Álbum de Memória Gustativa João Pereira
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Pão de Jesus Não poderia começar se não fosse por essa receita, pois quando como visito lugares inesperados da minha infância. A receita é da minha vó, Salomé, nordestina e paraibana que tem talento nato na cozinha, além de muito amor por tudo que faz. Ao que me lembro, e sei, que quando dormia em sua casa nos finais de semana, durante o café da manhã o pão feito por ela era o melhor de tudo. Quente por ter saído do forno em poucos instantes, a manteiga logo derretia sobre a fatia. A geleia de morango era outra ótima combinação. Não sei ao certo o porquê do nome que se dá ao pão tenha referência ao santo, o profeta, acredito que seja pela intenção do partilhar ou simplesmente celebrar, junto à mesa, o amor ao próximo.
O preparo dura 3 dias, desde a fermentação até ir ao forno. O fermento é liquido, a isca, como é chamada, tem que ser incrementada e dividida em 3 partes iguais. A primeira fica guardada na geladeira, a segunda vai no preparo do pão, já a terceira se doa a um amigo ou a quem precisar.
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Pamonha A família por parte de mãe que tem suas origens no estado de Goiás trouxe como tradição, além da Folia de Reis, a celebração e o preparo da pamonha. Nas minhas lembranças enquanto criança, o domingo era o dia para a família se juntar, festejar e comer. Despelar o milho e ralar era função dos homens, já o preparo e o tempero ficava por conta das mulheres. Dia de milho, nunca avistei tantos, o objetivo era passar o dia comendo, seja de sal, doce ou até mesmo temperada. Hoje já não se faz mais encontros como este, talvez por ser difícil juntar uma família tão grande; nove filhos, mais de 30 netos e 40 e tantos bisnetos, haja tanta pamonha!
Preparo - Rale o milho, leve a uma panela funda e junte com os demais ingredientes e mexa bem,(menos as palhas do milho) pegue duas palhas do milho no sentido do comprimento e sobreponhas. - Coloque esse creme no meio das palhas, dobre ao meio a palha de cima e feche coma a palha de baixo formando assim um pacote amarre o pacote com a tira de palha e amarre essa trouxa e assim sucessivamente. - Em uma panela bem funda com água fervente ponha as pamonhas uma a uma e deixe cozinhar por 40 minutos - Depois desse tempo tire as pamonhas com uma espumadeira e sirva.
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Jurubeba e Jiló Das comidas que experimentei, são coisas que definitivamente não consegui me adaptar. A cor verde e gosto azedo são grandes barreiras entre nossa relação. Minha mãe, que por sinal gosta muito, coloca jiló no arroz ou come ele meio frito, eu acho; já a jurubeba gosta para acompanhar uma salada. Não tenho vontade ou mesmo gosto por tais alimentos, talvez um dia poderei comer em um preparo específico. Mas enquanto não ocorrer, me darei por satisfeito.
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Reeducação Alimentar Quando pequeno nunca gostava da cor verde dos alimentos no meu prato, minha mãe dizia que eu era chato pra comer, tudo por culpa ou influência do meu pai que dizia não gostar de salada e muito menos de cebola. Tenho na memória uma infeliz briga dos meus pais que aconteceu pelo fato deu não gostar de feijão, minha mãe querendo que eu experimentasse e meu pai discordando dela. Ao longo dos anos fui aprendendo a ter uma relação mais amigável com a comida, durante minhas viagens decidi me reeducar, a experimentar coisas jamais comidas antes. Acredito que foi um dos processos mais felizes que fiz comigo mesmo, me libertei e provei prazeres que hoje sou grato por mudarem meus hábitos e minha vida.
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Bora no Dog? O convite sempre foi o mesmo, é assim que meus amigos há alguns anos me chamam para comer cachorro-quente no centro da Ceilândia. Aliás, virou uma tradição minha e dos meus amigos desde que me mudei para a cidade satélite; já passamos por várias barraquinhas e food trucks, fomos mudando o gosto ao longo do tempo. Começamos com o famoso 14 Irmãos, nosso preferido era o Pequenos, mas, logo o Pinóquio tomou sua posição: o “dog” na chapa e a variedade de molhos era a sua grande atração. @DogdoJuninho O melhor Dog da Cidade! Pão de Leite Ninho Molho 100% Caseiro • Ceilândia Centro - QNM 1 • Águas Claras - Rua 34 norte
Atualmente nos reunimos para comer no Dog do Juninho, porém mais “gourmetizado”, subimos a qualidade dos nossos encontros, que, há anos, talvez 7 ou 8, sentamos juntos para comer e compartilhar histórias, desabafar sobre a vida ou somente matar a fome.
