BABILÔNIA NORTE
a quadra estranha de Brasília.
Samara Lima, 2017bsb
arte poesia foto quadra
PREFÁCIO
Brasília não é só planos, retas e escalas; Brasília é, também, entre vazios e distâncias, poesia em concreto e azul.
Brasília não é andar pelos eixos sem saber quando se chega, acompanhado de números (de)crescentes em lógicas ilógicas, para os forasteiros e, quiçá, locais.
Enganam-se aqueles que veem uma cidade onde tudo é igual; tudo é igual e diferente, é mais diferente que igual; nunca encontrei Brasília em lugar nenhum.
Buscar a poética de Brasília é uma aventura bem quista, ventura. É preciso pausa, respiro para adentrar em uma paisagem-além.
Ali, longe dos monumentos, descendo uma entre tantas tesourinhas, existe um singular lugar, pouco visto e muito estranhado quando visto, e digo isso por mim, rememorando primeiros olhares e sensações.
A Babilônia Norte, a priori, causa estranhamento, dúvidas estéticas; talvez, bem sei, é preciso seguidas visitas para perceber o quão incrível ela é; e se não é possível encontrar Brasília em lugar nenhum, menos possível é encontrar em Brasília uma outra Babilônia.
Por ser tão única, uma vez que se conhece, é simples reconhecê-la, por suas cores, arcos e passagens, secretas ou não. Babilônia Norte – a quadra estranha de Brasília apresenta um recorte da quadra aos olhos de João Pereira – grande e querido amigo, parsonhador da (bras)ilha – e toda sua sensibilidade visual; aquela quadra que, antes, era desconhecida para ele, tornou-se abrigo e inspiração. Feliz eu, ao ver suas formas e, é claro, charme captado pelo olhar de João, que em seus momentos de pausa, atentou-se para a cidade. Um registro poéticoimagético de um lugar icônico, numa icônica cidade inventada.
Samara LimaBABILÔNIA: falta de ordem; confusão, babel; grande construção.
Em Brasília, entre asas e números, na 205/206 norte, existe uma quadra comercial construida em concreto, de cor branca, com formas geométricas, entradas e saídas: um labirinto.
O projeto arquitetônico é de Doramélia Marra da Motta que, ainda como aluna da Universidade de Brasília, esboçava o desejo de ver uma superquadra que fosse diferente. Elaborada no fim da década de 70, a proposta visava integração entre quadra e comunidade, tendo a faixada do comércio virada para a área residencial e os fundos para a rua com painéis pendurados, aproveitando o olhar dos motoristas; além de passarelas subterrâneas para o acesso livre dos pedestres.
As aberturas de concreto, janelas em forma de arcos, possuem um declive diagonal que barra a água da chuva.
Já na cobertura dos prédios há um espaço livre e arborizado para o lazer, atualmente, conhecido como Jardins Suspensos. Apelidada pelos moradores de Babilônia Norte, foi inaugurada em 1979 e, ao longo dos anos, foram várias as mudanças. Recentemente, houve um processo de revitalização e a quadra abandonou suas “ruínas”; ganhou novas cores, realçando contrastes e ângulos. Tudo é muito peculiar nesse pedaço de Brasília; arte e cultura vêm se apropriando do espaço, tornando-o mais habitável para a comunidade.
Aos poucos, a quadra está deixando de ser “estranha” e se tornando querida pelos brasilienses por ser exatamente o que é: excêntrica. Blocos, corredores, escadas, passagens, rampas e vistas: fluxos constantes; um novo conceito. Quem a vê pelo lado de fora não imagina suas possibilidades. Entre céu e concreto: uma descoberta.
meu corpo branco chega mais perto da janela lá embaixo não tem nada a ver lá de baixo ninguém me vê olhando pra tudo quanto é lado não tem nada a ver não tem nada a ver não tem nada a ver não tem nada a ver tá vendo?
(RESTOS VITAIS, 2005. Nicolas Behr)
João
205/206 norte por Pereira
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
BEHR, Nicolas. Restos Vitais. 1° Edição. Brasília. Publicação Independente. 2005.
CURTA METRAGEM, Babilônia Norte, Rodô Audiovisual. YouTube. 2014.
COLABORADORES
Adriana Fonseca, Danilo Morais, Lara Costa, Lucio Júnior, Luiz Carlos Spiller e Samara Lima.