Grau Zero

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DESIGN // ECOLOGIA JUNHO ‘08



destaques 5/

editorial

explorar 8/

segredos da água

saber 17 /

lx factory

olhar 38 /

retalhos do planeta azul

conhecer 65 /

veículos ecológicos

disfrutar 83 /

a aldeia verde

ajudar 116 /

formas de combater o desperdício

junho.08

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Segredos da Agua Encontramo-la nos quatro cantos do Universo, explica a vida tal como a conhecemos e sem ela não haveria civilização. Na Terra, a água é um bem escasso e precioso que estará na origem das próximas grandes guerras. Há muita água no Espaço, mas não em todo o lado, nem na mesma quantidade. Por exemplo, os dados recolhidos em 1999 pela missão SWAS (Submilimeter Wave Astronomy Satellite), de que a NASA incumbiu o Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, revelaram diversas surpresas. O projecto destinava-se a estudar a formação de estrelas nas núvens densas e escuras de gás interestelar, nomeadamente através das emissões de água, oxigénio molecular, carbono atómico e monóxido de carbono. As observações forneceram dados interessantes mas contraditórios. Nas regiões cuja temperatura era de 30 graus acima do zero absoluto (-273,15 ºC), foi encontrada muito menos água do que se esperava. Todavia, nas zonas de núvens densasm onde nascem novas estrelas e o gás atinge temperaturas de milhares de graus, a quantidade de água chega a ser dez mil vezes superior. Porém, não é necessário afastarmo-nos tanto da nossa pequena maçã cósmica. Em 2000, um grupo de cientistas britânicos descobriu cristais de sal que continham água no interior de meteoritos, rochas que surgiram dois milhões de anos depois da formação do Sistema solar. Algo de semelhante aconteceu com o meteorito Monahans, que caiu no Texas em Março de 1998, e com o Zag, baptizado com o nome da cidade marroquina em cuja proximidade se despenhou, em Agosto do mesmo ano. A verdade é que não são os únicos.

De facto, os cometas são autênticos carregadores de água gelada.

Em Julho passado, uma equipa internacional de astrónomos anunciou a descoberta de vapor 0,de água na atmosfera de um planeta situado na constelação Vulpécula, a 60 anosluz do nosso. Baptizado com o nome nada romântico de HD 189733 b, trata-se de um “Júpiter quente”, isto é, de um astro de tamanho semelhante ao do nposso gigante gasoso, mas situado muito próximo da sua estrela, apenas a um oitavo da distância que separa Mercúrio do Sol. Nesta mesma edição, o “caça-planetas” Paul Butler dá-nos mais pistas sobre o interessante corpo, mas este não é único exoplaneta em que os astrónomos descobriram água. De facto, também não foi o primeiro. Pouco tempo antes, em Abril, Travis Barman, do Observatório Lowell de Flagstaff (Arizona, Estados Unidos), detectara o líquido pela primeira vez noutro astro tão grande como Júpiter e de nome igualmente insubstancial: HD 209458 b. Fica a sete milhões de quilómetros da sua estrela (a Terra encontra-se a 150 milhões do Sol) e a temperatura é tão elevada que perde dez mil de matéria por segundoo, na forma de gás expelido para o espaço. Pouco depois de ter sido descoberto, em 1999 (foi o primeiro exoplaneta a ser detectado por um telescópio), confirmou-se a existência de oxigénio na sua atmosfera. Actualmente, os especialistas acreditam que o vapor de água está presente em todas as atmosferas dos planetas extrassolares conhecidos.

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Quando o nosso planeta tinha apenas alguns milhões de anos, a sua superfície foi submetida a um intenso bombardeamento desses objectos, que depositaram aproximadamente um terço de água que hoje existe sobre a Terra. Assim, por estranho que pareça, um terço do precioso líquido dos nossos corpos tem origem cometária. Os asteróides, sobretudo localizados entre as órbitas de Marte e Júpiter, também transportam a sua porção de água, desde os meteoritos com silício, com 0,5 por cento, aos condritos carbonáceos, com os característicos 20%. Estes são os mais antigos de todos e representam 70% dos que se precipitam sobre a Terra.

