ESCOLA AMIGA_Moçambique

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PROJECTO ESCOLA AMIGA PESQUISA | ANÁLISE | PROJECTO [MOÇAMBIQUE]

PROJECTO ESCOLA AMIGA


Um projecto nasce de pessoas, daquilo que são, das suas experiências, do que valorizam, do que perseguem, do que precisam. Um projecto nasce num lugar, no seio de uma terra, de uma cultura, de uma sociedade, de uma comunidade. Um projecto faz-se de ideias, imaginação e pesquisa, na mistura de experiências, encontro com pré-existências, cruzamento de referências e resposta às necessidades. Uma obra cria-se com essas ideias e ferramentas. Uma obra cria-se com materiais e técnicas, com vontade e perseverança. Pondo pés ao caminho, mãos à obra, para construir aquilo que alguém, algum dia, ousou sonhar. Para melhorar a vida de outro alguém.

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experiências moçambique proposta de arquitectura referências educação PROJECTO ESCOLA AMIGA


experiências moçambique proposta de arquitectura referências educação PROJECTO ESCOLA AMIGA


Um elemento, pelo menos, une os quatro elementos do nosso grupo: a arquitectura. Poderia ser só, mas não é. Percebemos que o desejo de fazer da arquitectura um instrumento de construção de um mundo melhor, é sem dúvida outra característica comum às quatro, pelas experiências que fomos tendo, pelas vontades que vão inevitavelmente surgindo. Acreditamos que o arquitecto é um constante visitante na sua própria cidade, e um visitante quase missionário na cidade dos outros. Na sua cidade, de forma quase espontânea, interroga-se, interroga, pesquisa, incomoda-se, incomoda, descreve, imagina, aponta, utiliza, projecta, finalmente constrói e questiona sempre. Na cidade dos outros, o arquitecto demora-se mais (e mais do que os outros?) ou deveria demorar-se. O contexto em que se insere, qualquer que seja esta cidade que não é a dele, constitui surpresa, provoca estranheza, perturbação, sobressalto. Porque não é dele, porque é diferente, porque se vai fazendo de cadências diversas e movimentos desconhecidos. Se para qualquer utilizador de cidade nova, a curiosidade consciente alimenta o caminho, para um arquitecto, o registo é quase instintivamente fotográfico. A atenção desdobra-se, em terras distantes. Os detalhes são muitos, sugestivos e tão diferentes, que se torna praticamente impossível para ele, entregar-se às suas tarefas diárias (eventualmente efémeras e pontuais), sem se encantar verdadeiramente com tudo o que o rodeia.

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Se tiver oportunidade (e tempo) para se inculturar, vivendo de acordo com o que vê fazer, com o que aprende, com o que a experiência e o bom senso foi transformando em lei nos bairros pobres, familiarizase com o embasamento urbano de pó, entalado contra o mato verde e seco, as estradas estreitas encharcadas de gente, os ruídos da chuva de monções. Se tiver oportunidade de viver em casas simples, de telhado de madeira e zinco, de paredes de terra e cimento, que desenham os bairros pobres, acostuma-se aos banhos de balde, que sacodem a terra e demoram o quotidiano, às redes mosquiteiras, que decoram a casa e adiam doenças, aos gritos das crianças, que trepam aos telhados para trincar gratuitamente mangas maduras. Se o arquitecto tiver oportunidade de conviver com um habitante local, o morador das casas simples, as que edificam os bairros pobres, e de o observar em cumprimento das suas tarefas diárias (tantas vezes repetidas), comove-se com a simplicidade dos gestos, suprimidos de vícios, livres de palavras desnecessárias e gastas, de pensamentos frustrados e sós. Jornadeando com ele, acompanha o caminhar lento, o passo comprido, sábio e satisfeito do que, ao contrário de si, parece ter todo o tempo do mundo. Se o arquitecto tiver oportunidade, de brincar com as crianças, as que vivem descalças e felizes nas ruas do bairro, descendentes do habitante local, o morador da casa simples, a que edifica os bairros pobres, aprende a saltar nos pneus velhos do recreio inventado e fingido, a viver à margem do frenesim de carros, motos, bicicletas, boleias, vendedores ambulantes, galinhas, porcos e vacas. O mundo é um só e está todo ali. O espaço é livre, solto, carregado de cheiros abafados, densos e irrespiráveis.

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Foi pensado para ser assim, para se deixar construir, pintar, enredar, cobrir, ser. Há terras a perder de vista, montes verdes e crus a rondar as favelas urbanas, mares azuis e vigilantes a apertar a terra e os povos. Referências, texturas, argumentos, tecidos, indícios, CONTEXTO. Então, o arquitecto compreende e entrega-se à cidade desconhecida, fotografa os espaços do quotidiano, cenários reais, baratos e felizes, seguros e livres, febris e ricos, desconcertantes. Através da experiência directa (mais ou menos alargada), da observação e contemplação da vida dos povos, entre outros, adquirem-se as ferramentas que lhe permitem o uso consciente, equilibrado e racional dos recursos locais. A arquitectura torna-se uma disciplina conhecedora do Homem no seu meio, para poder tornar-se integradora do Homem no seu meio. Que no fim, o arquitecto tenha sido apenas mais um instrumento, fazedor de tempo, simples contador das histórias de cada um. Que seja apenas mais um, e que nunca se gabe de o ter sido.

*o conteúdo deste capítulo completa-se com a visualização do filme em anexo.

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JOANA MARQUES

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JOANA SIMÕES

ANDREIA CUNHA

MÁRCIA OLIVEIRA


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ANÁLISE FÍSICA DO TERRITÓRIO Moçambique é um país situado na costa oriental da África Austral, com uma superfície de 801.590km2. Faz fronteira com seis países africanos - Tanzânia, Malawi e Zâmbia a norte; Zimbabué e Africa do Sul a oeste e a sul a Suazilândia e Africa do sul novamente - e é banhado pelo Índico, assumindo assim uma posição estratégica desde o âmbito comercial ao turístico. A sua organização territorial é feita através de 11 províncias maioritariamente caracterizadas por superfícies planas. Este país é ainda banhado por grandes rios como Zambezi, Limpopo e Save. Mapa com a localização de Moçambique no continente africano.

TIPO DE TERRENO “A constituição do solo de Moçambique é variável. Na parte meridional é arenoso, avermelhado ou branco, excepto nos vales dos rios, onde se encontram terras de aluvião. Na zona central a terra é escura, argilosa e por vezes pantanosa. A região de Tete interior é bastante quente, tem bom solo e é também rica sob o ponto de vista mineral, já que nela se encontram minas de carvão. Na região de Nampula, o solo, nos intervalos das formações montanhosas, é leve e escuro, bastante fértil. Na região mais a Norte e até à fronteira da Tanzânia, aparecem de novo as areias coradas de vermelho pelo óxido de ferro que contém”. (OLIVEIRA, Márcia: Mãos à terra – Habitação de baixo custo em Moçambique, “Kuyaka para Hikwenro”, Universidade do Porto, 2006)

Mapa geográfico de Moçambique.

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“O relevo de Moçambique, pode ser dividido em quatro regiões principais, conforme as médias de latitude que se apresentam. A zona litoral (até 200 m) abrange quase toda a metade da área do país; a zona montanhosa (1000 a 2500) ocupa aproximadamente 10% do território Moçambicano. As duas restantes zonas correspondem aos planaltos médios (200 a 600 m). De um modo geral, o território Moçambicano dispõe-se em anfiteatro sobre o Índico, sendo que, as formações montanhosas vão perdendo a sua altitude à medida que se aproximam da costa.” (OLIVEIRA, Márcia: Mãos à terra – Habitação de baixo custo em Moçambique, “Kuyaka para Hikwenro”, Universidade do Porto, 2006)

CLIMA “O clima em Moçambique, influenciado pelas monções do Oceano Índico e pela corrente quente do Canal de Moçambique, é de uma maneira geral, tropical e quente, variando, conforme as regiões, entre clima sub-húmido seco e semi-árido. As temperaturas médias anuais variam entre 20°C no Sul e 26°C no Norte (22.5°C em Maputo, 24.1°C na Beira, 18.4°C em Vila Cabral), sendo os valores mais elevados durante a época das chuvas. Os valores médios anuais de humidade (RH%) são, em geral, relativamente elevados, situando-se entre os 65% (época seca) e 75% (época quente e húmida)”. (Arquitectura Sustentável em Moçambique – Manual de Boas Práticas, CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)

Distribuição por zonas de Aridez (segundo a World Meteorological Organization WMO).

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Podem distinguir-se duas épocas relativamente à temperatura e humidade deste país, formando assim, apenas duas estações do ano


com características específicas. A época seca e fria varia entre os meses de Abril a Outubro, e a quente e húmida com chuvas, desde Outubro a Março. Durante a estação chuvosa, os ventos dominantes são do Nordeste na metade norte, e do Sul na parte sul do país. “Apesar de apresentar um clima tropical quente na generalidade, Moçambique, apresenta também uma série de variações regionais, em virtude de factores locais como a altitude, proximidade do litoral e latitude. A região norte está submetida à Influência das baixas pressões equatoriais enquanto o sul é afectado por anticiclones tropicais e pela existência de correntes quentes do canal de Moçambique”. (Arquitectura Sustentável em Moçambique – Manual de Boas Práticas, CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)

Tendo em conta estas condicionantes geográficas podem evidenciarse, então, três zonas climáticas no território: I. Norte e Centro: clima de monção, com uma estação seca de quatro a seis meses; II. Sul: Clima mais seco, com uma estação seca de seis a nove meses; III. Zonas de montanha: clima tropical de altitude.

Distribuição por zonas de Aridez (segundo a World Meteorological Organization WMO).

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No que respeita aos níveis de precipitação, estes ultrapassam os 800 milímetros anuais na maior parte do país, à excepção das regiões interiores da costa meridional e parte da depressão do baixo Zambebe, onde os valores rondam os 400 a 600 milímetros.


