Crônica Bipolar

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Jorge Laborda

Cr么nic@ Bipolar


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Jorge Laborda

Crônica Bipolar Primeira Edição Manaus Amazonas Editor Jorge Antonio Soares Ano 2012

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BRANQUINHA CASCUDA Psectrogaster amazonica

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SUMÁRIO

Apresentação............................................................................................09 Prefácio.....................................................................................................12 A luz que vem do Daime..........................................................................18 O amor não precisa de consolo................................................................20 Do cóccix até o pescoço..........................................................................22 A guerra da granola..................................................................................26 A web cam e o vibrador............................................................................29 Genuflexão auxilia boquete......................................................................31 . Pelo direito de dar um pum......................................................................34 Adestramento de ambientalista criado em cativeiro................................36 Nem a Marcha da Liberdade nem o casamento gay................................40 É proibido proibir.....................................................................................42 . O Encontro das Águas vai virar estacionamento.....................................45 Os narco-apresentadores na politica baré................................................48 O irreversível destino do Emo Sapiens...................................................50 Delírio paranóico de sequelado xenofobo...............................................54 Meninos que brincam com bonecas........................................................60 Manual para emprenhar urna eletrônica..................................................62 6


A touca do Noel.......................................................................................67 O clitórios no carnaval pós-moderno.......................................................69 Mulher é tudo homem ruim.....................................................................74 O Papa vai excomungar os bonobos........................................................78 A imprensa bandida..................................................................................80 Engarrafamento é coisa chic....................................................................84 . Papai Noel não é neo ambientalista.........................................................86 Enfim um revellon sóbrio.........................................................................90 A copa de ruggby me trouxe Deprê.........................................................92 A Lady Gaga e o Lula..............................................................................93 Os quelônios e os neurônios do Chico Mendes.......................................95 A sauna gay indígena londrina.................................................................99 Manauara é cabrito bom........................................................................100 Depressão pós carnaval..........................................................................104 A guerra do nióbio na terra das raposas................................................106 Mamelucos ameaçados de extinção.......................................................112 Banda KY...............................................................................................114 O Deprê saiu da deprê............................................................................115 Manual contra abordagem de evangélico chato.....................................118 Mulher cafajeste é uma coisa fofa.........................................................119 7


O Deprê é péssimo de supermercado.....................................................120 Emos promovem festival de Daime.......................................................122 Manual para lidar com tatuagem insejável.............................................126 O clássico corno do Facebook................................................................127 Os amores facebookianos.......................................................................129 Emo Sapiens promove carreata ambientalista........................................130 Popoarismo não é bezerro......................................................................134 Dengue do coccix até o pescoço.............................................................135 Homossexualismo ideológico invade a pista.........................................137 Amores facebookianos versão Adocica..................................................139 Amores facebookianos versão Adocica 2..............................................143 O V de Vingança do Adocica.................................................................145 Bullying quando não mata fortalece.......................................................147 Travestis brasileiros voltam para o Brasil..............................................150 A Marcha da Maconha vai ser na infinita Ponte de Iranduba................151 A Classe C invade o Facebook...............................................................152 Mindú transborda com bosta e PM atira nela........................................154 O Deprê morreu e o cachê do Lula é 300 mil........................................158 A vida dura dos travestis nas calçadas barés..........................................160 Manaus tem o primeiro divorcio gay.....................................................162 8


A Marcha da Maconha de Manaus está desaparecida............................163 No Amazonas festa de fruta só não tem a fruta......................................167 Planta e Raiz não é dupla sertaneja........................................................168 Apagão contra Belo Monte.....................................................................169 Manausl prático para se livrar de evangélico gay..................................174 As “loras” da bacurinha “braba”............................................................176 Bolinha tailandesa apimenta o dia dos namorados................................177 Manual de Utilização do Santo Casamenteiro Invertido.......................178 Anarco militancia anal...........................................................................182 A lenda do pau grande............................................................................183 A tua tatuagem não te garante................................................................184 Fim da empregada domestica, o ultimo resquicio da escravidão...........188 A nova literatura dos “blogs sujos”........................................................190 O Laerte virou crossdresser e crossdresser não é travesti......................192 AGRADECIMENTOS....................................................................

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Fotos usadas nas colagens Jorge Laborda, Adalmir Chixaro e Lula Sampaio Fotos usada nas crônicas são da web

Ilustrações de peixes usadas nas colagens José Myrria e Karl Mokros

Editoração Jorge Laborda

PRODUÇÃO

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APRESENTAÇÃO Mantenho um blog na internet chamado Crônica Bipolar. De tanto os amigos da onça insistirem para eu transformar em livro, decidi fazer. Não tenho pretensão de ser escritor, nem ilustrador, nem artista plástico nem muito menos artista, qualquer que seja o campo da arte, pois tenho convicção que para ser artista ou escritor, eu teria que dar ao menos uns três dedos de toba todo dia e não me sinto muito a vontade para fazê-lo, mesmo que seja em causa tão nobre. O livro contem além das minhas crônicas sem sentido, colagens feitas a partir de fotografias de Lula Sampaio, Adalmir Chixaro e Jorge Laborda com ilustrações de peixes, feitas por José Myrria e Karl Mokros. Essa série de colagens chamo de “Peixe Fora D’agua” e “Paraíso Artificiais”. A idéia é que o livro seja para ler e ver e fala de idiossincrasias de uma cabeça nascida em Manaus, no centro da Amazônia, com todo o provincianismo resultante disso. Boa leitura e divirtam-se tanto quanto eu me diverti escrevendo.

ENDEREÇO DO BLOG CRÔNICA BIPOLAR

http://cronicabipolar.blogspot.com

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acarรก-boari Mesonauta festivus

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Foto Lula Sampaio

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PREFÁCIO

Para ler a “Crônica Bipolar”? Bota um blues aí, porra!

Em Manaus, houve um tempo em que, aqui e ali, existia um poeta pra te tirar do sufocante marasmo provinciano, senão tu ficava assim meio fudidão das idéias. A merda é que alguns resolveram mergulhar numa instituição qualquer, vestir paletó e gravata, único modo, segundo eles, de evitar a doideira que é sustentar uma diferença. Outros tomaram antes um “cala a boca”, que era pra depois não “tomar no cu”, numa terra em que costuma ser vitoriosa a insustentável leseira da classe média rastaqüera, reprodutora de uma educação habituada a disciplinar corpos e mentes. Ô, yeah! E assim, quase ficamos sem menestréis. Eu disse quase, porque se a porra desse silêncio, tão cultivado entre a maioria dos manauaras, por pouco deixou de fuder a resistência cultural da cidade ao calar a poesia, eis que a prosa ganhou em molecagem e malandragem ali onde menos se esperava, contrariando a Lei de Murphy, para quem “de onde menos se espera, dali é que não sai nada mesmo”. Caralho! Quem não fala não sabe escutar. E quem não escuta é porque entrou num lance de não-encontro com o simbólico. Isso pra não falar no mais claro português, de que o sujeito tá atoladinho na mais despudorada alienação. Vixe! Falar nunca foi problema para o autor do livro que ora prefacio. Ao menos pra patota dele. Como tu, ele também tem sua patota, que lhe reconhece a fala. E olha que não é uma patota qualquer. É uma patota udigrúdi, dessas que faz da arte militância antitotalitária, e que se orgulha de não ter o pecado de agir como máfia. Isso, não! Mas foi o espírito de gangue que acabou prevalecendo sobre sua decisão em escrever. Explico. A patota empombou que ele tinha algo em que se ocupar. “Colunismo social”, gritou alguém, sob resposta irada imediata: “No cu, gaivota!” 12


O fato é que ninguém da patota agüentava mais ouvir a crônica da cidade desfilando aos seus olhos, sem que a maioria silenciosa tomasse conhecimento. Sacou a sutileza da carga a que a indigitada criatura foi submetida? Logo ele que, até então, era virgem... no ofício das letras. Quando ameaçaram cortar o bagulho, aí que a coisa deu certo. Só pra frescar, nosso personagem se decidiu por criar um blog. O nome lhe faz justiça: “Crônica bipolar”. Daí pro reconhecimento fora da patota, bastou a postagem das primeiras heresias contra a leseira que assola, há décadas, as classes médias incultas da cidade. Com o blog e uma coluna no jornal “O Repórter”, tornou-se, da noite pro dia, o “cronista social” mais escrachado de todos os tempos. A grana era pouca, mas dava pra descolar a gelada das quintas-feiras no bar do Armando, reduto de intelectuais que gostam de ver o mundo molhando o bico, que é pra soltar as cordas vocais e aclarar mais as idéias, não necessariamente nesta ordem. Foi assim que o personagem, há muito inscrito na galeria do “meu tipo inesquecível”, saiu da posição de ver e escutar esse mundo velho, e, depois de falar pra burro(s), sem querer passou a escrever pra leitor de jornal, esse ser que compõe a massa informe por alguns chamada, equivocadamente, de opinião pública. Como nem tudo que escreveu foi publicado, encontrarás neste livro o que o enfant terrible da crônica baré salvou da tesoura da censura. É pra ler e rir dos pudores do censor. Depois de cutucar a onça, por o pé no freio e tratá-lo de bichano é covardia. Pra finalizar, se tu me disseres que falar e escutar são duas coisas distintas, inaplicáveis para a escrita, vou te dizer uma coisa, abre tua mente para os lugares onde se produzem a diferença e deixa de regular o comportamento dos outros, porra! Não é todo dia, nem todo mundo, que tem a audácia de afirmarse, sem vergonha, como crítico da cultura, essa “doencinha” tão conhecida por todos nós, quanto mais produzir discurso ou ob13


servação (des)pretensiosa sobre ela. Te aconselho a deixar de lado tuas defesas e não fazer delas instrumento de manipulação e desvalorização do que outrem sabe fazer num campo que muitos foram condenados à mudez. Se ainda prevalece o silêncio sobre nossa cultura, o autor a deflora com críticas impiedosas. Ele continua falante, além do escrevente que se tornou. E quem fala e escreve para além do que costumam se permitir os sujeitinhos dementes presos em seus macacos, certamente o texto da criatura exigirá um leitor liberto do moralismo que voltou a impregnar nossa cultura. Se, por acaso, tu és um desses leitores caga-regras, mais chegado em literatura de auto-ajuda, pegaste o bonde errado. Caga-regras, aqui, só o nosso cronista. Ele tem licença poética pra cair matando o surrado racionalismo baré. Este não é um livro pra iluministas de ocasião, mas praqueles que gostam de revirar a própria história, por seu risco e conta-própria. Definitivamente, como diria o psicanalista MD Magno, este não é um livro praqueles que vivem a repetir bobagens, tudo porque a cultura nada lhes pediu. É contra essa cultura que o autor se insurge. Dito isto, deixo-te na companhia de Jorge Laborda. Com ele se aprende que a liberdade só se manifesta no âmbito da política. Nada a ver com a tramóia-partidária-nossa-de-cada-dia... Pra essa, verás que tu podes até cagar e andar. Mais underground é possível. Mas aí tu vai ter que esperar o segundo volume. Este é só o primeiro, uma espécie de travessia. E, se acaso sentires que tuas fronteiras ficaram mais borradas, e descobrires que muitas das tuas idéias estavam com prazo de validade vencida, então valeram as travessuras de Jorginho. Ah! E, se doer, relaxe, baby, e deixe-se gozar. Goze muuuuiiito! Sssssrrrrrrlllllp (‘p’ mudo, please). Rogelio Casado Picicanalista www.rogeliocasado.blogspot.com 14


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A luz que vem do daime

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yahuasca, nome quíchua de origem inca, refere-se a uma bebida sacramental produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da floresta amazônica: o cipó Banisteriopsis caapi e folhas do arbusto Psychotria viridis. É também conhecida por yagé, hoasca, vegetal, Santo Daime, vinho da alma, entre outros. Utilizada pelos incas e também por pelo menos setenta e duas tribos indígenas diferentes da Amazônia. É empregada extensamente no Peru, Equador, Colômbia, Bolívia. No Brasil faz parte do ritual de varias seitas. Acreditando na possibilidade de que só se pode ser feliz pagando mico, fui a uma sessão ritualística que tem como pratica uma nova forma de beber a ayahuasca, santo daime ou o nome que se queira dar a bebida. Um amigo, o Raymond de Sá, o Bárbaro, trouxe de Brasília, da mística região do Vale do Amanhecer, uma seita nova, uma forma diferente de beber a infusão. O ritual começa com a velha e ordeira fila para beber o chá, recebemos um copo cheio de uísque com quatro pedras de gelo feito de ayahuasca, ficamos todos de pé, esperando bater. Depois de uns quinze minutos de silencio profundo, quando a lombra estava começando a entrar, começou a tocar uma musica, uma espécie de mantra, baixo e suave e foi aumentado gradualmente. A música era assim “ ado, ado, ado, cada um no seu quadrado...ado, ado, ado, cada um no seu quadrado”. 18


Enquanto cantávamos, uma força estranha se apossou de todos nós e começamos uma dança ritualística parecida com o funk carioca, onde cada um devoto dava um passinho para frente e um passinho para trás e ia até o chão rebolando, sempre cantando o mantra “ado, ado, ado, cada um no seu quadrado”. Meia hora depois eu estava me sentindo ridículo. Foi então que bateu a viagem mística. Sempre no fim, as coisas parecem ter a forma que sempre tiveram e que deveriam parecer ter sempre. Nos últimos dias do inverno febril a luz adquire o péssimo hábito de pousar em cima dos objetos ocultos libertando as abjeções, despertando a velha fome de viver. Essa mania de querer morrer mesmo amando a vida, essa eutanásia deliberadamente feliz, essa boca cheia de sede que me suga as noites quentes do mesmo ve-lho e antigo verão úmido de grandes lábios suculentos, essa vontade de ver atrás da porta verde um deus que nem acredito existir, tudo isso me impulsiona para experiências próximas da canalhice, do charlatanismo. Viver de verdade é perder o medo de ser ridículo, portanto, quando abri o olho novamente, lá estava eu atrás de uma bunda linda que pertencia a uma gatinha ambientalista estilo new hippie que trabalha em ONG, dançando e cantando...”ado, ado, ado, cada um no seu quadrado...ado, ado, ado, cada um no seu quadrado”. Essa experiência mística mexeu profundamente comigo, acho que finalmente a Porta Verde se abriu, as coisas ficaram um pouco mais claras, algum significado para justificar a vida emergiu dentro de mim enquanto eu olhava para aquela bunda, dançando e cantando “ado, ado, ado, cada um no seu quadrado...ado, ado, ado, cada um no seu quadrado”. Percebi que se fosse continuar nessa seita, não poderia ser um simples devoto, teria que ter um franchise para poder me auto proclamar mestre. Mestres ficam sentados só olhando as bundas dançantes, uma posição privilegiada e mais adequada para um cara de quase cinqüenta anos como eu. Esse lance de ficar rebolando até o chão, mesmo dopadão, deu uma piorada na minha lordose. Ainda bem que a garota da bunda 19


linda tinha feito curso por correspondência de massagem tailandesa e está dando a maior força aqui em casa, cozinhando, lavando, passando a minha roupa e de vez em quando me dando uma sapecada, cantando “ado, ado, ado cada um no seu quadrado...”. Dei um tempo na Dalila, minha boneca inflável. Tirando o grão de bico e o gergelim, estou comendo bem, graças a deus!

O amor não precisa de consolo

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amor é cego, Ray Charles é cego, Steve Wonder é cego e o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem, mas não dá pra fingir não ver um consolo daquele tamanho. Quando meu amor voltou da viagem veio trazendo na bagagem a novidade. Havia comprado um vibrador, um sonho de consumo antigo, travado na ideologia, no falso pudor ou na vergonha de encarar o balconista do sex shop. Tanto tempo de sonho adiado contribuiu para que ele se transformasse em um desejo reprimido, e quando se manifestou veio como a força de água represada. Quando meu benzinho resolveu me mostrar o treco, me deu uma sensação de impotência. Ela passou quase uns cinco segundos para conseguir tirar todo “ele” da sacola. Ela puxava e não parava de sair. A porra tinha o tamanho de uma bisnaga que francês adora carregar embaixo do sovaco. A louca aloprou dessa vez. O consolo devia ter uns trinta centímetros. Depois da sensação de impotência veio uma ponta de raiva 20


originada no ciúme e no complexo do pau pequeno que acompanha todo macho, acho eu. Comecei a tentar ser racional e pensar que meu pau não é tão pequeno assim e que afinal de contas o vibrador poderia ser meu aliado na realização dos desejos sempre insaciáveis do meu amorzinho. Mas toda vez que eu olhava pra “ele”, me sentia um fracasso, amarelava legal, ficava com medo de entrar em campo. Como concorrer com “aquilo”? A louca tinha comprado um consolo enorme, siliconado e preto. Toda mulher branca tem esse fetiche de dar pra um negão de pau grande. Herança atávica da época da avó, sinhazinha da fazenda que pegava geral na senzala. Olhando para o objeto a reflexão que eu fiz era que ela estava com o cara errado. Eu não sou negão e estou longe pra caralho dos trinta centímetros desejados. Daí a sensação de frustração e ciúme. Como participar de um jogo onde aquele monstro entraria em campo primeiro, jogaria o primeiro tempo, e eu só entraria no segundo. Seria como se saísse o Messi e entrasse o Gladstone. Com toda a certeza a torcida vaiaria. Eu teria que dar o sangue que não tenho para concorrer com aquilo. Não tenho mais idade pra correr atrás dos carros como um cachorro otário. Se eu fizer contorcionismo eu tenho distensão muscular. Agora vou ter que dividir meu amor com outro objeto. As chances de ela ir me esquecendo no processo é bem grande. Tenho a impressão que ainda vou vê-la dando beijinhos no bagu-lho chamando de “amor”. Tenho que ir no Google e ver se acho um manual de instrução “Como usar vibrador no dos outros” e um livro de auto ajuda “O que fazer quando o consolo lhe deixa desconsolado” e me preparar para sensações novas, estranhas e alienígenas se quiser continuar gozando da presença e da companhia da mulher que em algum momento de loucura escolhi para ser minha. Tenho muito a evoluir. A sorte é que não vai ser em mim que o bagulho vai entrar e, se meu amor engravidar, as chances de eu ter certeza que o filho é meu vai aumentar muito. Ando com saudades do tempo da Dalila, minha boneca inflável siliconada, aquilo sim é que era mulher. 21


Do cóccix até o pescoço

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om o passar dos anos, as pessoas são inexoravelmente invadidas por todos os tipos de angústias, culpas, medos e ansiedades. Culpa judaico cristã por ter pensando um dia em comer a própria irmã gostosa que dava pra rua toda, culpa mulçumana por ter comido ou dado pra rua toda, culpa budista por não ter comido carne mijada e ter ficado no rabanete por ser vegetariano, culpa por ser um socialista cansado que acreditou no grão mestre Arnaldo Jabor que apregoa não mais existir nem direita nem esquerda e sim um mundo que chuta com as duas o boga dos outros, culpa por ser um capitalista selvagem radical de centro direita que odeia o Lula e tem como bíblia a vestal das verdades, a Revista Veja (Ooooohhh revistinha! ) e ser assíduo telespectador do Jornal Nacional com suas verdades mutáveis, culpa por ter enchido de porrada a própria boneca in-flável, companheira de tantas noites insones, e a pior de todas as culpas, não ir ao médico fazer os exames necessários que a idade avançada pede, depois de tantos anos sendo invadido por tsunamis diários de cerveja, cigarro e drogas menos lícitas. Só de pensar em fazer exame de toque para detectar possível problema de próstata, tem caboco que dá xilique. O meu amigo Simão Pessoa, por exemplo, declarou que prefere mil vezes o câncer. Eu também. Aprisionado por esse oceano de medo, culpa, ansiedade e angus22


tia lacaniana, o ser humano avança no tempo, abrigando entre o cóccix e o pescoço, uma enorme quantidade de lombrigas convivendo harmonicamente. Por medo de fazer exames médicos, para não detectar possíveis danos irreparáveis na estrutura, depois de anos de abusos, prefere acreditar que a dor que sente pelas corrosões e beliscadas na parede do intestino provocada por amebas, seja um câncer irreversível, uma punição por ter comido ou dado pra tanta gente ou coisa, e que aquela dor na boca no boga seguida de sangramento, provocada por oxiúrus, seja um tremendo câncer terminal. Como diz o caboco, filho de pobre come o que dá e o que recebe também, mingau quente a gente vai soprando e comendo pela beira, lombriga, medo e anus todo mundo tem e quem não tem chifre é porque algum paraense roubou. Nesses tempos bicudos onde adquire-se atestado de sanidade mental no bar do Armando, o lance é ir andando com o toba colado na parede, lendo um letreiro com néon e tudo, piscando, dizendo “Eu não comi ninguém, mas também ninguém me comeu”.

