Revista Escola Adventista - Ano 19 - Vol. 32

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escola adventista ano 19 | volume 32

revista

abj | notícias

em tempos de novas metodologias e tecnologias, o professor precisa se reiventar para fisgar a atenção e o interesse dos alunos em sala de aula página 38

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página 24

página 64

educar para reencantar a vida

religião sem novidade

o legado de um educador


A ADRA BANGLADESH PRECISA DA SUA DOAÇÃO

Centenas de crianças dependem de você para continuar estudando. Elas recebem educação informal, instruções sobre higiene pessoal e atendimento médico. Milhares deixam as ruas, param de trabalhar e saem da desnutrição graças aos projetos educacionais da ADRA.

Bangladesh é um país pequeno, mas com problemas gigantes. Além da superpopulação, 43% dos bengalis vivem com menos de US$1,25 por dia. A educação também é outro obstáculo enorme. Existem mais de 16.5 milhões de crianças em idade escolar (6-10 anos), sendo que apenas metade das que vivem em favelas frequenta a escola. A outra metade precisa trabalhar para ajudar no sustento da família. 4.7 milhões de crianças e adolescentes (5-14 anos) trabalham com baixa ou nenhuma remuneração.

TRANSFORME O MUNDO, UMA VIDA DE CADA VEZ Banco do Brasil FE Federação dos Empreendedores Adventistas do Brasil AG. 0287-9 CC.10000-5 CNPJ: 68.686.575/0001-43 Comunique sua doação via e-mail e anexe o comprovante de depósito para landerson@adrabd.org ou landersonsantana@hotmail.com

www.adra.org.br


mais qualidade Editores: Prof. Dr. Luis Fernando Assunção, Prof. Me. Rodrigo Follis Editor associado: Ruben Santana (aluno de jornalismo)

Caro leitor,

Reportagem: Thamires Mattos, Nathália Lima e Karine Dias (alunas jornalismo)

Esta é a segunda edição da Revista Escola Adventista com a nova proposta de apresentação gráfica e textual. Como em todo o processo em busca de qualidade contínua, apresentamos nesta edição outras mudanças que visem a uma melhor leitura e compreensão dos temas. O uso de brancos na diagramação é proposital. Com isso, buscamos um maior arejamento e conforto, sem que os textos se tornem demasiado pesados aos olhos. Também a utilização de mais elementos gráficos como quadros, boxes e ilustrações são exatamente para cumprir esse objetivo de ampliar as informações das reportagens e artigos e tornar as páginas mais leves e esteticamente atraentes. Mas os principais acréscimos nesta edição são textuais e de conteúdo. Dobramos o número de páginas e trouxemos para a equipe novos articulistas, como os doutores Eliel Unglaub, Milton Torres, Afonso Cardoso e Cristina Zukowsky Tavares. É, de fato, um acréscimo inquestionável de qualidade. Somam-se a isso as reportagens, feitas por alunos do curso de Jornalismo do Unasp, como as que abordam a importância da inclusão nas escolas e a necessidade de reinvenção do ensino em sala de aula. Então, boa leitura a todos.

Foto: Agência Depositphotos, Wilson Dias, Marcelo Casal Jr., Agência Brasil, Ana Paula Pirani Ilustrações: Felipe Carmo, Kevin Gnu Curso de Pedagogia: Prof. Dra. Gildene do Ouro Silva Curso de Publicidade e Propaganda: Prof. Dr. Martin Kuhn Curso de Jornalismo: Prof. Dr. Ruben Dargã Holdorf Programação Visual: Fábio Roberto, Edimar Veloso Revisão: Ricardo Santana, Leonardo Gubert Revista Escola Adventista é a revista laboratório dos cursos de jornalismo e publicidade e propaganda produzida semestralmente em parceria com os cursos de pedagogia através da Unaspress. Embora o periódico apresente uma variedade de tópicos pertinentes à educação adventista, as opiniões expressas pelos escritores não representam necessariamente a visão da editora, da rede educacional adventista ou mesmo a posição oficial do Unasp.

CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO (UNASP)

7 educação em foco

como fazer 56

16 entrevista

64 homenagem

notícias da educação

educar para reencantar a vida

24 artigo

dicas para a sala de aula

o legado de um educador

estante 68

religião sem novidade

livros para fazer a diferença em aula

32 artigo

74 artigo

internados na UTI

38 capa

a dimensão do currículo

80 colunas

sala de aula em mutação

debates sobre educação

48 reportagem

98 white responde

próximos passos para a inclusão

conselhos práticos sobre educação

Administração da entidade mantenedora (UCB) Presidente: Domingos José de Souza; Secretário: Emmanuel Guimarães; Tesoureiro: Élnio Álvares de Freitas | ADMINISTRAÇÃO GERAL DO UNASP Reitor: Euler Pereira Bahia; Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e EAD: Tânia Denise Kuntze; Pró-Reitora de Graduação: Sílvia Cristina de Oliveira Quadros; Pró-Reitor Administrativo: Élnio Álvares de Freitas; Secretário Geral: Marcelo Franca Alves | CAMPUS ENG. COELHO Diretor Geral: José Paulo Martini; Diretor Acadêmico: Afonso Ligório Cardoso; CAMPUS SÃO PAULO Diretor Geral: Hélio Carnassale; Diretor Acadêmico: Ilson Tercio Caetano | FACULDADE DE TEOLOGIA Diretor: Emilson dos Reis; Coordenador Acadêmico: Adolfo S. Suárez | FACULDADE ADVENTISTA DE HORTOLÂNDIA Diretor Geral: Euler Pereira Bahia; Diretora de PósGraduação, Pesquisa e Extensão: Tânia Denise Kuntze; Diretora de Graduação: Sílvia Cristina de Oliveira Quadros.

www.unaspress.com.br unaspress@unasp.edu.br Conselho Editorial: José Paulo Martini, Afonso Cardoso, Elizeu de Sousa, Francisca Costa, Adolfo Suárez, Emilson dos Reis, Rodrigo Follis, Ozéas C. Moura, Betania Lopes, Martin Kuhn. editora associada

Com toda nossa boa educação, Os editores.


depois do estresse, a leveza

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aluna de jornalismo

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Depois da tempestade, a bonança. Nunca esse ditado foi tão literal como no momento do fechamento desta edição da revista. Com sensação de dever cumprido, restou à equipe um contagiante “que venham as férias!”. Mas, ao ver a fotografia estampando esses sorrisos largos, não se tem a mínima dimensão do estresse e da correria para fechar cada edição. O processo jornalístico é, por vezes, inimaginável pelo leitor. A tirania do fator tempo – é preciso cumprir prazos de entrega de textos, de edição, de diagramação, impressão -, a constante busca pelos articulistas – e a indispensável arte de cobrir espaços e espichar textos. Afinal, a revista precisa estar bem diagramada, agradável aos olhos do leitor. Mas, no fim, tudo acaba dando certo e a revista está aí, pronta para ser lida. E, no final das contas, não foi tão ruim assim. Que o diga a satisfação nos rostos da equipe.

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por Karine Rodrigues

notícias que marcaram a educação

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educação em foco

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Karine Dias, aluna-repórter

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Priscila Rubio, aluna-departamento de vendas

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Fábio Roberto, diretor de arte

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Tamires Matos, aluna-repórter

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Luis Fernando Assunção, editor

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Jonatan Solar, aluno-departamento de vendas

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Ruben Santana, aluno-editor associado

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Rodrigo Follis, editor

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Felipe Carmo, ilustrador

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Emilly Kelly, aluna-revisora de normas técnicas

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Bárbara Katherinne, diagramadora

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Vinícius Aguiar, aluno-revisor de normas técnicas

empreendedorismo sustentável Em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, alunos do Colégio Adventista de Vitória recolheram materiais reciclados em troca de sementes e mudas de plantas no centro da capital capixaba. O lixo tecnológico, outra preocupação de ambientalistas, também foi destaque na ação. Durante toda a semana, o ensino da proteção dos recursos naturais

faz parte das aulas, integrando disciplinas de artes, ciências, biologia, química, física e até matemática. Os estudantes também puderam conhecer empresas que lucram com a reciclagem. O projeto teve como objetivo destacar ao reutilização dos materiais, protegendo a natureza e viabilizando negócios. escola adventista - ano 19 - volume 32

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educação em foco

menos analfabetos

faltam professores

contra o tabagismo

A concorrência nos vestibulares de licenciatura no Brasil tem sido cada vez menor. As escolas públicas são as que mais sofrem com essa queda. Um dos motivos para a defasagem seria o baixo salário, falta de valorização, infraestrutura e, em alguns casos, violência na escola. Na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o vestibular para o curso de pedagogia perdeu mais 80% dos candidatos entre 2010 e 2014. Em 2001, segundo o MEC, o problema abrangia as matérias de matemática e ciências. Atualmente, além desses profissionais, as escolas também sentem dificuldades para contratar professores de química, física, geografia e história.

Cerca de 400 estudantes do Colégio Adventista de Vitória, no Espírito Santo, escreveram cartas para familiares e conhecidos fumantes, alertando sobre os malefícios do hábito de fumar. O projeto foi parte das aulas de redação e português. Após revisão dos textos, as cartas foram enviadas pelos correios no dia 29 de agosto, Dia Nacional de Combate ao Fumo.

A taxa de analfabetismo das pessoas com mais de 15 anos voltou a cair no Brasil. Foi o que revelou o último levantamento, realizado em 2013, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad). Entretanto, o relatório considerou que 8,3% (13 milhões) dos brasileiros ainda não sabe ler nem escrever. Em 2012, o índice era de 8,7%. Em números reais, o dado revelou que apenas 297,7 mil pessoas foram alfabetizadas em um ano. Assim, a Educação de Jovens Adultos (EJA) ainda continua a ser um dos grandes desafios educacionais da próxima década.

medindo a educação primária Para avaliar a educação na rede pública, o governo criou a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA). Esse exame tem o objetivo de medir o aprendizado em língua portuguesa e a alfabetização em matemática. A prova é aplicada para os alunos que estão finalizando o ciclo de alfabetização – 3º ano primário. A intenção do exame é, ao embasar as políticas de alfabetização, melhorar os padrões de qualidade do ensino em áreas e locais em que a educação esteja comprometida. A avaliação será aplicada no final de cada ano e terá fins censitários. O resultado da primeira prova será divulgado em agosto de 2015. 8

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docentes no Brasil Para abranger a demanda desde a educação básica até o ensino superior, o Brasil conta com aproximadamente 2,5 milhões de professores. Segundo a Sinopse Estatística da Educação Básica de 2013, no País, 48,84% dos profissionais trabalham em tempo integral, 25,36% em tempo parcial e 25,78% são horistas. O número de professores com mestrados e doutorados cresceu nos últimos dez anos. Dos 367 mil docentes do ensino superior, 321 mil possuem pelo menos uma dessas especializações. Nas escolas públicas, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 25% dos professores trabalham de forma temporária.

adventistas no Enem Na última edição do Enem o número de inscritos bateu o recorde, chegando a 8,7 milhões. Deste total, 169 mil candidatos pediram atendimento diferenciado que incluiu os estudantes com alguma deficiência física ou intelectual, gestantes, lactante, idosos e estudantes em classe hospitalar. Estão incluídos também os 62.396 mil alunos que solicitaram atendimento específico por convicções religiosas, como a guarda do sábado. Esses alunos tiveram que chegar no mesmo horário que os demais candidatos, entre 12h e 13h, horário de Brasília, e permaneceram confinados até às 19h para poderem iniciar o exame. escola adventista - ano 19 - volume 32

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educação em foco

avaliando a educação infantil Uma avaliação sem prova é a proposta do Ministério da Educação (MEC) para mensurar a educação infantil no Brasil. Esta análise é uma das metas já previstas pelo governo federal com o Plano Nacional da Educação (PNE), que pretende examinar o preparo que os alunos de até cinco anos de idade estão recebendo. Os itens a serem avaliados incluem os recursos da escola, infraestrutura, acesso a ofertas de vagas, gestão do sistema, gestão da unidade escolar e os profissionais da área. O projeto prevê que a primeira análise seja realizada até maio de 2016 e, depois dessa data, a cada dois anos.

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viva nas estrelas

unindo forças

Cinco medalhas foram conquistadas pela delegação brasileira na Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (Olaa), realizada no mês de outubro no Uruguai. Desde a criação da competição, em 2009, essa foi a melhor classificação dos estudantes do Brasil. Os estudantes voltaram para casa com três medalhas de ouro e duas de prata. No total, o País tem 16 ouros, 12 pratas e 2 bronze. Todos os participantes da equipe receberam um prêmio especial de melhor prova individual por terem gabaritado os testes. A Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) de 2013 classificou os integrantes da equipe com base na pontuação obtida.

Em São Paulo, um novo movimento teve início no mês de outubro. A intenção é incentivar as famílias a participar mais ativamente da educação dos seus filhos. O projeto “Todos Pela Educação” pretende estimular a atuação dos pais de alunos tanto nas escolas públicas como nas privadas. Para conseguir alcançar o público-alvo, a campanha vai contar com a utilização dos meios de comunicação e lançar mensagens que pretendem valorizar os professores, a aprendizagem, o conhecimento, apoiar projetos de vida dos alunos, ampliar a cultura, incentivar os esportes e colocar a educação em dia.

aprendizagem no shopping Vários alunos de Escolas Adventistas fizeram visitas especiais à praça central do Shopping Pátio Brasil, em Brasília. Entre banners, tubos de ensaios e objetos diversos, os alunos puderam compartilhar o conhecimento adquirido dentro de sala de aula. Temas como preservação do meio ambiente, inclusão social, saúde e melhoria na qualidade de vida fizeram parte dos trabalhos expostos pelos alunos.

bons em matemática

mais reconhecimento

A Olimpíada Ibero-Americana de Matemática, realizada em Honduras, premiou quatro jovens brasileiros com duas medalhas de ouro e duas de prata. Dois dias foram reservados para a aplicação das provas. Cada teste continha três questões que englobavam as disciplinas de álgebra, teoria dos números e combinatórias. Esse exame tem o objetivo de estimular o aprendizado de matemática para contribuir com o avanço técnico e científico. Em 2014, 82 estudantes de 22 países participaram da competição. Essa é a competição mais importante entre os países que fazem parte desse campeonato.

Mais 41 cursos do ensino superior da rede privada e pública foram reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), em 13 estados. Juntos, os cursos somam mais de 4,5 mil vagas ofertadas com a garantia do MEC. Esse reconhecimento é indispensável para que o diploma de um curso superior tenha credibilidade. Para conseguir essa autorização, os cursos precisam ter pelo menos um ano de funcionamento e depois passar por uma análise, onde são verificados os requisitos básicos e legais para a prestação de um serviço educacional. Entre os cursos, estão as modalidades de bacharelados, licenciaturas e tecnológicos.

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educação em foco

mais inclusão A falta de uma educação inclusiva planejada deixa 140 mil alunos fora das salas de aula no Brasil. São crianças e jovens de até 18 anos que tem transtorno de desenvolvimento, deficiência, autismo e superdotação. Um dos problemas é a falta de estrutura e a qualificação dos profissionais para essa abordagem diferenciada. O censo escolar de 2013 alertou que apenas 6% dos professores possuem uma formação em educação especial. A última Semana da Ação Mundial abordou esse tema com o propósito de melhorar a inclusão de alunos especiais. Em 2007, o número de estudantes nessas condições que estavam fora da escola era de 374 mil.

educação no Brics

crianças na escola

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) divulgou um relatório onde mostrou que os países que pertencem ao Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) tiveram avanços na área de educação. O documento aponta que esses países emergentes colocaram a educação como prioridade de governo e por isso conseguiram melhorar a qualidade de ensino oferecida por eles. Mesmo com esse avanço, o relatório afirma que, para que esses países possam ter uma educação de referência e com mais qualidade, é necessário que mais investimentos nessa área sejam feitos.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2013, divulgou que o número de crianças entre quatro e cinco anos de idade aumentou nas escolas e chegou a 81,2%. Em 2012, esse número era de 78,1%. A taxa das crianças que estão no ensino fundamental chegou a 98,4%. Uma das explicações para esse aumento é o fato de as mulheres estarem entrando para o mercado de trabalho e, devido a isso, as crianças ficam sob o cuidado das escolas ou creches. No Nordeste, o índice de crianças nessa faixa etária que frequentam as séries iniciais é de 86,9, no Sudeste 84,9%, no Norte 67,9%, no Sul 72,9% e no Centro-Oeste 72,1%.

jornalismo do Unasp na Suíça A educação adventista alcançou o território das Nações Unidas. O Projeto Comunitário Jardim Carolina, desenvolvido pelo curso de Jornalismo do Unasp, campus Engenheiro Coelho. Ele foi apresentado no Centro Internacional de Conferências de Genebra, na Suíça, durante o Social Innovation and Global Ethics Forum (Sigef). O projeto foi considerado um dos 30 mais inovadores do planeta e foi apresentado pelo professor Luis Fernando Assunção e pelo aluno Guilherme Cavalcante. 12

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infraestrutura precária O Censo Escolar de 2012 apontou que 508 escolas rurais brasileiras estão em situação precária. Falta infraestrutura, a taxa de aprovação é baixa e a evasão de alunos é muito grande. A taxa de aprovação é de 60% e o índice de alunos que permanecem nas escolas não atinge os 78%. Nas outras regiões do País, o número de aprovação ultrapassa os 83% e a porcentagem de alunos que deixam as escolas é de 3,8% no ensino fundamental e 10,2% no ensino médio. A maioria dos estabelecimentos fica no norte e nordeste do País e estão em áreas de difícil acesso. Os dados mostram que nessas escolas não há, sequer, água filtrada.

queda no Ideb Dezoito capitais brasileiras e o Distrito Federal, segundo o Instituto de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), sofreram declínio na educação básica. Isso significa que quase um terço das escolas públicas não alcançou a meta estipulada pelo governo e ainda ficou abaixo do nível registrado em 2011. Esse número se refere aos alunos das séries iniciais do ensino fundamental – 1ª até a 5ª série. O Ideb é um indicador importante para considerar a qualidade do ensino e é calculado a cada dois anos. O estado de São Paulo não entra nessa relação porque não divulgou os seus resultados. escola adventista - ano 19 - volume 32

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campeã de natação A estudante Thaís Fazekas, 13, aluna do 8º ano do Colégio Adventista de Recife, conquistou a segunda posição na categoria Infantil 1 do Campeonato Brasileiro Infantil de Inverno, realizado neste ano em Recife, capital pernambucana. A estudante tem aulas de natação no colégio e, apesar de não pretender parar de nadar “tão cedo”, revela que pretende cursar Engenharia Civil.

entre as melhores do mundo Vinte e duas universidades brasileiras fazem parte do ranking que posicionou as 800 melhores do mundo. A instituição de ensino que obteve melhor colocação no Brasil foi a Universidade de São Paulo (USP) que ficou em 132º lugar. Entre as instituições do País que foram classificadas no ranking, 14 são federais, cinco estaduais e três particulares. Entre os países da América Latina, a USP ocupa a segunda posição, atrás apenas da Universidade Católica do Chile. O Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT), dos Estados Unidos, conquistou o topo do ranking.

aplicativo da ABL Um aplicativo gratuito foi criado pela Academia Brasileira de Letras (ABL) para ajudar pessoas com dúvidas em português. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) tem quase 400 mil palavras que já estão de acordo com as novas regras ortográficas. Esse recurso foi elaborado devido ao grande número de pessoas que fazem perguntas com frequência no site da ABL. O objetivo é facilitar a vida dos usuários que agora podem ter acesso e rapidez em qualquer lugar através de um smartphone ou tablet. O aplicativo já recebeu nota 4,7 em poucos dias de funcionamento. 14

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entrevista

educar para reencantar a vida filósofo e teólogo Jung Mo Sung defende a humanização do sistema educacional em contraponto à ideia de formação de mão de obra para a indústria capitalista Ruben Santana aluno de jornalismo

O fato de as pessoas perderem o encanto pela vida faz com que este sentimento seja transferido a outros objetos, como, por exemplo, aquilo que consumimos. A vida e seus atrativos são trocados por objetos inferiores que limitam as potencialidades humanas.

