertar para novas tecnologias, novos produtos, adotar uma linha de sustentabili-­ dade nos seus produtos e ser viços. Existe mercado para isso. É crescen-­ te, crítico e lucrativo. O consumidor está mais antenado e identifica a diferença entre uma peça publici-­ tária esverdejada e um programa eficiente de produção de bens e ser viços sustentáveis.

HÁ GANHOS ECONÔMICOS POR INVES-­ TIR NA GESTÃO AMBIENTAL? Os ganhos são em todas as esfe-­ ras: econômica, ambiental, social, cultural e regional. Economicamen-­ te, nota-­se a expansão de um grupo de consumidores críticos que bus-­ cam empresas comprometidas com a causa ambiental e boicotando as promotoras na sua linha de pro-­ dução de grandes impactos. É uma tendência global e um caminho sem volta. Uma empresa que não investe na gestão ambiental tende a ficar isolada e obsoleta com o tempo. Mais do que inovação, é uma obri-­ gação e um compromisso com pre-­ sentes e futuras gerações.

QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS PELAS MICRO E PEQUE-­ NAS EMPRESAS? No Brasil, os incentivos fiscais e tributários, para os que investem em uma gestão sustentável, são pífios. Faz-­se necessário uma frente, articu-­ lada com políticas públicas locais, estaduais e federais para fortalecer e incentivar os processos de produ-­ ção e consumo de bens e ser viços que comprovem, no seu ciclo de produção, ações efetivas de mitiga-­ ção de impactos socioambientais, adoção de tecnologias limpas e renováveis, gestão de resíduos sóli-­ dos e orgânicos, implementação de projetos de educação ambiental e outras tecnologias socioambientais que surgirem no mercado.

“Adotar uma linha de susten-­ tabilidade nos seus produtos e serviços. Existe mercado para isso.”

“Empresa de micro e peque-­ no porte podem alavancar parcerias mais sólidas, gerar metas motivacionais, criar co-­ tas participantes -­ conforme produtividade -­ com foco na excelência socioambiental.”

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Modelo de crescimento sustentável

HÁ VANTAGEM COMPETITIVA (TANGÍVEL) PARA MICRO E PEQUENAS EMPRESAS QUE ADOTAM A GESTÃO AMBIENTAL? São inúmeras, principalmente no viés conceitual. Hoje, uma empresa que não busca qualificar paulati-­ namente um processo integrado em gestão ambiental, se fecha para o novo, não se recicla e automatica-­ mente perde competitividade. QUE DICAS VOCÊ DARIA PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO QUE SE REFERE A GANHOS DE MERCADOS SUSTENTÁVEIS? Primeiramente, reflita sobre o pa-­ pel da empresa. Ela, além de buscar incansavelmente a sustentabilidade econômica, pode aliar isso a boas práticas sustentáveis. Antes de in-­ vestir em um mercado e em produtos sustentáveis, qualifique internamen-­ te sua empresa e comece dando o exemplo de dentro para fora. Mer-­ cados emergentes, que integram boas práticas e crescente mercado, são os de produtos orgânicos alia-­ dos a agricultura familiar, biocons-­ trução e materiais de baixo impac-­ to, renováveis e reciclados, resíduos sólidos, adequação a nova política nacional de resíduos sólidos, meta reciclagem de computadores, pres-­ tação de ser viços em software livre e claro, educação, o carro chefe de qualquer transformação.

O QUE É A ECONOMIA SOLIDÁRIA? É uma forma de produção, consumo e distribuição de riqueza, de base associativista e cooperativista, voltada para a produção, consumo, co-­ mercialização e trocas de bens e ser viços, autogestionária, tendo como finalidade a reprodução ampliada da vida. Possui uma finalidade multi-­ dimensional, com dimensão social, econômica, política, ecológica, edu-­ cacional e cultural. As experiências de Economia Solidária se projetam no espaço público no qual estão inseridas, tendo como perspectiva a construção de um ambiente socialmente justo e sustentável. Aliam-­se com ações focadas na produção agroecológica, comércio justo e vem con-­ quistando espaço para se tornar uma opção de consumo sustentável. Aparecem especialmente nas modalidades de micro empreendimentos e cooperativas populares, bancos comunitários, redes, incubadoras tecno-­ lógicas, lojas e feiras de comercialização e consumo solidário, crédito solidário, clube ou cooperativa de compras, comércio justo, certificação participativa, agroecologia, empresas autogestionadas e mercado de trocas, com ou sem moeda social local. No Brasil, o crescimento da Economia Solidária, enquanto movimento, ultrapassa a dimensão de iniciativas isoladas e fragmentadas no tocante a sua inserção nas cadeias produtivas e nas articulações do seu entorno;; cada vez mais se orientam rumo a uma ação conjunta nacional, configu-­ rando redes locais e uma plataforma integrada comum.

“Construção de um ambiente socialmente justo e sustentável.”

CONHEÇA MAIS: http://www.iteia.org.br/tex-­ tos/almanaque-­de-­praticas-­sustentaveis E-­MAIL: ecopedagogia@gmail.com

Thomas Enlazador é ambientalista, mestre em Gestão e Po-­ líticas Ambientais pelo Prodema, da Universidade Federal de Pernambuco, Cientista Jurídico com foco em legislação e educação ambiental. Diretor institucional da Empresa Resiliência Tecnologias SocioAmbientais. Membro da or-­ ganização do Fórum Social Mundial e co-­idealizador das Aldeias da Paz, no Fórum Social Mundial. Integrante do Conselho de Assentamentos Sustentáveis das Américas. Autor do Almanaque de Práticas Sustentáveis e curador de Sustentabilidade da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco.

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AS Â QUESTĂ•ES Â AMBIENTAIS Â E Â OS Â NOVOS Â NEGĂ“CIOS

FERNANDA  GABRIELA  BORGER &RPR LGHQWLŚFDU XPD HPSUHVD VRFLRDPELHQWDOPHQWH FRUUHWD" &RPR DV TXHVW¾HV GH VXVWHQWDELOLGDGH LQźXHQFLDP D HPSUHVD" +¥ YDQWDJHP FRP-­ petitiva  para  a  Micro  e  Pequena  Empresa  que  implanta  processos  susten-­ tåveis?  Fernanda  Gabriela,  doutora  em  Administração  e  mestre  em  Ciência  Am-­ biental,  mostra  que  esta  pråtica  traz  benefícios  diretos  como  a  maior  HŚFLªQFLD RSHUDFLRQDO D UHGX§£R GH FXVWRV H R FRPSURPHWLPHQWR GRV colaboradores  da  empresa.

HĂ Â VANTAGEM  COMPETITIVA  PARA  MI-­ CRO  E  PEQUENAS  EMPRESAS  QUE  ADO-­ TAM  A  GESTĂƒO  AMBIENTAL?

COMO  AS  QUESTĂ•ES  RELACIONADAS  Ă€  SUSTENTABILIDADE  INFLUENCIAM  A  GES-­ TĂƒO  PĂšBLICA  E  EMPRESARIAL?

A  gestão  ambiental  e  social  traz  benefícios  pråticos,  como  a  maior  eficiência  operacional,  a  redução  de  custos,  o  comprometimento  das  pessoas  que  fazem  parte  da  orga-­ nização.   As  soluçþes   e  pråticas  ambientais  são  simples,  fåceis  de  implantar,  como  substituir  o  copo  descartåvel  pelo  de  vidro,  imprimir  menos,  reutilizar  materiais,  evitar  o  desperdício,  cooperar  com  as  pes-­ soas.  São  pequenos  ganhos,  mas  aos  poucos  se  transformam  em  ga-­ nhos  significativos,  mensuråveis  e  in-­ tangíveis.

Nos  últimos  anos,  as  questþes  am-­ bientais  invadiram  os  negócios,  as  forças  de  globalização  pressiona-­ ram  as  empresas  a  incorporar  a  di-­ mensão  social  e  ambiental  à  gestão  empresarial.  No  cenårio  internacio-­ nal,  existe,  cada  vez  mais,  a  cobran-­ ça  para  que  empresas  demonstrem  sua  forma  de  trabalho  em  relação  a  fornecedores,  empregados,  meio  ambiente  e  comunidade.  Essas  for-­ ças  ampliaram  a  preocupação  pú-­ blica  e  dos  governos  com  questþes  como  mudança  climåtica,  poluição  industrial,  segurança  alimentar,  de-­ gradação  dos  recursos  naturais,  di-­ reitos  humanos,  entre  vårias  outras.

OS  CLIENTES  PROCURAM  POR  PRODU-­ TOS  â€œDO  BEMâ€?? Consumidores  estĂŁo  exigindo  pro-­ dutos  e  ser viços  de  empresas  so-­ cialmente  responsĂĄveis.  Governos  estĂŁo  estabelecendo  polĂ­ticas  e  regulamentaçþes  mais  restritivas  e  os  investidores,  tambĂŠm,  estĂŁo  esti-­ mando  os  riscos  ambientais  e  sociais  dos  investimentos.

“A  gestĂŁo  ambiental  e  so-­ cial  traz  benefĂ­cios  prĂĄticos,  como  a  maior  eficiĂŞncia  operacional,  a  redução  de  custos,  o  comprometimento  das  pessoas  que  fazem  par-­ te  da  organização.â€?

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As questões ambientais e os novos negócios COMO A MICRO OU PEQUENA EMPRESA PODE COMEÇAR? Sempre pode se começar pelas soluções simples, as pequenas empresas não podem esquecer que as grandes empresas se originaram de pequenos negócios. O importante é desenvolver competências para inovar, e a visão para redesenhar produtos , processos e os modelos de negócio.

“A complexidade da ges-­ tão socioambiental está na mudança que deve ocorrer na cultura corporativa”

COMO IDENTIFICAR UMA EMPRESA AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL?

“As pequenas empresas não podem esquecer que as grandes empresas se origina-­ ram de pequenos negócios. ”

“O papel das empresas é ge-­ rar valor para a sociedade.”

A complexidade da gestão socioambiental está na mudança que deve ocorrer na cultura corporativa de que a empresa existe para maximizar o retorno do capital investido e a visão de curto prazo. Essa mudança de-­ pende da liderança das organizações, e não está associada ao tamanho das empresas, mas às pessoas que constroem a cultura dentro das empre-­ sas. Quando esta noção, de que o papel das empresas é gerar valor para a sociedade, estiver no DNA das organizações, elas estarão, efetivamente, contribuindo para a transição para uma Economia Verde, ou melhor, uma sociedade sustentável. Entretanto, essas mudanças, também, não devem ocorrer somente nas empresas, mas na esfera pública e nas organizações da sociedade civil.

Fernanda Gabriela Borger é doutora em Administração, pela Faculdade de Eco-­ nomia, Administração e Contabilidade, da Universidade de São Paulo (FEA – USP) e mestre em Ciência Ambiental, pelo Programa de Pós-­Graduação em Ciência Am-­ biental (PROCAM – USP). Pesquisadora e consultora da Fundação Instituto de Pes-­ quisas Econômicas (FIPE), professora da Fundação Instituto de Administração (FIA), da Business School São Paulo (BSP) e do Programa de Educação Continuada da Fundação Getúlio Vargas (GVPEC). Seu trabalho de pesquisa está orientado para a gestão da responsabilidade social corporativa e o desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade. Sua tese de doutorado está entre as mais consultadas do banco digital da USP. Coordena as atividades de premiação e desenvolve a metodologia do Prêmio de Responsabilidade Social da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee). Participou do grupo de trabalho para elaboração e apli-­ cação do Suplemento Setorial do Global Reporting Initiative (GRI) para o setor de energia elétrica. Assessorou o Movimento Empresarial para a Biodiversidade (MEB) para desenvolver indicadores de monitoramento.

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UM NEGÓCIO SUSTENTÁVEL RESPEITA AS REGRAS QUE PRESERVAM E APERFEIÇOAM A SOCIEDADE

VICENTE AMBRÓSIO Quais são os benefícios práticos da sustentabilidade na Micro e Peque-­ na Empresa? A gestão ambiental agrega valor para as empresas? Como a implantar na MPE? Vicente Ambrósio, autor de vários livros na área de Marketing e mestre em Administração de Empresas, mostra as vantagens e lembra que as ações de sustentabilidade devem estar contempladas no plano de marketing da empresa. O QUE É SUSTENTABILIDADE SOCIOAM-­ BIENTAL NA EMPRESA E QUAIS OS BENE-­ FÍCIOS PRÁTICOS? Um negócio sustentável respeita as regras que preser vam e aper fei-­ çoam a sociedade. Por exemplo, um produto inovador poderá mudar os hábitos e costumes das pessoas. En-­ tretanto, ele jamais irá prejudicar a saúde dos consumidores ou atentar contra a ética e as leis. Um negó-­ cio sustentável faz uso de recursos que a natureza provê, porém ajuda a natureza a repor esses recursos. Por exemplo, é preciso destruir uma ár vore para colher a sua resina? Como articular o uso de uma máqui-­ na para se aproveitar o uso de fon-­ tes renováveis de energia?

COMO A MICRO OU PEQUENA EMPRESA PODE COMEÇAR? QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS POR ELA S? A fase de execução será relativa-­ mente rápida e fácil se o plano de-­ senvolvido houver sido feito com a participação da equipe, porque to-­ dos os funcionários estarão pensan-­ do de uma maneira básica similar. Todos irão remar na mesma direção e, portanto, não haverá retrabalho ou aumento do tempo usado para explicar o raciocínio do empreendi-­ mento a cada colaborador. Muitas vezes, criar um produto ou ser viço, que não conflite com a socieda-­ de ou com o meio ambiente, não é

uma atitude fácil ou automática. Na maioria das vezes, é preciso mudar uma cultura organizacional. Então, surgem outras perguntas desafiantes para um empreendedor, por exem-­ plo, como incluir novos hábitos na cultura de uma empresa ou até mes-­ mo na cultura de uma família que con-­ duz uma propriedade há muitos anos? QUAIS OS BENEFÍCIOS ADVINDOS COM A GESTÃO AMBIENTAL? HÁ VANTAGEM COMPETITIVA (TANGÍVEL) PARA MICRO E PEQUENAS EMPRESAS QUE ADOTAM A GESTÃO AMBIENTAL? Um empreendedor da Micro ou Pe-­ quena Empresa ou de empresas de outros portes, tem sempre perguntas fundamentais em sua mente. Todas elas voltadas a ganhos de merca-­ do e à manutenção de seu negócio. Devido à realidade dos recursos limitados e da demanda crescente por esses recursos, um empreende-­ dor só terá sucesso se considerar, rotineiramente, o impacto que suas decisões e ações terão na socie-­ dade e no meio ambiente. Um plano de marketing é um roteiro para que o empreendedor de uma micro ou pequena empresa alcance ganhos sustentáveis de mercado.

“Um negócio sustentável faz uso de recursos que a natureza provê, porém ajuda a natureza a repor esses recursos.”

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Um negócio sustentável respeita as regras QUE DICAS VOCÊ DARIA PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO QUE SE REFERE A GANHOS DE MERCADOS SUSTENTÁVEIS? Se a MPE já tiver um sistema de planejamento estratégico empresarial, tanto melhor. Mas se não tiver, não há problema algum, pois o planejamento de marketing ser virá para que a empresa amadureça e então, a algum tempo, chegue a implantar um sistema de planejamento estratégico para a totalidade de seus negócios. As questões de sustentabilidade devem estar consideradas já no Planejamento Estratégico.

“Um empreendedor só terá sucesso se considerar, rotineiramente, o impacto que suas decisões e ações terão na sociedade e no meio ambiente.”

Professor Vicente Ambrósio é Administrador, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Administração de Empresas, pós-­ -­graduado em Didática de Marketing, pela Escola Superior de Propa-­ ganda e Marketing (ESPM), possui 38 anos de experiência em gestão de marketing, professor de Marketing em instituições de renome, diretor da Mirambro Consultoria em Planejamento de Marketing, diretor-­con-­ selheiro em duas empresas, autor de quatro livros especializados em planejamento de marketing, inclusive o mais recente, a 2ª. edição de Plano de Marketing – Um roteiro para a ação, publicado pela Pearson.

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A SUSTENTABILIDADE MOBILIZADA POR DIÁLOGOS E PROCESSOS COOPERATIVOS

ROSA ALEGRIA O que é Economia Verde, e o que a empresa ganha em inserir-­se neste novo modelo? Até que ponto ela vem sendo empregada no dia a dia da empresa no Brasil e no mundo? Que benefícios traz para a empresa? Rosa Alegria, mestre em Estudos de Futuro, mostra as tendências deste novo modelo de gestão, que envolve “produtos e empregos verdes”.

COMO A MICRO OU PEQUENA EMPRESA PODE COMEÇAR?

seus públicos) e identificar quais as áreas que necessitam de melhoria ou mudanças radicais.

Um bom início de ação para as MPE seria dialogar com vários inter-­ locutores, principalmente as empre-­ sas grandes que são seus clientes. Por meio desse diálogo, poderão ser identificados processos de como ampliar os programas socioambien-­ tais dos clientes por meio da cadeia de suprimentos, de forma a comple-­ mentá-­los ou entrar em consonância com eles. Isso só vai favorecer am-­ bas as partes: as grandes empresas que são seus clientes, porque terão mais integralidade em suas estraté-­ gias (de toda a cadeia) e as Micro e Pequenas Empresas, que poderão se beneficiar e aprender por meio dos exemplos, das práticas e dos re-­ cursos de seus clientes, que se real-­ mente estiverem comprometidos com a sustentabilidade socioambiental, irão celebrar a iniciativa de seu for-­ necedor. Antes de adotar qualquer programa, será necessário fazer uma ampla avaliação das condições do negócio (sua pegada ecológica, a qualidade de relacionamento com

SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA EMPRESA -­ BENEFÍCIOS PRÁTICOS: Pode parecer paradoxal o que vou dizer, mas o benefício mais prá-­ tico e imediato de se investir em sustentabilidade socioambiental é garantir o futuro. Porque o futuro é prático: olhando para um horizonte do tempo (o futuro sustentável) e olhando ao redor (o presente que está em risco) é mais do que imedia-­ ta a necessidade de se reinventar o negócio hoje, tendo o futuro como ponto de partida. A sustentabilida-­ de socioambiental já se impõe de forma prática como estratégia que valoriza a empresa como uma em-­ presa que vai ter futuro. Atrai mais investidores, atrai funcionários qua-­ lificados e traz segurança para os clientes. As MPE, nesse contexto, podem enquadrar esse futuro den-­ tro de suas localidades, suas cer-­ canias, envolvendo as comunidades locais engajadas na direção de

uma vida melhor. A expansão dos pequenos empreendimentos amplia essa possibilidade: pela sua proxi-­ midade com a realidade local, as Micro e Pequenas Empresas têm mais condições de criar, estimular e ado-­ tar programas de sustentabilidade socioambiental não só para o seu negócio, como também para a co-­ munidade em que atuam, criando o que lá fora se chama de “ living eco-­ nomies” (economias vivas). COMO IMPLANTAR OS PROGRAMAS SO-­ CIOAMBIENTAIS? É preciso olhar para o entorno an-­ tes de começar qualquer programa, identificar os desafios que afetam as pessoas, os mercados, as socie-­ dades, além de observar o estado ecológico de sua localidade. Daí, começar a perguntar como a empre-­ sa poderá ajudar a mudar o estado atual das condições socioambien-­ tais em consonância com a natureza do negócio, para que haja vinculo estratégico no programa que for adotado. Tem que ser bom para to-­ dos: para a empresa, para a comuni-­ dade, para o Brasil e para o mundo.

EMPREGOS VERDES A economia verde cria postos de trabalho em uma ampla gama de setores da economia como emergência de novos mercados e crescer, tal como na agricultura orgânica, energia renovável, retrofits de construção para a eficiência energética, transporte públi-­ co, recuperação de marrom-­campo sites, e reciclagem, entre outros. Empregos decentes, com alta produtividade do trabalho, bem como de alta eco-­eficiência e baixas emissões, mantenha a pro-­ messa de proporcionar o aumento da renda, estimular o crescimento e ajudar a proteger o clima e o meio ambiente. Tais empregos verdes já existem e alguns têm visto crescimento elevado, por exemplo, como um resultado do investimento em eficiência energética. Disponível em: http://www.unep.org/greeneconomy/. Acesso em: 06/05/2012.

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$ VXVWHQWDELOLGDGH PRELOL]DGD SHOD 03( ECONOMIA VERDE E GANHOS EMPRESA-­ RIAIS DE MERCADO A era da informação abriu as cor-­ tinas para que as empresas pudes-­ sem se posicionar em suas atitudes éticas, transparentes e inclusivas. Do outro lado desse cenário, estão os consumidores cada vez mais vigilan-­ tes e conscientes em suas relações comerciais. Estamos saindo do velho modelo econômico e ainda tentan-­ do definir um novo modelo não muito nítido até o momento. O que se esta-­ belece como ponte entre o velho e o novo é a chamada Economia Ver-­ de que, apesar do nome se inclinar mais para o aspecto ecológico, se preocupa com a inclusão social, ou seja, Economia Verde inclusiva. Den-­ tro dessa transição, já existem várias oportunidades que podem ser con-­ sideradas pelas empresas, a exem-­ plo dos países mais avançados. Na Europa, em especial na Alemanha, a maioria dos empregos verdes está alocada nas Micro e Pequenas Em-­ presas. Segundo pesquisa, em 2012, na União Europeia, um em cada oito trabalhadores das MPE têm um em-­ prego verde. Isso significa quase 13% de todos os empregos das MPE. Nas grandes empresas, esse índice é de apenas 3%. Esse mesmo estudo prevê um crescimento de 35% nos próximos anos na Europa (Pesquisa Euroba-­ rometer da União Europeia, 2012). Temos notícias positivas e impressio-­ nantes sobre as perspectivas de uma Economia Verde. A última edição de 2012, do Green Transition Scorebo-­ ard (Placar da Transição Verde), fer-­ ramenta que monitora investimentos do capital privado em tecnologias verdes, informa que o montante des-­ se capital verde gira em torno de 3,3 trilhões de dólares. Segundo matéria publicada no portal Mercado Ético “uma das surpresas, deste ano, foi o crescimento da participação da Ásia, da Europa e da América Latina, que estão emparelhadas com Esta-­ dos Unidos, no volume de investimen-­ tos verdes”.

“Pela sua proximidade com a realidade local, as Micro e Pequenas Empresas têm mais condições de criar, estimular e adotar programas de sustentabilidade socioambiental não só para o seu negócio, como também para a comunidade em que atuam, criando o que lá fora se chama de “living econo-­ mies” (economias vivas).”