O maior nível de precipitação regista-se nas escarpas de Manica e de Sofala e nos maciços montanhosos dos territórios elevados de Namuli, onde são atingidos os 2.000 milímetros. ORIENTAÇÃO SOLAR “A selecção do lugar, a forma e a orientação do edifício são as primeiras opções a considerar para a optimização da exposição ao trajecto solar e aos ventos dominantes. Num clima quente como o de Moçambique, é essencial que (…) tenha em consideração o regime de ventos, para uma ventilação eficiente, e consequente melhoria do conforto (…). Nas regiões montanhosas, as habitações devem ser implantadas nas zonas mais baixas da montanha e acima do leito das ribeiras, onde circula mais o ar. Deve privilegiar-se o lado da encosta que beneficia de mais horas de sombra. No litoral, as fachadas voltadas para o mar devem ser protegidas por alpendres de dimensões generosas, para diminuir o impacto do reflexo do sol sobre o mar no interior das habitações. Os arranjos exteriores são essenciais para proteger o interior dos ganhos solares excessivos”. (Arquitectura Sustentável em Moçambique – Manual de Boas Práticas, CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)

Esquema representativo.

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A insolação das fachadas é definida logo no processo do desenho da implantação do edifício e é decisiva no conforto dos espaços interiores. Em regiões do hemisfério Sul, e onde a questão do sobreaquecimento é prioritária, como no caso de Moçambique, a melhor orientação é a Norte, sendo contudo aceitável uma variação


até 45º (entre Nordeste e Noroeste). O dimensionamento das áreas envidraçadas deve ser compatibilizado com a orientação da fachada. Os alçados orientados a Poente devem ser protegidos para não haver radiação solar excessiva. “Deve ser tida em conta a direcção dos ventos dominantes para que quando soprem não arrastem os cheiros e o calor. A optimização da orientação e da área passiva contribuem para evitar situações de sobreaquecimento, sendo o primeiro passo para a promoção de estratégias de protecção e dissipação do calor. As técnicas de protecção ao calor como o sombreamento, o dimensionamento das janelas, o revestimento reflexivo da envolvente, ou o isolamento oferecem protecção térmica contra a penetração de ganhos de calor indesejáveis para o interior do edifício e minimizam os ganhos internos”. (OLIVEIRA, Márcia: Mãos à terra – Habitação de baixo custo em Moçambique, “Kuyaka para Hikwenro”, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2006)

Num contexto físico em que o calor impera, ainda que esteja muitas vezes associado a chuvas fortes, a ventilação e o conforto térmico dentro dos edifícios são temas fundamentais aquando da elaboração de qualquer projecto de arquitectura para este território. Mas esta preocupação não deve apenas cingir-se aos espaços interiores. O desenho do espaço público assume a mesma preponderância no controlo ambiental dos espaços exteriores assim como dos que estão intra-muros, uma vez que se o ambiente externo é quente e sem qualquer brisa, a temperatura e qualidade térmica dos espaços interiores será agravada. Ruas e espaços de estar bem ventilados e

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controlados a nível térmico, através de técnicas que optimizam a circulação de ar, constroem uma transição salubre. Deste modo, as ruas devem ser estreitas e orientadas de modo a que pelo menos um dos seus lados tenha sempre sombra. Em Moçambique, os elementos de sombreamento são da maior importância, como se pôde aferir nas afirmações anteriores. Estes devem estar presentes nas áreas de envidraçado e paredes exteriores, de forma a evitar situações de sobreaquecimento e promovendo o conforto térmico no interior dos compartimentos. Estes elementos podem ser tectónicos – palas ou alpendres – elementos vegetais ou ainda elementos mistos. Os elementos vegetais junto a fachadas ou mesmo o revestimento de fachadas com elementos vegetais aumentam o conforto interior e funcionam como um filtro dos raios solares. Em zonas urbanas deverá ainda ser estudado o impacto dos raios solares nos telhados e nas fachadas dos edifícios. Estes factores podem também interferir na qualidade dos ambientes externos e internos, deteriorando e condicionando a circulação de ar fresco entre os edifícios ou por outro lado promover uma melhor qualidade do ar. A ventilação assume, como já se pôde verificar, um papel fundamental no contexto construtivo em Moçambique, devendo privilegiar-se soluções que optimizem a circulação do ar. O recurso ao pátio é um exemplo de uma das medidas a adoptar. É eficiente, em contexto habitacional, de trabalho ou de lazer, em espaços públicos ou privados. Utilização do “brise soleil” para sombreamento da fachada, num edifício da autoria do arq. Pancho Guedes em Maputo.

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“Em termos de forma do edifício, a configuração e o arranjo dos espaços internos, de acordo com a função, influenciam a exposição à radiação solar incidente, bem como a disponibilidade de ventilação e iluminação natural. Em geral, um edifício compacto terá uma superfície de exposição relativamente pequena, ou seja, um baixo rácio superfície/volume. Para as pequenas e médias construções, esta situação oferece vantagens para o controlo de trocas de calor através da envolvente do edifício – devendo contudo este oferecer sempre uma área de exposição de aberturas suficientemente ampla para potenciar a ventilação natura”. (Arquitectura Sustentável em Moçambique – Manual de Boas Práticas, CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) Tipos de “brise soleil” para sombreamento de vãos.

Exemplo do desempenho do uso de dois tipos de vegetação para afastar os raios solares em contraponto à incidência directa na casa, apenas controlados por uma pala.

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O sombreamento é uma estratégia muito eficaz para reduzir a penetração da radiação solar no edifício, oferecendo protecção às áreas de envidraçado (janelas), e também à envolvente opaca. Os ganhos de calor através das janelas podem ser muito significativos, visto que estas têm muito pouca resistência à transferência de calor radiante. Em regiões quentes, um edifício bem sombreado pode ser entre 4°C a 12°C mais fresco do que um sem sombra. O sombreamento da envolvente opaca do edifício pode ser feito por dispositivos fixos de sombreamento, pela vegetação, ou através de dispositivos ajustáveis. As paredes devem, quando possível, ter isolamento e ser suficientemente maciças para retardar a penetração de calor de dia e o frio à noite.


As Técnicas de dissipação do calor maximizam as perdas do calor que se acumulou no interior do edifício, dissipando-o através de ventilação natural e inércia térmica, evaporação, radiação, ou de um “poço de calor” como o solo. A utilização destas técnicas evita o sobreaquecimento, conduzindo os valores da temperatura interior a níveis próximos da temperatura do ar exterior, ou mesmo abaixo destes. Sublinha-se que para o real entendimento de todas as estratégias para melhor construir no território Moçambicano é essencial a leitura e análise integral do Manual de Boas Práticas, CPLP, assim como da secção relativa a Trópicos Húmidos, do Manual do Arquitecto Descalço, ambos identificados na bibliografia deste dossier.

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Quadros que mostram estratégias de sombreamento - Arquitectura Sustentável em Moçambique – Manual de Boas Práticas, CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

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PAÍS COM INTENSIDADE SÍSMICA “Em Moçambique a preocupação com o risco sísmico era bastante reduzida, se não até nula, até aos abalos verificados em Fevereiro de 2006. Esta atitude é compreensível se tivermos em conta a guerra civil que durou cerca de 15 anos, e resultou na perda de pelo menos 100 000 vidas e no deslocamento de cerca de 30% da população; que o índice de incidência do HIV/SIDA é de 12,2%; e que as cheias, a maior calamidade natural que assola o país, resultaram, no ano 2000, na região Sul do país, em 700 mortes e afectaram cerca de 1,5 milhões de pessoas, e que um ano depois, mais a norte, levaram ao deslocamento de 230 000 pessoas. Adicione-se ainda o facto de que após um período de cheias vem normalmente um período de seca, que é agravado pela retenção das águas dos rios em barragens nos países do interior do continente. É, deste modo, compreensível que o risco de ocorrência sísmica não fosse uma preocupação prioritária para o país.” (MERCÊS E SOUSA, Paulo Jorge: AVALIAÇÃO DE PERIGOSIDADE SÍSMICA E SEGURANÇA ESTRUTURAL EM MOÇAMBIQUE: OS CASOS DA BEIRA E DO CHIMOIO, FEUP, Setembro de 2006)

No entanto, após o sismo que teve lugar no ano 2006 o problema foi reavivado e foram comprovados os riscos que este tipo de situação acarreta. É discutível se na presença de tantos outros problemas mais urgentes, a avaliação deste risco será encarada com alguma prioridade. Ainda assim, seria irresponsável da parte de projectistas e construtores continuar a projectar e a construir negligenciando a hipótese de ocorrência de um sismo .

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ENQUADRAMENTO TECTÓNICO Moçambique localiza-se na margem oriental da Placa Africana, na extremidade sul do Rift da África Oriental, que marca a fronteira entre as duas partes da placa Africana que se encontram em separação, a Placa Núbia e a Placa Somáli, e estende-se ao longo de mais de 3 000 km (desde o Golfo de Aden no Norte a Moçambique no Sul).

Subdivisão da Placa Africana em zonas sísmicas e blocos assísmicos.

