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FLEXIBILIDADE NO ESPAÇO CONSTRUÍDO Uma
proposta
de
moradia
para
Ribeirão
Preto
Desenvolvimento do Trabalho Final da
Graduação em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário Moura Lacerda, que aborda a necessidade de flexibilização dos
espaços de moradia, devido à pluralidade dos modos de vida atuais.
aluna
J O R DA N A S I LVA B U E N O orientadora
TÂNIA BULHÕES FIGUEIRA
Ribeirão Preto - SP | 2018
ESTE TRABALHO É DEDICADO À MINHA MÃE, QUE PRECISA SABER QUE O MEU MUNDO É MAIS BONITO COM ELA.
RESUMO Vivemos num mundo globalizado. Contudo, o mercado continua oferecendo opções limitadas no que diz respeito aos espaços habitacionais plurifamiliares. Percebe-se que os modos de vida mudaram e as habitações não. As famílias contemporâneas já não seguem um padrão, ao contrário, há uma grande diversidade de grupos familiares. Assim, as habitações não são sempre compartilhadas por uma família composta de pais e alguns filhos, mas podem ser ocupadas somente por uma pessoa ou até por grupos constituídos de vários amigos que dividem uma moradia. Do mesmo modo, também se percebe uma grande rotatividade de habitações: durante a vida, é comum que as pessoas morem em mais de uma cidade, por diversos motivos, como oportunidades de estudo e emprego. A cada novo morador, o ideal é que a unidade habitacional seja capaz de se adaptar às novas exigências do estilo de vida daqueles que a usufruem. Existe, então, uma necessidade de flexibilização do espaço construído, facilitando sua adaptação a mudanças. Unidades autônomas flexíveis são multifuncionais e polivalentes, sugerindo a acomodação de vários programas no mesmo espaço, permitindo a coexistência de uma sala de estar, um quarto e um escritório na mesma área, podendo o usuário converter um ambiente em outro, o que possibilita um melhor aproveitamento do espaço, dependendo da sua necessidade. Neste contexto, este trabalho pretende discutir estratégias de flexibilização do espaço contruído e aplicá-las em uma proposta de moradia multifamiliar no município de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.
Apresentação
Fundamentaçao Teórica
07
11
Referências Projetuais
33
Condicionantes Projetuais
53
Desenvolvimento do Projeto
83
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
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A P R E S E N TA Ç Ã O Breve apresentação do tema proposto,
objeto
de
estudo,
objetivos e metodologia utilizada no desenvolvimento do trabalho.
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1
APRESENTAÇÃO 1.1
T ít ulo DO T RA BALHO
Flexibilidade no espaço construído: Uma proposta de moradia contemporânea para Ribeirão Preto.
1. 2
T ema DO T RA BALHO
A flexibilidade como estratégia projetual para o modo de morar contemporâneo.
1. 3
Objeto
Edifício para habitação plurifamiliar que se adeque à diversidade de modos de habitar existentes.
1. 4
O bjet ivos
O objetivo geral deste trabalho é discutir a problemática da necessidade de flexibilização do espaço construído, com o intuito de apresentar uma proposta de moradia adequada à realidade contemporânea. Os objetivos específicos são: 1. Compreender a diversidade de composições familiares que formam a sociedade atual;
Percebe-se que, atualmente, novos grupos familiares vêm se estabelecendo por todo o mundo, como as pessoas que moram sozinhas, os casais que não tem filhos ou as pessoas que dividem apartamentos com amigos, por exemplo. A flexibilidade na arquitetura é uma das alternativas para combater a inadequação de habitações padronizadas aos novos grupos familiares, permitindo que os moradores configurem o espaço conforme lhes for conveniente, respeitando as limitações do sistema construtivo escolhido.
1.6
M etod o lo g i a
Com o intuito de alcançar os objetivos determinados para este trabalho, foram seguidos alguns passos essenciais: 1. Leitura de estudos sobre os novos modos de morar, habitação contemporânea e estratégias de flexibilidade; 2. Estudo de projetos modernos e contemporâneos que explorem a temática da flexibilidade da moradia; 3. Levantamento de dados e interpretação de diferentes aspectos da área de intervenção e de seu entorno imediato; 4. Elaboração de anteprojeto de habitação plurifamiliar e apresentação em bancas de avaliação para conclusão da graduação.
2. Identificar como o tema foi tratado ao longo da história, por meio do estudo de projetos modernos e contemporâneos; 3. Discutir diferentes formas de proporcionar flexibilidade ao espaço de moradia.
1. 5
Just ifi cat iva
No decorrer dos anos, a vida de uma pessoa passa por diferentes fases, cada uma com necessidades diferentes em relação ao espaço em que habita. Para que esse processo de simbiose entre o indivíduo e sua moradia possa ser bem sucedido, é imprescindível que o projeto de arquitetura contemple espaços mais flexíveis, abolindo as soluções tradicionais largamente utilizadas até os dias de hoje, que não oferecem ao usuário a possibilidade de modificar e adaptar sua unidade autônoma a novos usos. Um dos fatores que motivam as mudanças no modo de projetar residências são as transformações nos padrões familiares.
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F UNDAME NTAÇÃO TEÓR I CA 2.1 - ARRANJOS FAMILIARES CONTEMPORÂNOS E SEUS MODOS DE MORAR Discussão sobre a diversidade de configurações familiares existentes e os fatores que contribuíram para as mudanças nos modos de morar da sociedade contemporânea. 2.2 - FLEXIBILIDADE DA HABITAÇÃO NA HISTÓRIA E NA CONTEMPORANEIDADE Reflexão sobre os antecedentes que propiciaram uma arquitetura flexível e seu amadurecimento, resgatando arquitetos que foram de importância fundamental para a solidificação do conceito em relação à sua aplicação na arquitetura de edifícios residenciais. 2.3 - ESTRATÉGIAS DE FLEXIBILIZAÇÃO DOS ESPAÇOS DE MORADIA Identificação de diferentes estratégias que podem contribuir para a configuração de espaços de moradia flexíveis.
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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A história dos edifícios plurifamiliares, tipologia que pode ser considerada uma das protagonista da arquitetura cotidiana e que domina as grandes áreas urbanas, começou no início do século XX. De acordo com Jorge (2012), as motivações que impulsionaram o desenvolvimento dessa nova forma de moradia coincidem com as consequências das Grandes Guerras na Europa, com uma enorme carência social e emergência por alojamentos. Produzida originalmente como um produto acessível às camadas populares, em modelos de urbanização periférica, a habitação plurifamiliar ganhou espaço entre as classes de renda média e alta ao longo dos anos, substituindo as casas isoladas em lotes e desenvolvendo um processo de verticalização cada vez mais acentuado. As contribuições da habitação plurifamiliar à racionalização e à ciência da edificação são incontestáveis. Pouco mais de um século após seu surgimento, entretanto, observa-se que as mesmas regras ainda dominam a produção imobiliária atual. A repetição de apartamentos-tipo, adotando o programa tripartido padrão das casas burguesas e cumprindo exigências mínimas relativas à habitabilidade, homogeneízam o comportamento e pouco favorecem o uso diversificado do espaço de moradia, que é condição fundamental para a vivência no mundo contemporâneo com todas suas transformações sociais, tecnológicas e culturais. Nesse contexto, a flexibilidade surge como a ferramenta capaz de melhorar a relação entre o usuário e o edifício, aumentando as chances de resposta às necessidades e desejos dos moradores. A possibilidade de ter à mão instrumentos capazes de reconfigurar elementos construídos no espaço contribui, ainda, com o aumento da vida útil desse bem de habitação durável, que passa a ser transformado ao longo do tempo. A discussão do tema começa, na Parte 1, com uma reflexão acerca das transformações na formação familiar contemporânea e dos novos modos de vida - mais abertos, dinâmicos, interativos - que influenciam o espaço da habitação. Para fundamentar a discussão, serão feitos recortes na historiografia da arquitetura e do urbanismo, com o intuito de apresentar uma dicotomia entre os novos modos de morar e o comportamento das pessoas que habitavam a casa burguesa tripartida do século XIX. Entretanto, a estratégia metodológica não é realizar um retorno histórico linear, mas extrair da historiografia pontos chaves que vão apresentar fatos e comportamentos que tenham contribuído para as modificações da família nuclear tradicional.
A Parte 2 tem o objetivo de identificar como a flexibilidade nos espaços de moradia se desenvolveu ao longo do tempo, a partir da análise de projetos pioneiros da arquitetura moderna e contemporânea. Neste momento, não serão feitas leituras projetuais, mas uma breve análise de recortes históricos com obras paradigmáticas. Para finalizar a fundamentação teórica, a Parte 3 utiliza como base a Tese de Doutorado de Jorge (2012), onde é possível encontrar uma gama de instrumentos e estratégias de materialização da flexibilidade no espaço construído. Serão abordadas somente aquelas consideradas relevantes para a a composição projetual deste trabalho.
2.1 FAMÍLIAS CONTEMPORÂNEAS E SEUS MODOS DE MORAR O universo cotidiano está se modificando cada vez mais no cenário contemporâneo, influenciado pela inserção de novas tecnologias, equipamentos, eletrodomésticos, meios de comunicação e transporte, com diferentes estilos de vida, comportamentos e relações com o espaço físico. Conforme as modificações na sociedade foram se desenvolvendo, sobretudo ao longo dos séculos XX e XXI, novos modelos familiares foram surgindo e a família nuclear tradicional foi aos poucos deixando de ser dominante. De acordo com o último Censo demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010), a Família Nuclear Simples, composta por casal de gêneros distintos com filhos, deixou de ser a maioria, frente ao conjunto dos outros arranjos familiares existentes.
Figura 1: Montagem com fotografias de famiílias diversas, mostrando a pluralidade da sociedade contemporânea. (Imagens disponíveis em: <http://theselby.com/>, acessado em 07/04/18)
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De acordo com Tramontano (1998), entre as novas composições familiares que habitam as cidades atuais, destacamse os jovens solteiros que moram sozinhos e preferem pagar mais caro por um apartamento pequeno, mas localizado nas áreas urbanas centrais, além de famílias monoparentais, casais DINKs – Double Income No Kids –, uniões livres – incluindo casais homossexuais –, grupos coabitando sem laços conjugais ou de parentesco entre seus membros, e uma família nuclear renovada, ainda dominante nas estatísticas, mas com um enfraquecimento da autoridade dos pais em benefício de uma maior autonomia de cada um de seus membros. (TRAMONTANO, 1998, p. 2)
A Figura 2 apresenta infográficos que corroboram essa realidade contemporânea, sendo que o comportamento e a dinâmica dos novos arranjos famíliares vem sendo amplamente divulgada na mídia brasileira nos últimos anos: Os dados mostram como a sociedade brasileira está se organizando de forma muito parecida com a europeia e a americana. Basta ver como aumentou o número de pessoas que vivem sozinhas, os registros civis de casamentos homoafetivos, os divórcios, as mulheres chefes de família, além da queda intensa na fecundidade, fenômeno observado em todas as regiões brasileiras, independentemente de raça ou nível econômico. É o novo retrato do País. (MENEZES, 2012, não paginado)
Segundo Jorge (2012), a desestruturação do modelo familiar tradicional nuclear é uma realidade que faz parte da evolução natural da sociedade, que está em constrante transformação, considerando ainda questões como [...] o culto ao corpo, o tele trabalho, o superequipamento do espaço doméstico, o celibato como opção, a viuvez em idade avançada, etc. A cada combinação de tais fatores corresponde um modo de vida diferente e, portanto, uma outra maneira de habitar (TRAMONTANO, 1997, p. 8).
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Figura 2: Estatísticas relacionadas aos arranjos familiares existentes, coletados pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, pelo Censo Demográfico do IBGE de 2010 e pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2013. (Jornal “O Tempo”, autoria desconhecida, disponível em: <http://www.otempo.com.br/ novo-estatuto-exclui-25-das-fam%C3%ADlias-brasileiras-1.1128840>, acessado em 27/03/2018)
Até pouco tempo atrás, o modelo de família nuclear tradicional estava tão arraigado em nossa sociedade que o significado de família em dicionários como o dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa era “grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto (especialmente, o pai, a mãe e os filhos)”. Somente em maio de 2016, mudou-se o verbete para “núcleo social de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo espaço e mantêm entre si relação solidária”, contemplando, finalmente, outros arranjos familiares que existem. Se as definições formais sobre família mudam com o tempo, é porque elas precisam se adequar às transformações que acontecem no cotidiano. Seria natural, portanto, que a configuração espacial das habitações seguisse a mesma tendência e se adequasse aos novos modos de vida.
intimidade/privacidade. O primeiro, geralmente localizado aos fundos da residência, englobava a cozinha e os aposentos dos empregados, com acessos e circulações independentes, para evitar o encontro dos serviçais com os seus senhores. A segunda área refere-se às salas e vestíbulos, onde o convívio familiar e recepções eram promovidos1. A última área corresponde aos aposentos dos senhores, com caráter extremamente pessoal e privativo. Nos apartamentos construídos na Paris haussmaniana, é possível identificar com clareza esta setorização dos espaços e das atividades do grupo doméstico (Figura 3).
Apesar de toda essa variedade de formas e configurações, o lar ainda é o lugar onde o coração permanece - e onde um número cada vez maior de outras coisas acabará permanecendo também. Ele se tornará o foco da atenção e da inovação arquitetônica, pois integrará novas funções e serviços. (MITCHELL, 2002, p. 117)
Como aponta Tramontano (1997, p. 1), o modelo de família nuclear é originário da intensa modificação da composição familiar que ocorreu durante a Revolução Industrial, entre os séculos XVIII e XIX. É neste período que se dá a substituição gradual da sociedade medieval pela família nuclear burguesa, que se conformou principalmente a partir do êxodo rural para a criacão das cidades, tanto dos extratos mais abastados (detentores dos bens de produção industrial), quanto dos extratos menos abastados (sobretudo, mão-de-obra nas indústrias). Enquanto o proletariado vivia em habitações insalubres e precárias, geralmente de um único cômodo, o modelo de habitação que vigorava para abrigar a família nuclear burguesa era rígido, bem definido e hierarquizado. A distribuição programática era composta por três áreas de usos distintos: espaços de rejeição/serviços, espaços de privilégio/social e espaços de
Figura 3: Setorização tripartida de um apartamento construído na Paris haussmaniana. (ELEB, 1995 apud REQUENA, 2007, p. 23) SERVIÇO
SOCIAL
ÍNTIMO
É importante lembrar que a moradia do proletariado passou por melhorias, devido ao alto índice de enfermidades e mortes dos trabalhadorores e seus familiares. O surgimento das vilas operárias, com leis sanistaristas mais rígidas, incentivaram o modo de vida da família nuclear tradicional, inserindo valores morais burgueses na classe mais desprivilegiada.
1 Naquela época, era comum que os adornos presentes na habitação evidenciassem o poder aquisitivo da família, como a presença de produtos importados, como tapeçaria, cerâmica e mármore, por exemplo. Ou seja, os elementos de acabamento eram utilizados de forma abundante, principalmente nos espaços de convívio social e nas fachadas das edificações. Mais tarde, os modernistas rechaçaram os adornos justamente pelo fato de irem contra o ideal socialista de produção de uma sociedade igualitária. Hoje em dia, o uso do pastiche ainda existe, sendo comum ver empreendimentos imobiliários de alto padrão tentando se diferenciar dos demais pela mistura de estilos rebuscados, com o uso indiscriminado de frontões, platibandas, colunas, entre outros. E mesmo que esse embelezamento excessivo passe a mensagem para o usuário de que aquela arquitetura é melhor que as outras, no fundo, não passa de linguagem mercadológica para vender o produto. Internamente, o poder aquisitivo é demonstrado não mais pelos adornos em excesso, mas pela presença de equipamentos de alto valor, tecnológicos e sofisticados, que outras classes sociais não podem adquirir.
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Apesar de possuir a divisão interna do espaço, os cômodos das habitações operárias eram bem menores e toleravam mais de uma atividade no mesmo ambiente: a cozinha não servia somente para o preparo dos alimentos, mas também como espaço de refeições e até receber visitas. Ou seja, já é possível perceber uma certa sobreposição de atividades, mesclando serviço, lazer e social no mesmo espaço, o que não era comum nas casas burguesas (LEMOS, 1989).
No Brasil, a necessidade de aumentar os lucros para contrabalancear o alto custo do solo resultou na redução da área das unidades, porém o programa permaneceu inalterado. A situação se agrava com a quantidade de novos empreendimentos nesses padrões que surgem a cada dia. Em um mercado com a atenção voltada quase exclusivamente para os lucros, muitas vezes a qualidade do espaço construído é deixada para segundo plano.
O perfil patriarcal da família nuclear burguesa começou a ser desconfigurado graças ao papel social conquistado pelas mulheres frente à ida de seus maridos para as batalhas das guerras mundiais e civis. É neste momento que surge o desafio de reconstruir as cidades destruídas pelos conflitos. Coube ao Movimento Moderno discutir e revisar o desenho e a produção dos espaços de morar, no sentido de valorização da razão, racionalização do uso de materiais e produção em série, visando suprir a grande demanda.
Ao se analisar as plantas de 3 empreendimentos imobiliários em Ribeirão Preto, todos construídos pela Bild Desenvolvimento Imobiliário, verifica-se claramente a tripartição do espaço, com distribuição nitidamente estanque e compartimentada em setores social (living, sala de jantar, lavabo), íntimo (quartos e banheiros) e de serviços (cozinha, lavanderia), respectivamente identificados nas cores amarelo, verde e roxo nas Figuras 4, 5 e 6.
