VICENTE SILVEIRA
Agronegócio Caderno do
PRODUZIDO POR
TURISMO RURAL
Vivência no campo atrai turistas para Garibaldi (RS) Pág. 12
ALLAN KARDEC BRAGA RAMOS / EMBRAPA
SÃO PAULO, 30 DE JUNHO DE 2016
Pegada hídrica da pecuária
Estudo quer descobrir o consumo de água do rebanho bovino brasileiro
Este material é produzido pelo Núcleo de Projetos Especiais de Publicidade do Estadão
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PALAVRA DA FAESP
O agronegócio deverá sofrer fortes reflexos da crise pela qual passa o País, contudo, esperamos que o atual Governo imprima em suas perspectivas linhas de segurança na execução das políticas públicas. As medidas anunciadas até o momento pelo presidente interino Michel Temer podem refletir em áreas ligadas ao agronegócio e destacamos algumas com potencial de alavancar a produção e a exportação. Devemos sempre lembrar que não fosse o superávit comercial do agronegócio, a situação de desequilíbrio da balança de pagamentos e das contas do País seria gravíssima. Um primeiro aspecto a destacar refere-se às propostas de ajuste fiscal, com a fixação de limite indexado à inflação para os gastos públicos, de modo que o ajuste não recairá sobre a sociedade por meio da elevação da carga tributária. Entendemos que o ajuste fiscal deve viabilizar a redução das taxas de juros em 2017, objetivando restabelecer patamares condizentes com as atividades produtivas, de forma a reverter a elevação das taxas de juros do crédito rural ocorrida nos últimos dois anos, que inibiram os investimentos e subtraíram a competitividade das atividades agrícolas e pecuárias. Outro ponto a sublinhar é a mudança pretendida na política externa, tanto do ponto de vista das relações diplomáticas quanto do comércio exterior. É imperativo realinhar as ações do Itamaraty aos
grandes interesses nacionais e aos temas da agenda global para permitir maior inserção do País na geopolítica mundial, fortalecer as representações diplomáticas e a nossa posição estratégica no comércio internacional. No comércio exterior é de suma importância uma guinada de direção, pois o Brasil perdeu espaço no mercado ao não negociar acordos bilaterais e ao se unir a parceiros inadequados. Amarrado às regras do Mercosul, o País não conseguiu evoluir em nenhuma negociação ambiciosa em âmbito bilateral ou regional, enquanto os EUA, China, México e a União Europeia avançavam nas suas agendas de negociação. O Brasil deve ocupar lugar de maior destaque no comércio mundial, de modo a implantar uma política comercial mais agressiva para a retomada do crescimento econômico, com decisiva participação do agronegócio. É momento do País se envolver em negociações mais audaciosas que resultem em acordos pragmáticos com parceiros estratégicos. Um terceiro ponto diz respeito ao plano de concessões em obras de infraestrutura e logística, um dos maiores gargalos do setor. É oportuno contar com um ambiente regulatório técnico, estável e transparente, capaz de atrair a iniciativa privada para investimentos em infraestrutura. O abastecimento da população e a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional dependem de infraestrutura logística, custos adequados e, em
especial, de uma política permanente de fortalecimento do setor agropecuário. Um novo marco nas concessões pode auxiliar na retomada de investimentos necessários em infraestrutura e, ao mesmo tempo, suprir a incapacidade do setor público de financiá-los. Na nossa avaliação, as medidas anunciadas pelo governo Temer podem ser positivas para o agronegócio, para a agropecuária e para o próprio País, mas o êxito das propostas dependerá da competência na sua implantação. O desemprego, a inflação e a desaceleração econômica não permitem erros. O Brasil tem quase 210 milhões de pessoas que, até o momento, estão acompanhando a desestruturação da economia e os reflexos sociais. O governo federal e as autoridades precisam compreender que não é mais possível abusar da paciência da sociedade. A responsabilidade pública é enorme e as medidas precisam ser eficientes e eficazes. As propostas do governo interino apontam na direção certa. As lideranças, as entidades de representação, o setor produtivo, os trabalhadores e a sociedade de modo geral devem prestar apoio e contribuir com medidas em prol do País. Acreditamos no povo brasileiro, cremos na recuperação do Brasil e confiamos no agronegócio como um dos seus pilares de reerguimento.