“De acordo com Hartnady (2002) as duas maiores cidades Moçambicanas (Maputo e Beira) encontram-se em zonas de considerável risco sísmico. Hartnady (2002) sugere que a cidade da Beira se encontra próxima da estrutura Urema Graben (que é um segmento da fronteira entre a placa Núbia e a placa do Rovuma) e que Maputo se encontra na junção tripla entre as placas Núbia, Rovuma e Somáli.” (MERCÊS E SOUSA, Paulo Jorge: AVALIAÇÃO DE PERIGOSIDADE SÍSMICA E SEGURANÇA ESTRUTURAL EM MOÇAMBIQUE: OS CASOS DA BEIRA E DO CHIMOIO, FEUP, Setembro de 2006)

“Foram registados desde 1973, cerca de 190 abalos sísmicos em todo o território, 50 % dos quais tiveram magnitudes superiores a 4,0, e pelo menos 15 foram de magnitude igual ou superior a 5,0 o que “de acordo com Clough e Penzien (1995) é o limite inferior para que se produzam movimentos de terra com potencial para causar danos estruturais .” (MERCÊS E SOUSA, Paulo Jorge: AVALIAÇÃO DE PERIGOSIDADE SÍSMICA E SEGURANÇA ESTRUTURAL EM MOÇAMBIQUE: OS CASOS DA BEIRA E DO CHIMOIO, FEUP, Setembro de 2006)

Toda a actividade sísmica registada em Moçambique pode ser caracterizada como sendo superficial, uma vez que os focos de 150

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dos abalos assinalados foram registados a profundidades inferiores a 10 km, não tendo nenhum dos restantes, profundidades superiores a 33 km. O maior sismo registado em território Moçambicano foi o de 22 de Fevereiro de 2006, no distrito de Machaze no Sul da província de Manica, com uma magnitude (MW) de 7,0. Na tabela da página seguinte, encontram-se registados os abalos sísmicos com magnitudes iguais ou superiores a 5,0 registados em Moçambique entre 1973 e Dezembro de 2006. Desde Fevereiro de 2006 verificou-se uma diminuição da actividade sísmica no centro de Moçambique. No entanto, praticamente 40% dos sismos registados desde 1973 foram verificados ao longo de 2006. Talvez por se considerar que em Moçambique o risco sísmico é muito reduzido e como também já foi identificado, por não faltarem muitas outras questões consideradas preocupantes que se verificaram e se verificam na actualidade, como outras catástrofes naturais mais devastadoras, não existe ainda no país, regulamentação específica para o dimensionamento sísmico.

Distribuição da actividade sísmica (representação de epicentros) em território Moçambicano, entre 1973 e Setembro de 2006.

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“Segundo informação do Ministério das Obras Públicas e Habitação (MOPH) da República de Moçambique o regulamento recomendado para o dimensionamento de estruturas em betão armado é o Regulamento de Estruturas de Betão Armado de 1987 e para o dimensionamento de estruturas metálicas/mistas é o Regulamento de Estruturas de Aço para Edifícios (REAE, 1986).


Tabela com a representação dos abalos sísmicos com magnitudes iguais ou superiores a 5,0, registados em Moçambique entre 1973 e Dezembro de 2006.

A quantificação de acções estáticas deve feita com base no Regulamento de Segurança de Edifícios e Pontes de 1977. Dada a inexistência de dois dos regulamentos referidos assumese que ocorreu um erro na transmissão da informação do MOPH, erro cuja verificação não foi possível, em relação a alguns dos regulamentos. A referência ao Regulamento de Estruturas de Betão Armado de 1987 é provavelmente uma referência ao Regulamento de Estruturas de Betão Armado (REBA, 1967) ou ao Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado (REBAP, 1983), assim como a referência ao Regulamento de Segurança de Edifícios e Pontes de 1977 é provavelmente uma referência ao Regulamento de Solicitações em Edifícios e Pontes (RSEP, 1961) ou ao Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes (RSA, 1983). Os regulamentos mencionados são versões integrais dos regulamentos portugueses com o mesmo nome, não havendo adaptação nenhuma (em particular para a quantificação de acções) para a realidade Moçambicana”. (MERCÊS E SOUSA, Paulo Jorge: AVALIAÇÃO DE PERIGOSIDADE SÍSMICA E SEGURANÇA ESTRUTURAL EM MOÇAMBIQUE: OS CASOS DA BEIRA E DO CHIMOIO, FEUP, Setembro de 2006)

CONTEXTO SOCIAL “Os Africanos são um entrançar de muitos povos. A cultura africana não é única mas uma rede multicultural em contínua construção. Os teóricos e analistas afligem-se com esta indefinição. Estão apressados em balizar a africanidade. Habituados ao retrato fácil, à revelação instantânea do discurso mais ideológico do que científico,

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eles acabam frustados. Mas é exactamente nessa indefinição que pode estar uma das maiores riquezas do continente. Porque esta falta de retrato obriga à procura, a resolver conceitos, a interrogar dogmas. Os africanos estão nessa situação de fronteira: ao aceitarem a sua identidade como sendo múltipla, mestiça e dinâmica eles tem a possibilidade de se reinventarem e não se perderem em ilúsórias viagens à «essência» da sua identidade.” (Mia Couto, in Pensatempos textos de opinião)

Moçambique tem melhorado a sua imagem face à comunidade internacional, através do melhoramento do seu desempenho macroeconómico, dos avanços na redução da pobreza, e dos mais de dez anos de constante crescimento económico. No entanto, o modelo de desenvolvimento económico adoptado pelo seu governo não agrada a todos. Tendo sido reconhecida a importância da redução dos níveis de pobreza (a qual, contudo, continua a afligir mais da metade dos moçambicanos), há no entanto, vários analistas que ressaltam que: “A maioria dos benefícios gerados pelo crescimento económico tem sido capturada por poucos, o que tem conduzido ao aumento na desigualdade de renda e riqueza entre os moçambicanos ”. (AfriMAP e Open Society Initiative for Southern Africa: Moçambique - Democracia e Participação Política, Open Society Institute Network, 2009)

Por outro lado mantêm-se ainda as diferenças regionais e a desconexão entre os diversos sectores da economia, factos que segundo os mesmos analistas, continuam a afectar a economia moçambicana. Infoteca - Missão dos Leigos para o Desenvolvimento | Cuamba

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“Estas desigualdades e desequilíbrios proporcionam situações injustas, com vantagens a certas pessoas em virtude da sua classe social ou região de nascimento, podendo ainda fomentar preconceitos e, inclusive, práticas discriminatórias contra moçambicanos de certas regiões e classes sociais. Às desigualdades de género e às dificuldades económicas somam-se problemas educacionais, os quais têm afectado de sobremaneira o exercício da cidadania. As taxas de analfabetismo no país continuam bastante altas: de acordo com os dados do Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano 2007, 53.6% da população era analfabeta em 2006 (64,5% das mulheres e 32,1% dos homens), 6,9% possuíam ensino secundário (8,2% homens, 5,6% mulheres), e apenas 0,3% da população possuía ensino superior (0,5% homens, 0,2% mulheres) ”. (AfriMAP e Open Infoteca - Missão dos Leigos para o Desenvolvimento | Cuamba

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Society Initiative for Southern Africa: Moçambique - Democracia e Participação Política, Open Society Institute Network, 2009)

Desta forma a pobreza generalizada, a distribuição desigual da riqueza, os baixos níveis de educação e as desigualdades de género, mostram que é fundamental reconhecer que, apesar da existência de direitos civis, políticos, sociais e económicos previstos na Constituição, a efectiva participação política e o exercício de direitos de cidadania por parte de grande percentagem da população não são, em grande parte aplicados. “Não obstante estas dificuldades, o país tem observado melhorias em diversos sectores nos últimos anos, e há algumas tendências positivas: a abertura de novos canais de interacção entre o Governo e os cidadãos, como a série de reformas ao nível local (desconcentração e descentralização) e a instituição dos Observatórios da Pobreza (actualmente denominados Observatórios do Desenvolvimento),


pode facilitar o envolvimento de cidadãos em assuntos públicos e atenuar os problemas acima mencionado”. (AfriMAP e Open Society

Initiative for Southern Africa: Moçambique - Democracia e Participação Política, Open Society Institute Network, 2009)

Como base para o entendimento da realidade social moçambicana utilizamos, ainda, o testemunho de um dos nossos membros da equipa, a arquitecta Márcia Oliveira, que trabalhou nos últimos 6 meses em Moçambique, onde teve a oportunidade de coordenar o projecto de Assentamento Rural financiado pela empresa Nestlé, no centro do país, mais especificamente no Dondo, província de Sofala. Segundo a própria: “Esta experiência revelou-se e continua a mostrar-se muito compensadora. Possibilitou-me recolher varias informações e experiências directas na interacção com as populações rurais locais, e isso permitiu ao nosso grupo de trabalho perceber de facto quais são as necessidades e temas mais sensíveis para a população”. Sublinhamos como principais preocupações da população:

Escola da missão - Missão dos Leigos para o Desenvolvimento | Fonte-Boa

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1) O acesso a água potável 2) Obtenção de Alimentos necessários para a sobrevivência diária. 3) Acesso à educação. 4) Acesso a postos de saúde. (A escola e o posto de saúde, devem localizar-se perto das áreas residenciais, ao contrário do que acontece actualmente em muitas comunidades, que obrigam os habitantes a percorrem distâncias muito grandes todos os dias.) 4) A necessidade de áreas de Machambas suficientes para cultivo dos seus próprios alimentos (cada família pode variar entre os 500


m2 a 4000 m2 de área de produção.) 5) Acesso a electricidade. 6) Habitação -Condições de habitabilidade das suas próprias casas. Mais de metade da população de todo o Moçambique, que vive em bairros informais em redor das cidades e vilas não tem condições higiénicas e o governo sente-se incapaz de melhorar as suas condições de habitabilidade ou de as mover para zonas com melhores condições. As principais fontes de hídricas do país são poços e furos de água, sendo que apenas 15.8% da população moçambicana utiliza água canalizada. Na área rural a percentagem de agregados familiares sem casa de banho ou que usam o mato é de 63% e os restantes usam latrinas. O saneamento em Moçambique é desta forma, o problema mais grave em todo o território. O método mais frequente é o uso da latrina, que funciona pelo método de decomposição, devido à inexistência de água canalizada. Com a alta densidade populacional, este sistema polui os lençóis de água que é o único recurso disponível. A ESCOLA E A COMUNIDADE