Na habitação moderna, a cozinha foi trazida para perto da sala de estar, constituindo um novo espaço de convívio. A utilização de divisórias móveis leves chegou a ser proposta em alguns projetos, mas a maior parte foi substituída por divisórias rígidas, constituindo cômodos estanques, opção funcional e financeiramente conhecida pelos investidores até então. Assim, a indisposição do mercado em apostar em novas ideias contribuiu para a manutenção do modelo de habitação tripartido do século XIX como configuração hegemônica das habitações até hoje. O processo de dissolução da família nuclear aumentou a partir da segunda metade do século XX, graças a um conjunto de fatores sociais, econômicos, culturais e comportamentais. Tramontano (1998) e Jorge (2012) apontam as revoluções feministas, com a emancipação financeira da mulher e sua reivindicação por igualdade no mercado de trabalho, a liberdade sexual, o surgimento de métodos contraceptivos mais acessíveis e eficazes, o direito da mulher ao divórcio sem ser estigmatizada pela sociedade, a crise do casamento estável, como alguns dos fatores que contribuíram para o surgimento de novas configurações familiares, sobretudo na década de 1970. Mais recentemente, o fenômeno da globalização tem acelerado essas transformações, pois facilita o intercâmbio de diferentes culturas e modos de vida. Com o passar do tempo, a ideia de família como agrupamento consanguíneo, com laços afetivos e de afinidade, foi dando espaço e maior visibilidade para os novos arranjos.
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A escolha destes três edifícios multifamiliares de baixo, médio e alto padrão foi proposital, pois evidencia que o modelo tripartido do apartamento parisiense de 1880 vem sendo replicado de forma indiscriminada até os dias de hoje, independentemente de tamanho, localização ou classe social a quem é destinado, como evidenciou Tramontano (1997): Mesmo que agora tendam a habitá-la grupos domésticos cujo perfil difere cada vez mais da família nuclear convencional, e cujos modos de vida apresentam uma diversidade cada vez maior, o desenho dos espaços dessa habitação permanece intocado, sob a alegação de que se chegou a resultados projetuais economicamente viáveis, que atendem às principais necessidades de seus moradores. (TRAMONTANO, 1997, p. 06)
Outra questão relevante é que a habitação, além do seu valor simbólico (valor de uso), tornou-se mais um produto dentro do modo de produção capitalista com valor financeiro agregado em si (valor de troca). Isso significa que a produção de edifícios visando o mercado de vendas e aluguéis é um nicho altamente explorado. Nesse sentido, considerando a alta rotatividade do imóvel – uma vez que ele não foi pensado para atender a uma família específica, com um comportamento cultural determinado, etc –, quanto mais flexiblidade a moradia apresentar, maior contingente populacional será absorvido de forma qualitativa.
Figura 4: Fachada do edifício e planta do apartamento de 50m² (2 dormitórios) do empreendimento Alameda São Paulo, no bairro Campos Elíseos, entregue em setembro de 2018, com valores a partir de R$ R$ 170.000,00. (Imagens disponíveis em: <https://www.bild.com.br/>, acessado em 07/04/18)
SERVIÇO
SOCIAL
Figura 5: Fachada do edifício e planta do apartamento de 127m² (3 suítes) do empreendimento Über Gaudí, no bairro Parque Sul, entregue em maio de 2018, com valores a partir de R$ 578.891,58. (Imagens disponíveis em:<https://www. bild.com.br/>, acessado em 07/04/18) ÍNTIMO
Figura 6: Fachada do edifício e planta do apartamento de 227m² (4 suítes) do empreendimento Über Corbusier, no bairro Parque Sul, já entregue, com valores a partir de R$ 1.328.772,53. (Imagens disponíveis em: <https:// www.bild.com.br/>, acessado em 07/04/18)
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O que ocorre na atualidade é que, a cada mudança, os novos grupos familiares se deparam com a necessidade de encontrar uma nova moradia que atenda a todas as suas necessidades, o que é uma tarefa exaustiva e nem sempre com resultado satisfatório. Surge, então, a questão levantada por Muramoto (2011): como não existem apartamentos adequados ao estilo de vida que se está procurando, faz-se necessário reformar o espaço, gerando grande quantidade de resíduos e poluentes, os quais poderiam ser facilmente evitados. Devemos ainda considerar que, mesmo nos casos em que os arranjos familiares são semelhantes, com igual número e grau de parentesco, a realidade social e humana de cada indivíduo é distinta, portanto, suas necessidades e formas de habitar são diferentes. Os espaços de moradia, portanto, precisam contemplar sobreposição de funções em um mesmo espaço e passar por um processo de identidade própria após sua concepção, a fim de atender às necessidades físicas e abstratas (psicológicas e emocionais) desse usuário. (...) a habitação deve ser sensível às necessidades e desejos, às aspirações razoáveis e aos sonhos realizáveis do usuário. (...) muitas decisões de projeto podem talvez ser feitas mais eficientemente, não pelo profissional projetista no estágio inicial do projeto, mas, subsequentemente, pelo próprio usuário. (HERBERT, 1979, apud BRANDÃO, 2003, p. 41) Portanto, é evidente a urgência em se pensar habitações que absorvam a efemeridade da vida contemporânea. A flexibilidade, portanto, deve ser utilizada como instrumento para dar suporte às novas configurações familiares, comportamentos e tecnologias, criando uma multiplicidade de qualidades espaciais que permitam ao morador interferir na habitação a qualquer tempo, conforme sua vontade ou necessidade.
2 . 2 F L E X I B I L I DA D E DA H A B I TAÇ ÃO N A H I ST Ó R I A E N A CO N T E M P O R A N E I DA D E O conceito de flexibilidade não constitui uma ideia nova no campo da Arquitetura. Existiram três principais impulsionadores do desenvolvimento de habitações flexíveis na história, citados por Jeremy Till and Tatjana Schneider em seu livro Flexible Housing (Disponíivel em: https://books.google.com.br>, acessado em 02/08/2018): • O primeiro, na década de 1920 (pós Primeira Guerra Mundial), surgiu da necessidade de os programas europeus de habitação social fornecerem moradias em massa. A resultante queda no padrão espacial da moradia, bem como os novos métodos de construção disponíveis, levaram os arquitetos a desenvolver projetos que permitissem o uso flexível, de modo que os usuários não fossem limitados pelos novos padrões mínimos. • O segundo impulsionador, começando nos anos 1930 e 1940 e continuando até os dias atuais, surgiu da crença de que a préfabricação e as tecnologias emergentes poderiam e deveriam fornecer uma solução para a provisão de moradias em massa. Pensou-se que a flexibilidade seria inerente aos edifícios industrialmente pré-fabricados e seus componentes. • Em terceiro lugar, o movimento em direção à participação e ao envolvimento do usuário nas décadas de 1960 e 1970 levou a um interesse renovado em moradias flexíveis como um meio de oferecer escolha ao usuário. Tendo isso em vista, esta parte do Capítulo reúne projetos do século XX até a contemporaneidade, que condizem com soluções equilibradas de transformação do espaço de moradia por meio da flexibilidade.
2 . 2 .1 L E CORB USI ER Para solucionar o problema habitacional do período pós Primeira Guerra Mundial, a arquitetura moderna buscou aplicar os ideais de produção em massa e de racionalização da construção, tanto em moradias coletivas, quanto em moradias individuais, através de projetos de casas em série. Assim, a arquitetura moderna foi trazendo à tona várias contribuições para a arquitetura flexível. Podemos destacar como um precedente modernista a Maison Dom-Ino (1914 a 1917), de Le Corbusier. Idealizada como um sistema estrutural capaz de abrigar diversos arranjos internos e usos, configura um protótipo em que a estrutura liberta-se dos fechamentos e a organização interna torna-se livre.
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O grande trunfo consistem no fato de que o uso de estruturas independentes e divisórias internas leves possibilitam a criação de vários layouts em um mesmo projeto básico. É importante salientar, então, que a tecnologia da estrutura independente confere flexibilidade aos projetos, incentivando a existência de habitações específicas para as necessidades de cada morador (TRAMONTANO, 1993).
Figura 7: Desenho em perspectiva da Maison Dom-Ino, de Le Corbusier. (Fonte: Fundação Le Corbusier. (Disponível em: <http://www. fondationlecorbusier.fr>, acessado em 01/04/18)
Um exemplo do conceito da Maison Dom-Ino aplicado é a Villa Savoye, construída em Poissy, na França, em 1929. Esta residência vai além da ideia da planta livre, apresentando os cinco pontos de uma nova arquitetura, idealizados por Le Corbusier: os pilotis, que elevam a massa acima do solo (e o liberam para fruição pública), a planta livre, a fachada livre, a janela em fita – consequências diretas do fato de a estrutura ser independente da vedação nesta edificação – e o jardim na cobertura.
JARDIM NA COBERTURA
JANELA EM FITA
Outra obra relevante de Le Corbusier é a Unidade de Habitação de Marselha (1945 a 1952), na França, que representa na história da arquitetura um exemplo de habitação coletiva vertical. O edifício de uso misto, contruído no período pósguerra, reflete os esforços da época em criar uma aliança entre os moradores, aprofundando os sentimentos de coesão social, e facilitar o cotidiano, por meio de espaços de uso comum, como lavanderia, creche, jardim de infância, restaurante, parque infantil, espaço para prática de atividade física e centro comercial com padaria, farmácia, entre outros.
FACHADA LIVRE
Figura 9: Foto perspectiva da Unidade de Habitação de Marselha, França, de Le Corbusier (1945-52). (Fonte: Fundação Le Corbusier. Disponível em: <http://www.fondationlecorbusier.fr>, acessado em 03/04/18)
PILOTIS
PLANTA LIVRE
Figura 8: Foto da fachada da Villa Savoye, na França, de Le Corbusier (1929), destacando os 5 pontos da arquitetura moderna. (Fonte: Fundação Le Corbusier. Disponível em: <http://www.fondationlecorbusier.fr>, acessado em 03/04/18. Interveções gráficas da autora, 2018)
Concebido a partir de preceitos de racionalização e padronização, o projeto reflete a utilização das proporções humanas do Modulor, em 337 apartamentos duplex dispostos em 17 pavimentos. Os apartamentos podem acomodar uma pessoa ou famílias mais numerosas, com 8 membros ou mais. Possuem acesso através de corredores internos dispostos em planos alternados (a cada três andares) possibilitando maior aproveitamento do espaço útil. Cada unidade possui fachadas voltadas para leste e oeste, facilitando a ventilação cruzada, que compensa as plantas estreitas e alongadas.
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As unidades são isentas de elementos estruturais em seu interior, compostas de uma planta livre organizada a partir de elementos de vedação leves, pré-fabricados e, muitas vezes, integrados ao mobiliário.
2 . 2 . 2 Mi es van der R ohe Planta livre, simplificação de elementos estruturais, parede como elemento independente e organização interna através de painéis leves são estratégias combinadas que conferem peculiaridade à obra de Mies van der Rohe, considerado o expoente máximo da “flexibilidade funcional”. Tais soluções características já podiam ser vistas no revolucionário edifício de apartamentos, na Weissenhofsiedlung, em Stuttgart, Alemanha, em 1927. O edifício consiste em um bloco de apartamentos de quatro pavimentos, em estrutura de aço e paredes divisórias interiores independentes. O arquiteto optou por fixar um núcleo com as áreas molhadas (banheiros e cozinha) e a circulação vertical. Desta maneira, libera-se o restante da unidade para dispor com liberdade a distribuição interna. Cada unidade residencial poderia ser subdividida em vários tamanhos, com divisórias que podiam ser acrescentadas ou retiradas, a critério do usuário (ZIMMERMAN, 2006).
CIRCULAÇÃO DUPLEX 1 DUPLEX 2 Figura 10: Diagrama volumétrico da distribuição da circulação alternada entre os pavimentos e a disposição dos apartamentos duplex de forma invertida uns sobre os outros. (Fonte: < https://frozenmusicstudio. wordpress.com/tag/unite-dhabitation/>, acessado em 06/04/18)
duplex 1 - superior
duplex 2 - superior
circ.
duplex 1 - inferior
Figura 12: Plantas com variações na subdivisão das unidades no edifício de apartamentos projetado por Mies van der Rohe em Weissenhofsiedlung, Stuttgart, Alemanha, 1927. Fonte: JORGE, 2012, p. 50.
É possível perceber que Mies explora o conceito de flexibilidade de várias formas: - Primeiramente, a estrutura independente permite que configuração interna da unidade autônoma mude a longo prazo. - Em segundo lugar, os usuários podem decidir como ocupar os diferentes espaços interiores, pois não há um uso determinado para os ambientes, exceto nos casos da cozinha e banheiro (áreas molhadas). - Por último, a utilização de paredes móveis dá aos usuários a possibilidade da alterar fisicamente os espaços no diaa-dia.
duplex 2 - inferior
Figura 11: Planta dos apartamentos duplex. (Disponível em: < https:// frozenmusicstudio.wordpress.com/tag/unite-dhabitation/>, acessado em 06/04/18) Figura 13: Opções de arranjo interior e divisão de ambientes através de divisórias móveis. Fonte: JORGE, 2012, p. 51.
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Este nível de flexibilidade faz com que os apartamentos tenham uma vida útil mais longa: eles podem ser modificados no curto prazo, para acomodar as atividades familiares cotidianas, e também permitir a reconstrução interior para acompanhar as transformações familiares no longo prazo. As duas características essenciais à flexibilidade – a planta livre e a indiferença funcional dos espaços - foram amplamente exploradas por Mies van der Rohe em seus projetos. Aliando a modulação e a clareza dos elementos estruturais, o arquiteto alcançou uma qualidade peculiar em suas obras, destacando a aplicação exaustiva do aço e do vidro. No Pavilhão de Barcelona e na Casa Farnsworth é possível identificar a flexibilidade obtida pela presença de grandes vãos e separação dos elementos portantes e não-portantes.
2 . 2 . 3 G erri t Rie tv e ld Em 1917, foi lançada, na Holanda, uma publicação chamada de ‘De Stijl’ (‘O Estilo’, traduzindo para o português), feita por artistas que estavam iniciando o movimento de vanguarda que ficou conhecido por Neoplasticismo. As ideias difundidas pelo ‘De Stijl’ tornaram-se populares rapidamente, com uma arte racionalista, baseada na clareza e limpeza das formas. Um exemplo de arquitetura deste período é a Schröder House, popularmente conhecida como “Casa Transformável”, residência de dois pavimentos, desenhada em 1924 por Gerrit Rietveld (Utrecht, Holanda), que teve como premissa projetual a liberdade e a indepêndencia.
Figura 14: Planta-baixa mostrando a dissolução dos planos interiores e independência estrutural do Pavilhão de Barcelona, Exposição Internacional, Barcelona, 1928-29, de Mies van der Rohe. Fonte: JORGE, 2012, p. 129.
Figura 16: Schröder House, Gerrit Rietveld (1924). (Autoria desconhecida. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-46426/classicosda-arquitetura-residencia-rietveld-schroder-gerrit-rietveld>, acessada em 08/04/18)
O primeiro pavimento possui uma configuração convencional, com hall de entrada, escada de acesso ao pavimento superior, cozinha, espaço de trabalho e garagem. Já o segundo pavimento é delimitado pelo acesso da escada e por um único banheiro fixo, sendo composto por paredes deslizantes que constituem um espaço unitário, aberto, flexível, adaptado ora como espaço de dormir, ora como estar. Figura 15: Planta-baixa mostrando a independência estrutural e organização central de núcleos rígidos (áreas molhadas) da Casa Farnsworth, Illinois, 1945-51, de Mies van der Rohe. Dissolução dos planos interiores, Fonte: JORGE, 2012, p. 129.
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2 . 2 . 4 modulari dade A partir da década de 1960, entusiasmados com os efeitos da perspectiva de progresso do período pós-guerra, no qual a tecnologia, a robótica, os meios de comunicação haviam avançado significativamente, muitos arquitetos viam a arquitetura tradicional como obsoleta e ansiavam por mudanças, como é o caso do grupo Archigram (1961-74), formado por Peter Cook, Ron Herron, Warren Chalk, Dennis Crompton, David Greene e Mike Webb.
Figura 17: Schröder House, Gerrit Rietveld, Utrecht/ Holanda, 1924. Planta-baixa do segundo pavimento, com marcação dos planos verticais deslizantes e do mobiliário. Ambientes interconectados após a remoção das divisórias internas, e utilização simultânea conforme distintos períodos do dia. Fonte: JORGE, 2012, p. 115.
Em 1964, eles criaram o conceito de Plug-in Cities, que consiste em uma megaestrutura onde as células habitacionais são dispositivos mecânicos sofisticados. Com suas ideias utópicas, começou-se a entender a importância das estruturas maternas que configuram o organismo arquitetônico e que podem localizar os módulos pré-fabricados e temporários.
O desenho minimalista do mobiliário segue o mesmo conceito, com manipulação de peças dobráveis e retráteis, o que induz a participação ativa e diária do morador para criar os espaços privativos dos quartos ou promover a continuidade espacial do pavimento, por exemplo, dependendo do posicionamento das divisórias internas.