“A sustentabilidade socioambiental já se impõe de forma prática como estratégia que valoriza a empresa como uma empresa que vai ter futuro. Atrai mais investidores, atrai funcio-­ nários qualificados e traz segurança para os clientes.” HÁ GANHOS ECONÔMICOS POR INVES-­ TIR NA GESTÃO AMBIENTAL? Os ganhos existem, e são muitos, desde que as ações sejam plane-­ jadas e coerentes com o negócio e sintonizadas com o contexto so-­ cioambiental. Não podem ser ações isoladas como, por exemplo, apenas voltadas a filantropia. O valor es-­ tratégico da gestão ambiental está em oferecer ganhos econômicos por meio de iniciativas ecoeficientes, que reduzam custos e gerem valor à medida que cada ação seja es-­ tudada não somente a curto, mas a médio e longo prazo. Importante

“Na Europa, em especial na Alemanha, a maioria dos em-­ pregos verdes está alocada nas Micro, Pequenas e Médias Empresas. Segundo pesquisa, em 2012, na União Europeia, um em cada oito trabalhadores das MPE têm um emprego verde. Isso significa quase 13% de todos os empregos das MPE.”

“Tem que ser bom para to-­ dos: para a empresa, para a comunidade, para o Brasil e para o mundo.” não considerar apenas os ganhos tangíveis (quantitativos), que dizem respeito ao balanço financeiro, mas também os ganhos intangíveis (qua-­ litativos) que têm a ver com o nível de confiança do mercado, com a reputação da empresa, com o grau de fidelidade dos clientes. Muitas vezes, esses ganhos econô-­ micos passam a existir não somente com a revisão de processos produ-­ tivos ou adoção de práticas susten-­ táveis, mas também com a criação de novos negócios baseados em produtos e ser viços ambientais que possam gerar receitas novas ao car-­ dápio tradicional do portfólio da empresa.

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“Seria dialogar com vários interlocutores, principalmente as empresas grandes que são seus clientes. Por meio desse diálogo, poderão ser identi-­ ficados processos de como ampliar os programas socio-­ ambientais dos clientes por meio da cadeia de suprimen-­ tos, de forma a complementá-­ -­los ou entrar em consonân-­ cia com eles.”

QUE DICAS VOCÊ DARIA PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO QUE SE RE-­ FERE A GANHOS DE MERCADOS SUSTEN-­ TÁVEIS? Recomendo acessar estudos e pesquisas sobre comportamento de consumidores, muitos desses estudos indicam preferência por produtos sustentáveis. Especial atenção aos orgânicos, que antes eram apenas um luxo para poucos e que hoje passam a ampliar a base de consu-­ midores interessados no bem-­estar e preocupados com a saúde. Alguns consumidores até se dizem dispos-­ tos a pagar um pouco mais caro por produtos mais saudáveis.

“O valor estratégico da gestão ambiental está em oferecer ganhos econômicos por meio de iniciativas ecoe-­ ficientes, que reduzam custos e gerem valor à medida que cada ação seja estudada não somente a curto, mas a médio e longo prazo.”

HÁ GANHOS DE IMAGEM POR INVESTIR NA GESTÃO AMBIENTAL? Certamente, há ganhos de imagem na medida em que os consumidores e clientes passam a ser mais criterio-­ sos e vigilantes em suas decisões de compra ou de contratação. As em-­ presas que investem em gestão am-­ biental já passam a garantir maior qualidade desses relacionamentos, que prezam a fidelidade, o respei-­ to, a admiração. Mas é preciso ter cuidado: não entrar nas armadilhas de se fazer marketing excessivo em cima disso, nem de adotar ações oportunistas, sem um lastro legíti-­ mo, que não comprove a seriedade da ação. Muitas vezes, as empresas acham que investir em imagem é sair bem na foto por uma ou outra ação isolada do contexto lá fora e do contexto dentro do negócio e pelo caráter imediatista poderá render alguma venda adicional, porém não vai garantir durabilidade na per-­ cepção positiva da imagem. A preferência pelo ecologicamen-­ te correto tem crescido e com isso a empresa pode se posicionar de for-­ ma adequada em sua comunicação e em seu marketing.

“Muitas vezes, esses ganhos econômicos passam a existir não somente com a revisão de processos produtivos ou ado-­ ção de práticas sustentáveis, mas também com a criação de novos negócios baseados em produtos e serviços ambientais que possam gerar receitas novas ao cardápio tradicional do portfólio da empresa. ”

“É preciso olhar para o entorno antes de começar qualquer programa, identificar os desafios que afetam as pessoas, os mercados, as sociedades, além de observar o estado ecológico de sua localidade.”

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$ VXVWHQWDELOLGDGH PRELOL]DGD SHOD 03( “Antes de adotar qualquer programa, será necessário fazer uma ampla avaliação das con-­ dições do negócio (sua pegada ecológica, a qualidade de relacionamento com seus públi-­ cos) e identificar quais as áreas que necessitam de melhoria ou mudanças radicais.”

TENDÊNCIAS DE FUTURO NA ECONOMIA VERDE

“A plataforma Mercado Éti-­ co, uma plataforma de mí-­ dia para a sustentabilidade, criada pela futurista Hazel Henderson, espera que in-­ vestidores globais destinem, pelo menos, 10% de seu capi-­ tal para empresas ligadas ao desenvolvimento sustentável, colocando os mercados ver-­ des no caminho para alcan-­ çar os 10 trilhões de dólares investidos até 2020”

Levando-­se em conta os muitos estudos que indicam que é preciso se investir um trilhão de dólares, anualmente, até 2020, para acelerar a tran-­ sição verde em todo o planeta, os resultados mostram que investimentos sustentáveis serão a realidade do mercado daqui a 10 anos. A plataforma Mercado Ético, uma plataforma de mídia para a sustentabilidade, criada pela futurista Hazel Henderson, espera que investidores globais destinem, pelo menos, 10% de seu capital para empresas ligadas ao desenvolvimento sustentável, colocando os mercados verdes no caminho para alcançar os 10 trilhões de dólares investidos até 2020, o que, segundo estudos mate-­ máticos, significa que energias renováveis serão mais baratas que energias fósseis, e isso irá mudar profundamente o sistema produtivo. Esse investimento de 3,3 trilhões de dólares, apesar de ser impressionante, ainda não inclui as pequenas empresas, que estão fora do relatório. São milhares de MPE florescendo em todo o mundo, indicando espaços abertos para o sucesso da Economia Verde em nível local e regional, orquestrados pelos pequenos empreendimentos.

Estado, empresas, escolas, organizações sociais, centros de pesquisa, comunidades, famílias, tudo faz parte de uma teia transformadora que, uma vez sintonizada com forte propósito de provocar mudança, mobilizada por diálogos e processos cooperativos, irá acelerar o advento e o sucesso da Economia Verde. A transformação para uma Economia Verde é responsabi-­ lidade de todos, porque impacta o Planeta, impacta as empresas e a vida de cada habitante.

“São milhares de MPE flores-­ cendo em todo o mundo, indi-­ cando espaços abertos para o sucesso da Economia Ver-­ de em nível local e regional, orquestrados pelos pequenos empreendimentos.”

“A transformação para uma Economia Verde é responsabilidade de todos, porque impacta o Planeta, impacta as empresas e a vida de cada habitante.”

Rosa Alegria é mestre em Estudos do Futuro, pela Universidade de Houston, Clear Lake, (EUA), especializada em sustentabilidade, pelo Schumacher College (Inglater-­ ra), vice-­presidente do Núcleo de Estudos do Futuro (NEF), vinculado à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Diretora do nodo brasileiro do Projeto Millen-­ nium, rede global de pesquisas sobre os 15 desafios globais. Diretora-­fundadora da Perspektiva – consultoria especializada em pesquisa de tendências e desenvol-­ vimento de cenários de futuro. Trouxe para o Brasil a plataforma multimídia Mercado Ético, liderada pela empresária Christina Carvalho Pinto. Rosa é midiativista, ou seja, trabalha em favor de uma mídia construtiva e que promova a sustentabilidade, e se destaca pelo seu pensamento prospectivo, pautado nas tendências e nos cenários de futuro, que segundo ela, são atratores de mudanças no presente.

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PEQUENO NEGÓCIO: ÁTOMO DA SUSTENTABILIDADE

MAURO CASTRO 4XDO D LQźXªQFLD GDV JUDQGHV HPSUHVDV QR GLD D GLD GD 03(" &RPR D empresa pode iniciar seus processos de sustentabilidade socioambiental? Mauro Castro, mestre em Engenharia de Produção e especialista em Co-­ municação e em Gestão de Empresas, mostra que a empresa que cami-­ nha para um projeto de sustentabilidade tem que atuar na cultura organizacional.

INFLUÊNCIAS DAS GRANDES CORPORA-­ ÇÕES NO DIA A DIA DAS MICRO E PE-­ QUENAS EMPRESAS O ambiente de negócios se molda em função de modelos de grandes organizações com complexas es-­ truturas concorrenciais. Por conta desse sistema, as pequenas e mé-­ dias empresas são estimuladas a produzir mudanças muito mais pelas ondas das grandes marcas, do que pelo concorrente de mesmo porte e tamanho. As principais ondas de mudança ocorrem por forças macroambien-­ tais, sejam econômicas, culturais, tecnológicas, ambientais ou polí-­ ticas. Os primeiros a se adaptarem são organizações profissionaliza-­ das e com gestão voltada para o mercado, geralmente empresas pro-­ prietárias de grandes e renomadas marcas que viram vitrine na mídia à sombra de qualquer problema. De-­ pois, as micros e pequenas empresas vão filtrando o que é mais urgente, dentro de sua própria organização. Essas empresas tendem a proceder mudanças pouco sensíveis, sempre à

espera de um dia a mais de prazo, muitas vezes em função do caixa da empresa. Uma mudança significativa dentro de uma pequena empresa, assim, acontece em função de uma for-­ te vertente de negócio no próprio ambiente organizacional, ou por conta de uma inevitável e inadiá-­ vel mudança do ambiente de mer-­ cado. Dentro desses dois cenários a empresa precisa, primeiro mudar a cabeça do sócio gestor, e depois avaliar as despesas para reformular a estrutura, os processos e as pessoas.

“Uma mudança significati-­ va dentro de uma pequena empresa, assim, acontece em função de uma forte vertente de negócio no próprio am-­ biente organizacional, ou por conta de uma inevitável e inadiável mudança do am-­ biente de mercado.”

OS GANHOS EMPRESARIAIS COM A SUS-­ TENTABILIDADE AMBIENTAL Sair de um estado de acomoda-­ ção e colocar a visão em longo prazo de sobrevivência, pode vir a ser importante ganho empresa-­ rial. Entretanto, por conta dos riscos associados a cada decisão de mu-­ dança, é bom estabelecer um cami-­ nho razoavelmente planejado para a ação. Quando se trata de susten-­ tabilidade, a primeira etapa é esta-­ belecer uma posição parametrizada da empresa em relação a ganho de mercado ou capital, relaciona-­ da ao projeto de sustentabilidade. Para isso, o empresário pode usar meios simples, de baixo custo e de ações pontuais.

“Sair de um estado de aco-­ modação e colocar a visão em longo prazo de sobrevi-­ vência, pode vir a ser impor-­ tante ganho empresarial.”

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3HTXHQR QHJ³FLR ¡WRPR GD VXVWHQWDELOLGDGH COMO A MICRO OU PEQUENA EMPRE-­ SA PODE COMEÇAR? COMO IMPLANTAR OS PROGRAMAS SOCIOAMBIENTAIS NAS EMPRESAS? Não há receita que caiba em to-­ dos os orçamentos, porém com as devidas adaptações é possível conseguir sustentabilidade em di-­ ferentes negócios e realidade. Em um país de dimensões continentais e diferenças regionais marcantes, é comum encontrar empresas formadas por pessoas empreendedoras, po-­ rém sem preparo ou formação profis-­ sional. Acontecem fatos marcantes como a absoluta falta de noção de gestão e, portanto, medo de avan-­ çar em modelos desconhecidos. Para simplificar e direcionar mudan-­ ça de uma empresa para o conceito da sustentabilidade a organização, o proprietário ou o gerente de um negócio com um pouco mais de es-­ trutura pode usar o ÁTOMO. Essa figura é um acrônimo para Analisar, Tratar, Orçar, Moldar e Organizar. O caminho para a empresa olhar para dentro de si e direcionar esforços para um microambiente sustentável. Para abrir o ÁTOMO, deve come-­ çar pelo Analisar. O primeiro passo é formar uma pergunta simples: como a empresa pode incluir práticas sustentáveis e tirar proveito disso? Para responder a pergunta o gestor deve proceder a Análise. ÁTOMO – ANÁLISE Primeiro passo, responder três questões sobre mercado, cliente e operação. (1) Como as empresas do mesmo setor de atividade estão trabalhando? (2) Como o cliente da empresa percebe a questão da sus-­ tentabilidade? (3) Que tipo de pro-­ cesso, material ou operação pode ser racionalizada, reintegrada, reu-­ tilizada ou reciclada? Na etapa de Análise, o empresá-­ rio deve começar pela compara-­ ção. Buscar exemplos de práticas que deram certo percebendo se algumas delas podem ser vir como modelos. A modelagem é boa em duas direções: a primeira, por tra-­ zer de forma mais segura o que deve ser feito;; a segunda, por colocar a empresa, que está no processo de mudança, no caminho da sustenta-­

bilidade, uma onda sem volta no mercado. Para utilizar uma empresa como modelo, o empresário não deve começar de forma discreta ou apenas por aproximação. Tudo deve começar com atitude e determinação. Marcar uma visita na empresa que já tem uma prática sustentável e fazer uma entrevista em detalhes do que está sendo feito, efeitos e percepções dos clientes. Com muito cuidado, avaliar o que pode ou não ser copiado nos exemplos práticos encontrados na pesquisa. O empresário deve avaliar tempo, capi-­ tal e resultados, antes de decidir por um projeto. Em alguns locais, a falta de casos práticos e ausência de literatura pode ser um impedimento para o empresário. Nesse caso deve imaginar o que a empresa está desperdiçando e como poderia fazer para minimizar esse im-­ pacto. Avaliar se isso, inclusive, ajudaria no caixa da empresa. Para abrir o ÁTOMO, deve começar pelo Analisar. O primeiro passo é formar uma pergunta simples: como a empresa pode incluir práticas sus-­ tentáveis e tirar proveito disso? Para responder a pergunta o gestor deve proceder a Análise. Em uma pousada em Sítio do Conde, na Bahia, pequeno município do litoral norte, o proprietário começou uma pequena mudança a partir de uma situação desconfortável. A pousada pequena com cinco suítes era intensamente frequentada no período de alta-­estação. Aparentemente, não havia problema: muitos hóspedes e correria para atender todas as demandas. Consertos e manutenção, constantes substituições de peças nos equipamentos de quartos. A lavanderia era utilizada diariamente, muito material de higiene e desinfecção dos sanitários e adaptações constante de camas, colchões e travesseiros, para cada necessidade de um novo hóspede. O que se passava com o proprietário era uma grande angústia, de estar em uma praia calma, ambientalmente equili-­ brada e em contrapartida ter uma pousada geradora de um substancial gasto de produtos de forma nada controlada. A questão era compli-­ cada de gerenciar, pois os hóspedes vinham e iam de forma constante, sem grandes preocupações com horário, datas e freqüência. Para o proprietário restava apenas uma certeza: tinha que equilibrar a ofer-­ ta do ser viço com um gasto sensato de produtos e estrutura. Em uma análise rápida e intuitiva, o proprietário entendeu que hóspedes que ficavam curto período implicavam em adaptações das suítes, faxinas higiênicas mais intensas e estoques mais variados. Sabia que hóspedes que ficavam mais tempo na pousada resultavam em rotinas de consumo e manutenção das suítes menos dispendiosas. A resposta da questão era simples e sustentável: manter o hóspede por mais tempo na pousada. Simples, mas como fazer? Ter ideias sobre saídas no caso de problemas é até rápido. O que pode de-­ morar ou gerar trabalho e muito planejamento é detalhar a operação da ideia.

“Analisar, Tratar, Orçar, Moldar e Organizar. O ca-­ minho para a empresa olhar para dentro de si e direcio-­ nar esforços para um micro-­ ambiente sustentável.”

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3HTXHQR QHJ³FLR ¡WRPR GD VXVWHQWDELOLGDGH ÁTOMO –TRANSFORMAR

“Na etapa de Análise, o empresário deve começar pela comparação. Buscar exemplos de práticas que deram certo percebendo se algumas delas podem servir como modelos.”

Após a Análise, o empresário deve pensar em cada parte do processo, como um passo a passo. Esta é etapa da Transformação, projetar como a saída imaginada vai inter ferir na rotina da empresa e no caixa da empresa. A Transformação é uma etapa delicada que envolve estrutura, equipamen-­ tos, fornecedores e a cultura da empresa. Tudo isso culminando no resulta-­ do financeiro. As idéias, quando trabalhadas criticamente, geram uma série de ações por consequência. Para começar, o empresário deve fazer uma lista das ações e providências. Promover discussão com as pessoas envol-­ vidas na empresa e levantar questões de aprovação com alguns clientes mais próximos, de forma a ver se todos percebem a transformação da mes-­ ma forma. Esta etapa não demanda muito tempo, mas muita atenção. Para ter sucesso na adaptação da empresa no processo de sustentabilidade, quanto mais bem pensada for a Transformação, melhor o empresário estará preparado para partir para a próxima etapa, o Orçamento.

De volta a Sítio do Conde na Bahia, o proprietário da pousada resolveu ser seletivo com os hóspedes. Mui-­ tos hóspedes deixavam a pousada, com alta rotatividade geravam desgaste operacional e enormes contas a pagar durante todo o ano. A pousada pequena e com estrutura enxuta precisava ter mais tempo para absor ver as demandas dos hóspedes. Apesar do faturamento generoso, o empresário não contabilizava uma série de gastos incidentes no processo de giro de clientes. Na Análise, verificou que se ele aceitasse apenas hóspedes que permanecessem mais dias na pousada, economizaria em uma série de ser viços. Desde lavanderia, variação de cardápio e até o horário de trabalho dos empregados, teriam redução de custos por conta da melhor pro-­ gramação e uso racional de produtos da hospedagem. Em algumas situações, a recepção da pousada deveria negar hospedagem para pessoas que chegavam sem reser va. Perda de faturamento, porém, em longo prazo, permitia reser vas mais longas, hóspedes dispostos a pagar uma diária maior por conta do atendimento melhor e mais personalizado. No processo de Transformação, foi preciso aprender a dizer não. O não era dito para hóspedes que chegavam à recepção sem reser va ou com expectativa de curta permanência. A Transformação indicava que em algumas situações teriam que assumir ociosidade nas instalações por conta de negativa a hóspedes inesperados. Para o proprietário da pousada as contas deveriam ser bem apuradas para garantir qualidade, sobrevivência e sucesso do plano.

ÁTOMO – ORÇAR Para cada passo na empresa, para cada decisão, um orçamento. Uma regra de finanças é que empresa sem orçamento tem um caminho prescrito para a falência. Por uma questão de sobrevivência da empresa, o orçamen-­ to auxilia no processo do fluxo de caixa. Por melhor que a empresa esteja, em relação ao patrimônio ou seu caixa, deve estar preparada para surpre-­ sas. Toda boa ideia sempre motiva o empresário, parecendo infalível. No entanto, mostra a prática que nem todas as boas ideias prosperam. Quando se trata de mudanças, Orçar é essencial. Para ser prático em relação a isso, deve ser feito um trabalho em duas etapas. A primeira diz respeito a avaliar os gastos diretos com a mudança. Imaginando que o detalhamento tenha sido realizado na etapa Transforma-­ ção, fica simples levantar os desembolsos futuros, o que pode impactar de forma diferenciada.

“Para começar, o empresá-­ rio deve fazer uma lista das ações e providências. Pro-­ mover discussão com as pes-­ soas envolvidas na empresa e l evantar q uestões d e a pro-­ vação com alguns clientes mais próximos, de forma a ver se todos percebem a trans-­ formação da mesma forma.”

A pousada em Sítio do Conde estabeleceu o orçamento fazendo uma programação de caixa considerando a premissa que nem todos os dias as suítes estariam ocupadas, mesmo em período de alta. Por conta da ne-­ cessidade de manter hóspedes por períodos mais longos, ofereceram pacotes com descontos proporcionais ao tempo de permanência. Outra atenção foi dada ao estoque de produtos de cozinha e bar, que para evitar perdas e desperdício, houve a redução de variedade. Outra iniciativa foi a solicitação de antecipação do pagamento da estada, em 50% do valor na reser va. No levantamento dos ajustes de caixa foram identificadas algumas consequências como redução do faturamento, por conta da venda de hospedagem em períodos mais longos, que se tornam menos frequentes. Outra verificação foi que os gastos com trocas de roupas de cama e banho seriam reduzidas, bem como diversos materiais associados à manutenção da pousada.

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3HTXHQR QHJ³FLR ¡WRPR GD VXVWHQWDELOLGDGH ÁTOMO – MOLDAR A empresa que caminha para um projeto de sustentabilidade tem que atuar na cultura organizacional. Ter uma boa ideia, pensar em detalhes e Orçar não garante que a boa in-­ tenção vá adiante. O processo de implantação, como em outras tantas mudanças que as empresas passam, precisa ser moldado de forma con-­ tínua e persistente. Atitudes simples que aparentemente são fáceis de implantar, podem ser descartadas pela falta de atenção na continui-­ dade. Em boa parte pela dificulda-­ de em perceber os resultados, ou pior, por colherem resultados nega-­ tivos em um primeiro momento. O processo de Moldagem para uma nova proposta deve ser ini-­ ciado pelo registro da proposição, uma política interna. Um conjunto de regras que deverá ser seguido de forma disciplinada. Porém, essa disciplina precisa ser dosada de avaliação para entender o que os resultados indicam e, portanto, como proceder a pequenos ajustes de forma a garantir a mudança sem perder a motivação e saúde da em-­ presa.

“Uma política interna. Um conjunto de regras que deverá ser seguido de forma disciplinada.” Implantar uma nova ideia sem ex-­ plorar melhorias em todas as outras áreas é insuficiente. A questão do senso de organiza-­ ção deve vir como consequência de todo o pensar sustentável. Ima-­ ginar que a empresa não precisa ter grandes gastos para ser sustentável e tirar proveito dessa condição é o ideal. Nesta linha é importante que o empresário estabeleça indi-­ cadores comparativos para verifi-­ car o quanto mudou nos resultados. Ações básicas da administração que irão dar mais confiança e pe-­ renidade nas ações.

Não há dificuldade em procurar saídas sustentáveis na empresa. O caminho começa em ter coragem e persistência. Empresas comerciais, com fins lucrativos podem e devem repensar o negócio procurando me-­ lhores meios e práticas na opera-­ ção. Lembrar que o cliente é parte integrante da solução. Fazer com que as pessoas reconheçam o es-­ forço da empresa. Demonstrar que o lucro é parte fundamental e dire-­ tamente ligado à sustentabilidade, apenas com uma condição: que o meio ambiente ganhe também. Ser pequeno é uma hegemonia. É fazer parte de um ambiente maior, mais complexo. Ser pequeno repre-­ senta ser significativa parcela de uma soma em que todos sentimos o resultado.

