O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das Indústrias Criativas

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SOPCOM - Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação VII Congresso SOPCOM | Universidade do Porto | 15 a 17 de Dezembro de 2011

O potencial dos mecanismos de comunicação cromáticos no âmbito das Indústrias Criativas1 Joana Cerejo

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José Cardoso

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Resumo: As indústrias criativas podem ser entendidas como aquelas que abrangem os mecanismos de comunicação da informação nas suas diferentes formas de linguagem e expressão, exercendo assim fortes influências no nosso quotidiano. A análise da informação cromática como forma de expressão e conteúdo configurou-se no objecto de estudo desta pesquisa, por se tratar de um elemento da linguagem visual com importante relevância nos processos de comunicação e por possuir uma grande carga semântica, contribuindo significativamente para a composição dos aspectos sintácticos, semânticos e pragmáticos dos dados. A partir desta reflexão acerca dos papéis assumidos pela cor como signo visual, relacionando a sua importância para as artes visuais como geradora e suporte de informação, concluímos pela necessidade de criação de uma plataforma digital baseada e fundada na teoria da cor e respectivos aspectos culturais, que contribua para decisões de aplicabilidade dos recursos de informações visuais.

Palavras-chaves: Indústrias Criativas; Cor; Comunicação; Teoria da Cor; Processos de Informação

Abstract: The creative industries can be understood as those that include mechanisms for providing information in different languages and expression forms, exerting a strong influence on our quotidian. The analysis of chromatic information, as a form of expression and content, was the main subject of this research, because it‟s an element of visual language with significant relevance in the processes of communication and has a great semantic load, contributing significantly to the composition aspects of syntactic, semantic and pragmatic data. From this reflection on the roles played by color as visual sign, linking their importance to the visual arts as a generator of information and support, we conclude that there is a need to create a digital platform based and found on color theory and cultural aspects, which contributes for decisions on the applicability of the resources of visual information.

Key words: Creative Industries; Color; Communication; Color Theory; Information Processes

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Trabalho apresentado no GT – Indústrias Criativas na Comunicação do VII Congresso SOPCOM, realizado de 15 a 17 de Dezembro de 2011. 2 Joana Cerejo. Licenciada em Design Gráfico e Publicidade pela Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão. Aluna no Mestrado de Gestão de Indústrias Criativas na Universidade Católica Portuguesa do Porto. Email: Joana_cerejo@sapo.pt 3 José Cardoso. Licenciado em Relações Publicas e Internacionais pelo Instituto Superior de Paços de Brandão. Pós graduado em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho. Aluno no Mestrado de Gestão de Indústrias criativas na Universidade Católica Portuguesa do Porto. Email: josecardoso2011@gmail.com


Introdução A cor é um fenómeno que exerce fascínio e desperta interesse, atracção e deslumbramento, principalmente para quem trabalha em áreas artísticas ou de comunicação visual. Pesquisar sobre este tema é justificável pela necessidade das constantes mudanças na interpretação das cores no contexto sociocultural e psicológico, pois estes são fundamentais na interpretação coesa do jogo cromático e na sua benéfica aplicabilidade na comunicação. Com este estudo não pretendemos discutir ou definir o que é a cor, visto que ao longo da história grandes estudiosos como Newton, Klein, Lüscher, Young e Goethe o fizeram. Por tal, pretendemos apenas colocar em prática a utilidade desta informação, e consideramos que uma das melhores formas como resposta a este desafio seria a criação de uma plataforma digital que reflectisse acerca dos papéis assumidos pela cor, como signo visual, relacionando a sua importância para as artes visuais como geradora e suporte de informação, e que contribua para correctas decisões de aplicabilidade dos recursos de informação visuais. Metodologicamente, os métodos aplicados foram a indução analítica através de uma pesquisa aplicada e a análise qualitativa através de uma pesquisa qualitativa. A pesquisa desenvolveu-se em cinco etapas: a) Colocação do problema – reflexão dos factos, a fim de descobrir o problema e formulá-lo. b) Construção de um modelo teórico – seleccionar factores pertinentes e definir a hipótese central. c) Fundamentação teórica – sobre o contexto teórico da cor, percepção, linguagem e contexto histórico das cores que contou com revisão bibliográfica e pesquisa documental no campo da percepção, nomeadamente no seu processo cognitivo; linguagem da cor e contexto histórico. d) Dedução e consequência particulares – nesta etapa procuraram-se suportes racionais e empíricos a fim de se obter uma base adequada e estruturada à pesquisa proposta. Nesse passo, foi elaborado um guia à interpretação e conhecimento das cores e dos seus mais variados mecanismos, que determinou os critérios para a organização e análise dos dados.


