FACULDADE DE ARQUITETURA UNIVERSIDADE DE LISBOA
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA Joana Dos Reis Ribeiro Fernandes Silva (Licenciada em Estudos Arquitetónicos) Projeto Final de Mestrado para obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura
Orientação Científica: Professora Doutora Filipa Maria Salema Roseta Vaz Monteiro Professor Catedrático José Manuel Da Cruz Fernandes Professor Doutor Pedro António Alexandre Janeiro Júri: Presidente: Professora Doutora Maria Manuela Afonso da Fonte Vogal: Professor Doutor Ricardo Jorge Fernandes da Silva Pinto Orientadora: Professora Doutora Filipa Maria Salema Roseta Vaz Monteiro Orientador: Professor Catedrático José Manuel Da Cruz Fernandes
FA ULisboa, Lisboa, Janeiro 2017
Tese de Mestrado Integrado em Arquitetura O Edifício Como Motor De Regeneração Urbana Da Cidade de Luanda: O Centro Cultural Sustentável de Luanda 20101113 - Joana Dos Reis Ribeiro Fernandes Silva Lisboa, Outubro de 2016
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
001. Fachadas das ruas da Chicala, Luanda O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
Título O Equipamento como Motor de Regeneração Urbana da Cidade de Luanda Subtítulo O Centro Cultural Sustentável de Luanda Discente Joana Dos Reis Ribeiro Fernandes Silva vi
Orientação Científica Professora Doutora Filipa Maria Salema Roseta Vaz Monteiro Professor Catedrático José Manuel Da Cruz Fernandes Professor Doutor Pedro António Alexandre Janeiro Mestrado Integrado em Arquitetura Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa Lisboa, Outubro de 2016
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
RESUMO Este Projeto Final de Mestrado (PFM), assenta na construção de um equipamento autossustentável no contexto da arquitetura tropical. Localizado no musseque da Chicala, em Luanda (Angola), o Centro Cultural proposto nasce com preocupações: sociais (para ser utilizado por todas as classes sociais e faixas etárias); económicas (tornando-se produtor de cultura e gerador de emprego); e ambientais (construído a partir dos princípios bioclimáticos). Com a intenção primordial de criar um grupo de premissas que se possam tornar universais e aplicáveis aos próximos edifícios construídos em Luanda (e em todo o país), pretende-se que o edifício seja um modelo para os futuros e que, por isso, se torne regenerador do tecido urbano, unificando-o. Esta nova abordagem ao problema urbano vigente na cidade de Luanda poderá também dar ao edifício um caráter icónico no contexto em que se insere.
vii
(136 palavras)
PALAVRAS-CHAVE Angola, Luanda, Chicala, Arquitetura Sustentável, Sustentabilidade, Princípios Bioclimáticos
002. Fachadas das ruas da Chicala, Luanda O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
Title The Equipment as a Motor of Luanda’s Urban Regeneration
Subtitle The Sustainable Cultural Center of Luanda Student Joana Dos Reis Ribeiro Fernandes Silva viii
Supervisor Team Professora Doutora Filipa Maria Salema Roseta Vaz Monteiro Professor Catedrático José Manuel Da Cruz Fernandes Professor Doutor Pedro António Alexandre Janeiro Master in Architecture Faculty of Architecture, University of Lisbon Lisbon, October of 2016
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
ABSTRACT This Final Master’s Project is based on the development of a self-sustaining equipment in the context of tropical architecture. Localized in Chicala’s Musseque, Luanda (Angola), the proposed Cultural Centre brings some concerns: social (to be used by all classes and age bands); economical (producing culture and generating jobs); and environmental (construction based on bioclimatic principles). Having as primary intention to create a group of premises that can become universal and applicable to the future buildings in Luanda (and the entire country), the aim is that this building is seen as a model for others to be built, and, consequently, for it to regenerate the urban tissue, unifying it. Such a new approach to the urban problematic that is felt in Luanda, could also give the building an iconic character in the context where it is inserted.
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(137 words)
KEY-WORDS Angola, Luanda, Chicala, Sustainable Architecture, Sustainability, Bioclimatic Principles
003. Fachadas das ruas da Chicala, Luanda O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
x
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
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Para as minhas Rosas “(...) só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. (...) Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que agora a torna tão importante. (...) Passas a ser sempre responsável por aquilo que cativaste. És responsável pela tua rosa...“ in “O Principezinho” de Antoine de Saint-Exupéry O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
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O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar queria agradecer aos meus pais, avó e irmã, por todo o apoio e ajuda. A todos os meus amigos e em especial aos que partilharam comigo esta etapa. Ainda que não mencione cada um individualmente, um grande e sincero obrigado a todos.
Aos meus orientadores por todo o auxílio e disponibilidade.
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Ao IPGUL e à Arquiteta Maria Alice Correia por me terem possibilitado a ida a Luanda (ainda que esta não se tivesse realizado), foram incansáveis. Também ao Arquiteto Valério Neto pela cedência de material. A todos os gabinetes de arquitetura e pessoas que me abriram a porta e responderam a todas as minhas questões relacionadas com Angola, Luanda, o seu futuro e qual o papel da arquitetura no contexto angolano.
O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
ÍNDICE RESUMO - PALAVRAS-CHAVE ABSTRACT - KEY-WORDS DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS ÍNDICE ÍNDICE DE FIGURAS ACRÓNIMOS
vii ix xi xiii xiv xvi xxiii
1. INTRODUÇÃO
1
1.1. Enquadramento 1.2. Tema e Motivações 1.3. Objetivos a atingir 1.4. Abordagem e Metodologia 1.5. Estrutura e Limitações do Trabalho
2 4 4 5 6
2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS ARQUITETURA TROPICAL E SUSTENTÁVEL
2.1. Arquitetura Sustentável - Origem e Definição do conceito 2.2. Arquitetura Sustentável - Princípios de Apoio ao Projeto 2.3. Arquitetura Tropical - Origem e Definição do conceito 2.4. Arquitetura Tropical e Sustentável
9
10 13 15 16
xiv 3. ESCALA DO PAÍS ANGOLA - CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
19
3.1. Ocupação (séc. XVI – XVII) 3.2. Processo de Assentamento (séc. XVII – XIX) 3.3. Período Moderno e Pós-Independência (séc. XX)
20 21 23
4. ESCALA DA CIDADE LUANDA - URBANISMO
27
4.1. Urbanismo 4.2. Planos Urbanos (1942/ 1950/ 1957/ 1961) 4.3. Consequências da Evolução Urbana 4.4. Plano Luanda PDGML (2030)
28 29 33 34
5. ESCALA DA CIDADE LUANDA - DADOS GEOGRÁFICOS
39
5.1. Clima Geral 5.2. Radiação 5.3. Temperatura 5.4. Humidade 5.5. Precipitação 5.6. Ventos
40 41 42 42 42 43
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
5.7. Conclusão Climática 5.8. Projeto Bioclimático
43 44
Implantação
45
Sombreamento
46
Arrefecimento Passivo - Ventilação
47
Opções Construtivas
48
5.9. Casos de Estudo
49
Vasco Vieira da Costa
49
Edifício Anangola (Luanda, 1963)
50
Instituto Pio XII (Luanda, )
51
6. ESCALA DO BAIRRO CHICALA - CARACTERÍSTICAS
55
6.1. Contextualização 6.2. Estratégias de Intervenção
56 57
7. ESCALA DO EDIFÍCIO O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
69
7.1. Centro Cultural Sustentável 7.2. Forma 7.3. Função 7.4. Atividades Culturais 7.5. Programa e Organização Funcional 7.6. Soluções Construtivas
70 71 71 71 77 78
xv
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ESCALA HUMANA
82
BIBLIOGRAFIA
88
ANEXOS
Chicala - Fotografias Processo de Trabalho Maquetes Finais Peças Desenhadas
97
99 111 131 139
O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
ÍNDICE DE FIGURAS 001. Fachadas das ruas da Chicala, Luanda Roberto Goycoolea Prado, in (MOREIRA, 2012) 002. Fachadas das ruas da Chicala, Luanda Roberto Goycoolea Prado, in (MOREIRA, 2012) 003. Fachadas das ruas da Chicala, Luanda Roberto Goycoolea Prado, in (MOREIRA, 2012)
iv vi vii
INTRODUÇÃO 004. Uma criança espreita através das chapas de zinco usadas na construção da sua casa, no musseque de Zamba 2 que se estende até à cidade de Luanda Paulo Cunha/LUSA 005. Localização de Angola no Mapa Mundo e localização de Luanda no mapa de Angola 006. Luanda no início de 1970: a cidade e os seus musseques in (AMARAL, 2005) 007. Unidade de Vizinhança Nº1, Bairro do Prenda, Arq. Fernão Simões de Carvalho in (FONTE, 2012)
1 2 3 3
ESCALA MUNDIAL ARQUITETURA TROPICAL E SUSTENTÁVEL 008. Cheias no Norte de Moçambique Grant Neuenburg/ REUTERS 009. Dimensão ambiental, social e económica do desenvolvimento sustentável in (AMADO, 2015) 010. Evolução das preocupações na construção in (AMADO, 2015) 011. Ciclo de vida dos edifícios in (AMADO, 2015) 012. Sistemas bioclimáticos in (AMADO, 2015)
xvi
9 10 10 13 15
ESCALA DO PAÍS ANGOLA - CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA 013. Musseques de Luanda Neil Walton 014. Vista de parte da Cidade de S. Paulo de Assumpção do Reyno de Angola ”Desenhado no ano de 1755” in (AMARAL,1968) 015. Representação da cidade de Luanda, 1647
19
016. Luanda vista da cidade alta in (FREUDENTHAL, 2006) 017. Representação da cidade de Luanda, 1755 in (FERNANDES, 2008) 018. Vista da cidade de S. Paulo de Luanda in (FREUDENTHAL, 2006) 019. Luanda até metado do séc. XIX, mapa analítico com a àrea da Baixa in (FREUDENTHAL, 2006) 020. Fortaleza de S. Miguel (FERNANDES, 2008) 021. Vista parcial da cidade alta in (FREUDENTHAL, 2006) 022. Evolução do traçado urbano da cidade de Luanda (1755, 1862, 1926) (PINTO, 2005) 023. Representação da cidade de Luanda em 1926 (identificação da Rua Brito Godins) in (AMARAL, 1968) 024. Tabela de crescimento demográfico da população de Luanda Fonte Autora 025. Porto de Luanda (s.d.)
21
026. Porto de Luanda, 1964 in (AMARAL, 1968) 027. Ponte de ligação à ilha do cabo, postal do século XX
24
028. Ponte de ligação à ilha do cabo, 1975 (CRUZ, 2012) 029. Bairro Operário. Luanda foi pensada para cerca de 250 mil pessoas.
24
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
20 21
21 22 22 23 23 23 24 24 24
24
Hoje, na cidade vivem perto de 5 milhões in https://www.publico.pt/mundo/noticia/houve-independencia-mas-nao-descolonizacao-das-mentes-1712736 030. Formal vs. Informal
25 25
ESCALA DA CIDADE LUANDA - URBANISMO 031. Bairro da Corimba e do Prenda in (NETO, 2015) 032. Plano de Urbanização de Groer e David Moreira da Silva, 1942 in (FONTE, 2012) 033. Plano de Urbanização de Luanda do GUC, Arq. José António Aguiar, 1950 in (FONTE, 2012) 034. Plano de Urbanização da cidade de Luanda - Plano Regulador, Câmara Municipal de Luanda, 1957 in (AMARAL, 1962) 035. Plano Diretor Municipal da cidade de Luanda, Arq. F. Simões de Carvalho, 1961-1962 in (FONTE, 2012) 036. Mapa de usos do solo - Área Metropolitana de Luanda in (PDGML) 037. Ideais da Cidade Inteligente (Smart City) in (PDGML) 038. Divisão do Território de Luanda e Número de habitantes (2015) in (PDGML) 039. Divisão do Território de Luanda e Número de habitantes (2030) in (PDGML) 040. Percentagem de pessoas com acesso ao Saneamento básico in (PDGML) 041. Percentagem de pessoas com acesso a água potável in (PDGML) 042. Energia hidroeléctrica e térmica in (PDGML) 043. População que vive em áreas de habitação precária em 2015 e a previsão para 2030 in (PDGML) 044. Ocupação Formal e Informal do Território in (NETO, 2015) 045. Ocupação Formal e Informal do Território in (NETO, 2015)
29 30 30 31 31 34 34 34 34 35 35 35 35 36
xvii
37
ESCALA DA CIDADE LUANDA – DADOS GEOGRÁFICOS 046. Bairro do Prenda - Fernão Simões de Carvalho in (NETO, 2015) 047. Mapa Mundo da classificação Koppen-Geiger e classificação Koppen-Geiger para Angola in (ESTEVES, 2009) 048. Mapa dos tipos de clima tropical e respetivas zonas in (FRY & DREW, 1964) 049. Radiação Global Annual in (HEINDRICHS E DANIELS, 2007) 050. Carta Solar de Luanda in (SILVA,MALATO, 1969) 051. Poeme de l’angle droit solar in (Le Corbusier) 052. Tabela de temperatura média mensal de Luanda (Período de 1935 1952) Fonte Autora 053. Gráfico de temperatura média mensal de Luanda (Período de 1935 1952) Fonte Autora 054. Tabela de humidade média mensal de Luanda (Período de 1935 - 1952) Fonte Autora 055. Gráfico de humidade média mensal de Luanda (Período de 1935 - 1952) Fonte Autora 056. Tabela de pluviosidade média mensal de Luanda (Período de 1901 1952) Fonte Autora 057. Mapa de precipitação global anual in (HEINDRICHS E DANIELS, 2007) 058. Gráfico de pluviosidade média mensal de Luanda (Período de 1901 1952) Fonte Autora
39 40 41 41 41 42 42 42 42 42 42 42 43
O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
xviii
059. Rosa dos ventos de Luanda in (QUINTÃ, 2009) 060. Gráfico de temperatura e humidade média mensal de Luanda (Período de 1935 - 1952) Fonte Autora 061. Danos causados pelas cheias de março de 1963 in http://recordacaoemfoto.blogspot.pt/2008/02/luanda-maro-de-1963. html 062. Carta Bioclimática in (QUINTÃ, 2009) 063. Cobertura de um edifício numa região de clima tropical húmido in (PACHECO, 1963) 064. Brise-soleil do Mutamba
43
065. Como funciona o sistema de Brise-soleil do Mutamba in (PACHECO, 1963) 066. A presença de elementos árboreos e a sua importância quer na proteção solar, quer na ventilação (FONTE, 2006) 067. Construção sobre pilares in (PACHECO, 1963) 068. Influência das posições e superfícies relativas das aberturas de entrada e saída na velocidade das correntes de ar in (PACHECO, 1963) 069. Planta de localização do Anangola (QUINTÃ, 2009) 070. Fachada do Anangola Arquivo Modernidad Ignorada (Noviembre 2013) in http://cargocollective. com/arquitecturamodernaluanda/filter/Obras/Edificio-de-AnangolaVasco-Vieira-da-Costa-1963En-uso 071. Posição do Anangola in (QUINTÃ, 2009) 072. Galeria de distribuição do Anangola in (QUINTÃ, 2009) 073. Galeria de distribuição do Anangola in (QUINTÃ, 2009) 074. Brise-soleil do Anangola in (QUINTÃ, 2009) 075. Fachada norte no solstício de Inverno às 9h, 11h, 13h, 15h in (QUINTÃ, 2009) 076. Eficiência total do dispositivo de sombreamento para as fachadas norte e sul in (QUINTÃ, 2009) 077. Planta de localização do Instituto Pio XII Arquivo Modernidad Ignorada (Noviembre 2013) in http://cargocollective. com/arquitecturamodernaluanda/filter/Obras/Instituto-Pio-XII-ICRAVasco-Vieria-da-CostaEn-uso 078. Vista aérea do Instituto Pio XII Arquivo Modernidad Ignorada (Noviembre 2013) in http://cargocollective. com/arquitecturamodernaluanda/filter/Obras/Instituto-Pio-XII-ICRAVasco-Vieria-da-CostaEn-uso 079. Posição do Instituto Pio XII in (QUINTÃ, 2009) 080. Galeria de distribuição do Instituto Pio XII Arquivo Modernidad Ignorada (Noviembre 2013) in http://cargocollective. com/arquitecturamodernaluanda/filter/Obras/Instituto-Pio-XII-ICRAVasco-Vieria-da-CostaEn-uso 081. Avanço das lajes para o sombreamento das galerias Arquivo Modernidad Ignorada (Noviembre 2013) in http://cargocollective. com/arquitecturamodernaluanda/filter/Obras/Instituto-Pio-XII-ICRAVasco-Vieria-da-CostaEn-uso 082. Brise-soleil do Instituto Pio XII in (QUINTÃ, 2009) 083. Brise-soleil do Instituto Pio XII in (QUINTÃ, 2009)
47
43 44 44 46 47
47 47 48 50 50
50 51 51 51 51 51 51
51
51 52
52
52 52
ESCALA DO BAIRRO CHICALA - CARACTERÍSTICAS 084. Vista aérea para a Chicala in http://megaconstrucciones.net/?construccion=luanda 085. Evolução da Chicala PAULO MOREIRA, in http://www.chicala.org/historia/ 086. Localização da Chicala I, II e III in (MOREIRA, 2012) 087. Plano da Chicala e arredores mostrando às áreas demolidas desde 2005 O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
55 56 57 57
in (MOREIRA, 2012) 088. Rua José Pedro Tuca PAULO MOREIRA, in http://www.chicala.org/historia/ 089. Esquema de intenções projetuais Fonte Autora 090. Esquema de linhas de água e subida do nível de água Fonte Autora 091. Esquema de espaços verdes Fonte Autora 092. Chicala PAULO MOREIRA, in http://www.chicala.org/historia/ 093. Linhas de força da Chicala Fonte Autora 094. Proposta de Plano Urbano Fonte Autora 095. Plano Urbano - Program Fonte Autora 096. Ortofotomapa da Chicala e da Baía de Luanda 097. Ortofotomapa da Chicala e da Baía de Luanda com o projecto para a àrea da Chicala Fonte Autora
58 58 59 59 60 60 61 62 64 66
ESCALA DO EDIFÍCIO O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA 098. Edifícios - Luanda
69
099. Angola - distribuição Cultural in (REDINHA, 1975) 100. Confeção de um açafate in (REDINHA, 1975) 101. Cesto encanastrado in (REDINHA, 1975) 102. Um silo construído por processo de cestaria in (REDINHA, 1975) 103. Esteira cabinda in (REDINHA, 1975) 104. Manufactura de um saco de foliolos da palmeira in (REDINHA, 1975) 105. Três fases da moldagem de um vaso in (REDINHA, 1975) 106. Tear vertical para tecidos de ráfia in (REDINHA, 1975) 107. Tecido de fibras de ráfia in (REDINHA, 1975) 108. Banco antropomorfo in (REDINHA, 1975) 109. Velha canoa in (REDINHA, 1975) 110. Máscara de madeira macia pintada in (REDINHA, 1975) 111. Instrumento mbungo in (REDINHA, 1975) 112. Xilofone curvo in (REDINHA, 1975) 113. Tatuagens quiocas in (REDINHA, 1975) 114. Jovem executando uma pintura na parede barreada de uma habitação in (REDINHA, 1975) 115. Pintura mural in (REDINHA, 1975) 116. Conjunto de tocadores de xilofone in (REDINHA, 1975) 117. Grande dança em roda in (REDINHA, 1975) 118. Dança acrobática in (REDINHA, 1975) 119. Esquema de interligação dos espaços do programa Fonte Autora 120. Cobogos in (PACHECO, 1963) 121. Detalhe Construtivo in file:///Users/joanareissilva/Desktop/Tese/PROJETO/corte%20construtivo/CAP%20Progrés%20Raval%20en%20Badalona.%20BAAS%20-%20 Jordi%20Badia.%20Proyectos%20%5BT%5Dtectonica-online.webarchive 122. Corte explicativo do projeto
72 72 72 72 73 73
xix
73 74 74 74 74 74 75 75 75 75 75 76 76 76 77 78 78
78 O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
Fonte autora 123. Museu da Memória - Baeza in http://b2b.baeza-sa.com 124. Ambiente Galeria in file:///Users/joanareissilva/Desktop/Tese/PROJETO/corte%20construtivo/CAP%20Progrés%20Raval%20en%20Badalona.%20BAAS%20-%20 Jordi%20Badia.%20Proyectos%20%5BT%5Dtectonica-online.webarchive
78 79
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ESCALA HUMANA 125. Musseque - Luanda Ken Gerhardt in Gallo Images
81
BIBLIOGRAFIA 126. Luanda, Entre o Lixo e o Luxo Arquivo Público in https://www.publico.pt/mundo/noticia/entre-o-lixo--e-o-luxo-angola-sobrevive-a-crise-1692713
89
ANEXOS CHICALA - FOTOGRAFIAS 127. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 128. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 129. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 130. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 131. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 132. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 133. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 134. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 135. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 136. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 137. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 138. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 139. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 140. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 141. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 142. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 143. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 144. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 145. Paulo Moreira in http://www.chicala.org 146. Paulo Moreira in http://www.chicala.org
100 100 101 101 102 102 103 103 104 104 105 105 106 106 107 107 108 108 109 109
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O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
ACRÓNIMOS
AA - Architectural Association AHU - Arquivo Histórico Ultramarino CIAM - Congresso Internacional de Arquitetura Moderna CIB - Conseil International du Bâtiment (International Council for Building) CML - Câmara Municipal de Luanda
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ESBAL - Escola Superior de Belas Artes de Lisboa FA-UL - Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa GUC - Gabinete de Urbanização Colonial GUCML - Gabinete de Urbanização da Câmara Municipal de Luanda GUU - Gabinete de Urbanização do Ultramar IPGUL - Instituto de Planeamento e Gestão Urbana de Luanda PALOP - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PDGML - Plano Director Geral Metropolitano de Luanda PDU - Plano Diretor de Urbanização PFM - Projeto Final de Mestrado WCED - World Commission on Environment and Development (Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento) WWF - World Wildlife Fund
O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
004. Uma criança espreita através das chapas de zinco usadas na construção da sua casa, no musseque de Zamba 2 que se estende até à cidade de Luanda
1. INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
1.1. ENQUADRAMENTO
2 Musseques - “A palavra musseque tem origem no kimbundo (mu seke) e significa areia vermelha.A um dado momento, musseque, passa a designar os grupos de palhotas, que se adensam no alto das barrocas e que por semelhança à SEKE (vermelho ocre) toma o nome do material (areia) sobre o qual se implantam. O seu desenvolvimento está intimamente ligado ao da cidade propriamente dita” < http://arkivao.blogspot.pt/2006/07/musseques-de-luanda.html>
1