// NÚCLEOS AQUÁTICOS No Sistema solar, encontramos provas da existência de água ans condições mais extraordinárias. Por exemplo, no Sol, onde surge em estado de vapor nas manchas solares, e também na nossa querida e árida Lua. Em 1994, o radar da sonda Clementine detectou depósitos de gelo no fundo de várias crateras profundas, onde reina uma eterna escuridão. Estima-se que a área destes depósitos totalize entre 10 e 50 mil quilómetros quadrados no pólo norte lunar e até 20 mil no pólo sul. O Gelo também se estende por Europa, um dos satélites de Júpiter, com uma temperatura à superfície de -170ºC.


Porém, sob essa crosta gelada de entre dez e cem quilómetros de espessura, estende-se um imenso mar de água salgada. Urano e Neptuno também contam com algumas gotinhas. Não conhecemos a sua estrutura interna, mas a opinião generalizada é que possuem três camadas: uma atmosfera de hidrogénio e hélio, um manto possivelmente líquido (água, amoníaco e metano) e um núcleo com a mesma composição, a que se junta um conjunto rochoso. Outros cientistas defendem um modelo com duas camadas: uma atmosfera extremamente densa com 50% de água e um núcleo rochoso. É um dos grandes mistérios da planetologia, e abundam as suposições. Algumas hipóteses chegam a sugerir a existência de um oceano extremamente quente situado a 8000 km de profundidade. Por sua vez, o interior de titano pode ser parcialmente formado por gelo a diferentes pressões e por uma camada de água líquida. Todavia, no nosso bairro espacial, o vizinho que leva a palma é

sem dúvida, Marte. Há milhões de anos, o seco e árido Planeta Vermelho era um lugar muito diferente daquilo que hoje conhecemos. Não só era mais quente e tinha uma atmosfera mais densa, como havia água a correr pela superfície. Por Ares Vallis chegou a fluir a insignificância de mil milhões de metros cúbicos por segundo, uma quantidade que reduz a nada os 300 mil do Amazonas ou os imponentes 60 milhões da grande catarata que se formou quando surgiu o estreito de Gibraltar e que encheu o que é hoje o Mediterrâneo, depois de este ter ficado seco há 5,5 milhões de anos. Alguns planetólogos acreditam mesmo que houve um grande oceano em Marte. Com 65 milhões de metros cúbicos e 1700 metros de profundidade, em média, osuposto Oceanus Borealis pode ter coberto as terras planas do terço norte do planeta e coexistido com um imenso continente a Sul. A missa Deep Impact da NASA descobriu, no ano 2005, gelo no cometa Tempel 1.

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Além de abundante, a água é uma substância absolutamente singular, com propriedades extraordinárias devidas à sua estrutura, que consiste em dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio, dispostos num ângulo de quase 105º, com o oxigénio no centro. Por exemplo, tomemos os estranhos pontos de fusão e ebulição. A água devia ser gasosa à temperatura ambiente, como outra “molécula irmã”, o sulfureto de hidrogénio (H2S), mas é líquida, pois os electrões são atraídos com mais força pelos protões do oxigénio do que pelo pobre e solitário protão de hidrogénio. Assim, o oxigénio fica com uma carga ligeiramente negativa, e o hidrogénio com uma carga ligeiramente positiva: é aquilo que se chama, em química, uma “molécula polar”.

em química da água e na relação que possui com os ecossistemas, o biofísico Felix Franks: “De todos os líquidos conhecidos, provavelmente a água é o mais estudado e o menos compreendido”.