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Fábio de Salles Meirelles Presidente do Sistema FAESP/SENAR-SP
DIVULGAÇÃO
MARINA TORRES / EMBRAPA
O agronegócio na atual política
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CRÉDITO RURAL
Recursos do Plano Safra somam R$ 184 bilhões
ZINEB BENCHEKCHOU / EMBRAPA
Pacote para 2016/2017 é considerado insatisfatório para agricultores e entidades do setor
Crédito para custeio e comercialização somam R$ 168 bilhões, sendo R$ 115,8 bilhões a juros controlados
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anúncio do Plano Safra 2016/2017 feito no dia 4 de maio foi um dos últimos atos de Kátia Abreu como ministra da Agricultura. Ela foi exonerada do cargo no dia 12 do mesmo mês, mesma data do afastamento de Dilma Rousseff da Presidência da República. Inicialmente, o valor divulgado pelo governo federal foi de R$ 202,8 bilhões, valor 8% superior ao anterior. No entanto, no fim de maio, o Conselho Monetário Nacional (CMN), já no governo do presidente interino Michel Temer, reduziu em R$ 19 bilhões o montante anunciado, batendo o martelo em R$ 183,8 bilhões – R$ 3,9 bilhões a menos que o plano passado. A cerimônia de lançamento foi marcada pela ausência dos representantes das entidades do agronegócio – que estavam a favor da saída da presidente Dilma Rousseff. Durante o anúncio, ela ressaltou que nos últimos cinco anos os recursos do Plano Sa-
fra totalizaram R$ 905,1 bilhões, saindo de R$ 107,2 bilhões na safra 2011/2012 para R$ 202,8 bilhões na atual, o que ajudou a gerar um Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária de R$ 2 trilhões no acumulado do período. Um dos pilares da acusação que resultou no afastamento da presidente foi o atraso do pagamento de subsídios do Plano Safra 2015/2016 aos bancos públicos. O pacote anunciado foi considerado insatisfatório por entidades do setor (leia a entrevista na página 6). Do total anunciado, R$ 168,83 bilhões destinam-se a linhas de custeio e comercialização, sendo R$ 115,8 bilhões a juros controlados, quantia que – segundo o discurso da ex-ministra Kátia Abreu no anúncio do plano – é 20% superior ao ciclo passado. Nesta categoria de juros controlados, a taxa de juros subiu 0,75% passando a 9,5% ao ano. Na modalidade custeio, os agricultores de médio porte foram privilegiados.
Os recursos para o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) cresceram 15,4% atingindo o total de R$ 15,7 bilhões, com juros anuais de 8,5% ao ano. No plano passado, a taxa era de 7,5% ao ano. Houve queda de 11% no valor destinado às operações de investimentos, que totalizaram R$ 34 bilhões. A justificativa para a redução foi atribuída à fraca demanda. Estas linhas tiveram um reajuste de 1% nas taxas de juros, que ficaram entre 8% e 12% ao ano. Ao contrário do que o setor esperava, o governo manteve a política de juros livres. Os recursos nesta modalidade saltaram de R$ 53 bilhões (2015/2016) para R$ 57,6 bilhões (2016/2017). A estratégia não repercutiu no resultado esperado. De julho do ano passado, quando o plano entrou em vigor, até abril deste ano, apenas R$ 111 bilhões dos R$ 187,7 bilhões anunciados foram contratados.
