SISTEMAS DE ESPAÇO LIVRE COMO ARTICULADORES DO PLANEJAMENTO URBANO E A ANTROPOLOGIA URBANANA BARRA F

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SISTEMAS DE ESPAÇO LIVRE COMO ARTICULADORES DO PLANEJAMENTO URBANO E A ANTROPOLOGIA URBANA

NA BARRA FUNDA



Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Catalogação na Publicação Serviço Técnico de Biblioteca Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Takehara, Johny Katsumi SISTEMAS DE ESPAÇO LIVRE COMO ARTICULADORES DO PLANEJAMENTO URBANO E A ANTROPOLOGIA URBANA NA BARRA FUNDA / Johny Katsumi Takehara; orientador Eugenio Queiroga. São Paulo, 2018. 73P. Trabalho Final de Graduação (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 1. Planejamento Urbano. 2. Sistemas de Espaço Livre. 3. Antropologia Urbana. I. Queiroga, Eugenio, orient. II. Título.

Elaborada eletronicamente através do formulário disponível em: <http://www.fau.usp.br/fichacatalografica/>


Agradeço, A minha família pelo privilÊgio de poder ter estudado esses anos nessa faculdade, aos amigos que fiz aqui dentro, aos amigos de antes da faculdade e aos professores com quem tive mais contato e me ajudaram nessa caminhada.


abstract/ resumo

The critical essay proposed here starts with an expanded view of the perception and knowledge of the city, understanding as inevitably complex the thematic matrices of the .physical and social structures that configure it From the knowledge of Urbanism and Urban Planning rational and technical, gradually consolidated over the last two centuries as a hegemonic vision in São Paulo, are analyzed two ways of seeing and intervening in the city, starting from the vision of the city rationalized as a field of opportunities, investments and counterparts in the regional macro scale, having as analysis cut to Consortium Urban Operations; to the city seen in the scale of the place, in an interpretive and qualitative view of the relations of the individual, daily life and social practices of a cosmopolitan metropolis, approached by the field Urban Anthropology, under ..the cut of the ethnographic experience

O ensaio crítico aqui proposto parte um olhar expandido da percepção e conhecimento da cidade, entendendo como inevitavelmente complexas as matrizes temáticas das estruturas .físicas e sociais que a configuram A partir do conhecimento do Urbanismo e do Planejamento Urbano racional e técnico, gradualmente consolidados ao longo dos últimos dois séculos como visão hegemônica em São Paulo, são analisados dois modos de ver e intervir na cidade, partindo desde a visão da cidade racionalizada como um campo de oportunidades, investimentos e contrapartidas na macro escala regional, tendo como recorte de análise a Operações Urbanas Consorciadas; até a cidade vista na escala do local, numa visão interpretativa e qualitativa das relações do indivíduo, do cotidiano e das práticas sociais de uma metrópole cosmopolita, abordada pelo campo Antropologia Urbana, sob o recorte da experiência .etnográfica



sumário INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------------------- P.8 _escopo _relevância 1_TEORIAS E CONCEITOS ---------------------------------------------------------------------------P.13 1.1_Pensamento complexo e Sistemas 1.2_Espaço Livre público/ Terrain vague/ Não Lugar e Lugar Antropológico 2_ ANTROPOLOGIA URBANA ------------------------------------------------------------------------P.25 2.1_ A prática etnográfica como metodologia 2.2_ Trajetos, Pedaço e Pórticos / Cotidiano 3_ ESTUDO DE CASO: BARRA FUNDA -----------------------------------------------------------P.31 3.1_Formação e caracterização 3.2_A Operação Urbana Consorciada Água branca 4_ETNOGRAFIAS E EXPERIMENTAÇÃO -------------------------------------------------------P.43 4.1_Etnografias dos espaços selecionados 4.2_ Proposta de Plano Interdisciplinar APONTAMENTOS FINAIS --------------------------------------------------------------------------P.70 BIBLIOGRAFIA -----------------------------------------------------------------------------------------P.71


INTRODUÇÃO

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Escopo_ O ensaio crítico aqui proposto parte um olhar expandido da percepção e conhecimento da cidade, entendendo como inevitavelmente complexas as matrizes temáticas das estruturas físicas e sociais que a configuram. A partir do conhecimento do Urbanismo e do Planejamento Urbano racional e técnico, gradualmente consolidados ao longo dos últimos dois séculos como visão hegemônica em São Paulo, são analisados dois modos de ver e intervir na cidade, partindo desde a visão da cidade racionalizada como um campo de oportunidades, investimentos e contrapartidas na macro escala regional, tendo como recorte de análise a Operações Urbanas Consorciadas; até a cidade vista na escala do local, numa visão interpretativa e qualitativa das relações do indivíduo, do cotidiano e das práticas sociais de uma metrópole cosmopolita, abordada pelo campo Antropologia Urbana, sob o recorte da experiência etnográfica. Busca-se assim, um diálogo construtivo de diferentes perspectivas do entendimento a respeito da existência física, social e mental da vida na cidade; uma vez que a hegemonia do pensamento racional de ordenar e planejar a cidade segundo parâmetros padronizáveis e quantitativos típicos do urbanismo moderno, vem levando cada vez mais a um desequilíbrio dos interesses dos atores sociais envolvidos, notadamente os setores corporativos imobiliários e financeiros, o Estado e a sociedade civil, organizada ou não. Levase ainda em consideração a reconhecida importância de discussão da vida na cidade segundo jogos de contraposições conhecidas, como “público x privado”, “ centro x periferia”, 9

“Estado x Mercado imobiliário” etc ... este ensaio busca sinalizar uma experimentação da abordagem interdisciplinar entre a Antropologia Urbana e o Urbanismo, entendendo que nas relações sociais mais elementares, os grandes atores sociais, corporificados em grandes conglomerados empresariais ou em instituições públicas são formados em última instância por indivíduos, cidadãos com anseios e limitações próprios, limitações essas que se delineiam no contato com a existência de “outros” tantos atores sociais, sejam eles representantes do Estado, da sociedade civil ou ainda indivíduos marginalizados pelos demais grupos. Serão analisados como tema estrutural os espaços livres e abandonados/ subutilizados no distrito da Barra Funda, sob os mais variados contextos sociais e formais que, de algum modo, possuem a questão de apropriação do espaço para fins particulares ou comuns, mas ainda sim, fundada em algum grau de sociabilidade presente na forma visível do improviso e da pro atividade ou latente como potencial ignorado e não explorado. A situação e potencialidades de usos e respectivas formas de ocupação e distribuição serão balizadores do ensaio, contemplando aspectos qualitativos da percepção de tais espaços na escala do pedestre, a partir de relatos etnográficos e registros fotográficos focados nos arranjos sociais locais. Em termos de estrutura o Ensaio se constitui de quatro partes organizadas numa divisão entre: a teoria e conceitos utilizados (capítulo 1_Teorias e Conceitos/ capítulo 2_ Antropologia Urbana), uma breve análise do território do estudo de caso e da Operação Urbana Consorciada Agua Branca (capítulo


3_Estudo de caso: Barra Funda) e a parte final, de análise dos relatos etnográficos e de uma proposição experimental interdisciplinar (4_Etnografia e Experimentação). Embora o conteúdo dos primeiros dois capítulos tenha servido de mote inicial para alimentar e guiar o tema e os questionamentos críticos, entendese que cada conceito e cada análise, desde a teoria, com relevância mais abrangente até os mais específicos na escala local do espaço urbano, tiveram elementos que puderam ser selecionados de acordo com as observações feitas em campo, no local de estudo de caso (Barra Funda), as quais indicaram certos recortes e especificidades da relação entre os capítulos, principalmente dos capítulos 1 e 2 com relação ao capítulo 3. Desse modo, sinaliza-se o foco da discussão em torno da ideia de se analisar e propor intervenções no território existente no tempo presente extraindo dele matéria para cruzamento com os conceitos estudados previamente, evitando o raciocínio inverso no qual se buscaria a priori no território de estudo a ocorrência direta dos conceitos, o que levaria a limitação da possibilidade de tensionamento da teoria ou mesmo a distorção induzida do território observado segundo as estruturas conceituais. A parte final composta pelos relatos etnográficos e da proposta síntese (4_Etnografias e Experimentação) são complementares entre si e com a parte 3, assinalando questões sobre diferentes discursos de modos e modelos de vida, de formas de habitar a cidade. As contradições e aproximações entre os métodos da Antropologia Urbana e do Urbanismo ajudam na construção da idéia interdisciplinar proposta neste ensaio.

Relevância _ A multiplicidade de interesses que coexistem na cidade contemporânea leva a modelos de entendimento e de intervenção muito variados, seja no campo técnico-racional ou no campo interpretativo-qualitativo, ambos nos afetam de formas variadas: na relação com o trabalho, como o tempo, com nossas rotinas e de forma mais pessoal, com nossos cotidianos. As naturezas desses afetos e a forma como interagem será balizadora da crítica aqui construída, abordando não só o cruzamento de conceitos antropológicos e urbanísticos, mas atentando para suas relações de convergência e de contradição, buscando ao final do trabalho uma proposta que busca a síntese dessas questões levantadas, com objetivo não de definir um modelo de intervenção, mas sim de mostrar os novos horizontes possíveis a partir da interdisplinaridade e do entendimento das mudanças na cidade como um processo contínuo e complexo, onde o entendimento da realidade compartimentada em disciplinas do conhecimento acadêmico instituído, não leva ao conhecimento total pela soma de suas “partes” individualizadas, mas sim a uma racionalização simplificadora que engessa a natureza mutante e múltipla da vida em sociedades altamente urbanizadas. A pertinência do tema abordado se faz primeiramente pela própria trajetória histórica de formação da cidade de São Paulo que, a partir de seu processo de industrialização e de adensamento demográfico vertiginoso que vem sendo consolidados desde o final do século passado, perde em grande parte a expressividade da dimensão do espaço livre público como ponte de via de mão dupla 10


do diálogo da vida cotidiana funcional e da vida cívica e do lazer, tão importantes para a construção de identidades coletivas dos cidadãos. No âmbito das consequências do processo histórico de urbanização da cidade, o fenômeno de adensamento construtivo disperso no território e a verticalização (corporativa e residencial) priorizando a esfera do privado, gera processos de fragmentação do “tecido urbano” (Reis, 2006) em diferentes propriedades particulares mais do que em espaços ou ambiências com identidades discerníveis e respeitadas. Com seus limites fortemente demarcados física ou simbolicamente, resta aos espaços livres em muitos casos, os espaços residuais ou desconectados com o caráter de integração e complementação pouco expressivos, tornando importante a rediscussão do planejamento e projeto desses ‘’vazios’’ urbanos de forma que sejam articulados funcionalmente e socialmente na paisagem. ‘’(...) refere-se ao que os arquitetos chamam de tecido urbano, ou seja, a escala na qual se definem as relações físicas e jurídicas entre espaços públicos e espaços privados, em que se definem as ruas e praças, as quadras e lotes, a propriedade (ou posse) do espaço urbano, sua produção material, bem como sua apropriação, uso e transformação’’ (REIS, 2006). Em um recorte temporal mais recente, o atual cenário de encaminhamento da atual gestão da Prefeitura da Cidade de São Paulo (PMSP 2017-2020) sinaliza uma maior aproximação com setores privados na implementação e gestão de muitos dos espaços públicos livres da cidade (exemplo das parcerias/ 11

concessões pretendidas de parques, centros de eventos e estádios) e também no âmbito do território do estudo de caso deste ensaio, a Operação Urbana Consorciada Água Branca que abarca o distrito da Barra Funda, revela a necessidade da crítica do impacto dessas intenções na dimensão pública dos espaços livres. Por outro lado, a emergência de espaços de praças, avenidas e vias elevadas como espaços negociados entre funções práticas e funcionais e como espaços de apropriação pública com múltiplas atribuições não fixadas, sendo inclusive em alguns casos, palco para manifestações populares de diferentes arranjos sociais com pautas variadas, como é o caso do Largo da Batata, Avenida Paulista e do Elevado Presidente João Goulart, futuro Parque Municipal Minhocão. Sinaliza-se assim, a relevância da continuidade do domínio público, flexível e múltiplo dos espaços livres de relevância pública, sob suas mais variadas configurações formais, nos quais não haja a predominância ou unilateralidade de interesses da qualidade do uso ou normatizações vindas de demandas externas a realidade dos contextos sociais pulsantes no tecido urbano que conformam tais espaços da cidade.


