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Dia da Água
SP, 22 de março de 2015
Lições de conscientização No Dia Mundial da Água, conheça iniciativas da população e dos principais setores da economia para enfrentar a maior estiagem dos últimos tempos Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão.
Especial Dia da Água
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A valorização da água Como a escassez hídrica na região mais populosa do Brasil evidenciou o valor desse recurso natural e transformou os hábitos da população
A tipografia usada nesta página foi feita a partir do solo ressecado do Sistema Cantareira. Faz parte da campanha A Voz da Seca, que incentiva o consumo consciente da água. avozdaseca.org.br
Cada um faz a sua parte Neste novo cenário, a população levou a sério as campanhas para diminuir o desperdício e deu exemplo de criatividade para driblar o momento difícil. Além de reduzir o consumo, não são raros os casos em que as pessoas criaram um sistema para o reuso da
água do banho e da lavadora de roupas ou para captar água da chuva. Moradores que têm piscina em casa também divulgaram formas de utilizar a água de uma forma mais consciente. Entre as alternativas estava aproveitar o líquido para a limpeza da casa ou ainda deixar de usar o aspirador da piscina, para evitar desperdício. As cisternas – prática milenar de armazenar a água da chuva ou de poço em recipientes fechados – se tornaram tão populares em São Paulo que na in-
Diretor de Projetos Especiais e Jornalista responsável, Ernesto Bernardes - MTB 53.977 SP; Gerente de Conteúdo, Bianca Krebs; Direção de arte, João Guitton; Gerente Comercial, Gabriela Gaspari; Analista comercial, Vinicius Ouro;
ternet até foram criadas campanhas para ensinar a população a fazer seu próprio reservatório doméstico. Em consequência disso, houve um crescimento de 50% a 60% das vendas de caixas d’água no País e de 200% das cisternas prontas, que já vêm com as conexões hidráulicas. A Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas) calcula que também tenha havido um aumento de 30% nas licenças de construção de poços artesianos nos últimos seis meses, especialmente por parte de condomínios,
Com a seca, a população adotou novos hábitos e tem se mobilizado em busca de alternativas para o consumo de água, como o reuso e a construção de cisternas hospitais e indústrias. O interessante é que o Brasil sempre ocupou uma posição estratégica na questão hídrica, por ser um país privilegiado: possui a maior reserva de água doce da Terra (12%), o rio com maior vazão do planeta e o maior reservatório subterrâneo do mundo, o Aquífero Guarani. Por isso, com toda essa abundância de água, o brasileiro acabou não se atentando para a finitude desse recurso e incorporando o desperdício no dia a dia. Para se ter um parâmetro, a média de
Gerente de Planejamento, Fernando Pieratti; Coordenador de Planejamento, Thiago Kubota; Assistente de Planejamento, Julia Santos; Coordenadora de Operações e Atendimento, Larissa Giannini Ventriglia.
consumo de água por dia por aqui é de 200 litros, o dobro da quantidade diária ideal recomendada pela Organização das Nações Unidas. Porém, esse quadro deve ficar bem diferente nos próximos anos, já que é visível a mudança de comportamento da população e a tendência é que os novos hábitos se tornem parte da rotina de todos daqui para frente – principalmente da nova geração, que está aprendendo desde cedo a importância de preservar esse bem tão valioso.
Colaboradores, Texto - Lilian Rambaldi e Fabiane Prohmann. Endereço Av. Eng. Caetano Álvares, 55 6º andar, São Paulo-SP - CEP 02598-900 E-mail comercial - gabriela.gaspari@estadao.com
Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão.
J.F.Diorio
Evelson De Freitas/Estadão
Tiago Queiroz/Estadão
Amanda Perobelli/Estadão
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odos sabem que a água é um recurso finito e essencial para o desenvolvimento humano. Entretanto, há alguns anos esse conceito estava esquecido em regiões do Brasil que não sofriam com longos períodos de estiagem. Bastava abrir a torneira para ter acesso `a água a qualquer momento e a disponibilidade gerava abuso no consumo e desperdícios. Em São Paulo, por exemplo, era comum ver cenas de pessoas "varrendo" as calçadas com a mangueira, jardins regados com água potável e prédios inteiros lavados com fortes jatos de água, entre outras situações. Mas o período de escassez hídrica enfrentado pela região Sudeste, especialmente São Paulo e Região Metropolitana, não mudou apenas o cenário das principais represas, como também provocou mudanças profundas de comportamento na população. Desde que a falta d´água passou a fazer parte da rotina dos moradores, atos simples como tomar banho, lavar louça, dar descarga e escovar os dentes se transformaram em atitudes mais conscientes.