e) Introdução das conclusões na teoria – foi estabelecida uma relação entre o problema e os objectos de estudo resultantes da pesquisa, a fim de se chegar a conclusões acerca dos resultados alcançados, bem como sugerir uma nova plataforma didáctica para a instrução subjacente à teoria da cor. Obras como A cor como Informação de Luciano Guimarães; Da cor à cor inexistente de Israel Pedrosa; Lenguaje del color de Juan Carlos Sanz; e Color and meaning de John Gage serviram como base de fundamentação à investigação com recurso a uma análise sistemática a diversas publicações de índole científica portuguesa e internacional que abordassem a temática da cor e mais especificamente os seus processos de comunicação.

Parte 1 | A Problemática

A informação, na sociedade actual, adquiriu proporções de insumo essencial para o seu desenvolvimento. Diversos segmentos da sociedade já perceberam qual a importância desses valores intangíveis para o crescimento da produção e disponibilização de dados com o objectivo de gerar informação, bem como para permitir o acesso de informação a um maior número de indivíduos. Nas plataformas de comunicação, a cor pode desempenhar diversos papéis, como dar ênfase a um dado textual, aumentando o seu poder informativo, ou agir sozinha, bastando-se para gerar informação. Num primeiro momento, verifica-se que o estudo da cor é raramente uma parte da educação em geral, para além de uma aprendizagem rudimentar nos primeiros anos lectivos. Após estes primeiros anos de escolaridade, apenas os alunos vocacionados para as áreas artísticas adquirem sensibilidades e formação sobre esta matéria, a qual é, na larga maioria dos casos, superficial. Posteriormente, mesmo no ensino superior vocacionado para áreas artísticas e/ou de comunicação, formam-se profissionais que se munem, na sua maioria, da intuição para a elaboração de harmonias cromáticas, mas sem compreenderem na realidade que na esmagadora maioria das vezes as paletas cromáticas por eles criadas não funcionam para determinadas funções. Isto porque o acto de selecção de qualquer paleta cromática envolve vários factores como aspectos físicos, fisiológicos, psicológicos, culturais, etc., o que torna o acto de selecção de cores num processo deveras complexo devido à sua demanda por interdisciplinaridade.


Num segundo momento, observa-se que mesmo com toda a informação e tecnologia de que actualmente dispõem, são poucos os indivíduos que se dedicam à cor, renegando para segundo plano instrumentos de precisão para a produção e reprodução destas. Por conseguinte, a larga maioria das pessoas utiliza a intuição para combinar e harmonizar as cores, o que é em si mesmo grave, ainda para mais tratando-se de áreas criativas. Partimos, pois, da premissa de que a negligente e aleatória utilização e manipulação de cores por profissionais de áreas da comunicação os fazem incorrer no risco de as suas mensagens e projectos serem um completo fracasso, por vezes com repercussões catastróficas para a saúde financeira das entidades emissoras da mensagem. Acreditamos na absoluta necessidade de criação e utilização de metodologias capazes de instruir para que se produzam resultados eficazes na criação de mensagens baseadas no estudo da teoria cor. Saracevic (1992, apud Pedrosa. T, 2007) “Toda e qualquer aplicação da tecnologia e das técnicas sem objectivos claros, com conceitos indefinidos ou uma filosofia nebulosa, introduzirão a barbárie.” Walter Benjamin (1989) vem justificar as linhas de pensamento desta análise, porque “o valor de culto que as imagens únicas conseguiam alcançar foi substituído pelo valor exposto para a reprodutibilidade das imagens”, tendo a exuberância da cor sido perdida durante este percurso. Interpretando Gage (1999), parece-nos curioso que um fenómeno como o da Cor, que é uma experiência sensorial primária para todos, e que atrai tantas análises nas mais diversificadas áreas, está longe de ser entendida como um todo. Isto porque a ideia de fundamentalismo nas cores está longe de ser universal. “It may seem curious that a phenomenon which is a primary sensory experience for most of us, and has attracted so many commentators from so many points of view, is far from being understood as a whole „Colour‟.” (Gage, 1999 p.11)