// TENSÃO SUPERFICIAL Se enchermos um copo com água até cima e colocarmos, com muito cuidado, uma agulha na superfície, veremos que, milagrosamente, não submerge. Não é um fenómeno sobrenatural, mas uma prova da tensão superficial. No interior do copo, a molécula de água está totalmente rodeada por outras, unidas por pontes de hidrogénio que podemos immaginar como se fossem molas. À superfície, a molécula não tem outra por cima, mas tem ao lado e por baixo.

calorífica: é necessário atribuir-lhe uma grande quantidade de calor para aumentar a sua temperatura. Assim, se colocarmos ao lume um recipiente com água e outro com álcool, teremos de mantê-la mais tempo no fogão se quisermos que a temperatura aumente por igual. Esse facto não só condiciona o tempo que temos de esperar na cozinha para preparar uma sopa como algo de muito mais importante: o efeito de circulação global dos oceanos no clima da Terra. Devemos tomar em consideração que uma elevada capacidade calorífica implica também que a água arrefece mais lentamente,pois tem de perder grandes quantidades de calor para a temperatura descer de forma significativa. É assim que as correntes marítimas conseguem

A molécula da água, sendo composta por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio, é a mais abundante do Cosmos. O hidrogénio de uma molécula pode promover o aparecimento de uma ligação entre ambas, o que é conhecido como “ligação por pontes de hidrogénio” descrito por Linus Pauling, Prémio Nobel da Química, em 1939, na obra A Natureza da Ligação Química. Essa ligação é responsável por a água se manter em estado líquido a uma vasta gama de temperaturas (entre 0 e 100ºC) e possuir uma propriedade que impede, por exemplo, que os insectos se afundem nos tanques. A elevada capacidade calorífica da água explica o porquê de a Corrente do Golfo contribuir para manter a Europa mais quente que a península do Labrador, com a mesma latitude.A água é tudo isso e muito mais. Talvez a melhor maneira de descreve-la seja através de palavras de um dos maiores especialistas

Se a puxarmos para cima, as “molas” entram em acção e puxam-na, por sua vez, para baixo. Do mesmo modo, ao colocarmos uma agulha no copo, estamos a impelir as moléculas de água para o fundo, e as que estão dos lados empurram-nas para cima, no intuito de voltarem à posição inicial. Claro que se trata de uma força de fraca intensidade. Se fosse apenas 2% mais intensa, não poderíamos entram numa piscina. A verdade é que a água molha, mas não demasiado, o que podemos comprovar se lavarmos as mãos sem usar sabonete. Uma das tarefas do detergente é, precisamente, reduzir a tensão superficial para que a água possa empapar bem a roupa e actuar com maior eficácia. Outra propriedade singular do precioso líquido é a elevada capacidade

transportar uma colossal quantidade de energia por todo o globo. A Corrente do Golfo, contribui para manter a Europa Ocidental mais quente que a Península do Labrador, apesar de estarem na mesma latitude. Não há duvida, onde há água, não tardam a aparecer seres vivos. Não é, pois, de estranhar que o Homem adore molhar-se. A verdade é que a vida permaneceu imersa nela até há cerca de 300 milhões de anos. Isso significa que, desde que surgiu, não passou em terra firme mais do que uns míseros 7 por cento. Além disso, pode proporcionar experiências que são apenas possíveis no Espaço. Assim, enquanto uma ave não pode ter mais de 25 quilos para voar, uma baleia azul, cuja língua pesa tanto como um elefante desloca-se graciosamente.


