EMBRAPA/ RENATA SILVA
Agronegócio Caderno do
PRODUZIDO POR
MILHO
Brasil é o mais competitivo do mercado internacional Pág. 2
DIVULGAÇÃO
SÃO PAULO, 28 DE OUTUBRO DE 2015
Futuro sustentável
Integração de lavoura, pecuária e floresta ganha força no País
Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão
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MERCADO DIVULGAÇÃO
Milho supera soja nas exportações
Com o preço mais competitivo do mercado internacional, a commodity abarrotou os portos em setembro. A alta favorece os produtores não apenas nessa safra, como vai facilitar nas próximas, muitas vezes negociadas antecipadamente. “Um terço da safra de Mato Grosso e metade da do Paraná já foram comercializadas. É a primeira vez que isso acontece”, diz Lucílio Alves, do Centro de Pesquisas Econômicas Aplicadas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP). De acordo com o analista, em alguns locais até mesmo a safrinha de 2017 já foi vendida antecipadamente.
Safrinha garantiu competitividade maior
SOJA E MILHO Embarque de grãos nos portos brasileiros (em milhões de toneladas) soja
milho
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Milho brasileiro pode ter safra recorde, enquanto Estados Unidos perdem competitividade
QUEDA AMERICANA. Outro ponto a favor do milho brasileiro é a perda de competitividade dos Estados Unidos. A valorização do dólar no mercado internacional fez com que a commodity ficasse mais cara. Este ano, o país vendeu 3,7 milhões de toneladas de milho a menos que em 2014. EMBRAPA/ RENATA SILVA
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Brasil deixou de ser o maior exportador de soja do mundo, mas vem ganhando mercado com o milho. Em setembro, 4,6 milhões de toneladas deixaram os portos nacionais, ultrapassando a soja em 1,5 milhão de toneladas, de acordo com a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC). O aumento vem sendo contínuo ao longo do ano. Nos nove primeiros meses, os embarques chegaram a 14,9 milhões de toneladas, 34,2% mais que no mesmo período de 2014. Estados que não exportaram nenhuma tonelada de milho no ano passado, este ano faturaram milhões com a commodity. É o caso do Piauí, que vendeu US$ 3,1 milhões ao mercado internacional. “Essa inversão é um fenômeno recente. Antigamente exportava-se mais soja até mesmo na época da colheita da safrinha do milho. Com duas produções – a safra e a safrinha – o agricultor brasileiro conseguiu compensar a desvantagem logística. Nossos competidores são muito mais eficientes”, afirma Sergio Mendes, diretor-geral da ANEC. O câmbio também foi determinante para a mudança de cenário. A desvalorização do real em relação ao dólar aqueceu a demanda pelo milho brasileiro no exterior. No País, a moeda americana subiu 9,3%
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Some a isso as mudanças climáticas, como tempestades, que afetaram as regiões de plantio. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, a produção de milho deve cair de 345,08 milhões para 344,3 milhões de toneladas. A meta brasileira, de acordo com a ANEC, é exportar 30 milhões de toneladas. “Se assim for, bateremos recordes absolutos”, diz Mendes. Para atingir a meta, será necessário embarcar entre 4 e 4,5 milhões de toneladas por mês até o fim do ano – o que para os especialistas é bem possível de acontecer. “Em 2014, o Brasil exportou 20,6 milhões de toneladas de milho. Se olharmos para os resultados do mês passado, foram embarcadas diariamente 224 mil toneladas. Se mantivermos a média até janeiro, chegaremos aos 26,7 milhões de toneladas”, diz Alves. “Temos técnica para isso.” O aumento não foi apenas em volume, mas no preço negociado. No mês passado, o milho custou 41% mais que no mesmo período de 2014. A cotação vigente é a maior desde abril de 2014. Mesmo assim, o preço do milho brasileiro ainda é o menor entre os principais exportadores, como Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e Argentina.