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Biscoitos de Polvilho Feitos pela minha vó por parte de mãe, Rosalina, os biscoitos eram sempre servidos no café da tarde. De rápido preparo, acompanhava muito bem com um chá, o de erva cidreira sempre estava posto sobre à mesa. Dos sabores gosto do de doce, uma mordida e logo se esfarela pela boca. Pelo que me lembro a receita foi feita por ela mesma, as quantidades e porções sempre a olho nu ou pelo tato aguçado e experiente. Há tempos não os como, pois ela já não consegue mais cozinhar de tão velhinha. Talvez essa seja a receita que sempre me fará lembrar dos momentos enquanto eu, criança, me deliciava com os biscoitos e recebia broncas por ter aprontado demais.
Receita - 1 prato bem cheio de polvilho - 1 prato bem cheio de farinha de trigo - 1 prato de queijo ralado - 1 prato raso de açúcar - 1 prato raso de óleo - 2 colheres de sopa de fermento em pó - 2 colheres de sopa de manteiga - 8 ovos +/- Pitada de sal ‘ Modo de fazer Coloque tudo numa bacia, misture. Amasse com os ovos até ficar uniforme. A massa deve ficar no ponto de fazer bolinhos duros e bem firmes. Asse em forno pré-aquecido até dourar.
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Pequi Dos frutos do cerrado que experimentei e gostei, o pequi sempre esteve presente nas refeições feitas em casa. Minha mãe adora, desde o óleo extraído e pimentas perfumadas, faz sempre acompanhado com frango ao molho ou galinhada. O cheiro acusa de longe o prato do dia, não me dou muito bem com tal aroma, prefiro mesmo o gosto. Por muito tempo não comi pois o cheiro forte me fazia ter certa desconfiança, hoje não dou trégua e o roer até tirar toda a carne é um dos momentos mais deliciosos, e claro, com muito cuidado para não me machucar com os espinhos dentro do caroço.
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It Speed Lunch A lanchonete que minha família frequenta há anos e até hoje somos clientes fiéis. Me lembro de quando eu, ainda criança, após a missa de domingo, sentávamos juntos para comer hambúrguer com batatas fritas. Lugar preferido do meu pai, que sempre opta pelo o de número 09 (lê-se o zero) pois não vem salada, algo que ele não gosta. Já o meu preferido e da minha mãe sempre foi o 04. A vitamina de morango bastante famosa, da qual eu gosto muito, sempre acompanha nossos pedidos. Esse é um lugar tradicional que meus pais sempre tiveram uma relação amigável com o dono e atendentes, que por sinal já sabem o nosso pedido antes mesmo de nos sentarmos.
Sempre gostoso como manda a tradição! • St. A Sul CSA 1 – Taguatinga • (61) 3351-9350 www.speedlunch.com.br
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Frango da Vovó Todo almoço de domingo ela faz, as vezes durante a semana, e sempre vem acompanhado com arroz, feijão e salada. A farinha também não falta, como boa nordestina. O tempero é sem igual, só ela sabe fazer. Meu pai como filho já tentou reproduzir, mas nunca obteve sucesso, talvez seja por conta da quantidade ou porções, não sei, só minha vó sabe. É algo que só se come na casa dela, uma delicia, feito na panela de pressão com um cozimento certeiro. Aliás, estou com saudades de comer. Acho que vou visita-la qualquer dia desses.
Vó, como você faz aquele seu frango? Quais temperos usa? - Faz do jeito que você quiser, meu filho, mas eu boto um pouco de cominho, cheiro verde, pimentão, cebola e alho picadinhos. No preparo existe outro ingrediente, talvez o mais importante, mas aqui não irei revelar pois é algo que só se come na casa dela, ou a partir de agora na minha.
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Macarrão da Tia Rozânia Talvez esse seja um dos pratos mais famosos da família. Não me lembro bem da onde surgiu a ideia ou quando foi a primeira vez que o comi, sei que está presente em nossas vidas há bastante tempo. Nunca foi um dos meus favoritos, é um simples macarrão feito na panela de pressão, já a minha irmã, Dannila, adora e faz sempre. Minha Tia com o qual se dá nome ao prato fez ele pela primeira vez, disso eu sei, fazia sempre nos jantares e encontros familiares, na época do frio principalmente. Hoje em dia não faz mais com tanta frequência, pelo que eu sei ela enjoou do sabor ou só se reinventou em outros pratos. Mas, o macarrão, que leva o nome dela, ficará guardado em nossas memórias para sempre.
Receita - 1 saco de macarrão tipo Penne - 1 lata de Pomarola - 1 creme de leite fresco - 2 cubos de caldos de carne - 5 medidas de água - queijo mozarela - presunto - orégano Modo de fazer Coloque na panela de pressão o Pomarola, a água, o caldo e deixe ferver. Despeje o macarrão e tampe a panela. Quando pegar pressão, conte 5 minutos e desligue. Destampe, coloque o queijo e o presunto ralados, orégano, creme de leite e misture. Sirva quente.
