BudRock

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SANGUE, SUOR E ROCK ‘N ROLL

maio/junho de 2014

JIM MORRISON

sexy, perigoso e imortal: por que o mito continua vivo?

MUSE

The 2nd Law World Tour Saiba tudo sobre a experiência áudio-visual que vem impressionando por onde passa

ALICE COOPER

olha para o passado:

“Eu não peço desculpas por nada”



SUMÁRIO 6 NOVIDADE

Courtney Love: música inédita.

13 AO VIVO

Com performance energética e discurso de superação, Demi Lovato emociona público em SP.

18 DESTAQUE

Inovando, Muse traz tecnologia ao palco da The 2nd Law Tour.

24 ELETRÔNICA

DJs que dominam o mundo.

45 TOP

Os 100 maiores guitarristas de todos os tempos.

49 BEATLES

Autógrafos dos Beatles em painel do programa The Ed Sullivan Show podem render US$ 800 mil em leilão.

56 ENTREVISTA

Alice Cooper olha para o passado: “Eu não peço desculpas por nada”.

69 HISTÓRIA

Estúdio pede ajuda para recuperar mesa de mixagem que gravou Ten do Pearl Jam.

82 ESPECIAL

Jim Morrison - sexy, perigoso e imortal: por que o mito continua vivo?


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[ DESTAQUE

Depois de impressionar o mundo e fechar de forma triunfante a segunda noite do Rock in Rio, Muse fala um pouco sobre a turnê e a nova fase da banda. Budrock te traz detalhes sobre essa turnê revolucionária e o álbum por trás dela. por Sthephany Carvalho Um dos shows mais memoráveis do Rock in Rio 2014, sem dúvidas, foi da banda Muse. Fazendo parte de sua turnê, The 2nd Law, a banda apresentou um espetáculo no qual conseguiu mais uma vez envolver o publico com seu experimentalismo, carisma, energia no palco e, claro, efeitos visuais incríveis. O nome do novo álbum da banda se dá pela segunda lei da termodinâmica, a entropia. Ela explica que quando uma parte de um sistema fechado interage com outra parte, a energia tende a dividir-se por igual, até que o sistema alcance um equilíbrio térmico. A explicação da obra está presente em seu primeiro single, The 2nd Law: Unsustainable, como uma analogia à sociedade e ao constante desperdício de energia, quase um caos individual que cada pessoa carrega em si. Uma consequência da teoria da entropia é o caos, e ele está muito presente no The 2nd Law com a ordem caótica das músicas, o conceito que une as músicas e as inúmeras influências em cada uma delas. A banda aproveitou o conceito de caos para experimentar mais ainda, se arriscando no dubstep (como na música The 2nd Law: Unsustainable) mas também mantendo suas influências clássicas; como se Skrillex e Freddie Mercury fizessem uma parceria. A verdade é que Muse está além de comparações e rótulos, ‘’Nós somos definidos pelo fato de ninguém poder nos definir.’’, disse o vocalista Matt Bellamy.

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A Budrock te traz um review do álbum The 2nd Law, música por música! Enquanto os outros álbuns do Muse costumam ter uma introdução Supremacy

mais lenta ou planejada para criar suspense, Supremacy rapidamente desperta o interesse e mostra energia com um incrível riff de uma guitarra de sete cordas e forte presença da bateria de Dominic Howard. O vocal de Bellamy começa suave, quase uma narrativa, e é trabalhado até chegar às suas características notas altas.

PRELUDE

Eleita a música oficial das Olimpíadas de 2012, a música é outro forte marco no álbum, especialmente depois de uma introdução tão pomposa. A música mantém sua dramaticidade e sua força graças ao impecável trabalho na guitarra durante toda a música e à letra triunfante.

SURVIVAL EXPLORERS

ANIMALS

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Familiarizada com sinfonias instrumentais, a banda apresenta o que é quase uma ‘’entrada’’ para a música Survival, o ‘’prato principal’’.