FONTE: ANEC
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A VALORIZAÇÃO DAS COMMODITIES A escalada do dólar em relação ao real tem dado grande suporte aos preços domésticos de produtos agropecuários tradicionalmente exportados. Soja, açúcar e trigo são commodities valorizadas no mercado interno em função do aquecimento das vendas para o exterior. Soja Em setembro, o preço médio da soja no Paraná aumentou 9%, com a saca de 60 kg a R$ 79. É a maior cotação desde dezembro de 2013. Trigo A dependência de importação ainda é grande. Chuvas intensas e geadas no Rio Grande do Sul podem prejudicar a produtividade e qualidade do cereal que está no campo. Na média de setembro, os valores pagos ao produtor do Paraná estão 12,5% superiores aos de setembro de 2014 e, no Rio Grande do Sul, 10% maiores. Açúcar Valorização de 9,7% na primeira semana de outubro, devido ao fortalecimento do dólar e também o anúncio do reajuste da gasolina e do etanol. No acumulado de setembro a alta foi de 15,5% em comparação ao mesmo período do ano passado.
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EMBRAPA/LUIZ EICHELBERGER
PALAVRA DA FAESP
A economia brasileira na perspectiva da agropecuária Recentemente, a FAESP foi indagada na XIII Convenção Nacional da ADESG (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra), sobre as perspectivas do Brasil no século 21. Obviamente, a turbulência atual pela qual passa o País não contribui para uma análise precisa. Entretanto, quando se projeta a economia, sobretudo no setor do agronegócio, os prognósticos ainda são muito positivos. O agronegócio brasileiro é muito competitivo e tende a ganhar expressão no mercado internacional, pois reúne recursos e características que se traduzem em vantagens competitivas estratégicas. Mesmo com as deficiências da nossa infraestrutura logística, a não realização de acordos comerciais pelo Brasil e as inadequações das legislações trabalhista, previdenciária, tributária, dentre outras, que limitam os investimentos e as atividades produtivas, em longo prazo a produção nacional crescerá e o Brasil elevará sua participação no comércio mundial. Contudo, os países e os blocos econômicos se movem muito mais rápido que o Brasil e o Mercosul. A multiplicação de acordos bilaterais no mundo e a recém-lançada Parceria Transpacífica ilustram nossa fragilidade na área de comércio internacional. Além disso, as incertezas políticas e econômicas atuais se impõem sobre as perspectivas de longo prazo. Os empresários querem um desfecho para o momento atual, pois sem essa definição não há um ambiente favorável à tomada de decisão e aos investimentos. Sob esse prisma de análise, entendemos que vale a pena debater a situação atual e analisar a gênese dos nossos males para a fi nalidade primordial de buscar soluções e escapar do atoleiro em que nos encontramos. Não há tempo a perder, os indicadores econômicos pioram a cada semana e nenhuma solução adequada e justa é apresentada pela área econômica do governo. O que se vê é a reiteração de propostas antigas, quais sejam: aumento de impostos, intenção de cobrança de grandes devedores da União, suspensão de benefícios e mais burocracia. Paralelamente, na esfera política, o cenário continua indefinido e intranquilizador, com o Poder Executivo e sua estrutura político-administrativa gerando instabilidade e mais incertezas, agravando a situação econômica e inviabilizando o estabelecimento de condições mínimas de construção de
um pacto suprapartidário em prol dos interesses nacionais. A retomada do crescimento econômico depende do restabelecimento da confiança e de uma solução que fortaleça as instituições democráticas de direito, caso contrário, o Brasil poderá vivenciar um aprofundamento da crise e experimentar um prolongado período de estagnação, com desequilíbrio social e outras consequências dele decorrentes. Como brasileiros, não podemos deixar isso acontecer e assistir a intensificação de retrocessos no bem-estar social, como os que vêm acontecendo desde 2014, com a elevação do desemprego, redução do poder aquisitivo das famílias e piora na distribuição de renda. É imperativo encontrar uma solução alicerçada na responsabilidade pública, nos termos constitucionais e no princípio da separação e independência dos poderes. E para esse mister, a sociedade, por meio das instituições econômicas, sociais, religiosas e setoriais, desempenha um papel crucial na cobrança da classe política e, ao mesmo tempo, na manutenção dos instrumentos da ordem social. Em seguida, deve-se refazer a agenda programática do País. É preciso fazer o ajuste fiscal, com redução de despesas ao invés de elevação de impostos, repensar as despesas vinculadas da União e o tamanho do Estado para depois enfrentar as reformas estruturais fundamentais ao Brasil. Esperamos, assim, que as dificuldades atuais unam as lideranças nacionais em torno do que realmente é importante e imprescindível para a nação e deem lugar a um programa sequencial de reformas e ações modernizadoras do País, capaz de integrar as classes econômicas e sociais, em benefício de todos os brasileiros. FÁBIO DE SALLES MEIRELLES PRESIDENTE DO SISTEMA FAESP/SENAR-AR/SP
