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ANÁLISE DOS PLANOS HORIZONTAIS DO CAMPUS SANTA MÔNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (Analysis of the Horizontal Plans in Santa Mônica Campus of the Federal University of Uberlândia)
Abiola YAYI (bigabis@gmail.com) Aline Côrtes (alinescortes@hotmail.com) Anivaldo Gonçalves (anivaldogv@hotmail.com) Cassiano Guimarães (cguimaraes45@hotmail.com) Débora Firmino Rabelo (firminodeb@yahoo.com.br) João Pedro Ferreira (mathjoao@gmail.com) Marina Franco Rossi (marinafrossi@hotmail.com)
Resumo: Os elementos horizontais influenciam diretamente na percepção do espaço, a impressão que as pessoas constroem de um lugar pode variar consideravelmente dependendo da disposição e organização dos mesmos. O presente artigo tem por objetivo analisar, a partir dos planos de base definidos por Ching (1995) em seu texto Arquitectura. Forma, Espacio y Orden, os planos horizontais do campus Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a fim de verificar como tais planos configuram o espaço observado. Palavras-chave: arquitetura; espaço; planos horizontais. Abstract: The horizontal elements directly influence in the perception of a space. The impression that people get of some place can vary considerably depending on the layout and organization of these plans. This article aims to examine, from the base plans defined by Ching (1995) in his text Architecture. Form, Espacio y Orden, the horizontal planes of the Santa Monica campus of the Federal University of Uberlândia (UFU), to see how such plans constitute the observed space. Keywords: architecture; form; horizontal planes.
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Introdução As análises feitas por Ching no livro apresentado aqui como referência, sugerem
que os espaços são construídos por planos, formas e volumes. O presente trabalho trata especificamente destes primeiros, dando-nos uma nova visão ao observar o Campus Santa Mônica com relação aos aspectos visuais, físicos, psicológicos e funcionais dos planos horizontais atribuídos como pisos, lajes, coberturas e assentos dentre outros. 2.
Referencial teórico conceitual Os elementos horizontais influenciam diretamente na percepção de um espaço.
A impressão que as pessoas constroem de um lugar pode variar consideravelmente dependendo da disposição e organização desses planos. De acordo com Ching (1995), os planos horizontais podem ser divididos em quatro grupos principais: planos de base, planos de base elevados, planos de base rebaixados e os planos superiores. O plano de base, primeiro tipo de plano horizontal que Ching (1995) apresenta em seu livro, é um plano que se situa sobre um fundo contrastante de mesmo nível. As diferenças entre cores e texturas do plano e do fundo são fundamentais para que ele possa ser visto como uma figura. Essa figura pode ser melhor definida com a adoção de alguns outros recursos, além das cores e texturas contrastantes, como por exemplo, o reforço das arestas do plano. Tais planos não criam obstáculos físicos ou visuais, uma vez que não estão elevados ou rebaixados em relação à área circundante. Entretanto, esses tipos de planos horizontais conseguem criar uma zona espacial e um domínio dentro dos limites de suas arestas. Os planos de base elevados, por sua vez, estão em um nível superior ao plano do entorno, interrompendo, dessa forma, o fluxo do espaço. Essa tipologia, de acordo com Ching (1995, p. 102), “cria um domínio específico dentro de um contexto espacial mais amplo”. Se a superfície do plano elevado for igual a do plano ao entorno, os dois parecerão partes integradas. A mudança da forma, cor ou textura das arestas pode tornálo um elemento distinto do plano de base ao seu redor.