1_TEORIAS E CONCEITOS

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1.1_ Complexidade sistêmico

e

pensamento

A idéia de pensamento complexo aqui empregada, baseou-se principalmente na obra ‘’Introdução ao pensamento complexo’’ do filósofo e sociólogo francês (dentre outras formações) Edgar Morin. Nessa obra o autor discorre sobre a natureza do complexo em simultaneidade intrínseca com a ideia de simplicidade não sendo, portanto, excludentes. O pensamento simplificador seria, na visão do autor, uma abstração usada para analisar a realidade sob uma perspectiva de completude e apropriação dos fenômenos como estanques para que então, possam ser ‘’articulados’’ segundo as necessidades de compreensão humanas. Embora muito relevantes dentro das correntes do determinismo e do método científico clássico muito recorrentes no século XX, tais métodos quando interpretados como um fim em si mesmos, deixando de levar em conta os contextos diversos em que podem ocorrer e suas conexões indiretas com outras disciplinas do conhecimento levam não só a pensamentos fragmentados, mas também a ações fragmentadoras na realidade. A fragmentação citada destaca a idéia de limites de análise a cada fato ou fenômeno em estudo, compartimentando a realidade de forma equivocada, uma vez que as diferentes variáveis que atuam na realidade não são apartadas e ocorrem em simultâneo. O autor usando do termo ‘’fronteira’’ ao invés de limites reforça o caráter de comunicabilidade e permeabilidade daquilo que se considerar complexo: 13

“ ... nas coisas mais importantes, os conceitos não se definem pelas suas fronteiras, mas a partir de seu núcleo” (MORIN, 2007) De modo a reforçar as diferenças resultantes da análise por meio do pensamento complexo e do pensamento simplificado, são apresentadas algumas definições de racionalidade e racionalização. O primeiro, trata o objeto ou fenômeno de estudo como um processo mutável e por isso sempre inacabado, baseiase na troca incessante de ideias entre o conhecimento adquirido e o conhecimento desconhecido (admitindo sua existência) que se forma a partir das mudanças circunstanciais de em um dado sistema, aproximando –se assim do entendimento da complexidade. A racionalização é a tentativa de fixar as variáveis em uma dada conformação na esperança de tornar previsível e manipulável a realidade observada em um sistema idealizado como fechado ou completo, tendendo dessa forma à simplificação. Apesar essa sensível diferença de abordagens, o pensamento complexo não forma um antagonismo com o pensamento simplificado, esse é contemplado por aquele e faz parte da própria condição humana de cognição a qual não pode apreender a totalidade de todos seus elementos de forma concomitante. Procurando estabelecer diálogos entre o simples e o complexo, entre o todo e a parte, o autor estabelece aspectos relacionais entre ambos: o todo pode ser mais que a soma das partes, pois existe a interação com o contexto e a reação desta interação que, em algumas situações, leva o todo a ser menor que a soma das partes, isto se dá quando as partes não


conseguem atuar em seu pleno potencial. A interação e a reação aos contextos mutáveis também são exploradas pelo autor quando fala sobre o princípio da causalidade: uma causa produz determinados efeitos; numa segunda visão, destaca que efeitos causados geram novas entradas no sistema (podendo ser em forma de dados ou fatos materiais) e finalmente a terceira visão que aborda a impossibilidade de dissociação entre causa e efeito. Sendo assim, o pensamento da realidade segundo sistemas de causas e efeitos constantes e recombinantes traria a complexidade da realidade de forma mais perceptível, no qual qualitativamente, o entendimento da soma das partes como algo maior que a sua mera soma, seria o grande indicador do potencial de se observar a realidade segundo a perspectiva sistêmica. Os conceitos a respeito do pensamento complexo são por natureza, amplos e aplicáveis em diversos campos do conhecimento, inclusive no estudo das dinâmicas das cidades, uma vez que o espaço urbano é certamente um fenômeno de elevada complexidade, sendo as diferentes escalas urbanas (regional, local, do tecido urbano ...) exemplos espacialmente materializados dos conceitos de todo e parte. As formas de intervenção urbana e planejamento, poderiam associar aos conceitos de racionalidade e racionalização, ora sendo mais segmentados e pragmáticos, ora mais holísticos e contextuais; por fim a relações de causalidade trazem à tona o elemento imprescindível dos espaços, que são a simbiose entre objetos produzidos e as ações dos indivíduos por meio dos objetos em diferentes locais, estabelecendo diferentes dinâmicas.

“Ele (pensamento complexo) é capaz de contextualizar e globalizar, mas pode, ao mesmo tempo reconhecer o que é singular e concreto” (MORIN, 2007) A racionalização excessiva dos fenômenos do meio urbano, condição que será abordada em muitos momentos deste ensaio traz ganhos e perdas que devem ser criticamente avaliados no sentido de se reequilibrar a “balança” das intervenções urbanas em termos de interesses comuns e interesses particulares, ao invés da preponderância clara de um em detrimento do outro. Morin, destaca novamente esta relação de conhecimento e interesses correspondentes das partes e do todo sob uma perspectiva de aprendizado e formação em um sentido prático: “O princípio de separação torna-nos cada vez mais lúcidos sobre uma pequena parte separada de seu contexto, mas nos torna cegos ou míopes sobre a relação entre a parte e seu contexto. (...) O conhecimento de nós próprios não é possível se nos isolarmos no meio em que vivemos. ” (MORIN, 2002)

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1.2_ Espaço Livre nas Dimensões Públicas/ Sistema de Espaços Livres/ Terrain Vague Partindo da complexidade sistêmica como base teórica mais abrangente, outros conceitos pertinentes ao tema do urbanismo e da antropologia foram estudados buscando diferentes abordagens do espaço urbano na sua relação com os seus habitantes que fossem, de alguma forma, relacionáveis às características do território do estudo de caso, o distrito Barra Funda. Foram contemplados conceitos que vão desde o campo do urbanismo como: espaço livre e apropriação pública, ao campo do simbólico e histórico nos “terrain vagues” e finalmente, ao campo da antropologia contemporânea, os não lugares e lugares antropológicos aventando assim, uma análise de conceitos inter-relacionados entre si, tanto do urbanismo como da antropologia. Os temas aqui discutidos não foram organizados de forma a buscar sua imediata e direta ocorrência na Barra Funda afim de legitimar a análise. Buscaram antes, trazer à tona a amplitude da complexidade do espaço urbano quando visto sob um olhar interdisciplinar, pois em uma lógica de sistema, são partes de um todo que, sob o recorte desse ensaio, foram observados criticamente como integrantes diretos e indiretos de um sistema de espaços livres com características e problemáticas próprias. A compreensão dos espaços livres que se pretende utilizar no estudo de caso parte do conceito ampliado por Magnoli (2006): o espaço livre como sendo aquele não interceptado por construções, o espaço livre de edificação e cobertura. O livre e o vazio não são entendidos como sinônimos pela autora, a recusa em 15

reconhecer o espaço livre como tal e a sua desconexão com outros sistemas urbanos e com o próprio sistema de espaços livres leva ao uso do termo ‘’vazio’’, prejudicando o afloramento do potencial de destaque da apropriação pública do mesmo. O conceito de espaço livre como aquele livre de edificação e cobertura, também não sendo só o vegetado torna-se mais abrangente e complexo uma vez que se define pelo que não possui, pelo seu “negativo” ao invés do contrário. Assim, tornamse “livres” muitos outros espaços da cidade, inclusive os espaços dificilmente analisados como integrantes de um conjunto na cidade como trevos de manobra em autopistas, áreas correspondentes a coberturas de edificações, pátios internos às construções etc. Usando o termo empregado pela autora Magnoli, espaços livres tem propriedade ‘’ligante’’, já que por não serem corporificados como as edificações tais espaços são mais flexíveis, com fronteiras que se dissolvem no olhar, sendo muitas vezes somente perceptíveis justamente no contato com os elementos construídos, os espaços livres seriam justamente os que ao mesmo tempo delimitariam a existência dos espaços construídos (permitindo identidades próprias) pois revelam a diferenciação de um em relação ao outro e também permitem o acesso e circulação entre os mesmos no caso do sistema viário. ‘’os espaços livres de edificação aparecem desde os primeiros assentamentos humanos; muitos cedo adquirem o papel de contextos ... A qualidade dos contextos urbanos depende sempre da relação de complementaridade entre as duas


condições de edificado e de não-edificado; quanto mais se dá essa correspondência recíproca melhor é a interação entre eles, entre as duas’’ (MAGNOLI, 2006) Retomando o que se falou a respeito da importância de uma racionalidade que leve em conta um dado objeto de estudo em diferentes contextos, nota-se que os espaços livres são produto e produtores de contextos no espaço urbano, seu desempenho em cada uma dessas funções é ligado ao jogo de diálogos de complementariedades que estabelece com os elementos construídos, a trama de contextos múltiplos que coexistem na cidade são influenciadas pelos seus usos, formas, códigos sociais e pelo conflito de interesses. Poderíamos citar algumas dualidades contextuais recorrentes em espaços urbanos tais como: público x privado, formal x marginal, livre x edificado, cheio x vazio etc ..., no entanto se usarmos de um pensamento sistêmico entenderemos que essas dualidades não são disputas independentes, ao contrário, elas perpassam diferentes sistemas e, por isso, devem ser destrinchadas em uma abordagem amplificada. Se nos espaços livres temos maior possibilidade de conexão de pessoas, lugares e fluxos, são importantes os conceitos trabalhados por Queiroga (2012): apropriação pública, esfera pública, propriedade pública. Resumidamente primeira trata do efetivo uso de um espaço de forma pública, seja ele de domínio público ou não, já a esfera pública se refere ao conjunto de posturas e códigos de linguagem que os indivíduos têm em espaço público, podendo existir a esfera pública do cotidiano ou a esfera pública

política; por último temos a propriedade pública que nada mais é do que a posse legal do espaço. Quando permitimos que as ‘’dualidades’’ contextuais se inter-relacionem umas com as outras abre-se a possibilidade de entendermos de forma mais aprofundada diferentes formas de ocorrência da dimensão pública, não sendo a propriedade (pública ou privada) o único parâmetro para a ocorrência de vida pública nos espaços; as delimitações de ocorrência entre apropriação, esfera e propriedade públicas ora se complementam, ora divergem gerando diversas possibilidades de combinação o que marca também sua complexidade. Dentro da dimensão pública dos espaços livres, tanto Magnoli (2006) quanto Queiroga (2012) afirmam que é nesses espaços que se dá de forma mais direta e democrática a apropriação física e simbólica da esfera pública dos cidadãos, tanto na esfera do cotidiano (ocupação de direito do espaço público, o encontro casual, o espaço onde o imprevisto ou a contemplação da paisagem pode se dar a qualquer hora, sem limitações de tempo ou relações permissivas da presença ou ausência de monitoramento) ou na esfera política, espaços livres tem a vocação de tornar mais fluidos e intensos as manifestações de opinião e reinvindicações políticas, como está sendo o caso mais recente da Avenida Paulista, que faz parte do sistema viário que por sua vez faz parte do Sistema de Espaços Livres. Sistemas podem ser entendidos como uma ferramenta de operacionalização do raciocínio complexo, no qual os elementos de uma dada realidade, no caso os espaços livres, são reconhecidos em conjunto pois apresentam 16


como afirma Queiroga (2012), uma organização dada no espaço que permite em maior ou menor grau identifica-los por características formais e/ ou funcionais comuns; têm uma unidade global não estanque, que conduz a idéia de um todo mais amplo que no entanto, não se materializa efetivamente, dado que está sujeito a uma lógica complexa, no qual agem em simultâneo as ações dos indivíduos e seus objetos produzidos. A organização e a unidade global de um sistema são alteradas pelo contato com os produtos e ações que podem ser de alcance individual ou coletivo, surgindo daí o que Morin (2007) denomina emergências, que são novas propriedades compondo um sistema. No âmbito do Código Civil brasileiro, são listados três tipos de espaços de propriedade pública (Queiroga,2012) que tem ou podem ter características de espaço livre: - bens de uso comum do povo (ruas, calçadas, parques, praias, reservas, praças etc); -bens de uso especial: pátios de manobras dos ferroviários, estações de tratamento, barragens, espaços livres de equipamentos públicos, cemitérios...) e – bens de uso dominical: são patrimônios de pessoas jurídicas de direito público que não tem destinação especifica, sendo um estoque de terras públicas sem designação específica. Desse modo, fica evidente que nas formas de propriedade pública estão muitos dos espaços livres que se pretende abordar no ensaio, sendo o conceito de sistemas um ferramental estruturante do pensamento que se proponha a analisar e intervir no espaço urbano levando em conta suas diferentes naturezas, contextos e relações. 17

O esquema de página seguinte representa as relações existentes entre os conceitos trabalhados até aqui, com a linha em tracejada em vermelho representando o caminho que se buscará abordar e propor criticamente ao longo do trabalho.