“A questão do senso de organização deve vir como consequência de todo o pensar sustentável. Imaginar que a empresa não precisa ter grandes gastos para ser sustentável e tirar proveito dessa condição é o ideal.”

ÁTOMO – ORGANIZAR Com o tempo, os ajustes e Mol-­ dagem vão se fixando. Os novos processos parecem mais naturais. Para o bom andamento do proces-­ so sustentável, a empresa precisa se entender como uma organiza-­ ção, um organismo vivo e sistêmi-­ co. Desta forma, qualquer ação de concorrência ou no ambiente legal irão influenciar as ações na empre-­ sa. Também como um sistema vivo, a organização deve manter todas as suas partes funcionais em equilíbrio.

SER PEQUENA, E SUSTENTÁVEL

“Para o bom andamento do processo sustentável, a empresa precisa se entender como uma organização, um organismo vivo e sistêmico.”

Mauro Castro é mestre em Engenharia de Produção, pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e especialista em Comunicação Social, pelo Centro Uni-­ versitário de Brasília -­ UniCEUB. É graduado em Administração de Empresas, pela Universidade Católica de Brasília – UCB. Atuou na gestão de empresas como Souza Cruz, Abril e Grupo Jorlan. É sócio-­gerente da NAVEGAR – consultoria e treinamento empresarial, na qual atua como palestrante, consultor, treinador e diretor de pro-­ jetos. Apresentou e produziu a coluna financeira Cuide do Seu Bolso, veiculada no Jornal BAND Cidade 2ª edição, no canal 4 de Brasília, entre 2006 a 2008. Foi co-­ mentarista financeiro na Rádio BAND NEWS FM com a coluna regional Na Ponta do Lápis, além de professor por mais de 15 anos de graduação e Pós-­Graduação em comercialização, marketing, gestão, planejamento e relacionamento. E-­mail: mauro.navegar@gmail.com

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A GESTÃO BASEADA NO TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE E OS GANHOS EM REPUTAÇÃO E IMAGEM RICARDO VOLTOLINI Como estão as empresas em relação ao Desenvolvimento Susten-­ tável? Qual é o papel da empresa para o alcance da Economia Verde? Os clientes procuram por “produtos do bem”? Nesta entrevista, Voltolini fala sobre a inserção da sustentabilida-­ de na Micro e Pequena Empresa.

COMO ESTÃO AS EMPRESAS EM RELAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? O movimento de Responsabilidade Social Empresarial, iniciado no final dos anos 90, tem, atualmente, inserido nas estratégias de negócios das empresas um novo tipo de modelo econômico: o tripé da sustentabilidade, em que a gestão se baseia nos aspectos econômicos, sociais e ambien-­ tais. Se no princípio das discussões os empresários não se viam no debate, agora sentem-­se intimamente ligados à necessidade de inserir a sustenta-­ bilidade nos processos, procedimentos e produtos, para que mantenham suas posições competitivas no mercado. A aplicação prática é cobrada, e aumenta-­se o senso de urgência para que as empresas tenham um modo mais sustentável de produção e entrega, os consumidores alcancem a prá-­ tica do consumo consciente e os governos possam regular e fiscalizar. OS CLIENTES PROCURAM POR PRODUTOS “DO BEM”? Existem dois tipos de clientes neste processo: muitas Micro e Pequenas Empresas são fornecedores das grandes empresas ou corporações. Essas, assim, cobram de seus fornecedores a gestão baseada no tripé da sus-­ tentabilidade, como critério de participação na cadeia de produção e distribuição. Desta forma, percebe-­se a ampliação de um círculo virtuoso movido pelas grandes empresas. Já o consumidor final está em processo de envolvimento. De cada dez consumidores brasileiros, dois estão atentos e sensíveis, preocupados e valorizando as questões de sustentabilidade na hora de comprar o produto ou ser viço. Os consumidores de países europeus e escandinavos já estão bem à frente em termos de exigir a sustentabilidade nas empresas. Percebe-­ -­se que os consumidores de alta renda têm hábitos de consumo bem pa-­ recidos com os dos europeus. Temos, entretanto, dois obstáculos a serem superados: ainda faltam produtos, criteriosamente, mais sustentáveis. E falta a comunicação desse benefício como valor adicional.

QUAL É O PAPEL DA EMPRESA PARA O ALCANCE DA ECONOMIA VERDE? O termo Economia Verde cria uma oposição ao atual modelo eco-­ nômico, já desgastado, que gera riqueza, mas não dá conta do im-­ pacto social decorrente da desi-­ gualdade de renda e nem mesmo do impacto ambiental. O modelo de consumo desenfreado aquece o Planeta por utilizar em excesso os recursos naturais. A ecoeficiência, representada pelo melhor uso dos recursos naturais e escassos, traz muitos ganhos para a empresa: eco-­ nomiza recursos;; melhora o ambiente de negócios;; auxilia na retenção de funcionários talentosos e atrai clien-­ tes. A gestão, baseada na sustenta-­ bilidade, reduz custos e dá acesso a novos mercados. Ela estabelece melhores relações com seus públicos de interesse de forma a envolver os consumidores, fornecedores, socie-­ dade e comunidade para práticas baseadas no desenvolvimento sus-­ tentável.

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Sustentabilidade: ganhos em reputação e imagem COMO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS PODEM COMEÇAR? O tamanho da nossa responsabilidade é correspondente ao tamanho de nosso impacto. Deve-­se, assim, fazer um diagnóstico dos impactos ambientais e sociais causados, estabelecendo um plano de trabalho em busca da sustentabilidade. Costumo sugerir, entretanto, sete passos: Supere a inércia – elimine obstáculos mentais. As dificuldades estão no modelo mental. Tome atitude. Obser ve os seus impactos e decida os passos para tomar a atitude. Identifique os impactos sociais e ambientais que sua empresa produz. Busque o equilíbrio econômico, so-­ cial e ambiental. O melhor lucro é aquele que vem do processo ecoeficiente e do desenvolvimento social. Reduza ou elimine os impactos. Avalie, por exemplo, como economizar energia, água e papel. Considere, inclusive, os processos mais simples, como a instalação de arejadores, sensores na torneira ou mesmo da des-­ carga inteligente. Implante um sistema de destinação seletiva dos resíduos sólidos para reciclagem;; repense a forma de utilização do transporte na empresa, utilizando, por exemplo, rotas econômicas e combustíveis mais eficientes. Contrate profissionais da comunidade vizinha, minimizando os desgastes de locomoção, e assegure a eles os direitos como trabalhador, incluindo um ambiente saudável, compromissos éticos em con-­ sonância com a cultura da empresa. Priorize contratação de populações de baixa renda. Dê preferência aos fornecedores que já estão se inserindo na cadeia de produção ecoeficiente. Priorize as ações. Estabeleça um plano, realizando um passo de cada vez. Inclua as ações num planeja-­ mento e defina como controlar e avaliar resultados. Eduque os públicos de interesse: a sustentabilidade é um ato coletivo. Os funcionários, fornecedores, clientes e comunidade vizinha precisam compartilhar os princípios de sustentabilidade estabelecidos por sua empresa. Afinal, todos saem ganhando quando o processo de mudança é transformado em algo coleti-­ vo. E lembre-­se: muitas das melhores ideias vêm da contribuição de colaboradores, clientes e fornecedores. Comunique sua prática. Divulgue as ações positivas, para que sejam replicadas. Comunique o valor do que está fazendo para todos os públicos de relacionamento da empresa.

COMO IDENTIFICAR UMA EMPRESA AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL? É preciso estar atento às informações da mídia. Jornais, revistas, internet, emissoras de rádio e TV apresentam, diariamente, questões de impacto ambiental, denunciando aquelas empresam que prejudicam socialmente ou ambientalmente. No ato da compra, verifique se há selos verdes auditados por uma terceira parte. Por exemplo, um selo do Procel ou FSC. Perceba se o selo diz respeito a uma parte do produto ou ao produto inteiro.

O jornalista Ricardo Voltolini é um dos primeiros consultores em sustentabilidade empresarial no Brasil, tendo atendido algumas das mais importantes organizações brasileiras como Bradesco, Caixa Econômica, Camargo Correia, Claro, Fibra, Itau-­ tec, Natura, Odebrecht, SENAC-­SP, SEBRAE-­SP, SESC-­SP, Ultragaz, Unimed, entre outras. Diretor-­presidente da Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sus-­ tentabilidade, publisher da revista Ideia Sustentável (a primeira especializada em tendências de sustentabilidade), autor de Conversas com Líderes Sustentáveis (Senac-­SP/2011) e idealizador da Plataforma Liderança Sustentável. É professor de sustentabilidade nos MBAs (Master Business Administration) da Fundação Dom Cabral, da Fundação Instituto de Administração (FIA), da Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo, e da Associação Brasileira de Comunicação Empresa-­ rial (ABERJE). Nos últimos cinco anos, realizou mais de 650 seminários, workshops e cursos por todo o país. Ricardo VoltolinI é diretor-­presidente de Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade. Leia mais: http://www.ideiasustentavel.com.br/

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A DIMENSÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DOS NEGÓCIOS

DENIS DONAIRE Quais são os benefícios da gestão ambiental? Como obter resulta-­ dos na implantação da gestão sustentável na empresa? Denis Donaire, doutor e mestre em Administração e autor em livros e revistas especializadas, mostra a importância de se envolver os funcionários nos processos de gestão para a sustentabilidade so-­ cioambiental, e enfatiza os ganhos econômicos e empresariais com esta tomada de decisão.

O QUE É ECONOMIA VERDE E SUS-­ TENTABILIDADE AMBIENTAL? A Economia Verde, decorrente da crescente preocupação com a sus-­ tentabilidade ambiental das orga-­ nizações, é fruto de uma mudança muito grande no ambiente em que as empresas operam: as empresas, que eram vistas apenas como instituições econômicas com responsabilidades referentes a resolver os problemas econômicos fundamentais, têm pre-­ senciado o surgimento de novos pa-­ péis que devem ser desempenhados, como resultado das alterações no ambiente em que elas operam. A influência dessa mudança no am-­ biente afeta de forma diferente as micro, pequenas, médias e grandes empresas e isto tem acarretado dife-­ renças de percepção por parte das organizações e de seus administra-­ dores. Assim, em adição às suas ha-­ bilidades técnicas, administrativas e de relacionamento humano. O admi-­ nistrador das corporações moder-­ nas deve desenvolver habilidades que se evidenciem importantes para o entendimento do contexto social

e político do ambiente externo, que envolve a tarefa de administrar e no qual a questão da sustentabilidade ambiental tem assumido significativa importância. Dessa forma, as organi-­ zações devem colaborar para a so-­ lução das questões que envolvem a comunidade, não só porque possam ter contribuído para seu surgimen-­ to, mas também porque dispõem de talento gerencial, especializações técnicas e disponibilidade de recur-­ sos e de materiais que poderão ser extremamente úteis no melhor equa-­ cionamento de tais problemas. QUAIS SÃO OS GANHOS E BENEFÍ-­ CIOS? A partir dos anos 80 do sécu-­ lo passado, notadamente na Ale-­ manha Ocidental, muitas empresas começaram a verificar que as des-­ pesas realizadas com a proteção ambiental podem, paradoxalmente, transformar-­se em vantagem compe-­ titiva e, gradativamente, passaram a incluir na gestão de seus negócios a dimensão ambiental. Várias foram as razões para que isso ocorresse: sentido de responsabilidade ecoló-­

gica, requisitos legais, salvaguarda da empresa, imagem, proteção do pessoal, pressão do mercado, qua-­ lidade de vida e lucro. Em adendo a isso, North (1992), além de caracterizar os benefícios da gestão ambiental expostos no quadro 1, enumera os seguintes ar-­ gumentos para que uma empresa se engaje na causa ambiental: -­Aceite primeiro o desafio am-­ biental antes que seus concorrentes o façam;; -­Seja responsável em relação ao meio ambiente e torne isso conhe-­ cido. Demonstre aos clientes, for-­ necedores, governo e comunidade que a empresa leva as questões ambientais a sério, e que desen-­ volve práticas ambientais de forma eficiente;; -­Utilize formas de prevenir a polui-­ ção. Ser considerada uma empresa amigável ao ambiente, especial-­ mente se ela supera as regulamen-­ tações exigidas, propicia vanta-­ gens de imagem em relação aos concorrentes, consumidores, comu-­ nidade e órgãos governamentais.

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A dimensão ambiental na gestão dos negócios -­Ganhe o comprometimento do pessoal. Com o crescimento da pre-­ ocupação ambiental, as pessoas não querem trabalhar em organiza-­ ções consideradas poluidoras. Ter empregados, dedicados e compro-­ metidos depende, também, de uma imagem institucional positiva.

POR ONDE COMEÇAR?

“Empregados serão os responsáveis por garantir, internamente, a imagem am-­ biental da empresa e disse-­ minar junto à comunidade local.”

BENEFÍCIOS DA GESTÃO AMBIENTAL BENEFÍCIOS ECONÔMICOS ECONOMIA DE CUSTOS

Economias devido à redução de energia, água e outros insumos;; Economias devido à reciclagem, venda, e aproveitamento de resíduos e diminuição de efluentes;; Redução de multas e penalidades por poluição. INCREMENTO DE RECEITAS

Aumento da contribuição marginal de “ produtos verdes” que podem ser vendidos por preços mais altos;; Aumento da participação no mercado devido à inovação dos produ-­ tos e menos concorrência;; Linhas de novos produtos para novos mercados;; Aumento da demanda para produtos que contribuam para a diminui-­ ção da poluição. BENEFÍCIOS ESTRATÉGICOS Melhoria da imagem institucional;; Renovação do “ portfólio” de produtos;; Aumento da produtividade;; Aumento do comprometimento do pessoal;; Melhoria nas relações de trabalho;; Melhoria e criatividade para novos desafios;; Melhoria das relações com os órgãos governamentais, comunidade e grupos ambientalistas;; Acesso assegurado a novos mercados;; Melhor adequação aos padrões ambientais.

Na verdade, existem várias manei-­ ras pelas quais uma organização pode incorporar a questão ambien-­ tal. Uma primeira possibilidade é avaliar seu potencial poluidor em razão do ramo de atividade, dos produtos e processos industriais utilizados, do nível de consciência ambiental existente, dos padrões ambientais, do comprometimento gerencial e da existência de capi-­ tal. Outra abordagem seria aquela que, sob o aspecto ambiental, en-­ volve a identificação das ameaças e oportunidades, relacionando-­as com os pontos fortes e fracos da empresa. A discussão da situação da empresa e o desenvolvimento de cenários futuros resultarão em novos direcionamentos e planos que per-­ mitirão tirar vantagens das oportu-­ nidades possíveis, prevenir as ame-­ aças potenciais, manter os pontos fortes e minimizar ou eliminar os pon-­ tos fracos. É bom não esquecer, também, que os empregados serão os respon-­ sáveis por garantir, internamente, a imagem ambiental da empresa e disseminar junto à comunidade lo-­ cal onde vivem. Da mesma forma, os empresários e a alta administração têm importante papel na transmissão dessa imagem para o mundo exterior da empresa, notadamente junto à sociedade, ao governo e ao órgão de controle ambiental.

Denis Donaire é livre-­docente, doutor e mestre em Administração, pela Fa-­ culdade de Economia, Administração e Contabilidade, da Universidade de São Paulo (FEA/USP), professor de Pós-­Graduação da FEA/USP, da Uni-­ versidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). Atualmente, é pró-­reitor da USCS. Foi pre-­ sidente da Comissão de Pós-­Graduação da UNICID, diretor de Pesquisa e Pós-­Graduação da Universidade de Mogi das Cruzes, diretor da Faculda-­ de de Ciências Econômicas e Administrativas da Fundação Santo André, coordenador do Programa de Mestrado em Administração da Universidade Paulista (UNIP), coordenador do Programa de Mestrado da UNICID e vice-­ coordenador administrativo de Programa de Pós-­Graduação da FEA/USP. Autor de trabalhos apresentados no Brasil e no exterior e de publicações de livros e em revistas especializadas.

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COMÉRCIO JUSTO E A RELAÇÃO PRODUÇÃO E CONSUMO

NAJI HARB O que é Comércio Justo? Como a Micro e Pequena Empresa deve se envolver? Qual é o papel de cada ator no processo de produ-­ ção e distribuição? Naji Harb é economista e trabalha na Fairtrade Brasil, associação de Comércio Justo. Nesta entrevista, mostra o espaço da Micro e Pequena Empresa no Fairtrade enfatizando uma nova forma de fazer negócios em que todos os atores envolvidos no processo de produção e consumo conquistam ganhos.

O QUE É FAIRTRADE, E O QUE RE-­ PRESENTA PARA A MICRO E PEQUE-­ NA EMPRESA? O conceito de Fairtrade ou Co-­ mércio Justo existe há mais de 40 anos, mas foi somente por volta de 1980 que os processos e proce-­ dimentos foram organizados para atendimento em grande escala. Co-­ mércio Justo é simplesmente abrir as portas a um mundo melhor para os pequenos produtores rurais margi-­ nalizados, que passam a se inserir em uma nova forma de fazer negó-­ cios em que todos os atores envol-­ vidos no processo de produção e consumo ganham, com dignidade. O Comércio Justo tem o objetivo de aliviar a pobreza dos pequenos produtores rurais nos países menos desenvolvidos, bem como abolir o racismo e o trabalho infantil, forta-­ lecer a igualdade social e o papel das mulheres, incentivar cooperati-­ vas em que todos ganham e ofere-­ cer produtos de qualidade. Neste modelo, orienta-­se sobre o respeito ao meio ambiente de forma a dimi-­ nuir ou eliminar o uso dos agrotóxi-­ cos. COMO CONTROLAR OS PROCES-­ SOS NO COMÉRCIO JUSTO? É fato que, para ser efetivo, o mo-­ delo de Comércio Justo depende dos diversos atores envolvidos no processo, sobretudo os produtores, comerciantes e consumidores. Para que o consumidor tenha segurança

sobre o modelo, bem como sobre o preço justo ao adquirir um produto, produtores e comerciantes recebem auditorias anuais da FLO-­Cert -­ Cer-­ tificadora internacional do Comér-­ cio Justo. O selo garante o sistema e modelo ambiental;; reafirma a exa-­ tidão do preço, bem como garante que os produtores, comerciantes e demais atores da cadeia alcancem uma margem de lucro suficiente para manter suas famílias, investir para o crescimento econômico e contribuir para a melhoria contínua da comu-­ nidade em que estão inseridos.

“Os produtores são audi-­ tados a partir de indicado-­ res claros e objetivos.” O QUE CABE AOS PRODUTORES? Para um produtor rural ter a cer-­ tificação Fairtrade/Comércio Justo, precisa fazer parte de uma asso-­ ciação ou cooperativa, eliminar o uso de agrotóxicos não permitidos, estabelecer um plano de negócios incluindo os princípios de gestão ambiental e atender aos critérios de trabalho descente, destacando-­se a não existência de trabalho infan-­ til, valorização da mulher e ausên-­ cia de racismo, dentre outros. Os produtores são auditados a partir de indicadores claros e objetivos.

“Nova forma de fazer ne-­ gócios e m q ue t odos o s a to-­ res envolvidos no processo de produção e consumo ganham, com dignidade.”

Deveres : Seguir todos os critérios do Comércio Justo em todas as fa-­ ses de produção e comercialização para dar garantia que seu produto tem alto nível de qualidade, produ-­ zido de uma forma justa e com segu-­ rança alimentar. Benefícios: A cooperativa e pro-­ dutores passam a ter maior retorno em relação aos produtos gerados;; alcançam relacionamento de lon-­ go prazo com seus clientes e, assim, podem investir mais na melhoria de qualidade. Além do recebimento de um preço justo, os produtores são reconhecidos com um prêmio finan-­ ceiro a ser investido em projetos sociais na comunidade em que está inserida.

“Dar garantia que seu pro-­ duto tem alto nível de qua-­ lidade, produzido de uma forma justa e com segurança alimentar.”

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&RP©UFLR -XVWR H D UHOD§£R 3URGX§£R H &RQVXPR O QUE CABE AO COMERCIANTE? Os agentes comerciais devem, junto com os produtores, estabelecer cor-­ reta logística e distribuição dos produtos, de forma a atender à demanda dos consumidores sem desperdícios, perdas de mercadoria ou excesso de uso de combustíveis poluidores. Deveres: Manter um relacionamento comercial transparente, apoiar os produtores no processo produtivo e certificação e valorizar a continuidade do relacionamento com as cooperativas e seus produtores. Benefícios: Oferecer a seus clientes produtos com alto padrão de qua-­ lidade, destacando-­se dos concorrentes, garantir a origem dos produtos emanando segurança aos consumidores, e manter o lucro justo e ético são os principais benefícios ao comerciante. QUAL É O PAPEL DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO JUSTO? Cabe ao consumidor exigir o selo, viabilizando espaço para que o mode-­ lo de Comércio Justo se estabeleça. Sem a demanda do consumidor para comprar produtos certificados o sistema não funciona. A partir do momento em que busca melhor conhecer o significativo do selo Fairtrade/Comercio Justo, estará disposto a gastar um pouco mais em produtos certificados, mas terá a certeza de comprar produtos de qualidade e que ajudam na melho-­ ria do bem estar social e ambiental.

Alguns exemplos das práticas no Co-­ mércio Justo: Treinamento dos membros das coope-­ rativas de pequenos produtores sobre uso de defensivos contra as pragas e erosão do solo Uso sustentável de água Uso correto de águas residuais de ma-­ neira a não causar impacto negativo na qualidade da água, saúde do solo ou segurança alimentar Eliminação de impactos negativos em áreas protegidas e em áreas de conser-­ vação ambiental, dentro ou fora da pro-­ priedade Minimização ou eliminação do uso de Energia e Emissões de Gases de Efeito Estufa-­GEE Quando do uso de energia não-­reno-­ vável, manter registros de escolha racio-­ nal eficiente.

Deveres: Exigir do comércio, incluindo as redes de supermercado, a oferta de produtos de cooperativas e pro-­ dutores rurais com certificação Fairtrade/Comércio Justo. Benefícios: O consumidor vai ter a garantia de que os produtos que está consumindo foram produzidos de uma maneira correta. Conhecer a origem e, o mais importante, saber que estes não possuem excesso no uso de agrotó-­ xicos, bem como que não causou dano ao meio ambiente no processo da produção. O FUTURO DO COMÉRCIO JUSTO NO BRASIL: O Brasil é um país em fase de forte crescimento econômico, desde os últi-­ mos cinco anos. As taxas de consumo permanecem elevadas, percebe-­se o aumento do setor de supermercados bem como a ampliação de centros de compras. Dados mostram, também, que o consumidor brasileiro está aumen-­ tando a diversidade de itens na sua cesta de compras mensais, o que inclui frutas nacionais ou importadas, café comum ou orgânico. Outro aspecto diz respeito à cultura, em que a cada dia mais pessoas se formam em cursos superiores, ampliam o conhecimento, e buscam produtos com valor social agregado. Tudo isso mostra que cresce no Brasil o mercado para os produ-­ tos certificados no Fairtrade/Comércio Justo. E para concluir, é clara a relação entre o consumo justo ou consciente e o meio ambiente, mas é necessário fortalecer este conhecimento por meio de educação ambiental e social, tanto dos produtores quando dos con-­ sumidores. Quando se tem clara compreensão dos benefícios, a força de grupo e as parcerias viabilizam o alcance dos objetivos de sustentabilida-­ de ambiental e social, em consonância com a sustentabilidade econômica.