Fernão Simões de Carvalho - (1929 - ) Arquiteto e urbanista nascido em Luanda, a 1929. Formou-se na ESBAL e estudou urbanismo na Sorbonne (Paris). Tornou-se colaborador do atelier de Le Corbusier e, mais tarde, regressa a Luanda, onde, de 1961 e 1966, forma o Gabinete de Urbanização Colonial (GUC)
8º50’18’’ S 13º14’04’’ E
2
3 Ilídio do Amaral – (1926 - )“Geógrafo, ex. Professor da ESBAL. Professor Catedrático jubilado da Universidade de Lisboa. Director do Centro de Geografia do Instituto de Investigação Cientifica Tropical, Membro da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Portuguesa da História” (PINTO, 2005, p. 48) 4 in <http://www.redeangola.info/luandaja-nao-e-a-cidade-mais-cara-do-mundo/>
Luanda é, atualmente, a maior e a mais densamente habitada cidade de Angola. É considerada a cidade mais desenvolvida do país e o único grande centro financeiro, comercial e económico do mesmo. Inicialmente projetada para uma população de 500 mil habitantes, Luanda é hoje uma cidade sobre-habitada, sendo que conta com uma população de cerca de 6,5 milhões de habitantes (Censos de 2014). Esse fenómeno que surge associado ao êxodo rural e à imigração, reflete-se num aumento desmedido das periferias da cidade e no aparecimento, sem planeamento ou ordenação, de musseques1 (habitações indígenas), que constituem a maior área da cidade, dominando a paisagem da mesma. Tal facto, teria sido previsto, anteriormente, em 1963, pelo Arquiteto Fernão Simões de Carvalho2: “Observando a nossa capital Pro-
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vincial - Luanda - a sua zona de influência, a sua região - sentimos que ela tem de ser estudada como parte de um todo, como influenciadora e influenciada. Luanda, actualmente com cerca de 300 mil habitantes e que dentro de vinte anos deverá possuir mais de 500 mil, e apenas dez anos depois, talvez mais de um milhão, tem sofrido de muitos dos males apontados. Com os seus tentáculos, a cidade tem vindo anexando criminosamente mais e mais terrenos, provocando, como diria Le Corbusier, “a apoplexia do centro e a paralisia nas extremidades””(CARVALHO, 1963, p. 29) Ilídio do Amaral3, explica o porquê deste crescimento, no seu livro “Luanda – Estudo de Geografia Urbana”: “A população urbana passou de 387 059 em 1960 para 847 182 em 1970; esse crescimento deveu-se, em particular, ao afluxo de imigrantes não só das áreas metropolitanas mas, sobretudo, do modo rural africano, atraídos pelo sortilégio da expansão das actividades urbanas. Porém, embora esta pudesse ser favorecida pelo aumento de mão-de-obra barata, ainda que inqualificada, ela esteve longe de poder absorver esse aumento explosivo de população em idade de trabalhar, e de compensar os desequilíbrios entre a subida do custo de vida e a dos salários. Daí o alastramento das periferias dos bairros de miséria rodeando a parte urbanizada, a intensificação dos problemas de alojamento.”(AMARAL, 1968, p. 4) Atualmente, é uma das cidades mais caras do mundo4 e das mais populosas. Contudo, os habitantes dos musseques constituem metade da população de Luanda e 25% da população, uma minoria extremamente rica. Esta discrepância socioeconómica reproduz-se nas descontinuidades urbanas da cidade, que cresce sem que haja uma estruturação prévia. É urgente redesenhar a cidade de Luanda; repensar e reestruturar o tecido urbano da mesma (relacionando e articulando o tecido formal e informal que possuí); sempre de forma a reaproveitar as infraestruturas e equipamentos préexistentes: “A Brito Godins [actual Av. Lenine] era a primeira via de cintura que eu considerava no meu plano (...) Neste percurso tinha que se alargar a via e proibir o estacionamento de maneira a fazer uma via de cintura trabalhar como era suposto. As moradias que existiam lá, que tinham um terreno formidável (...) e que eram jóias da arquitectura daquele tempo, foram na sua maioria substituídas por prédios de 10 e 15 pisos. Agora, ninguém consegue circular naquela via! As asneiras somam-se e somam-se...” (CARVALHO, 1963, p. 28) Na opinião do Arquiteto Fernão Simões de Carvalho: “Chegou o momento de se definir a ocupação do solo, de se fixarem as densidades populacionais, de se estabelecer o plano do seu equipamento à “escala humana”, em suma de se elaborar o Plano Diretor da Cidade que definirá os princípios que devem guiar a utilização dos terrenos não só de cidade como da Região em que se apoia.” (CARVALHO, 1963, pp. 27–29)
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005. Localização de Angola no Mapa Mundo e Localização de Luanda no Mapa de Angola 006. Luanda no início de 1970: a cidade e os seus musseques 007. Unidade de Vizinhança Nº1, Bairro do Prenda, Arq. F. Simões de Carvalho O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
1. INTRODUÇÃO 1.2. TEMA E MOTIVAÇÕES O texto “Luanda do Futuro” (referido anteriormente) foi redigido há mais de 50 anos por Simões de Carvalho e identificou problemas que atualmente se agudizaram. Ainda que, o autor tivesse, pertinentemente, apontado soluções e uma vez que, estas não foram implementadas, tentaremos, neste trabalho, na senda do que foi anteriormente feito, aprofundar a viabilidade das soluções aplicadas ao contexto atual. Para tal, tivemos como suporte técnico, os seguintes autores: Fernandes (2009), Fonte (2007), Magalhães (2009), Milheiro (2012), Quintã (2009), Tostões (2013), entre outros... O tema deste trabalho centra-se na criação de um edifício sustentável o que, no contexto mundial, tem uma enorme importância dado os problemas ambientais, económicos e sociais vigentes. Sendo Angola um país em desenvolvimento permite, aquando das premissas iniciais de construção, pensar-se “verde” ou seja: incutir de raiz a preocupação com a gestão dos recursos naturais, assim como, a resolver problemas socio e económicos, possibilitando ao país um desenvolvimento sustentável. As motivações que levaram ao desenvolvimento deste trabalho são: • Em primeiro lugar, o interesse pelo tema a nível da prática profissional da arquitetura; • Em segundo, o desafio de projetar para um local desconhecido; • E por fim, a aplicação do programa e princípios da arquitetura sustentável de modo a ser possível a integração do edifício no ambiente que o envolve, minimizando, deste modo, os impactos ambientais, económicos e sociais.
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1.3. OBJETIVOS A ATINGIR
5 Maria Isabel Martins – Arquiteta, Doutora em História da Arquitetura, Universidade Agostinhho Neto (Luanda, Angola)
O intuito deste trabalho prende-se com a dimensão prática da apreensão de conceitos como a arquitetura e o desenvolvimento sustentável quando relacionados com a arquitetura tropical. Neste caso, pretende-se estudar e analisar os princípios da arquitetura sustentável e definir estratégias construtivas para a sua aplicação em locais de clima tropical. Inicalmente pretende-se conhecer a história de Luanda para depois se adequar o plano urbano e o edifício a construir, às suas especificidades. Posteriormente à criação de um plano urbano para o terreno, propõe-se, como projeto de tese de final de mestrado, a realização de um Centro Cultural Sustentável na Chicala (Luanda, Angola). A razão que levou a optar pela criação de um equipamento prende-se com a falta de equipamentos públicos para o lazer e cultura na cidade de Luanda. Tirando partido da privilegiada localização geográfica do terreno (à margem do oceano atlântico e adjacente ao centro histórico
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da cidade) criaremos uma nova centralidade, um novo ponto atrativo da cidade de Luanda. Propõe-se, também, que o edifício consiga atenuar a discrepância social existente, que este seja uma fonte de rendimento para a cidade e que resulte da aplicação dos princípios bioclimáticos e, ainda, que através da criação de um conjunto de premissas aplicadas ao edifício, este funcione como motor de regeneração do traçado urbano. Assumindo a máxima: “pensar global e agir local“. Para o efeito definiram-se os seguintes objetivos específicos: • Realização de um equipamento que funcione como motor de reorganização da malha urbana; dinamizador das relações interpessoais que a cidade deve proporcionar como objeto vivo que é e que, por isso, seja um espaço democrático, promovendo a inclusão social ao poder ser acedido por todos; • Que relembre, não só a história do lugar e da cidade mas que esteja incluído nela, surgindo com uma visão futurista, um equipamento sustentável que aproveite as inovações tecnológicas e os novos materiais na sua conceção, assim como, as energias renováveis e que seja, também, um modelo para construções futuras; • Por último, que seja um edifício de referência para os citadinos e um local que suscite interesse aos possíveis visitantes. Como diz, Maria Isabel Martins5, no texto “A Evolução de Luanda e o Fenómeno da Globalização”: “Queremos uma capital angolana moderna e que represente o avanço das tecnologias de ponta, mas isso não significa que se destrua sem qualquer critério o património construído só porque é velho e está mal conservado. Devemos intervir, sim, desde que essa intervenção não signifique a destruição da história, mas sim a sua revalorização e a sua utilidade.”(PINTO, 2005, p. 58)
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1.4. ABORDAGEM E METODOLOGIA Este projeto final de mestrado (PFM) foi desenvolvido na sequência do desafio lançado em “Laboratório de Projeto V“ com objetivo de criar um plano urbano para a zona da Chicala em Luanda. Para a sua concretização foi feita, numa primeira fase do trabalho, uma pesquisa de contextualização a nível histórico, urbano e geográfico, de modo a conhecer os fenómenos de crescimento do país assim como, os processos de urbanização da cidade. Foram também analisados os seus dados geográficos, sendo esta abordagem teórica e descritiva. Ilídio do Amaral refere, no texto “Apontamentos Sobre Luanda: Uma Capital Colonial Imperfeita” que: “o que importa hoje estudar é, justamente, o jogo de forças entre o global e o local na produção do espaço urbano, dando atenção não apenas à reconfiguração da reestruturação global, mas também aos vectores geométricos da reterritorialização local, sem nunca perder de vista o relacionamento das dimensões histórica, económica, cultural, sociopolítica e discursiva. Julgo que são estes alguns dos novos caminhos para a análise do fenómeno urbano” (PINTO, 2005, p. 55) Seguindo o seu pensamento, foi feita uma análise da cidade O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
1. INTRODUÇÃO de Luanda e procedeu-se ao conhecimento do território de modo a conhecer-se o país, cidade e cultura. Elaborou-se um plano urbano para a área da Chicala que respondesse aos problemas sociais e ambientais vigentes, tendo como foco, a criação do Centro Cultural Sustentável de Luanda. Para o efeito, a metodologia de trabalho adotada foi em primeiro lugar conhecer, com base em livros, documentos, teses e dissertações, o tema de estudo e tudo o que este envolve. A nível do projeto, segundo a análise da cidade atual, foi definido um plano urbano para a zona da Chicala e, numa segunda parte da prática projetual, foi desenhado o Centro Cultural Sustentável.
1.5. ESTRUTURA E LIMITAÇÕES DO TRABALHO
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Com a intenção de estudar e relacionar o “todo” e a “parte”, a estrutura do trabalho encontra-se escalonada. Deste modo, o documento, encontra-se dividido em oito momentos distintos mas interdependentes e relacionados entre si. Iniciamos na Escala do País (todo), passando pela Escala da Cidade, do Bairro, do Edifício e, por fim, chegamos à Escala Humana (parte). Assim e, de modo a, atingir os objetivos definidos anteriormente, o trabalho apresentado, estrutura-se como abaixo se descreve: No primeiro capítulo é feita uma introdução ao tema, são descritas as motivações que levaram à sua escolha, identificados os objetivos do trabalho, a metodologia aplicada e, ainda, as suas limitações. No segundo capítulo definimos os conceitos de arquitetura sustentável, arquitetura tropical e, por fim, arquitetura tropical sustentável. Aquando da dimensão prática, estes conceitos serão relacionados e aplicados. No terceiro capítulo, iniciamos com a escala do país e faz-se uma contextualização histórica de Angola, desde a sua descoberta até ao século XX. Passamos para a escala da cidade, no quarto capítulo, e focamo-nos nos planos urbanos realizados para Luanda, a partir do século XX. Da dimensão prática do trabalho irá resultar um plano urbano, daí considerou-se pertinente estudar os planos urbanos para a cidade. Analisámos cada um deles de forma a perceber se foram, ou não, aplicados e se houve melhorias na resolução do problema da habitação na cidade. Tentou-se, também, saber, por fim, qual a aplicabilidade dos mesmos no contexto atual. No quinto capítulo, ainda na escala da cidade, analisamos os dados geográficos de Luanda (o clima, radiação, temperatura, humidade, ventos) de modo a que o edifício vá de encontro às necessidades do clima local. Neste capítulo são, também, introduzidos e explicados os princípios bioclimáticos devido à importância que assumem no desenho da proposta. Como exemplo da aplicação destas estratégias são apresentados os casos de estudo. A recolha informativa irá contribuir para a criação do programa para um equipamento coletivo a ser desenvolvido a nível projetual. O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
Deste modo, no sexto capítulo, introduzimos a dimensão prática e entramos na escala do Bairro, onde se projeta o plano urbano da zona da Chicala, tendo como base os planos estudados para a cidade de Luanda, os conceitos e princípios de urbanismo sustentável referidos no estado da arte e, ainda, os dados geográficos da cidade. O sétimo capitulo, foca-se na escala do edifício e na construção do Centro Cultural Sustentável de Luanda, que é o ponto fulcral deste trabalho. A nível de conclusão, o oitavo capítulo refere-se à escala humana como a escala a adaptar ao edifício e à cidade (que é uma das preocupações de Simões de Carvalho, referida anteriormente). As limitações do trabalho prendem-se com a falta de informação relativa a Angola, mais precisamente, à cidade de Luanda: • Não há bibliografia relativamente à historia de Luanda posteriormente ao período moderno, ou seja, de 1960 até à atualidade. • Os dados climáticos analisados compreendem as datas de 1930 a 1950, ou seja, também não são fidedignos quando aplicados ao dias de hoje. • Alguns dados demográficos são diferentes de fonte para fonte, o que não permite ter uma análise concreta sobre o crescimento populacional. • A situação vigente do país (mais propriamente da cidade de Luanda) impossibilitou a visita e conhecimento do local. São causas da falta de informação, os seguintes fatores, referenciados por Ana Vaz Milheiro5: “o património africano moderno e, ainda mais, o resultante da revisão daquele movimento nos anos em estudo, permanece muitas vezes desconhecido pela historiografia e menosprezado pelos actores políticos responsáveis pela sua conservação e valorização. (...) Para tal contribui também a quase inexistência de menções à arquitectura africana nos principais guias de arquitectura moderna, demasiado centrados na América do Norte e, particularmente, na Europa.“ (MILHEIRO, 2013, p. 6) Ainda assim, o trabalho tem como base a bibliografia encontrada; o tratamento dos dados é feito através da sobreposição dos mesmos. As limitações não foram impeditivas, nem puseram em causa o trabalho na índola da tese final de mestrado, antes pelo contrário, o tema foi visto como um desafio à sua prática. A globalização na arquitetura pressupõe a criação de projetos noutros lugares, países e culturas e como tal o seu conhecimento ou predisposição para os conhecer.
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008. Cheias no Norte de Moรงambique
2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS ARQUITETURA TROPICAL E SUSTENTÁVEL
2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS ARQUITETURA TROPICAL E SUSTENTÁVEL
A partir de uma introdução que descreve sucintamente a Arquitetura Sustentável, o desenvolvimento sustentável e a importância de um modelo sustentável para o sector da construção, abordar-se-ão vias para a sustentabilidade, as suas condicionantes e, por fim, estas serão aplicadas à dimensão prática deste trabalho. De modo a percebermos os conceitos de Arquitetura Sustentável e Arquitetura Tropical considera-se pertinente também a sua contextualização história.
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6 Rachel Carson (27/5/1907 – 14/4/1964) - escritora, cientista, bióloga marinha e ecologista norte-americana. Ficou conhecida com a publicação de Silent Spring (1962) onde lançou a consciência ambiental moderna.
Ian McHarg (20/11/1920 – 5/3/2001) -arquitecto paisagista escocês e um escritor. Fundador do departamento de urbanismo, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Pioneiro no conceito de desenvolvimento sustentável, expresso seu livro Design with Nature (1969). 7
E. F. Schumacher (16/8/1911 — 4/971977) - economista no Reino Unido, serviu de conselheiro-chefe de ecónomia ao National Coal Board britânico por duas décadas. De acordo com o jornal The Times, o seu livro Small Is Beautiful (1973) é um dos 100 livros mais influentes publicados após a Segunda Guerra Mundial.
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2.1. ARQUITETURA SUSTENTÁVEL - ORIGEM E DEFINIÇÃO DO CONCEITO As duas guerras mundiais, a crise económica de 1929, a explosão demográfica no pós guerra, a revolução industrial e consequente crescimento económico com base no consumo excessivo dos recursos naturais, foram acontecimentos que marcaram o século XX e que criaram algumas questões e preocupações ambientais que até à data não tinham sido levantadas. Daí, um pouco por todo o mundo, ter havido um movimento ambiental moderno. Contudo, é nos Estados Unidos da América, em 1962, com a publicação de Rachel Carson6: “Silent Spring”, que se começa a alertar para os perigos da utilização e químicos na indústria e as suas consequências para o meio ambiente. (V. Baweja citado por GOURGEL, 2012) Em 1969, surge a publicação de Ian McHarg7, intitulada de “Design with the Nature” que o torna um dos pioneiros do desenvolvi-
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
mento sustentável. A década de 70, é marcada pelo despertar da consciência social, melhor dizendo, inicia-se uma mudança de paradigma no entendimento do impacto ambiental. É também a partir dos anos 70 que os problemas ambientais passam a fazer parte da agenda política internacional, é de destacar a realização da “Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano” realizada em Estocolmo a 1972, à qual se seguiram muitas outras. A 1974, Schumacher8, sob o título de “Small is Beautifull”, escreve que as causas dos problemas ambientais surgem devido à ideia de que podemos continuar a produzir e a consumir os recursos a taxas alarmantes num planeta finito. Nos anos 80, os vários acidentes industriais (como o de Chernobyl em 1986) fazem aumentar exponencialmente as preocupações com os impactos ambientais: põe-se em causa a inovação tecnológica e, com esta discussão, começam a emergir movimentos em defesa da Natureza e do meio ambiente cada vez com mais afluência. É também nesta mesma década que o conceito de sustentabilidade surge, pela primeira vez, associado à prática da arquitetura, pois, é posto em causa o efeito de novos produtos e, acima de tudo, o impacto negativo a curto prazo novos materiais de construção. Estas preocupações resultam no estabelecimento de um relatório, por parte das Nações Unidas, da “Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento (WCED) (que se tornou conhecida como Comissão Brundtland), do Relatório Brundtland (1987) – igualmente denomidado de “O Nosso Futuro Comum” (Our Common Future) onde se introduziu o conceito de “sustentabilidade” no discurso ambiental e se estabeleceu a “Arquitetura Verde”. Neste relatório é apresentado um dos conceitos mais importantes a nível ambiental, o de “Desenvolvimento Sustentável”: “Por desenvolvimento sustentável entende-se o desenvolvimento que satisfaz as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazerem as suas próprias necessidades”. (in Relatório Brundtland , UNITED NATIONS; 1987) O relatório salienta também o consumo excessivo de recursos naturais por parte dos países ricos e a existência de pobreza extrema pelo mundo como constitutivo de problemas ambientais. Neste sentido, e através de um conjunto de medidas de ação apresentadas no relatório, este visa conciliar o crescimento económico não só com as preocupações ambientais mas também sociais. Mais tarde, “Riechman (2003), afirma que o desenvolvimento sustentável trata de combinar, num modelo desejável de sociedade, valores ambientais (sustentabilidade de recursos e perseveração da biosfera), sociais (igualdade de direitos, combate à pobreza e exclusão) e económicos (satisfação das necessidades humanas e eficiência económica)” (AMADO et al., 2015, p. 22) Posteriormente ao Relatório de Brundtland, é realizada no Rio de Janeiro a 1992, a “Conferência da Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento”. Como resultado das discussões apresentadas é formulada a Agenda 21, um plano normativo para o desenvolvimento
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2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS ARQUITETURA TROPICAL E SUSTENTÁVEL sustentável, contento instruções especificas à prática da arquitetura sustentável, elaborada por 179 países participantes, tornando-se um marco significativo para a história da “Arquitetura Verde”.