A real canção de ninar que Bellamy prometeu ao filho. Apesar de ser a música mais longa do álbum, é provavelmente a menos memorável. Explorers talvez tenha sido o ponto frágil do álbum, quebrando um pouco a concisão que une as músicas.

Apesar de mais calma, também marca presença no álbum. Os riffs ajudam a criar uma atmosfera quase hipnótica, infelizmente quebrada pelo final barulhento de briga. Conceitual ou não, podia ter sido deixado de lado.

LIQUID STATE

A segunda música cantada por Chris Wolstenholme. Consegue ser identificada como uma música do Muse, especialmente pelo instrumental e por resgatar o clima mais pesado do início. Ainda assim, não é um dos destaques do álbum.


[ DESTAQUE Depois de mostrar a que veio com Supremacy, a banda consegue acalmar e ainda assim manter um bom ritmo com Madness. Feita sem nenhum tipo de exagero, o single é talvez o mais marcante do álbum e sintetiza a identidade da banda nesse novo álbum. Há rumores de que a música foi composta para a noiva de Bellamy, a atriz Kate Hudson. Nessa música, estão presentes todas as características marcantes da banda, riffs sensacionais que duram até 70 segundos e assim, a banda consegue voltar a um ritmo mais agressivo depois de Madness.

MADNESS

PANIC STATION

A música começa com o batimento cardíaco do bebê de Matt Bellamy, gravado dias antes do nascimento. A letra em si expressa afeto e proteção, quase uma sinistra canção de ninar. Com versos afetuosos como ‘’Be brave / I’m coming to hold you now’’ e mais infortunas como ‘’When your fire has died out / And no one’s there’’. A introdução com uma influência eletrônica confunde quem ouve e nos faz perguntar o que virá a seguida. Logo então, ela dá a vez à primeira experiência da banda com dubstep.

FOLLOW ME

A primeira música da banda onde os vocais são de Chris Wolstenholme, o baixista. Como o instrumental não é incrivelmente trabalhado como nas outras músicas, quase não parece algo que Muse faria. A música em si não é ruim, mas ela certamente foi prejudicada por vir depois de Big Freeze. Como uma música do U2 foi parar no álbum? Nada mais a dizer. Apesar de ter qualidade, a música não é singular e não expressa a identidade da banda.Survival, o ‘’prato principal’’. Começa lembrando um pouco as músicas do álbum The Resistance, mas logo vemos a nova presença do dubstep. Talvez seja a música mais conceitual do álbum e provavelmente é a que mais explica o conteúdo por trás da criação. Talvez ele tenha sido um pouco ofuscado pelo dubstep estilo Skrillex. A banda alega que tudo foi gravado com instrumentos não eletrônicos. Para fans que já ouviram encerramentos como ‘’Exogenesis: Symphony’’ ou ‘’Knights of Cydonia’’, Isolated System não é nada impressionante. Um álbum espetacular merecia um final espetacular

SAVE ME

BIG FREEZE

UNSUSTAINABLE

ISOLATED SYSTEM BUDROCK 4


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[ DESTAQUE

Em 7 de junho de 2012, pelo site oficial e pelo twitter, Muse anunciou a turnê. Mal sabia a banda que, depois de um ano e 79 shows, a ela geraria lucro de mais de 103 milhões de dólares e apareceria na lista ‘’Year End Top 20 Worldwide Tours’’, da Pollstar. A banda é conhecida por seu alto padrão se tratando de apresentações ao vivo. A produção da turnê do Muse não apenas apresenta a obra que é o album, mas também faz parte dela. Grande parte dos creditos se deve ao supervisor Steve Iredale e ao show designer Oli Metcalfe. Steve disse em entrevista que apesar de ja ter trabalhado com a banda antes, essa foi a primeira turne onde ele esteve presente desde o início, o que o ajudou a entender a visão e os objetivos da banda. Ele tambem elogiou o trabalho de Oli, que há treze anos conhece a banda e a viu evoluir, indo de pequenos locais para grandes arenas lotadas.