A água também inaugurou a ciência do calor, pois foi com ela que Galileu concebeu o primeiro termómetro, em 1597. Consistia num balão de vidro repleto de ar, de cuja parte de baixo saía um tubo parcialmenyr cheio de água até um recipiente inferior, que também continha o líquido. Quando a temperatura sofria uma alteração, o mesmo acontecia ao volume ocupado pelo ar e, por conseguinte, à altura da água, que subia pelo tubo. No entanto, esse factir também dependia da pressão atmosférica, algo que Galileu desconhecia. Até à época de Torricelli (1608-1647), acreditar que a atmosfera pudesse exercer algum tipo de pressão sobre a Terra era uma ideia absurda. Embora não tardasse a ser substituída pelo álcool, a água manteve um papel predominante como referência para as diferentes escalas de temperaturas que começaram a surgir nos séculos XVII e XVIII. Em 1655, o astrónomo e matemático holandês Christiaan Huygens sugeriu a possibilidade de utilizar como referência a temperatura de ebulição da água. Isaac Newton também deu o seu contributo: em Sobre a Escala de Graus de Calor e Frio (1701), o insuperável inglês defendia uma escala de doze graus. Situava o ponto de congelamento da água no zero e o doze representava a temperatura de um homem saudável. Newton apresentava, assim, pela primeira vez, uma escala precisa.

Aliada

contra o fogo - embora os bombeiros usem diferentes tipos de espuma e de pós apra extinguir incêndios de gases ou compostos químicos, para atenuar as chamas que se alimentam de combustíveis sólidos, como papel ou tecidos, é costume recorrer à água sob pressão pois arrefece rapidamente essas substâncias.

Não seríamos humanos se semelhantes conquistas não viessem acompanhadas de outras ideias menos pragmáticas. Como a água é fundamental para a vida, chegou a ser divinizada e dotada de propriedades milagrosas. Foi o que aconteceu com a de Lourdes. É curioso constatar que a Virgem aparecia quase sempre perto de fontes. O aspecto folclórico e supersticioso da água ultrapassou, frequentemente, a barreira do racional e levou, por vezes, alguns estudiosos a proferirem afirmações que transpõem, a fronteira entre Ciência e pseudociência.

Um dos casos mais controversos produziu-se no final da década de 1960, quando um grupo de cientistas do Instituto de Química-Física de Moscovo anunciou a descoberta de uma nova forma de água. Para justificá-lo, Benveniste sugeriu a alucinante ideia de que a água tem memória.


International SurfIng Day O International Surfing Day é um evento criado há criado há quatro anos pela revista norte-americana Surfing Magazine e pela organização ambientalista Surfrider Foundation. Este é um acontecimento global que pretende congregar surfistas de todo o mundo, celebrando o acto de correr ondas e promovendo a atitude de, por uma vez que seja, dar algo à Natureza em vez de só dela retirarmos. Assim, no dia 20 de Junho, dia de Solstício, surfistas dos quatros cantos do mundo não só apanharam uma onda em honra da ocasião como participaram em diversas iniciativas que visam promover a defesa activa dos nossos bens mais essenciais: as ondas, as praias e os oceanos. Neste sentido, a GrauZero procurou incentivar diversas limpezas de praia de Norte a Sul do país. Todas as fotografias de acções relacionadas com este tema que cheguem à nossa redacção até ao final do presente mês serão publicadas na próxima edição. Para mais informações consulta www.intlsurfingday.com .

Adidas Eco Friendly Quando falamos em roupa ecológica, estamos de certa forma a aplicar o conceito de cultivo biológico, bastante avançado no ramo alimentar, ao universo da moda. Porque na sua origem todas as marcas “verdes” partem de um cultivo biológico das fibras têxteis, o tão falado algodão cultivado de forma orgânica. Ou seja, usando métodos com pouco impacto ambiental, livres de fertilizantes ou pesticidas. No processo posterior de tratamento, se não for tingido, este algodão tem a desvantagem de só estar disponível em três cores: cru, castanho e verde, embora os tons possam variar consoante a região onde foi cultivado. A natureza oferece uma paleta reduzida mas dá em troca os materiais mais fortes: as tintas e os químicos enfraquecem as fibras, tornando as peças finais menos resistentes. As peças orgânicas garantem uma maior durabilidade. A ausência de tingimentos é só por si eco friendly, já que o tingimento de uma peça de vestuário pode contaminar dez litros de água