TRATA-­SE DE UM SISTEMA, QUE DE-­ PENDE DE TODOS OS ATORES A união de todos os atores na ca-­ deia produtiva de Comércio Justo gera resultados positivos nas comu-­ nidades nas quais o sistema está im-­ plantado. Dentre outros benefícios está o fato que os jovens das re-­ giões produtivas sentirão-­se motiva-­ dos a investir no ramo, ignorando o pensamento de mudar para grandes centros urbanos, minimizando o im-­ pacto das migrações. CONHEÇA MAIS: http://www.sebrae. com.br/customizado/acesso-­a-­merca-­ dos/sebrae-­mercado/comercio-­justo

Naji Harb é canadense, economista pela Universidade de Ottawa-­Cana-­ da, professor, empresário e trabalha como voluntário no cargo de pre-­ sidente da Associação Brasileira do Comércio Justo -­ Fairtrade Brasil. Possui 15 anos de experiência na área de agronegócios e Comércio Internacional, e está há oito anos na área de Comércio Justo da Fairtrade.

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2 EMPRESAS E PRÁTICAS

SUSTENTÁVEIS


LANCHES RÁPIDOS E SAUDÁVEIS

MEGAMATTE A MegaMatte é uma rede de franquias de alimentação rá-­ pida, focada em opções de lanches rápidos e saudáveis. A motivação para a abertura da MegaMatte surgiu da busca por uma nova opção de local para comer rapidamente, sem perder nutrientes ou sabor. Para falar mais sobre a institui-­ ção, Lucyana Rebello, do Departamento de Comunicação, ponderou sobre as oportunidades e desafios de se implantar medidas de responsabilidade ambiental.

QUAIS SÃO OS ELEMENTOS FUNDAMEN-­ TAIS PARA O SUCESSO DE UMA EMPRESA? Acredito que o principal elemento para alcançar o sucesso, dentro de uma empresa, é definir com clareza os seus objetivos e metas. Apenas, com muito planejamento é possível ter sucesso. Sempre conversamos dentro da empresa antes de qual-­ quer evento: a ênfase está sempre na preparação, ela corresponde a 90% do sucesso. O QUE É AGIR COM RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL? O termo responsabilidade ambien-­ tal está um pouco vulgarizado. As empresas fazem impressões em pa-­ pel reciclado e por essa única ini-­ ciativa já se dizem verdes. Para mim, agir com responsabilidade ambien-­ tal empresarial é se preocupar não só com esses pequenos gestos, mas também verificar todas as etapas da nossa cadeia produtiva. Se va-­ mos ser vir um produto na ponta, será que o produtor daquela matéria-­ -­prima cuida do meio ambiente da forma correta? Será que ele respeita as regras de plantio para manter o solo sempre fértil e produtivo? Enfim, existem muitos aspectos a ser ava-­ liados nesse sentido, e é essa preo-­ cupação que eu considero respon-­ sabilidade ambiental empresarial.

“Verificar todas as etapas da cadeia produtiva.” O QUE SUA EMPRESA FAZ PARA SER CONSIDERADA RESPONSÁVEL AMBIEN-­ TALMENTE? Nossa principal bandeira dentro da MegaMatte é oferecer produ-­ tos orgânicos, por dois motivos: o primeiro é pela própria saúde do nosso cliente, que não ingere as toxinas de um alimento convencio-­ nal. Segundo, porque, dessa forma, estimulamos, também, a criação da agricultura orgânica. Poucos co-­ nhecem os benefícios desse tipo de plantio. Ele previne a erosão do solo, protege a qualidade da água, promove a biodiversidade, preser va os sabores naturais dos alimentos e ainda protege os agricultores do envenenamento por pesticidas. Além disso, a rede tem outras iniciativas que são mais comum em outras em-­ presas, como utilização de embala-­ gem de papel, impressão em papel reciclado, utilização de temporiza-­ dores nas torneiras, economia de energia, etc.

“O principal elemento para alcançar o sucesso, dentro de uma empresa, é definir com clareza os seus objeti-­ vos e metas.”

PRODUTOS ORGÂNICOS

SAÚDE DO CLIENTE

AGRICULTURA ORGÂNICA

PREVINE A EROSÃO DO SOLO, PROTEGE A QUALIDADE DA ÁGUA, PROMOVE A BIODI-­ VERSIDADE, PRESERVA OS SABORES NATU-­ RAIS DOS ALIMENTOS E AINDA PROTEGE OS AGRICULTORES DO ENVENENAMENTO POR PESTICIDAS.

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Sustentabilidade como diferencial COMO INCLUIR, NA PRÁTICA EMPRESA-­ RIAL, POSTURAS BASEADAS NA RESPON-­ SABILIDADE AMBIENTAL? Na prática empresarial, a princi-­ pal postura a ser tomada é a de evitar o desperdício. Apesar de fa-­ lar que “ pequenos gestos podem fa-­ zer a diferença” parece clichê, essa é a verdade. Dentro de uma em-­ presa, individualmente, é só o que podemos fazer. Pensando no âmbito da corporação, os gerentes e di-­ retores devem assimilar o conceito de responsabilidade ambiental e incorporá-­lo em todas as etapas do processo produtivo em que forem possíveis. ACREDITA QUE EXISTAM CLIENTES QUE PREFEREM EMPRESAS QUE DEMONS-­ TRAM POSTURAS DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL? Na prática empresarial, a princi-­ pal postura a ser tomada é a de evitar o desperdício. Apesar de fa-­ lar que “ pequenos gestos podem fa-­ zer a diferença” parece clichê, essa é a verdade. Dentro de uma em-­ presa, individualmente, é só o que podemos fazer. Pensando no âmbito da corporação, os gerentes e di-­ retores devem assimilar o conceito de responsabilidade ambiental e incorporá-­lo em todas as etapas do processo produtivo em que forem possíveis.

“Em um mundo em que a concorrência aumenta mais rápido que o número de con-­ sumidores e seus respectivos poderes aquisitivos, esse tipo de preocupação pode ser considerado um diferencial.” CONSIDERA TER UMA CLIENTELA MAIOR, OU ESPECIALMENTE DIFERENCIADA EM SUA EMPRESA, POR MANTER ATITUDES E POSTURAS SOCIOAMBIENTAIS?

mais amplo. O consumidor, atualmen-­ te, tem muitas opções de empresas e produtos, e, cada vez mais, a ques-­ tão da responsabilidade socioam-­ biental se torna um diferencial. COMO FAZ PARA MOTIVAR OS FUNCIO-­ NÁRIOS PARA ESTA POSTURA DE DESEN-­ VOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Nossos funcionários recebem constantes estímulos relacionados à sustentabilidade por meio de trei-­ namentos, informativos, etc. A Mega-­ Matte busca motivar seus colabora-­ dores e informá-­los sobre as nossas iniciativas, afinal eles são o nosso ponto de contato com o consumidor.

“O consumidor, atualmente, tem muitas opções de empre-­ sas e produtos, e, cada vez mais, a questão da respon-­ sabilidade socioambiental se torna um diferencial.”

VALE A PENA MUDAR A GESTÃO NA EM-­ PRESA INCLUINDO, SOB O OLHAR ECO-­ NÔMICO, OS ASPECTOS SOCIAIS E AM-­ BIENTAIS? POR QUÊ?

“Nossos funcionários rece-­ bem constantes estímulos re-­ lacionados à sustentabilida-­ de por meio de treinamentos, informativos, etc.” CITE EXEMPLOS DE PRÁTICAS DE RES-­ PONSABILIDADE E GESTÃO AMBIENTAL DE FÁCIL APLICAÇÃO PELAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS?

adoção de materiais reciclados nos escritórios;; temporizador nas torneiras;; utilização de energia solar;; gerenciamento de resíduos;; apagar as luzes sempre que não forem necessárias;; incentivar o uso dos transportes públicos;; desenvolver um sistema de geren-­ ciamento e reciclagem de resíduos;; dar preferência a fornecedores que também sigam os princípios da responsabilidade ambiental;; criar produtos que não tragam danos ao meio ambiente;; utilizar fontes, limpas e renováveis, de energia na produção.

Se a responsabilidade socioam-­ biental faz parte do posicionamen-­ to da empresa, vale a pena sim. Não concordo apenas quando empresas que não levam isso para sua gestão se dizem verdes ou apóiam qualquer projeto social para serem conside-­ radas responsáveis, sendo que isso não é coerente com seu posiciona-­ mento. Eu diria às demais empresas que um investimento um pouco maior, hoje, pode significar uma economia no futuro, e que os resultados desse tipo de preocupação só serão po-­ sitivos. CONHEÇA MAIS: www.megamatte.com.br E-­MAIL: lucyana@megamatte.com.br

Esse tipo de mensuração ainda não é possível, mas sentimos um re-­ torno positivo dos nossos clientes em relação a isso. Somos reconhecidos pelos nossos projetos sustentáveis, pelo nosso produto orgânico, etc. Mas verificamos que o mercado está

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TRANSFORMANDO PRODUTOS EM NOVOS PRODUTOS

AMA TERRA

A Ama Terra é uma empresa especializada no comércio de produtos com atributos sustentáveis, tanto no vare-­ jo quanto no atacado, tanto no ambiente físico quanto no virtual. Além de comercializar produtos, são divulga-­ dos conteúdos ligados à sustentabilidade, sob a ótica empresarial e do consumo consciente. São abordados assuntos como empreendedorismo social, educação am-­ biental, marketing ambiental, comércio justo, responsa-­ bilidade socioambiental empresarial, dentre outros. A empresa surgiu a partir de um gap de mercado perce-­ bido em 2007, a partir de uma simples pergunta: onde comprar produtos com essas características? Após dois anos de pesquisas e muito planejamento, em 2009, com um conceito pioneiro no mercado, surgiu a Ama Terra, que já foi lançada com uma loja física, uma loja virtual e um escritório de vendas para atendimento a empresas. A sede fica em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. A principal motivação para abrir a empresa foi mostrar que é pos-­ sível harmonizar o lucro financeiro e respeito ao meio ambiente e às pessoas, utilizando a tecnologia a favor desse propósito.

QUAIS SÃO OS ELEMENTOS FUNDAMEN-­ TAIS PARA O SUCESSO DE UMA EMPRESA?

O QUE É AGIR COM RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL?

Transparência, engajamento, ino-­ vação e responsabilidade ambien-­ tal. Fale a verdade e seja transpa-­ rente com seu cliente e parceiros. Comprometa-­se, apenas, com o que pode assumir. Mantenha apenas as pessoas engajadas aos propósitos da empresa. Melhor um alinhado tra-­ balhando s ozinho q ue d ez a lienados trabalhando juntos. A inovação é a melhor saída para as adversidades que certamente irão surgir. Simples-­ mente fazer não é mais diferencial. O importante é ser, suficientemente, inovador para fazer bem, melhor e com o mínimo de recursos. Pratique seus princípios. Os consumidores es-­ tão, cada vez mais, exigentes e a legislação é cada dia mais rígida. É preciso estar atento às mudanças e exigências do mercado.

É reconhecer o papel de sua em-­ presa no ambiente que a cerca. Cada atitude, seja individual ou da empresa como um todo, conta para o desenvolvimento sustentável de sua região, de sua cidade e do Planeta. Essas atitudes devem levar em conta o crescimento econômico ajustado à proteção do meio am-­ biente na atualidade e para as ge-­ rações futuras.

“Transparência, engaja-­ mento, inovação e respon-­ sabilidade ambiental. Fale a verdade e seja transparente com seu cliente e parceiros.”

Trabalhamos exclusivamente com produtos que possuam algum ape-­ lo ambiental ou social, com desta-­ que para os produtos do Comércio Justo, presente, permanentemente, em nosso mix. Utilizamos os recursos

“O importante é ser, sufi-­ cientemente, inovador para fazer bem, melhor e com o mí-­ nimo de recursos.” O QUE SUA EMPRESA FAZ PARA SER CONSIDERADA RESPONSÁVEL AMBIEN-­ TALMENTE?

da Internet para informar o máximo de pessoas sobre os conceitos que cercam o assunto sustentabilidade, e os recursos do e-­commerce para reduzir os impactos de nossa opera-­ ção no meio ambiente e, ao mesmo tempo, elevar o alcance de nosso negócio e das unidades franquea-­ das. Sempre que possível, preferimos adquirir produtos e ser viços de em-­ presas locais, regionais ou nacio-­ nais (nesta ordem), sobretudo se elas demonstrarem-­se engajadas com a causa da responsabilidade socioambiental. Trabalhamos em lar-­ ga escala com embalagens reapro-­ veitadas e/ou em papel reciclado. Utilizamos, sempre que possível, fer-­ ramentas de videoconferência para realização de reuniões e cursos à distância. Economizamos tempo, gastos com deslocamento e poluí-­ mos menos.

“Levar em conta o cresci-­ mento econômico ajustado à proteção do meio ambiente na atualidade e para as ge-­ rações futuras.”

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Transformação, inovação em sustentabilidade Evitamos, a todo custo, utilizar im-­ pressão em papel, e sempre que ne-­ cessário todo nosso material impres-­ so é produzido em papel reciclado. Toda a mobília de nossa loja, física e distribuidora, foi produzida com madeira reaproveitada de restos de produção de trabalhos de ter-­ ceiros, com mobília de segunda mão ou fruto de trabalhos artesanais em bambu. Nossos franqueados e cola-­ boradores passam por treinamento sobre os conceitos de sustentabili-­ dade antes de iniciarem suas ativi-­ dades.

“Preferimos adquirir produ-­ tos e serviços de empresas locais, regionais ou nacio-­ nais (nesta ordem), sobretu-­ do se elas demonstrarem-­se engajadas com a causa da responsabilidade socioam-­ biental.”

QUAIS SÃO OS ELEMENTOS FUNDAMEN-­ TAIS PARA O SUCESSO DE UMA EMPRESA?

VOCÊ ACREDITA QUE HOJE JÁ EXISTAM CLIENTES QUE PREFEREM EMPRESAS QUE DEMONSTRAM POSTURAS DE RESPONSA-­ BILIDADE AMBIENTAL?

CONSIDERA TER UMA CLIENTELA MAIOR, OU ESPECIALMENTE DIFERENCIADA EM SUA EMPRESA, POR MANTER ATITUDES E POSTURAS SOCIOAMBIENTAIS?

Sem dúvida. O consumidor está mais esclarecido e mais exigente. Há inúmeras pesquisas apontando para essa mudança no per fil de consumo. Por exemplo, citamos o es-­ tudo anual Monitor de Responsabi-­ lidade Corporativa 2010, realizado pela Market Analysis, sobre quanto os brasileiros premiam ou castigam empresas em função do seu compor-­ tamento diante da sociedade e do meio ambiente. Nos últimos quatro anos, a proporção de brasileiros que premiam corporações por seus comportamentos, socialmente e am-­ bientalmente mais responsáveis, su-­ biu de 12% para 22%.

Consideramos nosso público di-­ ferenciado sim. São pessoas, na maioria, formadoras de opinião, que percebem com mais facilidade o di-­ ferencial da empresa e dos produ-­ tos que trabalhamos. E cabe a nós, por meio da informação e de cam-­ panhas direcionadas, influenciarmos aqueles que ainda não perceberam essa diferença.

“A maior dificuldade é a mu-­ dança de cultura. Fomos nas-­ cidos e criados na cultura do “extrai, utiliza e descarta””

ACREDITA QUE SUA EMPRESA POSSUI UM MERCADO MAIS AMPLO DESDE QUE DE-­ CIDIU AGIR SOBRE OS ASPECTOS DA RES-­ PONSABILIDADE AMBIENTAL? Já nascemos dentro da cultura de manter atitudes e posturas socio-­ ambientais e, mesmo com todas as dificuldades que até hoje encontra-­ mos, nunca abrimos mão desse dife-­ rencial. E a demanda cresce a cada ano. Acreditamos que as empresas que não agirem sobre esses aspec-­ tos, em pouco tempo, serão expur-­ gadas do mercado.

Transparência, engajamento, ino-­ vação e responsabilidade ambien-­ tal. Fale a verdade e seja transpa-­ rente com seu cliente e parceiros. Comprometa-­se, apenas, com o que pode assumir. Mantenha apenas as pessoas engajadas aos propósitos da empresa. Melhor um alinhado tra-­ balhando s ozinho q ue d ez a lienados trabalhando juntos. A inovação é a melhor saída para as adversidades que certamente irão surgir. Simples-­ mente fazer não é mais diferencial. O importante é ser, suficientemente, inovador para fazer bem, melhor e com o mínimo de recursos. Pratique seus princípios. Os consumidores es-­ tão, cada vez mais, exigentes e a legislação é cada dia mais rígida. É preciso estar atento às mudanças e exigências do mercado.

“Nos últimos quatro anos, a proporção de brasileiros que premiam corporações por seus comportamentos, socialmente e ambientalmente mais responsáveis, subiu de 12% para 22%.”

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Transformação, inovação em sustentabilidade COMO FAZ PARA MOTIVAR SEUS FUN-­ CIONÁRIOS PARA ESTA POSTURA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Nossa atitude, nesse sentido, co-­ meça antes mesmo dele se tornar um funcionário ou um franqueado. Um dos pré-­requisitos que exigimos na contratação/afiliação é que ele tenha afinidade com a causa ambiental e social. Passada a sele-­ ção, nossos funcionários e franque-­ ados passam por curso direcionado aos conceitos de sustentabilidade e per feito entendimento do valor agregado de nosso mix de produ-­ tos, o que está por trás do produto sustentável e a visão de toda a ca-­ deia produtiva. E são estimulados a se manterem sempre informados so-­ bre o tema. Além disso, procuramos sempre manter um ambiente de tra-­ balho agradável, remunerarmos os colaboradores acima da média do mercado e pagamos bônus anuais por produtividade.

“Possuímos ações de marketing direcionadas ao nosso público informando sobre esse diferen-­ cial. Utilizamos mais os canais da Internet, de menor custo e maior alcance, além de possuírem maior efeito viral. ”

COMO COMUNICA ESSA PRÁTICA SO-­ CIOAMBIENTAL AOS CLIENTES? POSSUI AÇÕES EM MARKETING OU COMUNICA-­ ÇÃO PARA ISSO? Sim, possuímos ações de marke-­ ting direcionadas ao nosso público informando sobre esse diferencial. Utilizamos mais os canais da Inter-­ net, de menor custo e maior alcan-­ ce, além de possuírem maior efeito viral. Também contamos com todo o apoio de um grande parceiro para composição de nossas estratégias: o SEBRAE, que sempre depositou confiança em nosso modelo de ne-­ gócio e nos orienta de forma muito assertiva.

“Curso direcionado aos conceitos de sustentabilida-­ de e perfeito entendimento do valor agregado de nosso mix de produtos, ”

simples que podem gerar grandes resultados. E mesmo que sua em-­ presa possua mecanismos internos complexos ou seu processo produ-­ tivo seja de alto impacto ambiental, encare a contratação de um profis-­ sional em gestão ambiental como um investimento e não como um custo.

FAZ ALGUM TRABALHO PARA CONSCIEN-­ TIZAR SEUS CLIENTES A OPTAREM POR PRODUTOS, SERVIÇOS E EMPRESAS BA-­ SEADAS NA RESPONSABILIDADE SOCIO-­ AMBIENTAL?

VALE A PENA MUDAR A GESTÃO NA EM-­ PRESA INCLUINDO, SOB O OLHAR ECO-­ NÔMICO, OS ASPECTOS SOCIAIS E AM-­ BIENTAIS? POR QUÊ?

Sim, trabalhamos, paralelamente, sob dois aspectos. Primeiro, promo-­ vemos o acesso à informação. Nossa estratégia é focada na divulgação do conceito, na venda da causa. Quem adere ao conceito, adquire nossos produtos por consequência. Segundo, procuramos desestigma-­ tizar os produtos sustentáveis, so-­ bretudo os que são produzidos com material reciclado. Ao contrário do que se pensa, não são produtos fei-­ tos de má qualidade e a relação custo/benefício é excelente.

Sim, sem dúvida. Em primeiro lu-­ gar, porque gerir uma empresa sob os aspectos da responsabilidade ambiental é fazer mais com menos e isso é ser eficiente. E sob o olhar econômico, não há nada mais al-­ mejado que a eficiência. Em segun-­ do lugar, porque o valor ético que você agrega a sua empresa faz com que ela se diferencie a ponto de ser premiada pelos clientes, que falam bem sobre ela e consomem seus pro-­ dutos e ser viços. Isso se traduz em retorno financeiro.

QUE CONSELHO DARIA ÀS MICRO E PE-­ QUENAS EMPRESAS NO QUE SE REFERE À GESTÃO AMBIENTAL E RESPONSABILIDA-­ DE SOCIOAMBIENTAL? Comece a praticar o quanto antes e comuniquem a seus clientes sobre o que vem fazendo. Mas cuidado... Não faça “greenwashing”. O Marke-­ ting Ambiental é uma oportunidade de negócios e, quando aplicado da maneira correta, é um importante catalisador para o sucesso da em-­ presa. Seus clientes perceberão isso e vão recompensá-­lo por seu pro-­ gresso.

“O valor ético que você agrega a sua empresa faz com que ela se diferencie a ponto de ser premiada pelos clientes” HÁ PERDAS ECONÔMICAS POR INVESTIR NAS QUESTÕES AMBIENTAIS? É uma visão equivocada. Isso pode ser verdade quando falamos, por exemplo, do uso de energias re-­ nováveis, mas há diversas atitudes

“O Marketing Ambiental é uma oportunidade de negó-­ cios e, quando aplicado da maneira correta, é um impor-­ tante catalisador para o su-­ cesso da empresa.”