ENTROPIA

SETLIST

Projetado a partir de uma pirâmide inversa, o resto da produção girou em torno do conceito de Entropia passado pelo álbum. A pirâmide ao contrario é conceitual, representando a inversão da hierarquia de poderes em áreas como economia e política.

Apesar de valorizar muito o novo álbum, houveram clássicos como Super Massive Black Hole, Knights of Cydonia e Undisclosed Desires, garantindo satisfação ao público que é fiel à banda desde o começo. Também houve uma bela surpresa com a inclusão do cover de Feeling Good, música de Nina Simone.

PERTO DO PÚBLICO Outro conceito técnico incorporado foi a interaçao frequente e direta com o publico. Diferente da turne The Resistance, onde a banda estava bem elevada em relaçao ao publico, quase em um pedestal. Nos shows da The 2nd Law, Matt estava proximo aos fans, muitas vezes indo ate eles durante o show, apertando mãos. Outra curiosidade é que o palco e as telas de LCD foram posicionadas de forma que pudessem ser vistas em qualquer posiçao da arena.

ROCK IN RIO Muse fechou com chave de ouro a segunda noite da edição de 2013 do festival, depois de um show animado e consistente, diferente de qualquer apresentação que o público já tenha visto. Depois de mais de uma hora e meia de apresentação, a noite foi encerrada com fogos de artifício e muitos aplausos.

CONTEÚDO CRIATIVO O conteúdo digital apesentado pelas várias telas durante o show foi criado especialmente para a turnê por Kirk Metcalfe e Lydia Baker usando programas como after effects. Os projetos incluíram desde trechos das músicas até um robô dançarino batizado de Charles por Bellamy.

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[ ESPECIAL

JIM MORRISON sexy, perigoso e imortal: por que o mito continua vivo? Na edição de janeiro da Rolling Stone Brasil, investigamos a história do vocalista do The Doors, apresentamos uma entrevista histórica com o astro e ainda comentamos a discografia da banda. por Paulo Cavalcanti

Jim Morrison, se estivesse vivo hoje, teria 70 anos e pouco mais de um mês. Um dos mais notórios membros do chamado “clube dos 27”, ele definitivamente não foi feito para durar ou ter cabelos brancos e rugas. A morte não é heroica, mas a mitologia que envolve o fim do vocalista do The Doors segue reproduzida infinitamente. Cada grande astro do rock que surgiu na década de 50 e 60 deixou uma marca e modificou o panorama social para as gerações seguintes. Mas Jim Morrison foi além; no fim das contas, ele não precisava se esforçar muito para ser mais moderno do que os contemporâneos. Na edição de janeiro da Rolling Stone Brasil, você conhece todas as facetas de Morrison, lê uma entrevista histórica com o cantor e ainda conhece a discografia e a videografia do Doors. Rebelde autêntico, o artista renegou a família – dizia que os pais estavam mortos, o que não era verdade. Nunca mais quis saber deles, especialmente do pai, almirante da Marinha norte-americana. Mais preocupado com a poesia do que com a cultura jovem e rock and roll, a princípio ele passou longe de toda a efervescência criada pelos Beatles e pelos Rolling Stones.