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REAJUSTE NAS LCAS O governo da presidente afastada Dilma Roussef havia anunciado R$ 40 bilhões em Letras de Crédito Agrícola (LCA), títulos financeiros isentos de Imposto de Renda, ao produtor. Mas o CMN reduziu este valor para R$ 21 bilhões. Segundo José Reynaldo Furlani, chefe de Gabinete da Diretoria de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações de Crédito Rural do Banco Central (BC), as mudanças são necessárias na atual realidade. Além disso, dos R$ 30 bilhões em LCAs anunciados no Plano Safra passado, até maio somente R$ 11 bilhões tinham sido contratados. Os bancos terão que destinar ao crédito rural 35% do montante captado com LCAs, independentemente do lastro. Deste percentual, 40% deverão ser destinados às operações de custeio com taxas controladas de até 12,7% ao ano. A outra parte virá de operações de crédito a juros livres. Com a mudança do CMN, o Plano Safra perde R$ 19 bilhões e fica na casa dos R$ 183,8 bilhões. NOVO MINISTRO Desde que assumiu o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o senador e produtor de soja Blairo Maggi sinalizou mudanças. Entre elas, ele pretende extinguir o programa de modernização de armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento, anunciado em 2013, que previa a reforma de 80 unidades e construção de outras dez. Segundo o ministro, o governo não é um bom gestor e o mercado privado oferece o serviço a preços competitivos. Ele também suspendeu a importação de café cru do Peru por 90 dias por prejudicar os cafeicultores brasileiros. Mas nem tudo é discordância, na política externa, Maggi disse que manterá a estratégia de sua antecessora de abrir novos mercados. A primeira viagem internacional do político foi para China e ele já prevê visitar a Coreia do Sul e o Vietnã. O foco principal dessas incursões é ampliar a penetração da carne brasileira.
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CAPA
Pesquisa investiga pegada hídrica da pecuária
ALCIDES OKUBO FILHO/EMBRAPA GADO DE LEITE
Embrapa busca aferir quanto de água é preciso para se produzir um quilo de carne e um litro de leite
Na pecuária leiteira, o cálculo será feito a partir de um sistema intensivo de gado a pasto, que é uma tendência para a atividade no Brasil
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No final de 2009, chegou ao Brasil um dado de uma instituição holandesa que afirmava ser necessário 15,5 mil litros de água para se produzir um quilo de carne bovina e mil litros para a produção de um litro de leite. A informação causou frisson no País, porque as pessoas pegavam os 15,5 mil litros e multiplicavam pelo rebanho nacional, o que gerava um número estrondoso e motivava campanhas do tipo: “Deixem de comer carne porque a pecuária está acabando com a água no Brasil e no mundo”. Este acontecimento levou pesquisadores da Embrapa a averiguar o que estava por trás do número. “Vimos que existia uma metodologia robusta, mas que o dado não servia para o Brasil”, diz Julio Palhares, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste.
Os 15,5 mil litros de água espelhavam um sistema de produção no padrão europeu e americano, em que os animais ficam confinados a maior parte do tempo. No Brasil, o rebanho passa quase toda a vida no pasto. Essas diferenças levaram Palhares, no ano passado, a iniciar os estudos para calcular a pegada hídrica da pecuária brasileira. Trata-se de um projeto financiado pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e com parcerias com empresas públicas e privadas. Internacionalmente, a pesquisa conta com o respaldo da Water Footprint Networking, organização que desenvolveu a metodologia do cálculo. Os dados preliminares do estudo devem sair no final do ano, a conclusão em meados de 2018. Ainda hoje, a pecuária nacional é pre-
“Um bovino a pasto nos pampas gaúchos é diferente de um gado a pasto no Pará” JULIO PALHARES, PESQUISADOR DA EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE
dominantemente extensiva. São cerca de 210 milhões de cabeças, que ocupam 180 milhões de hectares, sendo que um terço desta área está degradada. “A sustentabilidade da pecuária no Brasil está ligada ao nível de tecnologia adotado na produção. Quando eu digo níveis de tecnologia, eu não estou necessariamente me referindo