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1_Av. Paulista (aberta para pedestres polo de atrações de rua)

2_Largo da Batata (palco de manifestações populares)

3_Elevado "Minhocão" (aberta para pedestres usada como parque) 19


Se é nos espaços livres vistos sob a dimensão pública de apropriação que reside sua força de papel ‘’ligante’’ e sistêmico, temos aí também, a brecha para que neles fiquem mais exacerbados os conflitos urbanos das mais variadas ordens: conflitos de usos do solo, o conflito imobiliário especulativo e até mesmo o fato desses espaços não serem pensados como espaços livres com real sentido e conexão na malha do tecido urbano. São, nesses casos, quase como incongruências ou sobras advindas de um pensamento não sistêmico entre o construído e o livre, o que leva muitas vezes a compreensões enviesadas desses espaços como: vazios, ociosos, abandonados ou inúteis. Em uma interessante metáfora, Janeiro (2007) fala desses ‘’vazios’’ aparentemente sem sentido numa comparação com o silêncio ou pausa presentes numa melodia musical: ” o silêncio na música não só permite a audição de uma obra, como a sua gestão na própria obra, possibilita a audição do som que o antecede e daquele que vem depois. O silêncio é uma pausa, é uma interrupção, é um tempo, na Música, deliberadamente construído. (...) se na Música são pensados, na cidade, acontecem simplesmente, desarticuladamente, aliás, como a cidade que os contém – essa desarticulação pode acontecer pelos mais diversos motivos. ’’ (JANEIRO, 2007) Embora tais ‘’vazios’’ possam carregar uma carga negativa de significado, não se poderia simplesmente negá-los ou excluí-los para que então pudessem ser reconfigurados. Se esses espaços existem hoje nessa condição desfavorecida é preciso amplificar o olhar e reinseri-los numa lógica sistêmica

de espaços livres em relação direta com o sistema de espaços construídos, (que são dois suprassistemas estruturais da materialidade da cidade) e ao mesmo tempo, entende-los sob a influência de diversas ações de atores sociais, no qual o princípio de causalidade seja levado em conta. A condição de aparente vazio e abandono deve ser posta em perspectiva de processo histórico contínuo e mutável, delineando seu contexto. Trata-se como na metáfora, de se refazer a leitura da partitura que compõe a melodia urbana de forma que as pausas de silêncio estabeleçam um sentido mais fluido e compreensível para a percepção humana, sinalizando um conjunto de som e silêncio (construído e livre) produtor, nas palavras de Magnoli (2006), de sinergia: um novo valor de entrada no sistema de espaços livres no qual elementos quando em conjunto coeso, produzem novos valores e sentidos antes inexistentes sem no entanto, encobrir ou dissolver a diversidade que os compõe. A investigação dos espaços ‘’vazios’’ procurando relaciona-los de forma sistêmica aos espaços livres, seria então uma possibilidade de rearranjo da organização e da unidade global, entendido então, como emergência desse sistema. Para tanto, seria necessário então, entender a natureza de formação desses espaços para além do julgamento superficial que os adjetivos ‘’vazio’’, ‘’abandonado’’ ou ‘’ocioso’’ induzem. Antes de mais nada esses espaços são de certa forma desconhecidos ou ignorados, portanto é preciso, dentro de uma racionalidade estabelecer diálogos entre as fronteiras dos espaços livres e dos espaços ditos ‘’vazios’’. Donadon (2012) em sua dissertação a respeito desses espaços, emprega o termo ‘’terrain 20


vague’’ originalmente de Sola Morales (2002), para designá-los atribuindo-lhes a dimensão histórico- simbólica na qual trabalha dois tempos de análise (passado e futuro) para resignificar a postura que se deve ter com tais espaços no tempo presente. ‘’ A noção de terrain, com a de vague, contém ao mesmo tempo a ambiguidade e a multiplicidade de significados que fazem desta expressão um termo especialmente útil para designar esta categoria urbana com que nos aproximamos dos lugares, territórios ou edifícios que participam de uma dupla condição. [Significa] uma área disponível, cheia de expectativas, de forte memória urbana, com potencial original: o espaço do possível, o espaço do futuro. ’’ (DONADON, 2012) Outros termos são usados pela autora para se referir a esses espaços, termos que deixam ainda mais claro a multiplicidade e ambiguidade de sentidos possíveis: obsoletos (local que já teve algum valor estratégico no passado, mas que hoje se perdeu ou se modificou de forma que o espaço não comporta adequadamente tais funções), derrelitos (remete a ideia de terra de ninguém, áreas abandonadas) e residuais (são áreas que sobraram, frequentemente sem projeto ou planejamento ao lado de áreas projetadas e construídas). A autora fala ainda da forma de ocorrência dos ‘’terrain vague’’ associando-os a linhas férreas, pátios de manobra desativados, antigas áreas industriais e margens de córregos com ocupações incompletas ou franjas de ocupações consolidadas que poderiam então, ser entendidas como casos específicos de espaços livres, sinalizando um 21

campo fértil de diálogo entre os ambos. Os ‘’terrain vague’’ assim como os espaços livres não tem necessariamente um limite definido como num lote ou quadra, o que existem são as ambiências de certa carga histórica de um passado e uma sensação de incerteza e falta de sentido que podem se estender para além dos limites de um loteamento industrial desativado, por exemplo. Processos notadamente conhecidos na cidade de São Paulo como a industrialização do século XX e o aumento populacional crescente e de forma desordenada são indicados como fatores cruciais para que muitas áreas antes estratégicas e valorizadas fossem deixadas de ser habitadas ou utilizadas para fins de trabalho, gradativamente perdendo sua presença. Porém devido a sua presença espacial e principalmente no jogo conflituoso de suas fronteiras com os elementos novos construídos tornam-se uma ruptura no entorno urbano onde se chocam passado e presente de forma contundente. O grande salto qualitativo seria então, partindo desses choques de temporalidades e dessa sensação de incerteza tornar tais espaços um lugar de memória coletiva de um passado que teve sua relevância e que, uma vez preservado, pode ser ressignificado gerando um espaço flexível e de predominância da apropriação pública. Se os espaços livres são como pausas de silêncio (por vezes mal alocadas) numa melodia, os espaços vazios, abandonados ou ociosos seriam como ruídos que surgem em intervalos onde poderiam haver pausas.


1.3_Não Lugares e LugaresAntropológicos Adentrando nessa parte final do capítulo 1, chega-se na análise do lugar não mais focado pelo viés da espacialidade da relação sistêmica ou pelo olhar mais subjetivo, histórico e simbólico dos terrain vague; introduz-se então o lugar na cidade contemporânea sob o ponto de vista do olhar em quem realmente realiza as práticas sociais que o configuram: os indivíduos que nas suas particularidades de comportamentos reforçados mutuamente e também induzidos por interesses de outros grupos, marcam determinados locais da cidade segundo “regras” de comportamento não deliberadamente impostas à força, mas socialmente acordadas.Os lugares passam a ser vistos como campos de atuação de forças e poderes que não mais dizem respeito apenas ao contexto local de tradições e costumes, como também a interesses de escala global muito diversos tornando-os dificilmente rastreáveis. Isso revela uma importante relação de alteridade onde os sujeitos participantes dos lugares estabelecem de forma mais forte a separação entre “nós” e os “outros”, culminando como aponta Augé (1992), na anulação dessa relação ora pela extinção da noção de “nós”, com a ascensão do individualismo, ora percebendo “outros” como uma ameaça ou algo a ser ignorado pelo simples fato da diferença. Para cada uma dessas perdas na alteridade é apresentado pelo autor um conceito espacializado fisicamente com exemplos de lugares da cidade contemporânea. Por um lado, os “não lugares” dizem respeito a perda do senso de comunidade e de identidade coletivamente construída, exemplificada em

amplos espaços construídos multifuncionais onde a eficiência, rapidez e a imersividade da relação dentro fora são imperativos, o anonimato torna-se um atrativo que maximiza a percepção e o uso do lugar de forma personalizada e com o mínimo de envolvimento a longo prazo. São os shopping centers, hipermercados, aeroportos, as áreas “comuns” dos condomínios residenciais fechados ..., espaços esses altamente codificados com setorizações de atividades e uma funcionalidade sempre voltada para a sensação de exclusividade e legitimação da individualidade não mais construída coletivamente, mas adquirida de forma direta pelo foco no consumo, no fluxo intenso de usuários e na comunicação fática de caráter publicitário. Em paralelo, a presença de “outros” acaba sendo apagada do senso coletivo, pulverizando-se em pequenos grupos com o que se chamou “estilos de vida” com cada vez menos comunicabilidade entre si. Se os não lugares são representados por construções de designação clara e imponente na cidade, os ”lugares antropológicos” são muito menos discerníveis podendo acontecer em áreas livres na cidade sem delimitação exata, até em locais marcados pontualmente na cidade como esquinas, becos, calçadões etc. São locais onde claramente existe certo grau de alteridade entre “nós” e os “outros”, marcados de forma muito mais simbólica e informal do que codificada e normatizada. Não existe uma sinalização ou designação clara de funções no espaço, os próprios usuários constroem essa relação que não tem caráter normativo e nem vitalício, mas é sempre acordada entre quem pertence aquele grupo, é um lugar percebido e convivido pelos seus usuários de forma 22


memorial, sem intermediação de códigos ou regras externamente impostas. Pelos exemplos de ocorrência dos dois conceitos de lugar referidos por Augè, conclui-se que ocorrem em simultâneo na cidade contemporânea e, devido as suas características muito mais ligadas aos arranjos sociais que as frequentam ou constroem do que a uma caracterização espacial, é possível que suas zonas de influência se misturem e muitas vezes conflitem entre si, uma vez que a percepção de um não lugar por certo grupos pode ser inversa se encarada pelo grupo que efetivamente frequenta o local.

Espaço livre como lugar antropológico

Na raiz das relações feitas a partir das abstrações gerais de “nós” e dos “outros”, seja nos não lugares ou lugares antropológicos, encontram-se muitos dos jogos de oposição que constroem a análise do Urbanismo e do Planejamento Urbano como o público e privado, centro e periferia, global e o local, memória e a expetativa do futuro ... e, para o enfoque deste trabalho, a relação entre o espaço construído e o livre. Os lugares antropológicos formam o sentido de ser para um espaço, os não lugares fornecem o anonimato no espaço, que de certa forma dá uma certa liberdade de uso segundo necessidades e vontades próprias.

Edifícios monumentais como não lugares 23


2_ANTROPOLOGIA URBANA


2.1_ A prática metodologia

etnográfica

como

panorama, mais do que um diagnóstico de patologias. Tratam-se das etnografias urbanas.

O campo da antropologia urbana parte, como aponta seu nome, no estudo mais aprofundado das relações entre indivíduos quando inseridos em meio urbanizado, mas mais que isso, num contexto de cidade metrópole de proporções tanto territoriais quanto de complexidades sociais imensas, onde estaria então, fundado o lugar do olhar atento originalmente voltado para comunidades de pequena escala onde o diferente, o “outro” seria o foco de análise? Não se pode ignorar o fato que cidades da escala de São Paulo apresentam uma diversidade de culturas e costumes que se refletem na sua própria configuração territorial; ela existe, porém ainda sim é muito incipiente a clareza de cada contexto, suas especificidades que não são totalmente contempladas pela abordagem do urbanismo (ciência idealmente voltada para análise e intervenção no espaço urbano).