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No começo, Morrison jogou o jogo. Estudante de imagem, sabia como vender as feições apolíneas com as quais foi abençoado. Ele pediu a Jay Sebring (cabeleireiro top de Los Angeles e mais tarde vítima da gangue de Charles Manson), que fizesse nele um corte de cabelo chamado “Alexandre, o Grande”. Com o peito nu e usando apenas um colar, Morrison posou para fotos promocionais que depois seriam apelidadas de “O Jovem Leão”. Essas imagens, feitas por Joel Brodsky, são até hoje reproduzidas e todo mundo as conhece (a mais famosa delas está na parte anterior dessa matéria) – há cerca de 45 anos vendem com perfeição a ideia do jovem e sensual deus do rock. As feições de Morrison eram tão perfeitas que pareciam ter sido esculpidas. Só que não havia nada de feminino ou andrógino nele. Bonito, sim, e particularmente perigoso. No verão de 1967, o Doors era onipresente na cultura pop – ninguém conseguia escapar de ouvir “Light My Fire”. Morrison, o Rei Lagarto, um xamã dionisíaco pingando sexo, desfilava pela região de Sunset Strip trajando calças de couro negro apertadas que não deixavam nada para imaginação. Com toda a arrogância do mundo, a banda contradizia o Beatles – o Fab Four dizia que “precisávamos de amor”, mas Morrison e companhia clamavam em “When

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the Music Is Over”: “Nós queremos o mundo e o queremos agora”. Como artista, Morrison tinha uma dupla reputação. Era idolatrado por fãs adolescentes, mas o material que produzia muitas vezes era proibido para menores de 18 anos.

Saiba mais na edição online da Bud Rock no site www.budrock.com a partir do dia 9 de maio.

Não se considerava um astro do rock, um cantor virtuoso ou ídolo adolescente, e sim um poeta que cantava o material que produzia. Vivia uma vida de vagabundo de luxo. Poderia ter a mansão mais luxuosa em Beverly Hills, mas, em vez disso, dormia em hotéis baratos ou no apartamento em Laurel Canyon que bancava para a namorada, Pamela Courson, - com quem vivia entre tapas e beijos. Carrões e bens materiais não eram do interesse dele. Dava dinheiro e presentes a mendigos e amigos bêbados. E poetas não

são poetas se não enchem a cara. Morrison nunca foi junkie. Detestava cocaína, experimentou profusamente LSD de 1965 a 1967, mas as viagens de ácido pararam quando viu que o álcool resolvia os problemas que tinha. Quando sóbrio, era um cavalheiro do sul, gentil e de fala mansa. O problema de encher a cara é que ele se tornava inconveniente e disposto a cometer mesquinharias com quem estava ao seu redor e se importava com ele. Tanto causava encrenca nos shows que chegou a ser preso em pleno palco em um show em New Haven. Costumava dizer que queria usar os métodos de provocação da trupe do Living Theater. A grande tragédia na vida de Morrison viria em 1º março de 1969, em uma apresentação no Dinner Key Auditorium em Miami (Flórida), justamente o estado onde o artista nasceu. O show começou com duas horas de atraso, devido a um desentendimento entre os promotores do evento. Morrison entrou no palco bêbado, não concluiu nenhuma canção e entoava discursos inflamados para provocar a plateia. Em certo ponto, abaixou a calça de couro e ameaçou mostrar o pênis – por debaixo da calça ele usava uma cueca samba-canção. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu naquela fatídica noite – se Morrison expôs os genitais ou não –


e nem os integrantes do Doors, nem os policiais ou o público de 10 mil pessoas conseguiram formar uma opinião definitiva. Finalmente, no encerramento da apresentação, o cantor pediu que o público tomasse conta do palco e o caos foi instaurado. Morrison, antes um dos astros mais espertos e literatos do rock, agora era um palhaço alcoólatra e inconveniente. O que ninguém percebeu é que, com um gesto extremo como esse, o astro clamava por ajuda, e não por veneração barata. Na época, a própria Rolling Stone EUA achou que o episódio foi mais constrangedor do que ultrajante. Na famosa reportagem que a revista publicou na ocasião, Morrison aparecia em um pôster de “procurado” do velho oeste. A crítica e o movimento underground, que tanto incensaram o Doors em 1966 e 1967, agora decretavam que a banda era “peso leve”, e que Morrison não passava de um bufão cantorzinho de baladas. Poucos meses após o incidente de Miami, apareceu Charles Manson, outro fantasma a assombrar a contracultura. Morrison foi deixado de lado e perdeu o título de homem mais odiado dos Estados Unidos. Talvez o cantor tenha achado que o fato de ser bonito prejudicasse o desejo de ser levado a sério como artista. Para sufocar o “Jovem Leão”, ele guardou as calças de couro, engordou e escondeu o