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ao confinamento. Confinamento é uma das estratégias, mas não é a única. As pastagens tropicais são muito eficientes, se elas tiverem bem manejadas, eu posso ter um sistema intensivo em pastagem”, diz Beatriz Domeniconi, coordenadora executiva do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), formado por representantes de todos o elos da cadeia de valor da pecuária bovina. Neste primeiro momento, os cálculos da pegada hídrica serão realizados a partir de um sistema de produção de leite a pasto com irrigação. “Escolhemos um sistema com adubação de pastagem, um manejo nutricional intensivo para os animais, um modelo que espelha uma das realidades brasileiras e uma tendência da produção de leite no Brasil”, diz Palhares. No caso da
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METODOLOGIA O conceito de pegada hídrica computa toda água consumida na cadeia de produção do produto. Desde o fertilizante usado para adubar a pastagem, passando pelo pecuarista que cria o animal, frigorífico que abate e processa até a carne chegar ao supermercado. A localidade é um fator determinante. “Suponhamos que eu tenha uma fazenda com a pegada de mil litros de água por quilo de carne à beira do rio Amazonas. O consumo, em termos de impacto, é irrisório, porque eu tenho muita oferta. Mas esta mesma fazenda à beira do Sistema Cantareira, em São Paulo, vai ter um impacto muito grande, porque há um déficit hídrico ali”, explica o pesquisador. O elemento de maior peso no cálculo é a alimentação. “Se a gente errar a mão no manejo nutricional, automaticamente
iremos promover uma maior ineficiência hídrica e, consequentemente, uma maior pegada”, diz Palhares. “Um ponto que todos da cadeia concordam é que sistemas mal manejados são ineficientes e um problema ambiental seja de emissão de carbono ou de má utilização de recursos como água e solo”, diz Beatriz. Neste sentido, o GTPS entende que a intensificação de pecuária em pastagem é o que há de mais sustentável no ambiente de produção no Brasil. “Temos uma fartura de água, insolação e área peculiar comparada a outros países e um potencial de aumento de produtividade grande explorando melhor as pastagens”, completa a coordenadora. O GTPS defende a aplicação das tecnologias já disponíveis e acredita que, aprimorando o manejo das pastagens, é possível melhorar a ocupação da atividade, que hoje é de uma cabeça de gado por hectare. “É possível dobrar isso. Em alguns casos, colocar três, quatro animais dependendo do sistema e de quanto você disponibiliza de recursos para o manejo”, diz Beatriz.
“Sistemas mal manejados são ineficientes e um problema ambiental, seja de emissão de carbono ou de má utilização de recursos como água e solo” BEATRIZ DOMENICONI, COORDENADORA EXECUTIVA DO GRUPO DE TRABALHO DA PECUÁRIA SUSTENTÁVEL (GTPS)
RECOMENDAÇÕES A Embrapa Pecuária Sudeste tem uma série de recomendações para o uso mais eficiente do recurso hídrico. O primeiro passo é conhecer as fontes de água da propriedade, bem como seu volume e qualidade. Outra medida é instalar hidrômetros, aparelho de cerca de 200 reais para aferir o consumo de água. “Se uma vaca costuma beber 60 litros de água por dia e está bebendo 80 litros, o proprietário precisa ver se a vaca está doente, com uma alimentação errada ou se há algum vazamento”, diz Palhares.
Água em foco
EDUARDO AIGNER
pecuária de corte, a opção foi pelo gado confinado no período final de terminação, última fase do crescimento antes do abate. “Os bezerros nascem, ficam com a mãe até o desmame, depois vão para o pasto até atingir em torno de 330 kg. De lá, seguem para o confinamento e ficam em torno de cem dias até serem abatidos, o que dá cerca de 2,5 anos”, diz o pesquisador. Este sistema está presente nos Estados de São Paulo, Mato Grosso e Goiás e foi escolhido por ser mais fácil de ser calculado, uma vez que a diversidade de formas de produção no Brasil é muito grande. “Um bovino a pasto nos pampas gaúchos é diferente de um gado a pasto no Pará”, explica Palhares. A decisão foi iniciar o cálculo da pecuária de corte pelo confinamento – estima-se que 10% dos animais abatido hoje no Brasil venham deste sistema –, e depois partir para o modelo a pasto, que tem maior amplitude no País. Muito mais do que chegar à quantia de água gasta para produzir um quilo de carne e um litro de leite, a pegada é uma ferramenta de gestão do recurso hídrico. “Ela vai mostrar onde estamos sendo eficientes e ineficientes no uso da água. Onde estivermos sendo eficientes, que se mantenha, onde estivermos sendo ineficientes, precisamos fazer os ajustes para com o mesmo litro de água produzir mais quilos de carne e mais litros de leite”, diz o pesquisador.