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Hábitos que fazem diferença
A água é um recurso escasso. E preservá-lo é a única forma de garantir a sustentabilidade das gerações futuras.
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udanças podem ser adotadas no seu dia a dia para contribuir com a conservação. veja exemplos. BANHEIRO Em uma residência, um banho de chuveiro de 15 minutos com o registro meio aberto joga 45 litros de água pelo ralo. Porém, se a pessoa fechar o registro ao se ensaboar, o tempo do chuveiro ligado cai para 5 minutos e o consumo, para 15 litros. Em um banho de ducha, se forem empregados os mesmos cuidados, a economia é ainda maior: de 135 litros para 45. Acionar a válvula de descarga por seis segundos consome de 6 a 10 litros de água. Por isso, não aperte a descarga mais tempo que o necessário nem utilize o vaso sanitário como lixeira. Também verifique se não há vazamentos (a descarga continua com uma pequena vazão após o uso). Escovar os dentes com a torneira não muito aberta, em cinco minutos, gasta 12 litros de água. Mas, se molhar a escova, fechar a torneira enquanto escova e depois enxaguar a boca com um copo de água, dá para economizar cerca de 11,5 litros. O mesmo procedimento pode ser aplicado ao fazer a barba. Em
apartamentos, onde a pressão da água é maior, a redução pode chegar a mais de 70 litros. COZINHA E ÁREA DE SERVIÇO Quem tem máquina de lavar louça deve ligá-la quando estiver com a capacidade total. Cheia, ela consome 40 litros de água. Lavar manualmente por 15 minutos gasta 200 litros. Se não possui lavadora, mantenha a torneira fechada ao ensaboar a louça. E economia é de 97 litros em uma casa e 223 em apartamentos. Faça o mesmo na hora de desfolhar verduras, descascar legumes e frutas, e cortar carnes. Deixe a roupa acumular e lave tudo de uma só vez. Uma lavadora de cinco quilos consome 135 litros de água a cada uso. No tanque, mantenha a torneira fechada enquanto ensaboa e esfrega as roupas. PARTE EXTERNA Não utilize a mangueira como vassoura para limpar o quintal ou a calçada. Durante 15 minutos, isso desperdiça aproximadamente 280 litros de água. Prefira lavar o carro usando apenas um balde e um pano, em vez de mangueira. Dessa forma, a economia é de 176 litros. Regue as plantas de manhã ou
à noite. Assim, evita a perda causada pela evaporação. Uma mangueira típica de jardim consome de 18 a 30 litros por minuto, então é possível economizar ainda mais (cerca de 90 litros) se usar um regador ou mangueira com esguicho-revólver (desse modo, não há perda de água quando o usuário não estiver usando). Distribuição do consumo médio de água em um apartamento:
55% chuveiro 18% pia 11% lavadora de roupas 8% lavatório 5% vaso sanitário 3% tanque * Dados da CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), considerando um apartamento de um conjunto habitacional, localizado na cidade de São Paulo.
ATENÇÃO COM VAZAMENTOS 46 litros por dia (1.380 ao mês) é a quantidade de água que pode ser desperdiçada com uma simples torneira gotejando. 3.200 litros é a perda diária causada por um furo de apenas dois milímetros no encanamento, para uma pressão de 15 m de coluna de água. 4.140 litros são jogados fora por mês por meio de um filete de uns dois milímetros. Segundo um estudo da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, os vazamentos representam em média 14% do consumo total de uma residência. Adotando as tarifas da Sabesp, companhia de abastecimento da cidade, a economia obtida com a correção de vazamentos é próxima de R$ 14,20 por mês.