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pacĂş jumento Myleus schomburgkii

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A guerra da granola

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urfando pela internet li em um site que iria haver um workshop sobre aquecimento global com a Amazônia, coitada, de pato na estória. Eu continuo achando que a Califórnia polui mais que a Amazônia, mas ninguém me ouve. Como estava de bobeira enfiando peido em cordão, resolvi ir conferir o que ia rolar de novo no repetitivo debate. Ao chegar encontrei uma amiga que há anos não via. Ela estava mudada, estava mais hippie, mas despojada, mais largada. Usava um vestidão tipo indiano caiçara new-hippie todo estiloso, devia ser caro, tinha etiqueta Forum e tudo. Sentamos juntos e ficamos de papo pseudo cabeça até percebermos que estávamos incomodando os demais na sala do debate. Resolvemos sair e fui convidado por ela pra esticar até sua casa, comer, beber e conversar. Topei de primeira e entramos no seu fusquinha 69 amarelo, uma graça, uma verdadeira proteção antifurto, nenhuma ladrão em sã consciência roubaria aquilo. Passamos em um supermercado antes, eu empurrando o carrinho e ela enchendo de arroz integral, grão de bico, ervas, lentilha e granola. Peguei uma garrafa de cachaça enquanto ela se distraia na prateleira de cosméticos. Com o carrinho de compras abarrotado nos dirigimos ao caixa. Eu tava ensacando as compras quando ouvi um berro “Nãoooo ... nãooo ... saco plástico não!”, fiquei de bobeira sem entender e sem saber o que fazer. Ela me deu uma aula sobre o mal que faz ao planeta a utilização de saco26


la de supermercado. Fomos carregando as compras na mão grande até o carro, sob o olhar estupefato dos clientes tirando a gente de doidos. Claro que ela levava só as ervas leves, os enlatados estavam na mão do otário caindo a cada passo que eu dava. Chegamos à casa da louca e conheci uma amiga dela que dividia aluguel, arranjo muito comum entre pessoas que insistem em se achar estudantes de república apesar dos cabelos e pentelhos brancos. Uma casa típica de neo-ambientalista, muito básica. Um tupezão indígena espalhado na sala e sobre ele espalhados despojadamente os lap tops, ferramenta imprescindível no mundo moderno. Manaus faz muito calor e pedi a minha amiga para tomar um banho, ela disse ok e ao entrar no banheiro fiquei admirado com a quantidade de cosméticos que havia ali dentro, parecia loja do Boticário. Tinha xampu pra tudo que é tipo de pelo e cabelo, sabonete liquido, sólido e gasoso, eu mal podia me mexer dentro da loja de cosméticos que elas chamavam de banheiro. Tínhamos bebido umas cervas e eu estava doido pra urinar. Quando pus o cacete pra fora lembrei a tempo do esporro que tinha levado da louca no supermercado, entrei em um dilema que me levou ao pânico. Não sabia se urinava no vaso ou no chuveiro, já que a ultima moda da filosofia ambiental é urinar em cima das próprias patas enquanto se toma banho, pra não gastar água da descarga à toa. Decidi seguir a doutrina da louca e resolvi urinar no chuveiro. Foda foi sentir a fisgada na barriga anunciando vontade de dar uma cagadinha. Nossa!! Tudo, menos isso. Meu dilema aumentou. E quanto a cagar? Será que é no vaso ou no chuveiro também? Para não correr riscos, fiz tudo no chuveiro. Dificil foi dar fim a quase um quilo de puro barro pós cachaçariano. Estava quase acabando a operação quando ouvi gritos e discussão vindos da sala, parecendo briga das feias. Corri pra lá e vi as duas se pegando pelos cabelos tentando dar bofetes uma na outra. Separei a custo a briga. Com as loucas mais calmas fui entender que a briga era porque uma estava comendo a granola da outra escondida. 27


Furto de granola. Mais uma lição que tenho que aprender, nunca furte granola de ambientalista. Sugeri para que voltasse a paz, comecemos o bolo de maconha que estava sobre a mesa e fumássemos uns baseados de gergelim. Esperei algum tempo e falei que ia comprar cigarro “normal” na esquina. Peguei o primeiro busão que passou. Talvez a gente se encontre em algum outro workshop inútil e eu invento que não voltei porque fui abduzido pelo espírito do Chico Mendes a mando da Marina Silva. Mentira tem perna curta, minha grana também e meu tempo muito menos.

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A web cam e o vibrador

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uito pouco sabe-se sobre o que ocorre na mente humana apesar de todos os estudos feitos, de toda a ciência e de toda a tecnologia. Nossos corações e mentes continuam sendo uma fortaleza inexpugnável para a curiosidade infantil da religião predominante chamada ciência, ainda bem. Sem o encanto do mistério acaba toda possibilidade de poesia. Sem os segredos da alma nada mais se revelaria, e a vida seria muito pobre. Porém a mesma curiosidade infantil que pode ser tão obvia e chata, cria tecnologias e brinquedos interessantes para o deleite da raça humana, inclusive o meu. Entre eles a web cam e o vibrador. Juntos fazem uma dupla que se usadas da forma correta são extremamente úteis para ajudar no processo de busca da felicidade, único compromisso que um ser humano decente deve ter nessa vida ordinária. Navegando como um vagabundo depravado pelas ondas da internet, surfando em mares pecaminosos das salas de bate papo que permitem imagens pornô, uma criatura me aborda. Uma mulher que se dizia chamar Mercedes. Disse que estava adorando as imagens de sexo anal que eu estava mandando para a sala, 29


coisa que aprendi a fazer para melhor abordar a mulherada que freqüenta esse meio doentio e sórdido. Trocamos msn, um programa chat que permite falar, mandar arquivos e até conversar por web cam, tudo em tempo real. Descobri que Mercedes era na verdade Julia, uma gata linda de Pouso Alegre, Minas Gerais que adora usar “brinquedinhos” e ser vista na rede. Uma excelente amostra da verdadeira mulher mineira, recatada, católica apostólica romana. Ela usa o vibrador com se fosse a ultima refeição de um condenado a morte. Adoro ver a doida manipulando seu instrumento diante da web cam para eu ver. Ficamos amigos e rola até saudade quando ela fica dias sem entrar. Conversamos sobre outras coisas além de sexo virtual e suas virtudes. Falamos sobre namorados que não batem um bolão, que deixam a namorada dias sem orgasmos, sobre o valor asséptico do uso do vibrador, se camisinha é necessário na hora de usar o treco...enfim, trivialidades que qualquer namorado normal conversaria com sua amada no sofá da casa dos sogros. Viajei durante o feriado de carnaval e andei pegando mulher de carne e osso, só pra sentir a diferença. Tem muita não, às vezes é até pior, vem no pacote um monte de demandas aborrecentes, seqüelas irreversíveis, como neuroses, coisa pior que aids ( Sei que falando assim devo parecer um prato cheio para um psicanalista lacaniano que adora a palavra sublimação...de cú é rola como diria o caboco ). Sei que quando acessei novamente o msn ao voltar do feriadão, encontro minha amiga inconsolável, triste, dizendose morta de saudades, que eu a tinha abandonado, que sem mim do outro lado da cam, brincar com o vibrador não tinha a menor graça. Que tinha suspeitas que alguns sintomas do que estava sentindo seria indício de estar se apaixonando por mim. Fiquei comovido, tocado, flechado. Entre a web cam e o vibrador, com certeza, mora um coração.

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Genuflexão auxilia boquete

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e acordo com o Aurelio, genuflexão é o ato de dobrar os joelhos e boquete todo mundo tem obrigação de saber o que é. Tem gente que paga boquete mas não faz genuflexão e tem gente que se ajoelha de graça, por nada. O fato que donos de jornais são comprometidos com elites e defendem quem tiver mais grana para pagar, todo mundo sabe. O que é desprezível é ver a profissão de jornalista ser transformada em prostituta barata. Estava bebendo em um bar convidado por um amigo para um aniversário de uma jornalista que sequer conheço. Depois de várias cervejas, baixa em mim uma pomba gira falante. Comecei a atacar a imprensa amazonense chamando de subserviente e conivente com a corrupção política, coisa que todo mundo sabe. Todos os jornalistas da mesa pediram a minha ausência. Defenderam os patrões como se tivessem defendendo a profissão de jornalista, confundindo alhos com bugalhos. Só nessa imprensa marrom que jornalista é obrigado a chamar patrão de colega. Se a democracia depende da independência e da qualidade da sua imprensa, nós estamos ferrados. Vai todo mundo pagar boquete para politico corrupto que injeta dinheiro nas empresas de comunicação. Existem varias formas de genuflexão. Veja na qual você se encaixa. 31


piranha branca Serrasalmus gouldingi

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Pelo direito de dar um pum

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sociedade humana moderna volta e meia se depara com dilemas que a coloca na posição de Deus, com poderes de vida ou morte sobre toda a espécie de vida na terra. Reza a lenda que acabamos com mamutes, bicho preguiça-gigante, etc. Durante a guerra fria, travada entre os USA e a extinta URSS, o comichão muitas vezes coçou o dedo dos poderosos dos dois países, para apertar o botão vermelho que deflagraria o holocausto nuclear. O fato de a raça humana estar atualmente no topo da cadeia alimentar, às vezes provoca uma certa acrofobia (medo paranóico de altura), que gera um pití geral, uma síndrome de Nero (que nunca sabia se cremava ou se dava pro bofe), oriunda do mito de ter extrapoderes para acabar com todo o planeta. Puro delírio nérico. A questão ambiental provocou uma espécie de nova síndrome, um novo mito chamado de “aquecimento global”. A imprensa mundial está adorando anunciar apocalipticamente, evangelicamente, o novo fim dos tempos. Ainda bem que os profetas midiáticos das redações falam no fim só daqui a cem anos e talvez, sem anus. Os news chatos, os afetados pelas profecias apocalípticas, quase que por um modismo, invadem as conversas de boteco, repenicando esse blá, blá, blá de fim do mundo, em uma nova onda histérica. Já existem duas correntes neo evangélicas apocalípticas. 34


O New Hippie Ambiental versus o Neo Nazista Ambiental. O Neo Nazista Ambiental quer passar o rodo na selva para acarpetar tudo, pra ficar que nem na Inglaterra. Tudo gramadinho, bonitinho e sem mosquitos pra torrar a paciência. O New Hippie Ambiental chega ao absurdo de achar muito predatório o fato de alguém soltar um pum porque a emissão de gases afetaria a camada de ozônio. As minhas amebas, coitadinhas, que resistem bravamente a tsunamis diários de cerveja, devem achar essa discussão um porre. Eu também.

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Adestramento de ambientalista criado em cativeiro

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cabei de chegar de uma festinha neo-ritualística inpaica, onde comi bolo de maconha, fumei grão-de-bico e enchi a cara de leite de soja. Nesse estado de transe e plenitude, parecendo o estado neo-daimista, me veio à cabeça a idéia. Para quê estaria vindo para a Amazônia essa enxurrada de ambientalistas criados em cativeiro com suas meias verdades formadas nos cafundós das escolas piracicabanas. Claro que parte veio de Piracicaba mesmo. Como neo-idiota que sou, me veio à idéia neo-paranóica de um grande complô gringo, formando estúpidos piracicabanos neoambientalistas para neo-preservar a Amazônia para eles (os gringos, claro) chegarem depois e dar um craw. Lembrando que todos são discípulos inocentes do grande muso neo-amazônida e teórico do “A Antártida é aqui”, portanto somos pingüins, Philipio Franchise ou coisa que o valha. Eu, se fosse o Clodovil Hernandez deles mudaria o uniforme bermuda caqui neo-texana caipira e suas camisetas neo-hippies com frases e cores clichês e suas mochilas levando laptop estilo “mamãe o ladrão levou, paga outro”. Regurgitando entre uma visita e outra ao vaso sanitário, ficou nítido na minha mente embaçada de fumaça de grão-de-bico que 36


existe uma orquestração para tomar a Amazônia das mãos dos macacos, capivaras, botos, antas, etc, verdadeiros donos da área e vítimas dos índios e depois dos europeus, africanos e asiáticos que se locupletam aqui. Saiu no New York Times uma matéria intitulada “Quem é o verdadeiro dono da Amazônia”, matéria provocada porque o governo federal vai instituir uma lei regulamentando a entrada de “pesquisadores” no território livre que está virando a Amazônia. Não se pode perturbar o “trabalho” dessas criaturas pagas por grana excusa. Realmente o jornal está certo, essa porra está sem dono. Os índios sacanearam as capivaras, os europeus portugueses sacanearam os índios, agora os americanos vão sacanear todo mundo. Neo-Nazistas Ambientalistas, New Hippies Ambientalistas Fundamentalistas comedores de grão-de-bico, Estúpidos Metidos a Cronista uni-vos, pois embora paranoicamente isto parece ser o que é, tem dia que de noite é foda. Essa porra não é de índio, não de branco, não é de ambientalista fundamentalista e nem das capivaras. Ela é dela. E não é a Antártida e nós não somos pingüins. Mas a pergunta está posta, de quem é a Amazônia?

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tamoatรก Hoplosternum littorale

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Nem a Marcha da Liberdade nem o casamento gay

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stamos vivendo um tempo bicudo. A Europa está flertando pesadamente com a direita, se fechando para o resto do mundo por medo da recessão econômica. Um idiota da extrema direita assassina covardemente 84 pessoas por se dizer um cruzado cristão anti mulçumano. Isso na pacifica e moderna Noruega. O Serra nas eleições para o Brasil se agarrou no discurso anti aborto, anti casamento gay, nas saias do vaticano e acusou veementimente o povo boliviano de ser a causa da cracolandia em São Paulo. E quase ganha à eleição agarrado a esse discurso fascista. Com votos dos “verdes” marinistas que se acham modernos. A Marcha da Maconha e a Marcha da Liberdade só saem para isso. Para a festa. Só fumar maconha numa passeata não é ser livre. As marchas não se metem em nenhuma outra discussão, não se manifestam em outras lutas que tenham a ver com liberdades civis. Tipo esquerda festiva. O governo só tem se preocupado com números, economia e desenvolvimento. 40


Justificado por 500 anos de atraso colonial do Brasil. A sociedade civil tem que organizar a qualidade dos seus debates. O surpeendente é que os gays quando lutam por democracia e liberdade estão paradoxalmente agarrados em bandeiras que representam o que a sociedade tem de mais conservador. O casamento e as forças armadas. Gay luta para casar e servir o exército. E mais nada. O debate gay para nisso. Não se faz mais gay como antigamente.

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É proibido proibir

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stamos vivendo a era das proibições. Todo dia leio em algum jornal ou vejo na TV algum idiota sugerindo uma proibição nova. Como se fazer leis proibitivas fosse a solução final nazista para todas as “inseguranças” do homem e da sociedade moderna, essa besta fera. Em nome do sono tranqüilo de meia dúzia de caretas, mauricinhos, burgueses, chatos, burocratas, republicanos de direita, proíbe-se qualquer coisa que venha ameaçar a falsa segurança dessa elite bunda mole. Nos anos 60 e começo dos 70, que descambou na Primavera de Praga, período em que o mundo lutava por liberdades civis, tais como o direito de expressão e respeito às diferenças, época em que surgiu o maravilhoso movimento Flower Power, ou o movimento hippie, onde a palavra de ordem era “liberdade” e a frase “É proibido proibir” escrita nos muros da França pelos estudantes que faziam movimentos civis, ouvindo um bom rock no fundo, que incentivaram gerações a dar valor à liberdade, parece que tudo isso, todo esse esforço, foi jogado fora. Os jovens de hoje não se rebelam, se curvam, aceitam e até concordam com essa balela de proibir. É mais cômodo proibir do que educar. Proibir aumenta o poder do Estado e alimenta a indústria da corrupção, dá mais dinheiro com 42


multas ou o guaranazinho dos guardas. Ao invés de ensinar ou punir de verdade quem burla a lei, melhor tirar uma grana dos otários e soltar. Alcoólatra e pedestre que sou, estou indignado com essa porra dessa lei do bafão, a tal da Lei Seca. Nêgo continua atropelando, matando, vai preso por um dia, sai e se quiser volta a dirigir. O certo seria punir severamente quem infringe a lei, de políticos corruptos, empresários que mamam no nosso dinheiro, juízes calhordas a motoristas homicidas. Todos deveriam ser severamente punidos. Não o pobre coitado do alcoólatra pedestre, como eu. Por conta dessa lei, meus amigos pinguços que tem carro andam com medo de sair e biritar. Medo de pagar R$ 900,00 de multa e perder a carteira, mesmo sem atropelar velhinha, cachorro, gato ou periquito. Ou pior, ser achacado por policiais militares que vão te dar uma dura, uma lição de moral, e depois exigir um guaranazinho de 300 contos. Se bem que parece que pode pagar em “três vez”, como diz o guarda. Tanto que eu vinha com um amigo que tem carro e não se acovarda com essas chantagens baratas do Estado, quando de repente uma blitz na frente. Ele vinha fumando um baseado com uma mão e na outra uma latinha de cerveja, o volante parece que tava entregue as patas. O maluco jogou fora a lata de cerveja sem o guarda ver, mas o baseado ele esqueceu de jogar. Quando chegamos à blitz o guarda gritou pra gente “passa, passa... mané... essas porras só têm um baseado.”... disse o guarda olhando pro sargento. Fomos pra outro bar comemorar o fim da proibição da maconha, bebendo cerveja. É muita proibição pra uma policia só.

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O Encontro das Águas vai virar estacionamento

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e depender das intenções da elite empresarial que só visa lucro imediato, dos politicos corruptos que infestam a Amazônia como carapanãs sedentos, das ONGs de fachada que estão a serviço de interesses “internacionais” e só pensam em baleias, como o Jonas que mora dentro de uma, e do previsível aplaudir da imprensa que é um braço armado da corrupção política, veremos em breve o Encontro das Águas virar um enorme estacionamento para navios, transportando riquezas que com certeza só vamos ver passar. Se isso acontecer quero ser o primeiro flanelinha do estacionamento, gritando “é um real aê...é um real aê...vem.. vem...vem...vai..vai...vai...”, deve rolar uma grana boa. Talvez com o tempo dê pra comprar a Costa do Cambixe e transformar numa boate flutuante imensa para os marujos dos navios irem pegar as caboquinhas também por um real. Aliás tudo vai ser um real, assim fica mais fácil passar troco. E nem adianta o Greenpeace vir tentar tirar meu puteiro aquático de lá depois de ter ficado estranhamente silencioso diante da aberração que é deixar construir o Porto das Águas, enquanto faz barulho por baleias anãs do Tibet. Embora o filme Avatar fale de um futuro distante e seja um clichê do começo ao fim, é bom a gente começar a se mexer e se unir contra essas sandices, senão a solução vai ser mudar para Pandora e aprender a comer mulheres enormes, orelhudas e azuis. Dá não! 45


aracu cabeรงa gorda Leporinus trifasciatus

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Os narco-apresentadores na política baré

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omo vírus eles se proliferam entranhando-se no poder através do legislativo, geralmente bancados por padrinhos políticos já encastelados nas tetas do dinheiro do povo e donos de empresas de comunicação compradas com dinheiro desviado do erário e muitas delas são concessões públicas. Estou falando dessa modalidade de assalto da coisa pública que aflige o Brasil, que começa como apresentador de televisão de programas de baixo nível, geralmente com cunho policialesco e assistencialista, depois se candidata a cargo público e toma de assalto o poder. O problema é que além de aparecerem como gafanhotos, feito praga, eles se proliferam feito preás, criando tentáculos familiares dentro da órbita do legislativo. Se contar nos dedos, metade das cadeiras da câmara dos vereadores e da assembléia legislativa está na mão dessas trupes nefastas. Em Manaus essa prática está tão enraizada que já tem netos na trilha dos avós, tornando-se, portanto, um rentável negócio de família aos moldes das máfias. Esses narco-apresentadores narcotizam a consciência política do cidadão, e o que assusta é que a justiça eleitoral sequer possui leis que permitam a sociedade defender-se dessa prática totalmente anti-democrática. 48


Em ano de eleição sempre aparece alguma novidade no ramo, uma cara nova, algum outro candidato para substituir os antigos, que vão para a esfera federal, migrando para esferas mais altas. É um negócio em escala industrial, tem refil, peça de reposição, estoque, almoxarifado e setor de contabilidade, claro. É um projeto de governo com fins totalmente obtuso, para enriquecimento pessoal. Haveria de ter uma lei eleitoral que regulamentasse a participação de pessoas que usam espaços midiáticos profissionalmente com fins claramente eleitoreiros. Chega a ser desigual para os outros candidatos. Esse tipo de modalidade que sequer pode ser chamada de criminosa por ausência de legislação a respeito, faz campanha político-partidária o ano todo, travestido de opinião jornalística, atacando um candidato e elogiando outro, sistematicamente, assim drogando a opinião popular. Talvez essa seja o pior tipo de droga, é pesada, e totalmente legal, já que não existe, aparentemente, uma lei que proteja a sociedade civil dessa narcotização. É que a televisão me deixou burro, muito burro demais e eu ligo o rádio e blá blá blá, não dá pra controlar.