Fátima Cabral, uma das beneficiadas com o programa Água Brasil, recebeu ajuda para desenvolver um sistema de adubação verde para as pastagens
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ançado em 2010, o Programa Água Brasil é uma iniciativa do Banco do Brasil (BB) em resposta à importância dos recursos para o desenvolvimento sustentável do País. Por não ser uma expertise do setor financeiro, o banco contou com parceiros externos: a Fundação Banco do Brasil, braço social do BB com know-how em tecnologias sociais; a WWF Brasil, organização conservacionista com experiência operacional de análises ambientais, e Agência Nacional de Águas (ANA), que traz os desafios governamentais e prioridades relacionados aos recursos hídricos. “Em 2014, a crise hídrica em São Paulo evidenciou o acerto deste posicionamento de busca de soluções relacionadas ao tema”, diz Wagner de Siqueira Pinto, gerente executivo da Unidade de Desenvolvimento Sustentável e Negócios Sociais do BB. No mesmo ano, o Banco Central instituiu a resolução 4.327, que estabelece a implementação de uma política de responsabilidade socioambiental pelas instituições financeiras. Nos primeiros cinco anos, o Banco do Brasil desembolsou 54 milhões de reais em ações voltadas à melhoria da qualidade da água e ampliação da cobertura vegetal natural em sete microbacias brasileiras. O programa ajudou na implantação de práticas
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agropecuárias mais adequadas a cada realidade. Foram desenvolvidos neste processo 1.300 produtores, 125 envolvidos com o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) dentro do programa Produtor de Água da ANA. “Participo do Água Brasil desde 2013. Com a iniciativa, ganhamos sementes e colaboração de mão-de-obra para um sistema ecológico natural, sem química, um sistema de adubação verde, para melhorar a pastagem para o gado”, diz Fatima Cabral, produtora rural que tem 60 cabeças de gado, em 12 hectares na microbacia Cancã e Moinho, próximo ao município de Joanópolis (SP). De 2016 a 2020, o foco será o Bioma Cerrado, onde nasce boa parte das principais bacias hidrográficas brasileiras. “Vamos continuar os processos de aprimoramentos socioambientais e análise de riscos para desenvolver modelos de negócios focados no compromisso de redução de gases do efeito estufa, assumido pelo Brasil na COP 21”, diz Pinto. O orçamento previsto nesta fase é R$ 50,8 milhões, sendo R$ 35,8 milhões destinados ao Instituto Terra, do fotógrafo Sebastião Salgado, que desenvolve trabalhos para recuperação de mananciais na abrangência do Rio Doce, que engloba a região de Mariana (MG).