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A educação vai muito além de capacitar o aluno a ter um bom salário em uma grande empresa, significa mostrar uma direção a ser seguida, para que ele tenha valor em si mesmo, independentemente de onde ele trabalhe, do que consuma ou do que possua. Graduado em Filosofia e Teologia, com doutorado em Ciências da Religião e pós-doutorado em Educação, Jung Mo Sung é um exemplo do conceito de fronteiricidade defendido pelos estudos pós-coloniais. Ele se define como católico leigo, leciona no programa de mestrado e doutorado da Universidade Metodista de São Paulo e orientou

uma das mais importantes teses sobre a Educação Adventista já realizadas no Brasil. Foi através desse contato com os conceitos de Ellen G. White, provindos dos estudos doutorais de um dos seus orientados – o professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho –, Adolfo Suárez, que Jung se aproximou da pedagogia adventista. Na conversa a seguir, Jung aponta para a urgência com a qual a educação deve se deslocar na contramão do sistema capitalista tardio, aquele mesmo que transforma todas as relações humanas em meros instrumentos mercadológicos. O apelo escola adventista - ano 19 - volume 32

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entrevista

é por uma humanização do sistema educacional, com o objetivo de que este não se resuma à formação de mão de obra para a indústria capitalista. Afinal, esse não seria um dos temas principais dos escritos de Ellen G. White? Através dessa entrevista, é possível notar semelhanças com a abordagem educacional adventista. Revista Escola Adventista_ O senhor fala em reencantamento da vida e da educação. Como isso é possível? Quais os caminhos? Jung Mo Sung_Em primeiro lugar, é preciso entender a teoria do “desencantamento do mundo”, que diz que, com a modernidade e o declínio da influência da visão religiosa do mundo, a sociedade deixou de ver a natureza e a vida de uma forma encantada – com certa magia – e reduziu tudo à frieza da razão e das fórmulas matemáticas. Com isso, nós pensamos a nossa vida e a própria educação em termos de eficiência e de ganhos econômicos. Como uma vida totalmente desencantada não é “vivível”, no capitalismo ocorreu um processo de encantamento das mercadorias. Sonhamos em comprar determinadas mercadorias, como, por exemplo, o último iPhone lançado. A vida e a educação encontram sentido mais profundo, um encanto, em função do desejo de consumir. O que é um equívoco profundo porque há uma inversão de valores. Por isso, a minha proposta é desencantar as mercadorias – isto é, vê-las como instrumentos úteis para nossa vida e não como “dadoras” de sentido – e reencantar a vida e o processo de ensino-aprendizagem, ou seja, a educação. Assim, podemos recuperar o encanto de viver e de aprender na relação com outras pessoas. EA_No processo de reencantamento da educação, qual o papel da escola enquanto instituição, e qual o papel dos educadores? JMS_Eu penso que a escola tem a grande tarefa de propiciar um ambiente educacional no qual estudantes e educadores possam sentir que são 18

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valorizados e motivados como participantes do processo mútuo de ensino-aprendizagem. E os(as) educadores(as) têm a tarefa de estimular, caminhar com e guiar estudantes na difícil, mas gratificante jornada da aprendizagem, não só dos fatos, dados e fórmulas, mas na tarefa fundamental de aprender a aprender, aprender a adquirir a capacidade de produzir o conhecimento que tenha sentido e utilidade na sua vida. É importante lembrarmos que podemos passar informações e mostrar o caminho do conhecimento, mas não podemos transmiti-lo, que é a capacidade de resolver problemas, responder questões e propor novas questões. EA_Hoje a educação é vista pelos pais como uma forma de ascensão social dos filhos. Estudar em uma boa escola e fazer um bom curso superior habilita o jovem a ganhar mais dinheiro e ter uma vida financeira estável. Como contrapor essa ideia de que a escola é somente formadora e não educadora? JMS_A educação é um processo que não pode ser reduzido à sala de aula, nem mesmo ao ambiente da escola. Ela inclui também “espaços adjacentes”, como a família. Neste sentido, a escola que pretende ser mais do que uma simples formadora de “mão de obra qualificada” para o mercado de trabalho e quer ser educadora – isto é para uma vida em liberdade, solidariedade e respeito à dignidade de todas as pessoas – precisa também incluir os pais neste objetivo, o que significa pensar um diálogo educativo contínuo com os pais e os familiares. Mostrar-lhes que não podemos reduzir a vida e a educação dos seus entes queridos ao aspecto profissional e financeiro, que também são importantes, mas não realiza o ser humano enquanto ser humano.

O caráter interdisciplinar das matérias deve apresentar o encanto da vida em suas formas mais variadas, seja na matemática, na física, na biologia ou na religião. A educação deve deslumbrar a beleza das ciências, e não apenas a sua função mercadológica.

EA_Vivemos em um mundo em crescente mutação, onde valores, condições de vida e cotidiano estão se modificando. A velocidade disso é tão grande que a própria família e a escola muitas vezes têm dificuldades em acompanhar o processo e até mesmo entendê-lo. Falta capacidade de adaptação à escola e à família a esses novos tempos? escola adventista - ano 19 - volume 32

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entrevista

JMS_Eu perguntaria, em primeiro lugar, se o caminho correto é o de adaptação plena da escola e da família a esses novos tempos. Isso pressuporia que as mudanças que estão ocorrendo são boas em si, e inquestionáveis. O que eu tenho muita dúvida. É claro que as escolas e famílias precisam se adaptar a vários aspectos tecnológicos e culturais do nosso tempo – e isso não é fácil –, mas há características e necessidades nos seres humanos que não são tão mutáveis. Por exemplo, no mundo corrido de hoje, os jovens estão fazendo várias coisas ao mesmo tempo, com pressa e mudando de foco a todo momento. A “multifuncionalidade” dos jovens, se é que podemos chamar assim, é algo positivo, mas isso não pode levá-los a perder a capacidade de se manter em foco em uma coisa importante, que à primeira vista pode parecer demasiadamente “parado”, chato. Penso também na importância de pensar em nós mesmos – não no sentido egoísta – para tomarmos contato com questões, dores e aspirações mais profundas da nossa vida. Algo parecido com a “meditação”. Eu dei este exemplo para dizer que é também necessário resistir a essas mudanças e possibilitar a jovens experiências de aprendizagem que são “tradicionais”, porque são características humanas mais duradouras. Outro exemplo é o de que não é possível aprender questões e temas humanos mais profundos sem leitura e debate de textos de conteúdo e formato mais clássicos, isto é, sem a parafernália tecnológica. EA_A solidariedade é um dos seus temas prediletos. De que forma ela pode ser inserida nos projetos educacionais e na convivência familiar? JMS_Há duas ideias que precisamos diferenciar no conceito de solidariedade. A primeira é a solidariedade como um fato da realidade, a noção de que todos nós somos interdependentes: o que acontece a um afeta também, mais cedo ou mais tarde, o outro, pois vivemos em um sistema global. É preciso que nos preocupemos, não somente 20

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É claro que as escolas e famílias precisam se adaptar a vários aspectos tecnológicos e culturais do nosso tempo – e isso não é fácil –, mas há características e necessidades nos seres humanos que não são tão mutáveis. Jung Mo Sung

com nossos interesses, mas também com os de outros, porque estamos no mesmo “barco”. Essa forma de ver a realidade pode e deve ser ensinada em todas as disciplinas, desde as exatas – como matemática ou física – até as humanas. Não é um tema somente de algumas disciplinas, mas uma forma de ver a realidade a partir de um conjunto de ciências ou disciplinas interligadas. A segunda é a solidariedade como um valor ético, ou seja, responder ao apelo que nos vem das pessoas que sofrem ou estão em dificuldade, nos dirigindo para além do cálculo da interdependência. Por exemplo, os efeitos da morte de uma criança por inanição na África vão levar muito tempo para chegar até a mim e posso, a partir de um cálculo sobre o grau de interdependência, chegar à conclusão que isso não me afeta ou que não é minha responsabilidade e, com isso, não deixarei minha zona de conforto. Mas, eu também posso tomar a decisão de que eu preciso fazer algo pelas crianças que passam fome. A mudança só

A educação não é apenas uma ferramenta para lidar com as demandas econômicas da sociedade. Ela deve ser encarada como uma ponte que liga o aluno à realidade que o rodeia. O professor deve encarar o conhecimento como um meio para interpretar o mundo.

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entrevista

é possível quando eu procurar assumir a minha responsabilidade pessoal de fazer algo, agora e durante toda a vida, para melhorar o mundo. Esse tipo de solidariedade não resulta do ensino de ciências, mas do testemunho de pessoas solidárias que motivam outras a quererem ser como eles ou elas. Por isso, as escolas podem propiciar uma educação para a solidariedade, na medida em que possibilitam experiências de contato com situações em que há pessoas que lutam, ou estudar casos e vidas de pessoas assim. EA_Muitas escolas estão deixando de lado a questão da espiritualidade. De que maneira isso pode influenciar na formação no ambiente escolar? A espiritualidade pode desempenhar um papel importante no processo de formação dos estudantes? JMS_Espírito, em grego e hebraico – as duas culturas que influenciaram a nossa compreensão de espiritualidade –, é expresso pela mesma palavra para se referir ao vento: a força invisível que move algo ou alguém. Assim, espiritualidade se trata da força que move as pessoas e também a sociedade. Neste sentido, um grande sociólogo, Max Weber, falou do “espírito do capitalismo”. Com isso eu quero dizer que a espiritualidade está presente em todos os lugares em que as pessoas se juntam para fazer algo em direção ao futuro. Quando as escolas confessionais – porque nas escolas públicas a situação é diferente – não tratam especificamente do tema da espiritualidade, o que está ocorrendo é o assumir o espírito que move a nossa sociedade, que é o desejo de ganhar mais dinheiro para poder comprar mais e melhor, e ser reconhecido por outros por causa disso. Penso que as escolas confessionais têm o dever de possibilitar aos jovens experiências que os levem a repensar o objetivo fundamental das suas 22

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vidas e encontrar para estas um sentido que seja mais humanizante do que o oferecido pela atual cultura de consumo. EA_A economia é hoje um dos pilares de sustentação da igreja, sendo inclusive critérios para medir as bênçãos e a salvação. É possível transportar esse raciocínio para o meio educacional, visto que a regra número um hoje é o lucro e o aumento no número de alunos muitas vezes em detrimento da busca de uma educação de qualidade? Como lidar com esse desafio, sendo que o número de alunos também é importante? JMS_A principal diferença entre uma escola privada “comercial” e uma confessional é que a primeira oferece a educação como uma mercadoria para maximizar o seu lucro. A qualidade e o tipo dessa educação vão depender das demandas do mercado consumidor que essa escola pretende atender. Uma escola confessional tem na educação um meio de realizar a sua missão, que inclui a de educar a juventude e contribuir para a construção de uma sociedade mais humana, justa e solidária. Se este objetivo for perdido de vista, a escola confessional perde a sua identidade e a diferença com o primeiro tipo de escola. Contudo, as escolas confessionais também precisam pagar as contas e pensar no seu sustento econômico. Para isso é preciso ter uma administração eficiente – eficiência é uma relação com o objetivo principal, e não necessariamente a maximização do lucro, que é o objetivo da escola “comercial”. Nesta tarefa de equilíbrio econômico das escolas confessionais, sem dúvida, o número de alunos é um fator importante. Mas penso que não podemos deduzir disso a equação: mais alunos, menos qualidade. Isso seria uma visão elitista da qualidade da educação.

O “espírito” é tudo aquilo que, como o vento, nos move para alguma direção futura. Ele representa a força propulsora de uma sociedade que almeja lutar por objetivos em comum: em prol da igualdade e fraternidade.

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artigo

religião sem novidade para que a educação religiosa ocorra, é essencial reconhecer a natureza dos saberes, estabelecendo assim condições para a reorganização crítica da religião em sala de aula Felipe Carmo professor de religião no Unasp

Há mais filosofia e teologia do que imaginamos em filmes e na cultura pop. Portanto, há muito que pode ser aprendido a respeito do ser humano e do mundo a partir do entretenimento.

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Ser criança não é igual a não saber nada. Enganam-se os que optam pela lógica, simples, de que o conhecimento deve ser transferido a uma folha em branco. Há sempre um saber no infante que, embora frágil, melindroso e modesto, corroborará com as novas experiências oferecidas pelo educador. Julgamos apresentar novidades que, pasmem, no universo infantil, já criavam raízes fundamentais para uma elaboração posterior. Da mesma forma, podemos compreender que temas relativos à religião não são inovadores. São, de fato, mais sistêmicos, mas podem não passar de blá-blá-blá dogmático, em face à complexidade das experiências religiosas dos alunos.

Isso basta para o flerte com um truísmo freiriano de que “ensinar exige respeito aos saberes do educando”. Em sua obra Pedagogia da autonomia, Paulo Freire esclarece que o educando possui alguns saberes já impregnados. Esses saberes surgem, de maneira ainda inocente, pela carência de virtudes a serem amadurecidas no processo de ensino-aprendizagem. Assim, a “curiosidade ingênua”, uma espécie de senso comum, deve transformar-se em “curiosidade epistemológica” a partir da habilidade crítica do aluno. Em outros termos, o “ensinar” estaria mais relacionado à criação de possibilidades para a construção do conhecimento, visto que o saber sobre determinado assunto é embrionário, neescola adventista - ano 19 - volume 32

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artigo

A personagem acima foi criado para a história em quadrinhos que eu e meu colega fizemos para o trabalho de história. Ele se chamava C-WOOD e era um extraterrestre que roubava dos ricos para dar aos pobres, como o personagem Robin Hood.

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cessitando apenas ser superado e amadurecido por meio da capacidade analítica e criadora do próprio educando. Como felizmente apontou Adolfo Suárez, no livro Redenção, liberdade e serviço, a noção freiriana de seres “inacabados”, ou seja, portadores de saberes individuais passíveis de aprimoramento, encontra eco em elaborações whiteanas. Fala-se a respeito de um ser humano incompleto, que “está sendo para poder ser”. Este indivíduo carece de aprimoramento; precisa refazer-se a partir de novas e melhores experiências com o conhecimento. Quando o processo de ensino-aprendizagem é visto como um aprimoramento de um saber incipiente, fica evidente a relação entre “redenção” e “educação” como restauração contínua de um sujeito que ainda carece de completude para atingir a “imagem de Deus”. Nesse sentido, pode soar arrogante a ideia de que o aluno, principalmente o não adventista, nada saiba de religião. Ou que, pelo menos, é ignorante sobre assuntos formativos da religião cristã, como o pecado, a salvação em Jesus Cristo etc. Deve existir algo ainda embrionário nas elaborações pessoais do aprendiz que tomarão forma, com tempo e cuidado. De fato, como “saber religioso”, ele estará ainda inserido em construções rudimentares, normalmente associadas às do senso comum. Com efeito, a fim de que a educação religiosa ocorra, é essencial reconhecer, se possível, a natureza e a procedência de tais saberes, a fim de estabelecer condições próprias em sala de aula para a reorganização crítica da religião dos estudantes. Em minha bagagem “dodicente”, tive a oportunidade de experienciar situações propícias ao meu aprendizado, e também o contrário. As melhores experiências que tive na infância tiveram relação com o aproveitamento de meus saberes individuais como aluno, em prol de uma reflexão crítica de conteúdos ainda embrionários. A maioria deles, é importante pontuar, não possui ligação com temáticas religiosas, pelo menos de forma direta. Pretendo inseri-las aqui como exemplo do que tenho dito, com o propósito de convencer acerca de

sua aplicabilidade e, posteriormente, realizar uma ponte com os objetivos deste texto.