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Transformação, inovação em sustentabilidade EXEMPLOS DE PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE E GESTÃO AMBIENTAL DE FÁCIL APLICAÇÃO PELAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

Toda empresa é um organismo vivo e como tal, também é consumidora. Na hora de comprar, primeiro refli-­ ta se realmente precisa de determinado produto ou ser viço. Caso a resposta seja positiva, prefira aqueles com menor impacto ambiental possível. Dê preferência a produtos da economia local e ainda, sempre que possível, faça a compra pela internet. Evite o uso de papel e, quando possível, use os dois lados da folha. Incentive seus colegas a fazerem o mesmo. Encontre maneiras de reutilizar e reciclar materiais. O papel, por exemplo, pode ir para a reciclagem ou ser reaproveitado em forma de bloquinhos. Objetos como papel-­carbono, papel plastificado e fitas ade-­ sivas não são recicláveis, por isso, use com consciência. Segundo o Earth Works Group, os funcionários de escritórios jogam fora, em média, 500 quilos de material reciclável de boa qualidade por ano. Verifique se em sua região existe ser viço de coleta seletiva. Caso positivo, comece a separar seu lixo e faça adesão ao ser viço. Estimule seus funcionários em medidas como a carona solidária, utilização de transportes públicos e, em alguns casos, até o uso de bicicleta e da caminhada. Ao se ausentar de sua mesa, desligue o monitor de vídeo. Ele é responsável por até 70% do consumo de energia do computador. Evite o uso copos descartáveis. Leve a sua caneca (ou garrafa para água) e deixe-­a na sua mesa de trabalho. Opine e dê suas sugestões sobre como economizar. Não seja do tipo “ não é comigo”. Quando você adere, ser ve de exemplo para outras pessoas. Empresas maiores permitem recursos para a adoção de um programa de créditos de carbono, que pro-­ move ações, como o plantio de ár vores, para equilibrar com o meio ambiente a quantidade de carbono emitida pela empresa. Em empresas menores, essa ação pode ser feita informalmente, com o plantio fre-­ quente de ár vores. Mesmo que a quantidade não seja, necessariamente, correspondente à que foi emitida, a ação já melhora a qualidade do ar. Diga sempre a verdade e seja sempre transparente com seu cliente. Estudos mostram que apenas me-­ tade da população brasileira acredita que a comunicação das empresas é honesta e transparente, o que demonstra que a outra metade da população ainda tem dúvidas sobre o conteúdo divulgado pelas empresas.

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SISTEMA DE PRODUÇÃO ECOEFICIENTE

AQUACOCO

QUAIS SÃO OS ELEMENTOS FUNDAMEN-­ TAIS PARA O SUCESSO DE UMA EMPRESA? Para mim, honestidade, perseve-­ rança, foco no compromisso assumi-­ do, responsabilidades trabalhistas e tributárias, delegação de funções e qualificação de pessoas. Sempre digo que para ser um empreendedor você precisa exigir tudo de si.

A AQUACOCO é uma empresa pioneira no envase de água de coco verde, no estado do Rio Grande do Norte. É também, a primeira do estado a fabricar e comercializar produtos or-­ gânicos e biodegradáveis à base de fibra de coco. Desde o início das atividades, a empresa realiza pesquisas em par-­ ceria com universidades, com a finalidade de desenvolver um procedimento ambientalmente correto e novas tecnologias para auxiliar esse processo. Atualmente, conta com uma fábrica própria, localizada em Extremoz, Rio Grande do Norte, com um processo de envase automatizado, sem contato humano, a partir da extração da água. O centro de distribuição do produto é localizado na cidade de Natal, com estrutura de câmara fria para armaze-­ nagem. Iniciou com apenas um funcionário e, hoje, possui uma equipe de 30 vendedores em Natal e Grande Natal, além de abastecer outros estados do Nordeste, como Paraíba e Ala-­ goas. Em entrevista, o proprietário do empreendimento, Diego Gaspar, falou sobre a iniciativa e os desafios.

O QUE SUA EMPRESA FAZ PARA SER CONSIDERADA RESPONSÁVEL AMBIENTALMENTE? Transformamos nossa casca de coco em produtos como a fibra do coco, substrato do coco, briquete e matéria orgânica para nossos coqueiros. Desta forma, quando produzimos a fibra do coco para fabricação, prin-­ cipalmente, de vasos tipo xaxim, evitamos a exploração dessa ár vore em extinção. Quando fabricamos o briquete, evitamos o uso da lenha. Outra prática é a de reutilizar as embalagens de água de coco e sucos vencidos para plantação de mudas frutíferas e doação para a comunidade. Também utilizamos energia solar para o aquecimento das águas de lavagem da indústria, evitando gastos com energia.

“Honestidade, perseverança, foco no compromisso assumido, responsabilidades trabalhistas e tributárias, delegação de funções e qualificação de pessoas” O QUE É AGIR COM RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL? É transformar o que seria lixo em novos produtos. Assim, de forma adequada, ainda podemos fazer com que a responsabilidade am-­ biental também seja lucrativa. Temos a obrigação de tornar a atividade sustentável: é preciso trazer algum benefício para entidade para, des-­ ta forma, ser valorizada.

QUAIS SÃO AS MAIORES DIFICULDADES PARA ALCANÇAR ESSA POSTURA? Esses produtos, muitas vezes, têm alto custo de produção e o mer-­ cado não quer pagar por isto. No inicio, é difícil, porém, depois que conseguimos fidelizar o mercado, isso melhora.

“ É transformar o que seria lixo em novos produtos . ”

ACREDITA QUE, HOJE, JÁ EXISTAM CLIEN-­ TES QUE PREFEREM EMPRESAS QUE DE-­ MONSTRAM POSTURAS DE RESPONSABI-­ LIDADE AMBIENTAL? CONSIDERA TER UMA CLIENTELA MAIOR OU ESPECIALMENTE DIFERENCIADA POR MANTER ATITUDES E POSTURAS SOCIOAMBIENTAIS? Sim, acredito que existam clientes que prefiram esse tipo de empre-­ sa. A consciência das pessoas tem mudado muito, mas são necessárias ações de marketing para mostrar a responsabilidade ambiental da em-­ presa. Hoje, temos uma clientela di-­ ferenciada.

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6LVWHPD GH SURGX§£R HFRHŹFLHQWH SUA EMPRESA POSSUI MERCADO MAIS AMPLO DESDE QUE DECIDIU AGIR SOBRE OS ASPECTOS DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL? A partir do momento que mostra-­ mos ao consumidor nossas práticas de responsabilidade ambiental, aumentou a preferência por nossos produtos.

“A consciência das pes-­ soas tem mudado mui-­ to, mas são necessárias ações de marketing para mostrar a responsabilida-­ de ambiental da empresa.”

VALE A PENA MUDAR A GESTÃO NA EM-­ PRESA INCLUINDO, SOB O OLHAR ECO-­ NÔMICO, OS ASPECTOS SOCIAIS E AM-­ BIENTAIS? POR QUÊ? Vale, pois a empresa ganha muita credibilidade no mercado.

QUAIS EXEMPLOS D E P RÁTICAS D E RES-­ PONSABILIDADE E GESTÃO AMBIENTAL DE FÁCIL APLICAÇÃO, PELAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, PODEM SER RESSALTADOS? Reutilização de embalagens que iriam para o lixo, reutilização de águas, reciclagem de produtos de origem orgânica, energia solar para aquecimento de água, reutilização de papéis de rascunho, produzir sempre com máxima eficiência, evi-­ tando gastos desnecessários com energia, procurar veículos que po-­ luam menos, etc. CONHEÇA MAIS: EMPRESA: AQUACOCO SITE: www.aquacoco.com.br E-­MAIL: aquacoco@aquacoco.com.br

COMO FAZ PARA MOTIVAR SEUS FUN-­ CIONÁRIOS PARA ESTA POSTURA DE DE-­ SENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Promovemos treinamentos, pa-­ lestras, programas de qualidade e conscientização no dia a dia.

COMO COMUNICA ESTA PRÁTICA SO-­ CIOAMBIENTAL AOS CLIENTES? POSSUI AÇÕES EM MARKETING OU COMUNICA-­ ÇÃO PARA ISSO? Comunicamos por meio do site e informativos, além de participarmos de feiras e eventos.

QUE CONSELHO PODE SER DADO ÀS MI-­ CRO E PEQUENAS EMPRESAS NO QUE SE REFERE À GESTÃO AMBIENTAL E RESPON-­ SABILIDADE SOCIOAMBIENTAL? Às vezes, é caro para uma Micro ou Pequena Empresa investir em al-­ guma prática ambientalmente corre-­ ta, mas com um bom planejamento se consegue. Com o tempo, irá pagar esse investimento e terá lucro. São necessários estudos preliminares antes das ações, para não perder dinheiro e tempo com invenções ba-­ ratas que não vão dar certo. Isso fica muito mais caro a longo prazo. É sempre melhor planejar antes de investir.

FAZ ALGUM TRABALHO PARA CONSCIEN-­ TIZAR SEUS CLIENTES A OPTAREM POR PRODUTOS, SERVIÇOS E EMPRESAS BA-­ SEADAS NA RESPONSABILIDADE SOCIO-­ AMBIENTAL?

HÁ PERDAS ECONÔMICAS POR INVES-­ TIR NAS QUESTÕES AMBIENTAIS? MUITAS EMPRESAS ADIAM INICIAR PROCESSOS DE GESTÃO AMBIENTAL POR MEDO DE GERAR CUSTOS E GASTOS. COMO VOCÊ PERCEBE ISSO?

Sim. Mostramos e explicamos a im-­ portância de consumir produtos de uma empresa ecologicamente cor-­ reta.

Não considero perdas ou gastos, mas sim, investimentos que retornarão a médio prazo.

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O SUCESSO DOS PRODUTOS SUSTENTÁVEIS E INOVADORES

AMAZONGREEN A Amazongreen Indústria e Comércio de Cosméticos e Per fu-­ maria é uma empresa amazonense, com sede em Manaus, fun-­ dada em julho de 2007, no Distrito de Micro e Pequena Em-­ presas (DIMPE). A Amazongreen já nasceu com a abordagem diferenciada na concepção de produtos sustentáveis, com objetivo de unir viabilidade comercial e tecnológica com a biodiversidade amazônica. A instituição mantém o compromis-­ so com o meio ambiente por meio de ações socioambientais. Em entrevista, o proprietário do empreendimento, Francisco Pontes de Aguiar, falou sobre a iniciativa e os desafios.

QUAIS SÃO OS ELEMENTOS FUNDAMEN-­ TAIS PARA O SUCESSO DE UMA EMPRESA? No nosso ramo, consideramos que o sucesso é obtido por meio de produtos inovadores, com qua-­ lidade, mão-­de-­obra qualificada, responsabilidade socioambiental, valorização e desenvolvimento das comunidades regionais. Além disso, a Amazongreen está sempre na van-­ guarda com projetos sustentáveis.

O QUE É AGIR COM RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL? É identificar que partes do pro-­ cesso, ou produto, podem inter ferir no ordenamento ambiental e bus-­ car soluções mitigado-­ ras para minimizar esses impactos. Para isso, é preciso treinar colabo-­ radores para conscien-­ tização e educação ambiental, estimular a in-­ clusão de comunidades parceiras em programas de educação ambiental. Hoje, trabalhamos com algumas comunidades,

promovendo a capacitação para o aproveitamento de insumos em nos-­ sos produtos.

COMO INCLUIR, NA PRÁTICA EMPRESA-­ RIAL, POSTURAS BASEADAS NA RESPON-­ SABILIDADE AMBIENTAL? Assim como temos a cultura de exi-­ gir qualidade, a cultura ambiental deve ser aprendida, difundida e en-­ tendida por todos aqueles que fize-­ rem parte da empresa, bem como os colaboradores indiretos, fornece-­ dores e parceiros. Daí, então, po-­ de-­se dizer fazer parte da filosofia da empresa ser social e ambiental-­ mente responsável.

“O sucesso é obtido por meio de produtos inova-­ dores, com qualidade, mão-­de-­obra qualificada, responsabilidade socio-­ ambiental, valorização e desenvolvimento das co-­ munidades regionais..”

QUAIS SÃO AS MAIORES DIFICULDADES PARA ALCANÇAR ESSA POSTURA? O aspecto cultural individual é um obstáculo com o qual lidamos dia-­ riamente, pois o que é prática para muitos, para outros, pode parecer novidade ou causar estranhamento. Outro aspecto a ser conside-­ rado é o econômico. Alguns sistemas e pro-­ jetos, para implementar e manter uma eficiência ambiental adequada, oneram os custos da empresa. Mas a susten-­ tabilidade é extrema-­ mente necessária.

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3URGXWRV VXVWHQW¡YHLV H LQRYDGRUHV ACREDITA QUE EXISTAM CLIENTES QUE PREFEREM EMPRESAS QUE DEMONSTRAM POS-­ TURAS DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL? A AMAZONGREEN CONSEGUIU AMPLIAR O MERCADO DESDE QUE DECIDIU AGIR SOBRE OS ASPECTOS DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL? Sim. Pesquisas indicam que, cada vez mais, o consumidor busca produtos e soluções empresariais que geram baixo impacto ambiental e que tenham foco na sustentabilidade, a médio e longo prazo. No caso da Amazongre-­ en, os produtos já denotam a preocupação ambiental. Isso, por sua vez, reforça a experiência com a marca. Ampliamos a atuação no mercado, so-­ bretudo de exportação Europeu, Mercosul, Asiático e algumas regiões do Brasil, onde já há a valorização de produtos com esse conceito.

COMO FAZER PARA MOTIVAR SEUS FUN-­ CIONÁRIOS PARA ESTA POSTURA DE DE-­ SENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Nossos funcionários já entram na empresa vivendo esse conceito de sustentabilidade, em todas as ativi-­ dades. Faz parte da filosofia empre-­ sarial da Amazongreen.

COMO COMUNICA ESTA PRÁTICA SO-­ CIOAMBIENTAL AOS CLIENTES? POSSUI AÇÕES EM MARKETING OU COMUNICA-­ ÇÃO PARA ISSO? HÁ ALGUM TRABALHO PARA CONSCIENTIZAR SEUS CLIENTES A OPTAREM POR ESTE TIPO DE PRODUTO? Quando a venda é direta, o clien-­ te é informado das boas práticas internas e externas, principalmente aquelas realizadas com as comu-­ nidades parceiras. Quando o con-­ sumidor é uma terceira pessoa, ele recebe informação por meio de fol-­ der institucional e pelo site da mar-­ ca. Temos a preocupação de fazer da sustentabilidade um conceito, permanentemente, buscado e não apenas um apelo de marketing. To-­ das as vezes que um produto Ama-­ zongreen é demonstrado ao consu-­ midor, o cliente recebe, em primeira ordem, as informações, relativas aos aspectos de sustentabilidade, inse-­ ridas no produto.

CONHEÇA MAIS: EMPRESA: AmazonGreen SITE: www.amazongreen.com.br E-­MAIL: amazongreen@amazongreen.com.br

QUE CONSELHO PODE DAR ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO QUE SE REFE-­ RE À GESTÃO AMBIENTAL E RESPONSABI-­ LIDADE SOCIOAMBIENTAL? Que considerem a sustentabilida-­ de como filosofia na gestão, pla-­ nejamento e ações, de forma a se tornar uma prática. HÁ PERDAS ECONÔMICAS POR INVES-­ TIR NAS QUESTÕES AMBIENTAIS? MUITAS EMPRESAS ADIAM INICIAR PROCESSOS DE GESTÃO AMBIENTAL POR MEDO DE GERAR CUSTOS E GASTOS. COMO VOCÊ PERCEBE ISSO?

“Temos a preocupação de fazer da sustentabilidade um conceito, permanentemente, buscado e não apenas um apelo de marketing.”

VALE A PENA MUDAR A GESTÃO NA EM-­ PRESA INCLUINDO, SOB O OLHAR ECO-­ NÔMICO, OS ASPECTOS SOCIAIS E AM-­ BIENTAIS? Sim. Sobre esse enfoque, a justifi-­ cativa a médio e longo prazo, de implementação de um sistema de gestão ambiental ou boas práticas ambientais, não apenas se funda-­ menta, mas se consolida globalmen-­ te na cultura empresarial. O per fil do consumidor vem mudando e ele percebe e recebe melhor os produ-­ tos classificados como socialmente e ambientalmente corretos.

O que muitos empresários obser-­ vam como perdas, deve ser encara-­ do como oportunidade de mercado. É mais oneroso, mas é um investi-­ mento. Se bem planejado, o retorno também se dará por meio de núme-­ ros positivos. QUAIS EXEMPLOS DE PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE E GESTÃO AMBIENTAL DE FÁCIL APLICAÇÃO, PELAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, PODEM SER RESSALTADOS?

Coleta Seletiva. Segregação de materiais e/ou resíduos. Uso racional da energia elétrica. Uso racional da água. Reutilização da água dentro do processo produtivo. Uso de equipamentos elétricos com baixo consumo de energia. Treinar e informar os funcionários sobre a importância da sustentabilidade. Dar preferência para a compra de matéria-­prima de empresas que também sigam os princípios da responsabilidade ambiental. Dar preferência, sempre que possível, para o uso de fontes de energia limpas e renováveis no processo produtivo. Criação de produtos que provoquem o mínimo possível de impacto ambiental.

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A SUSTENTABILIDADE NA ARTE DE BEM RECEBER

BONSERÁ

QUAIS OS ELEMENTOS CHAVES PARA O SUCESSO DA EMPRESA? Inovação, persistência e fideliza-­ ção.

O QUE É AGIR COM RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL? É praticar a sustentabilidade, vi-­ sando a preser vação do meio am-­ biente, com práticas cidadãs, dan-­ do oportunidade de trabalho para as quitandeiras da região.

O QUE O BONSERÁ FAZ PARA SER CON-­ SIDERADO RESPONSÁVEL AMBIENTAL-­ MENTE? COMO INCLUIR ESSAS POSTU-­ RAS NA PRÁTICA EMPRESARIAL? Quando ocorre a manipulação de quitandas na cozinha do Bonserá, a lenha utilizada no fogão provém de aproveitamentos que estudantes das repúblicas próximas nos conse-­ guem. Há reciclagem dos lixos mo-­ lhado e seco. A água utilizada é aproveitada para aguar as plantas. As águas pluviais são captadas em latões para a lavagem do piso ex-­ terno do Café. A borra do café é aproveitada como adubo para as plantas. Utilizamos produtos biode-­

O Bonserá Café Mineiro pertence ao quadro de associados da ROTA – Rede Organizada para o Turismo Autossustentável na Estrada Real. Trata-­se de um Cama e Café, cujo diferencial, além de receber com mineiridade, é oferecer hospedagem de qualidade e excelente ser viço mineiro de café, do tipo buffet. A ideia surgiu a partir de um projeto sobre a arte mineira de receber e quitandar, com o objetivo de preser var e dissemi-­ nar a tradição mineira do café colonial, das quitandas e do “ bem receber as visitas”, como era feita nas antigas fazen-­ das de Minas, por meio da ação de quitandeiras e doceiras. A escolha do nome recaiu sobre BONSERÁ, nome dado aos pousos antigos de romeiros e tropeiros, na região de Ouro Preto. Também significa “ bem receber a quem chega”, segundo o costume português estendido à nossa Minas Gerais, durante os séculos de colonização. A empresa está há dois anos no mercado. A proprietária da empresa, Maria da Graça Menezes Mourão, falou sobre a iniciativa e os desafios para implemen-­ tar atitudes de sustentabilidade.

gradáveis e recorremos ao forneci-­ mento de produtos artesanais da re-­ gião, como queijo, biscoitos doces, licores.

p r a t i c a a s u s t e n t a b i l i d a d e. A c r e -­ d i t o q u e, p o r m a n t e r m o s a t i t u d e s e p o s t u r a s s o c i o a m b i e n t a i s, s o -­ m o s p r o c u r a d o s p o r u m a c l i e n t e l a a l t a m e n t e c o m p r o m e t i d a c o m a s u s t e n t a b i l i d a d e.

QUAIS SÃO AS MAIORES DIFICULDADES PARA ALCANÇAR ESSA POSTURA? O p r e ç o e l e v a d o d a p r o d u ç ã o a r t e s a n a l.

“Somos procurados por uma clientela altamente comprometida com a sus-­ tentabilidade.”

ACREDITA QUE EXISTAM CLIENTES QUE PREFEREM EMPRESAS QUE DEMONSTRAM POSTURAS DE RESPONSABILIDADE AM-­ BIENTAL? CONSIDERA TER UMA CLIEN-­ TELA MAIOR OU DIFERENCIADA POR MANTER ATITUDES E POSTURAS SOCIO-­ AMBIENTAIS? A c r e d i t o. E a e s t e s c l i e n t e s, p o -­ d e m o s d i z e r q u e p r a t i c a m c i d a -­ d a n i a. E l e s e x i s t e m e s ã o c o n s -­ c i e n t e s d e q u e e x e r c e m u m p a p e l m u i t o i m p o r t a n t e, d a n d o p r e f e -­ r ê n c i a p a r a u m a e m p r e s a q u e

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3HTXHQDV DWLWXGHV V£R R GLIHUHQFLDO COMO ESTA PRÁTICA SOCIOAMBIENTAL É COMUNICADA AOS CLIENTES? EXISTEM AÇÕES EM MARKETING OU COMUNICA-­ ÇÃO PARA ISSO?

VALE A PENA MUDAR A GESTÃO NA EM-­ PRESA INCLUINDO, SOB O OLHAR ECO-­ NÔMICO, OS ASPECTOS SOCIAIS E AM-­ BIENTAIS? POR QUÊ?

Essa prática é presenciada no co-­ tidiano do Bonserá Café Mineiro e sempre a divulgamos entre os hós-­ pedes.

Vale, porque, além da satisfação de praticar cidadania, estamos contribuindo para um mundo melhor. O Bonserá Café Mineiro considera que está mostrando uma possibili-­ dade estratégica de sobrevivência do segmento de quitandeiras, na competição com produtos feitos em grande escala.

QUE CONSELHO DARIA ÀS MICRO E PE-­ QUENAS EMPRESAS NO QUE SE REFERE À GESTÃO AMBIENTAL E RESPONSABILIDA-­ DE SOCIOAMBIENTAL? HÁ PERDAS ECO-­ NÔMICAS POR INVESTIR NAS QUESTÕES AMBIENTAIS? As pequenas atitudes podem se tornar o diferencial. Não há perdas, apenas ganhos.

CONHEÇA MAIS: EMPRESA: Bonserá Café Mineiro SITE: www.bonserácafemineiro.com.br E-­MAIL:bonseracafemineiro@gmail.com

ACREDITA QUE SUA EMPRESA POSSUI UM MERCADO MAIS AMPLO DESDE QUE DECIDIU AGIR SOBRE OS ASPECTOS DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL? A p r o p o s t a d o B o n s e r á C a f é M i n e i r o, d e s d e a s u a c r i a ç ã o, f o i e m -­ b a s a d a n o s a s p e c t o s d a r e s p o n s a b i l i d a d e a m b i e n t a l. A l é m d i s s o, a e m p r e s a e s t á l i g a d a à q u e s t ã o s o c i a l. Po r t a n t o, o f o c o d a s u s t e n t a b i -­ l i d a d e r e l e v a a i n s e r ç ã o s o c i o e c o n ô m i c a, a p r o m o ç ã o d a c i d a d a n i a e d o d e s e n v o l v i m e n t o h u m a n o, c o m o t a m b é m o l a d o c u l t u r a l.

COMO FAZ PARA MOTIVAR SEUS FUN-­ CIONÁRIOS PARA ESTA POSTURA DE DE-­ SENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Os que convivem no Bonserá Café Mineiro presenciam as águas re-­ vertidas aos vasos de plantas, ao herbário ou ao jardim, após serem utilizadas para higienizar as frutas, verduras e legumes. O recolhimento da água pluvial ser ve para lavar o chão. O resíduo do pó de café é usado como adubo. Os restos de madeira são usados para a constru-­ ção dos móveis ou para fogo.