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FÁBIO MEIRELLES
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avicultura divulgação/JULIO FERNANDES
países. O mais novo mercado que se abre é o Japão, que anunciou este mês que irá comprar ovos do Brasil. A China também vem aumentando sua participação. Em julho foi a segunda nação que mais aumentou as importações brasileiras – transformando-se na quarta maior compradora. Levou 13 mil toneladas (ou 59%) a mais em relação ao saldo do mesmo período em 2014, atingindo 35 mil toneladas.
País é o único, entre as nações que mais exportam, que não teve nenhum registro de gripe aviária: localização geográfica ajudou
Frango brasileiro domina mercado Gripe aviária alavancou exportação nacional, que escanteou a americana
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s avicultores terão muito que comemorar neste fim de ano. Nos primeiros nove meses de 2015, as exportações brasileiras de carne de frango aumentaram 4,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso equivale a 3,2 milhões de toneladas embarcadas e uma receita 26,6% maior: que resultou em R$ 17,3 bilhões. Como consequência dos bons resultados, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o Brasil assumiu a liderança do ranking dos principais exportadores, passando os Estados Unidos, que ficaram com a segunda posição. A União Europeia ocupa o terceiro lugar, e Tailândia, o quarto. De acordo com o Ministério da Agricultura, atualmente o País detém cerca de 40% do share global.
Até 2020, a expectativa é que a produção nacional de carne de frango seja responsável por 48,1% das exportações mundiais. GRIPE AVIÁRIA. O Brasil é o único entre os principais produtores globais de carne de frango sem registro de caso de gripe aviária. A doença já se espalhou por 35 países. O pior surto foi nos Estados Unidos, atingido pela influenza – infecção viral, em particular a cepa H5N2 –, que matou cerca de 50 milhões de aves. Embora a contaminação para humanos seja rara, cerca de 40 nações restringiram ou proibiram as importações americanas. O resultado, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), foi a queda de 8% do share do país no comércio global, agora com 25% do mercado internacional.
O vírus abriu portas para o mercado brasileiro. Nos primeiros sete meses deste ano, as exportações nacionais de carne de frango aumentaram 0,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Foi em julho que o País bateu recorde histórico com a venda de 447,2 mil toneladas de peças, um volume 17,2% maior que o registrado em 2014. “Todos confiam no frango brasileiro: trata-se do único grande produtor e exportador que não sofre de influenza aviária”, afirma Ricardo Santin, vice-presidente de aves da ABPA. Essa imunidade é devida às características naturais do País, que está fora da rota de aves migratórias transmissoras, assim como uma sólida política de sanidade do setor. De acordo com Santin, o Brasil vende para mais de 158
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GREVE. Um imprevisto, no entanto, fez com que as exportações nacionais tivessem queda em setembro. O mês fechou com uma retração de 0,3% em relação ao volume embarcado em 2014 devido à greve dos fiscais federais agropecuários, iniciada no dia 15. A carga ficou parada nos portos, aguardando liberação, o que gerou atrasos e acarretou custos logísticos maiores. Apesar disso, com o fim da greve, a previsão é de que as exportações retomem o fôlego. “O negócio do frango veio para ficar”, diz Santin. De acordo com ele, há ainda alguns desafios, como a instabilidade da taxa de câmbio, a falta de infraestrutura do País, que encarece custos logísticos, e o processo de mecanização das indústrias. No entanto, afirma que a tendência é continuar crescendo: “No último trimestre, o único setor que apresentou bons resultados foi o de carnes.”