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Dependendo da escala da mudança de nível entre o plano de base elevado e o plano no entorno, obtêm-se diferentes situações espaciais. Ching considera três graus de mudança de nível: o primeiro quando essa diferença de nível é pequena (mantém-se a continuidade espacial e o acesso físico é superado facilmente); o segundo quando a diferença é um pouco maior (continuidade visual mantida e acesso físico exige uso de recursos como escadas e rampas); e o terceiro quando a diferença é bastante grande (continuidade visual e espacial interrompidas, de modo que o plano elevado torna-se um elemento isolado do plano do piso e pode ser utilizado como cobertura para o espaço abaixo). Em relação aos planos de base rebaixados, Ching os define como situados num nível inferior ao do plano de base. Tais planos também isolam um campo de espaço do contexto mais amplo. De acordo com o autor, os limites dos planos de base rebaixados não são implícitos como nos planos elevados. O campo espacial pode ser reforçado com uma diferenciação na forma, geometria ou orientação do plano rebaixado e com a diferenciação de cores e texturas entre este e o plano de base. A mudança de nível entre o plano de base rebaixado e o de base pode gerar diferentes percepções espaciais, de acordo com a escala dessa mudança. Assim como nos planos elevados, classifica-se três graus de mudança de nível: o primeiro quando a área rebaixada é bastante rasa (mesmo sendo uma interrupção do plano de piso, ainda se mantem a continuidade espacial entre a área rebaixada e o entorno); o segundo quando a área rebaixada é razoavelmente profunda (a relação visual com o entorno é enfraquecida e sua definição como volume independente é fortalecida); o terceiro quando o plano de base rebaixado é profundo ao ponto de impossibilitar que uma pessoa tenha a visão do plano de piso (o campo rebaixado torna-se um elemento distinto do plano de base). Para promover a continuidade entre o plano de piso e um plano de base bem rebaixado, podem-se criar transições com terraços, degraus ou rampas. No que se refere ao plano superior, Ching (1995, p. 114) afirma: “um plano superior define um campo de espaço entre ele e o plano de solo”. O formato, tamanho e altura dos planos superiores definem as percepções do espaço, uma vez que suas arestas estabelecem os limites do campo do mesmo. O plano superior, por si só, já define um volume distinto de espaço virtualmente. Colunas e pilares ajudam a estabelecer este
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espaço visualmente, assim como uma mudança de nível no plano de base logo abaixo do superior. 3.
Materiais e métodos Para tratarmos adequadamente da temática deste texto, iremos nos deter em três
dos quatro tipos de planos horizontais definidos por Ching (1995), a partir dos quais serão analisadas fotos do campus Santa Mônica da UFU, no intuito de verificar a produtividade do referencial teórico mobilizado para a avaliação dos planos horizontais do espaço considerado, bem como avaliar a qualidade projetual desse espaço. 4.
Discussão e análise dos resultados Na arquitetura, o plano de base é um recurso bastante utilizado, principalmente
quando o objetivo é setorizar ambientes, definindo para os mesmos diferentes usos, sem que haja bloqueio visual ou espacial, mantendo a permeabilidade dessas áreas. No campus encontramos vários exemplos de planos de base que organizam o grande fluxo de pessoas na universidade e designam as funções de cada espaço. Alguns destes planos cumprem seu papel de maneira bem satisfatória, enquanto outros não. Com base em algumas fotos que foram tiradas no campus, podemos melhor analisar a aplicação arquitetônica dos planos de base. A foto a seguir mostra alguns planos de base projetados que respondem bem ao uso do local.
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Podemos observar que a pavimentação de concreto (centro da foto) corta uma área de terra e vegetação, permitindo que os pedestres caminhem pelo espaço sem grandes desvios. O próprio material utilizado sugere um caminho funcional que leve a algum lugar importante pelas suas características inerentes como não acumular sujeiras ou resíduos. O homem ao longo do tempo criou algumas percepções intrínsecas a cada material, diferenciando, de acordo com os mesmos, a funcionalidade dos pisos. Além disso, os planos de base quadrados que estão colocados como bases das mesas também cumprem seu papel, pois delimitam o espaço destas e, de certa forma, convidam o usuário a acessar o local. A foto abaixo, por sua vez, exemplifica um caso da inadequação destes planos de base e de suas disposições no espaço.
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Nesta foto também vemos um caminho de passagem que, neste caso, está ligando dois blocos do Campus e o Restaurante Universitário. Se observarmos um pouco mais à esquerda da imagem, percebemos que se criou um caminho natural que corta o plano de piso da grama, devido à passagem constante de pedestres. Pode-se perceber que este fluxo não foi previsto, ou foi ignorado pelo arquiteto, imaginando-se que ao pedestre seria preferível andar um pouco mais do que sujar os pés na grama. Mesmo assim, as pessoas se recusam a seguir o caminho imposto buscando outras alternativas (no caso, atravessando a grama) porque uma das preocupações de um estudante é o tempo de percurso, fato que deveria ter sido previsto no projeto. Analisaremos a seguir dois exemplos de planos de base elevados. O primeiro configura um plano de base que não contribui para a qualidade espacial da área e outro que recebeu um tipo de uso inesperado. O segundo exemplificará um plano elevado que consideramos de boa qualidade projetual. A foto a seguir ilustra o primeiro exemplo.