Magnani (2009), ao falar da trajetória histórica da etnografia no Brasil, detecta aproximadamente dois momentos chave que contextualizam o ramo específico da antropologia urbana, um mais relevante entre as décadas de 1970 e 1980 no qual se buscou entender mais a fundo a vida nas comunidades das periferias urbanas que estavam surgindo em São Paulo em decorrência de um aumento demográfico vertiginoso. O outro, de 1980 em diante, no qual a etnografia na cidade urbanizada amplia seus horizontes de atuação, dada a complexidade de seus diversos contextos possíveis e o ritmo acelerado com que surgiam novos arranjos sociais os quais não poderiam ser compreendidos unicamente pelo viés da desigualdade econômica ou da formalidade e da informalidade. Surgem assim os estudo dos indivíduos habitantes e consumidores da cidade em geral, tanto em recortes partindo dos espaços físicos onde os contatos se estabeleciam (edifícios de equipamentos públicos, rede viária, parques e praças ...) como em recortes de arranjos sociais específicos (poder público e poder privado, eventos na cidade, manifestações políticas e culturais...) auxiliando como um indicador qualitativo de como certos grupos se comportam e se sociabilizam na cidade, inclusive no diz respeito aos pontos e os deslocamentos geográficos “chave” no território.

A divisão entre regiões ou zonas, os nomes de bairros e suas divisões político administrativas muitas vezes não identificam tais nuances comportamentais; ao contrário, insinuam uma relação de partes de um todo absoluto e palpável, principalmente nas recorrentes representações cartográficas e infográficas. A antropologia parte então, de um ferramental de envolvimento e observação participante do grupo social que estuda, a partir de idas a campo como intuito de primeiramente, se deixar influenciar e posteriormente compreender algumas das logicas de sociabilidade existentes sob a perspectiva da exploração e do envolvimento com as situações e ações dos indivíduos, procurando estabelecer um 25

A Antropologia Urbana surge então nesse segundo momento, no qual o autor aponta a peculiaridade de se realizar a etnografia buscando enxergar aquilo que é o peculiar, o característico na combinação de lugares e


grupos sociais, evitando um olhar enviesado e de certa forma viciado pela massificação e generalização dos fenômenos urbanos em cidades altamente urbanizadas, daí a importância do trabalho etnográfico partir de um processo sempre renovado de “alfabetização” do pesquisador, pois todo conhecimento adquirido antes da etnografia se configura de forma incerta e descontínua, sem o devido embasamento e ligadura que o trabalho de campo proporciona. Como visto, aproximação entre os campos da antropologia e do urbanismo não é algo que já não tenha sido explorado, embora ainda apresente a possibilidade de maiores aprofundamentos. Contudo, cabe aqui o estudo de caso de uma abordagem etnográfica mista com a análise do urbanismo, sob o ponto de vista do lazer e do tempo livre, contrapondo um bairro popular de classe baixa com um condomínio vertical de classe média (Catumbi e Selva de Pedra respectivamente) no Rio de Janeiro, realizado por Ferreira dos Santos e Vogel (1985). O campo etnográfico mais diversificado e rico constatado no bairro popular do Catumbi seria o “lugar antropológico” e o condomínio Selva de Pedra, para onde alguns dos moradores da zona sul estavam se mudando, o “não lugar”, num paralelo com os conceitos tratados por Marc Augè. O princípio da esfera pública com apropriação ativa dos espaços livres e com fortes redes de sociabilidade e confiabilidade, se estrutura no valor de uso das práticas no espaço consolidado ao longo do tempo no Catumbi. Não se trata, como no Selva de Pedra, de uma opção feita a priori por um conjunto de pessoas, no qual os moradores escolhem e pagam por um

certo modo de vida pré-moldado que sugere uma sociabilidade entre os que se inserem nesse outro modo de vida. Na análise, fica sinalizado que o “lugar antropológico” e o “não lugar” são fortemente condicionados pelo perfil social dos moradores que os compõe, sendo a configuração espacial e o valor de sentido que seus moradores tem ou deixam de ter, o fator de diferenciação das observações etnográficas realizadas. Assim, o estudo realizado por Ferreira dos Santos e Vogel, num primeiro momento, cria um tensionamento dos conceitos trabalhados por Augè ao relacionar de forma mais contundente o espaço físico e a condição social como um fator determinante de mudanças nas redes de socialização e na relação de alteridade, levando a um pensamento de que, mesmo usando de etnografias, quando se trata de meio urbano as formas do espaço e as condições econômicas dos grupos, com razões de ser difusas tem grande peso na forma como se veem as relações locais e os cotidianos resultantes. Já num segundo momento de análise, nota-se que não se pode apenas atribuir as condições espaciais e macroeconômicas as diferenças dos resultados da etnografia; a questão da espontaneidade versus a imposição de códigos, linguagens e condutas que se desenvolvem em cada um dos locais estudados compõe também a rede local de sociabilidade e da relação mais capilar entre os indivíduos, podendo ser a “riqueza da vida cotidiana” encontrada no Catumbi também presente no Condomínio Selva de Pedra só que sob outras condições e até mesmo outros locais de sociabilidade. O aparente “encanto” e valorização do lugar antropológico dado pelos autores no bairro 26


do Catumbi deve também ser colocado sob o contexto em que foi escrito, já que como afirma Magnani (2009) as análises etnográficas urbanas até o começo da década de 1980 ainda estavam de certo modo, focadas em grupos sociais marginalizados e periféricos, fenômeno ainda em processo de consolidação, gerando muito interesse dos antropólogos que já estavam acostumados a estudos dessa natureza.

na observação das diferenças os sentidos de identidade e modos de enfrentamento de conflitos de alteridade, convergindo para a idéia de fronteiras ao invés de divisões estanques (estrutura em retícula) assim como na idéia de sistemas e da complexidade de Morin. Posteriormente o raciocínio da estrutura em retícula será aplicado no estudo da complexidade dos arranjos sociais e espaciais presentes na Barra Funda.

Tanto a tradição clássica de análise científica como a abordagem contextual da antropologia usam da ferramenta de classificação do corpo de seu estudo. Porém diferentemente do método científico, a antropologia não se detém a priori com um desejo de explicação de um determinado fato, busca antes se envolver com seu objeto de estudo expondo-se a seu cotidiano e cultura para que então, possa trazer essa experiência à luz de seu arcabouço de análise. Para tanto, os modos de classificação, segundo Ferreira dos Santos e Vogel (1985) se diferem.

Na figura esquemática a seguir nota-se a maior diversidade de arranjos possíveis dentro da classificação em retícula, entendendo cada número identificador como conteúdo e recipiente de outros identificadores. Em se tratando de arranjos sociais na cidade, cada número poderia se comparar a um grupo social específico e as linhas que definem os conjuntos, a relação de comunicabilidade entre os lugares em que cada um convive.

As classes mais rígidas em sua definição, tendem a hierarquizar as partes do corpo de estudo sugerindo uma totalidade existente, ordenável seguindo a lógica de um desenvolvimento que segue uma ordem de afinidades por uma relação de pertencimento na qual uma classe ou está inteiramente contida ou totalmente separada de outra, (estrutura em árvore). Já a estrutura em intersecções admite um número muito maior de interação e cruzamento entre classes de análise, com sobreposições totais ou parciais (estrutura em retícula), sendo esses pontos de contatos múltiplos o fator que eleva a complexidade que os arranjos sociais têm, pois procura captar 27

4_figura extraída (Santos e Vogel, 1985)


2.2_ Trajetos, Pedaço e Pórticos / Cotidiano O recorte de análise da Antropologia Urbana não vai representar a totalidade reduzida de uma cidade, mas visa antes, detectar alguma organização e forma de ocorrência de arranjos sociais que se reproduzem em outras partes do território. Seria o caminho em direção de uma pretendida antropologia da cidade propriamente dita. No entanto, para se aproximar do que seria uma “definição” (ainda que relativa e em contínua construção) de uma antropologia da cidade é necessário um certo acúmulo de experiência e de análise dada a escala e complexidade de uma cidade em comparação com uma vila ou aldeia. Essa etapa seria a atual, da antropologia na cidade, um primeiro momento de observação e de envolvimento com espaços e habitantes da cidade antes ignorados ou banalizados. A partir de um olhar permissivo e atento do pesquisador, assim como na antropologia clássica, procura-se perceber quais os comportamentos em nível local delineiam um tipo de cotidiano e “modo” de conviver. Segundo Magnani (2016), o desafio que se esboça a partir da antropologia urbana é que: "(...) de um lado está a cidade contemporânea que não configura uma unidade operacional, claramente delimitada, nem mesmo para a governança – haja vista as dificuldades para estabelecer planos diretores abrangentes – e, de outro, o risco de ceder à fragmentação e cair na “tentação da aldeia”. Entretanto, se não há uma ordem, isso não quer dizer que não haja nenhuma. Se essas cidades já não apresentam um ponto de referência

nítido nem contornos definidos capazes de identificar uma única centralidade e projetar uma imagem de totalidade, é preciso começar por estabelecer mediações entre o nível das experiências dos atores e o de processos mais abrangentes e assim reconstituir unidades de análise em busca de regularidades, sob pena de se embarcar (e se perder) na multiplicidade dos arranjos particularizados." (MAGNANI, 2016) A partir de diversas etnografias urbanas em cidades brasileiras Magnani, extrai alguns conceitos que chama “unidades de inteligibilidade”, relacionadas as práticas dos arranjos sociais no espaço, mas sem, no entanto, definir um limite métrico exato ou um limite político administrativo. Trata-se de um valor muito mais qualitativo, de uso socialmente construído do que um valor quantitativo ou de troca ecomico-financeira; portanto são unidades de entendimento, a partir da observação participante dos discursos narrativos revelados no cotidiano vivido pelos seus habitantes. Três unidades de inteligibilidade trabalhadas por Magnani foram levadas em conta nesse trabalho: “pedaço”, como sendo a área de um bairro em que se mostra uma certa afinidade identitária seja por relações de vizinhança, parentesco ou vínculo por participação em atividades comunitárias; o “pórtico” seria a área de transição entre pedaços diferentes, carregam um certo valor de incerteza e de perigo devido a seu caráter de “terra de ninguém” sendo também reconhecido no trabalho de Ferreira dos Santos e Vogel (1985) como apresentando a “maldição dos vazios fronteiriços” e de certo modo no trabalho de Donadon (2009) sob o ponto de vista da ausência de definição e 28


do caráter de vazio. Por último o conceito de “trajeto” sendo os caminhos pelos quais os moradores se deslocam em seus “pedaços” e também adentram outros, seja por motivo de compras, ir ao trabalho, buscar e levar filhos à escola ou mesmo entretenimento. O conceito de trajeto será balizador da proposta final do capítulo 4 desse trabalho, uma vez que foi entendido como um conceito transversal ao conceito de pedaço e pórtico, além de estar intimamente ligado ao arranjo social que o produz, costurando partes de um todo mutável no tecido urbano de forma coletivamente construída dentro de um cotidiano, podendo ser alterado conforme as mudanças dessas condições, portanto com forte relação de complexidade e caráter sistêmico no espaço. O cotidiano passa a ser visto como um fenômeno de grande importância para articulação das unidades de inteligibilidade trabalhadas por Magnani, uma vez que são o resultado da inerente espacialização das ações dos arranjos sociais no espaço habitado. Tratam-se nas das “maneiras” de se conviver, os “procedimentos” e “táticas” (Certeau, 1990) que são utilizadas como um subterfúgio daquilo que é o normatizado e formalizado na vida civilizada, por assim dizer. Como se aquilo que fosse idealmente planejado e pensado para dar suporte a vida urbana não fosse completamente aderente às variações de arranjos existentes, uma vez que estão em constante mudança e se influenciando de maneira mútua, reorganizando-se. Certeau, ao discorrer sobre o desenvolvimento espacializado do cotidiano compara-o a duas figuras de linguagem da língua falada, a sinédoque e o assíndeto, sendo a primeira uma 29

generalização de uma “parte” extrapolada como um “todo” em uma frase; e a segunda, uma supressão de certos elementos na linguagem, que ainda sim mantém o sentido, mas de forma mais concisa e enfática: “De fato, essas duas figuras ambulatórias remetem uma à outra.Uma dilata um elemento de espaço para lhe fazer representar o papel de um “mais” (uma totalidade) e substituí-lo. A outra, por “elisão”, cria um “menos”, abre ausências no continum espacial e dele só retém pedaços escolhidos. O espaço assim tratado e alterado pelas práticas se transforma em singularidades aumentadas e em ilhotas separadas. ” (Certeau, 1990) A partir dessa comparação o autor estabelece dentro da idéia de cotidiano, o andar como ato de enunciação do pedestre, uma “afirmação” não verbalizada de um modo de apropriação reforçada ou apagada a cada instante no espaço, sinalizando assim o surgimento ou apagamento de lugares, com causas relacionadas à ativação e permanência nos espaços dentro desse processo dinâmico que os indivíduos realizam, associando-se assim, aos conceitos de pedaço,( como sendo uma parte percebida como um “todo” pelos seus habitantes) e ao assíndeto no caso dos trajetos, (caminhos característicos que podem ser realizados pelos moradores fazendo uso de atalhos e passagens não oficiais.) Sendo assim, o cotidiano se desenvolve em uma relação dialética com o espaço formal e planejado do campo do urbanismo pois ao mesmo tempo que o infringe, de modo a distorcelo segundo necessidades e gostos particulares, mantem uma relação de dependência pois


esse refúgio onde se abrigam as práticas espacializadas do cotidiano se conformam a partir de um desvio ou de apropriação de partes de um padrão estabelecido. A alteridade entre a existências física de caminhos planejados e formais, como um sentido literal e os caminhos concretizados nos trajetos cotidianos dos indivíduos como sentido figurado geram arranjos sociais variáveis e muitas vezes ambíguos. Cabe então explorar justamente essa ambiguidade em um sentido de tornar as diferenças (enquanto geradora de conflitos sociais), em diversidade convivida.