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O irreversível destino do Emo Sapiens

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aimundo nasceu às margens do Rio Jaú no Amazonas, filho de caboclos descendentes de índios da Amazônia. Aos 10 anos de idade seus pais foram obrigados a abandonar a região, pois ela havia se transformado em reserva ambiental e a ONG que administra a área proibiu a entrada dos regatões, barcos regionais que fazem o comercio pelos rios, levando insumos básicos a sobrevivência dos caboclos já integrados ao modo de vida branco. Quando a sua família chegou à Manaus, foram jogados na indigência, pois não eram nem índios e nem brancos, e a vida dura em uma cidade grande os levou a morar nas ruas. Seu pai em pouco tempo estava roubando e traficando e sua mãe se prostituia. Quanto ao Raimundo, passava seus dias andando pelas praças do centro da cidade cheirando cola de sapato com bando de meninos abandonados. Aos 13 anos encontrou um padre que trabalha com resgate de indigentes, e tem preferência por meninos adolescentes. Na condição de protegido do padre pedófilo, ele começou a ter experiências homossexuais não consensuais em troca de comida e abrigo. Ao mesmo tempo ele começou a receber desse padre uma educação erudita, sendo iniciado no estudo da filosofia. Começou e ler Kafka, Baudelaire, Rimbaud, Fernando Pessoa, etc., e ao perceber que todos eram bi50


bas, começou a achar normal ser biba também. Nessa idéia o padre deu uma ajudinha amiga. Dentro desse universo ele foi crescendo e seu dilema aumentando por se sentir deslocado nesse mundo estranho. Vivia numa cidade que nem era brejo nem metrópole, ele já não era mais índio e muito menos branco e o pior dilema, havia sido empurrado para a homossexualidade por circunstancias da vida, mas tinha sonhos eróticos com garotas, ou seja, ele era um hetero que habituou-se a pegar homens. Com o passar dos anos, essa angustia foi aumentando, transformando Raymond, ele até mudara o nome, em uma pessoa taciturna e introvertida, com serias tendências suicidas. Numa de suas tentativas de suicídio fracassadas, ele pensou em dar cabo da própria vida em grande estilo. Resolveu fazer haraquiri baiano pulando da passarela em frente ao maior shopping da cidade. O haraquiri baiano é uma adaptação do ritual suicida japonês, consiste basicamente da pessoa pular de uma altura, nu, e meter dois dedos no toba e rasgar. Dizem que é tiro e queda. Quando Ray se preparava para pular, ia passando a Gay Parade Baré, evento anual que reúne o maior numero de veadinhos indígenas do planeta. Ele resolve adiar o suicídio e cair na gandaia. Foi quando conheceu uma bichinha paulista que o convidou para dar um rolé por Sampa. Raymond foi de mala e cuia. Para se enturmar e por hábito, continuou dando três dedos de cú todo dia, para poder se inserir na vida moderna da cidade grande. Com o tempo passou a se identificar com os emos, pois tinham o mesmo perfil dele, deprimidos, liam os mesmos autores, andavam em bandos e gostavam de queimar a rosca para sobreviver ao mundo cão. Assim nasce o Emo Sapiens, o emo pan amazônico transmutado para a metrópole que o suga cotidianamente. Se não fosse as recaídas sexuais quando ele bebe muito, o mundo estaria perfeito. Ele não pode ver uma mina gostosa que não consegue parar de pensar em comê-la. A luta entre a biba que quer se impor pela força da racionalidade e da vontade e o espada que no fundo ele é. Esse é o dilema existencial do Emo Sapiens. 51


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bod贸 Liposarcus pardalis

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Delírio paranóico de sequelado xenófobo

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Obama é um grande vaselina. Que negão safado. Fez uma media acabando com o embargo covarde e ineficiente a Cuba e agora vai construir bases militares na Colômbia de olho na Amazônia. Dessas bases eles podem voar em caças sem escala até a Ilha de Marajó no Pará e até o Mato Grosso do Sul, cobrindo toda a extensão da Amazônia Legal. Os USA reativaram a Quarta Frota da Marinha de Guerra, que se encontrava desativada desde o fim da guerra fria. Afinal os cucarachos do sul não tinham como reagir ao controle político da maior e mais armada potencia atômica do mundo, pensavam eles, portanto está tudo tranqüilo no nosso quintal. Esses foram os eventos que deflagraram os meus delírios paranóicos, e de acordo com eles, existem vários motivos para a reativação desse aparelho de guerra. Motivo um: A Venezuela, um dos maiores fornecedores de petróleo para os ianques, com o Hugo Chaves no poder, mantém uma política antiamericana, insuflando outras republicas bananeiras a fazê-lo. Anda comprando AK-47 da Rússia para derrubar os helicópteros Apaches ianques armados com mísseis. As crianças O palestinas tentam com baladeiras e fundas, sem muito sucesso. Com a desculpa de combater o narcotráfico e as FARCS na Colôm54


bia, o presidente Uribe, maior baba ovo da política externa gringa na região, vai provocar o Chaves, ele engole e reage, entram os porta aviões e os marines americanos para proteger seus aliados, através do Caribe, e das bases que tem no país colombiano, fincando a primeira bota na Amazônia, alvo principal, e de quebra, pressiona a Venezuela com sua imensa reserva de petróleo. Hugo Chaves convidou a Marinha Russa para dar um passeio pelo Caribe, pegar um solzinho, os russos são muito pálidos. O convite foi prontamente aceito, lógico, afinal, na crise da Geórgia, os americanos entraram com navios de guerra no Mar Negro, em uma clara provocação aos russos. Eles vêm para dar o troco. Já chegou ao Caribe o imenso porta aviões “Pedro, O Grande”, o maior da frota russa. O cenário está ficando bom para uma guerra relâmpago e intervenção longa. Motivo dois: O governo Lula através da Petrobrás descobriu reservas imensas de petróleo fino, de primeira, no pré-sal brasileiro, no Oceano Atlântico Sul, que os ianques afirmam categoricamente ser quintal da casa deles. Esse é um grande motivo, e todos nós sabemos o que eles são capazes de fazer por petróleo. Vide Iraque. A cultura americana que “todo homem precisa ter um carro”, é construída nessa verdade inventada que cheira a gasolina e é a principal causa do aquecimento global, não o desmatamento na Amazônia, como dizem alguns ambientalistas pilantras. Motivo três: e o que desencadeou a fome americana de ocupar de vez o que ela acha que é seu quintal. O capitalismo selvagem, respaldado na filosofia neoliberal, quebrou que nem o Muro de Berlim. A gandaia das instituições financeiras, que há anos chafurdam na grana do mundo todo, sem produzir um prego sequer, vivendo só do vampirismo da especulação, parece estar com os dias contados, para o pesar da Miriam Leitão, do Diogo Mainardi e do Arnaldo Jabor, que juravam até ontem que o capitalismo era o moderno e que o socialismo era coisa de chato retrogrado. Privatizaram o lucro e agora querem socializar o prejuízo. Motivo quatro e principal motivo: No caminho para o pré-sal, 55


no mar do sudoeste brasileiro, com o argumento de que só vão fazer pesquisas, a Quarta Frota resolve fazer uma visita amiga a Amazônia, só para ver como andam as coisas no quintal ainda virgem. Pegam uma onda na Pororoca para economizar gás, vem surfando pelas águas barrentas do Rio Amazonas até Manaus. Enquanto isso, na Raposa Serra do Sol, “missionários” americanos e ambientalistas entreguistas que já estão entranhados na região há décadas, catequizando os índios, dizendo que eles têm direito a ter uma nação livre e coisa e tal, inclusive, denuncias do ultimo indigenista brasileiro Orlando Villas Boas, nos idos de 1966, já constatava que índios mais “espertos”, eram levados por “missionários” para os USA, para aprender inglês, passar por lavagem cerebral e voltar com discurso de independência do Brasil, fazendo a cabeça dos outros índios com esse discurso, pregando a criação de nações dentro de nações, como na Servia e Montenegro, que vivem guerras civis intermináveis por motivos étnicos e religiosos. Eles criam uma situação beligerante, de guerra, por esse motivo entra a ONU (leia-se USA) para “ajudar” no conflito e para justificar uma futura intervenção, em nome da independência dos povos. Isso já está acontecendo. Como a Quarta Frota não tinha nada para fazer mesmo, e estava por perto, resolve ficar por mais tempo na região para “colaborar” e por ordem no galinheiro. Com a ajuda prestimosa das ONGs, que já fizeram o mapeamento completo da Amazônia com sua riqueza mineral e farto material biológico, e claro, contando com todo o apoio de jovens pesquisadores brasileiros, loucos para trabalhar diretamente para as potencias do hemisfério norte, os ianques aproveitam para montar as estruturas de dominação completa. Criam universidades de primeira que só a grana gringa pode montar, nas quais pesquisadores e ambientalistas vão se esmurrar para entrar, porque a bolsa e a estrutura vão ser excelentes. Os ianques olham para o governo cucaracho bananérico brasileiro e perguntam “royalties ou bala?”. Claro que royalties, bala dói, e é de grosso calibre, mano. E vão ficando que nem no Panamá, que era para eles terem saído a mais 56


de dez anos. E tem mais, a Amazônia é “patrimônio mundial”, portanto, casa da mãe Joana, e quem têm mais bala fica de galo. Por conta desses delírios, acho que preciso aumentar a minha dose diária de Lexotan ou de Demerol, pois, se não passar, vou entrar para o movimento Neofacista Ambientalista, que apregoa que na possibilidade dessa invasão acontecer, por pura falta de poder de fogo para reagir, a idéia é partir para a solução final. Desmatar e tocar fogo em tudo, não deixar nenhuma arvore em pé, fazer churrascão com todos os animais que for encontrando pela frente, botar pra correr tudo que é índio Macunaíma filho da puta, ir comendo todas as caboquinhas que pintarem, para não sobrar uma virgem para gringo pegar, catar todo ouro e diamante que puder e ir morar no altiplano boliviano, para ver o circo pegar fogo do alto porque é mais fresquinho, e ficar esperando para ver se a profecia Maya sobre o fim dos povos em 2012 é verdadeira. O fim da civilização deles eles acertaram. E ficar o restinho da vida só de brisa e farinácea boliviana, niilistamente esperando o fim.

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caparari Pseudoplatystoma tigrinum

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Meninos que brincam com bonecas

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pesar de acreditar cegamente no que dizem as igrejas evangélicas apocalípticas dos santos dos últimos dias, nos cientistas ambientalistas fundamentalistas e sua teoria do caos e até no que diz meu intestino quando eu bebo leite, não acreditei quando o Correio veio entregar minha boneca inflá-vel nova. Logo eu, uma pessoa crédula, que acredita em tudo, desde políticos em época eleitoral, em mulher e em Papai Noel, duvidei que fosse verdade. Enfim, minha boneca inflável ultimo tipo chegou. Embora empenada por conta do calor dentro da embalagem, culpa do aquecimento global. Tudo na vida é substituível, é reciclável, e na pós modernidade, tudo o que demorar por mais de duas horas é velho, antiquado, ultrapassado. Na lógica da pós modernidade o intervalo de duração entre o que é novo, moderno, atual, e o que é antigo, velho, ultrapassado, é muito curto. Em um piscar de olhos você dorme Angelina Jolie e acorda Hebe Camargo. Tudo é ligeiro, apressado, instantâneo que nem leite e expresso que nem café. Gosto de me pensar uma pessoa conservadora, que acredita em certos valores, como família, tradição, propriedade, e em bens confiáveis, tais como a durabilidade dos cosméticos, da necesset, da polchete e do lap top. Portanto não foi por influência do com 60


portamento contemporâneo pós moderno que tomei a decisão de trocar de companheira, e sim porque a minha antiga parceira estava desgastada, esgarçada, estropiada e toda cheia de buracos de cigarro depois de tantos anos de uso. Uma lástima. Aquele ar de indiferença típico de nova-iorquino, aquela boca eternamente aberta (estou falando da boneca inflável), me levavam a loucura. Toda vez que eu acabava de dar uma sapecada nela e perguntava à clássica “Você gozou?” e vê-la silenciosa com a boca escancarada e olhar blasé, isso me irritava profundamente. Essa boneca nova é diferente. Ela tem vida própria, personalidade, caráter e está inserida na consciência ambientalista politicamente correta do mundo pós moderno. Ela é toda feita de silicone reciclável, retirado das bundas e peitos de travestis e peruas mortas que doaram seus órgãos em um gesto final de consciência neo ambiental. Ela é toda ajustável, não é uma desajustada como as ultimas namoradas que tive. Se quiser eu posso aumentar o peito e diminuir a xota ou vice-versa, ela fala coisas que eu gosto de ouvir, ou não. Se quiser posso até programá-la para mentir, como toda mulher, e falar que tenho pau grande, que sou gostoso e algo mais. No próximo workshop sobre meio ambiente que eu for, em algum balneário charmoso, longe da pobreza e mais perto do glamour que esses eventos são cercados, vou levar minha boneca nova para apresentá-la para a sociedade cientifica. Como esses encontros geralmente são perto da orla marítima, vou testar mais uma qualidade da minha bonequinha. Diz no folheto do site de venda on-line que ela vira sofá cama e serve de salva vidas. Isso para o caso de não ter cama nos hotéis, ou para o caso que alguma profecia sobre o fim do mundo, apregoado pelos ambientalistas, se concretizem. Afinal perto do mar pode ser que venha algum tsunami gigante. Para esperar que algo de novo aconteça no reino dos workshops ambientalistas, vou bebendo tsunamis de cerveja mesmo, na excelente companhia da minha nova namorada hitech. Nunca se sabe, né não?! 61


Manual para emprenhar urna eletrônica

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alvez por abrigar o pólo industrial eletro eletrônico e ser a terra do afamado Boto Tucuxi, político conhecido por emprenhar urnas, que no Amazonas se desenvolveu a única escola tecnológica de engravidar urna eletrônica. Não é usando craker, hacker ou coisa do gênero. O esquema é muito simples. Caciques políticos donos ou concessionários de empresas de comunicação inventam um programa populesco assistencialista evangélico e/ou policialesco de baixo nível, que às vezes até prende algum pobre miserável ladrão de galinha, como se tivesse poder de policia, para expô-lo na televisão, como brinde, para outros pobres miseráveis eleitores ver, no bom estilo mundo canis, distribuem ranchos e fazem campanha política eleitoreira ilegal, durante o ano todo, para depois se candidatar a algum cargo no legislativo ou executivo para trabalhar como uma matilha de lobos, em benefício próprio. Essa técnica de assalto dos cargos públicos começou pelo conservador e direitista estado do Paraná e se alastrou pelo resto do Brasil e era conhecido como o “golpe do narco apresentador”, talvez porque narcotiza a consciência cidadã das camadas mais pobres 62


da população. Quando uma empresa de comunicação se especializa em fazer política partidária, esquecendo que ela tem obrigações e normas para poder funcionar, desafiando o conceito de democracia dentro de um grupo social, abre-se o caminho para estados de exceção, de estupro das instituições que fundamentam um estado democrático. Aqui nas terras barés a coisa evoluiu para um esquema muito mais sofisticado. Virou um negócio de família que rapidamente se transformou em algo de escala industrial. Tem peça de reposição, refil e tudo. Entra um para a câmara dos vereadores, depois sai no meio do mandato e se candidata para outro cargo para em seguida eleger com a exuberância dos seus votos, um filho, um irmão, uma esposa ou um sócio da igreja. Se tirar foto de uma sessão da câmara parece álbum de Família Soprano. Assim tomam de assalto todos os postos públicos, começando pelo legislativo e se alastrando para o executivo. Claro que com a conivência do judiciário, que apesar de saber que essa prática não é contra lei, fica estranhamente silencioso assistindo essa modalidade “legalizada” de atentado contra a democracia. Os partidos políticos servem somente de fachada para abrigar essas figuras que saem das sombras, pois na verdade o esquema é empresarial. A bancada dos apresentadores, que usa esse golpe, está se solidificando como um esquema em larga escala, aos moldes da Máfia. Antes eram universidades, partidos políticos, sindicatos, etc., que fabricavam candidatos a vida pública, agora eles aparecem como gafanhotos vindo direto dos estúdios das redes de rádio e televisão, fazendo jornalismo denuncista e assistencialista de quinta categoria, verdadeira campanha eleitoreira tendenciosa beneficiando certos caciques políticos e ao arrepio da lei prejudicando outros, cometendo crime eleitoral, e esses “the boss” saem para cargos majoritários plantando, definitivamente, o ovo da serpente em todas as esferas do poder e com larga margem para a corrupção, pois quem deveria fiscalizar é sócio no negócio. E o eleitor com cara de leso vendo o plano todo se concretizando. Não adianta urna eletrônica se não fizer reforma na lei eleitoral, 63


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surubim Pseudoplatystoma fascinatum

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proibindo essa prática descarada de arapuca contra as instituições básicas para o funcionamento de um estado de direito democrático. Nessa eleição mais algumas crias dessa modalidade de golpe contra a democracia conseguiram se eleger. Se vacilar, mais da metade das cadeiras disponíveis estão embaixo da bunda da quadrilha. Eles saem do mundo virtual para o mundo real, do dólar, do euro... e deixam a coitada da urna eletrônica grávida, mãe solteira. Nem teste de DNA vai identificar quem é o pai, e no fundo, estamos todos órfãos, principalmente a camada mais pobre da população que é usada descaradamente no golpe. Viva o Brasil! Viva a pátria que pariu!!

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A touca do Noel

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natal sempre dá um bode preto. Toda pessoa que faz algum tipo de reflexão histórica, filosófica, empírica sobre a vida, acha o natal uma festa vazia, imposta por culturas alienígenas e completamente sem sentido. A cultura consumista que envolve a data é tão alienante que muita gente simplesmente odeia o natal. Eu sou um. Porém resolvi não mais me importar com isso. Resolvi que não vou mais me incomodar quando a povo elege de novo políticos corruptos, quando o juiz erra sempre pro time mais poderoso, tipo São Paulo, quando a coisa acaba quando a festa esquenta e quando a gostosa sai com o cara que tem a coisa, e principalmente me importar com datas chatas que enchem o saco, tipo, natal e dias dos namorados. A solução encontrada é cair na gandaia também, festejar como todo mundo. Só que do meu jeito. Então pensei em uma festa pré natalina chamada “A Touca do Noel”. Seria uma espécie de esquenta pro carnaval, onde só entra quem vai de touca de Papai Noel, solamente, mas sem a obriga-toriedade de ir solamente de touca. Convidaria o aniversariante para fazer as honras na porta, mas sem os pregos e a cruz, festas heavy metal são chatíssimas, o máximo que ele poderia trazer da sua triste indumentária seria seus panos 67


de bunda. Também não teria guirlandas, pois não consigo imaginar nada mais cafona que guirlanda. Ohhhh coisa feia é guirlanda. Luzes pode. Luzes é legal. Tai uma coisa que gosto do natal. As luzes. Agora o que não vai ter mesmo são as musiquinhas de natal. Ahhhhhhh...essas nemmmmmmmmm. A música para saldar amigos é com certeza, um bom samba. Tai uma coisa que realmente não pode faltar em uma festa de natal das boas: samba e amigos. Os bons e velhos amigos. No mais, tudo é dispensável, inclusive o pior de todos os itens banalizantes do natal, o tal do presente. O natal, essa festa não festa, deveria ser tudo, menos presente. Natal é o passado e o futuro, não o “presente”. Portanto é uma data pra nêgo festejar os amigos do passado e tornar possível ter mais amigos futuros. No mais, o lance é ir pra Touca do Noel.

