estadão/ JOSÉ LUIS DA CONCEIÇÃO
Agronegócio Caderno do
produzido por
Terra de riqueza
Ariquemes (RO) tem o hectare mais valorizado do País Pág. 10
embrapa/ Daniel Medeiros
SÃO PAULO, 11 DE dezembro DE 2015
A hora do café gourmet
Demanda cresce 15% e saca chega a valer três vezes o preço do café comum
Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão
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NOTAS EMBRAPA/LUCA S SCHERER CARDOSO
Crise dos alimentos processados Os gigantes da indústria de alimentação estão enfrentando um grande desafio: substituir ingredientes artificiais por naturais em receitas de produtos consagrados entre os consumidores. Os fabricantes estão preocupados com a queda na procura por alimentos processados. Nos Estados Unidos, a venda de congelados diminuiu12%, entre 2007 e 2013. O consumo de refrigerante caiu 25% desde 1998. Também foi de um quarto a redução de cereais açucarados para o café da manhã desde 2000. Na contramão, cresce a procura por frutas, verduras e alimentos integrais. O processo não é simples e envol-
Crédito rural diminui
Brasil ganha aliados para derrubar barreiras comerciais
A Câmara Setorial de Açúcar e Álcool anunciou que a safra global 2015/2016 terá déficit de 3,3 milhões de toneladas. Isso se deve ao aumento do consumo mundial e os impactos negativos das mudanças climáticas. Esse ano o déficit foi de 2,11 milhões de toneladas. A principal razão, segundo especialistas, foi a queda de 4% na produção brasileira.
EMBRAPA/ZINEB BENCHEKCHOU
Cresce déficit na safra global de açúcar em 2016
A crise fiscal já está afetando a concessão de crédito rural, que encolheu ao longo do ano. No primeiro semestre, a queda foi de aproxima-
damente 4,3% quando comparado ao mesmo período do ano passado. No consolidado de julho a novembro a queda foi de 7%.
DIVULGAÇÃO APPA/ ANDRÉ KASCZESZEN
Estados Unidos e China, que também se interessam pelo mercado da Indonésia, nação com 250 milhões de habitantes, a maioria muçulmana. Há seis anos os produtores brasileiros, com ajuda do governo, tentam abrir as portas do comércio do país asiático. No ano passado, quando as negociações pareciam ter evoluído, emperraram na hora de fechar acordos sanitários.
Finalmente saiu a aprovação para a instalação de um painel contra a Indonésia no início do mês. O pedido de investigação foi realizado no ano passado junto à Organização Mundial de Comércio (OMC) e trata das barreiras técnicas impostas ao frango nacional. Pediram para participar como terceira parte do painel 28 países, entre eles, Paraguai, Argentina, Nova Zelândia,
ve muita pesquisa. A mudança pode alterar o sabor, a cor, a validade e até mesmo o preço. Entre os fabricantes preocupados com o novo perfil de consumidor está a General Mills, que vem testando combinações variadas de vegetais, frutas e temperos para substituir a coloração artificial de seu cereal matinal multicolorido que tem alguns flocos de milho verde e azul turquesa. Mesmo que consigam, ainda terão de testar a aceitação no mercado. Na década de 1990, o suco Kool-Aid, da Kraft, ganhou colorante natural e os produtos encalharam nas prateleiras. Resultado: foi retirado do mercado.
Paranaguá é o porto mais ágil do Brasil O tempo de despacho de mercadorias importadas nos portos brasileiros diminuiu 12%, segundo levantamento da Receita Federal. Trata-se do intervalo entre o momento em que o navio atraca e a entrega do produto, reduzida em pouco
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mais de dois dias. Em 2013, a mercadoria levava 16,44 dias para ser liberada. Atualmente, demora 14,39 dias. De acordo com a pesquisa, o porto mais ágil é o de Paranaguá, no Paraná, onde os produtos são entregues em 8,86 dias.