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ENTREVISTA
É preciso enxergar a longo prazo Luiz Cornacchioni, diretor-executivo da Abag, defende novos acordos comerciais e um Plano Safra plurianual para agricultura para dar maior segurança ao agricultor
Qual é a posição da Abag sobre a entrada de Blairo Maggi no Ministério da Agricultura? O ministro Blairo tem todos os predicados para fazer um bom governo. Ele é agricultor, empresário, engenheiro agrônomo, foi governador e agora é senador. É do ramo, conhece a parte técnica do agronegócio e também o viés político, que é importante. Além do Blairo na Agricultura, temos o José Serra no Ministério das Relações Exteriores, o que é bem-vindo pela visão que ele tem de mercado e da importância de novos acordos comerciais. Antes de deixar o Ministério da Agricultura, a ministra Kátia Abreu anunciou o Plano Safra. O anúncio surpreendeu? Foi um pouco mais do mesmo, quando você olha as linhas, naquilo que faz a diferença na ponta. Na parte de investimento, a linha caiu de R$ 40 bilhões para R$ 34 bilhões. Destes R$ 184 bilhões, você tira R$ 34 bilhões, sobram R$ 150 bilhões. Se você tirar R$ 21 bilhões de LCAs [Letras de Crédito do Agronegócio] mais R$ 10 bilhões de juros livres mais R$ 2 bilhões para financiamento de estoque de etanol, que nem tem taxa de juros definida, vão sobrar R$ 117 bilhões. A Abag sempre defendeu o anúncio mais cedo do ano do Plano Safra... É importante que o Plano Safra venha o quanto antes, melhor no início do ano, que é o momento ideal para adquirir insumos,
máquinas. Quanto mais cedo o agricultor tiver a visibilidade do que vai vir de volume e juros do Plano Safra para custeio e pré-custeio, melhor ele se programa. A maioria das feiras de máquinas e equipamentos acontecem no início do ano. O ministro Blairo trouxe para a Secretária de Política Agrícola o ex-ministro Neri Geller, talvez a gente tenha espaço para trabalhar esta questão. Precisamos de duas coisas: uma previsibilidade maior e um anúncio mais cedo. Os recursos até 30 de junho deste ano são do Plano Safra 2015/2016. O agricultor fica na expectativa, pensando se pega os recursos do Plano Safra 2015/2016 ou espera o Plano Safra 2016/2017, já que pode ter uma diferença de taxas. O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros defende um equilíbrio no crescimento, um crescimento constante de 2%, em vez de picos de 5%, intercalados por anos de recessão... Não há a menor dúvida que é melhor ter um crescimento constante com um grau de variação pequeno do que ter um pico de 5% e estar indo para o terceiro ano de negativo. Tivemos PIB negativo em 2014, em 2015 e teremos em 2016. No passado, tivemos taxas de juros de 4% ao ano no Moderfrota e PSI. Um segmento como o agronegócio, de maturação de longo prazo, precisa de previsibilidade nas taxas de juros. Há muito tempo, a gente vem brigando com o Ministério da Agricultura por um plano plurianual para o agricultor conseguir se programar para investir. A divulgação do PIB de 2015 confirmou o que as autoridades do agronegócio vinham falando. O setor foi o único que cresceu no ano passado... Comparativamente com outros setores, nós estamos numa situação menos desconfortável, mas não estamos bem. O crescimento foi de 1,8%, mas já chegamos a crescer 4%. Nosso crescimento caiu como consequência da inflação, custos dos insu-
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ste tem sido o pleito da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). “Um segmento como o agronegócio, de maturação de longo prazo, precisa de previsibilidade nas taxas de juros”, diz Luiz Cornacchioni, diretor-executivo da entidade, que vê com bons olhos a entrada de Blairo Maggi no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Abaixo, os principais trechos da entrevista com o diretor.
“Câmbio não é fator de crescimento. Câmbio é importante para ajustar momentaneamente alguma distorção de mercado” LUIZ CORNACCHIONI, DIRETOR-EXECUTIVO DA ABAG
mos, do diesel e da ineficiência da infraestrutura. Tivemos este crescimento em 2015 pelo efeito câmbio, o dólar de custeio estava mais barato que o dólar do momento da venda. Para este ano, eu estou cauteloso. Acho que teremos taxas positivas, mas um crescimento de 1,5%. Os créditos estão caros e escassos e há setores endividados, como é o caso do açúcar e álcool. É perigoso o agricultor ficar na dependência do câmbio? Câmbio não é fator de crescimento. Câmbio é importante para ajustar momentaneamente alguma distorção de mercado, mas não dá para apostar em câmbio para crescimento, porque não tem ganho de produtividade, ganho de competitividade.