“A inserção socioeconô-­ mica, a promoção da cida-­ dania e do desenvolvimen-­ to humano, como também o lado cultural.”

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SUSTENTABILIDADE E RETORNO FINANCEIRO

CARBONO ZERO A Carbono Zero Courier é uma empresa que presta ser viços de entregas expressas, utilizando somente bicicletas. A instituição tem um ano e quatro meses de fundação, e nasceu da vontade de se ter um empre-­ endimento no qual o produto final fosse diretamente benéfico ao Planeta. De acordo com o proprietário, Rafael Mambretti Pinto, é possível realizar nossas atividades e processos, que contribuem para o de-­ senvolvimento econômico, sem causar impacto nega-­ tivo ao Planeta e às pessoas. Na entrevista, descrita abaixo, o proprietário Rafael Mambretti Pinto, relata como fez para implantar ações de sustentabilidade.

QUAIS SÃO OS ELEMENTOS FUNDAMEN-­ TAIS PARA O SUCESSO DE UMA EMPRESA?

O QUE É AGIR COM RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL?

Planejamento é importante. Procu-­ rar prever o que poderá acontecer e se preparar. Na gestão, procura-­ mos ter o máximo de controle sobre os números e informações. Ter uma relação transparente com todas as partes (clientes, fornecedores) tam-­ bém garante uma base sólida para um relacionamento duradouro.

É colocar uma variável tão impor-­ tante quanto o lucro na sua empre-­ sa. Essa variável chama-­se Planeta. Depois, é preciso medir os impactos que seus processos e produtos cau-­ sam nele, analisar quais podem ser substituídos, ou reduzidos, para di-­ minuir esses impactos. E essa respon-­ sabilidade deve acontecer em toda a cadeia produtiva da empresa. É implementar uma filosofia para que as pessoas entendam e adotam, fa-­ zendo parte do seu dia a dia

“Ter uma relação transparen-­ te com todas as partes também garante uma base sólida para um relacionamento duradouro.” O QUE É AGIR COM RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL? É colocar uma variável tão impor-­ tante quanto o lucro na sua empre-­ sa. Essa variável chama-­se Planeta. Depois, é preciso medir os impactos que seus processos e produtos cau-­ sam nele, analisar quais podem ser substituídos, ou reduzidos, para di-­ minuir esses impactos. E essa respon-­ sabilidade deve acontecer em toda a cadeia produtiva da empresa. É implementar uma filosofia para que as pessoas entendam e adotam, fa-­ zendo parte do seu dia a dia

“É preciso medir os impac-­ tos que seus processos e produtos causam nele, ana-­ lisar quais podem ser subs-­ tituídos, ou reduzidos, para diminuir esses impactos.” O QUE SUA EMPRESA FAZ PARA SER CONSIDERADA RESPONSÁVEL AMBIEN-­ TALMENTE? Independente de o nosso ser viço beneficiar diretamente o Planeta, procuramos adotar, em toda a em-­ presa, ações para diminuir o nosso impacto, como por exemplo, a não utilização de papel. Nossos clien-­

tes recebem um recibo eletrônico pelo ser viço executado e não uma ordem de ser viço em papel, como é de costume no mercado. Consumi-­ mos o mínimo possível de materiais de escritório, reutilizamos muito o papel recebido de outras empresas como rascunho, reaproveitamos as embalagens dos produtos compra-­ dos, bem como os envelopes, entre outras ações. COMO INCLUIR, NA PRÁTICA EMPRESA-­ RIAL, POSTURAS BASEADAS NA RESPON-­ SABILIDADE AMBIENTAL? Primeiro, é importante ter vonta-­ de e, de preferência, por parte dos gestores e tomadores de decisão, pois eles precisam dar o exemplo. Depois, é válido procurar referên-­ cias, exemplos de ações que outras empresas, projetos, ONGs, governo, vêm fazendo. Seja qual for a ação adotada, é importante explicar para as pessoas o motivo da prática des-­ sa ação, e quais são as consequên-­ cias positivas para o Planeta. Dessa forma, elas perceberão que fazem parte do todo, que são reais con-­ tribuidoras da mudança. E, conse-­ quentemente, levarão para dentro de suas casas e para os amigos.

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QUAIS SÃO AS MAIORES DIFICULDADES PARA ALCANÇAR ESSA POSTURA? Acredito que seja colocá-­las no dia a dia das pessoas para que adotem essas ações, e convencê-­ -­las da importância e da necessi-­ dade de mudança de processos e cultura. Por isso, é importante incen-­ tivos e formas criativas de implemen-­ tar essas mudanças.

COMO FAZ PARA MOTIVAR SEUS FUN-­ CIONÁRIOS PARA ESTA POSTURA DE DE-­ SENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Explico as consequências, o por-­ quê, os benefícios;; tento envolvê-­ -­los, para que se sintam parte do todo. Além disso, é importante dar o exemplo. É preciso que os líderes façam isso.

FAZ ALGUM TRABALHO PARA CONSCIEN-­ TIZAR SEUS CLIENTES A OPTAREM POR SERVIÇOS BASEADOS NA RESPONSABILI-­ DADE SOCIOAMBIENTAL? Sim. Conversamos bastante, tro-­ camos experiências e informações. Não é um processo formal;; é mais informal. É comum os clientes nos procurarem. QUE CONSELHO DARIA ÀS MI-­ CRO E PEQUENAS EMPRESAS NO QUE SE REFERE À GESTÃO AMBIENTAL E RESPONSABILI-­ DADE SOCIOAMBIENTAL?

“Procurar refe-­ rências, exem-­ plos de ações que outras em-­ presas, projetos, ONGs, governo, vêm fazendo.”

ACREDITA QUE, HOJE, JÁ EXIS-­ TAM CLIENTES QUE PREFEREM EMPRESAS QUE DEMONS-­ TRAM POSTURAS DE RESPON-­ SABILIDADE AMBIENTAL? Sim. Somos uma prova viva disso. Nosso cresci-­ mento, para um start-­up, é excelente e pautado na busca de nossos clientes, não só por uma alternativa de ser viço, mas uma alter-­ nativa sustentável.

“É importante incentivos e formas criati-­ vas de implementar essas mudanças.”

CONSIDERA TER UMA CLIENTELA MAIOR, OU ESPECIALMENTE DIFERENCIADA EM SUA EMPRESA, POR MANTER ATITUDES E POSTURAS SOCIOAMBIENTAIS? ACREDI-­ TA QUE SUA EMPRESA POSSUI UM MER-­ CADO MAIS AMPLO DESDE QUE DECIDIU AGIR SOBRE OS ASPECTOS DA RESPON-­ SABILIDADE AMBIENTAL? Não diria mais amplo, mas acredi-­ to que um diferencial, uma vantagem competitiva, com certeza. A maio-­ ria dos nossos clientes nos procura pelo nosso diferencial socioambien-­ tal. Agregamos muito valor a eles, tanto é que muitos divulgam que são nossos clientes.

COMO COMUNICA ESTA PRÁTICA SO-­ CIOAMBIENTAL AOS CLIENTES? POSSUI AÇÕES EM MARKETING OU COMUNICA-­ ÇÃO PARA ISSO? Toda nossa comunicação e divul-­ gação é feita por meio eletrônico. Utilizamos as redes sociais, como o Facebook, o Twitter e o nosso blog. Especificamente, para alguns clien-­ tes, existe uma comunicação direta via email.

“A maioria dos nossos clientes nos procura pelo nosso diferencial socio-­ ambiental.”

Independente dos dife-­ renciais competitivos que podem trazer, é nossa responsabilidade adotá-­ -­las. Empresas, também, são referências para a sociedade. Cada vez mais, serão cobradas das empresas essas postu-­ ras, seja do governo, por meio de leis ou incentivos, ou da sociedade. Pes-­ quisem ações, exemplos, conversem com quem já adotou algumas práticas. Quanto mais informação, mais alternativas para os processos específicos de cada empresa.

“Independente dos diferenciais competiti-­ vos que podem trazer, é nossa responsabili-­ dade adotá-­las. Em-­ presas, também, são referências para a so-­ ciedade.”


6XVWHQWDELOLGDGH H UHWRUQR ŹQDQFHLUR HÁ PERDAS ECONÔMICAS POR INVES-­ TIR NAS QUESTÕES AMBIENTAIS? MUITAS EMPRESAS ADIAM INICIAR PROCESSOS DE GESTÃO AMBIENTAL POR MEDO DE GERAR CUSTOS E GASTOS. COMO VOCÊ PERCEBE ISSO? Acredito que seja uma questão de ponto de vista. Vejo como investi-­ mento, pois com certeza pode trazer um retorno financeiro. Pode ser vis-­ to até mesmo como economia. São inúmeros os casos de empresas que investiram em uma gestão ambiental para ter uma economia a médio e longo prazo. Por exemplo, algumas fábricas vêm instalando geradores eólicos para suprir suas necessida-­ des de energia. Com certeza, de-­ pois de um tempo, o valor investido será pago com a economia conquis-­ tada. E isso pode ser extrapolado para qualquer outro processo. O valor que se agrega, para uma em-­ presa que adota essas práticas, é praticamente imensurável, e esses diferenciais podem ser o fator de escolha do cliente e, às vezes, as empresas nem ficam sabendo.

VALE A PENA MUDAR A GESTÃO NA EM-­ PRESA INCLUINDO, SOB O OLHAR ECO-­ NÔMICO, OS ASPECTOS SOCIAIS E AM-­ BIENTAIS? POR QUÊ? Nós adotamos três variáveis como norte da nossa gestão: pessoas, Planeta e lucro. Essas variáveis ca-­ minham juntas, são analisadas juntas e possuem igual importância. Isso tem sido a chave para o nosso su-­ cesso, nosso crescimento. E, acima de tudo, é uma tendência adotar práticas mais humanas e sustentá-­ veis;; os clientes, cada vez mais, procuram esse tipo de responsabi-­ lidade. Ninguém quer, por exemplo, se associar com uma empresa que faça um trabalho escravo ou polua os lençóis freáticos que abastecem uma determinada região.

CITE EXEMPLOS DE PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE E GESTÃO AMBIENTAL DE FÁCIL APLICAÇÃO PELAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS?

Adotar o nosso serviço, o serviço de “ um bike courier” ao invés de um motoboy. Repensar o uso de papel na empresa. Adotar a coleta seletiva e separação do lixo. Repensar a questão da energia elétrica. Por exemplo, uma pequena empresa pode estar situada em uma residência. Será que essa casa não tem uma iluminação natural, boa o suficiente para garantir uma ilumina-­ ção durante quase todo o dia? Usar o ar-­condicionado é realmente necessário? Dependendo da lo-­ calidade, talvez um estudo possibilite uma alternativa. Analisar o ambiente de trabalho e propiciar boas condições para que os colaboradores possam desenvolver seu trabalho. Passar conhecimentos sobre o assunto para as pessoas que trabalham na organização, além do conhecimento técnico necessário. Reduzir o consumo dos itens da empresa. Analisar se tudo está sen-­ do bem aproveitado. O recurso financeiro também é um recurso finito. Consumir o mínimo possível ajuda não só o bolso, mas o meio ambiente. Incentivar os funcionários a utilizar outros meios de transporte, por exemplo, a bicicleta. Perde-­se muito tempo, sem contar energia, nos en-­ garrafamentos das grandes cidades. Pode ser uma enorme contribuição para a empresa ter funcionários mais saudáveis, menos estressados e mais alegres. A produtividade é muito maior.

CONHEÇA MAIS: EMPRESA: Carbono Zero Courier SITE: www.carbonozerocourier.com.br E-­MAIL: contato@carbonozerocourier.com.br

“Nós adotamos três va-­ riáveis como norte da nossa gestão: pessoas, Planeta e lucro.”

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MUDANÇA NOS INSUMOS PARA AMPLIAR MERCADOS

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%2$ (63(5$1 $ A Cooperativa dos Produtores de Café Especial de Boa Esperança, fundada há três anos, é uma institui-­ ção mineira, do ramo de cafeicultura, especializada na produção de café sustentável. É uma organização de pequenos produtores que conseguiu reconheci-­ mento e inserção no mercado com preços mais justos e valorizando a qualidade de vida das famílias e o meio ambiente. André Luiz, presidente da Cooperati-­ va, falou das oportunidades e dos desafios encon-­ trados.

QUAIS OS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA O SUCESSO DE UMA EMPRESA? EM QUE CONSISTE A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL? Organização, transparência, de-­ mocracia, responsabilidades am-­ biental e social são elementos cha-­ ve na empresa. Responsabilidade social, assim, é realizar ações efe-­ tivas que demonstram consciência de todos os envolvidos. Trabalhar de forma responsável e sustentável nas práticas socioeconômicas da empresa.

O QUE SUA EMPRESA FAZ PARA SER CONSIDERADA RESPONSÁVEL AMBIEN-­ TALMENTE? A empresa trabalha com o sistema de produção sustentável de café, desenvolvendo ações ligadas às praticas sustentáveis, por meio de assistência técnica exclusiva ao ma-­ nejo da produção de café. Temos várias ações planejadas e executa-­ das, desde a implantação da coo-­ perativa. Algumas delas são: plano ambiental voltado às comunidades envolvidas;; rastreamento das lavou-­ ras e tratos culturais;; mapeamento das propriedades;; nascentes geo-­

“Organização, transparência, democracia, responsabilidades ambiental e social são elementos chave na empresa. Responsa-­ bilidade social, assim, é realizar ações efetivas que demonstram consciência de todos os envolvidos.”

localizadas;; ações de recuperação de nascentes;; diminuição gradativa do uso de pesticidas;; dentre várias outras ações. ACREDITA QUE JÁ EXISTAM CLIENTES QUE PREFEREM EMPRESAS QUE DEMONSTRAM POSTURAS DE RESPONSABILIDADE AM-­ BIENTAL? Sim. O mercado todo está se vol-­ tando para a responsabilidade am-­ biental. Todos os nossos clientes, pessoa jurídica, já possuem ações de responsabilidade socioambien-­ tal nos processos e procedimentos da empresa. A empresa alcança am-­ plo mercado por agir sob os aspec-­ tos de responsabilidade ambiental. Depois que adotamos práticas de produção de café com responsabi-­ lidade ambiental, nossa cooperati-­ va cresceu, aceleradamente, e con-­ quistou novos clientes.

COMO FAZ PARA MOTIVAR SEUS FUNCIO-­ NÁRIOS E CLIENTES PARA ESTA POSTURA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Mostrar a eles a importância da sustentabilidade, hoje, na nossa empresa, e compartilhar responsabi-­ lidades que lhes façam reciclar con-­ ceitos. Quanto aos clientes, os moti-­ vamos por meio de cartilhas e visitas orientadas em nossa organização.

“A empresa alcança am-­ plo mercado por agir sob os aspectos de responsa-­ bilidade ambiental.”

“RECICLAR CONCEITOS”

“O mercado todo está se voltando para a responsabilidade ambiental.”

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Mudanças nos insumos para ampliar mercados HÁ PERDAS ECONÔMICAS POR INVESTIR NAS QUESTÕES AMBIEN-­ TAIS? MUITAS EMPRESAS ADIAM INICIAR PROCESSOS DE GESTÃO AMBIENTAL POR MEDO DE GERAR CUSTOS E GASTOS. COMO VOCÊ PERCEBE ISSO? As questões ambientais não geram custos adicionais à empresa. Pelo contrário, na cafeicultura, elas minimizam custos de produção. As empresas devem trabalhar de for-­ ma concreta nos conceitos da responsabilidade socio-­ ambiental e, uma vez que o faça, os processos se inter-­ nalizam. É gratificante, saudável e economicamente mais rentável. Os aspectos ambientais e sociais do presente mostram, de forma clara, a maneira certa de direcionar decisões futuras.

“As empresas devem trabalhar de forma con-­ creta nos conceitos da responsabilidade socio-­ ambiental e, uma vez que o faça, os processos se internalizam.”

CITE EXEMPLOS DE PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE E GESTÃO AMBIENTAL DE FÁCIL APLICAÇÃO PELAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS?

Conscientização, Coletas de lixo seletivas, Envolvimento dos funcionários, Envolvimento das comunidades e Palestras educativas.

CONHEÇA MAIS: EMPRESA: Cooperativa dos Produtores de Café Especial de Boa Esperança E-­MAIL: andre.be.costas@gmail.com

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RECONHECIMENTO POR BOAS PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS

&(5 0,&$ ,78,87$%$ A Cerâmica Ituiutaba está no mercado desde 1973. A empresa nasceu com o objetivo de produzir telhas tijolos e acabamentos de argila, tendo como motiva-­ ção inicial auxiliar no processo de desenvolvimento da cidade do pontal do Triângulo Mineiro, com foco principal em produzir produtos de qualidade. A alta administração da empresa responde sobre a impor-­ tância das questões ambientais no negócio.

QUAIS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA O SUCESSO DE UMA EMPRESA? Com o passar dos tempos, o ob-­ jetivo inicial da empresa foi se mo-­ dificando, devido à exigências do mercado. Um dos itens que tem se mostrado fundamental para o suces-­ so da empresa é sua preocupação com a gestão ambiental. A partir de então, a empresa passou a agir com responsabilidade ambiental e o foco passou de qualidade, que é direito do consumidor, à preocupa-­ ção principal com o meio ambiente em todas as fases do processo pro-­ dutivo. O QUE SUA EMPRESA FAZ PARA SER CON-­ SIDERADA RESPONSÁVEL AMBIENTAL-­ MENTE? Em todo o processo de queima do produto, a empresa substituiu a le-­ nha de madeira nativa por cavaco de resíduos de madeira plantada, legalmente autorizada por órgãos ambientais e devidamente documen-­ tada. Além disso, a empresa reutiliza a água da chuva para molhar a ar-­ gila utilizada no processo produti-­ vo, evitando o desperdício de água doce disponível. Também possui no processo produtivo uma máquina que reutiliza a água descartada durante o processo de produção. A argila utilizada é legalizada e do-­ cumentada. O processo de inclusão de práti-­ cas ambientais é lento, mas neces-­ sário. Todas as práticas citadas são

incluídas no processo produtivo len-­ tamente para evitar mudanças brus-­ cas no processo.

“Um dos itens que tem se mostrado fundamental para o sucesso da em-­ presa é sua preocupa-­ ção com a gestão am-­ biental.” ACREDITA QUE EXISTAM CLIENTES QUE PREFEREM EMPRESAS QUE DEMONSTRAM POSTURAS DE RESPONSABILIDADE AM-­ BIENTAL? Inicialmente, não percebíamos uma cobrança do cliente para todo esse processo de melhoria. A empre-­ sa passou a divulgar como as ações sustentáveis poderiam beneficiar a população como um todo e hoje temos reconhecimento por parte de nossos clientes. Entendemos, a partir daí, que não é necessário apenas mudar, mas também divulgar o que é feito para que possamos tanto ser vir de exemplo para outras empresas, quanto despertar em nossos clientes a consciência de adquirir produtos de empresas sustentáveis, para ga-­ rantir um meio ambiente melhor.Temos a consciência que esse processo de entendimento por parte do cliente é lento. Tentamos, então, em vez de ter foco em alcançar novos clientes, fo-­ car em conscientizar os clientes que temos para que eles nos tragam mais colaboradores para nossa missão

de um meio ambiente mais saudável. A empresa tem investido em marke-­ ting para divulgar sua postura aos seus clientes. Além disso, e-­mails com informações das ações realizadas são enviados regularmente, a fim de colocá-­los a par de tudo o que esta sendo mudado na empresa.

“Não é necessário ape-­ nas mudar, mas também divulgar o que é feito para que possamos tan-­ to ser vir de exemplo para outras empresas, quan-­ to despertar em nossos clientes a consciência de adquirir produtos de em-­ presas sustentáveis, para garantir um meio ambien-­ te melhor.”


Reconhecimento por boas práticas socioambientais COMO FAZ PARA MOTIVAR SEUS FUNCIO-­ NÁRIOS PARA ESSA POSTURA DE DESEN-­ VOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Fazemos palestras de esclareci-­ mento sobre o assunto, bem como para mostrar o que significa o uso ecoeficiente na produção. Demons-­ tramos a eles que pequenas atitu-­ des, como fechar uma torneira que está pingando, podem trazer gran-­ des benefícios à sociedade como um todo. Além disso, a empresa cul-­ tiva uma horta, cujos produtos são doados para os funcionários como forma de incentivo por manterem a empresa limpa. E-­MAIL: ceramicaitba@hotmail.com

“Às vezes, o olhar eco-­ nômico nos cega para uma realidade que não depende unicamente do dinheiro. O que adian-­ ta no futuro ter rios de dinheiro e não ter água para beber?.”

HÁ PERDAS ECONÔMICAS POR INVESTIR NAS QUESTÕES AMBIENTAIS? Toda mudança gera gastos. Mas, dependendo do ramo, eles podem ser insignificantes perto dos bene-­ fícios que podem gerar no futuro. Acreditamos que com o mercado cada dia mais competitivo e exi-­ gente, o próprio curso do desen-­ volvimento nos leva a mudanças. No começo, nem sempre elas agradam. Às vezes, o olhar econômico nos cega para uma realidade que não depende unicamente do dinheiro. O que adianta no futuro ter rios de di-­ nheiro e não ter água para beber? Devemos ter a consciência de que em um negocio é necessário, sim, ter lucro, mas também podemos achar um caminho de ter lucros e ainda por cima trazer benefícios para o meio ambiente.

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RECICLAGEM DE RESÍDUOS ELETRÔNICOS

RCTEC A RCTEC é uma empresa que há dois anos atua no mercado de reciclagem de lixo eletrônico. A institui-­ ção nasceu com a missão de oferecer às empresas um ser viço totalmente confiável e transparente de coleta e destinação correta de resíduos eletrônicos. Com essa postura, a empresa tem como meta se tornar referência no ramo, no Nordeste do país. O princi-­ pal objetivo da instituição é a preser vação do meio ambiente por meio da coleta e destinação correta de resíduos eletrônicos. O diretor da empresa, Flávio Costa, contou um pouco do projeto. Para a empresa, perseverança, conhecimento sobre o produto ou ser viço, transparência e inovação são os elementos chave para o sucesso.

O QUE É AGIR COM RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL? É alinhar e desenvolver soluções com base em três pilares: econômi-­ co, social e ambiental. E é importan-­ te ressaltar que não basta colocar em prática somente no processo interno, mas também levar estas práticas para fora da empresa, en-­ volvendo colaboradores, clientes, fornecedores e parceiros. Estamos focados na preser vação do meio ambiente por meio do des-­ carte ambientalmente correto do lixo eletrônico. Ou seja, todo ma-­ terial coletado tem sua destinação final adequada. Nada será descar-­ tado em lixões, beira de rios, ou até mesmo em terrenos baldios. Temos como princípio base a logística re-­ versa. O maior empecilho em tudo que envolva prática ambiental é a cons-­ cientização das pessoas. Depois, quebrar certos hábitos, como por exemplo: aquele papel com erro de impressão, ao invés de rasga-­ do e jogado fora, pode-­se utilizar o verso como rascunho e, quando não mais utilizável, picota e recicla. Para isso, apresentamos resultados e mostramos o quanto beneficia o meio ambiente, sempre levando em consideração os pilares que com-­ põem a sustentabilidade.