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rosto atrás de uma barba e óculos escuros. A Justiça norte-americana queria transformar Morrison em exemplo. Ele foi julgado, condenado, teve de pagar pesadas multas e viu sua energia esvaída em meio a idas e vindas ao tribunal. Acabou condenado a seis meses de prisão. Apelou, mas temia o dia em que seria encarcerado. Mas o Doors era uma mini-indústria, e mesmo com seu homem de frente envolto em problemas, a banda precisava produzir, gravar e se apresentar.

Depois de Miami, os promotores de espetáculos achavam que Jim Morrison era uma bomba-relógio, e o número de apresentações caiu consideravelmente. Em compensação, a banda se recuperou em estúdio, lançando Morrison Hotel e gravando L.A. Woman, dois álbuns consistentes e mais focados que apontavam para dias melhores. Morrison perdeu a fé, se fechou para o mundo e entrou em forte depressão. Não era fácil conviver com ele, e ele próprio sabia disso. Os amigos se afastaram discretamente.

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Longe de ser um mártir de alguma causa ou um herói da liberdade de expressão, Jim Morrison era apenas um cara perdido. Em março de 1971, foi para a França, terra dos poetas e dos artistas surrealistas que tanto adorava. Nessa tentativa de recuperar a musa poética em terra estrangeira, não teve tempo de produzir muito. Mas pelo menos parecia estar mais sossegado, longe do assédio e das pressões. A morte de Jim Morrison, oficialmente vitimado por um ataque cardíaco em 3 de julho de 1971, gerou dezenas de teorias de conspiração – repassá-las aqui

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nem valeria a pena. Mas, ao morrer no apartamento em que vivia, Morrison teve o final que sempre quis: o do poeta nu, morto silenciosamente dentro da banheira. E não deixou de ser um dedo do meio para aqueles que o queriam atrás das grades e humilhado. Quando Morrison se foi, os outros três membros do The Doors teimosamente seguiram em frente. Lançaram dois álbuns que passaram despercebidos e logo encerraram as atividades. Morrison tornava tudo difícil, mas sem ele a banda perdia sua entidade. A poesia caótica de fim do mundo do Doors foi literal-

A poesia caótica de fim do mundo do Doors foi literalmente sepultada pelo resto da década de 70.


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mente sepultada pelo resto da década de 70. Em tempos de glam, rock progressivo e disco music, a visão sinistra de Morrison não tinha espaço. Claro, muitos fãs do Doors acabaram militarando no punk, mas a visibilidade da banda e de seu carismático e complicado frontman parecia ter esgotado. Em 1979, o diretor Francis Ford Coppola usou “The End” de forma decisiva no épico Apocalypse Now. As memórias da Guerra do Vietnã estavam de volta, e seu bardo mais eloquente também. Jim Morrison era assunto nas livrarias com o best-seller Ninguém Sai Vivo Daqui e na capa da Rolling Stone com a provocativa chamada “He’s Hot, He’s Sexy and He’s Dead” (Ele é Quente, Ele é Sexy, Ele está Morto). Os anos 80 foram infestados de bandas que se calcavam no som baseado em teclados e abusavam de imagens surrealistas – de Echo & the Bunnymen a The Cult, todo mundo queria um pedacinho do The Doors. Talvez em termos de mitologia póstuma, hoje Morrison tenha sido suplantado por Kurt Cobain como o grande garoto problema do rock. O líder do Nirvana e o vocalista do Doors foram verdadeiramente heróis trágicos. Morrison, em particular, praticou o conceito da húbris – tornou-se tão arrogante que desafiou a fonte de seus poderes e, no processo, foi destruído. Ele ainda está enterrado no cemitério Père Lachaise, em Paris, e todo ano a administração local toma medidas para impedir o caos e o vandalismo que cercam a lápide do cantor, que até ficaria contente com isso. E enquanto a poderosa música do The Doors passar de geração para geração e as fotos do Jovem Leão circularem, o espectro do Rei Lagarto estará conosco.

