Nouvelle Vague: Jean-Luc Godard

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“O governo apresenta suas armas Discurso reticente, novidade inconsistente E a liberdade cai por terra Aos pés de um filme de Godard” (“Selvagem”, Herbert Vianna)


Godard Jean-Luc Godard, 77 anos, nascido em 3 de dezembro de 1930, é um dos diretores mais importantes do cinema francês. Ao lado de nomes como André Bazin, Jacques Rivette, Claude Chabrol, François Truffaut, Jacques Rozier e Jacques Demy, participou do movimento que ficou conhecido como Nouvelle Vague (nova onda) do cinema francês.


Nouvelle Vague Nouvelle Vague refere-se a um grupo de cineastas franceses das décadas de 1950 e 1960, parcialmente influenciados pelo neorealismo italiano, caracterizados pela rejeição à forma clássica de cinema e por experimentos radicais de edição, estilo visual e narrativa. Vários de seus fundadores e membros mais proeminentes, entre eles Jean-Luc Godard, iniciaram suas carreiras como críticos para a revista de cinema Cahiers Du Cinéma.


Cahiers du Cinéma Cahiers du Cinéma é uma revista sobre cinema editada na França e criada em março de 1951 por Jacques Doniol-Valcroze, André Bazin e Lo Duca. Foi nesta revista que François Truffaut começou a atacar a qualidade do cinema francês e defender a teoria dos autores (Auteur Teory), que conduziu à revalorização de cineastas de Hollywood como Hitchcock, Howard Hawks, Robert Aldrich, Nicholas Ray e Fritz Lang. Os críticos que escreviam nesta revista vieram a se tornar os principais nomes da Nouvelle Vague, como Godard e Truffaut, entre outros.


Auteur Theory Os cineastas da Nouvelle Vague defendiam um cinema autoral, isto é, um cinema que expressasse as idéias e intenções do diretor, e não do produtor. A teoria defendida por François Truffaut atacava Hollywood, onde as grandes produtoras controlavam (e ainda controlam) excessivamente o trabalho do diretor.

Embora reconhecessem que o cinema é de fato uma indústria, os críticos da Cahiers defendiam que um diretor deveria dirigir tal como um escritor utiliza uma caneta, imprimindo sua própria caligrafia em sua obra. Os cineastas mais valorizados pelo grupo eram aqueles que, aos olhos deles, mais se aproximavam de um cinema autoral, tais como Alfred Hitchcock, Howard Hawks e Jean Renoir. Contraditoriamente, os defensores dessa idéia davam pouco valor ao papel do roteirista. Foram criticados principalmente por nomes ligados à Neo-Crítica, crítica literária americana.


Marcas estilísticas da Nouvelle Vague (e de Jean-Luc Godard): • • • • • •

Câmera na mão; Plano sequência; Cortes abruptos; Travelling; Utilização de locações ao invés de estúdio; Distanciamento, interpretação não-catártica dos atores;


Quem influenciou: - Estilisticamente, o Neo-Realismo Italiano foi de grande importância para a Nouvelle Vague. Ambos movimentos compartilham elementos como a utilização de locações reais, os orçamentos mínimos, etc.; - O diretor Dziga Vertov, do Construtivismo Russo, foi grande influência de Godard, que participava de um grupo de estudos sobre o cineasta; - O Teatro Dialético, de Brecht, segundo o qual a catarse deve ser evitada, influenciou a direção dos atores da Nouvelle Vague, com suas atuações anticatárticas;


Quem influenciou: - O cinema B americano, por ser menos convincente e mais barato do que as produções holliwoodianas, era visto com bons olhos por diretores como Godard; - O cinema noir é visível nas produções em preto e branco de diretores como Godard. A estética de filmes como Alphaville muito se assemelha aos filmes policiais americanos;


Quem foi influenciado: • Quentin Tarantino dedicou seu “Cães de Aluguel” a Jean-luc Godard. Além disso, sua produtora chama-se “A Band Apart”, em referência ao filme “Bande à Part”, do diretor francês;

• O Cinema Novo no Brasil tem como principais referências o Neo-Realismo Italiano e a Nouvelle Vague; • Shinichirõ Watanabe, diretor de TV japonês, foi bastante influenciado por Godard. Os protagonistas do anime Cowboy Bebop possuem semelhanças visíveis com alguns dos principais personagens dos filmes de Godard. O vigésimo episódio deste anime chama-se Pierrot le Fou;


Quem foi influenciado: • O ganhador de Cannes Mathieu Kassovitz batizou seu primeiro curta-metragem de Fierrot le Pou, também em referência ao filme de Godard.