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EMBRAPA/RAFAEL ROCHA
MERCADO
Terreiro coberto para secagem de café, com tecnologia desenvolvida pela Embrapa em Rondônia: produto especial chega a valer três vezes mais que o comum
Demanda por café gourmet cresce 15% ao ano
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ais do que ser um gigante em volume de exportação de café, o País também quer ser o melhor em qualidade. Nas últimas duas décadas, o setor investiu em medidas socioambientais, melhores práticas de plantio, certificação e desenvolvimento de blends especiais. As mudanças causaram a abertura de outras portas para os produtores brasileiros. A demanda pelos chamados cafés especiais cresce 15% ao ano, um aumento expressivo, ainda mais se comparado ao da commodity, que é de 2%. O segmento gourmet já representa hoje cerca de 12% do mercado internacional da bebida.
ATRIBUTOS. O café, para ser definido como especial, deve ser livre de impurezas e possuir uma nota alta em quesitos como doçura, acidez, aspecto, sabor e corpo. O cultivo de um grão gourmet começa desde a lavoura e seu manejo, mas depende também de características menos controláveis como clima, qualidade do solo e até mesmo a altitude. Os procedimentos pós-colheita também interferem na qualidade final da bebida. “Uma vantagem do café brasileiro é que aqui é possível fazer a secagem natural do grão, sem que se remova a casca, o que confere propriedades diferentes ao produto – essencial para
EMBRAPA/DANIEL MEDEIROS
Brasil investe em melhores práticas produtivas, certificação e blends especiais para consolidar qualidade do grão
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US$ 6 BILHÕES EM CAFÉ O café está entre os cinco produtos mais importantes que integram o PIB do agronegócio nacional. O Brasil é maior exportador do mundo, com receita anual de U$ 6 bilhões. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), produz 45 milhões de sacas, dos quais 35 milhões são vendidas no mercado global. São exportados de 5 a 6 milhões de sacas de cafés especiais a cada ano. A tendência é que este número aumente.
MAIORES EXPORTADORES MUNDIAS DE CAFÉ (volume em mil sacas de 60 kg) 1. BRASIL - 35.735 2. VIETNÃ - 18.000 3. INDONÉSIA - 11.000 4. COLÔMBIA - 10.900 5. ÍNDIA - 5.000 6. HONDURAS - 4.000 7. PERU - 3.600 8. UGANDA - 3.500 9. GUATEMALA - 3.400 10. MÉXICO - 3.000 FONTE: ABIC
se misturar em um blend”, diz o gerente geral da Embrapa Café, Gabriel Bartholo. É só depois da secagem do grão que profissionais podem testar e degustar o café e dizer se possui o nível de padrão adequado para ser considerado especial. Hoje, algumas lavouras já têm seus próprios laboratórios para análise e as tecnologias de manejo e cultivo agregam valor ao produto final. Não existe ainda uma
fórmula certa, mas os pequenos produtores, que podem fazer a colheita seletiva – separar os grãos verdes dos maduros e ficar atentos aos pontos mais promissores da lavoura – levam vantagem. Para áreas onde o relevo ou o clima complicam a colheita, existe sempre a possibilidade da certificação, que garantem boas práticas socioambientais do produtor. É o caso da International Coffee Rair Trade ou a Orgânica, que valorizam a saca. “O produtor já está consciente de que preparando bem seu café consegue agregar valor, além disso vem surgindo vários concursos de qualidade nos estados cafeicultores”, diz Bartholo. Os benefícios não são pequenos – uma saca de café gourmet pode valer até três vezes o preço do produto normal. “O sobrepreço aumenta se o café tiver sido bem cotado em um concurso ou certificado. Se uma saca de café comum está cotada a R$ 480, a de um café vencedor pode valer no mercado até R$ 4 mil.” ESPECIALIZAÇÃO. A maior exportadora da commodity do País, a Cooperativa
EMBRAPA/FABIANO BASTOS
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Processamento de café no cerrado: valor agregado ao produto gera lucro Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé) já aposta nos especiais. Em 2009, criou a exportadora SMC Comercial, que lida apenas com cafés especiais e certificados. Em 2014, exportou 100 mil sacas do produto. A maior demanda vem da Europa, Estados Unidos e Japão, mas o mercado interno também está crescendo. “Lá fora existe um procedimento muito comum que começou a ser introduzido aqui que é a rastreabilidade: saber
sobre a origem daquele café, o histórico da família envolvida na produção, quais métodos foram utilizados e seu impacto ambiental. O consumidor procura isso que o café certificado traz: mais que sabor, uma história”, afirma a gerente comercial da SMC, Maria Dirceia Mendes. Além do Brasil, entre os maiores produtores estão os países da América Central, que têm clima privilegiado, assim como a Colômbia, Quênia e Etiópia.