A 1996, surge também a Agenda Habitat II como resultado da Conferência das Nações Unidas, realizada em Istambul. Nos países mais desenvolvidos, a 1993, surge um movimento internacional que procura implementar o conceito de construção sustentável. Charles Kilbert, em 1994, introduziu, na conferência organizada pelos CIB (International Council for Building) , pela primeira vez este termo definindo-o como a “criação e gestão responsável de um ambiente construído saudável, tendo em consideração os princípios ecológicos (para evitar danos ambientais) e a utilização eficiente dos recursos” (PINHEIRO, 2006). Acrescentamos ainda que a “procura de uma eficiência nas diferentes fases do processo de concepção, construção e operação dos edifícios permite que se possa considerar a construção sustentável como aquela que faz uso dos melhores procedimentos e técnicas para a concepção de objectos edificados cujos impactes no ambiente são os menores possíveis de originar.” (AMADO et al., 2015, p. 13)
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9 Protocolo de Quioto - tratado internacional entre países com o compromisso de reduzir a emissão dos gases que agravam o efeito estufa (que causa o aquecimento global)
Pois com o transporte de material do local de extração até ao local de implantação acresce não só o custo de construção, mas sobretudo o impacto ambiental. Os efeitos no meio ambiente da extração, transformação de matérias com a finalidade de criar novos materiais, aplicação, manutenção dos mesmos e, eventual, eliminação/ reciclagem são difíceis de quantificar. Os materiais deixam e ser aplicados tal e qual como são ex-
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traídos da natureza o que implica um maior consumo energético e uma dificuldade acrescida para o ecossistema de absorver o material aquando da sua devolução após o fim da vida útil do edifício. É em 1997, que os países com maior contributo na emissão de gases acordam, com a assinatura do “Protocolo de Quioto”9, reduzir as emissões destes em 5,2%, para o período de 2008 a 2012. Este Protocolo, demarca “uma nova etapa no desenvolvimentos de estratégias para a protecção e conservação do meio ambiente, a par do desenvolvimento das actividades humanas” (AMADO et al., 2015, p. 21) Com o fenómeno de globalização assistimos a um desprendimento dos vínculos de arquitetura e ao abandono das técnicas vernaculares. Passamos de uma arquitetura puramente local para uma arquitetura onde existe a liberdade de escolher e construir com todos os materiais em qualquer parte do mundo. “Se esta problemática era já uma realidade no século XX, continua a agravar-se no presente, e como refere Santos (2007) “(...) As estimativas indicam que a área terrestre e a marinha necessária para regenerar os recursos naturais e dispor os resíduos gerados pelo ritmo actual do consumo humano, ou seja, a pegada ecológica da humanidade, ultrapassa já a superfície da Terra” (Santos citado por AMADO et al., 2015, p. 22) Dito isto, resta-nos definir arquitetura sustentável. Saker, define que: “A Arquitetura Sustentável é um termo geral que descreve a consciência ambiental sobre as técnicas de design no campo da arquitetura. É enquadrada pela larga discussão da sustentabilidade e a pressão das questões económica e política do nosso mundo. Num contexto abrangente, a arquitetura sustentável procura minimizar o impacte ambiental negativo dos edifícios melhorando a eficiência e o uso moderado de materiais, energia e o desenvolvimento de espaços” (Saker, et al., 2010).
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2.2. ARQUITETURA SUSTENTÁVEL - PRINCÍPIOS DE APOIO AO PROJETO Como diz Guedes (2011): “Há muitas definições para Arquitetura Sustentável, mas a essência da sustentabilidade está intrinsecamente ligada à essência da Arquitectura. Um bom edifício é natu-
009. Dimensão ambiental, social e económica do desenvolvimento sustentável 010. Evolução das preocupações na construção 011. Ciclo de vida dos edifícios O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS ARQUITETURA TROPICAL E SUSTENTÁVEL
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ralmente sustentável. Os edifícios designados para a sustentabilidade são construídos e operados para minimizar todos os impactos negativos nos ocupantes (em termos de saúde, conforto e produtividade), e no ambiente (uso de energia, recursos naturais e poluição). Plainotis (2006). Podemos afirmar que Vitrúvio no século I a.C. já defendia um projecto de Arquitectura Sustentável. O sistema firmitas, vetustas, utilitas (solidez, beleza e utilidade) deveria incluir uma observação da Natureza e um consequente aproveitamento dos recursos naturais, com a utilização da iluminação solar e da ventilação natural. Factores determinantes para a funcionalidade ambiental, como a escolha do local para implantação das cidades, a disposição das vias e a orientação das edificações deveriam reger o projecto desde o seu início.” (GUEDES, 2011, p. 9) De acordo com a Ecological Footprint Sustainability Measure “O consumo atual e os níveis de produção estão 25% mais altos que a capacidade de carga sustentável da Terra”, contudo, a pressão existente sobre os ecossistemas poderá ser reduzida através da implementação das novas tecnologias no sentido da autossuficiência, pela utilização dos recursos naturais e ainda através da substituição dos recursos não renováveis pelos recursos renováveis. Também o Living Planet Report 2012 (WWF) diz que “o modelo de desenvolvimento da sociedade consome 50% mais recursos naturais do que aqueles que o planeta é capaz de repor.” (AMADO et al., 2015, p. 29) A produção de energia através de fontes como o vento, sol, biomassa e a energia geotérmica reduzem a necessidade de dependência energética de alimentação da rede pública, melhor dizendo, o edifício tende a tornar-se autossuficiente e a gerar a sua própria energia. A construção sustentável possui vários pressupostos fundamentais para a preservação do ambiente, designadamente: economizar a energia e os recursos; assegurar a durabilidade dos edifícios, utilizar materiais eficientes, minimizar a produção de resíduos, etc. Para tal, devemos ter em conta alguns parâmetros: - O primeiro passo a considerar para a conceção de um edifício sustentável e a sua forma e envolvente. A modelação, o tamanho e a orientação têm extrema influência nos ganhos e perdas do edifício. - A localização geográfica, a orientação do edifício, assim como a sua geometria e configuração deve-se ter em conta de forma a que a incidência solar seja aproveitada ao máximo e se possa recorrer à energia solar para o aquecimento e iluminação natural. - Com o objetivo de minimizar os gastos energéticos dos edifícios e, simultaneamente, satisfazer as necessidades térmicas dos ocupantes, deve-se procurar minimizar o uso de tecnologias e energia, prevenir o sobreaquecimento no verão, através da arquitetura passiva ou bioclimática. No contexto climático angolano, descrito no capítulo “Escala da Cidade – Luanda: Dados Geográficos”, é possível, através da aplicação dos princípios bioclimáticos ou de design passivo, atingir o conforto térmico no interior do edifício. Também neste capítulo, pretende-se desenvolver os elementos para a conceção bioclimática de O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
edifícios que se encontram diretamente relacionados com os princípios de desenvolvimento sustentável. “Neste sentido, os sistema bioclimáticos correspondem a “(...) um conjunto de regras e medidas de carácter geral destinadas a influenciarem a forma do edifício bem como os processos, sistemas e componentes construtivos. As estratégias a adoptar num determinado edifício ou projecto deverão ser seleccionadas tendo em atenção a especificidade climática do local, a função do edifício e consequentemente, o modo de ocupação e operação do mesmo, com o objectivo de promoverem um bom desempenho em termos de adaptação ao clima” Gonçalves e Graça in (AMADO et al., 2015, p. 123)
2.3. ARQUITETURA TROPICAL - ORIGEM E DEFINIÇÃO DO CONCEITO Para falarmos de arquitetura tropical temos de recuar até ao ano de 1843, quando a Rainha D. Maria II, decretou uma portaria onde estabelece como princípios para a conceção das cidades angolanas: “5º que é proibido levantar qualquer edifício cujo sobrado ou pavimento térreo não esteja acima do terreno pelo menos quatro palmos, sendo os muros abertos por um modo que por baixo possa o ar circular livremente; 7º que todos os novos edifícios habitáveis sejam espaçosos, bem ventilados e de nunca menos de 16 palmos de pé direito em cada pavimento” (Portaria de 298 de Março de 1843, in BATALHA, 1950, p. 19) Pode-se assim dizer que estas regras para uma arquitetura adaptada ao clima, são o que vai diferençar a arquitetura da arquitetura tropical. A questão do clima é preponderante no clima tropical e a arquitetura tropical é, por isso, considerada a arquitetura adaptada a este clima. Ainda assim, o princípio fundador da arquitetura tropical foi a proteção dos europeus às doenças tropicais. Como nos diz Mas Baweja (2008): “Nos finais do século XIX e início do século XX, o conceito da Arquitectura Tropical desenvolveu-se na disciplina da higiene, que circulou através dos manuais de higiene coloniais. Eles continham informação profissional sobre construção e eram frequentemente acompanhados por tipos e design. A principal preocupação dos manuais de higiene tropical eram o bem-estar do organismo dos europeus sob as condições climáticas tropicais.” (Baweja citado por GOURGEL, 2012, p. 33)
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012. Sistemas bioclimáticos O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
2. DEFINIÇÃO DE CONCEITOS ARQUITETURA TROPICAL E SUSTENTÁVEL Só nos anos 30, quando os arquitetos britânicos começaram a trabalhar nos trópicos, é que a causa da arquitetura tropical passa de higienista para a disciplina da arquitetura. Já nos anos 50, a migração da arquitetura tropical para o domínio da arquitetura foi completada com o estabelecimento do “Departamento de Arquitetura Tropical” na Architectural Association (AA), onde lecionou Otto Koenigsberger. Escrito por Maxwell Fry e Jane Drew, o Manuel “Tropical Architecture in the Humid Zone” (1956), tornou-se um documento extramente importante na definição de arquitetura tropical. O guia técnico criado a partir da compilação de notas de ex-alunos de Koenigsberger, que lecionou sobre o clima no Curso de Arquitectura Tropical, foi o manual mais completo sobre a temática. Apesar da mudança, a higiene continuou a ser uma componente significante da arquitetura tropical: o objetivo da arquitetura tropical deixou de ser a proteção do “organismo europeu”, mas sim o conforto térmico de todos os habitantes na própria casa. Ainda assim, a arquitetura tropical aproximou-se da arquitetura sustentável, quando se tornou um núcleo de desenvolvimento de conhecimentos sobre a conservação da energia, tecnologias ambientais de baixo impacto, habitação para pobres, interpretação científica de conhecimento vernacular.
2.4. ARQUITETURA TROPICAL E SUSTENTÁVEL 16
Otto Königsberger (13/10/1908 – 3/1/1999) - arquiteto alemão, trabalhou principalmente no planeamento do desenvolvimento urbano na África, Ásia e América Latina. Foi Chefe do Departamento de Arquitetura Tropical na AA e, também, conselheiro sénior do Conselho Económico e Social das Nações Unidas.
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11 Maxwell Fry (2/8/1899 – 3/9/1987) - arquiteto modernista inglês, escritor e pintor. Colega de Walter Gropius, Le Corbusier e Pierre Jeanneret. Fry foi uma grande influência sobre uma geração de jovens arquitectos.
Jane Drew (24/3/1911 – 19/7/1996) arquiteta e urbanista modernista inglesa. Tornou-se uma das principais arquitetas do movimento moderno em Londres. Em conjunto com o seu marido, Maxwell Fry, concebeu vários edifícios para os países do continente Africano que faziam parte da Inglaterra e, também, publicaram vários livros.
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As teorias que foram desenvolvidas para resolver a escassez de recursos nos trópicos, à qual chamamos de arquitetura tropical, evoluíram para se tornarem na resposta ao clima e posteriormente foram utilizados não só em climas tropicais, alargando-se a locais onde existia uma abundante disponibilidade de recursos. Ainda assim, “Actualmente a problemática da construção sustentável, adaptada ao contexto climático, socioeconómico e cultural em que se insere, não se encontra devidamente estudada ou explorada no continente africano. Existe, contudo, um vasto corpo de conhecimentos e ferramentas de análise que permitem identificar as principais estratégias a utilizar no projeto de edifícios em África (...). É essencial pensar em estratégias de planeamento ecológico e desenvolvimento sustentável, de forma holística e integrada, evitando soluções de curto prazo e alcance. A sustentabilidade energética e o uso responsável dos recursos locais devem ser partes integrantes do desenvolvimento sustentável do ecossistema.” (GUEDES, 2011, p. 24) Arquitetura tropical responde a uma das três preocupações em que a arquitetura sustentável se baseia – a ambiental, contudo para que o edifício se torne sustentável este tem de responder também à preocupação económica e social. É urgente implementar soluções que visem a utilização de recursos naturais, que economizem a energia, gerem emprego e que sejam acessíveis a todos os possíveis visitantes. Em países como Angola, que têm uma forte dependência de recursos fósseis (finitos) e uma assumida segregação social é, ainda mais, urgente desbravar caminho para a sustentabilidade.
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
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O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
013. Musseques de Luanda
3. ESCALA DO PAÍS ANGOLA – CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
3. ESCALA DO PAÍS ANGOLA - CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
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3.1. OCUPAÇÃO (SÉC. XVI – XVII)
“O sítio eleito, satisfazendo plenamento à finalidade económica, política, era, geogràficamente, privilegiado para tal efeito, visto possuir uma magnífica baía para ancoradouro dos barcos, dominada por um magnífico ponto estratégico, e visto dispor de terras agricultáveis nas vizinhanças, assegurando o abastecimento da população e da navegação.” (BATALHA, 1950, p. 1)
São Paulo de Loanda (atualmente Luanda) é fundada a 1575, devido a determinantes geográficos, económicos e políticos. O seu fundador, Paulo Dias Novais, elege este local tendo em conta: • Que este se encontra entre os rios Bengo e Cuanza, o que permitiria, no futuro, práticas agrícolas dado a fertilidade dos solos ao longo dos rios, assim como, a conquista das terras no interior; • A topografia existente (predominantemente plana com uma área mais elevada, beneficiando de uma vista privilegiada sobre a baía O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
e, deste modo, a colocação de um ponto estratégico); • E, ainda, a sua extensa baía que permitia não só a entrada e saída de barcos como a ancoragem dos mesmos e, portanto, facilitava a troca de mercadorias. Como escreve Fernando Batalha no livro “A Urbanização de Angola”: “Luanda foi, assim deliberadamente implantada no lugar próprio para se tornar a base de fixação e de penetração, o entreposto comercial e o abrigo da navegação, embrião e fulcro do novo reino colonial.” (BATALHA, 1950, p. 1) São Paulo de Luanda cresce ao redor da sua baía, orientada a Norte, sendo que os primeiros edifícios construídos são do foro reliogioso: a Igreja da Misericórdia (1576), a Igreja Nossa Senhora da Conceição (1583) e a Igreja e Colégio dos Jesuítas (1593), localizadas no Morro de São Miguel. Em 1605 São Paulo de Luanda recebe foral de cidade. Os edifícios que demarcam os limites da cidade são a Fortaleza de São Miguel de Luanda (1635), localizada a oeste e, a este, o Forte de São Pedro da Barra (1618). O crescimento da cidade dá-se entre estes dois edifícios e no sentido da baía para o interior. Esta expansão é feita primeiramente, no morro e posteriormente na baía, como nos ilustra Batalha: “Nota-se em primeiro lugar a adaptação à topografia local, variando consoante se trata dum sítio plano ou acidentado. Assim, em Luanda (…) o núcleo inicial ocupa os morros e as vertentes mais suaves e os arruamentos são traçados em conformidade com o relevo do solo, tirando-se partidos dos pontos elevados para beneficiar da ventilação; quando os terrenos superiores foram ocupados e as necessidades de expansão ou as conveniências do tráfego mercantil obrigaram a construir na planície, a urbanização tomou uma feição diferente e adequada às novas condições. O novo traçado, liberto das sujeições topográficas das áreas acidentadas, toma maior regularidade, seguindo geralmente os arruamentos principais paralelamente ao mar (…), com transversais de menor importância.” (BATALHA, 1950, pp. 2–3) Deste modo, a cidade de Luanda é divida em duas: a cidade alta (primeira ocupação), com um eixo que liga a Fortaleza de São Miguel e o Convento São José dos Padres Terceiros Franciscanos e a cidade baixa (segunda ocupação) desde o Forte de Nossa Senhora da Guia à fortaleza de São Francisco do Penedo, dispostas em dois planos diferentes, sendo que na cidade alta se desenvolvem as atividades políticas, militares e religiosas e a cidade baixa é destinada ao comércio e à indústria.
3.2. PROCESSO DE ASSENTAMENTO (SÉC. XVII – XIX)
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014. “Vista de Parte da Cidade de S. Paulo de Asuumpção do Reyno de Angola” Desenhada no ano 1755“ 015. Representação da Cidade de Luanda, 1647 016. Vista para a Fortaleza 017. Representação da Cidade de Luanda, 1755
“O crescimento e desenvolvimento natural de Luanda foi interrompido pela invasão e ocupação da cidade pelos holandeses, entre 1640 e 1648. Apesar de quase destruída, a imagem que retemos do fim do século XVII reflecte uma cidade com um incipiente desenvolvimento, manifestado nos edifícios religiosos, militares e alguns públicos que garantiam a administração do território.”(PINTO, 2005, p. 57) O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
3. ESCALA DO PAÍS ANGOLA - CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
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13 Rua Direita - “Eixo fundamental da cidade portuguesa, de origem medievo-renascentista que organiza a sequência de largos e funções principais da Baixa“ (FERNANDES et al., 2008, 107) 14 José Manuel Fernandes – “Nasceu em Lisboa, Portugal, em 1953. Arquitecto licenciado pela Escola de Belas Artes de Lisboa em 1977. Professor, Doutorado (1993) e Catedrático (2010) em História da Arquitectura e do Urbanismo da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa. (...)Conferencista convidado no desde 2003, e seu Director Departamento de Arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa no período 1998/2000 Director do Instituto de Arte Contemporânea do Ministério da Cultura de Portugal em 2001/2003. (...) Primeiro Presidente do DOCOMOMO Ibérico, como representante da Associação dos Arquitectos Portugueses, em 1993-97 (...)” <http://ciaud.fa.utl.pt/index. php/pt/44-investigadores/266-jose-manuel-fernadndes>
Com a implementação da política pombalina em Angola, (dirigida, em grande parte, pelo governador D. Francisco Inocêncio Souza Coutinho) nota-se uma evolução entre 1698 e 1755. É prova disto, a construção de edifícios de administração pública (como a Alfândega, o Terreiro Público, o Arsenal e o Passeio Público) que surgem na tentativa de ordenação do espaço e resultam numa nova leitura da cidade. No século XIX assistimos a um crescimento da cidade baixa na direção nascente (Bungo). A Rua Direita do Bungo, o Largo do Bungo e a Ermita Nossa Senhora da Nazaré surgem como novos elementos de estruturação urbana, simultaneamente, a baía vai ganhando terra ao mar. A cidade colonial, que possuía três arruamentos principais ao longo da baía, melhor dizendo, no sentido Norte - Sul (Rua Direita13 (Rua Pedro Torres), Rua dos Mercadores e Rua da Praia, (mudando de nome, a 1863, para Rua Salvador Correia) vai crescendo formando uma estrutura radial que subsiste até aos dias de hoje. Com a independência do Brasil em 1821 e com a abolição da escravatura a 1836, Luanda, que era o centro da atividade comercial do continente africano, não se encontra preparada para criar novas vias de desenvolvimento. José Manuel Fernandes14, no livro “Angola No Século XIX: Cidades, Territórios e Arquitecturas” refere que: “Nos cerca de cem anos que decorreram entre as épocas documentadas (1755-1862), pode dizer-se que o crescimento da cidade foi relativo, e que a sua estrutura essencial se encontrava consolidada já nos meados de Setecentos. Essa estrutura assentava, ao modo tradicional da cidade portuguesa da Expansão, numa implantação litoral, em baía resguardada, com carácter basicamente defensivo e comercial. Do mesmo modo, duas partes bem distintas organizavam a cidade, “Alta” e a “Baixa” e, dadas as características morfológicas do sítio, através de um penhasco marcando um desnível acentuado entre os dois setores, a separação entre eles era mesmo geofísica, a recordar idêntica configuração urbana em Salvador da Bahia ou no Porto.” (FREUDENTHAL et al., 2006, p. 103) Com a realização em 1885 da Conferência de Berlim, Portugal vê-se obrigado a tomar uma postura diferente na ocupação militar e económica de modo a manter as suas colónias e não correr o risco de perder a soberania das mesmas para os Ingleses ou Alemães. Assim, a partir desta data, Luanda passa a desempenhar um papel de capital política e administrativa da colónia. Como diz, Ilídio do Amaral em “Luanda – Estudos de Geografia Urbana” é, após a abolição do tráfego de escravos que se dá uma viragem na cidade. Viragem esta, também relacionada com a nova administração que se preocupava com a organização urbana. “Em síntese, uma citação (conforme ficha da Base de Dados Estruturas Urbanas da Expansão Portuguesa), de 1841, por G. Tams, permite visualizar globalmente a dimensão estética e paisagística desta cidade, com a sua característica topografia de “alta” e “baixa”, até meados de Oitocentos: “Luanda apresenta-se-nos com um aspeto maravilhoso: é edificada em forma de anfiteatro, erguendo-se desde a base até ao cume dos montanhosos socalcos da costa, a qual neste
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
sítio desce até próximo à superfície do mar. A grande porção de casas edificadas ao estilo europeu, muitas das quais espaçosas, umas com telhados vermelhos, outros azuis, os muros caiado de branco ou de amarelo, as lindas torres das igrejas, o palácio do governador e o vizinho forte, excitam grandemente a surpresa do estrangeiro. ” (G. Tams citado por FERNANDES et al., 2008, p. 109) Neste mesmo período, anterior ao século XX, com o intuito de reforçar esta nova etapa, foram realizadas várias obras: • Inaugura-se, em 1888, o caminho-de-ferro que permite ligar Luanda ao interior do país e, com isso, ocupar novos territórios. • Com profundas mudanças na vida urbana da cidade, é implementada a rede de iluminação a petróleo a 1897 (a 1938 alterada para iluminação elétrica); • Também é inaugurada a rede de fornecimento de água, captada do rio Bengo. Ainda assim, os limites da cidade mantêm-se e não existem alterações no desenho da mesma. Contudo, é a partir do século XX que se destacam as maiores alterações do nível urbano na cidade.