30


3_ ESTUDO DE CASO BARRA FUNDA


3.1_ Território ambíguo Para se abordar possíveis diálogos entre o urbanismo e a antropologia urbana, foi escolhido um recorte espacial condizente com o conceito de tecido urbano buscando, através de uma escala que, embora não definida com rigor permitisse a contemplação da relação da rua e do lote e das relações de vizinhança atentando para o comportamento dos atores sociais sob diversas perspectivas: moradores (antigos e novos), trabalhadores e passantes casuais, ancorando sempre tais atores tanto ao cenário geral, no caso o bairro da Barra Funda, quanto a um espaço mais específico de sua vivência, o espaço livre público. As motivações para escolha da Barra Funda como estudo de caso se deu principalmente pelo seu caráter de ocupação rarefeita e pela presença de certa carga histórica que se reflete até hoje na sua configuração territorial com presença forte de lotes de galpões industriais e quadras que ultrapassam 100m de largura com frequência. A trajetória histórica e caráter híbrido entre estagnação e renovação, impulsionados pela Operação Urbana Consorciada Agua Branca mostrou-se interessante para a antropologia urbana, pois se enquadra no segundo período já citado por Magnani (2009) pós anos 80, onde as complexidades dos arranjos sociais se mostram muito mais evidentes ao contrário da divisão clara entre marginalidade das favelas versus a cidade formal. Com base na monografia sobre bairros produzida pelo Departamento de Patrimônio Histórico intitulada: ’’ Série História do Bairros de São Paulo – volume 29 – Barra Funda’’

foram coletadas algumas informações para um conhecimento prévio da sua formação sócio espacial. A Barra Funda teve origens que remontam a industrialização do começo do século XX, impulsionado pela cultura cafeeira paulista. O bairro da Barra Funda teve início a partir do loteamento da Chácara Carvalho, sendo o que hoje se considera o distrito da Barra uma área maior que a da chácara. Por se situar junto a orla fluvial do Tietê, região alagadiça e pantanosa a área não gerava interesse como ponto de urbanização residencial das classes médias e altas ou de serviços, mas como trajeto ferroviário se mostrava interessante por apresentar constância altimétrica e relativa facilidade de implantação paralelo ao rio, caminho já delineado e de maior facilidade de implantação de trilhos. Tanto a ferrovia Santos- Jundiaí (1867), como o trecho de extensão da ferrovia Sorocabana (1875) atravessam longitudinalmente a Barra Funda; nelas era feito o transporte de produtos manufaturados para o interior do território e se levava o café para a exportação. A Barra Funda se localiza a uma distância próxima do centro de São Paulo, fazendo fronteira com bairros como Santa Cecília e Bom Retiro, apresentava grande presença de imigrantes italianos e negros majoritariamente até a década de 50, essa composição era formada por operários das industrias e galpões de armazenagem lá locados além de outros trabalhadores que se deslocavam até o centro para seus postos de trabalho. O traçado de ruas e lotes delimitado no início de sua formação tem se mantido muito semelhante segundo consta 32


na monografia: ‘’ (...)o traçado aproximado do bairro Barra Funda tem permanecido o mesmo desde seu início até hoje: um plano praticamente ortogonal de ruas convergindo para a estrada de ferro..., uma e outra vez complicado pela existência de uma pequena travessa ou uma vila. A via férrea, que corta o bairro ao meio, acrescenta (...): passagens de nível, armazéns alinhados ao longo dos trilhos, ruas sem saída. (...) (DPH, 2006) Fala-se também da sensação de relativo ‘’abandono’’ da Barra Funda, muito embora esteja localizada em local dotado de boa infraestrutura de transportes e próxima das regiões centrais, a opção de investimento para o desenvolvimento do chamado ‘’vetor sudoeste’’ de desenvolvimento a partir do período do governo de Getúlio Vargas (1930) contribuiu para essa situação. Alguns fatos de aparente tentativa de renovação urbana na área são citados: 1988 -inauguração da estação intermodal da Barra Funda, anos 2000 - com a reforma de restauro do Theatro São Pedro, 1989- inauguração do Memorial da América Latina que acabaram por ser pontuais ou pouco relevantes para além de seu território, não atingindo o resultado esperado. Cabe aqui ressaltar novamente que após o estudo da área de Barra Funda sob o olhar do Plano Diretor Estratégico e após algumas experiências etnográficas realizadas em espaços livres públicos do bairro; a ambiguidade desse cenário e de seus atores se mostrou evidente. Nesses locais, passado e presente se desenvolvem de forma concomitante, espaços que antes pertenciam 33

a grandes indústrias do começo do século XX, hoje se encontram em estado degradado, subutilizado ou mesmo deram lugares a novos usos, principalmente condomínios residenciais verticais e estacionamentos de carros. Resquícios de moradias operárias também são encontrados no bairro, juntamente com os vestígios de córregos que fazem parte da bacia do Rio Tietê, formando o que no passado era área de várzea. O conceito de “terrain vague” encontra também muita relação nos espaços residuais e baldios que se misturam aos usos industriais e residenciais.


5_Ruas largas porĂŠm com pouca vida pĂşblica

6_Estacionamentos denunciam muitos terrenos vagos

7_Trilhos da Linha 07 - CPTM 34


Há também o surgimento crescente de enclaves fortificados na região, especialmente os condomínios residenciais que se multiplicaram massivamente a partir dos anos 90, junto também de uma série de aparatos como cercas, câmeras, guaritas e cancelas conformaram um novo modelo de habitar a cidade, apoiados principalmente na ideia de segurança, exclusividade e mesmo ostentação de um modo de vida (Caldeira, 2000). A partir de certas regras de mercado alinhadas com os atores do mercado imobiliário, outras regras ressoam nos atores da sociedade civil. A publicidade desses novos empreendimentos atua de forma a se promover como refúgio e solução para os problemas da metrópole como: superpopulação, congestionamento do tráfego e insegurança nas ruas, fazendo uso da separação física vigiada, uma saída que de fato não propõe o enfrentamento e compreensão das diferenças, mas a sua negação.

8_Novos Condomínios surgem na Barra Funda

Os cercamentos dos espaços privados por mais fragmentadores e polarizantes que sejam não são contíguos na cidade. Ainda é necessário transitar, comprar, trabalhar e se entreter. Os espaços livres públicos ou privados surgem então com esse aspecto ligante e simbiótico do espaço construído, que por vezes acaba sendo degradado e tratado como resíduo de espaços incertos, ociosos ou perigosos.

9_Novos condomínios se segregam 35


3.2_ A Operação Urbana Consorciada Água branca- OUCAB Complementando o item anterior, será feita uma análise prática de algumas diretrizes e propostas de intervenção dentro da lógica de planejamento técnico e racional exemplificada pelo mecanismo das Operações Urbanas, de modo a se obter uma visão crítica de alguns aspectos de planejamento e formas de implementação das ideias apresentadas. Fatores que determinam as áreas de intervenção, as alterações no traçado das ruas, a designação de áreas de equipamentos de interesse público e a relação com as pré-existências serão os pontos chave nesse capítulo, de forma a serem retomados comparativamente no capítulo 4, onde se apresentará uma experimentação de plano urbano subsidiada pelos levantamentos etnográficos. O cenário de desindustrialização de áreas lindeiras ao Rio Tietê, deixou uma série de lotes e quadras de grandes dimensões que foram em parte substituídas por grandes lojas de atacado ou servem ainda como galpões e garagens. Tais espaços historicamente renegados para a ocupação formal da cidade se tornaram, dentro de uma perspectiva da eficiência e do crescimento econômico, áreas de enorme reserva de espaços livres disponíveis, mas que não apresentam um contexto social e econômico favorável para seu efetivo desenrolar. Portanto, embora a questão da própria Operação Urbana representar por si só um escopo vasto e complexo de causas e consequências de implicação regional, se buscará aqui tratar de modo mais focado as intervenções nas áreas do Distrito da Barra Funda que foram contempladas nas etnografias

dos espaços livres selecionados, dentro também da idéia de Sistemas de Espaço. Para análise da OUACB foram estudados mapas de planos de intervenções e setorizações extraídos da plataforma virtual Gestão Urbana, da Prefeitura do Município de São Paulo. As áreas de intervenção dessa Operação Urbana seguem, desde a sua concepção inicial uma divisão por valorização financeira, uma vez que arrecadam verba para realização de seus objetivos de melhoramentos urbanos a partir de recursos adquiridos das contrapartidas pagas pelos investidores interessados, uma vez que recebem incentivos oferecidos para que os empreendimentos construídos no perímetro possam ser maximizados a partir de exceções à legislação urbana, como o flexibilização de tipos de usos e da altura de gabaritos. Na análise do mapa ao lado já se notam alguns setores mais valorizados, como em “B”, onde hoje já foi construído o Condomínio Jardim das Perdizes e o Parque municipal de mesmo nome, fruto da apropriação de um antigo lote da TELESP pelo setor imobiliário seguindo lógica da OUCAB; outros são menos valorizados como o “A3” onde existe o Córrego Agua Branca exposto a céu aberto, juntamente com a Favela do Sapo próximo as suas margens. Ao longo dos trilhos da CPTM, o setor “E2” está o Parque Industrial Tomas Edison, conjunto de lotes contíguos de grandes dimensões onde se encontram muitos terrenos vagos e subutilizados como garagens de ônibus e estacionamentos. Os setores A1 e A2 correspondem a terrenos públicos, o primeiro é uma gleba de aproximadamente 70.000 m² onde hoje funciona o centro de formação e garagem da frota usada pela CET (Companhia 36


0m 37

300m

600m

N


de Engenharia de Tráfego), o segundo tratase de cessão de áreas para os centros de treinamento dos clubes paulistanos de futebol: São Paulo e Palmeiras. O setor D trata-se de área onde se encontram grandes empreendimentos: o estádio e centro de eventos Allianz Parque e o Shopping Bourbon. O mapa ao lado mostra um plano de melhoramentos urbanos com a redefinição de alinhamentos das quadras (não define qual seria o desenho dos lotes internos a elas), a criação e alargamentos de vias, além da definição de algumas áreas públicas com a designação genérica de “área verde”, “núcleo de equipamentos públicos” e “habitação de interesse social”, sem maiores detalhamentos de quais equipamentos e qual a estimativa de número de famílias a serem atendidas nas referidas habitações.

muito problemático uma vez que a verba para realização dessas obras, fica diretamente dependente do interesse de investimento do mercado imobiliário que, apesar da disponibilidade de solo livre para novos empreendimentos, não vê comparativamente, tanto interesse em construir na Barra Funda quanto em outros distritos mais nobres e consolidados na própria Subprefeitura da Lapa. Já a tabela na página 39 mostra a questão da oscilação da quantidade de terrenos consumidos em novos empreendimentos verticiais, tanto residenciais quanto comerciais nos distritos da Lapa, em um período considerável, que vai desde 1996, (um ano após a criação da Operação Urbana Água Branca) até 2016.