Quando repensei filosofias

No oitavo ano do meu Ensino Fundamental, existia uma matéria chamada “Área Econômica Secundária”, cujos objetivos me são desconhecidos. Lembro-me apenas que eram realizadas em uma oficina e dirigidas por um antigo professor meu, chamado Roberto. Na mesma época, o filme Matrix, dos irmãos Wachowski, era assunto do momento, devido à revolução de efeitos especiais promovidos pela obra. Como já era de se esperar, ao menos pelos “alunos do professor Roberto”, a temática seria abordada na sala de aula a fim de cumprir com objetivos que, para nós, não eram relevantes. Só queríamos ver o filme. Assim, o professor assistiu ao filme em nossa companhia e sugeriu que conversássemos sobre ele na próxima aula. Adolescentes como éramos, e ainda agitados com a ação, nos dirigimos à aula com o mesmo ímpeto anterior. Qual não foi a surpresa quando Roberto passou a nos falar sobre algo que dizia ser “genial”, e que não havíamos notado enquanto absortos pela ação: “o filme”, segundo ele, “falava a respeito da ‘alegoria da caverna’, de Platão”. A partir daquele momento fui introduzido ao meu primeiro filósofo. A relação construída, por meu professor, entre Matrix e a “alegoria da caverna”, sendo legítima ou não, demonstrou-se tão fantástica que, ao passo que adorava pancadaria, passei a adorar filosofia. E passei a apreciar mais o tal de Platão do que Keanu Reeves. Afinal, Keanu Reeves só sabia bater nos agentes do matrix; Platão, por outro lado, espancava e resignificava minha frágil realidade. Aliás, vale ainda ressaltar que, no mesmo ano, em uma quarta-feira à noite, fui convidado a pregar pela primeira vez em minha igreja. Ao invés de abrir a Bíblia, me preocupei em descrever detalhadamente a “alegoria da caverna”, falei a respeito do filósofo Platão e, para não parecer “não bíblico”, li um verso que, talvez, se relacionasse ao tema (mas esse não era o foco!). escola adventista - ano 19 - volume 32

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artigo

O aluno deve ser encarado como um sujeito que, embora ainda muito novo, já possui uma espécie de bagagem religiosa que precisa ser canalizada ao estudo bíblico. Não se trata de conhecimentos impróprios, mas de saberes que facilitarão a comunicação do conteúdo bíblico.

De alguma forma, eu já conhecia Platão e sua alegoria. Aliás, de outra forma, eu mesmo era o personagem da história, me libertando da ignorância ao encontro da “luz”. Se apresentada em uma lousa, na época fosca e impregnada de poeira, de forma “bancária”, a alegoria não surtiria tanta importância. A eficácia do ensino se deu em virtude da não vulgarização de meus gostos e saberes enquanto adolescente que, em relação ao filme, não passavam de pancadaria envolvida por uma história fictícia. O professor Roberto respeitou meus conhecimento como alunos e expandiu meus horizontes filosóficos.

Quando repensei cosmovisões

No sétimo ano do meu Ensino Fundamental, ou seja, um ano antes da experiência acima, fui presenteado com outra ocasião para a ressignificação de meus saberes. O assunto a ser estudado em classe estava, de alguma forma, relacionado à idade média e, por conseguinte, à organização social da época. Como é evidente, a aula era de História e, por coincidência, o professor também se chamava Roberto. Outra vez, 28

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em virtude da minha falta de memória, não posso me recordar os motivos, mas estou ciente de que o professor exigiu trabalhos em dupla que falassem sobre o período que estudávamos. Por ocasião de alguma “iluminação divina”, o professor, ao contrário do que havia exigido ao restante da turma, sugeriu que eu e meu colega (e eterno amigo Henrique Pires) nos esforçássemos na elaboração de uma história em quadrinhos sobre o mesmo tema, cujos personagens e enredo seriam livres. Na época, não fazíamos outra coisa além de ler gibis e desenhar, portanto, a tarefa não poderia ter sido mais prazerosa. Algo que não esperávamos, pelo menos de minha parte, era a necessidade do conhecimento detalhado a respeito do contexto histórico do período. Com efeito, a fim de facilitar o processo, nos permitimos retratar a história de Robin Hood (que diz respeito à época) em trajes de ficção científica. Ao invés de feudos e senhores feudais, foi mais prático desenhar extraterrestres com superpoderes que roubavam dos ricos para dar aos pobres. A história foi intitulada “C-Hood”, em virtude do nome de um dos personagens. Por

fim, atrasamos a entrega do trabalho, mas fizemos questão de não participar da festa que ocorria na escola a fim de permanecer na sala de aula, rabiscando as últimas páginas da “obra”. Depois de alguns anos, em séries subsequentes, especialmente no Ensino Médio, sempre que eram abordados assuntos relativos à idade média, me lembrava de minha história em quadrinhos. Não, porém, com esforço meramente conteudista, afinal, eu mesmo havia vivenciado “As aventuras de C-Hood”; ninguém melhor do que eu exemplificaria a importância daquele período para a história da humanidade – mesmo que protagonizada por extraterrestres. O professor de História nos permitiu reaproveitar o que restava de nossa “cosmovisão”, composta por seres dos mais variados nichos, para retratar uma realidade feudal – um mundo novo que, até então, parecia desinterenssante a viajantes de nossa categoria. De fato, como qualquer adolescente, eu saberia fazer a distinção entre realidade e ficção; ou seja, assumiria a cosmovisão extraterrestre como algo banal, embora muito mais emocionante. Ocorre que essa visão de mundo passou a ser útil para compreender realidades mais úteis para minha formação. A história passou a ser concreta e não mais aquele período turvo, definido por datas, nomes e locais. O processo de transformação, contudo, foi simples: percebi que meu mundo conferia ocasião a outros mais reais e complexos.

No ensino religioso

De alguma forma, estas e outras experiências somaram ao meu conhecimento religioso, mesmo que de maneira indireta, mas isso por esforços pessoais. O que me leva à reflexão: seria a “cultura infantil”, expressa em desenhos animados, filmes, quadrinhos etc., tão estulta, a ponto de inutilizar qualquer discurso religioso? Quão úteis seriam, talvez, os mesmos saberes antigos, agora aplicados à religião? Atualmente, a sociedade produz conteúdos e discute assuntos de convergência religiosa que variam da existência de deuses à concepção de apocalipses. Basta uma conversa objetiva com

Revolucione sua aula 1. Escolha um livro, filme ou série que a maior parte de seus alunos gostem; 2. Peça, como lição de casa, que todos se familiarizem com ele; 3. Em sala de aula, aborde um dos temas filosóficos tratados nessa obra; 4. Logo a seguir, apresente um tema bíblico que se relacione com a discussão já iniciada.

um estudante do Ensino Fundamental para compreender que, de forma assombrosa, possui mais conhecimentos sobre mitologia, antropologia filosófica e escatologia do que imaginaríamos. A facilitação do conhecimento ocasionada pelo fácil acesso à informação fez questão de semear os primeiros saberes religiosos nos estudantes. O desafio do professor de Ensino Religioso é “dar nome aos bois”, articulando as proximidades e diferenças entre o saber dos educandos e o saber pretendido na aula. Desse modo, quem sabe, seja mais fácil convencer os alunos de que religião é um tema necessário, empolgante! E mesmo não sendo exatamente uma “novidade” para eles, é fundamental para a vida diária.

Felipe Carmo Especialista em Teologia Bíblica pelo Unasp-EC, professor de Religião na mesma universidade e mestrando em Literatura Judaica pela USP.

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artigo

internados na UTI educação no Brasil se transformou em um balcão de negócios e palanque de ideologias particularistas que buscam hegemonizar demandas irreais Ruben Holdorf

A que vemos no Brasil são boas intenções e ideias geniais. Não podemos reclamar muito de nossas leis e das propostas de melhorias para o sistema: nisso somos bons. Produzimos fachadas bonitas, mas nem sempre o conteúdo corresponde à promessa.

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O descaso com a educação remonta aos tempos da maior colônia lusitana. Detentor do status de metrópole, Portugal se julgava no direito de explorar as riquezas da terra. Depois da independência, a primeira Constituição, outorgada por Pedro I em 1824, privilegiava a educação compulsória e gratuita, a partir dos 7 anos de idade, e estimulava a criação de colégios e universidades. Acontece que no Brasil, desde os passos iniciais de nação livre, aprovavam-se leis sem a necessária responsabilidade de cumpri-las. Daí a expressão “leis para inglês ver”. O ensino continuou distante dos projetos parlamentares e executivos. Não dava para esperar muito de um país cujo índice de analfabetos devorava 99% da população. A primeira universidade seria estruturada somente na Repú-

blica Velha, já no século 20 – esta é uma temática factual a ser discorrida em outro momento. Não foram poucas as reformas e diretrizes educacionais implantadas ao longo do período republicano. A maior parte delas aperfeiçoou os diversos níveis de escolaridade. Todavia, todas se apegavam a referenciais ideológicos nocivos às transformações indispensáveis. Haja vista a deformação e a falta de objetivos com polaridade positiva do ensino médio contemporâneo. Com raras exceções, o falimentar ensino brasileiro resulta das ridículas e estúpidas políticas implantadas goela abaixo nos últimos quarenta anos. Parece que os responsáveis pela educação não pretendem tirar os ensinos fundamental e médio da situação vexaminosa. A educação se transformou num balcão de negócios e palanque de ideologias escola adventista - ano 19 - volume 32

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artigo

Ah, o interior! Como ele é diferente do que víamos do lado de fora. Em muita coisa já avançamos, mas é inegável o caos educacional que ainda nos assola como nação. Mas há solução. É preciso ter!

particularistas que buscam hegemonizar demandas estranhas às reais e urgentes prioridades.

gas. O professor agressor recebeu elogios pela “atitude redentora”. Casos de alunos ajoelhados sobre grãos de milho e tampinhas de garrafa se tornaram corriqueiros, a ponto de se transformar em mito.

Viajando no tempo

O ensino presencial, ministrado na maioria das escolas, não se apresenta de modo muito diferente daquele aplicado pelos professores na antiga Suméria ou pelos aios gregos, os condutores das crianças ao ensino de “alguma coisa”. Há mais de quatro décadas, a minha geração – ainda criança – já questionava o modelo presencial “cuspe e giz”. Os professores assumiam o posto sobre o tablado, em frente ao quadro negro (ou verde, depois branco), e capturavam a atenção dos alunos utilizando palavras de ordem autoritárias e intimidadoras. Eles figurativizavam o poder político vigente, que delegou aos absolutos foucaultianos, por imposição e exemplo, a vara, o chicote e a palmatória. No universo da educação confessional era comum escutar e se arrepiar com as ameaças da “anotação no caderninho de recados aos pais”, “visita ao diretor com cara de poucos amigos”, e as consequências das punições, desde uma simples “advertência” ou “suspensão” até a “reprovação” e “humilhação”. A todo esse rol de execração pública, acrescente-se a “manifestação da ira divina” contra crianças e adolescentes “mal-educados”. O “sofrimento causado aos pais por alunos peraltas” poderia se transformar em “amargura e tristeza para Jesus”, provocando “o olhar inquisitorial de Deus” e o “abandono dos anjos”, mencionando ainda o “afastamento perpétuo do Espírito Santo”. O peso da culpa esmagava os pequenos e infantis corações. Lembro-me de não haver cumprido uma tare34

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fa caseira de língua portuguesa. A professora do terceiro ano do antigo primário tentou me arguir oralmente na frente dos colegas, mas o fracasso nas respostas aumentou o descrédito. Perguntas difíceis, respostas desconexas. Sancionado, fiquei posicionado em pé no canto da sala, entre a porta e a parede na qual se encontrava o quadro. Sobre a minha cabeça, a professora me coroou com um totem de duas orelhas de burro. A volatilidade dos discentes variava de ano para ano, de professor para professor. Em um ano você recebia os louros de “melhor aluno da turma”. No ano seguinte você era considerado um pária, incapaz de aprender os rudimentos mais elementares do gramatiquês e da equação de primeiro grau. Poucos conheciam o significado de ética profissional tal qual compreendemos hoje. Se o professor quisesse deixar chegar ao conhecimento de todos que Fulano, Beltrano e Cicrano formavam o trio de piores alunos da história da escola em matemática, ninguém ousaria questioná-lo. Ao contrário, até mesmo os pais aplaudiriam as reprimendas por ocasião das famigeradas reuniões de pais e mestres, verdadeiros “banquetes da personalidade de filhos rebeldes”. Em outra ocasião, um professor de matemática tirou o cinto e partiu para cima de um aluno, de 7 anos de idade, aplicando-lhe dois golpes nas náde-

Túnel do tempo

Todavia, nem tudo havia se perdido. Alguns raros professores já viviam adiante de seu tempo, aplicando novos métodos e expondo-se às críticas dos pedagogos de plantão. A larga visão de mundo desses mestres abasteceu o ideário daqueles que conseguiram perceber a importância da mudança e inovação no ensino. Segue o relato da experiência de dois professores, um de língua portuguesa, o outro de ciências. De modo criativo, o professor de português entrelaçou a gramática à expressão oral e à produção textual, fazendo com que os alunos percebessem a conexão existente entre os vários aspectos da língua. Suas aulas estimulavam a participação dos alunos analisando o desempenho dos colegas nas tarefas exigidas. A literatura brasileira se tornou a base das leituras, diagnósticos e interpretações. Ao final de cada ano, desenvolvia-se um projeto interdisciplinar, em acordo com o teatro, a música ou a oratória. Em ciências, dominava o tablado e os corredores da sala e da escola um “monstro” (no bom sentido) do ensino. Esse professor foi o primeiro a utilizar recursos paradidáticos para melhor ilustrar as aulas. A impressão que dava era que o professor de ciências entrava diariamente na “máquina do tempo” e voltava com novas ideias e posicionamentos em sala diante dos sedentos alunos. Transparências, diapositivos, quadros,

cartazes, tabelas e animais vivos ou de coleções se tornaram a coqueluche da escola. Quem se encontrava cursando o quarto ano não via a hora de passar para a quinta série do ginásio. Na sexta, sabia-se que ocorreria a “cirurgia de uma rã”; na sétima, as primeiras noções do corpo humano; e na oitava, a viagem ao mundo dos experimentos químicos e físicos. Insatisfeito com o desempenho em sala, o professor alargou o contato com os alunos para fora da sala de aulas. Seus conselhos e amizade o colocaram na galeria dos inesquecíveis mestres.

Voltando ao Cumbica

Aterrissando novamente no Brasil do século 21, percebe-se nitidamente o descaso com a educação. Para os governantes, a prioridade é outra. A educação caiu no domínio comum dos discursos eleitoreiros e, cada vez mais, perde o sentido original enquanto propósito de emancipação do indivíduo e sua consequente inserção na sociedade. As apostas atiraram de vez a educação na UTI. Em estado comatoso, os ensinos fundamental e médio aguardam o último suspiro. A bola da vez será o ensino superior, tratado aos pontapés sob o império de portarias e resoluções desconectadas da realidade.

Ruben Dargã Holdorf é doutor em Comunicação e Semiótica e coordenador do Bacharelado em Jornalismo do Unasp-EC

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infográfico

Região Norte

Região Nordeste

11%

principais ferramentas utilizadas em sala de aula

21%

32%

3

Debates Região Centro-Oeste

10%

Região Sul

A metodologia na educação brasileira

8% Região Sudeste

8%

50%

9%

Recortes

O estudo intitulado “Como o professor vê a educação” foi realizado pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), sob encomenda da Fundação Victor Civita (FVC). Este infográfico foi baseado no artigo elaborado pela equipe técnica do Instituto Paulo Montenegro, organização sem fins lucrativos vinculada ao Grupo Ibope. A pesquisa foi desenvolvida, em duas fazes, a partir de entrevistas com professores do ensino infantil, fundamental e médio da rede pública. A primeira delas apenas no estado de São Paulo e a segunda nas principais capitais de cada região brasileira (figura 1). Entre outros aspectos, a pesquisa aborda as metodologias mais utilizadas pelos professore de sala de aula (figuras 2, 3 e 4).

1

10%

Discussões

12% 12%

Leitura

Fazer pesquisas

Comentários

distribuição geográfica

79% 57% 53% 49%

46%

mídias utilizadas no planejamento das aulas

4

42% 41%

Falta de disciplina: os alunos não prestam atenção

33% 19%

34%

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Falta de motivação dos alunos

31%

Falta de participação dos pais

http://migre.me/pOK5T

19%

Falta de material didático

principais desafios da educação

2

Livros didáticos

Revistas

Jornais

Internet

Livros em geral

Música

Livros paradidáticos

Figuras de obras de arte

Fonte: Estudos e pesquisas educacionais

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Capa

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sala de aula em mutação em tempos de internet e ultravelocidade na propagação de informações, crescente desinteresse dos alunos em sala de aula precisa ser minimizado com novas formas de ensino Nathália Lima aluna de jornalismo

Segunda-feira. Primeiro período. É aula de história. A professora senta, faz a chamada e começa a dar sua aula. Mariana, irritada, se vira para a sua melhor amiga Rafaela: “Que aula chata. Detesto esses livros gigantes. Eu nunca entendo nada. Muito menos o que essa professora diz. Por que ela não faz um joguinho ou passa vídeo? Que saco!”. A aula termina e todos correm, aliviados, para o intervalo. Este é apenas um exemplo que ilustra o que acontece dentro de muitas salas de aula mundo afora. Educação, assim como alimentação e moradia, é direito fundamental. Dentro de casa, prati38

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camente todas as mães insistem no dever de estudar em prol do “ser alguém na vida”. Porém, esta realidade pode trazer consigo alguns problemas específicos: as diferenças. Diferenças estas que despertam problemas entre pais e filhos, professores e coordenadores. Mas como equilibrar a situação entre pai, mestre e educando? Existe alguma possibilidade de diminuir os problemas em sala de aula ou, quiçá, exterminá-los?