3.3. PERÍODO MODERNO E PÓS-INDEPENDÊNCIA (SÉC. XX)
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Entramos no século XX, o início deste século é marcado por vários acontecimentos que têm consequências em Angola, sendo eles: em Portugal a Implantação da República a 1910, a 1914 inicia-se a 1ª Guerra Mundial que termina a 1918, em seguida é implantada, em Portugal, a 1926, uma ditadura militar e em 1933 entra-se no período do Estado Novo. Norton de Matos, governador-geral de Angola, ao abrigo da Conferência de Berlim, referida anteriormente, procura aumentar o povoamento do território. Este período, não só marcado pelo incremento na construção de obras públicas na cidade, também se destaca, pela construção da rede de estradas e de novas linhas de ferro, o que permite novas ligações entre a capital e o interior do país. Ocasionado pela diferente posição politica que se vive na metrópole, em 1926, dá-se uma vaga de emigração de Portugal para Angola o que origina, em Luanda, um aumento exponencial de população. Este crescimento tem consequências na ordenação do ter-
018. Vista da cidade de S. Paulo de Luanda 019. Luanda até metade do séc. XIX, mapa analítico com a àrea da Baía 020. Fortaleza de S. Miguel 021. Vista parcial da Cidade Alta 022. Evolução do traçado urbano da Cidade de Luanda (1775, 1862 e 1926) O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
3. ESCALA DO PAÍS ANGOLA - CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ritório, de notar a melhoria na definição do traçado das ruas contudo, segundo Pepetela15 em “Luandando”, existe uma cidade “branca” e uma cidade “africana”, sendo que a cidade “branca” se encontra delimitada pela Rua Brito Godins (identificada na imagem) e a cidade “africana” vai sendo arrastada para fora deste arco e é demarcada em planta pela criação dos musseques. No contexto mundial, os arquitetos modernos, fundam a J F M A M J J A S O N D 1926, os CIAM. Os CIAM, viam a arquitetura e o urbanismo como um TEMPERATURA 26,0 26,8 27,0 26,4 25,1 22,4 20,5 20,7 22,2 24,2 25,4 25,7 MÉDIA DO AR (ºC) que deveria ser usado de forma de promover o progresinstrumento so social. É de salientar o congresso de 1933, em Atenas, onde se disJ F M A M J J A S O N D cutiram os caminhos do urbanismo e da arquitetura. Como resultado HUMIDADE MÉDIA 79,4 78,0 79,8 83,3 83,0 81,9 83,0 84,8 83,8 82,4 81,3 81,4 (%) DO AR discuções destas surge, redigida pelo arquiteto suiço Le Corbusier, a “Carta de Atenas”. J F M A M J J A S O N D PLUVIOSIDADE Em Portugal, somente 15 anos depois, em 1948, se realiza o 31,8 37,3 78,5 117,9 13,1 0,3 0,0 0,8 2,3 5,8 27,0 25,5 (MM) 1º Congresso Nacional de Arquitetura, que tinha como temas: “A arqui tetura no plano nacional” e “O problema português da habitação”, onde ANO 1800 1815 arquitetos 1827 1845 portugueses, 1848 1851 1869 alguns 1881 1887 1898 se reuniram vários destes a quem HABITANTES (UN) 6500 4790 6813 5605 6000 12565 14884 13566 14500 20106 José Manuel Fernandes, se referiu como a “Geração Africana”.
ANO
1900
1923
1940
1950
1960
1970
1974
1983
1990
2000
HABITANTES (UN) 21419 22719 61028 141647 224540 480613 590000 876397 1530000 2547000 Nesta época, Luanda, encontrava-se numa nova fase de desenvolvimento, marcada também pelo fim da 2ª Guerra Mundial (1939 – 1945). O desenvolvimento da economia agrária e, consequentemente, a explosão de exportações do café, assim como, o desenvolvimento do comércio e da indústria, justificam o aterro da marginal e a construção, a 1945, do Porto de Luanda. Esta nova fase inicia um novo ciclo de investimentos na construção civil na cidade.
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15 Pepetela - (29/10/1941 - )Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos escritor angolano que utiliza o pseudónimo de Pepetela. 16 Geração Africana - “Uma geração de arquitectos portugueses deixou uma vasta obra em Angola e Moçambique. Realizada no terceiro quartel do século, esta foi uma produção de vanguarda extremamente inovadora e realizada no espaço colonial africano que importa agora salvaguardar” in Revista Expresso
Contudo, continuou a existir um crescimento descontrolado, dado também o êxodo rural, sem planeamento nem projeto da cidade. Crescem as habitações informais no tecido urbano da cidade e, é necessário o seu redesenho e reorganização. A cidade não consegue dar resposta ao aumento populacional o que gera o desajuste tanto no crescimento como na sua gestão. A esse propósito, Maria Isabel Martins afirma que “Luanda tornou-se numa cidade desordenada e talvez desgovernada.” (PINTO, 2005, p. 61)
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
ANUAL
24,4
ANUAL
81,8
ANUAL
28,4
A 1961 dá-se o início da Guerra Colonial, que termina, somente, a 1974. Esta década também é marcada por um maior investimento por parte do Estado na construção, aplicando-se uma nova política de Obras Públicas ainda assim, da guerra nas colónias surgem grandes consequências financeiras, urbanas e sociais no país. Já em Portugal, 1974, é lembrado pela Revolução dos Cravos, a 25 de Abril, onde é derrubado o governo fascista vigente. Como consequência da revolução, no ano seguinte, Angola tornou-se um país independente. Como podemos ler em: “Património de Origem Portuguesa no Mundo. Arquitectura e Urbanismo. África, Mar Vermelho, Golfo Pérsico”: “Luanda era agora uma manta de retalhos de intervenções em vários séculos de presença humana”. (MATTOSO et al., 2010, p. 442) De modo a agregar os “retalhos”, com a finalidade de organizar esta “manta”, existem, até à independência de Angola (1975), várias propostas de planos urbanos para Luanda. Infelizmente, nenhuma destas foi construída, ou melhor, não na íntegra, algumas foram aplicadas embora pontualmente.
25 Dado a importância do estudo do urbanismo no contexto tropical e a qualidade que os modelos apresentam e, ainda, tendo em conta que uma parte da dimensão prática do presente trabalho se prende com a criação de um plano urbano para a área da Chicala, é pertinente referi-los e estudá-los sucintamente. Dito isto, procurar-se-à responder à questão, levantada, anteriormente, por Maria Isabel Martins: “Manteve Luanda a matriz portuguesa com o seu património ou pelo contrário, encontrou, por razões circunstanciais, um caminho próprio com características que lhe deram uma especificidade única e particular? Se essa especificidade particular existe, em que consiste e como será a sua forma de integração no mundo global?” (PINTO, 2005, p. 56) 023. Representação da Cidade de Luanda em 1926 (Identificação da Rua Brito Godins) 024. Tabela de Crescimento Demográfico da População de Luanda 025. Porto de Luanda - (s.d.) 026. Porto de Luanda - 1964 027. Ponte de Acesso à Ilha de Luanda 1965 028. Ponte de Acesso à Ilha de Luanda 1975 029. Bairro Operário. Luanda foi pensada para cerca de 250 mil pessoas. Hoje, na cidade vivem perto de 5 milhões 030. Formal vs. Informal O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
031. Bairros da Corimba e do Prenda
4. ESCALA DA CIDADE LUANDA â&#x20AC;&#x201C; URBANISMO
4. ESCALA DA CIDADE LUANDA - URBANISMO
4.1. URBANISMO
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“Eu sou urbanista! É a minha política. E tenho para mim um apostolado. Que é fazer o bem e a paz. Construir para as pessoas se sentirem felizes. Esta Ildefonso Cerdá - (23/12/1815 — 21/8/1876) engenheiro urbanista e político catalão responsável pelo plano de extensão para a cidade de Barcelona. 17
Fernando Batalha - (5/5/1908 - 23-52012) - Arquitecto responsável pelo pelo inventário do património arquitectónico de Angola após a independência.
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Maria Manuela da Fonte – “Nasceu em Trás-os-Montes, Portugal, em 1962. Arquitecta licenciada pela Faculdade e Arquitectura da Universidade Técnica (1987), parte curricular do Mestrado em Arquitectura da Habitação (FA/UTL, 1998) e Doutorada em Planeamento Urbanístico (FA/UTL, 2008) (bolseira da Fundação Caloust Gulbenkian). É docente desde 1990 (FA/UTL) das disciplinas de Projecto e Urbanismo, sendo Professora Auxiliar do Departamento de Projecto – Área Científica de Urbanismo (FA/UTL) a partir do qual tem desenvolvido a actividade docente e de investigação. Tem participado em diversas obras sobre a temática de Arquitectura e Urbanismo português em contexto angolano” in <http://ciaud.fa.utl.pt/index.php/pt/membros-2/urbanismo/inves-efect?id=987>
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é a minha política. Elevar o rendimento das pessoas graças ao Urbanismo. Desenvolver os territórios em face do Urbanismo. O Urbanismo promove. O Urbanismo só é válido se promover o desenvolvimento. Se não promover o desenvolvimento não é válido. Não é Urbanismo. Essa é a minha política.”
(Carvalho citado por PRADO, 2011, p. 242)
O urbanismo surge da conjugação dos conceitos de urbe (cidade) e urbanização (ação sobre a urbe) e deriva dos estudos realizados pelo engenheiro Ildefonse Cerdá. Como disciplina, o urbanismo surge no século XX. Ainda assim, como escreve Fernando Batalha18, a Cidade de Luanda, foi fundada sob alguns dos aspetos do urbanismo: “Vemos assim que desde o início da ocupação de Angola se aplica geralmente um princípio básico da urbanização - a racional determinação do local para a função própria da urbe - facto que não era comum então e cujo valor só muito mais tarde foi posto em evidência com a criação e codificação do Urbanismo.(…) Pela forma como foram encarados tais problemas, mostraram os primeiros colonizadores possuir um senso urbanístico, prático e intuitivo, com o qual puderam corresponder às necessidades da função própria do aglomerado e da sua sobrevivência, facto
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
notável e digno de ponderar, considerando a época em que ocorreu.” (BATALHA, 1950, p. 2) É importante referir o intenso estudo e interesse, do autor, acerca do património arquitetónico Angolano. Sobre o Urbanismo de Luanda escreve ainda, a 1950: “Pela meticulosidade e acerto com que o assunto é tratado, claramente se nota a interferência de técnicos conhecedores não só dos problemas de urbanização como ainda das necessidades próprias da zona tropical e, até, das condições locais. Pena é que a nova cidade, que então chegou a ser iniciada, não tenha podido prosseguir, em virtude da rebeldia do gentio e da necessidade de avultados capitais de que se não dispunha. Só no século XX esse intento se haveria de materializar, embora sem consideração pelo plano de 1843, que não perdera a actualidade. (...) Estas primícias do Urbanismo dirigido ou planificado em Angola - projecto da mudança de Benguela e planta desta cidade - podem apresentar-se como trabalhos percursores dos modernos métodos de urbanização, podendo as suas directrizes gerais adoptar-se ainda hoje sem receio de se mostrarem desactualizadas.” (BATALHA, 1950, p. 8) Como foi referido anteriormente, o século XX e mais propriamente os anos 20, foram preponderantes para a consolidação do tecido urbano da cidade de Luanda. Tendo sido construídos vários edifícios por iniciativa pública ou privada (importante referir tanto a obra do aterro da baía como a passagem entre os coqueiros e a cidade alta, criando um novo eixo estruturante da cidade que favorecia o arejamento da cidade baixa). Como diz, Maria Manuela da Fonte19 no seu livro “Arquitectura e Urbanismo em Angola: De Norton de Matos à Revolução“: “(...) a verdade é que todas as intervenções não passavam de expansões pontuais, insuficientes para a resolução do problema do seu crescimento desordenado.” Deste modo, por iniciativa, primeiramente, da Câmara Municipal de Luanda, é criado o primeiro plano de urbanização para a cidade. A este seguem-se outros três sendo que nenhum deles é aplicado na sua totalidade.
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4.2. PLANOS URBANOS
1942 - ÉTIENNE DE GROER E DAVID MOREIRA DA SILVA
O primeiro plano de urbanização para a cidade de Luanda foi encomendado pela Câmara Municipal de Luanda, a De Groer e David Moreira da Silva, em 1942. À semelhança do plano para Lisboa, De Groer, discípulo de Howard, pai da cidade-jardim, aposta na criação de cinco cidades satélite - conceito de cidade policêntrica - como resolução do problema do congestionamento da cidade tradicional, aplicando, em redor da mesma, uma faixa verde com dois quilômetros de largura que funcionaria como zona de proteção. De forma a interligar as cinco cidades satélite, constava no plano, a criação de uma estrada de circunvalação O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
4. ESCALA DA CIDADE LUANDA - URBANISMO em que nos extremos da mesma estariam as duas saídas principais da cidade. As cinco cidades satélite não possuíam serviços nem comércio, o que criava um constante fluxo viário de saídas e entradas na “cidade tradicional” e que tornava as cidades satélite em cidades dormitório.
Este plano não foi implementado pois não houve aprovação jurídica e a câmara não possuía técnicos necessários para a sua execução. 1950 – GUC (GABINETE DE URBANIZAÇÃO COLONIAL) – ARQUITETO JOÃO ANTÓNIO AGUIAR
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Ana Vaz Milheiro - “Nasceu em Lisboa, em 1968. Doutorou-se em Arquitectura pela Faculdade de Arquitectura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2004), com a tese: “Imenso Portugal – Culturas Arquitectónicas Portuguesa e Brasileira. Um diálogo a três tempos” editada pela Universidade do Porto com o título: A Construção do Brasil – Relações com a Cultura Arquitectónica Portuguesa (Porto: FAUP Publicações, 2005). Arquitecta e Mestre em “Cultura Arquitectónica Contemporânea” pela FAUTL (…) Docente nas áreas de História e Teoria da Arquitectura no ISCTE e da Universidade Autónoma. (…) Directora-Adjunta do JA-Jornal Arquitectos entre 2000-2004 e 2009-2011. Crítica de Arquitectura do jornal Público desde 1995. Entre 2005 e 2007 realizou funções de coordenação editorial das edições da Ordem dos Arquitectos - Conselho Directivo Nacional. Encontra-se a preparar pós-doutoramento na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.” in <http://www.trienaldelisboa.com/2010/ pt/a-trienal/a-trienal/comissariado/ana-vaz-milheiro>
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O segundo plano foi apresentado pelo GUC, em 1952, desenhado pelo Arquiteto João António Aguiar. Este plano, proponha à semelhança do modelo anterior, a criação de vários eixos estruturantes e vias de acesso à cidade, cruzando-o com o modelo de city beautiful. Estabelecia o que seriam as áreas consolidadas e as de expansão urbana e definia, também, as zonas industriais e rurais de modo a estabelecer os limites da cidade. Tal como o plano anterior, este, também não foi posto em prática.
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
1957 – PLANO DE URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE LUANDA – PLANO REGULADOR – CML (CÂMARA MUNICIPAL DE LUANDA) Com o objetivo de controlar o crescimento desmedido da cidade e, de modo a, definir várias zonas da cidade consoante a sua função, surge o Plano de Urbanização da Cidade de Luanda – Plano Regulador. Com o desenvolvimento do sector industrial à data, o plano, estabelecia uma zona industrial. Relativamente à estrutura viária, o modelo estabelecia eixos de circulares radiais e vias que os penetravam. E, à imagem do que seria proposto, em 1942, por De Groer, no remate das vias seria criada uma zona rural, de modo a estabelecer os limites da cidade. 1961– PLANO DIRETOR DE LUANDA - GUCML (GABINETE DE URBANIZAÇÃO DA CÂMARA MUNICIPAL DE LUANDA)– ARQUITETO FERNÃO SIMÕES DE CARVALHO
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Terminada a Guerra Colonial, Luanda encontra-se numa nova etapa de desenvolvimento, como escreve Ana Vaz Milheiro20: “O Gabinete de Urbanização Colonial (ou do Ultramar) e, posteriormente, o Gabinete de Urbanização da Câmara Municipal de Luanda desenvolverão planos gerais ou parciais que asseguraram o crescimento da cidade, a qual atinge o seu apogeu, enquanto cidade colonial, com o Plano Director de Luanda (1961-1962)”. (FERNANDES, 2011, p. 87) O Plano Diretor de Luanda seria criado pelo Gabinete de Urbanização da Câmara Municipal de Luanda, chefiado pelo arquiteto e urbanista Fernão Simões de Carvalho. A proposta do gabinete dividia, a cidade de Luanda, em: “bairros compostos por três a quatro Unidades de Vizinhança, cada uma com cerca de 5.000 a 10.000 habitantes. Cada bairro é traçado após detalhados inquéritos às populações e
032. Plano de Urbanização de Luanda, Étienne De Groer e David Moreira da Silva,1942 033. Plano de Urbanização de Luanda do GUC, Arq. José António Aguiar, 1950 034. Plano de Urbanização da cidade de Luanda - Plano Regulador, Câmara Municipal de Luanda, 1957 035. Plano Diretor Municipal da cidade de Luanda, Arq. F. Simões de Carvalho, 1961-1962 O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
4. ESCALA DA CIDADE LUANDA - URBANISMO
Roberto Goycoolea Prado - “Arquiteto pela U. Técnica do Estado, Chile (1983); Dr. Arquiteto, U. Politécnica, Madrid (1992). Experiência académica: Coordenador do ‘Doutoramento Internacional em Arquitetura e Urbanismo (México Espanha, 1994-1998). Fundador (1994) da Escola de Arquitetura da Universidade de Alcalá e Diretor até 2004. Atualmente, Professor Titular de Análise da Arquitetura e Diretor do Departamento de Arquitetura.” in <http://cargocollective. com/arquitecturamodernaluanda/Roberto-Goycoolea-Prado>
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Paz Núñez Martí - “Arquiteta pela U. Politécnica de Madrid. Especialidade: Urbanismo. Técnico Especialista em Recuperação do Património Histórico, pela Comunidade de Madrid e a UPM, e Técnico em Cooperação ao Desenvolvimento em Habitabilidade Básica. UPM. Premio Jovem 2005. Categoria de Solidariedade. Fundação Geral UCM. Professora associada do Departamento de Arquitetura da U. Alcalá(…) Tem sido convidada por organismos públicos e privados e também por universidades da América Latina, África Sub-sahariana, Europa e Espanha para lecionar seminários sobre arquitetura e construção e conferências sobre recuperação do património histórico/vernáculo e cooperação ao desenvolvimento em matéria de habitabilidade básica. Diretora de projetos de investigação relacionados com a Habitabilidade Básica em países em vias de desenvolvimento e com a situação da vivenda em situações de exclusão social em países desenvolvidos. Tem publicado livros sobre Construção de vivendas de baixo custo e sobre a Incidência da Universidade no Desenvolvimento Social de países en vias de desenvolvimento e artigos em revistas internacionais sobre a temática da habitabilidade básica.” in <http://cargocollective.com/arquitecturamodernaluanda/ Paz-Nunez-Marti>
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inventariação de equipamentos.” (MILHEIRO, 2013, pp. 2-3) Ainda que não tenha sido implementado, o plano desbravou caminho para a criação dos Planos Parcelares de Unidades de Vizinhança, da qual é exemplo o Bairro Prenda, Unidade de Vizinhança Nº1 (1963-1965), construído no musseque Prenda, onde foram aplicados: “conceitos práticos de ‘miscigenação’ dos diferentes grupos sociais e étnicos, numa visão urbana de preocupação de reequilibro das tensões da comunidade existente: casas em pátio, moradias unifamiliares e geminadas, prédios de habitação colectiva”. (FERNANDES, 2006, p. 181) Visão que seguia os ensinamentos de Le Corbusier e André Wogenscky, com quem, Simões de Carvalho trabalhou em Paris, antes de regressar a Luanda - de onde é natural - em 1959. Como confessou, na entrevista realizada por Roberto Goycoolea Prado21 e Paz Núñez Martí22, a 21 de Abril de 2011, para o livro “La Modernidad Ignorada” o regresso de Simões de Carvalho à sua cidade natal prendeu-se com a necessidade de a “salvar”: “E porque tinha uma paixão enorme por Luanda. Fui tirar o curso de urbanismo para ver se salvava Luanda, se acabava com a segregação rácica e com as segregações sociais que senti. Porque eu nasci no meio daquela gente e quis acabar com isso.“ (Carvalho in PRADO, 2011, p. 238) Relativamente ao urbanismo em Luanda, o Arquiteto diz ainda: “A história do urbanismo mostra-nos que onde há qualquer tipo de segregação económica, social ou de raça, há sempre desequilíbrios, há sempre crimes. E eu, como natural de Luanda, cada vez que ia lá, sentia-me mal com essa separação” (Carvalho in PRADO, 2011, pp. 230 - 232) O modelo apresentado ia de encontro às ideias da arquitetura moderna e ao abrigo da Carta de Atenas, já referida, caraterizava-se pela sua “perspectiva humana em vez de mecânica, antropológica em vez de funcionalista“ (MILHEIRO, 2013, p. 13) Não obstante aos planos urbanos anteriormente propostos, o plano de Simões de Carvalho é o pioneiro na miscigenação e integração multicultural, até então nunca explorada nem aplicada no contexto da cidade de Luanda. Com uma área de cerca de 30 hectares, onde se disponham 22 edifícios de habitação coletiva, num total de 1150 apartamentos, o Prenda surge como “(...)na visão do arquitecto, uma cidade racialmente mais integrada“(MILHEIRO, 2013, p. 13). Contudo, estavam previstos no plano, a realização de 28 edifícios habitacionais, seis destes, assim como, os equipamentos (cinema, escola, mercado) nunca construídos. Maria Manuela da Fonte, sobre o plano, diz ainda: “Trata-se de uma visão entusiástica e optimista do que, no futuro, viria a ser Luanda, se o Plano Director tivesse sido implementado com todas as orientações nele previstas. Permite vislumbrar, acima de tudo, o espírito, a dimensão das propostas, a grandiosidade do pensamento e, uma grande paixão pela terra e pelo espaço da cidade, que era Luanda.” (FONTE, 2012, pp. 128–129) Tal como refere Ana Vaz Milheiro: “Junto da população actual de Luanda, o Prenda continua a funcionar como um modelo urbano