Seguindo a linha de pensamento de Guimarães (2000), o autor considera os aspectos fisiológicos da visão cromática como códigos primários, porque o sentido da visão exerce a principal influência e domínio no nosso crescimento como seres humanos em correlação aos outros sentidos – audição, tacto, paladar e olfacto. O olho, desde o início das nossas vidas, proporciona-nos uma enorme quantidade de informação, por este processa-se a visão, constituindo-se no órgão de ligação entre o mundo interior e exterior do homem acerca do mundo que nos rodeia. A percepção cromática para o autor apresenta-se como códigos secundários, já que estes não dependem directamente de uma herança genética; antes regulam os códigos primários para dar forma ao que se


conhece como linguagem cromática. Segundo Gonçalves (2006) a percepção da cor muda quando se modifica a fonte luminosa porque, em princípio, a cor não é mais do que uma percepção no órgão visual do observador. Os sentidos permitem ao homem captar os fenómenos do mundo que o rodeia, são os parâmetros que definem a cor em relação às outras características do objecto como a massa, a textura, a forma ou o cheiro. Os olhos são capazes de memorizar as diferenças de cores, mas quase nunca percebemos uma cor como ela é fisicamente. Guimarães considera ainda que a dimensão simbólica das cores corresponde aos códigos terciários. Aqui, esta assume o papel de informação cultural. Para o autor, esta é a parte mais relevante no estudo da complexidade da percepção cromática, pois quando a cor assume um código cultural, carrega com ela todos os aspectos que envolvem o processo da comunicação humana.

Estudos de Casos

- Nike Com este estudo pretendemos resgatar a exuberância e personalidade das cores, de forma a recuperar a magia das imagens, para a preservação do seu fascínio e deslumbramento. As cores sempre estiveram presentes, tanto em culturas arcaicas, como nas que vigoram actualmente. Esta peculiar característica de universalidade é uma forte arma comunicativa e cultural que desperta um poder de apelo irresistível. Por todas estas características intrínsecas que a cor possui, analisamos os erros ocorridos na campanha desenvolvida pela marca Nike, enquadrada na participação da Selecção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo de 2008. Assim, a Nike quis homenagear o povo brasileiro criando uma campanha, intitulada “Sangue Amarelo”. O slogan desta campanha pretendia fazer uma clara associação entre aspectos tangíveis (a cor da camisola da selecção brasileira de futebol) e intangíveis (garra, emoção, determinação, conquista). Contudo, a referida cor, apesar de ser a mesma da camisola da selecção, significa, no universo futebolístico brasileiro, cobardia e medo, sendo que ninguém pretendia estar associado a estes aspectos pejorativos, por mais que se orgulhassem da sua selecção.


Apesar dos incríveis recursos colocados à disposição dos criativos desta conhecida multinacional, acontece que a campanha redundou num grande fracasso, por não terem sido tidos em atenção aspectos culturais muito próprios do povo brasileiro, nomeadamente o facto de tradicionalmente o amarelo estar associado aos referidos aspectos. Será caso para dizer que se os profissionais da Nike tivessem desenvolvido a sua campanha utilizando a plataforma digital que propomos, haveriam sido em devida hora alertados para a não implementação desta associação perniciosa, evitando os catastróficos resultados alcançados. Pela má gestão do gabinete criativo e de comunicação, que não se precaveu em relação à implementação desta associação perniciosa, causou repercussões na saúde financeira da entidade emissoras da mensagem – a Nike.

- Banif Na mesma linha está o caso português do Banco Banif, que em Janeiro de 2008, através da agência criativa Brandia Cliente, comemorou as suas duas décadas de existência com a renovação da sua imagem, mostrando-se ao mercado com uma imagem mais forte, comunicativa e rejuvenescida, num rebranding avaliado em 20 milhões de euros e que marcou uma viragem na história do grupo financeiro, segundo fontes do site Banif. Sem avaliar questões como logótipo, lettering ou slogan, focar-nos-emos apenas na questão da cor escolhida para imagem da instituição. Gage (1999, p.11) ressalta que uma das formas de amplificar as perspectivas da cor é olhando para a história destas. Esta afirmação faz todo o sentido para este caso, porque, segundo o site (imagem 1), o departamento de comunicação da instituição intitula como “Índigo” a cor escolhida para a nova imagem do Banif. Contudo, se olharmos para a origem e etimologia do Índigo, facilmente nos deparamos com autores como Isaac Newton, Isaac Asimov ou mais recentemente a arqueóloga e etimóloga Anne Varichon que dedicaram parte dos seus estudos a esta cor.