• O diretor de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, Michel Gondry.


FILMES



Pierrot Le Fou (O Demônio Das Onze Horas) Ferdinand é um professor casado e com filhos. Anda desiludido por ter perdido seu emprego na televisão. Em uma noite o casal vai a uma festa e contrata a jovem Marianne (Anna Karina) para cuidar das crianças. Ao voltar para casa depois de uma noite decepcionante, Ferdinand encontra a babá, a quem já conhecia, e se apaixona por ela. Os dois fogem para o sul, onde se envolvem com crimes e conspirações políticas.


• Na primeira cena mostrada, percebe-se uma montagem nãolinear, em que, através de cortes abruptos, acontecimentos se sucedem de maneira nãocronológica. • A cena em que aparecem inexplicavelmente uma arara e um tipo de raposa, ambos dóceis, realça o clima idílico daquela parte do filme. • Na terceira cena, os personagens parecem ameaçar o espectador com uma arma e uma tesoura. • Nas duas últimas cenas mostradas, fica evidente o uso de cores primárias, como os tons vivos de vermelho, azul, verde e amarelo, lembrando inclusive os sistemas RGB e CMYK.



Vivre Sa Vie (Viver A Vida) O filme, dividido em capítulos, conta a história de Nana (Anna Karina), uma jovem que abandona o seu marido e o seu filho para iniciar sua carreira como atriz. Para financiar sua nova vida começa a trabalhar numa loja de discos, mas não ganha muito dinheiro. Como não consegue pagar o aluguel, Nana é expulsa de casa e recorre à prostituição, conhecendo Raoul (Saddy Rebot), que se converterá em seu cafetão. A partir desse momento, Nana irá introduzindo-se progressivamente no mundo da prostituição.


• Na primeira cena do filme, ocorre um longo diálogo em que os personagens são filmados detrás, o que cria uma sensação de desconforto realçada pelo fato de ser esta a abertura do filme. • A cena da loja de discos é marcada por um longo plano sequência, em que a câmera acompanha a atriz em seus movimentos pela loja. O uso abundante do travelling e do plano sequência é uma das marcas dos filmes de Jean-Luc Godard.



Alphaville O agente Lemmy Caution (Eddie Constantine) é enviado a Alphaville, uma cidade futurista controlada pelo supercomputador Alpha 60, que aboliu os sentimentos e mantêm seus habitantes sob rígido controle. A missão do agente é encontrar o professor Von Braun, criador do Alpha 60, e destruir o computador. O filme tem fortes influências de 1984, de George Orwell.


• O método de execução mostrado na primeira cena é muito distinto daqueles mostrados em outros filmes de tema similar ao de Alphaville, e bem mais peculiar. Esta cena demonstra uma preocupação do diretor em evitar clichês, a menos que sejam mostrados como tal. • Esta cena é interrompida por palavras escritas com néon, um recurso usado em outros filmes de Godard. Há também partes da cena em negativo. Tais experimentos com recursos de filmagem são comuns em seus filmes.



Week End Um casal de franceses, Roland e Corrine, partem para a casa dos pais dela no campo para conseguir uma herança, matando o pai de Corrine se necessário. Tem início assim uma viagem de carro cada vez mais caótica e populada por personagens e situações bizarras. O filme é repleto de experimentações formais e vinhetas sobre temas diversos, como a luta de classes.


• A cena em plano seqüência mostrando um engarrafamento em uma estrada é bastante conhecida e referenciada.


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