RESERVATÓRIO DOMÉSTICO Com a crise hídrica, armazenar em casa a água da chuva tornou-se uma prática comum. A iniciativa contribui significativamente para a redução do uso de água potável, mas requer alguns cuidados. O principal deles é que esta água não pode ser encaminhada ao consumo humano (beber, cozinhar, tomar banho, escovar os dentes). Deve se restringir somente à limpeza da casa e área externa, alimentação do vaso sanitário, regas de jardins, etc., que não demandam uma água com tratamento avançado. Essa solução vai reduzir, em média, 24% do total gasto na residência. Outro cuidado é manter o conteúdo em um recipiente independente, para que águas de qualidades diferentes não sejam misturadas. O reservatório também precisa ficar muito bem tampado para evitar a proliferação de bactérias, não servir de criadouro para o mosquito da dengue e evitar acidentes domésticos (como o afogamento de crianças). Além disso, mesmo que para fins menos nobres, essa água precisa passar por uma tela para remover sólidos e principalmente ser desinfectada com cloro (2 ml para cada litro).
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Pronta para consumir
Conheça todo o trajeto que a água percorre desde o momento em que sai do manancial até chegar limpa à torneira da sua casa
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volume de água que circula no planeta passa por uma constante reciclagem: ela evapora, retorna ao estado líquido quando chove, se infiltra na terra e depois evapora novamente. Por ser um movimento cíclico da natureza, a quantidade de água que existe é sempre a mesma. O consumo dos seres humanos é que nunca para de aumentar. Mas esse consumo só é possível de forma segura nas cidades porque o homem criou um novo ciclo da água dentro das estações de tratamento. É um extenso processo de desinfecção, filtragem e distribuição para que esse recurso chegue potável à sua casa. Acompanhe:
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O processo convencional de
tratamento tem início com a captação nos mananciais, que são todas as fontes de água que podem ser usadas para abastecimento (rios, lagos, represas e lençóis freáticos). Para cumprir sua função, um manancial precisa de cuidados especiais como a proteção contra a poluição.
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A água então é bombeada desses locais até as estações de tratamento.
➡ Lá dentro, a primeira etapa é a adição de cloro, para facilitar a retirada de matéria orgânica e metais. Coloca-se então cal ou soda, para ajustar o pH, e algum coagulante (sulfato de alumínio ou cloreto, por exemplo). Isso é seguido de uma forte agitação da
água para agrupar as partículas de sujeira.
➡ O próximo estágio é misturar
a água lentamente para provocar a formação de flocos com as partículas, processo chamado de flocação. E depois, na decantação, a água passa por grandes tanques para separar os flocos que foram formados.
➡ Na etapa da filtração, ocorre a
passagem por um leito de pedras, areia e carvão. Isso retém a sujeira que ainda possa ter restado.
➡ Na reta final dentro da estação
de tratamento, acontece a última correção do pH, além da adição de cloro (para garantir a ausência de bactérias e vírus) e flúor (para a
prevenção de cáries).
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A água já tratada então vai para um grande reservatório e de lá distribuída para os reservatórios dos bairros.
➡ Ela sai do reservatório, segue
por tubulações maiores (as adutoras), entra nas redes de distribuição (com encanamentos mais estreitos) e chega às caixas dos prédios e casas.
➡ Enfim, a água chega aos desti-
nos finais, para consumo humano: torneiras, chuveiros e vasos sanitários. Lembrando que responsabilidade das empresas de abastecimento é levar a água potável até a entrada da residência. A partir daí, o consumidor deve cuidar das
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instalações internas e da conservação de sua caixa d’água. ALTERNATIVAS Outra forma de abastecimento, muito usada nas zonas rurais e outras regiões com dificuldade de abastecimento, são os poços artesianos, que retiram água do lençol freático, bem abaixo da superfície. Para construir um, é preciso consultar a prefeitura para verificar todas as exigências legais, ambientais e de tratamento. Há também a opção das cisternas, que são reservatórios de água da chuva ou de fontes artificiais como caminhão pipa. Essa água não é própria para beber, cozinhar e fazer higiene pessoal. Para esses fins, deve passar por tratamento específico e ser muito bem armazenada.