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“No Brasil, o alimento é considerado supérfluo” Para especialista, isso explica o fato de a indústria não ter um política de longo prazo nem segurança jurídica
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companhando o ritmo do agronegócio em geral, a indústria de alimentos vai fechar o ano com saldo positivo. O crescimento ficou entre 1,1% e 1,4%. Presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) desde 1986, Edmundo Klotz diz que o setor continua competitivo e manterá um bom desempenho no ano que vem, apesar das perspectivas macroeconômicas de PIB negativo. Nesta entrevista, ele aponta para a importância da rastreabilidade dos produtos na penetração do mercado internacional e como os resultados do setor poderiam ser superados se houvesse uma melhor política para os alimentos. Como a indústria alimentícia está encerrando 2015? Somos um dos poucos setores que ainda continuam competitivos. A crise econômica atinge todos os setores, inclusive o de alimentos, por isso esperamos encerrar o ano com crescimento de vendas reais entre 1,1% e 1,4%. Já em 2016, o percentual pode variar entre 0,9% e 1,3%. Esses dados mostram que o setor continua competitivo, tendo em vista que o PIB nacional projeta encerrar 2015 com saldo negativo de 3% e queda de 2% no próximo ano. De que forma a crise impactou o setor? O desemprego e o endividamento da renda das famílias fazem com que o consumidor esteja mais seletivo na hora de ir às compras, preferindo os alimentos básicos e de primeira necessidade, como arroz e feijão. Cerca de 20% de toda a produção de alimentos hoje vão para a exportação. O cenário econômico internacional também influencia no desempenho, com a queda da demanda mundial e o recuo do preço da cotação no mercado. Qual é a posição do setor no panora-
ma internacional? Mantemos a posição de segundo maior exportador de alimentos em volume, ficando atrás apenas dos EUA, e de quinto exportador em valor. Em 2015, a balança comercial deve encerrar com aproximadamente US$ 42,6 bilhões. O País gasta US$ 5,1 bilhões com importações, resultando em um saldo positivo de US$ 37,5 bilhões. Quais são as expectativas para 2016? No próximo ano, as exportações devem continuar crescendo, podendo atingir US$ 48 bilhões. Mas esses números referemse apenas aos itens com valor agregado, ou seja, produtos que sofreram algum tipo de beneficiamento. A soja pura, por exemplo, é uma commodity, enquanto o óleo, um item com valor agregado. Hoje, cerca de 58% de toda a produção agrícola têm de alguma maneira valor agregado. Se compararmos as nossas exportações em termos de dólar, as de valor agregado foram sempre maiores do que o total de vendas de commodities. O perfil do consumidor mudou? Há uma grande tendência hoje de se fazer conhecer tudo que existe dentro de um produto. Cada vez mais as empresas se preocupam em informar ao consumidor, de forma transparente, sobre a origem do alimento. Normalmente, as indústrias da alimentação possuem laboratórios próprios para testar as matérias-primas dos fornecedores, a fim de verificar sua qualidade e segurança, antes de colocar o produto no mercado. Algumas empresas adotam um selo de identificação para demonstrar que o alimento passou por um processo de controle desde a sua origem, mas isso é opcional de cada indústria. É comum ainda a prática de intensificar o relacionamento e muitas vezes a capacitação de toda cadeia de fornecimento,