quem mais importa do Brasil * (*em toneladas) 1º Oriente Médio 884,7 mil exportadas entre janeiro e julho, volume 10,6% superior ao saldo registrado nos sete primeiros meses de 2014 2º Ásia 707,5 mil (+5%) 3º África 309,8 mil (+7,4%) 4º União Europeia 224,8 mil (-6,5%) 5º Américas 183,4 mil (-15,1%) 6º Extra-União Europeia 80,5 mil (+49,4%) 7º Oceania 1,4 mil (+27,3%)
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Sombra dos eucaliptos diminuem o estresse térmico do gado: árvores crescem em oito anos e viram mais uma opção de renda em fazendas que implantam sistemas integrados
Fazenda sustentável surge como garantia de futuro Depois de décadas de monocultura, o campo dá sinal de esgotamento; associar florestas, pastos e cultivo é o caminho apontado por especialistas para produzir mais, melhor e sem comprometer recursos naturais
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a última década, a ciência vem se debruçando em pesquisas para desvendar como garantir que as áreas destinadas ao agronegócio consigam produzir cada vez mais e melhor, mas de forma sustentável. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que é possível, sim, ter uma cadeia livre da emissão de carbono e preservar a terra sem perder
de vista a excelência dos negócios. O mais surpreendente é que descobriram que a saída está em uma técnica antiga, trazida pelos imigrantes europeus, no século passado: integrar lavoura, pecuária e floresta, com o uso de técnicas de ponta. Essa é aposta do governo e dos especialistas para, inclusive, harmonizar interesses sociais e comerciais distintos.
No passado, o sistema não resistiu ao gradativo aumento de demanda por alimentos e acabou sendo substituído pela monocultura, mais adequada à produção em larga escala. Só que quanto mais as fronteiras agrícolas se expandiram, maior foi a necessidade da mecanização do manejo, da irrigação e do uso de defensivos. Em outras palavras: o processo exigiu cada
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vez mais energia e consumo de recursos naturais. O produtor começou a sentir os problemas em casa. Um exemplo mensurável desse processo é a degradação das pastagens, que afeta a engorda do gado e aumenta a emissão de gases de efeito estufa. Estão nessas condições pelos menos 50% dos 49,5 milhões de hectares de propriedades produtivas do cerrado brasileiro.
COMPETITIVIDADE. Em três décadas, os 205 milhões de hectares do Centro-Oeste fizeram do agronegócio um dos maiores pilares da economia nacional. Vale lembrar que, no ano passado, o setor representou 21,3% do PIB nacional. Hoje o Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja e de carne bovina. Mas para o País atingir patamares maiores, será necessário recuperar as pastagens e elevar a produtividade sem avançar em área, seja de cultivo ou da pecuária. Desde 2007, os técnicos da Embrapa se aprofundam nas técnicas e processos para o desenvolvimento de um agronegócio mais sustentável. “Em 2006, quando a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) divulgou o relatório Long Shadow, que apontava a agropecuária como a grande vilã do efeito estufa, resolvemos checar os dados”, diz Alexandre Berndt, Pesquisador de Sistemas de Produção Sustentáveis, da Embrapa Sudeste. De acordo com o órgão ame-
emissões de CO2 Energia Tratamento de resíduos Processos industriais Agropecuária Uso da terra e florestas 16% 2% 4%
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“O lema é produzir e preservar” ” PAULO HERRMANN , PRESIDENTE DA JOHN DEERE