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Alice Cooper olha para o passado:

“Eu não peço desculpas por nada” O astro do rock é tema do documentário Super Duper Alice Cooper, que acabou de estrear no festival Festival de Cinema de Tribeca

Por Kory Grow

“Nós não trouxemos a galinha”, diz Alice Cooper à Rolling Stone EUA, fazendo um gesto enfático com a mão em um hotel em Nova York. Em setembro deste ano, serão completados 45 anos desde que Alice Cooper se tornou Alice Cooper depois de encarar o público no show Toronto Rock’n’Roll Revival, enquanto abria para John Lennon. Reza a lenda que alguém jogou a ave no palco, e, pensando que ela iria voar (“Eu sou de Detroit e nunca havia pisado em uma fazenda na vida”, ele diz até hoje), jogou-a de volta para a plateia – apenas para ver o público desmembrá-la. “Quando eu percebi que as cinco primeiras fileiras eram de pessoas em cadeiras de rodas, tudo ficou ainda mais macabro”, relembra Cooper. O frontman credita a esse dia à inspiração para a persona que ele usa no palco até hoje. “Eu percebi que a plateia está louca por um vilão”, diz Cooper, que ainda se veste inteiramente de preto, in-

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cluindo as calças de couro. “Eles realmente querem um vilão – e quem melhor para interpretá-lo do que eu?” Cooper tem feito algumas reflexões profundas nestes últimos meses, depois de ter participado de um documentário sobre a vida dele, Super Duper Alice Cooper (o filme acabou de estrear no Festival de Cinema de Tribeca). Com um elenco que inclui Elton John, Bernie Taupin, Johnny Rotten, Iggy Pop, a mãe de Cooper e, é claro, o próprio Cooper, Super explica como Vincent Furnier, de Detroit, se tornou o vilão que atrai fãs para o pesadelo que ele cria em cima do palco e em álbuns como Love it to Death e Billion Dollar Babies desde os anos 1960. O documentário, que foi feito pelas mesmas pessoas que produziram Beyond the Lighted Stage, sobre o Rush, combina animação e gravações antigas,

examina como Cooper se tornou um nome familiar e como o personagem quase levou a melhor sobre ele. Fala sobre quando o cantor conheceu Salvador Dalí, as turnês cheias de álcool e até sobre o motivo de Cooper ter encontrado consolo no Cristianismo.


[ ENTREVISTA

“Eu percebi que a platéia está louca por um vilão” BUDROCK 14


Como foi assistir a sua vida passar diante dos próprios olhos? É engraçado, porque eu não não vivo no passado. Eu entendo que as pessoas queiram saber como foi que tudo deu certo, como eu comecei, e é uma história interessante. Mas foi divertido voltar. Eu não peço desculpas por nada – tudo aconteceu na “Era de Ouro”, quando você podia fazer referências a Jimi Hendrix e Jim Morrison e perceber: “Eu ficava bêbado com esses caras”. À medida que você reconta essas histórias de pessoas como Hendrix e Morrison, o que vem a sua mente? O que eu aprendi com eles – tirando John Lennon, é claro, que era um lance muito diferente – é que eles viviam tudo ao extremo. Jim Morrison, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Keith Moon: todos eles tinham a mentalidade de “Preciso fazer agora, porque eu não quero estar fazendo isso aos 30”. E minha mentalidade era: “Eu preciso descobrir como separar a minha personalidade deste personagem, ou isso vai me matar” [risos]. Para mim, era tentar descobrir como eliminar esse meio termo para poder ter uma vida minha, e Alice Cooper ter uma vida dele.