Museu Colecçao Berardo - Belém 24h O Museu Colecção Berardo, em Belém, vai celebrar o primeiro aniversário nos dias 3 e 4 de Julho com dança, teatro, actuação de DJs, projecções de vídeo e um serviço especial de bar ao longo de 24 horas de programação com entrada livre. As comemorações começam às 21h00 do dia 03 de Julho com a projecção de vídeos nas fachadas do Museu, e prolongam-se até às 21h00 de 04 de Julho, enquanto os espectáculos começam às 21h30 e vão sendo repetidos até às 03h00 da madrugada. Uma performance de Tiago Guedes, intitulada “Materiais Diversos”, que aborda a questão da recusa à reflexão acerca do papel do espaço, do corpo, do criador e espectador num objecto artístico, marcará o início da programação no interior do Museu. A programação prevê ainda performances de dança contemporânea de Gustavo Sumpta intituladas “A dúvida está a desaparecer do mundo. Matamo-la como matamos os homens, é mais seguro” e “O melhor mundo possível”, e Carlota Lagido irá também apresentar a obra “Not forget not forgive”. O Museu Colecção Berardo abriu a 25 de Junho de 2007 com uma selecção de 450 obras das 862 integradas no acordo de comodato (empréstimo) estabelecido entre o Governo, através do Ministério da Cultura, e Joe Berardo.

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Lx Factory A companhia de fiação e tecidos lisbonense constitui um dos mais importantes complexos fabris de Lisboa. A sua construção remonta à década de 40 do séc. XIX e foi dos primeiros a adoptar uma tipologia típica de arquitectura do ferro em Portugal. Em LXF, a cada passo vive-se o ambiente industrial. A caixa vazia “BOX” é o ponto de partida para uma sinergia de ideias, intervenções, mutações, onde cada um se apropria do seu espaço, em progresso. Espaço de trabalho, de concentração, de investigação. LXF funcionará como uma enorme e permeável network de ideias em trânsito, de experiências e, mais importante, de pessoas focadas em si, nos outros. Esta sincronização de pessoas, ideias e experiências acontecerá naturalmente em LX Factory. Há males que vêm por bem. Enquanto a Câmara Municipal de Lisboa não aprova o plano de pormenor para os terrenos e edifícios onde, em tempos, funcionou um dos mais importantes complexos fabris de Lisboa: a companhia de fiação e tecidos lisbonense, e, mais recentemente, a Gráfica Mirandela, há quem não queira deixar fugir a oportunidade de negócio. A empresa LX Factory, pertencente ao grupo de investimentos imobiliários MainSide, está a transformar estes 23 mil metros quadrados de barracıes abandonados num pólo criativo composto por agências de publicidade, produtoras de cinema, moda e

audiovisuais, ateliers de artistas. Sinergia é a melhor palavra para descrever o que se pretende que venha a acontecer por estas bandas. Mas tudo o que é bom, um dia acaba. E também a LX Factory vai durar o tempo que tiver de durar, isto é, enquanto a câmara não decidir o que vai acontecer aqui. À partida, os contratos de aluguer que estão a ser feitos com as empresas apontam para os cinco anos, com opção de renovação, diz Filipa Baptista, arquitecta responsável pelo projecto. Tudo o que está aqui agora, um dia transformar-se-á noutra coisa. Daí que o investimento em termos de restauro não seja assim tão profundo. Cada empresa que para aqui vier pode fazer as alterações que entenderá, diz a arquitecta. Um plano de pormenor leva pelo menos seis anos a ser aprovado, mas pelo andar das coisas, pode durar uma vida inteira. Os armazéns/ateliers disponíveis para alugar são todos muito diferentes entre si. Vão desde salas para albergar escritórios a salas com 1800 m2 para receber eventos.