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O plano de base elevado, em que há uma pessoa sentada, parece não ter sido projetado para este uso. Possivelmente, a ideia era a de que este plano fosse apenas um espaço de circulação das pessoas, mas a própria população designou uma função “improvisada”, que parecia adequada àquele elemento. Dizemos “improvisada” no sentido de que não há nada de convidativo no referido plano, como, por exemplo, uma simples mudança de cor e textura na faixa onde as pessoas se sentam, que as conduza a se sentarem ali, a não ser a insuficiência de bancos. Com relação à altura desse plano de base elevado, nota-se que, como não foi projetado um elemento de transição entre os dois níveis, várias pessoas são obrigadas a contornarem o gramado para passarem de um nível a outro. Nota-se que ainda não existe um caminho definido na grama visto que a extensão-escala das áreas de interesse dos usuários do local é grande o suficiente para que os transeuntes optem por utilizar caminhos distintos em cima do próprio gramado. Outro ponto a ser considerado é que há outro plano de base elevado ao lado do primeiro, já considerado. Este outro plano não acrescenta qualidade visual ou espacial alguma ao entorno, de modo que nos dá a impressão de que ele não deveria estar ali. Nesta próxima foto, está ilustrado o segundo exemplo.
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O plano de base elevado analisado nesta imagem é o da passarela do primeiro pavimento. Este plano é bastante elevado e permite uma permeabilidade visual por possuir um vão livre em sua parte inferior e, ainda, por ter um parapeito translúcido. O plano também não interrompe a circulação das pessoas no térreo, sendo assim, considerado uma solução projetual de qualidade. Mostraremos a seguir, dois exemplos de planos horizontais rebaixados. A imagem abaixo exibe um plano rebaixado (no caso a rua) em relação ao plano de base (calçadas).
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Neste caso podemos perceber que a diferença de nível entre os dois planos é mínima. Dessa forma, a continuidade visual é mantida e a barreira de transposição entre os espaços é mínima. O caso a se discutir nessa foto é que mesmo essa barreira de transposição sendo pequena, ela ainda existe em todo o bordo da calçada, sendo inadequada para tal caso, pois desfavorece a acessibilidade de pessoas com mobilidade reduzida. Essa é uma discussão urgente que vem sendo levantada com grande ênfase no Campus. Todos os blocos já possuem rampas ou elevadores mas as calçadas ainda são completamente acessíveis. Tentou-se há pouco resolver essas questões implantando plataformas elevadas nas ruas mas o projeto, infelizmente, não considerou a pavimentação (algumas travessias elevadas levam para lugares sem pavimentação) e a disposição de equipamentos como placas, estacionamentos e árvores, evidenciando uma preocupação maior com o automóvel do que com o pedestre. Na foto seguinte, temos um caso de plano horizontal rebaixado no qual o uso foi transformado devido à inativação do que deveria ser uma fonte de água.
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Como no primeiro exemplo dos planos horizontais elevados, as pessoas utilizam essa pequena diferença de altura entre os planos para se sentarem. É perceptível que não é um lugar próprio para este uso, mas esse uso alternativo foi algo que aconteceu naturalmente, devido à restrições ao primeiro uso. Não pudemos assim, considerar o caso como um problema projetual. 5.
Considerações Finais Os planos horizontais constroem espaços, os organizam e relacionam a todo
instante na arquitetura do Campus Santa Mônica, compondo e valorizando ambientes. Sejam estes planos naturais (taludes, depressões, etc.) ou elementos projetuais (vãos livres, pisos, etc.), sua boa aplicação pode transformar a qualidade de um espaço pra melhor ou pior. Durante a análise dos planos na universidade, pudemos notar este fato. Em alguns casos, os planos conseguiram atender bem às necessidades dos usuários do espaço, já, em outros casos, os planos deixaram a desejar. 6.
Referências
CHING, Francis. Arquitectura. Forma, Espacio y Orden. México: Editorial Gustavo Gili, 1995.