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A água que faz a economia girar Como as empresas brasileiras estão atravessando o período de seca e quais medidas que vem sendo adotadas para rever o consumo na indústria e na agropecuária mas do desperdício estão irrigações mal executadas e falta de controle do agricultor na quantidade usada em lavouras e no processamento dos produtos. PERDAS A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) realizou um levantamento em julho do ano passado com empresas da região de Campinas. A estimativa é de que três mil postos de trabalho já tenham sido fechados por causa da falta de água. Se a escassez continuar, projeções indicam que poderá haver um prejuízo na produção no valor de 20% do total do PIB do País, considerando somente o Estado de São Paulo. No setor de hortifrútis a restrição do uso de água deve afetar
50% dos produtores. A queda na produção deve comprometer futuros investimentos e causar pressão inflacionária, por causa do aumento dos preços de alimentos, de acordo com a Fiesp. Responsável por 60% do PIB do Estado, a indústria prevê queda na produção, redução de investimentos e demissões. Um levantamento realizado pela Fiesp, em parceria com o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), detalha as expectativas do empresariado. De 413 companhias paulistas consultadas, 67% afirmam temer um racionamento e 54% informam não possuir fontes alternativas. Uso consciente na agricultura Embora um racionamento não tenha sido confirmado, o problema de abastecimento da água é
Para fabricar uma calça jeans são gastos 11 mil litros de água
A produção de um quilo de manteiga exige 18 mil litros de água
mundial, e deve ser pensado com um todo. Atualmente a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) vem orientando produtores para o uso consciente da água na irrigação. Um bom exemplo, segundo a ONG SOS Mata Atlântica, é o de Botucatu, onde produtores começaram a irrigar suas plantações no final da tarde, para reduzir a evaporação. Eles ainda pararam de usar defensivos agrícolas em uma faixa a cem metros de distância do rio local, para evitar contaminação. SOLUÇÕES IMEDIATAS Algumas medidas vêm sendo tomadas para evitar maiores prejuízos com a falta de água. As mais comuns são a instalação de mais de uma caixa d’água e a perfura-
Para produzir um quilo de arroz são necessários 2,5 mil litros
Uma camiseta de algodão consome 3 litros de água
ção de poços artesianos. A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo, ligada à Fecomércio, tem orientado os estabelecimentos a se prevenirem, podendo assim manter o comércio em funcionamento. De acordo com a Associação Paulista de Supermercados algumas redes optaram por poços artesianos, mas em alguns casos a solução mais rápida é o uso de caminhões pipas. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) muitos empreendimentos têm pedido autorização para cavar poços artesianos. Mas, vale lembrar que esta medida gera um outro desafio: como implantar esta solução sem que ela afete o bolso dos consumidores.
O cultivo de uma alface precisa de 40 litros de água
A carne de boi, considerando a produção desde o seu início, utiliza, para cada um quilo, 17 mil litros de água
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Fotos: Istock
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raticamente tudo o que comemos ou usamos necessita de uma grande quantidade de água para ser produzido. Os números são grandiosos. Para fabricar uma calça jeans, por exemplo, a indústria gasta 11 mil litros de água, no cultivo de uma alface são utilizados 40 litros e para produzir um quilo de arroz são necessários 2,5 mil litros. Com esses dados fica mais fácil perceber que uma crise de água afeta todos os setores da economia. O consumo mundial de água doce se divide em 70% para a agropecuária, 20% para a indústria e apenas 10% para uso doméstico, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Na agropecuária, entre as for-
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Afogando em números 1,4 bilhão de quilômetros cúbicos é o volume de água que a Terra possui Do volume fluvial mundial, nossos rios reúnem 12% 2,5% apenas são de água doce, sendo 0,26% disponível para o consumo
77% do manancial* de água doce da América do Sul estão no Brasil *Mananciais são todas as fontes de água, superficiais ou subterrâneas, que podem ser usadas para o abastecimento público
A cada 100 litros de água usados no mundo:
70% da água superficial do País estão
10 vão para as residências 20 ficam com a indústria 70 com a agricultura
concentradas na região amazônica
Consumo médio de água por dia
30% restantes distribuem-se desigualmente para atender a 93% da população brasileira 6% do total, apenas, estão na
1 norte-americano = 3 brasileiros 1 brasileiro = 12 angolanos
parte mais populosa, a Sudeste
O Aquífero Guarani* tem mais água que todos os rios do planeta:
50 quatrilhões de litros
100 litros/dia é o gasto médio por pessoa que a OMS considera ideal
Daria para encher 7,5 milhões de estádios do Maracanã até a borda! *Aquífero Guarani”: Esta é a maior reserva de água doce do mundo. Ocupa o subsolo de oito estados brasileiros e se estende até Argentina, Uruguai e Paraguai. Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão.
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