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O clitóris no carnaval pós moderno

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arnaval é uma festa ridícula feita por ridículos, mas a idéia é essa mesma, demonstrar o quanto somos ridículos na nossa vidinha medíocre, limitada e sem sentido. Acho que por isso todos se identificam tanto com a festa e acabam caindo na gandaia geral mesmo não gostando ou gostando e se sentindo ridículo. Levado por dois amigos exus que ativaram os meus exus, quando percebi estava nos arredores da Bica, a banda tradicional do Bar do Armando, que reúne o maior numero de gente feia por metro quadrado, tanto que o nome deveria ser Banda da Lua, por conta da quantidade de dragões que povoam a festa. Para não sermos esmagados pela horda de gente feia alcoolizada que tem uma idéia estranha sobre diversão, paramos em um bar da periferia da festa, com a teoria de que mingau quente a gente deve beber pela beira e soprando. Paramos no Castelinho, uma mistura de bar e casa de programa meio que rock in roll. Para nosso azar, a rua na frente do bar tinha se transformado em delegacia itinerante pela policia militar. Entre os camburões parados eles colocavam os pobres coitados que eles prendiam na banda. Muitos eram presos só pelo fato de serem pobres e feios e ainda se acharem no direito de estarem bêbados. Colocavam os caras presos, no chão, bem na nossa frente. Aquela cena tava dando mal estar, pois o mesmo sadomasoquismo que 69


faz ir a festa, não gosta de ver alguém sendo espancado e humilhado sem defe-sa, no chão e na frente de todo mundo. O que chamou a atenção e roubou a cena, foi o fato que, quem mais batia, dava chutes nas costas dos caras sentados e indefesos, era uma tenente da policia militar, uma morena gostosona, que era contida pelo cabo que pedia pra ela não bater nos caras na frente das pessoas. A cena bizarra acabou erotizando a macharada que estava vendo. A morena gostosona fazia tanta força pra chutar as costas dos caras que até gemia a cada chute. Todos os machos do bar ficaram olhando pra bunda dela enquanto ela torturava os presos. Tinha uns, inclusive eu, que adorariam estar levando chutes daquela morena deliciosa. A cena acabou cansando a todos e resolvemos pegar o carro e cair fora do circo de horror, mas atravessando todo o oceano de feios que se esmagavam por um quinhão de alegria. A porra do carro estava estacionado do outro lado da praça. Nessa de atravessar o populacho, sendo esmagado, pisoteado, bolinado, melecado, duas garotas me encocharam, uma pela frente e outra por trás. Claro que a festa começou a parecer melhor pra mim. Eu nunca tinha visto nenhuma das duas bêbadas que estavam me encochando, mas tava ótimo. Meu ego estava excelente, pois naquele mar de dragões, as duas eram até bonitinhas. Fui arrastado por elas na multidão, e volta e meia paravam e brincavam de boquinha na garrafa com meu corpinho bêbado e entregue as bolinações das taradas bêbadas. Percebi que meus amigos estavam se afastando, saindo da multidão indo embora pegar o carro. Consegui me livrar das loucas e quando os alcancei, fiz a tradicional revista nos bolsos pra ver se tava tudo certo. Foi-se meu celular, cigarro e mais alguns pertences que estavam no calção. As duas gostosas meliantes tinham me roubado. Deu saudade da tenente gostosona e sua tortura sexualmente estimulante. Mulher bêbada em carnaval só se for a dos outros e de preferência sem nada no bolso. 70


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jundiรก Leiarus marmoratus

Foto Adalmir Chixaro 72


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Mulher é tudo homem ruim

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a Semana Internacional da Mulher, em plena quaresma, meu amorzinho reapareceu. Ela tinha desaparecido sem dar notícias uns dias antes do carnaval. Ela brigou comigo por conta de algo que não lembro mais. Com certeza ela tinha razão, como em toda briga que ela arruma comigo nas tardes de sexta, mas tudo bem, pois sei com certeza, que domingo a noite ela me liga querendo afetos. Ela sempre volta com as mesmas noticias, cheia de carinho, sorrisos e manhas. E eu sempre caio no seu encanto. Nunca deixo pensamentos machistas, chauvinistas, possessivos e ciumentos melar nosso romance. Às vezes rola pensamentos chatos, tipo, porque ela só briga comigo nas sextas a tarde ou em véspera de um feriado, e, infalivelmente as vésperas do carnaval? Fico pensando besteiras e acho melhor pensar que é pura coincidência. Meus amigos todos usam muito esses truques com as esposas e namoradas, quando querem sair sozinhos em baladas por ai. Tenho certeza que meu amorzinho não usaria esse tipo de estratégia. É pura coincidência. Ela reapareceu do sumiço pré carnavalesco anual e veio toda cheia de amor. Comprou uma camiseta linda que fiquei paquerando no shopping. Assim, sem mais nem menos. Eu só olhei pra camiseta 74


na vitrine ela prontamente foi lá e comprou. Sempre que ela volta desses apagões incompreensíveis, vem muita mais generosa. Quando eu pergunto por que ela brigou e sumiu, qual a razão, ela sempre argumenta coisas ininteligíveis e irracionais, fala de situações que eu não lembro e eu sempre concordo porque a sequela dos anos do abuso de drogas e álcool me tiraram parte da memória, e tenho certeza absoluta que ela não usaria isso contra mim. Mulher não tem esse tipo de maldade masculina, isso é coisa típica de macho ruim que enrola a inteligência sem malandragens das mulheres. Mesmo que fosse, o fato é que a quaresma é época de paz. O próximo feriadão agora só na semana santa, então temos uns trinta e poucos dias sem sustos, tirando as tardes de sexta, essas são brigas infalíveis, até já fazem parte do calendário amoroso. E também não sou do tipo que bate em mulher, mulher a gente não bate nem com uma flor, talvez um bom soco inglês fosse mais adequado. E tem mais, nunca bata em mulher na frente dos outros, elas só gostam no calor da intimidade. O nosso amor a gente inventa e te ver continua tão bacana quanto a semana passada (Cazuza remix).

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tambaqui Colossoma macropomum

Foto Adalmir Chixaro

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O papa vai excomungar os bonobos

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bonobo (Pan paniscus), até recentemente chamado chimpanzé pigmeu e menos freqüentemente chimpanzé anão ou grácil, é uma das duas espécies que compreendem o gênero Pan. É um primo próximo do chimpanzé e portanto nosso também. Estudos genéticos apontam que os bonobos são os animais mais próximos dos humanos. Entre os bonobos, assim como ocorre com outras centenas de espécies animais já estudadas pela etologia, pode não existir relação direta entre sexo e reprodução. Tanto entre bonobos quanto entre humanos, esta distância entre sexo e reprodução é particularmente acentuada. Ou seja, como os humanos, eles fazem mais amor do que filhos. Para os bonobos, é o sexo que funciona como instrumento de compensação da agressividade e faz o papel de agente reconciliador. Isso é possível porque, ao contrário da maioria das fêmeas de outras espécies, que só são receptivas ao sexo no período fértil, as fêmeas bonobos são atrativas e ativas sexualmente durante quase todo o tempo, tanto que se faltar macho na área, elas se pegam mutuamente ( isso me lembra alguém ). Bonobos adoram o que os humanos costumam chamar de suruba. Uma fêmea bonobo gosta de cinco pra cima, menos que isso é entedi78


ante. Assistir a um documentário sobre os hábitos deles é muito melhor que ver filme pornô com a Pamela Anderson. Ser macho bonobo deve ser tremendamente exaustivo, cansativo e frustrante porque ninguem consegue dar conta de uma fêmea assim. A sindrome do pau pequeno brochante que assola a mente humana masculina e masculinizada seria potencializada numa sociedade dessas, onde a fêmea quer meter até com as arvores. Ela não só come a banana, ela usa como consolo, que nem umas amigas minhas. Vou alugar um documentário sobre eles pra animar uma festinha lá em casa. Essa libertinagem toda da macacada atraiu até a presença do papa para a Africa. Ele foi lá especialmente para excomugar os bonobos. Assim não pode, assim não dá, disse ele imitando o FHC. Queria ver a cara de uma bonoba quando soubesse da excomunhão papal brincando sem camisinha com nove macacos e uma penca de bananas. Alguem tem que lembrar para o papa que macacos, o Obama e muita gente com cerebro não tem religião, nem acredita em deus e não dá a minima para o catolicismo retrogrado e desumanizante que essa Igreja Católica que está ai anda pregando. Viva São Jorge, São Francisco de Assis e o Frei Beto com sua Teoria da Libertação.

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A imprensa bandida

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grande imprensa brasileira virou partido político, portanto tem que ser lida, interpretada e tratada como tal. Não é nem de longe o baluarte da democracia, titulo que sistematicamente usa para se esconder arbitrariamente dos olhos da lei, que em uma democracia deveria ser para todos. Se juiz pode ser preso jornalista também deveria ser quando comete crimes. Calúnia, difamação e o pior de todos os crimes, promover golpes de estado. A Rede Globo surgiu e se fortaleceu na época negra da ditadura. Ela é responsável pelos atos de tortura e abusos praticados pelos militares alinhados com a política americana de anticomunismo. Ela também é culpada de tortura. Depois com a abertura política ela acostumou-se a isso e tem ajudado eleger os presidentes que mais se aproximam dos desejos da elite brasileira e do grande capital estrangeiro. O Lula perdeu quatro eleições para a Rede Globo. Finalmente a vontade popular foi maior do que os golpes midiáticos aplicados pela imprensa movida pelo dinheiro do grande capital internacional que não se interessa por justiça social. Hoje essa imprensa descaradamente influencia a consciência política dos cidadãos, hora plantando mentiras, hora distorcendo realidades, sequer tem o pudor de disfarçar suas intenções golpis80


tas, escondendo-se atrás do discurso de defesa da democracia, e tudo isso com uma cara de pau e impunidade que dá nojo abrir jornal e ver televisão. Cabe a frase de um cara que não lembro o nome “ Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil.” Portanto, é urgente discutir seriamente a implantação de um órgão regulador da imprensa para proteção da cidadania e dos valores democráticos de livre pensamento, ao contrário do que dizem os ditadores da opinião alheia que são contra qualquer regulamentação, porque para eles que vendem suas consciências está bom demais. O jabá que rola é alto. Isso sem falar nas concessões. Aqui no Amazonas as rádios, jornais e rede de televisão estão nas mãos de caciques políticos corruptos. Hoje a grande imprensa brasileira está advogando para o Daniel Dantas, banqueiro corrupto julgado e condenado que patrocina a grade dos jornalistas “formadores de opinião” desses verdadeiros bunkers de criminosos. O Brasil só vai ser uma democracia de fato quando ladrão de galinha, altos empresários, políticos corruptos, juízes e advogados canalhas e principalmente jornalistas e donos de jornais forem presos quando cometerem crimes. Atentar contra a democracia é o pior dos crimes.

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mandi moela Pimelodina flavipinnis

Foto Adalmir Chixaro 83


Engarrafamento é coisa chic

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anaus já pode ser chamada de metrópole. Somos que nem São Paulo, Rio, Nova York. Se vacilar nosso engarrafamento é maior. Dá para ver a cara de prazer dos nossos caboquinhos dirigindo seus automóveis, presos nos intermináveis engarrafamentos que nos enchem de orgulho, nos fazendo sentir parte da modernidade, da inserção global, do progresso. Dá prazer ver a cara de orgulho dos nossos nativos pilotando lentamente, languidamente seus automóveis reluzentes, querendo esquecer as canoas que até pouco tempo os levava para os ricões amazônicos. Tanto que até dirigem carros como se fossem canoas, ao sabor do remanso. Lindo mesmo vai ser quando finalmente os viadutos estiverem prontos. Que felicidade! Poder ver o mundo do alto, aos seus pés, e de lambuja de dentro dos seus brinquedinhos poderosos. Pena que os viadutos daqui tem tendência a cair, mesmo antes de usar. Mas isso é detalhe. Como pedestre e despeitado que sou, tenho que andar pelas ruas sem calçada porque rua é só pra carro, e entrar em ônibus lotado e ser contaminado pela plebe rude e suas demandas e comentários sem sentido. Xingamentos contra semáforo surdo que demora 84


uma eternidade para abrir, contra o motorista que não passa por cima dos carros menores parados na frente, contra o guarda de trânsito que supostamente é quem controla os semáforos e fica parado com cara de lezo, contra a velhinha lenta que demora para subir pela frente no ônibus sem pagar. O motorista só ouvindo Calypso com seu pen drive que toca mp3. Uma senhora com cara de pobre me fez uma pergunta. “Pra onde esses carros todos vão?”. Fiquei sem resposta. Eu acho que eles não sabem, nem eu. Mas que vão, vão. E eu vou continuar achando engarrafamento coisa chic.

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Papai Noel não é neo-ambientalista

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epois da COP 15 aqui em Copenhague resolvi passar o natal na Lapônia, terra do Papai Noel já que estou tão perto. Pedi para minha amiguinha chamar seus amigos ambientalistas pra gente tentar esquecer o fracasso da reunião mundial sobre o clima e tentar fazer uma festa de natal nas terras do velho traíra que deu um presente tão fuleiro esse ano. Pegamos um ferry boat na Dinamarca direto pra Oulu no Mar Baltico finlandês. Minha amiga chamou seus amigos Neo-Ambientalistas Criados em Cativeiro (NAC²) com seus modelitos new-hippie com cara de Daspu comprados na Daslu e fomos enchendo a cara de hidroponados até a Lapônia. Evidentemente estávamos todos cabisbaixos e putos da vida mas resolvidos a dar o trôco. Para tentar melhorar o astral resolvi abrir uma garrafa de Santo Daime que tinha comprado em uma loja de bebidas em Amsterdã dias atrás, já que é uma bebida ritualística muito apreciada no meio ambientalista. Ver a aurora boreal da Lapônia em estado de borracheira deve ser algo mágico e como o aquecimento global vai destruir toda a calota polar em dois anos, de acordo 86


com a teoria evangélico apocalíptica da seita dos NAC², melhor não perder tempo. Nunca acreditei em Papai Noel e portanto não acho que ele tenha nascido na Lapônia, mas como todos estávamos viajando com dinheiro de uma fonte desconhecida mesmo, o melhor era aproveitar, porque de graça até injeção de inveja na testa está servindo. Fico imaginando aquele menino do INPA, tentando escrever sua tese de mestrado, morrendo de ansiedade claustrofóbica quando vê seu orientador, a quem ele tem ódio, desprezo, inveja, mas tem que agradar, lutando com sua inteligência mediana e simples, louco pra ser aprovado e trabalhar em alguma ONG gringa pra ver se esquece sua cidadezinha no interior do sudeste brasileiro e sua vida de infortúnios. Que bom se ele estivesse aqui pra ver as cores ácidas da aurora boreal sob o efeito do daime. Poderia até ver o Papai Noel com suas renas robustas percorrendo os céus da Lapônia levando presentes para as crianças ricas do primeiro mundo, já que crianças africanas que não comem, não ganham presente. Enfim, feliz natal do Papai Noel não ambiental.

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piranha preta Serrasalmus rhombeus

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Enfim um reveillon sóbrio

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omecei a beber aos nove anos de idade em um revellon na Rua Lauro Muller no bairro da Urca no Rio de Janeiro na casa de tias. Eu e um primo roubamos uma garrafa de vinho barato de cima da mesa farta e fomos beber com outra prima da mesma idade no vão da escada do prédio. Depois a família toda foi ver queima de fogos na Praia Vermelha e eu bêbado pra caralho. Gostei tanto da sensação que não parei até o dia de hoje, meu primeiro revellon sóbrio aos quarenta e oito anos de idade. Resolvi passar com meus pais o primeiro ano novo completamente de cara e não achei ruim, descobri ao acaso as delicias da sobriedade, e como estou na casa deles espero que não seja só mais um surto de sonso. Para passar o tempo resolvi conversar inutilidades com amigos pela rede. Encontro uma amiga de Manaus que tem alma de ema, feminino de emo, odeia alegria e principalmente alegria histérica coletiva de fim de ano, portanto fica em casa mais deprimida que o normal, falando mal da grande bobagem que é ficar feliz por passagem de ano. Enche a cara sozinha e quando bate a lombra ela cria coragem e cai na gandaia até de manhã também e me deixa sozinho no MSN com outra amiga de Santos que traba-lha com “hair design”, uma nova profissão antes chamada de cabeleireira. 90


Ela me conta que passou o dia 31 todo, fazendo cabelos de clientes e todas, exatamente todas, pediram para fazer chapinha. A louca está as gargalhadas bebendo sozinha em casa por estar caindo o maior temporal na praia da festa do revellon, ou seja, a chapinha dançou. Convidei-a pra fazer sexo virtual na cam, ela me mandou cagar pois está de namorado novo. Enquanto isso tento esconder as garrafas de vinho da casa, da minha irmã alcoólatra que bebe feio e chata pra cacete, apesar de ser meiga, generosa e adorável enquanto sóbria. Já usei todos os esconderijos, só faltam minhas partes intimas, mas dá não! Uma trouxinha pra passar no aeroporto ainda vai. Enquanto escrevo, meus pais lindos e velhinhos passeiam insones pela casa espalhando amor. Que bom eu estar sóbrio pra poder sentir isso. Como sou dado a vícios grandes, poderosos e perigosos, posso acabar me viciando nesse. Sobriedade.

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A copa de rugby me trouxe Deprê

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copa do mundo de 2010 meia boca, como as outras dos últimos anos, me trouxe uma coisa aparentemente boa. Ganhei um cão da raça beagles que estava abandonado pelas ruas do Conjunto Tiradentes, um bairro de Manaus conhecido por abrigar estudantes e trabalhadores de ONGs e ins-tituições ambientalistas fixadas na Amazônia. Não compreendo como alguém adquire um cão mesmo sabendo que vai mudar de cidade e não vai poder levá-lo, e sem escrúpulos o abandona na casa de alguém ou nas ruas, entregue a sua sorte. Não sei nada sobre beagles e fui consultar o santo Google. Todas as informações dizem que é uma raça exuberante, brincalhona, alegre e temperamental. Esse que ganhei não é assim, ou não está assim, pode estar deprimido pelo abandono do (a) canalha do seu dono. Por não saber seu nome, estou chamando o estranho beagles que insiste em rodear minha mesa, de Deprê. Espero que ele volte a confiar em alguém e que seus dias sejam melhores daqui pra frente. Se depender de mim ele vai ter sossego e casa para se espalhar. Vimos o jogo Brasil e Costa do Marfim sozinhos em casa. Parece que dias melhores virão, apesar do Dunga não saber escalar e nem saber tirar, se soubesse o Kaká teria sido substituído e não teria sido expulso. Embora com um gol de rugby do Luis Fabiano, enfim ganhamos jogando bola. Morre o escritor português 92


Jose Saramargo e uma das frases legais de sua autoria é: “Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.” Pois que seja assim, né não Deprê?!