Figura 19: Corte esquemático da Plug-in-City, mostrando que existe uma grua no topo da grande estrutura para deslocar tanto as células habitacionais com as células comerciais. (Fonte: <http://youyouidiot. blogspot.com. br/2010/11/>, acessado em 05/04/2018)
Figura 18: Interior da Casa Schröder, evidenciando os trilhos pelos quais correm as divisórias dos ambientes. (Autoria desconhecida. Fonte: <https://tageswoche.ch/kultur/eigenwilliger-pionier/>, acessada em 08/04/18)
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Segundo Montaner (2007), as ideias do Archigram consistiam em projetos capazes de captar o movimento e o nomadismo da vida humana. O intuito era que a unidade habitacional fosse completamente móvel, podendo plugarse à megaestrutura num momento e, quando não fosse mais conveniente, poderia se desplugar e plugar em outro lugar. Além disso, a cápsula habitacional era mais um objeto de consumo descartável, devendo ser substituída a partir do surgimento de uma nova tecnologia ou a partir de necessidades dos moradores. Portanto, o projeto não contemplava a metamorfose do espaço doméstico internamente.
Hoje, a mutação do espaço interno é importante, pois, para proporcionar maior tempo de duração da arquitetura, ela não pode se manter exatamente como está. É fundamental que a habitação seja capaz de se reinventar a cada caso, de tempos em tempos. Em 1967, Para a Expo em Montreal, Moshe Safdie construiu a icônica estrutura Habitat ‘67, que consiste em 158 módulos de concreto empilhados em uma composição imprevisível e sempre diferente. A padronização é dada, desta vez, pela possibilidade de uma fôrma modular para moldar o concreto. Na fase de construção, ainda na fábrica, diferentes configurações permitiram que o edifício fosse montado e resultasse em uma composição caótica.
Figuras 22 e 23: Projeto Zip-Up Enclousures com elementos préfabricados comprados separadamente. (Disponível em: <https://www. rsh-p.com/projects/zipup-house/>, acessado em 09/08/2018)
Figuras 20 e 21: Habitat ‘67 e as opções de arranjo modular disponíveis. (Fonte: Archdaily. Disponível em: <https://www.archdaily. com.br/br/01-23132/classicos-da-arquitetura-habitat-67-moshesafdie/23132_23256>, acessado em 06/08/2018)
Em 1972, a Nakagin Capsule Tower de Kisha Kurokawa em Tóquio é realizada com unidades que podem ser modificadas conceitualmente ao longo do tempo. Foi baseado na possibilidade de a arquitetura crescer e se adaptar à condição temporária nos horários que permitem que a cápsula seja construída ou alterada de acordo com as necessidades. Como um dos exemplos mais famosos dos conceitos da arquitetura japonesa dos anos 80, ela incorpora extensos pensamentos teóricos sobre o movimento do metabolismo.
Em 1968, Richard Rogers propõe seus Zip-Up Enclosures como uma série de componentes padronizados nos quais os usuários podem comprar e expandir essa estrutura viva. Este conceito é baseado em arranjos em camadas, como livros em uma prateleira, com uma aparência externa rígida e regular, mas com uma composição diferente do espaço interno. Elementos singulares poderiam ser comprados e usados para aumentar o tamanho da unidade da casa. Desta forma, foi capaz de até criar sistemas de cluster que combinam elementos de alojamento isolados. De fato, com este projeto, ficou evidente que a estrutura padronizada e rígida não era uma barreira para a criação de formas internas interessantes e inesperadas. Figuras 24 e 25: Nagakin Capsule Tower. (Fonte: Archdaily. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-36195/classicos-da-arquiteturanakagin-capsule-tower-kisho-kurokawa>, acessado em 12/04/18)
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Na década de 1970, o movimento ecológico trouxe um fim ao progresso tecnológico e ideias futuristas sobre design. Os edifícios e materiais altamente modernos que não pareciam em harmonia com a natureza, como plástico ou alumínio, tinham vida dura. Outros aspectos negativos foram ainda revelados pelo fato de que elementos pré-fabricados foram usados com frequência para construir habitações de alta densidade que, na década de 1970, revelaram aspectos negativos em termos de qualidade de vida. Por essa razão, o prédio pré-fabricado e sua estética estavam associados a falhas sociais, realidades utópicas impessoais e não humanas. Por esta razão, a recepção da habitação pré-fabricada permaneceu baixa até o início da década de 1990. A partir desse período, a aprovação social dessa arquitetura aumentou ligeiramente, afastando-se das ideias de “baixo custo igual a baixa qualidade”.
2 . 2 . 5 B rasi l Cont emporâ n eo I DEA!Zarvos Uma das premissas dos edifícios da incorporadora IDEA!Zarvos é a existência de espaços flexíveis. O Edifício Simpatia, em São Paulo, surgiu a partir de uma colaboração com o escritório Grupo SP, em 2007. Com 13 unidades distribuídas em dois blocos interligados por um núcleo de circulação comum, o edifício apresenta espaços fluidos.
Steven Holl explorou os limites da modularidade suportada pela tecnologia de computadores pela primeira vez. Em 2005 ele completou a Turbulence House, uma casa de painéis metálicos no Novo México, utilizando tecnologia de corte controlado, produzindo 24 painéis pré-fabricados, únicos.
Figura 26: Turbulence House (2001-2005), Novo México, EUA. (Disponível em: <https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2011/10/13/casasde-steven-holl/>, acessado em 08/08/2018)
Isso abre consensos e abordagens incomuns para o design modular e pré-fabricado, que começa a se desviar da ideia de produção de formas idênticas e repetitivas para entrar em uma nova era, cujo desafio é interpretar a condição atual para elaborar uma arquitetura modular que solucione as necessidades dos usuários contemporâneos e sobreviver a obstáculos e novas necessidades do futuro.
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Figura 27: Fachada principal do Edifício Simpatia, em São Paulo. (Fonte: GrupoSP. Disponível em: <http://www.gruposp.arq. br/?p=19>, acessado em 08/04/18)
O projeto idealiza espaços passiveis de alteração ao longo do tempo. As unidades são totalmente flexíveis no que diz respeito ao arranjo dos ambientes. Cada morador pode adequar o apartamento às suas necessidades, pois existe excesso de colunas de infraestrutura junto a cada pilar e até as áreas mais difíceis de serem modificadas, como as áreas molhadas, podem estar em qualquer lugar da planta. O morador pode escolher também a quantidade e o lugar das aberturas nas fachadas laterais seguindo o desenho do caixilho modular proposto pelos arquitetos.
M a x H aus Com o slogan “Se as pessoas são diferentes, por que os apartamentos são iguais?” a Max Haus é um empreendimento imobiliário com mais de 20 unidades espalhadas pelo Estado de São Paulo, Santa Catarina e Porto Alegre.
UNIDADE MENOR
CIRC. VERTICAL
UNIDADE MAIOR
CIRC. HORIZONTAL
Figura 28: Pavimento-tipo Edifício Simpatia. (Fonte: GrupoSP. Disponível em: <http://www.gruposp.arq. br/?p=19>, acessado em 08/04/18)
O projeto surgiu para contrapor a mentalidade de produção de habitações segmentadas em uma porção de minúsculos cômodos. As unidades de 70m² são entregues sem qualquer divisão interna, sendo que os únicos elementos que balizam a organização espacial do apartamento são a cozinha e o banheiro principal, ambos com localização fixa, mas seu interior pode ser personalizado com kits oferecidos no momento da compra do imóvel.
PAREDES ESTRUTURAIS PILAR DE CONCRETO Figura 29: Opção de layout 1 dormitório. (Fonte: GrupoSP. Disponível em: <http://www.gruposp.arq. br/?p=19>, acessado em 08/04/18)
SHAFTS / PRUMADAS PAREDES EM DRY-WALL Figura 31: Unidade tipo - Max Haus. (Disponível em: <https:// pt.slideshare.net/consultorimobiliario/raio-x-maxhaus>, acessado em 08/04/18)
Figura 30: Opção de layout 2 dormitórios. (Fonte: GrupoSP. Disponível em: <http://www.gruposp.arq. br/?p=19>, acessado em 08/04/18)
Este projeto constata que espaços internos sem divisões fixas e com funções internas indefinidas são duplamente flexíveis, ou seja, permitem a modificação de sua forma e de sua função.
A intenção é que cada proprietário tenha a possibilidade de montar seu apartamento de acordo com suas necessidades, além de permitir modificações com mais facilidade quando necessário. As unidades podem também se unir tanto na horizontal quanto na vertical, para formar apartamentos de 140m², 210m², 280m2 e assim por diante, aumentando o potencial de personalização das plantas. Para atender às inúmeras possibilidades de ocupação das unidades, as janelas não pretendem “adivinhar” a posição das futuras divisórias e, portanto, estão uniformemente distribuídas ao redor do apartamento. Com 1,60m de altura a 0,60m do chão, proporcionam uma iluminação até 50% maior do que os apartamentos comuns.
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Como os espaços não são definidos no momento da construção, cada morador tem a oportunidade de dividir os ambientes de acordo com suas necessidades específicas. As unidades, portanto, são tão diversas quanto seus ocupantes. A própria incorporadora traz no site cerca de trinta sugestões de planta entre apartamentos de 70m² e coberturas compostas por oito unidades, somando 560m². O empreendimento é flexível, pois deixa que as funções e divisões da sua área interna sejam definidas pelo morador, contudo, isso não significa que sua ocupação será feita com recursos que permitam a modificação dos ambientes sempre que necessário. Mesmo assim, o apartamento tende a minimizar os conflitos entre forma e função, pois permite que o proprietário organize o espaço de acordo com suas necessidades, ao contrário do que ocorre com a compra de um apartamento com sala, cozinha dois dormitórios e uma suíte. Nesse caso, ou o morador se adapta ao espaço ou precisa submeter o imóvel a uma grande reforma antes de se mudar. O vaso sanitário, o lavatório e o local para banhos são separados, com acessos e usos independentes. Essa separação além de permitir o uso simultâneo desses ambientes. Percebe-se, então, que o Max Haus aplica o conceito da planta livre em um empreendimento contemporâneo. Aparentemente esse é o único ponto dos cinco propostos por Le Corbusier utilizado nesse projeto, já que a estrutura não é independente da fachada, impedindo ao mesmo tempo a fachada livre e as janelas em fita. Com as novas tecnologias de materiais e instalações as possibilidades para a divisão dos espaços vão além das divisórias leves. Elas podem ser deslizantes ou até compostas por móveis inteiros, como estantes e armários. As instalações sem fios permitem a mudança da localização dos aparelhos eletrônicos e também a mobilidade destes dentro da unidade. O espaço criado com esses recursos se torna também altamente flexível, devido a facilidade de realocar os elementos, definindo ambientes completamente diferentes.
Figuras 32, 33 e 34: Opções de layout da mesma planta Max Haus de 70m². (Disponível em: <https://pt.slideshare.net/consultorimobiliario/ raio-x-maxhaus>, acessado em 12/04/18)
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2 . 3 E s t r at é g i a s d e f l e x i b i l i z aç ão d o s e s paç o s d e m o r a d i a 2 . 3.1 CONCEI TO São muitas as definições que envolvem o tema flexibilidade, vastamente explorado por diversos autores. A motivação mais recorrente para este fato está relacionada à transformação dos hábitos e preferências individuais que acabam por influenciar o espaço doméstico (JORGE, 2012, p. 39). Usaremos a seguinte definição neste trabalho: CONSTRUÇÃO FLEXÍVEL: Projetada para permitir fácil rearranjo de seu interior e disposição para atender às necessidades de mudança dos ocupantes (Addis e Shouten, 2004).
2 . 3. 2 FLEXI B I LIDA DE : TIPOS E MOME N TOS Segundo Brandão (1997), podemos classificar a flexibilidade habitacional em duas vertentes: a Flexibilidade Inicial e a Flexibilidade Permanente. A primeira é oferecida ao morador durante o processo de projeto/construção e a segunda se caracteriza pela personalização futura da unidade habitacional. A Flexibilidade Inicial permite ao usuário ter um importante papel na definição e escolha de um programa funcional adequado ao seu modo de vida. Na habitação unifamiliar, esta premissa é um dado adquirido, existindo um contato direto entre habitante, projetista e construtor, mas quando se passa para a escala da habitação coletiva, esta relação, na maior parte dos casos, não existe (PAIVA, 2002). Em relação à Flexibilidade Permanente, os motivos mais frequentes que levam os usuários a justificar o desejo de intervenção em sua habitação podem ser descritos em decorrência de uma série de fatores, conforme cita Rabeneck, Sheppard, Town, Machado (2004, p.16, apud JORGE, 2012, p. 62): Figuras 35, 36 e 37: Opções de layout Max Haus a partir da mesma planta tipo. (Disponível em: <https://pt.slideshare.net/consultorimobiliario/ raio-x-maxhaus>, acessado em 12/04/18)
Como ficou constatado, as transformações em relação às possibilidades de aplicação da flexibilidade na habitação desde o Movimento Moderno não foram poucas. Veremos, a seguir, algumas estratégias projetuais desejáveis para a construção de edifícios plurifamiliares flexíveis.
• Modificações da composição familiar e das atividades desenvolvidas pelos membros; • Qualificação da habitação a partir de critérios sociais ou de mercado; • Rearranjo das subdivisões; • Rezoneamento de áreas específicas conforme aspectos acústicos, idade dos moradores, privacidade, e outros; • Ser diferente, ajustar-se.
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Vale ressaltar, ainda, que a variabilidade da arquitetura, pode influenciar uma obra ao longo de sua vida útil, com potencial de renovação e sustentabilidade construtiva. Portanto, a flexibilidade na habitação estabelece a sua conservação própria, evitando a degradação rápida e garantindo maior desempenho perante os desejos do usuário.
2 . 3 . 3 E ST R ATÉG I A S D E F L E X I B I L IDADE É unânime entre os autores a ideia de que a flexibilidade de uma habitação deve ser viabilizada através de recursos tecnológicos, como componentes construtivos, sistemas prediais, equipamentos e mobiliários adequados. Mies van der Rohe, o expoente máximo da flexibilidade funcional, conceituou flexibilidade através da estratégia da planta livre que, por si só, gera um espaço universal e generalista, capaz de abrigar quaisquer programas e exigências. Segundo ele: A construção com estrutura independente torna possíveis os métodos de construção apropriados e permite que o interior seja dividido livremente. Se considerarmos a cozinha e os banheiros como um núcleo fixo, então todo o resto do espaço pode ser vedado graças a paredes móveis (FRAMPTON, K., p. 114 apud TRAMONTANO, 1998, p. 55). Portanto, estrutura independente e planta livre são premissas que favorecem o permanente estado de mudança das famílias (tamanho, composição) e a crescente diferenciação das necessidades de moradia. É uma alternativa que dá ao usuário a oportunidade de reformar a sua própria unidade, ao invés da mudança de domicílio. Analisando a fundo, flexibilidade pode ser entendida como o grau de liberdade que possibilita modos de vida diversos. Sendo assim, o grau de flexibilidade na habitação pode ser tanto maior quanto mais clara, neutra e ampla é sua estrutura, quanto mais ordenada e equilibrada é a sua compartimentação e quanto mais fácil for a supressão de paredes para a integração com os cômodos vizinhos (PAIVA, 2002). De acordo com Jorge (2012), a necessidade de um alto grau de flexibilidade é inversamente proporcional à área disponível das unidades, ou seja, quanto menor for o espaço da habitação, mais necessária é a necessidade de dotá-las de múltiplos instrumentos de flexibilidade. Os estudos de Jorge (2012) mostram a classificação de três grupos distintos na organização dos sistemas construtivos,
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revelando a importância de cada subsistema na constituição de soluções que contribuem para efetivar a flexibilidade construtiva. Cada subsistema - definido por estrutura, vedações e instalações - composto a partir de componentes e materiais que privilegiam processos de montagem, é apresentado por Mesquita (2000) com a identificação de parâmetros de flexibilidade sintetizados a seguir: 1. ESTRUTURA: Permitir o acréscimo de sobrecarga; O espaçamento de vigas e pilares deve ser amplo; Evitar alvenarias estruturais que impossibilitam abertura de vãos; Predileção por sistemas pré-fabricados ou pré-moldados; Dissociação dos demais subsistemas construtivos – vedações e instalações; 2. VEDAÇÕES: Soluções de vedação interna e externa a partir de componentes leves, de pouca espessura, alta transportabilidade, fácil instalação e manutenção, independente dos demais subsistemas. Preferência por fachadas contínuas; divisórias leves; painéis operacionais, armários móveis, painéis pivotantes; tetos em forros modulares, divisíveis e leves; pisos de fácil aplicação, montagem e desmontagem de componentes – pisos elevados, laminados, vinílicos; revestimentos com pisos e paredes já acabados; 3. INSTALAÇÕES: A principal diretriz é a dissociação das instalações da estrutura e das vedações; preferência pela concentração dos serviços em blocos; adoção de kits de serviços pré-fabricados e tubulações flexíveis; instalações de cabeamento estruturado e pré-cablagem. O percurso das instalações deve priorizar trajetórias sob pisos flutuantes e acima dos forros falsos e rebaixados. Nessa etapa do trabalho, será apresentada uma coletânea de alguns instrumentos para a implementação da flexibilidade arquitetônica estudados por Jorge (2012). As estratégias foram sistematizadas em uma tabela, utilizando descrições e diagramas explicativos, de forma a constituir um repertório das particularidades de cada tipo de estratégia possível de ser aplicada no processo projetual proposto neste trabalho. Mesmo não sendo possível prever todas as necessidades e alterações do modo de vida futuro, espera-se elencar uma gama de intenções projetuais que permitam dar suporte aos mais variados propósitos espaciais e modos de vida.