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
e arquitectónico desejado para a cidade do futuro, facto que justifica que continue a ser estudado e analisado, alertando para a sua necessária conservação“. (MILHEIRO, 2013, P. 3) Hoje, a proposta de Arquitetura Brutalista, o Bairro Prenda “(...) resiste, sobrelotado, alterado e degradado devido a décadas sem manutenção e sem saneamento básico.” (MILHEIRO, 2013, P. 16)
4.3. CONSEQUÊNCIAS DA EVOLUÇÃO URBANA
Existe, hoje, um investimento na consolidação da cidade e nas infraestruturas necessárias ao seu funcionamento, contudo será este suficiente? Como escreveu Ílidio do Amaral, em 1968: “O processo de crescimento urbano evolucionou de uma maneira a tal ponto vertiginosa e desordenada, que a acumulação de problemas da organização urbana exigia a aplicação urgente de medidas audaciosas e enérgicas, de um plano de urbanização à escala das necessidades actuais e das ambições futuras. Sem o socorro a fórmulas mágicas, nem soluções padronizadas, extraídas de esquemas inadequados, europeus ou americanos, o plano terá de resultar do estudo analítico das razões geográficas e sócio-económicas dos padrões urbanos actuais, como meio para chegar à elaboração de propostas de aplicação de esquemas locais de regulamentação do crescimento urbano. Portando, ele deverá ser estruturado e aperfeiçoado paralelamente a esse crescimento, e dotado da maleabilidade suficiente para se adaptar às situações transitórias.” (AMARAL, 1968, p. 0) Sem a aplicação de um plano urbano para a cidade, Luanda teve um crescimento desmedido. A análise dos modelos propostos para a cidade é importante na medida em que os problemas do século XX são os problemas do XXI. António Gameiro, escreve no artigo “O Desafio urbano de Angola”, presente no Anuário de Angola: “Na ausência de um Plano Director, Luanda deverá adoptar um Plano Estratégico de Ordenamento e Requalificação no sentido de motivar e direccionar as forças realizadoras das ocupações espontâneas que têm construído a actual cidade para que, com os sectores público e privado, realizem o ordenamento e a requalificação, ou seja, melhorem a qualidade de vida urbana através de um plano sustentável de infraestruturação e equipamentos sociais.” (RODRIGUES, 2013, p. 7) Assim como, Maria Isabel Martins refere: “Levanta-se, por isso, o desafio de criar políticas e estratégias capazes de provocar um desenvolvimento social, territorial e urbano equilibrado, tendo em conta a região, os seus recursos e actividades. Estas estratégias supõem a compreensão do problema no seu todo, tendo em conta a lógica de crescimento, a lógica da globalização e a lógica de políticas urbanas baseadas, fundamentalmente, num desenvolvimento sustentável e equitativo.” (PINTO, 2005, p. 61)
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No processo de desenvolvimento do presente trabalho foi tornado público, a Dezembro de 2015, o Plano Diretor Geral Metropolitano de Luanda (PDGML). O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
4. ESCALA DA CIDADE LUANDA - URBANISMO 4.4. PLANO LUANDA 2030 (PDGML)
34
Este plano, que se apresenta como um conjunto de “programas faseados a implementar durante os próximos 15 anos, até 2030” (PDGML, 2015, p. 2) responde a algumas das preocupações que os vários autores mencionados, ao longo do trabalho, tinham sobre a cidade de Luanda e, como tal, pareceu-nos pertinente o seu estudo e apresentação visto que: “o processo faseado de regeneração urbana foca-se inicialmente em bairros musseque não-estruturado da cidade, normalmente sobrelotados, mal servidos das infraestruturas essenciais e em áreas de risco grave de saúde e de vida”. (in PDGML, 2015, p. 58) Relembrando que a Chicala (localização do projeto) se trata de um bairro musseque e parte integrante do PDGML, o plano apresentado de seguida, para a área, pretende fazer parte desta “construção de uma cidade para o futuro” (in PDGML, 2015, p. 1)
Com uma população superior a 6,5 milhões de pessoas (de acordo com os censos de 2014), Luanda, sofre de uma sobrecarga “para a sua habitação, transportes, serviços, saúde e estabelecimentos de ensino, já de si inadequadas”. (in PDGML, 2015, p. 14) Admitindo que “Luanda é uma província capital que se confronta com o legado de problemas profundos” (in PDGML, 2015, p. 14), o PDGML assenta em três pilares base aspirando “a uma capital onde cada morador tenha acesso a um padrão mínimo sustentável de infraestruturas e equipamentos comunitários” (in PDGML, 2015, p. 5) solucionando problemas que advêm do passado. Os três pilares referidos assentam, primeiro: na promoção de “bairros autónomos e satisfeitos, garantido às comunidades o acesso à água potável, eletricidade, saneamento e comunicações, com emprego formal, equipamentos de saúde e espaços abertos urbanos” (in PDGML, 2015, p. 6); segundo: na salvaguarda “da paisagem natural (...) biodiversidade, cultura africana e legado patrimonial único” (in PDGO EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
ML, 2015, p. 9); terceiro: na utilização dos “novos portos portuários e aeroportuários para reforçar o perfil regional e global de Luanda”. (in PDGML, 2015, p. 10) Com a intenção de “dar vida” (in PDGML, 2015, p. 5) à cidade existente e que esta se desenvolva em torno de “um conjunto de equipamentos públicos de elevada qualidade – praças e largos, teatros, galerias e museus” (in PDGML, 2015, p. 5), o PDGML promove um “desenvolvimento sustentado e inclusivo” (in PDGML, 2015, p. 62) – de referir que é a primeira vez que estes conceitos surgem associados ao contexto urbano de Luanda. O plano tem como objetivos: - O aumento de 35% para 80% dos residentes em áreas abrangidas pelo sistema de saneamento, ou seja, que a área do sistema de esgotos aumente 45% até 2030; - O aumento de 42% para 95% de população com acesso diário a água potável; - Espera-se que, a partir de formações e da implementação de ecopontos, os, somente, 5% da população que recicla passe a 35%, promovendo a diminuição de lixo depositado em aterro. De referir que o PDGML designa “126 000 hectares de terra para a protecção especial contra o desenvolvimento de lixeiras” (in PDGML, 2015, p. 41); - Não há dados, no plano, sobre a população abrangida pela rede elétrica, contudo na produção de energia elétrica, estima-se um detrimento da geração térmica (diesel), passando dos 58% para os 32%, para um aumento na geração hídrica de 42% para os 68%; - Relativamente aos transportes, através de uma malha urbana melhorada que irá integrar diversos meios de transporte num sistema único, pretende-se reduzir a pressão automóvel, ao eliminar 40% das deslocações. Em 15 anos, estima-se que 80% da população tenha acesso ao transporte público; - Economicamente, o PDGML assume-se como autossustentável e, admite ainda que um importante motor para o desenvolvimento sustentável é a habitação como local de trabalho. Ao promover e dar instrumentos que facilitam a entrada no mercado de trabalho, consegue-se que exista um “desenvolvimento de uma classe média robusta e o alivio das situações de pobreza extrema e assimetria de distribuição de rendimentos” (in PDGML, 2015, p. 66);
- Através da regeneração das áreas de musseque, espera-se que a população que aí vive diminua de 3 550 318 (em 2015) – correspondendo a quase metade da população atual de Luanda – para 1 493 120 pessoas em 2030. Se, de acordo com as estimativas do plano, a população de Luanda aumentar para 12,9 milhões, o número
35
036. Mapa de usos do solo - Área Metropolitana de Luanda 037. Ideais da Cidade Inteligente (Smart City) 038. Divisão do Território de Luanda e Número de habitantes (2015) 039. Divisão do Território de Luanda e Número de habitantes (2030) 040. Percentagem de pessoas com acesso ao Saneamento básico 041. Percentagem de pessoas com acesso a água potável 042. Energia hidroeléctrica e térmica 043. População que vive em áreas de habitação precária em 2015 e a previsão para 2030 O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
4. ESCALA DA CIDADE LUANDA - URBANISMO de pessoas que em musseques passará de uma percentagem de 49% para somente 12% da população em 2030; Tenciona-se que o plano para a àrea da Chicala possa fazer parte do PDGML, pois é necessário refletir sobre o modo como se deve atuar hoje, não só para solucionar problemas do passado, mas também os que possam surgir no futuro como consequência dos anteriores ou por causas distintas. Por conseguinte, aquando da criação do plano urbano para Chicala, pretende-se aplicar os príncipios do urbanismo sustentável o que pressupõe o exímio conhecimento do local e das suas características geográficas.
36
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
37
044. Ocupação Formal e Informal 045. Ocupação Formal e Informal O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
046. Bairro do Prenda - FernĂŁo SimĂľes de Carvalho
5. ESCALA DA CIDADE LUANDA – DADOS GEOGRÁFICOS
5. ESCALA DA CIDADE LUANDA - DADOS GEOGRÁFICOS
5.1. CLIMA GERAL
40
“O local é a base da composição arquitectónica. (...) Descobri a arquitectura, instalada no seu local. Mais do que isso: a arquitectura exprimia o local - discurso e eloquência do homem que tomou posse do espaço (...) Por fora, a vossa obra arquitectónica acrescenta-se ao local. Mas por dentro, integra-o.“ (CORBUSIER, 2003, pp. 47-48)
Köppen-Geiger - Classificação climática de Köppen-Geiger, é o sistema de classificação global dos tipos climáticos mais utilizada em geografia, climatologia e ecologia.
23
24 Cacimbo - é o nome dado apenas em Angola à estação “seca” (sem chuvas) que decorre de Maio a Agosto. Nesse período ocorre com frequência uma névoa intensa - chamada de cacimba, que dá o nome à estação.
Por clima entende-se o conjunto de fenómenos meteorológicos que atuam sobre uma região durante um período de tempo. O conjunto de fenómenos utilizados para avaliar o clima são: as coordenadas solares, a radiação, a temperatura, a humidade, a precipitação, os ventos e, são estes mesmos dados que vamos analisar de seguida. Luanda, localiza-se entre o equador e o trópico de Capricórnio, sensivelmente a 8º50’18” de latitude Sul e a 13º14’4” longitude Este, as coordenadas geográficas permitem-nos determinar, a partir da escala de de Köppen-Geiger23, o tipo de clima da capital de Angola. Podemos verificar que, Angola, ainda que localizada numa zona tórrida, possuí
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
4 climas distintos: Clima tropical com estação seca no Inverno (Aw), Clima Árido Quente (BWh), Clima Semiárido Quente (BSh) e Clima tropical de altitude (Cwa, Cwb). Luanda está contida numa zona de clima Semiárido Quente (BSh). Este tipo de clima caracteriza-se pela ausência de Inverno e por ter duas estações: uma estação quente e chuvosa e uma estação seca com temperaturas mais amenas, também apelidada de cacimbo24. Como escrevem Maxwell Fry e Jane Drew este clima é caracterizado por: “um sol ardente que alterna com chuvas torrenciais, trazendo para a vida um ciclo interminável de vegetação maciça, superando o homem com o vigor do seu crescimento, acompanhada por uma vida de insectos e parasitas mais mortal que os enormes animais da tão conhecida selva“ (traduzido de FRY & DREW, 1964, p.23) Ainda assim, esta informação não é suficiente para entender os fenómenos climáticos que atuam no lugar. Procedemos, então, à análise dos dados climáticos da cidade de Luanda, a partir dos documentos do Serviço Meteorológico da Colónia de Angola, de forma a termos uma maior compreensão da forma como estes fenómenos atuam na cidade e, posteriormente ao conhecimento e entendimento destes, saberemos como aplicá-los a nível projetual. No presente caso, o período de tempo estudado compreende os anos de 1901 a 1952 (52 anos) no que diz respeito ao estudo da pluviosidade; relativamente à temperatura e humidade o período de estudo são 17 anos (de 1935 a 1952) e, somente, 14 anos de estudo para os ventos (1939 a 1952).
41
5.2. RADIAÇÃO Angola, situa-se no hemisfério sul, onde, ao contrário do hemisfério norte, o solstício de Inverno ocorre em Junho e o de Verão ocorre em Dezembro. Como já referimos, a latitude de Luanda é baixa e, quando mais perto está um local do equador (latitude zero), mais constante é a posição do sol relativamente ao horizonte, o que se resume nos dias e as noites terem, praticamente, a mesma duração, durante todos os dias do ano. A carta-solar torna-se um elemento indispensável para a compreensão da radiação do lugar e, com o auxílio da mesma, podemos inferir que o Sol se move tanto a norte com a sul, dependendo da estação do ano. Para além disso, o sol situa-se muito próximo da vertical, passando duas vezes por ano pelo zénite em Fevereiro/Março e Outubro. Verifica-se, como dito anteriormente, que o período de radiação é muito constante durante todo o ano, tendo a duração de, aproximadamente, 12h (das 6h às 18h). O dia mais curto do ano é o dia 21 de Junho (solstício de Inverno) e o mais longo é o dia 21 de Dezembro (solstício de Verão), ainda que, com pouca diferença horária entre os dois. Relativamente à radiação podemos afirmar que a intensidade da radiação solar é maior no mês de Dezembro e menor no mês de Março. Nas fachadas orientadas a Norte e a Nordeste a intensidade
047. Mapa Mundo da classificação de Köppen-Geiger e classificação climática de Köppen-Geiger para Angola 048. Mapa dos Tipos de clima tropical e respetivas zonas 049. Radiação Global Anual 050. Carta Solar de Luanda
O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
5. ESCALA DA CIDADE LUANDA - DADOS GEOGRÁFICOS da radiação atinge valores máximos no mês de Junho, já as fachadas a Sudoeste, Sul e Sudeste, apresentam valores máximos nos meses de Dezembro e Janeiro. A quantidade de energia recebida pelas fachadas a Oeste e a Este mantem-se mais ou menos constante durante o ano. Dito isto, o estudo da Carta Solar para Angola, permitirá calcular a projeção da incidência dos raios solares sob o plano horizontal e vertical que, se tornará determinante para a conceção arquitetónica.
5.3. TEMPERATURA
TEMPERATURAS MÉDIAS MENSAIS (1935-1952) 27
TEMPERATURA MÉDIA DO AR (ºC)
TEMPERATURA (Cº)
25,25
23,5
DEZEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
SETEMBRO
JULHO
AGOSTO
MAIO
JUNHO
ABRIL
MARÇO
JANEIRO
20
FEVEREIRO
21,75
42
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
ANUAL
26,0
26,8
27,0
26,4
25,1
22,4
20,5
20,7
22,2
24,2
25,4
25,7
24,4
J F M A M J J A S O N D ANUAL As coordenadas geográficas também são um fator preponHUMIDADE MÉDIA 79,4 78,0 79,8 83,3 83,0 81,9 83,0 84,8 83,8 82,4 81,3 81,4 81,8 DO AR (%) derante na determinação da temperatura, pois se a ação solar é diferente dependentemente do local do planeta então também a temperaJ F M A M J J A S O N D ANUAL turaPLUVIOSIDADE será diferente de local para local. 31,8 37,3 78,5 117,9 13,1 0,3 0,0 0,8 2,3 5,8 27,0 25,5 28,4 (MM) Segundo Paul Oliver, nas regiões de clima húmido, as temperaturas tendem a ter valores estáveis, sendo que as máximas se situam-se entre os 27º e os 32º graus, não excedendo a temperatura humana. Com foco no Gráfico “Temperaturas Médias Mensais (19351952)“ podemos definir as duas estações: uma delas de Junho a Setembro, com temperaturas menores e, outra, durante os restantes meses do ano, em que pudemos verificar temperaturas mais elevadas. Também podemos concluir, que os valores máximos são atingidos nos meses de Março e Abril, de 27º C, e os valores mínimos entre os meses de Julho e Agosto, 20,4ºC, sendo que a amplitude térmica anual é de 6,6ºC. J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
ANUAL
26,8
27,0
26,4
25,1
22,4
20,5
20,7
22,2
24,2
25,4
25,7
24,4
N
D
ANUAL
81,3
81,4
81,8
N
D
ANUAL
81,3
81,4
81,8
N
D
ANUAL
27,0
25,5
28,4
TEMPERATURA MÉDIA DO AR (ºC)
26,0
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
HUMIDADE MÉDIA DO AR (%)
79,4
78,0
79,8
83,3
83,0
81,9
83,0
84,8
83,8
82,4
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
HUMIDADE MÉDIA DO AR (%)
79,4
78,0
79,8
83,3
83,0
81,9
83,0
84,8
83,8
82,4
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
PLUVIOSIDADE (MM)
31,8
37,3
78,5
117,9
13,1
0,3
0,0
0,8
2,3
5,8
5.4. HUMIDADE HUMIDADE MÉDIA MENSAL (1935-1952) 85
HUMIDADE (%)
83
81
DEZEMBRO
NOVEMBRO
OUTUBRO
SETEMBRO
JULHO
AGOSTO
JUNHO
MAIO
ABRIL
MARÇO
JANEIRO
77
FEVEREIRO
79
25 Beaufort - A Escala de Beaufort, concebida no inicio do seculo XIX por Francis Beautfort, classifica a intensidade dos ventos, tendo em conta a sua velocidade e os efeitos resultantes das ventanias no mar e em terra.
Período Seco - Aquele em que a quantidade de precipitação mensal é, em média, inferior a 60 mm.
26
Corrente Fria de Benguela - é uma corrente oceânica larga que se move predominantemente para Norte e se forma na zona Oeste do Atlântico Sul. 27
Dentro de37,3todos os elementos climáticos que caracterizam o 31,8 78,5 117,9 13,1 0,3 0,0 0,8 2,3 5,8 27,0 25,5 28,4 território de Luanda, a Humidade é o que maior regularidade apresenta na sua distribuição. Sobre humidade relativa média anual podemos verificar que apresenta valores elevados, 82%. Verificamos, também, a existência de um valor máximo, em Agosto, de 85% e um valor mínimo de 78,5% em Fevereiro. Observamos também que a humidade relativa média é J F M A M J J A S O N D ANUAL maior no período em que as temperaturas apresentam valores menoTEMPERATURA 26,0 26,8 27,0 26,4 25,1 22,4 20,5 20,7 22,2 24,2 25,4 25,7 24,4 MÉDIA DO AR (ºC) res e o contrário também se verifica, ou seja, quando as temperaturas são maiores aJ humidade é Amenor. F M M J J A S O N D ANUAL PLUVIOSIDADE (MM)
5.4 PRECIPITAÇÃO
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
PLUVIOSIDADE MÉDIA MENSAL (1901-1952)
80
DEZEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
SETEMBRO
JULHO
AGOSTO
MAIO
JUNHO
ABRIL
0
MARÇO
40
FEVEREIRO
Pluviosidade (mm)
120
JANEIRO
As regiões tropicais caracterizam-se por ter vários períodos de precipitação de curta duração mas de forte intensidade. Em Luanda, a ocorrência de precipitação dá-se aquando dos meses com temperaturas elevadas, durante o Cacimbo verificamos a ausência de precipitação e por isso, um período seco25. A precipitação média anual não ultrapassa os 350mm e a média mensal é inferior a 120mm (Gráfico “Pluviosidade Média Mensal (1901-1952)“). Inferimos assim que a precipitação é reduzida e que se encontra irregularmente distribuída durante o ano. Os meses de Março e Abril são os meses de maior precipitação, o que associado a uma deficiente rede de esgotos provoca grandes danos, do qual foi exemplo o mês de Março de 1963, como reflete Ílidio do Amaral “Muito embora o total da precipitação anual seja baixo, e reduzido o número de dias de chuva, as quedas de Março e Abril correspondem a 60-70 p.100 daquele valor e atingem, em regra, uma violência tal que chegam a provocar prejuízos materiais elevadíssimos na área da cidade.”(AMARAL, 1968, pp. 22–23)
5.6. VENTOS Tendo como base a Rosa de Ventos para a cidade de Luanda, constata-se que a cidade é atingida por ventos provenientes de Sudoeste (WSW), cuja velocidade média ronda os 20,35 km/h. Segundo a escala de Beaufort26, é considerada vento fraco. Contudo é de referir que ocorrem, ocasionalmente, rajadas de 100km/h, de direção variável e de pouca duração, associadas a fenómenos de instabilidade atmosférica.