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Garfo e Faca Você se lembra quando comeu usando esses talheres pela primeira vez? Eu sim. Quando pequeno, acho que por volta de uns 11 ou 12 anos, minha tia recém chegada de Paris me levou junto a outros primos em uma viagem para Unaí, não me lembro certamente o porquê da escolha do destino. No horário de almoço lembro-me de sentar ao seu lado em um restaurante com grandes janelas abertas e mesas de madeira. Ao chegar meu pedido logo peguei a colher para comer, não demorou muito até ela me olhar e dizer que eu naquela idade já não era mais criança e precisava aprender a comer com garfo e faca, pois era uma forma mais educada de se estar à mesa. A partir dali acredito que nunca voltei ou voltaria a ser o mesmo.
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Uva Niágara Roxa Plantada nas casa dos meus avós e dos meus padrinhos, a uva virou referência em nossa família. Já faz uns 7 ou 8 anos desde a primeira colheita com cachos firmes e pomposos, uvas doces e roxas. Minha vó disputa com passarinhos que vem voando até o quintal para se alimentar, o jeito é colher antes para não estragar ou acabarem sendo devoradas. Após a colheita as melhores receitas: geleias, bolos e sucos. O sabor é único, a cor vibrante se destaca na mesa. Polpas são distribuídas entre a família, a minha sempre fica separada na geladeira, gosto e dou como presentes a queridos amigos. A uva entrou em nossa história em meio a outros cultivos e deve permanecer por vários longos anos.
Dos cachos a panela em fogo baixo, cozinhe até dar caldo. Com as uvas desmanchando sobre os dedos, apegue o fogo e deixe esfriar. Passe na peneira para separar o caldo dos caroços, separe a polpa e guarde.
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Tapioca Presente desde a minha infância, nos preparos da minha vó, Salomé, é servida nos lanches da tarde ou até mesmo durante a manhã com manteiga e um cafezinho. Meu pai como bom filho, não fica para trás na hora de preparar a massa, com a peneira na mão e panela no fogo aceso faz as melhores que já experimentei, como ele mesmo diz: “tapioca boa é da massa fininha”. Quando morei em Recife, ao ir para a universidade parava em uma das barraquinhas tradicionais e sempre era o mesmo pedido: queijo e melaço acompanhado com suco de Cajá. Uma das minhas comidas favoritas, que, a cada mordida sempre boas lembranças.
“Maria tá peneirando Goma e massa de mandioca Quem se casar com Maria Só vai comer tapioca” - Mastruz com Leite
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Pudim Minha sobremesa favorita, seja lisinho ou com furinhos, se quer me ver feliz é só me dar um pedaço. Minha vó, Salomé, ao saber que ia em sua casa já começava o preparo, ou mesmo quando eu chegava em sua casa lá estava ele na geladeira me aguardando. Minha mãe, quando quer me agradar, já sabe o que fazer e faz questão de falar que foi para mim. Desde pequeno eu gosto de comer, seja em datas comemorativas ou dias normais após ou almoço ou durante a tarde.
Receita - 1 xícara (chá) de açúcar - 1 lata de leite condensado - 2 medidas (da lata) de leite - 3 ovos Modo de fazer Em uma panela de fundo largo, derreta o açúcar até ficar dourado. Junte meia xícara (chá) de água quente e mexa com uma colher. Deixe ferver até dissolver os torrões de açúcar e a calda engrossar. Forre com a calda uma forma com furo central. Em um liquidificador, bata todos os ingredientes do pudim e despeje na forma reservada. Cubra com papel-alumínio e leve ao forno médio (180°C), em banho-maria, por cerca de 1 hora e 30 minutos. Depois de frio, leve para gelar por cerca de 6 horas. Desenforme e sirva a seguir.
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História de Pescador Meu pai que tem a pesca como seu hobbie há anos, em umas das viagens para o Tocantins, ao retornar para casa, nos contou uma história que tinha pescado um jacaré com’ mais de dois metros e que foi difícil controlar o bicho, mas conseguiu com ajuda de seus amigos. Ele nos conta que, ali, no rio, existiam outros tão maiores quanto e que davam medo pelo barulho tão alto que faziam. Ao abrir a caixa de isopor, entre os peixes pescados havia os cortes de carne de jacaré, que, para comprovar, nos trouxe para comermos e experimentar essa carne tão exótica. Assada na churrasqueira o sabor me surpreendeu, minha irmã dizia que parecia galinha, já eu achei o gosto muito melhor.
GASTRONOMIA, HISTÓRIA E SABOR