Diferenças diagnosticadas

Durante décadas, a educação brasileira foi caracterizada por salas de aula “silentes”, professores sérios e escola adventista - ano 19 - volume 32

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livros gigantescos. Essa realidade vem se modificando nos últimos 20 anos (ver infográfico nas páginas 36-37). É isso que a ex-professora de ensino fundamental Maria de Lourdes Lima explica. “Me graduei em um colégio de freiras no interior do Rio Grande do Sul. A educação era rígida e direta. Não tínhamos muitas opções. Era aquilo e pronto”, relembra. Lourdes recorda que, depois de se tornar professora, sentiu que a realidade de sala de aula havia mudado. Os alunos da década de 1980 tinham outras prioridades. “Era notória a diferença dentro de sala. Embora ainda cheia de restrições, as aulas necessitavam ser mais interessantes. Senão, os alunos nem prestavam atenção direito. Tínhamos de ter sempre uma ‘carta na manga’”, complementa. Outro problema que acontecia com frequência na época era a escassez de profissionais na área da educação. A professora do interior explica que, apesar do auxílio da coordenação da escola, em determinados momentos o trabalho se tornava mais difícil do que o normal. “Não havia muitos professores para dar aulas para os pequenos. Eu, por exemplo, era responsável pelas turmas de segunda, terceira e quarta séries. Tinha que fazer malabarismo para conseguir dar conta de tudo sozinha”, comenta Lourdes. O “descaso” do governo com relação ao interior, citado pela ex-professora, comprometia a qualidade da educação para os alunos que não tinham salas próprias para sua faixa etária. “A dificuldade maior se encontrava na parte do ‘se vira nos trinta’ dentro de sala para atender todo mundo. Eu mimeografava o material dos pequenos, escrevia no quadro para os alunos da terceira série e ditava para os da quarta”, recorda. Hoje, não muito diferente daquela época, a falta de professores ainda afeta muitas instituições. Principalmente as públicas. Vera Lucia Leonel Pereira, coordenadora e professora da Escola Integral de Bauru, São Paulo, explica que a escassez de educadores corrobora a falta de interesse pelo saber, nítida nos alunos. “Não ter professores é um problema catastrófico. Sem profissional, os alunos não aprendem. Além disso, os docentes que tentam fazer seu trabalho ficam sobrecarregados pela excessiva carga de trabalho”, reclama. 40

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A demanda de alunos também sofreu transformações. Antigamente, aceitavam e se acostumavam com aulas “sem-graça”. Hoje eles não querem saber de sala de aula entediante. Vera comenta que “os alunos não têm mais interesse por aprender”. Esse problema, segundo a especialista, é cultural. Não acontece há pouco tempo. “Infelizmente estamos lidando com algo muito mais antigo do que nós mesmos. O problema está na base”, conclui.

Rapidez explicada

Para lidar com um problema, é necessário conhecer seu causador. Com o passar dos anos e o aumento descomunal de aparatos tecnológicos disponíveis no mercado, a informação sofreu uma grande propagação. E, de acordo com o professor doutor em Ciências da Comunicação, Eugênio Trivinho, esta realidade cibercultural não mudará. “A velocidade tem a sua importância justamente no fato de que ela é um imperativo prático que não depende de nenhum discurso para se impor. Ela simplesmente é um fenômeno e não vai desacelerar”, ressalta. Um dos motivos que causam a falta de interesse coletiva na educação, já enfatizado por Vera Lucia, é a quantidade de informação disponível, mas sem profundidade. Pâmela Gonçalves, psicopedagoga e mestranda em Educação pela Unimep, ressalta os perigos desta sociedade denominada cibercultural. Para ela, “falta interesse no aluno em querer ser reflexivo. Hoje, todos têm acesso a muita informação, mas a maioria é superficial. Assim, na maior parte das vezes, o aluno não para para reflitir ou ‘filtrar’ o que está colocando dentro de sua mente ou como está formando seus conceitos”, argumenta a professora. Para Pâmela, solucionar o problema demanda esforço. O envolvimento dos pais com a escola e com o estudo dos filhos é um dos passos mais importantes. De acordo com a educadora, o desinteresse dos filhos tem ligação direta com o descuido dos pais. “Existem aqueles que se preocupam e buscam estar a par da educação dos filhos, mas muitos largam as

Os alunos estão mais exigentes para se interessar pelas aulas. Infelizmente, isso se dá devido a mudanças sociais e tecnológicas e não a uma consciência crítica mais desenvolvida.

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aluna de jornalismo

1 determinação, a chave do sucesso

melhorar como a educação

por Karine Dias

capa

Estudantes que possuem as melhores notas não são necessariamente os que têm o quociente de inteligência (Q.I.) mais elevado. O processo de aprendizado é importante, mas o ponto culminante na educação é fazer um trabalho psicológico com os alunos, dando um incentivo emocional. O importante é a determinação. A capacidade de aprender muda através do esforço. O professor deve mostrar que as quedas não são uma situação permanente. Mas para transmitir determinação, é necessário ser determinado.

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Sem dúvida, a criatividade deve ser incentivada entre as crianças. O mundo e o mercado de trabalho estão em constante mudança. Se a educação for baseada nos moldes antigos, as próximas gerações vão sofrer desvantagem em relação às que receberam incentivo à criatividade. A criança tem uma capacidade incrível e interessante. A criatividade é tão importante quanto a alfabetização e por isso deve ser estimulada.

Confundir conhecimento com informação deriva das escolas que pensam ser sua missão a de transmitir técnicas de memorização. Por outro lado, inovação não significa uma mera novidade, mas algo que transforme o comportamento. Para isso é necessário desafio, diálogo, diversão, narrativa e aventura, tudo para que as escolas consigam conquistar o seu público-alvo: os alunos.

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2 não perca a criatividade

3 inovação na escola

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4 comer, dormir, sonhar e aprender As escolas têm uma responsabilidade muito grande: educar. Além de um ensino de qualidade, a alimentação e o descanso dos alunos também devem ser repensados. A alimentação rica em vitaminas estimula a fixação de informações da mesma forma que as horas de descanso são fundamentais para que o cérebro se prepare para receber conteúdo. Após um longo período de ensino, uma soneca é ideal para facilitar a memorização.

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5 crianças ensinam a si mesmas Muitos professores têm preconceito com a tecnologia. A veem como uma ameaça ao ensino e ignoram a valiosa realidade de que ela é, na verdade, uma poderosa aliada. A criança tem uma grande percepção tecnológica. Ao sentar-se em frente a um computador, ela aprende sozinha a manusear diversas ferramentas. Quando uma criança aprende algo com a sua própria inteligência, seu instinto é mostrar o feito a outras pessoas. Isso a incentiva ainda mais na busca pelo conhecimento.

6 busque por feedback Bill Gates tem destacado a importância da troca de informações entre professores quanto aos métodos usados em sala de aula. O filantropo sugere que os momentos com os alunos sejam gravados, analisados e discutidos. As opiniões entre educadores devem ser compartilhadas em grupos em forma de debate.

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crianças na escola e preferem não saber mais do assunto”, argumenta. Um dos exemplos citados por Pâmela para “afinar” a linguagem educacional entre pais e mestres é trazê-los, de maneiras diferenciadas, para perto da sala de aula. Um projeto lançado quando Pâmela ainda era professora em Recife chamava-se “Escola de Pais”. “Uma vez por mês fazíamos atividades para os pais na escola. A primeira delas foi uma discussão do filme Corageous. Depois disso, fomos aumentando o grau de profundidade dos assuntos. No início, poucos apareceram. Foi frustrante, mas não desistimos”, ressalta. Pâmela ainda explica que, depois de um tempo, a frequência aumentou, o que trouxe um resultado significativo em classe. A comunicação entre os professores e os pais, de acordo com a coordenadora, tornou-se mais fácil e os alunos começaram a se interessar mais pela própria educação. Concordando e complementando a afirmativa de Trivinho, Marcelo Mendonça Teixeira, mestre em Tecnologia Educativa, professor e consultor em tecnologias de informação aplicadas às plataformas de e-learning, comenta - em um texto postado no site da Revista Pátio - que a tecnologia deve ser utilizada e aderida à prática de ensino. “Para a educação, urge que implementemos mudanças no ensino tradicional, secularmente institucionalizado, reconfigurando práticas educomunicativas de acordo com o novo cenário sociotécnico atual, frente à emergência de novas formas de comunicação interativa (muitos para muitos) e da miríade de conteúdos informativos na rede.” Ou seja, um estilo híbrido de educação, suprindo as necessidades de alunos da era cibercultural, seria a resolução dos problemas para os estudantes atuais, aqueles que nasceram em meio à rapidez de um mundo tecnológico e cibernético. Mas o que fazer para resolver os problemas dos professores? Como tornar a vida destes profissionais mais branda e, ao mesmo tempo, eficaz?

Reinvente-se

Ser criativo em uma época onde nada é novidade e tudo está a um clique de distância é tarefa fundamental, mas 44

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nem sempre fácil. Carlos Daniel dos Santos é professor de História, Sociologia e Filosofia da Escola Adventista de Paulínia, São Paulo. Diferentemente do exemplo citado no início da reportagem, muitos alunos gostam da aula do professor Santos. Isso acontece porque ele sempre inova na maneira de ensinar dentro de sala de aula. O professor enfatiza a importância de “vestir a camisa” e se reinventar a cada aula, e ainda revela que com isso, procura falar a linguagem dos alunos. Ainda de acordo com Santos, este é o segredo para que os alunos se interessem pelas matérias lecionadas por ele. “Eu procuro, dentro de sala, falar a mesma linguagem do aluno. A aplicabilidade traz muito mais resultados ao nosso trabalho como educadores”, destaca. O educador cita também alguns exemplos de atividades que serviram para reforçar o interesse dos alunos nas suas aulas. Um deles foi um estudo dos partidos políticos brasileiros, feito por estudantes do ensino fundamental da escola. “Eu os dividi em grupos e pedi que estudassem determinados partidos políticos. Depois disso, eles deveriam montar propostas e apresentá-las em outras turmas”, descreve. Para Santos, o resultado desta atividade superou expectativas: “nem eles sabiam que gostavam tanto de política”. As implicações desta atitude, de acordo com a coordenadora Pâmela, trazem o aluno mais ainda para dentro da escola. No entanto, é necessário que o professor esteja atualizado e seja devidamente instruído para isto. “Os profissionais precisam estar constantemente atualizando-se para que possam utilizar ferramentas que colaboram com o aprendizado e também para que possam ‘falar a linguagem’ dos alunos”. Falamos mais sobre isso no box das páginas 42 e 43, lá colocamos outras seis importantes dicas para o professor atualizar o processo de ensino-aprendizagem!

Inversão de Valores

Nem sempre esta criatividade traz “sossego e paz” aos docentes. Pâmela afirma que a diferença entre professores recém-formados e aqueles que já têm uma longa estrada de trabalho é gritante. “Existem professores que não aceitam mudanças. Isso dificulta muito o trabalho da coordenação. Alguns nem mesmo sabem mexer no

O desafio é preparar professores para o educar uma geração desinteressada pelas antigas técnicas de ensino, mas totalmente apta em um mundo tecnológico, o que pode ser usado a nosso favor.

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salade aula em

tirinhas

capa

by INKingdom Comics

e-mail. Fazer com que as aulas destes sejam tão chamativas quanto as de um professor que passa vídeos e entende de mídias é um verdadeiro desafio”, argumenta. A coordenadora ainda comenta que está cada vez menor o apreço pelos professores. Com isso, a valorização desse profissional é ser um assunto quase abandonado pela sociedade. “A quantidade de professores com síndrome do pânico cresce diariamente. O reajuste de salário é importante e talvez trouxesse ao professor uma confiança a mais, mas a intolerância dos alunos e até mesmo dos pais coloca isso em segundo plano”, exclama. E isso foi bem ilustrado em duas das quatro tirinhas da página 46. Pâmela ainda ressalta que várias atitudes devem ser corrigidas primeiramente em casa, onde os primeiros limites são impostos à criança. Para ela, com a comunicação facilitada entre pais e mestres e a conscientização das famílias com relação aos profissionais, este tipo de ataque por parte dos alunos não aconteceria. Como exemplo, ela cita a cultura japonesa, onde os professores não precisam se curvar perante o imperador. “Há uma inversão de valores culturais no Brasil. Em outros países, os professores que alfabetizam são os mais remunerados. Já aqui, muitos ganham apenas um salário mínimo. É ridículo”, reclama.

Resolver é possível

A psicóloga Neli Machado, em seu artigo “O Desafio no Processo Ensino-Aprendizagem” ressalta os problemas sociais relacionados à educação. Para ela, o problema vai além da sala de aula e da família. Ela analisa que “somos frutos de um sistema que se esforça exaustivamente para produzir cidadãos não pensantes”. Buscando resolver – ou amenizar – este problema, a coordenadora Vera Lucia ajuda e trabalha na implantação de um projeto inovador em sua escola. Primeiramente estabelecido no nordeste do país, em estados como Pernambuco e Ceará, pelo Instituto de Co-Responsabilidade (ICE), o programa das Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral tem como principal objetivo potencializar o

grau de reflexão dos estudantes. Segundo informações divulgadas pelo site do próprio ICE, o programa visa a criação de “oportunidades para esse aluno aprender e desenvolver práticas que irão apoiá-lo no planejamento e execução do seu Projeto de Vida”. O aluno tem a opção de ficar integralmente em sala de aula. Diversas atividades extraclasses são feitas e, de maneira principal, o “protagonismo” é incentivado nos alunos. “Promovemos votações dentro de sala para saber o que os próprios estudantes querem de extra no período integral. Dessa maneira, pretendemos tornar disponível a eles a possibilidade de serem cidadãos críticos”, esclarece. E isso está em sintonia com a moderna geração cibercultural. É possível dizer que a desvalorização social se relacionada ao déficit de formação dos educadores. “O maior problema existente hoje é a falta de especialização dos docentes. Professores mal orientados não podem fazer um bom trabalho”, reflete Vera, que defende a existência de projetos para que professores continuem sempre a estudar. É necessário que o profissional saiba identificar problemas de aprendizagem nos alunos para que, depois de solucionados, o ensino seja eficaz. Pâmela garante que, quando os problemas são diagnosticados e encaminhados aos especialistas, os casos se tornam mais fáceis de resolver. No entanto, cabe ao professor explicar isso aos pais sem que estes se assustem. “Às vezes, mesmo falando dos problemas com carinho, muitos pais não aceitam. Lidar com o medo é mais complicado, mas pode ser solucionado com os profissionais adequados para isto”, esclarece a educadora. Para ela, a escola “não é mais o lugar onde o aluno aprende. Mas o lugar onde tudo acontece”. As principais mudanças a serem trabalhadas têm a ver com a parte social que, no Brasil, está “a desejar”. Na opinião de Pâmela, o trabalho do professor não é algo que vá diminuir ou se tornar mais brando e conclui: “acho que, como orientadora, o que o professor precisa para ter sucesso é alguém que o oriente, apresente ferramentas, e trabalhe um pouco mais perto”. escola adventista - ano 19 - volume 32

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reportagem

próximos passos para a inclusão os deficientes são negligenciados em diversas áreas da vida, inclusive a acadêmica, mas a inclusão social e escolar pode mudar essa realidade Thamires Matos aluna de jornalismo A diferença física é fácil de se perceber! Mas e a deficiência intelectual? Ah, essa é mais complicada. Vemos a pessoa e muitas vezes nem imaginamos que ela tenha um problema tão sério.

Surdez, Síndrome de Down, paraplegia, cegueira. Esses são alguns exemplos de palavras com significados conhecidos, mas pouco respeitados e entendidos. São 24,5 milhões os brasileiros com algum tipo de deficiência, seja mental, auditiva, motora, visual ou física. O número, divulgado em uma pesquisa de 2012 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), corresponde a 14,9% de nossa população. Podemos dizer que os deficientes sempre sofreram com barreiras impostas a eles, e com a indiferença de quem não tem tantas dificuldades assim. Segundo Otto Marques da Silva, autor do livro A epopeia ignorada: a 48

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pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje, foi apenas a partir da segunda guerra mundial que esta parte marginalizada da população foi altamente requisitada: os portadores de necessidades especiais, juntamente com as mulheres, ficavam à frente da linha de produção. Eles foram convocados para suprir a necessidade de empresas que perderam seus funcionários para a guerra. Muitos dos soldados que sobreviviam às trincheiras voltavam gravemente feridos e desenvolviam algum tipo de deficiência. Este momento da história foi crucial para que a sociedade colocasse em prática seus métodos de reabilitação e inclusão. escola adventista - ano 19 - volume 32

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reportagem

filmes para usar em aula Como estrelas na Terra (Taare Zameen Par) – 2007 Sob direção de Aamir Khan, o longa-metragem indiano retrata a vida de Ishaan, um menino de nove anos que vive isolado e não consegue aprender. Isso se deve a um distúrbio de aprendizagem muito comum, mas que nem sempre é tratado adequadamente – a dislexia. Após o diagnóstico, realizado pelo professor Nikumbh, que também leciona para alunos com necessidades educacionais especiais, Ishaan passa a enxergar o mundo da escrita e da leitura de maneira diferente. O professor muda seus métodos para chegar ao aluno.

O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon) – 2007 O filme franco-estadunidense é uma adaptação da autobiografia homônima de Jean-Dominique Bauby. Ele era editor de uma famosa revista de moda quando, aos 43 anos, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Após o episódio, Jean desenvolveu a rara Síndrome do Encarceramento. Por causa disso, seu corpo inteiro ficou paralisado com exceção dos olhos, mas suas faculdades mentais se mantinham iguais. Ele começa a lutar pela felicidade, mesmo sem poder se movimentar. O longa-metragem foi dirigido por Julian Schnabel.

Uma Lição de Amor (I Am Sam) – 2001 O longa-metragem produzido nos Estados Unidos e dirigido por Jessie Nelson relata a história de Sam Dawson, um homem que possui atraso cognitivo. Ele luta, com a ajuda de seus amigos, para criar Lucy, sua filha. Mas a partir do momento que Lucy faz sete anos de idade, ela começa a ultrapassar o nível intelectual de seu pai. Uma assistente social fica chocada com a situação e quer ver Lucy internada em um orfanato. Entretanto, Sam não deixa de lutar: ele contrata a advogada Rita Harrison, que aceita esse caso desafiador e praticamente impossível de ser vencido.

À Primeira Vista (At First Sight) – 1999 O filme americano relata a história de Virgil, personagem inspirado na vida de Shirl Jennings (1940-2003). Quando criança, ele sofreu um acidente que resultou em sua cegueira. Mesmo assim, passou a “enxergar” o mundo de outra maneira. Tinha os outros sentidos muito aguçados e por isso se tornou independente. A irmã mais velha e o cachorro serviam de companhias, até o dia em que conheceu Amy – mulher que se tornaria o amor de sua vida. Posteriormente, Virgil realiza uma cirurgia que traz sua visão de volta o que traz grandes complicações.