Imagem 1, fonte: http://www.banif.pt/xsite/Particulares/Institucional/NovaImagemBanif.jsp?CH=4682

Segundo o dicionário etimológico (http://www.etymonline.com), a origem da palavra Índigo vem do Latim indicum "índigo" e do Grego indikon "corante azul da Índia". Segundo Anne Varichon (2005) os primeiros vestígios de pigmento Índigo foram encontrados no Antigo Egipto mas foi posteriormente na Índia que o Índigo ganhou o seu apogeu. Em todos os estudos da autora, Índigo é sempre referido como um pigmento de cor Azul, o que vai de encontro à associação “corante azul da Índia” percebida na palavra grega indikon. Kalamani (2008, p.107) relata-nos as abordagens de Isaac Newton e Isaac Asimov perante o Índigo. “Placed in between blue and violet, it is neither an additive primary colour, nor a subtractive one. It was named and define by Isaac Newton, when he divided the optical sprectum, (though man does not tend to recognize indigo as a separate colour). For this reason, some commentators including Isaac Asimov, have suggested that indigo should not be regarded as a colour in this own right, bur merely as a shade of blue or violet. In this novel symbolially even though no one is able to see that colour, it „is about believing and knowing that something exist even if you can‟t see it‟.”

Assim sendo, analisando a imagem do Banif, estamos perante uma má utilização da sintaxe do Índigo. Este é empregue graficamente pelo departamento de comunicação, como uma cor situada na gama dos violetas.


Apesar de que, Pastoureau (1997, p.152) expõe que, “A sinonímia absoluta, não existe. Isso é talvez ainda mais verdadeiro no vocabulário das cores, do que em qualquer outro campo do léxico. Nenhum termo tem com ela uma analogia de sentido e de utilização suficiente para a substituir em qualquer contexto. Por outro lado, todos os termos de cores são polissémicos. Por este facto, a ideia de uma sinonímia, ainda que aproximativa, entre determinados termos de cores pareceme, também, muito contestável. É por isso que o léxico das cores – o mais poético de todos – aparece como um léxico inteiramente rebelde à redundância. E, sem dúvida, também à tradução.”

Pode-se assim constatar que historicamente a cor designada por Índigo está estritamente relacionada a pigmentos de cor azul e não violeta. Desta forma, se a própria instituição não percebe a paleta de cor que utiliza, como irá o público-alvo entendê-la? A percepção e a informação cromáticas do ser humano encontram-se dependentes da nomeação clara e precisa das cores. Designar a cor de uma forma rigorosa, num espaço cromático tridimensional, permite educar a sensibilidade estética, viabilizar uma percepção intelectiva mais complexa e facilitar o consequente reconhecimento e a transmissão dos dados sensoriais e culturais inerentes ao domínio da cor. Assim sendo, estamos perante um claro erro sintáctico entre a nomenclatura da cor com a sua real aparência. Quando pensamos em linguagem da cor, devemos ter duas linhas de pensamento: o seu contexto visual e o seu contexto linguístico. Sanz (2009, p.15) explica que, “Os vínculos psico-iconelinguísticos e psico-linguisticos entre a linguagem – icónica ou verbal – a percepção cognitiva e cultural implicam que ambos os tipos de linguagem possam determinar a percepção do mundo através da «educação», ou seja, tanto a representação quatricolor como a indicação verbal «verde» condicionam o que vemos. O contexto social e antropológico em que se desenvolvem as palavras condiciona a valorização de determinada cor.”

Por conseguinte, o Banif desvalorizou a importância que a cor pode ter dentro de uma composição visual, ao cair no erro de apenas pensar na inovação que seria trazer uma cor desta gama para o contexto bancário, sem analisar a fundo quais as consequências cognitivas que esta cor trazia inerentes a si. Assim, a negligente escolha e empregabilidade desta cor, causou efeitos negativos ou de distracção, afectando a reacção do receptor em relação à mensagem do emissor. Concluindo, diversos cuidados devem ser tidos em consideração num projecto de comunicação, no que se refere à utilização de cores: deve considerar-se o aspecto cultural do grupo de pessoas a quem se destina a mensagem, pois algumas comunidades podem apresentar reacções negativas perante certas cores; as cores devem ser seleccionadas de modo a evitar uma fadiga ao órgão visual do receptor, dado que uma


cor específica é afectada pelo ambiente que a circunda e que as cores interagem umas com as outras. Farina (1990, p.27), assume que, […] sobre o indivíduo que recebe a comunicação visual, a cor exerce uma acção tríplice: a de impressionar, a de expressar e a de construir. A cor é vista: impressiona a retina. É sentida: provoca emoção. É construtiva, pois tendo um significado próprio, possui valor de símbolo, podendo assim, construir uma linguagem que comunique uma ideia.