ESTRATÉGIAS DE F LEXIBILIDADE PARA EDIF ÍCIOS PLUR I FAMI LI AR ES TIPO
F INA LIDA DE
M ÉTOD O
ORGANIZACIONAL
• Gerar espaços habitáveis neutros, polivalentes e adaptáveis
• Organizar núcleos fixos para áreas molhadas • Criar áreas técnicas para concentração de instalações e dutos • Liberar a periferia do edifício de usos fixos
CÔMODO AUTÔNOMO
• Conferir autonomia aos membros familiares • Alugar peças independentes • Criar espaços de trabalho, lazer ou cômodos para coabitação, com independência de acessos
• Dispor peças separadas no interior da unidade • Localizar, no interior da unidade, cômodo independente sem articulação com os espaços privativos
• • • • •
• Dispositivos divisórios ativos e passivos • Empregar vedações leves, painéis removíveis e divisórias operacionais • Eliminar alvenarias internas • Mobiliário multifuncional ou retrátil
ADAPTABILIDADE
Acompanhar as mudanças do ciclo familiar Adaptações funcionais permanentes Alternar configurações espaciais Aumentar as possibilidades de uso dos ambientes Sobrepor atividades diurnas e noturnas
Tabela 1: Estratégias de flexibilidade para edifícios plurifamiliares. (Reprodução de textos e diagramas de JORGE, 2012, p. 228 a 233)
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ESTRATÉGIA S DE F LEXIBILIDADE PAR A EDIF ÍCIOS PLURIFAMIL I AR ES T I PO
FINA LIDA DE
ASSOCIAÇÃO VERTICAL INTEGRAL
• Criar unidades duplex • Criar unidades maiores, oferecer maior conforto para a família, e criar espaços para novos usos • Ter a experiência de morar em uma habitação que simula uma casa tradicional em dois pavimentos
• Disponibilidade do imóvel vizinho • Juntar dois apartamentos da mesma coluna, em andares diferentes • Introduzir escadas, rasgar lajes, redimensionar os cômodos
ASSOCIAÇÃO HORIZONTAL INTEGRAL
• Criar unidades maiores, oferecer maior conforto para a família, e gerar espaços para novos usos
• Disponibilidade do imóvel vizinho • Juntar dois imóveis contíguos no mesmo pavimento • Redimensionar os cômodos
• Integrar as varandas aos espaços internos adjacentes. • Ampliar a área social da unidade
• Fechar as varandas • Regularizar o piso, eliminar as vedações entre os ambientes associados
ASSOCIAÇÃO DE VARANDAS
M ÉTOD O
Tabela 2: Estratégias de flexibilidade para edifícios plurifamiliares. (Reprodução de textos e diagramas de JORGE, 2012, p. 228 a 233)
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ESTRATÉGIAS DE F LEXIBILIDADE PARA EDIF ÍCIOS PLUR I FAMI LI AR ES TIPO
F INA LIDA DE
M ÉTOD O
ASSOCIAÇÃO PARCIAL
• Programar a integração dos ambientes durante a execução da obra • Priorizar usos conforme preferências individuais dos moradores • Ampliar cômodos contíguos - Implica a supressão do ambiente associado
• Opções diversificadas de planta • Eliminar paredes • Introduzir divisórios ativos
MODULAÇÃO
• Permitir unidades de padrões diversificados
• Estratégia híbrida, que mescla modulação de intervalos estruturais, planos e elementos de fachadas
• Combater a especialização funcional interior e estimular novos usos • Dinamizar a paisagem urbana • Refletir a pluralidade residencial e estimular a diversidade
• Fachadas descontínuas • Alturas, formas, posicionamento diversificado das aberturas nas fachadas • Materiais, aberturas, cores e estilos diversos em um só volume
FACHADA PLURALISTA
Tabela 3: Estratégias de flexibilidade para edifícios plurifamiliares. (Reprodução de textos e diagramas de JORGE, 2012, p. 228 a 233)
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ESTRATÉGIA S DE F LEXIBILIDADE PAR A EDIF ÍCIOS PLURIFAMILI AR ES T I PO
FACHADA OPERACIONAL / DINÂMICA
FACHADA AMBÍGUA
F INA LIDA DE
M ÉTOD O
• Adaptabilidade do espaço interno • Independência das funções e da hierarquia dos cômodos especializados • Controle ampliado da privacidade, do clima e da composição final do edifício
• Elementos operacionais com mecanismos de abertura diversos
• Promover usos diversificados
• Fachada neutra • Aberturas sem hierarquia ou especialização funcional • Repetição de elementos de vedação
Tabela 4: Estratégias de flexibilidade para edifícios plurifamiliares. (Reprodução de textos e diagramas de JORGE, 2012, p. 228 a 233)
É importante ressaltar que esta parte do Capítulo utilizou a Tese de Doutorado de Jorge (2012) como elemento norteador, uma vez que compila num único estudo uma gama de conceitos e estratégias relacionadas ao tema da flexibilidade nos espaços de moradia. Portanto, este trabalho não pretende esgotar a discussão do tema, mas instigar a leitura, visando a criação de um repertório de possibilidades de aplicação da flexibilidade em espaços de moradia plurifamiliar.
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Conclui-se, assim, que há uma grande quantidade de recursos disponíveis para melhorar os espaços habitacionais. A partir desse entendimento, o desafio do trabalho será aplicar ao projeto proposto quantas estratégias de flexibilidade forem possíveis, para resultar na melhor adequação da moradia à diversidade de usos e usuários.
R E F E R Ê N C I A S P R OJ E T UA I S 3.1 - EDIFÍCIO NEMAUSUS Jean Nouvel - Nimes, França (1987) 3.2 - EDIFÍCIO EL MIRADOR MVRDV + Blanca Lleó - Madrid, Espanha (2005) 3.3 - RELEVÂNCIA DAS LEITURAS PROJETUAIS PARA O TRABALHO PROPOSTO
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3.1 Nemausus - Jean Nouvel (Nîmes, França - 1987) - LOCALIZAÇÃO: 66 Avenue du General Leclerc, Nimes, França
- GARAGEM: 139 vagas
- CLIENTES: Governo Francês (Ministério da Habitação e Território)
- ORÇAMENTO: 5,5 milhões de euros
Prefeitura Municipal de Nîmes
- ÁREA DO LOTE: 10.400 m²
- PROGRAMA: Habitação de Interesse Social
- ÁREA CONSTRUÍDA TOTAL: 16.000 m²
- PERÍODO DE EXECUÇÃO DA OBRA: 1985 - 1987
- PROJEÇÃO DA ÁREA CONSTRUÍDA: 4.886 m²
- NÚMERO DE PAVIMENTOS: 7
- TAXA DE OCUPAÇÃO: 47%
- UNIDADES HABITACIONAIS: 114 unidades em 2 edifícios
- COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO: 1,87
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3 .1 .1 R E L AÇÃO DO O BJETO CO M O EN TOR N O LOCAL IZAÇ ÃO E CO NT E X TO
• Nimes é uma cidade situada no Sul da França, perto do Mar Mediterrâneo, com clima quente durante a maior parte do ano. • Em 1985, o prefeito da cidade de Nimes convidou Jean Nouvel para projetar um edifício habitacional de interesse social em uma zona industrial à Sudeste da cidade, como parte de um programa para renovar o distrito de habitação pública da década de 60. • O local disponibilizado pelo município era um terreno baldio industrial na periferia da cidade. A paisagem urbana envolvente era uma mistura de indústria leve e habitação, principalmente casas unifamiliares de baixa renda.
Figura 39: Baixo gabarito do entorno, descando a edificação na paisagem. (Disponível em:
Figura 38: Localização da cidade de Nimes, ao Sul da França. (Disponível em: <es.wikiarquitectura.com/edificio/ViviendasNemausus/>, acessado em 10/05/18)
<es.wikiarquitectura.com/edificio/ Viviendas-Nemausus/>, acessado em 10/05/18)
3.1.2 RELAÇÃO DO OBJETO COM O lote i mpl an taç ão • Os dois blocos paralelos de 7 pavimentos, foram orientados sobre o eixo Nordeste-Sudoeste, deixando as longas fachadas voltadas para o Noroeste e para o Sudeste.
• Os edifícios possuem comprimentos diferentes (152 e 94 metros), uma vez que um dos blocos teve que ser menor para se encaixar na área irregular do lote, definida pelos edifícios existentes ao redor. • A fachada Sudeste, que recebe maior insolação, foi ocupada pelos terraços privativos das unidades e a circulação pública na face oposta como veremos melhor na distribuição espacial do edifício. Figura 41: Caminho do Sol em relação à edificação. (Disponível
em: <https://es.wikiarquitectura. com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 10/05/18)
Figura 40: Vista aérea da implantação. (DIisponível em: <�pa3y4. wordpress.com/2016/04/23/viviendas-nemausus-nimes-francia-jeannouvel-1985-1987-investigacion-de-daniel-silva/>, acessado em 10/05/18) Figura 42: Edifícios elevados sobre pilotis viabilizaram a existência de um estacionamento coberto em um nível inferior, semienterrado. (Imagem disponível em: <https://es.wikiarquitectura. com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 10/05/18)
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3.1. 3 CO MPOSI ÇÃO PLÁ ST I C A DA VOLUM ETR IA • Jean Nouvel se inspirou em edifícios industriais e no design de navios, utilizando componentes industriais pré-fabricados em todo o edifício, que é composto por 2 imponentes volumes longilíneos, de tamanhos diferentes.
Figura 43: A iluminação à noite reforça ainda mais a composição plástica que lembra um navio. (Disponível em: <�pa3y4.wordpress.com/2016/04/23/viviendas-
nemausus-nimes-francia-jean-nouvel-1985-1987-investigacion-de-daniel-silva/>, acessado em 17/05/18)
Figura 44: Vista da cobertura evidenciando a forma longilínea do volume, com o comprimento bem maior que a largura e a altura. (Disponível em: <es.wikiarquitectura.com/edificio/Viviendas-Nemausus />, acessado em 11/05/18)
3.1. 4 PRO GRA MA E DI ST RIBUIÇÃO ESPACIAL
• O programa conta com 114 apartamentos divididos em diferentes tipologias quanto ao arranjo espacial e área, sendo unidades de 1 pavimento, duplex ou triplex, resultando em 17 tipos diferentes de unidades. distribuídas ao longo de 7 pavimentos. • A área construída total de 10.400 m², sendo a média de área por apartamento de 91 m², muito acima de um tradicional exemplar de habitação social. Figura 45: Planta tipo das duas lâminas do edifício Nemausus, com as unidades ocupando a porção central dos volumes, circulações na fachada Noroeste terraços privativos das unidades na Sudeste. (Disponível em:<es.wikiarquitectura.com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 11/05/18)
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ESTAC IO N AMEN TO S E M I E NT E R R A D O • A opção por elevar os blocos sobre pilotis de concreto armado contribuiu para a permeabilidade do espaço na escala do pedestre e liberou espaço para 139 vagas de estacionamento cobertas.
Figura 46: Planta do estacionamento semienterrado.
(Disponível em: <es.wikiarquitectura.com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 11/05/18)
• Abaixar o nível em relação à rua, deixando os carros semienterrados, serviu para definir rotas de acesso específicas, sem perder a permeabilidade visual e ventilação natural.
Figura 47: Estacionamento no nível semienterrado. (Disponível em: <e�pa3y4.
wordpress.com/2016/04/23/viviendasnemausus-nimes-francia-jean-nouvel1985-1987-investigacion-de-daniel-silva/>, acessado em 18/05/18)
ár e as d e co n v í v i o p úb l i co e pa rt i cul ar • Os dois tipos de terraços colocados nas fachadas norte e sul foram concebidos visando não apenas a criação de espaços de circulação, mas também para extensão dos apartamentos, objetivando atender à cultura de reunião entre as pessoas nos espaços abertos presente nessa região. Para tanto, estes espaços possuem largura avantajada (2,5 m), além de contar com bancos em toda sua extensão, reiterando assim seu papel de convite à sociabilidade. • A praça central também é um elementochave para socialização dos moradores.
Figura 48: Terraços privados na fachada Sul.
(Disponível em: <es.wikiarquitectura.com/edificio/ Viviendas-Nemausus/>, acessado em 17/05/18)
Figura 49: Praça central (Disponível em: <es.wikiarquitectura.com/edificio/ViviendasNemausus/>, acessado em 18/05/18)
unidade s h abitac i o na i s • A área privada de cada apartamento ocupa toda a largura do edifício. Para expandir ainda mais, Nouvel transbordou na fachada sul um terraço de 15m², simétrico aos corredores públicos da fachada Noroeste. O módulo típico das unidades é definido pelas medidas de 5x12m, incluindo o espaço do terraço privativo. • Jean Nouvel achava que as habitações deveriam ser grandes, versáteis e flexíveis, sob o argumento de que a quantidade de espaço é mais valiosa, a longo prazo, do que a qualidade do acabamento. • Apenas a posição da circulação vertical (escadas, quando existentes) e o núcleo hidráulico foram determinados nas unidades, garantindo ao usuário uma infinidade de possibilidades de ocupação do espaço. • O piso livre permite que todos os ambientes, incluindo os banheiros, recebam luz natural, que entra por ambas as fachadas. • Da mesma forma, a ventilação natural percorre todo o espaço interno, pois não há separação formal entre os ambientes. É um espaço aberto que oferece uma nova maneira de viver, com 17 opções de planta disponíveis entre simplex, duplex e triplex.
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Figura 50: Corte esquemático mostrando a distribuição programática e a ventilação cruzada nas unidades. (Ilustração de autoria própria)
• Das 17 opções de planta disponíveis, 6 são da tipologia simplex, 8 da duplex e 3 da triplex, variando a localização do bloco da hidráulica e, consequentemente, a distribuição dos ambientes ao redor dele. • O bloco hidráulico e a escada são elementos que o arquiteto combina livremente de um apartamento para outro. Em ambos os lados do bloco central, o tráfego é livre, sem partição ou porta.
exem p lo d e un i dad e t r i p l ex 1 1 0 m ²
terraço
nível 2
corredor de acesso
corredor de acesso
exemplo de unidade duplex 1 00m ² terraço
corredor de acesso
terraço
e x e m p lo d e un i dad e s i mp l e s 108m ²
nível 1
Figuras 51, 52 e 53: Planta e corte de 3 tipologias possíveis: um pavimento, duplex e triplex, respectivamente. Em azul destaca-se nas plantas o bloco hidráulico de cada unidade e nos cortes, em amarelo os espaços com pé direito duplo ou triplo. (Imagem editada pela autora, disponível em:
<es.wikiarquitectura.com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 21/05/18)
nível 3 nível 2 nível 1
I N T E R I O R L I VRE • Determinando-se apenas a área do núcleo hidráulico de forma central na planta, Nouvel garante ao usuário uma infinidade de apropriações do espaço, com opções de espaços mais amplos ou segmentados. • Para diminuir de forma significativa o custo das unidades, Nouvel estendeu a qualidade industrial ao interior das unidades de moradia, onde o concreto é deixado inacabado e painéis e escadas metálicas préfabricadas também são usadas. Isso serviu como incentivo aos moradores para transformar seus próprios apartamentos de forma a atender às suas necessidades. • Em algumas unidades, a largura de 5 metros foi dividida em ambientes menores, porém, na maioria dos apartamentos, a largura total foi mantida. Como parte da compartimentalização, foram utilizadas partições semitransparentes - típicas de design de escritórios.
Figura 54: O bloco hidráulico central separando a cozinha da sala de estar. (Disponível em: <es.
wikiarquitectura.com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 14/05/18)
Figura 55: Elementos de layout aberto e particionamento emprestados do design do escritório. (Disponível em:
<es.wikiarquitectura.com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 14/05/18)
Figura 56 e 57: Parede em concreto aparente e escada pré-fabricada. (Disponível em: <es.wikiarquitectura. com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 14/05/18)
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3.1.5 ACESSOS E EIXOS DE CIRCULAÇÃO • Os veículos acessam o edifício pela rua lateral e percorrem caminhos internos até achegar no pavimento da garagem (semienterrado sob os edifícios). • No nível semi-enterrado da garagem temos o acesso aos elevadores, sendo 1 no bloco menor e 2 no bloco maior. • No nível da rua temos o acesso de pedestre às escadas externas, na fachada norte dos blocos.
Figura 58: Acesso de veículos a partir da rua lateral e escada externa para acesso aos pavimentos.
(Disponível em: <�pa3y4.wordpress.com/2016/04/23/ viviendas-nemausus-nimes-francia-jean-nouvel-1985-1987investigacion-de-daniel-silva/>, acessado em 15/05/18)
Figura 59: Esquema dos eixos de circulação horizontal e vertical em planta. (Disponível em: <es.wikiarquitectura.com/ edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 18/05/18)
CIRCULAÇAO HORIZONTAL Veículos Pedestres CIRCULAÇÃO VERTICAL Elevador Escada
• A circulação vertical se dá através de escadas metálicas localizadas na parte externa dos edifícios. Sua conexão com a circulação horizontal nos pavimentos se faz por meio de pontes metálicas. • Os corredores das circulações horizontais são encontradas ao longo da fachada norte de cada volume, formando verdadeiras “ruas nas alturas” com uma largura de 2,5 metros, que permite percorrer a pé ou de bicicleta e serve de espaço para relações de vizinhos e expansão da habitação.