A Lady Gaga e o Lula

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revista Times acaba de eleger o presidente Lula como o líder mais influente do mundo enquanto o presidente americano Barak Obama aparece em quarto lugar. Ganhou perfil escrito pelo cineasta Michael Moore que o cita como “verdadeiro filho da classe trabalhadora da América Latina”. Tenho certeza que hoje tucano não dorme. O FHC e sua vaidade atávica devem estar tendo surtos e cólicas. Como um me-talúrgico nordestino, sem dedo, baixinho, cachaceiro, sem universidade e sem falar inglês conseguiu isso? Hoje o astral no ninho tucano deve estar um bode preto. O Arnaldo Jabor deve estar tendo ataques coléricos como é do seu feitio neo direitista esclerosado, principalmente porque, como cineasta falido ele morre de inveja do Michael Moore que 93


rasga elogios ao Lula. A mesma revista Times elegeu a cantora nova-iorquina Lady Gaga a artista mais influente do mundo. A Lady Gaga ligou para o Lula parabenizando e propondo para os dois irem juntos receber o premio e depois tomar umas caipirinhas pelo Soho, um bairro badalado nova-iorquino. O Lula topou, desde que ela pague a noitada para a oposição não falar que ele está gastando grana pública no jet set internacional. Parece que a dona Marisa não foi convidada. Imagine um língua presa e uma gaga? Ai tem coisa!

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Os quelônios e os neurônios do Chico Mendes

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Neo Imperialismo Ambientalista tem como doutrina e filosofia o estrangulamento econômico dos países emergentes e tidos como periféricos, através do discurso ambientalista preservacionista contando com o apoio dos Ambientalistas Criados em Cativeiro, baseado em métodos improváveis criando a figura mítica do desenvolvimento sustentável e se apoiando em teorias infundadas de caos planetário iminente. Com isso destroem a credibilidade do verdadeiro pensamento ambientalista preservacionista, desacreditando-o e ao mesmo tempo tornando perene o modelo econômico social destrutivo que ai está e que interessa para essas potencias. Desde 1900 que o Brasil tenta construir uma estrada que ligue os Oceanos Atlântico e Pacífico através do Acre, ligando a Bolívia e Peru, integrando esses três países abrindo mercados diretos com as economias do extremo oriente (China, Japão, etc.). Esse projeto sempre foi sabotado pelas potencias imperialistas tendo aliados pelegos dentro do Brasil, atualmente usando o discurso ambientalista no qual o Chico Mendes deu uma grande força e foi entronado herói do 95


tucunarĂŠ comum Cichia monoculus

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Foto Adalmir Chixaro

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movimento pelas entidades fundeadas nos países hegemônicos. Hoje estão na mídia com o mesmo vigor religioso, as vozes contra a usina de Belo Monte (De merda... segundo alguns), sem levar em consideração que modelos de desenvolvimento e energéticos não se mudam da noite para o dia, sem correr o risco de criar um caos ainda maior. A falta de cuidado com as políticas ambientais e a onda xiita desinformada e fundamentalista que apressadamente está tomando decisões em Brasília, tem jogado os agentes do Instituto Chico Mendes que trabalham nos fronts, na trincheira em contato com a realidade dos cafundós amazônicos, em situações de perigo de morte. O caso de Tapauá, no Rio Purus, onde comer tartaruga faz parte da dieta local e é uma das poucas fontes de proteína dos habitantes da região, que não são tantos assim, que vivem em cima dos maiores tabuleiros de quelônios do mundo e que mesmo se comessem todo dia tartaruga nunca dariam conta de acabar, mudar isso por decreto e impor aos agentes que cumpram essa missão inglória e perigosa é pura sacanagem. O clima entre os habitantes tradicionais e os funcionários do ICMBIO parece um barril de pólvora. Enquanto isso algum Ambientalista Criado em Cativeiro de posse de uma caneta em Brasília está a caminho de mais um workshop sobre o meio ambiente na Suécia, na primeira classe em um imenso Airbus, jogando toneladas de CO² na atmosfera, pensando no perigo que passou por estar com cem gramas de maconha hidroponada no saco e em como vai gastar a grana oriunda de fontes desconhecidas. Talvez compre uns ácidos na volta por Amsterdã para consumir numa festinha de embalo em alguma republica para se sentir ”O Cara”, que nem o Lula, a quem ele tanto odeia.

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A sauna gay indígena londrina

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anaus está coberta de fog. A cidade está tão enfumaçada que parece Londres. Os caboquinhos estão realizando um sonho antigo. Ser inglês. Esse é um desejo atávico da classe média manauara. Agora a cidade está à cara de Londres e de São Paulo, é só fumaça e engarrafamento. Somos uma metrópole enfim. O calor de cinqüenta graus é um detalhe de fundo. O lance é a inserção, nem que para isso tenhamos que viver numa cidade onde o calor faz colar os ovos e gelatinar os bogas. A solução pensada é cortar todas às arvores e pôr carpete em tudo, carpete verde, imitando a grama da Inglaterra que na verdade é grama do planalto andino peruano, cobrir com uma grande esfera de vidro, por ar condicionado e ter metrô de superfície cortando os céus. Por conta desses delírios não vi que minha urina estava molhando minhas patas no banheiro sujo do Castelinho, bar no centro da cidade, refúgio de neo metaleiros, punks, lésbicas de ocasião, bibas travestidas de roqueiros pesados e neo-ambientalistas criados em cativeiro. A urina no meu pé me fez retornar ao patamar da normalidade que é quando você imagina saber onde você está e passa também a ouvir o som ambiente, e dependendo da droga que esteja usando essa realidade pode parecer mais real. Olhei para o lado e vi dois caras tatuados de casaco de couro escrito Hells Angels, escrevendo frases na parede do banheiro já cheio de frases homófobas sem noção. Quando eles saíram fui ler pra matar 99


a curiosidade mórbida. “Adoro omi de barba, gordinho e casado, favor ligar 92 -...”. Eu liguei e ouvi um celular tocando. O anuncio era sério. Desliguei e achei que aquela parede tinha mais utilidade do que aparentemente tinha. Pra não passar barato pus mais um número embaixo do que o cara pôs pra contato. Pus o número de um amigo meu que odeia veado. Fiz a minha boa ação do dia.

Manauara e o cabrito bom

“C

abrito bom não berra” é um termo usado por ladrões da periferia de Manaus, e provavelmente de origem nordestina. “Cabrito” significa produto de roubo e o fato de ele não berrar quer dizer que não haverá problemas com o crime. Que não haverá delação, que não ocorrerá delação à polícia, etc. O Manauara por ter sido governado muito tempo por uma elite que foi se sucedendo uma atrás da outra durante quase os quinhentos anos após a colonização européia, principalmente nos últimos vinte e cinco anos depois da abertura e da redemocratização do Brasil, onde uma elite política se empolerou no poder e corroeu todas as estruturas sociais instalando um governo onde a corrupção, a intimidação e a privação dos direitos dos cidadãos é uma prática comum, tornou-se um cara passivo, (no bom sentido, claro) que raramente briga por seus direitos, ficou com fama de povo pací 100


fico, amistoso e condescendente, tirado de otário na maioria das vezes. Assim vai se tornando um “cabrito bom”, que não berra, e é sistematicamente utilizado como massa de manobra. Um grupo português construiu o shopping Manauara em uma área verde imensa que continha árvores centenárias, uma das poucas que restavam na cidade, a revelia dos protestos de cidadãos conscientes e entidades preocupadas com a qualidade de vida da cidade. Depois do shopping construído, puseram um sinal de trânsito para travessia de pedestres usuários, travando o fluxo da Rua Recife, uma das poucas vias de tráfego pesado da cidade, que é muito mal planejada. O certo seria construir uma passarela, já que esse grupo empresarial português é podre de rico. Decerto estam esperando que a prefeitura construa uma passarela pra eles com nosso dinheiro. A imprensa local, também cabrito bom que gosta mais de dinheiro que de capim, não reclama da lambança que virou aquela parte da cidade depois do semáforo inteligente que puseram ali. Claro, os anunciantes, as grandes empresas, estão todas com lojas no shopping. Eu como adepto do pedestrismo como modo filosófico de vida, eternamente despeitado com a bossalidade e tirania dos usuários de automóveis, senhores e donos das ruas, fico puto quando estou no busão embaixo de um calor de 40 graus, totalmente enlatado e engarrafado no trânsito, por conta da burrice e canalhice dos administradores da cidade. Foda é olhar pro lado e ver as pessoas passivamente vivenciando aquilo, sem reclamar, quase cozinhando embaixo da umidade e calor infernal que faz nessa região nessa época do ano. Cabrito assado de forno, silenciosamente servido ao molho de tucupi, com pimenta murupi, numa cuia grande pra poder dar de comer a solitária também. Talvez as solitárias reclamem, mas os cabritos não.

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jaraqui escama grossa Semaprochilodus insignis

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Depressão pós carnaval

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ssistindo a qualquer canal de televisão do Amazonas, a qualquer hora da programação local, a gente dá de cara com alguma bichinha pilotando programa de televisão. Nada contra, mas deveriam di-zer pras bibas que falar “os pessoal” é errado. Quem banca esses programas com nosso dinheiro, deveria pagar, pelo menos, um curso a distância, pois afinal esses pavões afeminados se colocam como porta vozes dos empresários e políticos locais. Se não é bichinha, é policial candidato a algo com a ve-lha fórmula programa de televisão policialesco mete porrada nos pobres finge que bate nos ricos e os otários vota em nós (sic). O poder que os malas pensam que tem é impressionante. O mais grave é que eles estão protegidos não pelo fato de ocuparem cargos públicos elegíveis. No Brasil atual até governador de São Paulo já saiu de casa algemado. A esperteza deles é se esconderem atrás das fileiras da imprensa. Ainda não vi jornalista canalha preso e algemado. De burros não tem nada. E eu ainda vou ver no Aurélio o que significa sinergia. Ví em um dos 400 programas de culinária da televisão local uma apresentadora dizer que ia bater um bolo de quiabo e que para ficar no ponto tinha que rolar uma sinergia. 104


A Ana Maria Braga copiou essa fórmula de programa da quatrocentona manauara Norma Araújo. Esse povo do sudeste não se manca mesmo. A solução é fomentar e divulgar a cultura local, atingida violentamente e quase a morte, por esse esquema de poder que paira sobre o Amazonas que espertamente destroça a inteligência cambaleante da classe artística, promovendo a indústria da arte fácil. É pão e circo, já dizia minha avó romana. Aproveitando esse ângulo das soluções inteligentes, o MST podia aproveitar também a construção da ponte para a terra do nunca e invadir a beirada do Rio Negro, ou então começar uma grande mobilização antecipandose a construção da BR 319, expulsando os “pesquisadores gringos” com seus helicópteros da região, e manter para abate as ecologistas criadas em cativeiro, afinal ninguem é de ferro depois de uma semana pós carnavalesca dura como osso.

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A guerra do nióbio na terra das raposas

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ma breve explicação sobre a guerra do nióbio em Roraima e porque tanta ONG estrangeira está na parada na disputadíssima Raposa Terra do Sol. A conversa do arroz é cortina de fumaça para encobrir as verdadeiras causas dessa confusão toda, que envolve índios que só falam inglês e seus Toyotas, e latifundiários plantadores de arroz que ocupam 1% da pretensa reserva, e por trás o dinheiro farto do Grande Pai Branco bancador de ONGs. Em agosto de 2005, um ex-conselheiro do presidente norte-americano Ronald Reagan disse, em entrevista ao jornal The Australian que, se por um motivo qualquer, houvesse uma repentina venda maciça de dólares, a Grande Depressão de 1929 pareceria um piquenique. Para se ter uma idéia, o volume de dólares fora dos EUA é cerca de quatro vezes o PIB daquele país. Parecia profecia, agora em 2008, quebra Wall Street. Em tal situação, os dirigentes da oligarquia mundial, entre eles Warren Buffett e George Soros, dois dos maiores donos de ativos financeiros do mundo, vêm transformando sua riqueza financeira em riqueza real, adquirindo ativos reais, como terras, bens de produção (indústrias e máquinas) e minerais preciosos. Dominar todo o processo produtivo, desde a extração ou a fabricação de matéria-prima ao produto final, depois sua comercialização, no atacado e no varejo, pelo me106


nos de todos os bens mais importantes para a vida moderna é o sonho dourado das grandes oligarquias transnacionais. Assim, espertamente compram terras, bens de produção e avançam sobre o domínio da exploração, extração, manipulação e comercialização do universo das matérias primas, incluindo os minerais. “Montam” fundações para injetar fortunas que alimentam ONGS para fazer o front do Neo-Colonialismo Ambiental, para encobrir seus reais interesses. Por isso a corrida pelo dinheiro farto oriundo dessas fontes, inclusive até o governador do Amazonas, conhecido aliado do Amazonino, virou grão mestre da ecologia. Roraima não está sob disputa à toa, dentro desse quadro. Sob o solo daquele Estado, especialmente nas reservas indígenas, estão as maiores reservas de minerais preciosos e estratégicos do mundo. Há ouro, diamante e nióbio. O nióbio é importante para a indústria aeronáutica e aeroespacial, bem como para a construção de dutos pelos quais podem ser transportados água, petróleo e suas variantes a grandes distâncias. Ele reforça o metal e cria uma superliga de grande resistência à combustão. Por isso é usado em turbinas de avião, por exemplo. É também um supercondutor, quando resfriado. Com a progressiva crise do petróleo, os reatores atômicos voltaram ao jogo energético global. E uma nova era de reatores atômicos está para começar com a construção do ITER (International Thermonuclear Experimental Reactor) na cidade francesa de Cadarache, e que deverá entrar em operação em 2015. Ele funcionará com fusão nuclear, como o Sol (ao contrário da geração anterior, que usa fissão e que, como resultado, produz lixo atômico). É aí que entra o nióbio, usado pra revestir o reator. Se a técnica da fusão nuclear for dominada, a era do petróleo finalmente terá chegado ao fim, no planeta. Segundo o principal conselheiro científico da Grã-Bretanha, sir David King, quando o projeto for posto em prática, haverá um grande mercado para o Nióbio. Em 1801, o químico inglês Charles Hatchett descobriu numa amostra de minério extraído na região americana da Nova Inglaterra, e deu-lhe o nome de colúmbio. Em 1844, o alemão 107


Heirich Rose distinguiu no colúmbio dois elementos distintos, e chamou-os tântalo e nióbio. O nome colúmbio, no entanto, continua a ser usadopela indústria metalúrgica americana para designar o nióbio. Os ingleses no começo do século 19, incetivaram uma disputa por terras indígenas na fronteira Brasil e Guiana Inglesa, dividindo o povo Macuxi. Alguns ficaram do lado inglês. Daí o escritor Mario de Andrade criar o personagem do índio vendido Macunaíma. Nessa disputa“pra ajudar os índios”, os ingleses avançaram suas fronteiras até o Monte Roraima, onde começam as jazidas de nióbio. O buraco é bem mais embaixo e não é na linha do horizonte que se encontram o olho da disputa. A guerra étnica na qual querem envolver a população brasileira, levantando questões de forma torta e vesga, tendenciosa e separatista, e apoiada inocentemente ou de má fé por ambientalistas sem conhecimento profundo das coisas que ocorrem a mais de um século naquela região, pode criar um efeito desastroso para as causa indígenas justas, e resvalar em causas ambientais e ambientalistas igualmente justas. Muita coisa está em jogo nessa disputa, que não é por índio nem por arroz. O fato é que tem mais ONG naquela região do que índio. No sertão do Cariri não tem uma. Definitivamente o termo raposa serve pra região, que me desculpem as raposas, tadinhas.

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piranha branca Serrasalmus gouldingi

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Mamelucos ameaçados de extinção

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ichael Jackson, ex macho e ex negro, antes de morrer, havia se convertido ao islamismo por andar muito deprimido. O islamismo é considerado por alguns uma religião que abriga homens bombas e as etnias não brancas. Essas estão muito bem alojadas nas religiões judaico-cristãs. Não se sabe por que um neo-branco se converteria ao islã. Talvez seja porque desde criança ele sempre quis ser diferente ou talvez porque nos paises islâmicos homem possa andar de vestido e mulheres de burca. Dizem que sua depressão é porque ele não entende como um negro qualquer chegou à presidência dos USA. Se ao menos fosse a Diana Ross. Enquanto isso, nós aqui, comedores de jaraqui, moradores da Amazônia, paraíso das ONGS e dos ambientalistas criados em cativeiro, do dinheiro fácil oriundo dos cofres generosos do neocolonialismo ambientalista, estamos como o Michael Jackson, vivendo uma crise de identidade. Tudo por causa das maravilhosas e fáceis soluções étnicas encontradas pelo governo brasileiro para qualquer tipo de problema. Inventaram cotas para tudo, obrigando a pessoa se declarar alguma coisa. Para entrar em universidade publica federal sem estudar basta se declarar negro. Uma amiga 112


minha de Curitiba, caucasiana, filha de pais alemães, que trabalha nessas instituições ambientalistas, já se declarou negra. Avisei pra ela que aqui na Amazônia era melhor ela se declarar indígena por causa da Bolsa Floresta, aquela que impulsiona o caboco a ficar na rede enfiando peido em cordão pra não pescar jaraqui nem matar cobra e mostrar o pau. Ela alegou que como negra pode dançar mais a vontade no Tambor de Crioula, muito na moda entre as ambientalistas new-hippies caucasianas oriundas de universidades do meio-oeste paulista. A solução étnica para problemas indígenas produzidos e inventados pelos brancos na região amazônica é uma idéia de dominação simplória excelente. O grande jabá branco oriundo do Neo-Colonialismo Ambiental prega a discórdia étnica entre os nativos, jogando de piruada dinheiro obtido sabese lá onde. Talvez da venda de armas que alimentam as guerras tribais na África. Basta qualquer um se declarar índio para receber privilégios e furar a fila dos “normais”. Tem até índio loiro do Arkansas se candidatando a latifundiário indígena. Acredito que em um futuro próximo, espremidos pelos latifúndios indígenas ao norte e brancos ao sul, os mamelucos descendentes dos soldados da borracha e das índias deliciosas da época em que elas andavam nuas pela selva e não em cima de carro alegórico de boi-bumbá, vão ter que se mudar para algum lugar remoto. Os cabocos da região tem que se unir em uma luta companheira e fundar um partido ou uma ONG para defender seu direito a vida. Sugiro a criação de uma organização não governamental sem fins lucrativos e de cunho exclusivamente assistencialista sem necessidade de prestar contas, chamada MAMANDO (Mamelucos Manjados Dominando) e como bandeira de luta exigir do grande pai branco desconhecido que banca ONGs, uma terra prometida, aos moldes dos judeus, para dar continuidade à raça mameluca, uma ilha longinqua no meio do Atlântico, talvez Abrolhos, afinal ela está desocupada. Basta pedir permissão dos ambientalistas das ONGs gringas com nomes estranhos que controlam a região. Mas isso fica pra depois, é detalhe. 113


Banda KY

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uando vi a louca tirando da bolsa o KY me apavorei. Sempre achei, dentro do meu provincianismo, que essas pomadas serviam para lubrificar o bôga a fim de facilitar a penetração, nos casos de bôgas apertados. Mesmo estando os dois muito altos, no caminho para minha casa ela veio fazendo croquete e boquete a toda hora. Atravessamos toda a Marginal Pinheiro na pegação automotiva, ela dirigindo com uma mão e com a outra passando marcha. Então era mais que provável que ela tivesse dimensionado o calibre do meu pobre bingulim. Então para que o KY? Eu tinha marcado para a próxima semana consulta com urologista, adiada por cinqüenta longos anos, não permitiria de forma alguma que essa maluca inventasse de praticar inversão comigo. Não curto essas paradas. Só me tranqüilizei quando vi que ela passava a pomada na própria xota. Não resisti e perguntei pra que? se o meu pau nem é tão grande assim. Ela respondeu que tinha problemas de lubrificação e porque era higiênico usar esses lubrificantes, porque na composição tem agentes bactericidas. Ah bom!! Ufaa. Dessa eu escapei.