A partir dos desenhos de readequação viária na região do Parque Industrial Tomas Edison nota-se um traçado que ignora os desenhos dos lotes antigos, criando vias que atravessam lotes inteiros. A forma do traçado proposto busca diminuir o tamanho das antigas quadras, regularizando o seu desenho na forma de uma grelha, criando assim ruas que tendem à ortogonalidade. Do mesmo modo, na designação da Área Pública 2 (AP2) lotes inteiros também teriam de ser desapropriados e remenbrados dentro das novas quadras propostas. Da forma que os melhoramentos urbanos do mapa são apresentados, supõe-se uma idéia de possibilidade quase que imediata de realizar uma série de obras de modificação de traçado e desapropriações, o que se mostra

38


0m 39

300m

600m

N


Terrenos Consumidos (em m²) dos Lançamentos Residenciais Verticais 1996 Lapa (subprefeitura)

1997

93.970

Barra Funda

1998

97.073

1999

29.956

2000

47.951

2001

68.190

2002

74.215

2003

64.931

2004

82.982

2005

44.335

2006

127.503

82.735

-

19.398

-

-

-

2.440

880

11.573

965

27.476

Jaguara

1.789

-

-

8.793

13.975

-

-

-

-

13.999

-

Jaguaré

65.436

13.658

-

3.715

5.400

-

-

-

-

8.117

17.740

Lapa Perdizes Vila Leopoldina

-

2.987

7.208

6.071

11.943

4.628

21.728

18.826

25.166

12.385

33.122

10.185

16.939

18.902

21.882

14.978

19.013

27.514

28.870

16.067

14.521

20.002

19.403

6.819

37.906

2.003

8.522

25.175

22.533

16.354

30.176

16.464

24.787

35.407

3

1

14

2

22

% barrafunda/total

20

0

0

0

0

0

Terrenos Consumidos (em m²) dos Lançamentos Residenciais Verticais 2007

2008

2013

2014

Lapa (subprefeitura)

158.764

143.732

2009 79.746

111.724

2010

2011 95.672

60.270

133.972

113.134

17.432

54.092

Barra Funda

40.385

14.903

6.703

60.688

1.600

23.286

52.674

17.711

5.817

12.481 2.482

Jaguara

-

-

-

-

Jaguaré

44.454

24.258

3.422

-

Lapa

12.395

20.215

41.080

Perdizes

34.302

13.487

Vila Leopoldina

27.228

70.869

% barrafunda/total

25

2012

2016

10.416

-

-

-

34.388

-

3.371

22.694

-

-

17.244

36.691

7.301

62.073

30.611

7.952

15.781

13.674

5.195

17.473

19.267

14.789

17.856

-

15.424

14.867

28.597

5.520

-

1.065

24.263

3.664

7.923

2

39

39

16

33

23

10

8

-

2015

54

Terrenos Consumidos (em m²) dos Lançamentos Comerciais Verticais 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Lapa (subprefeitura)

3.615

7.975

2.409

1.833

1.052

2.726

-

1.175

2.653

-

-

Barra Funda

1.596

3.665

673

-

1.052

600

-

-

2.000

-

-

Jaguara

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

Jaguaré

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

Lapa Perdizes

-

2.246

630

-

-

1.474

-

-

-

-

-

2.018

2.064

1.106

1.833

-

652

-

-

653

-

-

Vila Leopoldina % barrafunda/total

-

-

-

-

-

-

-

1.175

-

-

-

44

46

28

0

100

22

0

100

75

0

0

Terrenos Consumidos (em m²) dos Lançamentos Comerciais Verticais 2007 Lapa (subprefeitura) Barra Funda

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

40.102

-

3.861

21.053

38.552

10.976

8.450

20.130

1.391

-

7.648

-

-

12.788

2.450

-

4.396

19.380

1.391

-

Jaguara

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

Jaguaré

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

Lapa

-

-

2.631

-

-

4.712

-

-

-

-

1.230

-

4.402

1.500

3.338 716

-

Perdizes

750

-

-

Vila Leopoldina % barrafunda/total

32.454

-

-

8.265

31.700

4.764

-

-

-

19

0

0

61

6

0

52

96

100

40

0


A oscilação no ritmo de novos empreendimentos residenciais verticais nos primeiros dez anos mostrados (1996 – 2006) esteve baixa com exceção dos anos de 1997 e 2005, com maior representatividade. Nos anos seguintes (2007 – 2017) a relação de novos investimentos aumenta com valores médios próximos a 35% do total das áreas consumidas em toda a Subprefeitura da Lapa. Os distritos de Perdizes e Lapa apresentam números médios maiores na participação de terrenos consumidos nesses lançamentos. Já nos primeiros dez anos mostrados na tabela de lançamentos comerciais verticais, a Barra Funda aparece de forma mais marcada com representação em torno de 50% e até 100% dos terrenos consumidos no total dos distritos. No entanto em números absolutos quando comparada a quantidade de terrenos consumidos em lançamentos residenciais, nota-se que ainda assim poucos terrenos foram efetivamente consumidos. No período seguinte o consumo cresce em relação ao período anterior, mas ainda sim em quatro dos nove anos analisados, a porcentagem para novos empreendimentos foi nula. Nota-se então, que o ritmo de novos empreendimentos tanto residenciais quanto comerciais na Barra Funda apresentam ritmos muito inconstantes e, dentro da lógica de mercado imobiliário acabam sendo menos interessantes em relação a outros distritos como Perdizes e Vila Leopoldina. Portanto, dentro do recorte de análise aqui estabelecido, se apresenta um descompasso entre a escala de abrangência das intervenções pretendidas na Operação Urbana Consorciada Água Branca e o fluxo de recursos para viabilizá41

las. A questão do tempo necessário para se realizar todas as desapropriações propostas para a readequação viária teria de estar de certo modo, afinada com o aporte de recursos vindos da Operação Urbana, sob pena de se realizarem obras de forma fragmentada dificultando todas as etapas posteriores de readequações necessárias como por exemplo os empreendimentos privados e as habitações sociais propostas dentro das áreas das novas quadras planejadas, tornando mais fragilizada a condição do território e dos moradores e trabalhadores pré existentes. Alguns trechos do texto das diretrizes e das intervenções propostas foram analisados também de modo a entender como se dá a relação com os interesses públicos e de como as pré-existências são tratadas: “Seção IV- Dos Objetivos e Diretrizes Art. 6º A Operação Urbana Consorciada Água Branca tem os seguintes objetivos: IV - Aumentar a quantidade de áreas verdes e os equipamentos públicos, melhorando a qualidade, o dinamismo e a vitalidade dos espaços públicos; Art. 7º A Operação Urbana Consorciada Água Branca tem as seguintes diretrizes: VI - Constituir centralidades ao longo de eixos, de modo a concentrar a verticalização e conformar referências funcionais e visuais; Seção V- Do programa de intervenções Art. 9º O programa de intervenções da Operação Urbana Consorciada Água Branca compreende: VII - levantamento do patrimônio cultural


no perímetro da Operação Urbana Consorciada, incluindo os bens de natureza material e imaterial; ” (PMSP-LEI MUNICIPAL nº 15.893, de 07/11/2013) O item IV do artigo 6º embora de modo muito sintético e genérico, sinaliza que os equipamentos públicos e as áreas verdes a serem majoradas na área seriam responsáveis pela melhora na qualidade e no dinamismo e vitalidade públicos, no entanto não se fala em nenhum momento como isso poderia se dar e em que contextos sociais, uma vez que como já se frisou, a Barra Funda apresenta diversas camadas históricas e muitas ambiguidades.

Operação Urbana se mostram generalistas e vagos, dando margem para que se interprete suas intenções de modo subjetivo, muito em função da própria lógica de desenvolvimento econômico a partir de grandes empreendimentos que traz consigo questões de intenções extra locais, algumas de abrangência regional e até global, sendo de difícil compatibilização com os interesses da Barra Funda enquanto lugar, enquanto bairro pré-existente e com arranjos sociais presentes (na forma marginalizada, latente ou oculta mas ainda sim, portadores da memória desse distrito).

No item VI , artigo 7º, nota-se a intenção de se criarem novas referências visuais a partir do adensamento vertical como referenciais na paisagem, não há nenhuma menção a questão dos galpões de industrias que em sua grande parte são horizontais e que, embora se apresentem estado degradado em muitos casos, poderiam ser readequados para outros usos, como no caso da Casa das Caldeiras, espaço tombado como patrimônio histórico que hoje abriga um espaço cultural de cursos e eventos com forte apropriação pública, mantendo a tipologia historicamente consolidada no distrito. Já no artigo 9º há uma certa preocupação no levantamento do patrimônio cultural da Barra Funda, porém sem maiores detalhamentos de como se realizar esse processo nem o que se pretende articular com esse levantamento. Desse modo muitos dos objetivos, diretrizes e intervenções propostas no texto da lei da

42


4_ ETNOGRAFIAS E EXPERIMENTAÇÃO


Nessa última parte do ensaio se buscou a partir dos conceitos teóricos e das constatações das análises históricas e dos planos urbanos existentes para o distrito da Barra Funda, estabelecer qual seriam os pontos de análise que se revelariam a partir não só do uso da observação etnográfica como subsidio para criação de um plano urbano, mas também da confrontação dos levantamentos resultantes das duas abordagens, entendendo-as não necessariamente como polos opostos mas com enfoques, escalas e entendimentos das diferenças sob perspectivas diferentes.

Os textos dos relatos etnográficos foram aqui transcritos na linguagem descritiva das observações feitas nos dias das visitas da forma mais fiel possível, sendo alterados apenas para formar um corpo único de texto. Para cada região buscou-se realizar visitas em dias variados buscando, na medida do possível, visitas durante a semana e aos finais de semana. Ao final dividiu-se o conjunto de visitas etnográficas em dois grupos por características de região: Etnografia 1 corresponde ao lado leste da Barra Funda e a Etnografia 2, que corresponde ao lado oeste.

4.1_ Etnografias nos espaços livres selecionados As experiências etnográficas aqui descritas procuraram sinalizar um panorama das relações entre os arranjos sociais existentes no perímetro do bairro Barra Funda, com enfoque nos seus espaços livres. Os resultados das visitas foram divididos em regiões, segundo suas características e predominâncias morfológicas de quadras e lotes relacionandoas também com seus usos e atores sociais mais marcantes atentando para os conceitos de pedaço, trajeto e pórtico e a idéia de lugares antropológicos e não lugares. A partir desse conjunto de informações e conhecimentos pode-se aventar algumas características físico sociais do bairro que balizaram a escolha de alguns espaços livres para a construção de uma abordagem sistêmica, visando costurar e conectar pessoas, lugares e funcionalidades trabalhados no item 4.2 com a proposta de um plano urbano. 44


10_área de abrangência do conjunto de etnografias 1

“ Grandes lotes pelo caminho e a pouca permeabilidade nos lotes exigem grandes caminhadas para se adentrar os miolos da região. O fluxo de pedestre é raro ou pontual, se faz principalmente junto aos depósitos, garagens e pequenas indústrias que ainda existem na região, ao contrário do comércio tradicional, dificilmente se sabe exatamente que tipo de atividade se realiza dentro dos lotes, muros e fachadas sóbrias nas construções dão uma sensação de introspecção e de uso pouco convidativo do espaço das ruas. O movimento se faz vez ou outra com funcionários saindo ou voltando da hora do almoço, ou conversando na calçada próximo à entrada de seus locais de trabalho. Apesar de um significativo espaço para o caminhar a pé com calçadas largas, os usos presentes nessas quadras estabelecem pouca conectividade com o espaço da rua, é possível se ver faces 45

de quadras inteiras sem que haja nenhuma interação ou rosto olhando mirando a rua, gerando um ritmo não só monótono, como de insegurança, não se vê e não se é visto nestas ruas. Desse aspecto de relativo abandono dos espaços das ruas, foi possível se ver ao longo da rua Moisés Kauffmann, paralela à Marginal Tietê, algumas prostitutas nas calçadas próximas as esquinas da rua, ocultadas por de trás de caminhões que lá ficam estacionados, indicando um caráter mais marginal e de certo modo ocultado pelo reduzido fluxo de pedestres e carros. Outra singularidade na ocupação dessa local são os grandes lotes contíguos entre a linha ferroviária e a Avenida Marques de São Vicente, são fronteiras de lotes que se encontram sem qualquer melhoramento viário, resultando muitas vezes em ruas de acesso que acabam sem continuidade com outras vias, formando


ruas sem saída que apenas dão acesso aos galpões e estacionamentos da área, tornando a rua quase privativa de quem realmente acessa esses locais. Na rua se veem algumas guaritas e seguranças controlando o acesso junto aos portões desses locais, alguns “flanelinhas” também estão presentes devido ao grande número de carros que acabam estacionando ao longo das vias. Inesperadamente, se vê um conjunto de campos de futebol, beirando a Avenida Nicolas Bôer, via de grande fluxo de carros e caminhões. Lá é possível ver uma certa dinâmica de entra e sai de jovens e adultos que se encontram para jogar partidas recreativas ou se organizando em pequenos torneios amadores, o local chama-se PlayBall Pompéia e parece ser um dos poucos locais em meio a região em que se enxerga de forma clara o que acontece dentro dos espaços além de ser ironicamente um dos poucos lugares onde se podia ver pessoas jogando futebol por puro lazer, pois os outros três campos de futebol vistos pelo caminho eram centros de treinamento de clubes profissionais.