N
43
S
5.7. CONCLUSÃO CLIMÁTICA 051. Poeme de l’angle droit solar 052. Tabela de Temperatura Média de Luanda 053. Gráfico de Temperatura Média de Luanda 054. Tabela de Humidade Média de Luanda 055. Gráfico de Humidade Média de Luanda 056. Tabela de Pluviosidade Média de Luanda 057. Mapa de Precipitação Global Anual 058. Gráfico de Pluviosidade Média de Luanda 059. Rosa dos Ventos de Luanda 060. Gráfico de Temperatura e Humidade Média de Luanda TEMPERATURA E HUMIDADE MÉDIAS MENSAIS (1935-1952) HUMIDADE (%)
TEMPERATURA (Cº)
85
25,25
83
23,5
81
DEZEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
SETEMBRO
JULHO
AGOSTO
JUNHO
MAIO
77
ABRIL
20
MARÇO
79
JANEIRO
21,75
FEVEREIRO
TEMPERATURA (Cº)
27
HUMIDADE (%)
Depois de apresentados os dados climáticos de Luanda, podemos concluir, que os valores obtidos não são idênticos aos característicos do clima Semiárido Quente (Desértico Marítimo - Quente Seco). Este clima é caracterizado por duas estações, uma quente e outra fria e as temperaturas de Luanda não atingem valores máximos tão elevados, aos deste clima, devido, não só, à proximidade ao mar, como também, à corrente fria de Benguela27. Relativamente a outras zonas com o mesmo tipo climático, Luanda, assim como toda a região litoral de Angola, tende a ter níveis de calor mais baixos e temperaturas mais estáveis, sem grandes amplitudes térmicas. Dito isto, podemos afirmar que a causa do desconforto climático não são as temperaturas mas sim a humidade em excesso. Os elevados índices de humidade apresentados, provocam, um aumento da sensação de calor e desconforto para a população que aí vive. A humidade elevada dificulta as trocas de calor entre o corpo e o ar por evaporação, fenómeno que é essencial para o bem-estar físico. Também a intensidade das chuvas provocam problemas no escoamento das águas, criando graves danos em toda a cidade, sendo extremamente importante refletir sobre a criação de uma rede que, dado a irregularidade das chuvas, promova o aproveitamento das
O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
5. ESCALA DA CIDADE LUANDA - DADOS GEOGRÁFICOS mesmas para utilização no período de estação seca.
Estas temperaturas elevadas, a humidade excessiva e a irregularidade das chuvas, fazem com que a composição climática de Luanda não proporcione condições de conforto favoráreis para os seus habitantes. Deste modo, a preocupação principal da construção deve ser a de ultrapassar estas limitações impostas pelas características ambientais. “Através da observação do gráfico e segundo Aldo Fanchioti, “podemos facilmente verificar que em Luanda nunca se observam condições de bem-estar, o que requer um projecto que permita modificar essas condições.” (QUINTÃ, 2009, p. 82)
5.8. PROJETO BIOCLIMÁTICO 44
Como cita Ana Vaz Milheiro em “Nos Trópicos Sem Le Corbusier”: “O projecto deve, antes de mais, ser adequado ao clima e a forma decorre exactamente da aplicação de princípios que menorizam as consequências da exposição solar: “O recuo das montras, a varanda das habitações e a abada cobertura, bem como o rotulado sobre a entrada e a sequência de palas que guarnecem o vão da caixa de escala são uma interpretação estética dum sistema indispensável de protecção contra o Sol. A ventilação é o segundo item considerado, reflectindo-se na configuração dos vãos e na colocação do alçado.” (Hernâni Gandra e Fernando Peres citado por MILHEIRO, 2012, p. 171) Tendo sido feita, anteriormente, a descrição sumária do contexto climático da cidade de Luanda, que é o ponto de partida para a prática de uma arquitetura bioclimática, apresentamos, de seguida, os princípios para um projeto bioclimático. Para que seja possível atingir um equilíbrio entre o edifício e o clima quente e húmido, é necessário que as construções obedeçam a uma série de medidas de projeto denominadas de estratégias bioclimáticas ou de design passivo. Estas estratégias têm como principal objetivo a adaptação do edifício ao clima local proporcionando condições para o conforto térmico no ambiente interior. A aplicação de estratégias de conforto básicas, de modo a otimizar as condições de habitabilidade e salubridade de um edifício passa, em climas quentes e húmidos, por proteger das radiações solares e favorecer o máximo de ventilação natural. Como descrito anteriormente, os climas quentes e húmidos O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
são caracterizados pelo elevado teor de humidade no ar que é o elemento mais perturbador no conforto ambiental. Assim, intervir neste clima e em conformidade com o meio consiste na promoção da circulação do ar no interior dos edifícios e na proteção do sol e das chuvas. Neste contexto, para que o projeto de arquitetura responda, adequadamente, às características climáticas da região, foram previamente conhecidos os parâmetros climáticos para que se possa analisar as soluções construtivas mais apropriadas, evitando que se recorra a técnicas ativas para obter o conforto térmico no interior dos edifícios. Em climas quentes e húmidos, as estratégias de conforto básicas são defensivas. Seguidamente serão identificadas algumas soluções encontradas para atenuar as dificuldades apresentadas por este tipo de clima. IMPLANTAÇÃO Com o objetivo de referir os princípios e regras gerais para a implantação de edifícios em regiões de clima tropical quente e húmido, tivemos como base a memória nº 154 do Laboratório de Engenharia de Angola: “Breves considerações sobre o urbanismo tropical em zonas rurais”, do arquiteto Vasco Vieira da Costa, descrita no livro de Margarida Quintã. O arquiteto diz-nos que “as condições de conforto e habitabilidade de uma edificação dependem essencialmente da sua orientação” (Vasco Vieira da Costa citado por QUINTÃ, 2009, p. 52) . Em climas tropicais quentes e húmidos, aquando da implementação tem de se ter em conta que esta está fatalmente condicionada pelo sol e os ventos dominantes. Para uma ventilação eficiente e consequentemente melhoria do conforto térmico, num clima como o de Angola, é essencial que a implantação tenha em consideração o regime dos ventos. O tipo de construção, mais conveniente ao tipo de clima, é isolada, contudo os efeitos da radiação nascente e poente geram uma tendência para a construção de edifícios longitudinais sobre o eixo este/oeste, pois diminuindo a área de exposição solar, são reduzidos, também, os riscos de sobreaquecimento. Os edifícios estreitos e altos são particularmente eficientes, dado que estão mais expostos aos ventos e o tamanho da empena favorece a passagem do ar pelo interior. Relativamente ao sol, a melhor orientação será paralela ao eixo nascente-poente, limitando a exposição das fachadas que recebem sol de ângulo baixo (este-oeste) e permitindo o sombreamento da fachada que mais recebe sol de ângulo alto (norte). Vieira Da Costa criou a solução de compromisso, que constitui, como explica, a orientação para a qual se deve reger a implantação: “quando a orientação dos ventos dominantes conduzir a uma orientação que obrigue a fugir marcadamente da orientação nascente-poente (ideal em relação ao Sol) deverá adoptar-se uma solução
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061. Danos Causados pelas Cheias de Março de 1963 062. Carta Bioclimática O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
5. ESCALA DA CIDADE LUANDA - DADOS GEOGRÁFICOS de compromisso, que permita que a maior fachada seja (embora obliquamente) varrida pelos ventos, sem que, no entanto uma grande superfície das suas paredes fique exposta aos raios solares.” (Vasco Vieira da Costa citado por QUINTÃ, 2009, p. 53) SOMBREAMENTO
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Como escreve Margarida Quintã “Nos trópicos a arquitectura do sol adquire a máxima expressão; é o grande laboratório dos mecanismos de sombreamento e do trabalho da luz; matéria intangível, inesgotável e gratuita, condição intrínseca e determinante da arquitectura.” (QUINTÃ, 2009, p. 60) Em regiões de clima tropical, o sombreamento é uma estratégia indispensável e muito eficaz para reduzir a penetração da radiação solar no edifício, podendo o edifício ser 4ºC a 12ºC mais fresco, quando bem sombreado. Nas regiões, como é o caso de Angola, próximas do equador, os dispositivos de sombreamento devem ser previstos e aplicados a todas as fachadas por forma a evitar situações de sobreaquecimento. A implantação ideal do edifício não anula a necessidade de proteção solar na cobertura, paredes e vãos. Destes três elementos construtivos, a cobertura é a que sofre de maior incidência solar directa. Assim e para impedir a transmição de calor para o interior por irradiação da cobertura, esta deve ser constituída por uma camada exterior que reflita a radiação solar ao mesmo tempo que sombreie a camada inferior constituída por materiais isolantes que evitam a passagem do calor para o interior, no espaço existente entre as duas coberturas processa-se o movimento de ar vindo do exterior. As fachadas necessitam de sombreamento diferente consoante a sua orientação. - Nas fachadas orientadas a nascente e a poente, o sombreamento é mais eficaz quando utilizados dispositivos verticais, pois o ângulo de incidência do sol nestas fachadas é baixo (correspondendo ao nascer do sol, a este, e ao pôr do sol, a oeste). - O contrário aplica-se às fachadas orientadas a Norte, onde se devem aplicar mecanismos horizontais, dado que o ângulo de incidência solar é alto. Há vários dispositivos de sombreamento: fixos, móveis ou interiores. Visto que, a radiação solar direta é, de longe, a principal fonte de calor o que provoca um aquecimento excessivo dos edifícios durante todo o ano, é frequente o uso de elementos fixos de proteção. Os dispositivos fixos: • Funcionam melhor que qualquer proteção interior pois intercetam os raios solares antes destes atravessarem o vidro, evitando, deste modo, o efeito estufa. • São sempre mais eficientes quando mais distantes estiverem da fachada, pois para além de provocarem sombra, a radiação térmica captada pelos elementos de sombra não é transmitida para o interior. O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
• São os mais elementares pois derivam dos próprios elementos construtivos. • Estes podem ser: espaços intermédios (varandas, galerias, pátios ou átrios) palas, venezianas, beirais pronunciados, grelhas, vegetação, prédios vizinhos...
Os dispositivos móveis: • Permitem passar de uma situação de escuridão para uma total abertura. • A vantagem relativa aos dispositivos fixos reside na maior visibilidade exterior e a capacidade de admitir o aproveitamento de sol em dias frios. • A manipulação destes dispositivos é feita pelo utilizador que pode adequar a posição destes em função da hora do dia. • Contudo as desvantagens residem na manutenção deste. 47 As proteções interiores: • São as menos eficientes, só se mostram úteis quando associadas às proteções exteriores, de modo a controlar a luminosidade. O tratamento do solo adjacente ao edifício torna-se também um aspecto importante de proteção do edifício contra a radiação solar. Os solos relvados chegam a possuir menos 10 a 14 graus do que os solos não relvados. A criação de sombra, através da vegetação poderá atenuar, ainda mais, esta temperatura exterior e, consequentemente, a temperatura interior pois, a vegetação, devido à sua baixa transmitância, é um dos mecanismos mais eficazes para a redução da radiação. Quando possível, a melhor solução é construir sobre pilotis, afastando o edifício do terreno.
ARREFECIMENTO PASSIVO - VENTILAÇÃO
A principal técnica para o arrefecimento passivo consiste na ventilação natural do espaço interno. Esta estratégia é das mais antigas e mais utilizadas para o aumento do conforto térmico do ambiente interior, O principal fator para a melhoria das condições do ambiente interno é, nos climas quentes e húmidos, a ventilação. Após a análise do comportamento dos ventos (intensidade e direção) conseguimos captá-los convenientemente, conseguindo ventilar naturalmente o
063. Cobertura de um edifício numa região de clima tropical húmido 064. Brise-soleil do Mutamba 065. Como funciona o sistema de brisesoleil do Mutamba 066. A presença de elementos árboreos e a sua importância quer na proteção solar, quer na ventilação 067. Construção sobre pilares O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
5. ESCALA DA CIDADE LUANDA - DADOS GEOGRÁFICOS edifício. É extremamente importante garantir a ventilação natural dos espaços interiores, especialmente em edifícios construídos em regiões de clima tropical quente e húmido. Numa primeira fase terá de se conhecer como se comportam os ventos dominantes (intensidade e direção), como feito anteriormente no capítulo: “Escala da Cidade – Luanda: Dados Geográficos”, para que tal seja considerado na orientação da construção e na conceção dos vãos. Como diz Vieira Da Costa: “as edificações deverão ser orientadas perpendicularmente à direcção em que eles sopram, de maneira que o plano de fachada de maior desenvolvimento seja normal àquela direcção” (Vasco Vieira da Costa citado por QUINTÃ, 2009, p. 53) Relativamente ao movimento do ar é preciso apreender que: o edifício torna-se um obstáculo à passagem de vento e que por isso, o ar se acumula na fachada mais exposta, originando uma zona de pressão. Consequentemente na fachada oposto, existe uma zona de depressão, designada de sombra de vento. Existe uma interdependência entre a correta implantação dos edifícios e a adequada colocação e dimensionamento dos vãos. A distribuição, dimensionamento, colocação e forma dos vãos são elementos preponderantes para uma ventilação eficiente. Assim, para se obter uma ventilação adequada é necessário compreender o movimento dos fluxos de ar na envolvente das construções As aberturas de entrada (na fachada de barlavento) e saída (na fachada de sotavento) devem estar localizadas de forma a ser alcançado um sistema eficaz de ventilação. Para que o movimento do ar seja eficaz, este, deve ser dirigido para a superfície do corpo, assegurando-se que este movimento se faça através dos espaços mais utilizados pelos ocupantes. A abertura de entrada deve ser pequena e a de saída grande, provocando um aumento da velocidade de circulação do ar interior (efeito venturi). OPÇÕES CONSTRUTIVAS
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28 Maria João Teles Grilo - “Nasceu em Angola en 1960. Licenciatura pela F.A.U.T.L.-1984 (…) Coordenadora da Ordem dos Arquitectos de Angola em U.I.A./U.A.A-CPD Área de Doutoramento: Do corpo arquitectónico à proposição de cidade em V. Costa Assistente da Departamento de Arquitectura da Universidade Agostinho Neto- Luanda Areas de especialização: Arquitectura do Movimento Moderno em Angola, A Cidade Informal nas Metrópoles dos Países em Vias de Desenvolvimento y Arq. Vasco Vieira da Costa.” in <http:// cargocollective.com/arquitecturamodernaluanda/Maria-Joao-Teles-Grilo>
Relativamente aos climas tropicais quentes e húmidos, a importação de modelos descontextualizados, inadequados a este tipo de clima, podem prejudicar as condições de conforto térmico interior. Uma boa solução para estas regiões é a criação de espaços unicamente cobertos, daí se observar vários edifícios em que o sistema de acesso é feito através de galerias. Uma parede simples torna-se mais eficaz do que uma parede de maior inércia térmica. As paredes devem ser aligeiradas e devem permitir a constante circulação do ar, sendo que nestes climas, mais importante que a proteção dos agentes exteriores, é a evasão da humidade do ar interior. Também a escolha de um vidro simples é mais eficiente que um vidro duplo. Para um clima quente, é importante evitar grandes vãos de envidraçado, de forma geral, a área de envidraçado não deve ultrapassar os 30% da área das fachadas a Norte e a Sul, e para as
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
fachadas Nascente e Poente a percenagem máxima é 20%, considerando que os vãos possuem sombreamento adequado. A cobertura deve ser impermeável e, sempre que possível, deve refletir os raios solares, ao mesmo tempo que proporciona sombra. Muitas vezes torna-se pertinente sombrear a própria cobertura, de forma a que o painel superior funcione como um protetor solar e permita um arrefecimento dos espaços interiores através da circulação de ar. Também o sistema de escoamento das águas pluviais deve ser previsto considerando os índices de pluviosidade e os caudais médios. Relativamente às cores, especificamente, nos climas tropicais quentes e húmidos, devem aplicar-se cores na gama dos tons pastel, tanto no exterior como no interior dos edifícios, nestas regiões a cor branca é desaconselhada devido ao elevado índice de reflexão que provoca fortes encandeamentos.
5.9. CASOS DE ESTUDO
No sentido de compreender a aplicabilidade das estratégias bioclimáticas, pareceu-nos importante apresentar dois casos de estudo em que a sua génese teve como preocupação primordial a dialética entre o território e o clima. Na escolha dos edifícios teve-se em consideração o facto de serem os dois construídos em Luanda tendo em conta as necessidades específicas locais. Assim, da “Geração Africana”, como se referiu José Manuel Fernandes aos arquitetos modernistas que grande importância tiveram no panorama Africano e no contexto Angolano, é importante referenciar os arquitetos: Fernão Simões de Carvalho e Vasco Vieira da Costa. Ambos angolanos e discípulos de Le Corbusier, damos neste capítulo particular atenção a Vieira da Costa e à sua obra.
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VASCO VIEIRA DA COSTA
Vasco Vieira da Costa (1911 a 1982) estudou na Universidade do Porto e, posteriormente trabalhou com Le Corbusier em Paris, de 1945 a 1948. No ano seguinte, 1949, Vieira da Costa regressa a Luanda onde, durante 30 anos, trabalhou como arquiteto. O interesse no arquiteto e na sua extensa obra surge da preocupação que este tem com o local para a qual constrói. Como diz Maria João Teles Grilo28: “A principal característica dos edifícios desenhados por Vieira da Costa é a sua adaptação ao ambiente. São prédios que se integram harmoniosamente no meio, explorando a seu favor as condições geográficas e climatéricas. “Não é possível tirar nem acrescentar nada a estes edifícios”, diz Maria João. “São projectos que souberam interpretar o lugar, resgatando a sua condição geográfica.” (AGUALUSA,1995, 27) A autora diz-nos ainda: “Vieira da Costa alinhou a sua arquitectura com os movimentos do sol e do vento: a incidência da luz natural é sempre convidada a jogar sobre as superfícies do betão, mostrando constantemente como ela se difunde criando uma interdependência da luz, do vento
068. Influência das posições e superfícies relativas das aberturas de entrada e saída na velocidade das correntes de ar. A velocidade B é superior à velocidade A. O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
5. ESCALA DA CIDADE LUANDA - DADOS GEOGRÁFICOS e das estações. A eles sacrifica inteligentemente as suas opções formais que condiciona a estrutura. Nela se lê a influência do tempo no comportamento, funcional dos seus edifícios dotando-os no entanto de qualquer coisa essencial - eles corporizam uma alma, traduzem uma ideia e assumem-se explicitamente como objectos de referência, marcos na cidade. Não porque a sua arquitectura seja insólita mas porque cada corpo arquitectónico por ele desenhado parece sempre ter estado ali, ter pertencido à terra, tornando reconhecíveis os lugares geográficos que a sua arquitectura interpreta.” (PRADO et al., 2011, p. 198) À data, este tipo de preocupação ambiental mostra de que Vieira da Costa era “um arquitecto visionário em relação à contemporaneidade. Na sua ânsia de mudança há uma ânsia de construir o espaço como um abraço com a terra.” (TELES GRILO, s.d., pp. 66 e 67) São dois os edifícios que vamos abordar e, na extensa obra do Arquiteto (de referir o Mercado do Kinaxixe), talvez não sejam os objetos arquitetónicos mais pragmáticos do autor, contudo a escolha prendeu-se com o tipo de edifício, de programa e as soluções climáticas utilizadas. São estes: o edifício “Anangola” e o edifício “Instituto Pio XII”, ambos localizados em Luanda. Teremos como base, para a reflexão sobre os edifícios o livro “Vasco Vieira Da Costa: Arquitectura E Clima: Geografia De Um Lugar: Luanda E A Obra De Vasco Vieira Da Costa” de Margarida Quintã.
ANANGOLA
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O edifício Anangola (Associação dos Naturais de Angola) é projetado a 1963, localizando-se na zona alta da cidade de Luanda, mais propriamente na Rua Cónego Manuel das Neves (umas das principais artérias da cidade, que cresce na direção nascente-poente, desde o centro até ao limite da “cidade asfalto”). Implantado paralelamente à rua, o edifício está orientado sobre um eixo longitudinal que se desvia 9ºgraus para a direita do eixo poente-nascente, sendo que por isso se encontra corretamente posicionado de acordo com a solução compromisso desenvolvida pelo arquiteto: “permitindo que a maior fachada seja embora obliquamente, varrida pelos ventos, sem que, no entanto uma grande superfície das paredes do edifício fique exposta aos raios solares”.(QUINTÃ, 2009, p. 135) O Edifício em betão é composto por 2 pisos, sendo que o térreo se encontra a cerca de um metro e meio acima do solo, promovendo deste modo a circulação do ar sob a laje e a ventilação da cave. O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
A entrada faz-se através de um pequeno alpendre - orientado a sul e posicionado ao centro do edifício - onde se encontra uma escada que une os dois pisos. A norte localiza-se a galeria, ampla e exterior, ao longo do qual se distribuem os compartimentos como átrios, salas e gabinetes. Em toda a sua extensão, a fachada norte, encontra-se protegida por dispositivos fixos de sombreamento, brise-soleils.
A sul estão orientadas as salas, esta fachada, totalmente envidraçada com janelas beta, é protegida através de brise-soleils, que estão suspensos, apoiados somente lateralmente às fachadas de este e oeste. Os ventos dominantes penetram obliquamente pelas janelas da fachada sul e, devido às janelas ao nível superior que as salas possuem na parede oposta (do corredor), as salas são ventiladas transversalmente. As fachadas este-oeste são compostas por ripas de madeira que facilitam a entrada de ar e, por conseguinte, a ventilação do interior e ainda filtram a luz. A cobertura é horizontal e pode funcionar como terraço. Para facilitar o escoamento das águas, em períodos de aguaceiros intensos, a cobertura possui aberturas pontuais para que a água escoe para fora do edifício. Deste modo e, em síntese, é possível dizer que a Ananloga resulta de uma estrutura funcional simples: contem um núcleo central de acesso, uma galeria que permite a comunicação com todos os espaços e uma planta que se repete nos dois pisos. Ao estudarmos a obra concluímos que, do ponto de vista ambiental, se encontra corretamente posicionada. Verifica-se também que o sombreamento é eficiente em todas as fachadas.
INSTITUTO PIO XII
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069. Planta de localização do Anangola 070. Fachada do Anangola 071. Posição do Anangola 072. Galeria de distribuição do Anangola 073. Galeria de distribuição do Anangola 074. Brise-soleil do Anangola 075. Fachada Norte no solstício de Inverno às 9h, 11h, 13h, 15h 076. Eficiência total do dispositivo de sombreamento para as fachadas norte e sul 077. Planta de localização do Instituto Pio XII 078. Vista aérea do Instituto Pio XII 079. Posição do Instituto Pio XII
O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
5. ESCALA DA CIDADE LUANDA - DADOS GEOGRÁFICOS
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O Instituto Pio XII situa-se na Avenida Ho Chi Min em frente ao Edifício da Rádio Nacional (obra do arquiteto Fernão Simões de Carvalho). Este eixo viário de grande dimensão permitiu a Vieira da Costa liberdade na implantação do edifício. Assim, independente à rua, os corpos longitudinais do edifício fazem um ângulo de 29º graus com o eixo poente-nascente, aproximando-se da solução compromisso “(...) pois é justamente a intermédia entre a orientação preferencial em relação ao sol (eixo poente/nascente) e a perpendicular à mediatriz das duas direcções de ventos predominantes em Luanda – sudoeste e oeste-sudoeste (...)”(QUINTÃ, 2009, p. 152). Relativamente à composição, o edifício possuí dois volumes longitudinais paralelos sendo que estes volumes se desenvolvem em dois pisos e se encontram unidos por um terceiro volume perpendicular, suspenso sobre pilotis. À semelhança do edifício Anangola, os dois volumes repetem-se no primeiro e segundo piso. A entrada do Instituto faz-se pela fachada sudoeste do volume longitudinal, através de um caminho secundário transversal à avenida. O volume eleva-se do solo (cerca de 60 cm), tal como acontece no edifício Anangola, à semelhança deste, também, possuí um corredor de acesso às salas de aula, orientado, neste caso, a nordeste. O corredor é sombreado pelo avanço da laje superior, criando, deste modo uma galeria exterior coberta. As paredes entre o corredor e as salas possuem janelas dispostas na horizontal acima da cota das portas que usufruem de sombra durante todo o ano devido à solução eficaz do Arquiteto. As salas, orientadas a sudoeste, encontram-se protegidas por um brise-soleil composto por trama apertada entre palas horizontais contínuas e elementos verticais que se prolongam (30cm) para além da fachada. Ainda assim esta proteção solar mais complexa não se revela eficaz durante todo o ano devido à implantação do edifício. Os ventos predominantes incidem nas fachadas sudoeste, quase perpendiculares, entrando pelas janelas betas. O ar atravessa a sala e sai superiormente através dos vãos colocados acima da cota das portas nas paredes opostas. Mais uma vez, podemos comparar com o Anangola que possui um brise-soleil mais simples (elementos verticais e horizontais complanares e mais espaçados entre si). No Anangola esta proteção funciona devido à orientação das fachadas que estão mais próximas da orientação preferencial em relação ao percurso solar. Também no Anangola a ventilação das salas é análoga.