assegurando acesso a insumos de qualidade segura. Como isso é feito? Quando a indústria alimentícia é uma multinacional, geralmente possui um plano industrial que é desenvolvido pela matriz, devendo ser seguido pelas demais unidades em outros países. A maioria das empresas investe em boas práticas de produção e certificações de qualidade. Criam selos de identificação de produtos que permitem saber desde como um boi, por exemplo, foi alimento até como foi abatido e embalado. Como resultado dessa preocupação da indústria da alimentação, há muito tempo não há caso de contaminação de alimentos – pelo menos nos últimos cinco anos. O que mais preocupa o setor? Precisamos de um pouco de estabilidade e também de um ambiente de segurança jurídica e política, coisa que não temos. Todo dia temos algum tipo de impedimento. Esse cenário de incerteza está coibindo investimentos. E, estes, não podem ser deixados de lado. Existe um crescimento natural da população que faz com que a indústria tenha de crescer no mínimo de 1% a 2% ao ano para acompanhá-la. Como contornar isso? Precisamos que o governo faça todo esforço possível para selar acordos com novos mercados e ampliar acordos comerciais com outros países, principalmente com a Europa. Recentemente, fomos favorecidos pelo aumento do dólar, que nos tornou mais competitivos, mas nosso mercado não está tão aberto. Por exemplo, o Brasil ficou fora do recente Tratado Transpacífico, acordo comercial entre os países que possuem costa no Oceano Pacífico, incluindo EUA e Japão. Essas nações representam 40% da produção mundial. Temos que valorizar nossos produtos. Entre as commodities, existe uma queda de preço motivada por falta de consumo e excesso de oferta. Consequentemente, grandes compradores como China e Índia não têm nos procurado. E no mercado interno? Para aumentar a competitividade no mer-
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divulgação
entrevista
Edmundo Klotz: “Somos um dos poucos setores que ainda são competitivos” cado interno, um ponto a ser trabalhado é a melhoria da infraestrutura logística para diminuir os custos embutidos no preço final do produto. Somos extremamente onerados por esses empecilhos. Não se ganha valor apenas aumentando a produção, mas diminuindo custos. Além disso, o Brasil possui a maior taxa mundial de tributos sobre alimentos, com cerca de 30%, enquanto outros países têm aproximadamente 8%. O que explica essa maior tributação? O Brasil é um país em que alimento é considerado um produto supérfluo e não necessidade básica. É que nunca tivemos guerra, nunca passamos necessidade, nunca estivemos envolvidos em algum holocausto que nós desse a verdadeira dimensão da fome. Em países europeus, houve racionamento, os campos tiveram de ser recuperados após diversas batalhas. Mas, em todo mundo, o alimento é a primeira necessidade básica e a única que não tem substituto. Falta uma melhor política de longo prazo? Aqui no Brasil ninguém sabe o que é política de longo prazo. Tem empecilhos às vezes intransponíveis que são criados no próprio País. Nesse momento, ninguém está planejando nada. Estamos todos observando o que vai acontecer, para onde vai o Brasil. Todos em suspense até que o governo – e o País – reencontre seu caminho.