Papelaria - Missão dos Leigos para o Desenvolvimento | Fonte-Boa

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Sem querer entrar nas especificidades do projecto gostaríamos de salientar alguns pontos que considerámos pertinentes para a integração de uma escola Amiga / escola núcleo e ramificações da mesma. Quando pensamos em inserir uma escola na sociedade moçambicana,


esta deve estar associada de imediato à comunidade, ou aldeias envolventes. A família em Moçambique é um dos conceitos mais fortes, sendo que, a ideia de conjunto e a vida em comunidade assumem total preponderância na sua identidade como país. Geralmente todas as comunidades, maiores ou menores, possuem um líder comunitário, que por sua vez é o porta-voz das necessidades do seu povo. A voz do povo assume a maior importância e é respeitada por todos os Municípios. Moçambique introduziu a Lei de Direito de Uso e Aproveitamento das Terras, um conceito considerando “um meio universal de criação da riqueza e do bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo povo moçambicano.” (www.portaldogoverno.gov.mz) “Esta lei foi criada de forma a promover o desenvolvimento económico e, por outro lado, proteger os interesses das comunidades locais que vinham há gerações utilizando parcelas de terra sem uma base legal federal e estadual político-partidário,fundiario das terras ”. (www. portaldogoverno.gov.mz)

Assim sendo, a população não possui um registo da ocupação do seu talhão, mas também não se mostra preocupada. Pertence às suas tradições ancestrais. Em todos os actos e processos de intervenção, a população deve ser sempre consultada e deve sempre tornar-se num agente participativo, promovendo sempre o sentido de pertença e de identidade própria. A sua participação deve começar desde cedo na escolha do terreno para a implantação da escola (obviamente

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que a entidade responsável pelo projecto Escola Amiga propõe o local junto das entidades municipais conforme as premissas que a organização tem em mente, mas que posteriormente e após o aval do município, deverá por ultimo solicitar a confirmação da aceitação do terreno por parte da população. Assim como este tema muitos outros devem seguir esta estrutura.

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experiências moçambique proposta de arquitectura referências educação PROJECTO ESCOLA AMIGA


INTRODUÇÃO “Architecture can be a powerful instrument to affect social change. On a small scale, a well-designed school can positively influence individual learning and help childrento identify themselves as parts of a larger community.” (LEPIK, Andres, “Building on Society”, in Smal Scale Big Change)

A arquitectura bem sucedida não pode responder apenas a questões práticas e funcionais. É fundamental que surja, antes de mais, inserida no contexto que a envolve, de forma a que contribua para a sua integração, a todos os níveis, para que seja devidamente compreendida. Deverá constituir-se útil para a comunidade que serve (e para o público em geral) e ser bela, apelativa, uma referência estética, provocadora dos sentidos. A arquitectura bem sucedida responde a problemas específicos e localizados, porque se desenvolve para servir algum propósito, criar soluções, novos espaços para o homem e para as comunidades. No entanto, apela também à responsabilidade e criatividade dessa mesma comunidade. Integra, para que se torne efectivamente integradora. É, sem dúvida, da nossa responsabilidade enquanto arquitectas, o desenvolvimento motivador de uma arquitectura bem sucedida. No entanto, um projecto bem sucedido deverá ser algo mais abrangente. A componente social é por isso muito importante.

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Uma particularidade fundamental da arquitectura tradicional moçambicana, é o “construtor anónimo”, como característica generalizada na construção da arquitectura espontânea. Os construtores constroem conhecendo os materiais, a necessidade da colaboração, a ajuda mútua e o valor da solidariedade, construindo em qualquer lugar e perfeitamente adaptado ao ambiente do habitat. Esta é base de todos os povos, a construção da própria habitação. Em Moçambique “o camponês não precisa do arquitecto para produzir a arquitectura de que necessita e que constrói, tantas vezes, com qualidade excepcional.” (FORJAZ, José, “Arquitectura, Ambiente e Sobrevivência”, Maputo, Edição FAPF, 2005)

Partindo do exemplo das escolas, sendo que é o nosso objecto de estudo, para um projecto ser realmente apelativo e motivador (por exemplo) para as crianças, para de facto fazer a diferença, teremos de ir mais além do que o mero desenvolvimento formal e funcional do edificio. A análise terá que ter também em conta os projectos escolares, o método de ensino, e acima de tudo o bem-estar das crianças. As salas de aula, espaço onde passam uma grande parte do tempo, deverão garantir as condições mínimas de habitabilidade, evitando grande concentração de calor, de humidade, pouca luminosidade e proporcionando um ambiente saudável e feliz.

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“Estamos a viver um dos momentos mais significantes e perigosos da vida da humanidade na Terra. Somos, pela primeira vez na história do homem, conscientes da ameaça que as nossas próprias acções podem significar para a nossa sobrevivência no planeta e, ao mesmo tempo, estamos conscientes que a interdependência de todos os países e da humanidade é condição indispensável para essa sobrevivência.” (FORJAZ, José, “Arquitectura, Ambiente e Sobrevivência”, Maputo, Edição FAPF, 2005)

A forma como o equilíbrio do ecossistema tem sido posto em causa, tornou imprescindível adquirir consciência deste problema. A arquitectura em Moçambique deverá ser uma arquitectura de reduzidos gastos energéticos, uma arquitectura que vá de encontro aos recursos naturais locais. A sustentabilidade deverá convencionar uma arquitectura ecológica como forma de desenvolvimento do país, em que a utilização dos recursos locais permita uma maior independência de Moçambique relativamente ao resto do mundo.

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IMPLANTAÇÃO É proposto um lugar, Moçambique. Mas este lugar é grande, constituído por outros lugares mais pequenos e diversos. Não havendo precisão na escolha do local de implantação, a proposta procura adpatar-se a diversas condicionantes de projecto, dentro de fronteiras. Nesta questão foram tidas em conta as considerações explicitadas no anterior capítulo MOÇAMBIQUE, Orientação Solar.

Estudo da implantação de edifícios em 3 zonas distintas de Moçambique, segundo os critérios de orientação solar, ventos dominantes e ventilação dos espaços.

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PROGRAMA A Escola Central divide o programa em três zonas distintas e volumetricamente independentes, conectadas entre si através de uma plataforma paisagistica orgânica, dinâmica e simples, firmemente adaptada ao terreno e à utilização e tratamento de elementos vegetais dominantes. Estas três zonas constituem as três partes distintas do projecto: - o volume das salas e sanitários para as crianças (dois pisos); - um outro volume destinado ao espaço convívio (dois pisos), com uma ligação directa ao espaço desportivo coberto; - e um terceiro volume para a administração e serviços, balneários, cantina, cozinha e casa de apoio (um piso). Pontualmente, mas afastados deste núcleo principal de três volumes principais, encontram-se a casa dos professores, a horta pedagógica e as infra-estruturas para o sistema de água. As mini-escolas adoptam a mesma organização, sendo que se propõe a eliminação do volume administrativo, uma vez que como consequência da redução do programa, se verifica a transferência da cantina, cozinha e sala de apoio para o volume de salas e sanitários, que passa a ter apenas um piso, nestes casos. O volume correspondente ao espaço de convívio também desaparece, mantendo-se o espaço desportivo coberto, assente na mesma lógica de relação paisagística orgânica com o único edifício existente. Organigrama de distribuição do programa: // Escola Central // Mini-Escola

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ESQUEMAS JOANINHA JS1

ESCOLA CENTRAL

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Sendo que as salas de aulas constituem os espaços mais importantes do projecto, onde as crianças passam a maior parte do seu tempo, onde aprendem, crescem e se preparam para a vida adulta, pensámos que deveriam constituir um volume de um piso (miniescolas) ou dois pisos (escola central) cujo conceito desenvolvesse uma proposta especial, dinâmica e pessoal. As salas constituem momentos especiais do edifício, separadas umas das outras, mas articuladas entre si, individualizadas através de volumes e cores. “A minha sala é a verde. A tua é a amarela!” A sala de aula não é apenas uma sala para a criança. É a sala da criança, que promove uma ligação diferente, mais afectiva e especial. Talvez a criança não saiba porque é que é assim, mas sente. E é esta arquitectura simples que desencadeia estas reacções. Desta forma, desenvolve-se uma solução que permite a circulação natural e eficaz do ar, através da criação de corredores tampão entre os volumes das salas, sendo que esta disposição possui também a vantagem de reduzir a transmissão de ruídos de umas salas para as outras. Os corredores são espaços de transição, que introduzem surpresa pela variação da escala, que consequentemente provoca uma alternação no que diz respeito à iluminação natural, à relação dos claros-escuros. Simultaneamente, organizam as entradas para as salas, obrigando a criança a procurar a sua. A porta para a sala de aula não é um dado adquirido, um elemento conquistado, localizada Estudos para o volume das salas de aulas

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num simples alpendre voltado para a rua. É um pormenor diferente, tosco, pintado de uma só cor, meio escondido num corredor de sombra, com luz no fundo. É mágico, criativo, pouco revelador. Estes corredores dão acesso a uma espécie de lago visceral, orgânico onde a água desempenha vários papéis. Refresca o espaço, permite a renovação do oxigénio do ar, compõe espaços de brincadeira e lazer e (se constituir habitat de peixes) poderá conduzir à redução das colónias de mosquitos. Pontualmente, localizam-se repuxos, que criam nuvens de água, refrescam o espaço envolvente e agitam a água. A base do lago é uma laje de fibrocimento e possui uma inclinação. Em dias de chuva forte, a água é conduzida para o sistema de canalização e recolhida para um tanque colector. A água da chuva é aproveitada e reutilizada. “Os arranjos exteriores são essenciais para proteger o interior dos ganhos solares excessivos.̋ Arquitectura Sustentável em Moçambique – Manual de Boas Práticas, CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Vistas dos corredores das salas de aulas Estudo de alguns detalhes

Estudo para volume das salas de aulas

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Em Moçambique, a questão do sobreaquecimento é fundamental, sendo que a melhor orientação é, por essa razão, a Norte. Tendo esta condição como princípio fundamental, propõe-se um alpendre orientado a Sul, que constitui espaço exterior coberto, de acesso aos corredores tampão, e que poderá também constituir um espaço de estar. Propõe-se a construção de um outro alpendre a Norte, com contacto directo com o elemento água. Os alpendres constituem assim componentes de sombreamento das áreas de vãos e paredes exteriores, por forma a proporcionar maior conforto térmico no interior dos compartimentos.