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O choque pós-guerra garantiu a prática da integração social. A partir dessa época, deficientes puderam se matricular em escolas de não deficientes. A mesma regra é válida para locais de lazer e de trabalho. Haja vista que o presidente dos Estados Unidos da América durante o maior período da segunda guerra mundial foi Franklin Delano Roosevelt. Ele tinha grandes dificuldades para se movimentar, e frequentemente usava uma cadeira de rodas. A deficiência, causada pela poliomelite, não o impediu de exercer suas funções. A sociedade foi se modernizando e os deficientes foram percebendo que somente a integração não era suficiente para uma boa qualidade de vida. Os portadores de necessidades especiais ficavam, na maioria das vezes, estagnados em uma vida sem grandes realizações. Para deficientes intelectuais, cursar o ensino superior era algo muito distante - praticamente impossível. Nesse contexto, surge a inclusão social. Conforme a terapeuta ocupacional e professora universitária, Celina Bartalotti, o “pilar” da inclusão social não é negar as diferenças existentes, mas oferecer direitos iguais aos deficientes e melhores oportunidades de vida a todos. Assim, mais pessoas podem se tornar como Roosevelt - capazes de aspirar ideais e realizações maiores. Para que a sociedade se adapte às necessidades dos deficientes e vice-versa, o trabalho deve começar cedo. A inclusão escolar é obrigatória a todas as escolas, de acordo com a Constituição Brasileira de 1988. O artigo 208 especifica que deve existir “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”, a mesma condição consta também no artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em esfera mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) elaborou, em 1994, uma resolução que trata dos princípios e práticas da educação especial. A Declaração de Salamanca afirma que “as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às

escolas regulares, que a elas se devem adequar através de uma pedagogia centrada na criança, capaz de ir ao encontro destas necessidades”. Mesmo que a Constituição Brasileira e a ONU atestem a necessidade de uma educação inclusiva, o contrário acaba acontecendo. Segundo a doutoranda em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Betania Stange Lopes, a exclusão, através de um processo mal feito de inclusão, é mais comum do que parece – principalmente por causa da falta de esclarecimento de alguns profissionais quanto ao assunto. “É mais assistencialismo do que educação”, critica a professora. Para ela, a inclusão de alunos com deficiência deve ser feita de maneira que não os coloque em uma espécie de “zona de conforto”. Eles devem ter desafios assim como os outros estudantes. “Na educação inclusiva, temos que determinar metas para o estudante com necessidades especiais”, ressalta. “Todo aluno com deficiência se depara com algumas barreiras no sistema escolar. Até o aluno dito normal pode encontrar dificuldades devido a uma proposta metodológica que não condiz com seus problemas. Os professores devem estar mais atentos para atender as necessidades de todos os alunos”, reforça a pedagoga. Entretanto, isso não significa que um estudante com deficiência intelectual é um “caso perdido”. Betania explica que os alunos com deficiência, seja ela intelectual, visual, física ou auditiva, devem ser estimulados de maneiras diferentes para que entendam os conteúdos. Mudar o método é essencial e a proposta metodológica precisa variar de pessoa para pessoa. “Em um processo de inclusão, nós não trabalhamos com a média, mas com a individualidade”, enfatiza. As metas devem ser mantidas, proporcionando uma comparação de resultados. Esta comparação deve ser feita de modo “personalizado”, privilegiando as particularidades de cada aluno. Betania ainda enfatiza que tirar os alunos escola adventista - ano 19 - volume 32

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reportagem

A inclusão é possível: conheça Tim Harris Café da manhã, almoço e abraços: esse é o slogan do Tim’s Place. Localizado em Albuquerque, nos Estados Unidos, o restaurante é propriedade de Tim Harris - portador da síndrome de Down. Harris recebe os clientes com abraços logo na chegada ao local, para que elas “se sintam amadas”. Desde pequeno, o menino foi incentivado pela família a perseguir seus sonhos. Já adulto e um empresário de sucesso, sua história prova que a inclusão acadêmica e social de deficientes intelectuais é a chave para melhores condições de vida. Confira um vídeo produzido pela AOL sobre Tim, que já possui mais de dois milhões de visualizações.

com necessidades especiais da sala de aula e inseri-los em uma “bolha protetora” também não é a solução. Colocá-los no ambiente natural de aprendizagem é o melhor método para a inclusão escolar eficaz, pois “proporciona qualidade de vida aos deficientes”. Existe o pensamento muito comum de que os alunos com deficiência intelectual precisam de aulas de reforço no contra turno para que possam desenvolver suas aptidões. O problema é que as propostas metodológicas das aulas de reforço “comuns” não diferem muito das de uma sala de aula não inclusiva. Para bons resultados, a prática do assunto deve ser apresentada aos estudantes, além do fortalecimento de pilares básicos do conteúdo. “Muitos se surpreendem, afinal não sabemos qual é o limite deles. Fazemos testes para termos um ponto de partida e podermos avaliar o quanto ele crescerá, mas não há como mensurar ao conteúdo que cada um reterá”, revela Betania.

Próximo passo

No Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho, a inclusão social e acadêmica já é uma realidade. O programa Próximos Passos é uma iniciativa que visa a oferecer a jovens com deficiência intelec52

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Saiba mais no vídeo abaixo

http://bit.ly/19YGcjp

tual a possibilidade de cursar o ensino superior, viver com independência, aprender atividades profissionais – ligadas ou não ao curso superior no qual ingressaram – e exercer ativamente sua cidadania. Oito jovens entre 18 e 27 anos de idade participam do programa, que teve início no primeiro semestre de 2014. Para que possam escolher adequadamente um curso superior, testes vocacionais são aplicados. Eles também contam com a instrução dos pais. No momento, quatro alunos cursam Pedagogia, enquanto os cursos de Rádio e TV, Música, Publicidade e Propaganda e Teologia contam, cada, com um participante do projeto. Eles seguem um programa próprio, com adaptação curricular e o apoio de tutores e professores. A cada semestre, os estudantes frequentam as aulas de duas matérias do curso escolhido e a instituição assume integralmente os custos do projeto. Betania Lopes também é a coordenadora do programa, que conta com a participação de 53 tutores no primeiro semestre de 2015. O número de pessoas que se voluntariaram para o trabalho é de 39. A coordenadora assume que se impressiona muito com o trabalho dos tutores voluntarios. “Eles sempre estão buscando maneiras novas de ensinar os alunos”, frisa. Como grande parte da aprendizagem de deficientes intelectuais se dá pela assimilação do exemplo, o projeto tem

Graças a um esforço coordenado na escola dos patinhos, todos os alunos se formaram. Mas um dos patinhos amarelos só conseguiu essa façanha graças a ajuda do projeto Próximos Passos.

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Crie nos alunos uma consciência inclusiva 1. Escolha um filme que aborde esse tema e o discuta em sala de aula (dicas no quadro da página 50); 2. Faça uma visita a uma APAE e mostre para seus alunos que todos podemos ser iguais e realizar as mesmas atividades; 3. Organize uma feira de inclusão em sua escola, convide palestrantes e pessoas com deficiências para compartilhar seus sucessos e desafios. 4. Seja na feira ou em aula, é possível fazer jogos inclusivos como o cabra cega. Lembre-se de fazer a aplicação correta de cada um. Afinal, não é apenas uma brincadeira, mas um momento lúdico.

a vantagem de ter tutores de idade semelhante à dos alunos, o que estimula ambas as partes envolvidas a buscarem conhecimento. A bolsa de estudos do universitário Rúbens Richter pertence ao projeto Próximos Passos. Ele foi convidado pela coordenadora do projeto para participar diretamente das atividades de tutoria e supervisionar os participantes. Ele acredita que o preconceito sofrido pelos deficientes intelectuais seja baseado na ignorância de algumas pessoas. “A princípio a gente não entende as formas pelas quais eles pensam e se expressam. Somos preconceituosos com o ‘diferente’, mas quando conhecemos e aprendemos com os deficientes intelectuais, vemos que eles não são pessoas ‘inválidas’, e sim pessoas com aptidões que devem ser incluídas nas atividades normais da vida”, analisa. Ele também opina que tanto a inclusão social quanto a escolar são essenciais para a formação de melhores cidadãos, sejam eles deficientes ou não. 54

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Já Suellen Contri Mazzo, a aluna de pedagogia, conta que aprendeu muito com o projeto. “Passo o conteúdo da sala de aula para a prática”. Ela começou a participar das atividades como tutoria voluntária no segundo semestre de 2014, e narra que em seus primeiros dias enfrentou dificuldades para explicar o conteúdo, pois não conhecia direito as necessidades de seu aluno. Também teve que aprender a esquematizar as aulas. Após esse período, percebeu que o melhor desempenho do estudante estava ligado diretamente ao planejamento bem feito de sua tutoria. Suellen constata que “traçar objetivos para seu aluno é essencial para o sucesso do ensino. Se não planejar antes, não dá certo. Isso faz muita diferença”. Ela ainda destaca a proatividade e o esforço de seu aluno. “Ele não deixa que sua deficiência o impeça de fazer as coisas”, finaliza.


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HQ’s em sala de aula

por Felipe Rocha aluno de jornalismo

Por muito tempo as história em quadrinhos (HQ’s) foram mal compreendidas por boa parte dos educadores e vistas como responsáveis pelo desestímulo à leitura e à criatividade. Mas hoje esse cenário está bem diferente. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) reconhecem a importância deles e inclusive recomendam sua utilização em sala de aula. Abaixo alguns passos para colocar essa ideia em prática:

o real e o lúdico

materiais publicados

como era a sociedade? que aspecto abordar? do que falar? As HQ’s não têm apenas a função de entreter, elas podem ser usadas para transmitir conceitos específicos. Defina um assunto para trabalhar com sua sala de aula. Guerra, política, religião etc. São inúmeras as opções. Tomarei como exemplo o tema do “preconceito”. 56

Você quer falar a respeito de que forma de preconceito? Da luta feminista por igualdade nos anos 70? Da busca por aceitação dos portadores de HIV nos anos 90? Da discussão das últimas décadas sobre os direitos dos homossexuais? Vamos supor que eu queira trabalhar com a ideia do racismo contra os negros na década de 60.

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Os estudos de Raymond Williams, um teórico da comunicação, indicam que qualquer prática cultural, seja ela escrita, narrada ou ilustrada, reflete as necessidades emergentes da sociedade na qual seu autor está inserido. Por isso é muito importante a contextualização. Neste caso, deve-se levantar questões como a condição social das pessoas de pele negra na década de 60, os direitos que possuíam e por quais lutavam.

Após encontrar as respostas anteriores, é hora de procurar por HQ’s relacionadas ao tema proposto. Faça uma busca pelas principais publicações da época, é muito provável que você encontre material referente ao assunto desejado. Uma HQ que está ligada diretamente ao tema proposto no nosso exemplo é a dos X-Men.

Compare a sociedade com as histórias apresentadas nos quadrinhos. Quais as diferenças e semelhanças? Os afro-americanos no período pré-direitos civis lutavam por seu lugar na sociedade, que não tolerava isso. A HQ dos X-Men publicada nessa época trabalhava exatamente esse conceito. Um gene mutante tornava uma minoria diferente dos demais. Eles buscavam seus direitos, mas sofriam grande rejeição do povo pelo qual eles lutavam. Deu para notar as semelhanças, certo?

última dica Utilizar HQ’s na escola é uma boa forma de aproveitar um material que atrai a atenção dos estudantes e transmitir conceitos importantes de uma forma mais simples. Se você se interessa pelo tema e deseja mais informações, um material muito esclarecedor é o livro Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula, da Editora Contexto.

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produza um jornal em sua escola

por Luis Fernando editor

Produzir um jornal na escola, seja ele mural ou impresso, não é apenas um meio de transmitir informações. É, também, uma excelente atividade em grupo, que necessita poder de síntese, liderança, conhecimento prévio da realidade, dos acontecimentos, da cultura, das preferências e das necessidades da escola e também muito senso crítico para saber qual das notícias será destaque e qual será divulgada de forma secundária na publicação. Para o educador é uma das maneiras de trabalhar produção textual e leitura. Para o aluno, um exercício diferente e atrativo de cidadania.

definir características

tempo e produção

linha editorial

É preciso definir se ele será impresso ou exposto no mural. Se for mural, a primeira coisa é estabelecer um local para exposição. Se optar pelo impresso verifique como será a impressão (tiragem, gráfica etc.). Em ambos os casos é preciso definir o tamanho e as seções (editorias);

Escolha assuntos (pautas) e a periodicidade do veículo, lembre-se que é preciso tempo hábil para elaborar um jornal de qualidade. É necessário também definir quem vai produzir as notícias: se alunos, ou se alunos em conjunto com professores. Aqui a decisão depende muito do nível das salas.

Como serão os textos, o que eles abordarão? O jornal deve ter relação direta com a escola. É importante dar destaques aos personagens (pessoas) da notícia. Isto significa o ato de contar histórias de forma leve e divertida, sem nunca deixar de lado a importância da informação.

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distribuir as tarefas

assuntos

impressão

Um ou mais professores podem ficar como responsável(eis) por coordenar o trabalho. Cada aluno tem que fazer a sua parte. Os repórteres apuram as informações e escrevem os textos. O fotógrafo tira as fotos dos assuntos. Os editores revisam e consertam (se for preciso) o texto. O diagramador coloca os textos no programa de computador para “desenhar” o jornal.

Procure definir pautas interessantes, que falem do dia a dia escolar. Você pode pensar em seções com dicas de programas de TV, música, cinema e livros; relato de experiências sobre alguma aula; crônicas, charges e artigos de opinião sobre temas polêmicos; entrevistas com alunos, diretor, coordenador ou pais; últimos acontecimentos como olimpíadas escolares, festas do bairro ou na escola.

O jornal pode ser diagramado em programas à disposição (como Adobe InDesign, por exemplo) ou mesmo em programas mais simples como o Word, e depois impresso em folhas de papel A4 (inteira) ou A5 (dobrada). Se houver um orçamento maior, pode-se pensar em enviar o arquivo pronto para uma gráfica, que vai diagramar e imprimir em formato e papel de jornal.

distribuição e dica final Com o jornal pronto, é hora de distribuí-lo. Forme uma equipe para isso. Distribua entre alunos, funcionários e pais. Ah, sim, um boa indicação de leitura sobre como fazer seu jornal em sua escola é o livro Para ler e fazer o jornal na sala de aula, da editora Contexto.

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O mais completo manual para o professor Escrito por mais de 30 mestres e doutores, com larga experiência em sala de aula, esse livro possui 500 páginas com todos os questionamentos e abordagens que irão direcionar o professor a um processo de ensinoaprendizagem mais completo, humano e centrado na Bíblia.

Leia grátis um trecho em www.unaspstore.com.br


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origami na sala de aula

por Bárbara Katherinne jornalista

Unir conteúdos escolares com atividades prazerosas é a melhor forma de envolver as crianças no processo de aprendizagem. Pensando nisso, muitas pesquisas surgiram em torno de como a arte do origami pode ser desenvolvida em sala de aula com a finalidade de introduzir, de maneira criativa, conceitos interdisciplinares. Um importante trabalho é o livro A arte-magia das dobraduras: histórias e atividades pedagógicas com origami, da editora Scipione. Além do origami ser um auxílio de peso em conceitos da matemática, também é possível trabalhar interpretação e produção textual, ciências, história e outros conteúdos programáticos. Separamos, então, algumas dicas de como inserir origami em suas aulas.

matemática

história

geografia

Trabalhar com dobraduras estimula a conduta motora, a percepção espacial. Portanto, podem ser trabalhados os conceitos de geometria, reta, linearidade, pontos, vértices.

Partir do lúdico para ensinar história pode ser uma boa pedida. Em qual contexto histórico social surgiu a arte do origami? Qual a história e a cultura do país em que ele esteve envolvido?

O aspecto físico do país também pode ser abordado, já que o origami estimula a função mnemônica, que é um auxiliar da memória associada à informação pessoal e espacial.

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ciências

português

Trabalhar com origamis em forma de plantas ou animais e introduzir programas de conscientização e preservação da natureza, levando em consideração o fato de que a celulose que compõe o papel é extraída das árvores.

Nas séries iniciais podem ser desenvolvidos origamis em forma de letras, para que as crianças formem palavras. Em séries mais avançadas, o professor pode propor redações, deixando espaço para se criar uma história sobre o origami que ela mesmo construiu. escola adventista - ano 19 - volume 32

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homenagem relato

o legado de um educador Renato Groger, professor do Unasp e editor da Escola Adventista, praticou o objetivo maior de um educador: transformar a vida de seus alunos através do seu exemplo

1974 2014 “Felizes os mortos que morrem no Senhor de agora em diante”. Diz o Espírito: “Sim, eles descansarão das suas fadigas, pois as suas obras os seguirão” Apocalipse 14:13

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Thiago Basílio aluno de jornalismo

Caracterizar um bom educador não é uma tarefa tão simples. O esforço pessoal do profissional muitas vezes não é suficiente para fazer com que seu trabalho tenha a excelência almejada. Mas a criatividade e a devoção podem auxiliar o desempenho de quem exerce essa profissão. Durante quatro edições da Revista Escola Adventista (REA) convivi com o Renato Groger sendo o meu editor-chefe. Além dessa rotina, ele também foi o meu professor na disciplina de Jornalismo Impresso. Um período enriquecedor, onde percebi um cidadão comprometido com os seus princípios de vida e sempre muito preocupado com a perfeição do seu trabalho.