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embrapa/ Jefferson Christofoletti
Palavra da FAESP
O agronegócio e a crise política País precisa de pacto suprapartidário para superar incertezas Fábio Meirelles
• Aprimorar a política agrícola para torná-la plurianual, enfatizar a gestão dos riscos agropecuários e, desta forma, perseguir a sustentação de renda dos produtores rurais. • Definir políticas consistentes de apoio ao setor sucroenergético. • Investir em pesquisa agropecuária e garantir a difusão das inovações tecnológicas em larga escala. • Expandir a infraestrutura de transporte e elevar sua eficiência. • Aperfeiçoar as legislações trabalhista e tributária. • Elevar a qualidade dos serviços públicos para reduzir o chamado “custo Brasil”. • Ampliar a política externa, a fim de viabilizar acordos comerciais regionais e bilaterais. Se, por um lado, temos problemas estruturais, por outro, a demanda interna e externa por alimentos, fibras e energia tende a se expandir fortemente. O Brasil continua sendo apontado como um país chave para alimentar a população de 9 bilhões de pessoas em 2050. Estudo recente da FAO, órgão das Nações Unidas para a agricultura, reiterou a relevância do País no abastecimento mundial. Seremos o maior exportador mundial de produtos agrícolas em 10 anos, ultrapassando os Estados Unidos. Na última década, a produtividade brasileira cresceu 40%, graças à ação do homem do campo, ao aprimoramento da mão de obra e ao avanço da tecnologia, indicando a natureza saudável do desempenho positivo da agropecuária nacional. Nesse período, as exportações do agro aumentaram 2,2 vezes, alcançando mais de 180 países.
Não por acaso, nas últimas 30 safras, enquanto a área plantada cresceu 1% ao ano, a produção de grãos se expandiu a 4,6% ao ano, devido ao crescimento médio da produtividade de 3,5% ao ano. Portanto, 65% da expansão da nossa produção se baseia em ganhos de produtividade. O Brasil reúne todas as condições de ser o grande protagonista do agronegócio mundial, dispõe de terras aptas ao cultivo, recursos hídricos e minerais, tecnologia adaptada para as regiões tropicais, clima diversificado, boa localização geográfica, grande população e um mercado consumidor em consolidação, criatividade e outros fatores que estabelecem vantagens comparativas e competitivas significativas. Fábio de Salles Meirelles Presidente do Sistema FAESP/SENAR-AR/SP divulgação
O agronegócio é um dos grandes alicerces do Brasil. Representa cerca de 23% do PIB, 42% das exportações, gera superávit de US$ 80 bilhões, abastece mais de 200 milhões de brasileiros, além de garantir empregos e renda para um terço da população. Apesar de continuar demonstrando vigor e perspectiva positiva, o setor vem enfrentando dificuldades conjunturais devido à elevação dos custos de produção, não aplicação dos recursos do crédito e do seguro rural, além de investimentos insuficientes em logística, defesa agropecuária, pesquisa e difusão de tecnologia. Mas a raiz dos nossos males atuais é outra. A instabilidade política pela qual passa o País, a incerteza quanto à trajetória da dívida pública e a consequente piora dos indicadores macroeconômicos nutrem perspectivas negativas, acarretando desconfiança quanto aos rumos do Brasil e retração dos investimentos, contribuindo para aprofundar a recessão. A retomada do crescimento depende do restabelecimento da confiança e de uma solução que fortaleça as instituições democráticas como um elo. A solução para a crise passa pelo campo político, razão pela qual é imperativo garantir condições mínimas de construção de um pacto suprapartidário em prol dos interesses nacionais, com respeito à Constituição e seus princípios basilares. No agronegócio, muitos dos entraves existentes limitam o potencial de crescimento do setor e drenam nossa competitividade. Algumas ações necessárias do poder público:
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DIVULGAÇÃO/SEBASTIÃO NASCIMENTO
CAPA
Gado de corte em Ariquemes: cidade de Rondônia ainda tem preço baixo de hectare comparado ao interior de São Paulo , mas foi a que mais se valorizou no País
Hectare produtivo mais valorizado está em Rondônia Ariquemes, a 199 km da capital do estado, viu o valor da terra subir 214,29% nos últimos três anos