ricano, o agronegócio seria responsável por 78% da produção de CO2– o uso da terra e das florestas ficaria com 58% das emissões de CO2, a agropecuária, 20%, a produção de energia, 16%, a indústria, 4% e o tratamento de resíduos, 2%. “Destrinchando a estatística, 55% dos gases vinham do desmatamento, processo que foi reduzido sensivelmente no Brasil. Faltava então equilibrar a atividade no campo, que, em 2012, passou a emitir 37%.” No setor agrícola, as emissões decorrem prioritariamente de processos bióticos inerentes ao uso e ao manejo do solo, à fisiologia específica de animais de rebanho (fermentação entérica de ruminantes), aos processos de decomposição anaeróbica associados a sistemas produtivos alagados (como o cultivo do arroz inundado) e, ainda, ao tratamento e à disposição de resíduos vegetais e animais, além do manejo de áreas nativas para sua transformação em agroecossistemas. Os pesquisadores passaram a simular as práticas dos produtores e mensurar os impactos produtivos e de sustentabilidade. “A atividade sequestra carbono da atmosfera. Em algumas propriedades é possível zerar essa conta, em outras até mesmo sequestrar mais do que emitir”, diz Berndt. “Tirar gases da atmosfera tem um limite, que depende das características de cada propriedade. A terra é como uma caixa, com limites bem definidos. Por isso é preciso adaptar o sistema às características de cada propriedade.” Clima, solo, experiência do produtor e tecnologia disponível pesam na hora de elaborar a melhor forma de integração. Três modalidades se destacam: fazendas de pecuária, em que grãos (arroz, soja, milho e sorgo) são introduzidos em áreas de pastagens para recuperar a produtividade; propriedades especializadas em lavouras de grãos, que utilizam gramíneas forrageiras para melhorar a cobertura de solo em sistema de plantio direto, e, na entressafra, para uso da forragem na alimentação de bovinos (“safrinha de boi”); e áreas que, sistematicamente, adotam a rotação de pasto e lavoura para intensificar
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Árvores são plantadas em linhas paralelas O sistema ILPF (Integração LavouraPecuária e Floresta) prevê o plantio de árvores, como eucaliptos, em linhas, separadas por espaços de 30 metros a 40 metros. A área entre elas fica para o cultivo de grãos. “Quando as árvores crescem, a terra da lavoura pode dar lugar ao pasto, que será de melhor qualidade e o gado ainda contará com a proteção térmica das árvores”, explica Luiz Adriano Cordeiro, pesquisador agrossilvipastoril da Embrapa. O gado emite menos metano e gás carbônico quando criado em boa pastagem. Também pode ser abatido em tempo
menor. “Depois de 8 anos, em média, as árvores atingem o tamanho para serem cortadas e vendidas. O eucalipto é a espécie mais versátil e pode ser usada para a movelaria, indústria de papel e carvão. Mas antes de escolher a espécie vegetal é necessário pesquisar a demanda do mercado na região.” As principais estratégias para a redução da emissão dos gases de efeito estufa (GEE) consistem em redução da queima de combustíveis fósseis, minimização de desmatamento e queimadas, manejo adequado do solo e maximização do sequestro de carbono no solo.
o uso da terra e se beneficiar do sinergismo entre as duas atividades. Esses sistemas podem ser praticados por parcerias entre lavradores e pecuaristas.
perar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas, plantar 3 milhões de hectares de florestas e tratar 4,4 milhões de metros cúbicos de dejetos de animais até 2020.