Segundo a imagem 1, o banco pretenderia com esta nova cor transmitir “o conhecimento e o idealismo, a capacidade de sacrifício e resistência, a devoção e a compaixão. Simbolizar a linha do conhecimento absoluto, da mestria e da realização pessoal”, o que não se verifica. Trata-se de uma cor inadequada ao target do banco, apesar de a maioria deste target ser leiga em relação aos conteúdos teóricos e culturais das cores, regendo-se apenas pelos seus sentidos fisiológicos e cognitivos. Mais: baseado no contexto sociocultural português, tem uma associação fúnebre - Domingo de Ramos; ao comércio farmacêutico e até mesmo à homossexualidade. Segundo Heller (2007, p.207) o violeta tornou-se popular como símbolo do orgulho gay na década de 60 – uma frase popular da época na comunidade gay era “Purple Power” (“Poder Roxo”). Esta cor está associada à cultura gay desde pelo menos 1970, porque no violeta unem-se o masculino e o feminino (azul + vermelho = violeta), logo, nenhuma outra cor pode simbolizar melhor a homossexualidade. Desta forma, a cor não é somente uma propriedade estética na sua aplicabilidade, esta agrega em ti uma pluralidade de condicionalismos. O seu poder cognitivo é uma ferramenta para identificar os elementos que devem atrair a atenção, de forma a interagir eficazmente com o receptor. Seguindo um estudo realizado pela mesma autora, Heller (2007, p.193) “O violeta é a cor dos sentimentos ambivalentes. As pessoas que o rejeitam são mais do que as que o preferem. Cerca de 12% das mulheres e 9% dos homens referem-na como a cor que menos gostam, enquanto apenas 3% das mulheres e dos homens a nomeiam como sua cor preferida. Da rejeição em relação a esta cor, nasce em muitas pessoas, uma resistência a entendê-la de forma diferenciada, uma vez que não sabem distinguir o violeta do lilás ou roxo. A aversão a determinadas cores não é nenhum problema para quem não trabalha com elas. Em nenhuma outra cor que unem qualidades tão opostas como no violeta. A união dos contrários é o que determina o simbolismo da cor violeta.”

Sucintamente, partindo desta reflexão acerca dos papéis assumidos pela cor como signo visual, concluímos que é impossível desconjuntar a interdisciplinaridade que o fenómeno da cor obriga, pois a cor exerce essencialmente três funções na compreensão de uma mensagem. Esta pode funcionar como signo para um fenómeno físico, para um


mecanismo fisiológico ou para uma associação psicológica. Aspectos que nem a Nike nem o Banif tiveram em consideração como um todo. Desta forma, a cor não é somente uma propriedade estética na sua aplicabilidade. O seu poder cognitivo é uma ferramenta para identificar os elementos que devem atrair a atenção, de forma a interagir eficazmente com o receptor. O que em ambos os casos de uma forma ou outra não aconteceu na sua plenitude.

Parte 2 | Proposta de resolução da problemática

Actualmente, no programa do Ministério da Educação Português, o estudo eficaz da cor é claramente descorado. . Durante o seu percurso académico, os alunos apenas têm uma aprendizagem rudimentar nos primeiros anos de escola. Após estes primeiros anos de escolaridade, apenas os alunos vocacionados nas áreas das artes adquirem sensibilidades e formação na área da cor. E mesmo estes apenas recebem uma superficial formação sobre a cor e os seus mecanismos. Observamos ainda que mesmo com toda a informação e tecnologia de que actualmente dispõem, são poucos os indivíduos que se dedicam à cor, renegando para segundo plano instrumentos de precisão para a produção e reprodução destas. Por conseguinte, a larga maioria das pessoas utiliza a intuição para combinar e harmonizar as cores, o que é negligente, ainda para mais tratando-se de áreas criativas. Consideramos negligente e aleatória utilização e manipulação de cores por profissionais, fazendo-os incorrer no risco das suas mensagens e projectos serem um completo fracasso, com repercussões na saúde financeira das entidades emissoras da mensagem. Acreditamos na absoluta necessidade de criação e utilização de metodologias capazes de instruir para que se produzam resultados eficazes na criação de mensagens baseadas no estudo da teoria cor. Assim, pretendemos criar uma plataforma digital que altere o panorama da comunicação com um carácter inovador, com forte argumentação nas práticas teóricas dos mecanismos cromáticos com particular enfoque nas condicionantes socioculturais. Com esta plataforma pretendemos contribuir para uma maior eficiência e produtividade dos sectores criativos, enriquecendo, com o estudo específico da cor, as possibilidades de criação de um “vocabulário” para uma sintaxe visual.