Figura 60: Ponte e escada metálica.
(Disponível em: <es.wikiarquitectura. com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 15/05/18)
Figura 61: Corredores de circulação horizontal. (Disponível em: <eswikiarquitectura. com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 15/05/18)
Figura 62: Corte esquemático mostrando os eixos de circulação horizontal e vertical (laranja - escadas, vermelho - elevador). (Imagem editada pela autora, disponível em: <es.wikiarquitectura.com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 20/05/18)
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3.1.6 SISTEMA ESTRUTURAL • Os dois blocos do edifício Nemausus foram apoiados sobre pilares de concreto armado dispostos a cada 5 metros. Essa é a medida básica que determina a largura mínima dos apartamentos, as vagas de estacionamento e o espaçamento das vigas de concreto que sustentam as passagens, permitindo que o arquiteto monte suas fachadas livremente. • Sobre estes pilares descarregam as paredes de concreto pré-fabricado que separam cada apartamento, as quais se repetem ao longo dos pavimentos. Desta maneira, geramse módulos idênticos, os quais, combinados uns aos outros, resultam nas diferentes tipologias.
Figura 63: Pilotis a cada 5m.
Figura
Figura
Figura 67: Cobertura pousando sobre os volumes. (Disponível em: <es.
(Disponível em: <es.wikiarquitectura. com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 16/05/18)
64:
Paredes
de
concreto.
(Disponível em:<es.wikiarquitectura.com/ edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 16/05/18)
• Além do concreto armado, a estrutura metálica também foi utilizada neste projeto, como se observa nas escadas e pontes externas, que são estruturalmente independentes. • Completando a composição, temos a cobertura em estrutura metálica que pousa sobre os volumes e oferece um sombremaneto fundamental para proteger do calor do Mediterrâneo. Figura 65: Maquete estrutural. (Disponível
em: <es.wikiarquitectura. com/edificio/ViviendasNemausus/>, acessado em 16/05/18)
66:
Escadas
metálicas.
(Disponível em: <es.wikiarquitectura. com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 16/05/18)
wikiarquitectura.com/edificio/ViviendasNemausus/>, acessado em 16/05/18)
3.1.7 fechamentos • O revestimento das fachadas é feito por chapas galvanizadas de alumínio, o que permite a substituição de painéis ou elementos individuais sempre que necessário. O painel metálico substituído, por outro lado, pode ser reciclado sem gerar qualquer quantidade significativa de resíduos de demolição. • Persianas com cores primárias iluminam a fachada. Cada cor refere-se ao um tamanho de apartamento.
Figura 69: Fachada com persianas coloridas. (Disponível em: <es. wikiarquitectura.com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 16/05/18)
Figura 68: Fachada com chapas galvanizadas de alumínio. (Disponível em: <es. wikiarquitectura.com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 15/05/18)
Figura 70: Maquete mostrando as persianas coloridas que geram variabilidade na fachada. (Disponível em: <es.wikiarquitectura.
com/edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 15/05/18)
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3.1.8 ABERTURAS • Nas unidades de moradia, o amplo acesso aos terraços exteriores ocorre por meio de uma porta de alumínio de quatro folhas dobráveis. É um modelo construído em série usado para equipar as garagens de bombeiros, melhorado para se adaptar às exigências do moradia. Dessa forma, podemos considerar que o terraço é parte integrante da sala principal, criando uma dualidade interior/exterior interessante. Todas as outras portas utilizadas no edifício são metálicas, com design industrial simples.
Figura 71: Porta de alumínio com abertura total para integrar o terraço ao interior das unidades.
(Imagem disponível em: <es. wikiarquitectura.com/edificio/ Viviendas-Nemausus/>, acessado em 13/05/18)
• As janelas formam grandes panos de vidro que se extendem por todas as fachadas. Nas fachadas maiores, elas dividem espaço com as chapas de alumínio do revestimento, formando uma faixa de janelas em fita. Nas fachadas menores, onde não há cuntinuação do corredor ou terraço, localizam-se grandes painéis de vidro que ocupam todo o pé direito das unidades, trazendo uma qualidade espacial inédita em habitações de interesse social.
Figura 72: Janelas em fita nas fachadas maiores.
(Disponível em: <es. wikiarquitectura.com/edificio/ Viviendas-Nemausus/>, acessado em 13/05/18)
3.1.9 MATERIALIDADE • Uma premissa fundamental para o êxito do projeto foi a escolha de materiais industrializados pré-fabricados e objetos de fácil repetição e montagem. • Para estruturar os volumes (pilotis, vigas, lajes e paredes divisórias das unidades) foi utilizado concreto armado. • Para as escadas e pontes que pousam na fachada norte dos blocos, aço. Para o piso das escadas externas, parapeitos, bancos e painéis inclinados dos corredores e terraços, foram usadas chapas perfuradas de alumínio galvanizado. • Na mesma identidade visual de materiais industrializados, temos chapas de alumínio revestindo as fachadas. • Na cobertura, grelhas do PVC são usadas para preencher a estrutura metálica.
Figura 73: Pilotis e lajes de concreto.
(Disponível em: <es.wikiarquitectura.com/ edificio/Viviendas-Nemausus/>, acessado em 13/05/18)
Figura 74: Escadas de chapas de alumínio perfurado. (Disponível em:
<es.wikiarquitectura.com/edificio/ Viviendas-Nemausus/>, acessado em 13/05/18)
• Além da diminuição dos custos, os materiais utilizados dão ao edifício um aspecto único e marcante na paisagem. • As escadas metálicas possuem seções retangulares pintadas com faixas vermelhas e brancas, destacando a linguagem industrial. Figura 75: Chapas de alumínio perfurado nos parapeitos e bancos. (Disponível em: <es.wikiarquitectura.com/edificio/ViviendasNemausus/>, acessado em 13/05/18)
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• O uso de cores fortes sobre o cinza do concreto e do metal, seja por meio de elementos coloridos ou iluminação, ajuda a destacar ainda mais os volumes do entorno em que está inserido.
3.2 EL MIRADOR - MVRDV + BLANCA LLEÓ (MADRID, ESPANHA -2005) - LOCALIZAÇÃO: Rua Princesa de Éboli, 21 - Sanchinarro, Madrid, Espanha
- COEFICIENTE DE OCUPAÇÃO: 0,11
- CLIENTE: Programa de Atuação Urbanística da Prefeitura de Madrid
- RELAÇÃO ÁREA/PISO: 1,60
- PROGRAMA: Habitação plurifamiliar e praça elevada (mirante)
- UNIDADES HABITACIONAIS: 156
- ÁREA DO TERRENO: 10.000 m²
- GARAGEM: 165 vagas no subsolo
- ÁREA CONSTRUÍDA: 18.300 m²
- ANO DE EXECUÇÃO DA OBRA: 2001-2005
- NÚMERO DE PAVIMENTOS: 21
- ORÇAMENTO: 10 milhões de euros
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3 . 2 .1 R E L AÇÃO DO OBJETO COM O EN TOR NO LOC AL IZAÇ ÃO E CO NT E X TO • A abertura das fronteiras europeias causou um boom imobiliário na Espanha e os valores das terras aumentaram rapidamente, levando a um aumento na produção de moradias. Em Madrid, esta operação é facilitada por gigantescos novos bairros que circundam o centro histórico, cuja arquitetura parece ser bastante introvertida, com blocos compactos e pequenas janelas cercando pátios privados, criando uma experiência isolada que se opõe à cultura espanhola tradicionalmente extrovertida. • O edifício El Mirador está localizado em Sanchinarro, um subúrbio residencial no extremo Nordeste de Madrid que sofreu uma rápida urbanização e se enquadra neste contexto em que muitos dos edifícios que povoam o entorno são blocos habitacionais de 6 pavimentos, repetitivos e anônimos, que compõem uma paisagem urbana homogênea, porém indefinida. Figura 76: Vista aérea da localização do Edifício El Mirador e seu entorno.
(Disponível em: <http://mirador-mvrdv.blogspot.com/2007/>, acessado em 22/05/18)
Figura 77: El Mirador se destaca na paisagem, com edifícios de 6 pavimentos ao redor. Visual das montanhas de Guadarrama ao fundo. (Disponível em: <ehttp://mirador-mvrdv.blogspot.com/2007/>, acessado em 22/05/18)
• Com seus 63,4 metros de altura, o edifício localizado em frente a uma rotatória se destaca como um marco urbano em Sanchinarro. A área é rodeada por rodovias e tem vista privilegiada para as montanhas de Guadarrama, o que o projeto soube aproveitar muito bem, enquadrando a bela paisagem através de um grande mirante localizado a 40 metros de altura, monumentalizando a vida pública e o espaço.
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Figura 78: Desenho esquemático mostrando o edifício como marco urbano na paisagem. (Fonte: Livro Why Density? a+t architecture publishers, 2015, p. 143)
3.2. 2 RELAÇÃO DO OBJETO COM O lote im p l an taç ão • A forma do edifício El Mirador é uma metáfora do bloco habitacionais típico do entorno, colocado “verticalmente”. Ou seja, a tipologia das casas em torno de um pátio inacessível é virada de lado, criando um grande espaço aberto a 40 metros do solo.
• O edifício de 21 andares pode ser definido como um conjunto de mini-bairros empilhados verticalmente em torno de uma praça semi-pública elevada, atuando como um ponto de referência na paisagem, em contraponto à uniformidade maciça dos blocos habitacionais circundantes. • As unidades habitacionais são agrupadas em pequenos blocos que são empilhados e justapostos, criando um superbloco em comunidade.
Figura 79: Implantação do edifício na quadra com os respectivos acessos. (Imagem de autoria desconhecida, disponível em: <http://www. galinsky.com/building/mirador>, acessado em 21/05/18)
• A proposta com alta densidade verticalizada permite ocupar menos área no solo, gerando mais espaço para o usufruto público.
circulação blocos de moradia Figura 80: Implantação do edifício utilizando uma metáfora dos blocos habitacionais do entorno. (Disponível em: <http://imgs. abduzeedo.com/files/archi/mvrdv/3949821077_f975bdf6fc.jpg>, acessado em 21/05/18)
MIRANTE / PRAÇA ELEVADA
Figura 81: Blocos de moradia que formam as “vizinhanças” do edifício El Mirador, com a circulação destacada em vermelho. (Disponível em: <https://www. mv rd v. n l / p ro j e c t s / mirador/>, acessado em 15/05/18)
Figura 82: Desenho esquemático mostrando como o aumento de densidade em edifícios verticalizados ocupa menos espaço no solo em comparação com as moradias com baixo gabarito. (Disponível em: < http://mirador-mvrdv.blogspot.com/2007/ >, acessado em 23/05/18)
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3 . 2 .3 COM POSIÇÃO PLÁ ST I CA DA VOLUM ETR IA • Plasticamente, a volumetria é um grande prisma, formado pelo agrupamento de 9 blocos dispostos em torno de um vazio comunitário ao ar livre, com “ruas” internas percorrendo os espaços. • Pode ser interpretado como uma compilação de peças tridimensionais de tetris. • Apesar da composição distinta de blocos residenciais e distribuição assimétrica da circulação, as 4 fachadas possuem a mesma identidade visual, portanto, a volumetria não apresenta frente e verso. A pureza da forma, com sua verticalidade imponente e o grande vão enquadrando a paisagem atraem o olhar por qualquer ângulo que se observe o edifício.
Figura 83: Coletânia de imagens de todas as fachadas do edifíco. Apesar de diferentes, possuem a mesma identidade visual. (Disponíveis em: <https:// www.mvrdv.nl/projects/mirador/>, acessado em 23/05/18)
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3.2. 4 PRO GRA MA E DI ST RIB UIÇÃO ESPAC IAL • A praça semi-pública elevada é facilmente acessível com uma conexão direta de elevador da praça em torno do edifício. Este espaço público elevado está rodeado por diferentes bairros, uma grande variedade de tipos de habitações compactas que integram diferentes grupos sociais e estilos de vida. • As fendas entre os blocos atuam como zonas de acesso e são concebidas como becos verticais. Sua transformação ao longo de cada itinerário aglomera o compêndio de tipologias que se estruturam como pequenos subúrbios. Isso leva a uma sequência vertical de escadas, corredores, plataformas e ruas. Cria uma vizinhança vertical. Torna-se o ponto de referência do bairro.
ESTACIONAMENTO SUBDIVIDIDO ENTRE DOIS NÍVEIS NO SUBSOLO
PERCEPÇÃO DA CIDADE
PERCEPÇÃO DO EDIFÍCIO
USO DO ESPAÇO
SOCIABILIDADES
Figura 84: Praça semi-pública elevada (espaço de socialização e mirante). (Disponível em: <http://mirador-mvrdv.blogspot.com/2007/>, acessado em 23/05/18)
Figura 85: Corte do edifício mostrando a localização dos 2 níveis de garagem no sobsolo. (Disponível em: <http://www. galinsky.com/building/ mirador>, acessado em 23/05/18)
Figura 86: Qualidades espaciais que o edifício consegue transmitir aos usuários. (Fonte: Livro Why Density? a+t architecture publishers, 2015, p. 141)
Figura 87: Perspectiva explodida mostrando os 9 blocos de moradia que compõem o edifício. (Fonte: Livro Why Density? a+t architecture publishers, 2015, p. 149)
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UNIDA D E S H ABITAC I O NA I S
S IMPLE S D UPLEX
S IMPLE S T R I P L EX
S IMPLE S
D UPLEX + CO BE RT URA
CIRCULAÇÃO
48
ÁREA MOLHADA
TERRAÇO
Figuras 88: Coletânia de tipologias dos apartamentos de cada um dos 9 blocos de habitação (Fonte: Livro Why Density? a+t architecture publishers, 2015, p. 150-161)
3.2. 5 ACESSOS E EI XOS DE C IR CULAÇÃO
ELE
VA D
• O acesso às moradias pelo sistema de escadas é feito diretamente no pavimento térreo, sob o prédio.
OR
ES
• O acesso de veículos é feito por uma rampa que leva aos dois pavimentos de garagem no subsolo. • A praça semi-pública nas alturas é facilmente acessível com uma conexão direta de elevador a partir do térreo. • A circulações no edifício funcionam como pequenas ruas verticais. Suas transformações ao longo de cada rota conecta as tipologias estruturadas como pequenas vizinhanças.
ESC A
DA TER S ABE RA RTA ÇO S SE
• A inserção de terraços em diferentes alturas entre os blocos de habitação permite a mudança de direção dentro do circuito, de maneira que o sistema flui por todas as fachadas e se converte em um elemento reconhecível, que se destaca ainda mais pela cor contrastante.
Figuras 89: Perspectiva esquemática mostrando como os blocos se conectam entre si e com a circulação. (Ddisponível em: <https:// www.mvrdv.nl/projects/ mirador/>, acessado em 25/05/18)
Figura 90: Terraços entre os blocos de habitação se destacam na fachada. (Disponível em: < https:// abduzeedo.com/architect-day-mvrdv>, acessado em 22/05/18)
ESC AD E C AS F OR EC RE HA DO DA RE S S
Figuras 91: Perspectiva esquemática dos acessos e circulações por todo o edifício. (Fonte: Livro Why Density? a+t architecture publishers, 2015, p. 144)
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• A escada dupla sobreposta, onde a exterior e a interior alternam-se dentro de uma caixa de escadas comum, é uma estratégia de desenho que dimui custo e espaço de um edifício com orçamento limitado. A comunicação entre ambas as escadas é possível em todas as alturas, tanto através do lobby dos elevadores, quanto pelos terraços compartilhados. • Além de uma rede de “becos” que fornecem circulação horizontal, existem plataformas para encontros e atividades públicas.
ESCADA ABERTA
ESCADA FECHADA
CORREDORES CONECTANDO AS ESCADAS FECHADAS COM OS ELEVADORES
SISTEMA DE ESCADA DUPLA Vermelho = escada aberta Branco = escada fechada
Figuras 92 e 93: Escadas e corredores formam becos internos, com plataformas para encontros e atividades. (Imagem disponível em: <https://
abduzeedo.com/architect-day-mvrdv>, acessado em 25/05/18)
Figura 94: Esquema das escadas aberta e fechada sobrepostas. (Fonte: Livro Why Density? a+t
architecture publishers, 2015, p. 146)
3 . 2 .6 E STR UTURA E FECHA MENTOS • O sistema estrutural deste edifício é o aço montado in loco, com modulação horizontal e vertical. • Para criar sua expressão única, o vão livre a 40 metros de altura, foi utilizado um sistema de treliça de vários andares. Olhando de perto a imagem abaixo, pode-se traçar o contraventamento diagonal onde as janelas foram omitidas. • O fechamento (sistema de vedação) foi feito com alvenaria de tijolo cerâmico oco. Figura 95: 3D da estrutura em aço, com treliças para vencer o vão do mirante. (Disponível em: <http://www.galinsky.com/building/mirador>, acessado em 30/05/18)
Figura 97: Localização do contraventamento diagonal. (Disponível em: <http://www.galinsky.com/building/ mirador>, acessado em 25/05/18)
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Figura 96: Modulação horizontal e vertical da estrutura. (Disponível em: <http:// www.galinsky.com/building/mirador>, acessado em 25/05/18)
Figura 98: Modulação estrutural no interior do edifício. (Disponível em: <http://www.galinsky. com/building/mirador>, acessado em 25/05/18)
3.2.7 MAT ERI A LIDA DE • Uma das estratégias para destacar os diferentes blocos de moradia é a variedade de materiais, texturas e cores dos revestimentos, variando em tons de cinza, preto e branco. Foram utilizados diferentes tipos de concreto reforçado com fibra de vidro (GRC), granito, calcário, ardósia e materiais cerâmicos de pequeno formato. • Enquanto isso, as áreas destinadas à circulação se destacam devido à sua cor laranja brilhante.