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esmo com a falta de confiança no futuro da economia do País, há regiões onde a terra produtiva continua se valorizando em ritmo acelerado, na contramão da crise. Tratam-se de cidades consagradas pelo agronegócio, como as do interior de São Paulo e do Rio Grande do Sul. O hectare mais valorizado, no entanto, segundo a análise de mercado da Informa Economics FNP, está em Rondônia, no Norte, nas áreas da cidade de Ariquemes e arredores. Lá, as terras subiram 37,5% este ano e 214% no acumulado dos últimos 36 meses. Fundada em 1977, Ariquemes é a terceira maior cidade do estado. Tem a economia baseada na pecuária. São 431.871 cabeças de gado bovino e 90 mil habitan-
tes. Na região ainda há culturas de café, guaraná, cacau e cereais. O centro urbano, que foi planejado com avenidas com traçados perpendiculares, abriga o maior polo universitário do estado. A valorização das terras produtivas do município é reflexo do crescimento econômico de Rondônia. Este ano, a Secretaria de Finanças de Rondônia (Sefin) estima tendência de crescimento de 5% do PIB, um resultado atípico nesse momento em que o índice nacional encolheu – e promete ficar ainda menor ano que vem. INFRAESTRUTURA. “A região se valorizou principalmente devido às obras de infraestrutura realizadas pelo governo”, diz Márcio Perin, analista de mercado da
Informa Economics FNP. Grande parte do crescimento do agronegócio ali se deve à presença da Hidrovia do Rio Madeira, principal rota de escoamento de grãos de Mato Grosso, Amazônia, Acre e Rondônia e única ligação entre o estado com Manaus. A alternativa é a BR 319 que sofre com enchentes recorrentes. No meio do ano, a Marinha e o Departamento Nacional de Infraestrutura fecharam parceria para desenvolver sinalização náutica, que aumente a segurança. Por ano, são transportados 2,1 bilhões de litros de combustíveis. Desde abril, a Assembleia Legislativa do Amazonas discute um projeto de privatização da hidrovia, proposto pelo Ministério do Planejamento do Governo Federal (Mapa). O plano prevê que a concessão a
entidades privadas dos rios navegáveis comece pelo Rio Madeira, que tem a segunda maior hidrovia do Brasil por quilômetro de cargas transportadas.
CIDADES QUE MAIS SE VALORIZARAM EM 2015 Ariquemes (RO) – 37,5% Porto Alegre (RS) – 31% Passo Fundo (RS) – 23,1% Ourinhos (SP) – 23% Porto dos Gaúchos (MT) – 21,8% Taquarituba (SP) – 20% Vilhena (RO) – 13,3 % Itapetininga (SP) – 9,6 % FONTE: INFORMA ECONOMICS FNP
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MAIS BARATO. Somada a essa movimentação, nos últimos cinco anos, R$ 20 bilhões foram investidos na construção de usinas hidrelétricas. A soma do dinheiro destinado às obras realizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a partir do Programa Integrado de Desenvolvimento e Inclusão Social (Pidise) e por meio de Programa de Apoio ao Investimento dos Estados e do Distrito Federal, é de R$ 800 milhões. Desse total, R$ 236 milhões vão para as construções para melhorias no setor da educação, tecnologia e modernização do setor público.
O crescimento da soja no sul de Rondônia também vem atraindo mais dinheiro para o estado, que antes baseava-se apenas na renda da pecuária. Em setembro deste ano, aconteceu o 2º Tour Tecnológico do Campo ao Porto, que reuniu produtores de Mato Grosso e do Sul de Rondônia. Caravanas de carros percorreram mais de 1.200 quilômetros para conhecer áreas agrícolas e promover melhorias de pontos degradados. Passaram pelos municípios de Cerejas, Parecis, São Miguel do Guaporé, Ji-Paraná, Machadinho do Oeste e Ariquemes, entre outros. O objetivo era incentivar negócios e trazer melhorias pa-
ESTADÃO/ NICOLA NICOLILEO
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Colheita de soja: cultivo do grão em Rondônia disputa área com a pecuária
ra áreas degradadas. O primeiro evento, realizado em 2013, pela Central Agrícola, distribuidora da Multinacional FMC, reuniu 70 produtores, muitos dos quais investiram mais tarde na produção da soja local. “O hectare em Rondônia, no entanto, é muito mais barato, vale três vezes menos que o do interior de São Paulo, região com infraestrutura consolidada”, diz Perin. Ariquemes já foi apontada várias vezes por especialistas por ser uma das melhores cidades para se empreender, mas pode vir a ser a melhor caso os investimentos em infraestrutura realmente se concretizem aumentando a eficiência logística.