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
No volume suspenso, distribuídos por um corredor axial, encontram-se os gabinetes dos professores voltados a sudeste e noroeste. Para a proteção deste volume foram colocados dispositivos móveis de sombreamento, que permitem controlar o sol da manhã na fachada sudeste e o sol do final de tarde na fachada noroeste. As lâminas verticais reguláveis segundo um sistema mecânico, são aconselháveis nestas fachadas pois o sol incide sob ângulos baixos e este tipo de dispositivos permitem uma maior flexibilidade. Sob o volume suspenso, de 36 metros de extensão, existe uma superfície impermeável em marmorite. Podemos afirmar que as ligações entre os dois pavilhões de aulas são realizadas através de dois átrios idênticos: o espaço exterior coberto, no rés-do-chão e o corpo transversal no piso superior. O centro da proposta é um vazio criado pela posição dos edifícios que cria um local de encontro e de recreio, com áreas de sombra e vasta vegetação. Este é, assim, o elemento exceção do projeto. Resumindo, podemos denotar que o Arquiteto utilizou três tipos de sombreamento diferente como solução para três questões e orientações diferentes: a norte - o avanço da laje do piso superior, a sul - o brise-soleil e a sudeste e noroeste - dispositivos móveis. Também é importante referir a utilização de cores na fachada dos volumes na gama dos tons pastel, o que é aconselhável nestes tipos de clima pois, ao contrário do branco, não causa uma reflexão intensa e, ao contrário das cores escuras, não provoca aquecimentos excessivos pelo impacto da radiação solar. 53
080. Galeria de distribuição do Instituto Pio XII 081. Avanço das lajes para sombreamendo das galerias 082. Brise-soleil do Instituto Pio XII 083. Brise-soleil do Instituto Pio XII O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
084. Vista aĂŠrea para a Chicala, Luanda
6. ESCALA DO BAIRRO CHICALA - CARACTERÍSTICAS
6. ESCALA DO BAIRRO CHICALA
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6.1. CONTEXTUALIZAÇÃO
“Situada bem perto do epicentro simbólico da cidade de Luanda, a Chicala surge marginal na cartografia axiomática que serve de apoio aos modelos dominantes de análise e intervenção urbana. Como tantos bairros da capital angolana (e inúmeros outros espalhados por todo um continente), o seu lugar Chicala (corruptela portuguesa da palavra Kikala) na sua designação originária referia-se ao núcleo sobrevivente das Sanzalas localizadas a sul da restinga “Ilha do Cabo”. (MOREIRA, 2012)
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Musseque - Do Kimbundo; Museke. Nome dado à areia vermelha característica de Luanda. A designação passou a ser referência dos bairros periféricos da cidade por não terem as ruas calcetadas e os pavimentos das casas serem de terra batida. Surge em 1864 com o primeiro acto conhecido de gentrificação na história das cidades em Angola. (MOREIRA, 2012, p. 25) 30
no mundo tende a ser descrito aquém da modernidade. A Chicala é desordenada. A Chicala está sobrepovoada. A Chicala não cumpre os ambiciosos desígnios da nova cidade que está a nascer.” (MOREIRA,2012, p. 31)
Introduzida a história de Angola; planos urbanos para a cidade de Luanda, inclusive o plano em vigor – PDGML; analisado o clima da cidade e conhecidas as estratégias bioclimáticas, entramos na “Escala do Bairro”, ou seja, entramos na dimensão prática do trabalho onde será aplicado tudo o que foi apreendido no estudo feito anteriormente.
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
Chicala29, área de assentamento informal que surgiu num aterro ganho ao mar, localiza-se na frente marítima de Luanda orientada a oeste: “situado entre a ponta Sul da Ilha do Cabo e o centro político-administrativo da cidade, aos pés da Fortaleza de São Miguel”. (MOREIRA,2012) “Chicala, é morfologicamente um Musseque30. Embora esta entidade urbana esteja originalmente ligada à periferia urbana é no caso presente interna à malha consolidada da cidade. Este fenómeno do musseque entranhado na cidade é um caso particular da implosão urbana e directamente associado à explosão demográfica consequência da guerra civil que teve a sua expressão mais descontrolada no período entre 1992 e 2002.” (MOREIRA, 2012, p. 23) Relativamente à sua composição, Ângela Mingas escreve que Chicala se trata de um núcleo composto por uma tríade: “A “Chicala I”, localizada na Comuna da Ilha do Cabo até ao último quartel do século XX quando começou a sua expansão para os hoje designados bairros “Chicala II” na década de 80 e Chicala III” na década de 90, localizados na margem continental.” (MOREIRA, 2012, p. 2) Ainda que este terreno nasça adjacente ao centro histórico da cidade, o morro de São Miguel cria uma charneira de divisão entre a cidade formal (cidade baixa) e a informal (Chicala). “As suas fronteiras naturais, Baia da Samba, Oceano Atlântico e Morro de São Miguel (...) e o facto de este ser um núcleo fundamentalmente habitacional, fazem deste musseque uma bolsa alheia ao demais contexto da paisagem do espaço provocando uma relação centrípeta e ensimesmada entre as três chicalas e com expressão débil para além das outras fronteiras.” (MOREIRA, 2012, p. 24) Luca Bonifácio relatava, em 2012 que: “Encontra-se já em marcha um plano explícito e determinado que visa expurgar da imagem da cidade qualquer sugestão de pobreza, subdesenvolvimento ou desigualdade social. Não pela inaceitabilidade da pobreza numa democracia moderna, mas simplesmente porque a pobreza cheira, soa e parece mal. Os gigantes subúrbios informais de Luanda não representam mais do que empecilhos desagradáveis aos interesses do negócio imobiliário, em nome dos quais deverão ser cirurgicamente removidos, apagados, escondidos de vista. São válidos todos os meios pelos que se atinjam estes fins.” (MOREIRA, 2012, p. 20)
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6.2. ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO
Assumindo a aplicação do plano referido ´para a área da Chicala. O desenho urbano para a “Nova“ Chicala, surge com o intento de manter e de remeter à memória do lugar. Para tal, numa análise a nível macro, tentou-se criar várias ligações (exógenas à Chicala) com a cidade consolidada: 1. Paralela à Avenida Nova Marginal, que circunda a proposta, propõe-se criar uma via que, na continuidade da Avenida Marginal, atravessa o plano urbano, em toda a sua extensão, no sentido Norte-
085. Evolução da Chicala 086. Localização da Chicala I, II e III 087. Plano da Chicala e arredores mostrando as áreas demolidas deste 2005 O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
6. ESCALA DO BAIRRO CHICALA -Sul; 2. Manter a ligação da cidade baixa (Coqueiros) com a proposta – através da Rua José Pedro Tuca (existente); 3. Conetar a proposta com o Fortaleza de São Miguel. Dado a sua importância a nível histórico, o seu carácter de museu, e o facto de ser única preexistência na envolvente próxima ao Bairro. 4. Analisando o fluxo viário, o congestionamento que existe na marginal e, de modo a aliviá-lo, propôs-se desviar o fluxo proveniente do aeroporto, criando uma via de ligação da Praia do Bispo para a Ilha do Cabo.
CONTINUAÇÃO DA MARGINA L
1 3 LIGAÇÃO COM A PREEXISTÊNCIA
6 LIGAÇ
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Ao longo do processo de análise, percebeu-se que o projeto teria de ser capaz de ser algo evolutivo, possível de extensão, algo que não fosse estanque - pois a cidade também não o é - e, como tal foi considerado na proposta não só a área da Chicala II como também a Chicala I, assim: 5. Avenida Marginal ganha, também, continuidade na Ilha do Cabo, criando um novo paredão e uma nova praia, orientados a oeste. 6. E as duas áreas (Chicala I e II) separadas pela Baía da Samba, serão interligadas na proposta. Tendo em conta a fragilidade do terreno e, posteriormente à criação das intenções projetais, analisámos as linhas de água da região e foi feito um levantamento das zonas verdes existentes, isto para que a proposta fosse ao encontro das necessidades do local. Concluímos então que: 7. Se teria de afastar a proposta do morro e criar de uma zona O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
arborizada adjacente a este para absorver as águas das chuvas que daí surgissem. 8. A proposta é obrigada a recuar, também, em relação à “linha de costa” devido à subida do nível de água. 9. A escassez de zonas arborizadas em toda a cidade (como analisado) e inexistentes na Chicala em que “(…) a densidade construtiva nos bairros da Chicala atinge a preocupante faixa de estar acima de 80% sendo a restante percentagem destinada aos arruamentos. Logo, a permeabilidade dos solos é muito baixa o que em relação proporcional inversa representa o colapso ambiental do local.” (MOREIRA, 2012, p. 24) é agora amenizada pela criação desta área, ao mesmo tempo que, é reduzida a área de construção, atendendo, uma vez mais, à debilidade do terreno.
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ÁREA VERDE EXISTENTE
ÁREA VERDE PROPOSTA
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“Essa condição de isolamento aliada à sua impossibilidade de expansão comporta consequências diversas. Por um lado a densificação permanente do lugar. O espaço privado habitacional exerce uma pressão permanente sobre o já exíguo espaço público, baixando dramaticamente factores chave de urbanidade como a mobilidade/ aces-
088. Rua José Pedro Tuca 089. Esquema de intenções projetuais 090. Esquema de linhas de água e subida do nível de água 091. Esquema de espaços verdes O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
6. ESCALA DO BAIRRO CHICALA sibilidade, oxigenação, saneamento público, entre outros.” (MOREIRA, 2012, p. 25) O plano urbano pretende dar à Chicala espaços públicos simultâneamente à criação de espaços de arejamento da proposta, assim como se pretende diminuir a densidade de construção. Pois tal como diz Cardoso relativamente à Chicala: “Importa por isso analisá-la e compreendê-la como tal, incorporando-a nos parâmetros do urbanismo luandense contemporâneo e inscrevendo-a no imaginário teórico do mundo moderno. Porque a Chicala não é um bairro pequeno.” (MOREIRA,2012, p. 33)
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Olhando, directamente para o musseque, tendo em consideração as dinâmicas endógenas deste, conseguimos observar as linhas de força existentes. Estas, tornam-se as linhas que vão despelotar o desenho urbano. 10. A principal, surge no seguimento da via de ligação da cidade baixa à Chicala (referido no ponto 2.) e é uma (re)criação da Rua da Pracinha, existente no musseque da Chicala, com todo o seu significado no contexto deste: “(...) a Rua da Pracinha, a artéria principal da Chicala II, um dos bairros não planeados mais centrais de Luanda (...) Aqui o público torna-se um dos atores que, no dia-a-dia, fazem da rua um lugar de diálogo e comunicação por excelência. A Rua da Pracinha é um microcosmo da diversidade da vida urbana local, populada por pessoas de múltiplas origens, grupos étnicos, crenças religiosas, idades... A própria toponímia implica um lugar que é simultaneamente rua e praça (em Angola, ‘praça’ pode significar ‘mercado’). (...)tudo conflui num sistema complexo onde sociabilidade e trabalho aparecem interligados.” (MOREIRA, 2012) Assim nasce a proposta do plano urbano, em que: 11. Os edifícios estão dispostos segundo o alinhamento este-oeste (solução compromisso estudada anteriormente). E, na sua maioria, dispõem-se em banda, obtendo-se uma redução das cargas térmicas para cada habitação individual. Todos os edifícios se encontram elevados do solo, sendo que os edifícios de habitação e de escritórios desenvolvem-se sob pilotis. Tendo em conta, os casos de estudo referidos, as galerias de acesso às habitações localizam-se orientadas a norte. 12. Na Rua da Pracinha o trânsito é desviado para se criar O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
um local de mercado e, de encontro, mantendo a memória do lugar pois: “O significado e o valor do espaço público são potenciados pela memória colectiva, quando dela faz parte. Essa memória confere ao espaço um poder simbólico-representativo, cuja significação consegue ser muito mobilizadora“ (FERRAZ, 2005, p. 230). Este desvio da circulação deve-se a uma tentativa de fazer prevalecer o ruído da vivência aí criada, sobre o barulho da circulação viária. Deste modo, a Rua da Pracinha torna-se Avenida da Pracinha. 13. Como consequência da vulnerabilidade do terreno, no sentido da fortaleza para a linha de costa, existe uma diminuição na densidade de construção, nas altimetrias dos edifícios e na circulação. 14. De modo a interligar o traçado do tecido formal com o terreno, mais propriamente com os seus limites, junto à linha de costa existe uma organicidade do traçado que se vai “regularizando” à medida que nos aproximamos do morro. 15. Para que a arborização (referida em 7.) não se torne uma divisão entre a proposta e a cidade - e um obstáculo à integração do bairro na cidade - a densidade de árvores é maior a Norte e a Sul e menor no centro da proposta (no cruzamento da Avenida Nova Marginal com a Avenida da Pracinha) convidando os visitantes a entrarem no bairro e enaltecendo a importância da Avenida da Pracinha. 16. No cruzamento da Av. Nova Marginal (existente) com a Avenida da Pracinha foi criada uma paragem de autocarros, segundo o definido no PDGML. 17. Assim, a Avenida da Pracinha possuí uma paragem de autocarros, um mercado ao ar livre e, como ligação entre as duas margens, o Centro Cultural, equipamento que será desenvolvido no capítulo seguinte. 18. Existe uma preocupação, não só relativamente ao planeamento sustentável a nível ambiental, (mostrado em 11.) assim como se pretende que “(...) os princípios de sustentabilidade [sejam] observados face à equidade social no acesso a bens e serviços vitais para o Homem, como seja a água, a alimentação e o trabalho, que em todo o projeto foi observado e se garantiu que viesse a acontecer“ (GUEDES, 2011, p. 105)
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092. Chicala 093. Linhas de força da Chicala 094. Proposta de Plano Urbano O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
6. ESCALA DO BAIRRO CHICALA
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Relativamente aos dados da população que vivia na área das Chicalas, sabemos que: “Chicala tem uma dimensão aproximada de 1km2 (Chicala I: 305.115m2, Chicala II: 412.275m2, Chicala III: 323.800m2) e uma população estimada entre 40.000 a 50.000. (...) O módulo habitacional básico comporta cerca de 5 indivíduos e está a ele afecto uma área total entre 50 até 75 m2.” (MOREIRA, 2012, p. 24). A proposta compreende a zona da Chicala I e da Chicala II (305 115 m2 + 412 275 m2 ), com a àrea total de 717 390 m2. Dividindo esta àrea pela àrea do módulo habitacional (50 m2 a 75 m2) ficamos a saber que o número de habitações está entre os 9 565 e os 14 348, também ficamos a saber, ao multiplicar este número pelo número de pessoas por habitação (5 pessoas), que os habitantes desta àrea variam entre os 47 826 e os 71740. Anteriormente tínhamos referdo que a densidade de construção da Chicala era de 80%, ou seja 573 912 m2 da área total. Também foi referido pelos autores a inexistência de serviços no bairro como uma das causas do seu isolamento. Assim e como resultado deste entendimento do terreno, surge o plano urbano para a “Nova“ Chicala. A “Nova“ Chicala possuí, de área total, 416 577 m2, destes, 44 2 217 m constituem a àrea de implantação destinada ao programa e 25 420 m2 são área permeável e verde. São 431 habitações (bloco habitacional de 100 m2). Pensando que nestas habitações residem 3 a 5 pessoas, os habitantes serão de 1293 a 2155.
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
A nível programático, a Chicala torna-se uma nova centralidade e um bairro em que existem, associados à habitação, vários serviços: 19. A habitação está dividida em moradias e habitações multifamiliares. 20. Existe uma zona de escritórios, onde os edifícios são multifuncionais (escritórios e habitação). 21. A zona de comérco mantem-se na Avenida da Pracinha. Assim e, em forma de conclusão e de esclarecimento relativamente às escolhas tomadas, referimos a resposta do Professor José Manuel Fernandes à questão “Perante os acentuados contrastes económicos, políticos e sociais característicos de África, como pode o arquitecto ter uma intervenção positiva na melhoria e desenvolvimento das cidades?” Em que este responde: “Os arquitectos trabalhando e intervindo actualmente nestes países — sejam africanos, europeus, americanos ou asiáticos — devem compreender, conhecer e dar grande prioridade aos fenómenos históricos e culturais, arquitectónicos e urbanos, associados aos PALOP’s, e à África actual em geral — nomeadamente a ambivalência e a necessária complementaridade entre a chamada “cidade de betão” ex-colonial e a “cidade informal” pré e pós colonial; isto para que a sua actuação seja informada. correcta e consequentemente, positiva, nos planos social e político. Efectivamente os valores culturais, éticos e estéticos implicados, implantados nos espaços de significação colectiva, são essenciais para regrar os novos, crescentes e intensos temas da riqueza, do desenvolvimento, da expansão e modernização urbanas — sob pena de matar a cidade, e a sua cultura, deixando de se fazer a ligação vital e vivencial entre passado, presente e futuro. De nada serve invocar que a cidade que os luso-europeus erigiram até 1975 em África é desajustada para o habitante actual, ou que está degradada e deve ser substituída – ela está lá, existe, quer se queira quer não (...) por isso, devemos conhecê-la o melhor possível, sem medos, complexos e preconceitos, para a poder manipular, modernizar, transformar, ampliar correctamente, de modo apropriado às necessidades e desejos das vastas comunidades citadinas e territoriais em geral.” (FERNANDES, 2015, pp. 249–250)
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095. Plano Urbano - Programa
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096. Ortofotomapa da Chicala e da Baía de Luanda
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097. Ortofotomapa da Chicala e da Baía de Luanda com o projecto para a àrea da Chicala O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
098. EdifĂcios - Luanda
7. ESCALA DO EDIFÍCIO
O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
7. ESCALA DO EDIFÍCIO O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
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7.1. CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL
“... nas colónias todas as coisas belas, todas as coisas grandes estão feitas. Libertaram-se já os escravos; deu-se-lhe já uma suficiente noção de moral cristã; organizaram-se já os serviços aduaneiros... Enfim o melhor está feito. Em todo o caso, há ainda detalhes interessantes a terminar... Por exemplo, em Luanda... Menciono isto apenas como um pormenor, um retoque mais de progresso a dar. Em Luanda precisava-se bem um teatro normal como elemento civilizador!” (Eça de Queirós citado por FERNANDES, 2015, p. 76)
Como referido no capítulo anterior, sentiu-se a necessidade de urbanizar as duas frentes da Baía da Samba. Esta necessidade prende-se com a interdependência visual e proximidade física entre estas. Com o intuito de criar algo que, por si só, conseguisse mover os citadinos e visitantes a trespassar de uma margem para a outra considerou-se, numa primeira fase do trabalho, a ligação das duas margens através da continuação da Avenida da Pracinha. Não obstante, logo se percebeu a potencialidade do espaço entre as duas margens. Como tal e, em vez de olhar para a baía como um espaço de divisão considerou-se que este teria capacidade para se tornar um espaço de união. Assim, o espaço de separação torna-se um espaço de conexão e, esta ligação, é feita por meio do próprio edifício. Deste modo, no final da Avenida da Pracinha ergue-se um Centro Cultural Sustentável que se torna o elemento ligante entre a O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
Chicala I e II. O edifício convida, através de um percurso pedonal, o visitante a atravessar de uma margem para a outra e, simultaneamente, a viver o espaço construído.
7.2. FORMA Este elemento, de forma circular (cheio) permite-nos, no espaço interior (vazio) criado por este, a que exista vivência. Ou seja, o espaço vazio criado pelo edifício, passa a ser parte integrante do próprio, existindo uma interdependência entre os dois espaços e uma dicotomia entre cheio e vazio, elemento construído e elemento natural e, ainda, terra e água. Como diz o Arquiteto Fernando Távora “(...) o caso de certo formoso queijo com buracos no qual, ainda que os buracos não alimentem, eles são indispensáveis para a total definição das suas características. (...) o espaço que se deixa é tão importante como o espaço que se preenche.” (TÁVORA e PORTAS, 1982) A forma do edifício torna impercetíveis os seus limites e inexistente as barreiras visuais criadas por ângulos, estabelecendo uma relação direta e desobstruída entre o interior e o exterior, gerando uma continuidade visual. Deste modo, os elementos naturais preexistentes (baia, mar e morro), envolvente paisagista natural, tornam-se elementos que valorizam a proposta. Na tentativa de se tornar um espaço de encontro entre várias classes sociais e faixas etárias, este elemento de união entre as duas margens ganha significado de unidade. 71
7.3. FUNÇÃO Relativamente à função, este edifício surge como um Centro Cultural Sustentável, criando uma conjunção entre o tradicional (cultural) e a modernidade (sustentabilidade). Pretende-se, portanto, olhar ao passado para se construir o futuro pois, sentiu-se que “para Angola o desafio está na redefinição de uma linguagem própria, na criação de bases ideológico-culturais que conciliem a criatividade autóctone, a cultura local e regional com modelos, tecnologias e interesses universalistas” (FERRAZ, 2005, p.234), daí ter sido imprescindível o estudo da cultura angolana visto que, concordando com o que escreve Susana Ferraz: “A era do conhecimento, de que fazemos parte, avança invertendo o caminho no sentido da recuperação das características culturais, transformando a diversidade de identidades culturais em riqueza mundial.” (FERRAZ, 2005, p.85).