“Durante anos fiz empenas, paredes contra as quais bate um telhado. Neste momento já não as faço; as coberturas passam todas para fora das paredes. Estou a falar exactamente do facto de ao fim de 25 anos ter reconhecido que não há nenhum artesão em Moçambique, ou naquela parte de África, que me faça uma vedação, um rufo, bem feito e sem verter água. Então porque hei-de insistir em rufos? Não dá o volume brilhante recortado ao sol, o jogo magnífico das formas. Dá outras coisas que são maravilhosas: sombras, maravilhosas articulações de superfícies com volumes, transparências de volumes, presença dos elementos verdes que são fundamentais à definição climática e performance ambiental do edifício. Dá tudo isso, e essa é a nossa arquitectura. Pelo menos a minha.” FORJAZ, José, Arquitectura e vida nº 56, Janeiro 2005

A Nascente, propõe-se a plantação de elementos vegetais locais, as buganvílias, que aumentam o conforto interior e funcionam como um filtro eficaz dos raios solares. O alçado orientado a Poente é protegido pelo volume dos sanitários e pela plantação de árvores, para evitar a radiação solar excessiva. Por outro lado, não se prevêm aberturas, de forma a reduzir a penetração do calor. Propõem-se a projecção de aberturas longitudinais por cima das paredes exteriores, a todo o comprimento dos volumes, protegidas por redes mosquiteiras de aço, orientadas a Norte e a Sul. Planta com apontamentos para arranjos exteriores

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A forma do edifício, a sua configuração e o arranjo dos espaços interiores, surgem como resultado dos estudos da exposição à radiação solar incidente, bem como à disponibilidade de ventilação e iluminação natural. A arquitectura é pensada de maneira a aproveitar da melhor forma possível, os recursos naturais e ambientais existentes no local. O edifício das salas de aula, de dois pisos (na Escola Central) e de um piso (nas mini-escolas) são constituídos por paredes de bloco de terra comprimido (BTC), que suportam uma cobertura de zinco, com estrutura de suporte em madeira. Na Escola Central, os dois pisos são interligados através de uma escada exterior. No piso superior, existe uma varanda exterior coberta, na projecção do alpendre do piso térreo, protegida por uma guarda de madeira. Um espaço diferente para as crianças. Mais um. Totalmente aberto, quase suspenso, de observação. As paredes exteriores adquirem um aspecto áspero, rugoso e tradicional. A cor castanha, cor de terra, transforma o edíficio num prolongamento natural do chão, quente. O volume das salas de aula ganham força, um peso descontinuado pelos corredores tampão. O peso das paredes contrasta com a leveza fria da cobertura de chapa, ruídosa e brilhante. Há um jogo presente e claro de temperaturas, texturas, padrões. A dinâmica dos espaços vai sendo criada, montada desta forma. Planta geral esquemática Vista exterior do volume das salas de aula e espaço de convívio

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A inclinação do telhado permite a fácil drenagem das águas das chuvas, nos meses de monções. O telhado, em chapa metálica de zinco não assenta directamente nas paredes, de forma a evitar o sobre-aquecimento e o aumento da temperatura interior. Assenta sobre uma estrutura pontual, libertando um espaço para ventilação natural e cruzada. Exemplo de alpendre na Biblioteca de Cuamba, Moçambique

“A construção da cobertura é o ponto mais fraco das habitações, pela sua durabilidade, a impermeabilização e o inapropriado uso dos materiais. A causa destes factores são os materiais empregues na construção. As coberturas em capim obrigam á sua substituição de dois em dois anos e pecam pela sua falta de higiene, visto apresentarem condições apropriadas para a construção de ninhos ratos. Para além deste problema, o capim é um mau impermeabilizante, na época de chuvas as habitações são geralmente inundadas. No caso das coberturas em chapa de zinco, estas tem alguns elementos positivos ao seu favor, permitem uma melhor impermeabilização, mas no entanto são a causa de uma grande parte da mortalidade infantil. Este material após muito tempo de exposição solar liberta o calor para o interior da habitação e provoca um efeito estufa. No tempo de chuvas, é impossível estar dentro das habitações devido ao som agudo do bater da chuva nas chapas.” OLIVEIRA, Márcia: Mãos à terra – Habitação de baixo custo em Moçambique, “Kuyaka para Hikwenro”, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2006

Estudo do alçado Sul e corte transversal

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A espessura das paredes exteriores (cerca de 0.40m) retarda a penetração de calor de dia e o frio à noite. Devem estar protegidas da incidência solar directa e do contacto directo com a água das chuvas.


Para filtrar o calor absorvido pela chapa de zinco, é proposta uma barreira horizontal no topo das pareces, uma espécie de tecto falso. Feito de materiais locais, poderá ser de tecido (as capulanas), de uma trama de barrotes finos de madeira, de esteiras finas e leves. Qualquer um destes materiais cria um obstáculo à entrada de calor e introduz ritmos de luz e sombra, cheios e vazios, cores ou contrastes. As lajes (do piso térreo e quando se aplica, do segundo piso) são construídas em ferrocimento, com aplicação de rede de galinheiro que reforça e unifica o cimento. As janelas, orientadas a Norte e a Sul, recuadas relativamente aos alinhamentos da cobertura, em ambos os lados, são altas, colocadas a 0.40m do pavimento e funcionam como túneis de ar. São amplas, para que propicionem a ventilação natural, optimizando a circulação de ar. do lado de fora estas abertura proporcionam pequenos bancos para as crianças. As sapatas do edíficio são em terra compactada. No que diz respeito ao projecto para a Escola Central, um outro edifício surge no recinto, a Poente do volume das salas de aula, a Pérola do campo. Uma arquitectura dirigida a um público tão especial, as crianças, deverá dedicar-se a elas, ser capaz de lhes arrancar sorrisos, suspiros de admiração, olhares desconfiados, ou provocar, com contenção, cuidado e ousadia.

Vista das salas e do espaço de recreio Capulana, tecido típico de Moçambique, que habitualmente é usado pelas mulheres

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Surge, então, um edifício redondo, de embasamento sólido, em bloco de terra comprimido, e castanho. As aberturas são pequenas e escuras, as paredes são profundamente esculpidas. A varanda, no piso superior, em base de tabuado de madeira, unifica o conjunto e cria postos de vigia e de sonho, para os mais pequenos. A cobertura, em chapa de zinco, é sustentada por uma estrutura de madeira. A laje do segundo piso é composta por solo-cimento pigmentado. As janelas e portas são estruturas construídas com aros de madeira e redes mosquiteiras. No interior, molda-se o material local, bloco de terra comprimido e solo-cimento (para arredondar as arestas) e constroem-se bolsas de terra, regularizadas, esconderijos perfeitos para os mais pequenos. É valorizada a procura de espaços secretos, pequenos momentos individuais de luz e sombra, volume e textura. As crianças sentem que aquele é um mundo só delas, onde os adultos não entram. Um banco central que circunda um pilar de terra, estantes de livros entaladas entre paredes de espessuras variáveis, tecidos de cores e padrões pendurados e espalhados pelo chão, um pequeno caos que lhes pertence, um espaço de poucas regras. A escala dos elementos, a proporção dos espaços, são pensadas para um público pequeno e puro. Não há lugar para a repetição, para a decepção, para o cansaço. O espaço é fixo, fisicamente não muda, mas abre-se à metamorfose das sombras, dos gestos, dos movimentos, dos sons. É diferente, todos os dias. É de todos e de cada um. A Pérola, de carácter circular, introduz movimento e uma flexibilidade que se procura e pretende. O terreno, onde assenta, deverá ser Estudos das plantas do edifício de convívio - a Pérola das Crianças

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moldado e conformado de forma a criar plateias naturais, de observação. Estas plateias vegetais poderão ser protegidas através de uma rede verde de ensombramento. O espaço desportivo surge assim como um palco exterior coberto, onde as crianças são actores e artistas. O recinto do espaço desportivo cobre-se de uma estrutura de chapa de zinco, sustentada por uma estrutura de madeira, que por sua vez é apoiada em colunas reforçadas de bloco de terra comprimido. Propõe-se, como no edifício das salas de aula, um espaço longitudinal de ventilação por cima das paredes,orientado a Nordeste e a Sudoeste, para que o ar cruze. Para proteger a fachada voltada a Nordeste, onde o sol incide com bastante predominância durante o dia, propõe-se umas palas verticais em chapa, como elemento de sombreamento. Estudo do corte transversal do edifício de convívio - a Pérola das Crianças

A proposta localiza uma terceira zona a sul do recinto, onde se organizam os serviços e a zona administrativa do complexo. Mais próximo do espaço desportivo, são os balneários de apoio, orientados a Poente. Estes, assim como os sanitários (no bloco das salas de aula) são localizados a Poente, o lado mais quente, uma vez que não constituem espaços de permanência prolongada. Junto dos balneários, organiza-se a cantina, a cozinha, os serviços administrativos e a casa de apoio. Estes dois últimos espaços são colocados mais próximo da entrada do recinto, para que o acesso seja fácil e claro. Este volume organiza-se em apenas um piso e mantém as mesmas características que o volume das salas de aula, no que diz respeito à escolha de materiais, às técnicas de ventilação cruzada, à construção Estudo, em corte, do espaço desportivo

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de alpendres, à espessura das paredes exteriores, ao tipo de cobertura e sua sustentação. A diferença reside na eliminação dos corredores tampão, uma vez que a sua utilização é pontual, de menor permanência, de maneira que não há necessidade de se prever um maior isolamento acústico. A ventilação natural e cruzada é garantida, através da abertura de vários vãos verticais, sobretudo no espaço da cantina. A horta pedagógica poderá ser desenvolvida no espaço exterior localizado por trás do espaço desportivo, próximo da cozinha. As infraestruturas do sistema de água também se poderão localizar nesta zona. O projecto propõe a localização de um baloiço no espaço exterior, para usufruto das crianças, o Playpump. A casa dos professores poderá ser localizada numa zona de cota mais alta, visível do recinto, mas mais isolada.