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O Deprê saiu da deprê

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cão da raça Beagle que apareceu na minha vida durante a copa do mundo na África, trazido por almas boas que o acharam perambulando pelas ruas do conjunto Tiradentes, agora não está mais deprimido. Quando chegou à minha casa tava de dar dó. Não comia, não latia, rabo sempre baixo, um horror. Por não saber o nome chamei de Deprê, um lapso de mau gosto, típico da minha pessoa. Fui aos poucos ganhando a confiança, ele voltou a se alimentar normalmente e agora minha casa vive cheia de merda de cachorro comilão. Vive rodeando minha mesa de trabalho e querendo atenção. Corre pela casa, late para os cães da rua, o rabo está em pé como deve ser um rabo de Beagle. Ainda tem uma sarna crônica que estou batalhando pra curar, porem nem a minha eu curo, continuo um cão sarnento. Meu único problema com esse cãozinho que anda alegrando minha vida é o nome dele. Agora não cabe mais Deprê, ele está longe de ser depressivo nesse momento da vida. Problema é que de tanto chamar por nomes diferentes ele pode ficar esquizofrênico e aqui em casa basta um! Estou o chamando de Bigu, porque é assim que é a pronuncia de Beagle em português. A todos os interessados no destino do cão, ele vai bem, aparentemente. Agora falta uma cadelinha pra ele dar uns rolés por ae, pois nem só de ração e zoação vive um cão. 115


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tucunarĂŠ paca Cichia temensis

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Manual contra abordagem de evangélico chato

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ma amiga saiu chapada da minha casa às seis da manhã e foi para um ponto de ônibus quando foi abordada por uma mulher de vestido longo, blusa fechada em um estilo bem rigoroso para o calor úmido que faz em Manaus. Era uma evangélica do tipo que aborda as pessoas na rua inconvenientemente enchendo o saco com convicções religiosas que beiram a ignorância. Falou que era uma mulher que bebia, se drogava, traficava, se prostituia e cometia assaltos para alimentar seus vícios e que conseguiu mudar sua vida quando “encontrou Jesus” através de uma igreja dessas que cobram dez reais pelo passe de descarrego espiritual. Disse que sua vida havia se transformado, que agora estava completamente mudada e que vivia somente em nome da vida e graça do senhor. Perguntou se a minha amiga chapada queria conhecer a igreja dela, uma igreja do tamanho do Maracanã que existe na Estrada da Ponta Negra. Minha amiga respondeu educadamente “muito obrigado senhora, sou uma pessoa que trabalha todo dia, ganho a minha grana e a única coisa do que a senhora falou ai da sua lista que eu faço é beber e apertar um de vez em quando, eu não tenho currículo para ser evangélico não, minha senhora, eu estou bem, muito obrigado!”. Adorei o curriculo! 118


Mulher cafajeste é uma coisa fofa

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ui ao supermercado com uma amiga neurótica, ego centrada, demandista, que acredita que só existem os problemas dela no mundo, antes e depois do Big Bang. Tirando isso, ou com isso principalmente, é uma grande pessoa, que tem a cabeça cheia de ideais que envolvem melhorias do mundo e dos seres humanos. Ela se separou há um tempo entrou em depressão e deu uma queda fisicamente, porem recuperou-se, e como é escorpiana legitima, exagerada, intensa e terminal, ela está ótima agora. Voltou a ter o corpão bonito, o astral bacana dos velhos tempos. No supermercado o mesmo esquema, o homem empurrando o carrinho de compras e a mulher na frente lendo as bulas dos cosméticos por acreditar na veracidade deles. Enquanto ela se distraia nesse tipo de prática budista de passar tardes de domingo ociosas, eu comecei a reparar nos outros clientes. Percebi que as mulheres que passavam pela gente davam uma olhada para minha amiga e em seguida para mim, me medindo. Como a louca estava distraída, elas aproveitavam para mandar sorrisos sorrateiros, entocados, meio canalhas, tipo homem paquerando mulher alheia, na encolha. Começamos a contabilizar e a nos divertir com isso. Aparentemente o que acontecia era que as mulheres se sentindo atraindo um marido de uma mulher mais bonita que ela, era como uma vitória, uma conquista, um troféu, embora eu seja um bagulho e não seja marido da minha amiga. A conclusão que chegamos é que mulher é tão canalha quanto o homem. Um pouco mais fofa, mas igualmente canalha. 119


O Deprê é péssimo de supermercado

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ui ao mercadinho do Japonês perto de casa às sete da manhã, horário que normalmente estou no melhor do sono. Acho que ando estranho, com insônia, e também acho que ando bebendo demais. Fui comprar pão, leite e água sanitária pra limpar o cocô que o Deprê faz aos quilos. Quando pedi o pão do moço da padaria senti a primeira fisgada na barriga. Senti que não estava bem, que aquelas pontadas significavam que o charuto estava no beiço. Mesmo assim mantive a dignidade e a classe, me dirigindo a prateleira de material de higiene, quando veio à segunda fisgada forte anunciando que se eu não acelerasse, o charuto cairia do beiço. Senti que ia sujar. Perguntei pro cara que arruma prateleiras se tinha banheiro, ele falou pra pegar a chave com a caixa que o banheiro ficava lá fora. A porra do banheiro era longe paca, mas ao menos tinha banheiro, então relaxei. Foi meu erro. Na terceira fisgada eu já sabia que o charuto era pasta, e estava realmente no beiço. Quando vi a porta do banheiro com dois cadeados parecendo 120


porta de cadeia, entrei em pânico. Quando abri o segundo cadeado, a pasta estava escorrendo nas minhas pernas, eu tentando empurrar a porra do Deprê pra dentro do banheiro pra ver se salvava algo. Deu não. A solução foi tirar a bermuda e lavar na pia, nem papel aquele cocho chamado de banheiro tinha. Uma sensação de desespero se abateu quando pensei “como vou sair daqui e andar até em casa?”. Fodeu! Fiz o que pude. Sai arrastando o Deprê até o caixa, devolvi a chave e fui pra casa com toda a dignidade pelas ruas de dentro. E o veadinho puto porque o passeio dele foi interrompido. Não levo mais o Deprê em supermercado.

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Emos promovem festival de daime

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ara ajudar a difundir a cultura Amazônica no Largo São Sebastião, dentro do projeto Panis et Circense tão bem elaborado pelo arqui-secretário vitalício renascentista de Corte e Costura do Amazonas, a Associação dos Emos da Amazônia promoverá o Primeiro Festival do Daime, bebida associada a um ritual religioso plenamente difundido na região amazônica chamada também de Ayahuasca. O festival contará com o apoio de varias ONGs de Ambientalistas Criados em Cativeiro da região e começará com musicas incidentais de Meditação Zen Noção para todo mundo entrar no clima, depois será servida a bebida em copos descartáveis e quem quiser, pode levar sua caneca. Em seguida todos ficarão andando em círculos abraçando-se uns aos outros para entrar em comunhão. Os emos pulam essa parte porque eles costumam se comover muito e chorar quando se abraçam e isso travaria o ritual. Depois disso haverá o Grande Abraço da Arvore Mãe Ascenstral (GAAMA), onde todos os presentes darão as mãos em volta das arvores do Largo (Obs: favor não levar laptop, celular, necesset ou pochet ridícula, pois a região é infestada de tubarões voadores, meninos cheira colas alimentados pelos padres franciscanos), nesse ritual do abraço todos cantarão mantras tipo. ado..ado...ado..cada um no seu quadrado...ado..ado..ado..cada um no seu quadrado..., repetidas vezes até que a bebida faça poinc. Em seguida muito provavelmente, baixará uma luz, algo que todo mundo quando bebe diz 122


que vê. A partir daí é cada um por si, pode dançar bundalele, funk da apertadinha, calypso da arrombadinha, enquanto os emos associados farão seu ritual cabalístico do grande beijo na boca de olhinho fechado homem com homem mulher com mulher. As autoridades presentes serão recebidas pelo próprio arqui-secretário vitalício renascentista de Corte e Costura do Amazonas in vitro, que na ocasião servirá uísque de primeira com pedras de gelo feitas com daime porque gente chic é outra coisa, meu amor. Essa baladinha será de graça para não falarem por ai que fazem eventos com dinheiro publico e ainda tem a cara de pau de cobrar. Que me venha à borracheira nesse povo.

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Manual para lidar com tatuagem indesejável

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ma amiga meio punk sempre curtiu tatuagens, mesmo antes de tatuagem virar moda entre patrícias e playboys. Ela sempre tatuou o corpo com nome dos namorados e mesmo depois de terminada a relação uma semana depois, ela faz questão de manter. A fidelidade dela aos homens da sua vida é canina e também as suas convicções. O corpo dela tem quarenta e sete nomes de homens, visto que ela é também uma hetero convicta, coisa fora de moda na pós-modernidade feminina. Os nomes vão de A à Z, passando por Alberto até Zoroastro. Seu corpo parece um jaraqui todo ticado, como diz o caboco, cheio de nomes espalhados pelo corpo todo. Ela diz que cada uma tatuagem tem sua história e tem carinho especial por cada uma dessas histórias, e portanto vão permanecer sendo um registro da vida dela, marcadas indelevelmente no seu corpo. Que bom se mais pessoas fossem assim, não se arrependessem do que são e do que fazem. Em uma conversa recente, no indefectível Bar do Armando, no centro de Manaus, entre uma cerveja e outra, ela me confessa que vai sair das quarenta e sete tatuagens por não curtir muito o numero. Vai fazer mais três nomes. Vai tatuar Dilma, Serra e Marina, em homenagem aos candidatos a presidência. Perguntei por que, já que ela tatuava nomes de namorados somente. Ela falou que não estava mais namorando, só ficando, mas que curtia fazer tatuagens, e por falta de inspiração resolveu por os três nomes para ficar na conta certa, cinqüenta, um numero mais redondo. Ah bom!..pensei. 126


O clássico corno do Facebook

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rair nas redes sócias tem muitas vantagens. O processo de seleção pode ser sofisticado e com a tecnologia da webcam com áudio facilita muito a escolha até a saída para o test drive. Enquanto a mulher fica pilotando seu laptop deitada na cama no quarto e o marido finge trabalhar na sala também com o seu laptop conectado as redes sociais, o mundo todo entra em rota de colisão pelos canais da web. Essa rota de colisão aparentemente segura às vezes pode reservar surpresas. Um amigo meu, consciencioso da sua segurança no adultério virtual, marcou com uma gata que conheceu pelo facebook que permite ver fotos pelo chat, mas não vídeo. Essa tática facilita aos quarentões já acabadinhos por fotos de décadas atrás para parecerem mais jovens e assim fica mais fácil pegar um peixe na rede, ou até mesmo por foto de outra pessoa por se achar mais ridículo do que realmente é. Marcaram em um shopping da cidade, a Monica de moto e o Eduardo de camelo. Quando o meu amigo sentou no barzinho para esperar a gata do facebook olhou em volta e viu ao lado a sua mulher, sozinha sentada tomando um chopp. Perguntou o que ela estava fazendo ali bebendo sozinha, já que ele achava que ela tinha ficado em casa, na cama com seu laptop. Ela falou que deu vontade de sair, relaxar, que se sentia infeliz sozinha em casa, pois os dois estavam se distanciando e pareciam 127


estranhos apesar de estarem casados faziam doze anos, numero de uísque bom. Ele se emocionou com a franqueza da esposa e rapidamente esqueceu que estava esperando uma gata estranha do facebook. Pediram mais dois chopps e conversaram como dois namorados fazem quando o amor os atrai para dentro da alma um do outro e ali é o melhor lugar para estar, o mais seguro. Se beijaram como nunca antes haviam se beijado, sob o aplauso dos bêbados das mesas ao lado. Resolveram ir correndo pra casa e se amar desesperadamente, sem perda de tempo. O meu amigo resolveu perguntar in passant a mulher dele se ela estava esperando alguém e ela francamente respondeu que sim, um cara que tinha marcado pelo facebook, um estranho, mas que agora não tinha o menor sentido esperar. Ah tá. Saquei! Murmurou o amigo.

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Os amores facebookianos

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a relação tradicional a coisa acontece com o olhar, depois o cheiro, depois o toque, depois o beijo, depois o toque naquilo e aquilo no toque, depois a penetração naquilo ou a ralação naquilo, no caso das brigas entre aranhas, tem a luta de espadinha também, não necessariamente entre espadas. Nas relações que ocorrem no ambiente do facebook, o sentido que mais é aguçado é a visão, pois a pessoa fica atraída por uma fotografia, depois vai ler o perfil e o que a pessoa escreve, pensa e diz. O mundo virtual é concebido para não existir o verbo mentir. A mentira no virtual não é mentira, é mitomania, é brincar de teatro, de ser personagem. Na verdade cada um constrói diariamente o seu avatar, seu ser ideal. Na vida chamada real também é assim, com a diferença que o engano provocado pela falsa sensação da visão de que existe algo chamado realidade faz com que acreditemos nisso. O facebook facilita a aproximação entre avatares e é comum haver relacionamentos amorosos que são iniciados dentro desse ambiente. O que é muito louco é que quando ocorre à aproximação no mundo chamado “real”, as pessoas também se constroem juntas, tentando ser o avatar inventado, ou seja, as pessoas se reinventam, se tornam outras, e isso é genial, porque só otários não se reinventam. A realidade existe de dentro pra fora, então cada pessoa é dona 129


do seu personagem, basta não acreditar neles e nem levá-los tão a sério, nem a vida deve ser levada a serio. A vida dos outros sim, essas tem que ser devidamente respeitadas. O nosso amor a gente inventa e fim de papo!

Emo Sapiens promove carreata ambientalista

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Emo Sapiens foi abortado do seu local de origem as margens do Rio Jaú depois que transformaram em reserva florestal toda a região, proibindo a entrada dos regatões, barcos regionais que levavam insumos básicos aos descendentes de índios já habituados ao modo de vida do homem branco. Ele e sua família foram jogados na indigência em Manaus onde ele virou menino de rua e foi resgatado por padres que adoram adolescentes. Recebeu uma educação erudita e por conta do destino foi parar em Sampa onde se identificou com o emos por andarem em bando, gostarem da mesma musica e dos mesmos autores deprimentes e queimarem a rosca pra encarar esse mundo cão. Na volta para Manaus ele se depara com a crescente onda verde ambientalista, onda em que até o nosso governador Eduardo Braga, o nosso Avatar Baré (aquele que quer construir o Porto das Éguas no Encontro das Águas), adora surfar. Ele e os Virgilios Vi130


anas da vida, o nosso grande Mascate das Selvas. Isso despertou nele um grande desprezo por essas criaturas arrivistas que se hospedam como pragas atrás de movimentos legítimos como o ambientalista. Por isso ele vai fazer uma carreata com um carreta imensa, começando pelo INPA, para arrebanhar simpatizantes, e seguirá para o Conjunto Tiradentes e Acarariquara, tradicional reduto de morada dos pesquisadores e ambientalistas que vem do sudeste e do sul do Brasil para trabalhar e estudar em ONGs que se proliferam na região amazônica. O plano do Emo Sapiens é começar um multirão com essas pessoas, pedindo que elas entreguem seus ar condicionados que ficam ligados o dia todo para imitar o clima das suas cidades frias. Também vai pedir os laptops assim como todos os seus aparelhos elétricos eletrônicos e sua loja do Boticário que eles costumam chamar de banheiro. Aproveitando a ocasião vai pedir que eles parem de viajar tanto de avião atrás de workshops ambientalistas geralmente em paraísos turísticos. Toda semana tem um. Esses vôos poluem o planeta e acaba com a camada de ozônio. O plano é fazer que as pessoas que são contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte dêem exemplo aos outros. O que acho difícil, mas o Emo Sapiens é um sobrevivente e nunca desiste.

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Pompoarismo não é bezerro

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pompoarismo é uma antiga técnica oriental, derivada do tantra, que consiste na contração e relaxamento dos músculos circunvaginais, buscando como resultado o prazer sexual. Para o domínio da técnica são realizados com o auxílio dos ben-wa, que consistem em pequenas bolas ligadas através de um cordão de nylon, conhecidas também como bolinhas tailandesas (no caso das mulheres), e na contração na musculatura no esfíncter e dos músculos do períneo (no caso dos homens). Afirma-se ainda que o pompoarismo pode ser benéfico contra incontinência urinária e na preparação do canal para partos mais fáceis. Já o bezerro não é técnica nem filosofia. O bezerro que nós conhecemos bem, aqui no Amazonas, é algo espontâneo, natural, a caboca amazonense já nasce com ele. Vem de berço. Faz parte da tradição e do orgulho baré a mulher ter bezerro. Tanto que desde cedo tem disputa pra quem tem bezerro melhor, mais forte. Não é pra qualquer uma sugar, apertar, moer, triturar, prender e cuspir a hora que bem entender. Por isso que a gente vê por ai umas caboquinhas meio que caidinhas com maridos lindos, ricos, inteligentes. Vai ver a mulher é a rainha do bezerro. Dizem que um cara de sorte quando pega uma dessas larga mais não. Vão fazer até concurso em uma academia. A escolha da Rainha do Bezerro. Não perco nem com os caray!!! 134


Dengue do coccix até o pescoço

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m cara como eu que viveu o auge da Geração Coca Cola, ou seja, a geração pós beatnik e pós Flower Power, atravessou um mar de bebidas, drogas, cigarros, rock’n roll, acampamento, larica, luar, praia, festa de embalo, amanhecer, não tomar café e continuar até o anoitecer de novo e muito sexo casual. Sexo até que menos, pois nossa geração vivia mais de fama que de outra coisa. Porem, muita gente perdeu pra AIDS e pra overdoses. Por isso, vinte anos depois de ter enterrado essa fase, qualquer sintoma de doença já assusta o tiozinho. Sábado de carnaval eu acordo com uma puta febre, dor no corpo, principalmente no abdômen, e outros sintomas indescritíveis. Pensei em gripe, pois vivo socado na minha casa que fica longe de qualquer mata. Pensei em dengue, mas os sintomas não batiam. Fiquei cinco dias tendo febre noturna e dor abdominal. A dor me pirou, pois pessoas da minha geração muitas vezes morrem de câncer na região reto-lortal. Passou o carnaval e finalmente resolvo ir ao Hospital de Doenças Tropicais pra tirar duvidas, pois na minha cabeça eu estava com câncer terminal pelas dores abdominais que vinha sentindo. Fiz os exames, entrei no consultório médico e me deparo com uma jovem médica. Sento e vou mandando bala. Que eu passei a vida usando coisas que matariam um cavalo, que já bebi e fumei mais coisas que qualquer gambá vivo. Mandrix, artene, coca, estricnina são drogas fracas. Que eu nunca dei o tôba, acho, mas o resto eu fiz de tudo. Que hoje sou um cara quieto, saio 135


com meu amor pra biritar algumas coisinhas e rir com os amigos e fim de papo. Que só fumo quando bebo, etc, etc, etc. A coitada da médica ficou me encarando com uma cara de medo, e só disse “senhor, o senhor tem somente dengue, que se curou sozinha porque o senhor deve ter bons anti corpos, portanto, não se assuste”. Quase soltei um grito de felicidade. Sai gritando do consultório feliz “tenho dengue, tenho dengue, tenho dengue...!” Devo ter ficado com fama de doido no hospital.

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Homossexualismo ideológico invade a pista

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homossexual ideológico é o cara que resolve dar o tôba porque acha que o cara famoso dá o tôba também, ele dá o tôba porque acha que é in. Conheço um cara que deu desde os meados dos anos 80, achando que seu ídolo, o Mick Jagger, vocalista da banda Rollings Stones, era baitola. Quando descobriu, lá pelos idos dos anos 90, em alguma revista de fofoca que o cara era pegador de mulheres, é espada, já era tarde. Como diz o caboco “já tava arrombado, parente!” Da mesma forma, hoje é moda as minas pegarem minas. Fumar maconha, tomar ácido, ecstase, cheirar pó, tomar porres pelas ruas, nada disso chama mais atenção que uma gata beijar outra no ponto do busão ou em alguma festa ou bar lotado. Ainda mais vestida de Restart ou emo-tiririca. Tem umas minas que beijam e ficam olhando para as pessoas, se ninguém estiver olhando ou dando “confiança” elas param de beijar. Não tem graça se não der platéia. Nem todo homossexual é ideológico e faz tempo que saíram do armário e deixaram de ser minoria. Acho até que são maioria, minoria são os bestas dos heteros e suas demandas de falsa maioria. O homossexual ideológico pode ser como um amigo meu, que é biba convicta, que dá desde criancinha pros amiguinhos. Daqueles 137


que querem ser mulher, fazer operação e tudo, ter periquita mesmo. Como ele era muito pobre, começou a fazer “michê” pelas bandas do Teatro Amazonas. Se prostituiu por longos cinco anos e foi juntando a grana, até ter o suficiente para fazer a cirurgia de transplante de sexo. Foi fazer no Marrocos, país que tem tradição nessas cirurgias. Correu tudo perfeito. O seu sonho de criança estava realizado. Ele agora era mulher de fato, com periquita e tudo. Na volta, no avião da Air France, do Marrocos pro Brasil, ele fez amizade com uma das aeromoças do vôo. Marcaram de sair no Rio. A biba doida se apaixonou pela aeromoça e está casada até hoje. Virou lésbica. Isso é a prova que tem homossexualismo ideológico. A biba doida só queria ser do contra. Nem que para isso fosse preciso ser feliz.