7.4. ATIVIDADES CULTURAIS “Mas, falar de património luandense é falar também do de feições mais nativas. Luanda é uma metrópole e o luandense genuíno é cosmopolita, por isso, as feições mais autóctones existentes na cidade são sobretudo fruto da imigração. Esse património que tem mais presença noutros campos do que no arquitectónico onde acaba por ser escasso, é ainda muito desvalorizado pela maioria dos cidadãos, O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
7. ESCALA DO EDIFÍCIO O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA inebriados pela globalização.” (FERRAZ, 2005, p.235) Sabendo que o musseque é um dos locais onde a africanidade é mais acentuada, pois, como referido anteriormente, este surge do êxodo rural e daí convergirem vários grupos etnográficos. A criação de um centro cultural é importante na construção do angolano como produto da própria cultura que a cidade cosmopolita lhe retirou e que portanto, lhe é desconhecida. A construção de um Centro Cultural num musseque afirma a cultura do musseque como cultura angolana, promovendo a integração do musseque na cidade por meio deste. O propósito do equipamento será aliar o tradicional (cultura) ao moderno (edifício) por meio da arte, sendo esta “uma força tão sensibilizadora e mobilizadora que acaba por ser um excelente veículo de intervenção nas orientações ideológicas de um povo, quer seja para reforçar a sua tradicionalidade ou para o despertar para a renovação e modernidade.” (FERRAZ, 2005, p. 15) A urgência da criação de um centro cultural prende-se com a carência de espaços dedicados à promoção da cultura e realização das atividades tradicionais. “Apesar de Angola ser um país destruído pela guerra e os angolanos um povo traumatizado mantêm em pé a sua dignidade, a sua cultura e o seu espírito”. (FERRAZ, 2005, p.16) daí ser necessário aceitar a cultura tradicional como cultura dominante, para tal, estudaram-se as obras de carácter etno-tradicional que proliferam por todo o país angolano. 72 A cestaria e a esteiraria apresentam-se como duas atividades em que o artesão se revela exímio. Estas nascem com recurso a materiais como: “fibras, varas, folhas, caules, caniços, palhas” (REDINHA, 1975, p. 106) e de técnicas que variam entre “entrançados, entrelaçados, entrecruzados, bordaduras e matrizes”. (REDINHA, 1975, p. 106) As funções de cestaria são infindas, desde “cestos para secagem do material, de produtos, para farinha transporte de cargas, acondicionamento de viveres, arrecadação de artigos diversos, ensilagem, pesca, viagem, apanha ou colheita de produtos selvagens”. (REDINHA, 1975, p. 110) Já a esteiraria pode ter utilizações utilitárias: “tabiques interiores, vedações de quintais, coberturas de alpendradas ou ainda usadas para esteirar pavimentos”, ou utilizações representativas podendo as esteiras mais artísticas servir de tapetes. Nas duas modalidades, os motivos são: “os axadrezados direitos e oblíquos, bandas, losangos e triângulos, ora em frisos simples ora repetidos”. (REDINHA, 1975, p. 118) A importância da cestaria e da esteiraria é explicada pelo autor José Redinha no seu livro “Etnias e Culturas de Angola”: “(...) dada as suas imanentes utilidades e variadas funções e, por não terem substituição fácil e económica por artigos do comércio europeu, estão destinadas a longa sobrevivência no artesanato angolano. As técnicas O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
da cestaria e da esteiraria, dado a perfeição que nelas revelam os africanos, o gosto natural que mostram por este tipo de trabalho e a abundância e boa qualidade das matérias primas disponíveis, podiam ser largamente aproveitadas para varias indústrias.” (REDINHA, 1975, p. 121)
099. Angola - distribuição Cultural 100. Confeção de um açafate 101. Cesto encanastrado 102. Um silo construído por processo de cestaria 103. Esteira cabinda 104. Manufactura de um saco de foliolos da palmeira 105. Três fases da moldagem de um vaso
A cerâmica é uma técnica de criação de artefactos que tem como matéria prima a argila. Dado a abundância de argila por todo o território de Angola e a sua variedade de composições e tons (predominando o avermelhado e o preto), a cerâmica assume grande importância cultural. Caracterizada pela ausência da roda de oleiro (existente no Egito desde 4 000 anos a.C.), a cerâmica angolana é, deste modo, uma cerâmica manual. Existem várias ferramentas como: a “trincha (...), espátulas de madeira, palmetas e lâminas de bordão(...)” (REDINHA, 1975, p. 125) e várias técnicas, sendo a mais primitiva a técnica de cordão. Esta arte é exercida maioritariamente por mulheres e, pensa-se que, o mais primitivo dos potes seja a panela, daí também se achar que foram as mulheres as inventoras da cerâmica “ninguém como elas sentiria a necessidade de vasos incombustíveis para a sua cozinha.” (REDINHA, 1975, p. 129) Não se limitando ao fabrico de vasos utilitários, o ceramista angolano, utiliza a argila também para a escultura (actividade referida posteriormente). Redinha, reflete, relativamente ao território onde assenta Luanda que: “Nas zonas costeiras angolanas, a cerâmica vem sendo, desde longe influenciada pelos artefactos congéneres europeus e pelo exemplo industrial do colono. Um pouco por toda a parte, é destronado pelos recipientes metálicos do comércio, que oferecem, sobre as loiças de barro, a vantagem de não serem frágeis. (REDINHA, 1975, p. 134). A tecelagem foi uma grande indústria ativa em Angola.
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7. ESCALA DO EDIFÍCIO O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA As matérias-primas fundamentais à tecelagem angolana são a rafia e o algodão. A tecedura de fibras de palmeira (ráfia), tem a sua origem cultural no oeste africano já a tecelagem de algodão, ainda que praticada por todo o país, mostra mais incidência na zona leste. As cores, criadas a partir de corantes extraídos do reino vegetal tingiam-se os fios de tecido. As mais utilizadas eram os castanhos-avermelhados, o amarelo, o ocre e o preto. Sobre a tecelagem, Redinha, diz ainda que: “Esta indústria dos tecidos decaiu com a concorrência do pano de fabrico mecânico, como geralmente acontece na competição entre o trabalho manual e o que é obtido pelo concurso da máquina. Por motivo dum fenómeno geral muito complexo, que poderíamos designar de consumpção cultural, as artes e técnicas nativas ora se dissiparam ora entraram em estado letárgico. É de admitir, em muitos aspectos, esta última hipótese, dado que um plano de acção há anos encetado pela Junta de Acção Social do Trabalho em Angola, para revigoramento, patrocínio e ressurgimento das técnicas artesanais , nativas, tem produzido resultados prometedores e até de certo imprevisto. No capítulo da tecelagem de ráfia e da confecção de esteiras, registaram-se progressos notáveis, e estão-se a desenvolver tentativas no sentido de fazer renascer a bela arte dos antigos estofos congueses. (...) é sempre de tentar, mediante adequadas medidas, o ressurgimento de mais padrões culturais de valor, cujas possibilidades estão algumas vezes mais adormecidas que extintas.” (REDINHA, 1975, pp. 141 e 142) 74 A escultura angolana tem mais expressão na região norte de Angola. Este tipo de escultura é maioritariamente antropomorfa e nua. Utilizada na criação de objetos decorativos, mobiliário, instrumentos musicais, embarcações, utensílios e adornos, é, na recriação de cabeças, que o angolano tem particular interesse. Aliada à escultura da face, coincide, a execução de máscaras. Ainda que, esculpam agilmente qualquer material, o mais utilizado na escultura é, decerto, a madeira.
As máscaras destinam-se a mascarar os bailarinos, que são sempre homens, ainda que tenham máscaras de mulher. “Segundo a crença popular, os mascarados são espíritos.” (REDINHA, 1975, p. 233) Para além da máscara os bailarinos usam trajes justos, criados a O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
partir de algodão, ráfia ou outras fibras (tecelagem). Sobre a importância da escultura no contexto atual, Redinha escreve: “A confecção de máscaras mantém-se frequente em Angola, porque assim o reclama o espectáculo folclórico ainda muito vivo, nas zonas mais conservadoras. Não deixa no entanto a máscara de ir decaindo na sua classe artística (à semelhança do que se verifica com a escultura em geral e por toda a parte)” (REDINHA, 1975, p. 242)” Para além das máscaras, os instrumentos musicais também são criados através da escultura em madeira. Sobre estes, sabe-se que predominavam os de precursão, o que afirma o ritmo como elemento fundamental da música africana. Para a construção dos instrumentos o construtor revela vários conhecimentos técnicos: “a simplicidade dos materiais; os hábeis mecanismos de produção das vibrações; a utilização precisa de membranas vibratórias; a proporção conveniente das caixas de ressonâncias; a bem calculada abertura dos instrumentos de boca; a aplicação das bandas de tensão para asseguramento do timbre; o alongamento dos pavilhões em favor da altura do som, etc.” (REDINHA, 1975, p. 244)
A pintura manifesta-se, em Angola, subdividida em vários tipos, de que a pintura corporal (onde os corpos são pintados como verdadeiras telas) e a pintura mural são os exemplos mais vastos e com maior importância na aplicação da cor. Sobre a pintura mural, José Redinha diz-nos que: “Esta pintura das paredes (...) caracteriza-se por um aspecto interessante que é o de constituir, muito mais do que qualquer outra manifestação artística angolana, uma arte desinteressada, realizando plenamente o princípio de arte pela arte.” (REDINHA, 1975, p. 208) Os pincéis são criados a partir de varas de madeira, as cascas de árvore são usadas como paletas e os motivos desenhados, “dada a natureza desinteressada, verdadeiramente lúdica desta manifestação artística, é vulgar as paredes mais expostas apresentarem-se sobrecarregadas de decorações e esboços figurativos.” (REDINHA, 1975, p. 211) Acrescenta ainda que: “Contrariamente ao que se dá com a escultura a gravura e outras modalidades artísticas, na pintura parietal não existe profissionalismo. É uma arte lúdica e espontânea, uma manifestação verdadeiramente popular. A pintura mural angolana define-se como uma síntese de cor, de luz e de ritmo, o que equivale a dizer que possui um carácter profundamente africano.” (REDINHA, 1975, p. 216)
Relativamente ao folclore angolano sabe-se que é extremamente rico em variedade e extende-se a grande parte do território de Angola. “Tentando a síntese, parece poderem extrair-se algumas coordenadas bem evidentes do folclore angolano, como sejam o enlevo da magia, a paixão do maravilhoso, a sedução do enigma dos mistérios naturais, um sentido sagrado da vida, a veneração animista,
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106. Tear vertical para tecidos de ráfia 107. Tecido de fibras de ráfia 108. Banco antropomorfo 109. Velha canoa 110. Máscara de madeira macia pintada 111. Instrumento mbungo 112. Xilofone curvo 113. Tatuagens quiocas 114. Jovem executando uma pintura na parede barreada de uma habitação 115. Pintura mural
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7. ESCALA DO EDIFÍCIO O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA o culto pela justiça, etc.” (REDINHA, 1975, p. 288) As etnias angolanas possuem também um valioso espólio de músicas e danças. Estas atividades integram o dia-a-dia de vários povos pelo que, as dificuldades quotidianas são exorcizadas através destas. Sobre a música, Redinha acrescenta: “A música angolana, como manifestação cultural, é credora da melhor atenção no que respeita o seu estudo etno-musical e musicológico. A salvaguarda deste interessante aspecto da cultura artística angolana, que dia a dia se vai transformando, recomenda não apenas a sua recolha folclórica, de que Angola já possuí valiosos documentários, mas também o seu estudo aprofundado e sistemático, cuja importância, inclusive, não se limita apenas à musicologia propriamente, pois subsidia em larga escala muitas particularidades de processo social, ao mesmo tempo que instrui sectores do maior interesse para o estudo da antrologia cultural.” (REDINHA, 1975, p. 260)
Existem quatro línguas faladas no território angolano, a banta, a boximane, a bosquímana e a língua portuguesa. A língua portuguesa é a única que conhece forma escrita, as três restantes são agrafas. A instrução, iniciada em meados do século XIX, permitiu a progressão da literatura angolana e, atualmente, são vários os escritores angolanos que se destacam tanto na prosa, poesia ou no jornalismo. Ainda assim, o acesso à literatura nacional é um privilégio de uma pequena minoria.
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Paulo Moreira - “licenciou-se em 2005 pela Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto. Desde 2010, é doutorando na Sir John Cass Faculty of Art, Architecture and Design, London Metropolitan University (onde concluíu Mestrado em 2009). Estagiou com Herzog & de Meuron em 2003/04 e estudou com Peter Zumthor na Accademia di architettura di Mendrisio em 2002/03. Foram-lhe atribuídas diversas Bolsas e Prémios, entre os quais o Prémio Novos Arquitectura em 2015 (Fundação Gulbenkian), o Prémio IHRU em 2014, o Prémio Távora em 2012 (Ordem dos Arquitectos - Secção Regional do Norte); a Bolsa de Doutoramento FCT em 2010 (Fundação para a Ciência e a Tecnologia); o Prize for Social Entrepreneurship em 2009 (The Cass School of Architecture, London Metropolitan University); e o Noel Hill Travel Award em 2009 (American Institute of Architects - UK Chapter).” in <http://www. paulomoreira.net/index.php?/about/bio/>
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As atividades culturais anteriormente referidas tiveram um papel preponderante entre os povos africanos. Atualmente é importante pensar no seu reaparecimento como forma de alcançar a identidade angolana. A capital angolana é cosmopolita e as raízes angolanas encontram-se perdidas ou, até mesmo, substituídas, ainda assim o “regresso da cultura” a Luanda pode impulsionar não só a curiosidade dos seus habitantes para a conhecer e aceitá-la como sua, como também, poderá ser dinamizador da indústria e consequentemente da economia local. O livro “Étnias e Culturas de Angola“ de José Redinha, base informativa para o conhecimento da cultura africana, refere, ao longo do livro, a importância do reaparecimento e preservação das actividades culturais no quotidiano dos angolanos. Para o presente trabalho, a cultura é vista como meio de pôr
O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
fim à desigualdade social. O retorno às origens, pode ser utilizado para relacionar os luandenses e levá-los a valorizar a sua própria cultura. Em anexo mostramos também as actividades desenvolvidas particularmente no musseque da Chicala, espólio fotográfico do arquiteto Paulo Moreira31, presente no seu site (http://www.chicala.org) e nos seus livros: “Xicala - História e Urbanidade de um Bairro de Luanda “ e “Chicala não é um Bairro Pequeno“, livros que suportaram a descrição do bairro da Chicala.
7.5. PROGRAMA E ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL
As atividades culturais enunciadas vão regrar o programa. A organização funcional é definida pela introdução das valências expositivas e valências demonstrativas. Ao longo da rampa circular existem plataformas de nível onde se desenvolvem os espaços destinados à demonstração das atividades culturais. Ao percorrer o espaço o visitante é convidado a criar objetos de foro cultural, que poderão ser expostos no próprio Centro Cultural. Existe uma interdependência entre todas as atividades culturais entre si e ainda entre estas e os espaços de exposição. Por exemplo, a tecelagem vai servir à dança tradicional ao criar as vestes; as máscaras criadas na área da escultura são utilizadas para o teatro. Existem quatro espaços, a que chamámos “espaços de exposição” são eles a biblioteca, o anfiteatro, o restaurante e a galeira/museu. Estes dependem das atividades culturais pois é na área destinada à criação das peças que surgem as peças para o museu; nas salas de dança, música e teatro são feitos os ensaios que serão apresentados no anfiteatro... Tal como mostrado no esquema seguinte:
RESTAURANTE
FOLCLORE ESPECIARIAS
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ANFITEATRO DANÇA
CAFÉ PESCAS
PRATOS E COPOS
CERÂMICA CESTARIA
TEATRO PINTURA MURAL
MÚSICA PINTURA CORPORAL
PINTURA
LITERATURA
MUSEU
TECELAGEM
VESTUÁRIO
CAFETARIA ESCULTURA
MÁSCARAS
BIBLIOTECA
MOBILIÁRIO
EMBARCAÇÕES
INSTRUMENTOS MUSICAIS
Os espaços articulam-se ao redor das rampas, como referido, e a interdependência destes, reforça a ideia de união que a forma circular possuí.
116. Conjunto de tocadores de xilofone 117. Grande dança em roda 118. Dança acrobática 119. Esquema de interligação dos espaços do programa O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
7. ESCALA DO EDIFÍCIO O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA 7.6. SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS
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“A arquitectura angolana, na sua perspectiva pretérita ou tradicional e nas suas formas presentes, aculturadas, empregou e emprega, quanto a materiais, madeiras frustes e aparelhadas, colmo, pedra, argila crua e cozida (adobe, tijolo e telha) alvenaria e cimento“ (REDINHA, 1975, p. 164) Tendo em conta, os materiais locais, a tradição e, na tentativa de utilizar as ferramentas do passado com uma visão modernista, referimos as soluções construtivas aplicadas ao edificiado: O edifício é composto por duas peles que o revestem: a cobertura e o brise-soleil (ou cobogos). A cobertura encontra-se elevada do edifício (de modo a que seja obtida a ventilação necessária), e não se cinge só à implantação do edifício, esta avança no sentido exterior, de modo a sombrear não só o interior deste, mas também o espaço exterior imediatamente adjacente. Esta possuí duas camadas: uma exterior, que reflete a radiação solar e sombreia a camada interior que evita a passagem do calor para o interior. Dado que as fachadas necessitam de sombreamento diferente consoante a sua orientação solar e, usufruindo o edifício de planta circular, o desenho dos brise-soleil (dispositivos fixos de sombreamento) está dimensionado a partir dos estudos sobre a incidência solar: a proximidade entre ripas e o número destas aumenta ou diminui consoante a necessidade de sombra. Os brise-soleils são peças pré-fabricadas em cimento e estão suspensos, prendendo-se somente aos pilares estruturais. parede exterior - blocos de cimento
rampas - estrutura metática
pilares - betão
Sobre a estrutura, podemos afirmar que existem duas estruturas construtivas independentes entre si: a estrutura da rampa (leve) e a estrutura do edifício, propriamente dito (pesada). Relativamente à rampa, esta possuí estrutura metálica, à semelhança da rampa do Museu da Memória do arquiteto Alberto Campo Baeza. Como descrito anteriormente é a partir da rampa que se acede a todos os espaços do edifício. Ainda assim, a rampa do Museu da Memória, cinge-se ao pátio enquanto a rampa aqui criada, circula tanto no circulo interior como no circulo exterior do edificado. Em contraste à frágil estrutura da rampa, que circunda as O EQUIPAMENTO COMO MOTOR DE REGENERAÇÃO URBANA DA CIDADE DE LUANDA
plataformas onde se desenvolvem as atividades culturais, surge a estrutura do edifício, composto por uma estrutura de laje, pilar e viga em betão. As plataformas são espaços delimitados somente por guardas metálicas. As paredes, quando existentes, têm como função a divisão de áreas e não a delimitação dos limites do edifício, assim, a ventilação é feita sem recurso a meios mecânicos, pois o ar circula livremente. Quando existentes, as paredes são compostas por blocos de cimento, e quando utilizado vidro, optámos pelo vidro simples, visto ser mais eficiente neste tipo de clima. Deste modo, o edifício assume-se como um espaço exterior coberto em seu redor. Interessa também referir que este, se encontra elevado do chão, de modo a que a laje do solo não sobreaqueça e permitindo a circulação do ar sob a laje. A zona adjacente à sua construção é arrelvada de modo a atenuar a temperatura no interior do edifício pois, como referido, a vegetação é um dos mecanismos mais eficazes na redução da radiação solar. O próprio edifício é produtor dos recursos que consome: dadas as 8 horas de sol diárias e devido à aplicação de coletores solares na cobertura, este não necessita de recorrer a uma rede elétrica externa para iluminar o seu interior. A rede de águas também é fechada e resulta do reaproveitamento das águas pluviais através da definição de um percurso de água que conclui em várias cisternas. 79
120. Cobogos 121. Detalhe Construtivo 122. Corte explicativo do projeto 123. Museu da Memória - Baeza 124. Ambiente Galeria O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
125. Musseque - Luanda
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ESCALA HUMANA
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ESCALA HUMANA
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho propôs a criação de um plano urbano para a zona da Chicala (em Luanda, Angola) e, como base neste, o desenvolvimento de um equipamento sustentável. Após o processo de reflexão maturada que inclui um estudo intensivo sobre a história de Angola, da cidade de Luanda e do Bairro da Chicala, pretendeu-se, como descrito na introdução, aprofundar a viabilidade das soluções apresentadas ao contexto atual. Deste olhar ao passado (descrito nos capítulos da “Escala do País” e “Escala da Cidade”) resultou uma apropriação das questões levantadas por vários autores, arquitetos e urbanistas com o intuito de as solucionar e de as aplicar no tempo presente. Assim, a primeira conclusão que retiramos é que a própria dimensão prática é a resposta à dimensão teórica. Que, após o estudo da história, urbanismo, clima e se ter conhecido a situação atual a nível social, económico e político da cidade, o edifício pretende surgir como a resposta adequada aos problemas vigentes.
in <https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura>
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Através da aplicação da máxima: “Pensar global, agir local”, o plano urbano e o edifício tinham como objetivos: serem dinamizadores das relações interpessoais que a cidade deve proporcionar e promoverem a inclusão social, como espaço democrático que a cidade deve ser. Não obstante, será que o edifício criado é realmente susten-
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tável? A sustentabilidade, como definido no primeiro capítulo, é fruto da junção de três preocupações (ambiental, económica e social). Enquanto a preocupação ambiental resulta no estudo do clima e na aplicação dos princípios bioclimáticos e a preocupação económica é solucionada quando o edifício se torna uma fonte de rendimento, como é que a nível social, sendo este problema, aparentemente, exógeno ao edifício, poderá, o próprio, responder positivamente? O edifício criado vai elevar as atividades culturais desempenhadas por vários grupos sociais a estatuto museológico, valorizando-as, dignificando-as, dando-lhes visibilidade e alcance. Se pensarmos que, segundo o antropólogo Edward B. Tylor, a Cultura é: “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”32, então a dimensão social é endógena ao edifício. Tylor, define ainda Cultura como a expressão da totalidade da vida social do homem, adotando o seu raciocínio, a cultura (intenção para a qual o equipamento foi criado) é, em si própria, uma atividade social e, por isso, o edifício ao dinamizar as atividades culturais, utilizando como ferramenta a aculturação, gera relações socioculturais. Em resposta à questão acima, sim, o edifício é sustentável pois, a cultura é apresentada como meio para o término dos problemas sociais na cidade de Luanda. Dito isto, a nível de futuro, espera-se que, se todos os edifícios, posteriormente construídos, tiverem como base as premissas iniciais deste então, sim, existirão vários edifícios sustentáveis e Luanda terá, desse modo, um desenvolvimento sustentável. Se tal se verificar, o edifício será, indubitavelmente, o motor desta regeneração; a charneira para este desenvolvimento; a porta de entrada para um novo paradigma.
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A nível futuro, pretende-se prosseguir a investigação e preencher a lacuna relativa ao período pós-moderno até à atualidade da cidade de Luanda. Procurar-se-á também visitar o local e, deseja-se ainda, que este trabalho ganhe força e, se possível, outro formato e dimensão e que se torne, deste modo, uma das bases para próximas investigações.
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O presente documento é composto por 20 636 palavras no corpo de texto e foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico. O CENTRO CULTURAL SUSTENTÁVEL DE LUANDA
126. Luanda, Entre o Lixo e o Luxo
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