Figura 99: Variedade de materiais, cores e texturas. (Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/ josecarlosmelodias/3261849048/>, acessado em 26/05/18)
Figura 100: Revestimento. (Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/ josecarlosmelodias/3261849048/>, acessado em 26/05/18)
Figura 101: Revestimento. (Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/ josecarlosmelodias/3261849048/>, acessado em 26/05/18)
Figura 102: Variedade de materiais, cores e texturas. (Disponível em: <https://abduzeedo. com/architect-day-mvrdv>, acessado em 26/05/18)
3.2. 8 ABERT URA S • A heterogeneidade tipológica também surge nas fachadas por meio de modulação e posição das aberturas, que variam de acordo com o bloco e tipo de apartamento. Dessa forma, não existe nenhum compromisso com a repetição ou organização das aberturas no volume como um todo. • Há vários tipos de formato e materialidade das esquadrias, desde vidro até metálicas perfuradas, trazendo um ar industrial para a composição. • Algumas unidades possuem varandas, que formam aberturas maiores nas fachadas.
Figura 103: Porta metálica.
(Disponível em: <https:// w w w. f l i c k r. c o m / p h o t o s / josecarlosmelodias/3261849048/>, acessado em 26/05/18)
Figura 104: Localização das aberturas nas 4 fachadas, variando conforme o bloco de moradia. (Disponível em: < https://www.mvrdv.nl/projects/mirador/>, acessado em 25/05/18)
Figura 105: Variedade de formatos e composições das aberturas. (Disponível em: <https://abduzeedo.com/ architect-day-mvrdv>, acessado em 26/05/18)
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3.3 RELEVâ NCI A DA S LEITUR AS P R OJ ETUAIS PAR A O tr abalho pro posto N e m aus us - J e a n No uvel ( Ni m e s , F r a nç a - 1 9 87)
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El Mi rador - MVRDV + Bla n ca Lleó Madri d, Espanh a - 2005)
A grande qualidade do projeto consiste em se ter alcançado uma concepção espacial que reflete as premissas que, segundo Nouvel, são indispensáveis ao espaço de morar: maior área possível, flexibilidade e baixo custo. Ele elevou os volumes sobre pilotis, utilizando o espaço criado como garagem, sem precisar gastar com pavimentos no subsolo. Largos corredores e terraços criaram espaços de sociabilidade essenciais à reprodução do cotidiano da família e da sociedade.
Um dos pontos altos do edifício El Mirador é a praça semi-pública elevada, que oferece um espaço ao ar livre para apreciar a vista privilegiada do skyline de Madrid e das montanhas, além de permitir que os moradores se reunam para conversar, brincar, festejar. Toda essa qualidade espacial atrai também outros usuários, além dos moradores do edifício. Hoje em dia, o espaço é um ponto de encontro de turistas do mundo todo.
Utilizar elementos industriais pré-fabricados tornou o projeto mais econômico e sustentável, além de trazer uma visual inovadora ao projeto. Resumindo: o edifício Nemausus atende as limitações econômicas, preservando a qualidade espacial e a humanização dos espaços, resgatando o sentido de habitar em sua forma mais profunda e verdadeira.
Uma estratégia interessante para destacar os diferentes blocos de moradia foi a variedade de materiais, texturas e cores dos revestimentos e a heterogeneidade que surge nas fachadas por meio de modulação e posição das aberturas de acordo com o bloco e tipo de apartamento. Assim, todas as fachadas são diferentes, apesar de seguir a mesma identidade visual.
Outro ponto relevante deste projeto é a flexibilidade dos espaços interiores. Cada apartamento tem um bloco fixo de hidráulica e armazenamento, deixando a planta livre em todo o espaço ao redor. A grande variedade de plantas com multi-pavimentos disponíveis, desde unidades de 1 pavimento até triplex, também é um trunfo, além das grandes portas dobráveis, que permitem integração da moradia com o expaço externo.
Outra característica relevante é a complexidade do sistema de circulação, que ora está fechado, ora está aberto, ora cria vazios que são os terraços dentro dos próprios blocos de moradia, que também podem ser utilizados como mirante ou espaço de lazer. Em outras palavras, a justaposição de diferentes tipologias residenciais e a criação de lacunas entre elas geram uma série de tensões espaciais que buscam enriquecer a vida em comunidade.
CO NDICIO NANTES PR OJ E TUA I S Leitura da área de intervenção escolhida e das condicionantes ambientais, legais e funcionais consideradas para o desenvolvimento do projeto.
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4 CONDICIONANTES PROJETUAIS 4 .1 Lo ca lização: RI B EIR ÃO P R ETO - QUAD R ILÁTER O CEN TR AL A cidade escolhida para o projeto é Ribeirão Preto, que possui 666.323 habitantes e perímetro urbano de 127,309 km². Com 99,7% de seus habitantes vivendo na zona urbana, seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,800, considerado elevado (Dados: IBGE 2015). PERÍMETRO URBANO QUADRILÁTERO CENTRAL
Figura 106: Mancha urbana Ribeirão Preto. Fonte: Google Earth (2018), editada pela autora, sem escala.
Dentro do perímetro urbano do municípo, o Centro apresenta características necessárias para o que se propõe, como veremos ao longo deste levantamento. É sabido que o Quadrilátero Central, delimitado pelas Avenidas Gerônimo Golçalves, Francisco Junqueira, Independência e Nove de Julho, possui a rede de infraestrutura urbana já consolidada, abundante oferta de equipamentos, Figura 107: Delimitação do Quadrilátero Central. Fonte: Google Earth (2018), editada pela autora, sem escala.
comércio e serviço, além de oferecer amplas opções de transporte para acessar outros bairros da cidade e até mesmo outras cidades da região.
Figura 108: Vista aérea do Quadrilátero Central. Fonte: JR Studio Fotografico, disponível em skyscrapercity.com, editada pela autora.
55
4 . 2 As pectos Físi cos e A m b ien tais INS OL AÇ ÃO E V E NTI L AÇ ÃO
MI CROCL I MA URBANO
No mapa de aspectos físicos e ambientais está indicado o caminho percorrido pelo sol (de Leste para Oeste, com inclinação para o Norte) e a direção preferencial do vento na região, que é Sudeste-Noroeste.
Ribeirão Preto possui clima tropical úmido, que se caracteriza pelo verão chuvoso e pelo inverno seco, com forte incidência solar. Na região central, a elevação da temperatura costuma ser consequência do conjunto formado pela substituição da vegetação por asfalto, concreto e outras superfícies impermeáveis (ocasionando grande absorção da radiação solar) e verticalização das construções sem planejamento adequado.
Figura 109: Mapa de Aspectos Físicos do Quadrilátero Central. Fonte: Mapa base fornecido pela PMRP, editado pela autora.
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DECL IV I DA DE E CURSOS D'ÁG UA Entre o ponto mais baixo e o mais alto do Quadrilátero Central existe uma declividade média da ordem de 8%. No geral, a área possui baixa declividade, exceto na região Sudoeste do mapa, onde as curvas de nível estão mais próximas. O caimento da água pluvial segue o desenho do traçado ortogonal, em direção aos fundos de vale dos córregos Retiro Saudoso (Av. Francisco Junqueira) e Ribeirão Preto (Av. Gerônimo Gonçalves). A Carta Hipsométrica abaixo mostra a diferença de altitude, por meio de um dregradê de cores de 5 em 5 curvas de nível (5 metros de altura), onde o lilás representa a parte mais baixa e o vermelho representa a parte mais alta da topografia, corroborando esta análise.
Figura 110: Mapa Hipsométrico mostrando a diferença de altitude no Quadrilátero Central, com as curvas de nível de 5 em 5 metros. Fonte: Mapa base fornecido pela PMRP, editado pela autora.
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4 . 3 Equipa mentos Urba nos
Figura 111: Mapa de Equipamentos Urbanos no Quadrilรกtero Central. Fonte: Mapa base fornecido pela PMRP, editado pela autora.
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AN ÁL ISE D OS EQ UI PA M E NTOS URBANOS Por se tratar do Centro da cidade, a região conta com importantes equipamentos de escala municipal e regional, como a Prefeitura e a Câmara Municipal, o Terminal Rodoviário, o Shopping Santa Úrsula, a Igreja Catedral, o Instituto de Criminalística e o Mercadão, por exemplo. O modal mais representativo é o Educacional, com grande oferta de escolas de 1º e 2º grau, públicas e particulares, como a Escola Estadual Otoniel Mota e o Colégio Marista, respectivamente.
Figura 112: Terminal Rodoviário de Ribeirão Preto. Fonte: Google Maps (2018)
Como Lazer e Cultura, temos o Teatro Pedro II, o Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP), o Parque Maurílio Biagi, o SESC e a Sociedade Recreativa e de Esportes de Ribeirão Preto (RECRA). Além da biblioteca Altino Arantes, a região conta com outras bibliotecas municipais, como a Biblioteca Padre Euclides e a Biblioteca Leopoldo Lima. Na saúde, além da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas, temos a UBDS Central e os Hospitais São Francisco e Beneficência Portuguesa.
Figura 115: Parque Maurílio Biagi, opção pública de lazer mais próxima do Quadrilátero Central. Fonte: Google Maps (2018)
Figura 113: Shopping Santa Úrsula. Fonte: Google Maps (2018)
Figura 114: Mercadão municipal. Fonte: Google Maps (2018)
Figura 116: Escola Estadual Otoniel Mota. Fonte: Google Maps (2018)
Figura 117: Colégio Marista. Fonte: Google Maps (2018)
Dessa forma, como potencialidade, temos a alta concentração de serviços necessários para o usuário quanto à saúde, educação, cultura, lazer, compras e administração. Fica claro, portanto, que a presença desses equipamentos é de grande interesse imobiliário, valorizando o bairro.
Figura 118: Igreja Catedral. Fonte: Google Maps (2018)
Figura 119: Hospital das Clínicas. Fonte: Google Maps (2018)
Como impacto, podemos considerar que a presença de todos esses equipamentos no Quadrilátero Central provoca o aumento do tráfego local, da poluição sonora e atmosférica, além da criação de pontos de congestionamento.
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4 . 4 E scolha da Á rea de Estud o Para escolher a área de intervenção adequada ao projeto em questão, buscou-se estudos para alimentar a discussão com elementos relevantes. VIEIRA (2017) apud FIGUEIRA (2013) considera uma divisão do Quadrilátero Central feita em 1960, na qual se destacam 3 setores, conforme mapa.
O setor verde, denominado Estação ou Baixada, é caracterizado pela degradação e estado de abandono. Nele, estão localizados alguns edifícios relevantes para o município historicamente, porém, é grande o número de edificações abandonadas, usuários de drogas e pontos de prostituição, o que aumenta a sensação de insegurança.
Denominado Higienópolis, o setor azul destacase pelo predomínio de edificíos habitacionais verticalizados. É onde se localizam os equipamentos regionais de saúde e o Shopping Santa Úrsula, além de estabelecimentos de comércio e serviço voltados para as classes média e média-alta. Percebe-se que este setor não sofreu com o abandono e degradação, como os outros.
O setor rosa compreende a área da Praça VX de Novembro e do Quarteirão Paulista, com seus edifícios emblemáticos (Teatro Pedro II, Centro Cultural Palace e Choperia Pinguim), além do Edifício Diederichsen, Biblioteca Altino Arantes, Museu de Arte de Ribeirão Preto (MARP) e da Prefeitura Municipal. É caracterizado, também, pela grande presença de comércio voltado para as classes média e média-baixa, valendo destacar o calçadão recém revitalizado.
SETOR DA ESTAÇÃOBAIXADA
SETOR DA PRAÇA XV DE NOVEMBRO
ÁREA NÃO SETORIZADA
SETOR DO BAIRRO HIGIENÓPOLIS
Figura 120: Setores do Quadrilátero Central definidos a partir das atividades na área na década de 1960. Fonte: Mapa reproduzido pela autora, a partir de informações de VIEIRA (2017) apud FIGUEIRA (2013)
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ÁRE A N ÃO S E TO R I ZA DA Percebe-se a existência de um “setor esquecido” que não participou da setorização realizada, o qual se caracteriza pela presença de edificações de uso misto com abundância de prestação de serviços e residências. A partir de agora, este levantamento de dados se concentrará nesta área de estudo. Como veremos adiante, a área ainda não sofreu grande processo de verticalização, predominando os gabaritos mais baixos. Outra característica é a vida noturna mais agitada que nas áreas degradadas vistas anteriormente, devido à presença de vários bares.
De acordo com levantamento realizado por VIEIRA (2017), uma grande problemática da área central é a presença de vazios urbanos em todos os setores. Esta questão, juntamente com o fato de o centro possuir infraestrutura consolidada, com equipamentos, comércio e serviço na escala do pedestre e acesso à completa rede de transporte público, torna injustificada a construção de habitações em localidades ainda sem urbanização ou com urbanização precária. Justificase, portanto, a construção de moradias plurifamiliares no centro de Ribeirão Preto. Denomina-se “lote vazio” qualquer área inutilizada ou subutilizada dentro de suas possibilidades. Segundo o Estatuto das Cidades, toda propriedade deve cumprir uma função social. Especificamente na área de estudo escolhida, VIEIRA (2017) destaca a presença de 3 tipos de vazios, como mostra o mapa, sendo: - VAZIO TIPO 1: Edificações cuja estrutura se encontra danificada ou se faz necessária a demolição por qualquer outro motivo. - VAZIO TIPO 2: Edificações que se encontram em estado relativamente bom, necessitando apenas de uma reforma para voltar a exercer sua função social. - VAZIO TIPO 3: Lotes sem construção efetiva ou que estão sendo utilizados como estacionamento privado.
Figura 121: Catalogação e localização dos vazios urbanos na área de estudo não setorizada. Fonte: Reprodução de VIEIRA (2017)
61
4 . 5 H ie ra rq uia V iá ria Físi ca O mapa de Hierarquia Viária Física mostra que as avenidas Francisco Junqueira e Independência são vias Principais e as demais ruas internas da área de estudo são Coletoras.
ÁREA DE INTERVENÇÃO
Figura 122: Mapas de Hierarquia Viária Física. Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados fornecidos pela PMRP.
62
4 .6 Hi era rq ui a V iá ria Funcion al As ruas destacadas em amarelo (médio fluxo de veículos) levam o fluxo das avenidas do entorno até o centro comercial de Ribeirão Preto e vice-versa, apresentando fluxo maior que as vias verticais, destacadas em azul (baixo fluxo). Possuem, portanto, passagem preferencial nos cruzamentos. Foge à essa regra a Rua Garibaldi cujo tráfego é controlado por semáforos. ÁREA DE INTERVENÇÃO
Figura 123: Mapas de Hierarquia Viária Funcional. Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados fornecidos pela PMRP.
63
4 .7 Opçõ es de T ra nsport e O centro da cidade é o local que concentra todas as linhas de ônibus municipais. Observa-se que a partir da área de intervenção destacada no mapa, basta uma caminhada de até aproximadamente 500 metros para alcançar as ruas Cerqueira César, Barão do Amazonas, Florêncio de Abreu e Lafaiete, que concentram vários pontos de ônibus. Além disso, é abundante a oferta de pontos de moto-taxi.
50
0m
0m
50 Figura 124: Mapa de Opções de Transporte disponíveis no entorno da área de estudo. Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados coletados no local.
64
ÁREA DE INTERVENÇÃO
ESTACI ONAME N TO N A S V IA S
4 .8 A ná li se: Sist ema Viár io PAV IM E NTAÇ ÃO No geral, as calçadas da área de estudo estão bem pavimentadas, apresentando dimensionamento satisfatório e rampas de acessibilidade nas esquinas.
Apesar de fazer parte do Quadriátero Central, neste setor não há área azul. Observa-se grande oferta de vagas de estacionamento, sendo que apenas as ruas Garibaldi e Duque de Caxias proibem o estacionamento em um dos lados da via em toda sua extensão, permitindo que o tráfego flua mais facilmente. Nas avenidas Francisco Junqueira e Independência é proibido estacionar em ambos os lados.
ÁREA DE INTERVENÇÃO
Figura 125: Montagem com imagens de algumas calçadas existentes na área de estudo, com dimensionamento, pavimentação e acessibilidade satisfatória. Fonte: Arquivo pessoal.
RUA S IN T E R NA S A fragmentação dos lotes ao longo dos anos gerou terrenos no miolo das quadras, cujo acesso se dá por vielas, que podem ser abertas ou fechadas, apenas para pedestres ou acessíveis para automóveis.
Para pedestres, privada
Para automóveis, pública
Figura 126: Montagem com imagens de duas vielas internas à quadra existentes na área de estudo. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 127: Mapa de vagas de estacionamento das ruas da área de estudo. Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados coletados no local.
65
4 . 9 Uso do S o lo
Figura 128: Mapa de Uso do Solo. Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados coletados no local.