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Amores facebookianos versão Adocica

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ma amiga, aquela que inventou o Manual Para Se Livrar de Evangélico Chato, estava a perigo há dias, sem ver a cor de sexo fazia séculos, estava na maior secura, como diz o caboco. Nesse estado de subir pelas paredes resolveu apelar para o São Facebook. Ampliou a sua lista de amigos para atrair possíveis vitimas. Pois não é que nessa ela achou um “amigo” da época da escola, amigo que volta e meia ela usava pra dar uma sapecada. Era um gato, tinha carro, pois era filho de prefeito de cidade do interior que morava na cidade gastando a grana do pai. Marcaram um encontro rapidamente, devido ao estado de jactância sexual da minha amiga. Ela marcou na frente da drogaria Santo Remédio do Parque 10, aquela do estacionamento que tem piscapisca azul. Não demorou muito lá vem o seu “amigo” do passado atravessando a rua. Estava gordo, barrigudo, careca e a pior das tragédias, estava adornado com uma pochete imensa que atravessava toda a extensão da grande barriga. A minha amiga lembrou na hora do comercial da cerveja “adocica... adocica... adocicaaa meu amor a minha vida!” Devido ao estado de total atraso sexual, minha amiga resolveu relevar a barriga e a pochete e topou sair assim mesmo. Falou “vamos, cadê teu carro?” ao que o Adocica respondeu “Tem não... vamos de ônibus mesmo amor!”. E pegou na mão da minha amiga 139


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como se fosse namorado e saiu rebocando pro ponto de ônibus. Minha amiga pensou “já que está, vai tu mesmo!”. Dentro do ônibus ela não conseguia olhar pro cara que começava a cantarolar “Adocica... adocica... adocica meu amorrr!”. Ele ficava sapecando beijos nela a toda hora.Quando ela olhou pra baixo, para os pés dele, viu um tênis todo velho, todo rasgado e começou a achar que tinha algo errado, que o “amigo” de outrora já não era mais o mesmo, que devia estar na indigência ou coisa parecida. Começou a ficar apreensiva. Então resolveu perguntar onde seria o abate, o evento sexual, o Adocica respondeu “Em um hotel lá do centro, tem um cara que é dono do hotel e tá me devendo!”. Foi à gota d’água. Ela resolveu descer do ônibus, mas antes perguntou pro Adocica “Tem grana ai pra eu voltar de ônibus?” ao que o Adocica respondeu tirando do bolso “Só esses vinte reais!” Minha amiga tomou os vinte reais da mão dele e foi beber cerveja no Bar do Armando. Eu soube da historia porque ela mesma contou pro Bar do Armando inteiro. Amores facebookianos tem disso. As fotos que você vê é do tempo da escola.

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Amores facebookianos versão Adocica II

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docica é o nome fictício que resolvi dar ao “amigo” sexual que a minha amiga arrumou pelo Facebook em um momento de extremo atraso, de secura total e desespero hormonal. A situação estava de esfregar a perihquita em asfalto quente. Por isso ela foi a um encontro as escuras achando que o amigo recém encontrado na rede social ainda era aquele “amigo” gatinho da época do colégio, uma cara bonitinho, com carro e grana e filho de prefeito de cidade do interior. Para quem acompanhou a versão da Atrasadinha do Facebook sabe até a parte em que ela tomou os últimos vinte reais da mão do Adocica dentro do busão, desceu e foi beber no Bar do Armando. O Adocica seguiu no ônibus totalmente arrasado, a autoestima em frangalhos muito pior do que vitima de bullying e pra piorar com o pau na mão. Mas deus é justo e verdadeiro e como é mês de São Jorge, protetor dos fracos, dos oprimidos e de quebra dos trouxas também, o Adocica acabou se dando bem. Quando desceu do busão na Estação da Matriz, no centro de Manaus, estava mais por baixo que toba de sapo, e aquela chuva fina enchendo o saco de pedestre fodido, mas que ajudava a esconder as lágrimas de viver uma vida felá da puta. Foi nesse estado de espírito que o Adocica trombou sem querer nas costas de uma pessoa ao dobrar uma esquina. Meio cego pela chuva e pelas lagrimas, o Adocica pediu desculpas ao que a moça 143


respondeu na hora “Owww... você não olha pra onde anda não?” e o Adocica já a meio caminho do inferno respondeu pedindo novamente desculpas. Foi quando a moça reparou que ele estava chorando, com uma cara de cachorro molhado, pirento na proa da canoa. Ela foi invadida por uma compaixão daquele infeliz, coisa típica de mulher quando vê homem chorando, por baixo, arrasado, quebrado, afulerado e pronto pra ser pisoteado. Agora era ela que estava pedindo desculpas por ter sido tão dura e grosseira e quis saber mais sobre aquele pobre homem, barrigudo, molhado, chorando e com uma pochete atravessada de lado a lado em cima da barriga. Convidou pra irem a uma boate próxima, pois na área central depois de certas horas só boates estão abertas. Ele topou na hora, achando que sua sorte estava mudando, afinal era uma gata gostosona convidando para beber, mas explicou que estava sem grana e estava chorando porque tinha acabado de ser assaltado. Como todo homem, ele mal conheceu a gata e já foi mentindo. Na boate eles beberam, conversaram, riram, dançaram e a atração foi aumentando no mesmo nível do teor alcoólico no sangue. Rolou o primeiro beijo e em seguida milhares de beijos bem suculentos. Enfim a sorte do Adocica tinha mudado. Deixara de comer a “amiga” do passado que tinha ficado um bagulho e ainda o assaltou no busão e agora estava com uma puta gata gostosona cheia de desejo por ele. E pagando a conta dos dois. Ela propôs para irem ao apartamento dela e saíram voando. Chegando lá o Adocica saiu pra cima da moça com a fome de vários meses de secura total. Foi arrancando o vestido, tirando a calcinha e baixando a boca pra dar uma chupada daquelas de arrancar o clitóris. Na pressa ele nem viu que o clitóris tinha mais ou menos 27 centímetros. Só foi ver no dia seguinte, mas ai era tarde e o Adocica no alto da vida ferrada pensou que estava tudo certo. Afinal, o que são uns centímetros a mais? 144


Os dois estão casados até hoje. O Adocica cuida da casa, lava, cozinha e vai ao supermercado e a gatona sai toda noite pra bater calçada para arrumar algum. A mesma calçada que ele a encontrou. O Adocica só queria ser feliz.

O V de Vingança do Adocica

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vingança do Adocica não demorou a chegar. Embora por causa do encontro mal sucedido com a Atrasadinha do Facebook ele tenha encontrado o amor da sua vida, mesmo sendo um travesti, o Adocica não

perdoou o que ela fez. O fato de ter dado o fora nele dentro de um busão e ainda ter levado seus últimos vinte reais pra beber cerveja no Bar do Armando ficou atravessado na garganta do Adocica e ele e sua nova namorada travesti resolveram armar uma vingança contra a Atrasadinha do Facebook. Usando o nome de Protógenes, nome verdadeiro da Dalila, o travesti e novo amor do Adocica, os dois fizeram um perfil no Facebook e adicionaram a Atrasadinha. Ela, ainda no maior perrengue sexual, aceitou mais um cara na sua lista na esperança de ver se 145


chovia na sua horta. Protógenes se passou por um professor universitário de meia idade, divorciado, que está na fase do urubu, aquela do se não tem tu vai tu. Logo foi armando encontro com a louca, consciente da sua confusão mental por causa da profunda abstinência sexual. Trocaram telefone, conversaram e logo partiram para os finalmente. Acertaram de se encontrar em um quarto de motel. O plano era deixar a moça na roubada e ser presa por não ter grana pra pagar a conta. Por causa da ultima experiência fracassada, a Atrasadinha do Facebook exigiu que o encontro fosse em um motel de luxo, cinco estrelas e o escambau. O professor Protógenes mandou um taxi ir buscar na porta da casa dela e levar pro motel. Avisou para ela pedir um jantar maravilhoso para os dois enquanto ele estava a caminho. Ela entrou no motel decidida a se empanturrar de sexo, comida, bebida, drogas e rock’nroll. Ligou a banheira com hidromassagem, pediu risoto de camarão e uma garrafa de champanhe. Quando estava acabando a segunda taça e pela demora do tal Protógenes, lhe veio à cabeça a desconfiança que poderia ter caído em algum tipo de cilada. Ela resolveu não esquentar a cabeça. Telefonou para alguns amigos, eu inclusive, pediu mais champanhe e fez uma festa no quarto do motel. A conta foi rachada por todos. A Atrasadinha do Facebook tem muitos amigos maraaa. Quanto ao Adocica e sua namorada traveco, ainda não vai ser dessa vez que vão ter sua vingança.

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Bullying quando não mata fortalece

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tário tem em todo canto. As escolas são necessárias para a formação da sociedade humana. Mas são uma fabrica de trouxas juntos e misturados. A competição estimulada pela sociedade e refletida nas escolas é que cretinizam e dão margem para otários se acharem. Quanto as vitimas de bullying, eu mesmo sofro bullying todo dia. Mas também faço bullying todo dia com alguém. Quando um cara que estudou comigo no primário e vivia me sacaneando entra na lotérica em dia de mega sena acumulada e vai direto no guichê “prioritário” dos velhinhos, deficientes, etc., ele com certeza está fazendo bullying comigo e com todos. É bullying no atacado. Se eu tenho cinqüenta anos, o felá da puta cara de pau também deve ter cinqüenta. Não pensei duas vezes e gritei “Ow...mano veio, você estudou comigo, deve ter a minha idade, sai logo da porra dessa fila dos velhinhos que você não tem prioridade alguma. Vá logo pro rabo da fila que é melhor”. Ele fez cara de leso mas foi. Se cola ele ia fazer mais um bullying com as pessoas. Tem trouxa o tempo todo nessa vida e o trouxa é o cara que acha que é mais esperto que todo mundo e, portanto, todo mundo é uma possível vitima de bullying, menos ele. Bullying quando não mata fortalece. 147


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Travestis brasileiros voltam para o Brasil

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or causa da grave crise financeira em Portugal, muitas famílias estão se desfazendo. Por falta de empregos, os portugueses não conseguem mais sustentar suas esposas travestis brasileiros. Como são muito conservadores, eles não suportam a idéia que suas esposas voltem a bater calçada para ganhar a vida e também não querem ser sustentados por “mulheres”. Por sua vez os travestis brasileiros vendo que o Brasil atravessa uma fase exuberante economicamente, depois dos oitos anos de governo do cachaceiro do Lula, estão todos voltando para sua terra natal. “Aqui é que está o babado forte meu bem!”, dizem alguns. Um amigo travesti voltou e está muito satisfeito. Está faturando alto nas calçadas do Teatro Amazonas e juntando dinheiro para montar uma padaria pro Manuel, seu marido, que ficou em Coimbra, Portugal. Para ele, meu amigo falou que está trabalhando de costureira. O governo Português está pensando seriamente em propor ao Brasil que seja anexado como colônia brasileira na Europa. Assim Portugal sairia da crise e o Brasil teria seu pé no continente europeu. 150


Isso também acabaria com o dilema dos casamentos de portugueses com travestis brasileiros. Eu iria montar uma padaria em Porto. Dizem que Porto é lindo.

A Marcha da Maconha vai ser na infinita Ponte do Iranduba

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á que a Ponte de São Raimundo não vai mais sair porque o dinheiro evaporou e ela está sem serventia alguma, varias associações pro liberação do uso da maconha, copiando o Rio de Janeiro, vão fazer a Marcha da Maconha na ponte que liga Manaus a coisa nenhuma. O motivo principal é o por do sol sobre o Rio Negro visto de cima da ponte. É o mo visual mano véio! A Associação dos Emos Maconheiros Daimistas Unidos (AEMDU), a Associação dos Maconheiros do Baixo Mindú (AMBM), a Agremiação dos Adoradores da Santa Maria (AASM) juntas farão a Marcha da Maconha em data ainda não definida. Era pra definir sábado passado mais de acordo com fontes que foram à reunião, rolou back demais e quando viram estavam todos morgados e laricados e deu pra decidir nada não. O plano é marchar até o fim da ponte e seguir em frente até cair na água em forma de protesto. Para agüentar o tranco vai rolando um 151


monte de toras no caminho. Se rolar um visual chocante lá de cima, a marcha se encerra e o lance é dar um tchibum que ninguém é de ferro. Tem só que olhar embaixo pra ver se não vai passando uma balsa. Balsa dói, mano véio!

A Classe C invade o Facebook

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antiga classe média e alta eram os usuários tradicionais do Facebook. É o povo que viaja para os Estados Unidos e trás o hábito de usar essa rede social de lá. No Brasil o Orkut é que era usado pelas classes D e E. Por culpa do governo Lula e sua Bolsa Familia, Bolsa Doutor, Bolsa Daslu, Bolsa Daspu e etc, houve o aumento da classe média, do acesso da classe D e E aos bens de consumo, como laptop, blackberry, smartphone, Ipod, Ipad, pen drive e internet baixando de preço. E criou-se a “Nova Classe C”. Esse povo todo e sua falta de classe invadiu, como hordas de bárbaros, o Facebook e está incomodando profundamente a classe média baré. O Facebook era um lugar onde pessoas finas, viajadas, que conhecem Orlando, Nova York, Paris, Londres vinham trocar figurinhas, 152


ver fotos das suas viagens de cruzeiro pelo Caribe, falar das suas noitadas nos cassinos de Las Vegas, etc. Enfim, era um lugar para poucos. Agora não. Agora está uma putaria. A menina posta uma foto dela deitada de boga pra cima, na beira de um tanque sujo de dois metros por dois com uma parede ao fundo descascada cheia de lodo e diz “Oia fulana, eu na pescena só cortinu experanu o Raymond chegar”. Raymond é o Raimundo, o cara que pega ela. Como diz um amigo meu, monarquista e antigo freqüentador do Ideal Clube “Assim não dá, assim não vai!” O Orkut foi definitivamente abandonado pelo povo da Zona Leste. Tá tudo no Facebook. Quem estiver incomodado que se mude, oras!

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Mindú transborda com bosta e PM atira nela

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oi horrível. Parecia uma praça de guerra. A Policia Militar atirando nos toletes de bosta do Mindú que insistiam em entrar nos condomínios caros aqui do Passeio do Mindú e adjacências. Todo ano é isso. Com as chuvas desse período o Mindú transborda, invadindo as casas dos condomínios aqui do Parque 10. Com a construção dos prédios residenciais de alto padrão no Passeio do Mindú sem qualquer estudo de impacto ambiental nem nada, os moradores acordaram com seus jardins embaixo de um metro de bosta derivada dos seus próprios tobas que despejam kilos e kilos todos os dias nas águas fétidas do igarapé. Esse é o V de Vingança do Mindú. Todo ano ele espera essa época para entornar toneladas de dejetos de volta as casas que insistem em jogar nele seus excrementos. Só que dessa vez o poder publico estava avisado. Quando o Mindú começou a transbordar a PM entrou em ação. Deram tiros com balas de borracha nos toletes para eles dispersarem. Jogaram bombas de efeito moral para ver se as merdas caiam fora, 154


pegavam o beco e desciam igarapé abaixo. Atiraram bombas de gás lacrimogêneo para disfarçar o cheiro delicioso das fezes dos moradores. Virou uma verdadeira praça de guerra escatológica. Toda guerra é escatológica. Mas ver policiais atirando em toletes de bosta indefesos é demais pra cabeça, cara! Se fosse no Coroado os tiros seriam nas pessoas.

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O Deprê morreu e o cachê do Lula é 300 mil

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eu cão querido morreu devido a um ataque epilético. Acho que demorei a aceitar o tratamento a base de Gardenal. Isso o salvaria, acho eu. A culpa sempre invade

quando a gente perde. Até vascaínos sentem culpa quando o time palha deles perde. Ainda vou chorar muito a perda do companheiro Deprê. Tive que jogar o cadáver dele numa lixeira no centro de zoonose porque não tem cemitério para cachorro acessível quando se precisa. Fiquei pensando no Bin Laden sendo jogado feito um cachorro no mar. Os métodos de lidar com a dor da perda muda de pessoa pra pessoa. Estou ouvindo musica porque sei que ele gostava tanto quanto eu de musica. E estou lendo porque saber da vida alheia me faz esquecer a minha. Li em algum lugar que o cachê do Lula já está nas alturas. Ele cobrou R$ 300.000,00 da Telefônica por uma palestra de duas horas. 158


As empresas que o procuram são as maiores do mundo, interessadas em saber o que o baxinho, nordestino, analfabeto, operário e cachaceiro tem para dizer sobre tirar um pais da linha da miséria. Segundo a Folha, depois que saiu do Governo, o Lula já esteve em Londres contratado pela Telefônica (US$ 300 mil); em Washington, a convite da Microsoft e em Acapulco, com a Associação Mexicana de Bancos. Se confirmar a presença o Lula ultrapassará o primeiro milhão de dólares em quatro meses fora do Governo. O FCH cobra só R$ 50.000,00. 10 vezes menos que o Lula. Talvez porque o governo dele perdeu de 10 X 0 para o do Lula. Nos eventos, Lula costuma citar feitos de seu governo e o aumento da presença brasileira no cenário mundial, segundo a Folha de São Paulo. Na certa a Folha queria que o Lula falasse dos feitos do governo do FHC. Affff!

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A vida dura dos travestis nas calçadas barés

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om a volta dos travestis casados com italianos, portugueses, espanhóis e franceses para o Brasil devido a alta da economia brasileira, as ruas de Manaus ficaram pequenas para tanto travesti bater calçada. Travestis que fazem ponto na esquina da avenida André Araújo com a rua Nazira Daou, em frente à sede da TV Amazonas, estão sendo denunciados à polícia por usuários de um caixa eletrônico que existe no local. Eles são acusados de assédio contra homens que usam o terminal e de praticarem atos obscenos em via pública. A reclamação é que ao entrar no caixa eletrônico, eles são abordados pelos travestis, que já chegam passando as mãos em suas partes íntimas. Muitas vezes, quando são rejeitados, eles reagem com violência. Tem alguns clientes que voltam para casa, para suas esposas e o aconchego do lar sem nem poder sentar. Ficam dias sentando de bandinha e dizendo pra mulher que é hemorróida. A versão dos travestis é outra. 160


Para conseguir montar uma padaria para trazer o Manoel, o seu marido português, Marivon da Silva Castro tem que se montar todo noite de Pat Scarlet, ir bater ponto na André Araujo e fazer no mínimo três programas a R$ 50,00 cada um. Ele acha que em três anos fazendo programa a esse preço ele consegue montar a padaria do Manoel, seu marido português que ficou em Lisboa. O boquete parece que sai por R$ 10,00 se for dentro do carro. E ainda tem gente reclamando dos caras. Ahhh...vai dar mano veio!

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Manaus tem o primeiro divorcio gay

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enho um amigo que é biba convicta, dá desde criancinha pros amiguinhos. Daqueles que querem ser mulher, fazer operação e tudo, ter periquita mesmo. Como ele era muito pobre, começou a fazer “michê” pelas bandas do Teatro

Amazonas. Se prostituiu por longos cinco anos e foi juntando a grana, até ter o suficiente para fazer a cirurgia de transplante de sexo. Foi fazer no Marrocos, país que tem tradição nessas cirurgias. Correu tudo perfeito. O seu sonho de criança estava realizado. Ele agora era mulher de fato, com periquita e tudo. Na volta, no avião da Air France, do Marrocos pro Brasil, ele fez amizade com uma das aeromoças do vôo. Marcaram de sair no Rio. A biba doida se apaixonou pela aeromoça e casou com ela. Virou lésbica. Ontem separou, pediu divorcio. Invocou que quer ser mãe e como é conservadora acha que para ter família precisa arrumar um marido homem. Vai ser o primeiro divorcio gay do Brasil. Esqueceu do detalhe do útero, a louca!