A plataforma preencherá uma lacuna existente no mercado, a qual foi identificada na pesquisa realizada para este estudo. Pretende-se que responda eficazmente à necessidade de escolha de paletas cromáticas baseadas no contexto em que esta necessita se inserir. Sendo a conjuntura actual propícia ao aparecimento e disseminação de novas plataformas tecnológicas, ao mesmo tempo que existe uma maior propensão para as práticas criativas - onde a cor é uma incontornável - a nossa plataforma pretende ter um carácter inovador e eficaz, com forte argumentação nas práticas teóricas dos mecanismos das cores e com particular enfoque nas condicionantes socioculturais.

Conclusões

Diversos segmentos da sociedade já perceberam qual a importância desses valores intangíveis para o crescimento da produção e disponibilização de dados com o objectivo de gerar informação, bem como para permitir o acesso de informação a um maior número de indivíduos. A partir desta reflexão acerca dos papéis assumidos pela cor como signo visual, relacionando a sua importância para as artes visuais como geradora e suporte de informação, demonstramos a necessidade de criação de uma plataforma digital baseada e fundada na teoria da cor com a componente sociocultural que as cores agregam em si, que contribua para decisões de aplicabilidade dos recursos de informações visuais. Isto porque a dimensão semântica da cor explora as relações entre as cores, através dos seus códigos e associações que se estabelecem de acordo com cada cultura e ou contexto social e natural. Estes conhecimentos permitem-nos encontrar o sentido da cor em cada situação. Guimarães (2000. p.15), ressalta que utilizamos o conceito de cor na dimensão aplicativa, ou seja, a cor aplicada a algum objecto, seja ele corpóreo ou etéreo, material ou conceptual. Extraímos a simbologia das cores das suas várias aplicações. Utilizamos a cor como informação que desempenha determinadas funções quando aplicada com determinada intenção ou determinado objectivo. Segundo o mesmo autor, (2000, p.15) “A aplicação intencional da cor, ou do objecto (considerando-se a sua cor) possibilitará ao objecto (ou estímulo físico) que contém a informação cromática


receber a denominação de signo. Ao considerarmos uma aplicação “latente”, que será percebida e decifrada pelo sentido da visão, interpretada pela nossa cognição e transformada numa informação actualizada. […] Numa dimensão pragmática, a cor como informação actualizada do signo, ou seja, um objecto produzido por um emissor, recebido e interpretado por um receptor. Na dimensão semântica da semiose, os signos estarão compostos em complexos significativos – os textos – e organizados por sistemas de regras – os códigos. Nesse sentido, podemos compreender a cor como um dos elementos da sintaxe da linguagem visual, e a linguagem visual como um dos diversos códigos da comunicação humana.”

A cor funciona como ícone quando representa uma qualidade, independentemente da existência do signo que representa. No plano perceptual, como no icónico, a cor é vista como um elemento básico de uma progressiva estruturação da sugestão fisiológica, mediante a qual um observador adquire consciência visual. Desta forma, a iconicidade representa um determinado aspecto da cor como informação, que articulado aos demais aspectos da dimensão semântica e perceptual, constituem a totalidade da cor informação. A cor é um produto cultural. Não existe cor se esta não for percebida, ou seja, não basta ser vista apenas com os olhos, esta tem que ser sobretudo descodificada pelo cérebro, com a memória, com os conhecimentos e com a imaginação. Em suma, acreditamos na absoluta necessidade de criação e utilização de metodologias capazes de instruir para que se produzam resultados eficazes na criação de mensagens baseadas no estudo da teoria da cor, com forte componente histórica e condicionantes culturais, sendo a plataforma digital por nós proposta a chave para a resolução desta contenda.


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