Perspectiva e alçado do volume das zonas de serviço

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MINI-ESCOLAS No que diz respeito ao projecto para as mini-escolas, e uma vez que se verifica uma redução do programa, propõe-se o desenvolvimento do volume das salas de aula (em apenas um piso) onde também são localizados os serviços necessários, a cozinha, cantina e o espaço administrativo, assim como se mantêm os sanitários, a Poente. Elimina-se, no entanto, o espaço de convívio (a Pérola do projecto), e o volume da administração e serviços. Mantém-se o espaço despwortivo exterior coberto e a lógica de plataforma natural orgânica que unifica os vários elementos e se constitui como espaço natural lúdico, de enorme potencial.

Planta esquemática da Mini-Escola, alçado e corte transversal

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SISTEMA DE ÁGUA O PlayPump é uma rotunda|baloiço, especificamente projectada e patenteada (1) que acciona uma bomba de poço convencional (2), enquanto as crianças brincam. O projecto de bomba revolucionária converte movimento de rotação em movimento linear, alternado por um mecanismo de condução constituído por apenas duas peças de trabalho.

Esquema de funcionamento do sistema PlayPump Exemplos da sua utilização

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Brincando à roda ou merry-go-round, torna-se divertido para as crianças, por isso nunca se verifica uma escassez de voluntários. Enquanto as crianças brincam usando movimentos giratórios, a água é bombeada do subsolo (3) para um tanque de Polietileno (4), colocado a sete metros acima do solo. Uma simples torneira permite às mães e crianças o acesso à água de beber(5). O excesso de água é dirigido, a partir do tanque de armazenamento, de volta para o poço (6). Quatro telas, outdoors (7), envolvem o tanque para criar um original painel de anúncios. Dois lados são usados ​​para mensagens de consciencialização da comunidade e os outros dois lados para mensagens publicitárias. (Poderá ser visualizada a explicação deste sistema, por parte do autor, Trevor Field, em: http://www.youtube. com/watch?v=KBEttIM-K8E&feature=player_embedded) Poderá existir um ponto de recolha exterior e/ou pontos de recolha interiores (para sanitários, balneários e cozinha). Este sistema deverá ser adaptado ao local, quando este for devidamente identificado e se se verificarem as condições necessárias para o efeito.


CONSTRUÇÃO A escolha do material local, o bloco de terra comprimido, homeneíza o conjunto e cria uma linguagem muito própria, forte, amarrada à tradição do lugar e simultaneamente introdutora de modernidade, de novos impulsos, de novas potencialidades. O povo Moçambicano tem procurado a modernidade copiando as “cidades de cimento”, na procura de materiais novos (bloco de cimento e chapas de zinco). As populações locais tendem a olhar para os materiais locais como sendo pobres e instáveis. O uso de materiais industriais, apesar de mais caro, menos ecológico e mais difícil de conseguir, é muitas vezes visto como sinal de modernidade, de riqueza, de avanço. Pode-se no entanto melhorar, através de técnicas simples, os materiais e técnicas de construção locais e com isso conseguir a sua valorização junto das populações, facto relevante por estes serem muito mais ecológicos e estarem ao alcance de quase todas as pessoas. As técnicas locais dada a sua adaptabilidade ao local e clima e ao seu conhecimento por parte da população, são normalmente as que apresentam maior viabilidade na construção. No entanto, estas podem ser estudadas e adaptadas para se obterem melhores resultados na construção, no sentido de optimizar a conservação e durabilidade do edifício e as condições de conforto interior.

Blocos de terra a secar

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Quanto à mão de obra para a construção, propõem o envolvimento das populações locais. Quanto maior o envolvimento da população no planeamento e na construção, quanto maior for a sua identificação


com o novo edifício, maior será a valorização e o cuidado futuro com este. Além disso, consegue-se desta forma uma diminuição de custos de mão-de-obra. Ao contribuir para a construção da escola, as pessoas estarão também a aprender técnicas de construção a usar futuramente nas suas habitações ou usar como mais valia profissional. A auto-construção é uma prática muito comum nos países em desenvolvimento por questões óbvias e de carácter muito prática. A troca é assim feita em dois sentidos: o projecto encontra na população mão-de-obra para a construção, e a população aprende com o projecto a melhorar as suas capacidades e construções. “Give a man a fish and you feed him for a day. Teach him how to fish and you feed him for a lifetime.” (Lao Tzu) O uso de construção em terra é uma prática milenar usada praticamente em toda a África.

Construção em maticado, Goba, Moçambique

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“Em Moçambique a técnica mais antiga do uso da terra é o chamado maticado, mais conhecido na Europa do sul como tabique. Foi uma técnica muito utilizada pelos portugueses e difundida em Moçambique pelos ex-colonos portugueses. Esta técnica consiste na construção de uma grelha de madeira ou cana, formando um entrançado, onde posteriormente se aplicará uma fina camada de terra. Por sua vez, esta trama é preenchida com um compósito de barro argiloso, água e fibras vegetais. Hoje em dia já não é muito usual, adoptou-se o tijolo de argila cozido ao sol. Habitualmente a técnica adobe, é utilizada apenas nas paredes exteriores. No interior geralmente usa-se o caniço e para as coberturas utiliza-se o capim.


Portanto, propor o desenvolvimento do plano em construção em terra, não está dessincronizado com as práticas tradicionais do povo Moçambicano. Pelo contrário, já existe a tradição da construção em terra crua, existe o conhecimento da técnica, e já está enraizada na sua história e cultura.” (OLIVEIRA, Márcia: Mãos à terra – Habitação de baixo custo em Moçambique, “Kuyaka para Hikwenro”, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2006)

Apresenta-se de seguida algumas das vantagens da construção em terra, aos mais diversos níveis. “A nível económico: a utilização deste material proporciona uma redução considerável dos custos de construção, estimulando assim a economia. No contexto de uma economia geral ameaçada -como aconteceu em 1973 e voltou a acontecer em 1990 - por gastos energéticos demasiados elevados, a construção em terra permite consideráveis economias no plano energético. A nível energético: a possibilidade de ser utilizado localmente com baixos custos de transporte e principalmente sem necessitar de ser submetido a transformação industrial, este material permite importantes economias comparando com as dispendiosas indústrias de cimento, de aço e do tijolo cozido. Outra questão, é a possibilidade de obter economias ao nível doméstico dado que a inércia térmica das paredes de terra pode contribuir para a redução do custo de aquecimento e de climatização dos edifícios.

Exemplo de arquitectura local, Moçambique

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A nível ecológico: a matéria-prima é a própria terra/natureza, disponível em quase todos os locais.


Não sendo necessário a fase de cozedura a alta temperatura (mais de 1100º C para os materiais industrializados) no tratamento da terra crua, o ambiente é poupado da poluição da atmosfera. Neste momento, o nosso planeta está ameaçado pela indústria pesada dos materiais de construção, que, por sua vez, contribuem para a destruição da camada de ozono do planeta terra. Este material tem a vantagem de ser amassado e por isso é ecologicamente limpo e o tempo pode destruir por completo os edifícios e pode voltar-se a utilizar quantas vezes for necessário. A nível político: a terra é um material global, existente em todas as partes do planeta, de acordo com as potencialidades de cada região e país, esta lógica assume uma dimensão política quando encarada á escala do terceiro Mundo. Porque a dependência dos países do terceiro mundo em relação ás técnicas e aos materiais importados, tem se tornado um entrave para o desenvolvimento destes países. Tem-se apresentado como bloqueio económico e politico que tem vindo a agravar sucessivamente a dívida externa destes países. A nível social: as tecnologias de terra crua permitem reduzir os custos da habitação social, e promovem a sociabilização do povo, por serem técnicas permissivas á autoconstrução. A nível cultural: a terra crua sempre permitiu, em todas as civilizações, rurais ou urbanas, assegurar a manutenção de uma linguagem criativa e adaptada aos particularismos de cada cultura.

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Pode-se concluir que a simplicidade da sua utilização popular, destituída de conhecimentos comercialmente exploráveis, faz das tecnologias da terra, uma matéria pouco apelativa para os grandes interesses económicos. A sua utilização e difusão podem comprometer os grandes impérios da construção civil, principalmente nos países em vias de desenvolvimento, onde a autoconstrução é a prática mais natural para a edificação das próprias habitações. (…) Contrariando as grandes construtoras, a terra como material de construção, pode realmente vir a ser a solução para o desenvolvimento de uma arquitectura sustentável e ao mesmo tempo humanitária (...) As possibilidades técnicas, construtivas e arquitecturais da terra são muito grandes. Através do estudo dos conhecimentos tradicionais foi possível verificar a existência de cerca de doze técnicas diferentes do uso da terra. Estas técnicas podem dividir-se em grupos nos quais a terra pode estar associada à realização prévia de uma armação estruturante ou de suporte, ou utilizada sob a forma de construção monolítica e maciça, ou então sob a forma de alvenaria, em pequenos elementos.” (OLIVEIRA, Márcia: Mãos à terra – Habitação de baixo custo em Moçambique, “Kuyaka para Hikwenro”, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2006)

De todas essas técnicas, salientam-se as mais praticadas em todo o mundo: a taipa, o tabique, o adobe e o bloco de terra comprimido (BTC). Esta última técnica sofreu grandes avanços e contribuiu largamente para o renascimento da construção em terra no séc.XX. Imagem de BTC, no Auroville Earth Institute, Índia

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Composição possível dos BTC

A questão introduzida pela estabilização dos blocos de terra, através da introdução de outros materiais, e de uma percentagem de cimento, permitiu edifícios mais altos com paredes mais finas, com maior resistência e melhor comportamento face à água. Com a estabilização de cimento, os blocos devem secar ao calor cerca de 4 semanas após a manufacturação. Depois disso podem secar livremente e ser usados como tijolos vulgares. O BTC é talvez a técnica mais adequada a um vasto contexto, dado que apresenta condições físicas de maior resistência e é considerada a técnica construtiva que mais se adapta a uma ampla gama de tipo de solos. Algumas outras vantagens da construção em BTC prendemse com a facilidade de produção e de uso, uma área de produção reduzida, para além de todas as vantagens já enumeradas para a construção em terra de um modo global. A sua utilização deve ter atenção uma série de orientações e precauções de modo a se obter o melhor desempenho possível. Nesse sentido, e após a escolha do local de projecto, deverá ser feita uma identificação cuidada do solo e das suas características para escolher a melhor técnica a usar, assim como a composição dos blocos. As equipas de operários devem ser cuidadosamente preparadas, com a explicação de todos os passos da técnica, em detrimento da má qualidade do produto final, que poderá levar nesses casos a uma fraca aceitação junto das populações.