METAS. O governo tem metas e políticas de mitigação dos transtornos climáticos. Para colocá-las em prática, surgiu o plano ABC, com o objetivo de reduzir os gases de efeito estufa, além de prever capacitação e financiamento para os agricultores que adotassem técnicas sustentáveis. O governo se comprometeu a implantar a ILPF (Integração Lavoura-Pecuária e Floresta) em 4 milhões de hectares de terras, recu-
CARTILHA E CURSOS. Todo o conhecimento acumulado pela Embrapa sobre a ILPF desde então transformou-se em cartilhas e workshops sobre gerência financeira, técnica e produtividade do sistema. “O objetivo é explicar as vantagens da mudança e a forma de implantação”, diz Luiz Adriano Cordeiro, pesquisador agrossilvipastoril da empresa. Entre os pontos positivos do associação das culturas está a mitigação
Ministério da CIência, Tecnologia e Inovação
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dos gases de efeito estufa, aumento da produtividade, menor uso de insumos e melhora da qualidade da terra. “A ideia é que a propriedade seja explorada durante todo o ano”, diz Cordeiro. Hoje há mais de 200 Unidades de Referências Tecnológicas (URT), que oferecem cursos e apoio aos produtores. No Sudeste, 2.500 hectares de propriedades já adotam o sistema, entre elas o sítio Nelson Guerreiro, em Brotas, interior de São Paulo, um dos pioneiros a mudar a forma de produção. Até 2007, o sítio cultivava citros (28% da área) e criava gado de leite (70%), mas a maior parte da renda (98%) vinha da agricultura. “Em 2008, com a crise da laranja, as dívidas começaram a se acumular”, diz a agrônoma e proprietária Maria Fernanda Guerreiro. A necessidade de diversificar a fonte de renda fez com que ela adotasse o sistema ILPF, com o apoio dos técnicos da Embrapa Pecuária Sudeste. Hoje, ela enumera vantagens. “O sistema exige mais técnica e por isso a pastagem melhorou muito. Passei de um animal por hectare para 3,5.”O sítio cria novilhas de corte, cultiva milho, citros, madeira e subprodutos derivados da plantação. Maria Fernanda conta que no início faltavam informações sobre florestas. “Hoje estou convencida de que a saída não é apenas diversificar, mas encontrar uma forma de mercado mais justo, sustentável e direto com o consumidor final.” FOMENTO. A proliferação da ILPF ganhou impulso em 2013 quando um grupo de empresas resolveru fechar uma parceria público-privada com a Embrapa. “Toda a tecnologia estava nas mãos dos pesquisadores. Construímos um grupo de fomento para que ela pudesse ser aplicada pelo maior número de agricultores e pecuaristas”, diz Paulo Herrmann, presidente da Rede de Fomento da John Deere, uma das empresas que incentivam a disseminação das técnicas. Também fazem parte Cocamar, Dow, Parker, Syngenta e Schaeffler. “No futuro haverá maior necessidade de produção de alimentos. Temos de preservar nossos biomas para que isso seja possível.” Herrmann refere-se à ILPF como a “terceira revolução”. O plantio direto na palha, que preserva o solo, seria a primeira. A segunda foi a consolidação da safrinha.
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CAPA
ENTREVISTA MARIA FERNANDA GUERREIRO, do Sítio Nelson Guerreiro, em Brotas Até 2009, o sítio Nelson Guerreiro, de 110 hectares, dedicava-se a atividade citrícola e mantinha uma pecuária com níveis técnicos modestos e baixa taxa de lotação de pastagens. Os proprietários decidiram investir na ILPF para diversificar a produção e aumentar a renda. O sistema impactou positivamente o sítio e ajudou o desenvolvimento sustentável de Brotas, região dominada pela monocultura da cana-de-açúcar. O que incentivou a fazer a mudança de sistema? Questão de sobrevivência na terra. Diversificar deu maior possibilidade de sobrevivência ao negócio. Quais são os riscos em colocar todos os ovos na mesma cesta? É um erro? Basicamente para mim foi. Dentro do meu contexto de médio produtor, trabalhar apenas com um produto foi um erro. Tínhamos gado e citros. Hoje trabalhamos com gado, citros, milho, madeira... Esses produtos ainda geraram subprodutos. Por exemplo, do milho vendo milho em grão,
quirela e fubá – e tenho parceria com um outro pessoal, de mel. A produção aumentou? Aumentou por vários motivos. A ILPF exige uso de tecnologia que eleva a produção. Por exemplo, trabalhava com 1,5 UA/ha (unidade animal por hectare).Hoje trabalho com 3,5 UA/ha. O pasto melhorou? Hoje trabalhamos com novilhas de corte. O que possibilitou termos mais animais na área foi a melhora de pastagem. Temos basicamente quatro áreas em ILPF, duas delas para pastagem e floresta, onde os animais passam a época das chuvas. Nas outras duas temos animais que pastejam no inverno e no verão e o cultivo de milho não transgênico. As pastagens são de boa qualidade o ano inteiro. Que tipo de madeira escolheram para a floresta? Adaptadas às condições climáticas do local, espécies que tenham a silvicultura conhecida e, se não for a principal demanda do mercado, espécies já “consagradas”.