66
AN ÁL ISE D O US O D O S O LO A área analisada apresenta uso predominantemente residencial, seguido pelo de serviço, ficando o uso comercial concentrado ao longo das Avenidas Independência e Francisco Junqueira, aumentando na medida em que se aproxima do setor da Praça XV de Novembro, onde está a maior concentração de comércio do Quadrilátero Central. O uso institucional se restringe ao Instituto de Criminalística e à 5ª Circunscrição de Serviço Militar, além de pequenos sindicatos e escolas de idioma. Há um número considerável de vazios, o que corrobora o estudo realizado por VIEIRA (2017), com imóveis abandonados e/ou para venda e aluguel, além da presença de estacionamentos particulares ocupando lotes inteiros.
Figura 129: Instituto de Criminalística da Polícia Civil. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 130: Pequena barbaria local recém inaugurada. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 131: Exemplos de lotes considerados como vazios urbanos. Fonte: Arquivo pessoal.
E SCO L H A DA Á R E A D E I NTE RV E NÇÃO
A
B
Rua Marechal Deodoro
Rua Sete de Setembro
Rua Mariana Junqueira
Entre os vazios degradados encontrados na área de estudo, o lote A se destaca por sua dimensão maior que de qualquer outra opção disponível. Notase que ele possui formato irregular, com testada estreita e fundo largo, problema que pode ser minimizado ao somar-se ao lote B, que também apresenta dimensões irregulares, porém em tamanho menor. Justapostos, a união dos dois lotes apresenta uma frente maior e um formato mais regular que quando isolados, justificando a escolha de A + B como ÁREA DE INTERVENÇÃO deste projeto.
A
B
Rua Duque de Caxias Figura 132: Localização dos lotes escolhidos na quadra. Fonte: Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados coletados no local.
Figura 133: Fotografia panorâmica das edificações sem uso existentes nos lotes A e B, escolhidos como área de intervenção. Fonte: Arquivo pessoal.
67
4 .10 Ocupação do So lo : Fig ur a- fund o
ÁREA DE INTERVENÇÃO PROJEÇÃO ÁREA CONSTRUÍDA
Figura 134: Mapa de ocupação Figura-Fundo. Fonte: Elaborado pela autora, a partir do mapa aerofotogamétrico fornecido pela PMRP e conferência pela imagem aérea do Google Maps (2018)
68
4 .1 1 Ocupação do So lo: Gabar ito ÁREA DE INTERVENÇÃO
Figura 135: Mapa de ocupação Gabarito. Fonte: Elaborado pela autora, a partir Mapa de Figura-Fundo e dados coletados no local.
69
AN ÁL ISE DA O C UPAÇ ÃO D O S O LO O mapa de Figura-Fundo mostra a projeção das área construídas, com poucos recuos e áreas livres, sendo que muitos lotes originais sofreram fragmentação, dando origem a inúmeros lotes irregulares. Já o mapa de Gabarito, mostra que área de estudo é constituída predominantemente por construções térreas e sobrados. Verifica-se, contudo, um processo de verticalização do uso residencial, que é mais antigo e intenso nas quadras do bairro ao Sul e Oeste do Quadrilátero Central, como mostra a vista aérea abaixo. Apesar de ser uma área adensada em relação à outros bairros da cidade, podemos dizer que este é o setor com menor densidade da área central.
Figura 136: Exemplo de edificação de 2 pavimentos.Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 137: Exemplo de edificação com 3 pavimentos. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 138: Exemplo de edificação de 5 a 10 pavimentos. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 139: Hotel Nacional Inn, mais de 10 pavimentos. Fonte: Arquivo pessoal.
A quadra que contém a área de intervenção possui edificações térreas e com 2 pavimentos, exceto por um edifício de 3 pavimentos na esquina das ruas Mariana Junqueira e Marechal Deodoro. O edifício mais próximo com gabarito alto é o Hotel Nacional Inn, com 11 pavimentos, localizado na esquina das ruas Duque de Caxias e Sete de Setembro.
Figura 140: Montagem de fotos tiradas da cobertura do Hotel Nacional Inn, mostrando o baixo gabarito da área de estudo, com poucos edifícios altos quando comparada à região Sul e Oeste do Quadrilátero Central, amplamente densas e verticalizadas. Fonte: Arquivo pessoal.
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4 .1 2 T endência s de D esenvolvim en to Vert ic a l i zaç ão Podemos considerar que o fenômeno urbano da verticalização no setor da área de intervenção está em processo tardio em relação ao Quadrilátero Central como um todo. Ao longo das últimas décadas, as casas da primeira metade do século XX foram dando lugar a edifícios verticais contemporâneos, adensando a região. Como vimos no Mapa de Gabarito, nas quadras da área de estudo ainda há poucos exemplares de edifícios verticalizados.
Aban d o no e D e s c a s o Uma área outrora movimentada independentemente do horário do dia, foi sendo substituída pelas novas áreas de expansão e especulação da cidade, por conta da dispersão causada pelo crescimento da população e da mancha urbana em direção às novas centralidades. Tal dispersão, aliada à pouca conservação dos prédios e espaços públicos, fez com que lugares que atuavam como pontos de encontro se transformassem em áreas de violência e medo. Isso faz com que o centro histórico perca força econômica, modificando os tipos de lojas e produtos existentes, bem como o tipo de população que passa a usufruir dos espaços centrais.
Figura 141: Edifício residencial com mais de 15 pavimentos. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 142: Edificação sem reforma, sofrendo com o abandono e vandalismo. Fonte: Arquivo pessoal.
M u dan ç a d e Us o O deslocamento da população que morava no Centro da cidade para novas áreas urbanizadas, fez com que as edificações antigas ficassem disponíveis para novos usos. Dessa forma, quarteirões dominados pelo uso residencial foram se transformando e o que se observa hoje é uma mistura de usos, com a tendência cada vez maior de concentrar o uso habitacional nos edifícios plurifamiliares e adaptar o espaço que era ocupado por habitações unifamiliares para atuar como estabelecimentos de comércio e serviço.
Figura 143: Edificação residencial antiga sendo utilizada como auto-escola. Fonte: Arquivo pessoal.
Reva lo r i zaç ão da V i da Noturna É possível observar a tendência recente para a revalorização da vida noturna na região central. Além da readequação de bares e restaurantes tradicionais na área, o surgimento de novos estabelecimentos tem atraído a atenção principalmente de jovens, voltando os olhares da população ribeirãopretana para a região. Figura 144: Bar Henrietta movimenta a vida noturna. Fonte: Arquivo pessoal.
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4 .13 M obi li á rio Urba no Observa-se que a área possui boa iluminação, com posteamento bem distribuído ao longo das vias. Neste setor, apenas a Avenida Francisco Junqueira e a Rua Garibaldi apresentam controle de tráfego por semáforo. Há 2 pontos de ônibus na Avenida Francisco Junqueira e 1 ponto de táxi no Hotel Nacional Inn.
Figura 145: Mapa de Mobiliário Urbano. Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados coletados no local.
72
ÁREA DE INTERVENÇÃO
4 .1 4 Ext ratos V egetativos Pelo mapa de Extratos Vegetativos é possível perceber que a área de estudo possui arborização insuficiente para trazer conforto aos pedestres, com árvores de médio e pequeno porte mal distribuídas.
ÁREA DE INTERVENÇÃO
Figura 146: Mapa de Extratos Vegetativos. Fonte: Elaborado pela autora, a partir de dados coletados no local.
73
4 .15 L egislação mac rozo n eam e nto
ÁREA DE INTERVENÇÃO
zoneamento i ndust ri al
ár eas e sp ec ia i s análi se Os mapas desta página mostram a localização da área de intervenção na região central de Ribeirão, categorizando-a de acordo com a legislação municipal: - Pelo Macrozoneamento, observa-se que, apesar da proximidade com a Zona de Proteção Máxima (ZPM), na prática, esta área já está toda edificada. Consideraremos, portanto, que se encontra na Zona de Urbanização Preferencial (ZUP). - Pelo mapa de Zoneamento Industrial, a área é classificada como Área de Uso Misto II. - Por último, temos que a área está inserida na Área Especial do Quadrilátero Central.
Figuras 147, 148 e 149 : Mapas para classificar a área de intervenção de acordo com a legislação municipal de Macrozoneamento, Zoneamento Industrial e Áreas Especiais, respectivamente. Fonte: Fornecidos pela PMRP e editados pela autora.
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4 .1 6 Rest ri çõ es Legais De acordo com a Lei Complementar 2157/07, que estabelece normas e condições para o parcelamento, uso e ocupação do solo no município de Ribeirão Preto, e considerando que a área de intervenção está localizada em uma Zona de Urbanização Preferencial (ZUP), faz parte da Área Especial do Quadrilátero Central e possui permissão para uso misto, temos as restrições urbanísticas mostradas na tabela ao lado. A terceira coluna mostra os valores aplicados ao terreno escolhido, que possui área total de 1.400,30m². Os diagramas abaixo ilustram alguns desses índices urbanísticos e facilitam o entendimento das restrições.
TO = 80%
CA = 3
R ESTR IÇÃO LEGAL
L EG I S L AÇ ÃO
T E RRE N O : 1 . 4 00, 3 0 m ²
DE NS IDA DE LÍQ U IDA BÁ S ICA
850 hab/Ha
119 hab
DE NS IDA DE LÍQ U IDA M Á X IM A
2 .0 0 0 h a b / H a
280 hab
TA X A DE O CU PAÇÃO
U so m i sto : 8 0 %
1 .1 2 0 m ²
S O LO NAT U R A L
15%
210 m²
CO E F ICIE NT E DE A P ROV E ITA M E NTO
3
4 .2 0 0 m ²
R ECU O S M ÍNIM O S GA BA R ITO > 1 0 M E T RO S
F ro nta l : R = 5 m et ro s F u n d o s: R = ( H - 3 L ) / 3 L ate ra i s: R = H / 6
;
;
≥ 2m
≥ 2m
Tabela 5: Restrições Legais a serem aplicadas na área de intervenção.
- R é o recuo até o alinhamento - H é a altura do prédio - L é a largura da rua
H
L
Figura 150: Diagramas ilustrando os índices urbanísticos. Fonte: Texto Ilustrado Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo, editados pela autora. (Disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br, acessado em 08/05/18)
75
4 .17 Caract eri zação Fí si ca da Ár ea d e In terven ção A quadra em que se localizam os lotes A e B é limitada pelas ruas Duque de Caxias, Sete de Setembro, Mariana Junqueira e Marechal Deodoro. Além do posteamento de energia convencional, observa-se a presença de arborização urbana em frente ao lote, constítuída por 2 palmeiras com menos de 5 metros de altura. 2 Rua Mariana Junqueira
DIREÇÃO PREFERENCIAL DOS VENTOS: SE - NO Rua Sete de Setembro
Rua Marechal Deodoro
1
1’
Rua Duque de Caxias
2’
0 5 Figura 151: Mapa de situação da área de intervenção. Autoria própria.
76
10
25
50 m
Somando a área dos Lotes A e B, temos um total de 1.400,30 m². Com formato irregular, a testada possui aproximadamente 36 metros, enquanto a profundidade e a largura do fundo ficam por volta de 40 metros.
0
5
10
25 m
40,32
22 ,42
40,32
1.400,30 m²
8,35 21,44
21,44
19 ,93 17,48
4,63
4,63
314,70 m²
40,21
8,35
39 ,68
40,21
1.085,60 m²
36,14
18,66
Figura 152: Dimensões e área dos lotes escolhidos. Autoria própria.
Rua Duque de Caxias
muro delimitando o lote
Rua Marechal Deodoro
Hotel Nacional Inn
Rua Sete de Setembro
CO RT E 1- 1 '
Hotel Nacional Inn
muro delimitando o lote
Rua Mariana Junqueira
Rua Duque de Caxias
CO RT E 2 -2 '
O cortes 1-1’ e 2-2’ evidenciam o baixo gabarito das edificações lindeiras ao lote, como visto anteriormente na análise da Ocupação do Solo. Deve-se destacar, contudo, a presença do Hotel Nacional Inn na esquina das ruas Duque de Caxias e São Sebastião, com 11 pavimentos. Em relação à topografia, percebese que o lotel apresenta um desnível de aproximadamente 2 metros de um lado e de 1 metro do outro lado, indicando que projetar a parte dos fundos do lote semienterrada pode ser uma solução interessante para resolver a topografia. As larguras da calçada e da rua Duque de Caxias são 3,10 e 7,00 metros, respectivamente.
Figuras 153 e 154: Cortes esquemáticos mostrando a situação da área de intervenção em relação ao entorno imediato. Autoria própria.
77
4 .18 VISUA IS: á rea de i nt ervenção e en tor n o 1 Figura 155: Área de interveção sendo vista a partir da cobertura do hotel Nacional Inn. Fonte: Arquivo pessoal.
2
Figura 156: Área de intervenção sendo visto a partir da escala do pedestre na frente dos lotes. Fonte: Arquivo pessoal.
78
4
3
Figuras 157 e 158 : Skyline do entorno imediato sendo visto a partir das esquinas da quadra. Fonte: Arquivo pessoal.
Rua Sete de Setembro
Os visuais da área de intervenção e seu entorno imediato ilustram as análises realizadas neste levantamento, mostrando o baixo gabarito, com poucas edificações verticalizadas, como é o caso do Hotel Nacional Inn, cuja cobertura foi acessada para registrar as vistas aéreas. Na montagem de fotos da página seguinte, vemos a intensa verticalização dos outros setores do Quadrilátero central (desde Noroeste até Sudoeste) e os visuais livres desde o Sul, passando pelo Sudeste, de onde vêm os ventos predominantes, até o Nordeste, onde podemos destacar a presença do Morro do São Bento.
1 5
Rua Duque de Caxias
4
3
2
Figura 159: Mapa esquemático do posicionamento da câmera em relação à área de intervenção para facilitar a localização das imagens. Autoria própria.
5
Figura 160: Skyline da quadra em frente, observado a partir da escala do pedestre na calçada do lote. Fonte: Arquivo pessoal.
79
BOM V I SUA L M O R R O DO SÃ&#x192;O BE NTO
80
B O M VIS UA L BAI XO GABAR I TO JA R D IM PAUL ISTA
AD E N S AM EN TO E VE RTICA L IZAÇÃO
81
4 .19 PR O GRA MA DE NECESSIDAD ES P R OPOSTO O programa de necessidades do projeto consiste em uma habitação plurifamiliar verticalizada, com espaços de uso coletivo (público e privado) e opções de comércio no térreo. Pretende-se dividir os usos de acordo com a proporção mostrada na tabela ao lado.
uso
ár ea tota l
po rc e n tag e m
H A BITAÇÃO
2 . 9 4 0 m²
70%
CO M É RCIO
210 m²
5%
U S O CO LE T IVO
420 m²
10%
CIRCU LAÇÃO
630 m²
15%
TOTAL
4 . 2 0 0 m²
100%
Tabela 6: Programa de necessidades definido para o projeto proposto.
4 . 20 dir et ri zes PROJET UA IS Tendo em vista a teoria estudada, as leituras projetuais, o conhecimento da área de intervenção e o programa de necessidades proposto acima, ficam estabelecidas as seguintes diretrizes projetuais:
• Edifíco plurifamiliar de uso misto, com fachada ativa e pavimento térreo nivelado com a calçada, para promover conexão com o entorno; • Estrutura independente da vedação, sendo o sistema construtivo racionalizado, pré-fabricado, gerando unidades de padrões diversificados, que mesclam modulação estrutural, de planos e elementos de fachadas; • Possiblidade de associação vertical e/ou horizontal, podendo adquirir no mínimo 2 e no máximo 5 módulos de moradia, gerando tipologias simples ou duplex, com diferentes layouts; • Empregar vedações leves, painéis removíveis, divisórias operacionais e mobiliário multifuncional, móvel ou retrátil;
82
• Conferir autonomia aos moradores, com a possibilidade de alugar módulos independentes ou até mesmo criar espaços de trabalho home-office, lazer ou cômodos para coabitação, com independência de acessos; • Utilizar a estratégia da Fachada Pluralista para combater a especialização funcional interior e estimular novos usos, dinamizando a paisagem urbana e refletindo a pluralidade residencial, • Utilizar o conceito de Fachada Dinâmica para promover a adaptabilidade do espaço interno, permitindo controle da privacidade, do clima e da composição final do edifício.
DeseNVOLVIMENTO DO PROJETO 5.1 - PROCESSO DE PROJETO Memorial justificativo do projeto proposto. 5.2 - ANTEPROJETO Apresentação do anteprojeto desenvolvido, com peças gráficas e perspectivas.
83
84
5.1 PRO CESSO DE PROJ ETO 5 .1 .2 M E M O R I A L J UST I F I CAT I VO 24 m²
PART ID O p r oj e tua l O partido projetual do edifício é um módulo componente com dimensões de 4,00 x 6,00 metros e 3,30 metros de altura. Dispostos em lâmina (lado a lado e sobrepostos), os módulos podem ser assossiados horizontal e/ou verticalmente, formando diferentes unidades de moradia.
im p l an taç ão e VO LUM E TR I A A forma como o edifício de 8 pavimentos foi implantado partiu da definição dos recuos do terreno. As lâminas se concentraram nas bordas de 3 faces do lote, deixando um vazio central, que favoreceu a ventilação cruzada nas unidades, pois a volumetria não bloqueia a entrada da ventilação natural. A lâmina alinhada ao fundo do terreno se encontra meio nível abaixo do restante do projeto.
AC ESSOS E E I XOS D E C I R C UL AÇÃO
VENTILAÇÃO NATURAL
O acesso para pedestres é feito no mesmo nível da calçada, onde temos o pavimento térreo público, com uma recepção central. O acesso às torres 2 torres de elevador e escada é controlado por portas de vidro automatizadas com abertura por impressão digital.