Nesta edição, recebi a missão de falar sobre esse exímio educador. Confesso que não tenho muita habilidade para descrever em palavras situações e sentimentos abstratos, mas quero começar com um “obrigado”. Provavelmente, o professor Renato Groger não se lembraria, mas eu me recordo muito bem como foi o meu primeiro contato com ele aqui no Unasp. Fui pautado na Rádio Unasp, para fazer uma matéria sobre a Unaspress (editora universitária que produz a REA). Timidamente procurei a grande gráfica com redação gigantesca do campus. Claro que me frustrei ao encontrar uma única sala com uns poucos computadores. escola adventista - ano 19 - volume 32

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homenagem Prof. Renato Groger

Unaspress 2014 reunida para o nosso último “até breve, professor Renato”

Falei com um dos atendentes e, já na sequência, com ele. Só voltei a encontrá-lo em sala de aula, quando me apaixonei pela escrita. Tive a oportunidade de aprimorar minhas habilidades textuais na Imprensa Universitária, aprendi muito da técnica e habilidade cirúrgica com as palavras que o professor dominava. Mas, mais do que isso, seu exemplo de vida me ensinou a valorizar aquilo que temos de mais importante: pessoas. E são pessoas que ele motivava e reconstruía a cada “que beleza!” exclamado, frase verbalizada, ou, ainda nos diversos “sins” sinalizados mesmo sabendo que o “não” seria mais prudente para a ocasião. O ser pacífico e cristão que conheci me motiva a acreditar (mesmo diante do meu recorrente ceticismo) que é possível encontrar pessoas capazes de transmitir serenidade ao mesmo tempo em que vivenciam na prática o que estão doutrinando. O Renato era desses. Por isso acredito que a sua história será um inestimável legado na mi66

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nha vida e na das inúmeras pessoas beneficiadas por sua generosidade messiânica. Essa certamente é a maior virtude que um educador cristão pode ter. Olhar para o mestre como o exemplo é ter como referencial alguém que foi capaz de ensinar para todos os públicos com uma propriedade inigualável e, mais do que isso, perpetuar conceitos eternos na vida dos seus educandos. No período em que trabalhei na REA tive um maior contato com esse universo que, até então, não era de muita afinidade. Minha única aproximação dava-se pelo fato de a minha mãe ser professora e, naturalmente, educação sempre foi um tema recorrente nos diálogos familiares. Com o passar do tempo, lidando com especialistas e acadêmicos da área para a produção do periódico que você folheia neste momento, consegui captar alguns conceitos bem básicos, mas de importância fundamental para o sucesso pedagógico no ensino. É necessário criar mecanismos de aprendizagem que sejam interessantes e igualmente eficazes

para que o objetivo final da educação, que é o de transformar seja alcançado. A percepção que como aluno e (profissionalmente falando) subordinado sempre tive do Groger era a de uma constante preocupação em fazer com os seus estudantes estivessem, de fato, sendo beneficiados pelo saber. Isso ficava muito claro na forma como ele corrigia atividades que envolviam produção textual. Ele realmente lia todas as atividades com atenção e deixava registrado em caneta vermelha as suas observações sobre os melhoramentos que se faziam necessários para elevar a qualidade do texto. E o processo não terminava por aí. Além disso, o professor Renato se preocupava em sentar rapidamente com cada redator para dar um feedback verbalizado sobre o trabalho. Em ambiente educacional, a postura era a mesma. O estado metástico do câncer que o acometeu chegou com muita surpresa aos que o rodeavam. Com o passar do tempo, o tratamento começou a

ficar mais intenso e, como normalmente acontece, o corpo respondeu com sinais de cansaço, exaustão e inchaços. A última vez que o vi, estava muito debilitado, mas era espantosa a forma como ele não se entregou à tristeza. Sempre tinha um olhar sereno, calmo, coerente, humano e cristão. Foram meses de luta e de vontade de viver, mas ele tinha pra si uma paz divina de que se ele viesse a falecer, estaria descansado com sua consciência tranquila. O professor Renato morreu no dia 21 de setembro de 2014 deixando, à sua esposa Graciela; à sua filhinha Júlia; aos seus familiares; amigos e admiradores, a saudade, o vazio e a dor de ter que lidar com essa ausência (humanamente falando) tão injusta. Acho justo deixar o nosso “obrigado” a Deus pela oportunidade que nos deu de vivenciar as reconstruções que o Groger arquitetou em nossa existência com suas raras e preciosas habilidades pedagógicas, utilizadas não somente na sala de aula, mas em todas as dimensões de sua vida. Esse, sim, é o verdadeiro espírito da educação. escola adventista - ano 19 - volume 32

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estante

estante

recursos que podem fazer a diferença em sala de aula

Redenção, Liberdade e Serviço Adolfo Suárez. Editora Unaspress, 2012. (231 páginas) Ingrid Lacerda

aluna de publicidade e propaganda

livros acadêmicos

A obra aborda a educação e a maneira como o processo de construção humana ocorre por meio dela. O autor considera a abordagem sobre educação proposta por Ellen G. White, na qual a escola deve assumir um papel redentivo, libertador e servidor. O principal questionamento que permeia o livro busca saber de que forma a redenção, a liberdade e o serviço impactam a pedagogia proposta por Ellen G. White, sobre a qual a pedagogia adventista está construída.

O fazer cotidiano na sala de aula Org.: Andréa Tereza Brito Ferreira e Ester Calland. Editora Autêntica, 2012. (184 páginas). Alguns fatores são necessários para que alunos consigam absorver o conteúdo trabalhado em sala de aula: a) definição dos objetivos de ensino; b) escolha e distribuição dos objetos de estudo; c) recursos didáticos bem definidos; d) uma metodologia com base teórica para que este processo seja sistematizado; e) a correta definição dos métodos de avaliação. É isso que propõem as organizadoras do livro, aplicando essa proposta à língua materna, enfatizando que, para alcançar uma educação eficiente, é preciso que esses passos estejam claramente estabelecidos na mente do educador, de modo que ele se sinta seguro e isso seja transmitido aos alunos. Desta forma, o aprendizado se dará com mais facilidade.

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Crônicas de Nárnia e a filosofia: o leão, a feiticeira e a visão de mundo Gregory Bassham, William Irwin, Jerry L. Walls. Editora Madras, 2006. (288 páginas). De acordo com o autor, um dos objetivos de C. S. Lewis ao escrever a série de livros que formam As Crônicas de Nárnia foi criticar a racionalidade vigente no pensamento da época, que prejudicava a imaginação. O livro tem as crianças como principal público-alvo, porém agrada e atinge grupos de diversas idades. Lewis conseguiu levar o leitor a reflexões sobre ética, conduta moral, fé, religião e sociedade, indo além de carregar o enredo de emoções.

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estante

livros paradidáticos

Eu sou Malala Malala Yousafzai e Christina Lamb. Editora Companhia das Letras, 2014. (344 páginas).

Maus – a história de um sobrevivente

MalalaYousafzai e sua família viviam em vale do Swat, no norte do Paquistão. Quando o Talibã tomou conta do lugar e passou a dificultar o acesso ao estudo para as mulheres, a garota não se conteve a fez sua parte para lutar por seus direitos, escrevendo num blog sobre sua indignação com as diferenças sociais, a desvalorização da mulher e o não direito à educação. Não demorou muito para que sofresse as consequências por enfrentar o regime. Em uma tarde, quando voltava de ônibus para casa, foi alvejada com um tiro na cabeça. Como parte do tratamento, Malala foi levada para o Reino Unido e lá permaneceu com sua família. Em 2014, aos 17 anos, foi a mais jovem vencedora do Prêmio Nobel da Paz. O livro traz retratos de sua infância e o drama vivido nestes últimos dois anos de luta pela igualdade e educação.

Art Spiegelman. Editora Companhia das Letras, 2005. (296 páginas).

Publicada originalmente em duas partes, uma em 1986 e outra em 1991, essa história em quadrinhos é considerada um clássico na categoria, tendo vencido o prêmio Pulitzer de Literatura em 1992. Na obra, Vladek Spiegelman – um judeu polonês sobrevivente de Auschwitz – conta sua história real ao filho – Art, autor do livro. Os judeus são desenhados como ratos (em alemão, Maus, daí o da obra), os alemães como gatos, os poloneses não judeus como porcos e os americanos como cachorros. O traço simples e a soma de recursos como as cores escuras traduzem a frieza e brutalidade do holocausto. Uma forma diferenciada de abordar o relato histórico estudado em sala de aula.

Infiel A droga da obediência Pedro Bandeira. Editora Moderna, 2014. (192 páginas).

O livro aborda o uso de drogas e o se deixar influenciar pelos círculos de amizade ou por “estranhos” que se colocam como benfeitores. A obra conta a história de um grupo de amigos – os Karas – que descobrem uma droga que está sendo testada em alguns alunos de diversos colégios de destaque em São Paulo. Esta substância que induz o usuário a se submeter ao seu descobridor, o Doutor QI. Unidos, os adolescentes conseguem identificar como a droga está sendo distribuída e ajudam os envolvidos a se livrar deste mal.

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Ayaan Hirsi Ali. Editora Companhia das Letras, 2007 (512 páginas). Em 2004, o cineasta Theo van Gogh foi morto e junto com seu corpo foi encontrada uma carta com o aviso de que Ayaan Hirsi Ali seria a próxima vítima. Ayaan fizera, ao ladoTheo, o filme Submissa – uma crítica à repressão feminina do Islã. Na autobiografia, a ativista conta sobre sua infância, as mudanças de país por causa da oposição de seu pai à ditadura na Somália. Desta forma, teve de se adaptar a diferentes roupagens do islamismo, porém nunca deixou de questionar os costumes da cultura. Quando seu pai lhe obrigou a casar com um desconhecido, ela fugiu para a Holanda e, ao se deparar com diferentes valores de liberdade, adotou uma visão ainda mais crítica do islamismo ortodoxo.

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sites úteis

Biblioteca digital (BDTD) A Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) é uma interface que pode se tornar muito útil para o professor. O site integra os sistemas de teses e dissertações das instituições de ensino e de pesquisa, tornando-os acessíveis e mais fáceis de ser encontrados. Outro objetivo da plataforma é tornar notável a pesquisa brasileira para as instituições de pesquisa internacionais. Basta se cadastrar e você pode ter acesso a todo este material. O link para o site é http://bdtd.ibict.br/.

Café filosófico “A criança em seu mundo” TV Cultura. 2012. (51 minutos). A principal proposta de Cortella no vídeo é que vivemos num momento de “eterno presente”, em que se conta de um terrível passado, quando se sonhava com um futuro melhor – a “geração do futuro”. No entanto, este futuro não veio e vive-se sacando esse futuro por antecipação. Trazendo intensidade para viver o presente. Ele aponta que as crianças da atualidade estão crescendo no contexto deste pensamento e discorre sobre os impactos de tal fato. O vídeo está disponível no link http://migre.me/mLt6d ou com o título disposto acima.

Saiba mais no link ao lado:

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Saiba mais no link ao lado:


artigo

a dimensão do currículo a integração com a fé deve ser o objetivo do educador para que a perspectiva bíblica perpasse o processo de ensino-aprendizagem Ellen Rodrigues

O currículo deve comtemplar a criança como um todo. Do ato de brincar ao desenvolvimento da aprendizagem mais sistemática. Somos seres integrais, e assim devemos ser educados.

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A integração fé e ensino é uma das características fundamentais da educação cristã, e um fator determinante para a manutenção da identidade distintiva do sistema educacional adventista. Algumas das maneiras adotadas por professores para inserir uma perspectiva bíblica ao processo de aprendizagem na sala de aula são as práticas de leitura da Bíblia, cultos e a apresentação de testemunhos de fé. Embora estas práticas façam parte da integração fé e ensino, elas ainda permitem uma prevalente compartimentalização do conhecimento, onde o aspecto religioso é separado dos objetivos acadêmicos, tornando a

cosmovisão cristã periférica para o ensino e para as áreas da experiência e conhecimento humano. Nesse sentido, de acordo com Arthur Holmes, em seu livro The idea of a christian college (A ideia de uma escola cristã), o mero fato de uma escola ser confessional não significa necessariamente que a junção da fé com o ensino ocorra na sala de aula. A real integração perpassa o currículo formal, informal, e não formal. Portanto, a escola adventista, de forma geral, necessita estimular a integração fé e ensino na esfera do currículo. Para que a relação fé e ensino faça parte da dimensão do currículo, o professor deve comeescola adventista - ano 19 - volume 32

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artigo

çar a enxergar sua disciplina a partir de uma perspectiva bíblica, onde o saber contemplado é continuamente articulado com base nas Escrituras. Ao pensar o processo de integração, três abordagens podem ser usadas pelo educador: a integradora, a resolução de problemas e a integração experimental. Na abordagem integradora, o educador necessita refletir sobre como a Bíblia se relaciona como conteúdo da disciplina, isto é, de que maneira é possível integrá-lo com as grandes narrativas do grande conflito, criação, redenção etc. Por exemplo, em uma classe que lida com a linguagem e diversidade de pensamento, o professor pode: a) relacionar a narrativa bíblica de Babel com as questões da unidade da língua; b) os conceitos de poder e imperialismo, a diversidade cultural criada pelo evento da narrativa; c) entender como a linguagem molda o pensamento. Além disso, quando o professor for abordar estilos de linguagem, gêneros e criatividade, a forma escrita, e a intertextualidade, ele ou ela pode articular estes temas com o estilo e forma dos relatos da criação nos dois primeiros capítulos de Gênesis. Os alunos podem analisar o trabalho criativo de Deus e a linguagem utilizada ao transformar o caos em belo. Como pode-se observar, as possibilidades são inúmeras. Além disso, o professor pode optar por ter momentos reflexivos, onde textos ou versículos são apresentados aos alunos para que estes relacionem a matéria estudada com os trechos bíblicos. Para exemplificar, Provérbios 5:22-23 menciona questões relacionadas à falta de disciplina pessoal, e como a sabedoria se faz presente na disciplina. Digamos que o aluno estudou anteriormente como estabelecer regras e a importância delas para a disciplina pessoal na sala de aula. Nesse contexto, a passagem bíblica de Provérbios pode levar o aluno a refletir sobre o conteúdo estudado, relacionando-o com as Escrituras. Os alunos também podem refletir sobre os princípios subjacentes da disciplina. Logo, a perspectiva bíblica deve ser utilizada para o entendimento da natureza humana, da rea76

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lidade, princípios éticos etc. Quando um professor apresenta questões relacionadas à violência, à visão de realidade da natureza do ser humano, do pecado e o grande conflito, estas certamente devem ser discutidas com relação ao tema. Quando se discute, em uma aula de biologia, o uso da engenharia genética para aumentar o bem-estar humano e suas implicações éticas, a Bíblia, da mesma forma, necessita ser usada para fundamentar o entendimento do que os constitui. No caso de uma abordagem de integração mais sistemática, como explica Karl Bailey em seu artigo “Faith-learning integration, critical thinking skills, and student development in christian education” (Integração fé e ensino, a capacidade de pensar criticamente e o desenvolvimento dos alunos na educação cristã), a abordagem “resolução de problemas” pode ser utilizada pelos professores. Nessa, alunos trabalham em grupos para encontrar relações entre o tema da disciplina e a visão bíblica. De forma mais específica, eles procuram identificar onde essa temática é explorada, explícita ou implicitamente, na Bíblia. Após uma leitura atenta das passagens bíblicas que abordam direta ou indiretamente essa temática, os alunos passam a refletir sobre como esse assunto estudado em sala de aula pode ser compreendido a partir de uma perspectiva bíblica. O próximo passo, então, é a discussão da maneira pela qual a disciplina tradicional interpreta a temática, observando quais princípios regem os métodos dessa interpretação. Nesse processo, os alunos trabalham com a junção do conhecimento bíblico e disciplinar por duas ou três semanas, e o professor auxilia os alunos no desenvolvimento de habilidades de percepção sobre possíveis oportunidades de integração. Durante esse período, os alunos podem desenvolver pequenas redações sobre sua compreensão dos textos das Escrituras relacionados à disciplina. Como resultado do exercício de integração, os estudantes criam a habilidade de transferir este conhecimento para outras esferas da realidade. Outro importante aspecto da integração fé e ensino no processo de aprendizagem é a in-

A religião faz parte do ser humano, assim, ela não deve ser deixada de lado se há o desejo de que o currículo seja completo. Colocá-la de lado é privar-se de um aspecto importante de nossa essência.

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Quando entendermos a complexidade do ser humano, optaremos por não segmentá-lo. Nosso foco será uma visão integral, na qual a religião fará parte de todas as demandas da vida (e do currículo).

tegração fé e práxis, abordagem conhecida como “integração experimental” (servant-learning), detalhada por Calvin Roso em seu artigo “Doing Impacting Being: a case study of service learning as a method of faith and learning integration” (O fazer impactando o ser: um estudo de caso da integração experimental como um método de integração fé e ensino). De acordo com Roso, a aprendizagem por meio do serviço ajuda os alunos a entenderem como a fé e o ensino podem ser aplicados fora do ambiente da sala de aula. Aqui, os alunos refletem sobre o conhecimento aprendido em sala de aula para resolver necessidades da comunidade. Por exemplo, após uma reflexão sobre questões relacionadas à violência, eles podem desenvolver oficinas ou campanhas para amenizar a violência numa determinada escola ou comunidade. Em um segundo exemplo, após aprenderem sobre literatura e leitura em sala de aula, os alunos podem ajudar outros estudantes em séries iniciais a ler e interpretar textos. Os próprios alunos podem 78

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elaborar o projeto e o professor produzirá um ciclo de reflexão e ação, onde eles possam identificar resoluções de problemas ou necessidades, apoiando suas ações em princípios bíblicos. Neste processo, os estudantes podem desenvolver um trabalho de autorreflexão sobre sua contribuição para a comunidade, juntamente com os princípios bíblicos adquiridos. Portanto, o educador cristão necessita ser intencional ao integrar a perspectiva bíblica com suas disciplinas, incorporando no processo de ensino-aprendizagem as abordagens integradora, de resolução de problemas e experimental, para que o alunos contemplem a experiência humana de forma integral e bíblica.

Ellen Rodrigues é doutoranda em Educação pela Andrews University (EUA)


coluna

comunicação como estratégia conjunto denominado mix de marketing garante o sucesso de iniciativas comunicacionais em qualquer organização, inclusive em instituições de ensino Felipe Lemos

Você, professor, gestor educacional, administrador escolar, precisa entender duas coisas sobre comunicação corporativa. São dois princípios básicos que precisam ser levados em conta. O primeiro deles é que comunicação corporativa é, acima de tudo, estratégica, ou seja, tem de ser pensada para que se alcancem os objetivos propostos. Não se faz comunicação estratégica somente por intuição, mas também por conhecimento técnico, planejamento, medição de resultados, entre outras ações. Outro aspecto é que a comunicação estratégica, conforme grande parte dos especialistas concorda, envolve vários conceitos do marke80

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ting e não apenas um ou dois deles. É o conjunto do chamado mix de marketing que garante o sucesso de iniciativas comunicacionais em qualquer organização, inclusive, escolas, colégios e universidades. Abaixo coloco algumas ideias que gostaria de compartilhar com você:

Planejamento comunicacional

Entenda primeiro e depois produza um planejamento comunicacional. Tenha em mente que sem planejar algo, dificilmente você conseguirá obter os resultados comunicacionais esperados. Muitos se admiram da visibilidade que certas instituições possuem, imaginando que isso ocorre por sorte ou

simplesmente porque se investiu muito dinheiro em ações promocionais. Isso nem sempre é verdade. Por trás, geralmente, há planejamento. Saiba exatamente o que você quer divulgar (que projetos pedagógicos, novidades da infraestrutura da escola, resultados em termos de desempenho acadêmico, investimento ambiental ou de responsabilidade social etc.), quando se quer divulgar, de que maneira essa divulgação vai acontecer, quais meios serão usados, qual será o público-alvo a ser alcançado e quanto se quer investir de dinheiro. Esse é um bom início.