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Quais são os principais entraves para o campo hoje? A infraestrutura logística é o primeiro. Com o câmbio de R$ 3 e pouco, o custo de logística para transportar uma tonelada de soja brasileira é três vezes o dos EUA e duas vezes o da Argentina. Nosso custo está entre US$ 85 e US$ 90 por tonelada, o da Argentina é entre US$ 40 e US$ 45; e o dos EUA, US$ 25. O segundo é a questão tributária, houve um tempo em que Goiás queria taxar com ICMS as exportações, este assunto tributário, ICMS interestadual é uma loucura. No etanol, há lugares em que isso ajuda, outros em que o imposto prejudica. O terceiro é a necessidade de novos acordos comerciais. Somos o segundo maior produtor de alimentos do mundo e não temos nenhum acordo comercial desde a rodada de Doha em 2002. Doha está parado, os acordos com a União Europeia estão parados, no Transpacífico não fomos nem chamados...ficamos com o Mercosul, que não anda nem para um lado nem para o outro. Acredito que com a eleição do Macri na Argentina há uma esperança de que a coisa melhore. Minha esperança é que o Macri flexibilize o Mercosul, que tudo comece a andar e a União Europeia venha junto. Como está a questão ambiental? Na questão ambiental, nós conseguimos criar uma interface positiva. O Código Florestal é um bom código, principalmente se comparado com outros países. Mesmo internamente, ele não é ruim, porque não agradou nem 100% o agronegócio, nem 100% os ambientalistas e ficou equilibrado. O importante agora não é ficar discutindo se a vírgula é mais para lá ou mais para cá, é implementar o código. Na questão de consciência ambiental, o setor deu um salto qualitativo. Foi criada a Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura no final de 2014, que serviu de base para as negociações da COP Paris.
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PLANTIO
Tecnologia pode ser arma contra a degradação Sistema de Integração Lavoura, Pecuária e Floresta pode ajudar o Brasil nos compromissos assumidos na COP 21
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Brasil foi um dos signatários dos compromissos de redução de emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) assumidos por diversos países na Cop 21, conferência do clima da Organização das Nações Unidas, que aconteceu em Paris. A Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF) é uma das tecnologias incluídas para o país reduzir em 43% as emissões de GEE até 2030. A ILPF combina as atividades agrícola, pecuária e florestal na mesma
área constituindo um sistema. “A integração propicia benefícios como aumento de produtividade, melhoria do solo em virtude da maior quantidade de matéria orgânica, aumento do estoque de carbono, redução da pressão de desmatamento, maior renda com a diversificação das atividades, diminuição de custos, redução da vulnerabilidade aos riscos climáticos e qualidade de vida ao produtor”, diz Luiz Adriano Maia Cordeiro, pesquisador da Embrapa Cerrados.
O Brasil tem 225 milhões de hectares com culturas agrícolas, pastagem e agropecuária. “Destes, pode-se estimar 67,8 milhões de hectares como áreas aptas para integração, ou seja, superfície disponível para ser utilizada sem a necessidade de incorporação de novas áreas”, explica o pesquisador. Por esta razão, a ILPF foi incluída no Plano Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que desde o Plano Agrícola Pecuário 2010/2011 tem uma linha de crédito para
financiar projetos que promovam práticas eficientes para mitigar as emissões de GEE. Há várias modalidades de integração. O sistema Barreirão, embasado no consórcio arroz e pastagem, é um deles. O sistema Santa Fé é outro e alia a produção de grãos com forrageiras tropicais, principalmente do gênero Brachiaria. “Mais recentemente, a inclusão do componente arbóreo aos subsistemas lavouras e/ou de pastagens representa um avanço”, finaliza Cordeiro.