QUINTAL PRIVATIVO
Aplicando os conceitos de fachada ativa, o térreo e o primeiro pavimento são ocupados por módulos comérciais, co-working, sanitários e espaços de permanência coletiva. São oferecidas vagas de estacionamento preferenciais, além de espaço para motocicletas e bicicletário. Uma rampa leva à garagem com manobrista no subsolo.
MÓDULOS COMERCIAIS
CO-WORKING
À medida em que se caminha para o fundo do lote, tem-se acesso à uma rampa que leva ao pavimento semienterrado (“térreo dos fundos”), onde as unidades de moradia possuem quintal privativo, ocupando o recuo.
RAMPA DE ACESSO AO PAVIMENTO SEMIENTERRADO NOS FUNDOS DO LOTE
85
S I STEM A EST RUT UR A L e p r um a da h i drául i ca A estrutura prevista para o edifício combina concreto e elementos metálicos. As caixas de escada e elevador atuam como pilares paredes, onde as vigas metálicas de 40cm de altura se engastam para formar os pavimentos. Lajes pré-moldadas protendidas foram utilizadas nos pisos térreo e primeiro pavimento com o intuito de vencer vãos maiores. Para otimização do sistema hidráulico, a prumada foi localizada, sempre que possível, a cada 2 módulos, no limite interno de cada unidade, deixando livres as faces voltada para o exterior.
Paredes estruturais e rampas em concreto armado Vigas metálicas “I” (altura de 40 cm) Pilares metálicos“H” Prumada hidráulica
fec h amen tos E A BE RT UR A S Para preencher essa estrutura metálica principal, foram utilizados paineis pré-fabricados com diferentes estratégias de modulação para fachada, divisórias de drywall (entre os módulos e internamente nas unidades), além de steel deck no piso das unidades.
PAINEL FIXO DE VIDRO JANELA DE VIDRO GUILHOTINA PAINEL DE FIBROCIMENTO
Na fachada, a modulação foi feita com montantes verticais a cada 1,25m e montantes horizontais a cada 1,10m. O fechamento se dá por meio de placas cimentícias e as aberturas são formadas por esquadrias de vidro do piso ao teto, segmentadas conforme a figura ao lado. O fechamento do corredor de acesso às unidades nos pavimentos superiores foi feito com um brise metálico que permite a entrada de iluminação natural e a ventilação cruzada. Esse mesmo padrão de brise se repete nas fachadas como elemento de proteção solar. Utilizou-se na fachada norte brises externos de correr e nas fachadas brises camarão. A fachada sul, com menor incidência solar, permite que se utilize vidro em toda o fechamento externo. Para o piso no interior dos módulos, foi escolhida a tecnologia steel deck por permitir fácil montagem/ desmontagem e abertura de vãos de escada para associar módulos sobrepostos. As unidades de moradia que optarem por possuir terraço, utiliza-se o mesmo guarda-corpo de vidro com esquadria metálica utilizado no térreo e no primeiro pavimento.
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PAINEL FIXO DE VIDRO SERIGRAFADO COLORIDO (GUARDA-CORPO 1,10m)
BRISE DE CORRER ESTRUTURA DO STEEL DECK
fechado
aberto
BRISE CAMARÃO GUARDA-CORPO
fechado
aberto
e spaços d e co nv i v ê nc i a Projetados como espaços de convivência, o térreo e o primeiro pavimento contam com mobiliário para uso coletivo (mesas, cadeiras, sofás e modulares), que atuam como apoio aos usuários dos estabelecimentos comerciais e do co-working. Nos pavimentos superiores, 16 módulos foram suprimidos intencionalmente da volumetria para criar áreas de convivência exclusivas para os moradores, na forma de terraços que também servem como espaço de contemplação. Como são formados pela supressão aleatória de módulos de moradia, essas áreas podem trocar de lugar mediante a necessidade dos moradores ou do condomínio.
CO MPOS I Ç ÃO DA S FAC H A DA S • Fachada Pluralista: fachadas descontínuas, com posicionamento diversificado das aberturas e uso de materiais e cores diversas. • Fachada Dinâmica: utilização de elementos operacionais com mecanismos de abertura diversos, como os brises de correr e camarão.
Área de convivência para moradores / Contemplação FACHADA COM BRISE DE CORRER
• De acordo com a orientação das fachadas, foram estabelecidas as seguintes estratégias para as aberturas e proteção solar: - NOROESTE e SUDOESTE: São as fachadas com menor conforto térmico do edifício. Segere-se proteção externa com brise camarão, devido à forte incidência solar no período vespertino. - NORDESTE: Proteção externa com brise de correr, devido à incidência solar moderada durante todo o dia.
FACHADA COM BRISE CAMARÃO
- SUDESTE: É a fachada que apresenta maior conforto térmico, com incidência solar no período matutino. Pode ser composta por fechamento em vidro e não há necessidade de proteção solar. NORDESTE
SUDESTE
MAT ERI AL I DADE • Concreto • Vigas e pilares aparentes pintados de preto fosco
NOROESTE
• Brises e esquadrias metálicas pintadas de preto fosco SUDESTE
• Placas cimentícias cinza • Vidro transparente
SUDOESTE
• Vidro serigrafado azul e vinho
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un ida d e s de m o r a d i a • As unidades de moradia são formadas a partir da associação de 2, 3 4 ou 5 módulos, podendo resultar em apartamentos simples e duplex. O módulo básico possui dimensões de 4 x 6 metros e seus limites coincidem com as vigas e pilares metálicos da estrutura metálica principal.
2 módulos = 48 m ² 3 módulos = 72 m ² 4 módulos = 96 m ² 5 módulos = 120 m ²
ex em plo d e l ayo ut: 2 M Ó D ULOS S O BREPOSTOS + Q UI NTAL
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D IST RIBUI Ç ÃO P R O G R A M ÁTI C A fi nal Considerando 120 módulos de moradia, temos uma área total para uso habitacional de 2.880m², que corresponde a 69% da área total do edifício. Já os 10 módulos de comércio, 240m², correspondem a 5,8% da área total. A metragem quadrada dos outros usos estabelecidos pelo programa também ficaram próximos ao desejado para o projeto, como mostra a tabela de áreas ao lado.
uso
áre a tota l
po rc e n tag e m
H A BITAÇÃO
2 .8 8 0 m ²
6 9 ,0 %
CO M É RCIO
240 m²
5 ,8 %
U S O CO LE T IVO
480 m²
1 1 ,5 %
CIRCU LAÇÃO
570 m²
1 3 ,7 %
TOTAL
4 .1 7 0 m ²
100%
ÍN DIC E S UR BA NÍ STI COS f i na i s Considerando que 1 habitante ocupe por volta de 20m² de área construída habitacional, temos uma densidade média de 144 habitantes neste edifício. A tabela ao lado mostra que o projeto proposto cumpriu todas as restrições urbanísticas satisfatoriamente.
R ESTR IÇ ÃO LEGAL
LEG ISLAÇ ÃO
T E RRE N O : 1 . 4 00, 3 0 m ²
DE NS IDA DE
1 1 9 h a b < d en s. < 2 8 0 h a b
144 hab
m áx i m o: 1 .1 2 0 m ²
990 m²
m í n i m o: 21 0 m ²
320 m²
m áx i m o: 4 .2 0 0 m ²
4 .1 7 0 m ²
F ronta l : 5 m
F ro nta l : 5 m
F u n d os: 2 m
F u n d o s: 5 m
L atera i s: 2 m
L ate ra i s: 2 m
TA X A DE O CU PAÇÃO (u so m isto = 8 0 %) S O LO NAT U R A L (1 5 %) CO E F ICIE NT E DE A P ROV E ITA M E NTO (3 ) R ECU O M ÍNIM O GA BA R ITO > 1 0 M E T RO S
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V iabil ida d e Eco nô m i c a
VALOR POR UNI DADE AUTÔN OMA
C USTO D E AQ UI S I Ç ÃO D OS LOTE S
De acordo com dados fornecidos pela Secretaria Municipal da Fezenda de Ribeirão Preto (maio/2018), sabe-se que o valor do metro quadrado dos dois terrenos juntos (considerando o valor venal do lote e da construção existente) é R$ 1.388,69. O valor de compra do lote é, portanto: 1.400,30 m² (área do lote)
x R$ 1.388,69 / m²
R$ 1.944.582,60
C USTO DE CO NST R UÇ ÃO D O E D I FÍ CI O O Custo Unitário Básico da Construção Civil por metro quadrado (CUB/m²), no mês de abril de 2018, divulgado pelo SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo), foi de R$ 1.340,97/m². Multiplica-se esse valor pela área construída para chegar ao valor de construção do edifício: 4.170 m² (área construída)
x R$ 1.340,97 / m²
R$ 5.591.844,90
LUC RO DO I NCO R PO R A D O R O lucro do empreendimento diz respeito à expectativa de remuneração do capital do incorporador para o projeto em questão. Neste trabalho, vamos considerar um valor de 30%: R$ 5.591.844,90 (custo da construção)
30%
R$ 1.677.553,47
C USTO TOTA L D O E D I F Í C I O Temos, portanto, um custo total de:
R$ 1.944.582,60 R$ 5.591.844,90 R$ 1.677.553,47 90
R$ 9.213.980,97
Como visto anteriormente, pretende-se construir o edifíco utilizando 120 módulos habitacionais e 10 módulos comerciais, resultando em 130 módulos. Assim, temos que cada módulo de 24m² é comercializado por R$ 70.876,80. R$ 9.213.980,97 (custo total do edifício)
R$ 70.876,80
÷ 130 módulos
Como definido anteriormente, cada família pode adquirir de 2 a 5 módulos, justapostos e/ou sobrepostos, formando as tipologias simples, duplex e triplex, que podem variar de 48 a 120m². Dessa forma, temos os seguintes valores proporcionais: 2 módulos 3 módulos 4 módulos 5 módulos
R$ 141.753,55 R$212.630,33 R$ 283.507,10 R$ 354.383,88
FI NANCI AMENTO 36 0 ME S E S Como neste trabalho, pretende-se fazer apenas uma estimativa para verificar, grosso modo, a qual extrato econômico da populacão o edifício será direcionado, simplificadamente, temos: 2 módulos
R$ 141.753,55
360 x R$ 393,76
3 módulos
R$212.630,33
360 x R$ 590,64
4 módulos
R$ 283.507,10
360 x R$ 787,52
5 módulos
R$ 354.383,88
360 x R$ 984,40
Q UEM PODE ADQ UI RI R? Sabe-se que financiamento imobiliário pode comprometer, no máximo, 20% da renda familia, temos: RENDA FAMILIAR
VALOR (R$)
20% (R$)
1 salário mínimo 2 salários mínimos 3 salários mínimos 4 salários mínimos 5 salários mínimos 6 salários mínimos
954,00 1908,00 2.862,00 3,813,00 4,770,00 5,724,00
190,80 381,60 572,40 763,20 954,00 1.144,80
Verifica-se que 2 módulos quase se encaixam no limite do orçamento de uma família com renda de 2 salários mínimos. Se considerados os juros, certamente famílias com menos de 4 salários mínimos ficariam de fora dessa estimativa. Assim, determina-se que o empreendimento é voltado para famílias
de, no mínimo, classe média-média, ou seja, com renda familiar de 4 salários mínimos ou mais.
5.2 A NT EPROJETO IM P L AN TAÇ ÃO
0
5
10
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TÉRR EO (0,00)
No nível “térreo dos fundos”( primeiro nível semi-enterrado), as unidades de moradia contam com quintais privativos que dão a sensação de morar em casas térreas ou sobrados (duplex).
Área verde permeável que pode ser equipada com mobiliário lúdico, tornando-se ideal para o lazer de crianças.
Uma rampa acessível leva à parte dos fundos do edifício, em um nível semi-enterrado, que é exclusivamente residencial.
A rampa que leva à garagem no subsolo delimita um área no térreo onde foi possível implantar um espaço de permanência e descontração com uma arquibancada modular. Durante a noite, luzes no interior dos módulos da arquibancada destacam sua volumetria, que atua como uma escultura iluminada na paisagem.
Aplicando os conceitos de fachada ativa, o térreo é ocupado por comércio e espaços de permanência coletiva, oferecendo algumas vagas preferenciais para carros, além de espaço para motocicletas e bicicletário. É como um espaço público de extensão da calçada, com mobiliário modular, recepção e acesso controlado aos elevadores e escadas.
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0
5
10
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PRI M E IRO PAV IM E NTO (+ 3,70)
O primeiro pavimento conta com módulos comerciais, espaço de permanência com sofás, mesas e cadeiras, além de sanitários e espaço de co-working, com opções de mesas individualizadas e sala de reunião.
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0
5
10
SEG UN D O PAV I M E NTO (+7,4 0)
0
5
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QUINTO PAV IM E NTO (+ 1 8,5 0)
- PAV I MENTO T I PO
0
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5
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SUBSO LO (- 3,70)
COBERT URA (+2 9,6 0)
0
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CO RT E 1 0
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CORT E 2 0
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CORT E 3 0
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CO RT E 4 0
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CO RT E 5 0
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ELE VAÇ ÃO fre nt e 0
5
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ELE VAÇ ÃO fu n d o 0
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E L E VAÇ ÃO D I R E I TA 0
5
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EL E VAÇ ÃO E S Q UE R DA 0
5
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ant es
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DEPOI S
103
T Ã&#x2030;RREO
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1 O PAVI MENTO
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arq ui bancada modular i lumi nada
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co nside r açõe s f i na i s Conclusão
do
trabalho
desenvolvido,
evidenciando a importância da utilização de estratégias de flexibilidade para a qualidade de vida nos espaços de moradia.
107
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6
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossas moradias não parecem pertencer aos tempos contemporâneos. Estamos quase resignados em considerar a habitação como algo estruturalmente diferente da modernidade quando comparadas a outros produtos contemporâneos, como smartphones e carros, por exemplo. Como demonstrado neste trabalho, nem sempre foi assim no passado. Por exemplo, nos anos 20 e 30 do século passado, a casa moderna era o símbolo da modernidade e do progresso. Naquela época, os arquitetos mais importantes do mundo estavam projetando excelentes moradias, implementando as realizações do progresso social, científico e tecnológico. Eles realmente tentaram imaginar a habitação do futuro e conseguiram isso. Dessa forma, devemos considerar que a arquitetura dos edifícios residenciais encontra-se em um novo momento. Momento de se repensar as tipologias de habitação oferecidas pelo mercado imobiliário. A maioria dos empreendimentos ainda é voltada para atender à chamada família nuclear, modelo em que o pai (indivíduo do sexo masculino) trabalha e traz o sustento e a mãe (indivíduo do sexo feminino) cuida do lar e dos filhos. Basta observar a sociedade em que vivemos para perceber que este modelo vem perdendo cada vez mais representatividade e as pesquisas censitárias confirmam essa tendência e o surgimento de novas configurações familiares. Esse é o momento de os arquitetos pensarem uma nova maneira de conceber o modo de morar. Conceitos como modularidade, reconfiguração, flexibilidade e mobilidade são elementos com os quais já estamos acostumados a interagir em nossas atividades cotidianas. Mas as moradias estão muitos passos atrás se comparadas às características de nossa vida contemporânea. Para superar as tipologias impostas pelo mercado imobiliário, primeiramente é necessário reconhecer as deficiências dessas unidades e em seguida exigir espaços mais adequados aos usuários e ao meio urbano contemporâneo. Se o mercado entender que esta nova tipologia tem também um bom retorno financeiro, consequentemente, as construtoras e incorporadoras investirão no desenvolvimento dessas idéias e finalmente haverá a melhora no espaço habitacional produzido.
De acordo com Le Corbusier, a arquitetura trata de um sujeito, o homem, que é por definição e fatalidade da natureza, cambiável e evolutivo. Ao longo do ciclo de vida, ele é primeiro solteiro, depois casal, depois família com filhos em número indeterminado, depois dispersão dos filhos, que se casam e formam suas próprias famílias... Enfim a morte, de tal maneira que a moradia feita para uma família não existe. O que existem são vários tipos de moradias para as sucessivas idades (Tramontano, 1998). A partir dessa realidade, é evidente a necessidade de maior flexibilização da habitação, com espaços internos que possam ser facilmente alterados e rearranjados para permitir diferentes usos para os diferentes membros familiares no decorrer dos anos. A abordagem deste trabalho foi focada exatamente nessa direção, na tentativa de projetar uma moradia com novas possibilidades e um novo nível de envolvimento do consumidor na personalização e configuração da sua própria casa. Na tentativa de colaboração para o repensar do habitat contemporâneo, a proposta apresentou um anteprojeto de um edifício residencial plurifamiliar que abarca os principais conceitos de flexibilidade, de modo a atender às necessidades e expectativas do consumidor em relação ao modo como esta casa se ajusta às condições de vida temporárias e às necessidades sociais. Este trabalho, portanto, demonstrou ser possível, em um mesmo edifício, atender diferentes arranjos familiares por meio da variação no tamanho das unidades a partir de associações de um módulo primário, com diversas opções de layout, proporcionando um flexibilidade que pode ser planejada e alcançada através de tecnologias simples que fornecem facilidade e praticidade na remodelação do espaço habitado conforme a necessidade dos usuários ao longo da vida.
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REFERÊNCIAS bibliográficas Bibliografia utilizada como referencial teórico para o desenvolvimento do trabalho.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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