11_ruas sem fachadas convidativas

12_um ou outro galpão mostra seu interior 46


13_muros altos cercam grande parte dos lotes

14_as pessoas que habitam o lugar estão ocultas

15_ruas sem saída indicam continuidades para dentro de lotes industriais

16_ruas são largas porém com pouca ocupação e atrativo

47


17_área de abrangência do conjunto de etnografias 2

“A área oeste da Barra Funda de baixo, assim como a área leste apresenta conflitos de ocupação visíveis na rua, as formas e arranjos sociais típicos de bairros mais antigos residenciais se chocam com ocupações extensas de fábricas e megalojas de departamento, soma-se ainda de forma mais contundente os novos conjuntos de condomínios residenciais verticais como o Condomínio Jardim das Perdizes e o Jardim das Azaleias, ambos em fase final de construção com algumas de suas torres já ocupadas. O acesso dessa região por meio de transporte público se faz pela estação Água Branca da linha 7 da CPTM, o acesso da estação revela como os trilhos cortaram o espaço residencial antigo da região, os lotes lindeiros ao trilho são todos alinhados, a maioria parece ser de antigos galpões industriais, muitos deles abandonados. Após se cruzar os trilhos, pela

rua Santa Maria já se pode perceber pequenos comércios e serviços de reparos, pode-se ver mais pessoas nas ruas, algumas delas com crianças indicando um fluxo de moradores do local, elas são avistadas atravessando pela passarela de pedestres que se encontra antes da travessia em nível da estação de trem. Alguns equipamentos de educação são notáveis dessa vivencia de bairro, como o CEI –Santa Maria na Rua Moacir Trancoso e o Instituto Rogacionista na própria Rua Santa Maria, uma instituição filantrópica que oferece cursos educacionais de reforço para crianças e adolescentes gratuitamente. No cruzamento das ruas Comendador Souza e Francisco Luiz de Souza Junior foi possível se ver um lote residencial que usa a garagem como um pequeno comercio informal de bebidas e assados, sendo que o final da rua Comendador 48


Souza termina sem saída para carros com um acesso de pedestres para o Clube Nacional Atlético, por onde pode ser visto algumas crianças a caminho de seus treinos e até uma mulher que usava a passagem sem parecer ter realmente algo a fazer no Clube, um atalho. Seguindo mais à frente na direção da marginal Tietê, próximo ao cruzamento da Avenida Marques de São Vicente, há a Universidade Paulista UNIP, nesse ponto a proximidade da avenida já mostra uma outra lógica de fluxos e serviços de grande porte, muito mais ligado ao transporte motorizado e a um “público” de outras regiões. Após o cruzamento da Avenida Marques de São Vicente, seguindo o mesmo alinhamento das quadras anteriores, na continuação da Rua Francisco Luiz de Souza, tem-se diferentes formas de ocupação de casas formais e informais delimitadas a leste pelo Córrego Agua Branca e a oeste pela Avenida Comendador Martinelli, que dá acesso à Ponte Freguesia do Ó. Nessas quadras convivem diferentes arranjos físicos e sociais de moradores: o condomínio residencial horizontal de casas geminadas com um caráter de vila, o Condomínio vertical Jardim das Azaléias, ainda em fase de finalização e contíguo ao trecho exposto do Córrego da Agua Branca a ocupação da Favela do Sapo, no qual se encontram algumas HIS e barracos próximos. Chama atenção ainda o acesso longitudinal a partir da Avenida Marques de São Vicente que se “divide” em um acesso gramado à ocupação da Favela do Sapo (próximo ao córrego Agua Branca) e um outro mais à esquerda, por meio da Rua” Um”, criada para dar acesso ao condomínio, Jardim das Azaleias. Apesar de estarem lado a lado, ocupando a área de margem do córrego essa 49

divisão realmente segrega de forma simbólica grupos sociais e tipos de moradia, marcas de desgaste em alguns pontos da grama indicam que essa divisão no espaço não é totalmente aceita e respeitada. Numa tarde pode se presenciar um carroceiro de materiais recicláveis interagindo com os seguranças das guaritas dos condomínios novos ainda em fase de finalização, o carroceiro reclamava em tom de brincadeira que o segurança não havia “guardado” os melhores materiais da caçamba de entulho para ele recolher. Mais especificamente sobre a ocupação de Favela do Sapo pode-se perceber que, embora comprimida em meio ao córrego e as grandes torres residenciais que surgem, há uma vivência na rua marcada por pequenos comércios de bebidas e alimentos, além do uso da rua como suporte para as atividades de sustento dos moradores como triagem de materiais recolhidos na rua, pequenas serralherias e a existência muito próxima do CEI Indir Anibal de Francia, alinhado ao Córrego Agua Branca, já quase na fronteira com a Marginal do rio Tietê acentuando ainda mais a existência de crianças na rua. Há também um conjunto de prédios imponente que destoa na paisagem de construções horizontais na região, é o Condomínio Jardim das Perdizes. O que se percebeu foi que o acesso ao parque municipal que está localizado no centro dos prédios do condomínio não estava sinalizado, a entrada que dava acesso a ele lembrava muito a de um condomínio residencial, haviam câmeras instaladas ao longo da via pública, com o nome do condomínio e um interfone na base. Não havia nenhuma indicação que por alí se poderia acessar um


parque público. Poucas pessoas andam a pé, o fluxo maior era de carros e, quando se chega ao parque percebe-se que o mesmo se encontra gradeado com duas entradas principais e seu nome posto no alto do portão em letras douradas: Parque Jardim das Perdizes, podem ser vistos uma série de vigilantes particulares dos condomínios circulando pelo parque. Lá dentro encontram-se pessoas na maioria jovens e casais com filhos pequenos muito circulando pelo parque e realizando práticas esportivas, inclusive com “ personal trainers”, os canteiros de plantas apresentam-se impecáveis, e os usuários distribuem-se em locais destinados como bancos, áreas de playground ou pistas de corrida.

18_travessia em nível na estação Agua Branca da CPTM

Extensas áreas de gramado livre são deixadas de lado. Fica evidente que pouquíssimas ou nenhuma pessoa acessa o parque pela rua que eu mesmo entrei, a maioria dos frequentadores simplesmente descem de seus apartamentos e já estão quase que de frente ao parque. O parque de formato oval mais achatado é circundado de torres do condomínio, durante pouco mais de uma hora no parque pouco se viu em termos de circulação e rotatividade de público, em sua maioria eram os moradores mesmo, brancos jovens e adultos.

19_única travessia dos trilhos por passarela na região 50


20_empregadas domésticas e crianças são um dos poucos usuários encontrados no Parque Jd. das Perdizes

22_espaço do paruqe sempre vigiado pelos seguranças do Condomínio

21_comércio de refeições e bebidas improvisado na garagem de uma residencia

23_ passagem por dentro do Clube Nacioanal usada como atalho

51


24_córrego Agua Branca exposto próximo a Favela do Sapo apropriado pelos moradores

25_ruas de acesso a Favela do Sapo

26_ruas residenciais se misturam com as Industrias

27_operários em horario de almoço dão certa dinâmica ao espaço das ruas proximos as indústrias 52


4.2_ Proposta de Plano Interdisciplinar DIRETRIZES 1_propor intervenções segundo as áreas de intervenção Anexo- prancha 1 na Barra Funda, atentando para os conflitos entre arranjos sociais, buscando transformar as diferenças em diversidade assumida e convivida; 2_articular os espaços livres que perpassam os espaços construídos no qual habitam os diferentes arranjos sociais apresentados no Anexo- prancha 04, trabalhando o problema do abandono e subaproveitamento dos espaços livres (etnografia1) e os conflitos de arranjos sociais (etnografia 2); 3_atentar para a escala das intervenções, procurando desenvolver aspectos locais de moradia e de acesso a serviços públicos com equipamentos de saúde, educação e outros mais específicos para o contexto local, como centro de triagem de resíduos recicláveis, quadras de futebol e espaço cultural voltado para o samba; 4_ocupar lotes subutilizados ou vagos, totalmente quando possível ou parcialmente com cessão de espaço para passagem de ruas novas e loteamento de partes do lote alterado para criação de alguma interação das fachadas voltadas para as vias propostas; 5_propor trajetos possíveis na escala do pedestre, trabalhando as continuidades das ruas sem saída que já existem, de modo alternativo as vias de grande fluxo motorizado existentes tanto longitudinalmente quanto transversalmente, propondo também transposições dos trilhos por passarelas, acessando espaços livres que dão acesso a espaços culturais. 6_propor intervenções que possam ser implantadas de forma gradual e que não necessitem de inúmeras desapropriações, o que elevaria o custo e o tempo para realização das intervenções;

53


SITUAÇÃO ATUAL AV. COM.

COND. JD. DAS AZALÉIAS

CÓRREGO AGUA BRANCA

GLEBA DA CET

FAVELA DO SAPO

MARTINELLI

PÁTIO

COND. HORIZONTAL VILA ESPAÇO LIVRE EXCLUSIVO

ESPAÇO LIVRE FRONTEIRA

AV. MARQUES DE SÃO VICENTE

PARQUE JD. DAS PERDIZES

R. SANTA

AV. NICOLAS BOER

COND. JD. DAS PERDIZES

QUADRAS ANTIGAS USO MISTO

COND. JD. DAS PERDIZES

ESPAÇO LIVRE EXCLUSIVO

PARQUE INDUSTRIAL TOMAS EDISON

LOTES VAZIOS E RUAS

ESPAÇO LIVRE VAGO

TRILHOS CPTM

MARINA

R. JOSÉ BENEDITO BONELI ESPAÇO LIVRE RESIDUAL

CANTINA PALESTRA

AV. FRANCISCO MATARAZZO

GRAMADO INTERNO

GRAMADO INTERNO

CASA DAS CALDEIRAS ESPAÇO LIVRE FRAGMENTADO

SESC POMPÉIA

PRAÇA CONDE F. MATARAZZO JR.

28_esquema situação atual- barreiras das vias e trilhos separam diversos arranjos sociais 54


SITUAÇÃO PROPOSTA AV. COM.