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NOVOS NEGÓCIOS
Turismo rural integra orçamento de produtores Agricultores de Garibaldi (RS) abrem suas propriedades para visitantes vivenciarem a experiência do dia no campo
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ras. Mas, aos poucos, os passivos foram quitados e a propriedade, reestruturada. Hoje, os parreirais, frutas e hortas têm certificação orgânica, além disso há criação de galinhas, patos e vacas na propriedade. Tudo serve de matéria-prima para restaurante e agroindústrias. “Aqui tudo é transformado, 75% do que o visitante come é produzido aqui”, diz Raísa Bettú Lazzari, filha caçula de Odete, que ajuda
Com impacto nos serviços de hotelaria, alimentação e transportes, segmento turístico é uma das principais fontes de renda em Garibaldi (RS)
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ocalizada no Vale dos Vinhedos, a cidade de Garibaldi (RS) é conhecida como a capital do espumante e tem no turismo uma de suas principais fontes de renda. O segmento tem grande impacto nos serviços de hotelaria, alimentação, transportes e também na renda dos agricultores, que abrem as porteiras de suas propriedades para o turista. O sítio de Jorge Mariani é um desses locais. Ele integra a Estrada do Sabor, roteiro turístico de Garibaldi, que envolve cinco famílias de agricultores. Todas elas descendentes de imigrantes italianos, que preservam as receitas e costumes de seus antepassados. Com 6,5 hectares, a propriedade da família Mariani produz uvas, frutas cítricas e hortifrutigranjeiros no sistema agroecológico. O visitante pode caminhar pelos parreirais, colher e experimentar frutas,
Av. Eng. Caetano Álvares, 55 - 6º andar, São Paulo-SP CEP 02598-900 E-mail comercial gabriela.gaspari@estadao.com
fazer um passeio de trator pelos vinhedos e conhecer a cooperativa da agricultura familiar, que produz sucos e vinhos orgânicos com a uva dos associados. “Nós contamos a história de família que veio da Itália em 1884, mostramos as parreiras com mais de 120 anos, e a casa antiga do meu avô, que abriga uma vinícola no porão”, diz Mariani. No final, o turista degusta vinho, suco, pães, queijo colonial e pode comprar os produtos produzidos no local. “O turismo é uma ferramenta de negócio. Por causa da atividade, conheci muita gente e hoje forneço produtos para o Walmart, Pão de Açúcar e uma rede de produtos naturais do Rio de Janeiro”, conta o agricultor. DIVISOR DE ÁGUAS O turismo também foi uma alavanca para Odete Bettú Lazzari. A renda proveniente
da atividade possibilitou a família quitar as dívidas da propriedade, de 13,2 hectares, e investir na produção agrícola e em duas agroindústrias, uma de produção de geleias e compotas; a outra voltada à fabricação de sucos e vinhos. Viúva e com quatro filhas ela quase perdeu o sítio, herdado de seus bisavôs, por conta do endividamento. Foi quando ouviu uma notícia na rádio local, que falava da reestruturação do turismo em Garibaldi (RS) e convocava os interessados para uma reunião. A matriarca pediu para as filhas irem na primeira reunião e depois ficou dois anos fazendo cursos para trabalhar com o turismo rural. Em 2001, Odete Bettú Lazzari abriu a Osteria Della Colombina, um restaurante no porão de sua casa. O início não foi nada fácil devido às dificuldades financei-
“Por causa da atividade, conheci muita gente e hoje forneço produtos para o Walmart, Pão de Açúcar e uma rede de produtos naturais do Rio de Janeiro” JORGE MARIANI, AGRICULTOR DE GARIBALDI (RS)
a mãe no empreendimento juntamente com a irmã mais velha e o cunhado. As refeições típicas do imigrante italiano custam R$ 60 por pessoa e são o produto âncora da Osteria. Trata-se de uma sequência de mais de sete pratos, entre eles o capeletti in brodo e o nhoque três queijos com molho de linguiça defumada. A família Bettú Lazzari também participa do “tour da experiência”, um conjunto de serviços para que o visitante experimente um pouco da vida local. A matriarca dá oficinas de pães, em que o turista põe a mão na massa e aprende a fazer a colombina. Há também uma visita autoguiada pelo sítio. “Nós construímos uma trilha para que a pessoa possa se integrar com a natureza e vivenciar esta harmonia que temos com o ambiente”, diz Raísa.
Diretor de Projetos Especiais e Jornalista responsável Ernesto Bernardes - MTB 53.977 SP; Gerente de Conteúdo Bianca Krebs; Diretor de Arte João Guitton; Gerente Comercial Gabriela Gaspari; Gerente de Planejamento Andrea Radovan; Assistente de Planejamento Julia Santos; Coordenadora Digital Carolina Botelho; Coordenadora de Operações e Atendimento Larissa Ventriglia; Colaboradores - Livia Andrade (reportagem); Patrícia Fioravanti (revisão); Diego Meneghetti (arte) e Caio Stancati (Assistente de operações e conteúdo)
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