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Você fala sobre religião no documentário. Isso já limitou Alice, o personagem? Até hoje, existe um momento em que penso: “Será que Alice faria isso?” Eu gosto do fato de existirem coisas que Alice não faria. Alice nunca xinga; isso não é legal. Existe uma elegância nele. Há músicas que eu não cantaria como Alice que eu escrevi há muito tempo, coisas que eu não quero que Alice promova. Falando dos enforcamentos e guilhotinas que você usa no palco. Você já conseguiu antever algo perigoso demais antes de ir em frente? Não perigoso demais, mas houve momentos “Spinal Tap”. Já surgiram coisas do tipo: “Vamos colocar Alice em um canhão”. E compramos um canhão, e deu certo. Eu entrava no canhão, saía pela parte de trás, eles colocavam um boneco e atiravam; enquanto isso, eu já estava do outro lado e saía andando. É uma ilusão, mas ficava ótimo. Mas nada foi muito perigoso. A guilhotina é uma lâmina de quase 20 quilos; ela por pouco não me pega todas as noites, pelos últimos 40 anos. A mesma coisa com o enforcamento – você tem que esperar que o cabo do piano tenha sido testado naquela noite. Quando você tem uma cobra python de quase quatro metros no palco, 99% do tempo ela vai estar bem

– mas e se chega uma noite que ela decide fazer outra coisa? Eu sempre gostei da ideia de existir a possibilidade de alguma coisa acontecer. O documentário inclui o show de Toronto no qual os fãs jogaram a galinha no palco, você jogou de volta e a plateia a desmembrou. Na apresentação, você estava abrindo para John Lennon. Ele te disse alguma vez o que ele achou daquilo? Ah, ele amou aquilo. John Lennon era um vampiro de Hollywood. Ele era um dos que bebia. Mas era John Lennon e Yoko quando eles estavam fazendo a arte deles. Então, eles viram aquilo como arte; Yoko e John ficaram, tipo: “Isso é ótimo”. John achou engraçado. E eu não matei a galinha. [Risos] Mesmo que eles quisessem, eu não teria matado a galinha. Mas eu percebi naquele momento o quão loucas por sangue estavam aquelas pessoas no festival paz-e-amor – e era isso o que ele era. Eles não viam problema nenhum em matar a galinha.


[ ENTREVISTA

“John Lennon era um vampiro de Hollywood”

Falando de estrelas do rock: tem uma cena interessante no filme, que é quando você conhece o seu empresário, Shep Gordon, no Landmark Hotel, e tromba com Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison em um quarto repleto de fumaça de maconha. Aquela cena deixou uma impressão sobre você. Você precisa se lembrar que nós éramos uma banda jovem de Arizona, e que nós conseguíamos fazer um baseado durar uma semana, porque era tudo o que tínhamos. E você entra em um quarto tão cheio de fumaça que não consegue ver a pessoa na sua frente, e quando a fumaça se dissipa [suspira]: “Olha, é o Jimi Hendrix ali.” E Shep, nosso empresário, abre uma gaveta, e tem uma gaveta [de maconha], e ele pega um punhado. “Esse é o nosso empresário. Isso vai ser demais.” Em 68, 69, essa era a coisa mais legal do mundo. Então, é, ver aqueles caras nos fez pirar. O engraçado é que a nossa banda era formada por bebedores de cerveja. Era muito estranho que as bandas com uma má reputação eram formadas por bebedores de cerveja, enquanto Mamas and the Papas, Jackson Browne e o resto estavam usando heroína. Era o oposto do que você imaginaria ser. Os caras do The Monkees sempre usavam ácido. Nós bebíamos Budweiser [risos].

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