Comunicação se faz com gente

Não caia na ilusão de que comunicação estratégica se resuma ao uso da tecnologia. Ou seja, tudo seria resolvido se o professor criasse uma página no Facebook ou se o diretor fizesse anúncios sobre a escola duas vezes por ano em uma revista de grande circulação ou em vários outdoors. Trabalhe com equipes profissionais de comunicação para planejar e operacionalizar boas ações. Isso inclui jornalistas, profissionais de marketing, publicitários, profissionais de web, designer etc. Se não é possível ter uma equipe multiprofissional, por restrição de custos, contrate pelo menos uma pessoa para desenvolver esse trabalho. Quem sabe uma pequena agência de publicidade não consiga ajudar a sua escola a dar os primeiros passos? Vale muito o investimento, e ele é menor do que você pode imaginar. E lembre-se de definir bem qual estrutura esses profissionais terão. Vai além de ter um telefo-

ne celular, uma mesa, um notebook, uma sala e um salário. Profissionais de comunicação precisam participar das decisões estratégicas da escola, do colégio e da universidade. Saber do que se passa para ajudar a tornar visíveis as atividades, tanto para os públicos internos quanto externos.

Só para professores

Para os professores, a dica é a seguinte: pensem em seus projetos de sala de aula como maneiras de divulgar a rede educacional, a unidade em que trabalham ou mesmo o seu trabalho. Muitas vezes um projeto inovador está sendo feito e ninguém fica sabendo. Muito menos aqueles pais que, por conta desse tipo de informação, acabariam motivados a matricular seus filhos na escola, no colégio ou na universidade. Vocês são parte da comunicação estratégica do lugar onde trabalham. Sabe por quê? Por uma razão simples: no marketing, chamamos de produto tudo aquilo que é produzido (seja um produto tangível propriamente dito ou um serviço) e que precisa ser distribuído (praça) a um certo custo (preço) com todo o esforço de divulgação (promoção). Produto, no caso da educação, pode ser uma atividade diferente com alunos, um projeto a longo prazo, um novo equipamento da escola, uma nova sala de aula, enfim, tudo o que pode ser promovido. E você pode ter um ótimo produto para ser divulgado. Comece a pensar nisso hoje! Jornalista e gerente da Assessoria de Comunicação da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia

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a importância do planejamento da lição do ponto de vista pedagógico, planejar as aulas traz vantagens como economia e controle de tempo e facilidade na avaliação Adolfo S. Suárez

Em nossa cultura prática, é muitas vezes inconcebível tirar duas ou três horas para planejar determinada atividade; é preferível executar sem planejar. Isso evidencia que o ato de planejar é visto, na maioria das vezes, como algo inútil, uma perda de tempo. Como educadores cristãos, devemos encarar nosso ofício com seriedade, e isso significa, entre outras coisas, planejar cuidadosamente as aulas que conduzimos. Afinal, numa escola as aulas devem ser planejadas. Como diz Ellen G. White no livro Educação, “todo professor deve cuidar de que seu trabalho tenda a resultados definidos. Antes de tentar ensinar uma matéria, deve ter em seu espírito um plano distinto, e saber o que pre82

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cisamente deseja conseguir”. Em outras palavras, ao assumirmos a classe, devemos ter claro – em nossa mente e no papel – aquilo que pretendemos ensinar, bem como alcance e resultados que esperamos obter ao abordar o tema preparado. No livro 101 ideias criativas para professores, David Merkh e Paulo França descrevem o apóstolo Paulo, que certamente era um excelente professor, como alguém que tinha alvos e objetivos bem claros em seu ensino e pregação. Em Colossenses 1:28-29 lemos que ele adverte e ensina as pessoas: “com toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo. Para isso eu me esforço, lutando conforme a sua força, que

atua poderosamente em mim”. Paulo não pregava para simplesmente “ver o que ia acontecer”. Não! Ele tinha um plano, um objetivo claro em mente: Que os seres humanos alcançados pelo evangelho fossem aperfeiçoados em Cristo. E para que isso ocorresse, ele estava disposto a sofrer qualquer sofrimento (Gl 4:19). É evidente, então, que o apóstolo Paulo era guiado por um objetivo claro, o que, obviamente, mostra que ele planejava suas ações. Do ponto de vista pedagógico, planejar as aulas traz muitas vantagens, tanto para o professor, quanto para os alunos. Daí a importância de gastar tempo nisso. Algumas dessas vantagens são ainda citadas por David Merkh e Paulo França da seguinte maneira: — O planejamento permite que a lição mantenha o rumo certo, avançando na direção dos objetivos estabelecidos; — Permite economizar e controlar o tempo, pois sabemos exatamente o que será feito com a classe, e quanto tempo pretende-se gastar em cada atividade; — Possibilita uma melhor organização do tempo, ajudando a evitar imprevistos e até esquecimento de algum material útil para determinada aula; — O planejamento também lembra ao professor e à professora os elementos essenciais para

a aula: quais livros serão usados, que atividades serão feitas, que perguntas serão trabalhadas, qual o método a ser praticado, que tarefas serão solicitadas etc.; — Incentiva a reflexão sobre o assunto a ser apresentado; — Permite que o procedimento escrito seja arquivado para uso futuro; — Facilita a avaliação da aula, bem como posterior reformulação de estratégias e recursos. Citado por Howard Hendricks no livro Ensinando para transformar vidas, o educador John Milton Gregory afirma que “há muitos professores que vão para a sala de aula totalmente despreparados ou preparados apenas em parte. São como mensageiros sem mensagem. Falta-lhes a energia e o entusiasmo necessários para produzir os resultados que, centralizado por direito, devemos esperar de seu trabalho”. Como sinaliza o Dr. Gregory, assumir uma classe sem estar devidamente preparado certamente atrapalha os resultados que poderiam ser obtidos. Por isso, vale a pena planejar; melhor: é necessário planejar. Mais ainda: É muito importante planejar. Doutor em Ciências da Religião pela Umesp; coordenador do Núcleo de Integração Fé e Ensino do Unasp

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vocação ou profissão? como fazer a diferença na vida dos alunos através de uma prática docente idealizada na paixão de ser professor Douglas Menslin

O ensino que realmente causa impacto em quem o recebe não é o que passa de uma mente para outra, mas de um coração para o outro. E esse ensino não é fruto apenas de uma mente brilhante, mas de um coração vibrante. Para os hebreus, o ensinar com o coração era alcançar o aluno através do intelecto, emoção e ação. Ou seja, era alcançar o aluno como um todo. No livro Conversas com quem quer ensinar, Rubem Alves apresenta uma analogia muito interessante, quando compara os professores com o jequitibá e o eucalipto. Para ele, jequitibá não pode ser comparado ao eucalipto, e isso se deve pelo simples fato de que o primeiro possui per84

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sonalidade, revela estórias e histórias que foram construídas junto as suas sombras. Já o eucalipto é produzido em série, idêntico aos outros, onde é substituído com rapidez. Educadores são como os jequitibás, possuem personalidade, ajudam a construir histórias e formar o caráter de seus alunos. Professores são como o eucalipto, existem aos milhares, mas, na maioria das vezes passam pela vida de seus alunos sem exercer nenhuma influência, sem causar nenhum impacto. Professor é profissão, como o próprio nome já revela, não é algo que vem de dentro, por amor, por emoção, alcançando o coração do aluno. Edu-

cador não é profissão, educador é vocação. E toda vocação nasce de um grande desejo de fazer o melhor, não para si, mas o melhor para o outro, para quem deseja ser beneficiado com a sombra de sua influência, assim como o jequitibá. O educador possui uma face, revela sua identidade, seu nome, sua vida aos que estão sob sua tutela. Ele habita no mundo onde o que vale é a relação que o liga aos alunos. Não a uma massificação de alunos, mas um entre uma multidão. O educador vê no aluno alguém que possui nome, identidade, portador de sua própria história. Ele procura identificar-se com suas fragilidades e tristezas, para ser de alguma forma conduto de esperança. Já aquele que exerce a profissão de ensinar, digo professor, está preocupado com o crédito cultural a ser transmitido àqueles que ali estão para aprender. Mas aprender o quê? Aprender aquilo que ele professor acha ser necessário para a “vida”, onde registros são feitos, notas são auferidas a conteúdos concluídos, o que sobra? Apenas marcas em papéis amarelados com o tempo, ou marcas digitadas em memórias de computadores, mas não gravadas na memória e no coração de seus alunos. Estaria a vocação de educador desaparecendo do ambiente escolar como as outras profissões? Não acredito que os educadores estejam deixando de existir, o que estamos precisando é reavivar a vocação adormecida que existe dentro de nós. O que está em jogo não são cursos de formação de professores, técnicas especiais ou currículos bem elaborados. Não é necessário que pessoas

administrem nossa vida, nós precisamos administrar nosso querer e nosso fazer. Vocação não nasce em escolas ou faculdades, mas é construída com desejo pessoal de realizar algo diferente daquilo que os outros realizam. Os grandes empreendimentos do mundo não surgiram por acaso, nem na mente burocratizada de pessoas profissionalizadas para aquilo. Os grandes empreendimentos surgiram na mente de pessoas que tinham paixão e amor por aquilo que estavam propondo e sonhando. Somente depois, quando o desejo criador deixa de se fazer presente, quando as correntezas impetuosas se transformam em lagos parados, que se estabelecem os procedimentos, a burocracia, a rotina, enfim a profissão. Nunca encontrei pessoas apaixonadas pelo que fazem se preocupando com a aposentadoria, ou querendo encontrar um meio para trocar de atividades porque não aguentavam mais aquilo que realizavam. As pessoas apaixonadas gastam tempo e a si próprias pela causam que defendem. Concluindo, digo que todo professor “um dia” poderá ser um educador. Porém, para que isso aconteça, é preciso acordar. Acordar para instaurar novos mundos, sim, porque um educador é um fundador de mundos, mediador de esperanças, pastor de projetos, idealizador dos sonhos de seus alunos. Doutorando em Educação; pastor, educador, escritor; diretor de Educação da União Sul Brasileira da IASD

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aprendizagem online tecnologias da informação e da comunicação (TIC) já integram o dia a dia de muitas escolas e é necessário saber como trabalhar com ela Andressa Paiva e Adriano Coelho

Em busca de ambientes educativos mais atualizados ou sintonizados com as exigências do mundo moderno, as tecnologias da informação e da comunicação (TIC) passaram a integrar o cotidiano de muitas escolas, nos diferentes níveis de ensino, visando o desenvolvimento dos alunos, de competências, habilidades, valores e, principalmente, maior acesso às informações e à construção de novos conhecimentos. Esta integração (TIC/Educação) potencializa mudanças significativas nos processos de ensinar e aprender na escola, contribuindo com a formação de sujeitos mais ativos, críticos, capazes de buscar informações e transformá-las em conhecimentos úteis para uma melhoria de vida pessoal e profissional. 86

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Para tanto, a metodologia adotada nesse processo de integração torna-se essencial. Aqui propomos o uso da webquest, um sistema de questionário online, onde todas as pesquisas devem direcionar para a própria internet, se utilizando de vários meios e formatos. Aqui vemos um grande exemplo do uso efetivo das TIC com fins educacionais. A webquest possibilita uma interação plena dos alunos por meio de videoconferências, chats, fóruns, e-mails, wikis e blogs. Integra diferentes mídias com sons, imagens, textos, vídeos, animações, entre outros, contemplando e estimulando as múltiplas inteligências. Sua proposta atende a diferentes níveis de ensino, apresentando graus de

complexidade diferenciados, de acordo com a faixa etária do público ao qual se destina. Desta forma, a internet (já utilizada pelos alunos para outros fins) estende o ambiente de sala de aula, proporcionando a materialização de todas as demandas solicitadas em uma aula, agora de forma interativa. A webquest representa uma busca ou aventura, na qual a atividade deve estar orientada a partir da informação que o aluno encontra ao navegar, constituindo-se ao mesmo tempo, um recurso pedagógico produtivo e provocativo de reflexão. Um ponto crítico é a importância do professor como alguém bem preparado para atuar nesse contexto como mediador do processo de construção do conhecimento. A estrutura de uma webquest é formada de introdução, tarefa, processos e recursos, conclusão, avaliação e créditos. A metodologia de trabalho com projetos associa-se facilmente ao trabalho com as webquests, pois consideram as dúvidas e indagações vindas das necessidades e interesses dos alunos e professores. Partindo do conhecimento tácito, a aprendizagem é desenvolvida pelas interações desencadeadas entre os sujeitos – autores ou coautores – envolvidos no processo.

Alunos e professores assumem o papel de atores e aprendizes, desenvolvendo a autonomia, por meio da prática interdisciplinar, na qual a intuição, imaginação e prazer emergem a partir dos desafios propostos, no trabalho com webquests. Assim, além de uma forma inovadora e interativa de ensino, se potencializam ao aluno maiores oportunidades de autonomia de pensamentos e ideias, ainda que direcionados em certos limites, pelo professor. Por exemplo, é possível utilizar uma webquest para fins de introdução, revisão e ainda avaliação de conteúdos. De que forma? Para introduzir o conteúdo, a proposta da webquest é de diagnóstico e sondagem, buscando verificar o que o aluno já sabe sobre os conhecimentos a serem abordados do novo conteúdo. No caso da revisão, para destacar e direcionar a atenção dos alunos aos pontos mais relevantes. Por fim, ao usar essa ferramenta para fins avaliativos, pode-se requerer nela um apanhado geral do conteúdo, a fim de oportunizar ao aluno uma síntese de tudo que foi tralhado em sala. Coordenadora dos Cursos de Pós-graduação em Educação – Unasp Campus Virtual; Gerente Acadêmico e Coordenador-geral de Pós-graduação – Unasp Campus Virtual

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o professor e o par de óculos diferentes perspectivas discursivas servem para permitir ao educador enxergar a realidades sem lentes Joubert Castro Perez

O cordelista Carlos Soares da Silva escreveu um interessante texto intitulado “O professor está sempre errado”. Nele, lamenta que professor seja o artigo mais barato que existe na praça. E justifica, com ironia, mais ou menos nos seguintes termos: se o professor é jovem, acusam-no de “inexperiente”; se velho, de “superado”. Se não tem carro, é um “pobre coitado”; se tem, “chora de barriga cheia”. Se eleva a voz, “vive gritando”; se abaixa o tom, “ninguém escuta”. Se não falta às aulas, é “caxias”; se falta, “turista”. Se conversa com os colegas, “está ‘malhando’ os alunos”; se não conversa, é “desligado”. Se dá muita matéria, “não tem dó do aluno”; se pouca, “não o prepara”. Se brinca com a classe, 88

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é “metido a engraçado”; se não o faz, é um “chato”. Se chama a atenção, leva a pecha de “grosso”, se não chama, “não sabe se impor”. Se faz prova longa, “não dá tempo”; se curta, “tira as chances do aluno”. Se escreve muito, “não explica”; se explica, “o caderno não tem nada”. Se fala corretamente, “ninguém entende”; se fala a língua do aluno, “não tem vocabulário”. Se exige, passa por “rude”; se elogia, “por debochado”. Se o aluno é reprovado, é “perseguição”; se aprovado, “deu mole”. Ao assumir a posição de discurso e as “dores” dos professores, o texto de Soares suscita uma reflexão sobre os sentidos construídos pelo discurso na escola e sobre o papel dos sujeitos implicados

nesse discurso: professores, alunos, pais e administradores. A noção de “sujeito”, segundo a análise de discurso, estabelece que os sujeitos são livres para acessar as formas da língua e dizer o que bem entendem. Não trata, portanto, de sujeitos empíricos, individuais, mas de sujeitos de discurso que dizem o que lhes é permitido pela posição social, ideológica e histórica que ocupam. Assim, é natural que diferentes posições de sujeito gerem discursos e práticas conflitantes, contraditórias e mesmo polêmicas, no espaço escolar. Se de um lado o sujeito-professor, ao passar de seu lugar empírico para o lugar sociodiscursivo de promotor do saber, sofre as coerções desse lugar de representante do discurso pedagógico e precisa levar em conta o que esperam dele administradores, pais e alunos; de outro, o aluno que assume o lugar sociodiscursivo de sujeito ao/do saber, atua vertendo, “traduzindo” o discurso do professor e da escola, a partir de sua perspectiva. Diferentes perspectivas discursivas funcionam como cosmovisões. Têm, como um par de óculos, a serventia de permitir enxergar a realidade. Todos nós, conscientemente ou não, colocamos nossos “óculos” e, ao nos “vestirmos” de suas lentes, passamos a ler, agir e reagir à realidade, atendendo às especificações de nossas “lentes” - os pressupostos básicos do lugar social que ocupamos. O que parece inacreditável, contudo, é o efeito disso: a realidade antes complexa e multifacetada agora nos parece transparente como um raio de sol. E deixamos de enxergar o óbvio: que o par de óculos não passa de um instrumento sujeito à descrição e análise, do qual podemos nos distan-

ciar para avaliar sua necessidade, funcionalidade e limites. Não se confunde com a realidade! É por esse efeito de transparência e evidência que, lamentavelmente, nos filiamos a velhos chavões do discurso escolar como se estivessem em pé de igualdade com os dez mandamentos. A compreensão desse fenômeno de linguagem pode contribuir para uma atmosfera menos rarefeita no ambiente escolar. A consciência do caráter não transparente da linguagem pode ajudar, aqueles que lidam com ensino e aprendizagem, a tratar com bondade os alunos que, na condição de sujeitos, reproduzem seus paradigmas, suas expectativas quanto à escola e aos professores que cumprem a função de orientá-los na aprendizagem. Para alguns, pode parecer transparente o discurso de que o bom professor é o que é “amigo”, o que não exige nas provas, na disciplina, é “bonzinho”; e aquele que se preocupa com o conteúdo e, além de preparar para o Enem ou vestibular, prepara para vida, pode ser considerado, às vezes, um “chato”. Podemos envidar esforços no sentido de transformar a atmosfera da escola, tornando-a um lugar mais aprazível e favorável à aprendizagem; podemos e devemos tirar nossos óculos e colocar os óculos dos alunos, a fim de sintonizar nosso discurso à linguagem de seu coração. Jesus, o professor de professores, deixou sua posição de Deus no céu e assumiu a condição de criatura, para compreender melhor a humanidade e empatizar com seus sofrimentos e dilemas. Sigamos seu exemplo. Mestre em Linguística pela Unicamp e professor dos cursos de Letras e Tradutor e Intérprete do Unasp