Imagens de prensas (exemplo da Auram Press 3000, Auroville Earth Institute, Índia)

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Nesta técnica há a necessidade de introdução de maquinaria leve: as prensas. Hoje em dia existem no mercado uma vasta gama de equipamentos especializados nesta técnica e adaptados às diversas


necessidades. Existem prensas manuais ou motorizadas, sendo que a diferença maior entre estas máquinas está no seu manuseamento e manutenção. Neste momento, há cada vez mais organizações e iniciativas a promover este tipo de construção um pouco por todo o mundo. Aconselhamos a consulta de informação, ou até mesmo a parceria, em regime de consultoria, com alguma desta organizações, nomeadamente o Auroville Earth Institute (Unesco Chair Earthen Architecture) na Índia. Sendo a construção um dos aspectos mais importantes de uma obra, especialmente no caso de edifícios públicos, alertamos para o facto de todos os métodos terem de ser cuidadosamente estudados e implementados, mesmo que isso implique um maior gasto inicial, de modo a assegurar a durabilidade dos edifícios, bem como a sua resistência a catástrofes naturais. A construção precária é um dos principais problemas dos países subdesenvolvidos que no fundo revela uma má gestão de recursos e leva a preocupações e gastos posteriores à construção. A manutenção de uma escola é ainda um facto importante, bem como toda a rede de acessos e infraestruturas, de modo a que se esteja a construir não só um edifício mas também uma comunidade para longo termo. Estes são alguns aspectos que são enunciados pela UNICEF e pela Carta das Crianças sobre a Redução do Risco de Desastres, recentemente aprovada.

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experiências moçambique proposta de arquitectura referências educação PROJECTO ESCOLA AMIGA


Para que se produza e desenvolva um projecto de arquitectura é sempre fundamental que exista uma base de conhecimento sobre o local, os futuros utilizadores e, não menos importante, sobre outras obras que possam influenciar, inclinar ou inspirar de certa forma, a nova criação, no sentido de responder mais eficazmente às questões de partida que surgem quando se projecta. Procurámos, então, reunir um conjunto de referências que melhor se adaptassem ao tipo de edifício que nos propomos desenvolver, aos materiais que melhor se integrassem na arquitectura local e às técnicas construtivas utilizadas, e ainda, que pudessem de certa forma identificar-se com a ideologia que está por detrás de projectos como a Escola Amiga.

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TAMIL ULAGAM EVENING SCHOOL Auroville, Índia

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DEPPANAM SCHOOL Auroville, Índia Satprem Maini e Mona Doctor Arquitectura 2009

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KINDERGARDEN OF AUROVILLE Auroville, Índia Suhasini Ayer Arquitectura

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LUDOTECA DE SANTO INテ,IO ONGD Leigos para o Desenvolvimento Arquitectura Dテュli, Timor 2001

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SALESIAN BROTHERS INHARE ARTS AND CRAFTS Moçambique José Forjaz Arquitectura 1998

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HIGHER EDUCATION INSTITUTE FOR THE INTERNATIONAL RELATIONS Zimpeto, Moçambique José Forjaz Arquitectura 2004

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PORTUGUESE SCHOOL SPORTS FIELD ROOF Maputo, Moçambique José Forjaz Arquitectura 2009

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METI – HANDMADE SCHOOL IN RUDRAPUR Rudrapur, Bangladesh Anna Heringer Arquitectura 2004-2006

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GANDO PRIMARY SCHOOL Gando, Burkina Faso Diébédo Kéré Arquitectura 1999 -2001

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LILALOKA, RESOURCE CENTRE FOR THE CHILD Auroville, ร ndia Mรกrcia Oliveira Arquitectura 2010

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L1 L1

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EMERGING GHANA, CONCURSO OS HOUSE | HABITAÇÃO SUSTENTÁVEL Ghana Blaanc, em parceria com o Arqto. João Caeiro Arquitectura 2009

COMPOSTAGEM

VENTILAÇÃO NATURAL CRUZADA

AQUECIMENTO SOLAR DE ÁGUA

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experiências moçambique proposta de arquitectura referências educação PROJECTO ESCOLA AMIGA


“A educação é fundamental para o nosso desenvolvimento como indivíduos e como sociedade, e ajuda a cimentar o caminho para um futuro bem sucedido e produtivo.” (The Big Hand, http://thebighand.org/ oquefazemos/educacao)

A arquitectura bem sucedida é nossa pretensão e espelha a nossa responsabilidade primária enquanto arquitectas. No entanto, quando falamos em projecto bem sucedido falamos em algo mais abrangente e que engloba um conjunto de factores que deverão agir em total consonância para que esse fim seja totalmente conseguido. A componente social é por isso muito importante. Para um projecto ser apelativo e motivador para as crianças e para que, de facto, faça a diferença, teremos de ir para além da arquitectura e abraçar também os projectos escolares, o método de ensino, e o bem-estar das crianças. Neste sentido, deixamos também algumas considerações sobre possíveis projectos escolares que, juntamente com todos os programas já existentes como os de formação de professores e provisão de material escolar, poderão contribuir para uma educação mais integral. Primeiramente, devemos identificar os obstáculos que estas enfrentam para aceder ao ensino, para que depois possamos debruçar-nos sobre que estímulos poderão ser mais eficazes para que as crianças frequentem a escola apesar de todas as condicionantes físicas, sociais e económicas.

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Depois, devemos pensar num sistema que ligue, em rede, a escola núcleo às escolas raiz, para que estas possam interagir entre si e partilhar as boas práticas, novas ideias e outras informações, tornando o sistema de aprendizagem num processo verdadeiramente colectivo. Por outro lado, a criação de novas escolas, neste contexto sócioeconómico, só faz sentido, se estas forem auto-suficientes e sustentáveis. O que queremos dizer é que é fundamental que as escolas promovam actividades que as façam subsistir por si só, deixando de depender apenas de ajudas externas para sobreviverem enquanto estabelecimentos de ensino. É portanto nossa intenção integrar em todos os projectos Escola Amiga, e de forma inter-relacionada, os seguintes conceitos que espelham e dão resposta a todas as preocupações acima expostas. SS - Sustentabilidade Social

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Este conceito remete para preocupação com o bem-estar das crianças e professores, mas também da comunidade onde estas escolas estão inseridas. Está directamente relacionado com a nutrição, com a subsistência, portanto, com o dia-a-dia sustentável e com uma possibilidade considerável de melhoria da qualidade de vida. O que pode ser interessante neste tipo de abordagem, é que o sentido comunitário está totalmente enraizado no modo de vida da população moçambicana, o que lhe permite perceber melhor e até associar este tipo de experiência às suas vivências. O que significa que, se lhe for fornecido um conhecimento acrescido (para além das tradicionais disciplinas escolares) associado a actividades que possam


vir a ser repetidas nas suas aldeias, habitações ou empregos, que melhorem vivamente o acesso à alimentação e consequentemente as suas condições de vida, este será bem recebido e abraçado. Sabe-se que a percentagem de abandono escolar precoce, nas zonas rurais de Moçambique é bastante elevada. Pelo que, se pensarmos que ao mesmo tempo que se promove uma sociedade detentora de mais meios de subsistência, se pode também incentivar a aprendizagem, através da demonstração da aplicação prática do ensino, associado a um conceito de actividade profissional, o objectivo social será duplamente conseguido, SE - Sustentabilidade Económica Pretende-se, desta forma, dar rendimento próprio às escolas mas também abranger a comunidade nesse processo, incentivando as trocas comerciais e o trabalho na terra por parte de todos os seus membros, para que os ganhos obtidos permitam também uma cultura de subsistência comunitária. Reconhecemos que provavelmente este tipo de projectos nos primeiros anos de vida não têm capacidade para subsistir sozinhos, sem o apoio de entidades externas, mas com o crescimento e a experiência de anos vindouros poderão sem dúvida dar resposta positiva a todos os investimentos. Este conceito parece-nos fundamental para o sucesso do projecto Escola Amiga.