CÓRREGO ÁGUA BRANCA READEQUADO +HABITAÇÃO

MARTINELLI BICICLETÁRIO

REALOCAÇÃO FAVELA + EQUIPAMENTOS

ESPAÇO LIVRE SISTÊMICO

ESPAÇO LIVRE SISTÊMICO

AV. MARQUES DE SÃO VICENTE

R. SANTA

AV. NICOLAS BOER

CÓRREGO READEQUADO + HABITAÇÃO

BICICLETÁRIO

PARQUE + EQUIPAMENTOS + QUADRA

REDESENHO + EQUIPAMENTOS + HABITAÇÃO

ESPAÇO LIVRE SISTÊMICO

ESPAÇO LIVRE SISTÊMICO

R. JOSÉ BENEDITO BONELI VIADUTO POMPÉIA

MARINA

TRILHOS CPTM

AV. FRANCISCO MATARAZZO

ESPAÇO LIVRE REQUALIFICADO COM A RUA

GRAMADOS GRAMADO COMPARTILHADOS INTERNO

ESPAÇO LIVRE SISTÊMICO

PRAÇA CONDE F. MATARAZZO JR.

29_situação proposta- trajetos que ligam os espaços livres 55


2 1

5 8

9

3 4

6

30_ classificação a partir das etnografias Áreas em azul : lugares antropológicos 1_Favela do Sapo 2_Quadras Mistas R. Santa Marina 3_Barracão da Macha Verde (Escola de Samba) 4_Play Ball Pompéia 5_SESC Pompéia 6_Casa das Caldeiras

7

Áreas em vernelho: não lugares 7_Pwc Brasil Prédios corporativos 8_Condominio Jd. das Perdizes 9_Shopping Bourbon 56


Cond. Jd. das Perdizes relação com o “outro”: vigilancia relação com o espaço livre : exclusividade

Shopping Bourbon relação com o “outro”: separação relação com o espaço livre : exclusividade

PwC Consultoria Brasil (torres corporativas) relação com o “outro”: separação relação com o espaço livre : exclusividade

31_ tipologias e arranjos sociais incentivados pela OUCAB 57


Condomínio Residencial Horizontal relação com o “outro”: ameaça relação com o espaço livre : fronteira

Quadras mistas R. Santa Marina relação com o “outro”: contato relação com o espaço livre : apropriado

Favela do Sapo relação com o “outro”: ignorado relação com o espaço livre : fronteira

32_ tipologias e arranjos sociais dos moradores mais antigos na Barra Funda 58


Quadras Industriais Parque Industrial Tomas Edison relação com o “outro”: oculto relação com o espaço livre : vago

Estacionamentos e Garagens Parque Industrial Tomas Edison relação com o “outro”: oculto relação com o espaço livre : vago

Casa das Caldeiras relação com o “outro”: contato relação com o espaço livre : apropriado

59

33_ tipologias e arranjos sociais de usos não residenciais na Barra Funda


Comércio Local Abastecimento e serviços (até 3 pavimentos)

Habitação Social Coletiva (até 5 pavimentos) 100 famílias por conjunto

Equipamentos Públicos (saúde, educação, e específicos: campo de futebol, Barracões de Samba e Centro de triagem de resíduos recicláveis

Passarelas de Pedestre para transposição dos trilhos de trem e acesso a equipamentos culturais (SESC POMPÉIA E CASA DAS CALDEIRAS)

Bicicletários com campartilhamento de bicicletas locados em rotatórias para reforço da mobilidade pelos trajetos

34_ tipologias propostas para a Barra Funda incentivando o contato entre os arranjos sociais pelos trajetos voltados para o pedestre 60


ANEXO EM 06 PRANCHAS A3 PAISAGEM Prancha 01 esc 1:7500 Indicação de áreas de intervenção na Barra Funda (1,2,3,4) e marcação dos lotes a serem redesenhados total ou parcialmente + Indicação dos lotes notificados como não cumpridores da função social da propriedade Prancha 02 esc 1:7500 Indicação de levantamento de Equipamentos Públicos )educação,cultura,saúde( + Indicação graduada de área dos lotes (até 500m² de 500 a 2500 m² de 2500m² a 5000m² 5000m² a 10000m² e acima de 10000m² + Indicação das ruas sem saída Prancha 03 Sequência de imagens de satélite no tempo 1954- 2001- 2018 + Imagem perspectiva satélite )espaços livres selecionados, não lugares e lugares antropológico( Prancha 04 Localização no mapa e classificação das tipologias dos arranjos sociais, segundo os critérios: CONTROLAR, MANTER OU TRANSFORMAR Prancha 05 esc 1:7500 Implantação dos novos arruamentos, áreas verdes, lotes de equipamentos públicos, habitação coletiva, lotes de comércio local, travessias por passarela e bicicletários Prancha 06 esc 1:7500 Implantação da prancha 05 com classificação das ruas propostas em Rua compartilhada/ Rua fechada para carros / Caminhos Verdes para pedestres + Foto de imagem satélite com as vias longitudinais e transversais existentes 61


35_simulação de ocupação do terreno com cessão de passagem para pedestres e ocupação com feiras livres 62


36_terreno vago - Clube Nacional 63


37_ simulação de cessão de passagem para pedestres com maior abertura e ciclovia para pedestres 64


65

38_ passagem particular usada como atalho Clube Nacional


39_simulação de espaço livre de acesso unificado com ciclovias 66


67

40_espaço livre de acesso a Favela do Sapo e ao Condomínio Jd. das Azaléias segregado e subutilizado


41_simulação de inserção de equipamentos no Parque Jd. das Perizes 68


69

42_espaço livre do Parque Jd. das Perdizes subutilizado sem equipamentos de convívio coletivo


Apontamentos Finais

elaboração das proposições.

Após a realização deste ensaio pode se perceber que a questão inicial de se aproximar as metodologias abordados pelo urbanismo e pelo planejamento urbano não pode ser entendida apenas como duas formas diferentes de se ver e intervir na cidade, mas mais do que isso, cada uma representa uma perspectiva sobre a complexidade da cidade que parte de premissas de naturezas muito diferentes.

A formação do arquiteto e urbanista constrastou de forma evidente com os levantamentos produzidos a partir das etnografias, o olhar focado nos problemas ou nas inadequações do espaço físico tiveram de ser reavalidas, pois o cotidiano entrou como fator forte de valorização das pré existencias, não sendo tratados como problemas a serem solucionados, mas sim como indícios de uma dinamica que deveria ser mantida e levada em conta na hora das proposições.

O urbanismo tradicional, aqui visto sob o recorte das Operações Urbanas, representa uma visão economico financeira em tom de diagnóstico, buscando renovação focada em uma idéia de desenvolvimento a longo prazo, numa visão idealizada de uma Barra Funda próspera e desenvolvida ,respondendo a interesses e objetivos que vão muito além das questões do distrito da Barra Funda; já a Antropologia Urbana, sob o olhar das etnografias busca traçar um panorama do que se passa efetivamente no território, suas questões e conflitos internos, vistos sem abstrações de projeções economicas, seu olhar não busca corrigir ou renovar o território, busca sua compreensão aprofundada. Essas duas perspectivas, uma de renovação e de correção de problemas focados em aspectos físico espaciais, contraposta a visão de compreensão e observação de comportamentos dos individuos em sí, gerou uma série de contradições e questionamentos internos que tornaram a proposta de fato, experimental, desde as diretrizes até a forma de representar graficamente aquilo que só se viu e se presenciou ao vivo nas etnografias foi uma dificuldade grande no processo de

Pode se expandir o olhar do que se pode ou deve ser levado em conta na hora de propor intervenções em um território, muito além de dados físicos ou economicos. Foi possível entender o indivíduo como um parâmetro de compreensão que sinaliza caminhos a serem percorridos na elaboração de propostas que visam a melhoria da qualidade de vida de um território, sendo por isso, de vital importância a participação dos indivíduos no proprio processo de elaboração dos arquitetos e urbanistas. As etnografias são um dos caminhos dessa aproximação participativa.

70


edificação Paisagem Ambiente: ensaios - n. 21 - São Paulo - p. 141 - 174 – 2006.

Bibliografia CALDEIRA, Teresa P. R. Cidade de muros: segregação, crime e cidadania em São Paulo. São Paulo: Edusp, 2000. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano- Artes de Fazer. Editora Vozes, 3ª edição Rio de Janeiro, 1998 DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO -ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL “WASHINGTON LUÍS”. Série Histórica dos Bairros de São Paulo volume 29 BARRA FUNDA.Co-Autores: Aideli S. Urbani Brunelli; Ana Paula Karruz; Dilze Onilda de Lima; FernandoT. H. F. Machado; Krystyna Okrent; Liliana Maria Migliano Bosisio; LinaAngélica Maria Gumauskas; Roseli Sobral; Simone de Melo Lins; SolangeRainone dos Santos. São Paulo,2006 DONADON, Edilene Teresinha "Terrain Vagues": um estudo das áreas urbanas obsoletas, baldias ou derrelitas em Campinas / Edilene Teresinha Donadon. -Dissertação de Mestrado em FEC- UNICAMP Campinas, SP: [s.n.], 2009. FERREIRA DOS SANTOS, Carlos Nelson e VOGEL, Arno. Quando a rua vira casa: A apropriação de espaços de uso coletivo em um centro de bairro. 3ª edição. São Paulo: Projeto, 1985. JANEIRO, Pedro ‘’ {Cheios Inúteis} A imagem do vazio na cidade’’ em SEU 2007 – Seminário de Estudos Urbanos, Vazios Úteis, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) Trienal de Arquitectura de Lisboa 2007. MAGNANI, José Guilherme Cantor. Rua, símbolo e suporte da experiência urbana. Os Urbanitas: Revista Digital de Antropologia Urbana, São Paulo, v. 1, n. 0, 2003. MAGNANI, José Guilherme Cantor. Etnografia como prática e experiência. Horiz. antropol. 2009, vol.15, n.32, pp.129-156A especificidade da etnografia e sua origem autocentrada como método da antropologia Clássica. MAGNANI, José G. Antropologia urbana: desafios e perspectivas. Revista de Antropologia, v.59 n. 3 São Paulo, 2016. MAGNOLI, M. Em busca de outros espaços livres de 71

MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Brasília DF: UNESCO, 2002. MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007. QUEIROGA, Eugênio “Dimensões públicas do espaço contemporâneo: resistências e transformações de territórios, paisagens e lugares urbanos brasileiros”- Tese de livre docência- FAU-USP São Paulo, 2012. REIS, Nestor Goulart Livro –‘’ Notas sobre urbanização dispersa e novas formas de tecido urbano’’ em Via das Artes, São Paulo –SP 201p. 1ª ed. 2006.

MAPAS, TABELAS, E TEXTOS DA LEI REFERENTES A OUACB: Site :https://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/ estruturacao-territorial/operacoes-urbanas/operacaoconsorciada-agua-branca/ IMAGENS 1 à 5 – imagens retiradas da internet Google Imagens 4- Ilustração retirada de (Santos e Vogel, 1985) 5 à 9- fotos tiradas em campo 10 e 17 – google Earth 11 à 16 – fotos tiradas em campo 18à 27- fotos tiradas em campo 28 a 34 - montagem autoral das imagens 35 à 42 – fotos tiradas em campo e fotomontagens autorais




LAR

ORMAR

VAR

PRANCHA_03

N

mapa satélite_2018

N mapa satélite_2001

ÁREAS EM AZUL - LUGARES ANTROPOLÓGICOS

N mapa VASP_CRUZEIRO_1954

ÁREAS EM VERMELHO - NÃO LUGARES ÁREAS EM VERDE - ESPAÇOS LIVRES A SEREM TRABALHADOS

N

0

250

500

750

1000


PRANCHA_04

EXISTENTE -MANTER N

EXISTENTE -CONTROLAR EXISTENTE - TRANSFORMAR PROPOSTO - INCENTIVAR


PRANCHA_05

A

B

C

D

D

E H F

Legenda estações CPTM/METRO lotes habitação lotes comércio local lotes equipamentos públicos área verde proposta área verde existente caminhos para pedestres ruas propostas

Habitação :70x20m= 100 famílias HIS (16 lotes) 35X20m = 50 famílias HIS (7 lotes) 12x50m e12x20m = residencial comum (31 lotes) Comércio : (87 lotes) Equipamentos públicos: A- galpão triagem resíduos 5380m² B- EMEI +EMEF 3500m² C- barracão cultural de samba 2150m² D- bicicletários 5x30 m= 6 unid. E- pista de skate 20x35m =1 unid. campos de futebol gramados 25x15m=2 unid. F- UBS+ pronto socorro 4720m² G- ETEC 12000m² H-EMEF+ EMEM 13.000m²

G

0

200 400 600 800 1000 m




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