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sócrates, tecnologia e educação a tecnologia computacional tem fornecido contribuições importates mas isso não justifica a sua implementação em todos os níveis da vida Milton Torres

“Ó habilidoso Thoth, a um é dado criar artefatos, a outros a julgar em que medida males e benefícios advêm deles para aqueles que os empregam. E assim acontece contigo: em virtude de teu apreço pela escrita, que é tua filha, não vês o seu verdadeiro efeito, que é o oposto daquele que dizes. Se os homens aprendem a escrita, ela gerará o esquecimento em suas almas, pois eles deixarão de exercitar suas memórias, ficando na dependência do que está escrito. Assim, eles se lembrarão das coisas não por esforço próprio, vindo de dentro de si próprios, mas, sim, em função de apoios externos. O que você inventou não é uma receita para a memória, mas apenas um lembrete. Não é o verdadeiro caminho 90

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para a sabedoria que você oferece aos seus discípulos, mas apenas um simulacro, pois dizendo-lhes muitas coisas, sem ensiná-los, você fará com que pareçam saber muito, quando, em sua maior parte, nada sabem. E eles serão um fardo para seus companheiros, pois estarão cheios, não de sabedoria, mas da pretensão da sabedoria” (Platão). Nas considerações sobre o advento do computador como tecnologia educacional, traçando-se um paralelo com o aparecimento da escrita e o suposto preconceito de Sócrates com aquela novidade tecnológica, é necessário partir do texto que parece estabelecer essa analogia. No final do Fedro, Platão, de fato, mostra os comentários de Só-

crates acerca do tema da invenção da escrita. No entanto, a fala, no texto, não reproduz as próprias palavras do filósofo. Não se trata, portanto, apenas de se ouvir a voz de Sócrates através da fala de Platão. Platão apresenta a descrição que Sócrates faz das palavras ditas por Tamuz a Thoth. Ou seja, Sócrates não está expressando seu preconceito contra a escrita. Está, de fato, refletindo sobre a compreensão que a mitologia egípcia tinha do valor da escrita. Além disso, o Sócrates de Platão não está tratando do valor da escrita de modo geral. A escrita nem é o seu tema. Ele simplesmente se refere à escrita porque, com a alusão à mitologia egípcia, ele busca subsídios para provar a tese de que discursos enlatados não devem ser admitidos na arte da oratória. Isto é, ele não se levanta contra todas as formas de escrita, mas aquela usada para dar a um orador medíocre condições de parecer mais do que, de fato, é. Outra preocupação de Sócrates é que as pessoas que escrevem poemas e discursos belos transcendam a letra escrita e, em realidade, vivam o que escreveram. Seria incoerente que Platão retratasse o filósofo como inimigo da escrita, se o próprio diálogo platônico, no qual se notabilizou, é, acima de tudo, um exercício da escrita. As preocupações de Sócrates se mostram atuais e essenciais para a reflexão filosófica: credibilidade, autenticidade e competência discursivas.

Por outro lado, mesmo que Sócrates tivesse demonstrado um preconceito sem fundamentação e reflexão contra a escrita, e se provasse, como querem alguns, que até os homens sábios demonstram resistência às inovações, sendo, portanto, avessos às mudanças, isso não provaria a tese de que toda mudança é boa. As mudanças podem ser boas ou más, dependendo de como são implementadas e a que preço. A tecnologia computacional tem dado contribuições importantíssimas para a melhoria da vida do homem atual. Isso não garante, contudo, que ela deva ser implementada em todas as dimensões de nossa vida. Se a tecnologia computacional penetrar em domínios que têm pouca afinidade com ela, isso poderá constituir um grave empecilho à realização humana. Para citar os exemplos mais óbvios, embora o computador deva ser usado na igreja e na escola, não deve se tornar a razão de ser da adoração e da educação. Que bom que haja resistência ao seu uso indiscriminado. Essa resistência serve para alertar os ágeis e mecânicos acólitos da tecnologia que, para convencer a todos, precisam ir além da prestidigitação de fórmulas engarrafadas e adornadas com animações do tipo luz de árvore de natal. Doutor em Arqueologia Clássica pela University of Texas System; coordenador do curso de Letras e Tradutor e Intérprete no Unasp

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o professor em sua prática de ensino há uma tendência de repetição da experiência profissional a partir do que o próprio educador viveu em sua vida estudantil Eliel Unglaub

Geralmente os professores questionam a sua própria prática de sala de aula quando confrontados com os desafios que enfrentam diariamente. E muitos vêm perguntar: o que posso fazer? Como posso melhorar meu desempenho em sala de aula? Muitas vezes a ação do professor não acontece como ele gostaria, nem como a escola propõe em seu projeto político-pedagógico, mas de acordo com as suas experiências como aluno, isto é, ele se comporta segundo suas crenças mais íntimas, conforme a educação que recebeu tanto em casa como na escola. Cada professor tem seu universo construído a partir de suas experiências e vivências na escola, durante todo o tempo em que este92

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ve assentado nos bancos. Este universo determina suas crenças em várias áreas de atuação, desde a epistemologia, a psicologia e pedagogia, a visão de mundo e a própria postura em relação à vida e ao trabalho. Em seu livro Fundamentos pedagógicos e espistemológicos do fazer docente, Silza Valente cita que optar por um meio de aprendizagem “significa escolher um procedimento pedagógico que seja coerente com nossa visão de ser humano, natureza, sociedade e das relações que se estabelecem entre esses elementos”. O grande educador Paulo Freire tinha uma visão clara da influência do professor em seus alunos, seja ele tradicional ou inovador, está

sempre inspirando e deixando marcas em seus alunos para sempre. Ele expressa o seu pensamento, no livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, da seguinte forma: “o professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca”. Durante a formação de professores, são estudados vários teóricos com definições de aprendizagem, porém percebemos que mesmo com estes estudos, para o professor, o que realmente fica como definição de aprendizagem é a forma como ele aprendeu, isto é, como ele apropriou-se do conhecimento enquanto aluno. É interessante notar que a tendência apresentada por cada professor é a de compreender como aprendizagem seu próprio perfil de aprendiz enquanto aluno e usá-la como metodologia de ensino em suas atividades em sala de aula. Ou seja, há uma tendência de repetir em sua experiência profissional aquilo que o professor vivenciou em sua vida estudantil. Especialmente o desempenho de bons professores, ou mais especificamente ainda, a atuação metodológica de professores com quem os alunos se identificaram, pelo fato do professor ser carismático e eficiente em suas aulas. Logo, se buscarmos uma receita pronta de procedimentos a serem adotados em

sala de aula, não a encontraremos; entretanto, se quisermos ter um termômetro do trabalho que estamos executando, devemos nos perguntar: como minha vida foi moldada e em que aspecto necessito de crescimento? A resposta poderá se converter numa proposta que é a reconstituição de nossa epistemologia como professores a partir da auto-observação, do autoconhecimento para mais tarde traçarmos o caminho e o destino ao qual desejamos chegar como educadores. Vemos a necessidade de um autoconhecimento enquanto professor, um pensar em si como ser que aprende e que ensina e como isso se dá em sua prática em busca de coerência e maturidade profissional. Este é um grande desafio, pois diferentemente de outras profissões que trabalham com objetos externos, a profissão de professor trabalha com crenças internalizadas durante a vida. O ponto importante é que necessitamos ter controle sobre as nossas ações e atitudes para crescermos como professores e como seres humanos e assim conseguirmos chegar a ser o que realmente gostaríamos de ser. Quando conseguirmos compreender isso, será como tomar as rédeas da ação em nossas mãos, agora com consciência da ação – do fazer docente –, deixaremos de ser escravos das crenças em que fomos desenvolvidos e partiremos para uma ação mais científica e coerente que culminará em resultados mais eficazes em sala de aula. Doutor em Educação pela Unicamp, professor do Unasp

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literatura nossa de cada dia a literatura de ficção é um dos meios mais poderosos do professor na prática docente em sala de aula Afonso Ligório Cardoso

Há dias em que a aula está sendo meio morna, sem atrativo, tecnicamente perfeita, mas sem sabor, sem despertar interesse. Mesmo com o esforço e dedicação, o professor não consegue dar sabor àqueles momentos na classe. Aluno e professor não estão suportando a aula desgastada. Mas a matéria tem que andar. Esse cenário acontece em qualquer disciplina. A reviravolta pode acontecer com uma pitada de ficção. Não importa o nível acadêmico da aula: infantil, médio ou superior. O cérebro desperta e se anima com a ficção. A aula passa a ser legal, ainda que tenha conteúdo difícil. Parece mágico, mas a literatura tem o poder de tirar o cérebro da apatia e estagnação. O que há de 94

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especial na literatura que traz essa força que desperta a mente para a vida? Existem muitas respostas. Vamos a algumas delas. A literatura é fonte rica de interdisciplinaridade. É a área do conhecimento mais fértil para a interface com os outros tipos de conhecimento. Ela consegue, com naturalidade, dialogar com saberes diversos, como: arte, música, história, biologia, filosofia, religião, matemática, sociologia, línguas etc. Toda forma de conhecimento pode estar presente na literatura de forma criativa. Aí está: a criatividade é marca da mente, do pensamento. E a literatura é a arte criativa por excelência na interdisciplinaridade com qualquer conteúdo. A fic-

ção proporciona essa liberdade primitiva; desde as origens, o ser humano tem na especialidade algo artificial, que exige dele uma disciplina e rigor antinatural, ainda que necessário. Até mesmo uma aula da própria disciplina de literatura, que estuda a ficção, que parta para a especialidade, sem criatividade, torna-se sem sabor. Na mente se travam lutas de toda ordem; é o lugar onde as decisões cruciais são tomadas. A literatura de ficção entra e provoca as percepções necessárias ao processo ensino-aprendizagem, pois sua natureza é lidar com a pulsão da morte e as tensões da vida. A especificidade, ao contrário, faz a mente convergir para um centro ou um ponto fixo, esquecendo ou abandonando outras faculdades da mente, pois não lhe é necessário mobilizar a diversidade dos aspectos mentais para seus objetivos de aquisição do conhecimento. A literatura é conhecimento em teia e em rede. Quando trazida à tona na sala de aula, instiga o aluno a ser um indivíduo crítico em relação ao mundo. Nesse sentido, ela é prática, pois o aluno passa a ter uma visão crítica até mesmo do conhe-

cimento que exige a especificidade. A arte literária lida com a linguagem da imaginação, feixe de possibilidades e verossimilhança. Imagine uma teia de aranha. Se você tocar num fio qualquer, toda a teia recebe o impacto do toque. Assim é a literatura. Ela toca em todos os tipos de conhecimento, logo, em todos os aspectos da vida. Com essas três breves respostas à pergunta inicial, indicamos a importância de o professor inserir na aula – em algum momento escolhido no desenrolar do conteúdo qualquer de sua explanação –, uma pitada de um causo, um conto, um romance, uma poesia. A aula ganha dinâmica, pois desperta a mente para o aprendizado. A aula fica mais interessante. Por que sofrer numa aula insípida se o professor tem à disposição um recurso que suaviza a caminhada na vida acadêmica? A ficção pode ser o tempero para o sabor da aula. Que tipo de literatura o professor pode mobilizar para isso? Esse é um assunto para outra conversa. Doutor em Literatura brasileira pela Unesp; Professor e Diretor de Graduação do Unasp

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o direito de brincar e ser criança a brincadeira está diretamente associada à infância e às crianças, mas ainda é considerada de pouco valor pela educação formal Cristina Zukowsky-Tavares

O mundo contemporâneo, marcado pela pressa das famílias, pelo desenrolar da vida em pequenos apartamentos nas grandes cidades, e os momentos de lazer desfrutados nos corredores de shoppings ou nas telas de games nos fazem refletir nos cenários de vida e formação que construímos. As crianças se encontram em nossas agendas e prioridades? Qual é o significado do brincar e ser criança na vida e constituição das aprendizagens infantis? Por que à medida que avançam os segmentos escolares se reduzem os espaços e tempos do brincar e as crianças vão deixando de ser crianças para serem alunos? 96

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A brincadeira é uma palavra estreitamente associada à infância e às crianças, mas ainda é considerada irrelevante ou de pouco valor do ponto de vista da educação formal, assumindo muitas vezes o significado de oposição ao trabalho, tanto no contexto da escola como da família. A intensa produção teórica já acumulada sobre a importância da brincadeira na constituição dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem não foi capaz de modificar as ideias e práticas que reduzem o brincar a uma atividade à parte, paralela, de menor importância no contexto da formação da criança. Quando as crianças pequenas brincam de faz de conta, assumem o papel dos “outros” (pai, mãe, mé-

dico, animal de estimação, bombeiro, professor, pintor etc.), refletem sobre suas relações com o outro e tomam consciência de si e do mundo, estabelecendo outras lógicas e fronteiras de significação da vida. O brincar envolve complexos processos de articulação entre o que já se sabe e o novo, entre a experiência, a memória e a imaginação, entre a realidade e a fantasia. É assim que cabos de vassoura tornam-se cavalos e com eles as crianças cavalgam para outros tempos e lugares; pedaços de pano transformam-se em capas e vestimentas de príncipes e princesas; pedrinhas e folhas em comidinhas; cadeiras em casas e carros etc. Vozes, gestos, narrativas e cenários são criados e recriados num jogo sem fim. Posso criar espaços em que a vida pulse, onde se construam ações conjuntas, amizades sejam feitas e criem-se culturas. Como? Colocando à disposição das crianças materiais e objetos para descobertas, ressignificações, construções. Compartilhando, sendo parceiros, rindo e sonhando juntos, respeitando-as. Temos alegria em frequentar a brinquedoteca ou brincar ao ar livre com as crianças e refletir nas interações que ali acontecem? Esses momentos de brincadeira são intencionais em nosso planejamento? De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a infância não termina aos 5 anos e 11 meses – ao final da educação infantil –, mas continua

até os 12 anos. Como a escola de ensino fundamental considera a infância em seu currículo? Não esqueço a experiência de participar de uma assembleia com todos os alunos do ensino fundamental da Escola da Ponte, em Portugal, quando, depois de votar em ata as atividades propostas e registradas no último encontro semanal, os estudantes realizaram o planejamento participativo das atividades da semana da criança. Naquela ocasião, lembrei-me de forma reflexiva de tantos anos na coordenação pedagógica de escolas infantis, ouvindo sugestões apenas dos docentes e adultos na elaboração de projetos semelhantes. Ao não atribuir vez e voz às crianças, deixamos de privilegiá-las. São elas atores sociais? Ouvimos e registramos seus interesses e preocupações? Uma concepção adultocêntrica do desenvolvimento infantil equivale a dizer que sua voz não é escutada na organização e condução do processo de aprendizagem. Ocorre uma escolarização da infância. Podemos hoje repensar o desenho de currículos e planos que valorizem e articulem a curiosidade própria das crianças, suas experiências e saberes com todo o nosso patrimônio artístico, ambiental, científico e tecnológico, tendo em vista o seu desenvolvimento integral. Doutora em educação pela FEUSP e professora do Programa de Mestrado em Promoção da Saúde do Unasp

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White responde

conselhos práticos de Ellen G. White sobre educação Numa época de recursos tecnológicos revolucionários, qual a postura apropriada do professor, a fim de não perder a pessoalidade do ensino? “Na obra educativa de hoje, é necessário interesse pessoal e atenção para com o desenvolvimento individual. Muitos jovens que aparentemente nada prometem, possuem talentos que não são aplicados. Suas capacidades permanecem ocultas por causa da falta de discernimento por parte de seus professores. Em muito menino ou menina de aparência pouco atraente, como a pedra não trabalhada, pode-se encontrar precioso material que resista à prova do calor, tempestade e pressão. O verdadeiro educador, conservando em vista aquilo que seus discípulos podem tornar-se, reconhecerá o valor do material com que trabalha. Terá um interesse pessoal em cada um de seus alunos, e procurará desenvolver todas as suas faculdades. Por mais imperfeitos que sejam eles, incentivará todo o esforço por conformar-se com os princípios retos” (adaptado de Educação, 232). Em nossos dias, parece natural enfatizar a ideia de que devemos ajudar os alunos a desenvolver seu talento e potencial; nesse sentido, há uma avalanche de teorias e testes ensinando os professores a trabalhar com o talento específico de cada estudante. Com isso, cultivamos tendência de formar “especialistas”. Está correta essa postura? “Deve-se ensinar os estudantes a ter em vista o desenvolvimento de todas as suas potencialidades, tanto as mais fracas como as mais fortes. 98

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Muitos têm a disposição de restringir seu estudo a certas áreas, para as quais têm gosto natural. Devemos precaver-nos contra este erro. As aptidões naturais indicam o rumo do trabalho da vida, e, sendo genuínas, devem ser cuidadosamente cultivadas. Ao mesmo tempo, deve ter-se sempre em vista que um caráter bem-equilibrado e o trabalho eficiente em qualquer ramo dependem em grande parte daquele desenvolvimento simétrico que é o resultado de um ensino profundo e amplo” (adaptado de Educação, 232, 233). Fala-se muito em motivar o aluno, mas parece haver uma linha tênue que separa a motivação da bajulação. O que dizer a esse respeito? “Os estudantes necessitam receber demonstrações de apreço, simpatia, animação; mas deve ter-se cuidado em não alimentar neles o amor ao louvor, ao elogio. Não é prudente fazer-lhes especial referência, ou repetir diante deles suas afirmações inteligentes. O pai ou professor que tem em vista o verdadeiro ideal do caráter e as possibilidades de o alcançar, não pode acariciar ou fomentar nos estudantes o sentimento de presunção, de orgulho. Não incentivará nos jovens o desejo ou esforço de exibir sua habilidade ou perfeição. O estudante que demonstra capacidade acima da média, deve cultivar a humildade. Acima de tudo, precisa possuir aquela dignidade que não se desvaloriza ou se confunde ante uma exibição exterior ou grandeza humana” (adaptado de Educação, 237). Seleção de textos por Adolfo S. Suárez



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