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O plantio é em linha? Temos diferentes arranjos de plantio, renques de linhas triplas, duplas e simples. A ILPF necessitou de um investimento maior? Não vejo diferença em qualquer outra cultura. É necessário gastar em informação, acesso a tecnologia, pois é um sistema que exige tecnologia e informação – talvez neste ponto sim. Mas sem tecnologia e informação a produção de qualquer cultura fica abaixo do seu potencial. Foi difícil a implantação? Na época não se tinha muita informação do sistema como se tem hoje. Mesmo assim fomos montando. Tivemos certas dificuldades, mas conseguimos resolver alguns problemas e ainda estamos tentando solucionar outros. Quais são os obstáculos? O gerenciamento é um desafio. Tenho que operacionalizar e desenvolver estratégia de mercado para três ou mais culturas.
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Crise congela mercado
Compra e venda de terra produtiva ficou parada em 2015; valorização foi menor que a in�lação
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agronegócio continua firme, mas a crise econômica congelou a compra e venda de terras produtivas. Pela primeira vez depois de décadas, a taxa de valorização ficou abaixo de dois dígitos. Em 2014, a média nacional foi de 10%. “Este ano ficou em 5,3%.Como esse aumento foi inferior ao da inflação, não houve valorização real”, diz Márcio Perin, da consultoria de mercado FNC. No fim de outubro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mostrou que a inflação em 2015 chegou a 8,4%. Pontualmente, o mercado registrou movimentos de valorização e desvalorização. “Algumas regiões do Sudeste, que possuem um agronegócio muito variado, valorizaram”, diz Perin. Entre as cidades que continuam exibindo bons negócios
estão Ribeirão Preto, no interior paulista, Cascavel, no Paraná, e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Já as regiões de fruticultura, no Nordeste, e de café, em Minas Gerais, tiveram queda. Nas áreas dos campos de soja, em Mato Grosso, o preço da terra permanece estável. “Por outro lado, as poucas terras negociadas são vendidas em longo prazo. Tenho notícia de propriedades que foram financiadas em 20 anos, mais tempo do que o Minha Casa Minha Vida”, afirma Perin. “Em geral, os proprietários não querem vender porque o momento não é bom. Só se desfaz da terra quem tem dívida alta em dólar, que não é a maioria, porque o agronegócio vai bem, apesar da crise do País.”Para o ano que vem, o consultor não arrisca previsão.
EMBRAPA/NEIDE FURAKAWA
ECONOMIA
Passado glorioso: de 2008 a 2010 o valor das propriedades subiu 430%
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NOTAS EMBRAPA/CARLOS DE ANDRADE
Depois de 18 meses de baixa, preços globais estão estáveis de outubro, o aumento se deve predominantemente à elevação do custo dos laticínios e do açúcar, alimentos que vinham apresentando as maiores quedas. A carne (bovina e suína) permance estável e impacta menos nos preços por ter menor demanda. As commodities do agronegócio devem continuar com preços mais baixos e menos voláteis nos próximos meses, devido aos altos estoques, baixa demanda e valorização do dólar.
Alfafa aumenta em 10% lucro da produção de leite O incremento da alfafa na alimentação de vacas leiteiras permite diminuir o farelo de soja na época da seca e eliminar completamente seu uso no período de chuvas. Segundo pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o broto plantado no pasto aumenta em 10% a lucratividade. De acordo com os pesquisadores Reinaldo Ferreira e Oscar
Tupy, da Embrapa Pecuária Sudeste, o experimento permite o aumento do número de vacas por hectare sem que seja necessário dar mais concentrado e silagem de milho para os animais. A alfafa tem elevado teor proteico. Apesar de ter um custo mais alto de plantio e manutenção, dura três anos em média no pasto e serve ainda de adubo para a próxima cultura.