Em Novembro do ano passado, passou por aqui a terceira edição do Prémio de Pintura Ariane de Rothschild e, em Maio, recebeu o Festival OFFF, um grande evento internacional dedicado à criação digital, em que são esperadas cerca de seis mil pessoas.

Torna-se essencial, numa grande cidade, a existência de espaços transversais e mutáveis, com dinâmicas e velocidades sincronizadas com a própria cidade.

com o

tempo real

Espaços em sintonia (o que realmente acontecer hoje e amanhã).

está a

As intervenções planeadas para o espaço vão manter as características do antigo espaço industrial. Cru. As escadas em ferro com a inscrição Fábricas Vulcano & Collares, as secretárias e cadeiras de outros tempos, as máquinas de ampliação e revelação da gráfica... nunca nos deixam esquecer que estamos num ambiente industrial. E esse é parte do encanto da LX Factory. Se percorrêssemos as ruas deste complexo fabril há uns meses, teríamos a sensação de estar numa cidade fantasma. Nos dias que correm, os primeiros habitantes desta cidade criativa já se mudaram ou estão em processo. Contamos que lá para o Verão a LX Factory já esteja a funcionar com alguma força, diz Filipa Baptista. Confirmados para ocupar estes espaços estão já o estilista Dino Alves, a agência de publicidade Norma Jean, a revista Zoot, a marca de roupa Bench, o Test on Art / Centro de Arte Contemporânea, a produtora de audiovisuais Quioto, uma escola de

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Lisboa, 27 Fev (Lusa) - Para mostrar “a arte que está por vir, a arte de amanhã”, Lisboa vai ter no próximo Verão um centro de arte contemporânea, localizado numa das primeiras estruturas industriais portuguesas. “Esperamos que seja a maior plataforma de arte contempor‚nea, da arte que est· por vir, da arte de amanhã”, explicou à agência Lusa o director do Test, on art, o arquitecto João Simões, num visita pelos espaços onde vai ficar insta-

O mais requintado (logo, mais caro) vai ocupar o espaço onde antigamente funcionava a direcção da gráfica Mirandela. E pelo que a Time Out viu um espaço com janelas de alto a baixo, por onde o rio entra sem pedir licença, promete. Mirandela, com as gigantescas rotativas e impressoras a ocuparem praticamente todo o espaço. Assim que a gráfica sair do edifÌcio, a equipa do Test, on art irá fazer apenas pequenos ajustes no espaço para acolher as futuras actividades.

“Este é um espaço que ainda é anónimo para a cidade, mas nós queremos que seja um pólo criativo aberto a Lisboa, um espaço internacional que funcione quase como uma cidade artística”, sublinhou João Simões, um dos 14 comissários deste centro de arte contemporânea.

lado o novo centro artístico. O Test, on art vai ficar em edifícios centenários em Alcântara, Lisboa, onde em tempos funcionou uma fábrica de fiação e, mais recentemente, a gráfica Mirandela. Contamos que lá para o Verão a LX Factory já esteja a funcionar com alguma força, diz Filipa Baptista. Confirmados para ocupar estes espaços estão já o estilista Dino Alves, a agência de publicidade Norma Jean, a revista Zoot, a marca de roupa Bench, o Test on Art / Centro de Arte Contemporânea, a produtora de audiovisuais Quioto, uma escola de dança, entre muitos outros. Onde há gente, há necessidades básicas. E porque pensar e criar dá fome, os espaços de restauração também estão contemplados. Os mais acessíveis vão estar mais próxi-mos da entrada, para que possam ser frequentados também por quem passa.

Enquanto os habitantes desta nova cidade criativa não se mudam para cá, o espaÁo vai sendo rentabilizado com festas ou com empréstimos de espaço pontuais a artistas que necessitem. Caso do Hugo Canoilas que, em troca do espaço, produziu um trabalho para a Lx Factory.

Um projecto inesperado, com uma escala e uma dinâmica que revelam novas atitudes - e em especial as eventuais energias ou os ambientes dum novo trânsito de informação cultural em Lisboa.