Junto ao público externo, busca-­ mos todo tipo de comunicação: te-­ levisiva, r ádio, p anfletagem, a núncio em sites, mídias sociais, campanhas envolvendo a população. Passare-­ mos a investir em palestras também. A cada reunião realizada com es-­ tes clientes, apresentamos resulta-­ dos e mostramos a viabilidade de ser socioambiental.

“Buscamos todo tipo de comunicação: televi-­ siva, rádio, panfletagem, anúncio em sites, mídias sociais, campanhas en-­ volvendo a população. Passaremos a investir em palestras também.”

COMO INCLUIR, NA PRÁTICA EMPRESA-­ RIAL, POSTURAS BASEADAS NA RESPON-­ SABILIDADE AMBIENTAL? Pode-­se iniciar com ações simples dentro da empresa, por meio de car-­ tazes em quadros de aviso, comuni-­ cados internos por meio de emails, placas espalhadas pelos departa-­ mentos como, por exemplo: “apague

“Não basta colocar em prática somente no pro-­ cesso interno, mas tam-­ bém levar estas práticas para fora da empresa, envolvendo colaborado-­ res, clientes, fornecedo-­ res e parceiros.” a luz ao sair da sala”, “desligue o ar-­condicionado ao sair ”. Distribuir pela empresa lixeiras para coleta seletiva -­ no caso de a coleta re-­ verter a renda do lixo para uma ins-­ tituição carente ou até mesmo para cooperativa, também ajuda. Porém, o mais importante é apresentar re-­ sultados aos envolvidos como um estimulante para se alcançar melho-­ res resultados.

“Ações simples dentro da empresa, por meio de carta-­ zes em quadros de aviso, co-­ municados internos por meio de emails, placas espalhadas pelos departamentos como, por exemplo: “apague a luz ao sair da sala”, “desligue o ar-­condicionado ao sair ”

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A reciclagem incluída nos processos de produção ACREDITA QUE EXISTAM CLIENTES QUE PREFEREM EMPRESAS QUE DEMONSTRAM POSTURAS DE RESPONSABILIDADE AM-­ BIENTAL? Sim, e esse número deve subir se houver um comprometimento maior. Existem, ainda, algumas empresas que estão com mentalidade retró-­ gada, que visam, por menor que seja, um retorno financeiro. Vou ci-­ tar, por exemplo, o lixo eletrônico. Algumas empresas preferem vender esse material a dá-­los destino corre-­ to. No entanto, no ato da venda, a empresa sequer exige do comprador documentos básicos ou certificação que permita o manuseio adequado deste resíduo. É de conhecimento de todos que estes compradores in-­ formais retiram o que tem valor agre-­ gado, e aquela parte, que gera cus-­ to para destinação correta, volta a ser jogada no meio ambiente das piores maneiras. A RCTEC possui um mercado mais amplo desde que decidiu agir sob os aspectos da responsabilidade ambiental. Até mesmo por se tratar de uma empresa pioneira no Nordeste. Porém, vale salientar, o pioneirismo transparente e correto. Focamos na conscientiza-­ ção e provamos que é mais viável descarte de maneira correta do que visar algum valor. Foi aí que mais em-­ presas e pessoas buscaram a RCTEC para descartar seu lixo eletrônico.

“É notório que, num primei-­ ro instante, existirá um custo para as empresas fecharem um ciclo verde. Porém, esse custo é mínimo perto do re-­ torno gerado. ” MUITAS EMPRESAS ADIAM INICIAR PRO-­ CESSOS DE GESTÃO AMBIENTAL POR MEDO DE GERAR CUSTOS E GASTOS. COMO VOCÊ PERCEBE ISSO? É notório que, num primeiro instan-­ te, existirá um custo para as empre-­ sas fecharem um ciclo verde. Porém, esse custo é mínimo perto do retorno gerado. Mas isso, só será percebido quando esta mesma empresa co-­ meçar a disseminar seu diferencial como empresa sustentável. Assim, possivelmente, terá novos contratos

“A RCTEC possui um mer-­ cado mais amplo desde que decidiu agir sob os aspectos da responsabili-­ dade ambiental. Até mesmo por se tratar de uma empre-­ sa pioneira no Nordeste.” e também a mídia divulgando suas ações. Vejo essa decisão como um investimento em médio prazo. Vale lembrar que existem alguns incenti-­ vos fiscais oferecidos pelo governo, como financiamentos facilitados e com juros baixos. Já existem grandes clientes priori-­ zando empresas parceiras que pra-­ ticam essas ações e buscam também certificações ou selos como, ISO, Selo da Fundação Abrinq ou qual-­ quer selo ou certificação de reco-­ nhecimento ambiental ou social. Sugiro às empresas que façam um trabalho contínuo e que busquem alternativas socioambientais, pois isso dá mais credibilidade no mer-­ cado. E hoje, credibilidade é o grande diferencial. Aquele que não tiver uma gestão ambiental, por me-­ nor que seja, vai ficar fora da con-­ corrência. Estamos vivendo uma era mais ecológica.

CONHEÇA MAIS: www.rctecresiduos.com.br E-­MAIL: rctec@rctecresiduos.com.br

“ Vejo essa decisão como um investimento em médio pra-­ zo. Vale lembrar que existem alguns incentivos fiscais ofe-­ recidos pelo governo, como financiamentos facilitados e com juros baixos.”

“Façam um trabalho contínuo e que busquem alternativas socioambientais, pois isso dá mais credibilidade no merca-­ do. E hoje, credibilidade é o grande diferencial.”

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ECONOMIA DE RESÍDUOS, TECNOLOGIA E ECOEFICIÊNCIA

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QUAL FOI A PRINCIPAL MOTIVAÇÃO PARA ABRIR SUA EMPRESA? Há cerca de três anos, já fazíamos locação de impressoras a cera. Po-­ rém, essas só existiam no formato A4/ Ofício, o que a inviabilizava como gráfica. Só atingiu o formato atual há cerca de um ano, com o adven-­ to de uma nova geração de impres-­ soras em formatos SR-­A3 que usam a tecnologia de cera. O fundador, José Cláudio Fonseca, era funcio-­ nário da XEROX. Lá, atuou na área técnica e comercial. Foi aí que se deu conta que a tecnologia a laser, apesar do nome futurista, já é ultra-­ passada e tem um pesado impacto ambiental. O motivo para abrir uma empresa dentro dos melhores princí-­ pios da sustentabilidade foi a possi-­ bilidade de fazer o que se acredita e ganhar sua vida com isso. QUAIS OS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA O SUCESSO DE UMA EMPRESA? Lançamos o produto certo na hora certa. Fomos inovadores e somos a única empresa das Américas com produção 100% ecológica. Acre-­ dito que o mercado sentiu que so-­ mos sinceros na nossa proposta de sustentabilidade. Nosso DNA é sus-­ tentável e acredito que o mercado

A Eko Foot Print é uma gráfica rápida. Este é um modelo de empresa do ramo gráfico em que os clientes enviam o arquivo ou vão com um pen drive até a loja e aguardam a impressão. A es-­ tratégia da instituição fundamenta-­se no atendi-­ mento eficiente e com qualidade para impressos de pequenas tiragens. A empresa também faz lo-­ cação de impressoras e fornece todo tipo de suprimentos e assistência técnica aos clientes. A marca foi inovadora e é a única das Américas com produção 100% ecológica. Todo o pro-­ cesso produtivo foi desenhado visando os vá-­ rios âmbitos da sustentabilidade. Em entrevista, o diretor comercial, José Cláudio Fonseca, falou sobre a iniciativa e desafios.

percebe isso. Não somos ecológi-­ cos de ocasião. Outro fator é ter um produto competitivo, ter objetivos claros e caprichar na gestão.

“O motivo para abrir uma empresa dentro dos melho-­ res princípios da sustenta-­ bilidade foi a possibilidade de fazer o que se acredita e ganhar sua vida com isso.”

O QUE É AGIR COM RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL? Em termos ideais seria aquela em-­ presa que se dedica a um produto voltado para a melhoria ou repara-­ ção do meio ambiente, ou a produtos e serviços mais eficientes, que a cada aperfeiçoamento precisem cada vez menos de recursos do planeta. Mas só de ajustar seus processos neste senti-­ do já é um grande avanço

O QUE SUA EMPRESA FAZ PARA SER CONSIDERADA RESPONSÁVEL AMBIEN-­ TALMENTE? Nossa produção é feita utilizan-­ do-­se somente impressoras de tec-­ nologia ecológica, que geram 90% a menos de resíduos. Oferecemos a impressão em papel reciclado ou à base de fibra de bagaço de cana

“Nosso DNA é sustentável e acredito que o mercado per-­ cebe isso. Não somos eco-­ lógicos de ocasião. Outro fator é ter um produto com-­ petitivo, ter objetivos claros e caprichar na gestão.” pelo mesmo preço do papel comum. Na pior das hipóteses, utilizamos pa-­ péis certificados FSC. Nossa frota utiliza somente álcool combustível e, sempre que viável, utilizamos ser vi-­ ços de bike-­courriers para entregas.

“Ou a produtos e ser viços mais eficientes que, a cada aper feiçoamento, exijam o mínimo de recursos do Planeta.”

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7HFQRORJLD H (FRHŹFLªQFLD COMO INCLUIR, NA PRÁTICA EMPRESA-­ RIAL, POSTURAS BASEADAS NA RESPON-­ SABILIDADE AMBIENTAL? Basta querer e estar atento às no-­ vas opções e tecnologias que sur-­ gem. Às vezes, são medidas fáceis e vantajosas e que geram retorno financeiro. Preocupar-­se com a des-­ tinação dos resíduos e estimular os funcionários a acharem em suas áre-­ as as possibilidades de sugerirem processos mais enxutos ou eficientes é uma boa ideia e gera um ambiente de união em torno de um ideal sau-­ dável. E quando, afinal, uma medida ecológica/sustentável não for eco-­ nomicamente vantajosa, pode-­se “ bancá-­la”, mas, em contrapartida, buscar obter ganhos colaterais em termos institucionais e de marketing. QUAIS SÃO AS MAIORES DIFICULDADES PARA ALCANÇAR ESTA POSTURA? Acredito que a vontade ou a sen-­ sibilização dos gestores. Esses, mui-­ tas vezes, não se importam ou mes-­ mo acham que é muito dispendioso ou sugará muita energia da equipe. Mas acredito que as empresas res-­ ponsáveis tendem a ser admiradas e alguns clientes são sensíveis a este diferencial. Trabalhamos, hoje, com um nível de cliente bem mais selecionado. Saímos do leilão de preços, daque-­ le cliente predatório e atendemos clientes bem mais conscientes e com uma linha de ação com uma ética semelhante a nossa. Não diria que temos um mercado mais amplo, mas sim um mercado mais específico, di-­ ferenciado e fiel. COMO FAZ PARA MOTIVAR SEUS FUNCIO-­ NÁRIOS E CLIENTES PARA ESTA POSTURA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? Demonstro que eles são parte ati-­ va de um movimento atual e que só traz benefícios para a sociedade, que fazem parte de uma empresa ética e de vanguarda. Também in-­ vestimos em ações de marketing. Participamos de concursos, feiras, fazemos palestras e apoiamos even-­ tos ligados à sustentabilidade. Em nosso site estamos criando uma comunidade sustentável, onde pro-­ curamos interligar todas as empre-­

sas que compartilham de nossa visão, de forma a dar-­lhes maior visibilidade e fomentar as negociações entre estas. QUE CONSELHO DARIA ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NO QUE SE REFERE À GESTÃO AMBIENTAL E RES-­ PONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL? José Cláudio Fonseca: Que não achem que são pequenas demais para implementar ações de respon-­ sabilidade socioambiental. Esse tipo de ação será um exercício de inteligência e as aproximará de em-­ presas maiores. Vale a pena mudar a gestão na empresa incluindo, sob o olhar eco-­ nômico, os aspectos sociais e am-­ bientais, pois em uma escala macro, todos se beneficiam. Como disse, as empresas que implementam ações socioambientais sobem de patamar tanto culturalmente, quanto no mer-­ cado.

“E quando, afinal, uma me-­ dida ecológica/sustentável não for economicamente vantajosa, pode-­se “ ban-­ cá-­la”, mas, em contrapar-­ tida, buscar obter ganhos colaterais em termos institu-­ cionais e de marketing.”

“Empresas que implemen-­ tam ações socioambientais sobem de patamar tanto culturalmente, quanto no mercado.”

A EMPRESA SUGERE QUE SE INICIE A GESTÃO AMBIENTAL PELAS DICAS ABAIXO:

Gestão de resíduos;; Racionalização do uso de combustíveis;; Racionalização de processos;; Produção sustentável de documentos;; Iluminação e gasto de energia;; Eliminação de processos e documentos inúteis;; Realização de reuniões para discussão do assunto, estendendo as possibilidades até para a vida dos funcionários fora do ambiente de trabalho;; Buscar utilizar embalagens menores e materiais mais facilmente de-­ gradáveis na natureza;; Rever processos em busca de ciclos mais enxutos, eliminando pro-­ cessos que despendam recursos e que gerem pouco ou nenhum valor para a empresa.

“Não achem que são pequenas demais para imple-­ mentar ações de responsabilidade socioambiental. Esse tipo de ação será um exercício de inteligência e as aproximará de empresas maiores.” CONHEÇA MAIS: www.ekofootprint.com.br E-­MAIL: eko@ekofootprint.com.br

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A OPINIÃO DE ALGUNS

CONSUMIDORES


SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE NO COMPORTAMENTO DE CONSUMO

Norio Takaki Júnior Formado em Gestão Ambiental e pós-­graduando em Análise Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, Norio tem 39 anos, é casado e tem três filhos. Morou durante quase vinte anos no exterior e recentemente retornou ao Brasil. Norio fala sobre sua postura de consumo cons-­ ciente e o quanto espera das empresas no que diz res-­ peito à Responsabilidade Socioambiental.

“Em termos de alimentação, evito produtos altamente processados e dou preferência a marcas de empresas que demonstram responsabilidade socioambiental. Considero ser uma empresa ambientalmente responsável aquela que incorpora em seus produtos/serviços elementos de sustentabilidade, e que adota ações que efetivamente contri-­ buam para a defesa do ambiente natural e bem estar social. Desta forma, buscar a prática dos 3 Rs (reduzir o uso, reutilizar e reciclar), promover a educação ambiental dentro da empresa e por meio de seus produtos e pautar o imperativo do lucro com considerações de natureza ética é o que espero em termos de postura empresarial”.

COMO VOCÊ IDENTIFICA UMA EMPRESA AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL? Na ausência de informações con-­ fiáveis veiculadas na mídia, baseio-­ -­me na averiguação de selos e certificações. O tipo de produto também pode dar uma ideia do seu impacto ambiental. Outra informa-­ ção útil é a origem do produto. A educação ambiental dos fun-­ cionários demonstra compromisso com a sustentabilidade ambiental e a capacitação dos funcionários é consistente com o ideal do desen-­ volvimento social.

O que Norio mais leva em conta na hora da compra é a “qualida-­ de do produto e a idoneidade da empresa”. Dessa forma, afirma que pagaria até 30% a mais por pro-­ dutos considerados ecoeficientes. “Dependendo do valor do produto (quanto mais caro o tipo de produ-­ to mais difícil se torna a decisão) eu me disporia a pagar até 30% a mais, contanto que meu poder aqui-­ sitivo permitisse. A predisposição em pagar mais é maior quanto mais efeito positivo sobre a saúde de mi-­ nha família e o meio ambiente tiver o produto”.

“A predisposição em pagar mais é maior quanto mais efeito positivo sobre a saúde de minha família e o meio ambiente tiver o produto”

VOCÊ PERCEBE HAVER BOA COMUNICA-­ ÇÃO DAS QUESTÕES DE ECOEFICIÊNCIA DE MARCAS QUE A PRATICAM? Não. No universo de marcas a que estamos expostos, realmente fica di-­ fícil descobrir quais delas são mais ecoeficientes. Na maioria das ve-­ zes, por falta de informação, acabo tomando minha decisão de compra com base no hábito, preço ou quali-­ dade percebida. Seria interessante a criação de um espaço na inter-­ net voltado exatamente para a tro-­ ca de informações sobre produtos e ser viços sustentáveis (quem sabe contando com opiniões de especia-­ listas, além de opiniões e críticas de consumidores). Também seria útil a impressão de certificações/selos de origem confiável.

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Sustentabilidade e qualidade no comportamento do consumidor

“Considero ser uma empre-­ sa ambientalmente respon-­ sável aquela que incorpora em seus produtos/ser viços elementos de sustentabili-­ dade, e que adota ações que efetivamente contribu-­ am para a defesa do am-­ biente natural e bem estar social.”

LENTE VERDE PAGO MAIS POR UM PRODUTO ECOLO-­ GICAMENTE CORRETO.

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

EU ESTARIA DISPOSTO A TROCAR AS MARCAS QUE COMPRO HABITUALMEN-­ TE POR OUTRAS QUE COMPROVASSEM SER OS PRODUTOS SUSTENTÁVEIS, CASO POSSUÍSSEM A MESMA QUALIDADE.

muitíssimo muito não sei pouco não estaria

ESTOU DISPOSTO A REDUZIR O CONSU-­ MO DE PRODUTOS FEITOS COM RECUR-­ SOS NATURAIS ESCASSOS.

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente EU SEMPRE OLHO OS RÓTULOS DOS PRODUTOS PARA VERIFICAR SE A MARCA TEM ALGUM VALOR SOCIAL OU AMBIEN-­ TAL AGREGADO. Concordo totalmente

Concordo Discordo Discordo totalmente

DOU PREFERÊNCIA A PRODUTOS FABRI-­ CADOS E COMERCIALIZADOS POR EM-­ PRESAS QUE NÃO TRAZEM DANOS PARA O MEIO AMBIENTE.

SABER QUE ESSA MARCA IMPACTA O MEIO AMBIENTE ME DESESTIMULA A CONSUMI-­LA.

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

Concordo totalmente

A PARTIR DOS MEUS ATOS DE CONSUMO, POSSO AJUDAR NA SOBREVIVÊNCIA DO PLANETA.

“Seria interessante a cria-­ ção de um espaço na in-­ ternet voltado exatamente para a troca de informa-­ ções sobre produtos e ser-­ viços sustentáveis.”

“ Qualidade do pro-­ duto e a idoneidade da empresa.”

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

NORIO TAKAKI JÚNIOR: takakiyama@mac.com

Concordo Discordo Discordo totalmente

“A educação ambiental dos funcionários demons-­ tra compromisso com a sustentabilidade ambien-­ tal e a capacitação dos funcionários é consistente com o ideal do desenvol-­ vimento social.”

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MAIS ATENÇÃO AOS PRODUTOS E MARCAS OFERTADAS

Ana Cristina Façanha Com 52 anos, casada, e com um filho de 26 anos, Ana é profissional de Relações Públicas, pós-­graduada em Gestão da Comunicação, e proprietária de uma loja de arquitetura, arte e design. Ana fala sobre a importância de optar por produtos am-­ bientalmente mais corretos, levando as empresas a am-­ pliarem as ofertas.

“Procuro estar atenta aos produtos e marcas ofertadas que demonstram possuir um direcio-­ namento ecologicamente correto.”

VOCÊ SE CONSIDERA UM CONSUMIDOR CONSCIENTE NO QUE SE REFERE ÀS QUESTÕES SOCIAIS E AMBIENTAIS? Sim, não tanto como gostaria, po-­ rém procuro estar atenta aos pro-­ dutos e marcas ofertadas que de-­ monstram possuir um direcionamento ecologicamente correto. Procuro ficar ligada às empresas que têm uma gestão voltada para o público interno, preocupada com seus fun-­ cionários, e que realmente são so-­ cialmente corretas.

“A empresa deve se enga-­ jar para o processo de me-­ lhoria contínua. Não pode se considerar como empre-­ sa com total responsabili-­ dade socioambiental.”

COMO IDENTIFICAR UMA EMPRESA COM RESPONSABILIDADE SOCIAL? Trata-­se daquela que possui um conjunto de ações que fazem com que o mundo “gire melhor ”. Uma empresa deve ter uma postura ecologicamente correta, o que inclui se preocupar e estar atenta quanto à origem, manejo e finitude da matéria-­prima com a qual produz seus produtos. Deve, também, acompanhar o trabalho de seus fornecedores, pois se sabe que, infelizmen-­ te, ainda há a prática de trabalho escravo, infantil entre outros. A empresa deve se engajar para o processo de melhoria contínua. Não pode se con-­ siderar como empresa com total responsabilidade socioambiental. Para que seja totalmente enquadrada também precisa ter respeito com seus funcio-­ nários, pagar dignamente e investir neles. É um conjunto. Uma engrenagem que tornará o mundo melhor, harmonioso, sem tantas desigualdades sociais e em paz com a natureza. No que se refere aos aspectos ambientais, sempre espero que não poluam o ambiente com o uso indiscriminado ou excessivo de produtos químicos, que se responsabilizem pelo retorno de suas embalagens e que utilizem o máximo de material reciclável. Na hora de escolher um produto, busco, à medida do possível, dar pre-­ ferência àquelas que já possuem renome quanto à responsabilidade so-­ cioambiental. A qualidade e o preço são consequência na hora da minha escolha. Desta forma, concordo em trocar de marca, caso encontre outra que comprove estar mais socioambientalmente correta. Por me preocupar com o meio ambiente, acho que estas pequenas ações ajudam muito. O problema maior, é que não vejo muita divulgação dos aspectos sociais e ambientais ligados às marcas. As mídias sociais seriam um bom canal de divulgação destas práticas.

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Mais atenção aos produtos e marcas ofertadas “Na hora de escolher um produto, busco, à medida do possível, dar preferência àquelas que já possuem re-­ nome quanto à responsabili-­ dade socioambiental. ”

DOU PREFERÊNCIA A PRODUTOS FABRI-­ CADOS E COMERCIALIZADOS POR EM-­ PRESAS QUE NÃO TRAZEM DANOS AO MEIO AMBIENTE Concordo totalmente

Concordo Discordo Discordo totalmente ESTOU DISPOSTO A REDUZIR O CONSU-­ MO DE PRODUTOS FEITOS COM RECUR-­ SOS NATURAIS ESCASSOS

LENTE VERDE AS EMPRESAS QUE DESEMPENHAM PRO-­ JETOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL TÊM MAIS VALOR

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

A PARTIR DOS MEUS ATOS DE CONSUMO, POSSO AJUDAR NA SOBREVIVÊNCIA DO PLANETA

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

Concordo totalmente

Concordo Discordo Discordo totalmente

AS PUBLICAÇÕES DAS EMPRESAS ECO-­ LOGICAMENTE CORRETAS ESTÃO EXPLÍ-­ CITAS PARA O CONSUMIDOR DAR PREFE-­ RÊNCIA ÀS MARCAS ASSOCIADAS

Concordo totalmente Concordo

Discordo Discordo totalmente

SABER QUE ESSA MARCA IMPACTA O MEIO AMBIENTE ME REPELE A CONSUMI-­LA

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

“O problema maior, é que não vejo muita divul-­ gação dos aspectos so-­ ciais e ambientais ligados às marcas.”