Malbec vai diminuir no mercado brasileiro
EMBRAPA/FERNANDA BIROLO
Foram seis meses de baixa nos preços mundiais dos alimentos. Em agosto, o Índice Geral de Preços recuou 5,2%, registrando a maior queda dos últimos sete anos. Em setembro, pela primeira vez, houve uma pequena elevação, de apenas 1%, mas o resultado indica estabilização, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Segundo relatório divulgado no início
Produtores de vinhos da Argentina estão revendo as exportações dos próximos meses. Em 2014, a importação de vinhos argentinos para o Brasil ficou 10% abaixo que em 2012. Como o mercado americano compra cinco vezes mais que o brasileiro, o País perde importância na estratégia de vendas dos vinhos Malbec. Em 2014, já tínhamos perdido o posto de terceiro maior mercado importador para o Reino Unido, passando para o quarto lugar.
Brasil perde força na Organização Internacional do Café O Brasil perdeu o direito de voto na Organização Internacional do Café (OIC). Maior produtor mundial, com 40% do mercado internacional, o País foi castigado por inadimplência: uma das parcelas da anuidade cobrada pela instituição.
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A entidade, que reúne produtores e exportadores de café do mundo inteiro, possui taxa anual de 382 mil libras, o equivalente a R$ 2,3 milhões pelo câmbio atual. Mudanças cambiais e a cortes orçamentários fizeram com que o Brasil
quitasse apenas R$ 1,7 milhão. De acordo com os regulamentos do OIC, o Brasil poderá apenas assistir as reuniões, mas perde o direito de participação efetiva. O Ministério da Agricultura irá propor ao Congresso que seja aprovado um crédito
suplementar para pagamento da dívida pelo menos até março, quando acontece a próxima reunião da OIC. Os produtores do setor estão preocupados. Temem que o atraso prejudique a imagem e os negócios do Brasil no mercado global.
Diretor de Projetos Especiais e Jornalista responsável, Ernesto Bernardes - MTB 53.977 SP; Gerente de Conteúdo, Bianca Krebs; Diretor de arte, João Guitton; Gerente Comercial, Gabriela Gaspari; Analista Comercial, Jaqueline de Freitas; Gerente de Planejamento, Andrea Radovan; Assistente de Planejamento, Julia Santos; Coordenadora Digital, Carolina Botelho; Coordenadora de Operações e Atendimento, Larissa Ventriglia. Colaboradores: Lilian Rambaldi (revisão), Bárbara Bretanha (reportagem), Valéria França e Wagner Barreira (edição), Renato Leal (arte). Endereço: Av. Eng. Caetano Álvares, 55, 6º andar, São Paulo-SP - CEP 02598-900. E-mail comercial: gabriela.gaspari@estadao.com
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Transpacífico ameaça competitividade brasileira A Parceria Transpacífico, acordo assinado na primeira semana de outubro, preocupa os exportadores brasileiros de commodities, que temem perder competitividade no mercado internacional. O bloco será formado por 12 países da costa do Pacífico, entre eles os Estados Unidos, Japão, México e Austrália, que respondem por 40% do PIB mundial. A ideia é criar condições mais favoráveis de comercialização entre os membros. O Japão, por exemplo, tem sobretaxas crescentes sobre o arroz, carne e produ-
tos lácteos. Os Estados Unidos protegem o mercado interno de açúcar de fornecedores estrangeiros e impõem tarifas sobre os calçados importados. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), é necessário ampliar as negociações internacionais do Brasil, de modo a evitar o isolamento comercial. De acordo com o Relatório de Competitividade Global, divulgado no fim de setembro pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil caiu da 57° para a 75° posição no ranking de 140 países dos cinco continentes.
Japão
Canadá Estados Unidos
Vietnam Malásia Cingapura
México Peru Austrália Nova Zelândia
Chile