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SA - Sustentabilidade Ambiental Num contexto físico onde são inexistentes vários meios considerados básicos e essenciais em países desenvolvidos, é fundamental que se produzam e se construam infra-estruturas que não só visem o uso primário a que se destinam, mas que promovam ao mesmo tempo a melhoria das condições de higiene e saúde pública. Sublinha-se, neste ponto, a necessidade de se pensar num sistema de aproveitamento e tratamento de águas provenientes das chuvas, num sistema de compostagem que evite o desperdício e o acumular de resíduos e ainda num sistema que impeça a poluição dos lençóis de água provocada pela inexistência de sistemas de saneamento básico, entre muitas outras questões que poderão preservar melhor as mais-valias ambientais do país. Embora acarretem um primeiro esforço a nível económico e a nível construtivo, este será satisfatoriamente compensado quando se registarem as suas vantagens no plano da utilização quotidiana. PROJECTOS ESCOLARES NUTRIÇÃO

Escolinhas comunitárias - Missão dos Leigos para o Desenvolvimento Niassa

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A Nutrição dentro da própria escola, ou fora desta, influencia imenso todo o processo de aprendizagem e o modo de estar das crianças em ambiente escolar. A maior parte da população infantil em Moçambique não toma o Matabicho (expressão tipicamente moçambicana para dizer


pequeno-almoço) antes de ir para a escola, o que significa que estas crianças não ingerem qualquer alimento até à hora do almoço. Este facto é extremamente grave porque além de lhes provocar desconforto, diminui de forma acentuada o seu poder de concentração, assim como impede que estas estejam enérgicas e abertas ao processo de aprendizagem. Portanto, o tema Nutrição/ Alimentação é uma mais-valia real e um conceito muito benéfico a ser introduzido dentro do programa escolar, para que realmente estas crianças possam fazer parte de um projecto educativo, obtendo com qualidade, toda a formação a que têm direito. HORTA PEDAGÓGICA A Horta Pedagógica, parte integrante do programa deste projecto, pode ser um projecto escolar bastante interessante, uma vez que potencia o ensinamento de técnicas básicas de cultivo e consequentemente, a aprendizagem de meios de subsistência, permitindo a obtenção de alimentos, a cada aluno, através do trabalho agrícola no seu próprio quintal. Moçambique é um país com poucos recursos naturais. Assim sendo, a agricultura pode demarcar-se como um grande meio de sustento comunitário, especialmente em áreas rurais. O projecto horta remete, no imediato, para o ensino através prática, para o mexer com terra, água e sementes. No entanto, se pensarmos nele de uma forma mais abrangente este pode acarretar também uma grande componente teórica, permitindo às crianças perceber e compreender os alimentos, os seus valores energéticos,

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os seus benefícios nutricionais, entre outros…A ideia é fornecer ao aluno uma ideia global que lhe permita relacionar as áreas de aprendizagem com toda a sua vida fora da escola. Para além da aprendizagem proporcionada aos alunos, e do abastecimento parcial da cantina da escola, o projecto Horta pode ainda gerar algum lucro com a venda do excedente, ou através da troca de alimentos (um procedimento bastante comum em várias zonas de Moçambique). PLANTAÇÃO DE ÁRVORES Seguindo um pouco o conceito anterior, este projecto seria uma fonte para a obtenção de frutos sazonais e posteriormente para a sua venda. Deverá ser sempre associado a uma componente teórica que pode incluir – espécies, fases de crescimento, tempos de cultivo, etc. É um tema que pode ser explorado também ele de forma abrangente, no que diz respeito ao ensino. CRIAÇÃO DE ANIMAIS Criação de galinhas e consequentemente aproveitamento dos seus ovos. Sendo o animal que menos cuidados requer, no que respeita à criação tendo em vista a alimentação, a criação torna-se fácil, e por conseguinte, pode ser associada apenas à subsistência escolar ou familiar, mas pode também destinar-se à venda ou à troca de alimentos.

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TRABALHOS MANUAIS Exemplos de alguns projectos: Olaria – Criação de utensílios do quotidiano, vasilhames para transporte de água… Palha – Criação de cestos, bases de mesa, brinquedos… Madeiras – Criação de recipientes, pratos, brinquedos… Arame – Material muito usado nas artes moçambicanas, que permite fazer brinquedos, candeeiros e outros objectos. PROJECTO RECICLAGEM É habitual a população rural reutilizar garrafas e latas velhas, consideradas desperdício, para o seu uso no quotidiano. O mesmo acontece com as crianças que muitas vezes transformam estes objectos, aparentemente já inutilizados, em brinquedos, divertidos e estimulantes. Como por exemplo, a criação de carros e camiões de lata. Mais uma vez, este tipo de trabalho pode ser ensinado, as técnicas melhoradas e a produção destes objectos pode ser venda gerando contribuições, bastante bem-vindas ao projecto Escola Amiga e a toda a comunidade moçambicana. CONSTRUÇÃO

Escolinha de cerâmica - Missão dos Leigos para o Desenvolvimento | Lichinga

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Produzir conhecimento acerca da construção com materiais locais é também uma forma de melhorar a condição de vida comunitária. Desde cedo, pode-se ensinar como construir pequenos espaços com


o uso de materiais locais, como a terra, o colmo, as folhas de palmeira e a madeira, o seu funcionamento e o seu modo de assemblagem. O objectivo poderá até passar pela venda de elementos produzidos, como é caso dos blocos de terra comprimidos que poderão trazer um grande benefício financeiro à escola. Todos estes projectos devem estar desenvolvidos e adaptados às diversas faixas etárias dos estudantes, tendo como finalidade uma educação completa do cidadão, passando pela sua formação técnica, tendo em vista a possibilidade de criação de um trabalho futuro. Podemos concluir que com estas actividades e todo o processo de estudo que lhes está associado, está-se a incidir sobre temas do quotidiano dos estudantes, mas ao mesmo tempo está-se a introduzir uma nova consciência e a ampliar questões que podem melhorar não só a sua qualidade de vida, mas também a qualidade de vida de toda comunidade em que estão inseridos. A ideia é que, desde cedo, o aluno se perceba do lado prático de tudo o que é ensinado, que esses conteúdos podem ser concretizados e fazer parte da sua vida presente e futura. Incentivando o seu interesse, promovendo uma participação activa na aprendizagem, na vida escolar e comunitária, promove-se uma educação integral e formam-se cidadãos mais conscientes.

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EDUCAÇÃO INTEGRAL Ainda como possibilidade de estudo, desenvolvimento e aplicação, gostaríamos de fazer referência ao método de ensino designado de educação integral. Este método “representa uma nova aproximação à educação, uma nova atitude que espontaneamente se organiza num quadro estruturado e infinitamente flexível, no qual cada criança é vista como ser único e de acordo com as suas necessidades únicas. Com efeito, isto leva-nos também à prática de um sistema de educação único e adaptado a cada criança”. (Sraddhalu Ranade, Introduction to integral education, An inspirational guide, pp.viii, tradução livre das autoras)

Pretende-se com isto dizer que neste método são privilegiados os aspectos particulares de cada criança, que esta deve desde cedo descobrir as suas apetências e capacidades e fazer as suas próprias escolhas, dentro de um ambiente livre, flexível e estimulante. O sistema de ensino e o programa curricular continuam a existir, tendo linhas de orientação e conteúdos base que são transmitidos a todos os alunos. No entanto, este possui um grande grau de flexibilidade, em que o estudante não segue uma estrutura e um percurso académico pré-formatado e igual para todos, mas antes tem liberdade de escolha de alguns conteúdos. Este procedimento potencia o pensamento crítico, a atitude de escolha e decisão e, deste modo, pode desde a infância ajudar a traçar o caminho de vida também único de cada indivíduo. Essa educação integral visa ainda a transmissão de valores fundamentais de carácter, e não só conteúdos disciplinares, que os vão ajudar a melhor se compreenderem e a formarem a sua

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personalidade. Estes vão desde a auto-estima, auto-conhecimento, até à harmonia, respeito e unidade entre todos os povos. É ainda enfatizado o ambiente escolar de tranquilidade mas simultaneamente estimulante para a aprendizagem. Existem diferentes momentos e tempos, de absorção dos conteúdos transmitidos, de assimilação individual e de expressão. Este é um método que pensamos ser interessante estudar, de modo a perceber as suas principais vantagens e o seu grau de adaptação à realidade moçambicana. “Segundo a UNICEF, uma criança com educação é um adulto capaz de elaborar um planeamento familiar adequado em que privilegia menos filhos para que lhes possa garantir as condições necessárias para a sua sobrevivência, como por exemplo, garantir que seus filhos comecem a escola no tempo certo.” (The Big Hand, http://thebighand.org/ oquefazemos/educacao)

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BIBLIOGRAFIA AfriMAP e Open Society Initiative for Southern Africa: Moçambique Democracia e Participação Política, Open Society Institute Network, 2009 Arquitectura Sustentável em Moçambique – Manual de Boas Práticas, CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa Auroville Architecture, towards new forms for a new consciousness, Prisma, 2008 Beyond Shelter, Architecture for Crisis Edited by Marie J. Aquilino, Thames & Hudson, 2010 COUTO, Mia, Pensageiro Frequente, Editorial Caminho, 2010 LENGEN, Johan van, Manual do Arquitecto Descalço, Dinalivro, 2010 MERCÊS E SOUSA, Paulo Jorge, Avaliação de Perigosidade sísmica e segurança Estrutural em Moçambique: os casos da Beira e do Chimoio, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, 2006 OLIVEIRA, Márcia, Mãos à terra – Habitação de baixo custo em Moçambique, “Kuyaka para Hikwenro”, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2006

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RANADE, Sraddhalu, Introduction to integral education, An inspirational guide, Sri Aurobindo International Institute of Educational Research, 2006 Small Scale Big Change, New architectures of Social Engagement Andres Lepik, The Museumof Modern Art, New York, 2010 Voluntários ao Sul do Equador, Leigos para o Desenvolvimento, 2006 Voluntary Architects’Network, Making Architecture, Nurturing People: From Rwanda to Haiti, Shigeru Ban + Keio University SFC Ban Laboratory, INAX Publishing, 2010 PUBLICAÇÕES Arqa, Revista de Arquitectura e Arte, nº 98/99, Nov/Dez 2011 JA Jornal dos Arquitectos, Ser Pobre nº 236, Jul/Agos/Set 2009, Publicação trimestral da Ordem dos Arquitectos INTERNET http://www.adobeforwomen.pt/ http://architectureforhumanity.org/ http://www.archi-urgent.com/ http://www.asfp.net/ http://www.earth-auroville.com/ http://openarchitecturenetwork.org/ http://www.portaldogoverno.gov.mz http://www.thebighand.org/

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equipa popcorn /////////////////////////////////////////////////// Andreia Cunha, Arquitecta | ///popcorn.vc/// Viana Castelo Joana Marques, Arquitecta | ///popcorn.opo/// Porto Joana Simões, Arquitecta | Porto |colaboradora externa Márcia Oliveira, Arquitecta | Maputo |colaboradora externa

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