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divulgação/ Sérgio Vale/Secom
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Hidrovia do Rio Madeira, a principal ligação de Rondônia com o Centro-Oeste e Amazonas: governo federal pretende transferir a gestão para empresas privadas
Índice Brasil fica abaixo da inflação Na média nacional, preço de propriedades agropecuaristas aumentam 5,52%
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aumento da demanda por alimentos, energia e matérias-primas desencadeou uma corrida mundial por terras produtivas e o Brasil se transformou em um dos alvos preferidos dos investidores. Entre 2002 e 2012, a elevação do preço foi de 12,6%. Em 2013, esse movimento se refletiu em uma das maiores altas do mercado de terras agrícolas, 14,9%. Na época, a inflação era de 5,52%. A partir daí, o ritmo de valorização começou a desacelerar. Este ano, no entanto, o aumento ficou em 4,75%, abaixo dos 10% da inflação
Expediente
registrada. “Não houve aumento real”, diz Marcio Perin, consultor da Informa Economics FNP. “O índice reflete a falta de confiança na economia, tanto por parte dos agricultores como dos investidores. Estão todos esperando para ver como fica a economia.” O investidor corporativo, segundo ele, tem uma visão muito estratégia. “Em ano de juro alto, a tendência é esperar, segurar o dinheiro. Aplicar em terras significa disponibilizar milhões em uma operação de baixa liquidez e de longo prazo, para mais de uma década.”
Em 2013, o ganho com terras foi polpudo principalmente se comparado aos resultados financeiros: queda de 17,2% do ouro, recuo de 15,5% das ações e alta de 8,02% das Certificado de Depósito Bancário (CDB). Se de um lado a procura por terras foi pequena em 2015, do outro a oferta também foi insignificante. O produto não perdeu renda, ao contrário, ganhou com a alta do dólar. “Commodities consideradas chaves, como soja, açúcar e café, renderam mais por causa do câmbio”, diz Perin.
Rondon criou infraestrutura em Ro O marechal Cândido Rondon, a quem o estado homenageia, foi o responsável pela infraestrutura do Vale do Jari, ocupado desde 1900, no primeiro ciclo da borracha. A região era conhecida pelas especiarias nativas comuns da Amazônia. A ocupação efetiva, no entanto, aconteceu nove anos depois, quando foi construída a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antônio do Rio Madeira, por uma expedição chefiada por Rondon. O nome Ariqueme é uma homenagem a extinta tribo Arikeme.
Diretor de Projetos Especiais e Jornalista responsável, Ernesto Bernardes - MTB 53.977 SP; Gerente de Conteúdo, Bianca Krebs; Diretor de arte, João Guitton; Gerente Comercial, Gabriela Gaspari; Analista Comercial, Jaqueline de Freitas; Gerente de Planejamento, Andrea Radovan; Assistente de Planejamento, Julia Santos; Coordenadora Digital, Carolina Botelho; Coordenadora de Operações e Atendimento, Larissa Ventriglia. Colaboradores: Lilian Rambaldi (revisão), Bárbara Bretanha (reportagem), Valéria França e Wagner Barreira (edição), Renato Leal (arte). Endereço: Av. Eng. Caetano Álvares, 55, 6º andar, São Paulo-SP - CEP 02598-900. E-mail comercial: gabriela.gaspari@estadao.com
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