Praticamente debaixo da ponte 25 de Abril, os edifícios são armazéns de vários andares, com as paredes descarnadas, o tijolo original totalmente descoberto, e cada um tem cerca de três mil metros quadrados. No edifício onde ficará o centro de arte está ainda hoje a funcionar a gráfica

Até ao Verão, altura em que o centro abrirá ao público e aos artistas, estes 14 comissários portugueses e estrangeiros vão delinear o plano de programação e actividades, vão definir o perfil do Test, on art. Segundo João Simões, cada um dos comissários, entre os quais Delfim Sardo, Henry Flynt, Jutta Koether ou Arfus Greenwood, tem uma rede de colaboradores e de contactos de artistas para mostrar em Lisboa arte contemporânea. A ideia, de acordo com o director, é fazer daquele espaço em Alcântara um laboratório para que artistas portugueses e estrangeiros trabalhem e mostrem as suas obras, um centro de intercâmbio artístico e, de futuro, uma residência artística. “Não será um centro de artistas para artistas. Vamos ter programas culturais transversais para toda a gente, para todos os públicos, com exposições, performances e serviço educativo”, sublinhou o responsável. Para já, o centro de arte contemporânea contará com um orçamento de quatro centros


arquitecto português a residir actualmente em Nova Iorque. A equipa de 14 comissários internacionais estará em Lisboa na quinta e na sexta-feira para burilar o perfil, os projectos e o programa de actividades mil euros, mas espera a entrada de mais financiamento, sobretudo por conta de patrocinadores e mecenas. Para quem se quiser mudar definitivamente para aqui, saiba que o metro quadrado está entre 6 e 9 euros. E há muito metro quadrado à espera de ser ocupado. À medida que realizar as várias actividades artísticas e exposições, o centro irá constituir uma colecção de arte contemporânea.

“test,

on art é uma associação sem fins lucrativos para a arte contemporânea e encontra-se integrada no pólo criativo LX Factory, localizado na antiga zona industrial de Alcântara. Com o objectivo de dinamizar espaços urbanos desactivados na cidade de Lisboa, mantendo as suas especificidades arquitectónicas e urbanísticas, a LX Factory reúne neste novo pólo criativo ateliers de artistas, estúdios de produção, cinema, fotografia, design industrial, moda, arquitectura, artes performativas, espaços para eventos e TEST, on art, um novo centro de 3.000 m2 para a arte contemporânea.”

Apesar de já existirem em Lisboa espaços que divulgam arte contemporânea, como a Fundação Gulbenkian, ou a Culturgest, João Simões assinalou que Test, on art será um complemento. “Queremos que seja um centro mais dinâmico de arte contemporânea em Portugal e há que aproveitar o facto de haver quem queira investir em arte, de Lisboa estar na moda e de ser falada lá fora”, disse João Simões, 37 anos,

deste ano do Test, on art. No final da reunião, a equipa mostrará o espaço a jornalistas e convidados e a artista alemã Jutta Koether e a dupla Elizabeth e Henry Flynt farão performances sonoras no local. Pelo menos, mudou a estatégia dos “empreendedores” imobiliários: em vez de espaços murados à espera da aprovação dos planos aparecem projectos temporários que animam e por isso vão tendo rentabilidade e valorizando os locais. É o caso da Fábrica do Braço de Prata, do prédio do BES na Avenida e agora da LX Factory, a Alcântara.

Na equipa fundadora está a Ana Cardoso, pintora com uma carreira enérgica, de que se foi conhecendo o trabalho, e a direcção e produção-comunicação são de João Simões e Sofia Nunes. (Já há anos o local ou suas imediações foi sede de um projecto com algumas semelhanças, e as torres do Siza estiveram previstas para aí. O recente 3o Prémio de pintura Ariane de Rothschild tinha permitido uma primeira visita ao “bairro”).


www.grauzeromag.com


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