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É PRECISO TER COMO FOCO FAZER MELHOR COM MENOS

0´QLFD 3UDGR Professora universitária e consultora/pesquisadora, Mônica tem 53 anos e uma única filha, de 22. Navega entre ensino, pesquisa e exten-­ são, como editora de Sustentabilidade de uma agência de notícias. É jornalista diplomada com mestrado em comunicação pela Universida-­ de de Brasília. Foi repórter e editora de veículos de comunicação, as-­ sessora de comunicação de autoridades de Saúde, gestora de comu-­ nicação de instituições e consultora da Organização Pan-­Americana de Saúde (OPS) para países da América Latina. Mônica fala sobre o papel individual para a mudança de comporta-­ mento empresarial.

“Sustentabilidade aparece na minha vida aos 19 anos, ao praticar Jornalismo Público e de Meio Ambiente, fazendo reportagens sobre a falta de água potável, os problemas da pesca do surubim no Lago de Sobradinho e os danos ambientais do curtume local, que descartava o seu lixo a céu aberto, no Morro da Batateira, em Juazeiro (BA), provocando a morte do gado de pecuaristas da vizinhança”.

VOCÊ SE CONSIDERA UMA CONSUMI-­ DORA CONSCIENTE? Sim. Primeiro porque reconheço, como indivíduo e cidadã, que sou parte de um entorno dentro do qual não posso existir se as condições desse mesmo entorno ameaçarem minha existência hoje e amanhã. E segundo porque busco adotar prá-­ ticas diárias de baixo impacto como andar a pé e de ônibus, usar saco-­ las permanentes, comprar apenas o necessário, comprar roupas que não necessitem de ferro elétrico, fechar torneira quando escovo dentes ou lavo louça, evitar qualquer desper-­ dício de alimentos. O QUE PARA VOCÊ SIGNIFICA UMA EM-­ PRESA COM RESPONSABILIDADE SOCIO-­ AMBIENTAL? Uma empresa que compreende que é parte de um todo e, por isso, afeta esse todo e é por ele afetado. Diante dessa premissa, trata-­se de uma empresa que busca o desper-­ dício zero, a reutilização de todos os materiais possíveis e a melhoria constante de processos para exer-­ citar o seu negócio com baixo im-­ pacto ambiental. Uma empresa só é verdadeiramen-­ te responsável socioambientalmente quando evita o dano, mitiga o dano quando ele existe, mesmo que custe

parte de seu lucro, e apoia a adaptabilidade necessária para o desloca-­ mento para uma economia verde. A atitude eixo em termos de responsabilidade ambiental, do meu ponto de vista, é ter o foco em fazer melhor com menos. Qualquer coisa, qualquer produto, qualquer ser viço, qualquer comércio ou troca. Os exemplos ser vem tanto para Micro e Pequenas quanto para as Grandes Empresas. Reutiliza-­ ção de papel, sistemas eletrônicos com redução de impressos, substituição de copos e garrafas plásticas, prédios e reformas com prioridades para luz e ventilação natural. Desperdício não cabe mais no século XXI. “Muito raramente compro por impulso. Em compra consciente, levo em con-­ ta a necessidade do produto/ser viço na minha vida. Os benefícios que posso ganhar com aquela compra”. Quando questionada, Mônica afirma que pagaria até 20% a mais se sou-­ besse ser o produto ecoeficiente e menos prejudicial ao meio ambiente. “Já tenho feito isso em minhas compras de produtos de higiene e limpeza. Também faço isso com produtos orgânicos”. COMO IDENTIFICA UMA EMPRESA AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL? Identifico a empresa pela informação que recebo, seja aquela difundida por ela mesma, seja a difundida por outros meios, desde veículos tradicio-­ nais de comunicação como jornais e revistas até veículos mais contemporâ-­ neos como sites e mídias sociais. No ponto de venda, identifico pelos selos e símbolos presentes nas embalagens quanto à reciclagem e à reutilização de materiais. Lentamente as marcas têm buscado comunicar as questões de ecoefici-­ ência. Penso que, numa primeira fase, era importante mostrar esse aspecto como diferencial de marca em relação à concorrência. Numa segunda fase, penso que as empresas buscaram dar visibilidade ao que faziam trabalhan-­ do balanços socioambientais apontando a mitigação realizada, o que deixou de ir ao lixo ou ao aterro ou como foi reciclado ou reutilizado o material. No entanto, penso que hoje, em 2012, início da segunda década do século XXI, a ecoeficiência é pressuposto, ou seja, deve ser padrão de negócios. Entendo ecoeficiência como eixo central de uma prática em-­ presarial de economia verde em que a análise de ciclo de produto está presente em toda a cadeia produtiva, inclusive em relação a seus fornece-­ dores, parceiros e públicos de interesse.

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)D]HU PHOKRU FRP PHQRV

LENTE VERDE DOU PREFERÊNCIA A PRODUTOS FABRI-­ CADOS E COMERCIALIZADOS POR EM-­ PRESAS QUE NÃO TRAZEM DANOS PARA O MEIO AMBIENTE.

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

PAGO MAIS POR UM PRODUTO ECOLO-­ GICAMENTE CORRETO. Concordo totalmente

EU SEMPRE OLHO OS RÓTULOS DOS PRODUTOS PARA VERIFICAR SE A MARCA TEM ALGUM VALOR SOCIAL OU AMBIEN-­ TAL AGREGADO. Concordo totalmente

Concordo Discordo Discordo totalmente

Concordo Discordo Discordo totalmente

ESTOU DISPOSTO A REDUZIR O CONSU-­ MO DE PRODUTOS FEITOS COM RECUR-­ SOS NATURAIS ESCASSOS. Concordo totalmente

Concordo Discordo Discordo totalmente

EU BUSCO CONHECER MELHOR AS RELA-­ ÇÕES DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DAS EMPRESAS.

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

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CONSUMO: É PRECISO HAVER OPORTUNIDADES DE ANÁLISE E ESCOLHA

5HQDWD 'DOOD %HUQDUGLQD é engenheira civil e educadora ambiental. Trabalha com pro-­ jetos socioambientais há mais de dez anos. Renata é membro de duas organizações sem fins lucrativos relacionadas ao meio ambiente e sustentabilidade e mostra como percebe o papel do indivíduo no dia a dia. para o desenvolvimento sustentável.

“Procuro sempre analisar a real necessidade de adquirir algo e quando assim o faço, opto por produtos que não impactem demasiadamente e de forma negativa o meio ambiente”.

COMO IDENTIFICAR UMA EMPRESA COM RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL? Ser uma empresa com responsabili-­ dade socioambiental, significa “pro-­ curar desenvolver suas atividades le-­ vando em consideração o bem-­estar equilibrado tanto das pessoas como do ambiente”. As principais posturas em termos de responsabilidade so-­ cial que espera das empresas di-­ zem respeito à viabilidade de boas condições de trabalho aos seus colaboradores, incluindo ambiente salubre para a realização do traba-­ lho;; respeito aos recursos naturais, sobretudo os escassos, utilizados na extração e produção, bem como uso racional dos recursos naturais tais como água e energia elétrica;; correta destinação dos resíduos ge-­ rados, permitindo que passem a re-­ presentar matéria-­prima numa outra linha de produção e a inclusão de cooperativas e pequenas empresas

“Procurar desenvolver suas atividades levando em con-­ sideração o bem-­estar equilibrado tanto das pessoas como do ambiente.”

nos processos incluindo mais pessoas no mundo do trabalho. Renata reforça, também, que no momento da compra avalia se o produto atende às necessi-­ dades que possui, com qualidade e durabilidade. “Estaria disposta a pagar mais até 20% do valor de um produto, se tivesse garantia ser este ecoeficiente, e menos prejudicial ao meio ambiente” e quando perguntada sobre o nível de disposição para trocar a marca que compra habitualmente por outra que comprovasse ser os produtos sustentá-­ veis afirma que “estaria muitíssimo interessada”. Para identificar uma empresa sustentável busca se informar se ela trabalha levando em consideração a sustentabilidade nos procedimentos, e sobre a forma com que lida com seus trabalhadores e com os recursos que utiliza. Renata reclama da pouca informação e comunicação dos atributos sus-­ tentáveis e de ecoeficiência de produtos ou marca: “deveria ser dada muito mais ênfase para que o consumidor tivesse oportunidade de escolha e pu-­ desse refletir sobre seus hábitos de consumo”

“Procuro sempre analisar a real necessidade de ad-­ quirir algo e quando assim o faço, opto por produtos que não impactem dema-­ siadamente e de forma ne-­ gativa o meio ambiente.”

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Consumo: é preciso haver oportunidades de análise e escolha “Inclusão de cooperativas e pequenas empresas nos processos incluindo mais pessoas no mundo do tra-­ balho.”

ESTOU MUITO DISPOSTA A REDUZIR O CONSUMO DE PRODUTOS FEITOS COM RECURSOS NATURAIS ESCASSOS

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

LENTE VERDE

AS PUBLICAÇÕES DAS EMPRESAS ECO-­ LOGICAMENTE CORRETAS ESTÃO EXPLÍ-­ CITAS PARA O CONSUMIDOR DAR PREFE-­ RÊNCIA ÀS MARCAS ASSOCIADAS? Concordo totalmente Concordo

Discordo Discordo totalmente

“Estaria disposta a pagar mais até 20% do valor de um produto, se tivesse ga-­ rantia ser este ecoeficien-­ te, e menos prejudicial ao meio ambiente.”

SABER QUE A MARCA IMPACTA O MEIO AMBIENTE ME REPELE A CONSUMI-­LA?

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

QUANDO TENHO QUE ESCOLHER ENTRE DOIS PRODUTOS IGUAIS, EU DOU PREFE-­ RÊNCIA PARA O PRODUTO QUE MENOS PREJUDICA O MEIO AMBIENTE?

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

“Deveria ser dada muito mais ênfase para que o consumidor pudesse ter a oportunidade de escolha.”

E-­MAIL RENATA DALLA BERNARDINA: renata_dallabernardina@yahoo.com.br

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COMUNICAR O DIFERENCIAL AMBIENTAL É DAR, AO CONSUMIDOR, A OPÇÃO DE ESCOLHA

8UVXOD %HWLQD 'LHVHO mestre em Comunicação Social, com ênfase em semióti-­ ca;; professora em curso superior de Comunicação Social e professora e tradutora de alemão. Úrsula é casada, possui duas filhas. A entrevistada mostra como pratica o consumo consciente no dia a dia.

“Não compro por impulso, penso bem se aquilo é algo necessário antes de comprar e o quanto fará bem a mim, à minha família, à sociedade e ao meio ambiente”.

QUAL SUA PRÁTICA DIÁRIA EM BENEFÍCIO DA SUSTENTABILIDADE? Procuro consumir alimentos cultivados sem agrotóxicos, da região e pro-­ dutos de higiene e limpeza que comunicam algum cuidado em relação à ecologia. Muito raramente consumo refrigerantes e similares, uso regular-­ mente sacolas retornáveis em minhas compras, separo o lixo e levo a postos de coleta.

“Muito raramente consumo refrigerantes e similares, uso regularmente sacolas retornáveis em minhas compras, se-­ paro o lixo e levo a postos de coleta.” O QUE É UMA EMPRESA SUSTENTÁVEL? Uma empresa com responsabilidade socioambiental é aquela que perce-­ beu que o mundo mudou, e que não basta alcançar lucros exorbitantes. É preciso fazer parte do coletivo. Identifico a responsabilidade socioambien-­ tal na empresa a partir das suas escolhas quanto ao processo produtivo;; o valor que dá ou não a seus colaboradores;; o respeito que demonstra aos consumidores;; na preocupação que revela quanto à ecologia e no quanto comunica sobre isso. Por ser da área, sei que a comunicação deve ser ex-­ plícita nos produtos e informar os aspectos ecoeficientes presentes na linha de produção;; no uso de componentes, e na correta embalagem de baixo impacto ambiental. Acredito que a empresa, também, pode patrocinar e comunicar importantes ações sociais.

“Encaro esse pagar mais como uma necessidade, em um primeiro momento, de incentivar a boa escolha por parte das empresas e, num segundo momento, encaro como um investimento em saúde e bem estar para mim, minha família e toda a sociedade”.

“Não basta alcançar lu-­ cros exorbitantes. É preciso fazer parte do coletivo.” Para a entrevistada, toda empre-­ sa deve, urgentemente, implantar um programa de destinação correta de resíduos “ recolher e dar correto destino ao resíduo produzido, in-­ cluindo destino das embalagens que propõe nos seus produtos”. Lembra, também, a importância de pensar na finitude de vários recursos naturais, modificando essas embalagens por meio de novas tecnologias ecoefi-­ cientes, evitando ao máximo os me-­ tais pesados em produtos e emba-­ lagens”. E ressalta a importância de respeitar a criança: “a empresa não deve, nunca, se dirigir às crianças, focando-­as como consumidoras, na hora de induzir a compra de produ-­ tos”.

“Percebo a partir das suas es-­ colhas q uanto a o p rocesso p ro-­ dutivo;; o valor que dá ou não a seus colaboradores;; o respeito que demonstra aos consumido-­ res;; na preocupação que re-­ vela quanto à ecologia e no quanto comunica sobre isso.”

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O diferencial ambiental nos produtos

“Recolher e dar correto destino ao resíduo produ-­ zido, incluindo destino das embalagens que propõe nos seus produtos.” Na hora da compra, o que mais leva em conta é a necessidade, o conforto e a imagem socioambien-­ tal da marca e afirma que pagaria a mais, até 30% do valor do produ-­ to, se tivesse a garantia do produto ter sido fabricado por uma empresa com ações verdadeiras de respon-­ sabilidade social e ambiental. “Encaro esse pagar mais como uma necessidade, em um primeiro momento, de incentivar a boa esco-­ lha por parte das empresas e, num segundo momento, encaro como um investimento em saúde e bem estar para mim, minha família e toda a sociedade”. Úrsula afirma “estar muitíssimo disposta” quando perguntada se estaria disposta a trocar a marca que compra habitualmente por outras que comprovassem serem os produtos sustentáveis, e ressalta a importância de se comu-­ nicar este diferencial “Procuro informações nas embalagens dos produtos e leio sobre a conduta das empresas na mídia em geral. A internet também nos dá uma boa noção sobre o comportamento das empresas quanto à ecologia e questões sociais e trabalhistas”. Há empresas que já incluíram as questões de responsabilidade social e ambiental nos processos e procedimen-­ tos, mas não comunicam. A informação não chega para o consumidor, e assim não influencia na venda: “Às vezes sei que alguma empresa tem uma conduta mais adequada, mas não encontro as informações sobre isso nas suas emba-­ lagens ou nas suas comunicações”. A entrevistada reforça ser necessário explorar com clareza, informativamente, as questões de ecoeficiência para que se possa fazer essa opção de consumo: “ no supermercado, por exemplo, deveria haver um grande destaque para essas marcas e produtos”.

“Encaro esse pagar mais como uma necessidade, em um primeiro momento, de incentivar a boa escolha por parte das empresas e, num segundo momento, encaro como um investimento em saú-­ de e bem estar para mim, minha família e toda a sociedade”.

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O diferencial ambiental nos produtos “Procuro informações nas embalagens dos produtos e leio sobre a conduta das em-­ presas na mídia em geral. A internet também nos dá uma boa noção sobre o compor-­ tamento das empresas quan-­ to à ecologia e questões so-­ ciais e trabalhistas.”

DOU PREFERÊNCIA A PRODUTOS FABRI-­ CADOS E COMERCIALIZADOS POR EM-­ PRESAS QUE NÃO TRAZEM DANOS AO MEIO AMBIENTE

LENTE VERDE EU SEMPRE OLHO OS RÓTULOS DOS PRODUTOS PARA VERIFICAR SE A MARCA TEM ALGUM VALOR SOCIAL OU AMBIEN-­ TAL AGREGADO

“Às vezes sei que al-­ guma empresa tem uma conduta mais adequa-­ da, mas não encontro as informações sobre isso nas suas embala-­ gens ou nas suas co-­ municações.”

Concordo totalmente

Concordo Discordo Discordo totalmente

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

A PARTIR DOS MEUS ATOS DE CONSUMO, POSSO AJUDAR NA SOBREVIVÊNCIA DO PLANETA

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

QUANDO TENHO QUE ESCOLHER ENTRE DOIS PRODUTOS IGUAIS, EU DOU PREFE-­ RÊNCIA PARA O PRODUTO QUE MENOS PREJUDICA O MEIO AMBIENTE

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

“Novas tecnologias ecoeficientes, evitan-­ do ao máximo os metais pesados em produtos e embalagens.”

“No supermercado, por exemplo, deveria haver um grande desta-­ que para essas marcas e produtos.”

“A empresa não deve, nunca, se dirigir às crian-­ ças, focando-­as como consumidoras, na hora de induzir a compra de pro-­ dutos.”

E-­MAIL URSULA BETINA DIESEL: ursuladiesel@gmail.com

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DEVEMOS TODOS COMEÇAR A PESQUISAR, OPTANDO PELOS PRODUTOS ECOEFICIENTES

André Ramos André Ramos é mestre em educação pela Universidade de Brasília -­ UnB e graduado em Desenho Industrial, com habilitação em design gráfico, área em que atua desde 1995. Casado, pai de dois filhos, preocupa-­se com as questões ambientais do planeta desde 2003. André fala da sustentabilidade necessária na gestão, e dos novos hábitos como consumidor.

“Para mim, a comunicação dos posicionamentos baseados na ecoeficiência devem fazer parte de todos os esforços de comunicação de uma corporação.”

VOCÊ SE CONSIDERA UM CONSUMIDOR CONSCIENTE NO QUE SE REFERE ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS E SOCIAIS? Me considero um consumidor aten-­ to às questões relacionadas ao meio ambiente e ao meio social. Sou bastante preocupado com os impactos que o consumo vem provo-­ cando no cenário ambiental e com a grande desigualdade social pre-­ sente no mundo. Entretanto, acredi-­ to que ainda falte uma postura mais ativa da minha parte, indo além da reação aos estímulos e informações de terceiros. Devemos todos come-­ çar a pesquisar as ações práticas de marcas, optando pelos produtos ecoeficientes, orientando, assim, novos caminhos para as empresas. Dar prioridade àquelas que incluem, em suas estratégias corporativas, ações que contemplem projetos so-­ ciais e de redução de impacto am-­ biental. Favorecer as empresas que conduzem seus processos produti-­ vos minimizando o impacto ao meio ambiente e desenvolvendo projetos de recuperação, compensação e manutenção das fontes de matéria-­ -­prima utilizadas.

O QUE MAIS LEVA EM CONTA, NA HORA DA COMPRA? Primeiramente a qualidade, seguida da informação de serem produtos e ser viços desenvolvidos com atenção para as questões de responsabilida-­ de socioambiental, ainda que isso tenha reflexos nos custos de produção e, consequentemente, nos preços ao consumidor. Quando questionado, André se diz disposto a pagar até 20% a mais pelo valor de um produto, caso tenha a certeza de sua produção ter seguido os padrões de responsabilidade socioambiental. Mas alerta que “os projetos que tiram proveito da ecoeficiência e que resultam em menores impactos ao meio ambiente, em muitos casos, alcançam redução nos custos de pro-­ dução, o que não traz a exigência de valores adicionais aos produtos”. André lembra a importância de posicionamento das marcas que já pra-­ ticam a sustentabilidade ambiental: “atualmente o acesso às tecnologias produtivas tornou-­se mais próximo para as grandes indústrias. As diferenças de produtos não se faz mais por questões de tecnologia que redundaria em qualidade e, sim, de marketing e, mais recentemente, de postura socio-­ ambiental. Desta forma, a fidelização às empresas não permeia tão somente os atributos agregados à marca mas sim o verdadeiro posicionamento das empresas diante da realidade do mundo em que vivemos”. André lembra que identificamos uma empresa com princípios de RSA “a partir dos projetos que desenvolve e, sem dúvida, pela divulgação destes pela própria empresa”. E ressalta: “acredito que muitas empresas se privem de comunicar projetos socioambientais por entenderem que tais práticas fazem parte da “ vocação” da empresa e que a exploração mercadológica de tais ações soaria falso. Mas, para mim, a comunicação dos posiciona-­ mentos baseados na ecoeficiência devem fazer parte de todos os esforços de comunicação de uma corporação”.

“Me considero um consumidor atento às questões relacionadas ao meio ambiente e ao meio social. Sou bastante preocupado com os impactos que o consumo vem provo-­ cando no cenário ambiental e com a grande desigualdade social presente no mundo.”

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2SWDQGR SHORV SURGXWRV HFRHŹFLHQWHV

LENTE VERDE PAGO MAIS POR UM PRODUTO ECOLO-­ GICAMENTE CORRETO.

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente AS PUBLICAÇÕES DAS EMPRESAS ECO-­ LOGICAMENTE CORRETAS ESTÃO EXPLÍ-­ CITAS PARA O CONSUMIDOR DAR PREFE-­ RÊNCIA ÀS MARCAS ASSOCIADAS.

QUANDO TENHO QUE ESCOLHER ENTRE DOIS PRODUTOS IGUAIS, EU DOU PREFE-­ RÊNCIA PARA O PRODUTO QUE MENOS PREJUDICA O MEIO AMBIENTE.

Concordo totalmente Concordo Discordo

Concordo totalmente

Concordo Discordo Discordo totalmente

Discordo totalmente

ESTOU DISPOSTO A REDUZIR O CONSU-­ MO DE PRODUTOS FEITOS COM RECUR-­ SOS NATURAIS ESCASSOS.

Concordo totalmente Concordo Discordo Discordo totalmente

“A fidelização às empre-­ sas não permeia tão so-­ mente os atributos agre-­ gados à marca mas sim o verdadeiro posicionamen-­ to das empresas diante da realidade do mundo em que vivemos.”

SABER QUE ESSA MARCA IMPACTA O MEIO AMBIENTE ME DESESTIMULA A CONSUMI-­LA. Concordo totalmente

Concordo Discordo Discordo totalmente

E-­MAIL ANDRÉ RAMOS: and.ramos@terra.com.br

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SEBRAE NACIONAL Setor de Grandes Áreas Sul -­ SGAS -­ Quadra 605 -­Conjunto A -­ Asa Sul (70.200-­645) -­ Brasília/DF CEP: 70200-­645 – Tel.: (61) 3348-­7455 www.sebrae.com.br


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