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A Marcha da Maconha de Manaus está desaparecida

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Marcha da Maconha que aconteceu no ultimo dia 24 em Manaus está desaparecida. A idéia era sair do centro ao meio dia e ir andando até a Ponte de Iranduba fazendo um Fumaçaço. A ultima noticia que tivemos da marcha é que ela já se encontrava atravessando a Ponte de Iranduba, depois de dois dias de caminhada. Pela organização, o plano era caminhar até a ponte em forma de protesto pela eternidade de dinheiro e de tempo para a construção da obra e também pela legalização de não sei o que lá. Eles esqueceram. A policia chegou a avisar que a ponte não estava concluída, mas eles foram mesmo assim. No meio da ponte teve um show de reggae ao por do sol onde ocorreu outro Fumaçaço em protesto contra um lance que depois eles iam lembrar. De acordo com a organização eles tinham tudo escrito para não esquecer. Também foi servido uma panelada de miojo por conta da imensa 163


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larica da galera. A noite eles continuaram a marcha. Depois disso ninguém mais viu nem um sinal da marcha. Eles evaporaram. Mergulhadores do corpo de bombeiros estão fazendo busca no rio onde a ponte é interrompida, esperando encontrar alguém vivo. A hipótese mais plausível que se levanta é que eles tenham esquecido o detalhe que a ponte acaba no ar. Algumas pessoas acham que foram abduzidos no meio da travessia. O fato que eles sumiram. As famílias estão a espera de noticias. Na ultima Marcha da Maconha neguinho ligou do Maranhão pedindo grana para voltar. Essa é a esperança de todos.

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No Amazonas festa de fruta só não tem a fruta

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o Amazonas tem festas com nomes de frutas em vários municípios. Cada município tem a sua. Mas raramente tem a fruta da festa. Há anos que o projeto de plantar cupuaçu em Presidente Figueiredo perdeu para a praga da Vassoura de Bruxa. Do cupuaçu só ficou a festa. O Pará se transformou no maior produtor de cupuaçu, apesar da fruta ser muito mais comum no Amazonas. Figueiredo exporta muito é político corrupto. Isso tem muito lá. A grana dos royaltes do minério atrai os vampiros. Outra festa que não tem a fruta é a Festa do Caju em Barreirinha. Lá só tem um pé da fruta. Fica no cemitério que alaga quando o rio enche. A Festa da Banana também é fake. A única festa que realmente merece o nome que tem é a Festa da Pasta em Tabatinga. Lá tem muita pasta mesmo. Pasta base de coca. É ilegal. Mas tem. 167


Planta e Raiz não é dupla sertaneja

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gente vai ficando véio e vai se desinteressando por certas coisas. Como os meus ídolos morreram de overdose e os meus amigos estão no poder e nada de novo acontece no mercado do disco, a não ser umas bandas emo restartadas e com cara de retardadas, eu me desligo desse treco.

Deixo de acompanhar. O negocio está tão sério que a MTV deixou de ser canal de musica e virou canal de humor e reality show. Os programas que dão mais audiência para a emissora são os Talk Show de humor. Por isso achei que a banda Planta e Raiz era dupla sertaneja. Não que o reggae seja muito melhor. Aquela musiquinha tanranran emaconhada revirando os olhinhos com passinho dois pra lá e dois pra cá, me deixa com cara de idiota toda vez que eu vou. Só enchendo a cara e fumando um monte pra bancar essa leseira. Dois pra cá dois pra lá. E a musiquinha falando de cachoeira, banho de lua, paraíso, maconha, patchuli e incenso. Só vou bêbado. Acho que virei um velho xarope, preconceituoso e alcoólatra. Afff! 168


Apagão contra Belo Monte

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ara protestar contra o licenciamento do Ibama que liberou Belo Monte, todas as pessoas que são contra a construção da hidrelétrica estarão fazendo um apagaço a partir de amanhã. Todas as pessoas e entidades simpáticas a causa desligarão sua rede elétrica por prazo indeterminado, até que se cancele a construção de Belo Monte. A partir de amanha varias ONGs estão convidadas a desligar todos os equipamentos elétricos dos seus escritórios. Só aqui perto de casa tem umas cinco. Os Ambientalistas Criados em Cativeiro também desligarão seus ar condicionados, seus laptops, suas geladeiras, tudo enfim, em solidariedade a causa. Ou não. As pessoas normais que dependem de energia elétrica e acham que hidrelétrica ainda é a única forma de energia limpa viável para o Brasil podem continuar a usar seus equipamentos elétricos com moderação. Mesmo porque a conta de energia arrebenta com o bolso. Manaus tem energia gerada por diesel produzida em usina termoelétrica. Que polui pra cacete. 169


Se vão construir Belo Monte que essa energia chegue por aqui. O gasoduto de Coari – Manaus também era alvo do povo Ambientalista Criado em Cativeiro que é contra tudo e acredita que aqui é um grande zoológico. Mas até zoológico precisa de energia para funcionar. Manaus ainda não viu os benéficos do gás de Coari trazido pelo gasoduto. Esse gás se usado na geração de energia aliviaria a poluição da cidade e diminuiria o preço da energia elétrica. Hidrelétricas não são belas, mas se fazem necessárias. Quem é contra que viva como na idade da pedra. Desligue sua energia do poste.

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O Fim do Mundo Ambientalista Criado em Cativeiro

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proveitando a onda apocalíptica que se apossa da humanidade de tempos em tempos, alguns ambientalistas criados em cativeiro estão também fazendo suas previsões catastróficas. De acordo com alguns devotos do Lovejoy, se construírem a hidrelétrica de Belo Monte, em menos de dois anos a Amazônia acaba. De acordo com esses mesmos ambientalistas aficionados por ficção, depois da barragem, toda a Amazônia ficará submersa e morreremos todos afogados. Quem souber nadar pode se agarrar numa touceira de canarãna e ir boiando até uma terra firme lá pelas bandas da Bahia. Pelo sim e pelo não, eu comprei outra boneca inflável. Assim, enquanto sapeco a bichinha, fico de olho na inundação. Ela serve de bóia também.

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Manual prático para se livrar de evangélico gay

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vangélico não pode ser gay. Ser gay é coisa do demo. Portanto para se livrar de assedio sexual de evangélico gay basta ameaçar gritar e por a boca no trombone. Falei no trombone! Abordagem de evangélico gay é muito parecida com abordagem de gay não evangélico. A coceira é a mesma. É na região toba lortal. Se a abordagem ocorre em ambiente publico, tipo parada de ônibus é porque alem de evangélica, a biba é pobre. Se vier com a velha conversa de conversão evangélica querendo lhe tirar das trevas em que vives, não se apoquente, deixe a biba falar. Quando chegar a parte em que o evangélico abordante sempre fala da sua vida passada de bêbado, drogado, prostituido e ladrão, que se curou porque encontrou Jesus, você continua sem dizer absolutamente nada. Quando ele lhe convidar para dar um voltinha na igreja dele para salvar a sua alma das trevas, você responde “muito obrigado, amiguinho, mas eu estou bem, tudo o que eu consumo, o que bebo e o que fumo, eu pago com o suor do meu emprego, eu ain174


da não tenho currículo para ser evangélico, mas muito obrigado amor”. Se for o caso de ser evangélico biba, é nesse momento que vem a segunda cantada, já que falhou a primeira. Geralmente vem na forma de um convite assim “ah, tá bom, já que você não quer ir à igreja, porque a gente não toma umas cervejas e bate um papo lá em casa? hoje me deu uma vontade daquelas de pecar”. Se você for biba vá. Por curiosidade e por maldade. Se não for vá assim mesmo, fotografa a biba evangélica nua de quatro e põe no Facebook. Só pra ajudar na campanha contra os evangélicos homofobicos dos caralho que querem jogar o Brasil no século 18. Cambada de hipócritas.

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As loiras da bacurinha braba

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oda mulher que tinge o cabelo durante um longo período acaba acreditando piamente que é loira mesmo. Quem acredita na veracidade dos cosméticos tem mais facilidade em achar a felicidade. Uma amiga que é loira desde os treze anos de idade falou um dia que resolveu pintar a bacurinha também porque toda vez que ia tomar banho tomava susto quando olhava aquela bacurinha morena. Ela achava que era de outra pessoa. Até a atitude sexual dessas mulheres loiras por opção é diferenciada. Ela pode até nem está com vontade de fazer mas faz com cara de quem faz melhor que as morenas. E isso nem é fingir, é estado de espírito. Por isso que ouvi de um motorista de taxi essa excelente leseira quando passamos por uma loira indígena que estava na calçada toda faceira “chefe, essas mulher lora tudo tem a bacurinha braba!”. Eu fiquei imaginando um bando de periquito na mangueira mordendo uma manga madura. Foi só o que me veio a mente.

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Bolinha tailandesa apimenta o dia dos namorados

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imenta no dos outros é refresco e esse lance de apimentar é coisa de veado. Mas no dia dos namorados tudo pode. A sugestão é dar de presente bolinhas tailandesas para a pessoa amada. Bolinhas tailandesas caem muito bem

com pimenta. Pode ser usado qualquer tipo de pimenta, e para ser ecologicamente correto melhor usar uma pimenta amazônica. A pimenta murupi está entre as pimentas mais ardidas e cheirosas do mundo. Portanto antes de usar a bolinha tailandesa é aconselhável imergir em um molho feito com pimenta murupi. Além de cheirosas, as bolinhas tailandesas ficarão com um ardor maravilhoso típico dos pratos feitos com peixe da culinária amazônica. Aconselha-se na primeira vez que introduzir as bolinhas, tapar a boca da pessoa amada para que não haja incômodos. Se for em um motel pode ser que as camareiras chamem a policia pensando que você está usando de agressão física. Depois da primeira vez costuma ficar mais agradável. De toda forma é bom ter um litro de refresco de mangarataia (gengibre) do lado da cama. Caso a pessoas amada tenha alguma forma de rejeição ou alergia a pimenta. Nunca se sabe. 177


Manual de Utilização de Santo Antonio Casamenteiro Invertido (MUSCI)

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or causa das confusões que andaram ocorrendo nos últimos tempos pela má utilização da simpatia do Santo Antonio Casamenteiro Invertido, foi lançado um manual para que não haja mais nenhuma confusão. As regras são: 1 – Nunca faça simpatia conjuntamente a não ser que você queira que dê sururu no resultado. Ex: Duas amigas fizeram juntas querendo homem, foram para um bar e beberam para criar coragem e não arrumaram nada, foram dormir juntas e rolou pegação. Estão juntas até hoje. 2 – Se você for heterossexual ponha ele de cabeça para baixo e pense na pessoa. Se não pensar em alguém, se não especificar, pode dar qualquer traste. Depois não vai reclamar do santo. 3 – Se você for gay masculino nunca inverta. Ponha ele do jeitinho normal. No reino dos santos eles vêem tudo trocado. Peça uma ajudinha a São Sebastião, o santo protetor das bibas. Rezar nunca é demais. 4 – Se você for gay feminino faça como no primeiro item. Se você tem alguma amiga desesperada por homem que você esteja afim 178


de dar um craw nela, faça junto com ela a simpatia com os dois santos de cabeça para baixo. Saiam para beber para tentar arrumar alguém. Isso nunca dá muito certo, no máximo que vão conseguir é uma trepada no banco de trás. Bem mais tarde, depois das duas bêbadas proponha ir dormir na casa dela. No meio da noite você avança na presa e dá o tal craw que você planejou. Costuma dar certo. Está na moda mulher pegar mulher. Com a ajudinha do santo deve funcionar. Esse manual só serve para quem acredita nele.

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Anarco militancia anal

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ssa mania de querer ser do “contra” está virando patologia. Todo o meu corpo se retrai como uma mola quando sou colocado contra a parede. Tente me obrigar a fazer o que eu não quero e você vai logo ver o que acontece. Alguém disse “Todo aquele que ousar colocar suas mãos sobre mim para me dominar, é um tirano, um usurpador, e eu o declaro MEU INIMIGO!!!!”. Comigo é desse jeitinho. Só que não dá para levar isso a toda a extensão do universo e do meu corpo. Tenho que fazer o primeiro checkup médico da minha vida de cinqüentão. Nunca fui a médico. Há exatos cinqüenta anos que levo uma vida de extremos. Nada saudáveis, nada regulares, nada próprios para menores. Esses exames médicos vão de exame de fezes a próstata. E isso está me tirando o sono. Aproveito para não dormir mesmo. Detesto dormir. O problema é que para fazer exame de fezes preciso de fezes. O meu intestino é uma das poucas coisas regulares da minha vida. Só porque tenho que fazer a porra dos exames ele se trancou. Pode? O toba fechou porque se viu obrigado. Isso que chamo de anarco militância anal. Eu hein! 182


A Lenda do Pau Grande

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odo mito começa pelo começo. Toda mulher gosta de pau grande. Mas casa com pau pequeno. E morre dizendo que tanto faz como tanto fez. Que não faz diferença. Mas na primeira briga o que ela vai dizer no auge da gritaria é o

tanto que teu pau é pequeno. Todo homem adoraria ter um pau maior do que tem. Por isso a mulher vai na ferida quando quer magoar. A propaganda mais enganosa é a lenda do pau grande. Por isso todo homem do pau pequeno quer gloria, fama, poder, carro grande e músculos. O certo é que a mulher não vive só de músculos voluntários ou involuntários. Talvez o único músculo que realmente conta na hora do vamos ver, é o coração. Isso supondo que coração seja músculo. E que a mulher em questão seja a que eu amo. E que o amor seja realmente cego.

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A tua tatuagem não te garante

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atuagem é bem legal. Mas deixou de ser atitude. Deixou de ser coisa de descolado. E há muito tempo deixou de ser coisa de bandido as-

sumido. Hoje a generalização da moda da tatuagem banalizou um instrumento de comunicação muito poderoso. Hoje qualquer bunda mole tem tatuagem. Qualquer patricinha tem tatuagem e piercing. Eu tenho uma feita com caneta bic e agulha na ponta. A minha é do tempo que tatuagem era coisa de maloqueiro. Ridícula. Tentei fazer um cogumelo que ficou parecendo um sapo amassado por carro. Quando fiz, em uma tarde em um areal onde hoje fica o conjunto Jardim Primavera atrás do Parque do Mindú, eu e o amigo que fez estávamos tão doidões que nem senti a picada da agulha fazendo a tatuagem. Pedi para o meu amigo sádico fazer o símbolo do comunismo, ideologia que até hoje me agrada quando temperada com social democracia. Ele fez. 184


Igual a cara dele. A foice e o martelo do comunismo virou uma picareta e um martelo, parecendo símbolo da geologia. Não fui até o fim. O efeito do que a gente estava usando estava passando eu mandei parar a sessão de tortura. Até hoje quando alguém consegue enxergar as minhas tatuagens esquálidas e pergunta o que é, digo que fui geólogo e que odeio sapo. As minhas tem algum charme e significado algum. São ridículas. Quando penso em terminar as duas tatuagens inacabadas depois de 40 anos, lembro que a menina babaca e preconceituosa da rua tem uma linda nas costas. E desisto. Mas também era só o que me faltava, alem do tapa olho ter um monte de tatuagens.

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Fim da empregada doméstica, o ultimo resquício da escravidão

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classe média e alta da sociedade moderna se organizou em torno da existência da empregada domestica. Até na arquitetura das casas e apartamentos existiam o quarto de empregada. Geralmente um cubículo que mal cabe uma cama de solteiro que ainda tinha que dividir com cacare-

cos da casa. Uma espécie de nova senzala. No Amazonas era comuns as casas terem uma empregada, geralmente caboclas trazidas do interior do estado que eram tratadas como parte da família, a parte pobre da família, ou como mera mobília ou burro de carga. Com o acesso das classes mais pobres a empregos e a padrões mais elevados, esse material humano ficou mais raro. E mais caro. Hoje não se encontra mais na praça essa carne humana. A carne mais barata do mercado era a carne cabocla ou indígena. Essa não reposição de carne no mercado está aumentando o custo das empregadas domésticas. Isso acaba afetando o cotidiano das famílias barés acostumadas a 188


ter essa mamata. Criou-se a figura da diarista em Manaus. Cobram por diária de trabalho. E saem muito mais caro que as antigas “empregadas”. Que custava muitas das vezes um prato de comida por dia. E olhe lá. Essa enorme massa de pessoas agora está tendo algum acesso a bens de consumo como a televisão que apesar de ser uma merda, passa novelas como a Sinhá Moça que fala de escravidão E as pessoas se vêem ali. E de alguma forma estão saindo da era da escravidão. E isso dói no nosso bolso. A minha diarista mete a faca. Cobrou 80 paus à diária essa semana. Era 50. Tudo culpa do Lula. Esse tal de Nunca Dantes.

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A nova literatura dos blogs sujos

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homas Pettitt tem provocado polemicas no meio acadêmico afirmando que a humanidade está voltando à cultura de transmissão oral da informação e do conhecimento, tornando a época da imprensa escrita de Gutemberg apenas um parêntese na história. Ele construiu a Teoria do Parêntese de Gutemberg para analisar uma época entre a invenção da imprensa por Gutemberg até os dias atuais com a invenção das mídias eletrônicas e das redes sociais. Segundo ele a era digital derruba as barreiras entre imprensa tradicional e novas mídias. A sobrevivência dos meios de comunicação tradicionais vai depender única e exclusivamente da sua credibilidade. A internet revolucionou os costumes e a literatura não podia ficar de fora dessa revolução, assim como a musica e outras atividades da vida. Fazer literatura antes da internet e dos blogs era para poucos. Principalmente pela dificuldade de publicação, veiculação e os custos envolvidos. As editoras seletivas e aprisionadoras do conhecimento literário quase inviabilizavam a publicação de livros. 190


A parte do lobo é da editora. Assim como no mercado fonográfico. Quem ganha grana com disco é o dono da empresa fonográfica. Ao artista sobra fazer shows pra ganhar o seu. A expansão da produção literária através dos blogs incentiva um numero maior de pessoas a escrever e publicar. Mas isso não diminui a qualidade da literatura como dizem alguns “eruditos” que se acham donos da verdade literária. O volume maior de pessoas escrevendo faz com que apareça muito mais variedade de formas de se fazer literatura. E de forma independente, sem o crivo e o senso dos ”eruditos” que fazem parte do mercado editorial tradicional que lucra muito com esse elitismo literário. Afinal, concorrência nunca é bom para quem está acostumado a lucrar horrores em um mercado monopolista. Em Manaus só tem uma editora de peso especializada em publicar autores locais. E trabalha de forma seletiva, elitista e extorsiva. O autor se ferra sempre. Melhor ser Independente Futebol Clube.

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O Laerte virou crossdressers e crossdressers não é travesti

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Laerte, grande cartunista do universo rebelde e contestador dos HQs, autor de vários personagens como os Piratas do Tietê e outros, aos sessenta anos resolve virar adepto do crossdressers. Os crossdressers são pessoas que vestem roupa ou usam objetos associados ao sexo oposto, por qualquer uma de muitas razões, desde vivenciar uma faceta feminina (para os homens), masculina (para as mulheres), motivos profissionais, para obter gratificação sexual, ou outras. O crossdressing não está relacionado com a orientação sexual, e um crossdresser pode ser heterossexual, homossexual, bissexual ou assexual. O crossdressing também não está relacionado com a transsexualidade. Os crossdressers tipicamente não modificam o seu corpo, através da terapia hormonal ou cirurgias, eles se sentem como do sexo oposto, mas não querem ser o sexo oposto. Quando você ver por ai um nome seguido da inicial CD, trata-se de uma pessoa crossdresser. O Laerte ficou bem de tiazinha. Está uma senhora muito elegante. Quando sai com a Tuca, sua namorada mulher, de mãos dadas andando pela Rua Augusta, os normaloides olham, não dizem nada, mas devem pensar “O que essa gatinha vê nessa velha sapatona?” Tem gosto pra tudo mano véio! O Laerte é genial! 192


Grande Laerte.. sempre a frente do seu tempo!

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“Os peixes são mais belos que todos os homens boçais. Manaus é uma cidade peixe Construindo paraísos artificiais.” 195


Esse Ê um livro rock’n roll, recomenda-se ouvir alto!!

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